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NOVOS MODELOS CURRICULARES PARA A EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA: resenha do livro “Instructional Models for Physical Education – 3ª Edição” View project
All content following this page was uploaded by Luiz Gustavo Bonatto Rufino on 11 April 2023.
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Algumas representações gráficas sobre
as formas de comunicação encontradas
em caversas durante a pré-histórica
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Evidentemente, documentos como a Base Nacional Comum Curricular –
BNCC, compreendem a importância da linguagem assumindo-a como eixo es-
truturante do currículo escolar. De acordo com esse documento institucional,
as diferentes linguagens podem ser classificadas dentro de uma mesma área,
a qual apresenta competências específicas e partilha processos semelhantes
de estrutura e constituição. Cabe salientar que além da área das Linguagens, o
documento apresenta ainda as seguintes áreas: Matemática, Ciências da Natu-
reza, Ciências Humanas e Ensino Religioso.
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Componentes curriculares Língua
relacionados a Área de Linguagens Portuguesa
segundo a BNCC
Língua
Inglesa
Área de
BNCC
Linguagens
Arte
Educação
Fonte: BNCC (2018).
Física
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A EDUCAÇÃO FÍSICA DENTRO
DA ÁREA DE LINGUAGENS
Assim como em documentos anteriores, a BNCC, como vimos, considera a
Educação Física como parte integrante da grande área de Linguagens. É muito im-
portante frisar que esse movimento de relação desse componente curricular com
essa área específica advém de pelo menos vinte anos. Isso porque durante o pro-
cesso de construção de alguns documentos institucionais de caráter nacional, bem
como de outros, em esferas estaduais e municipais, além de vários livros didáticos
e instrucionais, essa relação vem sendo evidenciada cada vez mais.
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Contudo, desde os documentos supracitados tem-se uma outra compreensão
de Educação Física, alicerçada muito mais em domínios socioculturais e pedagógicos
do que apenas biológicos. Não que toda a relação entre a Educação Física e as ciên-
cias biológicas, tais como a Fisiologia, a Bioquímica, a Biomecânica, a própria Biologia,
entre outras, não seja fundamental. Contudo, entendeu-se, com o passar do tempo,
que esse componente, sobretudo dentro da escola, não deveria se resumir apenas
aos seus aspectos biológicos. Entender que a Educação Física é, antes de tudo, uma
forma de linguagem é uma mudança muito grande e extremamente importante,
fato que nos leva à necessidade de refletir mais sobre isso.
CORRIDA:
Gesto corporal com
sentidos e significados
para além das questões
fisiológicas
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Para conseguir chegar a esse nível de compreensão da Educação Física como
uma forma de linguagem humana foi necessário muito desenvolvimento dentro
do campo pedagógico e científico. Foram muitas décadas de reflexões e de um tra-
balho árduo dos pesquisadores, professores de escolas, fazedores de políticas pú-
blicas e aberturas representadas tanto pela ida de pessoas para o exterior, quanto
pelo recebimento de uma importante parcela da produção acadêmica e também
de pesquisadores internacionais que vieram ao nosso país, especialmente a partir
do final da década de 1980.
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Quando pensamos no fenômeno futebol, por exemplo, temos exatamente essas
qualificações. Trata-se de uma prática cultural, uma vez que é parte integrante da
cultura humana. É dinâmica, já que foi se transformando historicamente. É diver-
sificada e pluridimensional, já que obedece a interesses distintos quando pensa-
da nos moldes de uma “pelada na rua” ou de um campeonato oficial na Copa do
Mundo. É também singular, já que os sentidos atribuídos ao futebol mudam de
pessoa para pessoa (uns podem amar, outros não gostar, e assim por diante). E,
por fim, não deixa de ser um fenômeno contraditório: estimula a saúde ou a vio-
lência? Deve ser praticado por quem? Quais são as condições para a prática? Uma
única prática corporal como o futebol, por exemplo, agrega um amplo conjunto de
formas de expressão cultural que merece ser devidamente tematizado na escola,
durante as aulas de Educação Física.
FUTEBOL:
exemplo de prática corporal que pode ser compreendida
como um fenômeno e uma expressão cultural
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Por detrás de toda essa fundamentação, está a ideia de que essa forma de enten-
dimento da Educação Física, fortemente ligada a compreensão de cultura corporal
de movimento e de práticas corporais, é uma forma de linguagem muito específica.
Assim, podemos compreender que as práticas corporais e sua multiplicidade de sen-
tidos e de significados operam como formas de comunicação do ser humano consi-
go mesmo, com os demais e também com o mundo como um todo.
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Dessa forma, o objetivo do presente texto é compreender e analisar o lugar
da Educação Física dentro da área de Linguagens segundo a BNCC e, a partir disso,
apresentar propostas de compreensão e exemplos práticos que possam contribuir
com os processos de ensino e aprendizagem na escola, bem como com as práticas
pedagógicas de professores e professoras desse componente curricular no Brasil.
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Assim, é possível afirmar que a linguagem corporal apresenta uma gramática
de interação própria. Aliás, é muito comum dizer que nosso corpo “fala”. Às vezes
dizemos que estamos bem e alegres quando nosso corpo se mostra para baixo e
entristecido. Outras vezes, falamos que não estamos interessados em algo, mas
nosso corpo se movimenta para se aproximar e ouvir melhor. A todo momento, há
formas de expressão corporal e de interação com os movimentos que demonstram
que não precisamos necessariamente falar para nos comunicar. Um olhar, um ges-
to, um silêncio ou uma careta podem ser formas mais claras, diretas e efusivas do
que a mera expressão vocal ou escrita.
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e figurado. Assim, o mesmo movimento (por exemplo: um salto mortal de costas)
pode ter como sentido real (denotação) o movimento de ginástica artística. Porém,
esse mesmo salto pode ser usado, por exemplo, na comemoração de gol no fute-
bol a partir de um uso específico ligado à ideia de conotação, pois trata-se de uma
nova simbologia atribuída ao mesmo gesto corporal.
A ideia de gesto é central nesse processo. Isso porque o gesto pode ser enten-
dido como o movimento com determinado sentido e significado. Um movimento
não necessariamente apresenta um sentido claro e evidente. Podemos ter espas-
mos, movimentos diversos como sentar e levantar-se, arremessar algo na lata do
lixo sem necessariamente estarmos preocupamos com os sentidos desse movi-
mento. O gesto, por sua vez, é quando esse movimento é imbuído de sentidos.
Um arremesso de basquete é um gesto específico, usado para um determinado
fim, em uma dada circunstância, dentro de um contexto e assim sucessivamente.
Da mesma forma que fazer um agachamento na academia é um gesto específico,
diferente de simplesmente sentar ou levantar-se do sofá, por exemplo.
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Esse movimento de salto está muito presente em diversas práticas cor-
porais. Porém, apresenta finalidades diferentes de acordo com o contexto. No
primeiro caso, trata-se de um salto para transpor um determinado obstáculo,
dentro de uma unidade didática de salto em altura, ligada à prática corporal do
atletismo (esporte de marca). No segundo caso, trata-se de um salto voltado
para a prática da ginástica de demonstração. Analisando-se do ponto de vista
motor, poderíamos ver uma série de questões como base, propulsão, eficiência,
aterrisagem e finalização do movimento, etc. Porém, dentro da ideia de lingua-
gem devemos entender qual a finalidade desse gesto, se ele atendeu ao ob-
jetivo proposto, se estava ligado à prática corporal devida e, claro, como cada
pessoa que se-movimentou ficou antes, durante e após essa experiência: houve
medo e receio no início? Houve prazer e contentamento durante o processo?
Ao final, houve um conjunto de aprendizagens significativas a partir dessa vi-
vência corporal? Toda essa ideia mais ampla está sumariamente ligada ao cam-
po das linguagens.
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DOIS EXEMPLOS PRÁTICOS:
a relação da educação física
na área das linguagens
De posse de toda essa contextualização e valorização da importância entre se
compreender a Educação Física dentro da área de Linguagens, vamos nesse mo-
mento procurar entender alguns exemplos práticos de unidades didáticas que apre-
sentam como principal característica o desenvolvimento da linguagem corporal em
suas múltiplas dimensões. Trata-se de alguns projetos desenvolvidos por mim em
diferentes faixas etárias ao longo dos anos como professor de escola pública e que
podem contribuir com a clarificação e a elucidação de propostas interativas dentro
do campo da Educação Física escolar. Vamos lá?
Exemplo 1:
O corpo fala! Compreensões sobre linguagem corporal
na Educação Física e suas relações com diferentes
componentes curriculares
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Tema principal: Relação entre a linguagem corporal e suas possibilidades
no desenvolvimento das competências socioemocionais durante as aulas de
Educação Física.
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Exemplo 2:
As diferentes formas de comunicação
nos jogos esportivos coletivos
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de contracomunicação com os colegas do outro time (para que os oponentes
não entendam o que o time planeja fazer). Essa ideia é fundamental e deve ser
exemplificada e vivenciada na prática. Apresentar atividades e disputas diver-
sas 1X1 e depois ir aumentando a complexidade por meio de diferentes formas
de jogos reduzidos: 2x2, 2x1, 3x2, 3x3 e assim por diante. Estimular os alunos
a criarem formas de comunicação com os colegas (códigos semelhantes) e de
contracomunicação com os outros. Usar o espaço (quadra, por exemplo) e divi-
di-lo em diferentes espaços de jogo, reduzindo a dimensão para que haja mais
interação (por exemplo: em uma quadra tradicional é possível criar ao menos
três ou cinco miniquadras para que as equipes (duplas, trios, etc.) realizem os
jogos diversas vezes. Ao final, explicar as ideias de consciência e de tática, po-
dendo fazer uso de lousas e de quadros e também de vídeos para isso.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo principal do presente texto foi primeiramente buscar compreender
como a Educação Física pode ser compreendida e desenvolvida dentro da área
de Linguagens, particularmente a partir de sua contextualização segundo a BNCC.
Posteriormente, buscamos também exemplificar essa relação por meio de exem-
plos práticos que destacassem as possibilidades de relação entre linguagem e Edu-
cação Física.
Para isso, foi fundamental tecermos um breve relato histórico que pudesse
servir como pano de fundo para essa ideia. Vimos que nem sempre essa relação en-
tre Educação Física e linguagem foi clara e que nos últimos anos ela se intensificou
a partir de diversas políticas públicas, estudos científicos e práticas pedagógicas
de professores e professoras inseridos nos mais diversos e adversos contextos de
intervenção profissional em nosso país. Aqui cabe um destaque: apesar dessa pro-
posição de relação ter surgido dentro de um contexto específico, no caso, o Ensino
Médio, ela atualmente se estendeu para os demais níveis de ensino que compõem
a Educação Básica em nosso país. Assim, o que atualmente surgiu como uma for-
ma de organização do Ensino Médio em diferentes áreas, compreende a forma de
organização e articulação de nosso processo educativo, referendado pela BNCC.
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Finalmente, tivemos a apresentação de uma série de exemplos práticos e
também de ao menos duas sequências didáticas que tornam essa relação possível
e permitem compreender formas de vinculação da Educação Física no campo das
Linguagens. Para isso, a ideia de linguagem corporal e de suas muitas possibilida-
des pedagógicas é um item que precisa ser mais explorado não apenas nesse com-
ponente curricular, mas pela escola como um todo.
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CURRÍCULO - Luiz Gustavo Bonatto Rufino
Contato: https://www.instagram.com/luizgustavobonattorufino/
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na rede pública
www.edocente.com.br