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Resumo:
A BNCC (BRASIL, 2017), no tocante ao ensino de língua portuguesa (LP),
afirma dialogar com documentos curriculares produzidos nas últimas
décadas e assume uma perspectiva enunciativo-discursiva da linguagem, na
qual o texto é a unidade de trabalho na definição de objetos de
conhecimento e habilidades e leva em consideração a inter-relação entre os
eixos de ensino: leitura, oralidade, escrita e Análise linguística/Semiótica
(AL/S). Esta última foi tomada como objeto de estudo por ser um eixo
constitutivo do ensino de LP e por vir, na versão homologada desse
documento, acompanhada da semiótica. Nesse sentido, o presente trabalho
tem como objetivo identificar a natureza dos objetos de conhecimento do
eixo AL/S na BNCC no E.F. II. Com isso, nos baseamos nas contribuições de
Geraldi (1984), Mendonça (2006), Macedo (2017), entre outros. Para
empreender a análise, selecionamos um campo de atuação, o
jornalístico/midiático (comum ao 6º e 9º anos) e os objetos que transpassam
todos os campos de atuação (6º ao 9º anos), considerando as dimensões:
discursiva, textual, gramatical e multimodal para a apreciação dos dados. Os
resultados revelam a recorrência da multimodalidade seguida da
discursividade e da textualidade. Há pouco espaço para a gramaticalidade,
no que corrobora com a proposta documento no tocante àaprendizagem da
Análise linguística/Semiótica baseada no texto, a partir dos elementos
composicional, estilístico, linguístico e multimodal, conforme o documento
esclarece “tal proposta assume a centralidade do texto como unidade de
trabalho e as perspectivas enunciativo-discursivas na abordagem” (BRASIL,
2017, p. 65).
Palavras-chave: Base Nacional Comum Curricular. Ensino Fundamental.
Análise linguística/Semiótica. Objetos de conhecimento.
Abstract:
The BNCC (BRASIL, 2017), in relation to the teaching of Portuguese
language (PL), affirms to dialogue with curricular documents produced in the
last decades and assumes an enunciative-discursive perspective of language.
In which, the text is the unit of work in the definition of knowledge’s objects
and skills and takes into consideration the interrelation between the axes of
INTRODUÇÃO
O termo “an|lise linguística” (AL) “surgiu para denominar uma nova perspectiva de
reflexão sobre o sistema linguístico e sobre os usos da língua, com vistas ao tratamento
escolar dos fenômenos gramaticais, textuais e discursivos” (MENDONÇA, 2006, p. 205).
Essa denominação cunhada por Geraldi (1984) trouxe uma nova abordagem sobre o
trabalho com a Língua Portuguesa, em especial no que tange ao ensino de gramática e ao
tratamento dado ao texto em diversas instâncias. Essa nova proposta se contrapõe ao
ensino da gramática tradicional baseado na prescrição da língua. Nesse cenário (análise
gramatical versus an|lise linguística), temos a convivência do “velho” e o “novo”, do
“conservador” e o “inovador”.
Conforme Bezerra e Reinaldo (2013), a repercussão da proposta de prática de análise
linguística nas pesquisas acadêmicas acabou influenciando os documentos
parametrizadores do ensino de Língua Portuguesa (PCNs, 1997, 1998; OCEM, 2006) que
sugerem a forma reflexiva como metodologia para o ensino de português. Para que esse
ensino ocorra, a língua é estudada nos eixos da oralidade, da escuta, da leitura, da escrita e
da análise linguística, essa entendida como reflexão sobre a língua e a linguagem.
Considerando a prática de AL como eixo articulador dos demais eixos de ensino, esse
componente está presente na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento
1
Artigo elaborado a partir do recorte de uma pesquisa em andamento, em nível de mestrado, no programa de
pós-graduação em Linguagem e Ensino, da Universidade Federal de Campina Grande.
2
Recorte do corpus
Ao observarmos essas duas habilidades, podemos afirmar que o objeto Estilo abrange
a dimensão discursiva ao propor “estratégias de persuasão e apelo ao consumo com os
recursos linguístico-discursivos”; abrange ainda a dimensão textual ao indicar, por
exemplo, operadores de conexão adequados aos tipos de argumento e { “forma de
composição de textos argumentativos,de maneira a garantir a coesão, a coerência e a
progressão tem|tica nesses textos”; contempla a gramaticalidade no que diz respeito à
sistematização da língua ao indicar o reconhecimento dasmarcas de pessoa, número,
tempo, modo, a distribuição dos verbos nos gêneros textuais;e considera a
multimodalidade descrita explicitamente na habilidade 17: “Perceber e analisar os recursos
estilísticos e semióticos dos gêneros jornalísticos e publicit|rios” e “as estratégias de
persuasão e apelo ao consumo com os recursos linguístico-discursivos utilizados (tempo
verbal, jogos de palavras, met|foras, imagens)”. Logo, as dimensões discursiva, textual,
gramatical e multimodal se mostram no conteúdo Estilo.
O último objeto de conhecimento – Efeitos de sentido – refere-se aos recursos
expressivos da língua que proporcionam a construção de significados. Nesse sentido,
podemos apontar a discursividade, uma vez que esse elemento configura-se como uma
unidade linguística comsignificativa carga expressiva; e a multimodalidade, considerando os
recursos expressivos (que podem ser escrito, oral, gestual, imagético) para a construção do
texto. Podemos evidenciar esses elementos na habilidade 19, transcrita a seguir:
CAMPO JORNALÍSTICO/MIDIÁTICO
Variação X X X EF69LP55
linguística
EF69LP56
Considerações finais
Tendo em vista que o objetivo estabelecido para esse texto era identificar a natureza
dos objetos de conhecimento do eixo Análise linguística/Semiótica na BNCC nos anos finais
do ensino fundamental, verificamos, no campo jornalístico/midiático (6º ao 9º anos), os
aspectos da análise linguística e semiótica – a discursividade, a textualidade, a
gramaticalidade e a multimodalidade.
A análise dos dados demonstra uma recorrência equilibrada no tocante à primeira e
à segunda dimensão em relação aos objetos de conhecimento do campo citado,
certamente pelo fato de que esses objetos estão intrinsecamente vinculados à estrutura
organizacional do texto e, com isso, há pouco espaço para a gramaticalidade.
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1998
i
Mestranda no Programa de Pós-graduação em Linguagem e Ensino da Universidade Federal de Campina
Grande (PPGLE-UFCG).
E-mail: delanelourenco@hotmail.com
ii
Professora associada da Unidade Acadêmica de Letras da UFCG, onde atua como docente na graduação em
Letras e no Programa de Pós-graduação em Linguagem e Ensino (PPGLE-UFCG).
E-mail: deniselinoaraujo@gmail.com
RECEBIDO EM 20/06/2019
ACEITO EM 02/09/2019