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AULA 01

DIDÁTICA DO ENSINO E
AVALIAÇÃO DA
APRENDIZAGEM EM LÍNGUA
PORTUGUESA

Profª Mariana Trautwein


CONVERSA INICIAL
Ao falarmos de Didática e Avaliação da Língua Portuguesa – termo que
será referido como LP em alguns momentos ao longo das aulas – é
imprescindível rever os conceitos que norteiam essa área de estudo. Iniciaremos
esta aula revendo alguns desses conceitos: o que é didática e sua relação com
a metodologia, o que é Língua Portuguesa e avaliação e como a união desses
conceitos pauta as orientações que veremos nas próximas aulas. No tema 4
desta aula, conheceremos um pouco mais sobre a história da disciplina de LP e,
por fim, as principais diretrizes oficiais para o ensino dessa disciplina curricular
fundamentadas na Lei de Diretrizes e Bases de 1996 até a Base Nacional
Comum Curricular, ainda em análise em 2017. Valendo-se da revisão desses
conceitos e das diretrizes de ensino, poderemos compreender melhor os
objetivos que geram as práticas de ensino que serão apresentadas no decorrer
de nossas aulas.

CONTEXTUALIZANDO
Como professor, você já parou para pensar em como chegamos aos
moldes de ensino atuais da Língua Portuguesa? Para entendermos os caminhos
dessa disciplina e quais as influências que a Pedagogia e a Linguística tiveram
nesses moldes, é essencial que alguns conceitos sejam revistos para que
possamos entender quais as relações entre didática, metodologia, concepção de
língua e as mudanças no ensino de LP, assim como quais são as suas
aplicações nos métodos avaliativos e nas diretrizes oficiais, as mais recentes
deste mesmo ano de 2017.

TEMA 1 – A DIDÁTICA
Antes de entrarmos nas discussões sobre didática e ensino de Língua
Portuguesa, temos que rever alguns conceitos que serão fundamentais para um
melhor entendimento e desenvolvimento das teorias e práticas de ensino que
serão apresentadas nas próximas aulas.
Por isso, iniciaremos esta primeira aula com base na revisão de alguns
conceitos, para isso nosso primeiro assunto será o conceito de didática.
A didática é uma área do conhecimento que reflete diversos movimentos
filosóficos. Na Antiguidade, consistia em uma parte integrante do conceito de
educação e ensino, reconhecida pela expressão didática difusa por não ser
sistematizada em um campo de conhecimento. No fim da Idade Média, a
Reforma Protestante trouxe autores como Ratíquio e Comênio que
sistematizavam a “arte de ensinar para todos”, pois preocupavam-se com a
rapidez e eficácia das formas de aprendizagem. Comênio foi o responsável por
atribuir à didática um caráter pedagógico em sua publicação A Didática Magna.
Foi nesse momento que a língua materna passou a ser vista como
instrumento de mediação na aquisição de conhecimento, em suas diferentes
áreas, e é por isso que Comênio é considerado “o pai da Didática de Línguas”.
Desse momento em diante, observamos que, desde sua concepção, a
didática apresenta um caráter científico que tem como objeto de estudo os
processos de ensino-aprendizagem nos contextos educativos. Esse estudo visa
à análise dos processos educativos e a sua integração cultural para aprimorar
os métodos e a aprendizagem.
Em uma visão mais atual do processo de ensino-aprendizagem, sabemos
que ensinar não se trata apenas de transferir conhecimento, e que aprender não
se trata apenas da aquisição deste. Peletti (2004, p. 31) afirma que “as
informações são importantes, mas precisam passar por um processamento
muito complexo, a fim de se tornarem significativas para a vida das pessoas”.
Ainda hoje, uma das definições de aprendizagem mais usadas é de Schmitz
(1982, p. 53) que a explica como “um processo de aquisição e assimilação, mais
ou menos consciente, de novos padrões e novas formas de perceber, ser, pensar
e agir”.
Seguindo essa relação, podemos definir didática como a teoria e prática
do processo de ensino-aprendizagem, referindo-se às técnicas para estimular e
encaminhar, no decorrer da aprendizagem, a formação do homem consciente e
cidadão.

1.1 A metodologia e sua relação com a didática


É comum confundir didática com metodologia, afinal ambas as áreas
estudam as técnicas e métodos dos processos de ensino-aprendizagem, porém
existe, sim, uma diferença significativa entre os termos, pois cada uma opera
em um diferente ponto de vista.
A Metodologia, de acordo com Peletti (2004, p. 43), “estuda os métodos
de ensino, classificando-os e descrevendo-os sem fazer juízo de valor. A
Didática, por sua vez, faz um julgamento ou uma crítica do valor dos métodos de
ensino” descritos pela Metodologia. O autor também reforça a ideia de que é

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possível se ter metodologia sem didática, mas não o contrário, pois não podemos
analisar e criticar sem conhecer.
Puren (1994) distingue os três sentidos do termo método: material de
ensino (livro, material elaborado pelo professor); conjunto de procedimentos e
técnicas de aula buscando um retorno do aluno (método ativo, método
tradicional); e procedimentos e técnicas que geram novos cursos originais, com
base em vertentes anteriores. Os métodos se constituem de procedimentos e
técnicas relativamente permanentes na busca por um objetivo. Já a metodologia
se situa em um nível superior, pois é constituída de métodos relacionados
historicamente com os objetivos e teorias correntes. A Didática se posiciona em
nível superior à Metodologia, pois preocupa-se de forma mais abrangente com
os processos de ensino-aprendizagem ao analisar e comparar metodologias,
adequando as escolhas aos objetivos de cada sala de aula. Resumindo,
podemos esquematizar da seguinte forma (em que “<” funciona como operador
de hierarquia): procedimentos < técnicas < métodos < metodologia < didática <
ensino-aprendizagem.

TEMA 2 – A LÍNGUA PORTUGUESA


A Língua Portuguesa nem sempre foi objeto de estudo de uma disciplina
curricular como conhecemos hoje. Como veremos na sequência da aula, a LP
nem fazia parte dos ensinamentos jesuítas e, mais tarde, aparecia
curricularmente como dentro da área de retórica e poética. Mais tarde foi o foco
gramatical que se instaurou como objeto de estudo da disciplina, o que explica
a tradição e proliferação inconsequentes de terminologias gramaticais, sem o
real entendimento das relações que elas expressam.
Apenas nas últimas décadas, com a influência dos estudos linguísticos, é
que a disciplina de LP começou a apresentar características mais parecidas com
as que conhecemos hoje.
A linguística é a ciência que estuda a linguagem humana. É importante
diferenciar a linguística da gramática normativa. Enquanto a primeira estuda a
língua em sua forma real, seu uso e estrutura, a gramática tradicional1 apenas

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Sabemos que existem diferentes formas de se definir uma gramática. A gramática pode ser vista de
diversas maneiras, por exemplo: o conjunto de regras internas que definem a produção e recepção de uma
língua, essas regras podem ser vista como inatas (Chomsky) ou adquiridas (Saussure e seus seguidores).
Pode também ser vista como um conjunto de regras descritas com base em uma variedade privilegiada e
que tem como intuito prescrever o uso da língua, como é o caso da gramática tradicional ou normativa. Nas
escolas, até em virtude da jornada do ensino de LP, a gramática tradicional ou normativa persistiu por muito
tempo, e ainda persiste em alguns lugares, como o principal objeto de estudo.
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descreve e prescreve regras da língua em questão em sua variedade mais
privilegiada2, considerando qualquer forma de linguagem que não se encaixe em
sua descrição, um erro.
Dessa forma, a linguística estuda uma certa língua dentro de seus
aspectos fonéticos, morfológicos, sintáticos, semânticos, pragmáticos e
sociais/psicológicos. Por isso, parte de uma concepção de língua como um
objeto em constante mudança, pois trata-se de um instrumento comunicativo que
serve a pessoas – as quais mudam e adequam esse instrumento às suas
necessidades. Uma língua que não serve à sua função social-comunicativa e
existe apenas dentro do mundo das regras gramaticais não consegue se manter
relevante e acaba “morrendo“, como foi o caso do Latim. Um outro exemplo,
também nas últimas décadas, foi a criação de uma língua de gramática
extremamente simplificada, que visava uma aquisição rápida e fácil: o
Esperanto. As expectativas eram grandes, até mesmo de que viesse a se tornar
uma língua universal, porém, por se tratar de uma língua de laboratório, o
interesse em sua aquisição foi muito pequeno, pois, em muitos casos, não seria
possível alguém se expressar com seus recursos.
Essa visão de língua viva, que sofre mudanças constantes, é o foco dos
estudos de sociolinguística. Esses estudos tornaram-se fundamentais para uma
visão mais abrangente de LP em sala de aula, que não considera apenas as
normas da gramática, mas, sim, o uso real da língua e sua característica
comunicativa. Essa visão já está presente em sala de aula e muitos dos materiais
didáticos mais atuais já apresentam temas como “variação linguística“.
O tema ainda é muito polêmico, pois muitos questionam se essa
“aceitação“ enfraqueceria o currículo e levaria ao não domínio da norma-padrão
(gramatical). Entretanto, defendemos que o respeito às diferentes formas de se
comunicar, aos diferentes sotaques e vocabulários regionais não é uma ameaça
ao ensino do Português-padrão; é, na verdade, uma forma de diminuir o
preconceito linguístico e mostrar aos alunos que não existe uma forma de
comunicação boa e outras ruins, mas, sim, formas adequadas para cada
situação comunicativa.
Diante dessas mudanças, o foco dos estudos de Língua Portuguesa
consiste hoje em situações comunicativas e nos gêneros do discurso -- a língua

2 Nas próximas aulas, veremos mais sobre as relações entre as variedades linguísticas e suas
implicações para a sala de aula.
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real colocada como objeto e a gramática como instrumento para sua melhor
compreensão. Por isso a importância dada hoje ao trabalho com o texto e não
apenas com exercícios, como os de completar seguindo as regras gramaticais.
Hoje, exploram-se desde gêneros textuais literários e privilegiados, até os
gêneros do cotidiano como piadas, e-mails, mensagens instantâneas...
Koch (1990, p. 25) demonstra a importância comunicativa quando afirma:

uma unidade linguística completa (perceptível pela visão ou audição)


que é tomada pelos usuários da língua (falantes, escritor/ouvinte,
leitor), em uma situação de interação comunicativa específica, como
uma unidade de sentido, preenche uma função comunicativa
reconhecível e reconhecida, independente de sua extensão.

TEMA 3 – A AVALIAÇÃO
Como vimos acima, a concepção de língua e linguagem adotadas nos
últimos anos mudou. Assim, é preciso adotar um novo posicionamento diante
das formas de avaliação escolar. As orientações educacionais presentes no
documento PCN + ENSINO MÉDIO, do Mec, apontam que:

[...] é recomendável que se amplie a noção de avaliação escolar,


revendo a pertinência de se avaliar exclusivamente um momento
específico, como o da prova bimestral, em função da necessidade de se
avaliar todo o processo de aprendizagem vivido pelos alunos ao longo
de uma proposta de trabalho. (Brasil, 2002, p. 83-84)

Isto é, não cabe, no processo atual de ensino, basear-se em avaliações


quantitativas e seletivas. A avaliação deve considerar, de forma qualitativa, o
processo de ensino-aprendizagem do aluno e não apenas seu resultado. Por
isso, não há um momento único para a avaliação – na verdade, todos os
momentos em sala de aula são passíveis de ser avaliados.
Os PCNs levantam a questão da avaliação como instrumento dialógico,
por levar em conta quem ensina, aqueles a quem se ensina e as relações e
condições de desenvolvimento do trabalho pedagógico, frisando que não cabe
ao professor de Língua Portuguesa tornar-se um detetive gramatical, que vive
em busca dos “erros“ isolados da produção do aluno sem levar em conta o
processo como um todo resultado do desenvolvimento de suas capacidades
linguísticas:

Na contramão das práticas tradicionais – em que se buscava encontrar


os “erros”, mais do que os “acertos” dos alunos –, o professor de Língua
Portuguesa deve valorizar os ganhos que o estudante obteve ao longo
de seu processo de aprendizagem, baseando-se nas matrizes de
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competências e habilidades, que exigem um outro olhar sobre o ensino.
(Brasil, 2002, p. 83-84).

Nas próximas aulas, trataremos com mais detalhes dos métodos e o que
se deve considerar nas avaliações voltadas para cada um dos eixos de ensino
da Língua Portuguesa: a oralidade, a leitura, a escrita e as relações linguísticas.

TEMA 4 – A HISTÓRIA DA LÍNGUA PORTUGUESA NA HISTÓRIA


Organizar e instituir certos saberes que serão ensinados e aprendidos na
escola é a forma de os escolarizar. Isto é, extraí-los de uma área de
conhecimento de modo que se tornem conteúdos, disciplinas e currículos. Com
o ensino de Língua Portuguesa não é diferente. Certos aspectos de nossa língua
são selecionados para o trabalho escolar com o intuito de aprimorar o
conhecimento linguístico e elevar os níveis de comunicação dos alunos.
Parece difícil imaginar uma época em que não fosse óbvia a existência da
disciplina de Língua Portuguesa, língua materna de nossos colonizadores e de
nosso país, mas não foi sempre assim. Com o intuito de compreender melhor o
contexto que nos levou ao que conhecemos hoje como disciplina de Língua
Portuguesa, veremos a seguir o histórico dessa disciplina e um pouco das
diretrizes oficiais para seu ensino.

4.1 História da disciplina curricular de LP


Apesar da primeira gramática de Língua Portuguesa ter sido publicada
em 1536, escrita por Fernão Dias, a introdução da Língua Portuguesa (ou
simplesmente Português em alguns currículos) como disciplina escolar foi tardia,
pois ocorreu apenas nas últimas décadas do século XIX. Uma explicação para
esse fenômeno seria a existência e ampla utilização da língua geral durante o
Império, uma codificação do Português dos colonizadores com algumas línguas
indígenas, especialmente as de raiz tupi.
A disciplina foi introduzida primeiramente na forma de aulas de poética,
retórica e gramática, apenas depois unidas na denominação Português.3 Porém,
o ensino da disciplina continuou focado em suas prévias sub-áreas até metade
do século XX, momento em que houve uma expansão do público escolar para
os níveis sociais menos privilegiados, e é só a partir de então que o trabalho com

3 A fator de curiosidade, em 1871 é criado o cargo de “professor de português” por decreto imperial,
fato considerado por muitos o marco inicial do ensino de Língua Portuguesa.
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o texto é inserido na disciplina que passa a priorizar o estudo do vocabulário,
interpretação e produção de textos, além do caráter gramatical, ainda visto como
principal.
Em decorrência da primeira Lei de Diretrizes em Bases, em 1970, a
premissa da disciplina de Língua Portuguesa passou novamente por mudanças
e a concepção de língua focou-se na comunicação, no uso da língua. Nesse
período surgiu a discussão sobre ensinar ou não ensinar a gramática na escola
e os textos escolhidos perderam seu caráter literário e passaram a refletir
práticas sociais: textos de jornais ou revistas, publicidade, HQs, textos de
humor… A disciplina passa então a contar com uma contribuição das ciências
linguísticas que são incluídas no currículo de formação de professores.
A influência linguística trouxe ao contexto escolar diversas reflexões sobre
o uso da língua. Primeiramente, o alerta sobre as diferentes variedades
linguísticas e a importância de seu tratamento a partir da democratização
escolar, tornando a crença de que a Língua Portuguesa é homogênea e segue
apenas o padrão privilegiado da norma-padrão. Trouxe também novas
concepções de gramática baseadas na descrição da língua, tanto falada quanto
escrita, e evidenciou a importância de a gramática ser usada no entendimento
das relações textuais que vão além da palavra e da frase e que refletem as
operações coesão e coerência de um texto.
Em decorrência dessas mudanças, as diretrizes oficiais que se seguiram
introduziram o trabalho com gêneros textuais e a importância da adequação da
língua às situações comunicativas vividas pelo aluno. Isso não quer dizer que a
gramática perdeu força e que o ensino da norma-padrão esteja ameaçado. Pelo
contrário, a norma-padrão continua tendo prioridade na preparação dos alunos
para seu futuro comunicativo, mas hoje não é mais considerada a única forma
de comunicação aceitável e privilegiada.

TEMA 5 – DIRETRIZES OFICIAIS PARA O ENSINO DE LP


Existem diversos documentos que são referência para o ensino de Língua
Portuguesa no Brasil, tratam-se de leis, parâmetros e diretrizes que visam
orientar gestores e professores no planejamento de seus currículos, ações
educacionais e atividades em sala de aula.
Atualmente, a principal lei que regulariza a educação, em todos os níveis,
é a Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, denominada Lei de Diretrizes e

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bases da Educação Nacional (LDB). Foi a partir da LDB que fram instituídos os
níveis: i) educação básica - composta do Ensino Fundamental e Ensino Médio;
ii) educação superior - composta pelos cursos de nível universitário.
A LDB estabeleceu uma nova dinâmica na prática escolar como um todo,
pois vinculou a educação formal ao trabalho e ao exercício da cidadania. Com
essa mudança o estudo de Língua Portuguesa não poderia mais ser
fragmentado, limitado à decodificação e a conteúdos descontextualizados. Essa
prática, como vimos, mudou o foco do trabalho escolar da LP, que deixou de lado
o trabalho apenas com os processos da gramática normativa e passou a
considerar o texto e o discurso como objeto e meio para o conhecimento.
É através da LDB que se estabelece que todo o ensino regular será
ministrado em português e que a União, os Estados e os Municípios deveriam
elaborar, em cooperação, o Plano Nacional de Educação, para um período de
10 anos. O primeiro PNE foi elaborado em 2001, com prazo até 2010, e
conseguiu implementar o Ensino Fundamental de 9 anos – em que as crianças
têm direto a iniciar o ensino regular um ano antes, aos 6 anos – além de melhorar
os sistemas de informação e avaliação da educação nacional, com a
implementação da Prova Brasil, aplicada a cada dois anos aos alunos
matriculados no quinto e nono ano do EF, e do Sistema de Avaliação da
Educação Básica (Saeb). Essas avaliações são consideradas diagnósticas da
qualidade do ensino e têm por principal matriz de referência os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs).
Os PCNs para os anos finais do EF estabelecem os seguintes objetivos
para o ensino de Língua Portuguesa:

No trabalho com os conteúdos previstos nas diferentes práticas, a


escola deve organizar um conjunto de atividades que possibilitem ao
aluno desenvolver o domínio da expressão oral e escrita em situações
de uso público da linguagem, levando em conta a situação de produção
social e material do texto (lugar social do locutor em relação ao(s)
destinatário(s); destinatário(s) e seu lugar social; finalidade ou
intenção do autor; tempo e lugar material da produção e do suporte) e
selecionar, a partir disso, os gêneros adequados para a produção do
texto, operando sobre as dimensões pragmática, semântica e
gramatical. (Brasil, 1998, p. 49).

Pode-se observar que objetivos mais específicos quanto às diferentes


modalidades da língua são estabelecidos. Dessa forma, passou-se a considerar
a linguagem em uso e os diferentes gêneros discursivos que circulam nas
diversas áreas de atuação humana levando em conta a oralidade, a escuta e

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leitura, a produção oral e escrita de textos e a análise linguística. Parte-se assim
de uma concepção de linguagem como forma de interação humana e de
aprendizagem.
Como a LDB requer prática pedagógica diferenciada para o Ensino Médio,
por tratar a disciplina de LP dentro da área de Linguagens, Códigos e suas
Tecnologias, há um PCN específico para esse nível de ensino que busca que os
alunos possam:

• Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e


suas manifestações específicas.
• Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens
como meios de organização cognitiva da realidade pela constituição de
significados, expressão, comunicação e informação.
• Analisar, interpretar e aplicar os recursos expressivos das linguagens,
relacionando textos com seus contextos, mediante a natureza, função,
organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições
de produção e recepção.
• Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna,
geradora de significação e integradora da organização do mundo e da
própria identidade. (Brasil, 2000, p. 8-10).

Além dos PCNs, cada estado e município conta com suas propostas
curriculares próprias que traçam as metodologias e objetivos específicos de cada
esfera educativa.
Em 2007, o MEC apresenta o Plano de Desenvolvimento da Educação
(PDE) como forma de avaliar e melhorar o ensino, buscando identificar quais as
redes de ensino apresentam mais fragilidade para que possam receber um maior
amparo financeiro e de gestão. O PDE passa a utilizar o Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) como termômetro de qualidade,
combinando dois indicadores: o fluxo escolar e o desempenho dos estudantes.
O PDE segue as diretrizes dos PCNs prezando a importância do trabalho
com a função social da língua, afirmando ainda que:

Nesse aspecto, para ser considerado competente em Língua


Portuguesa, o aluno precisa dominar habilidades que o capacitem a
viver em sociedade, atuando, de maneira adequada e relevante, nas
mais diversas situações sociais de comunicação. Para tanto, o aluno
precisa saber interagir verbalmente, isto é, precisa ser capaz de
compreender e participar de um diálogo ou de uma conversa, de
produzir textos escritos, dos diversos gêneros que circulam socialmente
(Brasil, 2008, p. 19).

Em 2014, um novo Plano Nacional de Educação foi aprovado a fim de


instaurar as diretrizes educacionais para a próxima década. Esse novo PNE
estabelece como principais metas a valorização docente, formação adequada de

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professores, universalização do ensino, inclusão, erradicação do analfabetismo
e ampliação do investimento financeiro público. Apesar de já contar com vários
atrasos em suas metas e objetivos, o PNE já trouxe mudanças, uma das
principais sendo a criação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC. Trata-
se de:

um documento de caráter normativo que define o conjunto orgânico e


progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem
desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica.
Aplica-se à educação escolar, tal como a define o § 1o do Artigo 1o da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei no
9.394/1996)6, e indica conhecimentos e competências que se espera
que todos os estudantes desenvolvam ao longo da escolaridade. (Brasil,
2017, p. 7)

É importante frisar que o Ensino Médio não está contemplado nesse


documento em decorrência da aprovação do projeto de reforma do EM,
sancionada em fevereiro de 2017.
Espera-se que a BNCC traga alterações curriculares tanto nas escolas
públicas como nas privadas. O objetivo do documento é unificar e padronizar os
currículos a fim de diminuir as disparidades de ensino encontradas pelo país. Ao
tratar do ensino de LP, reforça o caráter de uso da língua, colocando o texto
como o centro das práticas de linguagem e organizando a disciplina em 5 eixos
norteadores: a oralidade; a leitura, a escrita, os conhecimentos linguísticos e
gramaticais e a educação literária. Ao longo das próximas aulas, trataremos em
detalhes os quatro primeiros eixos.
A partir disso, a BNCC lista 10 competências específicas de LP para o EF
(Brasil, 2017, p. 66):

1. Reconhecer a língua como meio de construção de identidades de


seus usuários e da comunidade a que pertencem.
2. Compreender a língua como fenômeno cultural, histórico, social,
variável, heterogêneo e sensível aos contextos de uso.
3. Demonstrar atitude respeitosa diante de variedades linguísticas,
rejeitando preconceitos linguísticos.
4. Valorizar a escrita como bem cultural da humanidade.
5. Empregar, nas interações sociais, a variedade e o estilo de linguagem
adequado à situação comunicativa, ao interlocutor e ao gênero textual.
6. Analisar argumentos e opiniões manifestados em interações sociais
e nos meios de comunicação, posicionando-se criticamente em relação
a conteúdos discriminatórios que ferem direitos humanos e ambientais.
7. Reconhecer o texto como lugar de manifestação de valores e
ideologias.
8. Selecionar textos e livros para leitura integral, de acordo com
objetivos e interesses pessoais (estudo, formação pessoal,
entretenimento, pesquisa, trabalho etc.).
9. Ler textos que circulam no contexto escolar e no meio social com
compreensão, autonomia, frequência e criticidade.

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10. Valorizar a literatura e outras manifestações culturais como formas
de compreensão do mundo e de si mesmo.

Em 2017 também foi sancionada a Medida Provisória (MP) 746/2016 que


trata da reforma do Ensino Médio e que propõe um aumento de carga horária
significativo e a possibilidade de escolha, por parte dos alunos, de diferentes
trilhas de formação tradicional e técnica. Ao que diz respeito ao ensino de Língua
Portuguesa, a MP mantém a obrigatoriedade da disciplina em todos os anos do
EM e prevê a possibilidade de enriquecer os conteúdos trabalhados de forma
eletiva, com base na escolha do aluno por aprofundar certa área do
conhecimento.
Atualmente, portanto, são documentos de referência para o ensino da
Língua Portuguesa o Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb), a Prova
Brasil, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), os documentos dos
estados e municípios, que são as Propostas Curriculares Estaduais e Municipais,
e a Base Nacional Comum Curricular.
É importante frisar que todos esses documentos buscam como objeto a
língua em uso. Como afirma Kleiman:

Quanto mais a escola se aproxima das práticas sociais em outras


instituições, [ou de outras práticas de linguagem utilizadas pelos alunos
nos corredores da escola, fora da sala] mais o aluno poderá trazer
conhecimentos relevantes das práticas que já conhece, e mais fáceis
serão as adequações, adaptações e transferências que ele virá a fazer
para outras situações da vida real. (Kleiman, 2005, p. 23).

FINALIZANDO
Nesta aula vimos em mais detalhes alguns conceitos, estudamos a
definição de didática e sua diferença para o estudo de Metodologia, pelos
conhecimentos englobados no âmbito da Língua Portuguesa e da importância
de suas vertentes linguísticas, compreendendo a necessidade de requisitos
avaliativos quantitativos e qualitativos bem definidos de acordo com a realidade
de aprendizagem de cada situação educativa. Vimos também como a Língua
Portuguesa foi instaurada como disciplina curricular e como algumas das
principais diretrizes oficiais percebem sua prática de ensino, passando pelas
orientações da LBD de 1996, PCNs de 1998 e 2000, até o mais novo documento
de orientação curricular, a Base Nacional Comum Curricular. Com esses
primeiros conceitos e a trajetória do ensino de Língua Portuguesa, poderemos
prosseguir, nas próximas aulas com o estudo do contexto do ensino de Língua

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Portuguesa e as relações didático-metodológicas para o trabalho de suas
principais vertentes: a oralidade, a leitura, a escrita e a análise linguística.

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REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Proposta
preliminar. terceira versão revista. Brasília: MEC, 2017. Disponível em:
<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_publicacao.pdf>.
Acesso em: 8 nov. 2017.

_____. PDE: Plano de Desenvolvimento da Educação – SAEB : ensino médio :


matrizes de referência, tópicos e descritores. Brasília : MEC, SEB; Inep, 2008.
127 p.

_____. PCN+ Ensino Médio: orientações educacionais complementares aos


Parâmetros Curriculares Nacionais. vol. Linguagens, códigos e suas tecnologias.
Brasília: MEC/ Semtec, 2002.

_____. Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino


Fundamental – Língua Portuguesa/Secretaria de Educação Fundamental.
Brasília: MEC/SEF, 1998.

_____. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: MEC/


Semtec, 2000.

KLEIMAN, Angela B. (Org.) Os significados do letramento: uma nova


perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas, SP: Mercado de letras,
1999.

PILETTI, C. Didática Geral. 23. ed. São Paulo: Ática, 2004.

PUREN, C. La didactique des langues étrangères à la croisée des


méthodes. Essai sur l’écletisme. Paris: Didier, 1994.

SCHMITZ, E. S. Didática Moderna. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e


Científicos, 1982.

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