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EDIÇÃO 432 – OUTUBRO 2021
[descrição da imagem: fundo é uma parede, em escuro, e fixada nesta parede fios elétricos e
lâmpadas. Cada lâmpada está no formato de uma letra, formando a frase título da matéria –
CRISE ENERGÉTICA]
CRISE ENERGÉTICA
COMO EVITAR
A energia eólica já é a segunda maior fonte de eletricidade no país, e a solar tende a crescer a
passos largos. Essa revolução vai além de reduzir as emissões de CO2: também diminui o risco
de apagões no futuro. Entenda como.
POR LEONARDO PUJOL E BRUNO GARATTONI
[outro títulos]
TESTES DE PERSONALIDADE
INTP, ESTJ, ESFP... O Myers-Briggs define quem você é em 4 letras. Mas e aí, funciona?
______________________________
COMO AS ENERGIAS LIMPAS PODEM DAR À LUZ UMA ECONOMIA MAIS ESTÁVEL
O USO DE COMBUSTÍVEIS FÓSSEIS não é ruim “só” para o clima. Também é traiçoeiro para a
economia. Uma alta de mais de 200% no preço do carvão causou apagões na China. A
matéria-prima cara fez com que várias termelétricas (responsáveis pelo grosso da eletricidade
chinesa) diminuíssem a produção de energia, deixando regiões do país no escuro ameaçando
cadeias produtivas globais — dado que a China é o chão de fábrica do planeta.
O petróleo também não tem ajudado. O preço do barril subiu 50% em 2021 — uma das razões
para a gasolina a R$ 7. Como tudo o que as economias produzem depende de transporte, e o
transporte ainda depende de petróleo, isso puxa a inflação para cima no mundo todo. Inflação
fora do controle precisa ser combatida com juros altos. Juros altos, porém, travam os
investimentos. Sem investimentos, o desemprego aumenta. No fim, a equação é clara: petróleo
caro aumenta a pobreza.
Não é a primeira vez. Um choque na oferta de petróleo nos anos 1970 criou uma onda global
de inflação e desemprego — que chegaria ao Brasil na forma de um tsunami.
Mas não estamos nos anos 1970. Temos a tecnologia necessária para substituir os
combustíveis fósseis. O fim do motor a combustão interna é uma questão de tempo. A
substituição das termelétricas a carvão por usinas solares e eólicas também.
Isso dará início a um mundo não apenas mais limpo, mas a uma economia global mais
segura, livre das flutuações abruptas no preço dos combustíveis fósseis.
Havendo uma boa estrutura de painéis fotovoltaicos e de turbinas de vento, a matéria-prima
sai de graça — o Sol, ao que parece, não pretende cobrar nada, e Eolo, o deus dos ventos da
mitologia grega, também é um cara generoso.
A confiabilidade do Sol e do vento também pode ajudar o Brasil. Sempre tivemos uma matriz
limpa, majoritariamente hidrelétrica. Mas as usinas dependem de chuvas. E a frequência delas
pode ser incerta, como vimos nesses últimos tempos, de seca histórica. Uma rede elétrica com
mais participação eólica e solar mitigaria esse risco.
E o Brasil tem tudo para seguir nessa direção a passos largos, como mostram o editor Bruno
Garattoni e o repórter Leonardo Pujol a partir da página 20.
Esta é a edição de despedida de um dos profissionais mais importantes da história recente
da Super, o editor Bruno Vaiano, especialista na arte de transformar conceitos de física,
astronomia e biologia em peças de literatura. Ele parte com o objetivo de iniciar uma carreira
acadêmica no mundo da ciência (o que é uma ótima notícia para a ciência), mas seguirá
escrevendo aqui sempre que possível. Eu e os leitores agradecemos por estes cinco anos de
dedicação exemplar.
Um abraço,
Alexandre Versignassi
DIRETOR DE REDAÇÃO
ALEXANDRE.VERSIGNASSI@ABRIL.COM – BR
VOCÊ DEVE SE LEMBRAR. Em março, quando o Brasil patinava na escassez de vacinas e vivia
seu pior momento da pandemia, chegando a superar 3.700 mortes diárias pelo Sars-CoV-2, o
cenário em Israel era o completo oposto: líder mundial em vacinação, o país começava a
abandonar as restrições sanitárias e retomar o cotidiano normal. Outras nações invejavam e
tentavam copiar o êxito israelense — cujo trunfo era ter apostado na vacina da Pfizer, que viria a
demonstrar 94% de eficácia, quando ela ainda estava em desenvolvimento. Mas o tempo
passou, e as coisas mudaram. O Brasil finalmente conseguiu avançar na imunização, e nossos
números de casos e mortes caíram. Já em Israel, aconteceu algo diferente. A partir de julho, o
número de infectados pelo coronavírus voltou a subir e não parou mais: em meados de
setembro, chegou a superar 10 mil novos casos por dia, ultrapassando o pior momento da
pandemia no país (que havia sido janeiro, com média diária de 8 mil novos casos). O governo
divulgou dados alarmantes, indicando que a efetividade da vacina havia caído para apenas 39%,
e correu para começar a aplicar uma terceira dose — primeiro nos idosos, depois nas pessoas
acima de 50 anos, e por fim em toda a população. Puxa vida. Será que isso vai acabar
acontecendo aqui também?
A primeira coisa que você precisa saber é: mesmo antes de Israel decidir aplicar a dose de
reforço, as vacinas continuavam funcionando. Os dados israelenses de julho e agosto, meses
em que a nova onda de Covid explodiu no país, mostram o seguinte: entre as pessoas que
haviam tomado duas doses da vacina (nada de terceira dose), o número de casos graves quase
não subiu: ele se manteve no patamar de 20 doentes a cada 100 mil pessoas. Já entre os
israelenses que não tinham se vacinado, esse número mais do que sextuplicou, e chegou a 150
casos graves a cada 100 mil pessoas. O gráfico parece uma boca de jacaré se abrindo: a linha
de baixo (Covid entre os vacinados) fica na horizontal e não se mexe, enquanto a linha de cima
(Covid entre os não vacinados) sobe em ângulo agudo.
Ué, mas como assim “Covid entre os não vacinados”? Israel não foi o primeiro país a imunizar
toda a sua população? Não foi, não. No final de setembro, 83% dos israelenses haviam sido
vacinados. Mas esse número é enganoso, por várias razões. Primeiro, ele exclui as crianças de 0
a 12 anos, que ainda não estão sendo vacinadas (com exceção daquelas que possuem
comorbidades graves). Por motivos que a ciência ainda não explica, a Covid grave é mais rara
nessa faixa etária. As crianças não correm grande risco dela. Mas, mesmo assim, elas podem
pegar e transmitir o coronavírus, contribuindo para que continue circulando pela sociedade — e
causando casos graves em adultos.
Além disso, esse número de 83% inclui israelenses que só tomaram a primeira dose da
vacina, que não oferece um grau satisfatório de proteção. Se você pegar toda a população
israelense, de 9 milhões de pessoas, e só considerar as pessoas que já receberam duas doses
da Pfizer, o número de imunizados ® é muito menor: 62,1%. No cômputo geral, 3 milhões de
israelenses não tomaram nenhuma dose da vacina.
Segundo o governo israelense, esses não vacinados se concentram em dois grupos: árabes e
judeus ultraortodoxos. No primeiro caso, uma possível explicação está no menor acesso à
vacina, pois há menos postos de saúde nas regiões com população árabe. Também há
despreocupação com a Covid e desconfiança com a vacina — fatores preponderantes entre os
ultraortodoxos. Assim como o Brasil, Israel sofre com a desinformação: em fevereiro, o governo
do país chegou a fazer um alerta público contra Yuval Asherov, um rabino que vinha publicando
vídeos antivacina nas redes sociais. Não é o único caso, tanto que o Ministério da Saúde de
Israel acabou criando uma operação permanente de combate às fake news vacinais.
Mas a nova onda de Covid em Israel não é só uma questão sociológica; também há aspectos
virológicos envolvidos. O avanço da variante Delta, que é mais contagiosa e se tornou
dominante por lá, reduziu a eficácia da vacina contra a transmissão do vírus. Ela continua
oferecendo mais de 90% de proteção contra sintomas graves, mas não impede que as pessoas
contraiam o vírus — em julho, os dados oficiais mostraram que a efetividade contra isso caíra
para pífios 39%. Foi aí que, para tentar reverter essa tendência de queda, o governo decidiu
começar a aplicar a terceira dose (no final de setembro, 3 milhões de israelenses já haviam
tomado).
A proteção contra infecção cai com o tempo porque há uma diminuição progressiva na
quantidade de anticorpos circulando no organismo. Isso é esperado, e não significa que o
vacinado esteja em risco: o corpo constrói uma “memória imunológica” e volta a fabricar
anticorpos caso necessário. Mas essa menor proteção contra o contágio facilita a propagação
do vírus na sociedade, e também ajuda a explicar a nova onda de Covid em Israel.
Além disso, um estudo publicado em agosto pela Universidade de Oxford, que comparou os
efeitos de médio prazo das vacinas Pfizer e AstraZeneca no Reino Unido, onde as duas foram
usadas, indicou o seguinte: inicialmente, a da Pfizer parece proteger um pouco mais contra
infecção do que a AstraZeneca (que usa a tecnologia de vetor viral, totalmente diferente do RNA
mensageiro, adotado pela Pfizer). Mas sua proteção também declina um pouco mais rápido. Ao
contrário da maioria dos países, Israel só usou a Pfizer. E adotou um espaço curto, de apenas 21
dias, entre as duas doses (hoje é sabido que intervalos maiores, de até 90 dias, geram maior
resposta imunológica).
A terceira dose tem servido para remediar isso, pois está sendo aplicada com intervalo maior.
Os primeiros dados mostram que a dose de reforço da Pfizer reduziu em 11 vezes a taxa de
infecções pelo coronavírus em israelenses acima de 60 anos (e, para Covid grave, a redução é
de 19 vezes). Ou seja, o efeito é muito potente. Se ele persiste ou não, só o tempo dirá. O certo é
que a situação de Israel tem uma série de particularidades — e, por isso, não pode ser
diretamente transposta a outros países. No Brasil e no resto do mundo, talvez a vacinação
contra a Covid termine mesmo na segunda dose, com a terceira reservada só aos idosos (e a
pessoas muito expostas ao vírus, como profissionais de saúde). E fique nisso. Ou o Sars-CoV-2
ainda possa nos surpreender. Se acontecer, não terá sido a primeira vez.
3#1 FATOS
3#2 PLAYLIST
3#3 TECH
3#1 FATOS
EDIÇÃO: BRUNO GARATTONI
55
ANOS o tempo máximo que óvulos, espermatozoides e embriões humanos poderão ficar
congelados em clínicas de fertilidade no Reino Unido, que alterou seu limite para isso (antes era
dez anos). A medida pretende aumentar a flexibilidade dos tratamentos de reprodução assistida,
sobretudo para as mulheres — que poderão congelar seus óvulos no começo da vida adulta sem
se preocupar em perdê-los.
(BG)
A MAIOR PARTE DO OXIGÊNIO da atmosfera, entre 50% e 80%, vem dos oceanos, onde ele é
produzido pelo plâncton marinho. Não da Amazônia. Mas a floresta absorvia uma quantidade
importante de CO2, ajudando a regular a temperatura global. Porém, recentemente veio a má
notícia: a Amazônia não cumpre mais esse papel e, em muitos lugares, sobretudo na borda
sudeste da floresta, ela já emite mais CO2 do que absorve.
Essa é a conclusão de um estudo liderado pela pesquisadora Luciana Gatti, do Inpe (Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais), e publicado na revista Nature. A equipe realizou 590
sobrevoos, medindo concentrações de CO2 e CO em quatro regiões da Amazônia, entre 2010 e
2018. E constatou que a floresta, ao menos em algumas regiões, já “virou o sinal” — de
sorvedouro passou a ser emissora de carbono.
Em parte, não é difícil entender como isso acontece. A Amazônia inteira tem cerca de 123
bilhões de toneladas de carbono fixado em sua biomassa, no solo e no subsolo. Um jeito rápido
de devolver tudo isso à atmosfera, de uma vez, é queimando. O desmatamento, portanto,
cumpre um papel de destaque. Quando as árvores são derrubadas, a preparação do terreno para
uso futuro (em geral para pasto ou agricultura) envolve queimar a área.
E o que deixa tudo mais preocupante é que as medições colhidas pelo grupo foram feitas
entre 2010 e 2018, período em que o desmatamento não estava tão descontrolado quanto agora
(naquela época, ele ficava ao redor de 7.000 km2 anuais, antes de explodir para mais de 10.000
km2 anuais em 2019 e 2020).
O clima também tem mudado, com alterações no regime de chuvas que estão tornando a
região mais seca. A redução da umidade aumenta o risco de incêndios e leva as árvores a
reduzir sua taxa de fotossíntese (isso quando sobrevivem). Ou seja, as mudanças climáticas
também já estão pressionando a Amazônia a diminuir sua ação como sorvedouro de CO2.
Imagine quando medirmos o impacto da recente explosão no desmatamento e nas queimadas.
A esta altura, não é descabido pensar que a floresta pode ter cruzado um “ponto de não
retorno”, em que mesmo sem intervenções adicionais ela siga encolhendo e se “savanizando”,
como há muitos anos os climatologistas suspeitavam que pudesse acontecer. Interromper o
ciclo de destruição será apenas o primeiro passo na proteção deste que é o bioma mais
biodiverso do país — e uma peça essencial no controle do clima terrestre.
MORTES PROVOCADAS PELO CO2 QUE CADA PESSOA EMITE DURANTE A VIDA
ARÁBIA SAUDITA: Cenário pessimista 0,33 | Cenário otimista 0,15
ESTADOS UNIDOS: Cenário pessimista 0,29 | Cenário otimista 0,14
RÚSSIA: Cenário pessimista 0,19 | Cenário otimista 0,09
ALEMANHA: Cenário pessimista 0,18 | Cenário otimista 0,08
CHINA: Cenário pessimista 0,12 | Cenário otimista 0,06
REINO UNIDO: Cenário pessimista 0,11 | Cenário otimista 0,05
MÉDIA MUNDIAL: Cenário pessimista 0,08 | Cenário otimista 0,04
MÉXICO: Cenário pessimista 0,06 | Cenário otimista 0,03
BRASIL: Cenário pessimista 0,04 | Cenário otimista 0,02
ÍNDIA: Cenário pessimista 0,03 | Cenário otimista 0,01
NIGÉRIA: Cenário pessimista 0,01 | Cenário otimista 0
5 MIL
DÓLARES POR MÊS o que a prefeitura de São Francisco, na Califórnia, gasta com cada morador
de suas “vilas seguras”: seis estacionamentos alugados pelo governo, a um custo total de
US$16 milhões por ano, onde 262 mendigos vivem em tendas. A cidade é conhecida por ter os
aluguéis mais caros dos EUA — pois ela é o centro do Vale do Silício, cujas empresas pagam
altos salários (e isso inflaciona o custo de vida). São Francisco vive uma crise habitacional
permanente. Mas o aluguel dos estacionamentos não parece uma forma inteligente de
resolvê-la. Sairia muito mais barato pagar apartamentos para os sem-teto: na cidade, um imóvel
de um quarto custa em média US$2 mil por mês. (BG)
3 NOTÍCIAS SOBRE
REATORES NUCLEARES
Eles estão evoluindo e chegando a novos lugares. Mas também têm falhado mais.
1. Aquecimento global reduz produção - Na década de 1990, eventos como tempestades,
furacões e enchentes causavam 0,2 interrupção de funcionamento por reator por ano (é como
se, na média, cada reator parasse uma vez a cada cinco anos). Mas, de 2010 para cá, esse
número aumentou 650%. Motivo: o aquecimento global e os fenômenos climáticos decorrentes
dele.
2. Modelo chinês funciona sem água - Ele foi construído Wuvei, no centro do país, e não é
refrigerado com água, mas com sódio derretido. Por isso, não precisa ser pressurizado, o que
supostamente o torna mais seguro. É um modelo experimental, de 2 megawatts. Se funcionar
bem, a China pretende ter versões comerciais, para gerar energia em grande escala, a partir de
2030.
3. Rússia constrói reator na Bolívia - A estatal Rosatom começou a instalar o primeiro reator
nuclear boliviano: ele fica na cidade de EL Alto, na periferia de La Paz, a 4.000 metros de altitude
— é o reator mais alto do mundo. Deve ficar pronto em 2024, e será usado em pesquisas e para
produzir radioisótopos (materiais usados em tratamentos anticâncer).
(BC)
O QUE ELA DIZIA - Segundo cientistas da Universidade de Osaka, é inevitável que a variante
Delta do Sars-CoV-2 adquira “resistência completa”, às vacinas. Os cientistas inseriram quatro
mutações na Delta, que se tornou imune aos anticorpos gerados pela vacina Pfizer.
VERDADE - O estudo não usou Sars-coV-2, mas um “pseudovírus” (feito com um pedaço de DNA
colado na proteína spike do coronavírus). Foi feito in vitro, não in vivo. E usou células de rim, não
do sistema respiratório. Mas o principal é que não há nenhuma garantia de que o coronavírus vá
desenvolver essas quatro mutações — e que, mesmo se ele fizer isso, a nova variante
prevalecerá sobre as atuais (a variante Beta, por exemplo, é mais resistente ás vacinas do que a
Delta, mas se propaga menos). (BG)
3#2 PLAYLIST
EDIÇÃO BRUNO GARATTONI
A JORNADA DE DUNA
Entre adaptações malsucedidas (e um especial de TV), veja os caminhos que levaram à nova
versão deste clássico da ficção científica, que estreia nos cinemas em 21 de outubro.
Texto Rafael Battaglio
1965 - O LIVRO
Em Duna, a humanidade se organiza em um império espacial, e há uma disputa entre três
famílias peto controle do planeta Arrakis, única fonte de uma substância que permite viagens ao
espaço. Uma metáfora do autor Frank Herbert para a exploração de petróleo
1975 – PLANOS FRUSTRADOS
O primeiro que tentou adaptar Duna foi o chileno Alejandro Jodorowsky. Munido de milhares de
artes conceituais, ele queria que o filme durasse mais de 10 horas, tivesse parte da trilha
composta pelo Pink Floyd e mais Orson Welles, Mick Jagger e Salvador Dali no elenco. Um plano
ambicioso - que ninguém topou bancar.
PÉROLAS DO STREAMING
FILME
Cafarnaum (2018)
Amazon Prime
Zain mora num apartamento imundo, com os muitos irmãos pequenos e os pais, egoístas e
cruéis. Da porta para fora, há uma cidade indescritivelmente feia — e uma sociedade desumana.
Ele tenta sobreviver; mas as coisas só pioram, até alcançar graus lancinantes de dor. Filme
vencedor do Festival de Cannes. (BG)
FILME
Entre Facas e Segredos (2019)
Amazon Prime
Harlan Thrombey, de 85 anos, aparece morto após sua festa de aniversário. Quem o matou? Um
detetive excêntrico (Daniel Craig) tenta desvendar o que aconteceu. Tem a ajuda da enfermeira
de Harlan, portadora de uma condição curiosa; ela é fisiologicamente incapaz de mentir. (BG)
FILME
O Homem sem Gravidade (2019)
Netflix
Oscar é imune á lei da gravidade: começa a flutuara ssim que sai do útero da mãe. Ele e a
família primeiro escondem, mas depois exploram, essa habilidade extraordinária. Um exercício
emocionante de realismo fantástico, com metáforas geniais sobre a solidão, o trabalho e o amor
(BG)
DOCUMENTÁRIO
O Último Cruzeiro (2021)
HBO Max
Com 2.500 passageiros e mil tripulantes, o Diamond Princess estava quase terminando seu
trajeto pela Ásia. Até que, em janeiro de 2020, estourou uma epidemia de Sars-CoV-2 a bordo do
navio — que este documentário mostra com cenas reais e assustadoras, gravadas por quem
estava Lá. (BG)
A FÍSICA E A METAFÍSICA
COMO DEFINIR A REALIDADE? Qual é a função do tempo? Como partículas inanimadas criaram
vida — e consciência? Neste livro, o físico e escritor americano Brian Greene (autor do clássico O
Universo Elegante) parte de conceitos fundamentais da ciência, como gravidade e entropia, para
construir reflexões metafísicas e enfrentar a maior pergunta de todas: por que estamos aqui, e o
que vai acontecer quando tudo acabar? (BG)
Até o Fim do Tempo.
R$ 80.
14 ANOS EM GUANTÁNAMO
EM 2002, Mohamedou Salahi foi preso na Mauritânia, seu país de origem. Ele era acusado de
terrorismo, e foi levado para a temível prisão de Guantánamo, mantida pelos EUA no litoral de
Cuba. Escreveu um livro contando sua história e a vida na pior cadeia do mundo. Ele se tornou
um best-seller internacional — e, agora, virou filme. (BG)
O Mauritana Disponível no serviço Telecine (app e telecine.com.br)
A VOLTA DO SUPERVILÃO
SE VOCÊ VIU Breaking Bad, se lembra de Gus Fring: o traficante que antagoniza, e apavora, o
protagonista Walter White. Agora o ator Giancarlo Esposito volta ao papel de mau, só que num
game: o novo episódio da franquia Far Cry, conhecida pelos grandes vilões. Aqui ele é Antón
Castillo, ditador de uma ilha no Caribe — cujo governo você irá tentar derrubar. (BG)
Far Cry 6. Para PlayStation, Xbox e PC. R$ 280.
O PODER DO ESTOICISMO
No SÉCULO 3 a.C., o filósofo grego Zenão criou uma escola de pensamento batizada de
estoicismo (o termo vem de stoa poikile: “varanda pintada”, um lugar de Atenas onde ele se
reunia com os discípulos). Zenão propunha a aceitação do destino e o fortalecimento interior
como único caminho para alcançar felicidade e paz. A técnica foi desenvolvida por pensadores
como Epíteto e Sêneca, e é explicada neste livro — que ensina a aplicá-la. (BG)
Ser Estoico: Eterno Aprendiz. R$ 55,90
3#3 TECH
EDIÇÃO BRUNO GARATTONI
A BATERIA DE HIDROGÊNIO
Ela fica instalada na garagem e armazena 40 kW (o triplo das baterias da Tesla). Serve para
guardar a eletricidade gerada por placas solares — e pode ajudar o mundo a migrar para
energias limpas.
Texto Bruno Garattoni
A MÁQUINA SE CHAMA LAVO Hydrogen System e foi criada por uma empresa australiana. Tem
o tamanho de um armário e deve ser conectada a uma torneira e às placas solares instaladas no
telhado da casa. Ela aproveita a sobra de eletricidade gerada pelas placas durante o dia e usa
essa energia para fazer eletrólise: decompor a água em oxigênio e hidrogênio, que é
armazenado em cilindros. À noite, depois que escurece, ela passa o H2 por uma "célula
combustível": peça que extrai os elétrons dele, gerando eletricidade. O sistema também tem
uma bateria de lítio, mas ela é usada apenas como "buffer" (para fornecer energia imediata
enquanto a célula combustível está sendo ligada). O aparelho está à venda na Austrália, pelo
equivalente a US$ 26.900.
OS CILINDROS
Armazenam o hidrogênio. Ele fica guardado na forma sólida (pois é absorvido por um metal,
formando um hidreto metálico), o que é mais seguro.
O SISTEMA
Capta eletricidade das placas solares e usa para fazer eletrólise da água, extraindo o hidrogênio.
À noite, ele é decomposto em uma "célula combustível", gerando energia.
EM 180, 360 E RV
ESSES SÃO OS TRÊS MODOS de operação da câmera Vuze XR. Quando está com as duas lentes
abertas, ela filma e fotografa em 180 graus — e também grava vídeo 3D compatível com óculos
de realidade virtual. Mas você também pode fechá-la, recolhendo as lentes, para tirar fotos e
filmar em 360 graus. Ela grava em resolução 5,7K, tira fotos de 18 megapixels e custa US$ 500.
GUITARRA MUTANTE
QUAL É A MELHOR: a Fender Stratocaster, usada por Jimi Hendrix, ou a Gibson Les Paul,
eternizada por Jimmy Page? A Reddick Voyager promete reproduzir o som das duas, e de mais
algumas outras, numa só guitarra modular — cujos captadores e controles podem ser trocados.
Ela custa US$ 1.500 e vem com dois captadores (o fabricante vende mais oito, cada um
inspirado numa guitarra clássica, a US$ 200 cada um).
NA MESINHA DE CABECEIRA
o NIGHTWATCH é um dock de US$50 que transforma o AppLe Watch em minidespertador.
Basta colocar o relógio no gadget, que não usa energia: ele é só uma peça de vidro que amplia o
visor do relógio, ajudando você a enxergar o horário quando está acordando. Também é sensível
ao toque (basta encostar nele para acender o visor do relógio ou dispensar o alarme) e recarrega
a bateria: tem um compartimento, na base, para você inserir o carregador da Apple. É compatível
com todos os modelos de Apple Watch.
VOCÊ DECIDE
Os projetos mais interessantes (e surpreendentes) do mundo do crowdfunding
Nuvem particular
Indiegogo.com
Projeto: Amber X
O que é: Um gadget que faz backup automático do seu celular e computador. É mais ou menos
como o Time Machine, da Apple, mas com uma grande diferença: ele também funciona como
um minisservidor, ou seja, você pode acessar os arquivos de qualquer lugar, pela internet.
Meta: US$ 10 mil
Chance: três em cinco
Fontes: Engenho Consultoria, ONS Absolare Abeeólica. Alguns valores foram convertidos do
dólar pela cotação média de agosto/2021.
VENTOS FORTES
Energia eólica já é a segunda maior fonte de eletricidade no país, e deve ter forte crescimento
nos próximos anos.
RN
Capacidade de geração: 5.574,8 MW
Aerogeradores (turbinas eólicas): 2.444
Parques (usinas eólicas): 191
BA
Capacidade de geração: 5.268,8 MW
Aerogeradores (turbinas eólicas): 2.261
Parques (usinas eólicas): 201
CE
Capacidade de geração: 2.385.1 MW
Aerogeradores (turbinas eólicas): 1.115
Parques (usinas eólicas): 92
PI
Capacidade de geração: 2354,7 MW
Aerogeradores (turbinas eólicas): 1.007
Parques (usinas eólicas): 81
RS
Capacidade de geração: 1.835,9 MW
Aerogeradores (turbinas eólicas): 830
Parques (usinas eólicas): 80
PE
Capacidade de geração: 798,4 MW
Aerogeradores (turbinas eólicas): 417
Parques (usinas eólicas): 34
MA
Capacidade de geração: 426 MW
Aerogeradores (turbinas eólicas): 172
Parques (usinas eólicas): 15
SC
Capacidade de geração: 238,5 MW
Aerogeradores (turbinas eólicas): 173
Parques (usinas eólicas): 14
PB
Capacidade de geração: 157,2 MW
Aerogeradores (turbinas eólicas): 121
Parques (usinas eólicas): 15
OS CAMINHOS DO SOL
Nordeste lidera produção de energia solar em usinas; Sudeste se destaca na autogeração, com
placas solares instaladas em fábricas e residências.
UM CENÁRIO MELHOR
Estudo da consultoria Bloomberg mostra que o Brasil pode dobrar sua produção de eletricidade
até 2050 — com o maior crescimento vindo de fontes solares e eólicas.
COMO É HOJE
Hidrelétrica 62%
Eólica 10,8%
Biomassa 8,7%
Gás natural 8,4%
Petróleo 5,1%
Carvão 2%
Solar 1,9%
Nuclear 1,1%
Geração total: 176.400 megawatts
Energia limpa 84,5%
Energia suja 15,5%
DEMOCRACIAS SÃO BOAS pelo mesmo motivo que são frágeis. Grupos de seres humanos
sempre discordaram de outros grupos. E faz milênios que a porrada tem se provado a maneira
mais popular de resolver essas divergências. Violência, na história da civilização, vem em
basicamente dois tipos. Um é a tirania, que é o excesso de controle dos cidadãos pelo governo.
O outro, o caos que se instala na situação oposta — a ausência de um governo.
Os imperadores da Antiguidade, na média, eram grandes entusiastas de escravidão,
xenofobia, haréns e códigos penais baseados em execuções, amputações e tortura. A
alternativa usual a essa pacificação ditatorial sob um Leviatã eram as rixas e retaliações entre
tribos (ou a guerra civil dentro dos próprios impérios já que dinastias não duram para sempre e o
poder não costuma trocar de mãos pacificamente).
A democracia segue o caminho do meio. O Estado (por definição) não mata nem oprime as
pessoas, e exerce controle suficiente para que elas não matem umas às outras. Os grupos de
seres humanos discordantes precisam compartilhar o poder e cedê-lo de bom grado à oposição
quando a maioria assim desejar.
“Um dos enigmas centrais da ciência política é explicar a persistência da democracia”,
escreve David Runciman — autor de Como a Democracia Chega ao Fim. “Trata-se
fundamentalmente de uma questão de confiança: as pessoas que têm algo a perder com o
resultado de uma eleição precisam acreditar que vale a pena perseverar até o pleito seguinte. Os
ricos precisam acreditar que os pobres não irão tomar seu dinheiro. Os militares precisam
acreditar que os civis não vão despojá-los de suas armas. Muitas vezes, essa confiança se
quebra. E então a democracia desmorona.
É um arranjo delicado. Mesmo assim, o fim do fascismo em Portugal, no ano de 1974,
marcou o início de uma onda de democratização sem precedentes pelo mundo. Grécia, Espanha,
Brasil, Argentina, Chile, Filipinas, Indonésia, Coreia do Sul, as ex-repúblicas soviéticas e outros
países da esfera de influência comunista no Leste Europeu se democratizaram dali até o início
dos anos 1990, numa corrente coroada pela queda do Muro de Berlim.
Nessa época, conforme os EUA assumiam de bom grado o posto de única superpotência do
planeta, o economista Francis Fukuyama argumentava que a humanidade havia chegado ao fim
da história. Em sua visão (que acabou virando alvo de alguma chacota entre acadêmicos), as
democracias do Ocidente, ricas e prósperas, se tornariam o padrão-ouro dos sistemas políticos.
Para ele, todos os países, mesmo os mais distantes culturalmente da Europa, acabariam
abraçando o sufrágio universal e o starter pack do ideário iluminista em algum momento.
Explicando: os filósofos iluministas delinearam uma tonelada de ideias que hoje são pilares
das constituições de países democráticos. Pense nas liberdades de expressão, de imprensa e
de associação — inclua aqui partidos políticos. No estado laico e na liberdade de religião. Em
garantias tão básicas quanto o direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei
etc. Na divisão entre Executivo, Legislativo e Judiciário, e na ideia de que esses três pilares das
repúblicas se fiscalizam mutuamente para coibir abusos de poder.
Essas ideias — combinadas com a realização periódica de eleições livres, assembleias
representativas em vez de voto direto e a alternância de partidos no poder — formam o que
muitos cientistas políticos chamam de democracia liberal. (O adjetivo “liberal”, aqui, não em o
sentido econômico, de livre-mercado, com que é empregado comumente no Brasil.)
Fukuyama errou, claro. Hoje, a onda democrática pós-Guerra Fria virou uma marolinha, e
recua cabisbaixa para o oceano. Mais ou menos a partir da crise econômica de 2008, um
conjunto de países com democracias antigas (como EUA, Reino Unido e França) ou jovens e
esperançosas (Hungria, Polônia, Brasil Filipinas) pouco a pouco testemunharam partidos e
políticos populistas profundamente avessos às regras do jogo ganharem projeção, cadeiras
numerosas no Congresso e, em casos mais graves, os cargos de presidente ou de
primeiro-ministro.
Dá para medir o impacto em números: todos os nos, a ONG americana Freedom House avalia
a situação dos processos eleitorais e das liberdades civis em todos os países do mundo, e já faz
15 anos (de 2005 a 2020) que a pontuação média da Terra nesses quesitos cai sem pausa.
Diante da ascensão de Bolsonaros e Trumps em dezenas de países, do Brexit, de uma crise de
confiança em partidos e políticos, das redes, sociais e sua enxurrada de fake news, fica a
pergunta: será que, após décadas de popularidade, a democracia agora dá sintomas de que é
frágil demais para durar? Essa é uma ideia alienígena para a maior parte dos brasileiros — que
chegaram à vida adulta num país e um mundo cada vez mais livres, e não menos. Mas a história,
claro, não parece a fim de acabar tão cedo.
De volta à aldeia
Além das redes sociais e da crise de representatividade Mounk aponta outras forças de longo
prazo por trás da crise democrática: a imigração e miscigenação em países que já foram mais
homogêneos do ponto de vista étnico (ou que nunca foram, mas não admitem isso) e a
estagnação da economia e dos padrões de vida - ilustrada pelo pessimismo endêmico dos
millennials em relação à prosperidade de seus pais baby boomers
É fácil observar isso no Edelman Trust Barometer, uma pesquisa internacional que determina
o grau de preocupação dos cidadãos com questões contemporâneas e sua confiança em
governos, jornalistas, ONGs líderes religiosos, empresários etc. Em 2017, por exemplo, 55%
disseram que a imigração prejudica a economia e a cultura locais; 62% concordaram que é
preciso proteger empregos da concorrência estrangeira; 56% afirmaram que os valores de suas
nações estavam desaparecendo, e 51% disseram que as inovações tecnológicas ocorrem muito
rápido e são prejudiciais.
Esses dados casam bem com a demografia da eleição de Trump, no final de 2016. Seus
eleitores estavam mais empregados que os de Hillary e tinham renda média anual de US$ 82 mil,
contra os US$ 77 mil dos democratas. Porém, eram pessoas em geral sem curso superior e
mais velhas, que hoje passariam por maus bocados atrás de um emprego, e ganharam a vida
como operários em indústrias hoje decadentes.
Elas vivem em cidades interioranas menores, com pouca infraestrutura, e sabem que os
jovens não vão pegar a mesma onda econômica benéfica que os boomers pegaram (é uma
geração que cresceu no momento mais próspero da humanidade vs. uma geração com a vida
pautada pela crise de 2008). O problema não é a renda no presente, mas o medo do futuro.
A reação é se fechar num casulo — e botar a culpa nos imigrantes, na globalização, na
concorrência desleal das fábricas chinesas e robôs: “Voltar à raça, como fronteira aparente do
direito ancestral da etnia majoritária”, escreve o sociólogo Manuel Castells no livro Ruptura.
“Voltar, também, à família patriarcal, como instituição primeira de proteção cotidiana diante de
um mundo em caos. Voltar a Deus como fundamento.”
É interessante notar, porém, que os lugares que mais votam em populistas são justamente
aqueles onde há menos imigrantes em números absolutos. A Hungria e a Polônia, exemplos
bem acabados da recessão democrática, são praticamente homogêneas do ponto de vista
étnico. O primeiro-ministro Orbán considera a Hungria uma fortaleza de integridade na Europa,
que escapo do que ele entende como degradação trazida por imigrantes da África e Oriente
Médio, enquanto França, Inglaterra e Alemanha deixaram suas nações se diluírem. Uma irônica
inversão dos anos 1990, em que o Leste Europeu era formado por países recém-libertados da
URSS, buscando aceitação pelo Ocidente.
Nos EUA, as cidades grandes votaram em Hillary — tanto os latinos de baixa renda quanto os
brancos que convivem diariamente com falantes de espanhol (e passaram a aceitá-los e
apoiá-los). Trump foi eleito por cidades onde o número absoluto de imigrantes ainda é
baixíssimo. É um sinal de que os votos se baseiam uma percepção anedótica da imigração. A
presença de uma única família mexicana na cidade é suficiente para achar que a América já não
é mais tão great assim.
BRASIL
75% dos brasileiros afirmam ser favoráveis à democracia, segundo o Datafolha, e é difícil
mesmo imaginar uma pessoa em sã consciência que deseje ser privada de liberdade. Mesmo
quem prefere a ditadura não gostaria de viver sob a ditadura da oposição.
Bolsonaro propõe um dilema às instituições quando realiza algo como os atos abertamente
golpistas do último 7 de setembro. Se os jornais noticiam os protestos, ajudam o presidente a
se pintar como um herói perseguido. Por outro lado, se ignoram os protestos contribuem para
normalizar um discurso antidemocrático que deveria ser escandalizante.
Nos dois casos, Bolsonaro se fortalece e a democracia perde. Tem solução? O cientista
político Miguel Lago compara essas provocações ao enigma da Esfinge: “decifra-me ou
devoro-te”. Por enquanto, a onda populista permanece enigmática, e a democracia virou presa.
Não tenhamos ilusões: a República Romana caiu após cinco séculos, a República de Veneza
durou mil anos e mesmo assim se foi. Nada na história é para sempre; democracias não são um
destino inevitável do trem da humanidade. Elas exigem esforço e manutenção.
Populistas chegam ao poder porque o povo quer mais voz, e não menos. Logo, eles são, e
sempre serão uma armadilha tentadora. A democracia é a única ferramenta capaz de
desarmá-la, já que exige alternância de poder e respeito a instituições criadas para salvaguardar
a racionalidade. Cabe a cada um de nós cuidar essa ferramenta. Porque de fato: se ela cai,
quebra.
2006
CONFIA MUITO: 2,1
CONFIA MAIS OU MENOS: 16,9
CONFIA POUCO: 43,9
NÃO CONFIA: 36,7
NÃO SABEM: 0,4
2014
CONFIA MUITO: 2,4
CONFIA MAIS OU MENOS: 11,7
CONFIA POUCO: 39,2
NÃO CONFIA: 46,4
NÃO SABEM: 0,4
2018
CONFIA MUITO: 1,1
CONFIA MAIS OU MENOS: 7,4
CONFIA POUCO: 11,5
NÃO CONFIA: 77,8
NÃO SABEM: 2,2
MEDO E DEMOCRACIA
Abaixo, a porcentagem de entrevistados em 28 países que se dizem preocupados com as
seguintes afirmações
GLOBALIZAÇÃO
Empresas e influências estrangeiras são prejudiciais para nossa economia e cultura.
PREOCUPADO: 62%
MUITO PREOCUPADO: 27%
IMIGRAÇÃO
O fluxo de pessoas de outros países é ruim para nossa economia e cultura.
PREOCUPADO: 55%
MUITO PREOCUPADO: 28%
RITMO DA INOVAÇÃO
Inovações tecnológicas ocorrem rápido e geram mudanças ruins para pessoas como eu.
PREOCUPADO: 51%
MUITO PREOCUPADO: 22%
PRIMEIRO, VEM A LUZ. Estamos acostumados a ver o céu clareando ao longo de algumas
horas, conforme o Sol nasce. Mas o lançamento de um foguete torna esse processo
instantâneo. Quase bíblico. O fogo faz a noite virar dia em meio a um silêncio absoluto.
Sim: silêncio. Depois de acompanhar tantos foguetes subirem no YouTube, é chocante
assistir presencialmente a um lançamento em Cabo Canaveral, na Flórida — e descobrir que ele
começa mudo. Por questões óbvias de segurança, a área reservada ao público fica a exatos 6,27
km do Falcon 9 da SpaceX, o primeiro veículo reutilizável capaz de pôr pessoas na órbita da
Terra. Dessa distância, o som dos motores chega após 18 segundos.
Com o ruído, vem o tremor. Ele balança a arquibancada, faz o peito vibrar e dá uma leve dor
de cabeça — que também é culpa da ansiedade de ver quatro humanos acelerando até 28 mil
km/h. São passageiros diferentes: turistas, sem associação com agências espaciais ou Forças
Armadas de qualquer país. O dia 15 de setembro de 2021 marca a primeira vez na história que
uma tripulação sem nenhum astronauta profissional entrou na órbita da Terra.
Nenhum deles precisou pilotar. Tudo foi controlado a distância. A medida que o foguete
subia, parecia se transformar em uma estrela cadente. Essa era a aparência quando o primeiro
estágio se separou, a 80 km de altitude. Ele é reaproveitável: voltou para a superfície e aterrissou
suavemente, na vertical, em uma plataforma no mar. O segundo estágio continuou até 200 km
de altitude. Depois de fazer sua parte, soltou-se e caiu na água mesmo — esse é descartável.
Restou apenas a cápsula cônica que abriga os turistas, chamada Crew Dragon.
Nesse momento, ela já tem velocidade para chegar e se estabilizar em sua órbita a 575 km de
altitude. Lá, passou três dias dando uma volta na Terra a cada 90 minutos, com seus ocupantes
fazendo lives e alguns experimentos. Depois, reentrou na atmosfera e pousou no Atlântico com
auxílio de um paraquedas, old style.
Embora o equipamento seja projetado e fabricado pela empresa de Elon Musk, quem pagou a
conta foi um outro bilionário: Jared Isaacman, fundador da empresa de pagamentos Shift4
Payments. Além dele, outros três convidados simbólicos estavam a bordo. Daí veio o nome da
missão: Inspiration 4.
Essa foi a terceira missão de turismo espacial em 2021. Richard Branson, fundador da Virgin
Galactic, e Jeff Bezos, fundador da Amazon e da Blue Origin, fizeram suas estreias dois meses
antes da Inspiration , mas com foguetes que não entram em órbita: “apenas” sobem a mais ou
menos 100 km de altitude (dez vezes mais que um avião). E tem mais até o fim do ano. A Blue
Origin planeja levar outros quatro turistas em outubro. Em dezembro, o bilionário Yusaku
Maezawa passará 12 dias na Estação Espacial Internacional (ISS), que orbita 400 km acima das
nossas cabeças. Entre 2001 e 2009, o espaço recebeu uma média humilde de um bilionário por
ano — número que deve quintuplicar em 2021.
O boom recente do turismo espacial, obra do setor privado, é o passo mais relevante já dado
no sentido de tornar viagens espaciais mais baratas, seguras e viáveis para não especialistas —
uma história que começou, aos trancos e barrancos, ainda nos anos 1980.
A pré-história
Os primeiros astronautas (ou cosmonautas, na Rússia, ou taikonautas, na China) eram
militares, geralmente pilotos de caça, que treinavam por décadas. Astronautas de profissão.
Civis, começando por um político e um figurão do complexo militar-industrial americano, só
subiram nos anos 1980, a bordo dos ônibus espaciais da Nasa — veja a linha do tempo na
página 42. Esses veículos parcialmente reaproveitáveis decolavam na vertical, acoplados a dois
foguetes, e aterrissavam como um avião — os foguetes ficavam pelo caminho.
Mas eles carregam um trauma. Em 1986, o ônibus espacial Challenger explodiu com sete
pessoas a bordo, 3 segundos após a decolagem. Um dos passageiros era a professora Christa
McAuliffe, que daria aulas para crianças diretamente da órbita da Terra.
O acidente freou o envio de civis ao espaço. Foi só na virada do milênio que começou o
turismo espacial de fato, na forma de uma diversão para bilionários. A Space Adventures envia
turistas ao espaço desde 2001. O primeiro foi Dennis Tito, que desembolsou US$ 20 milhões
para ser o primeiro curioso na ISS. A maior parte da grana vai para o governo russo, que opera
os lançamentos a partir de sua base, no Cazaquistão.
Tito e os demais clientes subiram na cápsula Soyuz, o grande trunfo da URSS que restou da
Guerra Fria. Esse modelo não sofre acidentes fatais desde 1967, e foi o único meio de
transportar astronautas até a ISS entre 2011 e 2020 — até a Nasa usava tecnologia russa para
mandar os americanos. Ao longo de dez anos, a Space Adventures transportou sete ricaços até
a órbita.
CLUBE SELETO
Menos de 600 pessoas já foram ao espaço. Conheça personalidades que conseguiram sem
escrever “astronauta” no Imposto de Renda.
1984 - CHARLES WALKER. Engenheiro, participou do projeto dos ônibus espaciais. Não era da
Nasa; trabalhava na McDonnell Douglas, uma indústria aeroespacial. Pegou carona em sua
criação.
1985 - JAKE GARN. Senador republicano, participava do subcomitê que aprovava o orçamento
da Nasa. Mas não era um civil completo. Fez carreira militar e foi piloto de aviões de guerra.
1990 - TOYOHIRO AKIVAMA. Repórter, foi o primeiro cidadão japonês a ir ao espaço. Ele viajou
no foguete Soyuz, da Rússia, e transmitiu a rotina da Estação Espacial Internacional (ISS) para o
canal TBS.
2001 - DENNIS TITO. Investidor, considerado o primeiro turista espacial de fato — já que, além de
não ser astronauta, bancou o rolê (US$20 milhões à Space Adventures para conhecer a ISS).
2007 e 2009 - CHARLES SIMONYI. Uma não bastou; o bilionário foi o primeiro turista a ir duas
vezes à ISS. A brincadeira saiu por US$ 60 milhões. Simonyi foi um dos primeiros
programadores da Microsoft.
2009 - GUY LALIBERTÉ. O fundador do Cirque du Soleil foi o último turista privado da Space
Adventures. US$35 milhões por 11 dias na ISS. É o único engolidor de fogo que já foi ao espaço.
JULHO DE 2021 - RICHARD BRANSON. Viajou com três funcionários da Virgin Galactic, sua
empresa de turismo espacial. Para a FIA, porém, não chegou ao espaço — 85 Km de altitude não
seriam e bastante.
JULHO DE 2021 - JEFF BEZOS. Inaugurou seu foguete levando o irmão e as pessoas mais velha
e mais jovem (18 anos e 82 anos) que já foram ao vácuo; 107 Km de altitude, o que a FIA já
considera espaço.
SETEMBRO DE 2021 - INSPIRATION 4. O bilionário Jared Isaacman bancou seu assento (valor
não divulgado) e mais três. Um foi sorteado entre pessoas que doaram ao hospital pediátrico St.
Jude, no Tennessee.
As bombas atômicas que arrasaram Hiroshima e Nagasaki fizeram o Japão se render. Mas os
EUA já tinham pronta mais uma, para jogar em Tóquio. Ela não chegou a ser usada e foi
mandada de volta para testes em laboratório — onde causaria dois acidentes fatais.
UM BLOQUINHO A MAIS
Daghlian percebeu o perigo que estava correndo. Mas não teve coordenação motora suficiente
para evitar o pior.
1. O PLUTÔNIO - Era uma esfera de 6,2 kg, que havia sido fabricada para servir como a terceira
bomba atômica dos EUA - mas, agora, estava sendo usada numa experiência de laboratório.
Radioativa, ela liberava partículas subatômicas chamadas nêutrons.
2. OS NUTRONS - Quando um nêutron acerta outro átomo de plutônio, esse átomo se quebra em
dois: é a fissão nuclear. Ela libera calor e mais nêutrons, que quebram outros átomos. Ou seja, a
reação se torna autossustentável, alcançando o chamado “estado crítico”.
3. A EXPERIÊNCIA - Para que a reação aconteça, os nêutrons precisam ser confinados. Daghlian
fez isso colocando tijolinhos de tungstênio, um material que reflete nêutrons, em volta da esfera.
O objetivo era determinar o ponto exato em que o plutônio se tornaria “crítico”.
4. O ALERTA - Conforme ia colocando os blocos, o físico monitorava o nível de nêutrons em
torno do plutônio. Quando ele ia colocar o último, completando a pilha, o equipamento de
medição indicou um nível perigoso de nêutrons. Daghlian recuou, puxando a mão direita para
trás.
5. O ACIDENTE - Mas o tijolinho escapou e caiu sobre a esfera, com isso, formou-se um excesso
de nêutrons em volta do plutônio, que entrou em estado “supercrítico”, com fissão acelerada e
forte liberação de radioatividade. Daghlian foi irradiado e morreu um mês depois.
O provão
Desde a sua primeira versão, o MBTI já passou por várias atualizações, nomeadas por letras.
A mais usada hoje é a M, que tem 93 questões. Mas há outras mais extensas (como a Q, com
144 perguntas). Quanto mais longo o questionário, mais detalhado será o resultado final.
Há dois tipos de questões no MBTI — sempre com apenas duas alternativas de resposta. O
primeiro tipo pergunta como você normalmente agiria ou se sentiria em determinada situação
(uma festa com muita gente, um prazo apertado no trabalho, um fim de semana todo planejado).
Já o segundo é mais direto: entre duas palavras (“abstrato” ou “concreto”, “fazer” ou “criar”),
você deve escolher apenas uma.
Devo confessar que é um tanto cansativo completar o teste (fiz o de 144 questões). Certas
perguntas soam parecidas, e várias palavras se repetem. E às vezes fica difícil se ater às
alternativas que o teste dá. Na questão “O que te dá mais energia? Ficar sozinho ou em grupo?”,
parece faltar a terceira via: um sonoro “depende”.
Mas há uma razão para essa estrutura polarizada. “Em testes do tipo, nós temos o impulso de
tentar controlar o resultado, então algumas questões são placebo — estão ali só para confundir”,
explica a psicóloga Tania Casado, diretora do Escritório de Desenvolvimento de Carreiras da
USP (ECar). Nos anos 1980, ela foi uma das primeiras a estudar o Myers-Briggs no Brasil. “A
versão F do MBTI, por exemplo, tem 166 perguntas, mas só 90 são levadas em conta.”
Ao final do teste, eu recebo o meu resultado (deu ESFJ), além de uma extensa explicação
sobre os quatro elementos (e seus opostos). O MBTI é cuidadoso: ele diz que essas não são
características definitivas, mas sim as que, provavelmente, aparecem com mais frequência na
sua vida.
Há outros cuidados, como reforçar o tempo todo que não há personalidades “certas” e
“erradas” — todos os elementos seriam igualmente valiosos. Durante a explicação, o MBTI se
preocupa também em esclarecer algumas concepções equivocadas, como dizer que pessoas
espontâneas não podem ser organizadas, ou que introvertidos não conseguem assumir cargos
de liderança.
Toda essa experiência tem um preço: US$ 50 — mais de R$ 270. Salgado. Não à toa, a versão
mais famosa do MBTI, na verdade, não é o MBTI, mas sim o 16Personalities, um teste rápido,
disponível na internet — e gratuito.
O 16Personalities tem 60 questões e leva poucos minutos para ser feito. Ao contrário do
MBTI, as respostas para perguntas de situação estão em uma escala (de “concordo totalmente”
a discordo totalmente”). E, sim, dá para ficar no meio do muro - um alívio para os indecisos.
Depois da experiência com o MBTI oficial, você percebe que o 16Personalities talvez seja
menos completo — e preciso. Mas é divertido: cada personalidade possui a sua respectiva cor e
personagem (ENFJs são “Protagonistas”, ISFJs são “Defensores”, ENTPs são “Inovadores”).
Junto ao relatório final, o teste mostra celebridades e figuras históricas que, de acordo com os
organizadores do teste, carregariam uma sigla igual à sua. Puro chute, claro. Meu teste deu que
estou no mesmo clube da Beyoncé, da Rainha Elizabeth e do Vin Diesel.
Em suma, não passa de diversão. Para evitar processos, o 16Personalities não menciona em
nenhum momento o MBTI nem a família Briggs.
Quem quiser aplicar o MBTI para valer não pode colocar o teste na internet, já que é preciso
pagar direitos autorais à família Briggs. No Brasil, o único autorizado a traduzir e vender o teste
é a consultoria Fellipelli, que começou a aplicá-lo por aqui em 1996.
“Foi feita toda uma validação, sobretudo com a tradução, para ver se o conteúdo estava de
acordo com a realidade sociocultural brasileira”, conta a psicóloga Adriana Felipelli. É como um
trabalho de dublagem: às vezes, é mais negócio mudar a piada (em vez de traduzi-la ao pé da
letra) para preservar o sentido original. A Fellipelli também capacita consultores, que podem
aplicar e explicar os resultados do MBTI em empresas, escolas e consultórios. Não é preciso ser
psicólogo para obter essa certificação.
Testando os testes
Um hemograma não tem erro. A agulha entra, o sangue sai e, em poucos dias, você descobre
e se o seu colesterol está alto ou baixo. Avaliações psicológicas, contudo, são mais
complicadas. Afinal, como medir precisamente conceitos abstratos como felicidade, criatividade
— ou nesse caso, personalidade?
O campo que se encarrega disso é a psicometria, que usa a estatística para tentar
compreender o nosso funcionamento psicológico. E pode acreditar: construir um teste leva
bastante tempo.
Primeiro, deve-se partir de alguma teoria relativamente consagrada; no caso do MBTI, a
junguiana. Depois, é preciso aplicá-lo em diversas pessoas, para criar uma base de dados
consistente. Isso será vital para a fase de validação, que acontece em duas etapas. A primeira é
a de conteúdo: avaliar se o teste mede, de fato, o que ele se propõe a medir; por exemplo: se um
paciente que diversos - profissionais descrevem como “extrovertido” obtém de forma
consistente “introvertido” como resultado do teste, talvez seja preciso recalibrá-lo.
A segunda parte analisa se é possível fazer alguma inferência ao resultado do teste — no
caso do MBTI, contextualizar as quatro letrinhas que você recebeu. “Essa é uma etapa
importante. Imagine receber uma pontuação em um questionário que mede ansiedade, mas não
saber se você está acima ou abaixo da média”, esclarece Josemberg Andrade, membro da
Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica (CCAP), grupo criado em 2003 pelo Conselho
Federal de Psicologia (CFP).
O CCAP é o órgão responsável por aprovar testes do tipo no Brasil. Uma equipe de
especialistas, escolhida por edital público, analisa se eles atendem aos critérios científicos
mínimos de precisão. A aprovação vale por 20 anos.
Tudo fica registrado no site do Satepsi (Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos), que
mantém duas listas: testes favoráveis e não favoráveis para o uso de psicólogos. Em 2008, ele
foi reprovado por falta de dados estatísticos suficientes. Em 2013, a Fellipelli realizou uma nova
submissão — e o teste foi aprovado.
Mas e aí? O MBTI funciona mesmo?
Pontos fracos
Faz décadas que se questiona a eficácia do MBTI. Entre os anos 1970 e 1980, estudos
analisaram voluntários que se submeteram ao teste. Cinco semanas depois, eles refizeram o
questionário — o resultado foi diferente em 50% dos casos (em seu site oficial, o MBTI
argumenta que essas pesquisas dizem respeito a uma versão antiga do teste, que não é mais
usada). Por essas, a Associação Americana de Psicologia destaca que o MBTI tem pouca
credibilidade entre psicólogos e pesquisadores.
Eu mesmo fiz dois testes MBTI, a versão em português e a em inglês. E obtive duas
personalidades diferentes (ENFJ e ESFJ). Normal. Como dissemos aqui, há diferenças entre os
dois, e o em português seria mais adequado para quem vive no Brasil. Mas a coisa complica
quando leio a descrição dos dois tipos e, bingo, me identifico (em algum nível) com ambos. Isso
também aconteceu com o meu resultado no 16Personalities (ISFJ).
Uma possível explicação para isso está no Efeito Forer, que acontece quando nos
identificamos com descrições vagas e gerais, que poderiam ser aplicadas a qualquer pessoa —
o segredo do sucesso do horóscopo.
Isso não quer dizer que o MBTI seja pseudociência. Significa que a psicologia não é uma
ciência exata. “Nenhum instrumento psicológico é capaz de descrever o todo de uma pessoa”,
ressalta Andrés Antúnez, professor do departamento de psicologia clínica da USP. “Cada teste
se baseia em uma das diversas teorias da psicologia — e nenhuma delas é dona da verdade.”
Conhece-te a ti mesmo
Em 2017, a Universidade de Oklahoma revisou uma série de estudos sobre o MBTI (a maioria
conduzida em estudantes de idade universitária) e concluiu que os resultados referentes às
duplas introversão/extroversão, sensação/intuição e pensamento/sentimento apresentaram
75% de confiabilidade (considerado satisfatório). Já o eixo julgamento/percepção, justamente o
criado pela família Briggs, alcançou só 61%.
Décadas de discussão sobre a sua eficácia tornaram o MBTI cauteloso. Hoje, o teste é
apresentado, sobretudo, como uma ferramenta de desenvolvimento pessoal — a Myers-Briggs
Company, empresa que administra o teste, desaconselha que ele seja usado como um funil para
selecionar, contratar (e demitir) funcionários.
Ao descrever os tipos psicológicos, Carl Jung defendeu que a plenitude da vida não se
resumia a simples dicotomias, mas sim em balancear os traços. Extrovertidos podem tirar
proveito de momentos de introversão e vice-versa. Para Jung, é indispensável aprender a
dominar a sombra — o lado reprimido da nossa personalidade.
Ou seja: o MBTI, aplicado sob orientação de um bom profissional, pode ser um bom ponto de
partida para o autoconhecimento. Só não pode ser a linha de chegada.
AS LETRAS DO TESTE
Os nomes enganam. Entenda melhor o que cada uma quer dizer.
EXTROVERSÃO (E)
Quem fica à vontade em uma multidão (e que tira a sua energia do contato com as pessoas).
Prefere compartilhar um problema para resolvê-lo.
INTROVERSÃO (I)
Não confunda com timidez ou reclusão. Refere-se a quem recarrega melhor as energias quando
está sozinha ou com poucas pessoas.
INTUIÇÃO (N)
Está relacionado com atribuir sentidos e interpretações mais profundas aos fatos. Intuitivos são
mais fascinados por novidades.
SENSAÇÃO (S)
Tem a ver com o modo como processamos informações. Aqui, é a preferência pelos fatos e pelo
pragmatismo — a prática ante a teoria.
PENSAMENTO (T)
É o uso da lógica e da impessoalidade na hora de tomar decisões. O "T" vem do inglês, thinking.
Não é sinônimo de "inteligência".
SENTIMENTO
O "F" vem de feeling, mas não diz respeito a ser emotivo. Tem a ver com considerar as pessoas
(e pontos de vista) ao resolver problemas.
PERCEPÇÃO (P)
Quem opta por um estilo de vida mais flexível e espontâneo. Deixa "a vida o levar", como diria
Zeca Pagodinho.
JULGAMENTO
Não tem a ver com julgar pessoas. Descreve, na verdade, a preferência por um modo de vida
mais regrado e planejado
SOPA DE LETRINHAS
INTJ - Criativos, são experts em reconhecer padrões. Têm elevados critérios de qualidade (para
os outros e consigo mesmo).
INTP - Pessoas céticas e, por vezes, críticas. Conseguem se concentrar mais do que o normal
para resolver problemas.
INFP - Idealistas e curiosos. São flexíveis a novas ideias e gostam de ajudar as pessoas a
alcançar os seus objetivos.
ENFJ – Sociáveis e empáticos, cuidam das emoções e motivações do grupo. Agem como
catalisadores da equipe.
ESTJ - Pessoas práticas que se organizam a partir de uma rotina. São rápidos na hora de
implementar os seus planos.
ESFJ - Prezam por cooperação e harmonia no trabalho. Estão sempre de olho na necessidade
dos outros.
ISFP - Amigáveis e sensíveis. Gostam de ter o próprio espaço e trabalhar no seu tempo.
Detestam desentendimentos.
ESTP – São espontâneos, pragmáticos e tolerantes. Gostam que os problemas sejam resolvidos
na hora.
ENTJ - Gostam de definir metas a longo prazo e, geralmente, assumem a liderança. São firmes
na hora de expressar suas ideias.
ENTP – Rápidos, engenhosos e francos são ótimos em ler pessoas. Entediam-se facilmente
com uma rotina.
INFJ - Têm facilidade em expressar suas ideias e visões de forma clara. É o tipo mais raro
(apenas 1,5% da população).
ENFP - São pessoas entusiasmadas e imaginativas. Têm boa fluência verbal e são feras em
improvisar.
ISTJ - São pessoas calmas, sérias e organizadas. No trabalho, não se distraem facilmente.
Valorizam tradições e lealdade.
ISFJ - Amigáveis e responsáveis. Lembram-se de pequenos detalhes das pessoas, e se
esforçam para criar um ambiente de trabalho harmonioso.
ISTP - Baseiam-se puramente na lógica para resolver problemas. São quietos, observadores e
falam apenas quando necessário.
ESFP - Amigáveis e receptivos, adaptam-se facilmente, a novos locais ou pessoas - por isso
gostam de trabalharem equipe.
Dá mesmo para abrir fechaduras com um grampo de cabelo? - @martin_jeffe, via Instagram
DÁ. Vale também clipe de papel, agulha ou qualquer outro objeto fino o suficiente para entrar no
buraco. No interior de uma fechadura ou cadeado, há uma sequência de pinos. Esses pinos têm
alturas diferentes, e a parte serrilhada da chave serve para alinhá-los. Os pinos menores se
encaixam nos dentinhos mais altos para subir. Os pinos maiores se encaixam nos dentinhos
mais baixos e acabam descendo. Quando essas peças formam uma linha reta, abre-te sésamo.
Mãos de larápio talentosas alinham os pinos na marra usando a ferramenta improvisada de
preferência. Demétrius Rafael — um analista de segurança digital que também é instrutor de
lockpicking (o nome da prática) — explicou a este Oráculo que fechaduras tetra são
particularmente desafiadoras, e que existem cadeados transparentes para quem quer se
aperfeiçoar no hobby. Ficou interessado? A Super só pede uma coisa: que os talentos de
MacGyver dos leitores permaneçam só no campo do passatempo.
20 SEGUNDOS. É o tempo que o alemão Arthur Bühl, Pelé dos lockpickers, demorou para abrir
um cadeado Lips 8362C, considerado extremam difícil pelos hobbistas.
Coma sabemos a cor dos dinos? - Maria Clara Rossin repórter da Super
UMA FORMA É ANALISAR as células que costumavam formar a pele ou penas do animal, nas
raras ocasiões em que essas partes moles são preservadas no fóssil (normalmente, só os
ossos contam a história). Como tais células têm equivalentes nas aves e répteis
contemporâneos, a semelhança permite inferir a cor com razoável precisão. Às vezes, um trecho
de pele fossilizada indica até se o animal era liso ou manchado — ou se era mais claro ou mais
escuro. Na ausência de fósseis, há muitos métodos indiretos. Pode-se procurar animais
contemporâneos que tenham porte, hábitos ou habitat parecidos com os do dinossauro que
está sendo estudado, e ver que cores eles têm. A dieta também é capaz de influenciar a cor, em
alguns casos. Outra boa pista são as relações filogenéticas entre as espécies pré-históricas e as
contemporâneas. Quanto mais aparentadas, maior é a chance de que elas usem os mesmos
métodos de pigmentação.
PÁ PUM
NÚMERO INCRÍVEL
1.000 KG. É a massa aproximada de tudo que você ingere em um ano. 3 kg por dia entre sólidos
e líquidos.
Por que nosso estômago ronca quando estamos com fome? - @danielvianna_ via Instagram
MUITO PRAZER, este é o seu complexo mioelétrico migratório (CMM). Quando você está em
jejum, os músculos do seu sistema digestório passam por ciclos breves de contração em
intervalos de 90 a 120 minutos. Esses pulsos são os faxineiros da barriga: servem para levar
embora pequenos detritos, restos de comida, enzimas digestivas e outras sopras da digestão
anterior, limpado o salão para receber a nova leva de alimento. O fato é que todo movimento
peristáltico pode fazer barulho (e o seu sistema digestório se mexe mais depois que você
comeu do que antes). Mas o CMM fica mais audível porque ocorre repentinamente após um
longo período de silêncio — e não há comida aí dentro para abafar o som.
Existem outros animais, além do ser humano, que podem ser destros ou canhotos? - Gustavo
Zombon. Piracicaba. SP
SIM. Muitos animais preferem uma ou outra pata, e você pode testar seu gato ou cachorro
observando qual membro eles usam para cutucar aqueles brinquedinhos que escondem um
pedaço de ração. Ao contrário da maioria destra de humanos e chimpanzés, cães e bichanos
parecem ser canhotos e destros com a mesma frequência — e cangurus, ao que tudo indica, são
quase todos canhotos. Esse fenômeno, chamado de lateralização, provavelmente é um
subproduto da divisão de tarefas entre os dois hemisférios do cérebro, mas os biólogos ainda
não sabem o que exatamente explica as preferências observadas em cada espécie.
Por que a palavra “presente” significa tanto “agora” como “coisa que se dá para alguém”? -
Alexandre Carvalha, revisor da Super
TODO VERBO TEM uma forma chamada presente particípio, que pode ser usada como
substantivo ou adjetivo. “Correr” vira “corrente”, ”amar” vira “amante”, “estar” vira “ente” — o da
expressão “ente querido”. A palavra “presente” nasce da junção de “ente” (ens, em Latim) com o
prefixo “pré-” (prae, em latim). Essa partícula, hoje, se refere a uma coisa que vem antes de
outra: “pré-história”, “pré-escoLa” ou “preconceito’ Mas ela pode ter um significado sutilmente
diferente: referir-se a uma coisa que está na frente de outra. Em um sentido espacial, e não
temporal. Assim, o presente (praesens) é literalmente algo que está na sua frente. Como se a
vida fosse um filme, e o momento atual, o frame que está diante dos seus olhos neste exato
instante. Agora fica fácil entender o segundo significado: o presente de aniversário é algo que se
apresenta para alguém — que se põe diante de um ente querido.
É preciso ser judeu para ter cidadania israelense? - @diego.zanchetta, via Instagram
NÃO. Mas o contrário é verdade: se você for judeu, pode ganhar cidadania, graças à Lei do
Retorno de 1950 — que visa reunir a diáspora judaica espalhada por todo o mundo. Além dos
judeus — que são 74,2% da população, segundo dados de 2019 —, Israel tem 17,8% de islâmicos
(palestinos, principalmente) e 2% de católicos e cristãos ortodoxos. Isso não significa que
cidadãos de outras etnias tenham direitos iguais. O Pew Research Center classifica Israel como
um país de alta restrição à liberdade religiosa. Uma lei polêmica aprovada em 2018 afirma que
“Israel é a pátria histórica do povo judeu e eles têm direito exclusivo à autodeterminação”.
LISTA
Quais são os países mais felizes do mundo?
O ranking World Happiness Report junta dados socioeconômicos (como IDH) e avaliações
subjetivas dos cidadãos.
1- FINLÂNDIA
PIB per capita: US$ 48,7 mil
Expectativa de vida: 81 anos
Percepção da corrupção: 86% não acham corrupto
2- ISLÂNDIA
US$ 66,9 mil
82,3 anos
78%
3- DINAMARCA
US$ 60,1 mil
80,9 anos
87%
4- SUÍÇA
US$ 81,9 mil
83,7 anos
85%
SÓ ACREDITO VENDO
Qual é a cédula de maior valor no mundo?
A campeã, considerando a cotação atual do real, é a nota de 10 mil dólares de Brunei, um
pequeno país asiático: ela equivale a R$ 39.200. Até existem notas maiores, com muitos zeros,
em países que sofrem com inflação. Mas elas valem pouco na prática. Conheça os dois
rankings (notas boas de câmbio e notas com muitos zeros) no gráfico abaixo:
IRÃ
Valor da moeda local: 1.000.000
Valor em reais: R$ 125
VENEZUELA
Valor da moeda local: VES 500.000
Valor em reais: R$ 0,65
VIETNÃ
Valor da moeda local: 500.000
Valor em reais: R$ 115,58
IRÃ
Valor da moeda local: 500.000
Valor em reais: R$ 62,68
SINGAPURA
Valor da moeda local: SGD 10.000
Valor em reais: R$ 39.113,52
SUÍÇA
Valor da moeda local: CHF 1.000
Valor em reais: R$ 5.671,32
SINGAPURA
Valor da moeda local: SGD 1.000
Valor em reais: R$ 3.911,39
EMIRADOS ÁRABES
Valor da moeda local: AED 1.000
Valor em reais: R$ 1.432,28
O QUE SÃO...
Desembargadores são juízes de segunda instância — que podem rever e modificar decisões dos
juízes de primeira instância, caso necessário.
Data venia significa “com o devido consentimento”. Expressão usada para começar
respeitosamente uma fala em que você vai discordar de alguém.
Peculato é o crime em que um funcionário público rouba ou desvia uma quantidade de dinheiro
que está em sua posse por razões de trabalho.
Os artistas são pagos para cantar em programas de auditório? - @brunaperiodista. via Instagram
NÃO. As assessorias da Globo e do SBT contaram a este Oráculo que os convidados não
recebem cachê. Mas a grana que entra após uma aparição em rede nacional justifica a
passadinha no estúdio — e justificava ainda mais quando discos físicos dominavam o mercado:
“Zezé di Camargo & Luciano lançaram o primeiro álbum no Faustão”, conta o jornalista Marcos
Barrero, que dirigiu o Domingão entre 1996 e 2001. “Na segunda-feira, só as Lojas Americanas
venderam uns 100 mil CDs.” Quando atores da própria Globo são entrevistados pela emissora,
ganham um cachê modesto — tão modesto que Antonio Fagundes liderou, em 2013, um
protesto contra a remuneração.
LOST IN TRANSLATION
Hogis durs evav
“Até minha alma saiu.” Equivale a “eu tô morto”. Para quem está tão exausto quanto a equipe da
Super após concluir uma edição.
PERGUNTE AO ORÁCULO
Escreva para oraculo@abril.com.br mencionando sua cidade e Estado — ou mande a pergunta
via direct no Instagram.
MEMÓRIA DE ELEFANTE
Para armazenamento, uma SSD é mais rápida, compacta e resistente que um HD. A
desvantagem: sai mais caro e cabe menos coisa (para arquivos grandes, use um HD externo ou
espaço na nuvem). Na memória de processamento (RAM), 8 Gb bastam para tarefas de rotina;
para programas pesados, considere 16 Gb.
HORA DE MONTAR
Use chave Phillips e um estilete. Disponha as peças em uma superfície que não conduza
eletricidade. Comece pela fonte de alimentação de energia. Depois, encaixe o processador na
placa-mãe (a etapa mais delicada). Ventoinhas na frente e atrás do gabinete: a da frente puxa o
ar frio, a de trás elimina o quente.
REALIDADES PARALELAS
AO INFINITO...
Tamanho às vezes é documento. Os foguetes espaciais que chegam mais longe precisam de
mais volume para combustível, afinal. Compare o tamanho dos foguetes mais importantes da
história.
Infográfico Carlos Eduardo Hora. Maria Clara Rossini e Rafael Battaglia Popp
V-2 Alemanha
Ativ.: 1942 - 1952
Altura: 14 m
O primeiro foguete a chegar ao espaço foi um míssil desenvolvido na 2ª Guerra.
VLS-1 Brasil
Ativ.: 1997 - 2003
Altura: 19,5 m
Nenhum voo foi bem-sucedido. A 3ª tentativa de lançamento matou 21 pessoas.
VOSTOK Rússia
Ativ.: 1958 – 1991
Altura: 38,3 m
Transportou Iuri Gagarin, primeira pessoa no espaço, e outros cosmonautas.
SOYUZ Rússia
Ativ.: 1965-
Altura: 45,6 m
Modelo mais antigo em atividade. Principal transportador de humanos para a ISS.