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Referência: Cain, M. L., Bowman, W. D. & Hacker, S. D. 2019. Ecologia. 3ª ed.

Artmed, Porto
Alegre.

Níveis tróficos e pirâmides ecológicas


Cada categoria alimentar, ou nível trófico, é definida pelo número de degraus tróficos que
a separa dos autótrofos (Figura 21.3). O primeiro nível trófico consiste nos autótrofos, os produtores
primários que geram energia química a partir da luz solar ou de compostos químicos inorgânicos.
Ele também gera a maior parte da matéria orgânica morta nos ecossistemas. No ecossistema de
deserto do nosso exemplo, o primeiro nível trófico inclui todas as plantas que agrupamos para
formar um único componente, não importando sua identificação taxonômica. O segundo nível
trófico é composto pelos herbívoros que consomem biomassa autotrófica – que em nosso
ecossistema de deserto incluiria gafanhotos e veados-mula – e pelos detritívoros que consomem
matéria orgânica morta. Os demais níveis tróficos (terceiro em diante) contêm os carnívoros que
consomem os animais do nível trófico abaixo deles. Os carnívoros primários que constituem o
terceiro nível trófico em um sistema de deserto incluiriam pequenas aves e escorpiões, enquanto
exemplos de carnívoros secundários do quarto nível trófico incluiriam raposas e aves de rapina. A
maioria dos ecossistemas tem quatro níveis tróficos ou menos.
Em estudos tróficos, os heterótrofos
que se alimentam em múltiplos níveis tróficos
são chamados de onívoros. Esses heterótrofos
desafiam nossa tentativa de agrupar or-
ganismos em categorias alimentares simples.
Entretanto, suas dietas podem ser detalhadas a
fim de se conhecer a quantidade de energia
que eles consomem em cada nível trófico
(Pimm, 2002). O rastreamento e a separação
das fontes de alimento são facilitados pelo uso
de isótopos estáveis. Assim, os onívoros
ocupam níveis tróficos intermediários,
conforme determinado pelas proporções de
alimentos que eles consomem. A onivoria é
comum em muitos ecossistemas.
Todos os orga nis mos ou s ã o cons umidos ou a ca ba m como detritos
Todos os organismos em um ecossistema ou são consumidos por outros organismos de
níveis tróficos mais elevados ou entram no reservatório de matéria orgânica morta – detrito (o
“lodo”. Na maioria dos ecossistemas terrestres, uma proporção relativamente pequena da biomassa
é consumida, e a maior parte do fluxo energético passa pelo detrito. Devido ao fato de que a maior
parte desse fluxo energético ocorre no solo, nem sempre estamos cientes da magnitude e da
importância desse processo. Plantas, micróbios e animais mortos, assim como fezes, são consumidos
por uma profusão de organismos, conhecidos como detritívoros (principalmente bactérias e
fungos), no processo conhecido como decomposição. Os detritos fazem parte do primeiro nível
trófico, e os detritívoros estão posicionados com os herbívoros no segundo nível trófico. Embora
os níveis tróficos dos autótrofos e dos detritos sejam, algumas vezes, considerados separadamente,
eles estão fortemente ligados pela produção primária, pela ciclagem de nutrientes e pelos diversos
organismos que adquirem energia tanto de plantas quanto de detritos. O fluxo energético através
dos detritos é muito importante, tanto em ecossistemas terrestres quanto em principalmente das
plantas do ecossistema. Por outro lado, a maior parte dos detritos dos ecossistemas de rios, lagos e
estuários deriva da matéria orgânica terrestre, considerada externa ao ecossistema aquático.
O que determina o número de níveis tróficos ?
O que determina a variação entre os ecossistemas no número de níveis tróficos, e por que
tão poucos ecossistemas têm cinco ou mais níveis tróficos? Essa questão não é simplesmente
acadêmica. Por meio das cascatas tróficas, o número de níveis tróficos em um ecossistema pode
influenciar o deslocamento de energia e nutrientes, bem como o potencial para as toxinas no
ambiente se concentrarem em níveis tróficos mais elevados. Uma alteração na quantidade de níveis
tróficos pode ocorrer devido à adição ou perda de um predador do topo da teia alimentar, à inserção
ou perda de um predador no meio da teia ou a mudanças na preferência alimentar dos onívoros
por alimentos em diferentes níveis tróficos.
P irâ mides ecológica s
Uma abordagem comum para conceituar as relações entre os níveis tróficos em um
ecossistema é a construção de um gráfico de retângulos empilhados que representam a quantidade
de energia ou biomassa dentro de um nível trófico. Quando organizados do nível mais baixo para
o mais alto, esses retângulos formam uma pirâmide trófica. Ilustrando a relação entre a quantidade
de energia ou biomassa para cada nível trófico, essa pirâmide mostra como a energia flui ao longo
do ecossistema. As pirâmides tróficas ou pirâmides ecológicas podem ser de três tipos:
Pirâmides de números
Informam o número de indivíduos pertencentes a cada nível trófico em determinado
ecossistema. De maneira geral, a pirâmide de números tem a base mais larga. Os números decrescem
à medida que se avança para os níveis tróficos superiores. Entretanto, algumas vezes, a pirâmide
pode apresentar-se invertida, quando, por exemplo, o produtor é uma árvore que suporta os demais
níveis tróficos ou quando há um grande número de parasitas (consumidores) vivendo à custa de
um único hospedeiro.

Pirâmides de biomassa
Indicam a biomassa, isto é, a quantidade de matéria orgânica de todos os seres vivos que
formam cada um dos níveis tróficos. As pirâmides de biomassa são expressas em grama de peso seco
por unidade de área (km2, m2 ou cm2) ou em volume (L, m3 ou cm3). A biomassa reflete as
diferenças de tamanho entre os indivíduos. Assim, cada degrau da pirâmide representa
proporcionalmente a massa dos organismos por unidade de área ou de volume. De modo geral, a
biomassa diminui no sentido dos níveis tróficos superiores. Contudo, as pirâmides de biomassa
podem eventualmente ser invertidas, situação em que sua base é menor do que o nível trófico
seguinte. Isso é bastante comum nos ecossistemas aquáticos, onde os produtores têm pequenas
dimensões e um ciclo de vida muito curto, como no caso das algas. Embora a biomassa de
produtores registrada em dado momento seja pequena, ela pode sustentar um número grande de
animais, uma vez que a taxa de reprodução das algas é muito alta. As medições de peso seco (parte
que resta do peso de um material após a perda da água), necessárias para a elaboração de uma
pirâmide de biomassa, implicam a análise de indivíduos mortos, o que pode ser considerado
inaceitável do ponto de vista ético ou ambiental, caso animais sejam sacrificados para o estudo.

Pirâmides de energia
Indicam a quantidade de energia existente em um nível trófico, grandeza que pode ser
expressa em kcal/m2/ano, por exemplo. Esse tipo de pirâmide possibilita analisar o fluxo de energia
em um dado ecossistema, bem como a sua produtividade, e ainda permite comparar o conteúdo
energético de duas comunidades com a mesma massa. As pirâmides de energia nunca são invertidas,
já que a energia presente em determinado nível trófico sempre será maior que a energia do nível
trófico superior. Como vimos, a respiração celular provoca perdas de até 90% de energia de um
nível trófico para outro. Dessa maneira, a quantidade de energia disponível para os consumidores
secundários, por exemplo, é sempre menor do que para os consumidores primários. É por essa
razão também que os ecossistemas costumam ter uma quantidade menor de carnívoros de topo de
cadeia (consumidores terciários e quaternários) do que de herbívoros (consumidores primários). A
construção de uma pirâmide de energia também exige o uso de indivíduos mortos, uma vez que
os valores energéticos dos níveis tróficos são obtidos pela combustão total dos organismos.

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