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CDU: 622.015(815.1)
Catalogação: sisbin@sisbin.ufop.br
ii
RUPTURA OBLÍQUA CONDICIONADA POR FALHA
TRANSCORRENTE NA CAVA A CÉU ABERTO DA MINA
DO CAUÊ, ITABIRA, MG.
iii
AGRADECIMENTOS
Como este trabalho foi sendo realizado por partes e sempre nos feriados e finais
de semana, mesmo com todo cuidado, acabei, de alguma maneira, deixando a família
em alguns momentos em segundo plano. Desta forma, agradeço a Inês, Flávia e
Matheus a quem dedicarei este trabalho.
O trabalho foi possível devido uma mudança de cadeiras na CVRD onde sai da
gerência de planejamento e fui para a de geotecnia. Desta forma, busquei conhecimento
específico que tinha somente de maneira genérica. As pessoas que participaram deste
processo e a quem agradeço foram João Bosco Ferreira e José Francisco de Viveiros.
Agradeço aos que vieram posteriormente e que mantiveram a mesma motivação para a
realização deste trabalho. Neste aspecto incluo o Antônio Padovezi.
Por outro lado, na chegada a geotecnia tive como amigos de empreitada o
Armando Mangolim, Luciano Pohl, Ricardo Leão, Antonio Costa, Danilo Almeida,
Tarso Dutra e a todos os funcionários da Gerência de Geotecnia e Hidrogeologia
(GAGHS) que muito me ajudaram. Agradeço aos colegas que chegaram mais
recentemente à equipe como o Germano Lopes, Paulo Gouvêa, Andréa Dornas, Fábio
Horta, Jesus Magno e, principalmente, ao Eudes Friguetto pelas informações repassadas
e discussões.
Em especial, gostaria de agradecer ao Armando Mangolim que considero um
excelente profissional e de grande conhecimento na área de geotecnia. O trabalho ora
desenvolvido baseou-se fortemente em sua idéias.
Aos colegas do mestrado externalizo que foi um grande momento conhecê-los e
mesmo não tendo um contato freqüente com todos, devido às particularidades de cada
um, certamente teremos bons momentos no futuro.
Agradeço, em especial, ao prof. Romero C. Gomes pela orientação, sugestões e
correção do texto e pelo trabalho que vem desenvolvendo na área de geotecnia em
Minas Gerais.
iv
RESUMO
vi
ABSTRACT
This work gives an overall evaluation of a mining slope failure at Cauê Pit Mine.
This pit mine belongs to the Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) and stands in the
town of Itabira, state of Minas Gerais, Brazil.
The failure called Trinca 1 occurs at the northern flank of Cauê syncline, more
specifically at the contact of Nova Lima and Itabira Groups. Mapping observations
indicate the tension cracks are related to strike-slip fault. This fault was developed by
forces with NE strike, which made all the rocks to get an E-W strike.
The failure is oblique compared with slope directions and is controlled by northern and
southern faults parallel to foliation. At tension crack’s borders, the rocks are more
resistant making the failure surface continues through the fault plane, which explains
the oblique movement.
In the beginning, the material moved from west to east and then turned to
azimuth 150º (from NW to SW) towards the pit. The accumulated displacement of X, Y
and Z-axis reached 15 m since 2000. The displacements were calculated by a
monitoring system composed by a several corner-cube reflecting targets located in and
out of the failure region. The results of this monitoring system were the major rule to
evaluate the safety conditions for operation at the pit and over the tension crack 1
region.
The geo-mechanical’s model of the failure region was developed considering
two basic purposes. First, understand geotechnical features of this instability and then,
give the guidelines to mine all the hematite ore. The model was based in Bieniawski
(1979) rock mass classification. The map covers the entire instability region including
22 cross-sections. This work presents and discusses only five cross-sections.
vii
tension crack 1. The results have confirmed that classic circular failure methods cannot
be applied for these kind of failures, as indicated by CVRD staff.
The best explanation for the instability process is to consider that an active block
had a major rule pushing the subsequent rocks, the quartzites, but not occurred through
iron formation. Otherwise, the consequences would be catastrophic mobilizing the
whole slope. Since the quartzites were constantly pushed downwards, the active block
started to fail by toppling.
The causes of the failure are not well understood. There aren’t enough evidences
to associate the initial movements to the strike-lip fault or to the loss of support caused
by mining or even to high water tables.
viii
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS.....................................................................................................iv
RESUMO..........................................................................................................................v
ABSTRACT....................................................................................................................vii
SUMÁRIO........................................................................................................................ix
LISTA DE FIGURAS...................................................................................................... xi
LISTA DE TABELAS................................................................................................... xiii
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO
1.1- PROPOSIÇÃO DO PROBLEMA E OBJETIVOS DO
TRABALHO.....................................................................................01
1.2- LOCALIZAÇÃO DA ÁREA............................................................01
1.3- METODOLOGIA DE TRABALHO................................................03
1.4- BREVE HISTÓRICO DA CVRD EM ITABIRA............................03
1.5- ESTRUTURAÇÃO DO TRABALHO.............................................06
1.6- RESUMO DO CAPÍTULO..............................................................08
CAPÍTULO 2 – GEOLOGIA
2.1 – QUADRILÁTERO FERRÍFERO - POSIÇÃO GEOTECTÔNICA E
LITOESTRATIGRÁFICA .................................................................. 09
2.2 – SINTESE SOBRE A GEOLOGIA DA REGÃO DE ITABIRA ........13
2.3 – GEOLOGIA DA MINA DO CAUÊ ...................................................19
2.4 – GEOLOGIA DA REGIÃO DA TRINCA 1 ........................................ 22
2.5 – GEOLOGIA ESTRUTURAL DA MINA DO CAUÊ ........................ 24
2.6 – RESUMO DO CAPÍTULO ................................................................. 36
ix
3.3 – HISTÓRICO DO MONITORAMENTO DA TRINCA 1 ................46
3.4 - RESUMO DO CAPÍTULO .................................................................55
CAPÍTULO 5 – CONCLUSÕES..................................................................................89
CAPÍTULO 6 – BIBLIOGRAFIA
x
LISTA DE FIGURAS
xi
Figura 2.13 – Diagrama estereográfico das atitudes das lineações mineral 2 (Lm2) e estiramento
(Le2), relacionadas ao S2, 100 medidas. Galbiatti (1999) .........................................................32
Figura 2.14 – Diagrama estereográfico das atitudes das charneiras de dobras B1, 38 medidas.
Galbiatti (1999) ............................................................................................................................33
Figura 2.15 – Diagrama estereográfico das atitudes das charneiras de dobras B2, 41 medidas
Galbiatti (1999) ............................................................................................................................34
Figura 2.16 – Diagrama estereográfico das atitudes das charneiras de dobras B3, 37 medidas.
Galbiatti (1999) ...........................................................................................................................35
Figura 4.1 – Mapa geomecânico na região da trinca 1 na aba norte da mina do Cauê.. ..............64
Figura 4.2 – Principais tipos de deslizamento com os respectivos estereogramas representativos.
Extraído de Fiori & Carmignani (2001).......................................................................................67
Figura 4.3 – Figura 4.3 – Desenho esquemático exemplificando uma ruptura oblíqua ao
talude............................................................................................................................................71
Figura 4.4 – Seção geomecânica E36. (a) análise no local da Trinca 1 pelo método de Bishop;
(a) análise pelo método de Morgenstern-Price............................................................................75
Figura 4.5 – Seção geomecânica S2. (a) análise no local da Trinca 1 pelo método de Bishop; (b)
análise pelo método de Morgenstern-Price. .................................................................................76
Figura 4.6 – Seção geomecânica S5 mostrando a ruptura no local de menor FS e na região do
início da trinca com FS de 2,7......................................................................................................77
Figura 4.7 – Seção geomecânica T2. (a) análise no local da Trinca 1 pelo método de Bishop; (b)
análise pelo método de Morgenstern-Price..................................................................................78
Figura 4.8 – Seção geomecânica T3. A análise foi livre e buscou o menor FS...........................79
xii
Figura 4.9 – Conformação dos taludes na região da trinca 1 com representação do traço das
foliações que ocorrem na área......................................................................................................81
Figura 4.10 – Análises de estabilidade realizadas por Pohl (2002) considerando a elevação do
rejeito na cava do Cauê de acordo com o projeto de GEOCONSULTORIA (2002)...................84
LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1 – Leituras de monitoramento dos prismas (período de 30/11/1996 a 15/01/1997).. ..47
Tabela 3.2 – Evolução dos deslocamentos medidos pelos prismas mais representativos do
maciço (período entre 2000 e 2003).............................................................................................48
Tabela 3.3 – Dados da evolução da movimentação dos prismas em 2004 ..................................53
xiii
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
1
ITABIRA MG
BELO HORIZONTE
QUADRILÁTERO
FERRÍFERO
OCEANO
ATLÂNTICO
MINA DO CAUÊ
ÁREA DE ESTUDO
MINA DE DOIS
CÓRREGOS
MINA DO ONÇA
MINA DO CHACRINHA
Escala Gráfica
2
1.3- METODOLOGIA DE TRABALHO
3
Mineração. Em 1° de junho, em decorrência dos Acordos de Washington, Getúlio
Vargas assinou o decreto-lei nº 4.352 e criou a Companhia Vale do Rio Doce. A nova
companhia, uma sociedade anônima de economia mista, encampou as empresas de
Farquhar e a Estrada de Ferro Vitória-Minas. Em 11 de janeiro de 1943 reuniu-se a
Assembléia de constituição definitiva da CVRD, que aprovou os estatutos da empresa,
fixou a sede administrativa em Itabira e o domicílio jurídico no Rio de Janeiro.
Israel Pinheiro foi nomeado primeiro presidente da empresa. A CVRD foi
responsável por 80% das exportações brasileiras de minério de ferro em 1949. Em 1950
é preservada a autonomia da CVRD frente às exigências do Eximbank de reduzir as
funções do presidente a de um mero supervisor.
No início da década de 50, o governo brasileiro assumiu o controle definitivo do
sistema operacional da CVRD e em 1953 foi realizado o primeiro embarque de minério
de ferro para o Japão. Neste mesmo ano a CVRD utilizou, pela primeira vez, um navio
brasileiro, o Siderúrgica Nove, no carregamento de minério para os Estados Unidos. Em
1955 a CVRD revê suas práticas comerciais no exterior e passa a fazer contatos diretos
com as siderúrgicas sem a intermediação dos traders. Em 1962 são assinados contratos
de longo prazo com siderúrgicas japonesas e usinas alemãs. Em 2 de outubro é criada a
subsidiária Vale do Rio Doce Navegação S.A. (Docenave) e, em 1966, é inaugurado o
Porto de Tubarão em Vitória.
Em 1973 a CVRD inaugura a primeira fase da usina de concentração de itabirito na
mina do Cauê, em Itabira/MG, buscando recuperar minério de ferro em rocha de baixo
teor. A figura 1.2 resume as movimentações anuais de minério desde 1942, quando a
CVRD iniciou suas atividades em Itabira. A movimentação total de estéril e minério na
mina do Cauê é enorme e somou até 2004 o valor de 1,54 bilhão de toneladas, sendo
1,027 bilhão de minério e 0,512 bilhão de estéril. A relação estéril-minério global foi da
ordem de 0,50.
4
MOVIMENTAÇÃO TOTAL NA MINA DO CAUÊ (1942 a 2004) RECORRÊNCIA
DEVIDO A
RUPTURA
90.000
80.000
70.000
MOV. TOTAL
60.000 LAVRA
CONTEMPLAVA
( x 1000)
10.000
-
1942
1945
1948
1951
1954
1957
1960
1963
1966
1969
1972
1975
1978
1981
1984
1987
1990
1993
1996
1999
2002
HEMATITA
HEMATITA RETOMADA DA LAVRA DE
+ITABIRITO
HEMATITA
INÍCIO DO BENEFICIAMENTO DE
ITABIRITOS
Figura 1.2 – Gráfico com a movimentação total (minério e estéril) da mina do Cauê de 1942
até 2004.
5
Figura 1.3 – Visão parcial da cava final do Cauê com o lago relacionado a disposição de rejeito
e a pilha de estéril.
6
A partir destas caracterizações desenvolveu-se a análise estrutural descritiva na
mina. Todas as estruturas planares e lineares foram estudadas para darem subsídio a
montagem dos mapas e seções geológicas e geotécnicas abordadas neste e nos capítulos
subsequentes.
No capítulo 3 buscou-se conceituar a ruptura, denomina trinca 1, mostrando onde a
mesma está inserida na mina do Cauê, como é sua geometria e sua evolução. Após,
realizou-se uma descrição histórica das atividades desenvolvidas na mina do Cauê em
função da Trinca 1.
O capítulo 4 abordou os aspectos teóricos e os de campo relacionados ao modelo
geomecânico. Apresentou-se um resumo da caracterização geotécnica através da
discussão do grau de intemperismo, grau de resistência/coerência, espaçamento do
fraturamento, condições das fraturas, RQD e classificação do maciço. Realizou-se uma
descrição detalhada das classes de maciço com a apresentação do mapa geomecânico da
Trinca 1 e adicionalmente realizou-se uma discussão sobre os modelos de ruptura em
taludes e uma caracterização da ruptura oblíqua.
Após, discorreu-se com uma análise das seções geotécnicas e uma discussão
sobre os parâmetros usados. As seções analisadas foram a S2, S5, E36, T2 e T3. Em
todas as seções houve uma primeira análise livre da seção buscando o menor FS e uma
análise no local da ruptura.
Como complemento, foi realizada uma descrição simplificada dos sistemas
hidrogeológicos que ocorrem na mina do Cauê e em que aspecto os mesmos podem
influenciar as análises geotécnicas.
Por último, o capítulo 5 apresenta as conclusões e algumas recomendações do
trabalho.
7
1.6 - RESUMO DO CAPÍTULO
8
CAPÍTULO 2
GEOLOGIA
Complexo Metamórfico
9
Dorr (1969) optou pela hipótese de corpos intrusivos, desconsiderando a
existência de embasamento. Autores como Guimarães (1966), Ladeira (1980), entre
outros, caracterizaram as complexas relações de contato entre estes corpos e as rochas
de cobertura e defendem a idéia de embasamento gnáissico-migmatítico.
10
gnáissicas de composição tonalítica a granítica, e subordinadamente, por granitos,
granodioritos, anfibolitos, intrusões máficas e ultramáficas (Herz 1970, Ladeira et al.
1983).
11
Palmital (O’Rourke 1958) e Formação Casa Forte (Gair 1962). Zucchetti et al. (1996)
caracterizaram a ambiência do Grupo Maquiné como uma associação metassedimentar
clástica não marinha (litorânea e fluvial).
Supergrupo Minas
Grupo Sabará
12
unidades anteriores e representa uma sedimentação tipo “flysh” (Barbosa 1968, Dorr
1969). É constituído por filitos cloríticos, metaconglomerados, metagrauvacas,
quartzito, metachert, metatufos e metabasaltos. Os metaconglomerados são portadores,
pela primeira vez na seqüência do Supergrupo Minas, de seixos de granito e gnaisse, o
que indica importantes modificações da paleogeografia, com soerguimento de novas
áreas-fonte, aumento da erosão e do gradiente de transporte (Renger et al. 1994).
Almeida et al. (2005) subdivide o grupo e duas formações, a inferior, Formação
Saramenha (Barbosa, 1968) e, a superior, Formação Estrada Real.
Grupo Itacolomi
Derby (1910) e Harder & Chamberlain (1915) fizeram menção sobre a geologia
e a potencialidade dos depósitos ferríferos do Quadrilátero Ferrífero e de Itabira.
Entretanto, trabalhos regionais de detalhe foram executados somente pelo convênio
USGS/DNPM. Neste convênio, o mapeamento geológico restringiu-se às imediações
das formações ferríferas. Mapa geológico de cobertura regional foi desenvolvido por
Hasui & Magalhães (1998) bancado pela CVRD e é apresentado na figura 2.2.
13
Dorr & Barbosa (1963), Schorscher & Guimarães (1976) e Chemale Jr & Quade
(1986) abordaram aspectos relativos à geologia regional e econômica do Distrito
Ferrífero de Itabira e apresentaram proposição de coluna estratigráfica.
Na região de Itabira podem ser descritas as seguintes unidades: Complexo
Metamórfico, Supergrupo Rio das Velhas, Supergrupo Minas, “Granito Borrachudos” e
coberturas terciárias.
Complexo Metamórfico – As unidades que compõem este complexo ocorrem
nos arredores de Itabira e Schorscher & Guimarães (1976) e Schorscher et al. (1982)
diferenciaram dois grupos de rochas graníticas: migmatitos polifásicos sotopostos, em
discordância das demais litologias, e uma seqüência de paragnaisses que estaria em
concordância metamórfica e estrutural com as unidades sobrejacentes.
Chemale Jr. & Quade (1986) propuseram a denominação de Seqüência
Gnáissica para as rochas gnáissicas da região de Itabira que seriam encaixantes do
Distrito Ferrífero de Itabira, já que não foi possível diferenciar migmatitos de
paragnaisses. Ainda, segundo Chemale Jr. & Quade (1986), há uma concordância
estrutural e metamórfica de todas unidades do Distrito, já que o evento que delineou a
foliação principal foi abrangente. A composição das rochas gnáissicas, segundo
Chemale Jr. & Quade (1986), é: gnaisses a biotita, gnaisses félsicos, biotita-gnaisses
porfiroclásticos, biotita xistos e quartzitos micáceos.
Supergrupo Rio das Velhas - Este foi descrito, no Distrito Ferrífero de Itabira,
primeiramente por Dorr & Barbosa (1963), como “Série” Rio das Velhas. Foram
consideradas as rochas mais antigas do distrito. Os autores citados avaliavam que uma
correlação direta com a localidade tipo da “Série” Rio das Velhas era impossível, mas
que, litologicamente, a correlação era estreita e a posição estratigráfica a mesma em
relação à inconformidade da “Série” Minas.
Schorscher & Guimarães (1976) e Chemale Jr. & Quade (1986) não
caracterizaram em suas colunas estratigráficas a existência do Supergrupo Rio das
Velhas. Schorscher & Guimarães (1976) definiram uma unidade equivalente
denominada de Seqüência de Xistos Verdes, enquanto que Chemale Jr. & Quade (1986)
definiram uma Seqüência Vulcano-Sedimentar. Segundo os últimos autores, esta
seqüência ocorre na base do Distrito Ferrífero de Itabira, acompanhando seu contorno
14
com espessura aflorante de até 550 metros. O contato entre as rochas vulcano-
sedimentares e o Supergrupo Minas sobrejacente é também concordante em termos
estruturais e metamórficos. Segundo Chemale Jr. & Quade (1986), a seqüência
apresenta grande variedade litológica, incluindo: anfibolitos e anfibólio xistos;
metaultramafitos, quartzitos e mármores, quartzo-clorita xistos, mica xistos ± granada ±
epidoto, filitos, pequenas intercalações de itabiritos e hematita dura. Em termos gerais,
predominam xistos carbonáticos e quartzo-clorita xistos.
Supergrupo Minas - Este ocorre ao norte da cidade de Itabira. Dorr & Barbosa
(1963) o correlacionaram com a “Série” Minas e atribuíram a este todos os minérios
econômicos do Distrito de Itabira. O Supergrupo foi subdividido em três grupos, da
base para o topo: Caraça, Itabira e Piracicaba.
Devido às características específicas do Distrito de Itabira, como o isolamento
destas unidades do resto do Quadrilátero Ferrífero, os autores não subdividiram os
grupos, exceto o Grupo Itabira com a Formação Cauê.
15
Sinclinal Figura 2.3
Cauê
Sinclinal
Dois Córregos Figura 2.4
Mina de
Periquito
Mina do
Chacrinha
16
Chemale Jr. & Quade (1986) subdividiram o Supergrupo Minas nos Grupos
Itabira e Piracicaba, o primeiro representado pela Formação Cauê e o segundo indiviso.
A Formação Cauê é composta, basicamente, por itabiritos e corpos ou lentes de
hematita compacta. Estas rochas formam grandes reservas de minério de ferro que são
exploradas desde a 2a Guerra Mundial. Metapelitos, metavulcânicas e metaintrusivas
ocorrem subordinadamente.
O Grupo Piracicaba foi descrito ocupando a parte central do Sinclinório de
Itabira e é constituído por: quartzitos, quartzitos ferruginosos, quartzitos sericíticos,
filitos e filitos hematíticos.
“Granito Borrachudos” - Este nome foi proposto por Dorr & Barbosa (1963)
para designar rochas graníticas de granulação grossa que afloram no Córrego
Borrachudos, a noroeste de Itabira, e tem ampla ocorrência regional. Os autores
sugerem que o “Granito Borrachudos” poderia representar um granito ígneo, potássico e
formado no estágio final dos tipos discutidos por Read (1955) em “Granite Series in
Mobile Belts”, ou seja, rochas ígneas não metamórficas mais jovens que a “Série”
Minas. Herz (1970), através de estudos petrológicos em ocorrências a norte e sul de
Itabira, manteve a origem ígnea, não metamórfica; contudo concluiu que, a respeito das
condições de recristalização, os corpos são mais similares àqueles de um pegmatito do
que granitos ígneos.
Schorscher et al. (1982) concluíram que as rochas tipo “Granito Borrachudos”
foram formadas por fenômenos cataclásticos ocorrentes na fase inicial do metamorfismo
Minas-Espinhaço, durante a qual haveria a infiltração e metassomatismo de K-
feldspatos sincataclásticos (blastomilonitos metassomatizados). Os autores
caracterizaram que as rochas do embasamento e, possivelmente, a Seqüência de
Paragnaisses seriam as litologias pré-metassomatismo. Neste trabalho caracterizaram,
ainda, que a lineação dada pela biotita e a foliação do “granito” são regionalmente
paralelas; daí ser a rocha tipicamente metamórfica.
Em função destas questões, Chemale Jr. & Quade (1986) incluíram o “Granito
Borrachudos” na Seqüência Gnáissica e denominaram-no como Metagranito
Borrachudos até que fossem obtidos novos dados geoquímicos e geocronológicos de
detalhe desta rocha.
17
Dussin (1994) agrupou regionalmente os “plutons” em duas suites: Guanhães e
Borrachudos, através de características químicas, petrográficas e pelas relações de
campo. A suite Guanhães é representada por “plutons” de composição tonalítica a
granodiorítica, provavelmente deformada durante o orogênese Transamazônica,
aproximadamente 2.2 a 1.9 Ga. ( Siga Jr. 1982, Teixeira et al. 1990 in Dussin 1994). A
suite Borrachudos, por outro lado, é constituída por seis “plutons”: São Félix, Senhora
do Porto, Urubu, Açucena, Itabira e Peti (Chiodi Filho 1989 in Dussin op cit). Dussin
(1994) descreveu que estes “plutons” intrudem nos complexos granito-gnaisses,
geralmente como “plugs”. Eles não intrudem nas seqüências sedimentares Proterozóicas
e não é clara a relação estratigráfica entre eles. Não existem dados de magmatismo
máfico coexistindo com a suite Borrachudos e nem membros intermediários de
nenhuma série diferente (Dussin 1994).
Os granitos da suite Borrachudos foram considerados como geneticamente
relacionados e deformados durante a Orogenia Transamazônica (Herz 1970, Schorscher
& Guimarães 1976, Chemale Jr & Quade 1986, Grossi Sad et al. 1990 in Dussin 1994).
Novos dados geológicos confrontam esta hipótese. Idades U-Pb em zircões, indicam
idades Mesoproterozóicas para o “emplacement” de dois “plutons”. São Félix foi
datado com 1,729 ± 12 Ga e Itauninha com 1,6 Ga (Dussin et al. 1993, Dussin 1994).
Idades K-Ar de 480 Ma nas biotitas de ortognaisses geraram “resetting” de
retrabalhamento post-Brasiliano (Dussin 1994). Estes resultados mostram que o
“emplacement” dos “plutons” foi contemporâneo com a extrusão do vulcanismo ácido
relacionado com as seqüências sedimentares que são largamente distribuídas na
Cordilheira do Espinhaço (Dussin 1994).
Cobertura Cenozóica – Nos mapeamentos geológicos em detalhe
desenvolvidos pela equipe de geólogos da CVRD foram observadas rochas
provavelmente de cobertura terciária em vários locais de Itabira. As rochas descritas
como diamictitos são compostas por fragmentos de hematita e matriz argilosa. Boa
parte destes depósitos estão laterizados e são cortados por falhas recentes. Estas rochas
estão preenchendo espaçamentos de falhas com profundidades variáveis e não foram
desenvolvidos estudos detalhados nesta unidade.
18
2.3 - GEOLOGIA DA MINA DO CAUÊ
19
minerais, ocorrem sericita, carbonato, clorita, biotita e apatita em percentagens baixas.
Os corpos de hematita encontram-se na forma de lentes ou pequenos corpos em meio
aos itabiritos ou associados a eles. As dimensões são de métricas a dezenas de metros.
Itabiritos carbonáticos não tem sido descritos, contudo no topo da Formação
Cauê, ocorrem rochas decompostas com níveis de itabirito magnético que, em princípio,
podem ser correlacionáveis a itabiritos carbonáticos. São itabiritos com magnetita
intercalados com material amarelo ocre com pintas de caulim. O grau de intemperismo,
porém, dificulta a determinação da rocha. A equipe de geólogos da CVRD caracterizou
esta unidade como sendo correlacionável ao Grupo Piracicaba.
O Grupo Piracicaba foi caracterizado no Distrito Ferrífero de Itabira por Dorr &
Barbosa (1963). Ocupa a parte interna do sinclinal Cauê e é constituído por: quartzitos
ferruginosos, quartzitos sericíticos, quartzitos e filitos.
A análise estrutural descritiva será abordada no item 2.5 neste capítulo e
descreverá as principais estruturas da mina do Cauê.
20
2834200
370200
372200
?
HE
HE
HE
MP
HE
HE
HE HE
MP MP
HE
MP
MP
HE
MP
MP
HE
HE
HE
HE HE
HE
HE HE
MP
HE CC 09 MP
MP
HE
HE HE
HE
HE
200 m
370200
0 200m
2832800
21
2.4 - GEOLOGIA DA REGIÃO DA TRINCA 1
22
E-28 E-30 E-32 E-34 E-36 E-38 E-40 E-42 E-44 E-46 E-48
-5 -6 -7 -8 -9 -10 -11 -12 -13 -14 -15
93 0
04
08
4
10 9
98
38
99
10
4
10
4
98
94
8
93
948
(FF - Itabirito/ He)
SR-02
Quartzito
986,0
NA=21m
Out./ 96
SM-03
Poço Rebaixamento
98
0
966,0
NA=7m PILHA DE 95
4
934
Ferruginoso (QF)
ESTÉRIL
Out./ 96 70
Xisto Interdigitado/
15
10
Poço Rebaixamento PILHA DE Metachert(XT/Mch)
93 2
07
Rochas
10
71
ESTÉRIL
SM-04
953,0
Metabásicas (B)
PILHA DE 936 AV A
NA=0 9 40 932
DA C Xisto e
08
8
93
Out./ 96
10
ESTÉRIL PCA-348 SM-05 TRINCA 2 Ç ÃO Quartzito - Xisto
SP-09(987,03) AV A
947,0
E SC Interdigitado (XT/QX)
NA=4m
43 LIMITE PIL E DE
Out./ 96
10 TALUD Cg
967
PCA-349 HA DE ESTÉRI L
2.834.200 SM-06 COM O PCA-312 2.834.200 Xisto e Anfibolio
0 SP-10(1001,27)
103
942,8
45m proj.
topo rochoso
938,0
NA=5m
S=83m
NA=6m Xisto Interdigitado (XT/AX)
T-2
94
13
31 /03/9 3
38 0
Out./ 96
10 92 9
10
02
QT
10
92 8
T-3 B
V/III
PCA-303 B
V
Xisto Grafitoso (XG)
AVA E-36V 92 9 V/III
C
70 967,6 B
Xisto Indiferenciado (XT)
DA
48
SM-07
S=94m
8
92
NA=26m
IV
LIMITE PI
VA Ç QX/XT
IV V
914
LH A DE GN
28
S CA Quartzito (QT)
NA=0m
ES TÉ RIL B
Out./ 96
PCA-307
77
V
M O TALUDE DE E QX/XT
929
CO PCA-309
V/III
PCA-304
970 (104m)
S=60m 965,7 QT GN
Gnaisse (GN)
NA=25m S=55m
QT B QX/XT
NA=32m
30 /08/8 9
B
74 PCA-302 971,9 31 /03/9 3
35
85
B
S=90m
85
S-2
990,6
IV II NA=25m IV
63 S=57m
III
08 /11/8 9
NA=8m
30 /01/9 1
B
40
III
PCA-306 V ?
GN 80 XT V B II
PCA-131 GN V
PCA-299 87 70 68
80 60
PCA-286
IV
PCA-308 LEGENDA
42
PCA-301 64 IV 968,3
98
GN Cg
S=155,5m
88 978,2 NA=32,10m
QX/XT 75 S2
II 30 /08/8 9
62 3 80 B
B
58
60 S=121m 55
II
1003,6 IV
50 NA=16m 77 V
II IV
63 47 63 III
QX/XT
D 23 /06/8 8
PCA-272
40 49 B= S=88m
V PCA-288 990,6 60 989,1
V
S2
944,1 (213,5m)
B
CONTATO
1031,7 NA=15,4m S=87m
2.834.000 S=60m
40 III
NA=8m 50 64 S=90m
2.834.000
XT/QX
PCA-116 30 /03/8 8 NA=23m
46
NA=22,5m
PCA-350 PCA-290 V
GEOLÓGICO
10 /09/9 1
XT/QX
31 /10/8 4
50
S-5 B 56 IV
B
50
SP-11(1071,19)
42 57
XG
S-4 V/III IV
PCA-316
PCA-300 85 80
QX/XT
44m proj. 1012,7 IV V /III
topo rochoso
XG PCA-346
S=163m
NA=40m
V 76 58
63 V
80 FOLIAÇÃO
XG III 60
IV
PCA-347
992,0 939,9 (198m)
50 53 07 /08/8 6
XT
B
PCA-115 946,5
A= S=80m IV B PCA-338 PCA-339 S =101m
SURGÊNCIA DE ÁGUA
Seco NA=14m
63 86 65 NA=39m
53
XT/QX 80 80
03 /11/9 5
D 904,0
85
23 /06/8 8 30 /09/8 7
B 76
PCA-285 PCA-133
942,6 (316m)
43 46 73
43
IV
PCA-278 PCA-289 SEÇÕES
20m proj.
V
XT/AX PCA-270
S=134,5m 942.8 (320m)
XG
topo roch os o B= S=116m
NA=8,6m
NA=5,2m IV
45
NA=48m S=120m
56
03 /11/8 5
V S1,2,3 e T2,3 :
05 /04/9 1 NA=54m
72
GEOMECÂNICAS
1013,7
XT/AX 80
S-5
984,1 05 /04/9 1
53 43
XT/AX PCA-287 53 45
S=90m 981,0
V /III
B
S=85m
47 62 V /III
NA=16m 1014,0 S=72m NA=64m
70
17 /11/7 6
S=90m
Mch
NA=49m
58
26 /08/8 8
B
PCA-134
51 V /III IV
E-28 a E-48 : SEÇÕES GEOLÓGICAS
III NA=35m 20 /08/8 7
III 64
43 XT 59 PCA-291
30 /04/8 6
PCA-108
III
73 PCA-274 70
86 XG
V 72
QX/XT AUXILIARES
45
II V
56 II70
V III
45 84
75
II
B V/III
68
1000,3
PCA-106
III
45 XT 48
67
43
S=120m
NA=84m
XT/Mch XT/QX V/III PCA-289 FURO GEOTÉCNICO
48 II
76 55 14 /01/8 8
1114,5
56 45
70 B XT/Mch 35 IV
CA-129 FURO DE PESQUISA
S=88m
45 CA-186
V S-6 V GEOLÓGICA
QX/XT
NA=74m
IV
51 PCA-201 QX/XT
15 /01/7 5
PCA-204
CA-139
QF QF B
C V R D
CX
CA-141
73
,
73
CA-187
~
II
IV 70
QF
V XM V TALUDE NORTE MINA CAUE
56
V T-4
370.800
371.000
371.200
371.400
371.600
371.800
372.000
XM MAPA GEOLÓGICO
T-3 FF
QF
XT/Mch XM V
V
FF
2.833.800 S-2 S-
3 FF V
T-2 T-5
2.833.800 ESCALA GRAFICA 0 50 m
E-28 E-30 E-32 E-34 E-36 E-38 E-40 E-42 E-44 E-46 E-48
-5 -6 -7 -8 -9 -10 -11 -12 -13 -14 -15
Mapa referência: Geoestrutural (1998)- Modificado
Figura 2.4 - Mapa geológico da área da trinca 1 na aba norte da mina do Cauê.
23
24
2.5 - GEOLOGIA ESTRUTURAL DA MINA DO CAUÊ
TERMINOLOGIA
Estruturas planares
Acamamento (So)
24
intercalados com outros mais finos e, também, com níveis de rocha argilosa. O
acamamento pode ser caracterizado na formação ferrífera em regiões de dobras
mesoscópicas, contudo, na região da Trinca 1 está, normalmente, transposto.
Foliação (S1)
Região B
S1
“Granito Borrachudos”
Zona de
?
? transcorrência
?
?
Região A
S1
Mina do Cauê
ESCALA
Região A
lm1/le1 Mina do Chacrinha 0 1000 m
LEGENDA
Grupo Piracicaba “Granito Borrachudos”
Grupo Itabira Grupo Nova Lima
Corpos de hematita /
Complexo Metamórfico
Itabirito carbonático
Figura 2.5 - Mapa simplificado do sinclinal Cauê com as áreas detalhadas estruturalmente.
Região A (S1= 464 medidas/curvas de 1 a 20 % e Lm1/Le1 = 118 medidas), região B (S1= 65
medidas/curvas de 6 %), região C (S1= 50 medidas/curvas de 6 %), região D (S2= 133
medidas/curvas de 2 a 36 %, Lm2/Le2 = 100 medidas e d2 = 41 medidas).
25
Sob o ponto de vista conceitual há uma diferença entre o bandamento e a
foliação que o intercepta. Neste trabalho usou-se o conceito antigo de paralelismo das
estruturas.
Do ponto de vista geotécnico não uma conseqüência danosa usando-se este
conceito.
Em regiões de maior magnitude da deformação, predomina Sm1, facilmente
observável nos flancos do sinclinal Cauê, principalmente nas formações ferríferas e em
rochas mais argilosas do Grupo Piracicaba.
As medidas de campo foram realizadas dentro de regiões específicas, assim
alguns diagramas estereográficos podem não mostrar estruturas maiores. Na figura 2.6,
a guirlanda não define com clareza o sinforme Cauê, pois há poucas medidas na região
SE e NE da mina.
Figura 2.6 - Diagrama estereográfico dos pólos da foliação S1, 1100 medidas nas regiões
central, sul e noroeste da mina do Cauê. Curvas de 3 a 33 %. Galbiatti (1999).
26
foliação de transposição que intercepta a foliação S1, algumas vezes
perpendicularmente. Possui direção EW, subvertical (Figura 2.7).
É uma trama planar penetrativa somente em zona de pequena potência, máximo
de 200 metros. Esta zona de transposição intercepta várias litologias, como as
formações ferríferas, os xistos do Grupo Nova Lima e as rochas gnáissicas. As
extensões laterais da transcorrência, a leste e oeste, estão cobertas por solo.
Figura 2.7 - Diagrama estereográfico dos pólos da foliação S2, 133 medidas. Curvas de 3,5 a
31,5 %. Galbiatti (1999).
Figura 2.8 - Diagrama estereográfico dos pólos das fraturas mineralizadas com ouro, 751
medidas Curvas de 1, 2, 3, 4, 5, 6 e 7%. Galbiatti (1999).
28
Figura 2.9 - Diagrama estereográfico dos pólos das fraturas sem mineralização (Frs), 279
medidas. Curvas de 1 a 9%. Galbiatti (1999).
Estruturas lineares
Lineação de interseção (L1 e L2)
29
Figura 2.10 - Diagrama estereográfico das atitudes da lineação de interseção (L2), 17 medidas.
Galbiatti (1999).
30
Lineação mineral / Lineação de estiramento (Lm / Le)
Figura 2.12 - Diagrama estereográfico das atitudes das lineações mineral 1 (Lm1) e estiramento
(Le1), 404 medidas nas regiões central, noroeste e sul da mina do Cauê. Galbiatti (1999).
31
Figura 2.13 - Diagrama estereográfico das atitudes das lineações mineral 2 (Lm2) e estiramento
(Le2), relacionadas ao S2, 100 medidas. Galbiatti (1999).
Dobras
Foram identificadas três famílias de dobras. Cada uma destas famílias tem estilo
estrutural próprio e são claras as relações de cruzamento entre elas.
Dobras (B1)
32
com domínios diferentes. Nos flancos predominam os “S” tectonitos e nas charneiras,
os “L” tectonitos. A transição entre estes domínios parece ser gradacional.
Figura 2.14 - Diagrama estereográfico das atitudes das charneiras de dobras B1, 38 medidas.
Galbiatti (1999).
Dobras (B2)
33
Figura 2.15 - Diagrama estereográfico das atitudes das charneiras de dobras B2, 41 medidas.
Galbiatti (1999).
Dobras (B3)
Estas dobras estão registradas mais proeminentemente nos xistos do Grupo Nova
Lima. Apresentam um conjunto variado de estilos com dobras assimétricas,
monoclínicas e kink bands (observadas nas formações ferríferas). A amplitude é
variável entre centimétrica e métrica. O eixo destas dobras situa-se ao redor de
S15W/20º, podendo haver a inversão em N10E/10o.
A clivagem de crenulação S3 é plano axial das dobras, cujas charneiras são
paralelas à lineação de crenulação NS (Figura 2.16).
34
Figura 2.16 - Diagrama estereográfico das atitudes das charneiras de dobras B3, 37 medidas.
Galbiatti (1999).
35
2.6 - RESUMO DO CAPÍTULO
36
CAPÍTULO 3
Parede da
falha Parede da
Lineação falha
Espelho
da falha
Figura 3.1 – Esquema básico de uma falha transcorrente mostrando os movimentos direcionais e
a zona de falha.
37
A zona de falha tem aproximadamente 300 metros de espessura e a extensão de
alguns quilômetros (Figura 3.2).
Localização da Trinca 1
Figura 3.2 – Bloco esquemático da Mina do Cauê com a representação da zona transcorrente e
da Trinca 1.
38
nas bordas da Trinca 1, ocorria um maciço mais resistente e que o plano de ruptura
lateral ajustou-se a essa falha (daí, a direção oblíqua).
A caracterização de Mangolim Filho (op cit.) estabeleceu, com clareza, a
conceituação da ruptura naquele momento e, mesmo sem detalhar o conceito de zona
transcorrente, colocou que a ruptura era oblíqua à direção do talude e que estava
encaixada na foliação S2 (Figura 3.2).
Do ponto de vista geológico, uma estrutura transcorrente como a determinada na
região norte da Mina do Cauê ocorre com certa freqüência em outras minas da CVRD,
inclusive no Complexo Itabira. Desta forma, a caracterização deste tipo de estrutura sob
o ponto de vista geotécnico é de grande interesse para efeito dos projetos de
estabilidade de taludes no desenvolvimento da lavra.
39
No trabalho da GEOPROJETOS (1992), as seções geotécnicas foram realizadas
com basicamente quatro tipos de rochas, da base para o topo: formação ferrífera (FF),
MC (Minas Caraça), NL (Nova Lima) e QZTOs (quartzitos); contudo, os parâmetros
usados foram de somente três unidades: FF, SE (englobando MC e NL) e ROCHA
(QZTOs).
Em 1995 os problemas geotécnicos foram intensificados por toda a região
conhecida como Aba Norte. As áreas instáveis mais destacadas foram denominadas
Trincas 1 e 2, a primeira relacionada a uma ruptura e a segunda a uma instabilização de
uma pilha de estéril na borda da cava do Cauê. Em julho de 1996, a ESC (Consultoria e
Engenharia Ltda) concluiu relatório relacionado à Trinca 2, denominado: “Diagnóstico
das Condições de Estabilidade da Pilha de Estéril – Setor Norte da Mina do Cauê”
(ESC, 1996). Em dezembro de 1996, foi concluído o primeiro relatório técnico sobre a
Trinca 1 denominado: “Trincas 1 e 2 – Mecanismo de Ruptura – Avaliação da
Estabilidade – Procedimentos de Controle e Níveis de Alerta – Medidas de Defesa na
Estação Chuvosa” (Mangolim Filho,1996).
Neste trabalho, Mangolim Filho (op cit.) caracterizou a Trinca 1 como sendo
oblíqua à direção geral dos taludes e controlada por falhas situadas em seus limites
norte e sul e colocou que a mesma estava encaixada ao longo da foliação. Determinou
adicionalmente que, nas bordas da trinca, ocorria um maciço mais resistente e que o
plano de ruptura lateral se ajustou a essas falhas daí o sentido oblíquo. Por fim,
estabeleceu que o plano de ruptura inferior estava controlado pelo contato com a rocha
pouco alterada a sã.
A partir desta caracterização da estrutura rompida colocou-se, como informação
adicional, que a borda sul servia como um contraforte de classe mais resistente que
impedia, num primeiro momento, o deslocamento da ruptura para dentro da cava.
Nesta época, foram estabelecidos mecanismos para monitoramento da estrutura
como a instalação de piezômetros, marcos superficiais e a contratação de consultoria
técnica internacional. Com o monitoramento, observou-se que alguns piezômetros
foram seccionados no contato entre o pacote de rochas intemperizado (´solo´) e o
maciço rochoso. Os marcos mostraram que os deslocamentos que eram milimétricos na
estação seca passaram a ser centimétricos na estação chuvosa.
40
No auge da estação chuvosa os deslocamentos chegaram a 40 centímetros
diários. O sentido do movimento iniciou-se como oblíquo ao talude, aproximadamente
EW, e não fluíam para o interior da cava. Contudo, no final do período chuvoso, com
deslocamentos elevados, o movimento mudou de direção, para o interior da cava.
Nesta época, a equipe julgou prudente a paralisação temporária da lavra, pois o
maciço da borda oeste, sendo mais delgado do que o do pé poderia romper por
compressão e, assim, desencadear uma ruptura brusca.
O consultor internacional Peter Stacey (in Mangolim Filho, 1996) sugeriu
ampliar o monitoramento superficial adensando o número de prismas inicialmente
instalados, principalmente no maciço resistente do pé da borda oeste. Como a lavra
havia sido retomada, a sugestão do consultor foi paralisar a lavra sob chuvas intensas,
no primeiro momento e, posteriormente, em uma orientação mais específica, sugeriu a
paralisação após chuvas continuadas acima de 50 mm. Complementado a orientação,
com base nos marcos, a lavra também deveria ser suspensa quando a taxa dos
movimentos dobrasse durante três dias consecutivos ou atingisse 5 cm/dia abaixo do
banco 895 e 10 cm/dia acima do banco 895. Este banco era a região de contato entre a
massa rompida e o arrimo de pé e por este motivo os movimentos eram analisados de
forma diferenciada.
Ainda como parte do relatório, Mangolim Filho (1996) fez uma análise sobre a
situação à época da Trinca 1 e diagnosticou que as taxas de deslocamento e o
movimento no sentido oblíquo ao talude não ofereciam riscos imediatos à lavra, por
meio de uma série de análises relacionadas aos prismas e às precipitações.
Estabeleceram-se alguns procedimentos de controle para o período seco, com duas
medições por semana dos prismas e no período chuvoso, com medições diárias. Outro
ponto de controle rigoroso foi o de levantar os dados de chuva no pluviômetro de
manhã e à tarde e diariamente analisar os deslocamentos, obtendo-se o comportamento
deslocamento x tempo x precipitação. Por fim, recomendou-se a inspeção direta dos
taludes, analisando-se possíveis feições indicativas de instabilidade para subsidiar as
decisões.
41
A partir destas análises a lavra poderia ser desenvolvida restritamente e foi
estabelecida uma série de níveis de alerta para várias situações determinadas pelos
dados. Os pontos considerados para alerta foram quantificados em alguns itens:
Para uma chuva de 50 mm em 24 horas, a lavra deveria ser paralisada, idem para
uma precipitação acumulada de 80 mm em três dias. Nesta situação, haveria uma
paralisação da lavra por 24 horas até uma análise dos deslocamentos. A equipe de
geotecnia ficaria responsável pela liberação da lavra.
42
Mangolim Filho (1996) discutiu também um ponto muito importante relacionado
á confiabilidade do monitoramento. Avaliava que os pontos situados no interior da
massa rompida apresentavam dados consistentes para uma tomada de decisão em tempo
hábil já que, no sentido de movimentação oblíquo ao talude (EW), o comportamento da
massa era elasto-plástico e caracterizava uma ruptura lenta e gradual.
Quanto ao movimento no sentido da cava (N150), o mesmo estava impondo uma
enorme tensão na região da borda oeste mais delgada. Como esta borda é constituída
por maciço resistente, de comportamento elasto-frágil, a ruptura, se ocorresse, poderia
ser do tipo brusca e repentina. Neste caso, para avaliar as condições de estabilidade, o
monitoramento dos prismas do pé da massa mobilizada e os da borda e pé do maciço
resistente seriam de extrema importância. Caracterizava ainda que, nesta região, o
monitoramento executado não estava sendo adequado ao propósito pretendido, pois a
precisão do aparelho não respondia às necessidades dos dados de campo.
Como prognóstico para o controle do desenvolvimento da Trinca 1,
recomendou-se a restrição dos deslocamentos futuros, de modo a não ocorrerem
deslocamentos semelhantes aos ocorridos na estação chuvosa de 1996 e constatou-se
que os deslocamentos EW não constituíam riscos imediatos a lavra pelo fato do
movimento ser lento e porque o material, em caso de ruptura, ficaria retido acima do
banco 835. Entretanto, os deslocamentos N150 constituíam riscos às operações de lavra
pois, em caso de ruptura, os detritos atingiriam o fundo da cava. Assim, dentre várias
medidas tomadas à época, vale a pena salientar que foi sugerido a construção de um
dique no fundo da cava como defesa para uma eventual ruptura e para dar segurança ao
desenvolvimento operacional da lavra.
Mangolim Filho et al. (2002) descreveram que, entre 1997 e 1998, executou-se
um retaludamento parcial da área, concebido para aliviar a carga sobre a área
mobilizada de xistos decompostos e implantar um arrimo de quartzito ferruginoso. Este
arrimo teria a função de bloquear os movimentos e induzir a estabilização do talude,
quando do avanço das escavações para a lavra de hematita situada imediatamente
abaixo. Alguns drenos horizontais profundos foram executados para atuar como solução
43
complementar ao retaludamento, a fim de incrementar o Fator de Segurança global dos
taludes.
A lavra continuou com sucesso até meados de 2000 quando foram constatadas
ocorrências de pressões hidrostáticas não dissipadas pelos drenos. Foi constatado,
adicionalmente, que o maciço de quartzito ferruginoso, deixado como arrimo
estabilizante, não apresentava as características de resistência estimadas a partir de
alguns afloramentos e dos dados de sondagem existentes.
Assim, Mangolim Filho et al. (2002) descreveram a reativação do mecanismo de
ruptura, a partir de análises efetuadas pela própria equipe de geotecnia da empresa e
pelo consultor internacional Peter Stacey. Esta avaliação considerou que o mecanismo
de ruptura não seria catastrófico e que a lavra poderia ser continuada com o apoio de
monitoramento sistemático. Contudo, como não seria possível um novo retaludamento,
a alternativa adotada foi a de continuar com a despressurização do talude através da
implantação de drenos subhorizontais, para evitar que as condições de estabilidade
fossem novamente comprometidas.
Em meados de 2001, começou a ocorrer uma expansão do sistema de trincas
incrementando a área instável e os drenos não se mostraram eficientes o bastante e,
desta forma, o monitoramento do talude foi expandido para toda a área instável e a lavra
foi continuada ao longo do banco 775. Em dezembro de 2001, o deslocamento
acumulado era da ordem de 4 metros e nova rotina de alerta foi estabelecida para dar
garantia na continuidade da lavra. No auge da estação chuvosa houve uma aceleração
dos deslocamentos e os níveis de alerta estabelecidos foram atingidos. Desta forma, a
lavra foi interrompida e o monitoramento foi incrementado, já que a massa mobilizada
em uma possível ruptura seria da ordem de dois milhões de metros cúbicos.
No decorrer de janeiro de 2002, o monitoramento indicou que os movimentos
estavam em processo de aceleração, não havendo evidências de que iriam se estabilizar
e que caminhavam para uma ruptura geral do talude. Novamente, a equipe contou com
o apoio do consultor Peter Stacey para consolidar uma decisão sobre a situação. Destas
análises, definiu-se um modelo para representar o mecanismo de instabilidade, tal que:
44
• A instabilidade estava sendo condicionada por um bloco ativo, que
manifestou um recalque da ordem de 6 metros e deslocamentos de 8
metros no sentido da cava, dando como resultante um deslocamento em
torno de 10 metros;
• Este bloco ativo estaria impondo um empuxo ao arrimo de quartzito, que
atuava como bloco passivo;
• Os recalques, deslocamentos resultantes da ordem de 6 metros a 10
metros, superavam qualquer expectativa em termos de uma avaliação
prévia para a estabilidade do maciço.
45
pertinentes. A instalação de novos prismas de monitoramento na formação ferrífera,
abaixo do arrimo de quartzito, poderá dar respaldo para avaliação da maior ou menor
probabilidade de ocorrência dos cenários descritos.
A lavra na aba norte foi mantida paralisada em 2002 e somente poderia ser
retomada se os deslocamentos fossem estabilizados e os procedimentos de
despressurização mostrarem-se eficientes. Desta forma, a lavra não foi mais retomada
devido à continuidade acentuada dos movimentos. Stacey (2002), em relatório técnico
de visita, abordou de forma diferenciada as taxas do movimento da Trinca 1 ao longo
das porções leste e oeste da cava. A área de maior movimento, na porção leste,
corresponderia à área de maior profundidade de exposição do quartzito e em local de
maior inclinação da seção. Esta região era mais sensível à evolução da lavra, enquanto
que a porção oeste tenderia a apresentar movimentos incrementais relacionados a
chuvas e, em pequena escala, à própria lavra.
O consultor descreveu ainda que as feições observadas à época caracterizavam a
evolução do movimento como sendo de toppling, baseando-se em observações de
campo onde foram indentificados ‘grabens’ de fundo e um ‘front’ movendo-se no
sentido da mina e com taludes abatendo no sentido da face. Estas características de
campo definiram a evolução da ruptura para este tipo de movimento.
46
Na etapa relativa ao período de 1996/97 havia 14 prismas de monitoramento
instalados na região da Trinca 1. Foram resgatados os dados parciais dos prismas 10,
11, 12, 13, 14, 18 e 19. Os dois últimos situam-se no banco 865, posicionados na região
imediatamente abaixo da área instável. Para efeito de visualização, na figura 3.3, os
prismas estariam posicionados no banco onde estão situados os prismas 5 e 10, sem
relação alguma com os anteriores.
Para compreensão do controle dos prismas, faz-se o seguinte esclarecimento: a
base onde os marcos eram levantados ficava ao sul da Trinca 1 e, como o sistema de
coordenadas é crescente para norte e para leste, as medidas negativas são as que
crescem no sentido contrário ao das coordenadas geográficas. Para a elevação os
valores são positivos para cima e negativos para baixo. As medições são relativas ao
período de 30/11/1996 a 15/01/1997 e, neste período, os prismas 10, 11, 12, 13 e 14
tiveram um deslocamento de aproximadamente 2 cm que se mantiveram no mês de
dezembro. No início de janeiro o deslocamento acentuou-se e chegou a 20 cm na
direção norte, 5 centímetros na direção leste e a cota sempre com uma pequena variação
da ordem de 2 cm (Tabela 3.1).
47
consolidado em planilha e uma análise dos mesmos será apresentada posteriormente.
Neste período foram reinstalados 28 novos prismas para controle com repetição da
numeração de 1 a 28.
Alguns destes prismas foram monitorados até 2003, sendo vários deles perdidos
com a movimentação da ruptura. Em 2003 houve a reinstalação com mais 7 prismas,
numerados de 41 a 47, que estão sendo monitorados até o presente momento.
Tabela 3.2 - Evolução dos deslocamentos medidos pelos prismas mais representativos do
maciço (período entre 2000 e 2003).
48
Como os prismas foram monitorados em diferentes períodos, os monitoramentos
não podem ser comparados de forma direta, exceto se fossem regularizados, situação
que não foi objeto de implementação neste trabalho. Com base nos valores dos
deslocamentos acumulados durante o período abrangido pelas leituras apresentadas na
Tabela 3.2, foram elaborados os gráficos indicados na Figura 3.4, correspondentes à
evolução dos deslocamentos detectados a partir de 2000.
49
28 28 28
0
34 34
00
34
00
0
20 T-3
00
00
00
08
40
10
0
14
0
16
0
12
37
37
37
37
37
63
10
0
105
28
1037 34
T-5 60
1024
0
1011
TRINCA 1
00
925
08
37
910 940
7 28
34
40
895 0
00
18
37
880
6
865
5
850
D850-01 S-2 D850-02
D850-03
835 3 ARRIMOS
28 4 11
33 10
60
0
820 1
805 2 92 Os valores de deslocamento dos
5
prismas foram28multiplicados
34 por
12
8
91
0 10 para efeito de2representação
00
790 89
5
LEGENDA
775
9
880
TRINCA ANTIGA
T-3 865
760 T-5 85
0
TRINCA RECENTE
1 PRISMA TOPOGRÁFICO
00
835
10
820
37
-20,30 83 3
00
00
60 80
14
12
P12 05/10/2001 27/12/2001 82 -4,77 -0,06 -3,38 -4,70 0 0 Mapa base confeccionado pela equipe GAGHS/2000 - modificado
37
37
37
Figura 3.3 – Mapa com os deslocamentos de alguns dos prismas no período entre 2002 e 2003.
50
PONTO
PONTO01
01 PONTO 07
PONTO 04
PONTO 11
PONTO 06 PONTO 12
Figura 3.4 – Evolução dos deslocamentos medidos por prismas de referência do maciço
Em 2004 foram instalados sete novos prismas (Figura 3.5) e uma análise dos
mesmos mostrou que os movimentos na região da Trinca 1 apresentavam
comportamentos diferentes dependendo do posicionamento. Os prismas 44 e 46 estão
51
dentro da massa rompida, os prismas 41 e 42 no pé da ruptura, os prismas 43 e 47 nas
margens e o prisma 45 está sobre a ruptura em área estável do maciço.
45
46
44
43
42
41
47
Figura 3.5 – Foto com o posicionamento dos prismas instalados no ano de 2004.
52
Os prismas 44 e 46 apresentam movimentos para sul sendo que o prisma 44 para
sudeste e o prisma 46 francamente para sul. Ambos apresentam movimentos com ordem
de grandeza métrica. O movimento do prisma 46 é diferenciado por haver um
desconfinamento lateral na região deste prisma, sendo que uma grande erosão favorece
um movimento para dentro da mina. Por fim, o prisma 45 apresenta movimentos
centimétricos, caracterizando uma zona mais estável do maciço.
Através da análise do movimento dos prismas, pode-se interpretar que a zona de
locação dos prismas 44 e 46 continua em pleno movimento e o pé (locação do prismas
41 e 42) continua a se comportar como arrimo. Ocorre ainda que a massa rompida
evolui com movimentos métricos e o pé com movimentos centimétricos; desta forma, a
evolução para sul passa por sobre o arrimo.
53
PONTO 43 PONTO
PONTO41
01
PONTO
PONTO44
01
PONTO
PONTO45
01
PONTO
PONTO46
01 PONTO
PONTO47
01
Figura 3.6 – Evolução dos deslocamentos medidos pelos prismas instalados em 2004
54
3.4 – RESUMO DO CAPÍTULO
55
períodos mais recentes foram resgatados, tratados e sistematizados, ao longo do período
entre 1996 e 2004 permitindo uma avaliação geral e mais atualizada da evolução dos
mecanismos de ruptura da Trinca 1.
56
CAPÍTULO 4
MODELO GEOTÉCNICO
Tabela 4.1 – Descrição e caracterização dos graus de intemperismo da rocha (Brown, 1981).
GRAU DE RESISTÊNCIA/COERÊNCIA
58
(1983). Para o uso desta tabela quanto da entrada na classificação de Beniawski (1976)
há necessidade de um ajuste, pois esta classificação usa parâmetros de valores
diferentes.
Valor aproximado da
Grau Descrição Identificação no Campo Resistência Uniaxial (σc) -
MPa
Extremamente Penetrada pela ponta do dedo polegar, marcada pela unha, facilmente
R0 0.25 – 1.0
Fraca penetrada pelo canivete e ponta do martelo do geólogo.
Rocha Muito Esmigalha-se facilmente sob o impacto de martelo de geólogo, pode ser
R1 1.0 – 5.0
Fraca raspada pelo canivete.
Pode ser raspada com dificuldade com canivetes, marcas podem ser
R2 Rocha Fraca feitas com a ponta do martelo de geólogo, a lâmina do canivete provoca 5.0 – 25.0
sulco acentuado na superfície do fragmento de rocha.
Rocha Espécimes de mão podem ser quebrados sob poucos golpes firmes do
R3 Medianamente martelo de geólogo, rocha não pode ser riscada com canivete, escavada 25.0 – 50.0
Resistente com desmonte a 'fogo'.
Rocha Muito Espécimes de mão requerem muitos golpes do martelo para serem
R5 100.0 – 250.0
Resistente quebrados, superfície praticamente não riscada pelo canivete.
Rocha
R6 Extremamente Espécimes somente lascados com o uso do martelo > 250.0
Resistente
ESPAÇAMENTO DO FRATURAMENTO
59
fraturamento em sondagens foi estimado por trecho de isofraturamento, com base no
espaçamento das fraturas ao longo do eixo dos testemunhos.
Este conceito foi desenvolvido por Deere et al. (1967) visando estabelecer uma
estimativa quantitativa da qualidade do maciço rochoso, com base na razão do
somatório dos fragmentos maiores do que 10 cm pelo total do avanço da manobra
(inferior a 2 m). O RQD foi determinado a partir das sondagens geológicas, realizadas
para montagem das seções geológicas, e em alguns furos de cunho essencialmente
geotécnico. Foram desconsiderados os trechos constituídos por rocha completamente
alterada.
CLASSIFICAÇÃO DO MACIÇO
60
Buscando individualizar e delimitar os horizontes de maciço relativamente
homogêneo no tocante às características geológico-geotécnicas de resistência e
deformabilidade, foi adotada a metodologia de classificação de Bieniawski (1976),
conforme Tabelas 4.4 e 4.5. Através da correlação do RMR desta classificação, torna-se
possível estimar as características de resistência (Hoek & Brown, 1980) dos maciços
rochosos.
Na estimativa do valor do RMR, segundo Hoek & Brown (op cit.), foi adotado a
condição seca, pois a influência da água deverá ser levada em consideração na
estimativa das tensões efetivas nas análises de estabilidade, quando do
dimensionamento dos taludes da cava. Desta forma, o quinto parâmetro de Beniawski
(1976) que é a influência da água é sempre somado aos outros quatro parâmetros
classificatórios. A tabela apresentada não faz o fechamento em 100 pontos devido a
exclusão do item relacionado a componente da água.
A equipe de geotecnia da CVRD incluiu uma nova classe (Classe VI) na
classificação original de Bieniawski (1976) para designar o maciço constituído por
saprolito ou solo estruturado com valores de coesão semelhantes nas minas do Sistema
Sul da CVRD. Esclarece-se que, no contexto da formação ferrífera, a classe VI
apresenta, a rigor, características de resistência muito superiores às que se costumam
obter para os solos rijos estruturados e rochas extremamente intemperizadas
provenientes da alteração de xistos e quartzitos que compõem os demais litotipos da
mina.
A classe VI adotada para a formação ferrífera refere-se à trabalhabilidade com
equipamentos de escavação e de escarificação usados na lavra, para diferenciar dos
horizontes duros, somente escavados a fogo. Contudo, a classe VI não foi usada no
desenvolvimento do modelo geomecânico da Trinca 1 e fica a descrição somente como
uma informação adicional ao trabalho.
61
Tabela 4.4 – Parâmetros do Sistema de Classificação Geomecânica de Bieniawski (1976).
Utilizar Ensaio
Compressão
> 8 MPa 4-8 MPa 2-4 MPa 1-2 MPa de Compressão
Puntiforme
Simples
Resistência 10-25 Mpa
Resistência à
1 da rocha
Compressão > 200 MPa 100-200 MPa 50-100 MPa 25-50 MPa 3-10 MPa
intacta
Simples
1-3 MPa
2
Peso Relativo 15 12 7 4 1
0
R.Q.D.% 90-100 75-90 50-75 25-50 < 25
2
Peso Relativo 20 17 13 8 3
Espaçamento de Fraturas >3m 1-3m 0,3 - 1 m 50-300 mm < 50 mm
3
Peso Relativo 30 25 20 10 5
Superfície
Superfícies Superfícies Superfícies Preenchimento
estriadas ou
muito rugosas. pouco rugosas. pouco rugosas. mole >5 mm ou
preench.<5mm
Condições das Fraturas Não contínuas e Separação <1 Separação <1 abertura >5 mm.
4 ou abertura 1-5
fechadas. mm. Paredes mm. Paredes Fraturas
mm. Fraturas
Paredes duras. duras moles contínuas.
continuas
Peso Relativo 25 20 12 6 0
CLASSE I II III IV V VI
RMR 100 - 80 80 - 60 60 – 40 40 – 30 30 – 0 -
TERMO Muito bom Bom Regular Pobre Muito pobre Solo coesivo
DESCRITIVO Very good Good Fair Poor Very poor Stiff soil
Para uma identificação mais clara das classes de maciço, será feita uma
descrição pormenorizada de forma a ajudar na visualização e caracterização das mesmas
em campo. As classes de maciço estão distribuídas de forma estruturada e a ocorrência
dos litotipos e as ações do intemperismo são determinadas pela proximidade de
aqüíferos constituídos pela formação ferrífera e por metacherts, além da superfície
natural do terreno.
As descrições das classes de maciço foram realizadas com base nos trabalhos de
campo, cujos resultados encontram-se consolidados na Figura 4.1 e nas seções S2, S5,
T2, T3 e E36 indicadas.
62
ClASSE V
ClASSE IV
ClASSE III
63
E-28 E-30 E-32 E-34 E-36 E-38 E-40 E-42 E-44 E-46 E-48
-5 -6 -7 -8 -9 -10 -11 -12 -13 -14 -15
2.834.400 2.834.400
NV CLASSE DE MAÇICO
93 0
04
08
4
10 9
98
38
99
10
4
10
98
9 44
8
93
SR-02 986,0
NA=21m
948
Classe V
Out./ 96
SM-03
Poço Rebaixamento
98
0
966,0
NA=7m
Out./ 96
PILHA DE 95
4
70
93
4
Classe V/III
ESTÉRIL
Classe IV
5
1 01
Poço Rebaixamento PILHA DE
9 32
07
10
71
ESTÉRIL Classe III
SM-04
953,0
TRINCA 2
PILHA DE Classe II
NA=0 940 93 2
8
08
93
Out./ 96
936
10
ESTÉRIL PCA-348
AVA
DA C
SM-05
ÇÃO
947,0
SP-09(987,03)
NA=4m
AVA
E ESC
Out./ 96
43 967
10
PCA-349 LIMITE PIL E D
2.834.200 SM-06
HA DE ESTÉRIL COM O TALUD PCA-312 2.834.200
938,0
10 30
T-2 38
NA=5m
Out./ 96
94
0 LEGENDA
13
10 929
10
02
10 928 PCA-303
T-3 V/III V
CONTATO
92 9 V/III
E-36 70 48
GEOLÓGICO
IV SM-07
8
AVA
92
V
AC IV
FOLIAÇÃO
ÃOD
V 80
AÇ
28
92 9
HA DE EST PCA-309
ÉRIL COM UDE DE ES V/III SURGÊNCIA DE ÁGUA
OTAL PCA-304
74 PCA-302 S-2,S-5,T-2, SEÇÕES
IV
35
85
IV
S-2 II
85
42
PCA-301 64 IV
98
II AUXILIARES
88
II
TRINCA 1 62 80 75 IV V/III
58
55
60
4 4
3
PCA-282 V II IV PCA-289 FURO GEOTÉCNICO
63
50 47
PCA-288
63
77 5
III PCA-343 V
V V
60
40 49 990,6
IV GEOLÓGICA
IV
XG
S-5 42
PCA-300 57
63
85
V/III PCA-316
IV PCA-346 V 76 58
80
60
V
PCA-115 PCA-270 50 IV 53 PCA-347 III 86 65 PCA-338 PCA-339
63
Seco
53 80 80
PCA-285 PCA-133
D
46 76 85 IV 73 V
43
45
43
B=
PCA-278 PCA-289 IV
V 56
03 /11/8 5
53
43 V/III 80
53 45 V/III
72
62 PCA-287
47
58 70 V/III IV
PCA-108 43
51
III
III
59
PCA-134
PCA-274
III 64
PCA-291
S-5
70
II II 73
V V
72
45
86
56 70 II V/III 45 V 75 III
45
III 48
67 68
84 QX/XT
V/III
PCA-106 48 76II 55 43
70
35
IV
45
56 45
V PCA-201 PCA-204 V
51 IV CA-139
CA-186 CA-141
CA-187
C V R D
PCA-107 CA-109 73 73
II CA-129
V
IV 70 V TALUDE NORTE - CAUÊ
56
V
370.800
371.000
371.200
371.400
371.600
371.800
372.000
MAPA GEOMECÂNICO
V T-3 V
S- 2 T- 2 ESCALA GRAFICA 0 50 m
2.833.800 3
V 2.833.800
T-1
S- S -1
E-28
-5
E-30 -6
E-32 -7
E-34 -8
E-36-9
E-38
-10
E-40
-11
E-42
-12
E-44
-13
E-46
-14
E-48
-15
Mapa base: Geoestrutural (1998) - Modificado
Figura 4.1 – Mapa geomecânico na região da trinca 1 na aba norte da mina do Cauê.
64
ClASSE II
65
RUPTURA PLANAR
66
Figura 4.2 – Principais tipos de deslizamento com os respectivos estereogramas representativos
(Fiori & Carmignani, 2001).
67
RUPTURA PLANO-CIRCULAR
RUPTURA CIRCULAR
68
Estão disponíveis para uso vários programas computacionais de equilíbrio limite
para cálculos de FS (Fatores de Segurança) em taludes de solo empregando diferentes
métodos (Bishop Simplificado, Janbu Simplificado, Spencer, Morgenstern-Price,
Sarma, etc).
RUPTURA EM CUNHA
69
Este tipo de ruptura ocorre mais freqüentemente nos maciços abaixo da classe IV,
inclusive.
FLAMBAGEM
70
RUPTURA OBLÍQUA
Este tipo de ruptura não é descrito na literatura técnica, seja pela sua ocorrência
restrita, ou por ser de difícil determinação. Mangolim Filho (1996) caracterizou a
ruptura como sendo oblíqua à direção geral dos taludes e controlada por falhas situadas
em seus limites norte e sul e colocou que a mesma está encaixada ao longo da foliação.
As bordas apresentam maciços resistentes e a obliqüidade refere-se à maneira como a
ruptura intercepta o talude.
Na evolução da ruptura oblíqua, Stacey (2002) caracterizou que as feições
indicavam um movimento de toppling baseado em determinações de campo como
abatimentos de fundo e movimentos frontais da massa no sentido do centro da mina.
A figura 4.3 ilustra o mecanismo de ruptura oblíqua com a face frontal livre para
efeito de exemplificação.
Zona transcorrente
(foliação verticalizada)
Foliação regional
Massa
rompida
71
4.3 – ANÁLISE DAS SEÇÕES GEOTÉCNICAS
Tabela 4.6. Parâmetros usados nas seções geomecânicas com legenda de cores para as litologias
e classes de maciço. As cores foram padronizadas para todas as seções de análise (Figuras 4.4,
4.5, 4.6, 4.7 e 4.8).
72
DISCUSSÃO DAS SEÇÕES GEOTÉCNICAS
73
A tabela 4.7 apresenta os resultados consolidados das análises realizadas em
todas as seções .
Pela análise dos dados, pode-se notar que os Fatores de Segurança (FS) são
bastante elevados, principalmente no local da ruptura da Trinca 1, para todas as seções
analisadas. Análises complementares foram realizadas por meio do método de
Morgenstern-Price, cujos valores de FS estão também indicados na Tabela 4.7.
A seção geomecânica E36 intercepta ortogonalmente a Trinca 1 na porção
intermediária e os valores de FS na região são tão elevados que não sinalizaram
processos de instabilização. Se a ruptura não fosse real não seria diagnosticada pela
referida seção (Tabela 4.7, Figura 4.4).
74
a
E levação
(x1000)
1.10
1.08
1.06
1.04
o 2.170
1.02
1.00
0.98 Gn
0.96
INÍCIO DA RUPTURA
0.94
0.92 FINAL DA RUPTURA
0.90
0.88 B
XT/AT Gn
0.86
0.84 B B
B Gn
0.82
0.80
FF B B
B
0.78
0.76 QF B
QF
0.74
B QX/XT
0.72
0.70
1.10
1.08 Elevação
1.06 (x1000)
1.04
1.02
2.072
1.00
0.98
b
0.96 Início da ruptura
0.94
Final da ruptura
0.92
0.90
B
0.88 XT/AX
QX/XT
0.86 B
XG B
0.84
0.82 B Gn Gn
0.80 FF
B B
B
0.78
0.76
QF B
0.74
QF
0.72
0.70
Figura 4.4. Seção geomecânica E36 : (a) análise no local da Trinca 1 pelo método de Bishop;
(b) análise pelo método de Morgenstern-Price.
75
´software´ buscou uma antiga ruptura no nível superior da trinca e o valor de FS nesta
seção ficou em torno de 1.1.
Elevação
(x1000)
1.10
1.08
o 1.401
1.06
1.04
1.02 Inicio da ruptura
1.00
0.98
0.96 Final da ruptura
0.94
0.92
0.90
0.88
0.86
0.84
0.82
0.80
0.78
0.76
0.74
0.72
0.70
ç
o 1.10
1.08 b 1.282
1.06
0 1.04
0 1.02 Início da Gn
1.00
0.98
0.96 Final da ruptura
0.94
0.92 B
XT/QX
0.90 B
XT/AX
0.88
0.86 XG Gn
0.84 QF Gn
QF
0.82
0.80 B
0.78
0.76
0.74 XT/Mch
0.72
0.70
Figura 4.5. Seção geomecânica S2: (a) análise no local da Trinca 1 pelo método de Bishop; (b)
análise pelo método de Morgenstern-Price.
Elevação
(x1000)
1.20 1.444
1.18
1.16
1.14
1.12
1.10 o 2.769
1.08
1.06
1.04 Início da ruptura
1.02
1.00
0.98
0.96 XT/QX
0.94
0.92
XT/QX
0.90
0.88 XT/QX
0.86 Gn B B
B B
0.84 B
0.82 Gn B
0.80
Seção geomecânica S5 - Trinca 1 - Aba Norte - Mina Cauê (Método de Bishop)
77
a
Elevação
1.12 (x1000)
1.09
1.06
o
1.03
1.00
0.97 Início da
0.94
0.91 B
B Final da ruptura
0.88
0.85 Gn
B B
0.82
0.79
Gn QF
0.76
FF
0.73
0.70
QF
0.67
1.07 Elevação
b (x1000) 1.291
1.03
0.99
Início da ruptura
0.95
0.91 B
B Final da ruptura
0.87
Gn
0.83 B B
0.79
Gn QF
0.75 FF
0.71
QF
0.67
Figura 4.7. Seção geomecânica T2: (a) análise no local da Trinca 1 pelo método de Bishop; (b)
análise pelo método de Morgenstern-Price.
Por fim, a seção geomecânica T3 não intercepta a Trinca 1, mas está situada a
leste da estrutura no sentido do movimento. Nesta seção observam-se as litologias
francamente na posição verticalizada, o que caracteriza a zona de transcorrência. O FS
78
na projeção da Trinca é extremamente elevado, com valor de 3.6, indicando
expressamente que o mecanismo de instabilização não poderia ser determinado. A
tabela 4.7 e a figura 4.8 mostram os menores valores obtidos de FS.
Elevação
(x1000)
1.405
1.085
o 3.607
1.045
1.005
Projeção da trinca 1
0.965
0.925
0.885
0.845 B
B
Gn B
0.805
Gn
B QF
0.765
FF
0.725 QF
0.685
79
• Sistema Aquífero Piracicaba: correspondente aos quartzitos (aquífero quartzito)
e xistos (aquitardo xisto). Possui área de recarga nas partes topograficamente mais altas
e área de descarga natural em surgências localizadas na face sul da estrutura.
Hidroquimicamente, a água tem média salinidade, é mais mineralizada e apresenta
águas bicarbonatadas cálcio-magnesianas;
80
4.5 – CONSIDERAÇÕES SOBRE O DESENVOLVIMENTO DA TRINCA
S1 S2 S1 x S2
7.1 % 3 .0 %
S1
5 .9 %
14 .3 %
8 .9 %
21 .4 % 11.9 %
1 4.9 %
28 .6 %
1 7.8 %
35 .7 % 2 0.8 %
2 3.8 %
42 .9 %
2 6.7 %
Lo wer h em isph ere - AN-S1 L owe r he mi sp here - AN-Tra sc Lo wer h emisphere - AN 2 - INTER SEÇÃO
N=42 K=10 0.0 0 Sig ma =1.000 Pe ak=20 .69 N=1 01 K=1 00 .00 Si gma =1.000 Pe ak=2 9.6 1 N=3
26 45
S2
CONFORMAÇÃO DOS TALUDES OPERACIONAIS NA REGIÃO DA TRINCA 1
Figura 4.9 – Conformação dos taludes na região da trinca 1 com representação do traço das
foliações que ocorrem na área.
81
Mangolim Filho (1996) descreveu que a trinca estava controlada por falhas em
seus limites norte e sul. A direção destas falhas é exatamente segundo a direção do
plano da foliação transcorrente S2 que é 170/80o.
Desta forma, avalia-se que havia planos de fraqueza no maciço estabelecidos
pelo desenvolvimento da interseção de ambas as foliações. No desenvolvimento do
processo, um fator preponderante para a manutenção da direção do movimento EW foi a
ocorrência de uma classe de maciço mais resistente em toda borda sul da trinca 1. Neste
contato sul, o pacote de quartzito, classe IV, serviu como contra-forte ao movimento até
1996 que era basicamente EW (sentido de oeste para leste).
Mangolim Filho (1996) descreveu ainda que o limite inferior da ruptura da trinca
1 estava controlado pelo contato com a rocha intemperizada e a sã. Esta situação foi
colocada pelo fato de vários piezômetros terem sido seccionados no referido contato. A
seção S5 realizada transversalmente à trinca (Figura 4.6) mostra que, na base da ruptura,
ocorre um xisto classe IV, que é mais resistente que os xistos classe V da superfície.
Por outro lado, pela condicionante hidrogeológica das unidades rochosas que são
aquitardos e aquicludes, o nível de água (NA) sempre foi elevado na região e, conforme
mencionado no capítulo 3, os DHPs (drenos horizontais profundos) não conseguiram
efetuar uma adequada despressurização do maciço nesta região. A água foi fator
preponderante no desenvolvimento do movimento. Desde o início da instabilização, o
movimento da massa nas estações secas sempre foram menores que nas estações
chuvosas.
Pelo exposto, as condicionantes geológicas e hidrogeológicas foram
preponderantes para a deflagração do mecanismo de instabilização.
Do ponto de vista operacional, no período 1997/98, houve um retaludamento
parcial concebido para aliviar a carga sobre a zona mobilizada e para implantar o arrimo
estabilizante de quartzito ferruginoso. Adicionalmente, implantou-se uma campanha de
DHPs (drenos horizontais profundos) de forma a se despressurizar toda a área instável.
Em 2000 o movimento voltou a intensificar-se e observou-se que ambas a medidas não
tinham surtido o efeito esperado. O quartzito não apresentava as características de
resistência estimadas e os DHPs não conseguiram dissipar as pressões hidrostáticas. Em
2001 foram intensificados os drenos, pois não seria possível implantar um novo
82
retaludamento. Nesta época, houve uma expansão do sistema de trincas e o
monitoramento passou a ser o principal item de controle. Os níveis de alerta
estabelecidos desde 1996 haviam sido atingidos e a lavra foi interrompida.
A instabilidade estava condicionada por um bloco ativo que impunha um
empuxo ao arrimo de quartzito que atuava como bloco passivo. Nesta situação, a
ruptura poderia mobilizar somente o arrimo de quartzito ou migrar para baixo
mobilizando a formação ferrífera.
A ruptura mobilizou o arrimo de quartzito que foi sendo constantemente
recalcado e Stacey (2002) caracterizou que o movimento apresentava feições de campo,
como abatimentos de fundo (‘grabens’) e de face que mostravam movimento tipo
‘toppling’. Ressalta-se que o movimento tipo ‘toppling’ estaria condicionado ao
recalque do arrimo de quartzito e que a massa rompida não apresenta as características
típicas deste tipo de ruptuta. A figura 4.9 mostra que ambas as foliações mergulham no
mesmo sentido e para dentro da cava.
83
1.143 1.203
XT VI
800 800
XTII XTII
QF
700 QF 700 Rejeito
FF FF
600 600
2.272 5.284
XT VI Rejeito XT VI
800 800
XTII XTII
Rejeito QF QF
700 700
FF
FF
600 600
14.574
Trinca Existente
900 XT VI
XT VI
800 Rejeito
XTII
QF
700
FF
600
Figura 4.10 – Análises de estabilidade realizadas por Pohl (2002) considerando a elevação do
rejeito na cava do Cauê de acordo com o projeto da GEOCONSULTORIA (2002).
84
fez simulações com o preenchimento do lago conforme pode ser observado na figura
4.8.
De maneira resumida, o aspecto mais importante é que com o preenchimento do
lago e a disposição de rejeitos no pé da ruptura há um favorecimento na estabilidade
devido a formação de um arrimo. Há uma elevação acentuada nos FS conforme o lago
vai sendo elevado e conseqüentemente o nível dos rejeitos.
85
- o modelo geomecânico tem que ter um ‘check’ de confiabilidade através de
análises práticas de campo e não teóricas;
- os controles das movimentações nos taludes tem que ser intensificados em
todos os setores considerados instáveis. Nos setores estáveis as inspeções
periódicas devem ser conduzidas dentro de padrões estipulados e com
freqüência estabelecida;
- quando a instabilização se instala, a implementação complementar dos
prismas tem que ser imediatamente intensificada e todas as informações
monitoradas em períodos a ser estipulado de acordo com a evolução da
instabilização. Como exemplo, a trinca 1, nos momentos iniciais, teve
monitoramento mensal, semanal, diário e nos momentos críticos leituras de 4
em 4 horas;
- a pluviometria tem que ser monitorada, no mínimo, diariamente e, se
possível, automatizada respondendo todas as precipitações horárias ocorridas
no dia;
- gráficos de deslocamento dos prismas, deslocamento x precipitação e
deslocamento x precipitação x tempo devem ser confeccionados
freqüentemente para fundamentarem as decisões de continuidade da lavra;
- equipe com geotécnicos com experiência e consultores nacionais ou
internacionais devem estar envolvidos para a tomada de decisão, pois
acidentes podem ser pessoais e impessoais de grandes dimensões e
conseqüências;
- a operacionalização de DHPs (drenos horizontais profundos) deve ser
enormemente melhorada pelas empresas prestadoras de serviços, pois este
tipo de atividade não respondeu as necessidades de despressurização. A
trinca 1 poderia ter tido outro final se a implantação dos DHPs tivesse
correspondido as necessidades colocadas em projeto;
- estudos hidrogeológicos devem ser bons e realizados por técnicos
experientes, já que são de suma importância e o mercado é carente de
hidrogeólogos com experiência nesta área;
86
- o monitoramento do NA (nível de água) tem que ser primoroso e todos os
esforços devem ser conduzidos para que este trabalho seja mantido no local
da instabilização;
- a operacionalização do retaludamento, quando ocorrer, nas áreas instáveis,
deve ter um critério técnico mais rigoroso que a lavra em um talude
operacional qualquer. O respeito à largura das bermas, altura dos bancos e
ângulos de face tem que ser rigoroso sob pena da instabilização ser
intensificada. A operação de mina tem que ter um fiscal de campo na
implantação do retaludamento;
- pelo fato da ruptura ter iniciado obliquamente ao talude os programas
convencionais de mercado não responderam a este tipo de ruptura e não
ajudaram a estabelecer os FS usualmente aceitos em taludes de minas. Desta
maneira, os itens acima colocados, em conjunto, é que estabeleceram os
critérios de decisão para a continuidade da lavra;
87
4.8 - RESUMO DO CAPÍTULO
88
CAPÍTULO 5
CONCLUSÕES
______________________________________________________________________
89
quanto a uma ruptura brusca e as conseqüências do movimento da massa para o
fundo da cava.
90
os aspectos geotécnicos que condicionavam a instabilização e garantir que a
lavra fosse continuada até a exaustão da hematita;
Os aspectos geotécnicos que condicionaram a ruptura foram atendidos;
A garantia da lavra de hematita foi atendida em aproximadamente 80%, sendo
que uma pequena parte da reserva foi mantida no talude devido a evolução
acentuada da massa rompida;
O modelo geomecânico usou como referência a classificação de Bieniawski
(1976); para tal, elaborou-se um mapeamento geomecânico em toda a extensão
instável com a classificação dos tipos de maciço e ao longo de 22 seções
geomecânicas interceptando toda a zona instável;
No desenvolvimento deste trabalho, apenas 5 seções representativas foram
apresentadas com discussões pormenorizadas;
Os parâmetros para análise foram extraídos do modelo geomecânico e não foram
realizados novos ensaios; consideraram-se as informações daquele momento
como a base para as análises;
As 5 seções consideradas representativas (E36, S2, S5, T2, T3) foram montadas
e analisadas no Geo-Slope Internacional Inc., versão 4.2. As análises foram
realizadas em duas etapas, a primeira sem estabelecer nenhuma condição e a
segunda forçando a análise pelo métodos de Morgenstern-Price e de
Bishop/Janbu no local da trinca 1;
Os resultados confirmaram que os métodos clássicos de análise para ruptura
circular não se aplicavam para aquele tipo de ruptura estudado, conforme
anteriormente colocado pela equipe de geotecnia da CVRD e descrito neste
trabalho;
Mesmo tendo clareza da particularidade do movimento, o desconhecimento
inicial sobre a classificação da ruptura impôs a realização de análises
convencionais para buscar respostas e até locais onde rupturas circulares
pudessem ocorrer;
As informações hidrogeológicos são limitadas e as considerações foram de que,
na formação ferrífera, o nível de água (NA) estava deplecionado e nos xistos
elevado. A pressão de água nos xistos foi um fator preponderante no
desenvolvimento da ruptura;
91
Não foi possível caracterizar o gatilho da ruptura, mas o seu desenvolvimento
esteve relacionado a uma forte condicionante geológica que é a zona
transcorrente, incluindo a interseção de duas foliações e as pressões elevadas de
água no talude;
A situação que melhor explicou a instabilização, no primeiro momento, foi que a
ruptura foi condicionada por um bloco ativo, com recalques decamétricos. Este
bloco ativo impôs um empuxo no bloco passivo representado por um arrimo de
quartzito. Por outro lado, a ruptura não mobilizou a formação ferrífera, que é o
arrimo do próprio bloco de quartzito. Nesta situação, a ruptura poderia ser
catastrófica e mobilizaria o talude total. Como o arrimo de quartzito foi sendo
constantemente recalcado, o bloco ativo começou a tombar iniciando um
processo de “toppling”.
A melhor maneira para conter a instabilização seria fazendo uma recorrência na
massa rompida e uma extensa campanha de drenagem para despressurização. A
recorrência foi feita parcializada e os drenos realizados não conseguiram
despressurizar o talude completamente. Desta forma, o monitoramento foi
sempre o ponto chave nas tomadas de decisão sob o ponto de vista da segurança
operacional;
Rupturas deste tipo ocorrem em outras minas da CVRD e pelo conhecimento
atual da geologia do Quadrilátero Ferrífero, devem ocorrer em vários locais
dentro e fora das minas. Desta forma, a caracterização deste tipo de estrutura sob
o ponto de vista geotécnico é de grande interesse para efeito dos projetos de
estabilidade de taludes.
93
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