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Aula 09: Investigação do Subsolo

1 Introdução

A construção de uma edificação começa pela sondagem do terreno sobre o qual ela será erguida.
A sondagem, uma espécie de radiografia do terreno, identifica as camadas do solo e sua
resistência, além de detectar a presença do lençol freático (água), informações fundamentais para
que o Engenheiro projete adequadamente as fundações.

Dependendo do tipo solo, a sondagem deverá utilizar o melhor processo que forneça indicações
precisas, sem deixar margem de dúvida para interpretação e que permitam resultados conclusivos,
indicando claramente a solução a adotar.

São três as etapas para uma investigação de solo adequada:

1. Investigação preliminar é realizada apenas sondagens à percussão que devem ir até o solo
rochoso.
2. Investigação complementar é onde caracterizam-se as feições e propriedades do solo, no
ponto de vista de fundações.
3. Investigação para fase de execução é onde se confirmam os ensaios realizados apenas nos
pontos críticos das fundações, ou seja, onde se tem uma maior carga sendo aplicada no
solo – nos casos de pilares de pontes, por exemplo.

É sempre aconselhável a execução de sondagens, no sentido de reconhecer o subsolo e escolher


a fundação adequada, fazendo com isso, o barateamento das fundações. As sondagens
representam, em média, 0,05 a 0,005% do valor total da obra. Os requisitos técnicos a serem
preenchidos pela sondagem do subsolo são os seguintes:

1. Determinação dos tipos de solo que ocorrem, no subsolo, até a profundidade de interesse
do projeto;
2. Determinação das condições de compacidade (areias) ou consistência (argilas)em que
ocorrem os diversos tipos de solo;
3. Determinação da espessura das camadas constituintes do subsolo e avaliação da orientação
dos planos (superfícies) que as separam, e;
4. Informação completa sobre a ocorrência de água no subsolo.

O principal processo de investigação do solo é a sondagem a percussão com SPT e, em casos


especiais utilizam-se os ensaios de cone (CPT) e (CPT-U) – que proporcionam análises mais
detalhadas do terreno. Entretanto, existem diversos tipos de processos de investigação do solo em
todo o mundo; entre eles: sondagens a trado; poços; sondagens rotativas; sondagens mistas;
ensaio pressiométrico (PMT); o Vane Test – ensaio da palheta –; o Dilatômetro de Marchetti; os
ensaios de carregamento de placa – provas de carga –; ensaios geofísicos; etc.

2 Poços e Sondagens a Trado (Perfurações Manuais)

Figura 1 - Poço de inspeção. Poço de inspeção: escavação manual de grande diâmetro,


geralmente de rasa profundidade. Seu principal objetivo é a
análise das paredes da escavação em estado natural. Permite
também a coleta de amostras com finalidade de ensaios
laboratoriais. A NBR 9604 normatiza as escavações manuais
de poços. Essas escavações geralmente não possuem
escoramento; permitem a retirada de amostras indeformadas;
são escavadas até que se encontre o nível d’água e permitem
a visualização das paredes e do fundo da escavação.

Sondagem a trado: perfuração manual, geralmente de


Figura 2 - Trado manual.
pequeno diâmetro e profundidade rasa, utilizada para coleta
de amostras direcionadas aos ensaios de caracterização do
solo em laboratório. A sondagem a trado avança em solos de
baixa e média resistência, sendo feita uma coleta por
horizonte ou a cada metro, de acordo com especificação do
cliente. A NBR 9603 é a que normatiza as sondagens a trado.
Essas sondagens também vão até que se encontre o nível
d’água e são realizadas por um trado manual – que podem ser
do tipo cavadeira; helicoidal; espiral ou ‘torcido’.

3 Ensaio de Penetração Dinâmica (SPT – Standard Penetration Test)

Normatizada pela NBR 6484/2020, e conhecida também por “Sondagem SPT”, cuja sigla é
abreviatura do nome internacional “Standard Penetration Test”, este tipo de sondagem aplica-se
unicamente a solos.

A resistência dos solos é medida pelo índice de resistência a penetração (N), que é um número
dado pela soma dos golpes do martelo, necessários para cravação dos dois últimos segmentos de
15 cm do amostrador padrão. Cada golpe do martelo consiste em uma massa de ferro padronizada
de 65kg, caindo livre e verticalmente a uma altura de 75cm.

Neste tipo de sondagem, a profundidade é limitada aos critérios considerados impenetráveis pela
norma, ou por especificação do projetista.
As principais informações obtidas com esse tipo Figura 3 - Testemunho do solo no amostrador do
equipamento para ensaio SPT.
de ensaio são:
1. A identificação das diferentes camadas
de solo que compõem o subsolo;
2. A classificação dos solos de cada
camada;
3. O nível do lençol freático, e;
4. A capacidade de carga do solo em
várias profundidades.

Figura 4 - Equipamento para ensaio SPT. Figura 5 - Etapas na execução da sondagem a percussão: (a)
avanço da sondagem por desagregação e lavagem; (b) ensaio
de penetração dinâmica.
Figura 6 - Perfil de sondagem geológica. Ensaio SPT.

PERFIL DE SO NDAG EM G EO LÓ G IC A - Ensa io d e p e ne tra ç ã o p a d rã o SPT

Profund id a d e
em metros
C o ta Dia g ra m a
(RN)
Amostra

das
Pe ne tra ç ã o p e ne tra ç õ e s C la ssific a ç ã o d o m a te ria l
Níve l G o lp e s/ 30 c m
da 10 20 30 40
á g ua
0,10 Solo supe rfic ia l
4 5 1,00 Argila siltosa , va rie ga da
2,3 14 20 1,80 ide m, mole
Argila siltosa pouc o
9 13 3,00 a re nosa , ma rron, dura

11 15 5,00 ide m, rija

22 35 ide m, dura

27 37

28 38 O b s: nã o se ve rific o u
p re ssã o d ’ á g ua
29 39
18,00 Argila siltosa , dura
30 43

31 47 20,45 limite de sonda ge m


C LIENTE: 1:1000
Lo c a l: Rua X 07/ 04/ 99 LOGO
Re sp o nsá ve l Té c nic o : SP 01

A compacidade de solos granulares e a consistência de solos argilosos são determinadas pelo


ensaio SPT e devem constar no boletim de sondagem do solo de acordo com a NBR 6484 – Quadro
2.

Quadro 1 - Classificação dos solos de acordo com a sua compacidade e consistência.

Solo N Compacidade/Consistência
≤4 Fofo
Areias e 5–8 Pouco compacto
siltes 9 – 18 Mediamente compacto
arenosos 19 – 40 Compacto
> 40 Muito compacto
≤2 Muito mole
Argilas e 3–5 Mole
siltes 6 – 10 Média
argilosos 11 – 19 Rija
> 20 Dura

4 Ensaio com Cone Penetrômetro (CPT – Cone Penetration Test)

Os ensaios de cone e piezocone, conhecidos pelas siglas CPT (cone penetration test) e CPTU
(piezocone penetration test), respectivamente, caracterizam-se internacionalmente como uma das
mais importantes ferramentas de prospecção geotécnica. Resultados de ensaios podem ser
utilizados para a determinação estratigráfica de perfis de solos, a determinação de propriedades
dos materiais prospectados, particularmente em depósitos de argilas moles, e a previsão da
capacidade de carga de fundações.

O princípio do ensaio consiste na cravação no terreno de uma ponteira cônica (60º de ângulo de
abertura) a uma velocidade constante de 20mm/s. A seção transversal do cone apresenta uma
área de 10cm². No ensaio CPT medem-se as resistências de ponta e lateral: qc e fs. No ensaio
CPTU mede-se ainda a pressão intersticial da água. Ensaios de dissipação do excesso de pressão
intersticial gerado durante a cravação do piezocone no solo podem ser interpretados para a
obtenção do coeficiente de consolidação Ch.

Figura 7 - Detalhes da configuração do cone penetrômetro.

5 Sondagens Rotativas e Mistas

Segundo Quaresma et al (1998), as sondagens rotativas são executadas para terrenos de rochas,
que precisam ser perfuradas – matacões ou blocos. Sua execução dá-se pela movimentação do
cabeçote de perfuração, que faz girar as hastes e forçá-las para baixo, com um sistema hidráulico.
Seu barrilete – utilizado para corte do solo – pode ser simples, duplo rígido ou duplo giratório; e é
composto de diamantes ou tungstênio. As sondagens rotativas têm cinco diâmetros para serem
executadas, caso a perfuração trave, pode-se continuar com a perfuração num diâmetro inferior à
utilizada. A junção da sondagem rotativa com sondagem a percussão (SPT), é denominada de
sondagem mista.

Sondagem rotativa: Consiste na perfuração com máquina motorizada (sonda), que


simultaneamente rotaciona e aplica pressão ao barrilete acoplado a broca diamantada. O conjunto
de perfuração, formado por hastes + barrilete + coroa diamantada, é refrigerado a água. A
sondagem rotativa retira testemunhos da rocha perfurada, que são acomodados em caixas
plásticas ou de madeira, de acordo com a escolha do cliente. Quanto maior o diâmetro de
perfuração, melhor a qualidade dos testemunhos. As principais vantagens deste tipo de sondagem
são:

i. Permite perfurações com ângulo de inclinação;


ii. Pode atingir grandes profundidades;
iii. Permite execução de Ensaios de Perda d’Água (EPA) no maciço rochoso.

Sondagem mista – SM: É a união da sondagem à percussão com a sondagem rotativa. Permite a
caracterização das camadas de solo pelo método SPT, e perfuração -testemunhada do maciço
rochoso. As principais vantagens da Sondagem Mista são:

i. Atravessar camadas impenetráveis a percussão (por exemplo pedregulho ou matacão em


meio ao solo), e continuar a caracterização SPT;
ii. Atinge grandes profundidades, de acordo com necessidade da obra;
iii. Permite Ensaios de Infiltração e Ensaios de Perda d’Água.

6 Ensaio Pressiométrico (PMT)

Desenvolvido na França na década de 50, os ensaios pressiométricos tipo Ménard


(PMT) consistem na inserção em um pré-furo de sonda pressiométrica e deformação radial de
membrana por meio de inserção de gás nitrogênio. As medidas de deformação são através do
painel de controle, que mede variações de pressões e volumes ocorridos com a deformação do
solo. Tais leituras são realizadas por meio de equipamento computadorizado (Geospad) e software
específico (Geovision), projetado para ler automaticamente os dados leituras do ensaio. É obtida
curva de tensão x deformação do solo prospectado, fornecendo as seguintes informações: Módulo
pressiométrico de Ménard; Pressão limite de Ménard, e; Pressão residual. Estes resultados
permitem avaliar através de correlações os seguintes parâmetros:

• Módulo de elasticidade do solo (E); Figura 8 - Equipamento para ensaio pressiométrico.

• Resistência não drenada dos solos


argilosos saturados (Su);
• Resistência drenada dos solos
arenosos (ø);
• Capacidade de carga e recalques em
fundações rasas e profundas.
FACULDADE DE ENGENHARIAS E ARQUITETURA E URBANISMO DE
PRESIDENTE PRUDENTE
CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
DISCIPLINA DE MECÂNICA DOS SOLOS E FUNDAÇÕES
PROFESSORA MESTRE BEATRIZ MASSIMINO

7 Dilatômetro de Marchetti (DMT)

O Dilatômetro constitui-se de uma lâmina de aço inoxidável dotada de uma membrana circular de
aço muito fina em uma de suas faces, similar a um instrumento tipo célula de pressão total. O
ensaio dilatômetro (Dilatometer test – DMT) consiste na cravação da lâmina dilatométrica no
terreno, medindo o esforço necessário à penetração, para em seguida usar a pressão de gás para
expandir a membrana de aço (diafragma) no interior da massa de solo. O equipamento é portátil e
de fácil manuseio, sendo a operação simples e relativamente econômica. (Schnaid, 2012).

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