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UFCD 8927 Expressão Dramática aplicada à população idosa Ana Pimentel

MANUAL DE FORMAÇÃO

8927– Técnicas de Expressão Dramática aplicada à população idosa

Entidade Formadora: Servirege – Consultoria Empresarial, Unipessoal, Lda

Entidade Promotora/Beneficiária: Associação Comercial e Industrial de


Vila Real

Local de Formação: Associação Comercial e Industrial de Vila Real, Rua da


Misericórdia, n.º15, 2.º andar, 5000-653 Vila Real

Formador(a): Ana Pimentel

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UFCD 8927 Expressão Dramática aplicada à população idosa Ana Pimentel

Novembro a Dezembro de 2021

Ficha técnica

Título: Manual de Formação: 8927 – Expressão Dramática aplicada à população idosa

Autor(a): Ana Pimentel

Eixo de Intervenção: Promover a sustentabilidade e a qualidade do emprego

Tipologia de Formação: 1.08 – Formação Modular para Empregados e Desempregados

Área de Formação: 762 – Trabalho social e orientação

Código e Designação do Referencial de Formação/Curso: 8927 – Expressão Dramática


aplicada à população idosa

Entidade Formadora: Servirege – Consultoria Empresarial Unipessoal, Lda

Entidade Promotora/Beneficiária: Associação Comercial e Industrial de Vila Real

Duração Total da Formação: 25 horas

Local de Realização: Associação Comercial e Industrial de Vila Real, Rua da Misericórdia,


n.º15, 2.º andar, 5000-653 Vila Real

Data: Novembro a Dezembro de 2021

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ÍNDICE

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Abertura

“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance, ria e viva
intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos...”

Autor Desconhecido

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Objetivos

 Reconhecer a importância da expressão dramática aplicada à população idosa;


 Identificar as diferentes técnicas de expressão dramática, bem como as suas especificidades.

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1. Dramaterapia

Cada vez mais, ao longo dos anos, o teatro e o drama têm vindo a ser utilizados como
ferramenta terapêutica.
Dramaterapia é a utilização intencional do drama ou outro processo teatral para atingir alvos
terapêuticos, facilitando o crescimento pessoal e promovendo a saúde mental. As crianças,
jovens ou adultos participam ativamente no contar de histórias, no resolver de problemas, no
expressar de sentimentos, incorporar personagens – técnica do role-playing– com o propósito
de modificar o comportamento, reintegrar emocional e fisicamente, construir autoestima e
habilidades.

Normalmente, a dramaterapia é utilizada para ajudar as crianças ou adultos a:

 compreender as suas próprias motivações e comportamentos;


 explorar verdades sobre si mesmo;
 expressar-se melhor e mais saudavelmente;
 a melhorar funções cognitivas como a memória, concentração e perceção;
 explorar e transcender tipos pessoais doentios de comportamento e interação
interpessoal.

1.1 Benefícios de uma intervenção com base no drama com população idosa

Eis alguns dos benefícios proporcionados pela utilização da Dramaterapia:

 Aumenta a autoestima e a confiança;


 Facilita a exploração do reconhecimento de sentimentos e de relacionamentos;
 Melhora o autoconceito;
 Melhora capacidades sociais e cooperação com outros;
 Promove a espontaneidade e a criatividade;
 Traz mudança interna de comportamentos;
 Promove a interação e desenvolvimento social;
 Melhora funções cognitivas (memória, concentração e perceção).

“Dramaterapia é uma terapia que promove a criatividade, o jogo lúdico, a imaginação, o


crescimento e a autoestima”

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1.2 Origem da dramaterapia

A dramaterapia começou com Jacob L. Moreno, criador do psicodrama e pioneiro na área da


terapia em grupo. De seguida evolui, incorporando várias formas de intervenção terapêutica,
com a utilização de jogos teatrais, dinâmicas de grupo, mímica, fantoches e técnicas de
improviso.
No início do século XX, o teatro hospital e o trabalho de Moreno, Evreinov e Iljine marcaram
uma nova relação entre terapia e teatro, abrindo portas para que, nos anos 70, a dramaterapia
surgisse como uma terapia de artes criativas eficiente. Atualmente, a dramaterapia é
amplamente utilizada a nível global todo, existindo formação específica para treinar
profissionais nesta área na Europa e nos Estados Unidoss.

1.3 Quando Utilizar a Dramaterapia?

Não é necessário ter algum tipo de problema comportamental ou dificuldade de aprendizagem


ou de outro género para usufruir da dramaterapia. Embora esta terapia traga enormes
benefícios a famílias disfuncionais, crianças com dificuldades de desenvolvimento, jovens com
desordens alimentares ou em situação de risco, adultos a lidar com traumas ou idosos, está
aberta a todos, independentemente da idade ou nível de desenvolvimento/comportamento.

1.4 Quem é o Dramaterapeuta?

Os Dramaterapeutas são técnicos treinados em teatro, psicologia, psicoterapia e dramaterapia,


cujas áreas de estudo incluem improvisação, fantoches, role-playing, máscaras, mímica,
produção teatral, psicodrama, psicologia do desenvolvimento, teorias de personalidade e
técnicas de grupo. Este profissional pode trabalhar em instituições para portadores de
deficiência, escolas, hospitais, centros de desintoxicação, centros e lares de idosos, centros de
correcção, abrigos, infantários, empresas e teatros.

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2. Psicodrama e sociodrama

2.1 Objetivos do Psicodrama

Os termos psicodrama e sociodrama são criações de Jacob Levy Moreno, um médico


humanista cujo maior sonho era a transformação social. Nas suas intervenções, em Viena,
estimulava as pessoas descobrirem novas formas de estar no mundo. Através da observação
sobre o potencial criativo do ser humano, criou a filosofia do momento. A abordagem privilegia
o reconhecimento dos conflitos e a busca por alternativas de solução, encontrando novas
maneiras de atuação no meio social. As terapias que utilizam o “drama”, que em grego significa
ação, funcionam como uma forma de investigação da alma humana através da ação. A
princípio, ambos são métodos de pesquisa e intervenção nas relações interpessoais, e têm sido
amplamente utilizados em escolas, empresas, hospitais, clínicas e comunidades. Porém, existe
uma diferença, ainda que subtil. O Sociodrama foca o seu trabalho dramático sobre um grupo
de pessoas e o Psicodrama sobre um determinado indivíduo, muito embora ele seja visto como
um ser ativo dentro de uma relação.
O Psicodrama é uma metodologia de investigação e intervenção nas relações interpessoais, nos
grupos, entre grupos ou mesmo no relacionamento de uma pessoa consigo mesma, criada
por JACOB LEVY MORENO (1889-1974).
Sociodrama é uma metodologia de trabalho com grupos que explora os processos de
contradição presentes nas relações entre pessoas com recurso à dramatização. Tem como
objetivo facilitar a procura e o encontro de soluções para os problemas sentidos. A
representação em sociodrama é feita de forma voluntária, e tem como objetivo fazer com cada
participante se coloque nos diferentes papéis, de forma a criar condições para compreender os
elementos que estão em jogo e facilitar uma decisão coletiva

2.2 Instrumentos do psicodrama

Para Moreno, Psicodrama e Sociodrama não são técnicas, mas instrumentos de intervenção


e tratamento da realidade do ser social. De qualquer maneira, para compreender bem as duas
abordagens torna-se necessário conhecer a Teoria dos Papeis. Para o seu criador, os papeis
sociais são maneiras que o próprio indivíduo cria para se relacionar com o mundo, contendo um
conjunto variado de potencialidades.
Os papeis sociodramáticos são aqueles que representam ideias e experiências coletivas. Por
outro lado, os papeis psicodramáticos aplicam-se a ideias e experiências individuais. Porém, não

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é tão simples, pois no coletivo aparece a visão individual da pessoa que atua, e no indivíduo
ressoam as características coletivas, inerentes a uma determinada cultura.

Os Instrumentos do Psicodrama Moreniano:

1. Protagonista
2. Diretor
3. Ego-auxiliar
4. Auditório
5. Cenário

O ego-auxiliar ultrapassa a causalidade linear (Efeito proporcional – linear)- dum acto. Eu chutei
uma bola. O efeito da bola (movimento) é causado pela força do pontapé). Procura repor a
dimensão circular. O espaço provável. Liberta a tensão da memória na sua tensão com o
esquecimento.

2.3 Técnicas do Psicodrama

Fases do Psicodrama:

1. Aquecimento;
2. Dramatização;
3. Comentários;

1. O aquecimento tem como objetivo desenvolver as tensões e escolher um tema. Divide-se


em aquecimento geral e específico. Mo aquecimento geral toma-se o pulso ao grupo. No
aquecimento específico explora-se um tema e escolhe-se o protagonista. A escolha dos
protagonistas implica a formulação dum problema e a proposta dum cenário.

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2. Na dramatização (as cadeiras são afastadas. Simbolizam o pano da cena) é quanto existe
uma maturidade par a ação. Passa-se da palavra para a ação. O que interessa é mostrar os
factos. Não interessa a sua descrição nem as suas condições.
3. Nos comentários, regressa-se ao contexto do grupo (fecham-se as cadeiras recria-se um
contexto social. Um contexto de partilha e de solidariedade). O protagonista expressa o que
viveu. O auditório é chamado a verbalizar a experiência que viveu ou assistiu. Os egos
exprimem-se e o diretor efetua um comentário síntese.

As técnicas do psicodrama estão baseadas no jogo entre o protagonista e o ego-auxiliar. Tem


como objetivo atingir um clímax para gerar uma catarse de integração.

1. Inversão de papéis: Trocar com o ego. Olhar o outro a partir da representação do


outro. É uma técnica usada para a resolução de conflitos. O desempenho do papel do
outro revela as posições do outro lado. Tem por base o processo da fenomenologia do
espírito. A observação do processo visa criar consciência de si.
2. Solilóquio (diálogo consigo mesmo). Pensar alto. Encontrar a representação do eu.
Procura a “insight vision” do protagonista.
3. Interpolação de Resistência. O ego introduz alterações de comportamento. Permite
ver alternativas de saída para problemas complexos.
4. Confronta o eu com as evidências. (é complexo do ponto de vista emocional.
5. Exprime emoções pelo ego e permite compreender a sua complexidade
6. Representação Simbólica. Constitui-se como um jogo de representações. Pode
recorrer a um objeto intermediário. Constitui a colocação dum objeto em cena para fazer a
transição ou para diálogo.
7. Estátua. A execução de estátua permite a representação estética de emoções ou de
objetos.
Outras técnicas.

Jogos aplicados:

 De coesão de grupo
 De revelação de papéis
 De emergência do protagonista
 Jogos de Confiança
 Criação de contacto corporal
 Jogos de diferenciação de papéis.
 Máquinas
 Animais

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 Jogos temáticos.
 Interditos
 Mitológicos
 Problemas complexos

Teoria do Papel

O papel (role) no drama moreniano representa a ligação entre o indivíduo e a cultura. A sua
personalidade é um processo cultural. O papel é a unidade cultural de conduta. Padrão de
conduta que tem como objetivo a satisfação de funções fenomenológicas. Os papeis culturais
são pré-existentes ao indivíduo e é sobre eles que a personalidade traça a sua adaptação. As
normas constituem-se como algoritmos sociais. Códigos de conduta explícitos e não explícitos.
As normas criam vínculos externos. Vínculos a terceiros. Cada indivíduo representa uma
multiplicidade de papéis. No psicodrama o Super Ego, o Ego e o iD de Freud são substituídos
pelo Dever, pela realidade e pelo prazer. Os papéis psicossomáticos. São papéis que
representam o modo de ser. O espaço interior de cada indivíduo. O si mesmo é uma zona de
contato entre o eu e os papéis complementares exteriores. O desenvolvimento de si-mesmo é
justificado no desempenho de papéis complementares. No psicodrama inclui-se a representação
do si mesmo pela representação do ser. A tensão com o contexto. É a tensão com o exterior
que leva cada indivíduo a estruturar os seus conceitos de representação. Manter uma tensão
com o exterior leva a uma maior aproximação do eu. O drama moreniano procura criar a
liberdade da espontaneidade para a inovação criadora. O objectivo do psicodrama é criar uma
catarse psicodramática. A catarse de integração que ultrapassa barreiras.

2.4 Sociodrama

O sociodrama tem uma função educativa e terapêutica. Pode ser útil para uma terapia familiar.
Um grupo de sociodrama pode tratar problemas terapêuticos de uma pessoa na sua relação
com o grupo. Pode ser trabalhado em qualquer contexto e em qualquer problema no grupo. O
sociodrama é uma psicoterapia de grupo, aplicando técnicas sociométricas e psicodramáticas.
O sociodrama procura integrar o grupo e encaminha-lo para ações específicas que se adequem
a défices emergentes. O sociodrama utiliza técnicas dramáticas que procuram ultrapassar o
verbal. Treina-se o papel (utilizando a teoria do papel do Moreno) de forma a tomar consciência
e resolver situações de conflito.
O sociodrama criado por moreno, é desenvolvido em Portugal como uma aplicação específica
do Psicodrama em situação de grupo. Resultou da forma como o psicodrama chegou por via
dos Trabalhos de Alfredo Soeiro1.
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terapeuta brasileiro treinado em 1965 pelo psiquiatra Jaime Roger Bermudez, da associação argentina de psicodrama
e psicoterapia de grupo)

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O sociodrama parte do grupo, de desbloqueamento da interação entre os membros do grupo,


procurando estabelecer através da espontaneidade a criação de energia.

 Criar jogos
 Energizar o grupo
 Enfrentar a mudança
 Explorar a espontaneidade

É necessário ter em atenção que a espontaneidade pode ser excessiva. O sociodrama deve
adequar a espontaneidade a:

 Ao processo como desempenha o papel


 Ao desenvolvimento da eficácia do papel

A espontaneidade (como epistemologia da psicologia) é uma zona ou ponto focal de um


dispositivo físico de arranque e aquecimento profilático.
A noção de conserva cultural, desenvolvido por Moreno e a Espontaneidade não existem
independentemente um do outro. Uma é função da outra. Cada uma emerge em função da
adequação do outro.
A conserva cultural é uma receita de resposta do indivíduo. A espontaneidade emerge com o
seu aquecimento. Esse papel pode ser ensaiado através da sua dramatização. A
espontaneidade assenta no conhecimento de si e do outro. Relaciona-se com o processo (ver a
questão do instituto de plateia) de interação social como um processo de gestão de
expectativas. O aquecimento serve para preparar as condições de emergência da
espontaneidade.
Sociodrama surgiu do Teatro Espontâneo, criado por Moreno, no início do século XX. Trata-se
de um dos métodos sociátricos para pesquisar e tratar os grupos e as relações intergrupais, os
seus conflitos e sofrimentos. Fundamenta-se na epistemologia socioeconómica e tem o objetivo
de superar a dicotomia da pesquisa quantitativa/qualitativa, ao privilegiar a participação dos
sujeitos na situação. O sociodrama é um método de pesquisa interventiva, que busca
compreender os processos grupais e intervir em uma das suas situações-problema, por meio da
ação/comunicação das pessoas. Segundo Moreno (1975):

"O verdadeiro sujeito do sociodrama é o grupo .... Há conflitos nos quais


estão envolvidos fatores coletivos ... supra-individuais ... e que têm que
ser compreendidos e controlados por meios diferentes. ... pode-se, na
forma de sociodrama, tanto explorar, como tratar, simultaneamente, os
conflitos que surgem entre duas ordens culturais distintas e, ao mesmo
tempo, pela mesma ação, empreender a mudança de atitude dos

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membros de uma cultura a respeito dos membros da outra" (p. 413-


415)

O objetivo do sociodrama é trabalhar sobre os papeis sociais. Procurar a adequação dos papeis.
Treinar a mudança dos papeis e a sua adequação. O sociodrama oferece um contexto e
desenvolve a espontaneidade. Em sociodrama, os protagonistas experimentam os papeis.
Atenção, que em sociodrama experimentar não é trocar de papel. Não é procurar ver o outro
com os olhos dele, mas procurar uma ação adequada ao contexto. Por exemplo, Moreno, usava
o psicodrama para treino de empregadas de mesa. Efetuava-se uma autoscopia. Uma
representação inicial, seguida duma apreciação pessoal, da discussão em grupo, e uma nova
representação.

2.5 Técnicas do Sociodrama

As principais técnicas do Psicodrama/sociodrama são: Espelho: o ego auxiliar imita o

protagonista (espelha fidedignamente) em todos os seus movimentos e expressões. ...

Inversão de papéis: técnica que consiste em trocar o papel que o protagonista está

desenvolvendo com o de seu interlocutor.

Como realizar um sociodrama:

1. Escolher ou definir um tema. ... 


2. A decisão sobre os papeis deverá ser feita de forma sociométrica (por adesão a
contribuições). ... 
3. Preparar os argumentos sobre o tema. ... 
4. Há que abrir plenamente à discussão do grupo sobre o tema. ... 
5. Devem-se anotar todas as conclusões do grupo

Técnica Sociométrica

O teste sociométrico e de perceção sociométrica é uma estratégia possível de análise de grupos


e da posição ocupada por estes nos grupos (cf. Bastin, 1980). O objetivo principal da
sociometria será analisar e determinar a posição social de um sujeito dentro de um grupo
(empresa, fábrica, turma), a partir das escolhas e rejeições.

Deste modo, permite a análise/caraterização dos grupos, pelos tipos de relações existentes.
Fornece uma ideia quase completa das relações interpessoais estabelecidas num determinado
grupo, permitindo constatar a rede de relações, bem como as dinâmicas: liderança,

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popularidade, rejeições, isolamento, indiferença, ou seja, o nível de integração de cada


indivíduo no grupo.

Para Farinha (2005) teste sociométrico é uma técnica simples que permite avaliar a estrutura
interna e informal de grupos pequenos. Segundo Moreno o teste sociométrico envolve quatro
passos essenciais:

1.      Formulações de uma pergunta a todos os membros do grupo para que escolham
os indivíduos mais e menos desejariam ter como companheiros em determinadas
atividades específicas ou situações particulares;

2.      Levantamento das respostas e construção de uma tabela;

3.      Elaboração da matriz sociométrica e do sociograma;

4.      Interpretação dos resultados do sociograma.

Este é um teste muito flexível, cujas características permitem a sua utilização numa grande
variedade de contextos educativos abrangendo um vasto leque de níveis etários. Afim de não
enviesar respostas as situações criadas devem ser reais e não hipotéticas. Deve ser tido em
conta que:

a)      É uma técnica de administração e avaliação bastante simples;

b)      Fornece uma grande quantidade de informação em relativamente pouco tempo e


esforço;

c)      É aplicável tanto do ponto de vista de um diagnóstico individual como de um


diagnóstico grupal e até das relações interpessoais no grupo turma;

d)     Permite captar facilmente barreiras e bloqueios relacionais, relacionadas com o


sexo, etnia existentes num grupo;

e)      Pode ser aplicado tantas vezes quantas se quiser ao longo do tempo o que pode,
por exemplo dar informação útil sobre a evolução do grupo. (Farinha, 2005)

Quanto à estrutura do teste, os critérios ou situações podem ir de 1 a 4, sendo que dois ou três
critérios são suficientes na maior parte dos casos. Para cada critério são estabelecidas 4
variações da pergunta (uma para as escolhas, outra para as rejeições, outras duas para a
perceção da escolha e da rejeição).

Um dos problemas é saber o número de escolhas e rejeições que se pode permitir. Ao se


aceitar um número ilimitado tem a vantagem de permitir conhecer a expansividade social do

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sujeito e a totalidade das relações existentes no grupo, porém torna o trabalho de análise da
matriz e do sociograma  bastante complexo. Todavia, exigir uma só escolha é limitar à partida
as possibilidades do teste. Uma estratégia possível é permitir o número de escolhas desejado e
depois na análise ter em conta só as três respostas e ponderá-las. (Farinha, 2005).

Relativamente à utilidade prática do teste sociométrico, o principal objetivo educacional é a


avaliação da estrutura social e afetiva do grupo/turma, mas podemos ainda definir outros
objetivos mais específicos:

1.      Conhecimento do nível de aceitação que uma criança tem num determinado
grupo/turma;

2.      Avaliação da coesão entre os membros do grupo/turma, por exemplo, se estão


bem integrados ou se tendem a organizar-se em pequenos grupos isolados uns dos
outros;

3.      Identificação das crianças alvo de uma rejeição especial pelos outros;

4.      Identificação dos líderes do grupo, que podem servir como aglutinantes dos seus
diferentes componentes;

5.      Identificação dos elementos isolados, que não são escolhidos por nenhum

grupo;

6.      Avaliação dos efeitos que a incorporação de crianças novas tem num determinado
grupo.

Em suma, a sociometria pode ainda ter uma importante função preventiva, pois a aplicação de
um teste sociométrico pode permitir identificar alguns problemas e intervir de modo a resolve-
los.

2.6 Diferenças entre Psicodrama e sociodrama

Na realidade, a grande diferença entre as duas abordagens é o cliente. No Psicodrama, o


trabalho é desenvolvido sobre o indivíduo, nos seus problemas e a construção de uma nova
forma de interagir com o mundo. Para o Sociodrama, importa a identidade comum, o grupo, a
coletividade, que representam uma cultura.
O terapeuta, que atua como diretor cénico, no Psicodrama privilegia os aspetos individuais, e
no Sociodrama, os interesses coletivos. Considera-se que, no primeiro caso, quem precisa de
intervenção terapêutica é o indivíduo, e no segundo, é o grupo, são os vínculos, as instituições.

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2.7 Benefícios do Psicodrama e sociodrama

A dinâmica das duas abordagens é a mesma: a participação criativa e espontânea em uma ação
desenvolvida e conduzida pelo terapeuta. Ambas utilizam a ação dramática como meio de
construção de conhecimento e de consciência na relação com a realidade e com o meio
relacional.
Além da criatividade e da espontaneidade, valorizam a empatia, “ver-se com os olhos do outro”,
e uma perceção objetiva dos acontecimentos e inter-relações. Como consequência, ocorrem
mudanças de atitude, novas perceções das situações e dos relacionamentos e transformações
profundas em todas as áreas, tanto nas aplicações em grupos quanto individuais.

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3. Role-play com população idosa

3.1 Role-play

Os role plays nada mais são do que a simulação ou encenação de um evento real, que remete a
uma situação quotidiana, geralmente repetitiva, e que necessite de aperfeiçoamento e atualização
constante.
Ao simular uma situação real, em um ambiente seguro e controlado, o grupo tem oportunidade de
observar e ser observado em situações familiares e/ou desafiadoras, permitindo não só a reflexão
sobre a prática, mas também uma prática livre de julgamentos e riscos. Trata-se, portanto, de um
recurso de aprendizagem versátil e dinâmico, que pode trazer benefícios a curto, médio e longo
prazo.

Com os role plays, a ideia é que a prática leve à “perfeição”, favorecendo o desenvolvimento de
habilidades necessárias às práticas quotidianas, alinhamento de discurso, reforço de processos,
fixação e exercício de técnicas, contorno de objeções e muito mais.
Os role plays podem ser aplicados em diferentes contextos e com diferentes objetivos, mas
precisam ser bem planeados e ter um propósito muito claro para todos os participantes. Assim, a
atividade não cai na monotonia nem perde o aliciamento do grupo.

3.2 Prática comportamental

Na dramatização, são eliciadas qualificações, afetos, regras, disparidades e outros fatores


envolvidos no comportamento dos indivíduos (Minuchin & Fishman, 2003). Diversas áreas do
conhecimento vêm mostrando o potencial das técnicas teatrais em contextos variados. Tem-se
como exemplo as artes cénicas que entendem seu trabalho como uma possível forma de
promover o diálogo, no qual o trabalho de atuação envolvendo voz, expressão corporal e
construção de personagem, mobilizam sentimentos e memórias pessoais. Com isso, abrem
espaço para a socialização e sentimento de pertencimento de um determinado grupo. Desse
modo, pode-se entender que, mesmo quando não possuem objetivos psicoterapêuticos, os
jogos de dramatização podem ter efeitos terapêuticos (Siewert, 2011). Os estudos pioneiros do
role-play ocorreram com Rehm e Marston em 1968. Entre seus objetivos, queriam iniciar uma
estratégia comportamental que facilitasse as habilidades sociais (Bellack et al., 1979), sendo
esse o foco de parte de suas intervenções atualmente (Laugeson & Park, 2014).

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3.3 Técnicas aplicadas no role-play de situações

O desenvolvimento de atendimento e de comunicação eficaz de médicos (Berkhof, Rijssen,


Schellart, Anema & Beek, 2011) e cuidadores (Santos, Sousa, Brasil & Dourado, 2011) e a
modelagem de comportamento de indivíduos com diagnostico de transtorno do espectro autista
(Laugeson & Park, 2014) são exemplos do uso da técnica de role-play no contexto do
treinamento de habilidades sociais.

Além disso, também pode ser um recurso terapêutico no trabalho com indivíduos com
depressão (Hermolin et al., 2000), vitimas de abuso sexual (Habigzang et al., 2009) e
dependentes químicos (Silva & Serra, 2004). Ademais, pode ser utilizada na terapia individual
(Beck, 2013; Knapp & Beck, 2008) e familiar (Dattilio, 2011; Minuchin & Fishman, 2003), sendo
que esta última vem ganhando espaço na TCC (Dattilio, 2011). Existe, ainda, uma variação da
técnica de role-play, conhecida como role-play racional-emocional, utilizado quando razão e
afeto encontram-se em dissonância. O terapeuta pode fazer o papel da razão e o paciente da
emoção, criando um dialogo entre ambas. Depois, os papéis podem ser invertidos,
possibilitando que o sujeito contra-argumente em relação a seus próprios temores. É
importante que o profissional use palavras e exemplos que já tenham sido pontuados pelo
paciente em outros momentos da terapia (Beck, 2013).

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4. Experimentação e análise das técnicas de dramaterapia,


psicodrama, sociodrama e role-play com população idosa

4.1 Exemplos de exercícios a aplicar

Jogos de Apresentação:

 Escolher uma fruta para cada um se apresentar.


 Escolher um animal.
 Jogo da corda: cada um faz um desenho com uma corda no chão para se
apresentar.
 Desenho no papel de cenário

Jogos de Reconhecimento

 Fazer um auto-reconhecimento do corpo.


 Deitar no chão num colchão.
 Jogo da semente
 Cada um é uma semente, uma semente que nasce na terra para se transformar
uma estátua.
 Deste jogo pode-se construir uma representação coletiva

Para estimular a interação entre os membros do grupo:

Jogo do pauzinho

Com um pauzinho seguir o movimento do outro. Repetir o jogo com, um protagonista com os
olhos vendados. Ajuda a encontrar os equilíbrios.

Jogos de confiança:

Salto para a frente e para trás, estar pendurado/Formar uma linha com os olhos vendados.

Jogo da cadeira -(pensar fora da caixa, onde o objetivo é, sem colocar os pés no chão, criar
uma linha com as cadeiras dispersas na sala)

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Jogos de Coesão:

Jogos de entrar e sair da roda; Entrar e sair do círculo.

Nos jogos é fundamental fazer um bom aquecimento. O aquecimento é o que faz o papel
emergir. Um bom aquecimento revela a emoção. O psicodrama trabalha sobre a emoção.

Jogos de cartas Dixtie - É um jogo que é usado para criar um emergente grupal. O grupo
cria um símbolo que adota. Por exemplo, a vida, o voo do pássaro. È um jogo que é indicado
para trabalhar no aquecimento.

Jogos de Personagem 

São jogos da 3º fase, para trabalhar as relações do grupo. Passada a fase o aquecimento, e dos
jogos de comunicação, é necessário criar jogos para criar e experimentar personagens. Os
grupos, consoante a sua dimensão tendam a auto-organizar-se assumindo cada membro
diferentes funções. Ainda que possam existir tensões entre os papeis, o grupo tende a
encontrar uma estabilidade desde que tenha bem estabelecido os pontos de fuga (regras). Os
jogos segum o processo da matriz de identidade  (eu, eu com os outros, eu e o grupo).~

Jogo do Pau –(A monge budista ) Com um pau, o monge budista pede ao aprendiz que
responda a uma questão. Se acertar, se errar ou não responder, “leva” com o sabre. A solução
é saída da situação, através da fuga ou de agarrar o pau. A resposta para o paradoxo está na
criatividade.

Jogo da Cadeira.

Jogo do rato e do gato- Um gato, com os olhos vendados, tenta encontrar o rato pelo som.

A agressividade simbólica pode ser usada através do copo de água. A violência em psicodrama
é sempre simbólica. É importante definir as regras do jogo. O humano continua a jogar até à
idade adulta. É através do jogo que se consegue adaptar à mudança das regras.

Jogos Dramáticos

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4.2 Análise dos possíveis usos das técnicas de expressão dramática na população
idosa

Segundo Jacob (2008: 92), “A expressão dramática pode-se traduzir pela reprodução; verbal
e /ou não verbal de diferentes emoções do dia, tais como:

 Exprimir individualmente sentimentos como tristeza, alegria, felicidade, fúria,


etc, com o corpo todo ou apenas com a face.
 Exprimir, com o grupo, sentimentos como a indiferença, a alegria, a agressão,
a mágoa, o luto, etc.
 Reproduzir situações diárias como o trabalho, os jogos, o lazer, a família, o lar,
a vida no campo ou no mar, etc.
 Reproduzir comportamentos e/ou sons de outras pessoas ou de animais.
 Pegar num objeto (ex: chapéu, jornal) e mostrar várias utilizações para o
mesmo.
 Declamar ou ler um texto com diferentes entoações (alto, baixo, excitado,
formal, a rir, a chorar, etc.)” (Jacob, 2008: 92)

O teatro é “(... um veículo por excelência de animação, uma vez que junta obrigatoriamente
várias pessoas (os actores, o encenador, os responsáveis pelos cenários, adereços, som e luz),
precisa de uma organização, obriga a ensaios, estabelece uma ordem e disciplina, desenvolve a
postura corporal, a expressividade e a memorização e estabelece uma ligação entre atores e
público (Jacob 2008:93)” É uma arte antiga, tem uma história e é uma arte emocional. Temos
que ter em conta que o principal objetivo na expressão dramática/teatro, quando usado com
pessoas idosas, é proporcionar um momento de diversão, estimulação da comunicação entre os
atores, e com o público (Carbonero e Mendizábal 2004). Temos que ter em conta que os idosos
não têm boa memória, por esse motivo deve ser valorizada a sua imaginação. Boal (1997)
defende que o Teatro deve assentar nas vivências da população, transformando-a em causa da
ação dramática. Segundo a sua obra “Teatro do oprimido e outras poéticas políticas” o teatro
não tem o propósito de criar atores profissionais, mas serve para consciencializar – formar
públicos críticos e assim motivá-lo para a sua participação. Para Rebello (1997) o teatro serve
para educar públicos, “enquanto veículo para a educação estética”, seja qual for a sua idade.
Para Cabornera e Mendizábal (2004), nos grupos de teatro não importa que os idosos não
representem um bom texto, porque podem não ter uma boa memória. Para poder ultrapassar
essa dificuldade é dada mais importância ao improviso.

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Fecho

Quando nós formos velhinhos


Cá em casa os dois sozinhos
De pantufas e roupão

Se ainda me deres ouvidos


Vou buscar-te os comprimidos
E cuidar-te da tensão

Se a pensão der p'ra pagar


E se o tempo não chegar
Vou levar-te de viagem

Podemos ir num cruzeiro


Ver os dois o mundo inteiro
Nem que seja a outra margem

E tocar no gira-discos
Aquela nossa canção
Será que a menina dança
E me dá a confiança de pegar na sua mão?

Toca então no gira-discos


Aquela nossa canção
Eu juro não ir embora
E ficar a noite fora agarrado à tua mão

Quando nós formos velhinhos


Estivermos sentadinhos
No sofá a ver TV
Vou dizer-te: Minha Anita
Tu ainda és tão bonita, quem te viu ainda te vê

Quando nós formos velhinhos


Estivermos bem juntinhos
Debaixo do cobertor

Vou dizer-te em tom malvado


Que ainda estou apaixonado
E desejo o teu amor

E tocar no gira-discos
Aquela nossa canção
Será que a menina dança
E me dá a confiança de pegar na sua mão?

Toca então no gira-discos


Aquela nossa canção

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UFCD 8927 Expressão Dramática aplicada à população idosa Ana Pimentel

Eu juro não ir embora


E ficar a noite fora agarrado à tua mão

Toca então no gira-discos


Aquela nossa canção
Que eu juro não ir embora
E ficar a noite fora agarrado à tua mão
Compositores: José Fialho Gouveia / Rogério Charraz
Bibliografia

BOAL. A. (2007). Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira.

DIAS, C. (1993). Palcos do Imaginário. Lisboa: Ed. Fenda.

LÓPEZ-BARBERÁ, E. E POBLACIÓN-KNAPPE, P. (1997 ). La escultura y otras técnicas


psicodramáticas en psicoterapia. Barcelona: Ed. Paidós.

MARRA, M.M. & FLEURY, H.J. (2008). Grupos. Intervenções socioeducativas e método


sociopsicodramático. São Paulo: Agora

MORENO, J. L. (S.D.). Psicodrama. S. Paulo: Ed. Cultrix.

ROJAS-BERMÚDEZ, J. (1997). Teoría y técnica psicodramáticas. Barcelona: Ed. Paidós.

SOEIRO, A.C. (1991). Psicodrama e psicoterapia. Lisboa: Ed. Escher.

VALIENTE-GÓMEZ, D. (1995). Psicodrama y Psicoanálisis. Madrid: Ed. Fundamentos.

VIEIRA, F. (1999). (Des)dramatizar na doença mental. Psicodrama e psicopatologia . Lisboa

https://catalogo.anqep.gov.pt/ufcdDetalhe/11292

https://portefolio-de-educacao.webnode.pt/psicologia-da-educacao/interacao-educativa-e-
aprendizagem-escolar/teste-sociometrico/

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