O documento discute a seletividade alimentar no Transtorno do Espectro Autista (TEA), caracterizada por preferências alimentares restritas e comportamentos alimentares disfuncionais. Também aborda a diferença entre seletividade alimentar no TEA e transtornos alimentares, bem como as dificuldades na introdução alimentar de crianças autistas e a importância do tratamento transdisciplinar.
O documento discute a seletividade alimentar no Transtorno do Espectro Autista (TEA), caracterizada por preferências alimentares restritas e comportamentos alimentares disfuncionais. Também aborda a diferença entre seletividade alimentar no TEA e transtornos alimentares, bem como as dificuldades na introdução alimentar de crianças autistas e a importância do tratamento transdisciplinar.
O documento discute a seletividade alimentar no Transtorno do Espectro Autista (TEA), caracterizada por preferências alimentares restritas e comportamentos alimentares disfuncionais. Também aborda a diferença entre seletividade alimentar no TEA e transtornos alimentares, bem como as dificuldades na introdução alimentar de crianças autistas e a importância do tratamento transdisciplinar.
1 apresenta a problemática da seletividade alimentar no TEA (Transtorno do
Espectro Autista), característico do transtorno devido aos comportamentos alimentares disfuncionais, como de preferências restritas em determinados alimentos, recusa alimentar, padrões alimentares inadequados e escolhas alimentares sensoriais. Isto porque, pessoas com TEA apresentam rigidez e inflexibilidade comportamental, alterações sensoriais e motoras, podendo assim, ter aversões texturais e\ou de cores a tipos específicos de alimentos, por conta do perfil sensorial- hipersensibilidade ou hipossensibilidade. E, por outro lado, pode estar relacionado ao atraso no desenvolvimento motor de mastigação. Outrossim, a aula aborda a diferença entre seletividade alimentar no TEA e a comorbidade com algum Transtorno Alimentar, dado que, pessoas autistas tendem a apresentar comportamentos alimentares rígidos e disruptivos. Contudo, pode haver comorbidade com o Transtorno Alimentar restritivo\evitativo, quando de fato todos os critérios para ambos os transtornos são preenchidos e a gravidade do distúrbio alimentar demanda tratamento. Deste modo, salienta-se que, problemas alimentares na primeira infância devem ser observados de forma cuidadosa, à medida que, tendem a ser comportamentos altamente persistentes, podendo ocasionar consequências graves, como a perda de peso significativa ou o insucesso em obter o ganho de peso\altura esperado para a faixa etária, deficiência nutricional significativa ou outras complicações médicas. Tendo em vista as dificuldades comportamentais apresentadas pelas crianças autistas com seletividade alimentar, como comportamentos de birras, choros, vômitos, recusa dos alimentos e entre outros, são recorrentes no momento da introdução alimentar. Posto isto, compreende-se como fulcral para a melhora do estado nutricional do sujeito, o tratamento dos sintomas ou das respectivas consequências negativas, como a desnutrição, a fim de reduzir comportamentos rígidos e ritualizados, ensinar a generalizar comportamentos, estimular a socialização através do valor social da comida, entre outras habilidades durante a introdução alimentar. Levando em consideração as adversidades mencionadas acima, o Grupo de Capacitação de Pais sobre Seletividade Alimentar (TEAMM), desenvolvido pela equipe transdisciplinar do Grupo Gradual, apresenta um passo a passo com 10 níveis de dificuldade, como protocolo para capacitar pais na introdução de novos alimentos e na redução da seletividade alimentar dos seus respectivos filhos. Ademais, é válido destacar como essas restrições estão diretamente relacionadas a fala, impactando em dificuldade na fonética, ou seja, na forma com que os sons da fala são articulados e na fonêmica, isto é, na maneira como a informação sonora é armazenada e representada pelo léxico mental (dicionário mental que contém informações acerca do significado, da pronúncia e características sintáticas das palavras). E, levando em consideração os impactos psicossociais que as dificuldades na fala a ausência desta podem causar na pessoa com TEA, vê-se a importância do tratamento transdisciplinar, o qual abrange conhecimentos de todas as disciplinas, em vista da complexidade que é o ser humano. A aula 2.3 apresentada pela Dra. Graccielle Asevedo, aborda os conteúdos acerca do Transtorno de Ansiedade (TA) e Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC) Primeiramente, diferencia-se a ansiedade normal da ansiedade patológica, na qual a normal é caracterizada como um sentimento de alerta em relação a situações perigosas ou que causem tensão, sendo assim, favorável para o instinto de sobrevivência. Todavia, a ansiedade patológica ocorre quando o que está causando a preocupação é algo pertinente ao futuro, e o grau dessa preocupação é extremamente intensa, gerando prejuízos nas atividades desenvolvidas pela pessoa, bem como ocasionando sintomas físicos, cognitivos e comportamentais, como tensão muscular, dificuldades de concentração e comportamentos impulsivos. Ademais, a etiologia dos transtornos de ansiedade, isto é, os fatores de risco ou causais para algum tipo de transtorno de ansiedade são de grande parte genéticos, sendo que, 40% das pessoas com TA herdaram o transtorno por fatores genéticos, de herdabilidade. No que se refere aos tipos de transtornos de ansiedade existentes, é válido destacar, o Transtorno de Ansiedade de Separação, recorrente no período da infância e caracterizado pelo medo excessivo e persistente ou de preocupações antes e no momento da separação, o que gera estresse e preocupação excessiva, ocasionando prejuízos na vida do indivíduo, como também sintomas comportamentais e físicos, semelhantes a um ataque de pânico. Outrossim, no que diz respeito ao Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), este é identificado pela presença de obsessões e\ou compulsões, sendo a obsessão reconhecida por pensamentos, impulsos ou imagens recorrentes e persistentes que, em algum momento durante a perturbação, são experimentados como indesejados e que, na maioria das vezes, provocam extrema ansiedade e sofrimento. Por outro lado, as compulsões, referem-se aos comportamentos repetitivos ou aos atos mentais que buscam prevenir ou reduzir a ansiedade e sofrimento ou até mesmo evitar alguma situação temida, como casa suja. Contudo, é importante ressaltar que, esses comportamentos ou atos mentais não possuem conexão realista com o que pretendem evitar, sendo na verdade excessivos. A aula 2.5 apresenta os conteúdos relacionados ao Transtorno de Oposição Desafiante (TOD), o qual tem por critério diagnóstico os sintomas de humor irritável, comportamento argumentativo e desafiador, agressividade e índole vingativa, que iniciam antes da criança completar oito anos de idade e devem durar mais de seis meses, gerando danos significativos no funcionamento social do sujeito, presente em dois contextos, como ambiente familiar e escolar. Ademais, é válido destacar os fatores de risco para este transtorno e sua relação com as comorbidades. Dado que, a etiologia do TOD é multifatorial, contento assim, aspectos genéticos, psicológicos e ambientais. Entre eles, a herdabilidade do transtorno é muito evidente, como também, verifica-se a carga genética de outros transtornos, como o Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Por outro lado, o ambiente familiar e social também exerce grande influência. Posto que, um ambiente desestruturado, severo, negligente e sem envolvimento afetivo pode desencadear sintomas do TOD. Todavia, no que diz respeito à comorbidade TEA e TOD é importante salientar que, em ambos os primeiros sinais surgem já na infância, com a presença de comportamentos inadequados em relação ao desenvolvimento infantil. Contudo, está comorbidade não é tão evidenciada, tendo como base para diagnóstico, a satisfação dos critérios de diagnóstico de ambos, levando em conta a análise dos prejuízos funcionais causados pelos sintomas. Portanto, levando em consideração os aspectos mencionados acima, o tratamento de melhor eficácia envolve aspectos medicamentosos, intervenções comportamentais e aconselhamento e/ou treinamento para os cuidadores, os quais visam reduzir comportamentos indesejáveis e melhorar ou desenvolver comportamentos adequados. Em vista disso, compreende-se como fulcral o tratamento transdisciplinar, visando amenizar os efeitos do autismo e suas comorbidades, e contribuir para uma melhor qualidade de vida do indivíduo e seus familiares. Desta forma, a intervenção comportamental embasada na análise funcional dos comportamentos inadequados, é o ponto chave do tratamento, isto porque, a identificação das variáveis antecedentes e consequentes que estão mantendo estes comportamentos, são necessárias para planejar a intervenção e realizar os manejos necessários. Construtos relevantes acerca da Análise do Comportamento Aplicada (ABA)
Wolf (1978) aprofundou-se nas questões definidoras da característica aplicada, tendo
discutido que, na verdade, três são os pontos que devem ser considerados ao longo de qualquer pesquisa ou intervenção da ABA. O primeiro ponto diz respeito à validade social dos objetivos traçados: o fato que escalas de desenvolvimento ou experts dizem que um dado comportamento é importante não o torna válido socialmente a priori. Para Wolf, os objetivos devem passar pelo crivo social (e subjetivo) de todos os envolvidos: deve-se coletar amostras do comportamento, desenvolver definições operacionais e registrar comportamentos específicos; pedir que jurados relevantes olhem as definições e as amostras do comportamento e os julguem e, depois, é necessário correlacionar os dados de julgamento subjetivo com dados objetivos. Por exemplo, se você, como profissional, julga que é importante para uma criança de 4 anos de idade aprender a usar a toalete antes de qualquer outro comportamento-alvo, pode ser que os pais julguem que se alimentar sozinho deve ter prioridade sobre qualquer outro comportamento. Nesse caso, será importante ter certeza de que a definição dos objetivos será feita de forma conjunta, baseada nos dados observados durante a avaliação inicial ou o profissional poderá enfrentar problemas em relação à adesão ao tratamento. O segundo ponto discutido por Wolf diz respeito à aceitabilidade dos procedimentos. Esse autor ressalta que critérios éticos, o custo geral e a praticidade precisam ser levados em consideração quando se programam procedimentos de ensino; pois, se os interessados não julgarem os procedimentos apropriados, não haverá adesão ao tratamento. Esse problema costuma acontecer, por exemplo, quando se propõe o uso de procedimentos de extinção. Muitos pais dizem que não conseguem ver seu(a) filho(a) chorando – comportamento de ocorrência comum durante o uso de procedimentos de extinção se não houver planejamento de contingências de reforçamento para comportamentos adequados - e acabam não implementando o procedimento proposto. Ter certeza de que o procedimento é aceitável para todos prevenirá falhas na implementação. Vale ressaltar que falhas durante a implementação de procedimentos podem intensificar os problemas que trouxeram o cliente ao analista do comportamento. O terceiro ponto discutido por Wolf refere-se à importância dos efeitos do tratamento. Muitas vezes, intervenções aplicadas a grupos de pessoas têm seus resultados analisados estatisticamente. Nesse processo, mudanças comportamentais pequenas aparecem como estatisticamente significantes, mas na realidade, podem não ter resultado em diferenças clínica e socialmente significativas para as pessoas envolvidas (BARLOW; NOCK; HERSEN, 2009). Você, como profissional, pode achar que os comportamentos-alvo da criança melhoraram e seus dados demonstram isso; mas, se os envolvidos não julgarem os resultados satisfatórios, não há validade social em sua intervenção. Por exemplo, você ensinou uma criança a ler 20 palavras simples (consoante-vogal-consoante-vogal) e ela generalizou essa habilidade de leitura para 50 novas palavras. Todavia, quando foi ao shopping com os pais, a criança não conseguiu ler os menus dos restaurantes ou as instruções para jogar os videogames e a família considerou que a mudança no comportamento de ler da criança ainda não foi significativa, pois as respostas de ler não estavam ocorrendo em ambientes relevantes. Nesse caso, teria sido necessário continuar a intervenção e programar a generalização da leitura para todos os ambientes considerados relevantes. Wolf discutiu que os consumidores do serviço precisam estar satisfeitos com os resultados para que a validade social da intervenção seja completa. Apesar de ter advogado a favor de medidas subjetivas dos objetivos, procedimentos e resultados na ABA, Wolf ressaltou que uma vasta área da literatura científica mostra que dados subjetivos sozinhos não são confiáveis e, portanto, eles devem ser 50 utilizados em conjunto, e não como substitutos, dos dados objetivos acerca das mudanças de comportamento. Portanto cabe, ao analista do comportamento, registrar dados objetivos do comportamento e, ao mesmo tempo, assegurar as medidas subjetivas de validade social. Em relação à característica comportamental, dois pontos se fazem importantes. O primeiro refere-se ao fato que o foco das intervenções deve ser na mudança daquilo que o indivíduo faz, e não daquilo que ele diz (a não ser que o comportamento verbal seja o alvo da intervenção). Portanto é necessário que o comportamento seja observado de forma direta e não relatado verbalmente pela pessoa ou por terceiros. Por exemplo, os pais ou avós de uma criança que não vocalizava podem relatar para o profissional que a criança está falando com seus coleguinhas de sala; mas, quando você vai à escola fazer uma observação direta, a criança não vocaliza palavras na presença de seus colegas. É necessário medir o comportamento de forma direta; confiar no relato verbal de terceiros pode significar deixar passar dados essenciais para a tomada de decisões clínicas relevantes e eficazes. O outro ponto importante refere-se à mensuração do comportamento-alvo e à confiabilidade dos dados coletados. Em uma pesquisa aplicada, o comportamento-alvo precisa ser mensurado de forma precisa. Como muitos comportamentos não são passíveis de mensuração por instrumentos mecânicos, os seres humanos são os mais utilizados para medir o comportamento de outros seres humanos (BAER et al. 1968; KAHNG et al., 2011). Devido a essa utilização de humanos como observadores e registradores do comportamento, há possibilidades de ocorrências de erros durante a coleta de dados, o que torna medidas de confiabilidade (concordância entre observadores) um critério essencial para que um estudo possa ser considerado comportamental (COOPER et al., 2007; KAHNG et al., 2011; KAZDIN, 1977). Isso quer dizer que, sempre que possível, deve-se pedir a um segundo observador que observe e registre o comportamento de forma independente, seja por meio de observações durante as sessões de intervenção, seja por meio de câmeras e vídeos. O importante é que alguém independente colete dados e os compare àqueles coletados pelo terapeuta responsável pela implementação da intervenção, aumentando a chance de os dados serem confiáveis. Essa questão vem sendo altamente enfatizada pela Junta de Certificação em Análise do Comportamento (BEHAVIOR ANALYST CERTIFICATION BOARD; BACB11, 2012), inclusive em relação à prática clínica devido à possibilidade de viés que existe quando um terapeuta precisa demonstrar a efetividade de suas intervenções. A ABA E O TEA NA ATUALIDADE Os fatos históricos apresentados até este momento servem como suporte para a afirmação de que há décadas a Análise do Comportamento vem produzindo pesquisas aplicadas que demonstram sua eficácia no tratamento do TEA. Tais demonstrações fizeram com que diversos procedimentos da ABA possuíssem suporte empírico-científico, transformando as práticas analítico-comportamentais aplicadas, em conjunto com seu suporte teórico robusto, em práticas baseadas em evidência, isto é, “um esforço para melhorar o processo de tomada de decisões em contextos aplicados ao se articular explicitamente o papel central de evidências nas decisões e, desta forma, melhorar os resultados” obtidos com as intervenções (SLOCUM et al., 2014). Lembrando que, apesar de seu papel essencial, não apenas resultados de pesquisa são levados em consideração nesse processo: é preciso que haja uma integração da melhor evidência disponível, com os valores e o contexto do cliente e a perícia clínica do terapeuta (SLOCUM et al., 2014).