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213 TST

OU SE P R A G E R A L

PROF. THYAGO BERTOLDI (@LABORATORIO.TRABALHISTA)


INFORMATIVO Nº 213
TST - COMENTADO

Subseção I Especializada em Dissídios Individuais

A gratificação de função instituída por lei posteriormente declarada inconstitucional não


se incorpora à remuneração

A gratificação de função instituída por lei, posteriormente declarada inconstitucional, NÃO


se incorpora à remuneração, ainda que percebida por mais de dez anos.
(TST. SBDI-I. Ag-E-ED-RR-898-95.2011.5.05.0023, rel. Min. Maria Cristina Irigoven Peduzzi,
julgado em 21.11.2019, Informativo TST nº 213).

O que ocorreu no caso julgado pelo TST?

O TRT da 5ª Região reconheceu a inconstitucionalidade de duas leis estaduais que determina-


vam o pagamento de determinada gratificação de função aos empregados da Companhia de
Processamento de Dados do Estado da Bahia (Prodeb).

A reclamante afirma ter havido supressão indevida da gratificação de função, pois a parcela foi
recebida por 16 (dezesseis) anos, mas teve seu recurso de revista e de embargos negados pelo
TST. Contra essa última decisão, ela interpôs agravo regimental.

Gratificações e função de confiança

As gratificações são pagas ao trabalhador para remunerar ou estimular o exercício de


determinada situação, função, época especial, etc. Em regra, são parcelas espontâneas, pagas
em virtude de sua previsão em contrato ou instrumentos coletivos. Excepcionalmente, podem
ser previstas em lei, como é o caso da gratificação natalina (13º salário).

A gratificação por função de confiança, então, é um adicional remuneratório pago em razão do


exercício de atividades diferenciadas e de maior fidúcia do empregador.

Mesmo antes da Lei nº 13.467, de 2017, não era considerada alteração unilateral a determinação
do empregador para que o respectivo empregado reverta ao cargo efetivo, anteriormente
ocupado, deixando o exercício de função de confiança.

Mas e a gratificação que era paga ao empregado nessa condição? Qual o posicionamento do
TST sobre o tema?

A Súmula 372, item I, do TST determina que, percebida a gratificação de função por dez ou
mais anos pelo empregado, se o empregador, sem justo motivo, revertê-lo a seu cargo efetivo,
não poderá retirar-lhe a gratificação tendo em vista o princípio da estabilidade financeira.

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É este o enunciado que a reclamante alega ter sido violado quando da supressão do pagamento
de sua gratificação por função.

No caso concreto, a lei que instituía a gratificação de função foi declarada inconstitucional. É
direito da empregada a incorporação dos valores percebidos por mais de 16 (dezesseis) anos?

NÃO! A gratificação de função instituída por lei posteriormente declarada inconstitucional


NÃO se incorpora à remuneração, ainda que percebida por mais de dez anos (TST. SBDI-I. Ag-
E-ED-RR-898-95.2011.5.05.0023, rel. Min. Maria Cristina Irigoven Peduzzi, julgado em 21.11.2019,
Informativo TST nº 213).

Tal entendimento não viola a estabilidade financeira objetivada na Súmula 372, item
I, do TST, uma vez que observa o princípio da legalidade. A Corte de origem declarou a
inconstitucionalidade das normas estaduais que instituíram a gratificação de função percebida
pela autora durante mais de dezesseis anos, inviabilizando, portanto, o pleito de incorporação.

No TST, o recurso de revista não foi conhecido e os embargos não admitidos tendo em vista
a aplicação da Súmula 296, item I, do TST, e a ausência de contrariedade à Súmula 372 do
TST, que não versa sobre os casos em que há declaração de inconstitucionalidade da norma
instituidora da gratificação percebida por mais de dez anos. O agravo regimental da reclamante
foi conhecido, mas no mérito a SBDI-I negou-lhe provimento.

Bônus: Supressão da gratificação após a Reforma Trabalhista

A reversão, como ou sem justo motivo, não assegura ao empregado o direito à manutenção do
pagamento da gratificação correspondente, que não será incorporada, independentemente do
tempo do exercício da respectiva função (CLT, art. 468, §§1º e 2º, incluídos pela Lei nº 13.467, de
2017). O entendimento previsto no item I da Súmula 372 do TST será, por isso, provavelmente
revisto.

O julgado foi unânime?

SIM!

Como foi veiculado no informativo?

Gratificação de função instituída por lei. Percepção por mais de dez anos. Declaração posterior
de inconstitucionalidade. Incorporação. Impossibilidade. Súmula nº 372, I, do TST. Não incidên-
cia.
A gratificação de função instituída por lei posteriormente declarada inconstitucional não se
incorpora à remuneração, ainda que percebida por mais de dez anos. Tal entendimento não

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INFORMATIVO Nº 213
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viola a estabilidade financeira objetivada na Súmula nº 372, I, do TST, uma vez que observa o
princípio da legalidade. No caso, a Corte de origem declarou a inconstitucionalidade das nor-
mas estaduais que instituíram a gratificação de função percebida pela autora durante mais de
dezesseis anos, inviabilizando, portanto, o pleito de incorporação. No TST, o recurso de revista
não foi conhecido e os embargos não admitidos tendo em vista a aplicação da Súmula nº 296,
I, do TST, e a ausência de contrariedade à Súmula nº 372 do TST, que não versa sobre os casos
em que há declaração de inconstitucionalidade da norma instituidora da gratificação percebida
por mais de dez anos. Sob esses fundamentos, a SBDI-I, por unanimidade, conheceu do agravo
regimental interposto pela reclamante e, no mérito, negou-lhe provimento, mantendo, assim, a
decisão que negara seguimento aos embargos. TST-Ag-E-ED-RR-898-95.2011.5.05.0023, SBDI-I,
rel. Min. Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, 21.11.2019

Cálculo das comissões devidas ao representante comercial autônomo

As comissões devidas aos representantes comerciais autônomos devem ser calculadas


sobre o valor da venda à vista, salvo estipulação em contrário.
(TST. SDI-I. RR-1846-18.2011.5.03.0015, rel. Min. José Roberto Freire Pimenta, julgado em
28.11.2019, Informativo TST nº 213).

O que ocorreu no caso julgado pelo TST?

A controvérsia cinge-se a definir se as comissões devidas a representante comercial autônomo


devem ser calculadas sobre o valor da venda à vista ou acrescido dos encargos do financiamento.

Representantes comerciais autônomos

Nos termos do artigo 1º da Lei nº 4.886, de 1965, “exerce a representação comercial autônoma
a pessoa jurídica ou a pessoa física, sem relação de emprego, que desempenha, em caráter
não eventual por conta de uma ou mais pessoas, a mediação para a realização de negócios
mercantis, agenciando propostas ou pedidos, para, transmiti-los aos representados, praticando
ou não atos relacionados com a execução dos negócios”

Comissões

As comissões são formas de contraprestação, exclusiva ou não, que leva em conta o resultado
ou o desempenho dos trabalhadores que prestam serviços vinculados à sua produção ou à do
grupo.

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Como é feito o cálculo das comissões dos representantes comerciais autônomos?

Nos moldes do artigo 32, §4º, da Lei nº 4.886, de 1965, as comissões deverão ser calculadas pelo
valor total das mercadorias.

E nas vendas a prazo? Os encargos compõem esse valor?

NÃO! As comissões devidas aos representantes comerciais autônomos devem ser


calculadas sobre o valor da venda à vista, salvo estipulação em contrário (TST. SDI-I. RR-1846-
18.2011.5.03.0015, rel. Min. José Roberto Freire Pimenta, julgado em 28.11.2019, Informativo
TST nº 213).

Embora a Lei nº 4.886, de 1965, que regulamenta a profissão, disponha que as comissões serão
calculadas a partir do valor total das mercadorias (art. 32, § 4º), os encargos provenientes das
vendas a prazo, como os juros, não compõe esse valor, especialmente no caso dos autos, em
que o financiamento era realizado por instituição financeira sem qualquer vínculo com a
empresa representada, a qual recebia apenas o valor da mercadoria em si.

Desse modo, sendo o financiamento um negócio jurídico distinto, sem atuação direta do
representante comercial, não é possível incluir na base de cálculo das comissões valores que
não foram por ele conquistados, nem recebidos pela empresa que representa, sob pena de
enriquecimento ilícito (art. 884 do CC).

O julgamento foi unânime?

SIM!

Como foi veiculado no informativo?

Representante comercial autônomo. Venda a prazo. Comissões. Base de cálculo limitada ao


valor à vista da mercadoria. Não inclusão dos acréscimos decorrentes de financiamento.
As comissões devidas aos representantes comerciais autônomos devem ser calculadas
sobre o valor da venda à vista, salvo estipulação em contrário. Embora a Lei nº 4.886/65, que
regulamenta a profissão, disponha que as comissões serão calculadas a partir do valor total das
mercadorias (art. 32, § 4º), os encargos provenientes das vendas a prazo, como os juros, não
compõe esse valor, especialmente no caso dos autos, em que o financiamento era realizado
por instituição financeira sem qualquer vínculo com a empresa representada, a qual recebia
apenas o valor da mercadoria em si. Desse modo, sendo o financiamento um negócio jurídico
distinto, sem atuação direta do representante comercial, não é possível incluir na base de
cálculo das comissões valores que não foram por ele conquistados, nem recebidos pela empresa
que representa, sob pena de enriquecimento ilícito (art. 884 do CC). Sob esses fundamentos, a

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SBDI-I, por unanimidade, conheceu do recurso de embargos, por divergência jurisprudencial


e, no mérito, deu-lhe provimento para restabelecer a sentença no aspecto em que julgou
improcedente o pedido de diferenças de comissões. TST-E-RR-1846-18.2011.5.03.0015, SBDI-I,
rel. Min. José Roberto Freire Pimenta, 28.11.2019

A terceirização de atividade-fim ou essencial nas empresas de telecomunicações não


pode ser considerada ilícita

A terceirização de atividade-fim ou essencial das empresas de telecomunicações NÃO pode


ser considerada ilícita.
No julgamento do processo ARE 791932/DF (Tema 739 da repercussão geral), o STF firmou
a tese de que é nula a decisão de órgão fracionário que nega aplicação ao artigo 94, inciso
II, da Lei nº 9.472, de 1997, e de que a Súmula 331 do TST é parcialmente inconstitucional,
devendo a licitude da terceirização de toda atividade ser reconhecida.
(TST. SBDI-I. E-ED-RR-39900-49.2007.5.24.0002, rel. Min. Luiz Philippe Vieira de Mello Filho,
julgado em 28.11.2019, Informativo TST nº 213).

O que ocorreu no caso julgado pelo TST?

Em decisão da 1ª Turma do TST reconheceu-se o vínculo de emprego entre o reclamante,


atendente de call center, e a empresa tomadora dos serviços (Oi S/A), com base no entendimento
de que a Lei nº 9.472, de 1997, autoriza as concessionárias de serviços de telecomunicações
apenas a contratação tarefas inerentes, acessórias ou complementares a seus serviços
(atividades-meio), e não atividades essenciais como o atendimento em call center.

A decisão foi levada à apreciação da SBDI-I do TST por meio de embargos.

Terceirização

Segundo lição de Gustavo Filipe Barbosa Garcia, a terceirização “pode ser entendida como
a transferência de certas atividades da empresa tomadora (ou contratante) a empresas
prestadoras de serviços especializados”1.

Com a Reforma Trabalhista (Lei nº 13.467, de 2017), o conceito de “terceirização” passou a


constar expressamente no ordenamento jurídico pátrio. Nos termos do artigo 4º-A da Lei nº
6.019, de 1974 (redação dada pela Lei nº 13.467, de 2017), “considera-se prestação de serviços
a terceiros a transferência feita pela contratante da execução de quaisquer de suas atividades,
inclusive sua atividade principal, à pessoa jurídica de direito privado prestadora de serviços que
possua capacidade econômica compatível com a sua execução”.

1 GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Terceirização. 2. ed. Juspodivm: Salvador, 2017, p. 13.

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Na terceirização, há uma relação triangular. Entre a empresa tomadora e a prestadora, há uma


relação jurídica de natureza civil (ou econômica) e entre a prestadora de serviços e o trabalhador,
uma relação jurídica de natureza trabalhista. O vínculo de emprego, veja-se, é formado entre o
trabalhador e a empresa prestadora de serviços.

Regulamentação e decisão do STF sobre a licitude da terceirização de atividade-fim

Antes da Reforma Trabalhista, a matéria era tratada, basicamente, pela Súmula 331 do TST.
De modo resumido, sob a égide desse enunciado, a regularidade da terceirização estava
condicionada a dois requisitos: (a) atividade-meio ou acessória da tomadora de serviços (ou
seja, não poderia haver terceirização da atividade principal); e (b) ausência de pessoalidade e
subordinação (isto é, quem contrata, remunera e dirige o trabalho do empregado é a prestadora
de serviços, não a tomadora).

A Lei n 13.467, de 2017, todavia, passou a admitir a terceirização de qualquer das atividades
empresariais, inclusive a principal, à pessoa jurídica de direito privado. Conquanto, após
a Reforma Trabalhista, seja viável a terceirização da atividade-fim, remanesceu incólume a
necessidade de inexistência de pessoalidade e de subordinação entre trabalhador e empresa
tomadora de serviços para que a terceirização seja considerada lícita.

Ato seguinte, em 30 de agosto de 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF), por maioria, julgou a
ADPF nº 34 e o RE nº 958.252, fixando a seguinte tese:

ADPF 34 e RE 958.252
É lícita a terceirização ou qualquer outra forma de divisão do trabalho
entre pessoas jurídicas distintas, independentemente do objeto social
das empresas envolvidas, mantida a responsabilidade subsidiária da
empresa contratante [STF. Plenário. ADPF 324/DF, Rel. Min. Roberto
Barroso; RE 958252/MG, Rel. Min. Luiz Fux, em 29 e 30.08.2018
(repercussão geral), Informativo STF nº 913].

Além de corroborar a constitucionalidade das alterações efetuadas pela Reforma Trabalhista,


o STF rechaçou a interpretação classicamente dada ao instituto pelo TST, em sua Súmula 331,
considerando-a inconstitucional. É dizer, o entendimento do STF, possibilitando a terceirização
em toda e qualquer atividade da empresa (inclusiva na atividade-fim) aplica-se também aos
casos ocorridos antes da vigência das Leis nº 13.419 e nº 13.467, de 2017.

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Mas discussão, no caso, gira em torno do artigo 94, inciso II, da Lei nº 9.472, de 1997, que
regulamenta a terceirização nas empresas concessionárias dos serviços de telecomunicações...

O artigo 94, inciso I, da Lei nº 9.472, de 1997, estabelece que as concessionárias de


telecomunicações, no cumprimento de seus deveres, poderão contratar com terceiros o
desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias ou complementares ao serviço, bem
como a implementação de projetos associados.

Existia controvérsia nos Tribunais trabalhistas se a Lei nº 9.472, de 1997, possibilitava ou não a
terceirização de atividade-fim nas empresas de telecomunicações.

Em 11 de outubro de 2018, no entanto, o STF, ao apreciar o ARE nº 791.932, fixou a seguinte


tese:

ARE nº 791.932
É nula a decisão de órgão fracionário que, ao negar a aplicação do inciso
II, do art. 94 da Lei 9.472/1997, com base na Súmula 331/TST, e declarar
ilícita a terceirização e atividade-fim, reconhece a existência de vínculo
trabalhista entre a contratante e o empregado da contratada, pois
exerceu controle difuso de constitucionalidade, declarando a parcial
nulidade sem redução de texto do referido dispositivo sem observar a
cláusula de reserva de Plenário

Assim, no julgamento do processo ARE 791932/DF (Tema 739 da repercussão geral), o STF
firmou a tese de que é nula a decisão de órgão fracionário que nega aplicação ao artigo 94,
inciso II, da Lei nº 9.472, de 1997, e de que a Súmula 331 do TST é parcialmente inconstitucional,
devendo a licitude da terceirização de toda atividade ser reconhecida.

Então a terceirização de atividade-fim (ex.: call center) nas empresas concessionárias de


telecomunicações deve ser considerada lícita?

SIM! A terceirização de atividade-fim ou essencial das empresas de telecomunicações não


pode ser considerada ilícita. (TST. SBDI-I. E-ED-RR-39900-49.2007.5.24.0002, rel. Min. Luiz
Philippe Vieira de Mello Filho, julgado em 28.11.2019, Informativo TST nº 213).

Ressalte-se, todavia, que embora o STF tenha prestigiado os princípios da legalidade, da livre
iniciativa, da livre concorrência e da segurança jurídica na terceirização, não houve derrogação
das normas de Direito do Trabalho, de modo que a verificação, no caso concreto, da existência
de vínculo empregatício (art. 3º da CLT) diretamente com a tomadora dos serviços continua
sendo possível, especialmente quando comprovada a subordinação jurídica direta do empre-
gado terceirizado à empresa tomadora.

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E o que ocorreu com o acórdão da 1ª Turma do TST que foi embargado?

Na espécie, a decisão turmária reconheceu o vínculo de emprego do reclamante, que


exercia a função de atendente de call center, diretamente com a empresa concessionária de
serviços de telecomunicações tomadora dos serviços, sem registrar qualquer particularidade
que distinguisse o caso dos precedentes firmados pela Suprema Corte e, por essa razão, foi
reformado.

O julgamento foi unânime?

SIM!

Como foi veiculado no informativo?

Empresa de telecomunicações. Serviço de call center. Terceirização. Licitude. Precedentes


vinculantes do Supremo Tribunal Federal.
Nos termos do entendimento vinculante do STF, a terceirização de atividade-fim ou essencial
das empresas de telecomunicações não pode ser considerada ilícita. No julgamento do processo
STF-ARE 791932/DF (Tema 739 da repercussão geral), firmou-se a tese de que é nula a decisão de
órgão fracionário que nega aplicação ao art. 94, I, da Lei nº 9.472/1997, e de que a Súmula nº 331
do TST é parcialmente inconstitucional, devendo a licitude da terceirização de toda atividade
ser reconhecida. No referido julgamento, também se estabeleceu que o reconhecimento da
ilicitude da terceirização destoa do posicionamento firmado nos processos STF-ADPF 324 e STF-
RE 958252/MG (Tema 725 da repercussão geral), em que se assentou a licitude da terceirização
ou de qualquer outra forma de divisão do trabalho entre pessoas jurídicas distintas. Ressalte-se,
todavia, que embora o STF tenha prestigiado os princípios da legalidade, da livre iniciativa, da
livre concorrência e da segurança jurídica na terceirização, não houve derrogação das normas
de Direito do Trabalho, de modo que a verificação, no caso concreto, da existência de vínculo
empregatício (art. 3º da CLT) diretamente com a tomadora dos serviços continua sendo possível,
especialmente quando comprovada a subordinação jurídica direta do empregado terceirizado
à empresa tomadora. Na espécie, a decisão turmária reconheceu o vínculo de emprego do
reclamante, que exercia a função de atendente de call center, diretamente com a empresa
concessionária de serviços de telecomunicações tomadora dos serviços, sem registrar qualquer
particularidade que distinguisse o caso dos precedentes firmados pela Suprema Corte. Assim, a
SBDI-I, por unanimidade, conheceu dos embargos, por divergência jurisprudencial, e, no mérito,
deu-lhes provimento para afastar o reconhecimento do vínculo empregatício com a tomadora
dos serviços e determinar o retorno dos autos à Turma para que prossiga no julgamento do
recurso de revista quanto ao pedido subsidiário de isonomia salarial com os empregados da
tomadora dos serviços. TST-E-ED-RR-39900-49.2007.5.24.0002, SBDI-I, rel. Min. Luiz Philippe
Vieira de Mello Filho, 28.11.2019

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Subseção II Especializada em Dissídios Individuais

Justiça gratuita e ação rescisória no Processo do Trabalho

IMPORTANTE!
O depósito prévio da ação rescisória ajuizada na Justiça do Trabalho corresponde a 20%
(vinte por cento) do valor da causa (CLT, art. 836), percentual bastante superior ao exigido
no artigo 968, inciso II, do CPC de 2015.
Diante da maior onerosidade, a SBDI-II do TST entendeu que as disposições acerca da gra-
tuidade de justiça previstas no artigo 790, §§ 3º e 4º, da CLT (com a redação da Lei nº 13.467,
de 2017) NÃO se aplicam às ações rescisórias processadas na Justiça do Trabalho, sob pena
de excluir da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito, especialmente nos
casos em que a parte autora seja pessoa física ou micro e pequena empresa.
Como não há disposição específica na Lei nº 13.467, de 2017, acerca da justiça gratuita plei-
teada em ação rescisória, aplica-se o artigo 99, § 3º, do CPC de 2015, a Súmula 463, item I,
do TST e o artigo 6º da IN TST nº 31, de 2007, bastando, para o deferimento da justiça gra-
tuita em ação rescisória, a existência de declaração de hipossuficiência sem impugnação
nos autos.
(TST. SBDI-II. RO-10899-07.2018.5.18.0000, rel. Min. Maria Helena Mallmann, julgado em
19.11.2019, Informativo TST nº 213).

O que ocorreu no caso julgado pelo TST?

O TRT da 18ª Região extinguiu uma ação rescisória, por ausência de depósito prévio. A autora da
ação recorre ao TST, alegando possuir direito aos benefícios da justiça gratuita.

Justiça gratuita: cenário pós-Reforma Trabalhista

A justiça gratuita é a isenção de despesas processuais em razão do estado de miserabilidade.


O regime jurídico da justiça gratuita sofreu, no processo do trabalho, sensível mudança com a
Reforma Trabalhista.

Efetivamente, o artigo 790, §3º, da CLT foi alterado pela Reforma Trabalhista para estabelecer
novo teto para a presunção de hipossuficiência do trabalhador, que passou a ser de 40%
(quarenta por cento) do limite máximo dos benefícios do Regime Geral da Previdência Social.

Ultrapassado o teto, o benefício da justiça gratuita será concedido à parte que comprovar
insuficiência de recursos para o pagamento das custas do processo (CLT, art. 790, §4º, incluído
pela Lei nº 13.467, de 2017).

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Ação rescisória no Processo do Trabalho

A ação rescisória é “ação autônoma de impugnação”, que tem por objetivos a desconstituição
de decisão judicial transitada em julgado e, eventualmente, o rejulgamento da causa. Ela não
é recurso, exatamente porque dá origem a um novo processo para impugnar a decisão judicial.
A ação rescisória pressupõe a coisa julgada, contrariamente ao recurso, que impede o trânsito
em julgado e mantém o estado de litispendência ou de pendência do processo”. Os vícios
de rescindilidade estão enumerados nos artigos 966, 525, §5°, 535, §8° e 658 do CPC2 e são,
aplicáveis ao Processo do Trabalho por força do artigo 836 da CLT.

É importante destacar que o depósito prévio, pressuposto da ação rescisória, no processo do


trabalho, é de 20% (vinte por cento), por força do artigo 836 da CLT, disposição específica que
afasta o previsto no artigo 968, inciso II, do CPC.

É um valor bem elevado se considerado aquele praticado no processo comum, concordam?

Nesse cenário, as disposições do artigo 790, §§3º e 4º, da CLT são aplicáveis à ação rescisória?

NÃO! A SBDI-II do TST, diante da maior onerosidade do depósito prévio da ação rescisória no
Processo do Trabalho, entendeu que as disposições acerca da gratuidade de justiça previstas
no artigo 790, §§ 3º e 4º, da CLT (com a redação da Lei nº 13.467, de 2017) NÃO se aplicam às
ações rescisórias processadas na Justiça do Trabalho, sob pena de excluir da apreciação do
Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito, especialmente nos casos em que a parte autora
seja pessoa física ou micro e pequena empresa (TST. SBDI-II. RO-10899-07.2018.5.18.0000, rel.
Min. Maria Helena Mallmann, julgado em 19.11.2019, Informativo TST nº 213).

Como funciona, daí?

Como não há disposição específica na Lei nº 13.467, de 2017, acerca da justiça gratuita pleiteada
em ação rescisória, aplica-se o artigo 99, § 3º, do CPC de 2015, a Súmula 463, item I, do TST e
o artigo 6º da IN TST nº 31, de 2007, bastando, para o deferimento da justiça gratuita em ação
rescisória, a existência de declaração de hipossuficiência sem impugnação nos autos.

CPC
Art. 99, §3º. Presume-se verdadeira a alegação de insuficiência deduzida
exclusivamente por pessoa natural.

2 DIDIER, Freddie; CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito Processual Civil: Meios de Impugnação às Decisões
Judiciais e Processos nos Tribunais. Bahia: Juspodivm, 2016. v. 3. p. 421-422.

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Súmula 463, item I, do TST


A partir de 26.06.2017, para a concessão da assistência judiciária
gratuita à pessoa natural, basta a declaração de hipossuficiência
econômica firmada pela parte ou por seu advogado, desde que munido
de procuração com poderes específicos para esse fim (art. 105 do CPC
de 2015).

IN TST nº 31, de 2007


Art. 6º. O depósito prévio não será exigido da massa falida e quando o
autor perceber salário igual ou inferior ao dobro do mínimo legal, ou
declarar, sob as penas da lei, que não está em condições de pagar as
custas do processo sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família.

O que acharam da saída encontrada pela SBDI-II do TST?

O julgamento foi unânime?

SIM!

Como foi veiculado no informativo?

Ação rescisória. Depósito prévio. Justiça gratuita. Requisitos do art. 790, §§ 3º e 4º, da CLT, com
a redação da Lei nº 13.467/2017. Não incidência. Matéria regida pelo art. 99, § 3º, do CPC de
2015, pelo item I da Súmula nº 463 do TST e pelo art. 6º da Instrução Normativa nº 31/2007.
O depósito prévio da ação rescisória ajuizada na Justiça do Trabalho corresponde a 20% do
valor da causa (art. 836 da CLT), percentual bastante superior ao exigido no art. 968, II, do CPC
de 2015. Diante da maior onerosidade, as disposições acerca da gratuidade de justiça previstas
no art. 790, §§ 3º e 4º, da CLT, com a redação da Lei nº 13.467/2017, não se aplicam às ações
rescisórias processadas na Justiça do Trabalho, sob pena de excluir da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a direito, especialmente nos casos em que a parte autora seja
pessoa física ou micro e pequena empresa. De outra sorte, não há disposição específica na Lei
nº 13.467/2017 acerca da justiça gratuita pleiteada em ação rescisória, o que atrai a incidência
do art. 99, § 3º, do CPC de 2015, da Súmula nº 463, I, do TST e do art. 6º da Instrução Normativa
nº 31/2007. Sob esse fundamento, e havendo declaração de hipossuficiência nos autos sem
impugnação da parte contrária, a SBDI-II, por unanimidade, conheceu do recurso ordinário
e, no mérito, deu-lhe provimento para deferir ao autor os benefícios da justiça gratuita. A
Subseção determinou, ainda, o retorno dos autos ao Tribunal de origem para que prossiga no
julgamento da rescisória como entender de direito, afastada a exigência do depósito prévio.
TST-RO-10899-07.2018.5.18.0000, SBDI-II, rel. Min. Maria Helena Mallmann, 19.11.2019

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INFORMATIVO Nº 213
TST - COMENTADO

Princípio da unidade e indivisibilidade do Ministério Público e início do prazo decadencial


para propositura de ação rescisória

IMPORTANTE: MPT!
O termo inicial do prazo decadencial para ajuizamento da ação rescisória coincide com a
data da ciência da fraude pelo órgão legitimado (no caso, o Ministério Público do Trabalho)
para a propositura da aludida ação.
Assim, não prospera a alegação de que, tendo em conta os princípios da unidade e da
indivisibilidade do Ministério Público (CRFB, art. 127), o prazo decadencial para ajuizamento
da ação rescisória deveria ser contado a partir da data da audiência em ação penal em
que, na presença do Ministério Público Federal (MPF), foi mencionada a existência de
reclamação trabalhista com reconhecimento de vínculo entre as partes, pois o MPF NÃO
tem legitimidade para propor ação rescisória perante a Justiça do Trabalho.
(TST. SBDI-II. RO-7939-06.2010.5.02.0000, rel. Min. Douglas Alencar Rodrigues, julgado em
26.11.2019, Informativo TST nº 213).

O que ocorreu no caso julgado pelo TST?

O Ministério Público do Trabalho ajuizou ação rescisória pretendendo desconstituir sentença


homologatória de acordo proferida pela 20ª Vara do Trabalho de São Paulo em razão da
ocorrência de colusão.

O réu busca o reconhecimento da decadência no caso, pois o Ministério Público teria conhecido
dos fatos em discussão oito anos do ajuizamento da ação rescisória, por meio do Ministério
Público Federal.

Ação rescisória

A ação rescisória é “ação autônoma de impugnação”, que tem por objetivos a desconstituição
de decisão judicial transitada em julgadoe, eventualmente, o rejulgamento da causa. Ela não é
recurso, exatamente porque dá origem a um novo processo para impugnar a decisão judicial.
A ação rescisória pressupõe a coisa julgada, contrariamente ao recurso, que impede o trânsito
em julgado e mantém o estado de litispendência ou de pendência do processo”. Os vícios
de rescindilidade estão enumerados nos artigos 966, 525, §5°, 535, §8° e 658 do CPC3 e são,
aplicáveis ao Processo do Trabalho por força do artigo 836 da CLT.

O prazo para intentar a ação rescisória é de 2 (dois) anos do trânsito em julgado da última
decisão proferida no processo. Prorroga-se, porém, até o primeiro dia útil, imediatamente

3 DIDIER, Freddie; CUNHA, Leonardo Carneiro. Curso de Direito Processual Civil: Meios de Impugnação às Decisões
Judiciais e Processos nos Tribunais. Bahia: Juspodivm, 2016. v. 3. p. 421-422.

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INFORMATIVO Nº 213
TST - COMENTADO

subsequente, o prazo decadencial para ajuizamento de ação rescisória quando expira em férias
forenses, feriados, finais de semana ou em dia em que não houver expediente forense (Súmula
100, itens I e IX, do TST).

Ademais, na hipótese de colusão das partes, o prazo decadencial da ação rescisória somente
começa a fluir para o Ministério Público, que não interveio no processo principal, a partir do
momento em que tem ciência da fraude (Súmula 100, item VI, do TST).

Princípio da unidade e da indivisibilidade do Ministério Público

“O princípio da unidade significa que todo o Ministério Público possui a mesma finalidade, qual
seja defender os interesses da coletividade. Noutras palavras, o Ministério Público é um único
órgão que tem como objetivo a tutela do interesse público primário. Tem, portanto, unidade de
finalidade. (...) O princípio da indivisibilidade permite que os membros de um mesmo ramo do
Ministério Público possam ser substituídos na sua atuação, sem que haja alteração subjetiva na
relação jurídica processual, seja no âmbito judicial, seja no extrajudicial”4.

Se um membro do MPF tomar conhecimento de uma fraude trabalhista é a partir desta data
que inicia o prazo decadencial para ajuizamento de ação rescisória na Justiça do Trabalho?

NÃO! O termo inicial do prazo decadencial para ajuizamento da ação rescisória coincide
com a data da ciência da fraude pelo órgão legitimado (no caso, o Ministério Público do
Trabalho) para a propositura da aludida ação. Assim, não prospera a alegação de que, tendo
em conta os princípios da unidade e da indivisibilidade do Ministério Público (CRFB, art. 127),
o prazo decadencial para ajuizamento da ação rescisória deveria ser contado a partir da data
da audiência em ação penal em que, na presença do Ministério Público Federal (MPF), foi
mencionada a existência de reclamação trabalhista com reconhecimento de vínculo entre as
partes (TST. SBDI-II. RO-7939-06.2010.5.02.0000, rel. Min. Douglas Alencar Rodrigues, julgado
em 26.11.2019, Informativo TST nº 213).

Embora o MPF e o Ministério Público do Trabalho (MPT) integrem o Ministério Público da


União (MPU), possuem atribuições e âmbitos de atuação distintos, de modo que o MPF não
tem legitimidade para propor ação rescisória perante a Justiça do Trabalho. Desse modo,
tendo em conta que o Ministério Público do Trabalho teve ciência da fraude apenas quando do
recebimento do ofício da 1ª Vara Federal Tributária de Porto Alegre/RS, em 16.5.2008, e ajuizou
a ação rescisória em 13.5.2010, não há falar em decadência.

4 MIESSA, Élisson. Processo do Trabalho. 5. ed. Salvador: Juspodivm, 2017. p. 128.

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INFORMATIVO Nº 213
TST - COMENTADO

O julgamento foi unânime?

SIM!

Como foi veiculado no informativo?

Ação Rescisória. Prazo decadencial. Termo inicial. Ciência da fraude pelo órgão do Ministério
Público legitimado para propor a ação.
O termo inicial do prazo decadencial para ajuizamento da ação rescisória coincide com a data
da ciência da fraude pelo órgão legitimado para a propositura da aludida ação. Assim, não
prospera a alegação de que, tendo em conta os princípios da unidade e da indivisibilidade do
Ministério Público (art. 127 da CF), o prazo do art. 495 do CPC de 1973 deveria ser contado a partir
da data da audiência em ação penal em que, na presença do Ministério Público Federal (MPF),
foi mencionada a existência de reclamação trabalhista com reconhecimento de vínculo entre
as partes. Embora o MPF e o Ministério Público do Trabalho (MPT) integrem o Ministério Público
da União (MPU), possuem atribuições e âmbitos de atuação distintos, de modo que o MPF
não tem legitimidade para propor ação rescisória perante a Justiça do Trabalho. Desse modo,
tendo em conta que o Ministério Público do Trabalho teve ciência da fraude apenas quando do
recebimento do ofício da 1ª Vara Federal Tributária de Porto Alegre/RS, em 16.5.2008, e ajuizou
a ação rescisória em 13.5.2010, não há falar em decadência. Sob esse fundamento, a SBDI-II, por
unanimidade, conheceu do recurso ordinário e, no mérito, negou-lhe provimento para manter a
decisão recorrida que afastou a arguição de decadência. TST-RO-7939-06.2010.5.02.0000, SBDI-
II, rel. Min. Douglas Alencar Rodrigues, 26.11.2019

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