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Antonio Belincanta
Universidade Estadual de Maringá (abelincanta@uem.br)
Roberto Lopes Ferraz
Universidade Estadual de Maringá (rlferraz@uem.br)
Nelci Helena Maia Gutierrez
Universidade Estadual de Maringá (aamgutierrez@wnet.com.br)
RESUMO.
Apresenta-se neste trabalho uma discussão sobre os tipos de fundações de uso corrente
na região de Maringá, considerando a influência do subsolo e dos processos executivos na
capacidade de carga à ruptura do sistema solo-estaca. O trabalho ressalta também a
importância do controle dos recalques das fundações, como ferramenta para avaliação do
comportamento de uma obra e como fonte de dados para retroalimentação dos métodos de
cálculo de recalques em obras futuras.
1 – INTRODUÇÃO
Por muito tempo vem-se usando como fundações profundas na região de Maringá,
estacas do tipo “Strauss” ou tubulões a céu aberto, sendo que recentemente difundiu-se
bastante o uso das estacas perfuradas com trados mecânicos. A seguir serão feitas algumas
considerações sobre estes tipos de fundações, de uso corrente na região de Maringá.
As estacas “Strauss” utilizadas na região tem sido feitas com perfurações abertas
através de apiloamento que pode avançar até o solo de alteração e, abaixo disto, a perfuração
é feita com sonda. Em todo o processo de perfuração se usa água, com a finalidade de
aumentar a eficiência tanto do pilão quanto da sonda. Normalmente não se usa revestir a
perfuração, utilizando-se apenas tubos de revestimento num total de 2,5 m a 6,0m de
comprimento, os quais servem apenas como tubo guia inicial e como proteção da parte
superior da perfuração. A concretagem é feita, por algumas empresas, com concreto com
“slump” de 3 a 5 e, por outras, com concreto plástico, isto é, com “slump” de 8 a 12. Quanto à
execução da estaca, algumas empresas de fundações procuram confeccionar um bulbo na
extremidade da perfuração, apiloando concreto de baixo fator água/cimento (concreto seco).
Apesar dos riscos sempre existentes neste tipo de estaca, tal como descontinuidades
nos fustes, as poucas provas de carga apontam no sentido de que as mesmas se apresentam
com resistência à ruptura acima das expectativas, em função dos motivos expostos a seguir:
a) Apiloamento na camada de solo evoluído, resultando em densificação lateral do solo.
Como o solo evoluído é um bom material para compactação, este processo faz com que o
mesmo tenha suas características de resistência ao cisalhamento melhoradas. Assim, o
processo de compactação faz com que o estado último de resistência não seja comandado
pela interface estaca-solo, mas sim pela interface do solo compactado com o solo natural,
fazendo com que haja um aparente aumento do diâmetro da estaca.
b) Concretagem com concreto plástico, conduzindo a um estado passivo de tensões laterais.
Como o solo é permeável e de baixo grau de saturação, toda pressão lateral proveniente do
concreto plástico, se transfere para o solo na direção lateral, na forma de tensões efetivas.
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Grande parte deste incremento de pressão ainda perdura após a relaxação de tensões,
manifestando-se na perfomance do comportamento da estaca.
c) Irregularidades de fuste. As irregularidades de fuste nas estacas são pronunciadas, sejam
estas provenientes dos processos de escavação ou mesmo de concretagem. As pressões
laterais nas paredes da perfuração, provenientes da coluna de concreto plástico, conduz a
irregularidades de fuste junto a pontos de solos mais fracos. Estas irregularidades
melhoram o comportamento da estaca como um todo.
Constatou-se em uma escavação recente junto a uma estaca “Strauss”, após 30 anos de
sua execução, a presença de solo de baixa resistência em sua extremidade, provavelmente
proveniente de lama existente na perfuração ou carregada para extremidade inferior quando
do lançamento inicial de concreto. Naturalmente isto é surpreendente, mas colabora com o
fato de não se considerar a resistência de ponta neste tipo de estaca, pelos motivos de:
a) permanência de lama de escavação na ponta;
b) confecção de bulbo inadequado, com possível descontinuidade com o fuste,
principalmente quando o furo não é revestido.
1.3 – Tubulões
2 – DISCUSSÕES GERAIS
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recalques diferenciais não significativos, a ponto de não provocarem fissuras ou qualquer
outro dano estrutural.
É conveniente exemplificar o que se discutiu sobre fundações profundas, utilizadas na
região de Maringá, analisando-se as capacidades de carga previstas para uma estaca de
diâmetro de 40cm, executada com trado mecânico em uma camada de solo evoluído, com
10m de comprimento de fuste. As previsões de capacidade de carga serão feitas tomando
como base o perfil de um subsolo típico da Cidade de Maringá, representado na Figura 1 e
empregando-se dois métodos clássicos de cálculo, a saber: a) Décourt-Quaresma (1978) e b)
método utilizado para subsolo arenoso, isto é, fS=K.σv .tgδ com consideração de profundidade
crítica.
número de
Nspt
cotas em relação ao
profundidade NA(m)
golpes
Descrição do Subsolo
tipo de perfuração
amostra-profundidade
profundidade(m)
N spt
pela
Torque máx (kgf.m)
RN (m)
penetração
Análise Visual Tátil
(cm)
número de golpes( Nspt)
0 5 10 15 20 25 30
99,0 1m
1 1 1,5 1
30,0 15,0
98,0 2m
1 1 1,1 2
33,0 20,0 3m
97,0
1 1 1 1,9 3
19,0 16,0 14,0 4m
96,0
1 1 1 2,4 4
1 2 3 4,9 7
trado helicoidal
2 6 7 12,6 10
10
14,0 17,0 14,0 11m
89,0
3
15,0
5
15,0
6
16,0
10,6 11
argila siltosa, solo de
88,0 12m
Figura 1 – Resultado típico de uma Sondagem de Simples Reconhecimento com Ensaio SPT,
executada com a metodologia proposta pela NBR6484, no Campus da
Universidade Estadual de Maringá
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Segundo o Método de Decourt-Quaresma (1978), a resistência de atrito lateral
específica (fS) pode ser calculada a partir da expressão a seguir, onde NSPT é o valor médio do
SPT ao longo do trecho considerado.
N
f S = SPT + 1 (tf/m2 )
3
Para o perfil do terreno mostrado na Figura 1, tem-se ao longo da profundidade inicial
de 10m, em termos de média, NSPT = 3,56, e portanto para a resistência de atrito lateral
específica, o valor de fS = 2,19 tf/m2 .
A carga de ruptura será então: Pu = fS . Alateral = 2,19π x 0,40 x10 = 27,5 tf.
Para um coeficiente de segurança contra a ruptura FS = 2, tem-se que: Padm ≅ 13,8 tf.
Pelo fato de o solo ser poroso e não saturado, considerando ainda que as estacas
possam ser calculadas por método empregado quando da existência de subsolo arenoso, tem-
se:
fS = K.σv .tg δ (Cintra et al, 1999)
onde: K = coeficiente de empuxo lateral;
σv = tensão vertical efetiva (σv = γ . h), sendo γ o peso específico do solo e h a
profundidade;
δ = ângulo de atrito entre o solo e o fuste da estaca.
É de uso corrente utilizar K = 1,0 e δ = ϕ’, sendo ϕ’ o ângulo de atrito interno efetivo
do solo. Para o solo evoluído até a profundidade de 10m, tem-se para a envoltória de
resistência efetiva característica: τ = 1,0 + σ’.tg 30o (tf/m2 ), que conduz para o coeficiente de
empuxo lateral em repouso, segundo a expressão clássica de Jacki e desconsiderando o
intercepto de coesão, o valor de Ko = 1 – sen ϕ’ = 1 – sen 30o = 0,5. Este valor de empuxo
em repouso é igual ao da teoria da elasticidade, quando o módulo de Poisson µ = 0,33, isto é,
Ko = µ/(1-µ)) = 0,5. Desta maneira, em primeira aproximação o emprego de K = 1,0, parece
ser razoável.
Considerando ainda que o atrito lateral específico se torna constante abaixo da
profundidade crítica hc = 15 φ, sendo φ o diâmetro da estaca, tem-se portanto para fS em
função da profundidade:
fSmáx fS
0m valores adotados: Φ = 0,40 m
γ = 1,5 tf/m 3
δ = 30o
6m
fSmáx = K.hc.γ.tg δ
fSmáx = 1,0 x (15 x 0,40) x 1,5 x tg 30o
fSmáx = 5,2 tf/m2
10m
h
Assim, a partir dos dados acima, tem-se para carga estimada de ruptura e para carga
admissível os valores: P u = 45,7 tf e Padm = 22,8 tf
Naturalmente estes valores de carga são dependentes, em primeiro grau, não só do
processo de perfuração, mas também do processo de concretagem, a fim de que sejam geradas
pressões horizontais compatíveis com este processo de cálculo.
Acredita-se, desta maneira, que as estacas escavadas em termos de tendência se
apresentem com valores de capacidade de carga acima daqueles previstos pelos métodos
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tradicionais brasileiros de cálculo. Provas de carga, realizadas em estacas do tipo hélice
contínua, no campo experimental da UEL em Londrina, colaboram com esta tendência.
Ressalta-se porém que em função do nível de carregamento e de alterações no teor de
umidade do solo (mesmo sem saturação completa), pode ocorrer condição de colapso,
caracterizada por recalques elevados e repentinos, implicando portanto em uma significativa
redução da capacidade de carga das fundações.
As provas de carga podem ser executadas por compressão ou por tração. No caso de
prova de carga à compressão, o sistema de reação pode ser do tipo: cargueira (Figura 2a),
reação em outras estacas ou tirantes (Figuras 2b e 2c) e, por fim, reação na própria estrutura.
As estacas de reação, referentes ao sistema representado na Figura 2b, podem ser de tração ou
compressão, o que depende naturalmente de se a estaca de ensaio vai ser submetida à
compressão ou à tração.
Figura 2 – Sistemas de reação para realização de provas de carga: (a) cargueira, (b) reação
em outras estacas, (c) reação em tirantes.
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3.2 – Controle de recalque
Segundo a atual norma de fundações (NBR 6122/96) em seu item 9.2, nas obras em
que as cargas mais importantes são verticais, a medição dos recalques é um importante
recurso a ser utilizado na observação de comportamento de obra. O controle de recalque se
constitui basicamente de medições de deslocamentos verticais em pontos apropriados da
estrutura, normalmente localizados em pilares, tomando como base um ponto fixo,
denominado de referencial de nível. O referencial de nível deve ser instalado de forma a não
sofrer influência da própria obra ou outras causas que possam comprometer sua
indeslocabilidade.
A medição dos deslocamentos verticais (recalques) pode ser feita por nivelamento
ótico ou por meio de nível d’água (nível de Terzaghi), com leituras com precisão nominal na
ordem de ± 0,01 mm.
4 - CONCLUSÕES
4 – BIBLIOGRAFIA
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto e execução de fundações. NBR 6122. Rio
de Janeiro, ABNT, 1996.
HACHICH, W., FALCONI, F. F., SAES, J. L., FROTA, R. G. Q., CARVALHO, C. S., NIYAMA, S.
Fundações teoria e prática. 2.ed. São Paulo: Editora Pini, 1996.
CINTRA, J. C. A.; AOKI, N. Carga admissível em fundações profundas. São Carlos, EESC-USP, 1999.
DÉCOURT, L.; QUARESMA, A.R. Capacidade de carga de estacas a partir de valores de SPT. in.
COBRAMSEF,4. Rio de Janeiro,1978.