Você está na página 1de 10

Effyía – Escola da Engenharia

Entenda 0 acidente ocorrido em Capitólio/MG -


Lago da Represa de Furnas

Janeiro - 2022

1
Geologia Local

No local do acidente ocorrem rochas do Grupo Araxá, Quartzito Furnas, de idade


Proterozoica, composto por quartzitos finos, micáceos, placoides, conhecidos
como Pedra de São Tomé ou Quartzito São Tomé. Localmente ocorrem micaxistos
intercalados, mas, a princípio, estas últimas rochas não ocorrem no local do
acidente.
O maciço encontra-se muito fraturado, com 2 famílias de fraturas verticais (em
vermelho e em laranja) e uma família de fratura horizontal (em verde), como se
observa na foto da Figura 1.

Figura 1 – Fraturas existentes no quartzito que ocorre nos cânions da represa de Furnas em
Capitólio/MG.
Fonte: Acervo Effyía.

Nas fotos da Figura 2 à Figura 3 apresentam-se outras visadas dos paredões


rochosos que ocorrem no cânion, podendo-se constatar o elevado grau de
fraturamento do maciço rochoso.

2
Figura 2 - Vista parcial de um dos braços dos cânions da represa de Furnas em
Capitólio/MG.

Figura 3 – Detalhes do grau de fraturamento do maciço quartzítico que compõem as paredes do cânion.
Fonte: Acervo Effyía.

3
Detalhes do acidente

Os quartzitos caracterizam-se por serem rochas com elevada resistência mecânica


e elevada resistência ao intemperismo. São rochas que, dependendo da
mineralogia, não sofrem intemperismo químico, apenas físico. Quartzitos com
elevados teores de quartzo, como os que são comuns na área do evento de
Capitólio, não sofrem intemperismo químico. Entretanto, a presença destas
famílias de fraturas, nas quais ocorre percolação de água ao longo do tempo
geológico vai, vagarosa e inexoravelmente, alterando as paredes das
descontinuidades.
Associe-se a isto a presença de alívio de tensões confinantes, tanto na vertical
quanto na horizontal, e tem-se um mecanismo perfeito de formação e
individualização de blocos rochoso, alguns de grandes dimensões. O alívio de
pressão na direção vertical, que afeta as descontinuidades horizontais, decorre do
desconfinamento devido à denudação do relevo e/ou ao soerguimento destas
rochas em direção à superfície. Já o alívio na direção horizontal, que afeta as
famílias verticais, decorre da erosão fluvial causada pelo entalhamento do rio
Grande ao longo do tempo geológico e que resultou na própria formação do
cânion. Esse mecanismo de alívio é importante porque ele promove a abertura das
descontinuidades, aumentando o volume disponível para percolação de águas.
Por fim, como componente fundamental à ocorrência de movimentos de massa,
há a água, que atua de duas formas principais: produzindo intemperismo, já que é
principal agente intempérico; e gerando pressões de água nas paredes das
descontinuidades, em especial as verticais, favorecendo seu afastamento e
eventual desplacamento (Figura 4).

4
Figura 4 – Detalhes dos fraturamentos e desgaste das rochas dos cânions da represa de Furnas em
Capitólio/MG.

Fonte: Acervo Effyía.

Esse conjunto de caraterísticas geológicas e geotécnicas cria, portanto, um


ambiente propício aos movimentos de blocos rochosos, que podem ocorrer sob a
forma de queda de blocos ou tombamentos (Figura 5a), como o tombamento
flexural que causou o evento do dia 08 de janeiro de 2022.

5
Figura 5 - Exemplos de tombamento flexural de blocos.
Fonte: Goodman & Bray, 1976

6
Considerações Finais

Nesse contexto, fica claro que há a necessidade de medidas de avaliação de risco


geológico destes locais de turismo geológico, que não tem tido a devida atenção
das autoridades, independentemente do município, estado ou região do Brasil.
Iniciativas individuais existem, mesmo que de forma errática, e podem e devem ser
aplicadas, já que têm mostrado sucesso na prevenção desse tipo de evento. O
Brasil é um país com inúmeras atrações de turismo geológico que podem e
merecem ser usufruídas por todos, de forma adequada e segura. Nós temos
profissionais com conhecimento técnico capaz de identificar e propor soluções de
engenharia ou de sinalização que possam promover e redução do risco desses
eventos. Basta querer e fazer!

7
Sobre o autor

Prof. Dr. Eduardo Marques


Formação: Doutor em Geologia (UFRJ – 1998), Mestre em
Geologia (UFRJ – 1992), Geólogo (UFRJ – 1987)

Experiência profissional: Professor Titular da Universidade


Federal de Viçosa e Pesquisador 1B do CNPq. Referência nas
áreas de Geologia de Engenharia, Mecânica de Rochas e
Hidrogeologia, com pós-doutorados nessas áreas
desenvolvidos na Universidade do Porto e na Universidade de
Queensland. Consultor de diversas empresas nas áreas de
Geologia de Engenharia, Mecânicas das Rochas, Cartografia
Geotécnica, Estabilidade de Taludes, Hidrogeologia e Meio
Ambiente.

8
Fique ligado(a)!

O mundo não para!

E você não pode parar!

9
10

Você também pode gostar