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Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado. (Jo 15.

3)

Qual é o maior desejo do homem senão estar limpo diante de Deus! Mesmo porque o próprio
Senhor nos ensinou que o termos um coração limpo é nossa garantia de vermos a Deus (Mt
5:8). Mas a pergunta que não cala em nosso íntimo é: como podemos ser limpos diante de
Deus?

Nós lemos o que o Senhor declarou, que ficamos limpos pela palavra dita por Ele, contudo, na
prática, procuramos fazer alguma coisa para que possamos colaborar na limpeza de nosso
coração. E o que fazemos? Isso varia de consciência para consciência, mas, basicamente,
Paulo sintetizou nossos procedimentos nos seguintes termos: “não toques, não proves, não
manuseies” (Cl 2:21). Assim, para muitos, estar limpo diante de Deus equivale a alguma coisa
que podemos fazer para impedir nosso corpo ser contaminado. Para algumas igrejas isso
significa não cortar o cabelo, não vestir determinadas roupas, não trabalhar no sábado, atitudes
estas similares àquela feita por Adão quando procurou esconder sua nudez diante de Deus.
Naquele dia Adão e a mulher fizeram para si roupas feitas de folhas de figueira (Gn 3:7).

Alguns há que, ao ler acerca da limpeza feita pelo Senhor nos discípulos, logo trazem à luz os
dez mandamentos, presumindo que a palavra falada pelo Senhor foi a recitação de cada um
dos mandamentos escritos com o dedo de Deus nas tábuas de Pedra. Então, de modo mais
complexo entendem que ser limpo é obedecer a Deus e procura traduzir esta obediência aos
requisitos que lhe são aceitável, tal como o jovem rico que declarou ao Senhor: “Tudo isso
tenho guardado desde a minha mocidade; que me falta ainda?” (Mt 19.20). Ele fizera esta
afirmação após o Senhor declarar os seguintes mandamentos: “Não matarás, não cometerás
adultério, não furtarás, não dirás falso testemunho; honra teu pai e tua mãe, e amarás o teu
próximo como a ti mesmo.” (Mt 19.18,19).

O problema está em que os mandamentos não nos foram dados para nos fazer santos, mas
para demonstrar o quão enganoso é nosso coração. Paulo nos ensina esta verdade ao dizer-
nos: “Mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não conheceria a
concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás.” (Rm 7.7). Por certo que a palavra do
Senhor Jesus que teve o poder de limpar os discípulos não foi à declaração dos dez
mandamentos, porquanto se assim o fizesse, o efeito seria contrário, os discípulos não só se
veriam impossibilitados de cumprir os requisitos da lei, como também veriam a si mesmo como
os piores pecadores.

Antes do Senhor declarar que os discípulos estavam limpos pela palavra dita, o Senhor lhes
havia dito que eles eram varas enxertadas na videira, sendo Ele próprio a videira verdadeira e
Seu Pai o lavrador (Jo 15:1,2). Para entendermos este enxerto, precisamos recuar no tempo
para as palavras do profeta Isaías, na qual o Senhor pergunta: “Que mais se podia fazer à
minha vinha, que eu lhe não tenha feito? E como, esperando eu que desse uvas boas, veio a
produzir uvas bravas?” (Is 5.4) A pergunta é importante porque o próprio Senhor já havia dito
que podíamos conhecer a árvore por meio do fruto dizendo: “Por seus frutos os conhecereis.
Porventura, colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos?” (Mt 7.16).

O apóstolo Paulo já ensinara que nós somos ramos enxertados ao escrever: “E se alguns dos
ramos foram quebrados, e tu, sendo zambujeiro, foste enxertado em lugar deles e feito
participante da raiz e da seiva da oliveira” (Rm 11.17). A grande obra feita pelo Senhor, por
meio da qual se inicia o processo de limpeza de nosso coração foi a de nos enxertar na videira
verdadeira, isto é, o de nos fazer nascer de novo (Jo 3:5). Não há como a seiva correr por meio
de nós, enquanto varas enxertadas, se não estivermos firmemente enxertados na videira, se
não nos tornarmos galhos vivificados. Este processo de novo nascimento se dá por meio da
intervenção direta do Lavrador, ou seja, por beneplácito divino que, por meio da morte e
ressurreição do Senhor Jesus, nos torna apta a sermos justificados pelo sangue de Cristo
derramado. Fomos enxertados, é fato, nascemos de novo, caso contrário não seriamos
participantes do corpo de Cristo, mesmo porque o apóstolo Paulo indaga:

Examinai-vos a vós mesmos se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos. Ou


não sabeis, quanto a vós mesmos, que Jesus Cristo está em vós? Se não é que
já estais reprovados. Mas espero que entendereis que nós não somos
reprovados. (II Co 13.5,6)

Se temos a Cristo, nascemos de novo. Se nascemos de novo, a seiva flui por meio de nossa
vida espiritual. Se a seiva flui, então a vida circula por todos os galhos, propiciando as
condições necessárias para a manifestação dos frutos conforme o Senhor mesmo declarou:
“Toda vara em mim que não dá fruto, a tira; e limpa toda aquela que dá fruto, para que dê mais
fruto.” (Jo 15.2). O fluir da seiva é a figura da palavra de Cristo pregada ou ministrada aos
nossos corações, porquanto a fé vem pelo ouvi-la (Rm 10:17). Assim, se nascemos de novo
estamos aptos a sermos limpos, agora só podemos nos declarar limpos se estivermos ouvindo
a palavra do Senhor, caso contrário não estaremos produzindo os frutos dignos de
arrependimentos.

Antes de entendermos que precisamos frutificar no Senhor, temos de ter clareza sobre quais
frutos não procedem do Senhor. Pelo profeta sabemos que o fruto que procede de Deus é
completamente diferente de uvas bravas (Is 5:4), assim como é diferente “uvas dos espinheiros
ou figos dos abrolhos” (Mt 7:16). Em outras palavras as obras da carne é completamente
distinta do fruto do Espírito, razão porque Tiago declara que se houver em nosso coração
“amarga inveja e sentimento faccioso” (Tg 3:14) o manacial que flui de nós não procede do
Espírito de Deus, antes se constitui em águas amargosas (Tg 3:11,12). Neste caso nós
estamos retendo o fluir da seiva verdadeira e impedindo a obra do Espírito Santo.

Nosso problema não está no fruto em si, mas em como criamos as condições para ele ser
produzido. Se reconhecemos que o fruto que produzimos não está em concordância com o
fruto do Espírito, de nada adianta fazermos votos para mudar esta realidade. O que precisamos
é verificar se estamos ou não deixando a seiva fluir, ou seja, se estamos realmente permitindo
ao Espírito Santo realizar Sua bendita obra em nós até para permanecermos limpos nos termos
que o Senhor declarou aos Seus discípulos (Jo 15:3). Enquanto acharmos que podemos criar
os frutos de nossa própria lavra seremos incapazes de fazer fluir a seiva verdadeira.

Como fazer fluir a seiva de Cristo? O Senhor mesmo declarou: ouvir a Sua palavra. Precisamos
nos certificar que realmente estamos ouvindo a palavra de Deus e não lendo a palavra com
nossa mente, ou seja, lendo um texto e aplicando a ele conceitos dos quais ele não manifesta
de modo algum. Geralmente fazemos isso quando tiramos um texto fora do seu contexto e
queremos aplicar ele aos nossos contextos existenciais sem percebermos que, na verdade,
estamos distorcendo os textos. Um dos modos sábios de evitarmos este tipo de leitura é de nos
obrigar a ler cada texto pelo menos cinquenta vezes antes de tirarmos dele qualquer
conclusão, ampliando esta leitura para todo o capítulo e para todo o livro no qual está inserido
o texto.

O outro modo de nos habilitarmos a ouvirmos a palavra de Deus é orando em línguas por largo
período de tempo. Quando oramos em línguas estamos nos edificando (I Co 14:4). Pense
nesta edificação como se estando construindo um edifício, quanto mais oramos em línguas
mais andares se erguem sobre o fundamento que é Cristo. Os andares em si mesmo não
significam nada para nós, contudo ao lermos as escrituras, as paredes são preenchidas em
cada um destes andares, nos fazendo perceber a verdadeira finalidade do edifício. Assim,
orando em línguas e lendo a palavra de Deus, os mistérios divinos fluem do nosso espírito para
nossa mente, nos fazendo ter entendimento do plano de Deus em nossa vida.

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