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Notas de aula de Geometria Analítica

Prof. Jaime Velasco (IME/UERJ)


E-mail: jaimevelasco@ime.uerj.br

Ementa.
Vetores no espaço. Produto Interno. Produto Vetorial. Produto Misto. Retas no espaço. (P1 )
Planos. Distâncias. Coordenadas Polares. Translação e rotação de eixos. Cônicas: elipse, hipérbole e
parábola. Superfícies Quádricas. (P2 )

Referências.
• Paulo Boulos, Ivan de Camargo. Geometria Analítica: um tratamento vetorial. Ed. Pearson.
• Alfredo Steinbruch, Paulo Winterle. Geometria Analítica. Ed. Pearson.

Datas importantes.

12/10/2021 (Feriado) 26/10/2021 (Primeira prova − P1 )

28/10/2021 (Feriado) 02/11/2021 (Feriado)

30/11/2021 (Segunda Prova − P2 ) 02/12/2021 (Reposição)

07/12/2021 (Prova Final) 13/12/2021 (Término do semestre)

Horário para dúvidas.


Às terças e quintas, após nossas aulas.

Cálculo da Média. 

P 1 + P2  Se NF ≥ 7, 0, então Aprovado;

Nota Final: NF = .
2 
 Se NF < 4, 0, então Reprovado.

Se 4, 0 ≤ NF < 7, 0, faz-se a Prova Final (PF ).

1


NF + PF  Se MF ≥ 5, 0, então Aprovado;

Média Final: MF = .
2 
 Se NF < 5, 0, então Reprovado.

Outras informações.
• Só poderão fazer a Prova de Reposição aqueles que faltarem à P1 ou à P2 , e que justificarem devida-
mente sua ausência.
• A matéria tanto da Reposição quanto da Prova Final é toda a matéria do curso.
• As orientações para a realização das provas no AVA serão enviadas posteriormente.
• As listas de exercícios, notas de aula e vídeos das aulas serão disponibilizados em uma pasta com-
partilhada no Google Drive (cujo link será postado na seção de “Avisos” da nossa sala no AVA).

2
Preliminares

Neste capítulo, apresentamos algumas definições básicas e notações que são utilizadas ao longo de
todo o texto.
Fixemos uma unidade de comprimento a ser utilizada ao longo de todo o curso. Definimos R2
como o conjunto de todos os pares ordenados de números reais, isto é,

R2 = {(x, y) | x, y ∈ R}.

Como cada par pertencente ao conjunto acima é ordenado, temos que os pares (1, 3) e (3, 1), por
exemplo, são distintos.
Definimos um eixo como uma reta para a qual se estabelece algum sentido de percurso.

Agora, fixemos um plano qualquer α no espaço, e tomemos dois eixos perpendiculares r e s, que
se intersectam em um ponto denominado O. Temos que existe uma correspondência biunívoca (isto
é, uma bijeção) entre α e R2 (relativa ao par de eixos r e s fixados) associando cada ponto P ∈ α
a um único par ordenado (x, y) (e vice-versa, associando cada par ordenado (x, y) a um único ponto
P em α).

3
Os valores x e y são denominados coordenadas de P (em relação aos eixos fixados), e dizemos
que eles são a abscissa e a ordenada de P , respectivamente. Nesse caso, escrevemos P = (x, y). Mas
atenção! Não lemos uma igualdade nessa expressão, e devemos interpretá-la como “O ponto P possui
coordenadas x e y.”. Um ponto não é igual a um par ordenado; um ponto é representado por um
par ordenado.
O eixo r é denominado de eixo das abscissas, e por esse motivo, a partir de agora, será denominado
de eixo x. Por sua vez, o eixo s é o eixo das ordenadas, sendo portanto denominado por eixo y.
Notamos que tais eixos são caracterizados por

eixo x = {(x, 0) ∈ R2 | x ∈ R} e eixo y = {(0, y) ∈ R2 | y ∈ R}.

O ponto O é chamado de origem e seu par de coordenadas é (0 , 0).


Façamos agora uma discussão semelhante à anterior para o espaço como um todo. Primeiramente,
definimos R3 = {(x, y, z) | x, y, z ∈ R}.
Consideremos três eixos r , s e t dois a dois perpendiculares, e que se intersectam em um ponto

4
O. Temos que existe uma correspondência biunívoca entre o espaço e R3 (relativa ao terno de eixos r,
s e t fixados) associando cada ponto P do espaço a um único terno ordenado (x, y, z) (e vice-versa,
associando cada terno ordenado (x, y, z) a um único ponto P no espaço).

5
Os valores x, y e z são denominados coordenadas de P (em relação aos eixos fixados), e di-
zemos que eles são a abscissa, a ordenada e a cota de P , respectivamente. Nesse caso, escrevemos
P = (x, y, z). Novamente, atenção! Esta expressão deve ser interpretada como “O ponto P possui
coordenadas x, y e z.”.
Do mesmo modo que antes, temos que o eixo r é denominado de eixo das abscissas, e por esse
motivo, será simplesmente denominado de eixo x, e o eixo s é o eixo das ordenadas, sendo portanto
denominado por eixo y. Por sua vez, o eixo t é denominado de eixo das cotas, sendo denominado de
eixo z. Notamos que tais eixos são caracterizados por

eixo x = {(x, 0, 0) ∈ R3 | x ∈ R} , eixo y = {(0, y, 0) ∈ R3 | y ∈ R} e

eixo z = {(0, 0, z) ∈ R3 | z ∈ R}.

O ponto O é chamado de origem e seu terno de coordenadas é (0, 0, 0).


O plano xy é o plano determinado pelos eixos x e y e é caracterizado por:

αxy = {(x, y, 0) ∈ R3 | x, y ∈ R}.

De modo análogo, os planos xz e yz são os planos determinados pelos eixos x e y, e y e z,


respectivamente, e são caracterizados por:

αxz = {(x, 0, z) ∈ R3 | x, z ∈ R} e αyz = {(0, y, z) ∈ R3 | y, z ∈ R}.

Esses três planos são chamados de planos coordenados.

Observação 0.1. Dado qualquer ponto P = (x, y, z), o comprimento do segmento OP pode ser
p
calculado por x2 + y 2 + z 2 .

6
7
Capítulo 1

Vetores no espaço

Neste capítulo, apresentamos o conceito de vetor. A primeira seção é dedicada às primeiras definições
e às propriedades básicas dos vetores. Na Seção 2.2, definimos a soma e o produto de um número
real por um vetor, bem como suas propriedades. Por fim, na Seção 2.3, estabelecemos a noção de
coordenadas de um vetor em uma base específica.

1.1 Definições

Sejam A e B dois pontos no espaço. O segmento de reta AB é dito orientado quando se estipula um
sentido específico de percurso para ele, estabelecendo que A é sua origem e que B é sua extremidade
final. Representamos geometricamente um segmento orientado por uma seta (ou flecha).

AB
A

Convencionamos que {A} também é um segmento, nomeado por AA, e dizemos que ele é um
segmento nulo. Observamos que, se A e B são distintos, então os segmentos orientados AB e BA

8
são distintos, pois não têm a mesma orientação.
Dois segmentos orientados são ditos equipolentes quando ambos forem nulos, ou, caso contrário,
quando eles possuírem mesmos:

• módulo, isto é, quando têm mesmo comprimento;

• direção, isto é, quando as retas que os contêm são iguais ou paralelas distintas;

• sentido, isto é, eles “apontam para o mesmo lado1 ”.

Figura 1.1: Segmentos orientados equipolentes

Todos os segmentos nulos são equipolentes entre si. Notamos ainda que:

• todo segmento orientado é equipolente a si mesmo (reflexividade);

• se um segmento orientado é equipolente a um segundo, então este é equipolente ao primeiro


(simetria);

• se um segmento orientado é equipolente a um segundo, e este é equipolente a um terceiro, então


o primeiro é equipolente ao terceiro (transitividade).2

Notamos ainda que, dado qualquer segmento orientado, sempre existem infinitos segmentos orien-
tados que são equipolentes a ele.

1
Para uma definição precisa de segmentos orientados de mesmo sentido, consultar Boulos e Camargo.
2
Essas três características indicam que a equipolência de vetores é uma relação de equivalência definida no conjunto de
todos os segmentos orientados.

9
Exemplo 1.1. a

Os segmentos orientados ao lado têm mesmo módulo mas não são


equipolentes, pois não possuem mesma direção.

Exemplo 1.2. Suponhamos que os segmentos AB e CD abaixo sejam paralelos.

B C
Temos que AB e CD possuem mesmos módulo e direção, mas
não são equipolentes, pois não têm mesmo sentido.

A D

Exemplo 1.3. Consideremos o seguinte paralelepípedo.


H G

E
F

D C

A B

Os segmentos orientados AE, BF , CG e DH são equipolentes. Além disso, os segmentos


orientados EB e HC também são equipolentes. Porém, AE e EB não são equipolentes, pois não
têm mesma direção.
H G

E
F

D C

A B

10
−→
Dado um segmento orientado AB qualquer, definimos o vetor AB como o seguinte conjunto:

−→
AB = {XY | XY é equipolente a AB}.

−→
Em outros termos, o vetor AB é definido como o conjunto constituído por todos os segmentos
orientados que são equipolentes a AB. Cada um dos segmentos orientados pertencentes a esse con-
−→
junto é dito um representante do vetor AB. Como todo segmento orientado é equipolente a si mesmo,
−→
temos que o próprio AB é um representante do vetor AB. Além disso, todo vetor possui infinitos
representantes.
No Exemplo 1.3, os segmentos orientados AE, BF , CG e DH são representantes do mesmo
−→
vetor AE.
Quando não interessar qual segmento orientado representa um dado vetor, o denotamos simples-
mente por uma letra minúscula latina acrescida do suprafixo “→”. Por exemplo, →

v.
O módulo de um vetor →

v é definido como o módulo de qualquer um de seus representantes, e é
denotado por |→

v | (ou k→

v k). Sendo assim, o módulo de um vetor é sempre um valor não negativo.
Dizemos que →

v é unitário quando seu módulo valer 1, isto é, quando |→

v | = 1.
Dois vetores têm mesmo módulo (respectivamente, mesma direção ou mesmo sentido) quando seus
representantes têm mesmo módulo (respectivamente, mesma direção ou mesmo sentido).
Dois vetores são iguais quando os segmentos orientados que os representam forem equipolentes.
Em outras palavras, dois vetores são iguais quando eles têm mesmos módulo, direção e sentido. No
−→ −−→ −→ −−→
Exemplo 1.3, os vetores AE, BF , CG e DH são iguais.
−→
O vetor AA (representado pelos segmentos nulos) é chamado de vetor nulo, e também é denotado


por 0 .
−→ −→
Dado um vetor → −
v = AB , dizemos que o vetor BA é o oposto (ou o simétrico) de → −v eo

11
denotaremos por −→

v . Ou seja:
−→ −→
−AB = −→

v = BA.

Dois vetores são paralelos (também ditos colineares) quando eles têm a mesma direção. Em outras
−→ − −−→
palavras, os vetores →
−u = AB e → v = CD são paralelos quando as retas que contêm os segmentos
AB e CD forem iguais ou paralelas. Nesse caso, denotamos →

u //→

v . Em ambas as figuras a seguir,
temos que →

u //→

v.



u


u →

v


v

Observação 1.4. Dados quaisquer vetor →



v e ponto C no espaço, sempre existe um representante de


v com origem em C.


− →

v
v

C
−→
Dizemos que três vetores →

u ,→

v e →

w são coplanares quando, ao escrevê-los da forma →

u = AB,

− −→ − −−→
v = AC e →w = AD (isto é, ao representar os três com a mesma origem), os pontos A, B, C e D
pertencerem a um mesmo plano. Notamos que dois vetores são sempre coplanares.

D B

Observação 1.5. Para que três vetores sejam coplanares, basta que se encontrem três representantes
(um de cada vetor) que estejam contidos em um mesmo plano.

12
Exemplo 1.6. Consideremos o paralelepípedo abaixo.
H G

E
F

D C

A B
−→ −→ −−→
Os vetores AB, AC e AD são coplanares, pois os pontos A, B, C e D são coplanares (note que
esses três vetores já estão representados na mesma origem).
H G

E
F

D C

A B
−→ −−→ −−→ −−→ −→ −→
Os vetores AC, AD e HG também são coplanares, pois HG = AB e já observamos que AB,
−→ −−→
AC e AD são coplanares. Porém, cabe ressaltar que os segmentos orientados AC, AD e HG não
são coplanares.
H G

E
F

D C

A B
−→ −→ −−→ −−→
Os vetores AB, AC e DH não são coplanares. Com efeito, primeiramente notamos que DH =
−→
AE. Além disso, os pontos A, B, C e E não são coplanares, pois o único plano que contém os
pontos A, B e C é o plano que contém o paralelogramo ABCD, e o ponto E não pertence a esse
plano.

13
H G

E
F

D C

A B
−→ − −→
Dados dois vetores →

u = AB e →
v = AC , definimos o ângulo entre os vetores →

u e →

v como
o menor ângulo formado pelos segmentos AB e AC. Denotemos esse ângulo por ∠(→

u ,→

v ). Vale
sempre que 0◦ ≤ ∠(→

u ,→

v ) ≤ 180◦ .

C C
C


v →

v →

v
∠(→

u,→

v) ∠(→

u,→

v)
∠(→

u,→−
v)
A →

u B A →

u B A →

u B

−→ −−→
Exemplo: No paralelogramo ABCD abaixo, vamos determinar ∠(AB, BC).

D C

120◦

A B

Para determinar o ângulo entre tais vetores, devemos representá-los na mesma origem. Como
−−→ −−→ −→ −−→ −→ −−→
BC = AD , temos que ∠(AB, BC) = ∠(AB, AD) = 60◦ (pois ângulos adjacentes de um paralelo-
gramo são sempre suplementares).

D C

120◦
60◦
A B

14
Observação 1.7. a

a) Dois vetores não nulos formam ângulo de 0◦ se, e somente se, eles forem paralelos com mesmo
−→ − −→
sentido. Na figura a seguir, os vetores →

u = AB e →v = AC formam um ângulo nulo.


v
A →

u B C

b) Dois vetores não nulos formam ângulo de 180◦ se, e somente se, eles forem paralelos com
−→ − −→
sentidos opostos. Na figura a seguir, os vetores →

u = AB e →
v = AC formam um ângulo de
180◦ .

180◦
B →

u A →

v C

c) Dois vetores →

u e→−v são ortogonais quando o ângulo entre eles for 90◦ . Nesse caso, denotamos

− →
− →

u ⊥→ −
v . Convencionamos que o vetor nulo 0 é ortogonal a todos os vetores, isto é, 0 ⊥ → −
v,
para todo vetor →

v.

1.2 Operações com vetores

Nesta seção, definimos as duas operações básicas com vetores: a adição de dois vetores e a multiplica-
ção de um escalar por um vetor.

1.2.1 Soma de dois vetores


−→ −−→
Dados dois vetores →
−u e →−
v , escrevamos →
−u = AB e → −v = BC. Definimos o vetor soma (ou
−→ −→
resultante) de →

u e→
−v (denotado por →
−u +→
−v ) como o vetor AC. Em outras palavras, →

u +→

v = AC.

15


v
B C


− →
− →

u
u v


u +→

v

Esta é a chamada regra do triângulo para a soma de vetores. Podemos determinar o vetor soma
através da regra do paralelogramo, da seguinte maneira. Primeiramente, representemos os vetores →

u
−→ − −→
e →
−v com a mesma origem, digamos → −u = AB e → v = AC. Consideremos o paralelogramo ABDC.
−−→
Temos que o vetor → −
u +→ −
v = AD.

B D
−v


− →
− →

u v u −u +

A →
− C
v

Independentemente da regra utilizada para se obter o vetor soma, o vetor resultante será sempre o
mesmo.

Exemplo 1.8. Em cada item a seguir, representemos graficamente o vetor soma dos vetores →

u e →

v
dados à esquerda.


v


v →

u +→

v ←−
a)


u →

u +→

v →

u →

u



v


− →

u →

v
u
b) →

v


u +→

v

(Supondo que →

u // →

v , |→

u | = 3 e |→

v | = 2 , vemos que, neste caso, |→

u +→

v | = 5.)

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− →

u →

v
u
c) →

v


u +→

v

(Supondo que →

u // →

v , |→

u | = 3 e |→

v | = 2 , vemos que, neste caso, |→

u +→

v | = 1.)

Observação 1.9. Nem sempre vale que o módulo do vetor soma equivale à soma dos módulos dos dois
vetores. Basta ver o exemplo c) acima.

Proposição 1.10. Sejam →



u ,→

v e →

w três vetores em R3 . Vale sempre que:

1. →

u +→

v =→

v +→

u; (Comutatividade)

2. (→

u +→

v)+→

w =→

u + (→

v +→

w ); (Associatividade)


− →
− →
− −
3. Existe um único vetor nulo 0 tal que →

v + 0 = 0 +→
v =→

v;

4. Dado qualquer vetor →



v , existe um único vetor oposto −→

v tal que


− →

v + (−→

v ) = (−→

v)+→

v = 0.

Sejam →

u e →

v dois vetores. Definimos o vetor diferença entre →

u e →

v (denotado por →

u −→

v)
como


u −→

v =→

u + (−→

v ).

−→

v


v


u →

u −→

v →

u
−→

v

−→ − −→ −−→
Observamos que, se →

u = AB e →
v = AC então →

u −→

v = CB . Desta forma temos:

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B D B −→

v D


u −→

v ←−


u
−→ →

u +→

v


u →

u

A →
− C A →
− C
v v

1.2.2 Produto de um número real por um vetor




Sejam a um número real e → −
v um vetor. Se a = 0 ou → −v = 0 , então definimos o vetor a→

v como o

− →
− →

vetor nulo. Ou seja, 0→−v = 0 e a0 = 0.


Por sua vez, se a 6= 0 e →
−v 6= 0 , então definimos o vetor a→

v como o único vetor que satisfaz as
seguintes condições:

• |a→

v | = |a| · |→

v |;

• a direção de a→

v é a mesma de →

v , isto é, a→

v e →

v são paralelos;

• se a > 0 , então a→

v e→

v têm mesmo sentido. Caso contrário, a→

v e→

v têm sentidos opostos.

1−
Exemplo 1.11. Na figura abaixo, temos representados os vetores →
− v e − →
v (de módulo 2), 3→
− v .
2


v

3→

v
1−
− →v
2

Observação 1.12. Se →

u e →

v são vetores paralelos, com →
− 6 0 , então existe um número real a
u =
tal que →

v = a→

u . Com efeito, como →

u e →

v são paralelos, tem-se que eles têm mesmo sentido ou
sentidos opostos.

− →
− →
− |→

v |→

Suponhamos que u e v tenham mesmo sentido. Vamos provar que v = →− u.
|u|

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|→

v|→
Chamemos de → −w = → −
−u . Desejamos provar que →

v =→ −
w . Para mostrar que dois vetores são
|u|
iguais, basta mostrar que eles têm os mesmos módulo, direção e sentido. De fato,


|−

|− |→



− v |→
− v | → v| →
|w| = →
u = − · |−
u|= · |−
u | = |→

v |,
|−
u | |→u| →

|u|

provando que →

v e →

w têm mesmo módulo.
Para provar que →

v e →

w têm mesma direção, basta observar que, pela definição de →

w , temos
que ele é paralelo a →

u , pois →

w é um múltiplo de →

u . Além disso, →

u é paralelo a →

v , por hipótese.
Portanto, →

w é paralelo a →

v.
Como →

w é o produto de uma constante positiva por →

u , temos que →

w e →

u têm mesmo sentido.
Além disso, por hipótese, temos que →

u e →

v têm mesmo sentido. Portanto, →

w e →

v têm mesmo
sentido, como o desejado.

− →
− →
− |→

v |→

Se u e v têm sentidos opostos, então prova-se, de modo análogo, que v = − → − u.
|u|
Proposição 1.13. Sejam →

u e →

v dois vetores quaisquer no espaço, e a e b dois números reais.

1. a(b→

v ) = (ab)→

v (Associatividade);

2. (a + b)→

v = a→

v + b→

v (Distributividade em relação à soma de números reais);

3. a(→

u +→

v ) = a→

u + a→

v (Distributividade em relação à soma de vetores);

4. 1→

v =→

v e (−1)→

v = −→

v .

1.3 Bases e coordenadas

Sejam →

v1 e →

v2 dois vetores no espaço não paralelos entre si, e α um plano qualquer paralelo a →

v1 e a


v2 . Nestas condições, dizemos que o conjunto {→

v1 , →

v2 } é uma base para o plano α. Tem-se também
que {→

v1 , →

v2 } é uma base para qualquer plano paralelo a α.

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Sejam a1 e a2 dois números reais quaisquer. Os vetores a1 →

v 1 e a2 →

v2 também são paralelos ao
plano α. Assim, o vetor a1 →

v 1 + a2 →

v2 é um vetor paralelo a α. Consequentemente, os vetores →

v1 , →

v2
e a1 →

v1 + a2 →

v2 são coplanares.
α



a2 →
− a 2v 2
v2 − +

a 1v 1


v 2



v1 a1 →

v1

Reciprocamente, seja →−v um vetor tal que →



v, →

v1 e →

v2 sejam coplanares. Nesse caso, temos que

− −→ − −→ − −−→
v é paralelo a α. Representemos →

v1 = AB, → v2 = AC e →v = AD. Sejam r a reta que passa por A
e B, e s a reta que passa por A e C.
s α
D

C −v



v2
r
A →

v1 B

Sejam r1 e s1 as retas paralelas a r e s, respectivamente, passando por D . Chamemos de P e


Q os pontos de interseção de s1 com r e de r1 com s, respectivamente.
s s1 α
Q D r1

C −v



v2
r
A →

v1 B P

20
−→ −→
Como AP é paralelo a → −
v1 e AQ é paralelo a → −
v2 , existem números reais a1 e a2 tais que
−→ −→
AP = a1 →

v1 e AQ = a2 →

v2 . Além disso, tem-se que →

v = a1 →−
v 1 + a2 →

v2 .
s s1 α
Q D r1

C −v



a2 v 2
r
A B a1 →

v1 P

Em resumo, um vetor →

v é coplanar com →

v1 e →

v2 se, e somente se, existem números reais a1 e
a2 tais que →

v = a1 →

v1 + a2 →

v2 . Neste caso, dizemos que →

v é uma combinação linear dos vetores →

v1
e →

v2 , e que os números a1 e a2 são as coordenadas (ou componentes) de →

v na base {→

v1 , →

v2 } .
De modo mais geral, com as mesmas ideias utilizadas até aqui, podemos concluir algo um pouco
mais geral:

Proposição 1.14. Três vetores no espaço são coplanares se, e somente se, um deles puder ser escrito
como combinação linear dos outros dois.

Consideremos agora três vetores →−


v1 , →

v2 e →

v3 no espaço que não sejam coplanares. O conjunto
−→ − −→ − −−→
{→

v1 , →

v2 , →

v3 } é chamado de uma base de R3 . Digamos que → −
v1 = AB, → v2 = AC e → v3 = AD, e
−→
denominemos por α o plano contendo A, B e C. Seja → −
v = AP um vetor qualquer no espaço.
Chamemos de r a reta que passa por P e que é paralela ao vetor →

v3 e de M o ponto de interseção
de r com α. r
P



v
D
M α


v3 C


v2
A →

v1 B
21
−−→ −
Como os vetores AM , → v1 e →

v2 são coplanares, pelo que observamos na discussão anterior, exis-
−−→ −−→
tem números reais a1 e a2 tais que AM = a1 → −
v 1 + a2 →

v2 . Além disso, como M P é paralelo a →
−v3 ,
−−→
existe um número real a3 tal que M P = a3 →

v3 .


− a3 →

v3
v

M α


v3 −
→v2

→v 1 + a2
a1
A

Notamos que →

v = a1 →

v 1 + a2 →

v 2 + a3 →

v3 . Neste caso, dizemos que →

v é uma combinação linear
de →

v1 , →

v2 e →

v3 , e que os números reais a1 , a2 e a3 são as coordenadas (ou componentes) de →

v na
base {→

v1 , →

v2 , →

v3 }.
Com isso, provamos que todo vetor no espaço se escreve como combinação linear dos vetores da
base {→

v1 , →

v2 , →

v3 }.
Uma base é dita ortogonal quando os vetores que a compõem forem dois a dois ortogonais. Se os
vetores de uma base ortogonal forem unitários, dizemos que tal base é ortonormal.

Exemplo 1.15. Consideremos os pontos O = (0, 0, 0), A = (1, 0, 0), B = (0, 1, 0) e C = (0, 0, 1),
−ı = −
e os vetores →
→ −
OA, →
−−→ −
 = OB e →
−→
κ = OC.
z

1 C


κ
B y
O

− 1
A →
−ı
1

x
22
Os vetores →
−ı , →
− e →

κ não são coplanares, pois os pontos O, A, B e C não pertencem a um
mesmo plano. Portanto, o conjunto {→
−ı , →
− , →

κ } é uma base de R3 . Esses vetores são dois a dois
ortogonais, devido aos eixos serem dois a dois perpendiculares. Logo, o conjunto {→
−ı , →
− , →

κ } é uma
base ortogonal de R3 . Como, por construção, esses vetores também são unitários, temos então que
essa base é ortonormal e é chamada de base canônica de R3 .

Agora, vamos determinar as coordenadas de um vetor na base canônica. Seja →



v um vetor qualquer
−→
no espaço. Podemos supor que → −
v = OP , onde O = (0, 0, 0) e P = (x0 , y0 , z0 ). Definamos
M = (x0 , y0 , 0), X0 = (x0 , 0, 0), Y0 = (0, y0 , 0) e Z0 = (0, 0, z0 ).
z
z0 Z0

P


v

O y0 y
Y0

x0
M
x X0
z
z0 Z0
Notamos que:

−−→ P
• OX0 = x0 →
−ı ;
1 →

v


κ z0 →

κ
−−→
• OY0 = y0 →
− ;
O 1 y0 y

− Y0
−−→ −−→ → −
−ı x0 →
• M P = OZ0 = z0 →

κ; 1 ı
+
y0 →

x0 
−−→
• OM = x0 →
−ı + y →

0  . x X0
M

23
Em suma, temos que →

v = x0 →
−ı + y →
− →

0  + z0 κ .

Isso significa que as coordenadas do vetor →



v na base canônica coincidem precisamente com as
coordenadas da extremidade final (o ponto P ) do representante de →

v que tem origem em O =
(0, 0, 0).
A fim de simplificar a notação, vamos denotar →

v = (x0 , y0 , z0 ), ou seja, escrever →

v = (x0 , y0 , z0 )
significa →

v = x0 →
−ı + y →
− →
− →

0  + z0 κ . Atenção! A expressão v = (x0 , y0 , z0 ) deve ser interpretada

como “O vetor →

v possui coordenadas x0 , y0 e z0 na base canônica.”. Um vetor não é igual a um
terno ordenado; um vetor é representado algebricamente por um terno ordenado.
Por exemplo, dado um vetor →

v , se, ao representá-lo com origem em O = (0, 0, 0), tivermos que
a extremidade final de seu representante seja dada por P = (−3, 5, 2), então as coordenadas de →

v na
base canônica são −3, 5 e 2. Isto é, →

v = −3→ −ı + 5→
− + 2→ −
κ , ou seja, →

v = (−3, 5, 2).


Notemos que, em particular, 0 = (0, 0, 0), →−ı = (1, 0, 0), →
− = (0, 1, 0) e →

κ = (0, 0, 1).
A partir de agora, toda vez que dissermos coordenadas de um vetor (sem fazer menção à base),
estaremos supondo que essas coordenadas são em relação à base canônica de R3 .
Vejamos agora como a soma de vetores e o produto de um escalar por um vetor são expressos em
termos da nova representação. Sejam →

u = (x1 , y1 , z1 ) e →

v = (x2 , y2 , z2 ) dois vetores, e a um
número real qualquer.

1. →

u =→

v ⇔ x1 = x2 , y 1 = y2 e z 1 = z 2 .

Em outros termos, dois vetores são iguais se, e somente se, suas respectivamente coordenadas
coincidirem. Isto segue diretamente da unicidade das coordenadas de um vetor em relação a uma
base.

2. →

u +→

v = (x1 + x2 , y1 + y2 , z1 + z2 ).

Em outras palavras, as coordenadas do vetor soma coincidem com as somas das respectivas

24
coordenadas dos dois vetores. Com efeito,



u +→

v = (x1 →
−ı + y →
− →
− →
− →
− →

1  + z1 κ ) + (x2 ı + y2  + z2 κ )

= (x1 →
−ı + x →
− →
− →
− →
− →

2 ı ) + (y1  + y2  ) + (z1 κ + z2 κ )

= (x1 + x2 )→
−ı + (y + y )→
1
− →

2  + (z1 + z2 ) κ

= (x1 + x2 , y1 + y2 , z1 + z2 ) .

Convém observar que a segunda igualdade segue da comutatividade e da associatividade da adi-


ção de dois vetores (propriedades 1 e 2, respectivamente, da Proposição 1.10), e a terceira igual-
dade segue da distributividade em relação à soma de números reais (propriedade 2 da Proposição
1.13).

3. a→

u = (ax1 , ay1 , az1 ).

Em outros termos, as coordenadas do produto de um escalar por um vetor coincidem com os


produtos do escalar pelas respectivas coordenadas do vetor. De fato,

a→

u = a(x1 →
−ı + y →
− →

1  + z1 κ )

= a(x1 →
−ı ) + a(y →
− →

1  ) + a(z1 κ )

= (ax1 ) →
−ı + (ay )→
− →

1  + (az1 ) κ

= (ax1 , ay1 , az1 ).

A segunda igualdade segue distributividade em relação à soma de vetores (propriedade 3 da


Proposição 1.13). Já a terceira igualdade é decorrente da associatividade da multiplicação de um
escalar por um vetor (propriedade 1 da Proposição 1.13).

25
p
4. |→

u | = x21 + y12 + z12 .

Em outros termos, o módulo de um vetor equivale à raiz quadrada da soma dos quadrados de
suas respectivas coordenadas. Lembramos que o módulo de um vetor →

u é definido como o
módulo de qualquer segmento orientado que o representa. Se tomarmos um representante de →

u
com origem em O = (0, 0, 0), sua extremidade final será em P = (x1 , y1 , z1 ). Por outro lado,
p
segue da Observação 0.1 que o comprimento do segmento OP é justamente x21 + y12 + z12 ,
provando assim a propriedade 4.

Até o momento, sabemos determinar as coordenadas de um vetor somente quando ele estiver re-
presentado na origem. Neste caso, suas coordenadas coincidem com as da extremidade final desse
representante. Mas, e quando esse vetor estiver representado por um segmento orientado AB, onde A
−→
não seja necessariamente a origem? Quais seriam as coordenadas do vetor AB na base canônica?
−→
Seja →
−v = AB um vetor, com A = (a1 , a2 , a3 ) e B = (b1 , b2 , b3 ). Vamos verificar que



v = (b1 − a1 , b2 − a2 , b3 − a3 ). (1.1)

−→ −−→ −→ −→ −−→
Com efeito, consideremos o ponto O = (0, 0, 0) e os vetores OA e OB. Como OA+ AB = OB,
−→ −−→ −→
concluímos que AB = OB − OA.
A


v

O
−→ −−→
Por outro lado, como os vetores OA e OB já estão representados com origem em O = (0, 0, 0),
temos que suas coordenadas na base canônica coincidem com as coordenadas de A e B, respectiva-
−→
mente. Sendo assim, AB = (b1 , b2 , b3 )−(a1 , a2 , a3 ) = (b1 −a1 , b2 −a2 , b3 −a3 ), como desejávamos

26
provar. De modo informal, nesse caso, costuma-se escrever →

v = B − A.

−→
Exemplo 1.16. Dados os pontos A = (3, −5, 2) e B = (−1, −7, 3), escreva o vetor AB como
combinação linear dos vetores →

v1 = (1, 2, 0), →

v2 = (0, 0, 2) e →

v3 = (−1, 2, −1).
−→
Por (1.1), as coordenadas do vetor AB são dadas por

−→
AB = (−1 − 3 , −7 − (−5) , 3 − 2) = (−4 , −2 , 1).

−→
Por outro lado, como desejamos escrever AB como combinação linear de → −
v1 , →−
v2 e →

v3 , precisamos
−→
encontrar números reais a1 , a2 e a3 de modo que AB = a1 →

v1 + a2 →

v2 + a3 →

v3 .
Isso equivale a dizer que: (−4, −2, 1) = a1 (1, 2, 0) + a2 (0, 0, 2) + a3 (−1, 2, −1).
Pela propriedade 3 acima, temos: (−4, −2, 1) = (a1 , 2a1 , 0) + (0, 0, 2a2 ) + (−a3 , 2a3 , −a3 ).
Por sua vez, pela propriedade 2 acima (−4, −2, 1) = (a1 − a3 , 2a1 + 2a3 , 2a2 − a3 ).
Sendo assim, pela propriedade 1, esta igualdade equivale ao seguinte sistema:





 a1 − a3 = −4


 2a1 + 2a3 = −2





 2a2 − a3 = 1.

5
Resolvendo esse sistema linear de três equações e três incógnitas, obtemos os valores: a1 = − ,
2
5 3 −→ →
− →
− →

a2 = e a3 = . Com isso, escrevemos AB como combinação linear de v1 , v2 e v3 da seguinte
4 2
forma:
5 5 3
(−4, −2, 1) = − (1, 2, 0) + (0, 0, 2) + (−1, 2, −1).
2 4 2

Dado um vetor →

v não nulo qualquer, dizemos que um vetor →

w é o versor de →

v quando →

w for
unitário e possuir mesmos direção e sentido de →

v . O versor →

w de um vetor →

v é único e vale sempre

27
1 →
que →

w = →−

v.
|v|

Exemplo 1.17. Determinar as coordenadas do versor de →



v = (2, −1, 4).

Primeiramente, notamos que |→ − p
v | = 22 + (−1)2 + 42 = 21. Sendo assim, as coordenadas
do versor →

w de →

v são

√ √ √ !

− 1 2 21 21 4 21
w = √ (2, −1, 4) = ,− , .
21 21 21 21

Exemplo 1.18. Determinar as coordenadas do vetor →


−u , paralelo a →
−v = (2, 1, −1) e de módulo 3.

O módulo do vetor →

v é 6. Como → −u é paralelo a →
−v , existe um número real a tal que →

u = a→
−v.
Como já conhecemos as coordenadas de →

v , para determinar as de →

u , basta encontrar os possíveis
valores para a . Para isso, basta notar que


3 = |→

u | = |a→

v | = |a| · |→

v | = |a| · 6.


√ 6
Portanto, |a| · .
6 = 3, o que equivale a dizer que |a| =
√2 √
6 6
Em outras palavras, os possíveis valores para a são e − . Sendo assim, como →

u = a→

v,
2 2
as possibilidades para →

u são:

√ √

− 6 →
− 6
u = (2, 1, −1) e u =− (2, 1, −1).
2 2
√ √ ! √ √ !
√ 6 6 √ 6 6
Concluímos assim, que →

u = 6, ,− ou →

u = − 6, − , .
2 2 2 2

28
Capítulo 2

Produto Interno

Neste capítulo, definimos o primeiro dos três principais tipos de produtos entre vetores em R3 : o
produto interno. Veremos como este produto fornece propriedades métricas relativas a pontos e vetores.

2.1 Definição

Dados dois vetores →



u = (x1 , y1 , z1 ) e →

v = (x2 , y2 , z2 ) em R3 , definimos o produto interno (ou
produto escalar) de →

u por →

v (denotado por →

u ·→

v ou h→

u ,→

v i) por



u ·→

v = x1 x2 + y1 y2 + z 1 z 2 .

Como as coordenadas de →

u e →

v são números reais e a expressão de →

u ·→

v é composta por
somas e produtos de números reais, temos que o produto interno entre dois vetores quaisquer também
é um número real.

Exemplo 2.1. Sejam →



u = (2, −4, 7) e →

v = (1, 2, −3). O produto interno entre →

u e →

v é dado por



u ·→

v = 2 × 1 + (−4) × 2 + 7 × (−3) = 2 − 8 − 21 = −27.

29
Dado um vetor →

v = (x, y, z), tem-se que → −
v ·→ −
v = x2 + y 2 + z 2 . Por outro lado, no Capítulo 1,
p
vimos que |→

v | = x2 + y 2 + z 2 . Portanto, vale sempre que


|→

v|= →

v ·→

v (ou, equivalentemente, |→

v |2 = →

v ·→

v ). (2.1)

Dados dois pontos A = (a1 , a2 , a3 ) e B = (b1 , b2 , b3 ) em R3 , definimos a distância entre A e B


(e denotamos por d(A, B)) como o comprimento do segmento de reta AB. Isto equivale a dizer que
−→ −→
a distância entre A e B é o módulo do vetor AB. Por outro lado, as coordenadas do vetor AB são
dadas por (b1 − a1 , b2 − a2 , b3 − a3 ). Sendo assim

−→ p
(2.2)

d(A, B) = AB = (b1 − a1 )2 + (b2 − a2 )2 + (b3 − a3 )2 .

Exemplo 2.2. Calculemos o valor de b para o qual a distância entre A = (2, b, −1) e B = (3, 3, 1)
seja igual a 3.
Pela expressão (2.2), temos que:

p √
3 = d(A, B) = (3 − 2)2 + (3 − b)2 + (1 − (−1))2 = 12 + 32 − 6 b + b2 + 22 .


Portanto, temos que 3 = b2 − 6b + 14. Elevando ambos os membros ao quadrado:

9 = b2 − 6b + 14 ⇔ b2 − 6b + 5 = 0.

Determinando as raízes dessa equação do segundo grau, obtemos que os possíveis valores para b são:
b = 1 ou b = 5.

A seguir listamos as quatro propriedades básicas do produto interno.

Proposição 2.3. Sejam →



u, →

v e →

w três vetores em R3 e a um número real.

30


1. →

u ·→

u ≥0 e →

u ·→

u = 0 se, e somente se, →

u = 0;

2. →

u ·→

v =→

v ·→

u (Comutatividade);

3. →

u · (→

v +→

w) = →

u ·→

v +→

u ·→

w e (→

u +→

v)·→

w =→

u ·→

w +→

v ·→

w (Distributividade);

4. (a→

u)·→

v = a(→

u ·→

v)=→

u · (a→

v ).

A propriedade 1 nos diz que o produto interno de um vetor com ele mesmo é sempre um número
real não negativo. Além disso, o produto interno de um vetor com ele mesmo é nulo se, e somente se,
esse vetor for nulo.

Demonstração. Sejam →

u = (x1 , y1 , z1 ), →

v = (x2 , y2 , z2 ) e →

w = (x3 , y3 , z3 ) três vetores e a um
número real.
Como →
− u = x21 + y12 + z12 , temos que →
u ·→
− −
u ·→

u ≥ 0, pois a soma de quadrados é sempre não
negativa. Agora, dizer que →

u ·→

u = 0 equivale a dizer que x21 + y12 + z12 = 0. Porém, uma soma
de quadrados é nula se, e somente se, cada termo dessa soma for nulo. Logo, →

u ·→

u = 0 equivale a
x1 = y1 = z1 = 0, isto é, que →

u é o vetor nulo. Isso prova o primeiro item.
Para provar o segundo item, basta utilizar a comutatividade da multiplicação de números reais:



u ·→

v = x1 x2 + y1 y2 + z 1 z 2

= x2 x1 + y2 y1 + z 2 z 1

= →

v ·→

u.

A prova do terceiro item segue da distributividade, e da comutatividade e associatividade da adição

31
de números reais:



u · (→

v +→

w ) = (x1 , y1 , z1 ) · (x2 + x3 , y2 + y3 , z2 + z3 )

= x1 (x2 + x3 ) + y1 (y2 + y3 ) + z1 (z2 + z3 )

= x1 x2 + x1 x3 + y1 y2 + y1 y3 + z 1 z 2 + z 1 z 3

= (x1 x2 + y1 y2 + z1 z2 ) + (x1 x3 + y1 y3 + z1 z3 )

= →

u ·→

v +→

u ·→

w.

A prova da segunda afirmação do item 3 segue de modo análogo e deixamos como exercício.
Para provar o item 4, vamos usar a associatividade da multiplicação de números reais e a distribu-
tividade:

(a→

u)·→

v = (ax1 , ay1 , az1 ) · (x2 , y2 , z2 )

= (ax1 )x2 + (ay1 )y2 + (az1 )z2

= a(x1 x2 ) + a(y1 y2 ) + a(z1 z2 )

= a(x1 x2 + y1 y2 + z1 z2 )

= a(→

u ·→

v ).

A segunda igualdade do item 4 se prova de modo inteiramente análogo.

Exemplo 2.4. Dados dois vetores →



u e →

v , calculemos (2→

v − 3→

u ) · (4→

u + 5→

v ), sabendo que
|→

u | = 2, |→

v|=3 e →

u ·→

v = −5.

32
Vamos usar as propriedades descritas na Proposição 2.3.

(2→

v − 3→

u ) · (4→

u + 5→

v ) = (2→

v − 3→

u ) · (4→

u ) + (2→

v − 3→

u ) · (5→

3
v)

= (2→

v ) · (4→

u ) − (3→

u ) · (4→

u ) + (2→

v ) · (5→

v ) − (3→

u ) · (5→

3
v)

= (2 × 4)(→

v ·→

u ) − (3 × 4)(→

u ·→

4
u)

+ (2 × 5)(→

v ·→

v ) − (3 × 5)(→

u ·→

v)

= 8(→

u ·→

v ) − 12(→

u ·→

u ) + 10(→

v ·→

v ) − 15(→

u ·→

2
v)

= −12(→

u ·→

u ) − 7(→

u ·→

v ) + 10(→

v ·→

v ).

Usando (2.1), concluímos que

(2→

v − 3→

u ) · (4→

u + 5→

v ) = −12|→

u |2 − 7(→

u ·→

v ) + 10|→

v |2

= −12 × 22 − 7 × (−5) + 10 × 32

= −48 + 35 + 90

= 77.

2.2 Cosseno do ângulo entre vetores

Nesta seção, vamos estudar a relação entre o produto interno entre dois vetores e o ângulo formado por
eles.
Sejam →

u e →

v dois vetores não nulos. Vamos justificar que



u ·→ −v
cos (∠(→

u ,→

v )) = → . (2.3)
| u | · |→
− −v|

−→ − −→
Sejam →

u e →

v dois vetores não nulos em R3 . Digamos que →

u = AB e →
v = AC. A fim de

33
−−→ − →
simplificar a notação, vamos chamar de θ = ∠ (→

u ,→

v ). Notamos que BC = →
v −−
u.

C


v −→

u


v
B

θ →

u

Aplicando a Lei dos Cossenos ao triângulo ABC, obtemos:

|→

v −→

u |2 = |→

u |2 + |→

v |2 − 2(|→

u | · |→

v | · cos θ). (2.4)

Por outro lado, usando as propriedades da Proposição 2.3 e (2.1), temos:

|→

v −→

u |2 = ( →

v −→

u ) · (→

v −→

u)

= →

v ·→

v − 2(→

u ·→

v)+→

u ·→

u

= |→

v |2 − 2(→

u ·→

v ) + |→

u |2 .

Substituindo esta expressão no primeiro membro da igualdade (2.4), obtemos:

|→

v |2 − 2(→

u ·→

v ) + |→

u |2 = |→

u | 2 + |→

v |2 − 2(|→

u | · |→

v | · cos θ).

Realizando as simplificações necessárias, obtemos a expressão



u ·→

v = |→

u | · |→

v | · cos θ, (2.5)

que é equivalente (2.3) quando →



u e →

v são não nulos, provando assim a expressão (2.3). Aliás, (2.5)

34
também é válida quando →

u ou →

v for o vetor nulo. Lembrando que estamos supondo θ = ∠(→

u ,→

v ).
Uma consequência importante de (2.5) diz respeito a vetores ortogonais. Sejam →

u e →

v vetores
não nulos ortogonais entre si. Dizer que →

u e →

v são ortogonais equivale a dizer que o ângulo entre
eles é reto. Porém, como o único ângulo entre 0◦ e 180◦ para o qual o cosseno vale zero é justamente
90◦ . Portanto, de (2.5), →

u e →

v são ortogonais se, e somente se, →

u ·→

v = 0. Em outras palavras:



u ⊥→

v ⇔ →

u ·→

v = 0. (2.6)

Exemplo 2.5. Em cada item a seguir, determinar o ângulo entre os vetores →



u e →

v.

a) →

u = (3, −5, 3) e →

v = (1, 3, 4)

Por (2.3), precisamos calcular inicialmente o valor de →



u ·→

v . Note que →

u ·→

v = 3 × 1 + (−5) ×
3 + 3 × 4 = 0. Consequentemente, por (2.6), concluímos que →

u e →

v são ortogonais, isto é,
que ∠(→

u ,→

v ) = 90◦ .

b) →

u = (1, 2, 1) e →

v = (2, 1, −1)

Como → −u ·→
−v = 1 × 2 + 2 × 1 + 1 × (−1) = 2 + 2 − 1 = 3 6= 0, obtemos que →

u e→−
v não são
√ √
vetores ortogonais. Por sua vez, |→−
u | = 12 + 2 2 + 1 2 = 6 e |→ − p
v | = 22 + 12 + (−1)2 =

6. Consequentemente, por (2.3), temos que


−u ·→

v 3 3 1
cos (∠(→

u ,→

v )) = →− →
− =√ √ = = .
|u|·|v| 6· 6 6 2

1
O único ângulo de 0◦ a 180◦ cujo cosseno vale é 60◦ . Logo, ∠(→

u ,→

v ) = 60◦ .
2

c) →

u = (1, 1, 4) e →

v = (1, −2, −2)

Como → −u ·→
−v = 1 × 1 + 1 × (−2) + 4 × (−2) = −9 6= 0, concluímos que →

u e →

v não
√ √ √
são ortogonais. Por outro lado, como |→

u | = 12 + 12 + 42 = 18 = 3 2 e |→

v| =

35
p √
12 + (−2)2 + (−2)2 = 9 = 3, obtemos que



− →
− −9 2
cos(∠( u , v )) = √ =− .
3 2×3 2


2
Por sua vez, o único ângulo de 0◦ a 180◦ cujo cosseno vale − é 135◦ . Portanto, concluímos
2
que ∠(→

u ,→

v ) = 135◦ .

d) →

u = (1, 0, −2) e →

v = (−1, 1, −1)

Como →
−u ·→−
v = 1 × (−1) + 0 × 1 + (−2) × (−1) = 1 6= 0, obtemos que → −u e →−
v

não são ortogonais. Por outro lado, temos que |→
− 12 + 02 + (−2)2 = 5 e |→

p
u| = v| =
p √
(−1)2 + 12 + (−1)2 = 3. Consequentemente,



− →
− 1 15
cos(∠( u , v )) = √ √ = .
5× 3 15

√ !
15
Portanto, temos que ∠(→

u ,→

v ) = arccos .
15

2.3 Projeção Ortogonal

Sejam →

u e →

v vetores quaisquer em R3 , sendo →

u não nulo. Nosso objetivo agora é determinar dois
vetores →

x e →

y (expressos em função de →

u e →

v ) para os quais →

v se escreva como a soma de →

x
com →

y , de modo que →

x seja paralelo a →

u e →

y seja ortogonal a →

u . Em outros termos, queremos
encontrar dois vetores →

x e →

y tais que:

36



 →

v =→ −x +→−
y






x // →

u (2.7)




 →

y ⊥ → −

 u.



v →

v →

y



u →

u →

x



v →

v


y


u →

u


x
O vetor →

x é chamado de projeção ortogonal de →

v sobre →

u e é denotado por proj − →

u v . Vamos

agora determinar a expressão de →



x em função de →

u e →

v .
De (2.7), obtemos que o vetor →

x precisa ser paralelo a →

u . Portanto, existe um número real a de
modo que →

x = a→

u . Se precisamos escrever →

x em função de →

u e →

v , basta determinar o valor de
a em função de →

u e →

v . Para isso, usando as expressões em (2.7), notamos que:



v ·→

u = (→

x +→

y)·→

u

= →

x ·→

u +→

y ·→

u.

37
Como →

y é ortogonal a →

u , temos que →

y ·→

u = 0. Portanto:



v ·→

u = →

x ·→

u

= (a→

u)·→

u

= a(→

u ·→

u ).

Já que →

u é não nulo, tem-se que →

u ·→

u 6= 0. Portanto, obtemos a expressão do número real a:



v ·→−
u →

v ·→
−u
a= →
− →
− = →
− .
u · u |u| 2

Sendo assim, obtemos a seguinte expressão para o vetor →



x:



v ·→−
u→ →
−v ·→
−u→


x = proj− →
− − − (2.8)
u v = →
→ − →
− u = →− u.
u · u |u| 2

Como →

y =→

v −→

x , temos que o vetor →

y é dado por:



v ·→−
u→ →

v ·→
−u→

− →

y = v − proj− →
− →
− −
u =→
− − (2.9)
u v = v − →
→ − →
− v − →
− u.
u · u |u| 2

Em suma, dados quaisquer dois vetores →



u e →

v , sendo →

u não nulo, existe um vetor, denotado
por proj− →

u v , tal que


− →
− →
− →

u v ) + ( v − proj−
v = (proj−
→ u v ),

onde proj− →
− → − e (→

v − proj− →
− →
− →
− →

u v // u
→ u v ) ⊥ u . Notamos que, se u e v são ortogonais, então



u ·→

v = 0. Portanto, neste caso, o vetor proj− →

u v é nulo.

Exemplo 2.6. Dados os vetores →



u = (1, −3, 2) e →

v = (2, 1, 4), decomponha o vetor →

v como a
soma de dois vetores, sendo um paralelo a →

u e outro ortogonal a →

u.

38
Queremos encontrar dois vetores →

x e →

y de modo que:



 →

v =→ −x +→

y






x // →

u (2.10)




 →

y ⊥→ −

 u.

Estas são justamente as condições em (2.7) que caracterizam o vetor projeção de →



v sobre →

u.
Sendo assim, →

x = proj− →
− →
− →

u v e y = v − proj−



u v . Daí, por (2.8):


−v ·→−u→

− →

x = proj u v = →


−u
− →

u · u
(2, 1, 4) · (1, −3, 2)
= (1, −3, 2)
(1, −3, 2) · (1, −3, 2)
2−3+8
= (1, −3, 2)
1+9+4
1
= (1, −3, 2)
2
 
1 3
= ,− ,1 .
2 2

Basta agora determinar as coordenadas de →



y utilizando (2.9):



y = →

v −→

x
 
1 3
= (2, 1, 4) − ,− ,1
2 2
 
3 5
= , ,3 .
2 2

   

− 1 3 3 5
Em suma, escrevemos v = ,− ,1 + , ,3 .
2 2 2 2
| {z } | {z }
paralelo a −

u ortogonal a −

u

39

− |→

v ·→−
u|
Exercício 2.7. Prove que o módulo do vetor projeção ortogonal é dado por |proj−

u v | = →
− .
|u|

2.4 Outras propriedades do produto interno

Nesta seção, apresentamos algumas propriedades clássicas relativas ao produto interno. A primeira
delas é uma versão vetorial de um importante teorema da Geometria Euclidiana:

Proposição 2.8 (Teorema de Pitágoras). Se →



u e →

v são dois vetores ortogonais, então

|→

u +→

v |2 = |→

u |2 + |→

v |2 .

Demonstração. Sejam →

u e →

v dois vetores ortogonais, isto é, vetores tais que →

u ·→

v = 0. Assim:

|→

u +→

v | 2 = (→

u +→

v ) · (→

u +→

v ) = |→

u |2 + 2(→
− ·→
|u {z
−v}) + |→

v |2 = |→

u |2 + |→

v |2 ,
=0

como desejávamos provar.

Lembramos que, dados quaisquer números reais a e b, vale sempre |a · b| = |a| · |b|. Embora
uma igualdade análoga para vetores, em geral, não seja verdadeira, uma desigualdade pode ser sempre
verificada.

Proposição 2.9 (Desigualdade de Schwarz). Dados quaisquer vetores →



u e →

v , vale que

|→

u ·→

v | ≤ |→

u | · |→

v |. (2.11)

Além disso, vale a igualdade se, e somente se, →



u e →

v são vetores paralelos. Em outros termos:

|→

u ·→

v | = |→

u | · |→

v| ⇔ →

u // →

v. (2.12)

40
Demonstração. Primeiramente, vamos provar a desigualdade (2.11). Sejam →−
u e → −
v vetores quais-

− →

quer. Se →

u = 0 ou → −v = 0 , então a desigualdade (2.11) é claramente válida (na verdade, vale
inclusive a igualdade). Suponhamos então que →

u e →

v , sejam vetores não nulos e denotemos por θ o
ângulo entre →

u e →

v . Independentemente do valor de θ, tem-se | cos θ| ≤ 1. Portanto, de (2.5):

|→

u ·→

v | = | |→

u | · |→

v | · cos θ |

= |→

u | · |→

v | · | cos θ|
| {z }
≤1

≤ |→

u | · |→

v |,

o que prova (2.11).


Agora, precisamos provar (2.12). Para isso, temos que verificar duas afirmações:

Afirmação 1: Se →

u e→

v são dois vetores tais que |→

u ·→

v | = |→

u | · |→

v |, então →

u e→

v são paralelos.

Afirmação 2: Se →

u e →

v são dois vetores paralelos, então |→

u ·→

v | = |→

u | · |→

v |.

Prova da Afirmação 1: Dados dois vetores →



u e →

v (que podemos supor não nulos), suponhamos que
|→

u ·→

v | = |→

u | · |→

v |. Pelo Exercício 2.7 e por hipótese, temos que


− |→

v ·→−
u| |→

u ·→−
v| |→

u | · |→

v|
|proj−
u v | =
→ →
− = →
− = →
− = |→

v |.
|u| |u| |u|

Em resumo, temos que |proj− →


− →
− →
− →
− →
− →

→ u v e y = v −
u v | = | v |. Por outro lado, sendo x = proj−

proj− →
− →
− →
− →− →
− →

u v , sabemos que v = x + y e x ⊥ y . Assim, pelo Teorema de Pitágoras, segue que:

|→

v |2 = |→

x |2 + |→

y | 2 = |→

v | 2 + |→

y |2 .



Consequentemente, concluímos que |→

y | = 0, ou seja, →

y = 0 . Daí, temos que →

v =→

x , e como


x é o vetor projeção ortogonal, tem-se que →

v é paralelo a →

u , o que prova a Afirmação 1.

41
Prova da Afirmação 2: Sejam →

u e →

v dois vetores paralelos. Logo, existe uma constante real a tal
que →

v = a→

u . Assim:

|→

u ·→

v | = |→

u · (a→

u )| = |a · (→

u ·→

u )| = |a| · |→

u ·→

u | = |a| · |→

u |2 . (2.13)

Por outro lado, temos que:

|→

u | · |→

v | = |→

u | · |a→

u | = |→

u | · |a| · |→

u | = |a| · |→

u |2 . (2.14)

Assim, de (2.13) e (2.14), provamos a Afirmação 2, o que conclui a prova da Proposição 2.9.

Por fim, provamos mais uma importante desigualdade envolvendo vetores.

Proposição 2.10 (Desigualdade Triangular). Dados quaisquer vetores →



u e →

v , vale que

|→

u +→

v | ≤ |→

u | + |→

v |. (2.15)

Além disso, a igualdade vale se, e somente se, um deles é o vetor nulo ou ambos são paralelos de
mesmo sentido. Em outros termos:


− →

|→

u +→

v | = |→

u | + |→

v| ⇔ (→

u = 0 ou →

v = 0 ) ou (→

v = a→

u , a > 0). (2.16)

Demonstração. Primeiramente, vamos provar a desigualdade (2.15). Para isso, vamos usar a Desigual-

42
dade de Schwarz (Proposição 2.9).

|→

u +→

v |2 = (→

u +→

v ) · (→

u +→

v)

= |→

u |2 + 2(→
− ·→
|u {z
−v}) + |→

v |2
≤|−

u ·−

v|

≤ |→

u | 2 + 2 |→

u ·→

v | +|→

v |2
| {z }
≤|−

u |·|−

v|

≤ |→

u |2 + 2(|→

u | · |→

v |) + |→

v |2

= (|→

u | + |→

v |)2 .

Em suma, tem-se |→

u +→

v |2 ≤ (|→

u | + |→

v |)2 . Como |→

u +→

v | e |→

u | + |→

v | são não negativos,
concluímos que |→

u +→

v | ≤ |→

u | + |→

v |, o que prova (2.15).
Precisamos agora provar (2.16). Para isso, devemos mostrar as duas afirmações a seguir:
Afirmação 1: Se →

u e→

v são vetores tais que |→

u +→

v | = |→

u | + |→

v |, então →

u é nulo ou →

v é nulo,
ou existe uma constante real a > 0 tal que →

v = a→−u.

− →

Afirmação 2: Se → −
u = 0 ou → −v = 0 , ou existe uma constate real a > 0 tal que →

v = a→

u , então
|→

u +→

v | = |→

u | + |→

v |.
Prova da Afirmação 1: Sejam →

u e →

v dois vetores tais que |→

u +→

v | = |→

u | + |→

v |, e suponhamos
que ambos sejam não nulos. Elevando ao quadrado em ambos os membros, obtemos:

|→

u +→

v |2 = (|→

u | + |→

v |)2 ⇔ |→

u |2 + 2(→

u ·→

v ) + |→

v | 2 = |→

u |2 + 2(|→

u | · |→

v |) + |→

v |2

⇔ →

u ·→

v = |→

u | · |→

v |.

Notamos que é possível obter duas informações a respeito dessa última expressão: →

u ·→

v >0 e
|→

u ·→

v | = |→

u | · |→

v |. Esta última sentença nos afirma que vale a igualdade na desigualdade de Schwarz
(Proposição 2.9). Portanto, por (2.12), concluímos que →

u e →

v são paralelos. Assim, existe uma

43
constante real a > 0 tal que →

v = a→

u . Além disso, como →

u ·→

v > 0, temos que:

0<→

u ·→

v =→

u · (a→

u ) = a|→

u |2 . (2.17)

Assim, como a|→−


u | 2 > 0 e |→

u |2 > 0, concluímos que a > 0, provando a Afirmação 1.

− →

Prova da Afirmação 2: Se →−
u = 0 ou → −v = 0 , então a igualdade |→

u +→

v | = |→

u |+|→

v | é claramente
verdadeira, pois:

− − →
− →
− →

|0 +→
v | = | 0 | + |→

v| e |→

u + 0 | = |→

u | + | 0 |.

Suponhamos então que →



u e →

v são não nulos e tais que →

v = a→

u , para algum a > 0. Por um
lado, como a > 0, temos que:

|→

u +→

v | = |→

u + a→

u | = |(1 + a)→
− + a} | · |→
u | = | 1| {z −
u | = (1 + a)|→

u |. (2.18)
>0

Por outro lado, novamente por a ser positivo, segue que:

|→

u | + |→

v | = |→

u | + |a→

v | = |→

u | + |a| · |→

u | = |→

u | + a|→

u | = (1 + a)|→

u |. (2.19)

Assim, por (2.18) e (2.19), segue que |→



u +→

v | = |→

u | + |→

v |, o que conclui a prova da Afirmação
2 e, consequentemente, da Proposição 2.10.

44
Capítulo 3

Produto Vetorial

Sejam →

u = (x1 , y1 , z1 ) e →

v = (x2 , y2 , z2 ) dois vetores em R3 . Definimos o produto vetorial de →

u
por →

v , e o denotamos por →

u ×→

v , como o seguinte vetor:



u ×→

v = (y1 z2 − z1 y2 , z1 x2 − x1 z2 , x1 y2 − y1 x2 )

= (y1 z2 − z1 y2 )→
−ı + (z x − x z )→
1 2
− →

1 2  + (x1 y2 − y1 x2 ) κ . (3.1)

Notamos que, de acordo com a definição, o produto vetorial é um vetor em R3 . Um dispositivo


prático para determinar as coordenadas do produto vetorial é dado pela expressão a seguir:



−ı →
− →

κ



− →

u × v =

. (3.2)
x1 y 1 z1


x2 y 2 z2

Exemplo 3.1. Determinar as coordenadas do produto vetorial de →



u = (2, −5, −3) por →

v = (1, 0, −4).

45
Utilizando o dispositivo prático em (3.2), temos:



−ı →
− →

κ



− →

u × v =

− →
− →
− (3.3)
2 −5 −3 = 20 ı + 5  + 5 κ = (20, 5, 5).


1 0 −4

A proposição a seguir lista as propriedades mais importantes do produto vetorial.

Proposição 3.2. Sejam →



u, →

v e →

w três vetores em R3 , e a um número real.



1. →

u ×→

u = 0;

2. →

v ×→

u = −(→

u ×→

v ) (Anticomutatividade);

3. →

u ×(→

v +→

w) = →

u ×→

v +→

u ×→

w e (→

u +→

v )× →

w =→

u ×→

w +→

v ×→

w (Distributividade);

4. (a→

u)×→

v = a(→

u ×→

v)=→

u × (a→

v );



5. →

u ×→

v = 0 se, e somente se, →

u e →

v são paralelos;

6. →

u ×→

v é simultaneamente ortogonal a →

u ea →

v , isto é, (→

u ×→

v)⊥→

u e (→

u ×→

v)⊥→

v;

7. Se →

w é simultaneamente ortogonal a →

u ea →

v , então →

w é paralelo a →

u ×→

v;

46
8. Vale a regra da mão direita (uma regra que indica o sentido do produto vetorial);

9. |→

u ×→

v |2 = |→

u |2 · |→

v | 2 − (→

u ·→

v )2 ;

10. |→

u ×→

v | = |→

u | · |→

v | · sen (∠(→

u ,→

v )).

Exemplo 3.3. Sabendo que →



u ×→

v = (2, −4, 1), calcule (3→

v − 2→

u ) × (4→

u + 5→

v ).
Vamos utilizar algumas das propriedades da Proposição 3.2.

(3→

v − 2→

u ) × (4→

u + 5→

v ) = (3→

v − 2→

u ) × (4→

u ) + (3→

v − 2→

u ) × (5→

3
v)

= (3→

v ) × (4→

u ) − (2→
− u ) + (3→
u ) × (4→
− −
v ) × (5→

v ) −(2→

u ) × (5→

3
v)
| {z } | {z }

→ −

=0 =0

= (3→

v ) × (4→

u ) − (2→

u ) × (5→

5
v)

= (3 × 4)(→

v ×→

u ) − (2 × 5)(→

u ×→

4
v)

= 12(−(→

u ×→

v )) − 10(→

u ×→

2
v)

= −12(→

u ×→

v ) − 10(→

u ×→

v)

= −22(→

u ×→

v)

= (−44, 88, −22).

Interpretação geométrica do módulo do produto vetorial

Dados quaisquer vetores →



u e →

v em R3 , vamos mostrar a seguir que a área do paralelogramo1
determinado por eles pode ser calculada por |→

u ×→

v |.
1
Se →

u e →

v são paralelos, eles determinam um paralelogramo dito degenerado, que possui área nula.

47
−→ − −→
Sejam →

u = AB e →
v = AC dois vetores quaisquer. Se →

u e →

v são paralelos, então o paralelo-
gramo determinado por eles é degenerado, possuindo portanto área nula. Por outro lado, nesse caso, o
produto vetorial entre esses vetores coincide com o vetor nulo (propriedade 5 da Proposição 3.2), que
possui módulo nulo, provando o desejado nesse caso particular.
−→ − −→
Suponhamos então que → −u = AB e → v = AC não sejam paralelos, e consideremos o paralelo-
gramo ABDC determinado por eles. Denotemos por h a altura de ABDC relativa ao lado AB, e
por θ o ângulo ∠(→

u ,→

v ).

h
Notamos que Área(ABDC) = |→ −
u | · h. Por outro lado, temos que sen θ = →− e, consequente-
|v|
mente, temos que h = |→

v | · sen θ.
Logo, pela propriedade 10 da Proposição 3.2, concluímos que

Área(ABDC) = |→

u | · |→

v | · sen θ = |→

u ×→

v |,

como desejávamos provar.

Exemplo 3.4. Considerando os vetores →



u = (0, 2, −3) e →

v = (1, 1, −1), vamos calcular a área do
paralelogramo determinado por eles.
Para isso, de acordo com a discussão realizada acima, basta calcular o valor de |→

u ×→

v |. Nota-se

48
inicialmente que


−ı →
− →

κ



− →

u × v =

0 2 −3 = (1, −3, −2).


1 1 −1


Portanto, temos que |→
− v | = 14. Logo, a área do paralelogramo determinado pelos vetores →
u ×→
− −
u e

− √
v vale 14.

O produto vetorial também pode ser utilizado para calcular a área de triângulos, conhecendo-se
as coordenadas de seus três vértices. Sejam A, B e C três pontos no espaço, e ABC o triângulo2
determinado por eles.
Seja D um ponto tal que ABDC seja um paralelogramo, com uma de suas diagonais BC.

Como cada diagonal do paralelogramo o divide em dois triângulos congruentes (e, portanto, de
mesma área), temos que a área de ABC corresponde à metade da área de ABDC. Porém, este para-
−→ −→ −→ −→
lelogramo, sendo determinado pelos vetores AB e AC, possui área |AB × AC|. Consequentemente,

−→ −→
|AB × AC|
Área(ABC) = . (3.4)
2

Exemplo 3.5. Determinar a altura relativa à base AC do triângulo ABC, sabendo que A = (2, 0, 0),
B = (4, 1, 3) e C = (1, 1, 1).
−→
Primeiramente, calculemos a área de ABC. Para isso, notamos primeiramente que AB = (2, 1, 3)
2
Caso A, B e C sejam colineares, o triângulo ABC é dito degenerado, possuindo, portanto, área nula.

49
−→
e AC = (−1, 1, 1). Consequentemente, temos que



−ı →
− →

κ


−→ −→
AB × AC = 2 1 3 = (−2, −5, 3).



−1 1 1


−→ −→ √ 38
Logo, temos que |AB × AC| = 38. Consequentemente, a área de ABC vale . Por outro lado,
2
a área de um triângulo equivale à metade do produto de uma base pela sua altura relativa. Em outros
termos, temos
−→
|AC| · hAC
Área(ABC) = .
2
√ √ √
38 −→ √ 38 114
Como Área(ABC) = e |AC| = 3, concluímos que hAC = √ = .
2 3 3

50
Capítulo 4

Produto Misto

Sejam →

u = (x1 , y1 , z1 ), →

v = (x2 , y2 , z2 ) e →

w = (x3 , y3 , z3 ) três vetores em R3 . Definimos o
produto misto de →

u, →

v e →

w (nesta ordem), denotado por [→

u ,→

v ,→

w ], por


x y z
1 1 1


− →
− →

[ u , v , w ] = x2 y2 z2 .
(4.1)


x y z
3 3 3

Como as coordenadas de →

u, →

v e →

w são números reais, e o produto misto é definido a partir
do determinante de uma matriz cujas entradas coincidem com tais coordenadas, temos que o produto
misto de três vetores é um número real.

Exercício 4.1. Mostre que [→



u ,→

v ,→

w] = →

u · (→

v ×→

w ), para quaisquer vetores →

u, →

v e →

w em R3 .

Exemplo 4.2. Calculemos o produto misto de →



u = (2, 3, 1), →

v = (0, 2, −4) e →

w = (−1, 2, 2).

51


2 3 1



− →
− →

Pela expressão (4.1), temos que [ u , v , w ] = 0 2 −4 = 38.



−1 2 2

A proposição a seguir lista as principais propriedades do produto misto.

Proposição 4.3. Sejam →



u, →

v, →

w e →

x quatro vetores em R3 , e a um número real.

1. [→

u ,→

v ,→

w ] = 0 se, e somente se, →

u, →

v e →

w são coplanares;

2. [→

v ,→

u ,→

w ] = − [→

u ,→

v ,→

w], [→

w,→

v ,→

u ] = − [→

u ,→

v ,→

w], [→

u ,→

w,→

v ] = − [→

u ,→

v ,→

w ];

3. [→

u ,→

v ,→

w +→

x ] = [→

u ,→

v ,→

w ] + [→

u ,→

v ,→

x ],

[→

u ,→

v +→

x ,→

w ] = [→

u ,→

v ,→

w ] + [→

u ,→

x ,→

w ],

[→

u +→

x ,→

v ,→

w ] = [→

u ,→

v ,→

w ] + [→

x ,→

v ,→

w ];

4. [→

u ,→

v , a→

w ] = a [→

u ,→

v ,→

w ] = [→

u , a→

v ,→

w ] = [a→

u ,→

v ,→

w ].

Exemplo 4.4. Em cada item a seguir, verificar se os vetores dados são coplanares.

a) →

u = (1, 0, 2), →

v = (2, 3, 3) e →

w = (−3, −6, −4).

Pela propriedade 1 da Proposição 4.3, basta verificar a nulidade do determinante a seguir:




1 0 2



− →
− →

[ u , v , w ] = 2

3 3 = 0.


−3 −6 −4

Como [→

u ,→

v ,→

w ] = 0, concluímos que os três vetores dados são coplanares. Podemos notar
adicionalmente que →

w =→

u − 2→

v (isto é, →

w pode ser escrito como combinação linear de →

u
e →

v ).

52
b) →

u = (3, 0, 3), →

v = (1, 1, 1) e →

w = (2, 3, 0).

Notamos, nesse caso, que



3 0 3



− →
− →

[ u , v , w ] = 1 1 1 = −6.


2 3 0

Como [→

u ,→

v ,→

w ] 6= 0, concluímos que os três vetores dados não são coplanares. Em parti-
cular, nenhum dos três pode ser escrito como combinação linear dos outros dois, e o conjunto
{→

u, →

v,→

w } é uma base de R3 .

Para verificar se quatro pontos são coplanares, é equivalente verificar se os três vetores representa-
dos por segmentos orientados com origem em um dos pontos e extremidades finais nos outros três são
coplanares. Em outros termos, quatro pontos A, B, C e D são coplanares se, e somente se, os três
−→ −→ −−→
vetores AB, AC e AD são coplanares.

Exemplo 4.5. Consideremos os pontos A = (1, 2, 1), B = (2, 3, 0), C = (−1, 1, 3), D = (3, 2, −1)
e E = (1, 0, 0). Em cada item a seguir, verifique se os quatro pontos indicados são coplanares.

a) A, B, C e D
−→ −→ −−→
De acordo com o discutido acima, basta verificar se os vetores AB, AC e AD são coplanares.
−→
Para isso, vamos calcular o produto misto deles. Notamos inicialmente que AB = (1, 1, −1),
−→ −−→
AC = (−2, −1, 2) e AD = (2, 0, −2).


1 1 −1

h−→ −→ −−→i

AB, AC, AD = −2 −1 2 = 0.


2 0 −2

53
−→ −→ −−→
Sendo assim, os três vetores AB, AC e AD são coplanares e, consequentemente, os quatro
pontos A, B, C e D são coplanares (a figura a seguir ilustra o plano que contém os quatro
pontos).

b) A, B, C e E
−→ −→ −→ −→ −→
Vejamos se os três vetores AB, AC e AE são coplanares. Como AB = (1, 1, −1), AC =
−→
(−2, −1, 2) e AE = (0, −2, −1), temos:


1 1 −1

h−→ −→ −→i

AB, AC, AE = −2 −1 2 = −3 6= 0.



0 −2 −1

−→ −→ −→
Portanto, os três vetores AB, AC e AE não são coplanares e, consequentemente, os quatro
pontos A, B, C e D não são coplanares (a figura a seguir ilustra o plano que contém A, B e
C, e que não contém E).

54
Exemplo 4.6. Sabendo que [→

u ,→

v ,→

w ] = −3, calcule [3→

v − 2→

u , 4→

u + 5→

w,→

v ].
Vamos utilizar as propriedades da Proposição 4.3 para cal cular esse produto misto.

[3→

v − 2→

u , 4→

u + 5→

w,→

v ] = [3→

v − 2→

u , 4→
− v ] + [3→
u ,→
− −
v − 2→

u , 5→

w,→

3
v]
| {z }
=0

= [3→

v − 2→

u , 5→

w,→

1
v]

= [3→

v , 5→

w,→

v ] − [2→

u , 5→

w,→

3
v]
| {z }
=0

= − [2→

u , 5→

w,→

1
v]

= −(2 × 5) [→

u ,→

w,→

4
v]

= −10(− [→

u ,→

v ,→

2
w ])

= 10 [→

u ,→

v ,→

w]

= −30.

55
Interpretação geométrica do módulo do produto misto
Dados quaisquer vetores →

u, →

v e →

w , vamos provar a seguir que o volume do paralelepípedo1
determinado por eles pode ser calculado por |[→

u ,→

v ,→

w ]|.

Se →

u, →

v e→

w são coplanares, então o paralelepípedo determinado por eles é degenerado e possui
volume nulo. Por outro lado, pela propriedade 1 da Proposição 4.3, sabemos que o produto misto de três
vetores coplanares também é nulo, provando o desejado, supondo que os três vetores sejam coplanares.
Suponhamos então que →

u, →

v e →
−w não sejam coplanares, e os representemos com a mesma
−→ − −→ − −−→
origem; digamos, →

u = AB, →v = AC e →
w = AD. Lembramos que o volume de um paralelepípedo
é dado pelo produto da área de uma base pela sua altura relativa.
Tomemos como base de tal paralelepípedo à dada pelo paralelogramo determinado por →

u e →

v.
Denotando por h a altura do paralelepípedo relativa a tal base, temos que:

Vol = |→

u ×→

v | · h. (4.2)

Vamos agora calcular h em função de →−u, →−v e →−w . Tomemos um ponto2 E de modo que AE
−→
seja perpendicular a ED. Note que AE é a altura do paralelepípedo relativa à base determinada por

−→

−u e →−v , isto é, h = AE .

1
Caso →−
u, →−v e →−
w sejam coplanares, tal paralelepípedo é dito degenerado, possuindo portanto volume nulo.
2
Tal ponto E pode ser obtido traçando-se, por A, uma reta perpendicular ao plano determinado por A, B e C, e
obtendo sua interseção com o plano paralelo a este que passa por D.

56
−→
Portanto, o vetor AE é simultaneamente ortogonal a → −
u ea →−
v . Pela propriedade 7 da Proposição
−→ −−→ −→ −→ − →
3.2, temos que AE é paralelo a →
−u ×→ −v . Por sua vez, como ED ⊥ AE e AE // → u ×− v , temos que
−−→ →
ED ⊥ − u ×→ −v . Em suma, temos o seguinte:



 →
− −→ −−→


 w = AE + ED


−→ →
 AE // −
u ×→−
v (4.3)


 −−→ − →
 ED ⊥ → u ×−

 v.

−→ →

Portanto, temos que AE = proj−
→ v w . Sendo assim, a altura do paralelepípedo relativa à base
u ×−

determinada pelos vetores →



u e →

v é dada por h = |proj−

u ×−



v w |. Assim, pelo Exercício 2.7, temos:

57

− |→

w · (→−
u ×→ −v )|
h = |proj−
→ v w| =
u ×−
→ →
− →

|u × v|
|[w,→

− −u ,→

v ]|
= →
− →

|u × v|
|[ u ,→

− −v ,→

w]|
= →
− →
− ,
|u × v|

onde, nessa última igualdade, usamos a propriedade 2 da Proposição 4.3 (duas vezes). Sendo assim,
substituindo esse valor de h em (4.2), temos

Vol = |→

u ×→

v|·h

− →
− | [→
−u ,→

v ,→

w]|
= |u × v|· → − →

|u × v|

− →
− →

= |[ u , v , w ]| ,

o que desejávamos provar.

Exemplo 4.7. Calcule o volume do paralelepípedo determinado pelos vetores →



u = (1, 0, 1), →

v =
(−1, 1, 0) e →

w = (2, 1, 1).
Pelo que vimos acima, basta determinar o valor absoluto do produto misto de →

u, →

v e →

w.


1 0 1



− →
− →

[ u , v , w ] = −1 1 0 = −2.



2 1 1

Portanto, o volume de tal paralelepípedo vale | − 2| = 2.

O produto misto também pode ser utilizado para calcular o volume de um tetraedro (pirâmide de

58
base triangular). Dados quatro pontos A,
h B, C e D em
i R , o volume do tetraedro de vértices nesses
3
−→ −→ −−→
AB, AC, AD
quatro pontos pode ser calculado por .
6

Exercício 4.8. Mostre que o volume do tetraedro de vértices em A = (1, 0, 0), B = (2, 3, 3), C =
(1, 1, 0) e D = (−1, 0, 0) vale 1.

59
Capítulo 5

Retas no espaço

Seja r uma reta no espaço. Tomemos um ponto A em r e um vetor →



v , não nulo, paralelo a r.

−→
Um ponto P no espaço pertence a r se, e somente se, o vetor AP é paralelo a →

v . Em outros
termos,
−→ →
P ∈r ⇔ AP // −
v.

−→
Por sua vez, isto equivale a dizer que AP é um múltiplo escalar de →

v . Ou seja

−→
P ∈r ⇔ ∃ t ∈ R, AP = t→

v.

−→
Como as coordenadas de AP são dadas por P − A, concluímos que um ponto P no espaço

60
pertence a r se, e somente se,

P = A + t→

v, para algum t ∈ R. (5.1)

A expressão (5.1) é denominada equação vetorial de r, e o vetor →



v é dito um vetor diretor de r. Por
sua vez, a variável t é denominada parâmetro da reta. Variando-se o parâmetro, obtém-se todos os
pontos da reta.
Se →

v é um vetor diretor de r, então um outro vetor → −
w também é diretor de r se, e somente se,

− →
− − →
w 6= 0 e →
w // −
v . Sendo assim, toda reta possui infinitos vetores diretores. Consequentemente, toda
reta possui infinitas equações vetoriais.
Digamos que P = (x, y, z), A = (x0 , y0 , z0 ) e →

v = (a, b, c). De (5.1), temos que

(x, y, z) = (x0 , y0 , z0 ) + t(a, b, c). (5.2)

Portanto, concluímos que 






 x = x0 + ta


y = y0 + tb (5.3)






 z = z0 + tc.

As expressões em (5.3) são denominadas equações paramétricas de r. Toda reta possui infinitas
equações paramétricas.

Exemplo 5.1. Consideremos o ponto A = (2, −3, 1) e o vetor →



v = (3, 1, −4) em R3 .

a) Determine as equações vetorial e paramétricas da reta r que passa por A paralelamente ao vetor


v.

Pelas expressões (5.1) e (5.3), vemos que as equações a seguir são, respectivamente, as equações

61





 x = 2 + 3t


vetorial e paramétricas de r: P = (2, −3, 1) + t(3, 1, −4) e y = −3 + t .






 z = 1 + (−4)t

b) Determine dois pontos B e C (distintos de A) pertencentes a r, e dois vetores →



u e →

w (dis-
tintos de →

v ) que também sejam diretores de r.

Como já temos as equações paramétricas de r (obtidas no item a), para determinar pontos alea-
tórios B e C em r, e distintos de A, basta que atribuamos valores aleatórios (e não nulos) para
t. Por exemplo, para t = 1 e t = −2, obtemos, respectivamente, os seguintes pontos em r:
B = (5, −2, −3) e C = (−4, −5, 9).

Por sua vez, como →



v = (3, 1, −4) é um vetor diretor de r, qualquer múltiplo não nulo de →

v
também é diretor de r. Assim, por exemplo, os vetores →

u = (12, 4, −16) e →

w = (−9, −3, 12)
também são diretores de r.
   
5 5 10 7 7 7
c) Verifique se os vetores →

u1 = − ,− , e →

u2 = , ,− são diretores de r.
2 6 3 4 12 5
Para que → −
u1 seja diretor de r, ele precisa ser um múltiplo escalar de → −
v . Assim, devemos
 

− →
− 5 5 10
verificar se existe um número real a tal que u1 = a v , isto é, de modo que − , − , =
2 6 3
a(3, 1, −4). Isto equivale a analisar a existência de solução para o sistema


 5

 − = 3a
 2


5 . (5.4)
− = a


 6
 10 = −4a



3

5
Notamos que a = − é solução para as três equações desse sistema. Portanto, temos que
6

− 5→
u1 = − v , provando que →
− −
u1 é vetor diretor de r.
6
62
Vejamos agora com →

u2 . Devemos verificar se existe número real a tal que


 7

 = 3a


 4
7 . (5.5)
= a


 12


 7
 − = −4a
5

7
Nota-se que é a única solução possível para as duas primeiras equações, mas esse valor não
12
soluciona a terceira. Portanto, tal sistema não possui solução. Logo, →

u2 não é diretor de r.

d) Verifique se os pontos D = (4, −6, 2) e E = (−10, −7, 17) pertencem a r.

Note que o ponto D foi obtido multiplicando-se as coordenadas de A por dois. Para que D
pertença a r, é necessário que exista algum número real t de modo que





 4 = 2 + 3t


−6 = −3 + t . (5.6)






 2 = 1 + (−4)t

2
Pela primeira equação, obtemos que o valor de t precisa ser necessariamente . Por sua vez,
3
2
pela segunda equação, vemos que t deve valer obrigatoriamente −3, que é distinto de . Por-
3
tanto, não existe um valor de t que seja solução para o sistema (5.6). Consequentemente, temos
que D ∈
/ r.

Vejamos agora se E pertence a r. Para isso, devemos verificar se o sistema a seguir possui

63
solução: 




 −10 = 2 + 3t


−7 = −3 + t . (5.7)






 17 = 1 + (−4)t

Notamos que t = −4 é solução para o sistema (5.7). Portanto, temos que E ∈ r.

e) Determine outras duas equações vetoriais de r.

Para obter equações vetoriais de uma reta, basta que utilizemos pontos que a pertencem e vetores
que sejam paralelos a ela. Sendo assim, pelos itens anteriores, concluímos que as seguintes
expressões também são equações vetoriais de r: P = (−4, −5, 9) + t(12, 4, −16) e P =
(−10, −7, 17) + t(−9, −3, 12).

Exemplo 5.2. Determine equações paramétricas do eixo y.


Para isso, devemos obter um ponto pertencente ao eixo y e um vetor diretor de tal eixo. Existem
infinitas escolhas para ambos; por exemplo, A = (0, 0, 0) pertence ao eixo y, e o vetor →
− = (0, 1, 0)

(da base canônica) é um diretor de tal eixo. Portanto,


 

 



 x = 0+0·t 

 x = 0

 

y = 0+1·t ou, simplesmente, y = t

 


 


 

 z = 0+0·t  z = 0

são equações paramétricas do eixo y.







 x = x0 + ta


Consideremos uma reta r que possua equações paramétricas dadas por y = y0 + tb , de






 z = z0 + tc

64
tal forma que a, b e c sejam simultaneamente não nulos. Notamos que nem toda reta admite um
vetor diretor com essa característica (o eixo y, por exemplo, não admite um vetor diretor com as três
coordenadas simultaneamente não nulas). Isolando-se t em cada uma das três equações, obtemos:

x − x0 y − y0 z − z0
t= , t= , t= . (5.8)
a b c

Consequentemente, obtemos que um ponto P = (x, y, z) pertence a r se, e somente se,

x − x0 y − y0 z − z0
= = , (5.9)
a b c

onde (x0 , y0 , z0 ) ∈ r e (a, b, c) // r. A expressão (5.9) é denominada equações simétricas da reta r.


Notamos que nem toda reta admite equações simétricas (os eixos coordenados, por exemplo, não
as possuem). Caso uma reta tenha equações simétricas, ela possui infinitas dessas equações.
O último tipo de equações para uma reta no espaço são as chamadas equações reduzidas, em que
se descreve tal reta por meio de duas equações, onde duas das variáveis estão escritas em função da
terceira; isto é, são equações do tipo:
  

 
 

 x = mz + n  x = my + n  y = mx + n
ou ou . (5.10)

 
 

 y = pz + q  z = py + q  z = px + q

É importante notar que toda reta possui equações reduzidas, e que elas são únicas para cada tipo.

Exemplo 5.3. Em cada item a seguir, determine as equações simétricas (caso existam) e reduzidas da
reta determinada pelos pontos indicados:

a) A = (1, 4, −2) e B = (0, 2, 3)


−→ −→
Notamos que, como A ∈ r e B ∈ r, temos que AB // r; nesse caso, AB = (−1, −2, 5). Como

65
−→ ←→
as coordenadas de AB são não nulas, temos que AB possui equações simétricas. Utilizando A
←→
como ponto de r (poderíamos também utilizar B), obtemos que as equações simétricas de AB
são
x−1 y−4 z − (−2)
= = . (5.11)
−1 −2 5
←→
Para determinar as equações simétricas de AB, podemos utilizar as equações simétricas (5.11)
da seguinte maneira:

x−1 z+2 y−4 z+2


= =
−1 5 −2 5
5(x − 1) = (−1)(z + 2) 5(y − 4) = (−2)(z + 2)

5x = −z − 2 + 5 5y = −2z − 4 + 20
1 3 2 16
x=− z+ y=− z+
5 5 5 5

 x = −1z + 3


5 5 ←→
Em suma, as equações são equações reduzidas de AB. Nesse caso,
 y = − 2 z + 16


5 5
ainda usando (5.11), podemos obter os outros dois tipos de equações reduzidas para essa reta.

b) A = (2, −5, 3) e B = (4, −5, −2)


←→ −→
Nesse caso, um vetor diretor para a reta AB é AB = (2, 0, −5). Notamos que todo diretor
←→
de AB possui ordenada nula. Portanto, esta reta não possui equações simétricas, mas possui
equações vetorial, paramétricas e reduzidas. Doisexemplos para as duas primeiras são, respecti-




 x = 2 + 2t


vamente: P = (2, −5, 3) + t(2, 0, −5) e y = −5 .






 z = 3 − 5t

66
←→
Podemos utilizar as equações paramétricas para determinar equações reduzidas de AB. Para
isso, basta isolar t na primeira equação e substituir na terceira:

 
x−2 x−2
t= ⇒ z =3−5 ,
2 2

5 ←→
ou, equivalentemente, z = − x + 8. Sendo assim, podemos descrever AB por meio de
2
duas equações em que as variáveis y e z estão escritas em função de x, obtendo as equações
reduzidas:
 

 

 y = −5  y = 0·x−5
ou, equivalentemente, .
 z = −5x + 8  z = −5x + 8

 

2 2




 x = 3y + 1
Exemplo 5.4. Determine as equações paramétricas da reta r : .


 z = −y + 5
Vejamos como resolver este problema de duas maneiras. A primeira é encontrando dois pontos
distintos que pertençam a r. Para isso, basta atribuir dois valores para a variável independente. Por
exemplo, tomando y = 0, obtemos que x = 1 e z = 5. Por sua vez, tomando y = 1, obtemos que
x = 4 e z = 4. Assim, os pontos A = (1, 0, 5) e B = (4, 1, 4) pertencem a r. Conhecendo-se dois
pontos de r, podemos obter suas equações paramétricas (Exercício!).
A segunda maneira é renomeando a variável independente, por exemplo, tomando y = t. Em
seguida, escrever as outras duas variáveis em função de t utilizando as equações dadas. Nesse caso,

67
temos que x = 1 + 3t e z = 5 − t. Portanto, as equações paramétricas de r são





 x = 1 + 3t


y = t .






 z = 5−t

Observamos que os dois métodos podem resultar em equações paramétricas distintas de r.

5.1 Ângulo entre retas

O ângulo entre duas retas r e s é o menor ângulo possível formado entre vetores diretores de uma e
vetores diretores da outra reta, e é nomeado por ∠(r, s). Vale sempre que 0 ≤ ∠(r, s) ≤ 90◦ .

Conhecendo-se →

u e →

v vetores diretores de r e de s, respectivamente, podemos calcular tal
ângulo por meio da expressão:

68
text
|→

u ·→ −v|
cos ∠(r, s) = → . (5.12)
| u | · |→
− −
v|

É importante notar que o ângulo entre r e s não é necessariamente o ângulo entre →



u e →

v . Pode
ocorrer de o primeiro ser o suplementar do segundo.

Exemplo 5.5. Considerando as retas r : P = (3, 0, −1)+t(1, 1, −2) e s : P = (−2, 3, 0)+t(−2, 1, 1),
calculemos ∠(r, s).
Como →

u = (1, 1, −2) // r e →

v = (−2, 1, 1) // s, pela expressão em (5.12), temos que:

|(1, 1, −2) · (−2, 1, 1)| |−3| 1


cos ∠(r, s) = =√ √ = .
|(1, 1, −2)| · |(−2, 1, 1)| 6· 6 2

1
Como ∠(r, s) ∈ [0◦ , 90◦ ] e cos ∠(r, s) = , concluímos que ∠(r, s) = 60◦ . É importante notar
2
que, nesse caso, temos que ∠ (→

u ,→

v ) = 120◦ (Mostre!).

Observação 5.6. O ângulo entre duas retas é nulo se, e somente se, elas são paralelas (podendo ser
iguais ou não). Isto equivale a dizer que o ângulo entre duas retas é nulo se, e somente se, seus vetores
diretores são paralelos.
Por sua vez, quando o ângulo entre duas retas for reto, dizemos que elas são ortogonais (e isto
equivale a seus vetores diretores serem ortogonais). Vale ressaltar que retas ortogonais não são neces-
sariamente concorrentes. Caso sejam, elas são ditas perpendiculares. Ou seja, duas retas são perpen-
diculares quando forem concorrentes e o ângulo entre elas for reto. Por exemplo, no cubo da figura
←→ ←→ ←→ ←→
a seguir, as retas AB e AD são perpendiculares em A. Por outro lado, as retas AD e EF são
simplesmente ortogonais.

69
5.2 Posição relativa entre duas retas no espaço

Duas retas no espaço podem ser iguais1 , paralelas distintas2 , concorrentes3 ou reversas4 . Nesta seção,
tratamos de como identificar a posição relativa entre retas, conhecendo-se suas equações.

Sejam r e s duas retas no espaço, e →



u e →

v seus vetores diretores, respectivamente. Temos dois
casos a considerar.

Caso 1: →

u e →

v são paralelos.
1
Lembramos que duas retas são iguais quando todos os pontos de uma pertencerem à outra, e vice-versa.
2
Duas retas são paralelas distintas quando forem coplanares e não se intersectarem.
3
Retas concorrentes são aquelas que se intersectam em um único ponto.
4
Duas retas são ditas reversas quando forem não coplanares. Lembramos que retas reversas não possuem ponto em
comum.

70
Nesse caso, ou r e s são iguais ou são paralelas distintas. Escolhamos então um ponto A qualquer
em r. Se A ∈ s, então r e s são iguais. Se A ∈
/ s, então r e s são paralelas distintas.

Caso 2: →

u e →

v não são paralelos.

Nesse caso, ou r e s são concorrentes ou são reversas. Verifiquemos se ambas possuem algum
ponto em comum. Se r ∩ s 6= ∅, então r e s são concorrentes. Se r ∩ s = ∅, então r e s são reversas.

Exemplo 5.7. Em cada item a seguir, decida qual a posição relativa entre as retas dadas. Caso sejam
concorrentes, determine as coordenadas do ponto de interseção entre elas.

a) r : P = (1, 1, 2) + t(1, −1, −1) e s : P = (2, 1, 0) + τ (−3, 3, 3).

O primeiro passo, é identificar os vetores diretores dessas retas, e analisar se são paralelos ou
não. Como →

u = (1, −1, −1) é diretor de r, →

v = (−3, 3, 3) é diretor de s e ambos são
paralelos (pois →

v = −3→

u ), temos que r e s são iguais ou paralelas distintas (Caso 1).

Nesse caso, escolhamos um ponto A qualquer em r. Podemos tomar A = (1, 1, 2). Devemos
decidir se A ∈ s ou A ∈
/ s. Para isso, basta ver se o sistema a seguir possui solução:





 1 = 2 − 3τ


1 = 1 + 3τ . (5.13)






 2 = 3τ

1
Pela primeira equação, notamos que τ precisa necessariamente valer . Por sua vez, pela se-
3
gunda, τ precisa ser nulo. Portanto, o sistema (5.13) não possui solução, nos levando a concluir
que A ∈
/ s. Logo, r e s são paralelas distintas.

71





 x = 2−t

 x−5 y+7 z−4
b) r : y = 2 + 3t e s: = = .

 2 −6 2




 z = 1−t

Notamos que →

u = (−1, 3, −1) e →

v = (2, −6, 2) são diretores de r e s, respectivamente.
Como →

u // →

v (pois →

v = −2→

u ), temos que r e s são iguais ou paralelas distintas (Caso 1).

Nesse caso, escolhamos um ponto A qualquer em r. Podemos tomar A = (2, 2, 1). Vejamos
se A ∈ s ou se A ∈
/ s. Para isso, como s está representada por suas equações simétricas, basta
substituir as coordenadas de A em s, e verificar se a expressão resultante constitui uma verdade
matemática. Em outros termos, a expressão

2−5 2+7 1−4


= =
2 −6 2

3
é verdadeira? Podemos notar que sim, pois os três quocientes são equivalentes a − . Portanto,
2
A ∈ s e, consequentemente, temos que as retas r e s são iguais.
 

 



 x = 1 − 2t 

 x = −1 + τ

 

c) r : y = 2 + 4t e s: y = 12 − 7τ .

 


 


 

 z = 3−t  z = 5 − 2τ

Notamos primeiramente que →



u = (−2, 4, −1) e →

v = (1, −7, −2) são vetores diretores de r
e s, respectivamente. Vejamos que →

u e →

v não são paralelos. Com efeito, suponhamos que
sejam paralelos. Logo, existe uma constante a ∈ R tal que →

v = a→

u . Portanto, vale que

72
(1, −7, −2) = a(−2, 4, −1). Consequentemente, vale que:





 1 = −2a


−7 = 4a ,






 −2 = −a

o que é um absurdo, pois não existe um valor de a que seja solução para esse sistema. Logo, →

u
e →

v não podem ser paralelos. Por conseguinte, temos que r e s são concorrentes ou reversas
(Caso 2).

Nesse caso, devemos verificar a existência de ponto de interseção entre ambas. Em outros termos,
precisamos ver se existe (x, y, z) ∈ R3 que satisfaça as equações de r e de s:





 1 − 2t = x = −1 + τ


 2 + 4t = y = 12 − 7τ .





 3 − t = z = 5 − 2τ

Isto equivale a encontrar números reais t e τ que sejam soluções do sistema







 1 − 2t = −1 + τ


2 + 4t = 12 − 7τ . (5.14)






 3 − t = 5 − 2τ

Pela primeira equação, temos que τ = 2 − 2t. Substituindo esta expressão na terceira equação,
2
obtemos que 3 − t = 5 − 2(2 − 2t). Consequentemente, obtemos que t = . Como τ = 2 − 2t,
5
6
concluímos que τ = .
5

73
2 6
Sendo assim, por construção, os valores t = e τ = são soluções para a primeira e terceira
5 5
equações de (5.14). Basta verificar se tais valores também satisfazem a segunda equação de
(5.14). Em outros termos, a expressão

2 6
2+4× = 12 − 7 ×
5 5

18
é verdadeira? Podemos notar que sim, pois ambos os membros são equivalentes a . Portanto,
5
existe solução para o sistema (5.14). Logo, as retas r e s são concorrentes.
2
Para determinar o ponto de interseção entre ambas, basta substituir t = nas equações de r
5
6
(ou, equivalentemente, τ = em s). Sendo assim, notamos que r e s se intersectam no ponto
  5
1 18 13
P = , , .
5 5 5



 x = 3y + 1
d) r : P = (2, −1, 1) + t(−3, 1, 2) e s : .


 z = −y + 5

Notamos que s está dada em sua forma reduzida, e não está evidente um de seus vetores dire-
tores. Para encontrá-lo, podemos determinar as equações paramétricas como no Exemplo 5.4,
obtendo, por exemplo, 




 x = 1 + 3τ


s: y = τ .






 z = 5−τ

Como →

u = (−3, 1, 2) e →

v = (3, 1, −1) são diretores de r e s, respectivamente, e não são
paralelos entre si (Mostre!), temos que essas duas retas são concorrentes ou reversas (Caso 2).
Precisamos então verificar a existência de ponto de interseção. Para isso, devemos decidir se

74
existem t e τ que sejam soluções para o seguinte sistema:





 2 − 3t = 1 + 3τ


s: −1 + t = τ . (5.15)






 1 + 2t = 5 − τ

Substituindo τ (dado pela segunda equação) na terceira, obtemos que 1 + 2t = 5 − (−1 + t), de
5 2
onde obtemos que t = . Substituindo este valor na segunda equação, vemos que τ = . Estes
3 3
valores de t e τ são soluções para a segunda e terceira equações. Basta então verificarmos se
estes valores também solucionam a primeira, isto é, a expressão

5 2
2−3× =1+3×
3 3

é verdadeira? Podemos notar que não, pois o primeiro membro é equivalente a −3 e o segundo,
a 3. Consequentemente, o sistema (5.15) não possui solução, mostrando que r e s são disjuntas.
Portanto, r e s são reversas.

Observação 5.8. Ao verificar a existência de pontos de interseção entre duas retas, é sempre importante
dar nomes diferentes aos parâmetros de ambas.





 x = 1 + 2t


Exemplo 5.9. Consideremos o ponto P = (1, −1, −3) e a reta r : y = 2−t .






 z = −1 + t

a) Mostre que P ∈
/ r. (Exercício)

b) Determine as equações paramétricas da única reta que passa por P e que é perpendicular a r.

75
a

Lembramos que duas retas são perpendiculares quando forem concorrentes e formarem ângulo reto.
Para determinar as equações paramétricas de s, basta que encontremos um de seus vetores diretores,
pois um de seus pontos já conhecemos: o ponto P .
Denotemos então por Q o ponto de interseção entre r e s (notamos que suas coordenadas são
desconhecidas). O ponto A = (1, 2, −1) pertence a r, e o vetor →

u = (2, −1, 1) é diretor de r. Note
que vale o seguinte: 

 −→ −→ −→


 AP = AQ + QP


−→ →
 AQ // −
u . (5.16)


 −→ −
 QP ⊥ →

 u

−→ −→ −→ −→ −→
Por (2.7), (2.8) e (2.9), concluímos que AQ = proj−
u AP e QP = AP − proj−
→ u AP . Notamos

−→ −→
que QP é vetor diretor de s. Como AP = (0, −3, −2), temos que:

−→ (0, −3, −2) · (2, −1, 1)


QP = (0, −3, −2) − (2, −1, 1)
(2, −1, 1) · (2, −1, 1)
1
= (0, −3, −2) − (2, −1, 1)
 6 
2 17 13
= − ,− ,− .
6 6 6

Podemos utilizar este como vetor diretor de s. Porém, também podemos usar um vetor mais simples,
com todas as coordenadas inteiras. Note que (2, 17, 13) também é diretor de s. Portanto, as equações

76
paramétricas de s são 




 x = 1 + 2t


 y = −1 + 17t .





 z = −3 + 13t
 

 



 x = t 

 x = 2+τ

 

Exemplo 5.10. Consideremos as retas r : y = 2t e s: y = −τ .

 


 


 

 z = 1−t  z = 2 + 2τ

a) Mostre que r e s são reversas. (Exercício)

b) Determine as equações paramétricas da reta ρ que é simultaneamente perpendicular a r e a s.

Denotemos por P = (x1 , y1 , z1 ) o ponto de interseção entre ρ e r, e por Q = (x2 , y2 , z2 ) o


ponto de interseção entre ρ e s. Como P ∈ r e Q ∈ s, existem t0 e τ0 tais que
 

 



 x1 = t 0 

 x 2 = 2 + τ0

 

y1 = 2t0 e y2 = −τ0 . (5.17)

 


 


 

 z 1 = 1 − t0  z2 = 2 + 2τ0

77
Sejam →
−u = (1, 2, −1) e → −
v = (1, −1, 2) vetores diretores de r e s, respectivamente. Como P
−→
e Q pertencem a ρ, temos que P Q é vetor diretor de ρ. Além disso, como ρ é simultaneamente
−→
perpendicular a r e a s, temos que P Q é ortogonal a → −u ea → −
v . Logo, pela propriedade 7 da
−→
Proposição 3.2, temos que P Q é paralelo a →
−u ×→ −v.
−→
Assim, como →

u ×→

v = (3, −3, −3) (Mostre!), temos que P Q é um múltiplo de (1, −1, −1).
Em particular, obtemos que o vetor (1, −1, −1) é diretor de ρ. Além disso, existe um número
−→ −→
real a tal que P Q = a(1, −1, −1). Daí, tem-se que P Q = (a, −a, −a). Por outro lado, por
(5.17), temos que

−→
P Q = (x2 − x1 , y2 − y1 , z2 − z1 )

= (2 + τ0 − t0 , −τ0 − 2t0 , 2 + 2τ0 − (1 − t0 ))

= (2 + τ0 − t0 , −τ0 − 2t0 , 1 + 2τ0 + t0 ))

Assim, obtemos o seguinte sistema:







 2 + τ0 − t 0 = a


 −τ0 − 2t0 = −a





 1 + 2τ0 + t0 = −a

Somando a primeira e a terceira equações, obtemos que 3 + 3τ0 = 0. Portanto, obtemos que
τ0 = −1. Logo, por (5.17), obtemos que Q = (1, 1, 0). Como já determinamos um ponto de ρ
(a saber, Q) e um vetor diretor de ρ (o vetor (1, −1, −1)), temos que as equações paramétricas

78
de ρ são 




 x = 1+t


 y = 1−t .





 z = −t

79

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