UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” -
FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS, CÂMPUS ASSIS
Beatriz Victoria Cabral Gagliardi - 211244601
Resenha Do filme Vênus negra
Baseado em uma história real do século 19, o filme Vênus Negra conta a história de Saartjie, uma mulher nascida na África do Sul que mudou de continente com seu mestre Caezar, onde foi explorada. A mulher chega a Londres para ser a maior atração de um show de horrores. Saartjie vivia fazendo uma espécie de “show teatral”, onde ela se apresentava como sendo uma selvagem, e até mesmo uma “espécie animal” diferente do ser humano, essa ideia era bastante explorada pelo seu chefe Ceaser muito por conta da diferença física do corpo de Saartjie para a maioria das mulheres europeias. Ela é chamada de Vênus de Hottentot e serve como item de diversão da sociedade branca da época, que se surpreende com as formas físicas da mulher a quem consideram uma fera. Os espectadores observam seu corpo, seus trejeitos e chegam a tocá-la para sanar a curiosidade, uma referência a deusa romana do amor e da beleza, e também ao povo Khoi, na qual ela pertencia. Nestas apresentações, era presa pelo pescoço e fazia o que seu patrão ordenava e fingia atacar as pessoas da plateia. E, ainda era permitido pelo homem, que a tocassem as nádegas ao final da apresentação. Parte que mais chateava Saartjie. A exposição dessa mulher, reforça a inferiorização e sexualização da mulher negra, africana no século XIX, principalmente, na construção de estereótipos e contornos da diáspora africana. Além da violência física, há uma carga de poder simbólico extremamente cruel e abusiva. A Vênus Hotentone, do século XIX, foi base para potencializar o poder do homem sobre o corpo feminino e, marcar a diferença da supremacia do corpo branco, sobre o corpo negro e, assim, iniciasse o debate sobre o conceito de raça. O racismo, a crueldade, desrespeito e falta de humanidade são predominantes em todo o decorrer do filme Vênus Negra. Além disso, ela se torna objeto de estudo também graças ao tamanho do seu quadril. Ele diz que nenhuma raça de negros é predecessora do povo que deu origem a civilização do antigo Egito e do qual o mundo inteiro herdou os princípios das leis, da ciência e até da religião. A vênus de Hotentote – atração circense na Europa (Londres) no século 19 foi “capturada” na África e levada para Europa para servir de objeto de chacota dos europeus. Ela é manipulada por seu dono antes de entrar na corte onde é questionada sobre sua “atuação” como Vênus de Hotentote. Ela diz que está ali por sua vontade e que não é uma escrava. Sofreu abuso sexual por parte de um dos interessados quando estes foram a Paris. Após isso ela passa a ser apresentada de forma mais intensa e humilhante, sendo duramente chicoteada, e fazendo outros tipos de “atrações” que a expunha da pior maneira. Diante de uma rotina que aparentava ser de uma mulher livre, Saartjie em algum momento “quebrou o protocolo” e decidiu fazer o espetáculo a sua maneira, e cantou uma música e decidiu não agir como uma “selvagem”, diante disso Ceaser demonstrou a verdadeira natureza da sua relação com Saartjie, uma relação marcada por uma falsa impressão de liberdade, mas que na verdade é apenas uma máscara a qual esconde uma hierarquia clara de poder. Após um dos espetáculos ela é obrigada a ser examinada por um comitê a fim de provar que se trata mesmo de uma hotentot pelo que era chamado “avental de Hotentot”. Ela passa a ser analisada por um grupo de médicos e pesquisadores para saberem a autenticidade da raça. Depois de ser examinada durante três dias por cientistas do Museu de História Natural, ela desenvolve um vício em álcool e é contaminada por uma doença venérea. Ela morre em Paris com 26 anos de idade. Falece sozinha e seu corpo é vendido pelo médico que havia tentado examinar anteriormente. Após a sua morte, seu corpo foi dissecado e tornou- se propriedade do Museu de História Natural de Paris até a década de 1980. A Vênus Hotentote virou símbolo na luta pelos direitos humanos, o governo sul-africano, após intensa negociação entre os governos de Nelson Mandela e de François Mitterand, Mandela exige a repatriação de seus restos mortais, tal fato sendo consumado apenas em 2002, quando o corpo recebeu recepção de chefe de estado e foi sepultado em sua tribo de origem. Um detalhe notado por mim no filme foi a pouca mudança de expressão no rosto de Saartjie, ela mantinha uma expressão em seu rosto de “eterna tristeza”, e essa expressão permanente em seu rosto refletia a sua vida, uma vida que a maioria dos caminhos a serem trilhados eram escolhidos por outros e não por ela mesma, isso trazia uma melancolia de pano de fundo do filme. Eu poderia dizer que uma dose de racismo, sexismo e machismo ilustrou o filme, entrelaçando realmente com os dias atuais sendo altamente abusada, sexualizada e servida como um objeto de pesquisa pra homens, e mesmo depois de morta não tendo paz em seu corpo, que isso ainda permanece nos dias atuais, ela sofre uma tortura imensurável. O racismo cientifico naquela época é notado em diversos momentos que ela foi medicada em seu corpo e das comparações á espécie animal em questão, não há explicação pra tamanho sofrimento em que essa mulher passou, viva e morta, mais ainda por ser negra, e o mais difícil e ver que isso ainda ocorre nos dias de hoje (logico que debaixo dos panos e não tanto como naquela época) mas mulheres e negros continuam não tendo paz. Filme super pesado e triste que é retratado uma infelizmente realidade do que os humanos são capazes.