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Os relatos são muitos e os métodos, variados. Poucas pessoas podem dizer que
não conhecem uma vítima de golpe, ou ao menos quem foi alvo de uma
tentativa de crime desse tipo. Com o avanço das tecnologias e a demanda maior
por serviços online e de delivery na pandemia, as quadrilhas ampliaram os
perfis de vítimas e agem de modo cada vez mais sofisticado.
O golpe do falso sequestro, que data de mais de uma década no País, dá lugar a
abordagens mais sutis, que envolvem clonagem de aplicativos de mensagem e
simulação de centrais telefônicas de bancos. As crises sanitária e
socioeconômica contribuem para a alta de crimes. Há mais principiantes em
compras online e no internet banking, por exemplo, o que deixa clientes
suscetíveis. Por outro lado, não são poucos os que buscam alternativas de ganho
rápido em investimentos - que se revelam fraudulentos - e acabam enganados.
Para combatê-los de forma ampla, Alcadipani diz ser preciso ter maior
segmentação nos registros e políticas integradas, além de conscientizar a
população. O Estadão lista abaixo o método aplicado nos golpes mais comuns,
assim como dicas de estratégias individuais de segurança.
Legendas
Central telefônica
“Eles são muito inteligentes. Usam música de espera dos bancos, ‘prendem’ a
linha. Aqui a gente busca conscientizar justamente para que as pessoas fiquem
atentas. Imagina o tanto de dinheiro que esses criminosos pegam”, diz o
delegado Wisllei Salomão, chefe da Coordenação de Repressão aos Crimes
Contra o Consumidor, a Propriedade Imaterial e a Fraudes (Corf) da Polícia
Civil do Distrito Federal. ‘Prender a linha’ significa usar um software de centrais
telefônicas, o URA.
Assim, a quadrilha avança na aplicação do golpe. “Já atendi várias pessoas que
chegam chorando, mas explico que os criminosos podem enganar qualquer tipo
de pessoa. Às vezes até converso com os familiares para não culparem os
idosos”, complementa Salomão.
Pagamento superfaturado
Uma variação do golpe do motoboy é o pagamento superfaturado, que em
muitos casos é cometido ao receber delivery de comida. “O entregador vai levar
a comida e leva uma máquina de cartão com o visor propositalmente
arranhado ou quebrado. Insere valor bem mais alto e muitas vítimas não
veem”, explica Monteiro. Ou a máquina de cartão pode estar adulterada,
fazendo com que o valor cobrado seja diferente do mostrado no visor.
Cartão trocado
O golpe do cartão trocado é relatado principalmente por vítimas que fazem
compras na rua e à noite, quando a visualização das transações é prejudicada. A
dinâmica é simples: logo depois de o comprador fazer pagamento por meio de
uma máquina, o atendente devolve outro cartão ao cliente. Do mesmo
banco, para não gerar desconfiança, mas de outra pessoa. Normalmente são
cartões perdidos.
Como nem todos conferem o próprio nome assim que recebem o cartão de volta,
o golpe passa despercebido. Enquanto a vítima não se dá conta – provavelmente
só vai notar quando tiver de fazer outra compra –, a quadrilha aproveita para
fazer transferências e desviar dinheiro, sobretudo de cartões de crédito.
Para evitar este tipo de golpe, as dicas são não tirar os olhos do cartão
quando for realizar transação financeira e, se notar que caiu em um
crime, acionar a instituição financeira o mais rápido possível para o bloqueio.
Cartão clonado
Publicações que circulam nas redes sociais indicam que, ao fazer entregas,
normalmente de comida, criminosos deixam o celular apoiado na moto
filmando de forma escondida as informações do cartão, como o código de
segurança. Para ganhar tempo para a filmagem, dá-se a desculpa de que a
máquina de pagamento está com problema e de demora para estabelecer o sinal.
“Caso tenha fornecido senhas – pode ser a mesma senha – usada para acesso a
sistemas, como e-mail, redes sociais, site de compras, dentre outros,
recomenda-se a troca imediata da senha e monitoramento dos últimos acessos”,
acrescenta Tavares. Ele diz ainda que é importante usar um segundo fator de
autenticação “em todos os serviços disponíveis”, como WhatsApp e apps que
possam ter dados mais sensíveis.
Perfil falso em redes sociais
Marina não sabe exatamente o que houve, mas relata que, segundo ouviu da
operadora telefônica depois, o chip original parece ter sido desativado e o
número clonado para outro aparelho. Quando conseguiu avisar a todos que,
assim como a professora, seu Instagram havia sido invadido, já era tarde. Foram
publicadas supostas ofertas de produto também no perfil de Marina e, estima a
vítima, subtraídos cerca de R$ 15 mil de outras pessoas por transferências
bancárias. “No WhatsApp, eu tinha verificação de duas etapas, então eles não
entraram. Só bloqueou meu acesso”, conta.
Clonagem de WhatsApp
Uma variação mais rebuscada do perfil falso é a clonagem de WhatsApp. Os
criminosos invadem a conta original da pessoa-alvo e conversam com seus
contatos, passando ainda mais credibilidade. As invasões são possibilitadas
principalmente por vítimas que são convencidas a clicar em links
suspeitos ou fornecer informações sensíveis, permitindo que
quadrilhas dupliquem a conta de WhatsApp. A prática é conhecida
como phishing.
De acordo com Wisllei Salomão, o crime foi frequente por um tempo, ainda que
tenha caído nos últimos anos. “Ofertam um carro, por exemplo, e a pessoa dá
um lance. Quando dá o lance definitivo, solicitam que transfira um valor inicial
para retirada”, explica. Segundo a Polícia Civil de Santa Catarina, os criminosos
utilizam “endereços online como leilão-oficial e leilão-detran-oficial”, o que
passa impressão de credibilidade. As dicas da corporação catarinense para se
precaver são:
● Ir ao endereço indicado nos sites para confirmar que se trata de um local
oficial de leilão;
“Como no Distrito Federal grande parte das pessoas são servidores públicos,
esse golpe é muito comum, já que elas costumam ter empréstimo consignado”,
explica Salomão. “As quadrilhas ligam oferecendo portabilidade e falam: ‘em
vez de pagar 100 prestações de R$ 10 mil, você vai pagar 90’. Mas na verdade
não é portabilidade, o criminoso faz novo empréstimo, repassa o valor das
prestações para a vítima e fala que vai assumir o empréstimo antigo. A vítima
passa a ficar com 2 empréstimos”, explica.
“Uma coisa que percebi conversando com colegas de outros Estados é que o tipo
de golpe muda um pouco de região para região. As vítimas no DF normalmente
são funcionários públicos que têm poder aquisitivo um pouco alto. Nos outros
Estados, podem ter mais empresários. Conversando com uma delegada do
Amazonas, ela contou que por lá eles têm um problema relacionado com posse
de terra”, conta.
Segundo Christian Perrone, uma estratégia para evitar cair em golpes desse tipo
é analisar a questão relacional. “Tem que sempre levar em consideração com
quem você está lidando. Faz sentido enviar a cópia do cartão de crédito? Faz
sentido entregar a senha?”, exemplifica. Ele conta que, em certos casos, fazer
perguntas básicas a si mesmo já ajuda a elucidar a questão.
Para além dos golpes listados, há uma série de outros crimes, inclusive mais
antigos, que continuam sendo aplicados no Brasil. Alguns exemplos são o
do bilhete premiado, que induz a vítima a achar que é ganhadora da loteria; o
do falso sequestro, que solicita quantia em dinheiro por um crime fictício; e até
narrativas mais recentes, como o golpe do Príncipe da Nigéria, que vende a
informação de que há uma suposta herança para ser entregue. Para retirá-la,
contudo, seria necessário fazer uma transferência inicial.
Christian Perrone explica que, em geral, as recomendações para se precaver
contra um crime costumam funcionar para outros tipos. Para além da
questão relacional, que prega a desconfiança e a observação de detalhes
no primeiro contato, ele destaca que há outras duas linhas de estratégias
para evitar cair em golpes. Uma é a de prevenção: práticas como verificação de
dois fatores e excluir senhas salvas no celular. A outra é a técnica: uso de
antivírus e outros softwares que protejam contra spywares.
Nunca se sabe quando e de onde virá o golpe, mas reforçar as defesas diminui os
riscos. Além, claro, de compartilhar as dicas e evitar que as quadrilhas façam
mais vítimas.
Fique atento
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