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UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU - FURB

CENTRO DE EDUCAÇÃO, ARTES E LETRAS

BNCC e o ensino da Língua Portuguesa: alinhavando contextos

Karin Tyeko Anami 1

Flavio Alberto2

Júlio César3

RESUMO: O objetivo deste ensaio é analisar e refletir o ensino da Língua Portuguesa sob a
ótica da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) por meio de revisão de literatura. A
metodologia aplicada foi qualitativa com análise documental e bibliográfica em Legislações,
sites governamentais e artigos. As informações produzidas nesta revisão de literatura são
relevantes para a verificação da produção acadêmica com enfoque no ensino da língua
Portuguesa a aplicabilidade do conteúdo da BNCC em sala de aula. Concluímos
que .....................................................
Palavras-chave: Língua Portuguesa. BNCC. Ensino.

INTRODUÇÃO

O presente ensaio versa sobre o ensino da Língua Portuguesa pautado na Base


Nacional Comum Curricular (BNCC): os problemas e implicações encontrados, as críticas e
dificuldades de aplicabilidade da normativa para a sala de aula, principalmente para as escolas
públicas precarizadas no decorrer da história da educação.

1
graduanda em Letras Português- FURB
kanami@furb.br
2
graduando em Letras Português FURB
flavioalberto@furb.br
3
graduando em Letras Português FURB
Nossa abordagem foi qualitativa com revisão de literatura em artigos das plataformas
de revistas científicas. As produções mencionadas e analisadas trouxeram diferentes olhares
no ensino da Língua Portuguesa juntamente com a implicações da BNCC. Em um primeiro
momento analisamos a estrutura da normativa (BNCC); em segundo momento descrevemos
os três artigos pautados no ensino da Língua Portuguesa e a BNCC; e finalmente discutimos e
refletimos as abordagens das produções pesquisadas.

A ÁREA DE LINGUAGENS NA BNCC

Após anos de debates, reflexões e estudos, em 20 de dezembro de 2017, a Base


Nacional Comum Curricular (BNCC) foi homologada. Documento importante para a
educação, de caráter normatizador, com a função de adequar os currículos e os projetos
políticos pedagógicos (PPPs) da Educação Básica destinada as escolas públicas e particulares
do Brasil, tendo como objetivo primordial uniformizar o ensino e reduzir a desigualdade. O
documento reúne marcos legais da política educacional brasileira, assim como a Constituição
Federal, a Lei de Diretrizes e bases da educação (LDB), as Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCN), e o Plano Nacional de Educação (PNE).

Em seu bojo dispõe conceitos que todos os alunos devem desenvolver ao longo das
etapas e modalidades da Educação Básica, de modo que tenham assegurados seus direitos de
aprendizagem e desenvolvimento. (BRASIL, 2017, p. 07). No documento, essas etapas são
divididas em 3: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio. O ensino
fundamental, conhecido com a nomenclatura de ensino fundamental I e II, com a BNCC
passou a ser chamado de Ensino fundamental anos iniciais e anos finais, a etapa mais longa da
Educação básica sendo um percurso contínuo de aprendizagens.

Já o termo competência é assim definido “[...] mobilização de conhecimentos


(conceitos e procedimentos), habilidades (práticas, cognitivas e socioemocionais), atitudes e
valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania
e do mundo do trabalho”. (BRASIL, 2017, p. 08). Ou seja, para a BNCC espera-se que diante
de situações problemas da vida cotidiana, os alunos(as) possam aplicar suas habilidades e
saberes adquiridos na escola amparados em valores e direitos universais.

Nesse sentido, não existe uma hierarquia entre as competências descritas na BNCC,
elas se articulam em cada área de ensino e objetivam acompanhar o aprendizado do aluno(a)
em cada etapa do desenvolvimento escolar. Estão enumeradas em 10, a saber: Conhecimento,
responsabilidade, cidadania, empatia e cooperação; autoconhecimento e autocuidado;
argumentação; comunicação; repertório cultural; cultura digital; trabalho e projeto de vida.

Verificamos também que, no texto da BNCC, inexiste o termo disciplina ou matérias


que costumeiramente eram usadas na educação. A nomenclatura descrita no documento são
áreas do conhecimento e componente curricular. As áreas do conhecimento são divididas em
5: Linguagens; Matemática; Ciências da natureza, Ciências Humanas e Ensino Religioso. Para
a área de Linguagens temos os componentes curriculares como Língua Portuguesa, Artes;
Educação Física e Língua Inglesa que será destinada aos alunos do ensino fundamental dos
anos finais.

Para Língua Portuguesa no ensino fundamental anos finais, o adolescente participa


com mais criticidade em diversas situações, interagindo com seus pares. (BRASIL, 2017. P.
136). Dessa forma, os conhecimentos sobre os gêneros, sobre os textos, sobre a língua, sobre
a norma-padrão, sobre as diferentes linguagens devem ser mobilizados em favor do
desenvolvimento das capacidades de leitura, produção e tratamento das linguagens, que, por
sua vez, devem estar a serviço da ampliação das possibilidades de participação em práticas de
diferentes esferas/campos de atividades humanas. (BRASIL, 2017, p. 67)

Esses conhecimentos sobre a Língua são articulados por meio de “eixos” com
objetivos próprios, assim temos: o Eixo Leitura que compreende as práticas de linguagem que
decorre da interação do leitor; o Eixo da Produção de Textos que compreende as práticas de
linguagem relacionadas à interação e à autoria do texto; o Eixo da Oralidade compreende as
práticas de linguagem que acontecem em situações orais; e o Eixo da Análise
Linguística/Semiótica que envolve os procedimentos e de análise e avaliação nos processos de
leitura e de produção de textos. (BRASIL, 2017, p. 71,76,78, 80)

BREVES DISCUSSÕES ACERCA DA BNCC: UMA REVISÃO DE LITERATURA

Os artigos desta revisão foram separados com o termo de busca: “Ensino da Língua
Portuguesa” e “BNCC” num recorte temporal de 2015 a 2022 nas plataformas de revistas
científicas SciELO e Google acadêmico. Foram separados três artigos conforme a quadro
abaixo:

Título autores Ano


publicação
O Percurso Histórico do Ensino Da Língua Portuguesa e Vanildo Stieg e Regina 2017
os documentos oficiais: Da Lei 5692/71 à Base Nacional Godinho de Alcântara
Curricular Comum (BNCC)
O que quer” a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) Regina Godinho de 2016
no Brasil: o componente curricular língua portuguesa em Alcântara e Vanildo Stieg
questão
O Ensino de Língua Portuguesa e a Base Nacional João Wanderley 2015
Comum Curricular.
Geraldi
Quadro 01- fonte: os autores

O texto intitulado “O percurso histórico do ensino da língua portuguesa e os


documentos oficiais: da lei 5692/71 à base nacional curricular comum (BNCC)”, dos
autores Vanildo Stieg e Regina Godinho de Alcântara evidenciou as concepções de língua e
linguagem que subsidiaram o ensino da Língua Portuguesa desde a Lei 5692/71 até a atual
Base Nacional Curricular Comum (BNCC), problematizando avanços, recorrências e retornos
de conceitos, suas concepções e metodologias.

Stieg e Alcântara pontuaram que os enfoques teóricos e metodológicos dados ao


ensino da Língua Portuguesa vêm sendo modificados ao longo da história da educação
brasileira tendo em vista os caminhos educacionais traçados (travados) desde a colonização
do país até os dias atuais (2017, p. 17)

Os autores concluíram que, o texto da BNCC (em suas primeiras versões) se enquadra
em um retorno da concepção de língua e linguagem de vertente mais estruturalista e um
retrocesso no que tange à possibilidade de uma abordagem dialógica e discursiva, que segue
na contramão da efetivação de enfoques metodológicos que trariam a língua para além de seus
aspectos estruturais, evidenciando as questões históricas, culturais e ideológicas que são
inerentes. (STIEG, ALCÂNTARA, 2017, p. 28)

O próximo artigo foi escrito pelos mesmos autores do artigo acima mencionado com o
título: “O que quer” a base nacional comum curricular (BNCC) no Brasil: o componente
curricular língua portuguesa em questão”. A abordagem e discussão dos autores foi
pautada na área de Linguagem, sobretudo do Componente Curricular Língua Portuguesa
(anos finais) previsto na Base Nacional Comum Curricular (BNCC):

Uma vez que entendemos que esse documento nasce em um


contexto político ideológico marcado e ou povoado por
agendamentos neoliberais, no qual o Estado vai ficando cada vez
mais mínimo e as interferências da dinâmica provada empresarial
vai tomando os rumos da educação para si" (...) (STIEG,
ALCÂNTARA, 2016, p. 121)

A conclusão dos autores apontou uma normativa novamente inserida na política


educacional visando alcançar a meta 7 do PNE, criando uma lógica de organização em larga
escala, cada vez mais seletiva e, consequentemente, excludente. (STIEG, ALCÂNTARA,
2017, p. 125). A meta 7 mencionada pelos autores visa fomentar a qualidade da educação
básica em todas as etapas e com isso atingir as médias nacionais para o plano decenal do
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB)

O terceiro artigo foi escrito pelo doutor em linguística João Wanderley Geraldi sob o
título de: “O ensino de Língua Portuguesa e a Base Nacional Comum Curricular”. Na
introdução do seu artigo, Geraldi nos traz uma contextualização histórica de como o sistema
educacional brasileiro está sendo afetado desde meados dos anos 1990 com a tentativa de
reestruturação deste sistema de ensino.

Mais adiante ele afirma que existe uma manutenção de alguns aspectos adotados nos
PCN que foram mantidos na BNCC e que existe um avanço na forma como a normativa
aborda os campos de atuação nas práticas de linguagem. Porém, segundo Geraldi (2015,
p.392): “Peca-se, no entanto, pela exigência que faz de um trabalho com uma enormidade de
gêneros e de uma forma em que as condições efetivas de emprego desses gêneros passam a
ser um simulacro em sala de aula.”

Em outro momento, o autor critica também o fato da normativa acabar se tornando


uniformizadora do ensino, estabelecendo parâmetros a serem seguidos e habilidades a serem
atingidas em um país que se caracteriza por tamanhas diversidades econômicas, sociais,
linguísticas etc.

BREVE CONCLUSÃO

Após a leitura dos artigos desta revisão passamos a contextualizar algumas reflexões. Os
autores Stieg e Alcântara criticaram o contexto político e ideológico contido n que a educação
perpassa na sua trajetória.

Os autores Stieg e Alcântara consideram que a normativa- BNCC- possui teor político e
ideológico

da concepção de língua e linguagem de vertente mais estruturalista e um retrocesso no que


tange à possibilidade de uma abordagem dialógica e discursiva, que segue na contramão da
efetivação de enfoques metodológicos que trariam a língua para além de seus aspectos
estruturais, evidenciando as questões históricas, culturais e ideológicas
No segundo artigo os autores Stieg e Alcântara além de desaprovarem a normativa criticaram
o contexto político e ideológico do país e ....

Os autores Stieg e Alcântara um retorno da concepção de língua e linguagem de vertente mais


estruturalista e um retrocesso no que tange à possibilidade de uma abordagem dialógica e
discursiva, que segue na contramão da efetivação de enfoques metodológicos que trariam a
língua para além de seus aspectos estruturais, evidenciando as questões históricas, culturais e
ideológicas que são inerentes.

Alguns conceitos e vocabulários apresentados no decorrer do documento trouxeram


dúvidas entre gestores e educadores, a exemplo de competência e educação integral. O termo
educação integral, para a maioria das pessoas, enseja uma educação em tempo integral, um
estudo durante o dia inteiro. E, no entanto, educação integral descrita no documento faz
menção para a expansão e a capacidade do aluno em questões identitárias, cidadãs e culturais.

A eventual melhoria do desempenho da educação básica será pequena e anulada pela


emergência de graves efeitos colaterais na escola (preparação para testes retirando tempo do
ensino nas escolas, estreitamento curricular, mais segregação escolar, inflação das médias de
desempenho, entre outras) e na formação dos professores e dos estudantes, como mostra a
experiência de outros países.

Ao discutir o Ideb, que se baseia no desempenho de alunos em testes padronizados, é válido


fazer ressalvas sobre o papel desse tipo de avaliação como medida de qualidade de ensino, já
que há controvérsias principalmente sobre o uso e a interpretação que são feitos de seus
resultados.

numa configuração que assemelha as escolas a entidades empresariais dentro de uma lógica
de mercado.

. É reducionista a visão que trata a qualidade educativa apenas a partir de notas obtidas pelos
estudantes, uma vez que instrumentos avaliativos padronizados desconsideram a história dos
alunos, os contextos de cada instituição e centram olhares apenas sobre descritores
relacionados em documentos nacionais, estaduais ou municipais. Esta análise precisa abranger
aspectos qualitativos, dentro de uma perspectiva investigativa que leve em consideração
outros fatores que envolvem cada realidade.

É importante destacar que instrumentos avaliativos em larga escala têm o seu valor na leitura
que se faz sobre a educação em territórios tão extensos. Inquieta, porém, que eles não
cumpram papel verdadeiramente diagnóstico, no sentido de servir à reflexão sobre a prática,
mas sejam instrumentos de classificação e de promoção da competição entre escolas, redes ou
até mesmo entre docentes. Esta é a distorção que vem pautando a perspectiva avaliativa no
Brasil, dando vazão, por exemplo, à existência de rankings classificatórios das escolas, redes e
sistemas de ensino em todo território nacional.

REFERÊNCIAS

GERALDI, João Wanderley. O ensino de língua portuguesa e a Base Nacional Comum


Curricular. Retratos da Escola, v. 9, n. 17, 2015.
DE ALCÂNTARA, Regina Godinho; STIEG, Vanildo. “O que quer” a base nacional
comum curricular (BNCC) no brasil: o componente curricular Língua Portuguesa em
questão. Revista Brasileira de Alfabetização, n. 3, 2016.
STIEG, Vanildo; DE ALCÂNTARA, Regina Godinho. O percurso histórico do Ensino da
Língua Portuguesa e os documentos oficiais: da Lei 5692/71 à Base Nacional Curricular
Comum (Bncc). Revista de Estudos de Cultura, n. 7, p. 15-30, 2017.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (versão final). 2017. Disponível
em:<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_publicacao.pdf> Acesso em: 28 de
abr. de 2023.
BRASIL. Plano Nacional de Educação (PNE). Lei Federal n.º 10.172, de 9/01/2001.
Brasília: MEC, 2001c. http://pne.mec.gov.br/21-programas-e-metas/550-meta-7-qualidade-
da-educacao-basica-ideb Acesso em: 28 de abr. de 2023.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:


Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.

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