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A aula 2.

1 apresenta a problemática da seletividade alimentar no TEA (Transtorno do


Espectro Autista), característico do transtorno devido aos comportamentos alimentares
disfuncionais, como de preferências restritas em determinados alimentos, recusa alimentar,
padrões alimentares inadequados e escolhas alimentares sensoriais. Isto porque, pessoas com
TEA apresentam rigidez e inflexibilidade comportamental, alterações sensoriais e motoras,
podendo assim, ter aversões texturais e\ou de cores a tipos específicos de alimentos, por conta
do perfil sensorial- hipersensibilidade ou hipossensibilidade. E, por outro lado, pode estar
relacionado ao atraso no desenvolvimento motor de mastigação.
Outrossim, a aula aborda a diferença entre seletividade alimentar no TEA e a
comorbidade com algum Transtorno Alimentar, dado que, pessoas autistas tendem a
apresentar comportamentos alimentares rígidos e disruptivos. Contudo, pode haver
comorbidade com o Transtorno Alimentar restritivo\evitativo, quando de fato todos os
critérios para ambos os transtornos são preenchidos e a gravidade do distúrbio alimentar
demanda tratamento. Deste modo, salienta-se que, problemas alimentares na primeira
infância devem ser observados de forma cuidadosa, à medida que, tendem a ser
comportamentos altamente persistentes, podendo ocasionar consequências graves, como a
perda de peso significativa ou o insucesso em obter o ganho de peso\altura esperado para a
faixa etária, deficiência nutricional significativa ou outras complicações médicas.
Tendo em vista as dificuldades comportamentais apresentadas pelas crianças autistas
com seletividade alimentar, como comportamentos de birras, choros, vômitos, recusa dos
alimentos e entre outros, são recorrentes no momento da introdução alimentar. Posto isto,
compreende-se como fulcral para a melhora do estado nutricional do sujeito, o tratamento dos
sintomas ou das respectivas consequências negativas, como a desnutrição, a fim de reduzir
comportamentos rígidos e ritualizados, ensinar a generalizar comportamentos, estimular a
socialização através do valor social da comida, entre outras habilidades durante a introdução
alimentar.
Levando em consideração as adversidades mencionadas acima, o Grupo de Capacitação
de Pais sobre Seletividade Alimentar (TEAMM), desenvolvido pela equipe transdisciplinar
do Grupo Gradual, apresenta um passo a passo com 10 níveis de dificuldade, como protocolo
para capacitar pais na introdução de novos alimentos e na redução da seletividade alimentar
dos seus respectivos filhos.
Ademais, é válido destacar como essas restrições estão diretamente relacionadas a fala,
impactando em dificuldade na fonética, ou seja, na forma com que os sons da fala são
articulados e na fonêmica, isto é, na maneira como a informação sonora é armazenada e
representada pelo léxico mental (dicionário mental que contém informações acerca do
significado, da pronúncia e características sintáticas das palavras). E, levando em
consideração os impactos psicossociais que as dificuldades na fala a ausência desta podem
causar na pessoa com TEA, vê-se a importância do tratamento transdisciplinar, o qual
abrange conhecimentos de todas as disciplinas, em vista da complexidade que é o ser
humano.
A aula 2.3 apresentada pela Dra. Graccielle Asevedo, aborda os conteúdos acerca do
Transtorno de Ansiedade (TA) e Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) Primeiramente,
diferencia-se a ansiedade normal da ansiedade patológica, na qual a normal é caracterizada
como um sentimento de alerta em relação a situações perigosas ou que causem tensão, sendo
assim, favorável para o instinto de sobrevivência.
Todavia, a ansiedade patológica ocorre quando o que está causando a preocupação é
algo pertinente ao futuro, e o grau dessa preocupação é extremamente intensa, gerando
prejuízos nas atividades desenvolvidas pela pessoa, bem como ocasionando sintomas físicos,
cognitivos e comportamentais, como tensão muscular, dificuldades de concentração e
comportamentos impulsivos. Ademais, a etiologia dos transtornos de ansiedade, isto é, os
fatores de risco ou causais para algum tipo de transtorno de ansiedade são de grande parte
genéticos, sendo que, 40% das pessoas com TA herdaram o transtorno por fatores genéticos,
de herdabilidade.
No que se refere aos tipos de transtornos de ansiedade existentes, é válido destacar, o
Transtorno de Ansiedade de Separação, recorrente no período da infância e caracterizado pelo
medo excessivo e persistente ou de preocupações antes e no momento da separação, o que
gera estresse e preocupação excessiva, ocasionando prejuízos na vida do indivíduo, como
também sintomas comportamentais e físicos, semelhantes a um ataque de pânico.
Outrossim, no que diz respeito ao Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), este é
identificado pela presença de obsessões e\ou compulsões, sendo a obsessão reconhecida por
pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento
durante a perturbação, são experimentados como indesejados e que, na maioria das vezes,
provocam extrema ansiedade e sofrimento. Por outro lado, as compulsões, referem-se aos
comportamentos repetitivos ou aos atos mentais que buscam prevenir ou reduzir a ansiedade
e sofrimento ou até mesmo evitar alguma situação temida, como casa suja. Contudo, é
importante ressaltar que, esses comportamentos ou atos mentais não possuem conexão
realista com o que pretendem evitar, sendo na verdade excessivos.
A aula 2.5 apresenta os conteúdos relacionados ao Transtorno de Oposição Desafiante
(TOD), o qual tem por critério diagnóstico os sintomas de humor irritável, comportamento
argumentativo e desafiador, agressividade e índole vingativa, que iniciam antes da criança
completar oito anos de idade e devem durar mais de seis meses, gerando danos significativos
no funcionamento social do sujeito, presente em dois contextos, como ambiente familiar e
escolar.
Ademais, é válido destacar os fatores de risco para este transtorno e sua relação com as
comorbidades. Dado que, a etiologia do TOD é multifatorial, contento assim, aspectos
genéticos, psicológicos e ambientais. Entre eles, a herdabilidade do transtorno é muito
evidente, como também, verifica-se a carga genética de outros transtornos, como o
Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Por outro lado, o ambiente
familiar e social também exerce grande influência. Posto que, um ambiente desestruturado,
severo, negligente e sem envolvimento afetivo pode desencadear sintomas do TOD.
Todavia, no que diz respeito à comorbidade TEA e TOD é importante salientar que, em
ambos os primeiros sinais surgem já na infância, com a presença de comportamentos
inadequados em relação ao desenvolvimento infantil. Contudo, está comorbidade não é tão
evidenciada, tendo como base para diagnóstico, a satisfação dos critérios de diagnóstico de
ambos, levando em conta a análise dos prejuízos funcionais causados pelos sintomas.
Portanto, levando em consideração os aspectos mencionados acima, o tratamento de
melhor eficácia envolve aspectos medicamentosos, intervenções comportamentais e
aconselhamento e/ou treinamento para os cuidadores, os quais visam reduzir comportamentos
indesejáveis e melhorar ou desenvolver comportamentos adequados.
Em vista disso, compreende-se como fulcral o tratamento transdisciplinar, visando
amenizar os efeitos do autismo e suas comorbidades, e contribuir para uma melhor qualidade
de vida do indivíduo e seus familiares. Desta forma, a intervenção comportamental embasada
na análise funcional dos comportamentos inadequados, é o ponto chave do tratamento, isto
porque, a identificação das variáveis antecedentes e consequentes que estão mantendo estes
comportamentos, são necessárias para planejar a intervenção e realizar os manejos
necessários.
Construtos relevantes acerca da Análise do Comportamento Aplicada (ABA)

Wolf (1978) aprofundou-se nas questões definidoras da característica aplicada, tendo


discutido que, na verdade, três são os pontos que devem ser considerados ao longo de
qualquer pesquisa ou intervenção da ABA. O primeiro ponto diz respeito à validade social
dos objetivos traçados: o fato que escalas de desenvolvimento ou experts dizem que um dado
comportamento é importante não o torna válido socialmente a priori. Para Wolf, os objetivos
devem passar pelo crivo social (e subjetivo) de todos os envolvidos: deve-se coletar amostras
do comportamento, desenvolver definições operacionais e registrar comportamentos
específicos; pedir que jurados relevantes olhem as definições e as amostras do
comportamento e os julguem e, depois, é necessário correlacionar os dados de julgamento
subjetivo com dados objetivos. Por exemplo, se você, como profissional, julga que é
importante para uma criança de 4 anos de idade aprender a usar a toalete antes de qualquer
outro comportamento-alvo, pode ser que os pais julguem que se alimentar sozinho deve ter
prioridade sobre qualquer outro comportamento. Nesse caso, será importante ter certeza de
que a definição dos objetivos será feita de forma conjunta, baseada nos dados observados
durante a avaliação inicial ou o profissional poderá enfrentar problemas em relação à adesão
ao tratamento.
O segundo ponto discutido por Wolf diz respeito à aceitabilidade dos procedimentos.
Esse autor ressalta que critérios éticos, o custo geral e a praticidade precisam ser levados em
consideração quando se programam procedimentos de ensino; pois, se os interessados não
julgarem os procedimentos apropriados, não haverá adesão ao tratamento. Esse problema
costuma acontecer, por exemplo, quando se propõe o uso de procedimentos de extinção.
Muitos pais dizem que não conseguem ver seu(a) filho(a) chorando – comportamento de
ocorrência comum durante o uso de procedimentos de extinção se não houver planejamento
de contingências de reforçamento para comportamentos adequados - e acabam não
implementando o procedimento proposto. Ter certeza de que o procedimento é aceitável para
todos prevenirá falhas na implementação. Vale ressaltar que falhas durante a implementação
de procedimentos podem intensificar os problemas que trouxeram o cliente ao analista do
comportamento.
O terceiro ponto discutido por Wolf refere-se à importância dos efeitos do tratamento.
Muitas vezes, intervenções aplicadas a grupos de pessoas têm seus resultados analisados
estatisticamente. Nesse processo, mudanças comportamentais pequenas aparecem como
estatisticamente significantes, mas na realidade, podem não ter resultado em diferenças
clínica e socialmente significativas para as pessoas envolvidas (BARLOW; NOCK;
HERSEN, 2009). Você, como profissional, pode achar que os comportamentos-alvo da
criança melhoraram e seus dados demonstram isso; mas, se os envolvidos não julgarem os
resultados satisfatórios, não há validade social em sua intervenção. Por exemplo, você
ensinou uma criança a ler 20 palavras simples (consoante-vogal-consoante-vogal) e ela
generalizou essa habilidade de leitura para 50 novas palavras. Todavia, quando foi ao
shopping com os pais, a criança não conseguiu ler os menus dos restaurantes ou as instruções
para jogar os videogames e a família considerou que a mudança no comportamento de ler da
criança ainda não foi significativa, pois as respostas de ler não estavam ocorrendo em
ambientes relevantes. Nesse caso, teria sido necessário continuar a intervenção e programar a
generalização da leitura para todos os ambientes considerados relevantes. Wolf discutiu que
os consumidores do serviço precisam estar satisfeitos com os resultados para que a validade
social da intervenção seja completa. Apesar de ter advogado a favor de medidas subjetivas
dos objetivos, procedimentos e resultados na ABA, Wolf ressaltou que uma vasta área da
literatura científica mostra que dados subjetivos sozinhos não são confiáveis e, portanto, eles
devem ser 50 utilizados em conjunto, e não como substitutos, dos dados objetivos acerca das
mudanças de comportamento. Portanto cabe, ao analista do comportamento, registrar dados
objetivos do comportamento e, ao mesmo tempo, assegurar as medidas subjetivas de validade
social. Em relação à característica comportamental, dois pontos se fazem importantes. O
primeiro refere-se ao fato que o foco das intervenções deve ser na mudança daquilo que o
indivíduo faz, e não daquilo que ele diz (a não ser que o comportamento verbal seja o alvo da
intervenção). Portanto é necessário que o comportamento seja observado de forma direta e
não relatado verbalmente pela pessoa ou por terceiros. Por exemplo, os pais ou avós de uma
criança que não vocalizava podem relatar para o profissional que a criança está falando com
seus coleguinhas de sala; mas, quando você vai à escola fazer uma observação direta, a
criança não vocaliza palavras na presença de seus colegas. É necessário medir o
comportamento de forma direta; confiar no relato verbal de terceiros pode significar deixar
passar dados essenciais para a tomada de decisões clínicas relevantes e eficazes. O outro
ponto importante refere-se à mensuração do comportamento-alvo e à confiabilidade dos
dados coletados. Em uma pesquisa aplicada, o comportamento-alvo precisa ser mensurado de
forma precisa. Como muitos comportamentos não são passíveis de mensuração por
instrumentos mecânicos, os seres humanos são os mais utilizados para medir o
comportamento de outros seres humanos (BAER et al. 1968; KAHNG et al., 2011). Devido a
essa utilização de humanos como observadores e registradores do comportamento, há
possibilidades de ocorrências de erros durante a coleta de dados, o que torna medidas de
confiabilidade (concordância entre observadores) um critério essencial para que um estudo
possa ser considerado comportamental (COOPER et al., 2007; KAHNG et al., 2011;
KAZDIN, 1977). Isso quer dizer que, sempre que possível, deve-se pedir a um segundo
observador que observe e registre o comportamento de forma independente, seja por meio de
observações durante as sessões de intervenção, seja por meio de câmeras e vídeos. O
importante é que alguém independente colete dados e os compare àqueles coletados pelo
terapeuta responsável pela implementação da intervenção, aumentando a chance de os dados
serem confiáveis. Essa questão vem sendo altamente enfatizada pela Junta de Certificação em
Análise do Comportamento (BEHAVIOR ANALYST CERTIFICATION BOARD; BACB11,
2012), inclusive em relação à prática clínica devido à possibilidade de viés que existe quando
um terapeuta precisa demonstrar a efetividade de suas intervenções.
A ABA E O TEA NA ATUALIDADE
Os fatos históricos apresentados até este momento servem como suporte para a
afirmação de que há décadas a Análise do Comportamento vem produzindo pesquisas
aplicadas que demonstram sua eficácia no tratamento do TEA. Tais demonstrações fizeram
com que diversos procedimentos da ABA possuíssem suporte empírico-científico,
transformando as práticas analítico-comportamentais aplicadas, em conjunto com seu suporte
teórico robusto, em práticas baseadas em evidência, isto é, “um esforço para melhorar o
processo de tomada de decisões em contextos aplicados ao se articular explicitamente o papel
central de evidências nas decisões e, desta forma, melhorar os resultados” obtidos com as
intervenções (SLOCUM et al., 2014). Lembrando que, apesar de seu papel essencial, não
apenas resultados de pesquisa são levados em consideração nesse processo: é preciso que
haja uma integração da melhor evidência disponível, com os valores e o contexto do cliente e
a perícia clínica do terapeuta (SLOCUM et al., 2014).

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