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DIDÁTICA DO ENSINO E
AVALIAÇÃO DA
APRENDIZAGEM EM LÍNGUA
PORTUGUESA
CONTEXTUALIZANDO
Como professor, você já parou para pensar em como chegamos aos
moldes de ensino atuais da Língua Portuguesa? Para entendermos os caminhos
dessa disciplina e quais as influências que a Pedagogia e a Linguística tiveram
nesses moldes, é essencial que alguns conceitos sejam revistos para que
possamos entender quais as relações entre didática, metodologia, concepção de
língua e as mudanças no ensino de LP, assim como quais são as suas
aplicações nos métodos avaliativos e nas diretrizes oficiais, as mais recentes
deste mesmo ano de 2017.
TEMA 1 – A DIDÁTICA
Antes de entrarmos nas discussões sobre didática e ensino de Língua
Portuguesa, temos que rever alguns conceitos que serão fundamentais para um
melhor entendimento e desenvolvimento das teorias e práticas de ensino que
serão apresentadas nas próximas aulas.
Por isso, iniciaremos esta primeira aula com base na revisão de alguns
conceitos, para isso nosso primeiro assunto será o conceito de didática.
A didática é uma área do conhecimento que reflete diversos movimentos
filosóficos. Na Antiguidade, consistia em uma parte integrante do conceito de
educação e ensino, reconhecida pela expressão didática difusa por não ser
sistematizada em um campo de conhecimento. No fim da Idade Média, a
Reforma Protestante trouxe autores como Ratíquio e Comênio que
sistematizavam a “arte de ensinar para todos”, pois preocupavam-se com a
rapidez e eficácia das formas de aprendizagem. Comênio foi o responsável por
atribuir à didática um caráter pedagógico em sua publicação A Didática Magna.
Foi nesse momento que a língua materna passou a ser vista como
instrumento de mediação na aquisição de conhecimento, em suas diferentes
áreas, e é por isso que Comênio é considerado “o pai da Didática de Línguas”.
Desse momento em diante, observamos que, desde sua concepção, a
didática apresenta um caráter científico que tem como objeto de estudo os
processos de ensino-aprendizagem nos contextos educativos. Esse estudo visa
à análise dos processos educativos e a sua integração cultural para aprimorar
os métodos e a aprendizagem.
Em uma visão mais atual do processo de ensino-aprendizagem, sabemos
que ensinar não se trata apenas de transferir conhecimento, e que aprender não
se trata apenas da aquisição deste. Peletti (2004, p. 31) afirma que “as
informações são importantes, mas precisam passar por um processamento
muito complexo, a fim de se tornarem significativas para a vida das pessoas”.
Ainda hoje, uma das definições de aprendizagem mais usadas é de Schmitz
(1982, p. 53) que a explica como “um processo de aquisição e assimilação, mais
ou menos consciente, de novos padrões e novas formas de perceber, ser, pensar
e agir”.
Seguindo essa relação, podemos definir didática como a teoria e prática
do processo de ensino-aprendizagem, referindo-se às técnicas para estimular e
encaminhar, no decorrer da aprendizagem, a formação do homem consciente e
cidadão.
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possível se ter metodologia sem didática, mas não o contrário, pois não podemos
analisar e criticar sem conhecer.
Puren (1994) distingue os três sentidos do termo método: material de
ensino (livro, material elaborado pelo professor); conjunto de procedimentos e
técnicas de aula buscando um retorno do aluno (método ativo, método
tradicional); e procedimentos e técnicas que geram novos cursos originais, com
base em vertentes anteriores. Os métodos se constituem de procedimentos e
técnicas relativamente permanentes na busca por um objetivo. Já a metodologia
se situa em um nível superior, pois é constituída de métodos relacionados
historicamente com os objetivos e teorias correntes. A Didática se posiciona em
nível superior à Metodologia, pois preocupa-se de forma mais abrangente com
os processos de ensino-aprendizagem ao analisar e comparar metodologias,
adequando as escolhas aos objetivos de cada sala de aula. Resumindo,
podemos esquematizar da seguinte forma (em que “<” funciona como operador
de hierarquia): procedimentos < técnicas < métodos < metodologia < didática <
ensino-aprendizagem.
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Sabemos que existem diferentes formas de se definir uma gramática. A gramática pode ser vista de
diversas maneiras, por exemplo: o conjunto de regras internas que definem a produção e recepção de uma
língua, essas regras podem ser vista como inatas (Chomsky) ou adquiridas (Saussure e seus seguidores).
Pode também ser vista como um conjunto de regras descritas com base em uma variedade privilegiada e
que tem como intuito prescrever o uso da língua, como é o caso da gramática tradicional ou normativa. Nas
escolas, até em virtude da jornada do ensino de LP, a gramática tradicional ou normativa persistiu por muito
tempo, e ainda persiste em alguns lugares, como o principal objeto de estudo.
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descreve e prescreve regras da língua em questão em sua variedade mais
privilegiada2, considerando qualquer forma de linguagem que não se encaixe em
sua descrição, um erro.
Dessa forma, a linguística estuda uma certa língua dentro de seus
aspectos fonéticos, morfológicos, sintáticos, semânticos, pragmáticos e
sociais/psicológicos. Por isso, parte de uma concepção de língua como um
objeto em constante mudança, pois trata-se de um instrumento comunicativo que
serve a pessoas – as quais mudam e adequam esse instrumento às suas
necessidades. Uma língua que não serve à sua função social-comunicativa e
existe apenas dentro do mundo das regras gramaticais não consegue se manter
relevante e acaba “morrendo“, como foi o caso do Latim. Um outro exemplo,
também nas últimas décadas, foi a criação de uma língua de gramática
extremamente simplificada, que visava uma aquisição rápida e fácil: o
Esperanto. As expectativas eram grandes, até mesmo de que viesse a se tornar
uma língua universal, porém, por se tratar de uma língua de laboratório, o
interesse em sua aquisição foi muito pequeno, pois, em muitos casos, não seria
possível alguém se expressar com seus recursos.
Essa visão de língua viva, que sofre mudanças constantes, é o foco dos
estudos de sociolinguística. Esses estudos tornaram-se fundamentais para uma
visão mais abrangente de LP em sala de aula, que não considera apenas as
normas da gramática, mas, sim, o uso real da língua e sua característica
comunicativa. Essa visão já está presente em sala de aula e muitos dos materiais
didáticos mais atuais já apresentam temas como “variação linguística“.
O tema ainda é muito polêmico, pois muitos questionam se essa
“aceitação“ enfraqueceria o currículo e levaria ao não domínio da norma-padrão
(gramatical). Entretanto, defendemos que o respeito às diferentes formas de se
comunicar, aos diferentes sotaques e vocabulários regionais não é uma ameaça
ao ensino do Português-padrão; é, na verdade, uma forma de diminuir o
preconceito linguístico e mostrar aos alunos que não existe uma forma de
comunicação boa e outras ruins, mas, sim, formas adequadas para cada
situação comunicativa.
Diante dessas mudanças, o foco dos estudos de Língua Portuguesa
consiste hoje em situações comunicativas e nos gêneros do discurso -- a língua
2 Nas próximas aulas, veremos mais sobre as relações entre as variedades linguísticas e suas
implicações para a sala de aula.
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real colocada como objeto e a gramática como instrumento para sua melhor
compreensão. Por isso a importância dada hoje ao trabalho com o texto e não
apenas com exercícios, como os de completar seguindo as regras gramaticais.
Hoje, exploram-se desde gêneros textuais literários e privilegiados, até os
gêneros do cotidiano como piadas, e-mails, mensagens instantâneas...
Koch (1990, p. 25) demonstra a importância comunicativa quando afirma:
TEMA 3 – A AVALIAÇÃO
Como vimos acima, a concepção de língua e linguagem adotadas nos
últimos anos mudou. Assim, é preciso adotar um novo posicionamento diante
das formas de avaliação escolar. As orientações educacionais presentes no
documento PCN + ENSINO MÉDIO, do Mec, apontam que:
Nas próximas aulas, trataremos com mais detalhes dos métodos e o que
se deve considerar nas avaliações voltadas para cada um dos eixos de ensino
da Língua Portuguesa: a oralidade, a leitura, a escrita e as relações linguísticas.
3 A fator de curiosidade, em 1871 é criado o cargo de “professor de português” por decreto imperial,
fato considerado por muitos o marco inicial do ensino de Língua Portuguesa.
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o texto é inserido na disciplina que passa a priorizar o estudo do vocabulário,
interpretação e produção de textos, além do caráter gramatical, ainda visto como
principal.
Em decorrência da primeira Lei de Diretrizes em Bases, em 1970, a
premissa da disciplina de Língua Portuguesa passou novamente por mudanças
e a concepção de língua focou-se na comunicação, no uso da língua. Nesse
período surgiu a discussão sobre ensinar ou não ensinar a gramática na escola
e os textos escolhidos perderam seu caráter literário e passaram a refletir
práticas sociais: textos de jornais ou revistas, publicidade, HQs, textos de
humor… A disciplina passa então a contar com uma contribuição das ciências
linguísticas que são incluídas no currículo de formação de professores.
A influência linguística trouxe ao contexto escolar diversas reflexões sobre
o uso da língua. Primeiramente, o alerta sobre as diferentes variedades
linguísticas e a importância de seu tratamento a partir da democratização
escolar, tornando a crença de que a Língua Portuguesa é homogênea e segue
apenas o padrão privilegiado da norma-padrão. Trouxe também novas
concepções de gramática baseadas na descrição da língua, tanto falada quanto
escrita, e evidenciou a importância de a gramática ser usada no entendimento
das relações textuais que vão além da palavra e da frase e que refletem as
operações coesão e coerência de um texto.
Em decorrência dessas mudanças, as diretrizes oficiais que se seguiram
introduziram o trabalho com gêneros textuais e a importância da adequação da
língua às situações comunicativas vividas pelo aluno. Isso não quer dizer que a
gramática perdeu força e que o ensino da norma-padrão esteja ameaçado. Pelo
contrário, a norma-padrão continua tendo prioridade na preparação dos alunos
para seu futuro comunicativo, mas hoje não é mais considerada a única forma
de comunicação aceitável e privilegiada.
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bases da Educação Nacional (LDB). Foi a partir da LDB que fram instituídos os
níveis: i) educação básica - composta do Ensino Fundamental e Ensino Médio;
ii) educação superior - composta pelos cursos de nível universitário.
A LDB estabeleceu uma nova dinâmica na prática escolar como um todo,
pois vinculou a educação formal ao trabalho e ao exercício da cidadania. Com
essa mudança o estudo de Língua Portuguesa não poderia mais ser
fragmentado, limitado à decodificação e a conteúdos descontextualizados. Essa
prática, como vimos, mudou o foco do trabalho escolar da LP, que deixou de lado
o trabalho apenas com os processos da gramática normativa e passou a
considerar o texto e o discurso como objeto e meio para o conhecimento.
É através da LDB que se estabelece que todo o ensino regular será
ministrado em português e que a União, os Estados e os Municípios deveriam
elaborar, em cooperação, o Plano Nacional de Educação, para um período de
10 anos. O primeiro PNE foi elaborado em 2001, com prazo até 2010, e
conseguiu implementar o Ensino Fundamental de 9 anos – em que as crianças
têm direto a iniciar o ensino regular um ano antes, aos 6 anos – além de melhorar
os sistemas de informação e avaliação da educação nacional, com a
implementação da Prova Brasil, aplicada a cada dois anos aos alunos
matriculados no quinto e nono ano do EF, e do Sistema de Avaliação da
Educação Básica (Saeb). Essas avaliações são consideradas diagnósticas da
qualidade do ensino e têm por principal matriz de referência os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs).
Os PCNs para os anos finais do EF estabelecem os seguintes objetivos
para o ensino de Língua Portuguesa:
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leitura, a produção oral e escrita de textos e a análise linguística. Parte-se assim
de uma concepção de linguagem como forma de interação humana e de
aprendizagem.
Como a LDB requer prática pedagógica diferenciada para o Ensino Médio,
por tratar a disciplina de LP dentro da área de Linguagens, Códigos e suas
Tecnologias, há um PCN específico para esse nível de ensino que busca que os
alunos possam:
Além dos PCNs, cada estado e município conta com suas propostas
curriculares próprias que traçam as metodologias e objetivos específicos de cada
esfera educativa.
Em 2007, o MEC apresenta o Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE) como forma de avaliar e melhorar o ensino, buscando identificar quais as
redes de ensino apresentam mais fragilidade para que possam receber um maior
amparo financeiro e de gestão. O PDE passa a utilizar o Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) como termômetro de qualidade,
combinando dois indicadores: o fluxo escolar e o desempenho dos estudantes.
O PDE segue as diretrizes dos PCNs prezando a importância do trabalho
com a função social da língua, afirmando ainda que:
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professores, universalização do ensino, inclusão, erradicação do analfabetismo
e ampliação do investimento financeiro público. Apesar de já contar com vários
atrasos em suas metas e objetivos, o PNE já trouxe mudanças, uma das
principais sendo a criação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC. Trata-
se de:
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10. Valorizar a literatura e outras manifestações culturais como formas
de compreensão do mundo e de si mesmo.
FINALIZANDO
Nesta aula vimos em mais detalhes alguns conceitos, estudamos a
definição de didática e sua diferença para o estudo de Metodologia, pelos
conhecimentos englobados no âmbito da Língua Portuguesa e da importância
de suas vertentes linguísticas, compreendendo a necessidade de requisitos
avaliativos quantitativos e qualitativos bem definidos de acordo com a realidade
de aprendizagem de cada situação educativa. Vimos também como a Língua
Portuguesa foi instaurada como disciplina curricular e como algumas das
principais diretrizes oficiais percebem sua prática de ensino, passando pelas
orientações da LBD de 1996, PCNs de 1998 e 2000, até o mais novo documento
de orientação curricular, a Base Nacional Comum Curricular. Com esses
primeiros conceitos e a trajetória do ensino de Língua Portuguesa, poderemos
prosseguir, nas próximas aulas com o estudo do contexto do ensino de Língua
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Portuguesa e as relações didático-metodológicas para o trabalho de suas
principais vertentes: a oralidade, a leitura, a escrita e a análise linguística.
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REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Proposta
preliminar. terceira versão revista. Brasília: MEC, 2017. Disponível em:
<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_publicacao.pdf>.
Acesso em: 8 nov. 2017.
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