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3.

Instrumentos para a Medição de Deslocamentos

3.1 Medição de Deslocamentos Verticais

3.1.1 Marcos Superficiais

São peças em concreto com semi-esfera no topo e visam a obtenção de


deslocamentos superficiais em obras geotécnicas. A Figura 3.1 apresenta um
esquema típico de marco superficial. Os deslocamentos dos marcos são obtidos
por nivelamento topográfico.

caixa de proteção

esfera de aço

bloco de concreto

Figura 3.1 - Esquema de marco superficial

3.1.2 Placas de Recalque

Este tipo de instrumento é apresentado na Figura 3.2 e nele o recalque em um


ponto é obtido através do acompanhamento topográfico da extremidade de uma
haste fixa a uma placa. Têm como inconveniente atrapalharem o tráfego de
veículos e podem ser facilmente danificadas por estes.
3.2

0.5 a 1m

camisa de proteção
haste 0.5 a 1m
placa

Figura 3.2 - Placa de recalque

3.1.3 Medidor de Nível Hidráulico

Este tipo de medidor de recalque se baseia no princípio de nivelamento com


mangueira d'água, conforme esquematizado na Figura 3.3. A mudança de
posição da célula provoca mudança no nível d'água no tubo próximo à régua.
Tendo-se o nivelamento topográfico de algum ponto de referência na régua pode-
se obter a cota da célula.

Variações mais sofisticadas deste intrumento podem ser obtidas com a utilização
de transdutores para a medição de pressão de coluna d'água, conforme
apresentado na Figura 3.4. Os transdutores utilizados podem ser elétricos,
pneumáticos ou de corda vibrante.

célula
régua
tubo cheio d'água

dreno ladrão

Figura 3.3 - Medidor de recalque hidráulico


3.3

reservatório d'água

unidade de leitura
célula cheia d'água
deaerada

transdutor de pressão (elétrico,


pneumático ou corda vibrante)

Figura 3.4 - Medidor hidráulico com transdutor de pressão

3.1.4 Perfilômetro de Recalques

É um instrumento utilizado para a medição de perfís de recalques (Figura 3.5). A


posição do torpedo do instrumento é obtida através da conversão de pressão de
água em altura de coluna d'água. No interior do torpedo existe uma bolsa de
borracha conectada a um sistema de aplicação e medição de pressão. Aumenta-
se a pressão de ar e quando esta se iguala à pressão da água no interior do
torpedo a bolsa infla (evitando-se que a mesma seja tensionada), deslocando a
água, o que é detectado através da ascenção do nível d'água na bureta graduada
presente na unidade de leitura externa. Obtém-se, assim, a pressão de expansão
da bolsa, que permitirá a obtenção da posição do torpedo.

Os resultados obtidos podem ser afetados pela temperatura, devido às variações


de peso específico da água e do mercúrio (Figura 3.5). Palmeira & Ortigão (1981)
obtiveram em laboratório uma faixa de incerteza nas medições de 17 mm, com
90% de nível de confiança e um desvio padrão da leituras de 10mm. Para
variações de temperatura entre 15 e 39°C o erro máximo na posição do torpedo
por metro de coluna d'água observado foi de 2.5mm. A principal fonte de erro é a
utilização de manômetro de mercúrio para a medição da pressão no ar. Isto pode
ser minimizado com a utilização de trandutores. A Figura 3.6 apresenta uma
aplicação do instrumento no campo (Palmeira & Ortigão, 1981). O equipamento é
indicado para situações em que os recalques a serem medidos são elevados.

Existem variações no intrumento descrito acima, através da utilização de


transdutores de poropressão para a obtenção da pressão na água no interior do
tubo de acesso. Nesse caso o tubo é inteiriço e totalmente cheio d'água. A Figura
3.7 apresenta este tipo de variação.
3.4

painel

base de referência
(indeslocável) trena torpedo
tubo de acesso cordão

manômetro de mercúrio
escalas
(pressão = p = γm h)

bureta

água h

H tubo de ar

centralizador
bomba

água balão de borracha


p = γa H = γm h H (cheio de ar)

Figura 3.5 - Perfilômetro de recalques


3.5

FOTO 2 DO TRABALHO C/ORTIGÃO*****

Figura 3.6 - Utilização do perfilômetro de recalques no Aterro Experimental II


do IPR/DNER (Palmeira & Ortigão, 1981)
3.6

unidade de leitura
base de referência reservatório reservatório cordão
(indeslocável) d'água transdutor
tubo de acesso

Figura 3.7 - Perfilômetro com transdutor de pressão

Os perfilômetros têm a vantagem em relação às placas de fornecer perfís de


recalques mais precisos, em função do número de placas que podem ser
necessárias para uma boa definição do perfil. Além disso, em regiões de grandes
deformações as placas podem ser danificadas por deformação excessiva da
haste. A Figura 3.8 apresenta resultados de recalques superficiais na base do
aterro experimental da barragem de Juturnaíba, RJ (Palmeira & Ortigão, 1981).
Os desvios entre resultados da primeira placa de recalque (à esquerda da Fig.
3.8) e do perfilômetro se deveram a dano na placa causado pelo tráfego de
caminhões que traziam aterro, uma vez que estes passavam próximo à vertical
de instalação da placa .

3.1.5 Inclinômetro Horizontal

Permite a obtenção do perfil de recalques. O instrumento fornece a inclinação de


um torpedo com a horizontal, como apresentado na Figura 3.9 e esta inclinação é
obtida através de acelerômetros no interior do torpedo. O torpedo é puxado
através de um tubo (de alumínio ou PVC, em geral) com ranhuras longitudinais,
de modo às rodas no torpedo se encaixarem nas ranhuras. Através da integração
dos deslocamentos à partir de um ponto fixo pode-se obter o perfil de
deslocamentos (Fig. 3.8). As principais vantagens deste intrumento são: alta
resolução, fácil instalação e fácil automatização. A principal desvantagem é o
custo.

De acordo com a Figura 3.8 o deslocamento vertical em um ponto do tubo pode


ser obtido por:
i
δ i = ∑ Lsin θ j (3.1)
j =1

Se o valor de θ é pequeno (pequenos deslocamentos):


3.7

FIGURA DO TRABALHO da Solos e Rochas*******

Figura 3.8 - Medições de recalques no aterro experimental da barragem de


Juturnaíba - RJ (Palmeira & Ortigão, 1981)
3.8

sinθ j ≅ θ j (em radianos) (3.2)

Então:
i
δi ≅ ∑ Lθ j (3.3)
j =1

O valor de L é em geral 60 cm (2 ft).

torpedo
cordão
roda

Corte A - A

cordão
A polia

A
cabo

posição inicial do tubo

δi θi

L
posição final do tubo trecho indeslocável

Figura 3.9 - Inclinômetro horizontal

3.1.6 Eletronível

Uma metodologia semelhante à do inclinômetro horizontal para a obtenção de


perfil de recalques pode ser empregada usando-se um torpedo contendo sensor
eletrolítico (ver Capítulo 2) para a medição de ângulos, ao invés de
acelerômetros. O processo de medição e cálculos de recalques é semelhante ao
apresentado para o inclinômetro horizontal. Os eletroníveis podem ser também
utilizados para a medição de rotações em peças estruturais, face interna de
túneis, estruturas de arrimo, etc.
3.9

3.1.7 Extensômetro de Hastes Vertical

Este equipamento permite a obtenção de recalques ao longo de uma vertical


através do acompanhamento do deslocamento de extremidades de hastes (ou
cabos) fixos a placa de recalques, conforme esquematizado na Figura 3.10. Na
Figura 3.10 (a) os deslocamentos das extremidades das hastes são medidos em
relação à mesa de auxílio, que é nivelada topográficamente. No caso de cabos,
ao invés de hastes, devido a baixa rigidez dos mesmos, os deslocamentos das
extremidades podem ser acompanhados como esquematizado na Figura 3.10 (b).
Dependendo do diâmetro do tubo de acesso existe limitação do número de placas
por vertical devido ao número de hastes excessivo.

3.1.8 Extensômetro Vertical do US Bureau of Reclamation

Este extensômetro mecânico trabalha através de cunhas móveis que se fixam a


juntas telescópicas no tubo de acesso (diâmetro de 5 cm). Uma trena presa ao
sistema de cunhas permite obter a posição do ponto de medição (Figura 3.11). A
medição de deslocamentos verticais é feita de cima para baixo. No final do tubo
de acesso é instalada uma conexão especial que retrai as cunhas para permitir a
retirada do torpedo do tubo. É um equipamento relativamente simples e de baixo
custo. Entretanto, como o extensômetro de hastes, não permite automação.

3.1.9 Extensômetro Magnético Vertical

O extensômetro magnético vertical aparece esquematizado na Figura 3.12. O


equipamento obtém a posição de alvos magnéticos ("aranhas magnéticas")
através de um torpedo que contém um contacto tipo "reed switch" (ver Capítulo
2). Quando o torpedo entra no campo magnético do alvo o contacto se fecha,
fazendo soar um alarme na superfície. Uma trena é presa ao torpedo para permitir
medir a distância da boca do tubo de acesso ao ponto onde o alarme disparou.
Uma aranha de referência é instalada em uma profundidade tal que não seja
afetada pelos deslocamentos (Figura 3.12). Como a distância desta aranha à
boca do tubo também é obtida, a mesma serve como referência para a obtenção
dos deslocamentos das demais aranhas não sendo necessário assim o
nivelamento topográfico da boca do tubo de acesso.
3.10

tubo de acesso
placa
extremidade das hastes
haste ou cabo
mesa para auxílio
à medição

(a)

polia cabo

peso
tubo de acesso
deflectômetro
(ou LVDT)

base de referência

(b)

Figura 3.10 - Extensômetro vertical de hastes


3.11

trena

tubo de acesso
torpedo

braços retráteis

Figura 3.11 - Extensômetro vertical do USBR

lâminas de aço (4)

corpo de pvc

imã circular tubo de acesso

aranha

aranha de referência
(indeslocável)

Figura 3.12 - Extensômetro magnético vertical


3.12

3.2 Medição de Deslocamentos Horizontais

3.2.1 Extensômetro Magnético Horizontal

Este equipamento aparece esquematizado na Figura 3.13. O princípio de medição


é o mesmo utilizado no extensômetro magnético vertical, com a diferença de ao
invés de serem utilizadas aranhas magnéticas empregam-se placas quadradas
com imãs circulares no centro. A placa magnética de referência, fixa na base
indeslocável de referência, é utilizada para o cálculo dos deslocamentos
horizontais das demais placas. O torpedo com contacto "reed-switch" é o mesmo
utilizado no extensômetro magnético vertical.

Cuidados devem ser tomados na instalação deste tipo de instrumento para evitar
que a placa seja danificada (ou danifique o tubo de acesso, em geral de pvc) ou
saia da posição vertical devido ao lançamento e espalhamento do material de
aterro. Para evitar tais acidentes em geral a linha de placas é instalada dentro de
uma cava previamente executada no solo de fundação.

junta telescópica
anel de borracha tubo de acesso imã

trena

tubo de acesso fio


torpedo
base de referência placa
placa de referência junta

Figura 3.13 - Extensômetro magnético horizontal

3.2.2 Extensômetro de Hastes Horizontal

Neste equipamento o princípio de medição é o mesmo empregado para o


extensômetro vertical de hastes, conforme esquematizado na Figura 3.14.

Uma versão do extensômetro de hastes horizontal para maiços rochosos é


apresentada na Figura 3.15.
3.13

tubo de acesso
placa
haste

anel de borracha

base de referência

hastes junta

Figura 3.14 - Extensômetro de hastes horizontal

cabos

marco ancorado

Figura 3.15 - Extensômetro de hastes para maciços rochosos


3.14

3.2.3 Inclinômetro

Permite a determinação de deslocamento horizontais em profundidade e funciona


segundo o mesmo princípio apresentado para o inclinômetro horizontal. O torpedo
possui dois acelerômetros que permitem obter a inclinação do torpedo com a
vertical ao longo dos planos A-A e B-B na Figura 3.15. Através de integração dos
deslocamentos a partir de um ponto fixo (em profundidade) pode-se obter os
deslocamentos horizontais ao longo do tubo do inclinômetro.

As leituras com o torpedo são efetuadas de baixo para cima, ou seja, do fundo do
tubo para a superfície. Antes das leituras começarem a ser obtidas é
recomendável deixar o torpedo descansar no fundo do furo para sua aclimatação
à nova temperatura ambiente (em geral 10 a 20 minutos). As mediadas com o
torpedo são tiradas a cada 60 cm (2 ft) e o cabo do torpedo possui marcas que
são utilizadas para a locação do torpedo na posição de leitura desejada.

Os inclinômetros podem também ser instalados no interior de estruturas de


contenção ou estacas carregadas lateralmente visando a obtenção de
delocamentos horizontais.

Os tubos dos inclinômetros podem ser de alumínio, pvc ou plástico ABS (alta
resistência). Seu diâmetro pode variar de 48 a 85mm. Juntas seladas são
disponíveis para os casos em que o tubo é instalado em solos de baixa
consistência ou em furos que sofrerão colocação ou injeção de nata de cimento.
Os selos impedem que o material mole entre no tubo e posteriormente possa
causar bloqueios.

Os torpedos (25 mm de diâmetro por 653 mm de comprimento) de inclinômetro


são feitos em aço inoxidável e a faixa de ângulos passíveis de serem medidos
depende do fabricante. Produtos são encontrados no mercado com possibilidade
de medir ângulos de ±35° a ±53° com resolução de 0.02mm a cada 500mm. A
repetibilidade do instrumento fornecida por fabricantes é da ordem de 0.01% do
fundo de escala. A acurácia do sistema é de ± 6mm a cada 25m de comprimento.
O raio de curvatura mínimo do tubo que permite a mobilidade do torpedo dentro
do mesmo é da ordem de 2.2 a 3 m. Uma vista geral de um torpedo é
apresentada na Figura 3.16.

Inclinômetros também podem utilizar eletroníveis para a medição de ângulos de


inclinação do torpedo com a vertical. Tais equipamentos têm sido utilizados como
torpedos fixos para a medição de deslocamentos horizontais em várias
profundidades ao longo da vertical. Isto permite a medição remota, sem que
operadores tenham que ir ao local de instalação do furo para efetuar as medições,
e é particularmente interessante em aplicações em situações perigosas ou de
difícil acesso.

Outra vantagem da instalação de linhas de inclinômetros é a possibilidade de se


detectar a posição de mecanismos de ruptura, em função do perfil de
deslocamentos horizontais ao longo do tubo, como esquematizado na Figura
3.17.
3.15

Um outro procedimento para a localização da superfície de ruptura é apresentado


na Figura 3.18, sendo especialmente indicado para a utilização em obras-testes
que sejam levadas a ruptura (aterros testes sobre solos moles, por exemplo). Tal
instrumento é bastante simples e barato. Consiste de um tubo pvc (diâmetro 25
mm) enfraquecido ao longo de seu comprimento por ranhuras previamente
executadas. Um peso de chumbo com um cordão que chega a superfície é
mantido na base do tubo. Após a ruptura e consequente cisalhamento do tubo de
pvc, o peso não pode mais ser recuperado se puxado para a superfície, ficando
preso no limite inferior da região de ruptura. À partir da superfície, através do tubo
pvc, pode-se obter o limite superior da região de ruptura definindo-se assim o
trecho da zona de ruptura sobre a vertical do instrumento.

Corte C - C
B

A A

polia com prendedor


para o cabo
B

C C

Figura 3.15 - Inclinômetro


3.16

Figura 3.16 - Vista do torpedo do inclinômetro

verticais de inclinômetros
I1
I2

mecanismo de ruptura
I3

I4

Figura 3.17 - Definição de mecanismos de ruptura através de inclinômetros


3.17

fio de nylon (2mm)

tubo pvc (25 mm)

ranhura (cada 20 cm)

chumbada

tampão de pvc

Figura 3.18 - Indicador de superfície de ruptura

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