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CURSO DE ACTUALIZAÇÃO

PARA CONTABILISTAS E PERITOS CONTABILISTAS


Agosto de 2018

MÓDULO DE DIREITO DAS EMPRESAS

AULA 1 - EMPRESAS

Sofia Vale
ÍNDICE

• I. EMPRESAS
• II. EMPRESAS PRIVADAS
• III. EMPRESAS PÚBLICAS E EMPRESAS COM DOMÍNIO
PÚBLICO
• IV. EMPRESAS COM CAPITAL PÚBLICO MINORITÁRIO
• V. EMPRESAS COOPERATIVAS
• VI. CARACTERIZAÇÃO DO TECIDO EMPRESARIAL
ANGOLANO

2
I. EMPRESAS

3
Os contabilistas e auditores são chamados a desempenhar
funções em todos estes tipos de empresas…

• Empresas públicas
EMPRESAS DO • Empresas com domínio público
ESTADO • Distribuem lucros ao accionista Estado

• Empresas com capital minoritariamente público


EMPRESAS • Empresas com capital totalmente privado
PRIVADAS • Distribuem lucros aos seus sócios

• Exercem uma actividade empresarial de proveito


EMPRESAS comum, que promove os interesses económicos e
sociais dos seus membros.
COOPERATIVAS • Só podem distribuir lucros em certas condições.
4
… pelo que devem conhecer a legislação aplicável
EMPRESAS PRIVADAS EMPRESAS PÚBLICAS E EMPRESAS COM
EMPRESAS
COM DOMÍNIO PARTICIPAÇÃO PÚBLICA
• Lei n.º 1/04, de 13 de COOPERATIVAS
PÚBLICO MINORITÁRIA
Fevereiro – Lei das
Sociedades Comerciais • Lei nº 11/13, de 3 de • Lei nº 11/13, de 3 de • Lei das Cooperativas –
Setembro – Lei de Setembro – Lei de Lei n.º 23/15
• Lei da Simplificação do Bases do Sector Bases do Sector
Processo de Empresarial Público Empresarial Público
Constituição das • Lei n.º 1/04, de 13 de
Sociedades Comerciais Fevereiro – Lei das
• Lei n.º 15/16 – Lei da
– Lei n.º 11/15 • Lei n.º 15/16 – Lei da Sociedades Comerciais
Administração Local do
Administração Local do (em especial, regras das
Estado
• Modelos de Estatutos - Estado sociedades anónimas)
Decreto Executivo n.º
246/16, de 3 de Junho • Lei n.º 2/11, de 14 de
• Estatuto dos Membros
Janeiro, sobre as
dos Órgãos das
• Regulamento da Parcerias Público-
Empresas Públicas e
Constituição Presencial Privadas
das Empresas com
e Imediata On-Line – Domínio Público –
Decreto Presidencial n.º Decreto Presidencial n.º
153/16, de 5 de Agosto 15/17, de 2 de Fevereiro
• Modelo de Registo de • Estatuto
Emissão de Valores Remuneratório – DP n.º
Mobiliários – Decreto 16/17, de 2 de Fevereiro
Executivo n.º 273/17, de
3 de Maio

As regras da Lei n.º 1/04, de 13 de Fevereiro – Lei das Sociedades Comerciais 5


aplicam-se a qualquer tipo de empresa!
II. EMPRESAS PRIVADAS

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1. TIPOS DE SOCIEDADES
 As empresas privadas são legalmente constituídas através de sociedades
comerciais.

Objecto comercial

Tipologia da lei comercial


Fundo patrimonial próprio

- Entradas - As - Sociedades
espécie empresas por quotas
- Entradas com objecto - Sociedades
em dinheiro civil, podem anónimas
seguir estas
regras 2º, n.º 1 LSC
1º, n.º 3 LSC

 O tecido empresarial angolano é constituído actualmente


exclusivamente por sociedades por quotas (em maior número) e por
sociedades anónimas.
7
7
2. CONSTITUIÇÃO DE SOCIEDADES…
• CERTIFICADO DE ADMISSIBILIDADE DE FIRMA
• Decreto n.º 47/03, de 8 de Julho

• DEPÓSITO DO CAPITAL SOCIAL em conta aberta em nome da


futura sociedade (eventualmente – Lei da Simplificação)
• 223º (SQ) e 308º, n.º 3 (SA) LSC

• Assinatura de DOCUMENTO PARTICULAR COM ASSINATURAS


GUE RECONHECIDAS PRESENCIALMENTE OU ESCRITURA PÚBLICA
• 8º, n.º 1 LSC, com a redacção que lhe foi dada pela Lei da
Simplificação – Contrato de Sociedade
Guiché • Usando os modelos de estatutos previamente aprovados - Decreto
Executivo n.º 246/16, de 3 de Junho
Único de • REGISTO COMERCIAL

Empresa • 20º LSC e 122º, n.º 1, a) Lei 1/97 de Simplificação Reg Predial,
Comercial e Serviço Notarial.
• 5º LSC: o registo confere personalidade jurídica à empresa
(Decreto n.º 48/03,
• REGISTO DE INVESTIDOR PRIVADO JUNTO DA AIPEX
de 8 de Julho) • Lei do Investimento Privado – Lei 10/18, de 26 de Junho

• Publicação no DIÁRIO DA REPÚBLICA


• Passará a ser publicado num site do Governo – Lei da Simplificação

• Registo no Instituto Nacional de Estatística, Bairro Fiscal da sede da 8


sociedade e Segurança Social
8 • Obtenção dos Alvarás e Licenças necessários ao seu funcionamento
• NB: ESTE PROCEDIMENTO NÃO PODE SER APLICADO
QUANDO HAJA ENTRADAS EM ESPÉCIE

• ESCOLHA DE FIRMA JÁ REGISTADA A FAVOR DO ESTADO


• Esta firma consta de uma bolsa de firmas acessíveis on-line

• ESCOLHA DE UM MODELO DE ESTATUTOS PREVIAMENTE


Constituição APROVADO Decreto Executivo 247/16, de 3 de Junho
• Os sócios só têm que preencher o modelo com os seus dados
Presencial
• RECONHECIMENTO PRESENCIAL DE ASSINATURAS OU
Imediata e SUBMISSÃO DO PEDIDO ON-LINE E CONFIRMAÇÃO POR
PARTE DE TODOS OS SÓCIOS
On-line
• TODOS OS DEMAIS TRÂMITES SÃO PROMOVIDOS
OFICIOSAMENTE PELO CONSERVADOR DO REGISTO
COMERCIAL
(Decreto Presidencial • Publicações
n.º 153/16) • Registo no Instituto Nacional de Estatística
• Inscrição no Bairro Fiscal da sede da sociedade
• Inscrição na Segurança Social

• SÓ NO FINAL SE ABRE UMA CONTA BANCÁRIA EM NOME


DA SOCIEDADE E SE DEPOSITA O VALOR DO CAPITAL
SOCIAL
9
Nome/Firma
Sócios

Direitos
Tipo de
especiais dos
Sociedade
sócios

Conteúdo do
Contrato
Sede
Sociedade Valor do
Capital Social
(art. 10ºLSC)

Valor das
participações Objecto da
sociais dos Sociedade
sócios

10
… CESSAÇÃO DA ACTIVIDADE…

Cessação da Fica Retorno à


actividade dormente… actividade

- Acta da AG de
- Acta da AG de
- Não apresenta sócios a
sócios a
declaração determinar a
determinar a
fiscal; retoma de
cessação;
- Não paga actividade;
- Requerimento
impostos. - Requerimento
às Finanças;
às Finanças; 11
… EXTINÇÃO DA SOCIEDADE

• As sociedades só se podem extinguir se:


• se verificar alguma causa de dissolução prevista
na LSC (140º, n.º 1 e 142º) ou no contrato de
sociedade, como por exemplo declaração de
falência ou não ter actividade por mais de 5
anos;
• por deliberação dos sócios aprovada por
maioria qualificada (141º LSC): SQ – 300º LSC e
SA – 462º, n.º 1 LSC

Dá-se início ao processo de dissolução e liquidação da sociedade

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3. SOCIEDADES POR QUOTAS
vs
SOCIEDADES ANÓNIMAS

• As sociedades por quotas (SQ) e as sociedades anónimas (SA)


permitem limitar a responsabilidade dos seus sócios face ao
risco do negócio.

• As SQ e as SA apresentam algumas diferenças, que vale a


pena salientar.

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3.1. RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS

SQ SA
• Perante os credores da sociedade, só o • Perante os credores da sociedade, só o
património social responde (217º, n.º 3 património social responde (301º LSC)
LSC)
• Mas pode estipular-se no contrato
de sociedade que os sócios
respondem (218º, n.º 1 LSC):
• 1) solidária ou
subsidiariamente em relação à
sociedade
• 2) até determinado montante
• 3) com ou sem direito de
regresso perante a sociedade 14
3.2. ESTRUTURA: ASSEMBLEIA GERAL

SQ SA
• Composição • Composição

• todos os sócios • os sócios

• Competência • alguns sócios podem não ter assento na


AG porque:
• competências imperativas (272º, • as suas acções são preferenciais
n.º 1, 2ª parte LSC) sem voto (364º LSC)
• competências supletivas, i.e., as • o contrato de sociedade exige a
que podem ser transferidas para os detenção de um número mínimo
outros órgãos (272º, n.º 2 LSC) de acções para se poder participar
• competências contratuais, i.e., as
na AG (399º, n.º 6 LSC – os sócios
minoritários podem agrupar-se)
que lhe tenham sido atribuídas pelo
contrato de sociedade (272º, n.º 1, • Competência
1ª parte LSC) • varia consoante o contrato de sociedade
(393º, n.º 2 LSC)
• é sempre subsidiaria face às
15
competências dos restantes órgãos
3.2. ESTRUTURA: ADMINISTRAÇÃO

SQ - gerência SA – conselho de administração

• Composição • Conselho de Administração (315º, n.º 1


LSC)
• pessoas singulares, que podem ou não
ser sócios (281º, n.º 1 LSC) • Composição: n.º ímpar de membros,
accionistas ou não, que sejam pessoas
• são designados no contrato de singulares (410º, n.º 1 e 2 LSC); designados no
sociedade ou posteriormente eleitos contrato ou eleitos em AG (411º LSC)
pela AG (281º, n.º 2 LSC) • Competência: representação e gestão
• Competência
autónoma da sociedade (425º LSC); a
administração só se subordina às
deliberações da AG nos casos em que a lei ou
• administrar e representar a sociedade contrato obriguem, tendo muita autonomia
(281º, 282º LSC) (425º, n.º 1, b) LSC)
• Gerência Plural (284º LSC) • Proibição de negócios com a sociedade (418º)
e Proibição de concorrência com a sociedade
• havendo vários gerentes, as decisões (419º e 287º)
são tomadas por maioria dos votos
emitidos, salvo disposição do contrato Ou
de sociedade em contrário
• os gerentes têm poderes conjuntos e a • Administrador Único (315º, n.º 2 LSC)
sociedade vincula-se pelos negócios
celebrados pela maioria dos gerentes
• só para os casos do 315º, n.º 2 LSC,
designadamente se o capital social não 16
ultrapassar USD 50.000 (426º, n.º 3 LSC)
3.2. ESTRUTURA: ÓRGÃO DE FISCALIZAÇÃO

SQ SA
existência facultativa existência obrigatória
• Conselho Fiscal (432º LSC)
• A sociedade só tem órgão de • Composição: 3 a 5 membros efectivos + 2
fiscalização se o contrato social o suplentes, ou sociedade de peritos
instituir (292º LSC) contabilistas, designados pela AG (432º, n.º 3
LSC)
• Pode ser um Conselho Fiscal ou um • Competência: verificar a regularidade dos
Fiscal Único livros e das contas da sociedade, e garantir o
cumprimento do contrato de sociedade (441º
LSC)

Ou
• Fiscal Único (432º, n.º 1, b) LSC)
• Só pode existir nos casos do 315º, n.º 2 LSC,
designadamente quando o capital social não
seja superior a USD 50.000
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3.3. CAPITAL SOCIAL, ENTRADAS E RESERVA LEGAL

SQ SA
• Já não tem capital social mínimo (221º • O capital social mínimo é o equivalente
LSC e Lei da Simplificação) em Kz a 20.000 USD (305º, n.º 3 LSC)
__________________________________ ____________________________________
• Só se permitem entradas em espécie e • Só são permitidas entradas em espécie e
em dinheiro (222º, n.º 1 LSC) mas os dinheiro (306º, nº 3 LSC) mas os sócios
sócios podem contribuir com a sua podem realizar prestações acessórias de
indústria para a sociedade através de trabalho ou serviços (319º, n.º 1 LSC)
prestações acessórias (230º LSC) • Pode diferir-se até 70% do capital social
• As entradas podem ser diferidas até ao correspondente a entradas em dinheiro,
final de 1 ano (artº 222º, 2 LSC e Lei da desde que o capital social mínimo esteja
Simplificação) realizado e até um prazo máximo de 1
__________________________________ ano (aplicação analógica das SQ)
• Reserva legal correspondente a 30% do ____________________________________
capital social, que se preenche alocando• Reserva legal correspondente a 20% do
5% dos lucros anuais (240º LSC) capital social, que se preenche alocando
5% dos lucros anuais (327º LSC)
3.4. ACTAS E MAIORIAS NECESSÁRIAS
PARA APROVAR DELIBERAÇÕES DOS SÓCIOS

• Todas as deliberações dos sócios (em assembleia geral) devem ficar


escritas em acta.
• Os peritos contabilistas são muitas vezes chamados a elaborar essas
actas, razão pela qual devem conhecer qual a maioria dos votos
necessária para aprovar cada assunto específico.

• As deliberações podem ser aprovadas por:


maioria simples (a maioria dos votos emitidos, sem se ter em conta
o capital social que representam)
maioria absoluta (votos correspondentes a 50% do capital social +
1 voto)
maioria qualificada (normalmente, uma maioria de 75% dos votos
correspondentes ao capital social)
• A regra geral nas SQ e nas SA é as deliberações serem aprovadas por
maioria simples:
• SQ – art. 279º e SA – art. 406º, n.º 1
• Ex: aprovação de contas, eleição de administradores, venda de
imóveis da sociedade, pedidos de financiamento para a sociedade,
etc.
• Maioria absoluta:
• destituição dos gerentes sem justa causa nas SQ – art. 290º, n.º 2
LSC
• Maioria qualificada nas SQ:
• Alterações ao contrato de sociedade em geral, desafectação de
valores da reserva estatutária, alteração da firma, alteração do
objecto social, fusão, cisão, transformação, dissolução
discricionária da sociedade- 295º LSC
• Não distribuição de pelo menos metade dos lucros de exercício
distribuíveis - 239º, n.º 1 LSC
• Maioria qualificada nas SA:
1. Alterações ao contrato de sociedade em geral, desafectação de valores
da reserva estatutária, alteração da firma, alteração do objecto social,
fusão, cisão, transformação, dissolução discricionária da sociedade:
 Art. 403º, n.º 2 (quórum constitutivo- quem tem de estar
presente na reunião) – 1/3 do capital social com dto voto e
 Art. 406º, n.º 3 (quórum deliberativo – quem tem de votar a
favor na reunião) – maioria de 2/3 dos votos emitidos
2. Não distribuição de pelo menos metade dos lucros de exercício
distribuíveis
Art. 326º, n.º 1 que remete para 239º, n.º1 – maioria de 75%
dos votos correspondentes ao capital
3. Destituição de administradores sem justa causa
Art. 423º, n.º 1 – não oposição (votos contra) de mais de
10% do capital social
• Quem assina as actas?

Nas SQ: assinam todos os sócios que tenham estado presentes


na reunião

Nas SA: assinam o Presidente da Mesa da Assembleia Geral e o


respectivo Secretário
• Deve fazer-se uma Lista de Presenças, que vai em anexo à
acta, e que é assinada por todas as pessoas que tenham
estado presentes na reunião (sócios, consultores, membros
da Administração e do Conselho Fiscal, outros convidados)
3.5. SOCIEDADES UNIPESSOAIS
POR QUOTAS E ANÓNIMAS

• Lei n.º 19/12, de 11 de Junho.


• São sociedades constituídas por um único sócio, quer seja
pessoa individual ou pessoa colectiva, que é titular da
totalidade do capital social.
• Responsabilidade limitada (art. 3º e 4º) perante os
credores.

SOC UNIPESSOAL POR SOC UNIPESSOAL


QUOTAS ANÓNIMA

Não tem capital social Capital social mínimo de


mínimo USD 20.000
• Constituição: por escrito particular com a assinatura do seu titular
reconhecida presencialmente por notário; registo comercial e publicação
em DR.
• Órgão deliberativo: representado pelo sócio único que poderá nomear
gerentes (administradores).
• Não podem constituir-se ou transformar-se em SU: as instituições
financeiras bancárias, sociedades seguradoras e resseguradoras, fundos
de pensões e sociedades gestoras de fundos de pensões.

• Responsabilidade:
• Criminal: o sócio único ou gerente da sociedade responde
ilimitadamente em função da respectiva culpa;
• Civil: possibilidade e desconsideração da personalidade jurídica
da sociedade em caso de mistura patrimonial.
• Transformação: a SU pode transformar-se em SQ ou SA pluripessoais e
vice-versa;
• Limitações:
a) As SU não podem constituir outras SU;
b) Uma pessoa singular só pode ser sócia de uma única SU;
c) As SU não podem não podem adquirir participações sociais
(quotas ou acções) noutras sociedades – não podem ter
sociedades filhas.
4. FOMENTO DO EMPRESARIADO PRIVADO
NACIONAL

I. A Lei do Fomento do Empresariado Privado Nacional- Lei n.º 14/03, de 18


de Julho

• É considerada verdadeiramente angolana a empresa cujo capital social


é detido, em mais de 50%, por cidadãos ou empresas angolanas.
• As empresas angolanas têm preferência na contratação ao abrigo de
projectos submetidos ao Código dos Contratos Públicos e ao Regime
da Contratação de Serviços e Bens à Indústria Petrolífera.
• O Estado e demais entidades públicas devem destinar pelo menos
25% do seu orçamento para a aquisição de bens e serviços às micro,
pequenas e médias empresas.
• As empresas privadas de grande dimensão que forneçam serviços ao
Estado devem reservar 10% do valor dos contratos para as micro,
pequenas e médias empresas.
26
II. O fomento do Empresariado Privado Nacional em legislação variada

• O desenvolvimento de certas actividades económicas, tais como a prestação de


alguns serviços à indústria petrolífera, as pescas, telecomunicações, empresas de
segurança, aviação civil interna, impõe que as empresas tenham uma
percentagem do seu capital detido por cidadãos angolanos (directa ou
indirectamente).
III. O fomento do Empresariado Privado Nacional na anterior Lei do
Investimento Privado (Lei n.º 11/15): parcerias obrigatórias para variados sectores
de electricidade e água, hotelaria e turismo, transportes e logística, construção civil,
telecomunicações e tecnologias de informação, bem como comunicação social.
- Foram eliminadas com a actual Lei do Investimento Privado (Lei n.º 10/18)

Como interpretar esta mudança de


27
posicionamento?
IV. A Lei das micro, pequenas e médias empresas

CERTIFICAÇÃO JUNTO DO INAPEM

MICRO PEQUENAS MÉDIAS


EMPRESAS EMPRESAS EMPRESAS
• Até 10 • De 10 a 100 • De 100 a 200
trabalhadores trabalhadores trabalhadores
e/ou e/ou e/ou
• Facturação • Facturação • Facturação
bruta anual bruta anual de bruta anual de
não superior a USD 250 mil a USD 3 milhões
USD 250 mil USD 3 milhões a USD 10
milhões

28
• A empresa não tem participação do Estado ou de outras
entidades públicas (salvo universidades e centros de
investigação, num máximo de 25%).
• O capital social da empresa não é participado por outra empresa
que não seja MPME.
Requisitos • A empresa não detém participações noutras empresas que não
para sejam MPME.
certificar • A empresa não é sucursal ou filial de empresa estrangeira.
uma • A empresa não exerce actividade no sector financeiro bancário
empresa ou não bancário.
junto do • O sócio maioritário da empresa não detém participações
INAPEM noutras empresas cujo volume de facturação acumulada seja
superior a USD 10 milhões.
• Pelo menos 75% do capital social da empresa tem de ser detido
por cidadãos angolanos.
• A empresa tem a sua situação fiscal regularizada.

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APOIOS FISCAIS ÀS MPME

ZONA Províncias de ZONA ZONA ZONA


A Cabinda, Zaire, B C Província de D Província de
Uíge, Bengo, Benguela Luanda,
Províncias do Municípios de
Cuanza-Norte, (excepto Lobito
Cuanza- Sul, Benguela,
Malanje, e Benguela), e
Huambo e Bié Lobito e
Cuando Província da
Cubango, Huíla (excepto Lubango
Cunene, Lubango)
Namibe 2 anos de
3 anos de
5 anos de redução de 2 anos de redução de
redução de Imposto redução do Imposto
Imposto Industrial: Imposto Industrial:
Industrial: benefício de Industrial: benefício de
benefício de 35% para benefício de 10% para
50% para pequenas e 20% para as pequenas e
pequenas e médias pequenas e médias
médias empresas; taxa médias empresas; taxa
empresas; taxa de 2% sobre empresas; taxa de 2% sobre
de 2% sobre vendas brutas de 2% sobre vendas brutas
vendas brutas para micro- vendas brutas para micro-
para micro- empresas para micro- empresas
empresas empresas

Isenção de Isenção de Isenção de Imposto


Isenção de Imposto de Consumo sobre
Imposto de Imposto de matérias-primas e
de Consumo sobre
Consumo sobre Consumo sobre matérias-primas e subsidiárias
matérias-primas matérias-primas subsidiárias
e subsidiárias e subsidiárias
30
Micro Pequenas Médias
Empresas Empresas Empresas

Devem ter Devem ter


Devem ter
contabilidade ou modelo de
contabilidade
livro de registo contabilidade
geral
compras/serviços simplificada

As Micro Empresas estão isentas de Imposto de Selo.

A classificação como micro, pequena ou média empresa é


também relevante para efeitos de Lei Geral do Trabalho.
31
III. EMPRESAS PÚBLICAS
E EMPRESAS COM DOMÍNIO PÚBLICO

32
1. NOÇÃO E PRINCÍPIOS
•A empresa pública é uma pessoa colectiva, dotada de
personalidade jurídica e autonomia administrativa, financeira
e patrimonial.
• Obedece aos princípios de:

Autonomia e
Transparência rentabilidade
financeira

Concorrência Autonomia de
gestão

33
2. ÓRGÃOS
• Conselho de Administração (46º LBSEP)
• Mandato de 5 anos
• Renovável por 1 ou + vezes
• Integra até 11 administradores (executivos/não executivos)

Ou, em alternativa
• Conselho de Coordenação e Orientação Estratégica (48º LBSEP)
• 5 membros
• Definição das grandes linhas de actividade
e
• Comissão Executiva
• 5 membros
• Gestão corrente da empresa
34
• Conselho Fiscal (49º LBSEP)
• 3 membros (1 Presidente e 2 vogais)
• Nomeados pelos Ministros das Finanças e do Sector Empresarial
Público

Ou, em alternativa,
• Fiscal Único
• Nomeado pelo Ministro do Sector Empresarial Público

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3. PLANIFICAÇÃO ORÇAMENTAL E AUDITORIA EXTERNA
• Devem realizar a seguinte planificação:
• Planos plurianuais: Plano Estratégico (5 a 10 anos) e Plano de
Negócios (1 a 3 anos), submetidos à aprovação do Executivo.
• Plano e Orçamento anual.

• Devem prestar contas e pagar impostos:


• Apresentação de contas e relatório de gestão, em base anual, ao
Ministro responsável pelo Sector Empresarial Público.
• Parecer do órgão de fiscalização sobre a gestão e as contas.
• Prestação de contas trimestral: 31 de Março, 30 de Junho e 30 de
Setembro – Decreto Executivo n.º 401/15, de 8 de Junho
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• Auditoria externa (25º LBSEP)
• Obrigatória, a realizar anualmente;
• Auditores seleccionados com base em concurso público ;
• Rotatividade dos auditores

• Obrigação de constituição de reservas e fundos (26º LBSEP)


• Reserva Legal: 20% do capital social, preenchida através da alocação
anual de 5% dos lucros de exercício;
• Fundo de Investimento e Fundo Social (montantes a serem
regulamentados)

37
4. ESTATUTO DOS GESTORES PÚBLICOS

• Decreto Presidencial n.º 15/17, de 2 de Fevereiro -


Estatuto dos membros dos órgãos de gestão e de
fiscalização das EP e das EDP
Para Administradores:
• Princípios gerais de ética – art. 4.º
• Requisitos para a nomeação – art. 7.º
• Dever de comunicação de situações que possam suscitar conflitos
de interesse – art. 14.º
• Impedimentos e incompatibilidades – arts. 16.º e 17.º
• Responsabilidade – art. 18.º
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Para Membros do Órgão de Fiscalização:
• Princípios gerais de ética – art. 4.º
• Requisitos para a nomeação – art. 29.º
• Mandato de 3 anos; no máximo 2 mandatos – art. 33.º, n.º 1 e 4
• Não podem exercer funções deste tipo em mais de 3 empresas -
– arts. 34.º, n.º 1
• Interesse público, rigor e independência – art. 35.º
• Direito de aceder a informação – art. 36.º

Decreto Presidencial n.º 16/17, de 2 de Fevereiro – Estatuto


remuneratório

39
IV. EMPRESAS COM PARTICIPAÇÃO
PÚBLICA MINORITÁRIA

40
• As empresas com participação pública minoritária são aquelas em
que se associam capitais públicos e privados, não podendo as
entidades públicas:
1. Deter a maioria do capital social ou dos direitos de voto;
2. Nem ter o direito de designar/destituir a maioria dos membros do
órgão de administração ou de fiscalização.

• Regem-se pela LSC (70º LBSEP), mas a participação pública cumpre


as regras da LBSEP (5º, n.º 2 LBSEP)
• Quando o Estado tiver mais de 15% do capital, deve ser remetido
ao Ministro da tutela do Sector Empresarial Público a informação
destinada aos sócios (71º LBSEP)

• Podem ter só 2 sócios (304º, n.º 2 LSC), ainda que adoptem o tipo SA.
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• Criam-se empresas ao abrigo da Lei das Parcerias Público-
Privadas – 13º LPPP
• São sociedades de fim específico (SPV), de capitais mistos, que
podem adoptar ser SQ ou SA.
• Se a sua receita anual estimada estiver acima do valor que vier a
ser determinado pela Comissão Ministerial de Avaliação das
Parcerias Público-Privadas, a sociedade deve:
• ser necessariamente uma SA, podendo emitir valores mobiliários
• obedecer a padrões internacionais de corporate governance
• publicar as suas demonstrações financeiras
• adoptar contabilidade e demonstrações financeiras padronizadas
(International Finance Report Standard)

42
O que são PPP?

As Parcerias Público – Privadas (PPP) são formas de colaboração entre


entidades públicas e entidades privadas que permitem que a satisfação
das necessidades colectivas:
• Seja assegurada por uma entidade especialmente criada
para esse fim, para quem a maioria do risco é transferido;
• Seja prosseguida com recurso a financiamento privado;
• Beneficie da experiência e know-how das entidades
privadas;
• Assente numa relação duradoura entre entidades
públicas e privadas.

43
As PPP representam uma nova forma de pensar a Administração
Pública…

ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRAÇÃO
REGULADORA
PRESTADORA

A colaboração dos privados é Ampla intervenção dos privados,


diminuta e cinge-se à mera que asseguram a concepção, o
execução dos projectos financiamento, a gestão e a
concebidos e financiados pela manutenção dos projectos da
Administração. Administração.

O PRODESI deixa claro que esta é a abordagem


do Estado. 44
Quais as áreas de maior aplicação de PPP?

• As PPP têm vindo a ser aplicadas nas mais variadas áreas de


actividade, um pouco por todo o mundo.
• Em Angola, o recurso a PPP seria muito benéfico nas seguintes áreas:

• Infra-estruturas rodoviárias, ferroviárias e aeroportuárias;


• Infra-estruturas de abastecimento de energia eléctrica e
de água e saneamento;

• Construção de habitação social;


• Gestão hospitalar;
• Serviços de recolha e tratamento de lixo.
45
Que ppp estão a ser desenvolvidas em Angola?

1- Aproveitamento Hidroeléctrico Chicapa: concessionário Hidrochicapa


no Saurimo em regime de PPP para produção de energia, concessão de
20 anos, início da exploração em 2007;

2- Aproveitamento Hidroeléctrico Mabubas, concessionário


KANAZURO, em Caxito em regime de PPP para produção de energia,
concessão de 20 anos, início da exploração em 2012;

3- Aproveitamento Hidroeléctrico Lomaum, concessionário KANAZURO,


em Benguela em regime de PPP para produção de energia, concessão de
20 anos, início da exploração em 2015;

4- PPP entre CNC – Conselho Nacional de Carregadores – e AGILITY para


concessão em regime de BOT para três Plataformas Logísticas (Luvo,
Massabi e Santa Clara). 46
5- Aprovado o Projecto Hidroeléctrico do Programa de Geração de
Energia Hidrotérmica (PGEH), a ser dirigido pelo MINEA com dois
parceiros (tecnológicos e de capital).

6- Aprovado o Projecto do Porto Caio em Cabinda, concessionária Caio


Porto S.A. em regime de PPP.

7- Perímetros de Eucaliptos (Benguela, Huambo e Huila), concessionária


Fundo Soberano, para a concessão da gestão e exploração, sob os
termos e as condições do acordo de concessão com o Ministério da
Indústria.

47
No actual contexto de crise, existe um grande interesse por parte dos
vários departamento ministeriais em avançar para implementação das
PPP, onde se destacam:

Ministério da Construção (pretende edificar uma autoestrada Luanda-


Benguela-Huambo-Luanda, já definiu os parâmetros para
implementação);
Ministério da Energia e Águas (vários projectos de mini-hídricas por
implementar no país);
Ministério dos transportes (por via das mais variadas plataformas
logísticas);
Ministério da Industria (existe a pretensão de transformar alguns polos
industrias em PPP, como é o caso de Futila);
Ministério da Saúde
Ministério do Interior
Ministério das pescas. 48
Como assegurar a eficiência das PPP?

Eficiente repartição
IDEIA dos riscos do
1 projecto

Só o parceiro
público define o IDEIA
interesse público 2
Efectivo
acompanhamento e
IDEIA fiscalização da
3 execução do
projecto pelo
parceiro público. 49
V. EMPRESAS COOPERATIVAS

50
• Cooperativas:
São «pessoas colectivas autónomas de capital e composição variáveis e
de controlo democrático, em que os seus membros se obrigam a contribuir
com recursos financeiros, bens e serviços, para o exercício de uma
actividade empresarial, de proveito comum e com riscos partilhados, que
visa a promoção dos interesses sociais e económicos dos seus membros,
com retorno patrimonial predominantemente realizado na proporção das
suas operações com a cooperativa» - art. 3º LC

• Objecto:
• ramos do cooperativismo: agrário, artesanato,
comercialização, consumo, construção, crédito, cultura, ensino
e educação, habitação, mineração, pescas - derivados e afins,
saúde, seguro, solidariedade social, transporte e ambiente -
artigo 16.º, n.º 1, LC
51
• Constituição:
• acta da assembleia de fundadores – art. 22º LC
• contrato entre fundadores – art. 21º e 25º LC
• registo comercial – art. 27º LC

• Capital e entradas:
• Entradas em dinheiro, bens, trabalho – art. 33º e 34º LCO
• O capital deve ser realizado no prazo de 1 ano – 35º, n.º 3 LC
• As cooperativas podem também cobrar uma joia – art. 39º LC
• O capital social das cooperativas é variável – art. 5º e 6º LC,
porque quando há demissão de um do membro da
cooperativa restitui-se a entrada – art. 50º LC
52
As cooperativas emitem os seguintes valores mobiliários

Títulos de
investimento
Títulos de
capital 41º LC
34º LC

53
• Os títulos de capital ou são nominativos – 34º, 2 LC - mas podem
também ser escriturais – 34º, n.º 3 LC
• Transmissão do título de capital por endosso, e após autorização da
assembleia dos membros da cooperativa – 37º LC
• Os títulos de investimento têm um regime similar ao das obrigações,
e conferem o direito a remuneração:
(i) remuneração anual, com parte fixa e parte variável,
(ii) prémio de reembolso (fixo ou indexado aos resultados),
(iii) juros e plano de reembolso,
(iv) convertíveis em títulos de capital – 41º, n.º 2 e 6 LC

54
• Reservas:
• Reserva legal: retira-se 5% dos valores que a cooperativa recebe
(jóias e excedentes anuais líquidos), até que a reserva tenha um
valor igual ao do capital social da cooperativa. – 89º LC
• Fundo para ensino, formação, capacitação e educação: é
preenchida com parte das jóias não alocadas a reserva legal,
donativos, excedentes anuais (mínimo de 2%), resultado de
operações realizadas com pessoas externas à cooperativa. – 90º
LC

• Excedentes líquidos:
“Os excedentes líquidos são calculados por ajuste do rateio das
despesas, inclusive das provisões e por deduções destinadas às
reservas em geral” – 95º LC
 Os excedentes anuais líquidos que não resultem de operações
com terceiros podem ser distribuídos entre os membros – 96º LC55
• Órgãos – 53º, n.º 1, LC
• assembleia geral: 1 homem- 1 voto
• direcção,
• órgão fiscal ou fiscal único

56
VI. CARACTERIZAÇÃO DO TECIDO
EMPRESARIAL ANGOLANO

57
As nossas empresas adoptam, em geral, o tipo de
SOCIEDADES COMERCIAIS.

Desde a independência que só se constituem em Angola


sociedades de responsabilidade limitada, i.e., SQ e SA.

O número de sociedades por quotas existente é francamente


superior ao das sociedades anónimas.

As sociedades anónimas são mais utilizadas pelos Bancos,


Seguradoras, pelas futuras Sociedades Abertas, e as suas
regras são subsidiariamente aplicáveis às Empresas Públicas e
às Empresas Cooperativas.
INSTITUIÇÕES
FINANCEIRAS

EMPRESAS SOCIEDADES
COOPERATIVAS PPP

S.A.
EMPRESAS DO
SOCIEDADES SECTOR
ABERTAS EMPRESARIAL
PÚBLICO
Que tipo de empresas serão preponderantes nos
próximos anos?
As Empresas são veículos que servem para:
• Captar recursos (em especial, as sociedades de capitais) e
• Limitar o risco da actividade económica(responsabilidade
limitada)

As Empresas são pessoas jurídicas:


• São entes/pessoas que actuam autonomamente no
mercado;
• É preciso assegurar que não são utilizadas de modo
fraudulento: confusão de esferas, subcapitalização, abuso
de personalidade – Levantamento da personalidade
jurídica

As Empresas têm de ser educadas para promover uma


gestão e uma estrutura financeira sãs:
• Escândalos internacionais como os da Enron, Parmalat e
Lehman Brothers mostram-nos os riscos económicos e
sociais das más práticas.
• Entre nós, o BESA.
Muito Obrigada!

Sofia Vale
vale_sofia@hotmail.com

Trabalhos disponíveis em:


https://fduan.academia.edu/SofiaVale
https://www.researchgate.net/rofile/Sofia_Vale3
http://ssrn.com/author=1994479
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