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8.

4 Colisões

Análise de uma colisão


Uma das aplicações mais importantes do conceito de quantidade de movimento é
encontrada no estudo de interações de curta duração entre partes de um sistema (ou
conjunto) de objetos, como ocorre em uma explosão ou em uma colisão.
Para entender como essa grandeza está envolvida nesses fenômenos, considere-
mos a figura 8.15, que mostra duas esferas A e B deslocando-se ao longo de uma mes-
ma reta, inicialmente em sentidos contrários. Após colidirem, as esferas passam a se
mover no mesmo sentido.

a Antes: Q1 5 4 kg ? m/s b Depois: Q2 5 4 kg ? m/s


Figura 8.15. Em uma
v2A < v2B colisão, a quantidade de
Banco de imagens/
Arquivo da editora

mA mA movimento total se
v &1A mB v&2A mB v&
v &1B 2B conserva. Representação
sem escala e em cores
fantasia.

Suponha que as massas das esferas sejam mA 5 2 kg e mB 5 1 kg, e suas velocida-


des, antes da colisão, fossem:
v1A 5 3 m/s e v1B 5 2 m/s
com os sentidos indicados na figura 8.15.a. Em uma situação real, realizando medidas
cuidadosas, uma pessoa encontrou os seguintes valores para as velocidades das esferas
após a colisão:
v2A 5 0,5 m/s e v2B 5 3 m/s
com os sentidos indicados na figura 8.15.b.
Determinando a quantidade de movimento total, Q&, do conjunto (ou sistema)
constituído pelas duas esferas, antes e depois da colisão, temos:
• antes da colisão (note que os vetores q&1A e q&1B têm sentidos contrários)
Q1 5 mAv1A 2 mBv1B 5 2 ? 3 2 1 ? 2 5 6 2 2 [ Q1 5 4 kg ? m/s

• depois da colisão (note que os vetores q&2A e q&2B têm o mesmo sentido)
Q2 5 mAv2A 1 mBv2B 5 2 ? 0,5 1 1 ? 3 5 1 1 3 [ Q2 5 4 kg ? m/s
Logo: Q2 5 Q1.
Portanto, as quantidades de movimento do sistema são iguais (em módulo, dire-
ção e sentido) antes e depois da colisão. Em outras palavras, a quantidade de movi-
mento total, Q&, do sistema constituído pelos dois objetos que colidiram se conser-
vou durante a colisão.

Colisões dir
diretas e colisões oblíquas
Quando dois objetos colidem, como no choque entre duas bolas, pode acontecer
que a direção do movimento desses objetos não seja alterada pelo choque, isto é, eles
se movimentam sobre uma mesma reta antes e depois da colisão (figura 8.16.a).
Quando isso acontece, dizemos que ocorreu uma colisão direta, ou uma colisão cen-
tral, ou, ainda, que ocorreu um choque unidimensional.

CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO CAPÍTULO 8 225


Se, entretanto, os objetos se movimentarem em direções diferentes, antes ou de-
pois da colisão (figura 8.16.b), ela é denominada colisão oblíqua.

mA

Banco de imagens/
Arquivo da editora
a b
Antes Depois Antes Depois
v1B v2B
v1B v2A
θ
v1 A
v1A v2B mA mB
mA mA mA mB v2A
mB
Figura 8.16. Em a as esferas realizam uma colisão direta e, em b, uma colisão oblíqua.
Representação sem escala e em cores fantasia.

Colisões elásticas e colisões inelásticas


Consideremos a colisão representada na figura 8.17. Suponha que as energias
cinéticas dos carrinhos, antes da colisão, sejam EcA 5 900 J e EcB 5 700 J e que, após o
choque, passem a ser E’cA 5 600 J e E’cB 5 1 000 J. Observe que, antes da colisão, a ener-
gia cinética total do sistema é:
EcA 1 EcB 5 900 J 1 700 J 5 1 600 J
Calculando-se a energia cinética do sistema após a colisão, verificamos que:
E’cA 1 E’cB 5 600 J 1 1 000 J 5 1 600 J

Helene Rogers/Art Directors & Trips Photo/Keystone Brasil


Figura 8.17. Em uma
colisão elástica, a A B
energia cinética do
sistema se conserva.

Portanto, nessa colisão, a energia cinética total tem o mesmo valor antes e depois
do choque, isto é, a energia cinética do sistema se conserva. Sempre que isso ocorre,
dizemos que a colisão é elástica. De modo geral, o choque é elástico quando os obje-
tos que colidem não sofrem deformações permanentes durante a colisão. Dois carri-
nhos de bate-bate, por exemplo, realizam colisões que podem ser consideradas prati-
camente elásticas (figura 8.17).
Caso contrário, se os objetos apresentarem deformações permanentes em virtude
da colisão, ou se houver produção de calor durante o choque, verificamos que haverá
uma redução no valor da energia cinética do sistema, pois parte dessa energia foi uti-
lizada para produzir as deformações ou transformada em energia térmica. Sempre
que os valores da energia cinética do sistema, antes e depois da colisão, forem diferen-
tes, dizemos que a colisão é inelástica.
Um caso particular de colisão inelástica ocorre quando os objetos, após o choque,
passam a ter velocidades iguais. Por exemplo, quando dois automóveis colidem e mo-
vem-se colados após o choque, verifica-se a maior redução possível no valor da energia
cinética do sistema. Por isso, essa colisão é denominada completamente inelástica.

226 UNIDADE 4 LEIS DE CONSERVAÇÃO


Conser
Conservação da quantidade de movimento

Pascal Rossignol/Reuters/Latinstock
nas colisões
Acabamos de ver que a energia cinética total nem sempre se conserva
em uma colisão. Entretanto, se calcularmos a quantidade de movimento
total dos objetos, antes e depois de colidirem, verificaremos, qualquer que
seja a colisão, que essa quantidade de movimento se conserva (figu-
ra 8.18). Vamos entender por que isso ocorre.
No caso de não existirem forças externas atuando sobre os objetos
que colidem, é natural que isso ocorra, pois a quantidade de movimento
de um sistema se conserva se nele atuarem apenas forças internas.
Contudo, mesmo que existam forças externas, como a duração do
Figura 8.18. Em
choque é sempre muito curta, o impulso exercido por essas forças será também qualquer colisão, como
muito pequeno. Em geral, os valores das forças externas não são muito grandes e, no choque da bola com
o rosto do jogador Éric
consequentemente, a variação da quantidade de movimento que elas provocam Carrière, na época
pode ser desprezada. (2005) atuando pelo
Lens (França), há
Observe que as forças impulsivas que ocorrem nas colisões (ou explosões), por se-
conservação da
rem muito grandes, podem provocar variações apreciáveis nas quantidades de movi- quantidade de
movimento.
mento de cada um dos objetos que colidem, mas, como são forças internas, não in-
fluenciarão na quantidade de movimento total. Assim, podemos concluir que as
quantidades de movimento de um sistema, imediatamente antes e depois de qual-
quer colisão, podem ser consideradas iguais.

A quantidade de movimento total de um sistema de objetos que colidem,


imediatamente antes da colisão, é igual à quantidade de movimento total
do sistema imediatamente após a colisão.

O número de problemas que podem ser resolvidos usando-se essa conclusão é


muito grande. Os exemplos seguintes ilustram como a conservação da quantidade de
movimento pode ser usada na solução de problemas de colisões ou explosões.

Exemplo 1
Suponha que uma bola branca, de massa m, movendo-se com velocidade v 5 2,0 m/s,
atinja uma bola amarela (também de massa m), que estava em repouso (figura 8.16.a).
Supondo que o choque seja central e elástico, determine as velocidades das duas
bolas após a colisão.
Sejam v&1 e v&2 as velocidades das bolas branca e amarela, após a colisão. A quantidade de
movimento do sistema (das duas bolas), antes do choque, era mv&, pois apenas a bola
branca estava em movimento. Como em qualquer colisão há conservação da quantida-
de de movimento total, podemos escrever:

mv& 5 mv&1 1 mv&2

Já que o choque é central, os vetores v&, v&1 e v&2 têm a mesma direção e, portanto, a rela-
ção anterior poderá ser escrita escalarmente, isto é:

mv 5 mv1 1 mv2 ou v 5 v1 1 v2 [ v1 1 v2 5 2,0

Além disso, tratando-se de uma colisão elástica, a energia cinética do sistema se con-
serva. Logo:

1 mv2 5 1 mv2 1 1 mv 2 ou v2 5 v12 1 v22 [ v12 1 v22 5 4,0


2 2 1
2 2

CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO CAPÍTULO 8 227


a Obtivemos, assim, duas equações, relacionando as incógnitas v1 e v2:

v1 1 v2 5 2,0 e v12 1 v22 5 4,0

Da primeira equação, v1 5 2,0 2 v2; substituindo-a na segunda equação:

(2,0 2 v2)2 1 v22 5 4,0


04_08_1CAFis18S _f017
Resolvendo essa equação, obtemos v2 5 2,0 m/s e, como v1 5 2,0 2 v2, concluí-
mos que v1 5 0 m/s.
Assim, percebemos que, por causa da colisão, a bola branca fica em repouso, e a
b
bola amarela adquire uma velocidade igual à que a bola branca possuía antes do
choque. É possível que você já tenha visto esse fato ocorrer em um jogo de bilhar,
Fotos: Sergio Consoli/Shutterstock

ou até mesmo em um pêndulo de Newton, como o da figura 8.19. Todas as esfe-


ras do pêndulo possuem a mesma massa. Levantando-se a esfera de uma das
extremidades e deixando-a colidir com as demais, observamos que ela entra em
repouso, e apenas a esfera da outra extremidade adquire uma velocidade igual à
da esfera incidente.

Exemplo 2
Figura 8.19. Pêndulo de
Newton. Suponha que uma esfera, em repouso, seja fragmentada em três pedaços
por uma explosão. Um dos pedaços, de massa m1 5 1,0 kg, parte com
uma velocidade v1 5 12 m/s. Um segundo pedaço, de massa m2 5 2,0 kg, sai
com velocidade v2 5 8,0 m/s, em uma direção perpendicular a v 1& (figura
a
8.20.a).
v2
a) Desenhe um diagrama mostrando a direção do movimento do terceiro
Antonio Robson/Arquivo da editora

pedaço, imediatamente após a explosão.


A quantidade de movimento do sistema (a esfera), antes da explosão, era
nula. Como a explosão dura um intervalo de tempo muito curto, as forças ex-
v1
ternas não alterarão sensivelmente o vetor Q& e, assim, a quantidade de movi-
mento do sistema deverá ser ainda nula imediatamente após a explosão. As
quantidades de movimento adquiridas pelo primeiro e pelo segundo pedaço
valem, respectivamente:

q1 5 m1v1 5 1,0 ? 12 [ q1 5 12 kg ? m/s


b
q2 5 m2v2 5 2,0 ? 8,0 [ q2 5 16 kg ? m/s
Ilustrações: Banco de imagens/
Arquivo da editora

Na figura 8.20.b foram traçados os vetores q1& e q2& . Para que a quantidade de
q&2 movimento total, Q&, seja nula, a quantidade de movimento, q3& , do terceiro
pedaço, deverá ser igual e contrária à resultante de q1& e q2& . Portanto, o terceiro
pedaço se movimentará na direção do vetor q3& mostrado na figura 8.20.b.
q&1
b) Se a massa do terceiro pedaço era m3 5 0,50 kg, qual é a velocidade, v&3,
q&3 desse pedaço, imediatamente após a explosão?
Como vimos, o vetor q&3 tem o mesmo módulo da soma dos vetores q&1 e q&2.
Pela figura 8.20.b:
Figura 8.20. Para o exemplo 2.
Representação sem escala e q3 5 q12 + q22 = 122 + 162 [ q3 5 20 kg ? m/s
em cores fantasia (a).
Mas:

q3 5 m3v3 ou 20 5 0,50 ? v3 [ v3 5 40 m/s

Portanto, o terceiro pedaço parte, logo após a explosão, com uma velocidade
de 40 m/s na direção e no sentido do vetor q3& mostrado na figura 8.20.b.

228 UNIDADE 4 LEIS DE CONSERVAÇÃO



➔ verıfıque
o que 18. Observe a figura abaixo. A situação (1) mostra tal. Em virtude da explosão de uma bomba co-
aprendeu duas bolas de aço, imediatamente antes e locada em seu interior, o bloco se fragmenta
imediatamente após colidirem entre si. A si- em dois pedaços, A e B. Observa-se que o peda-
tuação (2) representa uma bala disparada ço A, com massa igual a 200 g, é lançado, logo
contra um bloco de madeira imediatamente após a explosão, para a esquerda, com uma
antes da colisão e movendo-se com o bloco, velocidade de 15 m/s.
imediatamente após penetrar nele. a) Qual era a quantidade de movimento do
bloco antes da explosão? zero
b) Qual deve ser a quantidade de movimento
1
EcA = 12 J EcB = 15 J E'cA = 18 J E'cB = 9 J do sistema, constituído pelos dois peda-
ços, logo após a explosão? zero
A B A B c) Qual é a quantidade de movimento adqui-
rida por A? 3,0 kg ? m/s para a esquerda
d) Qual deve ser a quantidade de movimento
inicial final 3,0 kg ? m/s para a direita, na
adquirida pelo pedaço B?
mesma direção em que A foi
e) Calcule a velocidade com que B foi lançado lançado.
2 logo após a explosão. 10 m/s
22. Duas esferas, A e B, de massas iguais, estão
suspensas por meio de fios de mesmo compri-
mento, como mostra a figura abaixo.
inicial final

Ilustrações: Banco de imagens/Arquivo da editora


As ilustrações desta página Para cada uma das situações descritas,
estão representadas sem responda:
escala e em cores fantasia. a) Durante a colisão, a energia cinética do sis-
18.c) Sim, pois em tema se conservou? Em (1), sim; em (2), não.
qualquer tipo b) A colisão é elástica, inelástica ou comple-
de colisão a tamente inelástica? Em (1), elástica; em (2),
quantidade completamente inelástica.
c) A quantidade de movimento do sistema se
de movimento
se conserva. conservou durante a colisão? Explique.
19. Duas locomotivas, A e B, movem-se no mesmo
sentido, ao longo de um trilho reto e horizon- A B
Não escreva tal, estando A à frente de B. Sabe-se que
no livro! A B
mA 5 3,0 ? 105 kg, vA 5 8,0 m/s, mB 5 5,0 ? 105 kg
v &B
e vB 5 16 m/s. A locomotiva B choca-se com A,
passando ambas a se deslocar juntas após v &A
22. a) Igual, pois B atinge a
a colisão. mesma altura de A.
b) zero
19. a) central e a) Como você classifica essa colisão?
c) elástica
completamente b) Qual é a quantidade de movimento do sis- Abandonando-se a esfera A de certa altura,
inelástica tema constituído pelas duas locomotivas
b) 1,04 ? 107 kg ? m/s ela colide com B, que, após a colisão, sobe,
imediatamente antes da colisão? atingindo uma altura igual àquela da qual
c) Qual deve ser o valor da quantidade de mo- A partiu.
vimento do sistema imediatamente após a a) Seja vA a velocidade de A imediatamente
7
colisão? 1,04 ? 10 kg ? m/s antes da colisão e vB a velocidade de B logo
d) Considerando a resposta da questão c, de- após receber o impacto de A. O valor de vB é
termine a velocidade com que as locomoti- maior, menor ou igual a vA? Explique.
vas se movem logo após a colisão. 13 m/s b) Lembrando-se da solução do exemplo 1,
20. Uma espécie de bomba caseira, de massa igual página 227, diga qual deve ser a velocidade
a 7,0 kg, é lançada ao longo de uma superfície da esfera A após a colisão.
horizontal, sem atrito, com velocidade igual a c) A colisão entre as esferas foi elástica ou
6,0 m/s. Num dado instante, a bomba explode, inelástica?
dividindo-se em dois fragmentos de massas 23. Um objeto A, de massa igual a 5,0 kg, colide
iguais. Devido à explosão os fragmentos são li- elasticamente com outro objeto, B, que de iní-
berados com uma energia de 126 J. Determine cio está em repouso. Após a colisão, o objeto A
a velocidade de cada um deles imediatamente continua a se mover no mesmo sentido com
após a explosão. 0 m/s e 12 m/s. velocidade de módulo 5 vezes menor do que o
21. Um bloco de madeira, cuja massa é de 500 g, de sua velocidade inicial. Calcule a massa do
está em repouso sobre uma superfície horizon- objeto B. 3,3 kg

CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO CAPÍTULO 8 229


APLICAÇÕES DA FÍSICA

O impulso e a quantidade de movimento no nosso dia a dia


Em diversas ocasiões de nossa vida
Juliana Moratto/Ribeirão Preto Online

diária, nos deparamos com fatos ou ocor-


rências que costumam despertar nossa
curiosidade e que podem ser interpreta-
dos pelos conceitos estudados nesta se-
ção. Analisaremos, a seguir, algumas des-
sas situações.
Em geral, os trapezistas de circo são
protegidos por redes que os amparam em
caso de falha em suas apresentações. Por
que, ao cair na rede, o trapezista não se ma-
chuca (figura 8.21), enquanto uma queda
diretamente no solo poderia ser fatal?
Ao cair, o trapezista adquire certa
quantidade de movimento, que, no final
da queda, é anulada pela força de reação
da rede, ou do solo. Em outras palavras,

Figura 8.21. O trapezista não se machuca quando cai sobre a rede.


esses obstáculos exercem um impulso
( I & 5 F & Δt) sobre o trapezista, que deve ter o
mesmo valor em ambos os casos (igual à va-
Christian Delbert/Shutterstock

riação de sua quantidade de movimento). Como a intera-


ção do trapezista com a rede é mais demorada, o tempo
decorrido para a força de reação anular sua quantidade de
movimento é muito maior que na queda sobre o solo (o
tempo de interação da pessoa com o chão é de apenas al-
guns milésimos de segundo). Portanto, de I & 5 F & Δt, dedu-
zimos que, para produzir o mesmo impulso I &, o valor de F&
será muito menor na colisão com a rede. Por esse motivo,
essa força praticamente não causa danos ao trapezista.
De maneira semelhante, um atleta que salta de tram-
polins elevados não se machuca ao penetrar na água da
piscina; evidentemente, esse atleta não se arriscaria a sal-
tar, da mesma altura, sobre um solo rígido. Como o tempo
de interação com a água é muito maior do que seria com o
solo, a força de reação do líquido sobre a pessoa é pequena
e, por isso, ela não se machuca ao penetrar na água.
Ao pular de certa altura (de uma mesa, por exemplo)
sobre o chão, qualquer pessoa, automaticamente, dobra
seus joelhos ao tocar o solo. Com esse procedimento, con-
segue evitar danos aos ossos de suas pernas, que possivel-
mente ocorreriam se elas fossem mantidas rígidas duran-
te o impacto com o solo (figura 8.22). O fato de dobrar os
joelhos torna maior o tempo que decorre até a pessoa pa-
rar completamente em sua interação com o chão (como
acontece com o trapezista na rede). Nesse caso, a força de
Figura 8.22. Ao alcançar o solo, caindo de certa altura, a pessoa
reação do solo sobre as pernas é consideravelmente me-
instintivamente dobra os joelhos. nor, evitando fraturas ósseas.

230 UNIDADE 4 LEIS DE CONSERVAÇÃO


O funcionamento dos cintos de segurança e dos airbags, itens de segurança dos passageiros
em veículos, também se baseia nessas ideias. No momento da colisão de um veículo, os cintos
de segurança cedem um pouco, o que aumenta o tempo de atuação das forças impulsivas,
freando o passageiro de uma maneira mais suave. Além disso o cinto de segurança tem a função
de manter o passageiro no lugar, evitando seu arremesso em caso de capotamentos ou colisões.
No caso dos airbags, bolsas de ar que são infladas rapidamente no instante da colisão, além
de atenuarem as forças impulsivas pelo aumento do tempo de atuação, reduzem a pressão exer-
cida por essas forças, uma vez que a área de contato com o passageiro é aumentada.
Não são apenas os cintos de segurança e os airbags, entretanto, que protegem os passagei-
ros. Os materiais utilizados nos veículos são projetados para, no caso de colisões, deformarem-
-se ou mesmo quebrarem absorvendo parte da energia envolvida. Esse processo também au-
menta o tempo de atuação das forças impulsivas, amortecendo seus efeitos.
A.RICARDO/Shutterstock

A.RICARDO/Shutterstock
a b

Figura 8.23. Em uma disputa de Ultimate Fighting Championship (UFC), o lutador de artes marciais
mistas (MMA, sigla em inglês de Mixed Martial Arts), ao receber um golpe, não deve manter seu rosto
imóvel, como em a. Se ele conseguir movimentar seu rosto no mesmo sentido do golpe, como em b,
mesmo sendo atingido, o impacto (força) que recebe é consideravelmente menor, pois nesse caso o
tempo de interação da luva do adversário com seu rosto é muito maior que em a.

questões
1. Os fabricantes de carros, na tentativa de torná-los mais seguros e preservar a vida de seus ocu-
pantes na ocorrência de um impacto, desenvolveram tecnologias que aumentam o tempo de in-
teração entre o corpo dos ocupantes e a estrutura do carro, diminuindo a intensidade da força
resultante. Veja resposta no Manual do Professor.
a) Pesquise e explique o funcionamento do airbag e como ele protege os passageiros.
b) Em alguns veículos, quando ocorre um impacto, a lataria se “desmonta”. Explique por que
isso ajuda a diminuir o impacto. Porque o carro leva mais tempo até parar, diminuindo a força
resultante sobre os passageiros.
2. Nos voos de ajuda humanitária, um dos maiores desafios é fazer a carga jogada do céu chegar
inteira ao solo. Para isso, além de utilizar paraquedas, outras tecnologias foram desenvolvidas.
Nesse sentido, imagine que você deva garantir que quatro ovos, abandonados em queda livre do
terceiro andar de um prédio a cerca de 15 m de altura em relação ao solo, permaneçam intactos
após o impacto com o solo. Reúna-se com seus colegas e façam o projeto de um dispositivo que
proteja esses ovos, utilizando copos descartáveis e canudos de plástico. Expliquem o mecanismo
utilizado para evitar danos aos ovos. Veja resposta no Manual do Professor.
3. Diminuir o impacto sobre um objeto que cai no chão é um dos objetivos dos designers de produtos.
Eles pesquisam formas e materiais para evitar que os objetos se quebrem ao sofrer algum tipo de
impacto. Pesquise em sua casa exemplos de objetos que possuem alguma proteção contra que-
das. Escolha um objeto que não possua essa proteção (uma xícara ou um vaso, por exemplo) e
sugira um mecanismo que reduza seu impacto com o solo.
Caixas de papelão e sacos inflados com ar, por exemplo.

CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO CAPÍTULO 8 231


pratıque
Veja os comentários das experiências desta seção no Manual do Professor.
físıca 1. Montem, sobre uma placa de madeira ou pa- a) Procurem observar a altura aproximada
pelão duro, uma estrutura capaz de sustentar atingida por B após a colisão. Essa altura é
em equıpe
um pêndulo razoavelmente pesado, como bem maior, bem menor ou praticamente
mostra a figura abaixo. Coloquem o conjunto igual à altura da qual A partiu? (Repitam a
sobre duas hastes cilíndricas, apoiadas em experiência algumas vezes para obter me-
uma superfície horizontal lisa, de modo que a lhores informações.)
placa possa se deslocar livremente para a b) Baseando-se em suas observações, vocês
frente e para trás. Em lugar da placa apoiada diriam que houve conservação da energia
sobre as hastes, vocês poderão usar um carri- cinética durante a colisão de A com B?
Não escreva
nho cujas rodas girem de modo livre, pratica- Como vocês classificariam essa colisão?
no livro!
mente sem atrito. c) Observem o que ocorre com a esfera A logo
Afastem o pêndulo da posição de equilíbrio até após a colisão. Suas observações confir-
As ilustrações desta página certa altura (posição A da figura). Soltem o mam o resultado encontrado no exemplo
estão representadas sem
pêndulo e deixem que ele oscile. 2 na página 228?
escala e em cores fantasia.
3. A fotografia abaixo é de flash múltiplo, isto é,

Ilustrações: Paulo César Pereira/Arquivo da editora


mostra um objeto em intervalos de tempo su-
cessivos e iguais. Nela vemos uma esfera de
vidro (a esfera mais clara), de massa m1 5 46 g,
deslocando-se da esquerda para a direita com
A B certa velocidade v1. Em seguida, essa esfera
colide com outra, de cera (esfera mais escura),
de massa m2 5 70 g, que inicialmente estava
em repouso. Após a colisão, as duas esferas
passam a se mover juntas, como vemos na
fotografia.
a) Observem o movimento da placa ou carri-
a) Meçam cuidadosamente com uma régua,
nho enquanto o pêndulo oscila. Ela (ou ele)
na fotografia, a distância entre a segunda
se desloca no mesmo sentido ou em senti-
e a terceira posições da bola de vidro (con-
do contrário ao pêndulo?
tadas da esquerda para a direita). Consi-
b) Com base no princípio de conservação da
derem que as dimensões da foto são 10
quantidade de movimento, tentem expli-
vezes menores do que as dimensões reais
car suas observações.
e que o intervalo de tempo entre dois
2. Suspendam uma esfera dura (de metal ou ma- flashes é de 1,0 s. Com essas informações,
deira) por meio de dois fios, formando um “pên- determinem a velocidade v1 da esfera de
dulo bifilar”, como mostra a figura a. Montem vidro, antes da colisão.
dois pêndulos iguais a esse usando duas esfe- b) Qual é o valor da quantidade de movimento
ras, A e B, de massas iguais, suspensas de ma- total do sistema constituído pelas duas bo-
neira que, na posição de equilíbrio, elas este- las antes da colisão?
jam se tocando (veja a figura b). c) Meçam, agora, a distância entre as duas
Afastem a esfera A até certa altura, de modo últimas posições das esferas, unidas, após
que, ao ser abandonada, ela colida frontal- a colisão. Levando em conta as informa-
mente com a esfera B. ções fornecidas em a, determinem a velo-
a cidade final, v, do conjunto.
d) Calculem a quantidade de movimento do
sistema após a colisão. Comparem esse re-
sultado com aquele que vocês encontra-
ram em b.
e) A análise feita permitiu verificar, com
uma aproximação razoável, que a quanti-
dade de movimento se conservou nessa
colisão?

A B

Reprodução/Arquivo da editora

232 UNIDADE 4 LEIS DE CONSERVAÇÃO


proçlemas Não escreva
e testes no livro!

1. Uma bola de bilhar, de 0,50 kg de massa, movendo-se 6. Uma granada, de massa igual a 1,0 kg, é lançada vertical-
para a esquerda com uma velocidade de 2,0 m/s, perpen- mente para cima e explode no ponto mais alto, fragmen-
dicular à tabela, colide com esta e volta com uma veloci- tando-se em três pedaços. Imediatamente após a explo-
dade de mesmo módulo e de mesma direção. Considere o são, o primeiro fragmento, cuja massa é 0,20 kg, move-se
sentido para a direita positivo. Indique no caderno, entre verticalmente para cima com velocidade de 100 m/s. O
as afirmativas seguintes, aquela que está errada. c segundo fragmento, cuja massa é 0,70 kg, move-se verti-
a) A quantidade de movimento da bola, antes de colidir calmente para baixo com velocidade de 10 m/s.
com a tabela, era de 21,0 kg ? m/s. a) Quais são o módulo, a direção e o sentido da velocida-
b) A quantidade de movimento da bola, após a colisão, é de do terceiro fragmento? 130 m/s, na vertical, para baixo
de 1,0 kg ? m/s. b) Determine a energia liberada na explosão da granada.
1 880 J
c) A variação da quantidade de movimento da bola, em 7. (UFPR) Um adolescente inspirado pelos jogos olímpicos
razão da colisão com a tabela, foi nula. no Brasil está aprendendo a modalidade de arremesso de
d) O impulso que a bola recebeu da tabela foi de 2,0 N ? s. martelo. O martelo consiste de uma esfera metálica presa
e) Se conhecêssemos o tempo de interação da tabela a um cabo que possui uma alça na outra extremidade para
com a bola, seria possível calcular a força média que o atleta segurar. O atleta deve girar o martelo em alta velo-
uma exerceu sobre a outra. cidade e soltar a alça permitindo que a esfera possa conti-
nuar seu movimento na direção tangente à trajetória cir-
2. Dois objetos, A e B, sendo mA . mB, estão inicialmente em
cular. Suponha que o atleta aprendiz esteja sobre uma
repouso. Suponha que ambos recebam impulsos iguais.
plataforma e gire o martelo num círculo horizontal de raio
a) A quantidade de movimento adquirida por A será
2 m e a uma altura de 3,2 m do solo no momento que faz o
maior, menor ou igual à quantidade adquirida por B? igual
arremesso. A esfera cai no solo a uma distância horizontal
b) A velocidade adquirida por A será maior, menor ou de 32 m do ponto onde foi arremessada. Despreze a resis-
igual à velocidade adquirida por B? menor tência do ar. Considere a massa da esfera igual a 4 kg e a
3. a) Se um objeto possui quantidade de movimento, pode- aceleração gravitacional igual a 10 m/s2. Com base nessas
mos garantir que ele possui, pelo menos, uma forma informações, calcule:
de energia. Por quê? Porque o objeto terá energia cinética, a) a velocidade tangencial da esfera no instante em que
pois possui velocidade.
b) É possível que um objeto possua energia, mas não ela é arremessada. v0 5 40 m/s
quantidade de movimento. Dê um exemplo. b) a aceleração centrípeta sobre a esfera no momento
4. Um astronauta, tendo em suas mãos um pequeno obje- em que ela é solta. ac 5 800 m/s2
to, está em repouso numa região do espaço onde não c) a quantidade de movimento (momento linear) e a ener-
existe nenhuma atração gravitacional sobre ele. Nessa
gia cinética da esfera no instante em que ela é lançada.
situação, ele arremessa o objeto, aplicando-lhe um im- Q 5 160 kg ? m/s e Ec 5 3 200 J.
pulso de 12 N ? s. Considere o sistema astronauta 1 obje- 8. (Ufam) O impulso altera a quantidade de movimento da
to e indique no caderno, entre as afirmativas seguintes, mesma maneira como uma força altera a velocidade. A rela-
aquela que está errada. b ção do impulso com a variação da quantidade de movimen-
to vem da segunda lei de Newton e nos ajuda a analisar mui-
a) O objeto passa a se deslocar com uma quantidade de
tas situações, já que o impulso e a variação da quantidade
movimento de 12 kg ? m/s.
de movimento estão sempre vinculados. Por exemplo,
b) O módulo da quantidade de movimento adquirida quando saltamos de uma posição elevada para o chão fle-
pelo astronauta é menor do que 12 kg ? m/s. xionamos os joelhos ao fazer contato com o piso, pois: c
c) A quantidade de movimento do sistema, antes de o a) reduzimos a intensidade da força de impacto experi-
objeto ser arremessado, era nula. mentada pelo corpo pela diminuição do tempo de du-
d) A quantidade de movimento do sistema, após o objeto ração do impacto.
ser arremessado, é nula.
b) não iremos alterar a intensidade da força de impacto
5. Uma bola, de massa igual a 0,20 kg e velocidade de experimentada pelo corpo, só aumentamos o tempo
0,10 m/s, colide com outra bola, idêntica a ela, que está em de duração do impacto.
repouso. Usando apenas essas informações, é possível calcu-
c) reduzimos a intensidade da força de impacto experi-
lar somente uma das grandezas relacionadas a seguir. Qual é
mentada pelo corpo pelo aumento do tempo de dura-
essa grandeza? Indique no caderno a alternativa correta. e
ção do impacto.
a) A força que uma bola exerce sobre a outra.
d) aumentamos a intensidade da força de impacto expe-
b) O módulo da velocidade de cada bola após a colisão.
rimentada pelo corpo pela diminuição do tempo de
c) A direção da velocidade de cada bola após a colisão. duração do impacto.
d) A energia cinética total das bolas após a colisão. e) aumentamos a intensidade da força de impacto expe-
e) A quantidade de movimento total das bolas após a rimentada pelo corpo pelo aumento do tempo de du-
colisão. ração do impacto.
3. b) Por exemplo, um corpo em repouso, preso a uma mola comprimida ou em certa altura acima do solo.
CONSERVAÇÃO DA QUANTIDADE DE MOVIMENTO CAPÍTULO 8 233

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