Você está na página 1de 7

Universidade Federal de Sergipe – Centro de Educação e Ciências Humanas -

Departamento de Letras Vernáculas – Estágio Supervisionado Geral Turma 01. 2022.2 -


Prof. Me. Flávio Passos Santana.

TÍTULO: RESENHA SOBRE A BASE NACIONAL COMUM


CURRICULAR (BNCC)
Aluna autora
Lílian Sayonara De Jesus Neres

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) atualmente é um documento que


foi elaborado pelo Governo Federal e estabelece aprendizagens essenciais que devem
ser adquiridas e desenvolvidas por todos os estudantes brasileiros na educação básica.
Por se tratar de um documento normativo, nele são estabelecidas regras para a
realização de atividades do âmbito educacional, com especificação técnica e um
conjunto de práticas para os profissionais das áreas educacionais.
A BNCC foi elaborada tendo em vista o cumprimento das exigências presentes
na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação Nacional, nas Diretrizes Curriculares
Nacionais Gerais da Educação Básica e no Plano Nacional de Educação (PNE).
A BNCC possuiu três versões, que foram discutidas e construídas no período de
três anos. A primeira versão foi a de junho de 2015, disponibilizada de setembro até
março de 2016 para críticas e sugestões da comunidade. A segunda versão ficou
disponível em maio de 2016. A terceira e última versão foi disponibilizada em abril de
2017 e homologada em 20 de dezembro, depois de tramitar pelo Conselho Nacional de
Educação.
As primeiras versões tinham na sua concepção a ideia de que o texto se tornasse
um material de apoio para a elaboração de propostas estaduais, municipais, da rede
privada e de cada unidade escolar. Inicialmente não se tratavam de uma relação de
conteúdos a serem ensinados obrigatoriamente em todas as escolas, ao contrário da
versão final.

1
A segunda versão da BNCC contou com uma grande contribuição do Estado e
da sociedade, ela foi desenvolvida por uma equipe de 135 profissionais, entre
professores da Educação Básica e do Ensino Superior, representantes de todas as
unidades da federação, após estudo dos documentos estaduais e realização de
seminários em diferentes regiões do país, em que foram apresentadas experiências
internacionais semelhantes, e descreveu um rol de objetivos de aprendizagem como
forma de garantir uma série de direitos à aprendizagem e ao desenvolvimento para todos
os estudantes do país.
Na terceira versão esse processo de construção foi interrompido e surgiu uma
versão considerada mais “enxuta”.
O cenário político foi um fator decisivo nas configurações versões dos
documentos, pois influenciaram a política educacional. As três versões da BNCC se
diferenciam uma vez que a primeira e a segunda versão do documento foram elaboradas
durante o mandato da presidenta Dilma Rousseff e a terceira versão na gestão do
presidente Michel Temer. (MOTA; ROCHA; MILÉO, 2022).
Dentro do contexto político-econômico em que se situava o processo de
elaboração da última versão, o documento foi feito por um pequeno grupo de pessoas e
de forma acelerada, nas pressas. Ao contrário da segunda versão, não houve debate e
uma discussão necessária para desenvolver essa proposta, pois a BNCC só foi discutida
pelo Conselho Nacional da Educação (CNE).
Neira (2017), após realizar a análise dos documentos, percebeu que houve certo
retrocesso na última versão da BNCC, em comparação com o segundo documento.
Portanto, essa falta de diálogos que fossem significativos com a população,
principalmente com a parte docente, se tornou um problema no que se refere a
resistência da aceitação da proposta e as muitas críticas, considerando que ela poderá
trazer grandes consequências negativas.
Entendido esse breve contexto de formação, cabe agora discorrer e fazer
algumas considerações em relação a algumas questões sobre a terceira e última versão
da BNCC.

2
Atualmente, a BNCC é uma referência nacional obrigatória que os currículos da
Educação Básica, seja ela pública ou privada, devem se adequar, para alcançar o
desenvolvimento das competências gerais da Educação Básica nos alunos, de todos os
níveis e modalidades de Ensino. O documento possui dez competências que se definem
como “[…] a mobilização de conhecimentos […], habilidades […], atitudes e valores
para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e
do mundo do trabalho” (BRASIL, 2018, p. 8).
Dessa forma, o caminho educacional que a base segue leva em conta a
incorporação de conhecimentos e habilidades considerados essenciais, que todos os
estudantes devem ter o direito de aprender. Independentemente de qualquer fator os
alunos de todo o Brasil precisam prender as mesmas habilidades e competências ao
longo da sua vida escolar.
A respeito de sua estrutura, a BNCC está organizada em três partes: a primeira
se refere à Educação Infantil, em seguida vem a parte do Ensino Fundamental e, por
fim, a terceira que é do Ensino Médio. No geral, todas essas partes vão compartilhar as
dez competências: conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que estimulam ações
que visam contribuir para a transformação da sociedade para torná-la mais humana,
socialmente justa e voltada para a preservação da natureza.
Para o Ensino Fundamental, a BNCC está estruturada apresentando
componentes curriculares divididos em cinco áreas de conhecimento: Linguagens,
Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Ensino Religioso. Cada área de
conhecimento apresenta competências específicas da área em questão. As unidades
temáticas listam os objetos de conhecimento e as habilidades que devem ser
desenvolvidas pelos alunos.
Nos componentes curriculares Língua Portuguesa há habilidades projetadas para
serem trabalhadas durante algumas séries, e não apenas em uma.
Assim como a parte do Ensino Fundamental, a do Ensino Médio está organizada
por Áreas do Conhecimento: Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas
Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, e Ciências Humanas e Sociais
Aplicadas. E também cada área tem suas competências específicas que devem ser
3
desenvolvidas e aprofundadas ao longo das etapas do Ensino Médio, uma vez que o
desenvolvimento de algumas já está previsto nas competências de área do Ensino
Fundamental.
As habilidades da base são identificadas a partir de um código alfanumérico. Ela
traz como exemplo a habilidade “EM13LGG103”. E explica que: as primeiras letras
indicam a etapa “Ensino Médio”; os primeiros números indicam que a habilidade
descrita pode ser desenvolvida em qualquer série do Ensino Médio, do primeiro a
terceiro ano; a segunda sequência de letras indica a área ou o componente curricular
(LGG = Linguagens e suas Tecnologias); e os números finais indicam a competência
específica à qual se relaciona a habilidade (1º número) e a sua numeração no conjunto
de habilidades relativas a cada competência (dois últimos números). Sendo assim, o
código apresentado se refere a terceira habilidade proposta na área de Linguagens e suas
Tecnologias relacionada à competência específica 1, que pode ser desenvolvida em
qualquer série do Ensino Médio.
Dentre os principais aspectos que marcam a última formulação do documento, é
destacado o reforço que ele dá na necessidade da implementação de iniciativas de
formação continuada e de uma organização mais participativa dentro das escolas e redes
ao estabelecer essas aprendizagens essenciais para a Educação Básica, pois ele se torna
o ponto de partida para as escolas e redes de ensino construírem seus próprios
currículos, que podem responder mais fielmente às realidades locais e expandir os
conhecimentos e habilidades expressos na base.
O componente curricular de Língua Portuguesa está organizado em quatro eixos,
que correspondem a práticas de linguagem: leitura/escuta, produção de textos, oralidade
e análise linguística/semiótica. As aulas de português devem trabalhar os novos gêneros
textuais, como os gêneros digitais, e o ensino deve ser centrado no texto para trabalhar
os eixos da esfera linguística.
A alfabetização é vista como um processo, que agora permanece de forma
contínua até o 5° ano. Ao contrário de antes que se dava apenas até o terceiro ano do
Ensino Fundamental. E agora o foco está na apropriação do sistema alfabético da escrita
em práticas de linguagem socialmente situadas.
4
A base já trabalhava com conceitos como os de práticas sociais de leitura e
escrita, os gêneros discursivos e os meios de circulação dos textos. E trouxe inovação na
sua última versão com o surgimento dos campos de atuação, que são as áreas de uso da
linguagem nas diversas situações do cotidiano.
Esses campos são divididos em cinco: Campo de atuação na vida cotidiana;
Campo artístico/literário; Campo de estudo e pesquisa; Campo de atuação na vida
pública; e Campo jornalístico midiático.
Além disso, cabe destacar que a proposta da gramática normativa pretende
trabalhar a gramática dentro de todos os campos de atuação, de forma que o aluno
entenda o seu funcionamento em vez de apenas decorar regras.
Ao longo dos anos os estudos e as noções de língua evoluíram bastante, e essas
mudanças ocorreram também na sociedade, sobretudo no que diz respeito ao aumento
progressivo do uso das tecnologias digitas. Portanto a BNCC precisou refletir esse
acontecimento nas suas propostas.
No que concerne aos avanços que a última base trouxe no âmbito da Língua
Portuguesa, salienta-se principalmente a presença de textos multimodais e as questões
de multiculturalismo. Ou seja, houve um progresso na descrição de como se pode
refletir sobre a língua e no estudo de textos em múltiplas linguagens, trazendo os
memes, os gifs, as produções de youtubers, muito presentes no cotidiano dos jovens
atualmente.
Outros pontos positivos que a BNCC aborda são: a questão da vinculação entre
as diferentes práticas e os diferentes saberes; o tratamento da gramática contextualizado
com as práticas sociais e os textos; o trabalho com a diversidade cultural; a leitura
crítica; as práticas de oralidade com objetivos definidos.
Embora o documento tragas essas mudanças significativas para o componente,
ainda mantém muitos dos pressupostos já adotados nos PCNs, mantendo um diálogo
com eles.
O documento também apresenta uma falta de clareza e de sistematização dos
conteúdos que acaba atrapalhando os professores. Ademais, existe uma deficiência na

5
formação básica, que não tem conseguido promover uma educação linguística que
acompanhe todas essas mudanças.
Em relação as versões e seus fundamentos pedagógicos, a última base apresenta
apenas um conjunto de ações ou habilidades que se espera que os estudantes adquiram
ao longo de seu processo formativo. Já a segunda versão é mais avançada nesse
contexto, porque apresenta de fato os direitos de aprendizagem e desenvolvimento dos
alunos, e considera princípios éticos, estéticos e políticos. Isso pode ter acontecido pelo
fato de que, como mencionado anteriormente, a versão de 2016 teve diversos debates no
seu processo de constituição, diferente da última. Portanto, a terceira versão apresentou
um retrocesso político e pedagógico.
Diante do que foi mencionado, conclui-se que ainda existe a necessidade de
discussões amplas e democráticas, principalmente por profissionais que trabalham na
área, por pesquisadores e pela própria comunidade, para buscar e incorporar melhorias
que gerem uma melhor adaptação da BNCC nas realidades em que ela se insere.

REFERÊNCIAS:

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília. DF: MEC, 2017.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular (BNCC): educação é a base.


Brasília, DF: MEC/CONSED/UNDIME, 2018. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_publicacao.pdf . Acesso
em: 23 mar. 2018.

CERQUEIRA, A. G. C.; CERQUEIRA, Aline Carvalho, SOUZA, T. C.;


MENDES, P. A. A trajetória da LDB: um olhar crítico frente a realidade
brasileira. Anais do Ciclo de Estudos Históricos, UESC, Santa Catarina, 2009.
Disponível em: https://petecaportal.wordpress.com/2018/02/28/estrutura-da-bncc/.
Acesso em: 27 abr 2023.

MOTA, I. F. S.; ROCHA, G. O. R.; MILÉO, I. O componente língua portuguesa


nas três versões da BNCC para os anos finais do ensino fundamental. Revista
Linguagem, Educação e Sociedade, [S. l.], v. 26, n. 52, p. 113-146, 2022. DOI:
10.26694/rles.v26i52.3136. Disponível em:

6
https://periodicos.ufpi.br/index.php/lingedusoc/article/view/3136. Acesso em: 25
abr. 2023.

NEIRA, M. G.. Terceira Versão da BNCC: retrocesso político e pedagógico.


2017. (Apresentação de Trabalho/Congresso). Disponível em:
«https://www.gpef.fe.usp.br/teses/marcos_38.pdf.». Acesso em: 27 abr 2023.

SCHMITT, R.; PINTON, F. Fundamentos pedagógicos de Língua Portuguesa na


BNCC: uma análise crítica de discursos. Revista Desenredo, v. 17, n. 2, 19 jun.
2021.

Você também pode gostar