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INSTITUTO DE CIÊNCIAS EXATAS E BIOLÓGICAS

DISCIPLINA: CRP 297 - Sociologia Geral - T2


PROFA: Dra. Marilene Campos

GRUPO 7:
Ana Carolina Siqueira C. de Oliveira - 7942
Elias Otávio Pessoa Melo - 7350
Maria Luiza Alves Santana - 7898
Quézia Fernanda Vital Barbosa - 7933
Uberização, trabalho digital e indústria 4.0

Capítulo 17: Walmartização do trabalho: a


face cruel das tecnologias utilizadas nos
hipermercados.

Capítulo 18: A greve na Vale:


transnacionalização e exploração do trabalho
no Canadá.
Walmartização do trabalho: a face cruel das
tecnologias utilizadas nos hipermercados.
Patrícia Rocha Lemos

Os debates em torno da Indústria 4.0 e as


imagens que geralmente esses debates
provocam estão, na maioria das vezes,
associados aos setores de produção de
bens como automóveis e aparelhos
eletrônicos, para os quais são utilizados
robôs autônomos, sistemas inteligentes e
realidade aumentada.
Mudanças fundamentais têm sido implementadas também
nos sistemas logísticos e de transporte a partir de
desenvolvimentos impulsionados por grandes varejistas,
como Walmart e Amazon, com consequências para o
conjunto das cadeias globais de valor e para o trabalho
desenvolvido ao longo dessas cadeias e nos pontos de
venda desses varejistas.
Isso ocorre porque, dado o enorme poder de compra e acesso
aos principais mercados consumidores do mundo, essas
transnacionais do varejo acabam por estabelecer uma série de
condições a seus fornecedores, que vão desde as características
do produto e preço até prazos de entrega e condições de
pagamento.

À medida que captam as informações no ponto de venda, as


empresas do varejo têm a possibilidade de controlar o que,
como, quando, onde e por quem os produtos estão sendo
comprados: Essas informações são valiosíssimas para ajustar as
condições de produção à demanda, assim como para viabilizar
soluções que reduzam desperdícios, custos, tempo de transporte
etc.
O seu gigantismo em termos de vendas, faturamento e
controle de mercados, bem como o seu poder em relação à
cadeia de fornecimento, evidenciaram determinadas
estratégias e práticas que passaram a caracterizar uma
espécie de modelo denominado walmartização.

O núcleo desse modelo estaria no ato de colocar as mais


poderosas inovações tecnológicas e logísticas a serviço de
uma organização que busca destruir qualquer resquício das
políticas regulatórias do New Deal e substituí-las por um
sistema que reduz impiedosamente a mão de obra em
qualquer parte do planeta.
Esse crescente poder dos grandes varejistas, como já
mencionado, foi possibilitado e tem se sustentado
principalmente por meio das constantes inovações tecnológicas
que caracterizam as chamadas "revolução varejista" e
"revolução logística", das quais o Walmart foi importante
precursor.

O que buscamos enfatizar aqui é o fato de que essas inovações


têm sido desenvolvidas como ferramenta para uma
determinada organização do trabalho cuja finalidade é
aumentar a produtividade e reduzir os custos do trabalho, tanto
na cadeia de fornecimento quanto nas operações diretas da
empresa em lojas e centros de distribuição.
Essa mesma tecnologia, que vem sendo desenvolvida como um meio
de pressionar os fornecedores pelo rebaixamento de custos (a partir
do controle das mercadorias desde sua fabricação até sua venda),
também tem sido uma importante ferramenta de controle e pressão
para intensificar o trabalho dos empregados diretos na empresa.

Na pesquisa de campo realizada em lojas de supermercados do


Walmart no Brasil, foi possível perceber que as tecnologias recentes
têm impactado direta e indiretamente o processo de trabalho,
servindo de importante ferramenta de controle. As principais
evidências encontram-se nas metas e nos mecanismos via sistema
que permitem à empresa suprimir horas extras ou alterar os valores
das comissões.
Para os supervisores de setor, essas metas vinham descritas
detalhadamente numa planilha com números que identificavam
todos os produtos do seu setor, a quantidade em estoque, a venda
do ano anterior e a meta atual.

Esse controle de informações, que estabelece as metas


diretamente do sistema, é combinado com o papel das gerências
nas reuniões diárias de cobrança de desempenho, que geralmente
representam um momento de constrangimento e humilhação para
os trabalhadores.
Contudo, diferentemente do fordismo, em que o processo de
gestio dependia do fluxo de informações que iam do chão de
fábrica, por meio das camadas da administração, até o topo da
hierarquia da empresa, com os Computer Business Systems (CBSs),
a autonomia dos trabalhadores está ainda mais limitada por
formas mais rápidas e diretas de controle e monitoramento".

Esse processo de controle direto e rápido pode ser observado no


Walmart por meio da gestão das informações que são coletadas
diretamente pelas máquinas no ponto de venda - no check-out.
Gostaria de finalizar essa reflexão apresentando um exemplo
aparentemente banal da realidade dos supermercados, mas que
parece expressivo para desconstruir uma ilusão da neutralidade ou
positividade das inovações tecnológicas e, ao mesmo tempo, para
chamar atenção para a relação fundante existente para o capital
entre tecnologia, redução de custos e degradação do trabalho.

Por um lado, em vários países e também no Brasil, têm sido


difundidos os caixas de autoatendimento, em que o consumidor
passa seus produtos pelo leitor de código de barras e pesa suas
frutas, verduras e pães, que podem ser identificados com a figura
do produto na tela do caixa.
Portanto, do ponto de vista do trabalho nesse setor, as inovações
da chamada Indústria 4.0 estão muito mais relacionadas ao menor
controle por parte dos trabalhadores sobre o próprio trabalho e à
degradação de sua saúde física e mental, bem como à ampliação
do autosserviço por parte dos clientes, do que à eliminação de
trabalhos degradantes, monótonos e repetitivos.

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