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Língua portuguesa nos anos finais do

Ensino Fundamental: práticas de


linguagem, objetos de conhecimento e
habilidades

Apresentação
A área de Linguagens da BNCC é composta pelos componentes curriculares: Língua Portuguesa,
Arte, Educação Física e Língua Inglesa (inserida nos anos finais). Para essa área, são definidas seis
competências específicas que se relacionam com as dez competências gerais do documento. O
objetivo é nortear a (re)elaboração de currículos para que a formação seja integral e contemple as
especificidades nacionais, locais e internacionais, ampliando o repertório dos estudantes. Agora,
nos anos finais do Ensino Fundamental, a proposta é ampliar a complexidade dos conhecimentos
até então desenvolvidos nas etapas iniciais de formação.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai refletir sobre as habilidades a serem desenvolvidas
nessa etapa de formação. Para isso, você vai identificar os componentes curriculares relacionados
com a formação nos anos finais do Ensino Fundamental, com foco na ampliação da complexidade
do processo de ensino-aprendizagem. Por fim, você vai observar algumas práticas pedagógicas para
entender a BNCC em uso.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Apontar as habilidades esperadas pela BNCC no ensino de Língua Portuguesa nos anos finais
do Ensino Fundamental.
• Identificar os componentes curriculares inseridos nessa etapa do processo de ensino-
aprendizagem.
• Avaliar práticas pedagógicas que desenvolvam maior criticidade dos estudantes.
Desafio
Trabalhar com textos multissemióticos é a indicação feita pela BNCC. O objetivo é construir
conhecimento com os alunos de forma que eles entendam que o texto se formaliza além da palavra
escrita. O texto existe em um artigo de jornal, em um outdoor, em uma imagem publicada no
Instagram, em um compartilhamento no Snapchat, em um podcast, etc. O desafio, no entanto, é
elaborar propostas pedagógicas com o uso desses diferentes textos. Como realizar essa ação na
prática?

Imagine que você atua como docente de Língua Portuguesa em quatro turmas de 8.o ano. De
forma alinhada com os princípios da BNCC, desenvolva uma proposta pedagógica que trabalhe o
tema educação por meio de textos multissemióticos, que deverão englobar oralidade, leitura,
análise linguística e semiótica e produção textual.
Infográfico
A BNCC apresenta competências, habilidades e objetos de aprendizagem de acordo com cada
etapa de formação. Para os anos finais, essas delimitações, considerando o componente curricular
de Língua Portuguesa, estão relacionadas ao trabalho com diferentes gêneros textuais, voltados
para oralidade, leitura, produção textual e análise linguística/semiótica. Mas de que forma o
professor pode construir práticas pedagógicas que desenvolvam a criticidade dos estudantes?

No Infográfico a seguir, são apresentadas algumas sugestões para desenvolvimento de currículos


considerando as habilidades indicadas pela BNCC. O objetivo desta proposta é mobilizar a ação do
docente para que ele considere as habilidades e desenvolva um trabalho diferenciado no seu
contexto de atuação.
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conteúdo ou clique no
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Conteúdo do livro
A Base Nacional Comum Curricular apresenta norteadores para a (re)formulação dos currículos
escolares. Nos anos finais do Ensino Fundamental, o trabalho com a Língua Portuguesa faz parte da
área de Linguagens, junto a outros três componentes curriculares: Arte, Educação Física e Língua
Inglesa. A língua estrangeira é inserida nessa etapa e tem como objetivo ampliar a formação dos
estudantes, para que eles tenham acesso a diferentes fontes de informação e, também, possam ter
a oportunidade de mobilidade internacional, caso tenham esse interesse em formação futura. A
centralidade do trabalho está no texto e, tendo ele como base, os currículos devem inserir uma
diversidade de trabalhos que considerem as especificidades locais para valorização das diferentes
produções de linguagem.

No capítulo Língua Portuguesa nos anos finais do Ensino Fundamental: práticas de linguagem,
objetos de conhecimento e habilidades, da obra Prática pedagógica e metodologia do ensino de Língua
e Literatura, você vai refletir sobre essas e outras questões a fim de entender a proposta da BNCC e
levá-la para a sua prática docente, considerando as etapas finais do Ensino Fundamental e as
práticas pedagógicas para esse contexto de formação.

Boa leitura.
PRÁTICA
PEDAGÓGICA E
METODOLOGIA DO
ENSINO DE LÍNGUA
E LITERATURA

Nadia Studzinski Estima de Castro


Língua portuguesa nos
anos finais do ensino
fundamental: práticas de
linguagem, objetos de
conhecimento e habilidades
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Apontar as habilidades esperadas pela BNCC no ensino de língua


portuguesa nos anos finais do ensino fundamental.
 Identificar os componentes curriculares inseridos nesta etapa do
processo de ensino-aprendizagem.
 Avaliar práticas pedagógicas que desenvolvam maior criticidade dos
estudantes.

Introdução
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) tem caráter normativo e apre-
senta parâmetros a serem seguidos pelas escolas para a formulação dos
currículos. Essas orientações visam à progressão do conhecimento com
a consolidação das aprendizagens anteriores e a ampliação das práticas
em cada uma das etapas de formação.
Neste capítulo, você vai estudar o processo de ensino-aprendizagem
de língua portuguesa nos anos finais do ensino fundamental. Primeira-
mente, você vai conhecer quais são as habilidades previstas na BNCC
em relação à língua portuguesa nesta etapa de ensino. Essas habilida-
des constituem os componentes curriculares dos anos finais do ensino
fundamental, que você vai ver em seguida. Por fim, com base no que
foi estudado, você vai conferir como trabalhar a língua portuguesa em
sala de aula de modo a desenvolver a capacidade crítica dos estudantes.
2 Língua portuguesa nos anos finais do ensino fundamental: práticas de linguagem, ...

1 Língua portuguesa nos anos finais do ensino


fundamental segundo a BNCC
Para as práticas de linguagem, a BNCC (BRASIL, 2018) considera funda-
mental a ampliação da autonomia intelectual, a compreensão das normas e
os interesses pela vida social. Dessa forma, possibilita-se que os estudantes
tenham acesso a sistemas mais amplos, que considerem as relações entre os
sujeitos, a natureza, a história, as tecnologias e o ambiente (BRASIL, 2018).
De acordo com a BNCC, os estudantes dos anos finais do ensino funda-
mental estão em uma idade de “[…] transição entre infância e adolescência,
marcada por intensas mudanças decorrentes de transformações biológicas,
psicológicas, sociais e emocionais” (BRASIL, 2018, p. 60). Desse modo:

As mudanças próprias dessa fase da vida implicam a compreensão do ado-


lescente como sujeito em desenvolvimento, com singularidades e formações
identitárias e culturais próprias, que demandam práticas escolares diferencia-
das, capazes de contemplar suas necessidades e diferentes modos de inserção
social (BRASIL, 2018, p. 60).

Isso precisa ser considerado na organização dos currículos escolares e


impacta nos planejamentos de aula. Ao longo dos anos finais do ensino funda-
mental, os estudantes enfrentam desafios que são considerados como de maior
complexidade, principalmente em relação à necessidade de apropriação das
diferentes lógicas de organização dos conhecimentos que estão relacionados
com as áreas. Pressupõe-se uma maior especialização e, portanto, é válido,
nos vários componentes curriculares, “[…] retomar e ressignificar as aprendi-
zagens do ensino fundamental (anos iniciais) no contexto das diferentes áreas,
visando ao aprofundamento e à ampliação de repertórios dos estudantes”
(BRASIL, 2018, p. 60).
A BNCC (BRASIL, 2018) define competência como a mobilização de co-
nhecimentos, compreendendo conceitos e procedimentos; habilidades que estão
relacionadas com práticas cognitivas e socioemocionais; atitudes e valores.
Todos esses conhecimentos devem operar para resolver demandas complexas
da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho.
Segundo à BNCC, “As habilidades expressam as aprendizagens essenciais
que devem ser asseguradas aos alunos nos diferentes contextos escolares”
(BRASIL, 2018, p. 29). As habilidades esperadas pela BNCC (BRASIL,
2018) em relação à língua portuguesa nos anos finais do ensino fundamental,
portanto, estão relacionadas à garantia do desenvolvimento das competências
Língua portuguesa nos anos finais do ensino fundamental: práticas de linguagem, ... 3

e a diferentes objetos de conhecimento (conteúdos, conceitos e processos),


organizados em unidades temáticas.
Para formular as habilidades, a BNCC segue uma estrutura fixa. Como
exemplo de como essa estrutura deve ser, veja na Figura 1 uma habilidade
esperada para a disciplina de história.

Figura 1. Estrutura das habilidades na BNCC.


Fonte: BNCC (BRASIL, 2018, p. 29).

O primeiro elemento da habilidade é um verbo, que explicita o processo


cognitivo envolvido. O verbo é seguido de um complemento, que explicita
o objetivo de conhecimento mobilizado na habilidade. Por fim, aparecem os
modificadores do verbo e do complemento, que explicitam o contexto e/ou
um maior detalhamento da aprendizagem esperada.
Agora, veja no Quadro 1 algumas das habilidades esperadas pela BNCC
para língua portuguesa nos anos finais do ensino fundamental.
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Quadro 1. Habilidades de língua portuguesa nos anos finais do ensino fundamental se-
gundo a BNCC

Língua portuguesa do 6º ao 9º ano

Campo: jornalístico-midiático
Prática de linguagem: leitura

(EF69LP01) Diferenciar liberdade de expressão de discursos de


ódio, posicionando-se contrariamente a esse tipo de discurso e
vislumbrando possibilidades de denúncia quando for o caso.

(EF69LP02) Analisar e comparar peças publicitárias variadas (cartazes, folhetos,


outdoor, anúncios e propagandas em diferentes mídias, spots, jingle, vídeos, etc.),
de forma a perceber a articulação entre elas em campanhas, as especificidades
das várias semioses e mídias, a adequação dessas peças ao público-alvo, aos
objetivos do anunciante e/ou da campanha e à construção composicional e
estilo dos gêneros em questão, como forma de ampliar suas possibilidades
de compreensão (e produção) de textos pertencentes a esses gêneros.

Campo: vida pública


Prática de linguagem: produção de textos

(EF69LP22) Produzir, revisar e editar textos reivindicatórios ou propositivos


sobre problemas que afetam a vida escolar ou da comunidade,
justificando pontos de vista, reivindicações e detalhando propostas
(justificativa, objetivos, ações previstas etc.), levando em conta seu
contexto de produção e as características dos gêneros em questão.

(EF69LP23) Contribuir com a escrita de textos normativos, quando houver esse


tipo de demanda na escola — regimentos e estatutos de organizações da
sociedade civil do âmbito da atuação das crianças e jovens (grêmio livre, clubes
de leitura, associações culturais etc.) — e de regras e regulamentos nos vários
âmbitos da escola — campeonatos, festivais, regras de convivência, etc., levando
em conta o contexto de produção e as características dos gêneros em questão.

(Continua)
Língua portuguesa nos anos finais do ensino fundamental: práticas de linguagem, ... 5

(Continuação)

Quadro 1. Habilidades de língua portuguesa nos anos finais do ensino fundamental se-
gundo a BNCC

Língua portuguesa do 6º ao 9º ano

Campo: práticas de estudo e pesquisa


Prática de linguagem: oralidade

(EF69LP38) Organizar os dados e informações pesquisados em painéis


ou slides de apresentação, levando em conta o contexto de produção,
o tempo disponível, as características do gênero apresentação oral, a
multissemiose, as mídias e tecnologias que serão utilizadas, ensaiar a
apresentação, considerando também elementos paralinguísticos e cinésicos
e proceder à exposição oral de resultados de estudos e pesquisas, no tempo
determinado, a partir do planejamento e da definição de diferentes formas
de uso da fala — memorizada, com apoio da leitura ou fala espontânea.

(EF69LP39) Definir o recorte temático da entrevista e o entrevistado,


levantar informações sobre o entrevistado e sobre o tema da entrevista,
elaborar roteiro de perguntas, realizar entrevista, a partir do roteiro, abrindo
possibilidades para fazer perguntas a partir da resposta, se o contexto
permitir, tomar nota, gravar ou salvar a entrevista e usar adequadamente
as informações obtidas, de acordo com os objetivos estabelecidos.

Fonte: Adaptado de BNCC (BRASIL, 2018).

Estes são apenas alguns exemplos das habilidades apresentadas no do-


cumento. O que podemos inferir é que, nessa etapa de formação, busca-se
a ampliação do contato dos estudantes com os gêneros textuais que estão
relacionados com os vários campos de atuação e as várias disciplinas. Pri-
meiramente, há as práticas de linguagem vivenciadas pelos jovens e, depois,
ampliam-se essas práticas na busca por outras experiências. Para a BNCC
(BRASIL, 2018, p. 136):

Como consequência do trabalho realizado em etapas anteriores de escola-


rização, os adolescentes e jovens já conhecem e fazem uso de gêneros que
circulam nos campos das práticas artístico-literárias, de estudo e pesquisa,
jornalístico-midiático, de atuação na vida pública e campo da vida pessoal,
cidadãs, investigativas.
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Portanto, nos anos finais, é aprofundado o tratamento dos gêneros que


circulam na esfera pública, nos campos jornalístico-midiático e de atuação
na vida pública. Os gêneros jornalísticos (informativos e opinativos), por
exemplo, passam a ter uma abordagem centrada em estratégias linguístico-
-discursivas e semióticas voltadas para a argumentação e persuasão. Nessas
análises, são incluídas práticas consideradas contemporâneas relacionadas a
curtir, comentar, redistribuir, publicar notícias, curar, etc. A dinâmica das redes
sociais também ganha espaço, e a questão da confiabilidade da informação
passa a ter destaque nessa etapa de formação.
Por fim, além das habilidades de leitura e produção relacionadas a textos
impressos, a BNCC passa a incorporar as habilidades de trato de hipertextos
e ferramentas de edição de textos, áudio, vídeo e produções, que “[…] podem
prever postagem de novos conteúdos locais que possam ser significativos para
a escola ou comunidade ou apreciações e réplicas a publicações feitas por
outros” (BRASIL, 2018, p. 136). Toda essa dinâmica busca promover uma
formação cidadã baseada em um trato ético no debate de ideias.

Cada habilidade na BNCC é identificada por um código alfanumérico, como você


pode observar na Figura 2.

Figura 2. Identificação das habilidades de acordo com a BNCC.


Fonte: BNCC (BRASIL, 2018, p. 30).
Língua portuguesa nos anos finais do ensino fundamental: práticas de linguagem, ... 7

2 Componentes curriculares de língua


portuguesa nos anos finais do ensino
fundamental
Na BNCC, a área de linguagens é composta pelos seguintes componentes
curriculares: língua portuguesa, arte, educação física e língua inglesa (este
último é inserido para os anos finais) (BRASIL, 2018, p. 63).
Para o componente de língua portuguesa, além do detalhamento anterior
sobre as habilidades, os conhecimentos sobre a língua, sobre as demais semioses
e sobre a norma-padrão se articulam aos demais eixos em que se organizam os
objetivos de aprendizagem e desenvolvimento de língua portuguesa. Portanto,
as abordagens “[…] linguística, metalinguística e reflexiva ocorrem sempre
a favor da prática de linguagem que está em evidência nos eixos de leitura,
escrita ou oralidade” (BRASIL, 2018, p. 139). Os conhecimentos sobre a língua,
as demais semioses e a norma-padrão devem ser abordados na associação
deles com as práticas de linguagem (língua em uso), de forma a proporcionar
reflexão sobre o funcionamento da língua no contexto das diversas práticas.
O componente curricular de arte, nos anos finais do ensino fundamental,
busca assegurar a ampliação das interações dos estudantes com as diversas
manifestações artísticas e culturais, sejam nacionais, sejam internacionais,
relacionadas com diferentes épocas e contextos. Para a BNCC (BRASIL, 2018),
essas práticas podem ocupar os mais diversos espaços da escola e estender-se
para o entorno da escola, de forma a favorecer as relações com a comunidade.
O diferencial, nesta fase, está na maior sistematização dos conhecimentos e
na oferta de experiências diversificadas relacionadas à cada linguagem. Como
integrante da área de linguagens, esse componente curricular pode contribuir
para “[…] o aprofundamento das aprendizagens nas diferentes linguagens — e
no diálogo entre elas e com as outras áreas do conhecimento —, com vistas
a possibilitar aos estudantes maior autonomia nas experiências e vivências
artísticas” (BRASIL, 2018, p. 205).
Nessa mesma lógica de aprofundamento dos saberes anteriores, o com-
ponente curricular de educação física é entendido, nesta etapa de formação,
como aquele que “[…] tematiza as práticas corporais em suas diversas formas
de codificação e significação social, entendidas como manifestações das pos-
sibilidades expressivas dos sujeitos, produzidas por diversos grupos sociais no
decorrer da história” (BRASIL, 2018, p. 213). As práticas corporais devem ser
abordadas como fenômeno cultural dinâmico, diversificado, pluridimensional,
singular e contraditório. Assim, assegura-se aos estudantes a (re)construção
de um conjunto de conhecimentos responsáveis por ampliar a consciência
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em relação aos movimentos e aos recursos para um maior cuidado de si e dos


outros. Desenvolve-se, desse modo, a autonomia, com foco na “[…] apropriação
e utilização da cultura corporal de movimento em diversas finalidades huma-
nas, favorecendo sua participação de forma confiante e autoral na sociedade”
(BRASIL, 2018, p. 213).
O componente de língua inglesa, inserido apenas nos anos finais do ensino
fundamental, busca oportunizar para o estudante, em conjunto com a língua
portuguesa, o domínio de um idioma estrangeiro para possibilitar acesso a
diferentes saberes linguísticos. Isso maximiza a participação nas sociedades e
contribui para o exercício da cidadania ativa. Inclui-se, então, a ampliação das
possibilidades de interação e de mobilidade para os percursos dos estudantes,
de forma a incluir o contexto internacional como alternativa de continuidade
da formação. Veja a seguir as implicações do ensino de língua inglesa.

1. Permite estudar as relações entre língua, território e cultura, na medida


em que os falantes de inglês já não se encontram apenas nos países em
que essa é a língua oficial.
2. Amplia a visão de letramento, ou melhor, dos multiletramentos, conce-
bida também nas práticas sociais do mundo digital — no qual saber a
língua inglesa potencializa as possibilidades de participação e circula-
ção — que aproximam e entrelaçam diferentes semioses e linguagens
(verbal, visual, corporal, audiovisual), em um contínuo processo de
significação contextualizado, dialógico e ideológico.
3. Abordagens de ensino. Situar a língua inglesa em seu status de língua
franca implica compreender que determinadas crenças — como a de que
há um “inglês melhor” para se ensinar, ou um “nível de proficiência”
específico a ser alcançado pelo aluno — precisam ser relativizadas
(BRASIL, 2018, p. 242).

A integração entre os componentes curriculares acontece de forma que o


objetivo do campo seja atendido: o de capacitar e habilitar os estudantes para
uma ação cidadã a partir do conhecimento da língua em uso, dos movimentos
do corpo, do espaço que ocupam no mundo, na interação consigo e com os
outros, pela leitura e produção dos mais diversos textos.
Língua portuguesa nos anos finais do ensino fundamental: práticas de linguagem, ... 9

3 Práticas pedagógicas para língua portuguesa


nos anos finais do ensino fundamental
Para o componente de língua portuguesa, devem ser elaboradas práticas de
leitura e escrita com base nos mais diversos gêneros textuais. A seguir, vamos
analisar alguns exemplos de práticas pedagógicas para pensar criticamente
sobre como utilizar as orientações da BNCC no planejamento de aula.
Uma primeira possibilidade está relacionada à interpretação de textos
multimodais. Com o auxílio de materiais gráficos diversos, como propagan-
das, quadrinhos, fotos, entre outros, o professor convida os estudantes para
a interpretação dos elementos verbais e não verbais que se fazem presentes
nessas práticas de linguagem. Essas práticas utilizam a palavra escrita e outros
recursos para atingir os objetivos de comunicação. Por exemplo, nas tirinhas,
os balões de fala e a expressividade representam as figuras de pessoas. Esse
trabalho deve iniciar com uma reflexão sobre produções multimodais de
forma a esclarecer para os alunos o que as configura, para que os estudantes
entendam que o texto não é construído apenas pela escrita. O professor pode
apresentar diversos exemplos de produções multimodais para trabalhar com
o conceito de materialização da linguagem escrita, oral, imagética e também
na articulação delas, quando se fazem presentes de forma múltipla. Outdoors,
placas, cartazes e publicações na internet oferecem muitas ideias para esse
trabalho.
Essa sugestão de prática pedagógica é válida para desenvolvimento da
habilidade de reconhecer a utilização de elementos gráficos, ou seja, não
verbais, como forma de apoiar a construção de sentido nos processos de leitura
e interpretação de textos que fazem uso das linguagens verbal e não verbal.
Charges com temáticas cotidianas, atualizadas e contextualizadas são uma
excelente opção de escolha de texto para esse trabalho. Infográficos também
devem ser selecionados, pois apresentam importantes informações de forma
diferenciada e ampliam a noção de textos multimodais.
Outra sugestão de atividade está centrada na inferência de informações
implícitas nos textos. Conhecimentos prévios podem ser necessários, da mesma
forma que indícios presentes no texto que direcionam o estudante para espaços
que estão além do próprio texto. No 6º e no 7º ano, esse trabalho é indicado com
textos essencialmente verbais, mas que contenham indicativos que mobilizam
a leitura para além dele. São pistas que o texto oferece para plena interpretação
das informações. Nessa prática, o aluno deverá mobilizar o seu conhecimento
para decifrar as pistas que o texto apresenta. Para iniciar esse trabalho, o
professor pode sugerir que os alunos pesquisem sobre dois conceitos: implícito
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e explícito. Depois, é possível partir para exemplos de informações explícitas


e implícitas em textos curtos. Em seguida, para protagonismo do aluno, ele
pode ser desafiado a interpretar um infográfico, por exemplo. A partir das
informações do infográfico, o estudante deve construir o seu próprio texto
interpretativo e argumentativo.
Essas são apenas algumas sugestões de práticas contextualizadas com a
BNCC. O objetivo de apresentá-las é de apenas exemplificar de que forma é
possível levar para a prática as propostas da BNCC, considerando uma formação
integral e cidadã. Lembre-se de sempre observar o seu contexto de atuação
e as produções de linguagem locais para que elas sejam também valorizadas
no espaço da sala de aula.

BRASIL. Ministério da Educação. Base nacional comum curricular. Brasília, DF, 2018. Dis-
ponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_ver-
saofinal_site.pdf. Acesso em: 12 maio 2020.

Leituras recomendadas
AIUB, T. (org.). Português: práticas de leitura e escrita. Porto Alegre: Penso, 2015.
FÁVERO, L. L. Oralidade e escrita: perspectivas para o ensino de língua materna. 3. ed.
São Paulo: Cortez, 2002.
KATO, M. A. O aprendizado da leitura. São Paulo: Martins Fontes, 1985.
KOCH, I. G. V. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2012.
KOCH, I. G. V. O texto e a construção dos sentidos. 9. ed. São Paulo: Contexto, 2008.
SÁNCHEZ MIGUEL, E.; GARCÍA PÉREZ, J. R.; PARDO, J. R. Leitura na sala de aula: como
ajudar os professores a formar bons leitores. Porto Alegre: Penso, 2012.
SARAIVA, J. I. A.; MÜGGE, E. Literatura na escola: propostas para o ensino fundamental.
Porto Alegre: Artmed, 2006.
ZILBERMAN, R. As letras e seus profissionais. In: JOBIM, J. L. et al. Sentidos dos lugares.
Rio de Janeiro: ABRALIC, 2005. p. 17-41.
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Dica do professor
A Base Nacional Comum Curricular define competências gerais, mas há também competências
específicas para a área de Linguagens e, da mesma forma, para Língua Portuguesa. É importante
conhecê-las para que práticas pedagógicas sejam construídas visando a desenvolver a criticidade
dos estudantes.

Nesta Dica do professor, você é convidado a conhecer as competências gerais e as competências


específicas da área de Linguagens e de Língua Portuguesa. Ainda, você vai ter acesso a algumas
indicações para a prática considerando essas competências.

Boa reflexão.

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Exercícios

1) De acordo com a BNCC (2018), as práticas de linguagem devem ser consideradas em sua
pluralidade. Produções locais devem ser valorizadas, assim como as produções consideradas
canônicas. Sobre as práticas de linguagem, analise as asserções a seguir:

I. Considera-se fundamental a ampliação da autonomia intelectual.


II. Não se considera fundamental a compreensão das normas.
III. Considera-se fundamental o interesse pela vida social.

Assinale a alternativa correta:

A) Apenas a I é verdadeira.

B) Apenas a II é verdadeira.

C) Apenas a III é verdadeira.

D) Apenas a II e a III são verdadeiras.

E) Apenas a I e a III são verdadeiras.

2) Para a BNCC (2018), as mudanças próprias dessa fase da vida implicam a compreensão do
adolescente como sujeito em desenvolvimento, com singularidades e formações identitárias
e culturais próprias, que demandam práticas escolares diferenciadas, capazes de contemplar
suas necessidades e diferentes modos de inserção social.

Sobre qual fase escolar trata esse trecho do documento?

A) Educação Infantil.

B) Anos iniciais do Ensino Fundamental.

C) Ensino Médio.

D) Anos finais do Ensino Fundamental.

E) Ensino Fundamental, do 1.o ao 9.o ano.

3)
De acordo com a BNCC, ao longo do Ensino Fundamental (anos finais), os estudantes
enfrentam diferentes desafios. Sobre essa etapa, analise as asserções a seguir:

I. Ao longo do Ensino Fundamental (anos finais), os estudantes enfrentam desafios que são
considerados menos complexos.

II. Ao longo do Ensino Fundamental (anos finais), os estudantes enfrentam desafios que são
considerados mais complexos, principalmente sobre a necessidade de apropriação das
diferentes lógicas de organização dos conhecimentos que estão relacionados com as áreas.

III. Pressupõe-se uma maior especialização e, portanto, é válido, nos vários componentes
curriculares, “retomar e ressignificar as aprendizagens do Ensino Fundamental (anos Iniciais)
no contexto das diferentes áreas, visando ao aprofundamento e à ampliação de repertórios
dos estudantes”.

Assinale a alternativa correta:

A) Apenas a I está correta.

B) Apenas a II está correta.

C) Apenas a II e a III estão corretas.

D) Apenas a III está correta.

E) Apenas a I e a III estão corretas.

4) A BNCC traz um número significativo de habilidades para cada componente curricular.


Todas elas apresentam uma estruturação com elementos que as compõem. Sendo assim, na
habilidade "diferenciar liberdade de expressão de discursos de ódio, posicionando-se
contrariamente a esse tipo de discurso e vislumbrando possibilidades de denúncia quando
for o caso", identifique os elementos que a compõem e orientam o trabalho a ser feito com
base no desenvolvimento dessa habilidade:

A) "Diferenciar" e "posicionar-se" são elementos que explicitam o processo cognitivo.

B) "Liberdade de expressão" e "discursos de ódio" são elementos que explicitam o processo


cognitivo.

C) "Diferenciar" e "posicionar-se" são elementos que explicitam o objeto de conhecimento.

D) "Diferenciar" e "posicionar-se" são complementos de especificação do contexto.


E) "Liberdade de expressão" e "discursos de ódio" são elementos que explicitam modificador,
contexto e especificação da aprendizagem esperada.

5) Para a BNCC, o caráter formativo adotado pelo componente de Língua Inglesa inscreve essa
aprendizagem em uma “perspectiva de educação linguística, consciente e crítica, na qual as
dimensões pedagógicas e políticas estão intrinsecamente ligadas” (BRASIL, 2018, p. 241).

Para o currículo, a BNCC destaca três implicações. Quais são elas?

I. Caráter normativo
II. Caráter formativo
III. Ampliação da noção de alfabetização
IV. Ampliação da visão de letramento
V. Abordagem de ensino

Assinale a alternativa que contém as respostas corretas:

A) I, IV, V.

B) II, IV, V.

C) I, II, III.

D) I, III, V.

E) II, III, IV.


Na prática
Para trabalhar com leitura, interpretação e produção de textos, considerando os diversos gêneros
existentes, é válido considerar uma dinâmica que utilize, por exemplo, leitura e interpretação de
gráficos e infográficos. A Internet possibilita acesso a diferentes materiais. Sites confiáveis como o
do IBGE compartilham informações importantes, até mesmo em formato de infográfico, que podem
ser acessadas e utilizadas no trabalho de diferentes gêneros de textos.

Neste Na Prática é apresentada uma proposta de trabalho com o uso de um infográfico para
construção de conhecimento e posterior produção textual. Essa atividade pode ser utilizada em sala
de aula com as devidas adaptações ao contexto e ao tema a ser abordado. Trata-se de uma
proposta inicial, mas, como continuação, pode ser construída com outras disciplinas.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!
Saiba +
Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do professor:

BNCC anos finais do Ensino Fundamental


O Ministério da Educação compartilha diferentes materiais que são complementares à BNCC a fim
de contribuir com a capacitação dos professores. No link a seguir, você encontra um podcast sobre
os anos finais do Ensino Fundamental e também a apresentação do projeto “O conhecimento tem
poder de mudar vidas”. Acesse e confira.

Aponte a câmera para o código e acesse o link do conteúdo ou clique no código para acessar.

BNCC
Quer conhecer um pouco mais o texto da BNCC referente aos componentes da área de Linguagens
para os anos finais do Ensino Fundamental? Então, acesse o link a seguir e selecione os
componentes "Língua Portuguesa", "Artes", "Educação Física" e "Língua Inglesa". Em seguida,
selecione os anos finais e acesse a planilha. Essa é uma ferramenta de download da Base Nacional
Comum Curricular (BNCC), em formato editável. A partir da seleção realizada, é possível baixar uma
tabela com os dados desejados e editá-la por meio de um editor de planilhas.

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Explore as Práticas
Neste Caderno são apresentados relatos de práticas de educadores que foram indicados ao Prêmio
Professores do Brasil. Essas práticas foram curadas e organizadas por etapa com o objetivo de
evidenciar os trabalhos já realizados nas escolas e sua relação com a Base Nacional Comum
Curricular
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