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1.3 – FÓRMULA DE DECOURT-QUARESMA

Trata-se de um método semi-empírico desenvolvido por Luciano Decourt e Artur

Quaresma baseado em correlações diretas com os índices de penetração do

amostrador padrão do ensaio de “SPT”.

O método foi lançado originalmente no 6º Congresso Brasileiro de Mecânica dos

Solos e Engenharia de Fundações em 1978 na cidade do Rio de Janeiro com

aplicações para estacas de deslocamento (cravadas). Em 1996, Decourt estendeu a

formulação para estacas escavadas com a introdução de coeficientes de

ponderação para estes tipos de estacas.

Capacidade de Carga:

QU  Q AL  Q P eq. 1.3A

QU = capacidade de carga ou carga de ruptura total na interação “solo-estaca” (tf)

QAL = capacidade de carga ou carga de ruptura de atrito lateral - interação “solo-estaca” (tf)

QP = capacidade de carga ou carga de ruptura de ponta na interação “solo-estaca” (tf)

Carga Admissível:

Q AL Q P
Q ADM   eq. 1.3B
1,3 4

QU
Q ADM  eq. 1.3C
2
QADM = carga admissível da estaca na interação “solo-estaca” (tf)

Capacidade de Carga por Atrito Lateral

Q AL  A' L q L eq. 1.3D

QAL = capacidade de carga ou carga de ruptura de atrito lateral - interação “solo-estaca” (tf)

A’L = área lateral do fuste por metro linear da estaca

A' L  P eq. 1.3E

P = perímetro do fuste da estaca – função de DF - (m)


2

qL = resistência lateral por metro ao longo do fuste da estaca obtida a partir de formula

empírica baseada nos índices de penetração do Ensaio “SPT” e tipo de estaca (tf/m).

j
q L    i  q lI  Li  para cada camada atravessada eq. 1.3F
1

j = nº de camadas atravessadas

i = coeficiente de ponderação da resistência de atrito de acordo com o

tipo de estaca e solo (Decourt, 1996)

TABELA 1.3A – Coeficientes 

Tipo de Solo 
Areia Silte Argila
Tipo de Estaca

Cravadas 1,0 1,0 1,0

Escavada sem Lama 0,5 0,65 0,8

Escavada com Lama 0,6 0,75 0,9

Hélice Contínua 1,0* 1,0* 1,0*

Raiz 1,5* 1,5* 1,5*

Presso-ancoragem 3,0* 3,0* 3,0*

Micro-estaca injetada 3,0* 3,0* 3,0*

* Valores apenas orientativos devido ao reduzido número de dados disponíveis.

Li = comprimento da estaca em cada camada atravessada (m)

 n SPTi 
 n 
1
q Li   i   1 (tf / m 2 ) equação empírica eq. 1.3G
 3 
 
 
3

SPTi = índices do amostrador padrão da sondagem a percussão ao

longo do fuste da estaca em cada camada atravessada não se

considerando o “SPT” referente ao metro imediatamente acima da ponta

da estaca. Os autores recomendam que os “SPTs” adotados sejam

limitados ao intervalo 3  SPT  50 (para estacas cravadas) no intervalo

3  SPT  15 (para estacas escavadas – apud Velloso, D. e Alonso, U. -

2000)

ni = somatório do número de “SPTs” um metro acima da ponta da estaca

ao longo do fuste em cada camada atravessada. O metro imediatamente

acima da ponta da estaca não deve ser considerado.

Capacidade de Carga de Ponta

QP  AP  q P eq. 1.3H

QP = capacidade de carga ou carga de ruptura de ponta - interação “solo-estaca” (tf)

AP = área de ponta da base da estaca

  D P2
AP  (conforme definições de DP abaixo) eq. 1.3I
4
DP = diâmetro da ponta da estaca ou base (cm)

Para estacas sem base com pontas circulares:

D P  DF

DF (diâmetro do fuste) = DP (diâmetro da ponta)

Para estacas com base:

4
VP     R3
3
Volume e Raio da esfera fictícia eq. 1.3J
3  V P
R3
4

VP = volume da base (m³)

R = raio da base (m)

DP = diâmetro da ponta fictícia da base

Para estacas com pontas de geometria quaisquer:


4

DP = diâmetro do círculo de área equivalente

Por exemplo, estaca com ponta quadrada de lado ”L”:

 DP2
 L2
4
4
DP  L2

qP = resistência de ponta obtida por correlação entre o “SPT” e a resistência de ponta do

ensaio de cone transformada pelo coeficiente “” que considera o método executivo da

estaca, ou seja, o tipo de estaca. (tf/m²)

q P   i qCi AP
qC  K i SPTi  P  MÉDIO eq. 1.3K
q P   i K i SPTi  P  MÉDIO

K = coeficiente que correlaciona a resistência de ponta unitária no Ensaio “CPT” com os

índices de penetração do amostrador padrão do ensaio “SPT”

TABELA 1.3B – Coeficiente K

Tipo de Solo K (tf/m²)

Argila 12

Silte Argiloso 20

Silte Arenoso 25

Areia 40

 = coeficiente que correlaciona a resistência de ponta unitária no Ensaio “CPT” com o tipo

de solo e tipo de estaca.

TABELA 1.3C – Coeficientes 

Tipo de Solo 
Areia Silte Argila
Tipo de Estaca

Cravadas 1,0 1,0 1,0

Escavada sem Lama 0,5 0,6 0,85

Escavada com Lama 0,5 0,6 0,85


5

Hélice Contínua 0,3* 0,3* 0,3*

Raiz 0,5* 0,6* 0,85*

Presso-ancoragem 1,0* 1,0* 1,0*

Micro-estaca injetada 1,0* 1,0* 1,0*

* Valores apenas orientativos devido ao reduzido número de dados disponíveis.

SPTi-P-MÉDIO = média dos índices do amostrador padrão da sondagem a

percussão na ponta da estaca (um metro acima, um metro abaixo, e na

ponta). Os autores recomendam que os “SPTs” adotados sejam

limitados a valores de no máximo “50golpes/cm” e mínimos de

“3golpes/cm”
6

___________________________________________________________________

EXEMPLO 1.3A:

Estimar a capacidade de carga e a carga admissível das estacas para as condições a seguir e o perfil

geotécnico da figura abaixo.

a) Para um carregamento axial de compressão e estaca tipo pré-moldada cilíndrica de concreto

vazado com DF = 200mm.

b) Para um carregamento axial de compressão e estaca tipo Strauss com DF = 320mm.

c) Para um carregamento axial de compressão e estaca tipo pré-moldada quadrada de concreto

maciço com lado de 300mm.

d) Para um carregamento axial de tração e estaca tipo pré-moldada cilíndrica de concreto

vazado com DF = 330mm.


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SOLUÇÃO (a):

Estaca Pré-moldada de concreto de seção circular:

Capacidade de Carga por Atrito Lateral:

Q AL  0,63  40,63  25,60 tf (na eq. 1.3D)

A' L    0,20  0,63m (na eq. 1.3E)

DF = 0,20m

Na eq. 1.3F para cada camada atravessada:

2
q L   1,0  4,66  4  1,0  7,33  3  40,63 tf / m
1

Para a camada de argila arenosa:

Li = 4,0m  na camada de argila arenosa

i = 1,0  estaca cravada - argila (da TABELA 1.3A)

  (8  10  15)  
 3

q Li       1  4,66 tf / m 2
(na eq. 1.3G)
 3 
 
 
Para a camada de silte arenoso:

Li = 3,0m  na camada de silte arenoso

i = 1,0  cravada argila (da TABELA 1.3A)

  (18  20)  
 2

q Li       1  7,33 tf / m 2 (na eq. 1.3G)
 3 
 
 
Capacidade de Carga de Ponta

QP  0,0314  800  25,12 tf (na eq. 1.3H)

  0,2 2
AP   0,0314 m 2 (na eq. 1.3I)
4

D P  D F =0,20m
8

25  35  38
SPTi  P  MÉDIO   32
3
(da eq. 1.3K)
2
q P  1,0  25  32  800 tf / m

K = 25 tf/m²  camada de silte arenoso (da TABELA 1.3B)

i = 1,0  estaca cravada - silte (da TABELA 1.3C)

Capacidade de Carga:

QU  25,60  25,12  51,72 tf ( na eq. 1.3A)

Carga Admissível:

25,60 25,12
Q ADM    25,97 tf (na eq. 1.3B)
1,3 4

51,72
Q ADM   25,86 tf (na eq. 1.3C)
2,0

 A carga admissível é 25,86 tf.

___________________________________________________________________

SOLUÇÃO (b):

Estaca Strauss (escavada sem revestimento)

Capacidade de Carga por Atrito Lateral:

Q AL  1,01  26,61  26,88 tf (na eq. 1.3D)

A' L    0,32  1,01m (na eq. 1.3E)

DF = 0,20m

Na eq. 1.3F para cada camada atravessada:

2
q L   0,8  4,66  4  0,65  6,0  3  26,61 tf / m
1

Para a camada de argila arenosa:

Li = 4,0m  na camada de argila arenosa

i = 0,8  estaca escavada sem lama - argila (da TABELA 1.3A)


9

  (8  10  15)  
 3

 
q Li    1  4,66 tf / m 2 (na eq. 1.3G)
 3 
 
 
Para a camada de silte arenoso:

Li = 3,0m  na camada de silte arenoso

i = 0,65  estaca escavada sem revestimento – silte arenoso (da

TABELA 1.3A)

  (15  15)  
 2

q Li       1  6,0 tf / m 2 (na eq. 1.3G)
 3 
 
 
Capacidade de Carga de Ponta:

Q P  0,0804  480  38,59 tf (na eq. 1.3H)

  0,32 2
AP   0,0804 m 2 (eq. 1.3I)
4

D P  D F =0,32m

25  35  38
SPTi  P  MÉDIO   32
3
(da eq. 1.3K)
2
q P  0,6  25  32  480 tf / m

K = 25 tf/m²  camada de silte arenoso (da TABELA 1.3B)

i = 0,6  estaca escavada sem lama – silte (da TABELA 1.3C)

Capacidade de Carga:

QU  26,88  38,59  65,47 tf ( na eq. 1.3A)

Carga Admissível:

26,88 38,59
Q ADM    30,32 tf (na eq. 1.3B)
1,3 4

68,09
Q ADM   34,05 tf (na eq. 1.3C)
2,0
10

 A carga admissível é 30,32 tf.

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SOLUÇÃO (c):

Estaca Pré-moldada de concreto de seção quadrada:

Capacidade de Carga por Atrito Lateral:

Q AL  1,20  40,63  48,76 tf (na eq. 1.3D)

A' L  4  0,30  1,20m (na eq. 1.3E)

DF = 0,30m

Na eq. 1.3F para cada camada atravessada:

2
q L   1,0  4,66  4  1,0  7,33  3  40,63 tf / m
1

Para a camada de argila arenosa:

Li = 4,0m  na camada de argila arenosa

i = 1,0  estaca cravada - argila (da TABELA 1.3A)

  (8  10  15)  
 3

q Li       1  4,66 tf / m 2 (na eq. 1.3G)
 3 
 
 
Para a camada de silte arenoso:

Li = 3,0m  na camada de silte arenoso

i = 1,0  cravada - argila (da TABELA 1.3A)

  (18  20)  
 2

q Li       1  7,33 tf / m 2
(na eq. 1.3G)
 3 
 
 
Capacidade de Carga de Ponta

Q P  0,0907  800  72,56 tf (na eq. 1.3H)

  0,34 2
AP   0,0907 m 2 (na eq. 1.3I)
4
Para ponta com geometria quadrada:
11

L = 30 cm

4
DP   0,30 2  0,34 m

25  35  38
SPTi  P  MÉDIO   32
3
(da eq. 1.3K)
q P  1,0  25  32  800 tf / m 2

K = 25 tf/m²  camada de silte arenoso (da TABELA 1.3B)

i = 1,0  estaca cravada - silte (da TABELA 1.3C)

Capacidade de Carga:

QU  48,76  72,56  121,32 tf ( na eq. 1.3A)

Carga Admissível:

48,76 72,56
Q ADM    55,65 tf (na eq. 1.3B)
1,3 4

121,32
Q ADM   60,66 tf (na eq. 1.3C)
2,0

 A carga admissível é 55,65 tf.

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SOLUÇÃO (d):

Estaca Pré-moldada de concreto submetida à tração:

Capacidade de Carga por Atrito Lateral:

Q AL  1,04  40,63  42,26 tf (na eq. 1.3D)

A' L    0,33  1,04m (na eq. 1.3E)

DF = 0,33m

Na eq. 1.3F para cada camada atravessada:

2
q L   1,0  4,66  4  1,0  7,33  3  40,63 tf / m
1

Para a camada de argila arenosa:


12

Li = 4,0m  na camada de argila arenosa

i = 1,0  estaca cravada - argila (da TABELA 1.3A)

  (8  10  15)  
 3

q Li       1  4,66 tf / m 2 (na eq. 1.3G)
 3 
 
 
Para a camada de silte arenoso:

Li = 3,0m  na camada de silte arenoso

i = 1,0  cravada - argila (da TABELA 1.3A)

  (18  20)  
 2

q Li       1  7,33 tf / m 2 (na eq. 1.3G)
 3 
 
 
Capacidade de Carga de Ponta

Q P  0 tf / m 2 pois a estaca está submetida a arrancamento

Capacidade de Carga:

QU  42,26 tf ( na eq. 1.3A)

Carga Admissível:

42,26
Q ADM   32,51 tf (na eq. 1.3B)
1,3

42,26
Q ADM   21,23 tf (na eq. 1.3C)
2,0

 A carga admissível é 21,23 tf.

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BIBLIOGRAFIA

DÉCOURT, L. – Análise e Projeto de Fundações Profundas: Estacas. In: HACHICH,

W, et al. – Fundações Teoria e Prática. p. 265-301, ABMS, ABEF, PINI, São Paulo,

1996.

PRESA, E. P., POUSADA, M. C. – Retrospectiva e Técnicas Modernas de

Fundações em Estacas. p. 72-73, 2a Edição Ampliada – Edição ABMS – Núcleo

Regional da Bahia, 2004, Salvador, Brasil.

VELLOSO, D. A., ALONSO, U. R. – Previsão, Controle e Desempenho de

Fundações. In: NEGRO, A. J., et al. - Previsão de Desempenho - Comportamento

Real. p. 119-120, Edição ABMS – Núcleo Regional de São Paulo, NOV./2000, São

Paulo, Brasil.

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