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HEBRAICO EM FOCO - NETO ANDRADE

CAPÍTULO 1

Texto hebraico com Transliteração gramatical1:


ˆ´‰´‚ M´œŸ‹ †´I¦Fº” ‹·N‹¦A ‹¦X·‚¸A-‘¶A µ”·[Ÿ†-L¶‚ †´‹´† X¶[©‚ †´‡†¸‹-Xµƒ¸C 1
ʼāḥāz yôthām ʻuzziyyâ bîmê bᵉʼērî-ben hôshēaʻ-ʼel ʻhāyâ ʼăsher YHWH-dᵉvar
:L·‚´X\
¸ ¦‹ ¢¶L¶N [´‚Ÿ‹-‘¶A M´”¸ƒ´X´‹ ‹·N‹¦ƒE †´…E†¸‹ ‹·K¸LµN †´I¦™¸ˆ¦‰¸‹
yiśrāʼēl melekh yôʼāsh-ben yārovʻām ûvîmê yᵉhûdâ malkhê yᵉḥizqiyyâ

Tradução do texto2: “Palavra de YHWH, que foi dirigida a Oséias, filho de


Beeri, nos dias de Uzias, Jotão, Acaz, Ezequias, reis de Judá, e nos dias de Jeroboão,
filho de Joás, rei de Israel.”

dᵉvar: significa palavra, discurso, conversa. A autoridade profética está


naquilo que o Eterno diz e não no que pensa ou acha o homem. O profeta é o
porta-voz da divindade, deve sentir os sentimentos que estão no coração do
Eterno Criador, comunicar-se com os pensamentos e com o coração de Deus. O
profeta fala ao povo em favor de Deus.

YHWH: expressão que focaliza o poder e a força que há no Eterno. No


contexto judaico, essa palavra substitui por diversas vezes o tetragrama YHWH (†‡†‹ -
nome do Criador), pois se considerava o nome do Altíssimo santo demais para ser
pronunciado. Já no início de sua profecia, Oséias o usa para declarar a Soberania do
Deus de Israel e seu poder inigualável. No judaísmo, a pronúncia do nome do Eterno
(tetragrama) está associada à expressão “aquele Era, que É e que Será”.
Hans Bietenhard destaca que na LXX3 a expressão κύριος (kyrios: senhor)
ocorre mais de 9.000 vezes e na maioria das vezes (cerca de 6.156) substitui o nome
próprio hebraico de Deus, o tetragrama YHWH. Bietenhard diz que a intenção da
LXX é fortalecer a tendência no sentido de evitar a expressão vocal do nome de Deus,
evitando sua pronúncia.4 Nas traduções ou versões portuguesas é muito fácil notar
essa ocorrência, basta perceber a palavra SENHOR (letras em caixa alta) para saber
que há incidência do tetragrama que no grego vem como Kyrios, e os judeus
pronunciam Adonay.
hôshēaʻ: significa salvação, livramento. Seu nome está intimamente ligado à
mensagem do livro. Apesar de todas as transgressões do povo, Deus ainda estava
disposto a mudar a sorte de Israel, caso se arrependesse e torna-se para o Senhor. A
mensagem de Salvação é gritante nas entrelinhas do texto. Pertencia ao Reino de
Israel (Norte). Foi contemporâneo de Jonas e Amós (profetas do Norte); Amós, apesar
de ser do Sul, foi levado por Deus a profetizar no Norte; Isaías e Miquéias (profetas
do Sul). Pelo significado do nome do profeta fica evidente o amor gracioso e salvador

1
Essa transliteração segue as normas da gramática hebraica. Caso o estudante queira um
aprofundamento gramatical, sugerimos que adquira a Gramática de Introdução ao Hebraico Bíblico do
professor Neto Andrade e analise as regras dispostas nela.
2
Tradução da Almeida Corrigida e Revisada e Fiel.
3
Refere-se à tradução grega chamada de Septuaginta.
4
COENEN, Lothar e BROWN, Colin. Dicionário Internacional do Novo Testamento, p. 2317.
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que Deus tem por Israel, apesar do peso da profecia, Deus estava interessado em
salvar e resgatar seu povo do colapso que estava por vir.

ben-bᵉʼērî: filho de Beeri (meu poçoou minha fonte). Não temos muitas
informações do pai do profeta. Alguns estudiosos o identificam como Beera (1Cr 5.6),
que foi levado para o exílio por Tiglate-Pileser.5Quando alguém vinha de família
humilde ou inexpressiva da sociedade não era mencionado o nome de seu pai.6 O
nome de seu pai aparece aqui para distinguir o profeta de outros que têm o mesmo
nome que o seu.7

bîmê: nos dias. Já no primeiro versículo do livro de Oséias, o período da


profecia é apresentado, são quatro reis de Judá, Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, Reino
do Sul, e um rei de Israel, Jeroboão, filho de Joás, Reino do Norte. Conhecer o
contexto histórico, político, social e religioso é imprescindível para a compreensão
das palavras de Deus proferidas pelo profeta ao Reino de Israel, como também à casa
de Judá.
Este lapso temporal nos localiza dentro do período profético de Oséais:
provavelmente entre 780-725 a.C.O que se tem certeza é que seu ministério foi longo,
indicando o quão poderoso é Deus quando vocaciona um homem para uma missão.
Por essa expressão, também se percebe que o profeta ainda era bem jovem quando
alistado por Deus para o ministério profético.

ʻuziyâ: YHWH é minha forca.Uzias (2Cr 26.1), também chamado de Azarias


(2Re 15.1), era filho de Amazias (2Re 15.1), rei de Judá com Jecolias (2Re 15.2),
mulher de Jerusalém.
Começou a reinar ainda muito novo, apenas 16 anos de idade (2Re 15.2).
Seu governo perdurou por 52 anos sobre Jerusalém, capital do reino do sul (2Re
15.2).Seu reinado começou com êxito (2Re 15.3). O povo de Judá o aclamou como
rei (2Cr 26.1). O historiador Flávio Josefo destaca que o rei Uzias tinha tanta bondade
e tanto amor pela justiça e era tão corajoso e tão previdente que todas estas excelentes
qualidades, unidas, levaram-no a realizar grandes empreendimentos.8 Edificou Elate
(2Cr 26.2). Nos dias de Zacarias, homem sábio nas visões de Deus, Uzias dispôs-se a
buscar a face do Deus de Judá e Deus o fez prosperar (2Cr 26.5). Deus o ajudou
poderosamente em suas guerras e sua fama correu por todos os lugares, até a entrada
do Egito (2Cr 26.7,8). Foi vitorioso guerreiro contra os filisteus, quando quebrou o
muro de Gate, Jabné e Asdode, e edificou cidades nos territórios dos filisteus, bem
como contra os arábios e os meunitas (2Cr 26.6,7). Uzias obteve o controle sobre as
rotas das caravanas desde a Arábia até a Filístia e o Egito; o principal elemento no
Sinai, os meunitas, dividiam com ele os lucros de suas caravanas e caravançarás.9
Tinha um poderoso, moderno e bem equipado exército (2Cr 26.11-15). Apesar de
tudo isso, não conseguiu eliminar os sacrifícios sobre os altos, o povo ainda
sacrificava e queimava incensos nos altos (2Re 15.4).Sua política interna era ousada.
Edificou torres e fortaleceu portas em Jerusalém. Investiu na agricultura e pecuária
(2Cr 26. 9,10). Uzias se tornou forte (2Cr 26.15).

5
PFEIFFER, Charles e HARRISON, Everett F.Comentário Bíblico de Moody, p. 251.
6
SOARES, Ezequias. Oséias: A restauração dos filhos de Deus, p. 19.
7
HUBBARD, David A. Oséias: Introdução e comentário, p.64.
8
JOSEJO, Flávio. História dos Hebreus, p. 236.
9
AHARONI, Yohanan et al. Atlas Bíblico, p.106.
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Eis o problema: Tornou-se grande! Não soube lidar com tudo o que tinha.
Exaltou-se o seu coração para sua própria queda e fracasso, cometendo transgressões
contra o Senhor e a Sua Casa, no altar do incenso. Quis fazer algo que não lhe
competia fazer. Quis ser o que não era. Tentou queimar incenso no altar de incenso,
ministério exercido exclusivamente pelos filhos de Arão, sacerdotes (2Cr 26.16).
Flávio Josejo retrata a cena: No dia de uma festa solene, ele revestiu-se dos
parâmetros sacerdotais e entrou no templo. 10 O sacerdote Azarias com mais 80
sacerdotes o resistiu diante do altar do incenso. Uzias se indignou contra os
sacerdotes, e no mesmo instante a letra saiu em sua testa. Envergonhado, ferido por
Deus, foi expulso da Casa do Altíssimo e teve que habitar numa casa separada. Era
lepra mortal (2Cr 26.19-21). Começou bem, mas terminou mal.
É no ano da morte do rei Uzias que Isaias é levantando por Deus como
profeta. “No ano da morte do rei Uzias, eu vi ao Adonay” (Is 6.1).
yôtām: YHWH é perfeito. Quando Uzias foi acometido de letra, Jotão, seu
filho, tinha o cargo da casa e governava o povo da terra (2Re 15.5), isso entre 750 a
740 a.C, e depois reinou sozinho até 731. Após a morte de Uzias (740 a.C.), Jotão foi
elevado a rei de Judá com 25 anos de idade. Seu reinado foi de 16 anos em Jerusalém
(2Re 15.33). Jotão era filho de Uzias e Jerusa, filha de Zadoque (2Re 15.33). Jotão
edificou a Porta de Cima da Casa de Deus, precedeu retamente como fizera seu pai
(2Re 15.34). Edificou diversas obras sobre o Muro de Ofel (2Cr 27.3). Levantou
cidades nas montanhas de Judá e nos bosques, castelos e torres (2Cr 27.4). Porém,
como seu pai, não conseguiu remover os altos e o povo continuava sacrificando e
queimando incenso nos altos (2Re 15.35) e a praticar o mal (2Cr 27. 2).
Na sua política de guerra, foi para batalha contra Amom e prevaleceu,
desfrutando de vários ganhos advindos dessa vitória (2Cr 27.5). Pela primeira vez,
Judá penetrou na Transjordânia, antes domínio exclusivo de Israel.11Jotão se tornou
grande e homem de fama. O segredo de suas vitórias e conquistas estava em guiar e
dirigir seus passos nos caminhos do Eterno, segunda à vontade de Deus (2Cr 27.6).
Diferentemente de seu pai, Jotão começou bem e terminou bem. Manteve firme seu
propósito de seguir a Deus e fazer a Sua vontade.
Nos dias de Jotão, houve uma abominável aliança entre Damasco e Samaria
conduzida pelos reis Rezim e Peca, respectivamente, a qual representava uma forte
ameaça contra o Reino do Sul nos dias de Jotão. Com o início em 735, a aliança foi
uma espécie de represália contra Judá, agora governado por Acaz e Jotão, por não
haver se disposto a fazer coalizão contra Tiglate-Pileser, uma vez que todos os reis da
Filístia e Edom estavam engajados (734-732).12 (2Re 15.37). Descansou Jotão com
seus pais na cidade de Davi (2Cr 27.9).
ʼāḥāz: Ele agarrou. Acaz começou a reinar com 20 anos de idade em
Jerusalém (2Re 16.2). Era filho de Jotão (2Re 16.1). Acaz não andou nos caminhos de
Deus (2Re 16.2). Cometeu umas das maiores atrocidades e transgressões da Bíblia:
ofereceu seu filho em sacrifício, queimando em oferta. Transgrediu a Lei: “Não farás
assim ao SENHOR, teu Deus, porque tudo o que é abominável ao SENHOR e que ele
odeia fizeram eles a seus deuses, pois até seus filhos e suas filhas queimaram aos
seus deuses” (Dt12.31). Acaz, mostrando sua moral deturpada ainda sacrificou nos
10
JOSEJO, Flávio. História dos Hebreus, p. 236.
11
AHARONI, Yohanan et al. Atlas Bíblico, p.106.
12
MERRILL, Eugene H. História de Israel no Antigo Testamento, p. 429.
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outeiros, altos e debaixo de árvore frondosa (2Re 16.4). O relato de 2 Reis 28.3 ainda
é mais terrível: “também queimou incenso no vale de Hinom e queimou a seus
próprios filhos”. Acaz andou nos caminhos dos reis de Israel, reino do norte,
chegando ao ponto de fazer imagens fundidas a baalins (2Cr 28.2). Acaz fez o povo
de Judá pecar e cair em dissolução (2Cr 28.19).

Rezim, rei da Síria e Peca, rei de Israel subiram à Jerusalém para batalhar
contra Acaz (735 a.C.). Jerusalém não caiu, pois Deus havia enviado o Profeta Isaías
para dar mais uma chance a Acaz e ao povo de Judá (Is 7.1-7). O rei Rezim conseguiu
conquistar Elate e expulsou os judeus (2Re 16.5,6). Perdeu Judá o acesso ao mar pelo
sul.13 Porém, como o coração de Acaz se afastava mais e mais de Deus, uma prévia do
julgamento divino estava acontecendo (2Cr 28.5). Acaz foi humilhado grandemente
por Israel, matando de Judá 120 mil de homens guerreiros e poderosos, e ainda
levaram cativos para Samaria 200 mil (2Cr 28.5-8). O rei siro levou diversos judeus
cativos para Damasco (2Cr 28.5). Além disso, os edomitas prevaleceram contra Judá
e levou presos em cativeiro (2Cr 28.17). Também os filisteus tomaram importantes
cidade de Judá, como: Bete-Semes, Aijalom, Gederote, Socó,Timna e Ginzo. Em
aperto, Acaz não clamou ao Deus de Israel, antes, enviou mensageiro a Tiglate-
Pileser, rei da Assíria. Acaz tirou o ouro e a prata da casa do SENHOR (uma das mais
nefastas profanações) e os tesouros da casa real e enviou para o rei da Assíria, que lhe
deu atendeu, subindo à Damasco, tomou a cidade e matou o seu rei, Rezim (2Re 16.7-
9).Diante da grande vitória de Tiglate-Pileser sobre Rezim, Acaz ordenou que um
altar fosse levantado em Judá segundo o altar de Damasco. Urias, o sacerdote, fez
tudo conforme as ordens do rei de Judá. Alguns utensílios que estavam na Casa do
SENHOR foram tirados e levados para o altar estranho, e ali diversos sacrifícios
foram queimados (2Re 16.10-18). Mesmo sendo enterrado na cidade de Jerusalém,
não foi colocado nos sepulcros dos reis de Israel (2Cr 28.27). No ano da morte do rei
Acaz, foi pronunciada uma sentença contra os filisteus (Is 14.28). Mesmo que os
filisteus, pela vontade de Deus, fossem usados como ferramentas de juízo contra Judá,
não passariam impunes suas maldades e transgressões, contra eles pesava o preço de
seus pecados e atrocidades cometidas contra Judá.
yᵉḥizqiyâ: YHWH tornou forte. Ezequias subiu ao trono aos 25 anos de
idade. Reinou durante 29 anos em Jerusalém (2Re 18.2). Era filho de Acaz e Abi,
filha de Zacarias (2Re 18.1,2).
Temeu ao SENHOR e seguiu os Seus caminhos, não houve rei como ele em
Judá, confiou profundamente em Deus (2Re 18.3,5,6). Resolveu fazer uma aliança
com Deus (2Cr 29.10). Conseguiu remover os altos, quebrou as colunas e derrubou o
poste-ídolo. Despedaçou a serpente de bronze que tinha sido feita por Moisés, pois os
filhos de Judá a chamavam de Neustã e queimavam incenso a ela (2Re 18.4). Ainda
no primeiro ano de reinado abriu as portas da Casa do SENHOR e as reparou (2Cr
29.3). Reuniu os sacerdotes e levitas, incentivando-os para que se santificassem e
tirassem do santuário a imundície (2Cr 29.4,5). Restabeleceu o culto ao Deus de Israel
e organizou as liturgias de Judá (2Cr 29.20-36; 30.1-27; 31.1-21). Diferentemente de
seu pai, o rei Acaz, que ficou refém do rei da Assíria, Ezequias não aceitou tal
submissão, rebelou-se contra essa situação (2Re 18.7). Conquistou diversas vitórias,
entre elas feriu os filisteus até Gaza (2Re 18.8). Foi durante o seu reinado que o Reino
de Israel, norte, caiu nas mãos da Assíria por terem deixado o caminho do Eterno

13
MERRILL, Eugene H. História de Israel no Antigo Testamento, p. 430.
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Deus (2Re 18.9-12). Ao se encontrar em aperto diante da ameaça da Assíria, venceu


Senaqueribe com a força de Deus (2Re 19.35). Era obediente à voz do profeta Isaías
(Is 37.1-7). Era um rei de oração (2Re 19.14-19; 20.1-11).
yārovʻām: O povo contenderá. Jeroboão II Começou a reinar em Samaria no
décimo quinto ano de Amazias. Estudiosos apontam que ele foi nomeado a co-regente
em 793 a.C. (na véspera da guerra com Amazias).14Jeroboão era filho de Jeoás.
Reinou sobre Israel durante quarenta e um anos (2Re 14.23). Seu reinado foi de 793 a
753 a.C.15 Andou por todos os pecados de Jeroboão, o primeiro rei do Norte depois da
divisão das tribos, filho de Nebate, fez pecar Israel. Teve uma forte política externa,
pois restabeleceu os limites de Israel desde a entrada de Hamate até o mar da Planície
(2Re 14.25). Jeroboão foi capaz não apenas de recuperar os territórios de Israel sob o
domínio de Damasco por muitos anos, mas também de trazer todo o sul de Aram e a
Transjordânia de volta ao poderio de Israel.16 Ele reinou sobre um grande Israel, reino
do norte. Não houve outro reino que, desde os tempos de Salomão, tenha conseguido
dominar sobre tamanha extensão territorial.17Sabe-se que o profeta Jonas profetizou
sobre as conquistas de Jeroboão II (2Re 14.25). Jeroboão II, animado por essa
profecia, declarou guerra ao sírios e conquistou todo o país.18 Tudo isso resultado da
grande bondade de Deus que viu seu povo em amargura e aperto (2Re 14.26).
Apesar de uma prosperidade e paz interna e externa, os pecados de Israel
haviam chegado ao limite. Amós era um dos profetas que ministravam na época de
Jeroboão II e condenou severamente a Israel (Am 1.1). De fato, o julgamento
sobreveio em 722 a.C, quando os assírios invadiram Israel, deportaram muitos dos
israelitas e trouxeram gentios de outras nações conquistadas a se misturarem com o
povo de Israel. Essa política acabou gerando uma raça mestiça, parte israelita e parte
gentia, bem como uma religião sincrética, com templo e sacerdócios próprios, no
monte Gerezim (Jo 4.20-22).19
yᵉhûdâ: louvado, glorificado, exaltado. Um nome que possui as quatro letras
do Sagrado Nome do Eterno Criador (†‡†‹ – YHWH compare com †…‡†‹ YHWDH).
A origem do nome está em Gn 29.35: “E concebeu outra vez e deu à luz um filho,
dizendo: ... louvarei (ʼôdheh - †¶…Ÿ‚) a YHWH (YᵉHwāH - †´‡†¸‹). Por isso chamou-o
Judá (yᵉhûdâ - †´…E†¸‹); e cessou de dar à luz”. O nome “Judá” é uma expressão de
louvor ao Todo-Poderoso.
yiśrāʼēl: Deus prevalece. Nome dado a Jacó no vau de Jaboque. “Então
disse: Não te chamarás mais Jacó (yaʻăqōv - ƒ«™©”µ‹), mas Israel (yiśrāʼēl - L·‚´X\
¸ ¦‹);
20
pois como príncipe lutaste (śārîth - œ‹¦X\ ´ ) com Deus e com os homens, e
prevaleceste ” (Gn 32.28).

14
AHARONI, Yohanan et al. Atlas Bíblico, p.104.
15
WIERSBE,Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Vol.2, p. 546.
16
MERRILL, Eugene H. História de Israel no Antigo Testamento, p. 397.
17
Idem, p. 397.
18
JOSEJO, Flávio. História dos Hebreus, p. 235.
19
WIERSBE,Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Vol.2, p. 545.
20
Outras traduções dizem apenas “... pois lutastes com...”. A expressão śārîth vem de śār que significa
também contender, ter poder, persistir, perserverar, lutar, guerrear. Muito ligado a ideia de oficial,
nobre, general, príncipe.
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¡¸L-‰µ™ ¢·L µ”·[Ÿ†-L¶‚ †´‡†¸‹ X¶N‚«Iµ‡ µ”·[Ÿ†¸A †´‡†¸‹-X¶A¦C œµK¦‰¸U 2


lᵉkhā-qaḥ lēkh hôshēaʻ-ʼel YHWH vayyōmer bᵉhôshēaʻ YHWH-dibber tᵉḥillath
:†´‡†¸‹ ‹·X©‰µ‚·N —¶X´‚´† †¶’¸ˆ¦œ †«’´ˆ-‹¦J M‹¦’E’¸ˆ ‹·…¸Lµ‹¸‡ M‹¦’E’¸ˆ œ¶[·‚
YHWH mēʼaḥărê hāʼārets thizneh zānōh-kî zᵉnûnîm wᵉyaldhê zᵉnûnîm ʼēsheth

“O princípio da palavra de YHWH por meio de Oséias. Disse, pois, YHWH a


Oséias: Vai, toma uma mulher de prostituições, e filhos de prostituição; porque a
terra certamente se prostitui, desviando-se de YHWH”.

tᵉḥillath: princípio da, primeiro de, início da. Eis o ponto de partida da
profecia, e aos olhos de Isaltino Gomes, é uma tragédia pessoal.21 Champlin nos
lembra que o ministério de Oséias estava apenas começando, bem no início de sua
carreira, ele recebeu esse mandato incomum.22 Calvino vai os dizer que desde o
começo o que Deus já estava deixando claro era que o povo havia se tornado uma raça
adulterina, todos nascem, por assim dizer, de meretriz; o reino de Israel é o mais
imundo dos bordéis; e agora eu os repudio e rejeito, não mais os tenho como meus
filhos.23 Realmente, o tom é bem pesado. Israel passou dos limites.

lēkh qaḥ-lᵉkhā: vai pega para você. As forças dos verbos são intrigantes. O
profeta não só falava o que Deus ordenava, mas precisava estar disposto a sentir o que
Deus estava sentindo e, através disso, poderia realizar os propósitos divinos.
Profetizar era muito mais que falar, era ir onde Deus queria que se fosse; dar passos
nos caminhos preparados por Deus. A frase em apresso demonstra o quanto Deus
envolveu profunda e intensamente o profeta Oséias na mensagem. Às vezes, a
mensagem gera dores e feridas que só serão saradas diante de nossa total submissão
em obedecer ao chamado de Deus.

ʼēsheth zᵉnûnîm: uma mulher de prostituições, de adultérios, de


fornicações, de infidelidades, de promiscuidades, de meretrícios. O verbo associado a
zānâ quase sempre tem o gênero feminino e indica comportamento sexual ilícito
extraconjugal.24 Eis umas das frases mais complexas da biografia de Oséias. Como
um bom israelita ele desejava se casar e constituir uma nobre família, mas de repente
se depara com essa notícia esquisita: sua esposa é uma mulher de prostituições.
Temos alguns embates no campo da interpretação bíblica sobre essa expressão: qual o
sentido disso? Por que levar um profeta a contrair um casamento com uma adúltera?
Diante da “radical” decisão de Deus, ao que parece, o povo já havia escolhido seu
caminho, a situação era insanável, as dez tribos mergulharam profundamente na
idolatria, Israel renunciou o culto a Deus, 25 e estava indo rumo à destruição e
cativeiro. Prostituição26 gera destruição.

21
COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Os profetas menores I, p. 19.
22
CHAMPLIN, Russell Norman. Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, p. 3447.
23
CALVINO, João. Comentário sobre Oséias, p. 27.
24
MACKAY, John. Oséias, p. 53.
25
CALVINO, João. Comentário sobre Oséias, p. 27.
26
A ideia de prostituição e adultério no contexto bíblico estar ligada também a de idolatria. Veja alguns
textos: “... Não seguireis os desejos do vosso coração, nem dos vossos olhos, após os quais andais
adulterando” (Nm 15.39); “Tenho visto as tuas abominações sobre os outeiros e no campo, a saber, os
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Sobre o casamento com a mulher de prostituições, algumas questões são


levantadas por vários comentaristas:
Alguns afirmam que não se trata de algo real, na verdade, dizem, era uma
visão, não aconteceu na vida real. Um dos defensores dessa ideia é Calvino ele afirma
que não parece coerente com a razão, que o Senhor, dessa forma injustificável, faça
com que seu Profeta seja desprezível; pois como podia ele esperar ser recebido ao
aparecer diante do público, após haver trazido sobre si mesmo tal desgraça? O Profeta
não esposou realmente uma mulher, mas que lhe foi ordenado a fazer isso em uma
visão.27 No pensamento de Calvino, se isso tivesse acontecido na vida real, a profecia
de Oséias teria sido rejeitado, ele seria desprezível.
Agostinho de Hipona (354-430 d.C) foi um grande gênio teológico de sua
época. Desenvolveu diversas regras para a prática da exposição das Escrituras. Em
suas regras, havia um grande destaque para a interpretação literal, porém, na pratica,
Agostinho renunciou à maioria de seus princípios e inclinou-se para uma alegorização
excessiva.28 E um desses momentos foi na interpretação alegórica desse texto. Para
Agostinho a interpretação literal do casamento de Oséias é incongruente e
moralmente imprópria.29
Outros afirmam que podemos aceitar que o texto é literal, porém a vida de
pecado da mulher de Oséias só se deu após o casamento. G. A. Hadjiantoniou e L. E.
H. Stephens-Hodge são adeptos dessa visão, acreditam que é mais natural aceitar que
Deus tenha ordenado a Seu profeta que se casasse com uma jovem pura, mas que, em
Seu pré-conhecimento, sabia que haveria de cair em imoralidade - um quadro perfeito
das relações de Israel com seu Deus.30 Na mesma direção está A. R. Crabtree.31
Mesmo não sendo adepto dessa interpretação, Derek Kidner afirma que a
situação pode ser amenizada se olharmos para o que esta mulher viria a ser, de acordo
com a presciência divina.32 Algumas razões podem ser levantadas: (1) Oséias não
questiona, aceita o casamento com naturalidade, não há espanto no profeta, não há
reação de desespero, diante disso, acredita-se na pureza da mulher antes de casar com
o profeta; (2) se a mulher representa a nação de Israel que depois de casada com
Todo-Poderoso se prostituiu adorando outros deuses, a mulher na qual o profeta casou
era virgem, como Israel era no começo (Os 2.15), quebrando sua aliança conjugal
com Oséias através do adultério com outros homens, pois assim temos o retrato
“perfeito” da dor e da situação que Deus estava sentindo e desejava transmitir ao
profeta. Hernandes Dias Lopes afirma que a razão principal para essa interpretação é
que seria incompatível com o caráter santo de Deus ordenar a seu profeta algo
moralmente reprovável e expor seu mensageiro a tal opróbrio.33
Mas, há outro ponto. Outros comentaristas dizem que o texto deve ser
entendido de forma literal, ou seja, ele casou-se como uma mulher que já estava

teus adultérios, os teus rinchos e a luxúria da tua prostituição. Ai de ti, Jerusalém! Até quando ainda
não te purificarás?” (Jr 13.27).
27
CALVINO, João. Comentário sobre Oséias, p. 29.
28
VIRKLER, Henry A. Hermenêutica – Princípios e processos de Interpretação Bíblica, p. 45.
29
SOARES, Esequias. Oséias: A restauração dos filhos de Deus, p.30.
30
G. A. Hadjiantoniou e L. E. H. Stephens-Hodge. Novo Comentário da Bíblia. Intervarsity Press
(Leicester, Inglaterra), p. 25. PDF.
31
CRABTREE, A. R. O Livro de Oséias, Casa Publicadora Batista, Rio, 1961.
32
KIDNER, Derek. A Mensagem de Oséias – Ame quem não ama, p. 15.
33
LOPES, Hernandes Dias. Oseias – o amor de Deus em ação, p. 35.
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entregue a uma vida promíscua e libertina. Isso explicaria muito bem quem era Israel
antes de Deus se relacionar como ele: “... Antigamente, vossos pais, Tera, pai de
Abraão e de Naor, habitaram dalém do Eufrates e serviram a outros deuses [...]
Agora, pois, temei ao SENHOR e servi-o com integridade e com fidelidade; deitai
fora os deuses aos quais serviram vossos pais dalém do Eufrates e no Egito e servi ao
SENHOR” (Js 24.2,14). Diante dessa questão, Mackay diz que a situação do profeta
refletia a situação do SENHOR com relação a Israel, pois ele havia feito uma aliança
como o povo sabendo muito bem os problemas e as dificuldades que esse
relacionamento poderia gerar devido ao caráter do povo, e Oséias igualmente sabia
que a conduta transviada de Gômer se comparava à de Israel.34 Champlin diz que
Oséias conseguiu tirar Gômer do bordel, mas não tirou o bordel de Gômer.35 Para
fortificar o argumento da literalidade do casamento do profeta, Isaltino Gomes
admoesta que não devemos buscar no que está escrito outro sentido quando o que o
texto diz é claro, narrativo, e não apenas parabólico ou figurado. A linguagem de
Oséias é real e, ao mesmo tempo, descritiva. Ele continua dizendo que não se pode
questionar o que está escrito sem sérios problemas na interpretação.36 Ao que parece,
assim como Gômer, Israel começou como idólatra, “casou-se” com Jeová e acabou
voltando à idolatria.37
Portanto, lendo livremente o texto, entende-se que o profeta, por mais
estranho que pareça, casou-se com uma mulher que já vivia em prostituições e logo
após o casamento cometeria adultérios, o que se encaixa no contexto do livro.
Lucidamente nos diz o escritor Esequias Soares que a ordem divina foi para Oséias se
casar e não para adulterar. A prostituição é condenada em toda a Bíblia, e mui
especialmente no livro do profeta Oséias.38

wᵉyaldhê zᵉnûnîm: crianças de prostituições, filhos de devassidão. David A.


Hubbard quando faz uma análise acurada das expressões “mulher de prostituições” e
“filhos de prostituições” expressa que não se faz uma referência a uma conduta
passada, mas, sim, futura. Os filhos nascidos dessa mãe foram afetados por sua
corrupção e pela corrupção da imensa maioria dos cidadãos de Israel. Desse modo, é
bem possível que a esposa fosse casta quando Oséias se casou com ela, mas depois
sucumbido a seus impulsos sexuais. Portanto, a ordem inicial foi expressa em função
desse fato.39
Se a interpretação literal do casamento do profeta com uma mulher já em
estado de prostituições for aceita, deve-se admitir que Oséias tenha assumido filhos
que ela teve com outros homens. Kidner afirma expressamente que a ordem do
versículo 2 diz literalmente “toma uma mulher de prostituições e filhos de
prostituições”, como se estes já existissem.40
Pode-se aplicar também uma figura de linguagem chamada de zeugma. Ao
analisar o texto no hebraico, percebe-se que há somente um verbo no verso que age
sobre dois objetos trazendo significados diferentes. Mackay afirma Oséias é ordenado
a tomar/obter uma mulher e num sentido um tanto diferente a adquirir uma família.

34
MACKAY, John. Comentário do Antigo Testamento - Oséias, p. 56.
35
CHAMPLIN, Russell Norman. Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, p. 3447.
36
COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Os profetas menores I, p. 24.
37
WIERSBE,Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Vol. 4, p. 392.
38
SOARES, Esequias. Oséias: A restauração dos filhos de Deus, p.31.
39
HUBBARD, David A. Oséias – Introdução e Comentário, p. 68.
40
KIDNER, Derek. A Mensagem de Oséias – Ame quem não ama, p. 15.
HEBRAICO EM FOCO - NETO ANDRADE

Além do mais, continua Mackay, foi predito que os filhos herdariam os traços de
caráter da mãe, cuja conduta impactaria negativamente a deles.41
Mesmo diante de tantos embates teológicos sobre a forma de se interpretar o
relacionamento de Oséias, e quão pertinentes são os diversos comentários que
norteiam o tema, o foco da mensagem profética não pode ser perdido. Por mais
“escandalosa” que pareça a ordem de Deus, Oséias segue em obedecê-la, não hesita,
pois o profeta sabe que, naquele momento, o maior escândalo era a idolatria de Israel
e a corrupção moral e espiritual que o povo estava vivendo. Nada era mais
escandaloso e terrível que a situação do povo e seu desrespeito à aliança que tinha
com o Eterno Criador.

hāʼārets: a Terra, o país, o território, a região. A presença do artigo


definido é muito cabível e parece especificar a região de Israel, bem como de Judá. O
território e a região de Israel e Judá estavam em calamidade espiritual. A terra sofre a
ação da corrupção. Isso também aconteceu em Gn 6.5: “E viu o Senhor que a maldade
do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de
seu coração era só má continuamente”. John L. Mackay indica que a expressão “a
terra” funciona como uma metonímia para o povo associado com a terra, que num
sentido coletivo, ocupa a terra como destinatários do favor do SENHOR e da benção
da aliança.42 O profeta acusa: a terra se prostituiu. Assim como a esposa de Oséias
provou ser-lhe infiel, Israel foi infiel ao Senhor. O adultério espiritual é uma figura de
linguagem extraída do culto à fertilidade dos cananeus, com o seu ritual de
prostituição.43

mēʼaḥărê: depois de, além de, de diante de, de após, desviando de. O povo
agia em grande idolatria e libertinagem, desdenhando do seu relacionamento com o
Eterno Criador. O pecado estava levando o povo para outro caminho bem distante de
Deus. Os israelitas estavam vivendo uma experiência mesmo depois de sentirem tão
intensamente amor e a graça de Deus; estavam indo para outro, uma experiência
depois. Estavam passando dos limites, quebrando as regras e os princípios divinos;
estavam indo muito além de, praticando seus atos pecaminosos. A colheita desse
plantio era inevitável e dolorido.

:‘·A ŸL-…¶L·Uµ‡ Xµ†µUµ‡ M¦‹´L¸ƒ¦C-œµA X¶N«B-œ¶‚ ‰µR¦Iµ‡ ¢¶L·Iµ‡ 3


bēn lô-wattēledh wattahar divlāyim-bath gōmer-ʼeth wayyiqqaḥ wayyēlekh

“Foi, pois, e tomou a Gômer, filha de Diblaim, e ela concebeu, e lhe deu um
filho”.

wayyēlekh wayyiqqaḥ: e foi, e tomou. Essa foi a pronta resposta de Oséias


diante da ordem divina. Ele não questionou a palavra de ordem e entendeu a missão.
Tomou: o verbo que indica um casamento ordenado, legítimo e aceito pela sociedade.
O profeta não foi induzido por Deus a prostituir-se, mas a casar-se. Concordo com
John L. Mackay quando diz que a Gômer é atribuído um papel completamente
passivo, assim como Israel na sua eleição pelo SENHOR.44

41
MACKAY, John. Comentário do Antigo Testamento - Oséias, p. 56.
42
MACKAY, John. Comentário do Antigo Testamento - Oséias, p. 57.
43
PFEIFFER, Charles e HARRISON, Everett F.Comentário Bíblico de Moody, p. 251.
44
MACKAY, John. Comentário do Antigo Testamento - Oséias, p. 57.
HEBRAICO EM FOCO - NETO ANDRADE

gōmer: Gômer. Segundo Hubbard, a ausência de qualquer explicação quanto


aos nomes de Gômer e de seu pai sugere apenas uma coisa: a história era real.45 O
nome dela pode significar completar, alcançar, perfeição ou término, mas isso não é
consensual. Na Bíblia, temos ainda uma pessoa que levou esse nome: o neto de Noé e
filho de Jafé (Gn 10.2). No livro do profeta Ezequiel 38.6, Gômer aparece como um
povo de guerra. Apesar de pouca incidência no texto bíblico, não era um nome
estranho dento da sociedade hebraica. O nome ainda pode estar associado com a
palavra Gemarias (YHWH realizou) que aparece em Jr 29.3.

bath-divlāyim: filha de Diblaim. Pode significar dois bolos. Alguns sugerem


que o nome Diblaim se refere à região em Moabe donde Gômer era natural (Nm
33.46: “partiram de Dibom-Gade e acamparam-se em Almom-Diblataim”; Jr 48.22:
“sobre Dibom, Nebo e Bete-Diblataim”). Proposta rejeitada por muitos estudiosos que
afirmam se tratar do pai de Gômer.

wattēledh-lô bēn: gerou dele um filho, deu a luz dele um filho, lhe deu um
filho, deu a ele um filho. A frase afirma categoricamente que Oséias era o pai. Soares
entende que essa expressão indica que esse filho nasceu de Oséias e Gômer, o que
provavelmente não aconteceu com os que vieram depois.46 Lendo de forma livre o
texto, isso parece ficar claro. No mesmo espírito, Lopes diz que não podemos afirmar,
como base no texto, que os três filhos eram todos de Oséias. O texto parece nos
sugerir que apenas o primeiro era filho de Oséias, ao passo que Desfavorecida e Não-
Meu-Povo eram filhos de prostituições 47 . As representações que começaram no
casamento de Oséias com Gômer, agora fica mais climático com o nascimentos dos
filhos.

‹¦U¸…µ™´–E Hµ”¸N …Ÿ”-‹¦J L‚¶”¸X¸ˆ¦‹ ŸN¸[ ‚´X¸™ ‡‹´L·‚ †´‡†¸‹ X¶N‚«Iµ‡ 4


ûfāqadhtî mᵉʻaṭ ʻôdh-kî yizrᵉʻeʼl shᵉmô qᵉrāʼ ʼēlāyw YHWH wayyōmer
:L·‚´X\
¸ ¦‹ œ‹·A œEK¸L¸NµN ‹¦UµA¸[¦†¸‡ ‚E†·‹ œ‹·A-Lµ” L‚¶”¸X¸ˆ¦‹ ‹·N¸C-œ¶‚
yiśrāʼēl bêth mamlᵉkhûth wᵉhishbattî yēhûʼ bêth-ʻal yizrᵉʻeʼl dᵉmê-ʼeth


E disse-lhe YHWH: Põe-lhe o nome de Jizreel; porque daqui a pouco
visitarei o sangue de Jizreel sobre a casa de Jeú, e farei cessar o reino da casa de
Israel”.

yizrᵉʻeʼl: Deus semeia. Podemos estar diante de um significado dublo: depois


que o povo de Israel fosse disperso por causa do pecado, Deus o plantaria ou
“semearia” novamente em sua própria terra; e ainda: os pecados cometidos no vale de
Jezreel por Jéu seriam punidos e Israel experimentaria a derrota.48 Como estamos
diante de um texto com simbolismos, é pertinente dizer que o reinado de Jéu fez gerar
o juízo divino, assim como o nome da criança. Jezreel nasceu para mostrar que Israel
estava desonrando a aliança que fizera com Deus e que desse relacionamento cheio de
infidelidade por parte da nação de Israel sentenças estavam nascendo, tudo que Israel
estava plantando, seja pelos líderes como pelo povo, o dia da semeadura chegaria.
John L. Mackay nos lembra que o nome de Jezreel sofreu uma mutação de sentido

45
HUBBARD, David A. Oséias – Introdução e Comentário, p. 69.
46
SOARES, Esequias. Oséias: A restauração dos filhos de Deus, p.32.
47
LOPES, Hernandes Dias. Oseias – o amor de Deus em ação, p. 37.
48
PFEIFFER, Charles e HARRISON, Everett F.Comentário Bíblico de Moody, p. 251.
HEBRAICO EM FOCO - NETO ANDRADE

positivo para o negativo, o de juízo, pois, até então essa área estava no coração da
prosperidade agrícola do reino do norte.49 O texto de 2Re 10.11 nos mostra quão
sanguento era o vale de Jezreel: “Jéu feriu também todos os restantes da casa de
Acabe em Jezreel, como também todos os seus grandes, os seus conhecidos e os
sacerdotes, até que nem um sequer lhe deixou de resto”. Um dos maiores problemas
de um homem que quer fazer a vontade de Deus é o risco de, por falta de vigilância,
passar dos limites estabelecidos por Deus; e foi isso que ocorreu com Jéu, pois ele
extrapolou a ordem divina. Hernandes Dias Lopes diz que ele errou quanto à forma,
quanto a motivação e quanto à essência. 50 Mesmo diante dos males morais e
espirituais cometidos por Acabe e Jezabel, Jéu deixou seu coração ser dominado pelo
mal, pela vingança, pelo ódio e por falsas motivações; mesmo achando que estava
fazendo “um favor pra Deus”, ele, na verdade, estava assinando a sentença de morte
de sua casa, pelo sangue derramado excessivamente em Jezreel.
Em contrapartida, o que parece é que a casa de Jéu seria julgada mais ainda
pela prevaricação espiritual, pois apesar de ter colocado fim ao culto de baal, e ainda
ter recebido uma palavra positiva de Deus sobre a destruição da casa de Acabe, sob a
liderança de Jéu, Israel ainda cultuava outros deuses. Nessa perspectiva, da expressão
“sangue de Jezreel” depreende-se que, da mesma forma como o reinado de Acabe
sucumbiu cruelmente em Jezreel pelas mãos de Jéu, a dinastia de Jéu cairia
cruelmente no mesmo lugar. Mackay afirma que Oséias não está predizendo que a
dinastia de Jéu cessaria por causa da maneira como ele tomou o poder, mas por causa
do que ele havia feito com esse poder.51

“E assim Jeú destruiu a Baal de Israel. Porém não


se apartou Jeú de seguir os pecados de Jeroboão,
filho de Nebate, com que fez pecar a Israel, a
saber: dos bezerros de ouro, que estavam em
Betel e em Dã. Por isso disse o Senhor a Jeú:
Porquanto bem agiste em fazer o que é reto aos
meus olhos e, conforme tudo quanto eu tinha no
meu coração, fizeste à casa de Acabe, teus filhos,
até à quarta geração, se assentarão no trono de
Israel. Mas Jeú não teve cuidado de andar com
todo o seu coração na lei do Senhor Deus de
Israel, nem se apartou dos pecados de Jeroboão,
com que fez pecar a Israel”.

Gosto da forma como Derek Kidner pensa sobre o assunto. Diz ele que há
um paradoxo em relação a Jéu. Aqui ele é um homem sangrento, acumulando a
tragédia para sua dinastia e seu reino; mas, em 2 Reis 10.30, ele executou “o que era
reto”, fazendo à casa de Acabe “tudo quanto era do meu propósito”, isto é, de Deus. O
motivo é fácil de entender: está no próprio Jéu, um exemplo vivo de flagelo humano.
Na qualidade de executor da vontade de Deus não deixou de cumprir as ordens, e foi
nessa posição que ele recebeu a sua recompensa: a promessa do trono para quatro
gerações de seus filhos.52 Em outros contextos, homens ímpios cumpriram ordens de

49
MACKAY, John. Comentário do Antigo Testamento - Oséias, p. 59-60.
50
LOPES, Hernandes Dias. Oseias – o amor de Deus em ação, p. 38.
51
MACKAY, John. Comentário do Antigo Testamento - Oséias, p. 61.
52
KIDNER, Derek. A Mensagem de Oséias – Ame quem não ama, p. 16.
HEBRAICO EM FOCO - NETO ANDRADE

Deus, temos como exemplo Nabucodonosor, Senaqueribe, Ciro e etc. Cumprir ordens
externas não significava que o coração estava encurvado para Deus.
Seja qual for a intenção do texto, duas coisas estavam sendo julgadas por
Deus: a carnificina e os pecados idolátricos da casa de Jéu contra a Lei de divina.
Como seus pais, Jéu não só pecou, mas fez pecar Israel. Ele deve ter aproveitado por
saber que era instrumento de juízo divino sobre a casa de Acabe para deixar aflorar
todo o mal que havia em seu coração. O Reino do Norte quebrou sua aliança com o
Eterno Criador, e toda quebra de aliança leva a consequências, às vezes, irreparáveis.
A profecia se cumpriu por volta de 722 a.C., quando a Assíria devastou a
Confederação de Israel e levou muitos cativos. Desde então, o Reino do Norte não
conseguiu nunca mais se reerguer. O poderoso exército de Israel caiu em Jezreel em
aproximadamente 733 a.C.

ûfāqadhtî: visitarei. Verbo que vem de pāqadh com significados muito


sugestivos, como: convocar, nomear, numerar, visitar, punir, castigar. Significado
muito ligado à ideia de passar em revista. Deus traria o acerto de contas, iria passar o
exército em revista. A Casa de Jeú receberia a visita do Eterno, não aquela visita de
um amigo, mas de um inspetor. Diante de uma visita dessa, ser achado em falta com
Deus e com o próximo, é uma situação lastimável.

ʼeth dᵉmê: os sangues. O substantivo está no plural sangues, isso pode


claramente indicar a dimensão da carnificina daquela ocasião; destaca a violência
empregada por Jéu. A pena seria aplicada proporcionalmente ao tamanho do crime.
Jéu está sendo sentenciado por crimes de sangues.

wᵉhishbattî: farei cessar, farei acabar. Deus daria um basta na maldade


ovacionada pela casa de Jéu; claro que Deus não estava julgando a casa de Israel
apenas pelos males cometidos por Jéu, as dez tribos do norte havia naufragado na fé,
cometeram apostasia e idolatria contra Deus; corrupção e maldade contra o próximo.
A dinastia da casa de Jéu só estava contribuindo decisiva e negativamente para a
destruição da Confederação do Reino do Norte.

:L‚¶”¸X¸ˆ¦‹ ™¶N·”¸A L·‚´X¸\¦‹ œ¶[¶™-œ¶‚ ‹¦U¸Xµƒ´[¸‡ ‚E†µ† MŸIµA †´‹´†¸‡ 5


yizrᵉʻeʼl bᵉʻēmeq yiśrāʼēl qesheth-ʼeth wᵉshāvartî hahûʼ bayyôm wᵉhāyâ


E naquele dia quebrarei o arco de Israel no vale de Jizreel”.

bayyôm: no dia, naquele dia. Expressão que aponta para dia da sentença
condenatória definitiva e o começo do cumprimento da pena. As dez tribos não
poderiam fugir desse momento; não deixariam de colher o que eles mesmos
plantaram.

wᵉshāvartî ʼeth-qesheth: quebrarei o arco. Uma linguagem figurada que


transmite a ideia de paralisar e enfraquecer tanto a defensiva como a ofensiva de
Israel; os valentes israelitas que formavam o poderoso exército do Norte não seriam
capazes de deter a ação do exército inimigo que vinha como vara de disciplina sobre a
casa de Israel. A frase lembra o Salmo 46.9: “… quebra o arco e corta a lança;
queima os carros no fogo”. O cativeiro, a essa altura, era inevitável. Eles fizeram sua
escolha. Com muita lucidez, Hernandes Dias Lopes diz que Deus colocaria um fim
HEBRAICO EM FOCO - NETO ANDRADE

não apenas na dinastia de Jéu, mas também no Reino do Norte. A casa de Jéu caiu
com a morte do rei Zacarias (2Re 15.8-12).53 E depois de trinta anos de golpes e
contragolpes, o reino foi despedaçado pela Assíria para nunca mais se recuperar.54
Aquele mesmo lugar que fora o vale da vitória de Gideão (Jz 6.33-7.23) agora se
transforma num massacre selvagem, quando o próprio Deus deixa seu povo impotente
diante da invasão avassaladora da Assíria.55

bᵉʻēmeq yizrᵉʻeʼl: no vale de Jezreel, no vale de YHWH semeia, no vale do


YHWH espalha. Nas proximidades da cidade fortificada de Jezreel, nas terras de
Issacar. O grande vale separava a região de Samaria (ao sul) e Galileia (ao norte).
Estendendo-se até o vale do Jordão ao noroeste, e ao monte Carmelo na região
costeira do Mar Grande, o Mediterrâneo. Lugar de intensas batalhas, onde também se
localiza o Megido, na extremidade do vale.

‹¦J †´N´‰ºX ‚«L D´N¸[ ‚´X¸™ ŸL X¶N‚«Iµ‡ œµA …¶L·Uµ‡ …Ÿ” Xµ†µUµ‡ 6
kî ruḥāmâ lōʼ shᵉmāh qᵉraʼ lô wayyōmer bath wattēledh ʻôdh wattahar
:M¶†´L ‚´W¶‚ ‚«\´’-‹¦J L·‚´X¸\¦‹ œ‹·A-œ¶‚ M·‰µX©‚ …Ÿ” •‹¦“Ÿ‚ ‚«L
lāhem ʼeśśāʼ nāśōʼ-kî yiśrāʼēl bêth-ʼeth ʼăraḥēm ʻôdh ʼôsîf lōʼ

“E tornou ela a conceber, e deu à luz uma filha. E Deus disse: Põe-lhe o
nome de Lo-Ruama; porque eu não tornarei mais a compadecer-me da casa de
Israel, mas tudo lhe tirarei”.

wattahar ʻôdh: e concebeu novamente, e engravidou de novo. A falta de


uma clara expressão que indique que Oséias era o pai dessa menina fortalece a tese de
que não era sua. Podemos estar diante dos primeiros atos de adultério de Gômer. Mas
isso pode ser explicado, segundo John L. Mackay, pela afirmação de que Oséias é o
pai no versículo anterior tenha sido transportada para esse. Para ele, não há qualquer
ênfase que na ideia de que a criança seja ilegítima.56 Hubbard pensa que o mais
provável é que a omissão do “lhe” (para indicar a paternidade de Oséias) seja parte do
esquema de concisão crescente no uso de expressões.57 Mesmo admitindo que há
outros filhos e filhas que não são de Oséias e cujo os nomes não são mencionados e
que são frutos de adultérios de Gômer, Russell Champlin afirma que essas primeiras
crianças eram de Oséias.58 Mesmo sabendo que há controvérsias sobre esse assunto,
concordo com Derek Kidner quando diz que o segundo e o terceiro não foram
declarados como seus: o “lhe” do versículo 3 está ausente nos versículos 6 e 8. Assim,
a alegria da paternidade foi profundamente prejudicada, e os filhos foram provas
vivas de invasão no casamento. Hernandes Dias Lopes segue na mesma perspectiva,
ou seja, a infidelidade conjugal estava comprovada.59 Gômer (Israel) estava casada
com Oséias (Deus), mas adulterando com outros homens (deuses) e diante disso, a
compaixão do marido estava sendo colocada de lado.

53
LOPES, Hernandes Dias. Oseias – o amor de Deus em ação, p. 39.
54
KIDNER, Derek. A Mensagem de Oséias – Ame quem não ama, p. 16.
55
LOPES, Hernandes Dias. Oseias – o amor de Deus em ação, p. 39.
56
MACKAY, John. Comentário do Antigo Testamento - Oséias, p. 64.
57
HUBBARD, David A. Oséias – Introdução e Comentário, p. 71.
58
CHAMPLIN, Russell Norman. Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, p. 3448.
59
LOPES, Hernandes Dias. Oseias – o amor de Deus em ação, p. 39.
HEBRAICO EM FOCO - NETO ANDRADE

lōʼ ruḥāmâ: desvaforecida. Não-compaixão, não compadecida. A


compaixão paciente e persistente de Deus estava no limite. O adultério espiritual e
moral de Israel rejeitou o relacionamento com o Eterno, e diante disso, os bons
sentimentos de Deus para com Israel esvaíram-se. Israel ficou a mercê de suas
próprias paixões e carnalidades. Derek Kidner fala que o efeito do nome é assustador
e trágico: o presságio atingiu mais profundamente do que o primeiro, Jezreel, pois
embora seja bastante perturbador perder uma guerra e um reino, ainda é mais
desesperador perder a misericórdia e a compaixão de Deus. 60 O Eterno estava
insistindo com Israel, dando-lhe oportunidades e declarando persistentemente seu
amor, mas a nação estava em uma grande devassidão e cegueira espiritual,
prostravam-se diante de deuses estranhos e falsos, obras de mãos humanas. A
idolatria israelita chegou ao seu ponto máximo: Israel estava sendo desprovido da
graça e do amor de Deus, não porque Deus assim o quisesse, mas pelos atos de
infidelidade, de falta de termo e irreverência para com o Eterno Criador. O perdão
estava sendo retirado; a compaixão estava sendo retida. Pfeiffer e Harrison afirmam
que o Reino do Norte estava amadurecido para o juízo.61

‚«L¸‡ M¶†‹·†«Lª‚ †´‡†‹µA M‹¦U¸”µ[Ÿ†¸‡ M·‰µX©‚ †´…E†¸‹ œ‹·A-œ¶‚¸‡ 7


wᵉlōʼ ʼĕlōhêhem baYHWH wᵉhôshaʻtîm ʼăraḥēm yᵉhûdhâ bêth-wᵉʼeth
:M‹¦[´X´–¸ƒE M‹¦“E“¸A †´N´‰¸L¦N¸ƒE ƒ¶X¶‰¸ƒE œ¶[¶™¸A M·”‹¦[Ÿ‚
ûvᵉfārāshîm bᵉsûsîm ûvᵉmilḥāmâ ûvᵉḥerev bᵉqesheth ʼôshîʻēm

“Mas da casa de Judá me compadecerei, e os salvarei por YHWH seu Deus,


pois não os salvarei pelo arco, nem pela espada, nem pela guerra, nem pelos cavalos,
nem pelos cavaleiros”.

ʼăraḥēm: me compadecerei. Esse termo vem de rāḥam que indica um amor


profundo ou ter afeição terna. Graças ao amor divino pela casa de Judá, a herança de
Abraão foi poupada e a manifestação do Messias para o tempo determinado estava
segura. Judá está de pé até hoje, mesmo diante de tantas tentativas de destruir a nação
judia, Deus a preservou e a guarda para cumprir seus propósitos eternos.

wᵉhôshaʻtîm: e os salvarei. Vem da mesma raiz do nome do profeta Oséias.


Diante das grandes tribulações que ainda sobreviriam sobre a casa de Judá, Deus
aliviaria a dor, e pouparia o Reino do Sul da destruição total. Esse termo pode indicar
o livramento que Judá recebeu de não cair nas mãos da Assíria em aproximadamente
701 a.C. Diante da ameaça de Senaqueribe, Ezequias, rei de Judá, foi feliz em dizer:

“Esforçai-vos, e tende bom ânimo; não


temais, nem vos espanteis, por causa do rei
da Assíria, nem por causa de toda a
multidão que está com ele, porque há um
maior conosco do que com ele. Com ele
está o braço de carne, mas conosco o
Senhor nosso Deus, para nos ajudar, e para

60
KIDNER, Derek. A Mensagem de Oséias – Ame quem não ama, p. 18.
61
PFEIFFER, Charles e HARRISON, Everett F.Comentário Bíblico de Moody, p. 251.
HEBRAICO EM FOCO - NETO ANDRADE

guerrear por nós. E o povo descansou nas


palavras de Ezequias, rei de Judá” (2Cr
32.7-8).

qesheth: arco. ḥerev: espada. milḥāmâ: guerras. sûsîm: cavalos.


pārāshîm: cavaleiros. Diante dos principais instrumentos de conquistas, a casa de
Judá seria salva pelo simples fato de manter um relacionamento amoroso e respeitável
com o Eterno.

“Porém o rei Ezequias e o profeta Isaías,


filho de Amós, oraram contra isso, e
clamaram ao céu. Então o Senhor enviou
um anjo que destruiu a todos os homens
valentes, e os líderes, e os capitàes no
arraial do rei da Assíria; e envergonhado
voltou à sua terra; e, entrando na casa de
seu deus, alguns dos seus próprios filhos, o
mataram ali à espada. Assim livrou o
Senhor a Ezequias, e aos moradores de
Jerusalém, da mão de Senaqueribe, rei da
Assíria, e da mão de todos; e de todos os
lados os guiou” (2Cr 32.20-22).

Cumpre-se cabalmente o que diz Pv 21.31: “O cavalo prepara-se para o dia


da guerra, mas a vitória vem do SENHOR”.

:‘·A …¶L·Uµ‡ Xµ†µUµ‡ †´N´‰ºX ‚«L-œ¶‚ L«N¸„¦Uµ‡ 8


bēn wattēledh wattahar ruḥāmâ lōʼ-ʼeth wattighmōl

“E, depois de haver desmamado a Lo-Ruama, concebeu e deu à luz um


filho”.

wattighmōl: e desmamada. Um tempo provável de dois a três anos. Esse


tempo é mais uma vez a insistência de Deus para que Israel se arrependa. Deus deu
mais um tempo. Com poetiza Jeremias: “As misericórdias do SENHOR são a causa
de não sermos consumidos, porque suas misericórdias não têm fim, renovam-se a
cada manhã. Grande é a tua fidelidade” (Lm 3. 22-23). Não era a misericórdia de
Deus que havia se esgotado, eram os frutos amadurecidos das transgressões dos
israelitas que estavam prontos para serem colhidos. Deus havia feito a sua parte, mas
o povo simplesmente a rejeitou. Preferiam outros deuses, seus amantes.
Israel estava sendo rejeitado. Estava em estado adulterino. A origem da
palavra adultério se origina da expressão latina “ad alterum torum” que significa “na
cama de outro(a)”. Israel dedicava-se a agradar seus deuses, como uma amante
apaixonada e desrespeitosa. No amor do relacionamento se esfriou, as feridas eram
profundas demais. Deus já havia tolerado muitos pecados de Israel, mas o
rompimento do relacionamento desencadearia as consequências de tudo que Israel
plantou. Champlin diz que o nascimento dessa criança simbolizaria que Israel não
mais deveria ser considerado de Yahweh; antes deveria ser rejeitado como um
produto adúltero. Champlin continua dizendo que as Dez Tribos rejeitadas como uma
HEBRAICO EM FOCO - NETO ANDRADE

esposa adúltera, foram levadas para o exílio e para a dispersão, dos quais até hoje não
retornaram. Esse foi o fim do “casamento”62.

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wᵉʼānōkhî ʻammî lōʼ ʼattem kî ʻammî lōʼ shᵉmô qᵉrāʼ wayyōmer
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ʼehyeh-lōʼ

“E Deus disse: Põe-lhe o nome de Lo-Ami; porque vós não sois meu povo,
nem eu serei vosso Deus”.
lōʼ ʻammî: não povo meu, não meu povo. Uma sentença de aplicação
imediata. As Dez Tribos escolheram seu deus. O Eterno Criador estava abrindo mão
da aliança com elas. Deus manteria a nação apenas pela existência do Reino do Sul,
Judá. O Reino do Norte seria levado para o exílio e sua destruição como entidade
político-administrativa seria exterminada.
Wiersbe reflete que Deus não apenas removeria sua misericórdia de seu
povo, mas também renunciaria à aliança que havia feito com ele.63 Soares percebe que
neste momento Oséias reconhece que Gômer adulterou e o nome Ló Ami, que
significa “não povo meu”, é o mesmo que dizer: “você não é meu filho”.64 Isaltino diz
que cada nome manifesta uma etapa da ação de Deus no seu relacionamento com o
povo. Primeiro, ele iria julgar a nação. Segundo, ele a julgaria sem compaixão
alguma. Terceiro, ele faria isto porque a prostituição de Israel anulara o casamento
que fora estabelecido com o êxodo. O casamento estava acabado. O esposo estava
despedindo a esposa de casa. Até a casa (a terra), a esposa perderia.65 Israel podia ser
nominalmente do Senhor, mas na realidade era filha do seu tempo e de seu mundo
pagão.66
A declaração deste verso é totalmente contrária ao que Deus disse sobre o
povo hebreu no dia que vocacionou Moisés para livrar a Israel, Deus disse:
“Certamente, vi a aflição do meu povo (‹¦Lµ” - ʻammî: povo meu), que está no Egito, e
ouvi o seu clamor por causa dos seus exatores. Conheço-lhe o sofrimento” (Êx 3.7).
No contexto de Oseias, Deus estava conhecendo a maldade extrema do coração do
povo, e este, conhecendo a dor extrema das consequências de terem abandonado a
Eterno Criador.
wᵉʼānōkhî lōʼ-ʼehyeh lākhem: e eu não serei com vocês. A tradução mais
correta do texto é essa mesma. Deus estava diretamente falando com o povo e
mostrando que dali em diante a poderosa presença divina estava saindo da nação de
Israel. Também faz um contraste do que Deus disse a Moisés, quando indagado
acerca de Sua identidade: “ʼehyeh ʼăsher ʼehyeh” – Eu serei o que serei (Êx 3.14).

62
CHAMPLIN, Russell Norman. Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, p. 3448.
63
WIERSBE,Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Vol.2, p.392.
64
SOARES, Esequias. Oséias: A restauração dos filhos de Deus, p.35.
65
COELHO FILHO, Isaltino Gomes. Os profetas menores I, p. 27.
66
KIDNER, Derek. A Mensagem de Oséias – Ame quem não ama, p. 19.
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wᵉlōʼ yimmadh-lōʼ ʼăsher hayyām kᵉḥôl yiśrāʼēl-bᵉnê misppar wᵉhāyâ
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yēʼāmēr ʼattem ʻammî-lōʼ lāhem yēʼāmēr-ʼăsher bimqôm wᵉhāyâ yissāfēr
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hāy-ʼēl bᵉnê lāhem

“Todavia o número dos filhos de Israel será como a areia do mar, que não
pode medir-se nem contar-se; e acontecerá que no lugar onde se lhes dizia: Vós não
sois meu povo, se lhes dirá: Vós sois filhos do Deus vivo”.

wᵉhāyâ: e será. Essa declaração muda drasticamente o cenário. Na verdade,


surge uma esperança em meio ao caos. As sentenças proferidas por Oseias vinham
corroborando para uma catástrofe, mas Deus resolveu trazer paz, e anunciar as boas
novas, um horizonte de restauração. Um remanescente se levantaria para honrar a
aliança com Deus feita com Abraão. Mackay diz que desde o início da atividade de
Oseias havia um remanescente fiel no norte que necessitava de encorajamento para
preservar em meio ao desastre que os atingiria e à sua comunidade.67 Essa mensagem
parece específica para os israelitas remanescentes que uma benção futura estava
preparada para Israel. Analisando em completo o texto de Oseias, concordo com
Mackay quando diz que o padrão de um tempo de juízo seguido pela restauração
constitui a estrutura literária e teológica básica de Oseias.68

misppar bᵉnê-yiśrāʼēl kᵉḥôl hayyām: número dos filhos de Israel como a


área do mar. Uma promessa que enaltece o amor e a misericórdia de Deus. Uma
benção profética que indica o crescimento e a multiplicação do povo sobre a terra.
Deus fortalece a promessa que havia feito a Abraão: “que deveras te abençoarei e
certamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e como a areia
na praia do mar...”. (Gn 22.17). Derek Kidner estabelece que Isaías precisou fazer
uma nota de advertência sobre esta multidão, para indicar que seu significado era algo
mais do que simples crescimento populacional, que primeiro havia necessidade de um
peneiramento que resultasse apenas num remanescente de verdadeiros convertidos (Is
10.20-23).69

lāhem bᵉnê ʼēl-hāy: vocês são filhos do Deus Vivo. Indica relacionamento
espiritual com o Eterno. A certeza da filiação. Deus vivo. Remonta o acontecido na
vida de Agar: “Então, ela invocou o nome de YHWH, que lhe falava: Tu és Deus que
vê; pois disse ela: Não olhei eu neste lugar para aquele que me vê? Por isso, aquele
poço se chama Beer-Laai-Roi; está entre Cades e Berede” (Gn 16.13-14). A frase
bᵉʼēr-laḥai-rōʼî significa poço (fonte) daquele que (do que) vive e me vê.
No texto de Rm 9.24-26, Paulo se utiliza da profecia de Oseias para se referir
ao plano de Deus para os gentios: “Os quais somos nós, a quem também chamou, não

67
MACKAY, John. Comentário do Antigo Testamento - Oséias, p. 71.
68
MACKAY, John. Comentário do Antigo Testamento - Oséias, p. 71.
69
KIDNER, Derek. A Mensagem de Oséias – Ame quem não ama, p. 20.
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só dentre os judeus, mas também dentre os gentios? Como também diz em Oséias:
Chamarei meu povo ao que não era meu povo; e amada à que não era amada. E
sucederá que no lugar em que lhes foi dito:Vós não sois meu povo; aí serão
chamados filhos do Deus vivo”.

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rōʼsh lāhem wᵉśāmû yaḥddāw yiśrāʼēl-ûvᵉnê yᵉhûdhâ-bᵉnê wᵉniqbᵉtsû
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yizrᵉʻeʼl yôm ghādhôl kî hāʼārets-min wᵉʻālû ʼeḥādh

“E os filhos de Judá e os filhos de Israel juntos se congregarão, e


constituirão sobre si uma só cabeça, e subirão da terra; porque grande será o dia de
Jizreel”.
wᵉniqbᵉtsû bᵉnê-yᵉhûdhâ ûvᵉnê- yiśrāʼēl: e serão reunidos (congregados,
ajuntados, coletados) os filhos de Judá e os filhos de Israel. Aqui, precisamos fazer
uma pergunta: em que parte da história essa unificação do reino aconteceu? Na
celebração da páscoa no reinado de Ezequias, alguns remanescentes de Aser, de
Manassés e de Zebulom que havia escapados do cativeiro assírio se humilharam e
foram para Jerusalém (2Cr 30.11). O texto ainda indica que muitos de Efraim e
Issacar estavam lá (2Cr 30.18). o texto de 2Cr 31.6 mostra que alguns filhos de Israel
habitavam, como refugiados, nas cidades de Judá. Ainda nas páginas do Livro de
Crônicas, encontramos a ação de Josias, rei de Judá, sobre as cidades de Manassés, de
Efraim, e de Simeão, até Nafitali (2Cr 34.6). Depois da política de purificação da
terra, foram a Hilquias, sumo sacerdote, e entregaram o dinheiro que se tinha trazido
à Casa de Deus e que os levitas, guardas da porta, tinham ajuntado, dinheiro
provindo de Manassés, de Efraim e de todo o resto de Israel, como também de Judá e
Benjamim e dos habitantes de Jerusalém (2Cr 34.). Outro fato interessante se dar no
retorno do exílio babilônico, o texto diz: “os exilados que vieram do cativeiro
ofereceram holocaustos ao Deus de Israel, doze novilhos por todo Israel” (Ed 8.32).
O sentimento, ao que nos parece, era de um Reino restaurado e unificado entre as
doze tribos de Israel. Isaías 11.11: “Naquele dia, o Senhor tornará a estender a mão
para resgatar o restante do seu povo, que for deixado, da Assíria [...] ajuntará os
desterrados de Israel e os dispersos de Judá recolherá desde os quatros confins da
terra” (Is 11.11-12). A profecia de Ezequiel, diante desse tema, salta aos nossos
olhos: “Farei deles uma só nação na terra, nos montes de Israel, e um só rei será rei
de todos eles. Nunca mais serão duas nações; nunca mais para o futuro se dividirão
em dois reinos” (Ez 37.22).
Sobre o cumprimento dessa profecia, o Novo Testamento faz uso dos
oráculos de Oseias. A igreja do Messias faria a incorporação de todos, judeus e
gentios sem distinção, apontando para uma herança celestial do povo do Eterno
Criador. A expressão “Israel de Deus” utilizada por Paulo em Gl 6.16 apontam para
judeus e gentios conversos, a Igreja (Ef 1.22-23; 2.11-19). A união física e espiritual
de Judá e Israel na sua forma total era quase impensável, até a chegada da
dispensação da plenitude dos tempos (pleroma tõn kairõn); o mistério de Deus veio a
toma, Cristo, e o mistério escondido em Cristo foi revelado, a igreja.
O Novo Testamento deixa muito claro o tempo de confirmação e
consumação da profecia de Oseias. No seu contundente discurso diante de Agripa,
Paulo se utiliza da expressão “as nossas doze tribos”, deixando claro que a esperança
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da promessa dada por Deus através de Cristo era um forte desejo de todo Israel. (At
26.6-7).
Ainda em seu singular momento de inspiração, Paulo em Rm 11.25-26
afirma: ... Todo Israel será salvo. Um plano fenomenal e mais ainda gracioso, uma
promessa de inteira restauração de Israel. Um apontamento para o reinado poderoso
do Messias sobre a terra.
rōʼsh ʼeḥādh: cabeça única, um líder, liderança unificada. Uma boa
estudada na história da restauração do povo judeu, leva-nos a crer nas profecias de
Oseias. Em 1948, Israel voltou a respirar sua liberdade e independência. Não existe
mais divisão entre o norte e sul, há um Israel, mesmo sabendo que a nação atual é
unificada e governada por um líder, cremos piamente que a profecia se cumprirá no
retorno do Messias, para reinar sobre Israel, para estabelecer seu reino messiânico na
Terra.
wᵉʻālû min-hāʼārets: e subirão da terra. Algunas ideias podem ser tiradas
dessa expressão: uma referência ao retorno do cativeiro assírio; a nação israelita
voltaria a ter um grande poderio bélico; uma expressão para demonstrar a restauração
do povo, que seria levantado das ruínas ao triunfo. Alguns comentaristas apontam que
a expressão subir traz a ideia de brotar. Diante de todos esses entendimentos, resta
acreditar que a restauração de Israel seria tão gloriosa, que os momentos de dores e
sofrimentos seriam esquecidos. A alegria seria maior que a tristeza.

kî ghādhôl yôm yizrᵉʻeʼl: pois grande (será o) dia de Jezreel. Fica


evidente o poder da graça divina que começa a se manifestar no texto profético.
O Eterno Criador havia preparado todo o contexto profético-escatológico para
a restauração da nação de Israel. Warren W. Wiersbe chama a atenção para a
nova utilização do nome de Jezreel, pois em vez de ser um lugar de matança e
de julgamento, Jezreel será um lugar de semeadura, em que Deus semeará seu
povo com júbilo e em sua própria terra e os fará prosperar.70

70
WIERSBE,Warren W. Comentário Bíblico Expositivo. Vol.2, p.392.
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