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19 de Agosto de 2021

Anulação de multas durante a pandemia e


Interrupção/suspensão de prazos: Resolução não pode
contrariar lei federal

Expedição de notificação após 30 dias da infração. Princípio da legalidade e


hierarquia das normas.

Com o advento da pandemia Covid-19, a partir do começo de 2020, e ainda


gerando seus efeitos até o presente ano de 2021, é conhecido que houve a
suspensão de vários serviços, e na área de trânsito, em especial, houve a
interrupção dos prazos de recurso administrativo, de expedição de
notificações, de multas etc. dos processos de multas de trânsito.
Essa interrupção de prazo foi formalizada pelo Contran (Conselho Nacional
de Trânsito) através da Resolução nº 782, de 18 de junho de 2020, e
posteriormente pela Resolução nº 805, de 16 de novembro de 2020.

Ocorre que na lei (Código de Trânsito Brasileiro - Lei nº 9.503/97) há


previsão expressa do prazo de 30 dias para o órgão de trânsito fazer a
expedição da notificação da autuação, contados da data da infração, sob
pena de nulidade do auto de infração (nulidade da multa). Houve
interrupção desse prazo pelo Contran via resolução, porém resolução não
pode contrariar a lei, muito menos suprimir obrigação estabelecida na
própria lei. É o que veremos a seguir.

De forma geral, a primeira resolução (782) estabeleceu a suspensão e


interrupção dos prazos, inclusive de expedição de notificação de autuação,
por tempo indeterminado de infrações cometidas a partir de 20 de março
de 2020. Já a segunda resolução (805), expedida no final de 2020, veio
para revogar a primeira e fixar uma nova regulamentação a fim de
normalizar os prazos e serviços, restabelecendo o retorno dos prazos a
partir de 1º de dezembro de 2020, bem como lançando uma tabela de
prazos escalonados para que os órgãos de trânsito fizessem a expedição de
notificação daqueles autos de infração lavrados entre 20 de março e 30 de
novembro de 2020.

Vejamos os textos dessas Resoluções:

Resolução CONTRAN nº 782/20:

Art. 1º Esta Resolução referenda as Deliberações CONTRAN nº 185, de 19


de março de 2020, e nº 186 e nº 187, ambas de 26 de março de 2020, e
dispõe sobre a suspensão e a interrupção de prazos de processos e de
procedimentos afetos aos órgãos e entidades do Sistema Nacional de
Trânsito e às entidades públicas e privadas prestadoras de serviços
relacionados ao trânsito.

Art. 2º Ficam interrompidos, por tempo indeterminado, os prazos para


apresentação de:
I - defesa da autuação, previsto no § 4º do art. 4º da Resolução CONTRAN
nº 619, de 06 de setembro de 2016;

II - recursos de multa, previstos no inciso IV do art. 11 e no art. 15 da


Resolução CONTRAN nº 619, de 2016;

III - defesa processual, previsto no § 5º do art. 10 da Resolução CONTRAN


nº 723, de 06 de fevereiro de 2018; e

IV - recursos de suspensão do direito de dirigir e de cassação do


documento de habilitação, previstos no § 1º do art. 15 combinado com o §
1º do art. 16 da Resolução CONTRAN nº 723, de 2018.

Art. 3º Fica interrompido, por tempo indeterminado, o prazo para


identificação do condutor infrator, previsto no § 7º do art. 257 do CTB,
inclusive nos processos administrativos em trâmite

Art. 5º A expedição das notificações de autuação deverá seguir


os seguintes critérios:

I - para cumprimento do prazo máximo de trinta dias,


determinado no inciso IIdo parágrafo único do art. 281 do CTB
e no art. 4º da Resolução CONTRAN nº 619, de 2016, a expedição
da notificação da autuação poderá ocorrer com sua inclusão em
sistema informatizado do órgão autuador, sem a remessa ao
proprietário do veículo;

II - tão logo seja revogada esta Resolução, a autoridade de trânsito


deverá providenciar o envio das notificações de autuação, decorrentes de
infrações praticadas desde 20 de março de 2020, contendo a data de
término da apresentação de defesa da autuação e de indicação do
condutor infrator, nos termos da Resolução CONTRAN nº 619, de 2016.

Parágrafo único. As notificações de autuação, decorrentes de infrações


praticadas entre 26 de fevereiro de 2020 e 19 de março de 2020, e que
ainda não foram expedidas, deverão obedecer os critérios estabelecidos
nos incisos I e II.
Art. 6º As notificações de penalidade somente poderão ser expedidas após
o encerramento do prazo destinado à defesa da autuação e à indicação do
condutor infrator, nos termos desta Resolução.

Resolução CONTRAN nº 805:

Art. 1º Esta Resolução dispõe sobre os prazos de processos e de


procedimentos afetos aos órgãos e entidades do Sistema Nacional de
Trânsito e às entidades públicas e privadas prestadoras de serviços
relacionados ao trânsito.

CAPÍTULO I DO RESTABELECIMENTO DOS PRAZOS

Art. 2º Ficam restabelecidos os seguintes prazos para as


infrações cometidas a partir de 1º de dezembro de 2020:

I – de defesa da autuação, previsto no § 4º do art. 4º da Resolução


CONTRAN nº 619, de 06 de setembro de 2016;

II – de recursos de multa, previstos no inciso IV do art. 11 e no art. 15 da


Resolução CONTRAN nº 619, de 2016;

III – de defesa processual, previsto no § 5º do art. 10 da Resolução


CONTRAN nº 723, de 06 de fevereiro de 2018;

IV – de recursos de suspensão do direito de dirigir e de cassação do


documento de habilitação, previstos no § 1º do art. 15 combinado com o §
1º do art. 16 da Resolução CONTRAN nº 723, de 2018; e

V – para identificação do condutor infrator, previsto no § 7º do art. 257


do CTB, inclusive nos processos administrativos em trâmite.

Art. 3º A autoridade de trânsito expedirá as notificações de


autuação (NA) decorrentes de infrações cometidas a partir de 1º
de dezembro de 2020 conforme disposto na Resolução
CONTRAN nº 619, de 2016.
Art. 5º Para o restabelecimento dos prazos para o envio das NA
decorrentes de infrações cometidas de 26 de fevereiro de 2020 a
30 de novembro de 2020, deverá ser observado o cronograma
constante no Anexo I e o disposto no inciso IIdo parágrafo único
do art. 281 do CTB.

§ 1º No envio das NA previstas no caput deverão ser observados os termos


da Resolução CONTRAN nº 619, de 2016.

§ 2º Ficam convalidadas as NA expedidas de 27 de março de 2020 a 30 de


junho de 2020.

Art. 6º Para as NA já enviadas, as datas finais de apresentação


de defesa prévia e de indicação do condutor infrator posteriores
a 20 de março de 2020 ficam prorrogadas para 31 de janeiro de
2021.

Art. 7º Para as notificações de penalidade (NP) expedidas, as datas finais


de apresentação de recurso posteriores a 20 de março de 2020 ficam
prorrogadas para 31 de janeiro de 2021.

Art. 8º A autoridade de trânsito deverá providenciar, sempre que


possível, leiaute diferenciado para a expedição das NA decorrentes de
infração cometida de 26 de fevereiro de 2020 a 30 de novembro de 2020,
ressaltando, com clareza, que estas notificações contam com prazos
diferenciados.

ANEXO I

CRONOGRAMA PARA RETOMADA DO ENVIO DAS NOTIFICAÇÕES DE


AUTUAÇÃO (NA) DECORRENTES DE INFRAÇÕES COMETIDAS DE 26
DE FEVEREIRO DE 2020 A 30 DE NOVEMBRO DE 2020

Data de cometimento da infração   Período para envio da NA

De 26 de fevereiro a 31 de março 2020   De 1º a 31 de janeiro de 2021

De 1º a 30 de abril de 2020             De 1º a 28 de fevereiro de 2021


De 1º a 31 de maio de 2020             De 1º a 31 de março de 2021

De 1º a 30 de junho de 2020             De 1º a 30 de abril de 2021

De 1º a 31 de julho de 2020             De 1º a 31 de maio de 2021

De 1º a 31 de agosto de 2020           De 1º a 30 de junho de 2021

De 1º a 30 de setembro de 2020         De 1º a 31 de julho de 2021

De 1º a 31 de outubro de 2020           De 1º a 31 de agosto de 2021

De 1º a 30 de novembro de 2020         De 1º a 30 de setembro de 2021

Pois bem, o ponto que mais nos interessa é a seguinte redação lançada no
inciso I, do artigo 5º da Resolução 782, in verbis: “para cumprimento
do prazo máximo de trinta dias, determinado no inciso IIdo
parágrafo único do art. 281 do CTB e no art. 4º da Resolução
CONTRAN nº 619, de 2016, a expedição da notificação da
autuação poderá ocorrer com sua inclusão em sistema
informatizado do órgão autuador, sem a remessa ao proprietário
do veículo”.

Observe-se que o próprio Contran assevera “sem a remessa ao


proprietário do veículo”.

Agora, vejamos o que o Código de Trânsito Brasileiro prevê:

CTB, Art. 281. A autoridade de trânsito, na esfera da competência


estabelecida neste Código e dentro de sua circunscrição, julgará a
consistência do auto de infração e aplicará a penalidade cabível.

Parágrafo único. O auto de infração será arquivado e seu registro julgado


insubsistente:
I - se considerado inconsistente ou irregular;

II - se, no prazo máximo de trinta dias, não for expedida a


notificação da autuação.

Note-se que a lei utiliza o termo “expedida”, ou seja, aquilo que é


despachado, enviado ao destino... Todavia, cabe esclarecermos alguns
pontos.

Inicialmente, a modalidade de notificação mais utilizada é sem dúvidas a


notificação enviada via postal. Popularmente utilizado o termo “enviada via
Correios”, ou simplesmente “notificação por Correios”, já que a Empresa
Brasileira de Correios e Telégrafos detêm o monopólio do serviço postal no
país, não raras vezes, desta forma, as palavras “postal” e “Correios” têm
agregado um sentido sinônimo.

Assim sendo, o cidadão autuado deve verificar se a notificação de autuação


foi expedia dentro do prazo máximo de 30 (trinta) dias, contados da data
da autuação, sob pena de nulidade do AIT (artigo 281, inciso II, do CTB). E
quando se fala em anulação (cancelamento, arquivamento) do AIT ou da
autuação entenda-se o cancelamento de todo o processo administrativo,
que inclui cancelamento da multa, pontuação, e até eventual suspensão ou
cassação que poderia ser gerada daquele auto de infração.

Esse prazo, portanto, tem início da data autuação, sendo 30 dias para a
expedição (envio da notificação pelo órgão de trânsito aos Correios), e não a
postagem (que é feita pelos Correios, posterior à expedição). Assim
sendo, não se deve confundir a expedição (ou remessa) da
notificação pelo órgão de trânsito com a postagem feita pelos
Correios, porque são dois momentos (ou datas) distintos. Veja que a
obrigação do órgão de trânsito concentra-se no envio (expedição/remessa),
dentro do prazo, da carta de notificação aos Correios (lembre-se do termo
“expedição”), e quem tem a obrigação de entregar a notificação ao cidadão
será os Correios.

Ainda sobre o prazo da notificação, é importante deixar claro três questões


que são sempre objeto de dúvidas por parte do cidadão:
1) São 30 dias para o órgão de trânsito expedir a notificação da autuação e o
início do prazo conta-se da data da autuação, ou seja, a partir do dia da
infração;

2) O prazo é contado em dias corridos;

3) A obrigação do órgão de trânsito finda-se no ato da expedição da carta de


notificação para aos Correios. Neste ponto, veja que a Resolução CONTRAN
nº 619/2016, no § 1º do artigo 4º, assim assevera sobre o tema: “Quando
utilizada a remessa postal, a expedição se caracterizará pela entrega
da notificação da autuação pelo órgão ou entidade de trânsito à
empresa responsável pelo seu envio”.

Voltando ao cerne da questão, é de se notar que o Contran tentou


contornar, usando de verdadeiro malabarismo jurídico (ou de malabarismo
de redação, simplesmente), a fim de transparecer uma possível
regulamentação da matéria sem suprimir o prazo obrigatório de 30 dias e o
procedimento expressamente fixado na lei, ou seja, a “expedição/remessa”
da notificação, todavia, o texto da referida resolução afigura-se verdadeiro
excesso do poder regulamentar, pois de fato houve supressão das
obrigatoriedades impostas aos órgãos de trânsito expressamente previstas
no Código de Trânsito Brasileiro (lei federal). É verdadeira revogação do
previsto em lei por meio de resolução em benefício unilateral da
administração pública.

Com base nos princípios da legalidade e hierarquia das normas, resoluções


não revogam leis, nem podem ir além do que a lei estabelece, muito menos
suprimir ou reformar partes da lei, dessa forma deve haver a prevalência do
entendimento de que tais regras fixadas nas referidas resoluções são ilegais,
pois estão notoriamente contrariando o que é estabelecido na lei acerca do
procedimento administrativo, bem como expressamente suprimindo o
prazo legal que caberia ao órgão de trânsito cumprir (o lançamento em
sistema não é ato de expedição ou remessa da notificação).

Lembremos novamente a redação do CTB: “O auto de infração será


arquivado e seu registro julgado insubsistente se, no prazo máximo de
trinta dias, não for expedida a notificação da autuação”.
Evidentemente, a letra da lei não dá margem para qualquer interpretação
senão a obrigatoriedade da expedição da notificação no referido prazo,
logo, a mera “inclusão em sistema informatizado do órgão
autuador, sem a remessa ao proprietário do veículo” é totalmente
contrário a letra da lei.

É bem verdade, a alteração do procedimento conforme expressamente


previsto no CTB somente é possível por meio de lei, ou seja, outra lei
aprovada pelo Congresso Nacional, seguindo o rito procedimental de
aprovação de leis nos termos da Constituição Federal.

Veja que em situações similares, inclusive matérias originadas da área de


trânsito, já foram objeto de apreciação pelo Poder Judiciário, levando ao
cancelamento do ato administrativo decorrente de Resolução do
CONTRAN, a exemplo, que à época fez exigência de instalação de
simulador de direção veicular às autoescolas, considerado ato ilegal e que
extrapolava os limites de competência do CONTRAN, in verbis:

PJe - ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. MANDADO DE


SEGURANÇA. DECADÊNCIA. TERMO INICIAL. EFEITOS
CONCRETOS DO ATO NORMATIVO. REJEIÇÃO DA
PREJUDICIAL. RESOLUÇÃO DO CONSELHO NACIONAL DE
TRÂNSITO (CONTRAN) N. 543/2015. EXIGÊNCIA DE
INSTALAÇÃO DE SIMULADOR DE DIREÇÃO VEICULAR (SDV).
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE. VIOLAÇÃO. EXTRAPOLAÇÃO
DOS LIMITES DA COMPETÊNCIA DO CONTRAN. APELAÇÃO E
REMESSA OFICIAL DESPROVIDAS. 1. (...) 2. Consoante disposto no
art. 12 do Código de Trânsito Brasileiro, o Contran tem competência para
estabelecer as normas regulamentares referidas neste Código e as
diretrizes da Política Nacional de Trânsito (inciso I), e normatizar os
procedimentos sobre a aprendizagem, habilitação, expedição de
documentos de condutores, e registro e licenciamento de veículos (inciso
X), não podendo, ao estabelecer normas regulamentares,
extrapolar o conteúdo da Lei regulamentada, como no caso. 3. A
obrigatoriedade de instalação de Simulador de Direção Veicular não
encontra amparo no art. 147 do Código de Trânsito Brasileiro. 4.
Apelação e remessa oficial desprovidas. (TRF-1 - AMS:
10027519820164013400, Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL
DANIEL PAES RIBEIRO, Data de Julgamento: 10/04/2017, SEXTA
TURMA, Data de Publicação: 27/04/2017)

Noutro caso, houve reconhecimento da ilegalidade do CONTRAN sobre a


Resolução nº 168/04 (procedimento de habilitação), onde novamente a
resolução trouxe redação estabelecendo prazos e exigências não previstos
na lei. Vejamos:

RECURSO INOMINADO. DETRAN. CONCLUSÃO DE


PROCEDIMENTO DE HABILITAÇÃO. Resolução nº 168/04 do
CONTRAN. SENTENÇA MANTIDA.O Código de Trânsito
Brasileiro não dispõe acerca de prazo para a conclusão do
procedimento de habilitação, apenas prevendo validade para o
exame de saúde. Em que pese seja função do CONTRAN
regulamentar o processo de habilitação para condução de
veículos automotores, tal poder não é ilimitado, razão pela qual
não deve haver inovação na ordem jurídica e não podem ser
emitidas normas administrativas regulamentadoras que
exorbitem a lei. Na hipótese em comento verifica-se que o
CONTRAN criou limite temporal para a conclusão do
procedimento que não se encontrava previsto ou indicado em
lei, extrapolando de suas atribuições legais. (...) RECURSO
INOMINADO DESPROVIDO. UNÂNIME. (TJ-RS - Recurso Cível:
71009109620 RS, Relator: Mauro Caum Gonçalves, Data de Julgamento:
20/05/2020, Segunda Turma Recursal da Fazenda Pública, Data de
Publicação: 29/05/2020)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL/REEXAME NECESSÁRIO.


MANDADO DE SEGURANÇA. CARTEIRA NACIONAL DE
HABILITAÇÃO. PRAZO DE VALIDADE DOS EXAMES DE
APTIDÃO FÍSICA E MENTAL. RECURSO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Prevalece, nesta 8ª Câmara
Cível, o entendimento de que "verificado que as Resoluções do
CONTRAN, ao fixarem em 1 (um) ano o prazo de validade do
processo de habilitação do condutor, contrariaram o disposto
no art. 147, § 2º, do Código Nacional de Trânsito, cabe reformar
parcialmente a sentença para afastar os efeitos do normativo
em relação ao exame médico, mantendo-a, contudo,
relativamente aos outros exames, cuja validade não foi
estabelecida pela Lei." V.V. EMENTA: REEXAME NECESSÁRIO -
APELAÇÃO CÍVEL - MANDADO DE SEGURANÇA - COMPETÊNCIA DA
JUSTIÇA ESTADUAL - AUTORIDADE COATORA ESTADUAL -
DELEGADO DE TRÂNSITO - AUSÊNCIA DE DIVERGÊNCIA ENTRE A
FUNDAMENTAÇÃO E O DISPOSITIVO DA SENTENÇA - PRELIMINARES
REJEITADAS - PROCESSO DE HABILITAÇÃO PARA RETIRAR CNH -
PRAZO DE VALIDADE DOS EXAMES DE APTIDÃO FÍSICA E MENTAL -
ART. 147 DO CTB - RESOLUÇÃO 169/2005 DO CONTRAN - REDUÇÃO
DO PRAZO DE VALIDADE - ILEGALIDADE - SENTENÇA MANTIDA. –
(...) Verifica-se, portanto, que se trata da autoridade coatora, uma vez que
parte dele a determinação para que sejam seguidas as Resoluções 168 e
169 do CONTRAN. - O ato da Polícia Civil de Minas Gerais de regular o
prazo de validade do exame de aptidão física e mental, matéria objeto do
art. 147, § 2º do CTB, viola o princípio da hierarquia das normas, o qual
orienta o exercício do poder regulamentar. - Quanto ao prazo de validade
previsto no Ofício Circular nº 006/2006 para os demais exames
(legislação, primeiros socorros e direção, no qual o impetrante foi
reprovado), verifica-se que adentra em matéria reservada à lei. Uma vez
que o CTB não previu que a validade dos demais exames seria objeto de
regulação, é defeso ao administrador imiscuir-se nesse meio. (TJ-MG -
AC: 10433093120593001 Montes Claros, Relator: Elpídio Donizetti, Data
de Julgamento: 08/11/2012, Câmaras Cíveis Isoladas / 8ª CÂMARA
CÍVEL, Data de Publicação: 20/11/2012)

No mais, é de se atentar que as medidas de suspensão e interrupção dos


processos não encontra o menor grau de razoabilidade e proporcionalidade,
haja vista que se todo o aparato estatal de fiscalização, controle e operação
dos sistemas de captura e processamento das infrações estava funcionando
perfeitamente, ou seja, mesmo a operacionalização de todo o sistema
eletrônico é feito por pessoas, bem como não houve nenhuma interrupção
dos serviços postais (Correios) durante a pandemia, razão não assiste a
administração alegar sua interrupção por prazo convencionado
unilateralmente a seu favor. De outro modo, as plataformas digitais de
recebimento e processamento de recursos já estavam em operação desde
antes da pandemia.
Assim sendo, se você recebeu alguma notificação fora do prazo previsto em
lei (30 dias) pode requerer o cancelamento da mesma, seja via recurso
administrativo ou ação junto ao judiciário.

Fonte: CTB, TJMG, TJRS, TRF-1.

Contato: tiago.recursoadm@gmail.com

Disponível em: https://tiagocipp.jusbrasil.com.br/artigos/1175312976/anulacao-de-multas-durante-a-


pandemia-e-interrupcao-suspensao-de-prazos-resolucao-nao-pode-contrariar-lei-federal

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