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AULA 10
ESTACAS – CAPACIDADE DE CARGA

1. INTRODUÇÃO

Denomina-se de capacidade de carga de uma estaca a carga Pr que, aplicada à estaca,


provoca a ruptura do solo. Como se verá, pode ser determinada através de fórmulas
estáticas teóricas, provas de carga, fórmulas empíricas, fórmulas dinâmicas, etc.

Imagine-se que se façam provas de cargas em três estacas iguais, de mesmo diâmetro,
mas com diferentes comprimentos, como mostrado na figura. O gráfico abaixo
mostra as curvas carga – recalque para os três comprimentos. Dividindo-se os valores
de PR obtidos nas provas de carga pelo coeficiente de segurança, constrói-se o último
gráfico,com a variação da carga admissível Padm com o comprimento da estaca.

P P P
R1 R2 R3
P

L1 L2 L3

ρ L1 L2 L3

Padm

PR3 /CS

Qe

P /CS estaca
R2
estaca longa
P / CS curta
R1
L
L ot
L1 L2 L3
2

Seja Qe a carga de trabalho da estaca, como elemento estrutural, fornecida pelo


fabricante. Como visto em aula anterior, é com esse valor que se calcula o número de
estacas que se necessita ter por bloco.

Idealmente, deve-se ter a carga admissível Padm = PR/CS igual a Qe. Isso ocorre, como
mostra o gráfico, quando o comprimento da estaca é Lot .

Se L é menor do que Lot , diz-se que a estaca é curta. Sua capacidade de carga como
elemento estrutural é maior que a do solo e ocorrerá ruptura no solo antes de se atingir
o limite de carga previsto.

Se L é maior do que Lot , diz-se que a estaca é longa, pois permite transmitir ao terreno
uma carga maior do que ela própria suporta como elemento estrutural. Ocorre neste
caso desperdício de material.

Em resumo, adota-se a carga admissível do terreno Padm como sendo a carga de


trabalho Qe do elemento estrutural (concreto, aço, madeira). Busca-se então, de
acordo com um processo adequado qualquer, o comprimento necessário da estaca
para se atingir tal carga.

2. REALIZAÇÃO DE PROVA DE CARGA

O primeiro método para se estabelecer a capacidade de carga contra a ruptura de uma


estaca é realizar uma prova de carga sobre a mesma. Como geralmente nas estacas
não se testam modelos, pois a prova de carga é feita sobre uma das estacas da
própria obra, não há necessidade de se corrigir a curva carga x recalque como se fez
no ensaio em placa.

Se a prova de carga for realizada até a carga de ruptura, a norma brasileira recomenda
que se adote para a carga admissível, o menor dos valores:

- a carga de ruptura dividida por 2

- carga 1/1,5 daquela que produz o recalque medido no topo da estaca aceitável
para a estrutura. Quando não se conhece o recalque admissível da estrutura,
pode-se admitir, em primeiro grau de aproximação, o valor de 15 mm.
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Aplicação de carga utilizando macaco hidráulico atuando contra estacas de reação

Aplicação de carga utilizando macaco hidráulico atuando contra uma caixa com pesos

3. MÉTODOS EMPÍRICOS

Desde 1975, quando surgiu o primeiro método brasileiro para a estimativa da


capacidade de carga de estacas, proposto por Aoki e Velloso, vários outros autores,
seguindo a mesma linha de raciocínio, apresentaram métodos semelhantes, existindo
hoje uma experiência bastante razoável entre nós. Serão apresentados neste texto três
métodos sendo que o primeiro deles, proposto pelo eng. Victor Mello, é utilizado
somente em nível de ante-projeto.

3.1. Critério proposto pelo Eng o Victor Mello

O engo Mello propõe um critério para determinar o comprimento das estacas a partir
do NSPT, que tem levado a comportamento satisfatório de fundações por estacas em
São Paulo.
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São considerados no critério dois tipos de funcionamento de estaca:

Estacas de atrito + ponta

Quando a carga é transmitida no terreno por atrito no fuste e também por resistência
de ponta (perfil não muito heterogêneo em profundidade, com valores não muito
discrepantes do SPT), deve-se ter

ΣN SPT ≅ 0,015σ conc (σc em kPa)

onde ΣNSPT é a somatória dos valores de SPT ao longo do fuste da estaca (de metro
em metro).

Estacas de ponta

Quando a carga é transmitida principalmente por ponta (perfil com camadas moles ou
fofas sobre uma camada bem mais resistente, na qual é embutida a ponta da estaca),
deve-se ter:

( N SPT ) ponta = 0,005σ conc (σc em kPa)

onde (NSPT)ponta é o SPT do substrato firme.

No caso de estacas de atrito + ponta, tem-se, para estacas Strauss (σc= 4000 kPa),
ΣN SPT ≅ 60 e para estacas pré-moldadas (σc = 5000 kPa), ΣN SPT ≅ 75 .

Exemplo:

No perfil a seguir, serão utilizadas estacas pré-moldadas centrifugadas com diâmetro


de 35 cm e carga de trabalho de 550 kN. Prever o comprimento das estacas em nível
de ante-projeto, sabendo-se que devido a existência de um porão, o fundo dos blocos
de fundação estará na cota –4,0 m.
5

Solução:

Como é uma estaca de atrito+ponta:

ΣN SPT ≅ 0,015σ conc

com

550
σ conc = = 5717 kN
π.0,35 2 / 4

Portanto ΣN SPT ≅ 0,015x 5717 =85,7

Fazendo a somatória a partir de 4 m, tem-se na profundidade de 14m

ΣN SPT = 3 + 4 + 11 + 12 + 14 + 13 + 7 + 8 + 10 + 21 = 103 >86

Portanto, em nível de ante-projeto estima-se um comprimento de estaca de 10 m.


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3.2. Método Aoki-Velloso

Pelo método proposto pelos engos Nélson Aoki e Dirceu Velloso, a carga de ruptura
PR do solo, que dá suporte a uma estaca isolada, é admitida igual à soma de duas
parcelas:

PR = PL + PP

onde

PR é a carga na ruptura do solo que dá suporte à estaca,


PL é a parcela de carga de ruptura suportada por atrito lateral ao longo do fuste da
estaca, e
PP é a parcela de carga de ruptura suportada pela resistência de ponta da estaca.

Tem-se também:

PL = U.∑ ∆ l.r l
PP = A.rp

sendo

rl a resistência ao cisalhamento no contacto fuste-solo,


rp a tensão na ponta da estaca que provoca a ruptura do solo,
U, o perímetro da seção transversal do fuste da estaca,
∆l , o trecho onde se admite rl constante,
A, a área da projeção da ponta da estaca (no caso de estacas Franki, assimilar o
volume da base alargada a uma esfera e calcular a área da seção transversal desta).

Este método originalmente utilizava os dados do ensaio CPT. Admite que

qc
rp =
F1

fc
rl =
F2

onde fc e qc são respectivamente a resistência de ponta e a resistência de atrito do


ensaio de cone e F1 e F2 fatores de conversão dos dados obtidos no ensaio (cone)
para a estaca.
7

Os fatores F1 e F2 são função do tipo de estaca e de seu método construtivo. Os


autores propõem, com base em análise de grande número de provas de cargas, os
seguintes valores:

Tipo de estaca F1 F2
Estacas de aço e pré- 1,75 3,50
moldadas de concreto
Estacas Franki 2,50 5,00
Estacas escavadas 3,50 6,0 a 7,0
(inclusive Strauss)

Nos ensaios mais simples de CPT, só se dispõe do resultado do qc. Nestes casos, é
usual adotar correlações de fc com qc do tipo:

f c = αq c

Para locais onde não se disponha de resultados de ensaios CPT, o que é muito
comum no Brasil, os autores propõem a seguinte correlação entre qc e SPT:

q c = KN SPT

Assim, em termos de SPT, os valores de rp e rl.podem ser determinados pelas


seguintes expressões:

KN SPT
rp =
F1

αKN SPT
rl =
F2

Portanto:

U
PL = U.∑ ∆l.r l = ∑ ∆l.αKN SPT
F2
KNSPT
PP = A.rp = A
F1

Finalmente, a carga admissível é obtida por:

PR
Padm =
2
8

Os valores de α e K são parâmetros dependentes do tipo de solo. As sugestões dos


autores para as correlações para estes parâmetros foram apresentadas na Aula 2.

Exemplo

Solução do caso do perfil anterior:

Área da estaca: 0,09621m2


Perímetro: 1,0996 m

prof. L N K α rp PP rl Σrl PL PR Padm


m m kPa kPa kN kPa kPa kN kN kN
4a5 1 3 220 0,04 377 36,3 7,5 7,5 8,3 44,6 22,3
5a6 2 4 220 0,04 503 48,4 10,1 17,6 19,4 67,7 33,9
6a7 3 11 300 0,028 1886 181,4 26,4 44,0 48,4 229,8 114,9
7a8 4 12 300 0,028 2057 197,9 28,8 72,8 80,0 278,0 139,0
8a9 5 14 300 0,028 2400 230,9 33,6 106,4 117,0 347,9 173,9
9 a 10 6 13 300 0,028 2229 214,4 31,2 137,6 151,3 365,7 182,9
10 a 11 7 7 230 0,034 920 88,5 15,6 153,2 168,5 257,0 128,5
11 a 12 8 8 230 0,034 1051 101,2 17,9 171,1 188,1 289,3 144,7
12 a 13 9 10 230 0,034 1314 126,4 22,3 193,5 212,7 339,2 169,6
13 a 14 10 21 600 0,03 7200 692,7 108,0 301,5 331,5 1024,2 512,1
14 a 15 11 22 600 0,03 7543 725,7 113,1 414,6 455,9 1181,6 590,8

Pela tabela, verifica-se que o método Aoki-Velloso prevê um comprimento de estaca


de 11m, pois este é o primeiro valor superior a 550 kN.

A seguir, a título de ilustração, faz-se o detalhamento do cálculo de Padm para o


comprimento de 11m.

KN SPT 600 x 22
rp = = = 7543 kPa
F1 1,75
PP = A.rp =0,09621x7543=725,7 kN

U
PL = U.∑ ∆l.r l = ∑ ∆l.αKN SPT =
F2
0,35π
[220x 0,04 x 7 + 300 x 0,028x 50 + 230 x 0,034 x 25 + 600x 0,03x 43] = 455,9 kN
3,5

PR= 725,7+455,9= 1181,6 kN


Padm = 1181,6 / 2 =590,8 kN
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3.3. Método Décourt-Quaresma

Segundo o método proposto por Luciano Décourt e Artur Quaresma em 1978, tem-se
para a carga de ruptura:

PR = PL + PP

sendo:

PP = A.rp

com
rp = C ( NSPT )p

em que C pode assumir os seguintes valores

Solo C (kPa)
Argila 120
Silte argiloso 200
Silte arenoso 250
Areia 400

e ( NSPT ) p a média entre os SPT na profundidade da ponta da estaca, o


imediatamente acima e o imediatamente abaixo.

A parcela da carga de ruptura que é transferida ao solo por atrito lateral é dada por:

PL = UL rl

onde rl é o valor médio de rl ao longo do fuste, dado por:

(N SPT ) f
rl = 10( + 1)
3

( NSPT ) f é o NSPT médio ao longo do fuste. No cálculo da média, valores de N


menores do que 3 devem ser adotados como 3 e valores superiores a 50 devem ser
adotados como 50.
10

A carga admissível é o menor dos dois valores:

PR
Padm =
2
e

PL PP
Padm = +
1,3 4

Exemplo
Solução do caso do perfil anterior:

Área da estaca: 0,09621m2


Perímetro: 1,0996 m
prof. L NSPT Ncorr C Np rp PP rl PL PR PR/2 PL/1,3+PP /4 Padm

m m 3 kPa kPa kN kPa kN kN kN kN kN


4a5 1 3 3 120 3,33 400 38,5 20,0 22,0 60,5 30,2 26,5 26,5
5a6 2 4 4 120 6,00 720 69,3 21,7 47,6 116,9 58,5 54,0 54,0
6a7 3 11 11 120 9,00 1080 103,9 30,0 99,0 202,9 101,4 102,1 101,4
7a8 4 12 12 120 12,33 1480 142,4 35,0 153,9 296,3 148,2 154,0 148,2
8a9 5 14 14 120 13,00 1560 150,1 39,3 216,2 366,3 183,2 203,9 183,2
9 a 10 6 13 13 120 11,33 1360 130,8 41,7 274,9 405,7 202,9 244,2 202,9
10 a 11 7 7 7 200 9,33 1867 179,6 40,5 311,5 491,1 245,6 284,5 245,6
11 a 12 8 8 8 200 8,33 1667 160,4 40,0 351,9 512,2 256,1 310,7 256,1
12 a 13 9 10 10 200 13,00 2600 250,1 40,4 399,5 649,7 324,8 369,8 324,8
13 a 14 10 21 21 400 17,67 7067 679,9 44,3 487,5 1167,4 583,7 545,0 545,0
14 a 15 11 22 22 400 23,00 9200 885,1 47,9 579,1 1464,2 732,1 666,7 666,7
15 a 16 12 26

Observa-se que o método Décourt-Quaresma também prevê um comprimento de


estaca de 11m, pois este é o primeiro valor superior a 550 kN.

A seguir, a título de ilustração, faz-se o detalhamento do cálculo de Padm para


comprimento de 11m.

21 + 22 + 26
rp = C (N SPT ) p = 400 x ( ) = 400 x 23 = 9200 kPa
3
PP = A.rp =0,09621x9200=885,1 kN

(N SPT ) f
rl = 10( + 1) =
3
 (3 + 4 + 11 + 12 + 14 + 13 + 7 + 8 + 10 + 21 + 22) / 11 
10 + 1 = 47,9 kPa
 3 
11

PL = UL rl =πx0,35x11x47,9=579,1 kN

PR = 885,1 + 579,1 = 1464,2 kN

PR
Padm = = 732,1 kN
2
e
PL PP 579,1 885,1
Padm = + = + = 666,7 kN
1,3 4 1,3 4

Portanto Padm = 666,7 kN.

No gráfico abaixo, comparam-se os resultados dos métodos Aoki-Velloso e Décourt-


Quaresma.

1 ¨
¨ Aoki-Velloso
2 ¨

3 ¨
Decourt-Quaresma
4 ¨

5 ¨

6 ¨

7 ¨

8 ¨

9 ¨

10 ¨

11 ¨

12
0 100 200 300 400 500 600 700
Carga admissivel, kN
12

3.3. Outro Exemplo de Cálculo de Comprimento de Estaca por Meio de


Métodos Empíricos

No perfil abaixo, serão utilizadas estacas pré-moldadas de concreto com diâmetro de


50 cm e carga de trabalho de 550 kN. Prever o comprimento das estacas, sabendo-se
que a cota de arrasamento é a superfície do terreno.

Critério do Eng. Victor Mello

950
σ conc = = 4838kN
π.0,52 / 4

Portanto ΣNSPT ≅ 0,015x 4838 =73

Fazendo a somatória, tem-se na profundidade de 10m:

ΣNSPT = 2 + 2 + 5 + 4 + 5 + 5 + 9 + 10 + 18 + 20 = 80 >73

Portanto, em nível de ante-projeto estima-se um comprimento de estaca de 10 m.


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Método Aoki-Velloso

Área da estaca: 0,19635m2


Perímetro: 1,5708 m
prof. L N K α rp PP rl Σrl PL PR Padm
m m kPa kPa kN kPa kPa kN kN kN
0a1 1 2 350 0,024 400 78,5 4,8 4,8 7,5 86,1 43,0
1a2 2 2 350 0,024 400 78,5 4,8 9,6 15,1 93,6 46,8
2a3 3 5 600 0,03 1714 336,6 25,7 35,3 55,5 392,1 196,0
3a4 4 4 600 0,03 1371 269,3 20,6 55,9 87,8 357,1 178,5
4a5 5 5 600 0,03 1714 336,6 25,7 81,6 128,2 464,8 232,4
5a6 6 5 600 0,03 1714 336,6 25,7 107,3 168,6 505,2 252,6
6a7 7 9 600 0,03 3086 605,9 46,3 153,6 241,3 847,2 423,6
7a 8 8 10 700 0,024 4000 785,4 48,0 201,6 316,7 1102,1 551,0
8a9 9 18 700 0,024 7200 1413,7 86,4 288,0 452,4 1866,1 933,1
9 a 10 10 20 800 0,02 9143 1795,2 91,4 379,4 596,0 2391,2 1195,6
10 a 11 11 18 800 0,02 8229 1615,7 82,3 461,7 725,3 2340,9 1170,5
11 a 12 12 32 800 0,02 14629 2872,3 146,3 608,0 955,0 3827,4 1913,7
12 a 13 13 90 1000 0,014 51429 10098,0 360,0 968,0 1520,5 11618,5 5809,3

Comprimento estimado: 10 m

Método Décourt-Quaresma

Área da estaca: 0,19635m2


Perímetro: 1,5708 m
prof. L NSPT Ncorr C Np rp PP PL PR PR/2 PL/1,3+PP /4 Padm
rl
m m 3 kPa kPa kN kPa kN kN kN kN kN
0a1 1 2 3 120 2,00 240 47,1 20,0 31,4 78,5 39,3 35,9 35,9
1a2 2 2 3 120 3,00 360 70,7 20,0 62,8 133,5 66,8 66,0 66,0
2a3 3 5 5 400 3,67 1467 288,0 22,2 104,7 392,7 196,3 152,5 152,5
3a4 4 4 4 400 4,67 1867 366,5 22,5 141,4 507,9 253,9 200,4 200,4
4a5 5 5 5 400 4,67 1867 366,5 23,3 183,3 549,8 274,9 232,6 232,6
5a6 6 5 5 400 6,33 2533 497,4 23,9 225,1 722,6 361,3 297,5 297,5
6a7 7 9 9 400 8,00 3200 628,3 26,2 288,0 916,3 458,1 378,6 378,6
7a 8 8 10 10 400 12,33 4933 968,7 28,3 356,0 1324,7 662,4 516,0 516,0
8a9 9 18 18 400 16,00 6400 1256,6 33,0 466,0 1722,6 861,3 672,6 672,6
9 a 10 10 20 20 400 18,67 7467 1466,1 37,3 586,4 2052,5 1026,3 817,6 817,6
10 a 11 11 18 18 400 23,33 9333 1832,6 40,3 696,4 2529,0 1264,5 993,8 993,8
11 a 12 12 32 32 400 46,67 18667 3665,2 46,7 879,6 4544,8 2272,4 1592,9 1592,9
12 a 13 13 90 50 400 70,67 28267 5550,1 56,7 1157,2 6707,3 3353,7 2277,7 2277,7
13 a 14 14 90

Comprimento estimado: 11 m
14

Comparação entre os métodos Aoki-Velloso e Décourt-Quaresma:


0

1 ¨
¨ Aoki-Velloso
2 ¨

3 ¨
Decourt-Quaresma
4 ¨

5 ¨

6 ¨

7 ¨

8 ¨

9 ¨

10 ¨

11 ¨

12 ¨
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000
Carga admissivel, kN

4. CONTROLE PELA NEGA

No caso de estacas cravadas à percussão (pré-fabricadas e tipo Franki), costuma-se


fazer o controle da capacidade de carga, durante a cravação, pela “nega”. A nega é
uma medida tradicional, embora, hoje em dia, outros procedimentos de controle da
capacidade de carga estejam, também, fazendo parte de procedimentos rotineiros de
obra. A nega corresponde a penetração permanente da estaca, quando sobre a mesma
se aplica um golpe de pilão. Em geral, é obtida como um décimo de penetração para
dez golpes.

No caso de estacas tipo Franki, a nega é obtida ao final da cravação do tubo. Por
essa razão, não é propriamente um controle da capacidade de carga da estaca, visto
que a mesma só ficará concluída após a execução da base alargada e da remoção do
tubo, concomitantemente com a concretagem do fuste.

Para as demais estacas moldadas “in loco”, não existe um procedimento rotineiro de
medida de resistência (analogamente à nega) que permita durante sua instalação,
estimar a capacidade de carga. Nesses casos, recorre-se à experiência da firma e da
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equipe envolvida no projeto e execução. A fixação da cota de apoio desses tipos de


fundação é baseada, fundamentalmente, nas investigações geotécnicas disponíveis e
portanto estas devem ser de qualidade confiável e em número suficiente para permitir
a tomada de decisões durante a execução.

Todas as fórmulas de controle pela nega foram estabelecidas comparando-se a


energia disponível no topo da estaca com aquela gasta para promover a ruptura do
solo, em decorrência de sua cravação, somadas às perdas, por impacto e por atrito,
necessárias para vencer a inércia da estaca submersa na massa do solo.

W h = R s + perdas

em que:

W = peso do pilão
H = altura de queda do pilão
R = resistência do solo à penetração da estaca
s = nega correspondente ao valor de h.

As críticas feitas às formulas empregadas na obtenção da nega são as seguintes:

- Essas fórmulas foram baseadas na Teoria de Choque dos Corpos Rígidos,


formulada por Newton, pressupondo-se que o corpo obedece à lei de Hooke e
que a resistência é mobilizada inteiramente ao longo de toda a massa, em
movimento, de forma instantânea. Essa hipótese pode ser aplicada, por
exemplo, ao choque de bolas de bilhar, mas está longe da realidade do
“movimento” de uma estaca sob a ação do choque do pilão.

- A resistência mobilizada pelos golpes do pilão nem sempre é suficiente para


despertar a resistência máxima disponível que o solo pode oferecer.

- Os efeitos decorrentes do amolgamento, compactação e quebra da estrutura do


solo podem não ser avaliados com um só teste pois dependem do tempo.

- Existem fatores pouco conhecidos envolvidos no fenômeno, tais como a


energia real aplicada à estaca (que é avaliada como uma percentagem do peso
do pilão vezes a altura de queda) e a influência do coxim e do cepo instalados
no capacete.

Apesar das críticas às fórmulas das negas, as mesmas têm uma aplicação no controle
da uniformidade do estaqueamento, quando se procura manter, durante a cravação,
negas aproximadamente iguais para as estacas com carga e comprimento iguais. Entre
as várias formulas de nega serão apresentada somente as mais divulgadas.
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Fórmula de Brix:

W 2 Ph
s=
R ( W + P) 2

Fórmula dos Holandeses:

W2h
s=
R ( W + P)

Nessas fórmulas, P representa o peso próprio da estaca e R a resistência oposta pelo


solo à cravação da mesma.

Na fórmula de Brix, adota-se R igual a 5 vezes a carga admissível da estaca e na


Fórmula dos Holandeses 10 vezes a carga admissível da estaca.

Para as estacas pré-moldadas de concreto é comum se adotarem as seguintes energias


de cravação:

W = 0,7 a 1,2 P

P
h ≅ 0, 7
W

Exemplo

Calcular a nega para 10 golpes de um pilão de 30 kN de peso, caindo de uma altura


constante de 90 cm sobre uma estaca de concreto armado, vazada, com 42 cm de
diâmetro externo, 26 cm de diâmetro interno, 15 m de comprimento e carga
admissível de 1000 kN.

Solução

π
P= (0,42 2 − 0, 26 2 )x 25x15 = 32kN
4

h = 10 golpes de 90 cm = 900 mm
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Brix:

R = 5x 1000 = 5000 kN

30 x32 x 900
s= = 1,35cm ou 13,5mm / 10golpes
5000 x (30 + 32) 2

Holandeses:

R = 10x1000= 10000 kN

30 2 x900
s= = 1,3cm ou 13mm / 10golpes
10000x (30 + 32)

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