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Gestão ambiental

em bibliotecas
. ~
-=-

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UNIVERSIDADE
FEDEAAL DO RIO
GAANDE DO SUL

Reitor
Carlos Alexandre Netto
Vice-Reitor e-Pró-Reitor
de Coordenação Acadêmica
Rui Vicente Oppermann

EDITORA DA UFRGS
Diretora
Sara Viola Rodrigues
Conselho Editorial
Alexandre Ricardo dos Santos
Carlos Alberto Steil
lavinia Schüler Faccini
Mara Cristina de Matos Rodrigues
Maria do Rodo Fontoura Teixeira
Rejane Maria Ribeiro Teixeira
Rosa Nívea Pedroso
Sergio Antonio Carlos
Sergio Schneider
Susana Cardoso
Valéria N. Oliveira Monaretto
Sara Viola Rodrigues, presidente

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Mil li@$
EDITORA Gestão ambi~ental
em ·bibliotecas .
Aspectos interdisciplinares
sobre e,rgohomia, segurança,
condicionantes ambientais
e estética nos -espaços
de informação

Jussara Pereira Santos


Organizadora

Alexandre Rava de Campos


Carolina Fa,uth Vassão
. Célia Regina Simonetti Barbalho
Cristián_ Herrmann
Gilberto Jo.sé Corrêa da Costa
Hanns-Peter -Struck
Juan José-Mascará
. ' -.. .. .
.

. Jussara Pereira Santos. (Org.)


Lucia Mascará
Maria -do-Rocio Fontoura Teixeira
Màrília de Oliveira Santos
Tânia Marli Stasiak Wilhelms
© dos autores
P edição: 2012

Direitos reservados desta edição:


Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Projeto Gráfico: Carla M. Luz--.tatto


Revisão: Fernanda Kautzmann
Rosangela de Mello
Renata Baum Ortiz
Editoração eletrônica: Alexandre Giaparelli Colombo

(
A grafia desta obra foi atualizada conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, de 1990, que
entrou em vigor no Brasil em 1o de janeiro de 2009.

G393 Gestãó ambiental em bibliotecas: aspectos interdisciplinares sobre ergonomia, segurança, condicionantes
ambientais e estética nos espaços de informação f .organizadora Jussara Pereira Santos. - Porto
Alegre: Editora da UFRGS, 2012 ·
128 p. : il. ; 21x25cm
(Série Gr~duaç~o)
Inclui figuras, quadros e tabelas.

1. Biblioteconomia. 2. Gestão ambiental -Bibliotecas. 3. Ergonomia- Bibliotecas. 4. Leiaute-


Bibliotecas. 5. Programa de necessidades- Construção- Ampliação- Reforma- Bibliotecas. 6. Bibliotecas-
Projetos- Condicionantes. 7. Bibliotecas- iluminação. 8. Acervos- Proteção contra incêndios. 9.
Bibliotecas -Edificações - Segurança - Immdaçóes -Ventos fortes. 1O. Biblioteconomia - Comunicação-
Cor. ll. Bibliotecas- Sinalização. 12. Bibliotecas- Preservação- Suportes informacionais. I. Santos,
Jussara Pereira. TI. Série.

CDU 025.1

CIP-Brasil. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação.


(Jaqueline Trombin- Bibliotecária responsável CRB10/979)
ISBN 978-85-386-0179-l
Sumário

Apresentação I 7
Jussara Pereira Santos

A biblioteca e seus ritos ambientais I 9


Célia Regina Simonetti Barbalho

Ergonomia em bibliotecas I 23
Tânia Marli Stasiak Wilhelms

Leiaute de bibliotecas I 39 <-:_-


Maria do Rocio Fontoura Teixeira
Jussara Pereira Santos

Programa de necessidades para construção, ampliação ou reforma de uma biblioteca l 47


Jussara Pereira Santos --
Tânia Marli Stasiak Wilhelms

Condicionantes ambientais do projeto de bibliotecas I 55


Juan José Mascará
Lucia Mascará

Iluminação de bibliotecas /61


Gilberto José Corrêa da Costa

Proteção contra incêndios em acervos /71


A)exandre Rava de Campos
/ '

A segurança das edificações de bibliotecas contra inundações e ventos fortes /85 .


Carolina Fauth Vassão
Jussara Pereira Santos

A cor na BibliotecoQomia e na Comunicação /95


Hanns-Peter Struck

A sinalização em bibliotecas /1 O1
Cristian Herrmann

\ A preservação doS. suportes informacionais em bibliotecas /113


Marília de Oliveira Santos
Jussara Pereira Santos

Sobre os autores /125


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Apresentação

A preservação dos acervos e a criação de ambientes de trabalho saudáveis para os trabalhadores e


usuários de bibliotecas têm sido o foco da disciplina BIB03022 - Gestão de Recursos Informacionais,
desde que o Currículo 2000 do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS) foi implantado. Procura-se familiarizar o aluno com vários temas das áreas da Engenha-
ria, Arquitetura, Administração e Ergonomia de modo a tàcilitar-Íhe o diálogo com os especialistas
no momento de tomarem decisões sobre o espaço físico de suas bibliotecas. Assim, os conteúdos
como ergonomia, programa de necessidades, iluminação, condicionantes ambientais, proteção contra
incêndios, inundações e ventos, leiaute, cor, além da preservação dos suportes informacionais, foram
abordados neste documento.
A ideia de sua composição nasceu antes mesmo do Currículo 2000, quando convidamos o arquiteto
Juarez Ribeiro para ministrar uma palestra em sala de aula. Houve uma excelente recepção do tema pelos
alunos e, por esse motivo, em vários semestres seguintes, repetimos a atividade. A partir disso, Juarez
propôs a organização de um documento com um conjunto de textos mais específicos, suprindo assim
uma lacuna com relação a material em língua portuguesa, para alunos de graduação. Sugeriu nomes como
Juan José Mascará, Lucia Mascará, Gilberto José Corrêa da Costa e Hanns-Peter Struck, que prontamente
atenderam ao chamado e escreveram os textos que aqui se encontram.
Outros autores como Alexandre Rava de Campos e Tânia Marli Stasiak Wilhelms tornaram-se paceiros
importantes e, semestralmente, ministram palestras para os alw1os da disciplina.
Alguns ex-alunos do curso de Biblioteconomia da UFRGS também estão presentes nesta coletânea.
Convidamos Marília de Oliveira Santos para escrever sobre sua especialidade, a preservação de documen-
tos, e Carolina Fauth Vassão e Cristian Herrmann para comporem capínüos a partir de seus trabalhos de
conclusão de curso, ambos com conceito A. O primeiro versa sobre a segurança de edificações em biblio-
tecas e o segundo discorre sobre sinalização em bibliotecas. Tornar conhecidos seus excelentes trabalhos
finais é uma grande alegria.
Não poderíamos deixar de mencionar duas colegas professoras: Maria do RoCio Fontoura Teixeira,
grande conhecedora da área de Administração, que compôs conosco o texto sobre leiaute e Célia Regina
Simonetti Barbalho, professora do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Amazonas, que
brindou-nos com o capítulo "A biblioteca e seus ritos ambientais". Sua leitura comprovará a razão de ser
o primeiro texto da coletâneà.
Além de agradecer ao mentor intelectual deste documento, o arquiteto Juarez Ribeiro, desejamos
igualmente agradecer o apoio recebido pela então alw1a Sônia Brambilla, que se encarregou das primeiras
revisões e sempre nos estimulou a prosseguir na tarefa de sua organização. É evidente que sem os autores,
especialistas nas várias temáticas, nada teria acontecido. A qualidade dos textos e a doação de seu tempo
serão sempre reconhecidos.
Por último, porém não menos importante, agradecemos à Profa. Iara Conceição Bitencourt Neves,
chefe do Departamento de Ciências da Informação (2004-2008) da Faculdade de Biblioteconomia e
Comunicação da UFRGS, pela apresentação desta obra à Editora da UFRGS, que compreendeu sua
importância para os alunos de graduação em Biblioteconomia.
Da ideia inicial até sua publicação vários anos decorreram. Outras atividades exigiram nosso
tempo e esforço e atàstaram-nos da taretà. Mas, tudo tem sua hora e agora temos a imensa alegria de
colocar à disposição de alunos de graduação (e quem sabe até de alguns colegas bibliotecários) um
livro com conteúdo voltado para tornar nossas bibliotecas em espaços mais prazerosos de trabalho,
estudo, leitura e lazer.

]ussara Pereira Santos


Organizadora

8 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • !!


A biblioteca e seus ritos ambientais

Célia Regina Simonetti Barbalho

INTRODUÇÃO

A variedade de acepções sobre o espaço dá margem a generalizações que envolvem tanto realidades
Hsicas, como lugares concretos, quanto abstrações metaforizadas que se reportam a sensações, qualidades
e julgamentos que passam a compor os espaços cognitivos, ambos passíveis de apreensão pelo sujeito
que o interpreta e lhe dá significado. Nesse contexto, tanto lugares cognitivos refletem o concreto como
esses são influenciados por aqueles e emitem significados que podem operar uma tempestade de sentidos.
Definir o espaço, sobretudo o concreto, é aceitá-lo pela sua materialidade, pelo que estes espaços
concretos de fato são - como o campo, a cidade, o bairro, o edifício, a sala - e que possibilita criar uma
linguagem espacial que permite falar de uma coisa diferente do espaço em si, da mesma forma que a lin-
guagem sonora, por exemplo, não tem a função de falar dos sons, como explica Greimas ( 1981).
O espaço pode ser tomado, na visão semiótica, 1 como um texto, 2 uma ordenação orgânica de sentido.
Como o texto, o espaço envolve:
a) o fixo, que vai do mais amplo ao mais restrito, ou seja, do arranjo territorial (localização das
cidades, dos países), passando pelo arranjo urbano (a cidade em si, seu bairros, suas regiões),
pela aglomeração das construções, seus contextos, localizações, pela arquitetura dos aparelhos
urbanos, sua técnica construtiva, seu estilo e, por fim, pela composição das estruturas internas,
suas divisões, seu mobiliário; e
b) o móvel, resultado do uso do espaço, do movimento do homem, sua circulação no elemento
fixo, sua mobilização corporal que revela a dinâmica do espaço afetada pela intertàce das
pessoas com seu ambiente.
Ambos os elementos, fixo e móvel, interagem com a percepção visual, auditiva, olfativa e térmica
permitindo àquele que o vivencia experimentá-lo e interpretá-lo.
Ao determinar suas coordenadas pessoais dentro do espaço fiXo, o homem cria zonas de distâncias ou de
aproximação estabelecendo o que Edward Hall (1966) entende ser uma dimensão oculta que delimita implicita-
mente os limites de deslocamento do corpo e sua relação com outros corpos. Desenvolvida entre as décadas de
1950 e 1960 e denominada de proxêmica, a teoria de Hall baseia-se no estudo do território pessoal como um
espaço mínimo onde as relações humanas se dão, de modo a permitir a interação interpessoal. O autor aponta
quatro distintas zonas de distância em que as pessoas vivem, que são a pública, a social, a pessoal e a íntima.
Tais zonas, quando visitadas pelos estudos de Panero e Zelnik (1996), são a soma das intenções,
interações, conhecimentos e comportamentos sociais que regem o espaço pessoal.

1 Há, pelo menos, três grandes teorias semióticas, atualmente. Uma, elaborada a partir dos estudos do norte-americano Charles

Sanders Peirce; outra, gue reúne os estudos do russo Juri Lotman c da Escola de Tartu, e a última, gue se construiu na França
a partir da obra do pesquisador lituano-francês Algirdas Julien Greimas. Para este estudo, é adotada a linha da escola francesa.
2
Neste estudo, o cntendimenro de texto está estreitamente ligado à concepção semiótica que o vê como uma malha entrela-
çada de relações que dão sentido e que possibilitam uma comunicação, uma interação entre o que é expresso, a forma como
é expressado c o conteúdo do que é expresso.
Fase Distante Fase Próxima

15cm 45cm O
r+-..+--~
I

Fase Distante Fase Próxima

360 em 210 em O 210 em 120 em O


,+-------~-----------~ r+---,+------~
I I I

Fase Distante Fase Próxima

~~ -~ o
r+-----------------*-------------------~
I I

Fase Próxima

750em O
~--------------------------------------~
I

Figura 1 - Zonas de distâncias propostas por Edward Hall, em 1966.

A semiótica entende por proxêmica (Greimas; Courtés, 1989) uma disciplina que analisa a disposição
dos sujeitos e dos objetos no espaço, bem como as significações resultantes do uso que tais sujeitos tàzem do

10 • JUSSARAPEREIRASANTOS (Org.) • g
espaço. Para explorar a linguagem espacial, ela preocupa-se em entender os critérios que organizam tais relações
considerando que as percepções são provenientes do mundo exterior - exterioceptividade - mas, que estão
relacionadas a pressupostos individuais de cada sujeito- interioceptividade- que são resultantes da percepção
que ele, o sujeito, possui de seu próprio corpo no espaço- proprioceptividade (Greimas; Courtés, 1989).
Com efeito, a relação homem-espaço é construída pelo que é visto na forma externa e interpretado a
partir do repertório pessoal de cada sujeito, ou seja, pelo modo como ele vivencia, absorve e julga o que está
posto no ambiente, mostrando, através de seus movimentos, os valores que o fizeram definir sua trajetória.
Jean-Marie Floch (1995, p. 22), ao analisar os trajetos dos viajantes do metrô de Paris, afirma que"[ ... ]
um trajeto não é uma sequência gratuita de movimentos e de paradas, uma pura gesticulação. Escolher,
analisar do ponto de vista da semiótica os trajetos dos viajantes, é acreditar que eles têm sentidos, mesmo
se não soubermos ainda como articulá-lo na construção do seu significado."3
Para o semioticista francês, os trajetos são textos, semioticamente falando, e as diferentes formas de
vivê-los constituem programas de ação que correspondem aos percursos narrativos mínimos do transeunte;
assim visto, o trajeto é marcado pela sequência de atos do sujeito que o realiza. O sujeito transeunte deve
obter as competências necessárias à ação e execução de suapeifonnance, fazendo coexistir um ser que vê e
um ambiente que se propõe a ser visto.
Os trajetos, ao se concretizarem, mostram uma sequência macrogestual (em movimento versus parado;
lento versus acelerado) ou proxêrnica (próximo versus distante) proposta no sentido da busca de algo e, portan-
to, constituída de valores para um sujeito que os tornam objeto de valor. De fato, a escolha do trajeto indica
táticas de uso do ambiente, movimentos/gestos próprios que a estruturação da biblioteca possibilita fazer.
Nesse sentido, a biblioteca pode ser vista como um sujeito competente, um actante que, para a semiótica, é
aquele que sofre ou realiza o ato (Greimas; Courtés, 1989), podendo ser tanto um ser quanto uma pessoa,
já que participa do processo através da organização do percurso que deseja que o sujeito-usuário percorra.
Contudo, o trajeto do usuário da biblioteca resulta de uma escolha proveniente da exterio e interioceptividade
dele, mantendo a relação do corpo do sujeito com o espaço utilizado- proprioceptividade. Com efeito, o usuário
ao determinar sua rota, mostra claramente o modo como ele vê e vivencia a. biblioteca, como ele a percebe, e
ela, ao se colocar na condição de enunciadora, assume o modo como articula o que deseja q:ue o usuário faça.

ESPAÇO DEMARCADO

·A arquitetura, ao demarcar as fronteiras e limites do homem no espaço construído, opera de forma


g!obalizante na relação espaço-tempo do fruidor e age ativamente sobre a sua mobilidade corporal. De
fato, o movimento humano dentro de um determinado espaço é resultado da percepção que estabelece a
consciência espacial e defme o deslocamento do corpo a partir, inclusive, da interpretação de característi-
cas bi e tridimensionais como extensão, tamanho, forma, profundidade, largura, distância, entre outros.
Pode-se afirmar então que o movimento humano é um ato de comunicação instalado através de seus
deslocamentos e efetivado pelos seus trajetos no ambiente delimitado pela obra arquitetônica.
Uma produção arquitetônica não é ingênua, pelo contrário, ela se articula para colocar-se, de certo
modo, no dia a dia daquele que ela abriga e que convive com suas formas interativa e subjetivamente.
Logo, o material empregado na construção, o projeto do edifício, o estilo adotado, as cores e formas
que compõem o conjunto arquitetônico e a localização no meio são elementos constitutivos do plano de
expressão e de conteúdo que manifestam o sentido do texto. Este, por sua vez, possui uma complexidade
de interpretação que não se esgota no que é visível ao olhar físico, mas revela-se também pelos sentimentos
3
No original: "[ ... ] un trajet n'est pas une suíte graruite de mouvements et de stationnents, une pure gesticulation. Choisir
d'analyser sémiotiquement les trajets des voyageurs, c'est postuler qu'ils ont du sens, même si l'on ne sait pas encore comment
articuler celui -ci comment en construire la signification."

g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 11


e sensações que provoca no seu observador-fruidor, muito bem explorado, por exemplo, pelos parques de
diversão através da atração Casa do Terror ou Trem Fantasma, sempre evocando através do negro da parede,
da pouca iluminação, da textura empregada ou de outras estratégias, impressões de medo, pavor, terror.
Efetuar estudos sobre o significado do espaço construído para bibliotecas, implica primeiramente observar
que ela só pode ser apreendida se relacionada a um lugar diferente, ou seja, ela está colocada para ser assumida
como espaço de informação e de conhecimento, independente das variáveis que possa apresentar - pública,
especializada, escolar, universitária, nacional, etc.- de modo a mostrar-se como significante que, ao ser ar-
ticulado com o seu significado, estabelece urna relação de uso que lhe é próprio. De certo modo, analisar o
espaço-biblioteca é entender os sentidos despertados no usuário e colocá-lo como um lugar de enunciação
cuja intencionalidade das marcas intertextuais que produz são orientações construídas para o uso do ambiente.
O edifício da biblioteca está investido de valores que são simbolicamente construídos por duas dimen-
sões que lhe dão um sentido amplo. A primeira é a de contribuir para o desenvolvimento do indivíduo
- valor de base - e a segunda é a de proteção aos bens culturais que estão sob sua guarda, facilitando, pela
frequência espacial, a acessibilidade ao conhecimento - valor de uso.
Assim vistos, os prédios não são indiferentes, neutros; eles se inserem no cotidiano, influenciam o
universo urbano, a imagem da cidade e, consequentemente, a própria imagem da biblioteca e seu interior
tanto pode invocar um sentido de disposição, de acessibilidade, como de escolha, de exposição, de clausura.
De fato, o edifício da biblioteca é urna manifestação de linguagem para contemplação dos transeuntes. Sob
o olhar do usuário, essa imagem comunica sua função, seus significados plásticos e icônicos, afirmando
sua presença no contexto no qual se insere, provocando ou não os passantes e despertando, no público,
sentidos que variam de acordo com a aparência geral do objeto.
Construído para abrigar um acervo que venha a ser utilizado pelo homem, os edifícios recém-construí-
dos também manipulam seus usuários, pela forma como se apresentam ou como se organizam expressando
um conteúdo, uma harmonia, urna composição e um equilíbrio que deverão estar em conjunção com o
todo que ele representa.
Nesse sentido, o arquiteto inglês Faulkner-Brown (1993), em publicação da Federação Internacional
de Associações de Bibliotecários (IFLA), recomenda que os edifícios obedeçam dez exigências para
melhor efetivar seu uso e criar urna ambiência capaz de responder aos anseios dos que a procuram, que
são: ser compacta, adaptável, acessível, extensiva, variada, organizada para impor uma confrontação
máxima do leitor e do livro, confortável, com ambiência regular para uma boa conservação dos docu-
mentos, segura, econômica e conservada.
A biblioteca é então apresentada como um código que deve ser dominado pelo usuário, pois seu uso
não é intuitivo, mas apreendido. Ao dominar o código, ele passa a ter reais condições de uso e de captação
dos mais variados significados produzidos.
A localização do conjunto arquitetônico da biblioteca no espaço urbano é resultado de um projeto
político da municipalidade, que desencadeia efeitos de sentido sobre aqueles que a usam. Quando central
é manipulada pelos atributos de prestígio e poder que ela exerce principalmente se estiver próxima à
Prefeitura, ao Tribunal de Justiça, à Assembleia Legislativa, por exemplo, edificações que simbolizam o
poder constituído e legítimo de urna cidade. Quando a construção se dá em espaço periférico como bairros
afastados, a localização é manipulada pelo sentido de ampla disseminação dos bens culturais, revestido
da ideia de popularização do saber, como descreve Nogueira (1985, p. 66-68), na sua dissertação sobre a
Biblioteca Pública de Santa Luzia, Minas Gerais, afirmando que"[ ... ] quanto à localização geográfica, a
biblioteca está situada num dos pontos privilegiados da 'parte alta' da cidade, que, por sua vez, é o centro
econômico-político do município. Fica fora da periferia, zona de concentração da classe trabalhadora
[ ... ]".Tal assertiva também é reforçada por Anne-Marie Bertrand e Anne Kupiec (1997) para quem a
decisão de construir um prédio de urna biblioteca é resultante de um projeto cultural, urbano e político

12 • JUSSARAPEREIRASANTOS (Org.) • g
dos governos, pois a escolha do lugar pode dotar o prédio de uma atmosfera de poder, se central, ou de
intimidade, se instalada no bairro, o que requalifica o espaço periférico atribuindo-lhe reconhecimento.
Já as fachadas se colocam, de certo modo, como uma fronteira que separa o interior do exterior, manifestan-
do valores que, implícitos na obra arquitetônica, criam efeitos de curiosidade, de familiaridade, de intimidação,
de legitimidade, de abertura, de confronto, de nostalgia, de rejeição, de profanação ou ainda de inteira aceitação .
.A5 bibliotecas chamadas por Michel Melot ( 1996) de .A5 Novas Alexandrias, como referência à grande
biblioteca egípcia da Antiguidade, usam as suas fachadas como uma enunciação para o grande espetáculo
que ocorre em seu interior. Não querem não ser vistas, já que são monumentos que se colocam no espaço
urbano como uma provocação, uma ruptura, um descontinuísmo da ordem urbana, como um convite ao
encontro com a cultura . .A5 fachadas não representam uma fronteira, uma vez que, tanto no novo edifício
da Biblioteca Nacional da França, em Paris, quanto no da British Library, em Londres, uma praça pública
se coloca como intermediadora entre o espaço da rua e o acesso à biblioteca, incitando o diálogo através da
disposição de bancos postos à contemplação do suntuoso monumento, como afirma Dominique Perrault 4
(apud Blasselle; Melet-Sanson, 1990) ao definir o seu projeto para a da França como,

[... J uma praça para Paris. Uma biblioteca para a França. Com seus ângulos como quatro livros abertos
face a face e que delimitam um lugar simbólico [ ... ] A esplanada, grande como a Place de la Concorde,
foi concebida como uma praça pública acessível por três lados por seus acessos. 5

&sim postos, o regime de presença da biblioteca no espaço urbano a dispõe para contemplação do
transeunte e a coloca como um convite para a entrada no seu fascinante mundo real e imaginário ou como
uma muralha posta para a defesa do patrimônio que guarda.
O sentido de abertura ou fechamento se prolonga para o interior, na medida em que o transeunte, ao aceitar
o convite e entrar, depara com wnas funcionais, organizadas de modo a facilitarem ou não a determinação do
seu trajeto. Tais wnas possuem funções e requisitos distintos, como pode ser observado no quadro a seguir.

QUADRO 1 - Zonas físicas da biblioteca


ZONAS DA RECOMENDAÇÕES
BIBLIOTECA FUNÇÃO REQUISITOS ÁREAS GERAIS

1 Fora do controle de
ruídos
Informação geral
Guarda-volumes
Banheiros
Receber, Telefones públicos
Funcional
orientar Cafeteria
e distribuir Expositores gerais Aclimatação adequada
Zona de Reprografia
dos usuários Sinalizada
Acolhimento para as
2 Dentro do controle
demais
de ruídos
dependências Bom conforto
Catálogo
da biblioteca ambiental
Balcão de atendimento Iluminação
Expositores de novas fluorescente
aquisições de 20 amperes
Iluminação de boa
Leitura informal como
qualidade
jornais, revistas
genéricas

Cononua
4
Ver Perrault, D. Bibliothêque Nationale de France 1989-1995. Vis à Vis, Paris, n. 2, 1995. Apud Blasselle; Melet-Sanson,
1990, p. 99, 108.
5
No original:"[ ... ] w1e place pour Paris. Une bibliothêque pour la F rance. Avec ses tours d'angle comme quatre livres ouverts
se faisant face et qui délimitent un lieu symbolique. [ ... ] L'esplanade, grande comme la place de la Concorde, est conçue
comme une place publique accessible sur trois côtés par des emmarchements."

g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 13


ZONAS DA RECOMENDAÇÕES
BIBLIOTECA FUNÇÃO REQUISITOS ÁREAS GERAIS

3 Atendimento
Balcão de devolução e Umidade do ar:
empréstimo em torno de
Acolhedora Orientação bibliográfica 40 a 70%
-··-
4 Estudo/Consulta
Individual Iluminação:
Grupo 100 amperes
f--
5 Uso de material
Confortável especial
Vídeo Mesas:
Atender Microformas 1 pessoa: 1,10 x 0,90
Zona de
às Áudio 4 pessoas: 1,80 x 1,20
Prestação de
demandas SI ide Redonda para 4
Serviços
informacionais pessoas: 1,20 cjl
Agradável
6 Exposição
Fixa
Móvel Controle do nível de
-- ruídos
7 Auditório

8 Áreas especiais
Infantil
Cegos
Outras

9 Livros Segurança contra


furtos e incêndios.
Umidade do ar em
Armazenar Aclimatação 10 Periódicos torno de 55%.
Zona de os recursos adequada ao Iluminação
Estoque informacionais suporte 11 Materiais especiais fluorescente com filtro
----·-- distante das estantes
12 Referência entre 0,80 a 1,70.
·- -·-
13 Recebimento e
expedição do material
Aquisição
Intercâmbio Disposta de modo a
permitir fácil acesso à
14 Processamento coleção e ao catálogo,
Processar Técnico quando este não for
Controle de Registro automatizado
os recursos
temperatura Catalogação
informacionais
Zona de Classificação
Serviços Indexação Umidade do ar: 45%
Internos Controle do Alimentação da base de
Administrar
nível de dados
os serviços
ruídos Preparo físico
necessários
para o bom
funcionamento 15 Direção e Secretaria
da biblioteca
16 Banheiros

17 Encadernação

fonte: Barbalho, 2000.

A organização interna da biblioteca pode ser vista como um microuniverso urbano que se alterna
entre wnas mais densas, como as de acolhimento- igual às áreas centrais de uma cidade -, de prestação

14 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • fZ


de serviço, com espaços de convívio entre o saber e o usuário que se manifestam através de um hall, um
átrio, uma praça com cruzamentos que permitem a integração, e de zonas menos densas como as destinadas
aos serviços técnicos, igual à periferia. A disposição do espaço interno não é ingênua; ela é, sim, carrega-
da de efeitos de sentido que manipulam o uso do espaço cultural e podem evocar o sentido de unidade,
quando centraliza em um único lugar a coleção, ou de disponibilidade, quando, ao procurar responder à
diversidade de públicos, setoriza seu acervo em espaços distintos, ou, ainda, de adaptabilidade, quando
distribui sua coleção de acordo com os níveis dos usuários como o infantil, o adulto, o deficiente visual.
Uma outra forma que expõe a intencionalidade do arranjo espacial pode ser entendida a partir da
localização do acervo na estrutura interna: se central, mostra que ele é considerado o bem mais importante,
o que a biblioteca possui de mais valioso, que deve ser mais bem protegido, como se fosse o seu coração
e, ao adotar essa postura, ela assume tacitamente que valoriza mais a guarda dos artetàtos culturais e que
sua missão é a preservação e a conservação. Já ao determinar que o uso do espaço central seja destinado a
exposições culturais, ela indica valorizar o acesso a qualquer tipo de informação porque também distribui
seu acervo pelo ambiente que dispõe.
Ao analisar a disposição do acervo no interior dos edifícios, Navarro ( 1946) os classifica em:
• Vertical: com sala de leitura iluminada por ambos os lados, onde os livros estão dispostos em estantes,
as quais são colocadas junto às paredes, e os depósitos estendem-se perpendicularmente pelos diversos
pavimentos, como é o caso da Biblioteca Nacional do Chile, em Santiago. O acervo é valorizado pelo
olhar e, como no estilo boulleano, a contemplação da obra na estante conduz à ideia de relicário, posto
para ser admirado, visto sob todos os ângulos, de modo a fazer-se presente em qualquer olhar. Assim
colocado, o arranjo valoriza os artefatos culturais ao expô-los e desperta, no usuário, um sentimento
de impotência de assimilação de todo o conhecimento ali armazenado. Além de reforçar a metáfora da
biblioteca como memória do mundo, esse regime de organização da visibilidade do acervo indica que
ele não quer não ser visto como um agente de desenvolvimento, mas sim, como um lugar de guarda.
• Paralelo: com amplo salão de leitura, que está disposto em sala diferente da destinada ao acervo,
embora em alguns casos esse esteja visível ao usuário, porém fora do seu alcance, como é o caso da
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro; Brasil. Separado do usuário, o arranjo do acervo aponta que o
convívio direto é algo proibido, que sua intenção é de preservar os bens culturais mostrando a biblioteca
como uma zelosa instituição que, dado o regime como dispõe a coleção, quer não ser vista pelo leitor.
• Circular: com o balcão de atendimento disposto em um círculo bem ao centro do salão de leitura, na
área destinada aos leitores, e com os depósitos para o acervo postos entre o balcão e o salão, como a
Biblioteca do Congresso, nos Estados Unidos. Valorizando a continuidade, essa exposição do acervo
usa da estratégia de cumplicidade com o usuário, já que disponibiliza no mesmo ambiente o acervo
que vai ser consultado e que, portanto, é organizado a partir de um querer ser visto pelo usuário.

Vê-se, dessa forma, que a distribuição interna do espaço pode ser constituída a partir da geração de
um sentido de convívio, de sociabilidade que se acentua quando a biblioteca mantém um cate,6 uma lan-
chonete, por exemplo, onde a conversa e a troca de ideias entre os usuários pode permitir o rompimento
do isolamento natural da leitura ou, ainda, quando há a concepção de um ambiente destinado a debates,
reuniões, clube de leitores, que permite a manifestação dos usuários e assim a instituição passa a ouvir o
que o coletivo pensa sobre o assunto proposto para discussão.

6 Na Biblioteca de Orléans, na França, a caíeteria ocupa 143m2 do mezanino- 50% do espaço- e está alocada ao lado do

setor de cópias.

g • GESTÃOAMBIENTALEM BIBLIOTECAS • 15
Para facilitar o processo de distribuição interna do espaço, atentando para a relação de proximidade
das principais áreas da rona de prestação de serviços, a Escriba Indústria e Comércio de Móveis, em seu
Manual de planejamento de bibliotecas (1984, p. 4), sugere que se observe a seguinte orientação:

Empréstimo
Devolução
Controle de saída de livros
Orientação bibliográfica
Fichário
Leitura formal
Leitura informal
Referência geral
Leitura geral
Literatura clássica e moderna
Mapas
Periódicos
Jornais

Grau de proximidade: Mais próximo

I Próximo
Separado
Mais separado possível

Figura 2- Modelo Escriba para distribuição do espaço interno (Escriba ... , 1984, p. 4).

Observa-se, pelo esquema proposto, que o empréstimo, ·a devolução e o controle de saída de livros
devem ficar o mais próximo possível; contudo ele tem que ficar o mais separado da leitura formal.
De fato, o lugar biblioteca deve ser apreendido como uma estrutura construída por uma relação entre
partes, de modo que seu catálogo, por exemplo, não tenha um significado autônomo, mas sim em corre-
lação com tudo mais que constitui o ambiente. Existe, pois, uma verdádeira teia de significados expressos
na e pela disposição espacial.
As análises da disposição espacial de uma biblioteca permitem reconhecer a existência de uma estru-
tura elementar do destinador-produtor e do destinatário-usuário, que se inscrevem no espaço-biblioteca
e podem ser, desse texto, depreendidos.
Ao entrar no espaço de uma biblioteca, o usuário assume sua necessidade de contato com os artefatos
culturais que ela aloca e espera encontrar em seu interior a solução ou as respostas para suas inquietações.
O seu espaço interior é criado para funcionar como um oásis de tranquilidade que se contrapõe ao
mw1do da rua, dos carros, do barulho, ao calor do asfalto ou à umidade de dias frios e à acelerada pressa
do transeunte. O espaço interior da biblioteca está devidamente preparado, com uma temperatura ideal,
uma serenidade que, sem pressa, opõe-se à cidade que fervilha, provocando um isolamento ideal para a
reflexão, para o estudo. Essa imagem é explorada pelo cinema, no terceiro filme da trilogia Indiana ]ones7
onde o silêncio da biblioteca se contrapõe ao barulho que o herói provoca.
Ao dirigir-se para o interior da biblioteca o usuário rompe a barreira com o mundo exterior, deixando-se
ser manipulado pela tentação de uso de um ambiente agradável e capaz de dinamizar sua busca pelo saber.

7
Ver Indiana ]ones and the Last Cruzade. Direção de Steven Spielberg. Produção de Robert Watts. [Los Angeles J: Paramo um
Pictures I Lucasfllm, 1989. (126 min.), son., color.

16 • JUSSARAPEREIRASANTOS (Org.) • g
Observa-se que, em grande parte dos edifícios de bibliotecas construídos contemporaneamente, o
primeiro espaço de contato, colocado antes mesmo do balcão de informações, apresenta -se como um
rompimento entre o interno e o externo. Na maioria das vezes são grandes átrios que, no caso da Biblioteca
Pública de Aichi, no Japão, permite observar, através da vidraça, o exterior.
Quanto à organização do espaço interno, os edifícios de bibliotecas possuem uma cartografia que os
divide em dois territórios distintos, sendo um de ampla circulação e outro restrito. Com efeito, as wnas de
acolhimento e de prestação de serviço estão disponíveis para que rodo e qualquer indivíduo nelas circulem,
especialmente quando são adaptadas para uso pelos deficientes nsicos, visuais ou auditivos atendendo, desse
modo, a heterogeneidade dos públicos que a ela se dirigem. Já a zona de serviços internos só é acessível
aos funcionários, e a de estoque pode ou não ser aberta ao público, embora as recomendações sejam para
que a biblioteca promova o encontro do usuário com as obras através do contato direto.
Nessa cartografia, a biblioteca opera um jogo discreto de restrições que ocorre de forma a não criar
constrangimento ao usuário. Em sua grande maioria a zona de serviços internos está localizada após o
acervo ou no andar mais elevado, por exemplo. Quando essas áreas necessitam interagir com o usuário,
como o balcão de referência, elas, na maior parte das vezes, estão colocadas na entrada, propondo-se a ser
intermediadoras entre o acervo e as necessidades ínformacionais.
Os balcões de atendimento, por exercerem a função de ligação entre a prestação do serviço de informa-
ção e o usuário, são fartamente exemplificados na escassa literatura sobre arquitetura de bibliotecas. O da
biblioteca de Ichikawa, no Japão, busca minimizar os impactos causados pelas restrições, apresentando-se
como uma espécie de supermercado, local que o usuário está acostumando a frequentar, cuja intenção é a
de criar uma intimidade com o ambiente, que se assemelha com um lugar de consumo, onde a informação
é o objeto de valor que o usuário busca.
Ainda quanto à zona de prestação de serviços, um outro ponto sobre a privacidade de uso chama a
atenção. Trata-se da mesa e da cabina do salão de leitura, que convocam o usuário para escolher entre
alojar-se em um espaço individualizado e, portanto, restrito, ou, em outro, que privilegia a convivência
com os demais usuários.
Um exemplo claro é o da biblioteca da Universidade de Wesleyan, em Middletown, nos Estados Uni-
dos, onde o usuário opta entre usar as cabin~s, locais reservados, ou a mesa, local coletivo. Nesse aspecto,
o entendimento das dimensões ocultas de Edward Hall ( 1966) vistas anteriormente, permite compreender
porque a maioria dos usuários elege as cabinas para se acomodarem, na medida em que essas representam
o respeito ao seu espaço pessoal privado.
Com efeito, pesquisas americanas (Veatch, 1987) indicam que a preferência por mesas coletivas se dá
quando do trabalho em grupos e que, nesse caso, 97o/o são compostos por duas ou três pessoas. Veatch
afirma ainda que a preferência pela privacidade em bibliotecas está relacionada com o ato isolado da leitura
que envolve o imaginário e as emoções individuais, sendo por isso que a demanda por uma área íntima é
tão grande, já que a solidão, a intimidade, o anonimato e a reserva passam a ser uma exigência do usuário.
O autor finaliza afirmando que

(... J uma vez que a privacidade envolve o controle de acesso de uma pessoa por outra, provoca implica-
ções no design da biblioteca. Nas áreas destinadas ao público significa o oferecimento de diferentes tipos
de acomodações de modo que os indivíduos possam fazer escolhas de acordo com suas necessidades
e desejos por ocasião de cada visita. 8 (Veatch, 1987, p. 364).

s No original: "[ ... J beca use privacy in volves the contrai of access to oneself by other, ir has ímplications for library designs.
In public areas means providing different types of seating and study areas so that individua1s may make choice depending
upon their needs and desires at the time."

s! • GESTÃO AMBIENTAL EM BJBUOTECAS • 17


Embora o destinatário-usuário sinta-se investido da competência moda! do querer, elegendo a cabina
ou a mesa para seu uso, ele, de fato, é manipulado pelo destinador-biblioteca, que não lhe concede o acesso
irrestrito ao seu ambiente e lhe exige um comportamento cujas marcas são encontradas nas placas que
solicitam silêncio, que pedem que se desliguem os aparelhos de telefonia móvel nas salas de estudo em
grupo - as quais são isoladas das demais para se permitir a conversa em tom mais elevado -, nos tapetes
que abafam o som das passadas, nas luminárias com suas luzes diretas que determinam os locais de leitura,
no carrinho colocado junto às mesas indicando que as obras não devem ser devolvidas às estantes, no
porta-guarda-chuva posto junto à entrada para que o chão não fique molhado nos dias de chuva, entre
outras. Todos esses exemplos são passíveis de ser encontrados em qualquer biblioteca e, especialmente,
na da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP).
De fato, o uso do ambiente interno impõe normas de conduta e de comportamento que levam o
usuário a manter o silêncio, por exemplo, indicando um respeito ao uso do espaço coletivo. Isso é obser-
vado pela educação (o falar alto em um ambiente de estudo representa uma má educação), sendo que sua
ausência se coloca como um rompimento de um código de postura, de bom comportamento, de respeito
à zona pessoal e íntima, ou seja, há um comportamento espacial (sonoro, gestual) esperado do usuário e
que pode ser manipulado pela organização espacial.
Assim posto, a organização espacial funciona como informadora e formadora do comportamento dos
usuários no interior da biblioteca, fazendo-os agir de acordo com as pistas deixadas no ambiente interno
da biblioteca. Sob este aspecto, especialmente, Coelho Netto (1979, p. 41) destaca que"[ ... ] o modo de
disposição e de atribuição de significados ao espaço é na verdade um dos elementos da infraestrutura do
comportamento humano."
Ao elencar as dimensões do comportamento humano, os estudos proxêmicos de Hall ( 1966) permi-
tem entender que tais procedimentos são resultantes do respeito às zonas íntima e pessoal, apresentadas
anteriormente. Tal procedimento social implica a não violação do espaço do outro, mostrando que um
comportamento é esperado e, portant(), os territórios são estabelecidos para criar uma atratividade ou
orientar o uso. Isso se dá, por exemplo, com a criação da seção ~nfantil ambientada para o uso de crianças
com cadeiras e mesas pequenas, com a criação de áreas onde é permitido o fumo ou ainda com a colocação
de um café que privilegia a socialização e o diálogo, lugar ideal para fluir a conversa.
Após o usuário ter-se deixado manipular pelo que está implícito na distribuição interna da biblioteca, o
contato com o espaço interior apresenta novas marcas através do que está construído- espaço ocupado pela
construção, pelo concreto ou por qualquer outro material empregado- e pelos ambientes não construídos.
O espaço construído, edificado, representa uma ocupação, que poderá em um primeiro momento
indicar uma privação de circulação, ou seja, o prédio da biblioteca é um território cujas fronteiras são
delimitadas pelas paredes. Nesse sentido, o uso é estabelecido somente para o contato com os artefatos
culturais ali dispostos, opondo-se ao espaço livre, como as praças, por exemplo, onde é possível realizar
uma infinidade de atividades como correr, ler, brincar, descansar.
Assim, o espaço construído, embora possua aspectos positivos como a proteção, o recolhimento,
espera que o indivíduo nele se coloque - para fazer uso da biblioteca é necessário entrar no prédio - e faz
com que a obra arquitetônica se apresente como uma limitação à circulação.
Que estratégia os textos arquitetônicos das bibliotecas poderão utilizar para minimizar os impactos
causados pela imobilidade de uso do espaço construído?
Muitos projetos têm privilegiado a criação de áreas de vivências através de jardins internos, como o
novo prédio da Biblioteca Nacional da França, construído às margens do rio Sena, ou salões de leitura
voltados para uma grande área de janelas que privilegiam a visão de um bosque, como a biblioteca do
Ninhama Municipal Besshi Cooper Nine Memorial, no Japão, ou ainda áreas para uma livraria ou um
café como na Biblioteca N acionai do Rio de Janeiro, no Brasil.

18 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • 2


A adoção da estratégia dos jardins permite também a apresentação da análise de duas novas contra-
posições do espaço, que são o natural e o artificial.
Em verdade, ao dispor elementos da natureza, a biblioteca procura deixar o usuário mais à vontade,
disjunto da ideia de que o concreto pode esmagá-lo quer por sua verticalidade, quer por seu modo de
aprisionamento. O espaço natural interage no espaço urbano e este busca se destacar pela imperiosa ne-
cessidade de se propor como um lugar agradável e tranquilo.
No conjunto arquitetônico de uma cidade, as praças entrelaçam-se aos prédios, proporcionando
agradáveis locais de descanso e de liberdade, como é o caso do parque localizado em frente ao Museu de
Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, em São Paulo.
Sob esse prisma é que muitos arquitetos têm privilegiado composições com a presença da natureza em
edifícios construídos especialmente para bibliotecas. A natureza apresenta-se como elemento mais próprio
do instinto humano. O narural aproxima o homem do que lhe é inerente e o atrai para uma atmosfera
capaz de lhe transmitir serenidade.
A presença da narureza nos edifícios de bibliotecas, através de jardins, reforça o discurso ecológico do
homem contemporâneo cuja necessidade de preservar o meio ambiente tornou-se fundamental para sua so-
brevivência. Para estar em conjunto com essa nova ordem e manter uma performance competente, os prédios
apresentam áreas verdes, com espécies em extinção, as quais mostram que a biblioteca pode e quer participar
da conscientização preservacionista, fazendo seu usuário reconhecer sua contribuição para a manutenção
do ambiente; o destinatário, persuadido pela presença de árvores, plantas raras e, por vezes, aves, deixa-se
manipular por um discurso que, em alguns casos, são falsos. Destaca-se o caso do projeto da nova Biblioteca
N acionai da França que dá destaque a um imenso jardim interno, com cento e vinte pinheiros silvestres raros
trazidos da Normandia, mas que possui uma imensa escadaria que dá acesso do nível da rua a uma esplanada
que serve de base para as quatro torres em formato de livro aberto, toda revestida de pau-brasil.
Discutindo sobre o espaço da biblioteca e sua arquitetura, Michel Melot ( 1991, p. 177) afirma ser
ele resultado de um imaginário coletivo que toma forma de um jardim pois"( ... ] ele deve ajustar vastas
perspectivas, de cantos agrestes, de varandas, de sol. e de sombras ( ... ]"9 , ressaltando a simbologia dos
lugares que mantêm uma pequena e representativa parcela dos artdàtos culturais produzidos pelo homem,
tal como o que ocorre com os jardins, que reúnem parte de exemplares da narureza.

UM REOLHAR PARA O ESPAÇO

Os recursos informacionais dispotúveis na biblioteca são a sua prin~ipal fonte de atração dos usuários. São
esses que dão sustentação à maioria dos serviços por ela oferecidos, de forma que o destaque à sua disposição, sua
organização no conjunto espacial se oferece como ponto fundamental no texto arquitetônico, até porque, como
apresentado anteriormente por Navarro ( 1946), a decisão sobre seu modo de disposição (se junto ou separado
do salão de leitura) estabelece o tipo de biblioteca codificado, a saber, como vertical, horizontal ou cirnllar.
No que tange à organização do acervo, pode-se afirmar que as estratégias do texto contemplam o acesso
fechado (restrito)- modelo francês-, onde os funcionários é que retiram as obras para consulta, e o aberto
(amplo)- modelo anglo-saxão-, que permite ao usuário manusear a obra, bem como o conduz a recuperá-la.
Os efeitos operados pelo acesso aberto estão relacionados às ideias de amplidão, de vastidão e de imen-
sidão, causadas pelo contato direto com a totalidade dos artefatos existentes na coleção. A amplidão remete
ao poder inferir e decidir sobre o deslocamento para esta ou aquela estante, de poder ser o possuidor/leitor
de qualquer uma daquelas obras ali ordenadas; a vastidão, como efeito de infinidade - presente no conto do
poeta argentino Jorge Luís Borges ( 1997), através da Biblioteca de Babel-, relaciona-se com o volume do

"No original:"[ ... ] il doit méneger devastes perspectives, des coins bocagers, desterrasses, du solei! et de l'ombre [ ... ]".

g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 19


acervo, que é sempre composto de um número realmente imenso de obras, de titulas, de letras, de pensamentos
expressados nos mais diversos suportes e que estão ao inteiro dispor do usuário; e a imensidão é causada pelo
efeito produzido pelo próprio tamanho do espaço ocupado pela coleção da biblioteca que sempre é marcado
por uma quantidade imensa de estantes que estão dispostas em amplos vãos livres, conforme a Biblioteca
Pública de Imari, no Japão, onde o usuário pode ler ali mesmo a obra selecionada, junto ao acervo, sentado
em uma confortável cadeira, com iluminação individual acionada conforme sua necessidade.
O poder de escolher a obra, o titulo a ser lido, compara-se ao direito de transitar, de sentir-se parte do
grupo social para o qual a biblioteca está direcionada, o que permite uma fruição quanto ao uso do material
informacional disposto para o contato direto na estante, onde o usuário opera uma seleção em conformidade
com a sua necessidade, seu interesse, seu nível de compreensão e sua capacidade de aquisição de conhecimentos.
A proibição de acesso ao acervo mostra a ideia de guarda, de preservação, de proteção, uma vez que
o fechado apresenta-se como restrito, íntimo, secreto. Associam essas marcas a uma imagem austera;
rígida da biblioteca, que parece não estar disposta a reconhecer o direito de uso infinito dos seus usuários.
Outra contraposição que se apresenta nas construções de uma maneira generalizada é a verticalidade
versus horizontalidade, sendo a primeira imediatamente associada ao gótico, na arquitetura, e a segunda,
à compactação dos ambientes.
Analisando a ideia da verticalidade, observa-se que ela conduz a dois extremos: ao inferior e ao su-
perior, ou seja, ao início do eixo vertical, que é a base, e ao seu fim, que é o topo; e na construção civil
podem esses representar uma garagem (inferior) e uma cobertura (superior) de um edifício, por exemplo.
Uma garagem reporta à ideia de lugar de guarda (estacionamento, depósito); já a cobertura representa
um lugar de status, de estar acima de todos, no "topo", de se ter poder. A árvore é vertical: suas raízes (o
inferior) estão ligadas ao solo que a alimenta, e sua copa (o superior), por sua vez, é repleta de fertilidade
e disponibiliza os frutos.
Sob esse aspecto, Anue Kupiec (1997) destaca que a verticalidade também se faz presente, na maio-
ria dos prédios de biblioteca, por uma escada ou mezaninos instaladospara maximizar o uso do espaço.
Em contraposição, a horizontalidade não prende nada ao solo, mas tem amplitude, infinidade - ao
olharmos o horizonte temos a ideia de expansão, de algo que não tem fim - que, embora marcada pelos
limites do terreno e pelos pavimentos, apresenta uma conformidade quando da utilização do espaço, uma
vez que deve comportar as necessidades daqueles que o usam.
Em se tratando de bibliotecas, essa contraposição se faz muito presente no novo conjunto arquitetônico
da Biblioteca Nacional da França, projeto de Dominique Perrault, onde as categorias vertical e horizontal
são muito marcantes e estão destacadas através da funcionalidade do espaço. O vertical- as quatro torres
em forma de livros abertos - é o espaço de guarda do acervo, onde as obras serão armazenadas de forma
a contemplar a necessidade de crescimento e buscam atingir o céu como a Torre de Babel; é o que se vê
exposto ao primeiro olhar como se estivesse enraizada no solo que a nutre, que a faz produzir cultura
representada em forma de livros. A amplidão é vista pela horizontalidade da esplanada. Na parte inferior,
como que dando suporte à "copa", dois amplos subsolos- que não são vistos no primeiro olhar- estão
colocados para a consulta dos mais variados suportes informacionais. Deles o usuário "retira", através da
leitura, os "nutrientes" necessários para ampliar seus saberes, uma vez que estão submersos no universo do
conhecimento e encravados no interior da terra, já que está edificado no subsolo. Por sua vez, a geração
de conhecimentos implica o surgimento de novos livros, portanto, novos frutos para a copa.
O homem percebe o meio ambiente e dele faz uso através de seus sentidos, que são comandados pelo
cérebro, que obedece a um programa estabelecido pelos valores linguísticos e culturais que moldam a per-
cepção do ambiente circundante. Aquele que percebe defme-se como sujeito do fazer. Ele efetiva suas ações
de acordo com as informações percebidas e operadas por sequências de enunciados de fazer. Operam esses as
transformações necessárias para o uso adequado do espaço, alterando constantemente os enunciados de estado.

20 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • !!


Quando se trata do meio ambiente construído, percebe-se que este é passível de ser manipulado, de
modo a produzir os efeitos desejados para que o indivíduo sinta-se à vontade, ou não, para utilizá-lo.
Assim, a compreensão de que as relações arquitetônicas podem ser manipuladas de forma a produzir
os efeitos de uso desejados é, na verdade, a primeira estratégia concebida para o jogo de sedução com o
usuário que a biblioteca faz. O segundo lance desse jogo é resultado da ambiência criada pela organização
espacial interna- o layout- que se utiliza de muitas estratégias para criar efeitos de sentido.

REFERÊNCIAS

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Paris: Gallimard, 1990.
BORGES, Jorge Luís. A biblioteca de Babel. In: ___ . Ficções. São Paulo: Globo, 1997. p. 84-92.
COELHO NETTO, José Teixeira. A construção do sentido na arquitetura. São Paulo: Perspectiva, 1979.
ESCRIBA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE MÓVEIS LTDA. Manual de planejamento de bibliotecas. Taboão
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FAULKNER-BROWN, Harry. The initial brief The Hague:IFLA, 1993.
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GREIMAS, Algirdas Julien; COURTÉS, Joseph. Dicionário de semiótica. São Paulo: Cultrix, 1989.
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HALL, Edward. A dimensão oculta. Lisboa: Relógio D'água, 1966.
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VEATCH, Julian Lamar. Toward the Environmental Design of Library Buildings. Library Trends, Urbana,
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!l • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 21


Ergonomia em bibliotecas

Tânia Marli Stasiall Wilhelms

INTRODUÇÃO

Este texto sobre Ergonomia nos ambientes de trabalho, inclusive nas bibliotecas, pretende fornecer um
panorama geral sobre o assw1to, para que profissionais da área de Biblioteconomia possam exercer suas tarefas
em ambientes mais saudáveis, evitando doenças relativas à função. O bibliotecário, enquanto gestor de pessoas,
pode promover melhorias nas condições de trabalho a partir de uma perspectiva ergonômica, em busca de maior
conforto, saúde, segurança e eficiência no trabalho, tanto para o trabalhador como para o usuário da biblioteca.
Há tempos atrás, as condições dos ambientes de trabalho eram muito precárias e improvisadas e não
ofereciam conforto, muito menos segurança, provocando com isso muitas doenças e acidentes. Esses fatos
geraram muitas análises e esmdos ligados à segurança, ao conforto, à eficiência e à produtividade, tendo
como consequência o surgimento de ambientes totalmente transformados, levando em consideração,
inclusive, as novas tecnologias. A partir disso, o trabalho passou a ser visto de forma diferente, não como
um sacrifkio, mas como tome de satistàção e autorrealização.
Com essa evolução do trabalho, em que novos métodos e tecnologias são empregados, é imprescindível
que o bibliotecário esteja atento para mudanças. Alguns conceitos básicos são necessários na vida moderna,
para que os profissionais tenham condições de, por si só, desenvolverem um "olhar ergonômico" tanto
nos seus locais de trabalho como no cotidiano de suas vidas, indo ao encontro dos aspectos subjetivos,
como a qualidade de vida, o bem-estar social, e, além disso, da satisfàção dos consumidores e usuários.

DEFINIÇÕES

A primeira definição de Ergonomia foi formulada pela Ergonomics Research Society em 1950 e dispõe
que a mesma é "[ ... ] o esmdo do relacionamento entre o homem c o seu trabalho e, particularmente, a
aplicação de conhecimentos de anatomia, fisiologia e psicologia na solução dos problemas advindos desse
relacionamento." (Ergonomics ... , 1950).
Contonne Ala in Wisner ( 1987, p. 12), a Ergonomia é definida como"[ ... ] o conjunto dos conhecimen-
tos científicos relativos ao homem c necess<Í.rios para a concepção de ferramentas, máquinas e dispositivos
que possam ser utilizados com o máximo conforto, de segurança e de eficácia."
No tina] do século 20, passados quase cinquenta anos do início dos esmdos sobre a nova ciência, encon-
tra-se a definição de Grandjean, o qual afirma que Ergonomia "[ ... )é a ciência da configuração de trabalho
adaptada ao homem." ( 1998, p. 5). É, portanto, a ciência do conforto, como é popularmente conhecida.
Existem várias dctiniçóes proferidas por autores e pesquisadores renomados. Todas são aceitas, embora
tenham enfoques, às vezes, diferentes.
Deprcende-se, portanto, que a Ergonomia é uma disciplina multidisciplinar, pois diferentes áreas do
conhecimento hl1lmmo relacionam-se com ela. Não é somente a ciência da mesa, cadeira, computador e das
Lesões por Estorços Repetitivos (LER) e Distúrbios Ósteo-músculo-esqueléticos Relacionados ao Trabalho
(DORT), como muitas vezes é interpretada. Vai mais além ao abordar várias intertàces do tipo: o homem
relacionado com a máquina, com o ambiente, o computador com o sistema produtivo e suas consequências na
saúde do trabalhador. Estão incluídos em seu campo de estudos a carga de trabalho, atividade pesada, medidas
do corpo (antropometria), estresse, fadiga, monotmúa no trabalho, trabalho muscular, o dimensionamento
dos locais de trabalho, a atividade mental, jornadas de trabalho, alimentação e condições ambientais como
iluminação, ventilação, ruídos, temperatura e umidade. As pessoas que desenvolvem suas atividades laborais
nos ambientes de bibliotecas convivem com muitas dessas questões estudadas pela Ergonomia.
O estudo da Ergonomia está baseado em conhecimentos de áreas científicas como a Fisiologia, Psi-
cologia, Antropometria, Toxicologia, Biomecânica, Medicina, Enfermagem, Arquitetura, Engenharia,
Desenho Industrial, Informática e Administração. Desenvolve métodos e técnicas e aplica seus conheci-
mentos visando à melhoria do trabalho e das condições de vida.
É interessante observar ainda a colocação de Darses e Montmollin (2006) sobre a existência de duas
correntes principais da Ergonomia: a primeira, considerada a mais antiga e mais americana, entende a
Ergonomia como a descrição das capacidades dos seres humanos de efetuar taretàs motoras e cognitivas;
a segunda corrente, mais recente e europeia, considera a Ergonomia como a análise global das situações
de trabalho com vistas à sua melhoria.
O termo Ergononúa vem do grego ergo, que significa trabalho, e nomos, que significa regras, leis naturais.

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

Com o passar do tempo, os hábitos, costumes e tecnologias modificaram-se, de acordo com as exigências
humanas. A sociedade evoluiu e, consequentemente, moderniwu-se, não sendo mais aceitos deternúnados com-
portamentos até então considerados válidos. O ser humano foi-se adequando à evolução, tomando-se cada vez
mais exigente. Esse é um processo contínuo e essas exigências implicam várias melhorias na sua forma de viver.
A origem da Ergononúa está relacionada ao homem pré-lústórico, que escolheu uma pedra do formato
que melhor se adaptasse à forma e movimentos de sua mão, para usá-la como arma. A preocupação em adaptar
objetos artificiais e o ambiente natural às necessidades humanas sempre esteve presente na vida do ser htunano.
A partir do século XVIII, quando ocorreu a Revolução Industrial, essa si mação tornou-se problemática.
Naquele período, as primeiras fábricas surgiram de forma rudimentar, sem nenhuma valorização profis-
sional e sem oferecer condições fàvoráveis ao trabalho. Eram, geralmente, locais improvisados, escuros,
sujos, perigosos e barulhentos. O trabalhador desempenhava suas atividades em regime de semiescravidão,
no qual era indispensável o emprego de torça física. As jornadas de trabalho eram de até dezesseis horas
diárias, sem nenhum direito social ou previdenciário.
No início do século XX, nos Estados Unidos, surgiu o movin1cnto da Admi.Júsu·ação Científica, ou seja, o
taylorismo. Esse tem1o tem origem no nome do engenheiro americano Frederick Winslow Taylor (1856-1915).
Taylor ficou conhecido ao defender a tese de que o trabalho deveria ser cientificamente observado de
modo que, para cada taretà, tosse estabelecido o método correto de execução com um tempo determinado,
usando ferramentas adequadas. As responsabilidades deveriam ser divididas, c a gerência da fábrica determina-
ria os métodos e o tempo para a execução da cada tarefa, cabendo ao trabalhador concentrar-se exclusivamente
em sua execução. Os operários deveriam ser controlados, medindo-se a produtividade de cada um e pagando
incentivos salariais aos mais produtivos, sem que eles pudessem escolher um método próprio de execução
das tarefas. Nada era livre. Foi um período em que ocorreram muitos acidentes no trabalho atribuídos à
displicência dos empregados. A baixa produtividade era considerada apenas malandragem.
Essas ideias eram correntes em todas as fábricas norte-americanas. Foram criados gmpos de trabalho
para desenvolver métodos de execução e cronometragem das atividades. Daí originou-se, na indústria
norte-americana, a produção massificada de bens.
Os trabalhadores sentiam-se oprimidos e revoltados. Boicotavam a produção, desregulando máquinas,
descumprindo regras estabelecidas e diminuindo a produtividade e a qualidade dos produtos. Passaram

24 • JUSSARAPEREIRASANTOS (Org.) • g
então a reivindicar melhorias nas condições de trabalho através dos movimentos sindicais exigindo trans-
formações favoráveis às pessoas.
Em 1900, na Alemanha, na França e nos países escandinavos iniciaram-se as pesquisas na área de
fisiologia do trabalho. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), na Inglaterra, psicólogos e fi-
siologistas colaboraram no intuito de aumentar a produção de armamento, criando então a Comissão de
Saúde dos Trabalhadores na Indústria de Munições, transformada posteriormente no Instituto de Pesquisa
da Fadiga Industrial, ao final do conflito. Esse Instituto teve papel importante, pois desenvolveu pesquisas
sobre a fadiga na indústria em geral. Em 1929, transformou-se no Instituto de Pesquisa sobre Saúde no
Trabalho. Suas pesquisas tiveram outros enfoques -como postura do trabalho, iluminação e ventilação,
carga manual, etc. -, todos concorrendo para a melhoria das condições de trabalho.
Durante a Segunda Guerra Mundial ( 1939-1945 ), a preocupação esteve voltada para os instrumentos
bélicos, a fim de evitar erros, acidentes e melhorar o desempenho do operador.
Na Inglaterra pós-guerra, surgiram reuniões com cientistas e pesquisadores para discutir e formalizar a
existência dessa nova ciência, a Ergonomia, cuja data oficial de "nascimento" foi registrada em 12 de julho
de 1949. Já, em 1950, foi criada a Ergonomics Factors Society (Inglaterra). A partir daquele momento a
Ergonomia expandiu-se no mundo industrializado.
Desde o entendimento de Ergonomia como ciência percebe-se o quanto ela se aprimorou. Sua utiliza-
. ção abrange desde o mais simples instrumento manual até as complexas máquinas eletrônicas. Atualmente,
a aplicação dos princípios da Ergonomia está presente em todos os países do mundo por intermédio das
instituições de ensino, de pesquisa e nas corriqueiras atividades humanas.
Frequentemente, muitos eventos sobre esse tema são realizados em nível regional, nacional e in-
ternacional. No Brasil, existem estudiosos, pesquisadores e profissionais da área organizados através da
Associação Brasileira de Ergonomistas (Abergo ), que é atuante, influente e inovadora.

OBJETIVOS

A Ergonornia tem como objetivo introduzir melhorias no sistema de trabalho, procurando a otimização
de um sistema pela adaptação das condições de trabalho às capacidades e necessidades do homem. De forma
geral, nada mais é do que adaptar o trabalho ao homem e não, ao contrário, adaptar o homem ao trabalho.
Essa adaptação do trabalho ao homem nem sempre é fácil. Cada situação tem características próprias
e, em alguns casos, faz-se necessário empreender estudos mais complexos que exigem a contratação de
um especialista em Ergonomia, que poderá ser médico, arquiteto, engenheiro, fisioterapeuta, enfermeiro,
etc. Cada caso exige uma providência específica e em várias situações muitos profissionais atuam intera-
tivamente, devido ao caráter multidisciplinar da Ergonomia.
Muitos acidentes podem ocorrer independentemente de local e hora, inclusive em atividades de prestação de
serviços como nas bibliotecas. O manuseio de um grupo muito grande de documentos pesados, a intensa digitação
de dados em bases eletrônicas, a postura incorreta ao abaixar-se para acessar documentos em prateleiras muito
baixas, ou ao esticar-se para acessar prateleiras muito altas ou profundas, podem provocar acidentes e doenças
relativas ao trabalho. Esses acidentes podem, entretanto, ser evitados desde que se leve em consideração a capa-
cidade de cada indivíduo, a concepção do leiaute, o mobiliário e os equipamentos adequados, a organização do
trabalho, além das condições ambientais favoráveis à execução das tarefas biblioteconômicas. A prevenção impede
que aconteça um grande número de problemas sociais relacionados a saúde, segurança, conforto e eficiência.
Wisner (1987), classificou a Ergonomia em:
a) Ergonomia de Concepção: quando a Ergonomia é planejada junto ao projeto das máquinas,
equipamentos, objetos e ambientes;

g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 25


b) Ergonomia de Correção: quando é aplicada em situações já existentes para resolver problemas
que se refletem na segurança, no conforto ou em outras ocorrências, como por exemplo, na
correção de altura de urna máquina, em mudanças de posturas, etc.;
c) Ergonomia de Conscientização: os postos de trabalho estão sempre enfrentando transfor-
mações e adaptações. Devido a esse fato, os profissionais bibliotecários devem estar sempre
conscientes e capacitados quanto à Ergonomia para que possam reconhecer os fatores de risco
que surgem no seu ambiente de trabalho.

NORMATIZAÇÃO

A questão ergonômica no Brasil está regulamentada pela Portaria Ministerial n. 3.751, de 23 de no-
vembro de 1990, sob a forma da Norma Regulamentadora NR 17: ergonmnia (Brasil, 2002).
Essa norma visa estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às carac-
terísticas psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança
e desempenho eficiente. Diz que, para avaliar as condições de trabalho às características psicofisiológicas
dos trabalhadores, o empregador deverá realizar a análise ergonômica do trabalho, momento em que devem
ser abordadas no mínimo as condições de trabalho estabelecidas pela NR 17, quais sejam: levantamento,
transporte e descarga individual de materiais, mobiliário nos postos de trabalho, equipamento nos postos
de trabalho, condições ambientais de trabalho e organização do trabalho.
A análise ergonômica do trabalho deve ser realizada por profissional capacitado e, após, apresentada em forma
de relatório. É um trabalho minucioso que requer dedicação e paciência além do conhecimento técnico específico,
pois diagnosticará os problemas e suas consequências, tanto para o funcionário como para a empresa. Será neces-
sária para realizar projetos e/ou alterações, visando o bem-estar dos indivíduos e a produtividade com qualidade.

POSTOS DE TRABALHO

Para urna análise nos postos de trabalho das bibliotecas e na vida cotidiana, mesmo que seja elementar,
deve-se ter conhecimento mínimo de algw1s assuntos, que serão apresentados a seguir.

Antropometria

A antropometria retere-se às medidas físicas do corpo humano e descreve suas diferenças quat1titativas,
tornando como referência as estruturas anatômicas. Na Ergonomia, esses estudos são fundamentais, pois
ela é, primordialmente, a fonte de referência para se obter conforto, segurança e produtividade nos postos
de trabalho por intermédio de objetos e equipamentos projetados adequadamente.
As medidas antropornétricas são variadas no homem devido a vários fatores como: sexo, idade, época,
clima, emia e origem geográfica.
Os mobiliários, as máquinas, os equipamentos e os ambientes tanto de trabalho como da vida cotidiana
devem atender o maior número de usuários possível. Estará incorreto tomar como medida as médias estaósticas,
pois o homem médio não existe, apenas algumas de suas medidas correspondem, em boa parte, às da população
em geral. É necessário atender a todos. Existem homens e mulheres que estão na média em relação a algumas
variáveis como peso ou estatura. Quando se planeja para a média, prejudica-se urna boa parte da população.
Deve-se projetar sempre para usuários e:>..tremos, o maior ou o menor. Um exemplo é a altura das portas, pois
tanto as pessoas altas como as baixas conseguem passar pelo vão. Uma prateleira ou um escaninho, a colocação
de objetos ou documentos em lugares mais altos ou mais baixos, deve ser projetada para o menor braço, de

26 • JUSSARAPEREIRASANTOS (Org.) • g
forma que as pessoas mais baixas tenham acesso garantido. Cabe aqui salientar a existência de objetos e móveis
com dispositivos de regulagem, de forma a acomodar os diferentes tipos físicos.
Esses detalhes devem ser levados em consideração no momento da aquisição dos equipamentos e
mobiliários de qualquer ambiente.
As dimensões do espaço são outro quesito a levar em consideração. Com o conhecimento da antro-
pometria, pode-se determinar os espaços necessários para o ser humano a partir de suas características
anatômicas e fisiológicas. Para sentir-se bem em qualquer espaço é necessário que o indivíduo tenha um
espaço adicional em seu entorno. Existem várias referências estabelecendo essas medidas. Oborne e Heath
( 1979) sugerem quatro zonas para esses espaços pessoais:
a) íntimo: de O a 45 em, reservado para contatos físicos com as pessoas de maior intimidade;
b) pessoal: de 45 a 120 em para contatos amigáveis com pessoas conhecidas;
c) social: de 120 a 360 em para relacionamento profissional com colegas de trabalho e durante
eventos sociais;
d) público: acima de 360 em, distância mantida dos desconhecidos.

Muitas referências são indicadas em metros quadrados (m 2 ) para serem utilizadas em projetos de
leiaute, mas não como regras e, sim, como sugestões para soluções confortáveis.
A necessidade de espaço que os membros inferiores ejou superiores precisam para se movimentarem
e realizarem a tarefa chama-se Espaço de Movimentação.
A determinação das alturas de alcance é necessária para acessar prateleiras, estantes e superfícies de
apoio do mesmo modo que se deve levar em consideração a profundidade das mesmas.
Os alcances sobre as mesas são especialmente importantes para os bibliotecários, pois a maioria dos ser-
viços é realizada sobre elas. É necessário considerar duas áreas de alcance: a ótima e a área de alcance máximo.
A área de alcance ótima é aquela formada pelo giro do antebraço em torno do cotovelo com o braço
caído normalmente. Este descreve um arco de raio de 35 a 45 em. O centro, situado em frente ao corpo e
fazendo a inserção com os dois arcos, será a área ótima para se usar as duas mãos e realizar serviços de precisão.
A área de alcance máximo é obtida fazendo-se girar os braços estendidos em torno do ombro. Descreve
um arco de 55 a 65 em de raio, a ser usada para atividades eventuais (lida, 1990, p. 137).

Biomecânica

Biomecânica é o estudo das leis físicas da mecânica aplicadas ao corpo humano. Permite estimar as
tensões que ocorrem nos músculos e articulações durante os movimentos ou posturas.
As atividades de trabalho podem ser classificadas em estáticas ou dinâmicas:

( ... ] o trabalho dinâmico caracteriza-se por um sequência rítmica de contração e extensão- portanto
de tensionamento e afrouxamento - da musculatura em trabalho. O trabalho estático, em oposição,
caracteriza-se por um estado de contração prolongado da musculatura, o que geralmente implica um
trabalho de manutenção de postura. (Grandjean, 1998, p. 18)

Ao manter os músculos em movimento e postura adequada, são evitados vários acidentes de trabalho,
como também impedido o surgimento de doenças. Para os trabalhadores em bibliotecas recomenda-se a
utilização dos princípios biomecânicos, estudados por J. Dul e B. Weerdmeester (1995):
a) as articulações devem ocupar uma posição neutra (a posição neutra é a mais confortável);
b) conservar pesos próximos ao corpo;

2 • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 27


c) evitar curvar-se para frente;
d) evitar inclinar a cabeça;
e) evitar torções do tronco;
f) evitar movimentos bruscos que produzem picos de tensão;
g) alternar posturas e movimentos;
h) restringir a duração do esforço muscular contínuo;
i) prevenir a exaustão muscular;
j) executar pausas curtas e frequentes.

Posturas no trabalho

A postura no trabalho é determinada de acordo com a tarefa desenvolvida ejou de acordo com o posto de
trabalho. Por exemplo, a atividade de escrita é recomendável que seja feita na postura sentada. Já aquelas ativida-
des que exigem esforço para baixo ou com objetos pesados com mais de 3 kg a postura em pé é a mais adequada.
As posturas podem ser: sentada, em pé, alternada (em pé/sentado), semissentada (nádegas apoiadas),
de cócoras. Todas elas possuem vantagens e desvantagens. É difícil apontar qual seria a postura ideal, mas
pode-se indicar a postura recomendável para uma determinada tarefa.
A posição sentada, por exemplo, é mais confortável que a de pé, porém, deve-se evitar longos períodos
sentado, pois partes do corpo ficam submetidos a tensões que podem provocar dores. Ficar em pé por
muito tempo provoca fadiga nas costas e nas pernas e deve ser intercalada com posições sentada ou em
movimento. Sempre que possível, deve-se alternar a postura.
Um fator que influi para uma postura adequada é a existência de um mobiliário (mesas, bancadas e
cadeiras) que deve ser planejado de acordo com a atividade a que se destina.

Mobiliário

Os mobiliários estão presentes em todos os lugares, sejam eles abertos ou fechados. Pode-se classificá-los
em dois tipos: de uso funcional e não-funcional. São funcionais quando utilizados na função para a qual foram
projetados. Por exemplo, uma cadeira foi feita para sentar, a cama para deitar; o não-funcional é aquele que
não está cumprindo sua atividade específica: usar o sofá como cama, a cadeira como escada, a mesa como
cadeira, etc. Dillon (apud lida, 1990, p. 380) 1 aponta outros exemplos de uso inadequado de mobiliário.
Na vida moderna, o homem passou a ficar mais tempo sentado, principalmente com a evolução dos
assentos e das máquinas. Pesquisas afirrriam que pessoas passam até vinte horas do dia nas posições sentada
ou deitada, estando assim, em contato direto com algum tipo de mobiliário.
Os móveis deveriam passar por testes, mas ainda não há normas regulamentadoras, embora alguns
tenham selos ergonômicos. A Furniture Industry Research Association (FIRA), da Inglaterra, tem
procurado definir normas e procedimentos para garantir a segurança e a durabilidade no uso de móveis.
Para realizar avaliação simplificada de móveis como cadeiras e mesas, existem checklists organizados
em algur~s documentos, como as do livro Ergonomia aplicada ao trabalho, de autoria de Hudson de Araújo
Couto, publicado em 1995.
1 Ver Dillon, J. The Role ofErgonomics in the Development o f Performance Tests for Furniture. Applied Ellfonomics, Guil-

dford, v. 12, n. 3, p. 169-175, 1981.

28 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • i!


A NR 17: ergonomia (Brasil, 2002) também apresenta algumas recomendações para os mobiliários,
porém não estabelece medidas.
As cadeiras para trabalho devem apresentar algumas características específicas para proporcionar
melhor conforto e saúde aos seus usuários; devem ser previstas compondo o posto de trabalho com a
bancada, a mesa, o computador, etc. Os pés do usuário sempre devem estar apoiados no chão ou em su-
portes adequados. Salienta-se que nenhuma cadeira é adequada para utilização em períodos muitos longos,
por mais confortável que seja. É recomendado que para cada duas horas sentada, a pessoa levante-se no
mínimo quinze minutos.
As cadeiras devem ser:
a) estofadas;
b) revestidas com tecido;
c) reguláveis;
d) com borda anterior arredondada;
e) com assento na posição horizontal e inclinação aconselhável de lO a l5o para a frente;
f) com apoio para o dorso, regulável ou com inclinação de 100°, e forma que acompanhe as
curvaturas da coluna;
g) com espaço para acomodar as nádegas (abertas atrás);
h) com 5 pés;
i) giratória, principalmente se o posto exigir mobilidade;
j) sem braços.

Quando houver necessidade de braços, estes deverão ser reguláveis e estofados, com largura mínima
de 4 em. Braços são recomendados somente para salas de reuniões e para as cadeiras de chefias.
Para digitação os braços podem ficar apoiados sobre o tampo da mesa se esta tiver forma ideal (curvas).
O teclado e o cursor devem ficar na mesma superficie do monitor. Caso a cadeira tenha braços, deve-se cuidar
muito a altura, que deve formar um ângulo aproximado ou igual a 90° para estar na posição de conforto.
Alguns requisitos básicos devem ser previstos no desenho das mesas. Primeiramente, devem proporcio-
nar espaço para as pernas das pessoas e das cadeiras de rodas. É importante citar esta recomendação, pois é
comum os fabricantes colocarem gavetas nos lugares das pernas. Atualmente, os modelos mais usados são
0$ que permitem postOS de trabalho em CCL'') cccn) além de modulares, para compor diversos tipos de leiaute.

As mesas devem seguir as seguintes recomendações:


a) espaço para pernas do interlocutor e do trabalhador;
b) borda anrerossuperior arredondada (lado do trabalhador);
c) nível único (admite-se dois níveis quando for para computador e teclado);
d) altura do topo entre 65 e 85 em, sendo de 75 em a altura mais utilizada;
e) espessura da superfície de trabalho 5 em;
f) largura mínima de 80 em e profundidade em torno de 90 em;
g) gavetas leves, com o último nível elevado, mais ou menos a 40 em do chão, de um só lado;

I! • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 29


h) executadas de material não reflexivo (o ideal é fórmica fosca ou madeira);
.(

i) cores claras, como o bege, cinza claro, casca de ovo, verde claro, etc. (evitar o branco devido
ao ofuscamento que pode provocar);
j) vidro sobre a mesa não é recomendável (reflexos).

As estantes de bibliotecas devem ser de material não oxidável com prateleiras reguláveis e uma base fixa.
Devem ser fechadas em sua parte superior para evitar a incidência de luz diretamente sobre as obras colocadas na
prateleira mais alta. Suas laterais devem, também, ser fechadas para propiciar uma maior proteção aos documentos.
Atenção deve ser dada à adaptação do mobiliário e do leiaute da biblioteca às questões de acessibilidade,
observando-se a norma NBR 9050/04: acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência a edificações> espaço>
mobiliário e equipamentos urbanos, da ABNT (Associação ... , 2004), especialmente no tocante aos espaços
entre as estantes, mobiliário de equipamentos eletrônicos e balcão de circulação. Os acessos devem ser faci-
litadores do ingresso de pessoas com necessidades especiais assim como as instalações sanitárias destinadas
ao público e à equipe da biblioteca. Essa norma apresenta uma seção inteiramente dedicada às bibliotecas.

EQUIPAMENTOS

Todos os equipamentos dos postos de trabalho devem estar adequados às características psicofisioló-
gicas dos trabalhadores e ao tipo de tarefa a ser executada.
Os computadores foram incorporados aos postos de trabalho e invadiram praticamente todos os se-
tores de atividades laborais, provocando mudanças. Com isso, surgiram problemas que estão ligados aos
postos de trabalho, ao ambiente e ao modo como o trabalhador percebe a sua atividade.
As pessoas que exercem atividades no computador, na maioria das vezes, sofrem dores musculares no
pescoço, ombros, tendões, braços, mãos, além de fadiga visual, estresse, etc.
Para amenizar as consequências da atividade na função de digitação, é importante dimensionar nos
postos de trabalho a visão do monitor de vídeo, a postura do profissional, a iluminação, a temperatura e
a umidade, e os ruídos do ambiente de trabalho.
Como referência pode-se adotar o estudo apresentado por lida sobre as dimensões ajustáveis do posto
de trabalho com computadores:

QUADRO 1 - Dimensões recomendadas para o projeto de um posto de trabalho


com terminais de computadores
Dimensões {em)
Variável
Mínima Máxima Média

Altura do teclado 64 84 72
--·---
Ângulo do teclado 14° 25° 170
- --
Altura da média (ponto médio) 78 106 92
-· -·--
Distância da tela, a partir da borda da mesa 44 96 65

Ângulo da tela, em relação à vertical oo 21° 10°


-· ·-
Espaço para as pernas 45 80 65
- -------
Altura do assento 32 55 44
---··· ··--·-------
Ângulo do encosto, em relação à horizontal 91° 120° 110°
Fonte: lida, 1990, p. 162 (adaptado).

30 • JUSSARAPEREIRASANTOS (Org.) • 1!
É recomendado, ainda, o apoio para os pés com base de dois terços do comprimento dos pés, largura
de 40 em e inclinação de 20o quando se usa o computador.
A atividade de escrita deve ser executada em superfície plana.
O suporte para documentos deve estar ao nível do topo da mesa, em torno de 72 em, na posição à
frente do operador. Os documentos devem possuir boa visibilidade e serem de fácil leitura, evitando-se o
uso de papel brilhante. Respeitar as áreas de alcance máximo para a disposição dos documentos e objetos
sobre a mesa é outro requisito a ser atendido.
As salas de multimídia e telecentros disponíveis para os usuários devem, igualmente, contar com equi-
pamentos e mobiliários adequados para seu conforto e segurança. Nunca é demais lembrar que as buscas em
bases de dados podem exigir várias horas defronte aos equipamentos, e que a leitura de textos completos e/ou a
digitação de documentos consumem um tempo rawavelmente grande. Cabe ao bibliotecário, além de fornecer
a estrutura física adequada, instruir os usuários quanto aos princípios biomecânicos que devem ser seguidos
para prevenção de cansaço e desconforto. Cartazes estrategicamente colocados e folhetos com explicações
simples e claras, incluindo desenhos de pequenos exercícios de distensionamento, devem ser providenciados
pelo gestor da biblioteca. Um breve tutorial pode ser oferecido aos usuários com conteúdo semelhante.

CONDIÇÕES AMBIENTAIS

As condições ambientais como temperatura, umidade, acústica, iluminação e outras, devem estar adequa-
das às características psicofisiológicas dos trabalhadores e à natureza do trabalho a ser executado. As situações
ambientais incorretas provocam tensões no trabalho, ocasionando desconforto e riscos de acidentes, afetando
a saúde, a segurança, o conforto do trabalhador e, inclusive, as condições de preservação do entorno físico.
O clima é um fator muito discutido nos ambientes de trabalho e na vida cotidiana, pois quando ina-
dequado provoca muito desconforto.
O excesso de calor, de vento ou de frio prejudica o desempenho das tarefas. A solução para esses problemas
geralmente está atrelada aos aparelhos de ar-condicionado, que por sua vez provocam ruídos e, consequentemente,
desconforto ao ficarem ligados por longos períodos de tempo. Sistemas como os centralizados, além de exigirem
um projeto bem-adequado devido à sua distribuição, exigem manutenção e regulagem dos dutos. A ausência de
manutenção proporciona o crescimento de bactérias que provocam distúrbios das vias respiratórias superiores
(infecções respiratórias) nos usuários do ambiente, principalmente no trabalhador, que fica mais horas e:>.:posto
a esse quadro. Esse conjw1to de problemas afeta também ao acervo, que sofre a ação desses agentes poluidores.
O fechamento dos vidros das janelas permite o aumento de agentes poluentes internos nas edificações,
ainda mais se há presença de carpetes, cortinas, papéis de parede, revestimentos acústicos e fumaça de cigarro.
Em meados de 1998, esses problemas foram tema de alta exposição na mídia brasileira, tendo como
título a Síndrome dos edifícios doentes, 2 isto é, sintomas comuns na população em geral que estão relacionados
a uma edificação em particular. Tal síndrome é caracterizada quando 20% dos que residem, ou trabalham
em determinada editlcação, apresentam sintomas que são comuns e não específicos para a população em
geral, porém retornam ao seu estado normal (ou diminuem a sintomatologia) ao saírem do edifício que
tem problemas com a qualidade interna do ar. Os sintomas mais comuns são: dor de cabeça, mal-estar,
falta de ar, náuseas, vertigem, irritação nos olhos, no nariz e na garganta, alergias, desconforto, queda no
nível de produtividade, entre outras. Esse assunto está regulamentado através da Portaria n° 3.523 (Brasil,
1998), baseada na NBR 13971/97: sistemas de refrigeração, condicionamento de ar e ventilação (Associação ... ,
1997) da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
A questão da temperatura dos ambientes está diretamente relacionada ao projeto arquitetônico de
uma biblioteca. A orientação solar é fundamental na implantação de um projeto para que o microclima
ideal ao atendimento de suas funções seja mantido.

2 Expressão utilizada pela imprensa escrita, em notícias televisivas e em revistas nacionais e estrangeiras.

i! • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 31


Deve-se ressaltar que as fachadas voltadas para o sul (no hemisfério sul) nunca terão sol, porém boa
iluminação, o que favorece a leitura e a preservação dos documentos. As fachadas do oeste terão sol à
tarde; as tàchadas norte receberão sol pela manhã e início da tarde (sendo aquelas com maior incidência
de sol) e as do leste terão sol somente pela manhã. Sendo o sol (e o calor dele emanado) grande fator de
deterioração dos documentos (tanto em suporte papel quanto em meio magnético) a incidência de seus
raios deve ser evitada a todo o custo. As estantes e outros mobiliários que armazenam documentos devem
ser afastados da área de incidência solar. Deve-se lembrar que o sol tem movimentos diferentes nas quatro
estações do ano e, portanto, incidências variáveis.
O tamanho das janelas é um fator que influencia na iluminação e ventilação e, portanto, na temperatura do
ambiente. Uma breve análise arquitetônica mostra que no passado havia menos janelas nas edificações, porém
eram mais altas, pois o pé-direito (altura do piso até o teto) era superior a 2,80 m. Atualmente, os pés-direitos
são mais baixos e necessitam de maior número de vãos (janelas). A tecnologia do concreto armado permite a
construção de grandes vãos nas edificações, que são fechados com vidros. Alguns podem ser abertos (janelas)
compondo as fachadas envidraçadas, comumente chamadas de "painéis de vidro", proporcionando uma inte-
ração maior com o meio externo e, nos dias claros, contribuindo com a iluminação natural, característica da
arquitetura moderna. Isso representa problemas para a dimatização ambiental e leva a grandes desperdícios
de energia, pois a perda de calor através dos vãos de janelas representa 80 %, em média, de sua perda total.
Estudos ergonôrnicos recomendam para os ambientes em que se desenvolvem atividades intelectuais,
como é o caso das bibliotecas, temperaturas entre 20 °C a 23 °C. Já para ambientes que abrigam acervos
(inclusive os especiais) a temperatu~a de~e manter-se entre 18 °C e 23 °C.
Cabe ressaltar a afirmação de Trinkley (1997, p. 52) sobre a distinção que deve ser feita entre o con-
forto humano e a preservação dos acervos:"[ ... ] a wna de conforto humano é, frequentemente, muito
distinta. Assim, quando arquitetos e engenheiros mecânicos discutem 1úveis de conforto e projeto, quase
sempre eles expressam considerações que não incluem as necessidades das coleções."
A umidade relativa do ar deve estar entre 50% e 65% e nunca inferior a 40%. Para climas muito secos
é necessário acrescentar umidificação artificial, através de recipientes com água ou uso de umidificadores
ambientais, e para aqueles muito úmidos devem ser usados os desumidificadores.
Alerta-se que esses índices devem estar adequados com a atividade desenvolvida no ambiente, com
equipamentos e materiais armazenados, pois certas especificidades requerem cuidados especiais como as
seções de obras raras e as salas com equipamentos eletrônicos.
A biblioteca deve contar, também, com um sistema de ventilação capaz de mover e substituir o ar
antes que este se torne viciado. O uso do ventilador só é recomendável em temperaturas abaixo de 28°C
e não deve provocar vento forte, somente brisa; além disso, deve ter baixo nível de ruído. O índice de
renovação do ar deve ser de 0,75 m/s para neutralizar odores e poluição de qualquer espécie, tornando o
ambiente agradável (Brasil, 2002).
A paisagem do entorno também é fator importante para a edificação. Ela auxilia na captação das águas
pluviais, diminuição da amplitude térmica, absorção de ruídos, redução da poeira, redução e condução dos
ventos, umectação do ar, proteção contra os raios solares e, como se não bastasse, contribui para o abrigo
e sobrevivência dos pássaros, proporcionando um entorno agradável e maior contato com a natureza.
Em qualquer tipo de atividade laboral, sabe-se que a iluminação adequada é importante para um re-
sultado satisfatório, embora algumas atividades exijam mais incidência que outras. Em todos os locais de
trabalho deve haver iluminação adequada, natural ou artificial, geral ou suplementar apropriada à natureza
da atividade. A iluminação geral deve ser uniformemente distribuída e difusa.
Abaixo, algumas recomendações práticas para um bom aproveitamento da luz:
a) situar as mesas perpendicularmente às janelas;

32 • JUSSARAPEREIRASANTOS (Org.) • i!
b) posicionar as pessoas destras para receberem luz pela esquerda e canhotos pela direita;
c) impedir que o sol incida diretamente no campo visual, utilizando cortinas e persianas;
d) posicionar os terminais de vídeo perpendicularmente às janelas, nunca de frente nem de costas;
e) evitar reflexos usando cores foscas nas mesas e outros mobiliários;
f) distribuir as estantes perpendicularmente às aberturas;
g) sempre que possível, utilizar a iluminação natural.

Nos estudos ergonômicos, o conforto acústico é muito importante para as atividades intelectuais. A
norma técnica NBR 10152/87: níveis de ruído para controle acústico (Associação ... , 1987) trata dos níveis
de conforto e dos níveis máximos de ruído para o trabalho.
Um leiaute organizado ajuda a isolar fontes de conversas quando se necessita de um local silencioso,
principalmente para as atividades intelectuais como salas de estudo, bibliotecas, etc. Para isso é importante
a existência de salas para reuniões, áreas de espera e local específico para atendimento ao público, espaços
estes separados adequadamente.
A conversa prejudica muito mais do que o ruído intenso nas atividades intelectuais, pois provoca a
tensão psicológica e diminui o nível de atenção, além de prejudicar tarefas que exigem concentração mental
e de precisão (Grandjean, 1998).
A música ambiental pode, em determinadas circunstâncias, ser utilizada com sucesso. Ela tem sido
usada como solução de conforto e de humanização, porém pode causar dispersão do foco do trabalhador
em vista do relaxamento que venha a provocar. Assim, os setores de processamento técnico, bem como
outros setores de trabalhos burocráticos, podem contar com tal recurso. Já nas salas destinadas a pesquisas
e estudos, quando uma maior concentração é necessária, a música deve ser evitada. As músicas devem
passar por seleção criteriosa e nunca devem ser cantadas.
Existem muitas soluções para evitar os ruídos indesejáveis. Essas soluções estão nas mãos dos plane-
jadores, arquitetos e engenheiros, na concepção dos projetos, ou na reforma/manutenção dos mesmos.
Atualmente existem diversos tipos de màteriais adequados para solucionar esses problemas.
As cores no ambiente de trabalho influenciam no desempenho das atividades. Embora este trabalho
não tenha a pretensão de aprofundar-se nesse assunto, algumas orientações são apresentadas:
a) amarelo: quando um objeto ou mensagem precisa ser percebido; para indicar "cuidado"; tem
alta capacidade de chamar atenção;
b) gelo c cinza-claro: utilizados em ambientes maiores; propiciam retlectância uniforme;
c) verde-claro e bege-claro: para topos de mesas e superfícies de trabalho;
d) cores primárias, amarelo, vermelho e azul em tons fortes: devem ser evitados principalmente
em paredes, pois podem ocasionar sensação persistente de pós-imagem, ou seja, mesmo após
ter saído do ambiente percebe-se a cor;
e) verde: utilizado em caixas de equipamentos de socorro de urgência, macas, etc. por ser a cor
que caracteriza "segurança";
'
f) azul e verde: são consideradas cores relaxantes;
g) amarelo, laranja e marrom: são consideradas estimulantes, podendo ser usadas em ambientes
onde se desenvolvem trabalhos repetitivos, como também em áreas muito amplas. Devem ser
usadas somente em um elemento, por exemplo: uma coluna, um painel, portas, etc.;

g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 33


h) vermelho e violeta: são consideradas agressivas, alarmantes ou perturbadoras;
i) verde e azul: indicadas para paredes quando se quer dar ideia de grande dimensão;
j) branco: para indicar os bebedouros;
k) cinza-escuro: identifica eletrodutos;
I) tons vermelhos: indicados para paredes quando se quer dar ideia de espaço menor;
m) cores diferentes: para dividir ambientes de trabalho.

Pode-se obter maiores informações através da Norma Brasileira NBR 7195/95: cores para segurança
(Associação ... , 1995) que fixa as cores dos locais de trabalho para prevenção de acidentes e a NR 26:
sinalização de segurança, Portaria n° 3.214 de 8 de junho de 1978, editada pelo Ministério do Trabalho
(Brasil, 2002).

ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

No mw1do moderno, nele incluídas as bibliotecas, muitas tarefas são realizadas através de máquinas,
computadores, equipamentos eletrônicos e até robôs. Essa evolução trouxe avanços, porém com eles sur-
giram algw1s problemas, que podem ser amenizados com conhecimentos relativos ao modo de produção.
Deve-se levar em consideração os seguintes aspectos:
a) as normas de produção: são as normas que o trabalhador deve seguir para realizar a tarefa;
incluem desde o horário de trabalho até a qualidade desejada do serviço;
b) o modo operatório: é o modo como as atividades devem ser executadas para se atingir o re-
sultado final esperado; podem ser prescritas (ditadas pela instituição/empresa) ou reais (modo
particular adotado pelo trabalhador);
c) a exigência de tempo: o quanto deve ser produzido em wn determinado tempo, sob imposição
da "pressão do tempo";
d) a determinação do conteúdo de tempo: é o que o trabalhador faz em determinado tempo;
e) o ritmo de trabalho: é a maneira como as cadências são ajustadas; a cadência tem aspecto
quantitativo, refere-se à velocidade dos movimentos;

f) o conteúdo das tarefas: determina o modo como o trabalhador percebe sua atividade, mo-
nótona ou estimulante.

Muitas outras questões int1uenciam na organização do trabalho e estão relacionadas com os "tàtores
hwnanos", ou seja, os que influenciam no desempenho das atividades como: a monotonia, a tàdiga, a
motivação, o estresse, a idade, o sexo, as deficiências físicas, o ritmo circadiano, a alimentação, etc.
Empresas modernas estão procurando minimizar o grau de insatisfação dos trabalhadores e clientes/
usuários. Os aspectos que geram maiores insatisfações estão ligados ao ambiente físico, à remuneração, à
jornada de trabalho, à rigidez organizacional e às questões psicossociais.
Apresenta-se a seguir, algumas soluções práticas e de fácil aplicação para melhorar a segurança, a
saúde e as condições de trabalho segundo os Pontos de perificação ewonómica, do Ministério do Trabalho
e Emprego (Brasil, 200 l):

34 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • g


a) permitir à equipe da biblioteca o controle sobre como fazer suas atividades;
b) consultar as pessoas sobre a organização do tempo de trabalho, o que melhorará os resultados
e aumentará o grau de satisfação de todos;
c) resolver os problemas de trabalho a partir da experiência diária das pessoas envolvidas, as quais
conhecem a origem dos problemas e, muitas vezes, têm dicas úteis sobre como resolvê-los;
d) discutir em grupo o melhor meio de encontrar soluções práticas para os problemas no trabalho;
e) resolver problemas de trabalho muitas vezes significa promover novas mudanças nos métodos
de trabalho e na distribuição de funções;
f) envolver a equipe no planejamento das mudanças, que assim serão aceitas com maior facilidade;
g) avaliar os procedimentos verificando se não existem outras formas melhores de atingir os
objetivos da empresa/instituição sem muito custo;
h) informar às pessoas quando seu trabalho necessitar de melhorias, para que saibam o que se
espera delas;
i) fàzer os colaboradores sentirem que seu trabalho serve para algo;
j) promover o desenvolvimento de capacidades e habilidades na equipe;
k) formar pessoas para assumirem trabalhos com responsabilidade;
1) propiciar ocasiões para fácil comunicação e o apoio mútuo no local de trabalho;
m) dar oportunidades para que os trabalhadores aprendam novas técnicas;
n) formar grupos de trabalho, de modo que em cada um deles o trabalho seja coletivo e os re-
sultados sejam de responsabilidade de todos;
o) melhorar os trabalhos difíceis e monótonos a fim de incrementar a produtividade a longo
prazo;
p) combinar as tarefas para fazer com que o trabalho seja mais interessante e variado;
g) fazer com que o trabalhador possa seguir seu próprio ritmo, sem pressão de tempo, tornando
o trabalho mais flexível;
r) combinar o trabalho diante de um terminal de vídeo com outras tarefas, de modo que o tra-
balho contínuo diante de uma tela seja evitado;
s) proporcionar pausas curtas e frequentes durante os trabalhos contínuos com terminal-vídeo;
t) combinar as pausas com exercícios de relaxamento;
u) adaptar as instalações e equipamentos para os trabalhadores incapacitados, a fim de que possam
trabalhar com toda segurança e eficiência;
v) melhorar seu local de trabalho a partir de bons exemplos em sua própria instituição/empresa
ou em outros estabelecimentos.

Enfim, quando as pessoas sabem que realizaram bem seu trabalho, desenvolvem um sentimento de
autoestima e autoconfiança, e isso lhes permite converterem-se também em melhores colaboradores.

i! • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 35


CONCLUSÃO

Para se implementar projetos ergonômicos ou até pequenas mudanças nos ambientes, é preciso pensar
nos custos, já que as decisões geralmente estão baseadas na relação custo/benefício. Na Ergonomia, essa
análise não é simples, pois muitas vezes os resultados demoram a aparecer, são difíceis de medir, embora
alguns benefícios possam ser quantificados de imediato.
É importante que os administradores tenham conhecimento sobre o assunto para poderem opinar
nos projetos, nas alterações de espaço físico, nas compras de máquinas, equipamentos e mobiliários, etc.
A aplicação adequada dos estudos ergonômicos nas atividades de serviços proporcionará maior
produtividade no trabalho e redução de erros. Ainda promoverá a saúde, segurança, conforto, bem-estar
psicológico e social, melhorando as condições de vida das pessoas.
O progresso tecnológico é um processo contínuo, em que as transformações acontecem com o passar
do tempo. A Ergonomia deverá também evoluir, provocando mais mudanças.
É necessária a promoção de capacitações, através de participação em eventos como seminários, con-
gressos, mostras técnicas, etc., mantendo os técnicos e trabalhadores atualizados e motivados, para que
tenham capacidade de assimilar as transformações do mundo cada vez mais moderno, na busca de soluções
para os desajustes que surgirão em decorrência dessa evolução.

REFERÊNCIAS

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1959.
___ . NBR 5413/92: luminância de interiores. Rio de Janeiro, 1992.
___ . NBR 7195/95: cores para segurança. Rio de Janeiro, 1995.
___ . NBR 9050/04: acessibilidade de pessoas portadoras de deficiência a edificações, espaço, mobiliário e
equipamentos urbanos. 2. ed. Rio de Janeiro, 2004.
___ . NBR 10152/87: níveis de ruído para controle acústico. Rio de Janeiro, 1987.
___ . NBR 13971/97: sistemas de refrigeração;condicionamento de ar e ventilação. Rio de Janeiro, 1997.
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do Brasil, Brasília, DF, n. 166, seção I, p. 40-42, 31 ago. 1998.
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GURANÇA e Medicina do Trabalho. 50 ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 225-228.
_ _ .Ministério do Trabalho. NR 26: sinalização de segurança (126-000-6). Portaria Ministerial n. 3.214,
de 8 jun. 1978. In: SEGURANÇA e Medicina do Trabalho. 50 ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 341-345.
___ .Ministério do Trabalho e Emprego. Pontos de verificação e1JJonÔmica: soluções práticas e de fácil aplicação
para melhorar a segurança, a saúde e as condições de trabalho. São Paulo: MTE/Fundacentro, 2001.
COUTO, Hudson de Araújo. Er;gonomia aplicada ao trabalho: o manual técnico da máquina humana. Belo
Horizonte: Ergo, 1995.
DARSES, Françoise; MONTMOLLIN, Maurice de. L 'Er;gonomie. 4ieme éd. Paris: La Découverte, 2006.
DUL, Jan; WEERDMEESTER, Bernard E1JJonomia prática. São Paulo: Blücher, 1995.
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GRANDJEAN, Etienne. Manual de ergonomia. Porto Alegre: Bookman, 1998.
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36 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • S!


TRINKLEY, Michael. Considerações sobre preservação na construção e reforma de bibliotecas: planejamento para
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WISNER, Alain. Por dentro do trabalho- ergonomia: método & técnica. São Paulo: FTD/Oboré, 1987.

BIBLIOGRAFIA SUPLEMENTAR

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Conditions. Geneve: International Labour Office, 1996.
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Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da UFRGS.
SANTOS, Neri dos; FIALHO, Francisco. Manual de análise ergondmica no trabalho. Curitiba: Gênesis, 1997.
VIDAL, Mário Cesar. Ergonomia na empresa: útil, prática e aplicada. Rio de Janeiro: Virtual Científica, 2001.

1! • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 37


Leiaute de bibliotecas

Maria do Rocio Fontoura Teixeira


Jussara Pereira Santos

INTRODUÇÃO

A missão de urna biblioteca é suprir as necessidades e demandas informacionais de seus usuários.


Isso acontece através da disponibilização de informações de seu acervo ou pelo acesso remoto por meio
das diferentes tecnologias de informação e comunicação. Assim, à função tradicional de armazenagem
de diferentes suportes de informação (livros, revistas, mapas, CD-ROM, etc.) somou-se a oportunidade
de acesso a essa informação no tempo e no espaço de conveniência do usuário. Essa nova função exige
um planejamento diferenciado de seus espaços, procurando dispor acervo, tecnologias da informação e
comunicação e usuários de modo funcional e seguro.
Numa relação acervo/acesso qualificada é imprescindível haver urna adequação entre as necessidades
de informação dos usuários, os serviços prestados para atendimento das mesmas e os recursos disponíveis
para tal. Entretanto, essa adequação está atrelada à função específica de cada tipo de biblioteca, seja escolar,
universitária, especializada, pública ou especial. Portanto, o desenho físico do prédio de biblioteca d~ve ser
orientado por sua função, isto é, pelas características do trabalho desenvolvido e das pessoas que a usarão.
Isso implica dizer que o interior deve ser planejado antes do exterior e que a funcionalidade deve pre-
valecer sobre o efeito arquitetônico. Outros aspectos fundamentais que devem ser previstos são a provável
expectativa de expansão e o desenvolvimento da biblioteca no futuro.
Convém lembrar que, até a metade do século passado, os espaços das bibliotecas eram organizados
segundo funções fixas, corno se devessem permanecer idênticas ao longo dos anos. A partir daquela época,
a utilização do sistema modular de organização dos espaços trouxe uma maior facilidade para a realização
de mudanças e adaptações exigidas pelo crescimento dos acervos, número de usuários, variedade dos
serviços prestados e tecnologias desenvolvidas (Ellsworth, 1971). Deve-se, portanto, ao planejar urna
nova distribuição de espaços e de seus componentes, levar em consideração que o conhecimento é um
elemento essencial da culmra contemporânea, e a biblioteca, sua tradução simbólica, sendo necessária que
a composição de seus espaços reflita esse simbolismo sem fugir à realidade em que está imersa.
As tecnologias de informação e comunicação em sua natureza não-hierárquica, no que se retere à
disponibilização das informações, estão alterando o papel dos usuários das bibliotecas, bem corno das
próprias: os usuários de simples consumidores de informação passam a publicadores, e as bibliotecas
tornam-se editores e publicadores desse material (Lukez, 1997). Dessa forma, é preciso estar atento a esse
cenário que se projeta e preparar-se para fazer frente a tais papéis. Daí, a importância do gerenciamento
adequado do espaço físico das bibliotecas e de sua concepção corno unidades organizacionais relevantes
para o desenvolvimento da sociedade.

DEFINIÇÃO

O leiaute, do inglês layout, corresponde ao arranjo dos diversos postos de trabalho nos espaços exis-
tentes na organização, envolvendo, além da preocupação de melhor adaptar as pessoas ao ambiente de
trabalho, segundo a natureza da atividade desempenhada, a arrumação dos móveis, máquinas, equipa-
mentos e matérias-primas (Cury, 1998).
Leiaute, planta-baixa, croqui ou esboço é um desenho, em duas ou três dimensões, no qual são dis-
postas as peças que compõem um conjunto, ou seja, o mobiliário e as peças decorativas de uma sala, os
equipamentos, máquinas, arquivos e fichários nela existentes.
Entretanto, a idei a que nos interessa neste trabalho é aquela relativa à distribuição física de elemen-
tos num espaço.

PRINCÍPIOS DO LEIAUTE

São quatro os princípios básicos de um leiaute: economia do movimento, fluxo progressivo, integra-
ção e flexibilidade.
O princípio da economia do movimento preconiza o encurtamento das distâncias entre as pessoas, das
tarefas realizadas e dos beneficiados por essas tarefas. Em um ambiente de biblioteca, levando-se em con-
sideração suas funções básicas (aquisição, armazenamento, tratamento e disseminação da informação),
deve-se criar um espaço onde as pessoas não percam tempo e energia movimentando-se desnecessariamente
para cumprir com suas tarefas. O trânsito desnecessário, além de ser cansativo, produz interrupções e
distrações para toda a equipe que esteja próxima daquele que se movimenta. A eficiência diminui, levando
ao aumento dos custos. Com relação aos usuários, esse princípio também deve ser usado. As caminhadas
e o vai e vem de pessoas será sempre prejudicial a todo o ambiente, produzindo ruído e desconforto.
Ao primeiro princípio associa-se, naturalmente, o princípio do fluxo progressivo. Esse fluxo deve ser visto
sob dois enfoques: o fluxo de pessoas e materiais no ambiente e o fluxo da realização das tarefas em sua ordem
lógica. Sobre o fluxo, de um modo geral, pode-se optar pelo unidirecional na entrada da biblioteca, facilitando
o controle. Haverá um afunilamento do espaço com relação ao exterior, o que permitirá uma ação controladora
mais eficiente. Por outro lado, o fluxo em várias direções conduzirá as pessoas ao local das diversas funções do
prédio, selecionando naturalmente o tipo de pessoa que irá utilizá-la, evitando congestionamentos.
O fluxo da realização das tarefas feitas por bibliotecário e usuários exige, por sua vez, uma análise
de seu conteúdo e do desenvolvimento das rotinas. Deve-se veriticar quais tarefas são (ou devem) ser
realizadas antes de outras, qual o seu grau de complexidade e de dependência entre si, o que conduzirá a
decisões que favorecerão a implementação do princípio do fluxo progressivo tanto quanto a do princípio
da integraçtúJ. Este será atendido se o estudioso dos espaços da biblioteca tiver uma visão global desta como
uma instituição orgânica e dinâmica. Essa visão inclui todos os recursos (humanos, materiais e financei-
ros), os serviços e os usuários. É necessário ter em mente sua missão, seus objetivos e metas, conhecer
sua estrutura organizacional e todos os componentes que colocam essa organização em andamento para
poder integrá-los num conjunto funcional.
O princípio da flexibilidade de uma biblioteca envolve, e11treoutras coisas, a questão de seu crescimento
físico, necessidade de ampliação de redes elétricas e hidráulicas, instalação de cabos especiais, peso do acervo,
fluxo de pessoas e, certamente, os componentes básicos do conforto ambiental: temperatura, ventilação,
iluminação e controle de umidade. A flexibilidade das instalações é, portanto, um dos principais quesitos
a ser considerado pela equipe que estuda o leiaute desse espaço, especialmente se estiver visualizando o
futuro. Lembra-se aqui as palavras de Keyes D. Metcalf, registradas em 1971, ao preconizar o uso do
sistema modular de leiaute utilizado em substituição ao sistema fixo de seções das bibliotecas, pensando
no futuro: "[ ... ] de modo que cada parte do edifício possa ser usada para praticamente todas as funções,
porque não sabemos o que o futuro nos trará." (p. 14, tradução nossa). A relação custo/benefício deve,
também, ser considerada. Cada pequena mudança ou alteração na disposição dos elementos acarreta um
custo financeiro, que só será justificado se o benefício que trouxer for importante. Além do dinheiro en-

40 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • !l


volvido, conta como custo o tempo gasto com os estudos e implantação do novo projeto, a preparação
da equipe para a mudança (incluindo-se os aspectos emocionais) e o treinamento das pessoas para uso
do espaço modificado. O benefício deve se traduzir em maior eficiência na prestação de serviços e maior
facilidade e conforto do uso dos recursos da biblioteca.
Depreende-se, portanto, que nenhum dos princípios enunciados é mais importante do que o outro; a
aplicação de todos conduz à construção de um espaço produtivo, funcional, confortável, agradável e com
baixo custo de manutenção. Faulkner-Brown (1999) sintetiza apropriadamente as ideias antes expostas
quando aponta princípios para um eficiente edifício de biblioteca: ser flexível, permitindo alterações futuras;
ser acessível por todos os tipos de pessoas e diferentes recursos; ser extensível ao permitir futuras ampliações;
ser confortável e ter um ambiente constante em termos de temperatura, umidade e ventilação; ser seguro com
relação à prevenção de sinistros; e ser econômico do ponto de vista da sua gestão. É certo que um projeto
realizado a partir do programa de necessidades, especialmente elaborado para a biblioteca, associado a um
leiaute contendo os princípios expostos, conduzirá à concretização do prédio proposto pelo autor.

TIPOS DE LEIAUTE

Existem diferentes tipos de leiaute, alguns mais conhecidos que outros, como o leiaute em corredor,
em espaço aberto e panorâmico.

Leiaute em corredor

É o arranjo físico mais conhecido, considerado muito bom para incentivar as relações de grupo, prin-
cipalmente quando o trabalho exige formação de equipes. Melhor ainda, quando a exigência é a realização
do trabalho em pequenas equipes.
As desvantagens, segundo Addison (1976), ficam por conta do:
a) preço das divisórias; e,
b) o espaço perdido na distribuição das salas.

Esse tipo de arranjo pode ser muito útil para a instalação de salas de trabalho dos funcionários e salas
para estudo em grupo dos usuários da biblioteca.
A sala individual é imaginada pela maioria das pessoas como sendo a melhor para se trabalhar, pro-
porcionando independência de ação, privacidade e certo status. O confmamento das pessoas em ambientes
menores pode não ser agradável.

Leiaute em espaço aberto

Este tipo de leiaute é encontrado em grandes áreas, com grande concentração humana. Quase sempre
ocupa todo um andar, guardando apenas espaço para salas individuais das chefias ou pessoal da supervisão,
ou ainda, de processamento técnico.
Ajuda grandemente a comunicação, pela facilidade que existe das pessoas conversarem, trocarem ideias
e pelos fluxos de documentos. Entretanto, obviamente, o trabalho desenvolvido nesse tipo de arranjo só
é válido para tarefas que não exijam grande grau de concentração.
Uma outra desvantagem está ligada ao fato de no leiaute aberto existir maior possibilidade das pessoas
distraírem-se, podendo cometer erros que normalmente não cometeriam se o ambiente fosse mais tranquilo.

i! • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 41


Leiaute panorâmico

O leiaute panorâmico segue os seguintes critérios:


a) a divisória tem a parte superior transparente e não segue até o teto;
b) as mesas, embora do mesmo padrão, diferem na tonalidade, o que evita a padronização plena
e a dificuldade na diferenciação dos elementos da estrutura social;
c) embora separadas por divisórias transparentes, não existe a sensação de falta de privacidade,
pois afinal há um espaço claramente demarcado;
d) não há maior dificuldade na supervisão visual por parte da chefia, mas, por estar isolada em
salas, essa supervisão não é percebida ou não é considerada prejudicial a quem é supervisionado;
e) o tratamento acústico reduz o nível de ruído.

As desvantagens do uso desse tipo de arranjo físico são semelhantes às do leiaute em corredor, mas
apenas semelhantes, pois sempre existirá o contato visual entre as pessoas das várias unidades.

O PROJETO DE LEfAUTE

Um projeto de leiaute, como qualquer outro que envolva a intervenção organizacional, culminando
com mudanças, afetando métodos e processos de trabalho e o comportamento das pessoas, deve ser de-
senvolvido, tanto quanto possível, observando-se uma metodologia de análise administrativa e procurando
atender determinados objetivos. Uma biblioteca, como uma unidade organizacional, deve ser estruturada
levando-se em consideração a relação acervo/acesso e a metodologia de análise administrativa que conduza
ao alcance de seus objetivos e, portanto, o cumprimento de sua missão.

Objetivos de um projeto de leiaute

No desenvolvimento de um estudo de leiaute são pontos de interesse a natureza do trabalho, o seu


volume e o fluxo de documentos, o que leva a identificar os seguintes objetivos a serem atendidos: otimizar
as condições de trabalho das pessoas nos diferentes setores da biblioteca; racionalizar os t1uxos de traba-
lho (administrativos ou técnicos) e a disposição física dos postos de trabalho; e, por último, minimizar a
movimentação de pessoas, produtos, materiais e documentos dentro do ambiente da biblioteca.
Como objetivos subjacentes, um leiauté adequado pode aumentar a motivação e a satisfação das pessoas (equi-
pe da biblioteca e usuários) e melhorar a qualidade dos serviços prestados e a flexibilidade da execução das tarefas.
Um objetivo ergonômico é evitar riscos de acidentes e incidentes no trabalho, além de doenças ocupacionais.

Etapas de um projeto de leiaute

Um projeto de leiaute pode ser usado tanto em reformulações de situações preexistentes quanto para projetar
novos ambientes de trabalho. Hessel ( 1989) considera o projeto uma sistematização de ideias e procedimentos
usuais, sendo apresentado como um ponto de partida. As etapas a seguir enunciada~ são propostas pelo autor.

Fazer uma relação dos componentes do ambiente

Relacionar funcionários, chefias, usuários, móveis, máquinas e equipamentos que serão atingidos
pelas modificações ou que farão parte do novo ambiente de trabalho. Araújo (200 1), corroborando Hessel

42 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • ~


(1989), menciona a necessidade de recolher informações sobre os detalhes do trabalho executado por cada
unidade, a quantidade de pessoal empregado, a necessidade de comunicação entre as pessoas incluídas
no campo da análise, a necessidade de arquivamento ou armazenagem, os isolamentos auditivo, visual
e físico, a intensidade de iluminação, as aberturas, o status obtido pela localização do mobiliário e, por
fim, a quantidade e tipos de máquinas e equipamentos. Os dispositivos de climatização e de prevenção de
incêndio também devem ser observados. ·

Obter as plantas

Deve-se obter cópias das plantas ou desenhos de engenharia, da área disponível ou atribuída, verifi-
cando qual a escala utilizada para representação dos objetos. Se isso não for possível, desenhar, a partir
de pesquisa in loco, utilizando a mesma escala em todo o desenho. Assinalar janelas, portas, pontos de luz,
chaves e tomadas de energia, terminais de telefone, aparelhos de ar-condicionado, entradas e saídas de
banheiros, colunas, paredes removíveis, etc.

Elaborar esboços

Esboços de colocação das chefias, dos grupos de funcionários, as áreas de atendimento a usuários,
armazenamento das coleções de documentos, depósitos, etc. Nesses esboços não se desenham os móveis,
armários, cadeiras, arquivos, estantes, etc.: usam-se apenas grandes círculos ou elipses móveis para definir
onde ficarão os grupos de pessoas, de móveis, de estantes, etc. Preparar cerca de três ou quatro destes
esboços e deixar a imaginação funcionar, montando, no mínimo, uma versão "louca", ideal, bem diferente
das outras. Isso estimulará a discussão e conduzirá a melhores resultados.

Verificar o fluxo de pessoas e documentos

O correto conhecimento da movimentação de pessoas e documentos garantirá um melhor resulta-


do. A função é identificar os vários fluxos existentes, os fluxos principais e secundários e o trânsito de
documentos e pessoas.

Determinar a quantidade e natureza dos móveis e equipamentos

Uma listagem de mobiliário utilizado (ou a ser utilizado) e dos equipamentos, além de sua minia-
turização, permitirá considerar várias possibilidades de solução para cada espaço. Preparar e dispor as
miniaturas de móveis e equipamentos e definir em que escala serão feitos os desenhos. Duas são as escalas
mais usadas: 1:50, onde cada metro de espaço ocupa 2 em na planta, ou 1:20, para cada metro de área
real se desenha 5 em no papel. O detalhamento pode ser feito com desenhos ou com miniaturas, qualquer
deles na mesma escala da planta usada.

Verificar a extensão e localização das instalações elétricas e hidráulicas

Em instalações preexistentes, o conhecimento da localização dos pontos de tomada e luz poderão ser
determinantes para a colocação (ou não) de determinados objetos e equipamentos num certo espaço. Em
certos locais, poderá ser necessária a colocação de condutos sob o assoalho ejou embutidos nas paredes
para os cabos telefônicos, fios de redes, etc.

g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 43


A rede hidráulica deve ser cuidadosamente observada para evitar a colocação de estantes em áreas
onde os canos de água estejam passando. Previne-se, assim, futuros acidentes com infiltrações e mesmo
inundações. As calhas devem ser mantidas longe dessas áreas da biblioteca.
É conveniente lembrar que os encanamentos facilitam a expansão de ruídos devendo, portanto, ser
afastados das áreas onde deve ser observado silêncio.

Montar os diversos esboços e escolher as alternativas

Com as plantas devidamente assinaladas com as aberturas, as redes elétricas, a conexão e hidráulica,
distribuir os equipamentos e móveis em miniatura e compor vários esboços de solução. A análise dos
esboços com a equipe da biblioteca e grupos de usuários ajudará a escolher a melhor solução. Em alguns
casos, pode-se, nessa etapa, encontrar ou desenvolver uma solução não pensada inicialmente, mas que é
decorrência das já elaboradas.

Fazer alterações

Colecionar todas as sugestões, críticas, imposições e novas ideias e, de uma só vez, refazer o leiaute,
buscando a versão defmitiva ou então novas versões para discussão. Ao término dessa etapa, ter-se-á a
versão final do leiaute.

Acrescentar informações

De posse da versão final, serão incluídos todos os dados e anotações possíveis e necessárias. Tais
anotações são feitas na própria planta e nos lugares correspondentes; pode-se, igualmente, numerar os
móveis e as máquinas e relacioná-los às informações, como legendas.

Implantar o leíaute e acompanhar

Observar alguns fatos peculiares nessa fase:

a) o transtorno causado em função das mudanças físicas;

b) a adaptação do pessoal ao novo espaço;


c) a adaptação do corpo social (usuários) às novas relações, em virtude de novo posicionamento
no espaço modificado;
d) a observação dos novos fluxos, principal e secundários, e das repercussões na distribuição do
trabalho, afetado em função das modificações ditadas pelo projeto.

A fase de implantação requer cuidados especiais com os aspectos emocionais de todos os envolvidos,
sejam funcionários sejam usuários. A quebra de rotina resulta em desconforto e insegurança, podendo
trazer irritabilidade às pessoas. As mudanças (mesmo que sejam para melhor), usualmente, não são aceitas
com facilidade e as pessoas só as aceitarão se tiverem participado do processo desde seu início. Como
somente alguns representantes dos usuários estiveram presentes nos estudos do novo leiaute é necessário
desenvolver estratégias de acolhimento e insrrução ao leiaute implantado, reduzindo os embaraços de-
correntes da mudança.

44 • JUSSARAPEREIRASANTOS (Org.) •!!


É importante dar um tempo de amadurecimento, receber as críticas e analisá -las com atenção e somente
colocá-las em prática após um novo estudo de leiaute.

LEIAUTE E TIPOS DE ACESSO

Atualmente, são raras as bibliotecas que têm seu acervo fechado, pois isso, além de inibir a utilização da
mesma por seus usuários, vai de encontro à orientação do Ministério da Educação brasileiro (Brasil, 1995,
art. 6), que defende o livre acesso à biblioteca como forma de estimular a leitura. No entanto, existirão
situações em que fechar o acervo ao acesso público se mostra necessário, e essa exigência será considerada
no momento da definição de tipo de leiaute a ser implantado. É possível que, num determinado ambiente,
seja aconselhável certo tipo de leiaute, o que não significa que todos os demais setores da biblioteca devam
receber idêntico tratamento.
Tratando-se de uma biblioteca com livre acesso é provável que o tipo de leiaute aberto seja o mais
interessante. Cada biblioteca deve ter sua situação estudada cuidadosamente, exigindo uma solução espe-
cífica à sua problemática.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um leiaute bem elaborado deve considerar na distribuição dos espaços todos os requisitos de conforto
ambiental para as pessoas que utilizam a biblioteca, sejam funcionários ou usuários. A sensação de bem-estar
deve prevalecer sem prejuízo dos cuidados para com o acervo, como a insolação, iluminação adequada
(natural e artificial), ventilação, temperatura, umidade relativa do ar, suporte de peso dos pavimentos,
altura do teto e cuidados com a água. A prevenção de sinistros deve fazer parte do leiaute, incluindo rotas
de fuga liberadas em caso de incêndios, inundações e vendavais, além de indicar os equipamentos dispo-
níveis (bem-sinalizados) para combate aos sinistros.
Cumprir o objetivo básico do leiaute é, pois, garantir a boa disposição dos instrumentos de trabalho
para que se possa dar o pleno desenvolvimento de um sistema, satisfazendo os requisitos de total uso da
capacidade do equipamento e o máximo de rendimento do pessoal, obtendo-se, portanto, maior economia,
produtividade e conforto.

REFERÊNCIAS

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ARAÚJO, L. C. G. 01lfanização, sistemas e métodos: e as modernas ferramentas de gestão organizacional. São
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2 • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 45


Programa de necessidades para construção, ampliação
ou reforma de uma biblioteca

]ussara Pereira Santos


Tânia Marli Stasiak Wilhelms

INTRODUÇÃO

Dentre as tarefas prévias à elaboração do projeto arquitetônico para construção, reforma ou ampliação
de espaço físico de urna biblioteca, encontra-se o programa de necessidades daquela situação. Trata-se de
uma atividade específica das áreas de Arquitetura e Engenharia e o bibliotecário deve preparar-se para
compreender o seu significado e saber comunicar-se com os especialistas.
Uma decisão política coloca-se logo no início do processo: construir uma sede nova? Reformar a atual?
Ampliar o espaço? Qualquer urna dessas questões levará em consideração o tempo e os recursos financeiros
disponíveis. A relação de custo e benefício de qualquer uma das possibilidades deve ser tomada em con-
junto com a administração da instituição mantenedora da biblioteca que financiará a execução do projeto.
A fase de preparação para o programa de necessidades e sua consequente elaboração deve ser feita com
cuidado e precisão, voltada às necessidades dos usuários. Um estudo de usuários e/ou de comunidade deve
anteceder toda e qualquer decisão a ser tornada. Assim, o programa de necessidades levará ao anteprojeto
arquitetônico e este, posteriormente, ao projeto definitivo que, desse modo, contemplará as necessidades
dos usuários reais e potenciais.
O programa de necessidades será elaborado para apresentação à equipe de projetistas e servirá de
base para todas as discussões relativas ao desenvolvimento do anteprojeto. Cabe ao bibliotecário fazer
o arquiteto compreender as funções desempenhadas por uma biblioteca de modo que possa traduzir no
projeto arquitetônico a missão que a biblioteca pretende cumprir.

O PROGRAMA DE NECESSIDADES

Entende-se por programa de necessidades "( ... ] o enunciado dos requisitos a serem satisfeitos pela
obra a ser construída." (Silva, 1991, p. 81), ou seja, trata -se da expressão concreta da realidade em que a
unidade de informação está mergulhada, e a projeção para uma situação futura onde os problemas hoje
existentes terão uma solução adequada.
A~ necessidades expressas constituem a matéria-prima para o anteprojeto/projeto de construção, reforma
ou ampliação de urna sede. É, em verdade, uma relação completa, objetiva, precisa e que demonstra todas
as necessidades a serem contempladas pela equipe projetista. É, também, um instrumento de comunicação
que permite o diálogo entre diferentes profissionais que têm, num dado momento, um objetivo em comum.
Esse programa deve responder as seguintes perguntas: quem sou? O que tenho? O que quero?
As respostas a cada uma dessas questões formará uma parte específica de um documento que recebe,
usualmente, a designação de programa de necessidades.
Na verdade, trata-se de um documento escrito que representará urna situação particular vivida por
aquela biblioteca, portanto, "[ ... ] refletem o conjunto de decisões políticas, administrativas e técnicas
assumidas pelos protissionais envolvidos no gerenciamento da unidade de informação." (Almeida, 2000,
p. 89). Depreende-se, assim, que nenhum programa de necessidades será idêntico a outro, já que cada
siruação é única em seu contexto.
Em síntese, o programa de necessidades é o resultado de uma ação coletiva que esrudará as necessida-
des da clientela a ser servida, da instiruição mantenedora que financiará a edificação/reforma/ampliação,
da clientela interna (equipe da biblioteca) e visualizará o futuro de modo a adaptar o ambiente físico às
mudanças políticas, tecnológicas e materiais que possam ocorrer.
O objetivo de um programa de necessidades é elencar as necessidades essenciais de uma biblioteca
com vistas à sua reforma, ampliação ou à construção de um novo prédio para um determinado período
de tempo. A literatura indica que os projetos devem atender as demandas por cerca de vinte anos.

O DESENVOLVIMENTO DO PROGRAMA DE NECESSIDADES

O programa de necessidades será desenvolvido durante os vários encontros a serem realizados com
todos os componentes da equipe da biblioteca e representantes dos usuários, ocasião em que todos serão
ouvidos e terão oporrunidade de expressar suas preocupações básicas. É importante definir muito bem
esse programa para que seja único e que se constirua em um documento realmente acabado. Como as
modificações podem acarretar transtornos importantes posteriores, devem ser evitadas a todo o custo, e
as propostas devem ser amadurecidas por todos.
Da equipe de projeto constam, usualmente, o representante da instituição, do setor administrativo/finan-
ceiro, o bibliotecário-chefe, os funcionários de setores especializados (aquisição, referência, processamento
técnico, restauração, etc.), os representantes dos usuários e de associações com interesses na biblioteca, além
da equipe executora do projeto propriamente dito. Cada um desses componentes dará um tipo de contri-
buição no decorrer do projeto. Existirão aqueles encarregados de colher todas as informações necessárias
para o projeto (equipe da biblioteca); outros ficarão encarregados de sugerir novas ideias ou propor soluções
inovadoras para problemas antigos (pessoal especializado); outros, ainda, apresentarão sugestões relativas
ao uso da unidade de informação (usuários, associações); e, finalmente, aos arquitetos caberá traduzir essas
informações, sugestões e ideias em um anteprojeto a ser discutido e transformado no projeto defmitivo.
É necessário designar um coordenador que possua força política suficiente para a tomada de decisões
e para a solução de conflitos que certamente surgirão no decorrer dos trabalhos. Cabe, normalmente,
ao bibliotecário-chefe desempenhar essa função. Esse grupo é de caráter permanente enquanto perdurar
a execução da obra (seja reforma, ampliação ou construção) já que poderão surgir dificuldades a serem
resolvidas pelo grupo ao longo do processo.
Essa fase exige muito amadurecimento e amplas discussões entre os interessados. Diz-se que o tempo
aqui utilizado é, na verdade, um investimento que evitará seu desperdício quando a construção/reforma/am-
pliação estiver em andamento. As mudanças são todas bem-vindas nesta ocasião, devendo chegar-se a acordos
satisfatórios para todos os envolvidos, evitando-se, assim, que ocorram fururamente alterações prejudiciais ..
O processo de criar ou alterar a base física de urna biblioteca é onerÓso, demanda um esforço im-
portante por parte da instiruição e dos profissionais envolvidos e pode representar, possivelmente, urna
oportunidade única de melhoria das condições ambientais, de conforto e dos serviços a serem ofereci-
dos. Sabendo-se que se trata de um investimento que deve produzir frutos durante um longo período
de tempo e que muitas mudanças certamente ocorrerão, sejam políticas, econômicas ou tecnológicas, é
necessário que sejam respeitados alguns princípios fundamentais, tais como os propostos por Faulkner-
-Brown1 (apud Faulkner-Brown, 1999, p. 13), a seguir indicados: flexibilidade, com um leiaute que
permita alterações de acordo com as necessidades; concentração de espaços, onde os percursos feitos pelos
bibliotecários e usuários sejam pequenos; acessibilidade, do ambiente externo/interno e vice-versa assim
1
Ver Faulkner-Brown, H. The InitialBrief The Hague: IFLA, 1993.

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como em seu interior; extensibilidade) permitindo futuras ampliações; variedade, ou seja, a capacidade do
espaço em acomodar vários tipos de acervos, pessoas e serviços; organização, isto é, disposição do acervo
e dos serviços de modo convidativo e de fácil compreensão; conforto, proporcionando bem-estar através
dos fatores ambientais (ventilação, iluminação e acústica); ambiente constante, em termos de temperatura
e umidade para preservação do acervo; segurança, em relação a incêndios, inundações, ventanias, furtos e
roubos; economia, resultando numa sede que permita sua fácil manutenção e conservação, com o mínimo
de recursos materiais, financeiros e humanos.

ESTRUTURA DO PROGRAMA DE NECESSIDADES

As questões anteriormente colocadas (Quem sou? O que tenho? O que desejo?), além dos quesitos
ergonômicos e de conforto ambiental, formam a grande estrutura do programa de necessidades.
O primeiro elemento do documento, o título, deve ser preciso de modo a informar à primeira vista do
que se trata, ou seja, o que está sendo proposto: a construção de um novo prédio, a reforma do atual ou a
ampliação das dependências da biblioteca. Essa informação colocará a equipe projetista numa perspectiva
correta perante o processo.

Dados de identificação da unidade de informação

Para responder à primeira questão, é necessário identificar a biblioteca em termos de sua designação
e de sua ligação com a instituição mantenedora. Neste momento, toma-se conhecimento do tipo de bi-
blioteca em questão (escolar, universitária, pública, especializada) e se é de caráter público ou privado. A
seguir, deve constar a missão da biblioteca. É a partir dela que toda a equipe compreenderá as razões de
sua existência e poderá, desse modo, traduzir num projeto arquitetônico suas aspirações e expectativas. Os
objetivos a curto, médio e longo prazos também devem ser claramente explicitados. Devem ser utilizadas
frases breves, objetivas, completas e contendo somente as informações absolutamente necessárias.

Descrição da biblioteca

Neste segmento, responde-se a segunda questão: o que tenho?


Devem ser informados os seguintes dados gerais:

a) número de pessoas componentes da equipe de trabalho, com categorização das funções;


b) número de usuários inscritos no sistema;
c) detalhamento da quantidade de usuários por tipo;
d) fluxo de pessoas por dias da semana com indicação dos picos de afluência;
e) tipo de acesso ao acervo;
f) dias e horários de funcionamento;
g) quantidade de volumes componentes do acervo e sua categorização por tipo;
h) principais serviços executados e oferecidos.

A estrutura organizacional vigente deve ser mostrada, preferentemente, através de um organograma,


de modo que a equipe possa visualizar o sistema como um todo, além das relações hierárquicas internas
e externas à biblioteca.

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A descrição deve ser feita de parte por parte da estrUtura, contemplando para cada uma delas os
seguintes elementos:
a) função do setor ou principais atividades ali realizadas;
b) número de pessoas que trabalham no local e a função exercida;
c) mobiliário e equipamentos utilizados;
d) existência de público no setor;
e) tluxo máximo de pessoas no ambiente;
f) dimensões (em metros quadrados).

Para os setores que incluem acervo devem ser indicados, também:

a) tipos de documentos;
b) número de volumes; 2
c) condições de armazenamento,
-número e tipo de prateleiras e/ou mobiliário utilizados;
'-quantos documentos estão acomodados em cada prateleira (média)
- número de pessoas com acesso simultâneo à área;
- áreas de circulação existentes.

d) dimensões ocupadas pelo setor (em metros quadrados).

Para as áreas de leitura/consulta:

a) número de pessoas em estudo simultaneamente (indicar os picos máximos de afluência);


b) mobiliário individual (mesas/cadeiras, poltronas, etc.);

c) mobiliário coletivo (mesas/cadeiras);

d) equipamentos eletroeletrônicos;

e) dimensões ocupadas pelo setor (em metros quadrados).

As informações sobre as áreas de circulação interna, saguões, sanitários e todo e qualquer espaço
existente na sede atual da biblioteca devem ser pormenorizadamente descritos.

Necessidades da biblioteca para a construção/reforma/ampliação de sua sede

Esta é a parte mais importante do programa de necessidades. No entanto, sem as seções anteriores,
haveria dificuldades para a equipe projetista compreender a biblioteca e fazer os cálculos necessários para
o dimensionamento correto dos espaços mediante as expectativas do cliente.
COm base nas séries estaústicas colhidas pela biblioteca durante pelo menos cinco anos, o bibliotecário
poderá ter uma ideia do comportamento da unidade de informação quanto ao crescimento do acervo, aumen-
2
Indicar sempre o número de volumes e não de obras ou títulos. O dimensionamento do espaço é feito a partir de dados
concretos.

50 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • e


to do número de usuários, acréscimo de equipamentos para atender a tendência de demanda, aumento do
número de funcionários, expansão dos dias e horários de funcionamento, necessidade de novos serviços, etc.
A~ políticas da instituição mantenedora quanto à expansão de seus serviços para os próximos anos devem
ser levadas em consideração. São conhecidos os casos em que mudanças de políticas institucionais bruscas
afetaram enormemente bibliotecas recém-instaladas, tornando-as inadequadas poucos anos após sua inau-
guração. Assim, são de grande utilidade, neste momento, as consultas ao planejamento estratégico da orga-
nização onde a biblioteca está inserida, assim como os de outras instituições que possam afetar a biblioteca.
Os censos demográficos e as políticas públicas também devem ser estudadas, pois o crescimento
populacional e os planos dos governos terão influência imediata na alocação de recursos financeiros e
humanos para todas as organizações a eles subordinadas.
Essas projeções, reforça-se, devem ser feitas para um período de vinte anos e representam a idealização
de como será a biblioteca no futuro. Devem ser levadas em conta as questões financeiras da instituição
mantenedora e as possibilidades concretas da viabilização da proposta. É preferível uma solução com base
na realidade e com possibilidades de expansão futura do que a utopia realisticamente inviável.

Serviços internos
(separar por ambientes: direção/chefia, secretaria, processamento técnico, aquisição, conservação e restauro, etc.,
se for o caso)

a) função ou atividades a serem realizadas;


b) número de pessoas fixas em cada ambiente;
c) número de pessoas circulantes em cada ambiente (visitantes, usuários);
d) mobiliário e equipamento necessários;
e) localização ideal relativa aos demais setores (exemplo: próximo ao setor de circulação).

Outras acomodações

a) sanitários (masculinos e femininos);

b) copa,
- número de pessoas em uso simultâneo;
- mobiliário e equipamentos a serem usados;
- localização ideal relativa aos demais setores.
c) sala de repouso,
- número de pessoas em uso simultâneo;
- mobiliário e equipamentos a serem usados;
- localização ideal relativa aos demais setores.

Áreas para o acervo

Discriminar o acervo por tipo, fornecendo a estimativa de seu crescimento. Indicar, também, as formas
de armazenamento dos materiais mais adequadas às características de cada tipo de documento.
Levar em consideração a grande tendência de novos suportes e o uso das tecnologias de informação
e comunicação que, em muitos casos, substituirão os acervos em papel.

2 • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 51


Áreas para o público

Deve haver um planejamento para cada tipo de público a ser atendido, pois cada um terá necessidades
específicas. De um modo geral, os seguintes setores devem ser contemplados, sem prejuízo de outros que
sejam necessários para o atendimento a demandas específicas:
a) recepção,
-função ou atividades a serem realizadas;
-armários para guarda dos materiais pessoais dos usuários;
-mesa/cadeira ou balcão/banco para a portaria;
- portal eletrônico antifurto;
-poltrona/sofá para usuários;
- porta jornais;
-porta guarda-chuvas, etc.;
- localização ideal relativa aos demais setores.
b) serviço de circulação,
-função ou atividades a serem realizadas;
- mobiliário (balcão com acesso para cadeirantes, bancos altos com encosto, estantes, carrinho
para transportar documentos, etc.);
- equipamento (computadores, impressora, telefone/fax, etc.);
-número de pessoas fixas (atendentes), simultaneamente;
- número de usuários, simultaneamente;
- localização ideal relativa aos demais setores.
c) serviço de referência,
- função ou atividades a serem realizadas;
- mobiliário (escrivaninha/cadeira para o bibliotecário, mesas para consulta a obras de refe-
rência, mesas para os computadores de acesso às bases de dados, estantes, cadeiras, etc.);
- equipamentos necessários (computadores, telefone/fax, scanner de mesa, impressora, etc.);
- acervo de referência (tipo e quantidade);
- número de pessoas fixas, simultaneamente;
- número de usuários, simultaneamente;
- localização ideal relativa aos demais setores.
d) salas de leitura coletiva,
- função ou atividades a serem realizadas;
- mobiliário e equipamento necessários;
- número de usuários, simultaneamente;
- localização ideal relativa aos demais setores.
e) salas de leitura individual,
- função ou atividades a serem realizadas;
- número de salas necessárias;
- mobiliário e equipamentos necessários para cada indivíduo;
- localização ideal relativa aos demais setores.
f) sala de seminários/reuniões,
- função ou atividades a serem realizadas;
- número de salas necessárias;

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- número de indivíduos em cada sala;
- mobiliário e equipamentos necessários;
- localização ideal relativa aos demais setores.

g) espaços especiais para uso público (acesso à internet, local de exposições, jardins internos, por
exemplo),
- explicitar a função de cada um;
- número de usuários previstos;
- mobiliário e equipamentos necessários;
- localização ideal relativa aos demais setores.

h) sanitários masculinos/femininos e para portadores de necessidades especiais: indicar previ-


são da população a ser servida, por turno.

Segurança, ergonomia e conforto ambiental

As questões relativas a segurança (proteção contra incêndios, inundações, ventos fortes, furtos e
roubos, danificações no acervo), acústica, controle de umidade e temperatura, iluminação dos vários
recintos, mobiliário, assim como as questões ergonômicas, devem ser colocadas no programa de neces-
sidades. Podem constituir-se em uma nova seção do programa ou serem acrescentadas ao final da seção
das demais necessidades.
O bibliotecário, ao tàzer a opção por um determinado tipo de proteção contra incêndio (gases limpos,
por exemplo), estará determinando que o uso de água naquela biblioteca será restrito a certos setores
(banheiros, sala de restauração, copa, etc.) e que não utilizará extintores de incêndio. Essa escolha, assim
como a forma de controle de temperatura e umidade, a iluminação das áreas de estudo e pesquisa e do
acervo e o tratamento acústico, dentre outras, são de ordem técnica e devem ser tomadas juntamente com
especialistas, antes de entregá-las à equipe projetista.
Também devem ser incluídas soluções para proporcionar a acessibilidade de pessoas portadoras de
deficiências a edificações, espaços, mobiliário e equipamentos urbanos, conforme exige a norma da Asso-
ciação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) registrada sob o número NBR 9050/04.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um adequado programa de necessidades para a constmção, reforma ou ampliação de uma biblioteca


será decorrente da boa administração da mesma durante anos.
As séries estatísticas sobre seu crescimento fornecerão dados para projeções realistas e servirão
de argumentação para as propostas colocadas. Ficarão mais compreensíveis e concretos para os
tomadores de decisão, usualmente pressionados pela escassez de recursos financeiros, os motivos
pelos quais a administração da biblioteca tomou determinada decisão, se esta for justificada por
crescimentos reais.
Os manuais de serviço, constantemente atualizados, demonstrarão a evolução dos serviços técnicos
e mostrarão o quanto a unidade de informação está acompanhando as tendências de mudanças em cada
setor. Será fácil, portanto, justificar o aumento do número de pontos de acessos às redes, ou o provável
aumento do número de equipamentos informáticos.

!! o GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS o 53


Este canal de comunicação, construído com base na realidade da biblioteca e apresentado de forma
coerente e com dados confiáveis, aportará um status verdadeiramente profissional ao bibliotecário, tor-
nando-o um partícipe das ações a serem empreendidas e não meramente um sujeito das decisões tomadas
por outros profissionais.

REFERÊNCIAS

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de informação. Brasília, DF: Briguet de Lemos, 2000. p. 87-104.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050/04: acessibilidade de pessoas portadoras
de deficiências a edificações, espaço, mobiliário e equipamentos urbanos. Rio de Janeiro, 2004.
FAULKNER-BROWN, Hany. Design de grandes edifícios para bibliotecas. In: _ _ .A informação: tendências
para o novo milênio. Brasília, DF: IBICT, 1999. Cap. 5, p. 82-93.
SILVA, Elvan. O programa. In: ___ . Uma introdução ao projeto arquitetônico. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 1991. Cap. 7, p. 81-95.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

ALMEIDA, Maria Cristina B. de. Programa de necessidades de espaço físico para bibliotecas. In: ___ . Pla-
nejamento de bibliotecas e scrFiços de informação. Brasília, DF: Briguet de Lemos, 2000. p. 105-108.
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SEGURANÇA e Medicina do Trabalho. 50. ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 225-228.
BROWN, Caro! R. Interior Dcsign for Libraries. Chicago: American Library Association, 2002.
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___ . The Program to r Assignable Space Reguirements. In: ___ . Planning Academic and Research Library
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54 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • Si!


Condicionantes ambientais do projeto de bibliotecas

]uan José Mascará


Lucia Mascará

INTRODUÇÃO

Os aspectos ambientais das bibliotecas diferem dos de outros edifícios porque devem levar em considera-
ção requisitos próprios das publicações impressas e do material em meio eletrônico, sendo um critério correto
integrar as necessidades humanas às do acervo, de forma a dar uma resposta espacial adequada e econômica.
Os melhores estudos sobre bibliotecas foram realizados nos países de climas temperados e frios, cujos
condicionantes climáticos e culturais são essencialmente diferentes dos das regiões tropical e subtropicalt'unida.
Apenas pode-se citar alguns trabalhos locais sobre o tema, tais como o de Mambrini ( 1997) e Mascará (1989).
Uma vez que a maior parte do país encontra-se em zona intertropical, com predomínio de baixas
altitudes, verifica-se no Brasil, variedades climáticas quentes, com médias superiores a 20 "C. São seis os
tipos de variação climática encontrados em toda a extensão do território brasileiro:
l) Equatorial: possui temperaturas médias entre 24 °C e 26 "C e chuvas abundantes (mais de
2.500 mm/ano). É o tipo de clima encontrado em toda a região da Amazônia Legal, com
cerca de cinco milhões de quilômetros quadrados.
2) Semiárido: predominante na região do sertão nordestino e no vale do rio São Francisco, tam-
bém localizado na região Nordeste. É caracterizado por temperaturas médias elevadas, de cerca
de 27 °C, com variações anuais em torno de 5 °C. As precipitações são baixas e irregulares,
chegando a apenas 800 mm/ano.
3) Tropical: com inverno quente e seco e verão quente e chuvoso. É o clima encontrado em
extensas áreas do Planalto Central, nas regiões Nordeste, Sudeste e noroeste da região Norte
do país. As temperaturas médias são superiores a 20 °C, com amplitude térmica anual de até
7 °C e precipitações de 1.000 a 1.500 mm/ano.
4) Tropical de Altitudes: caracteriza-se por temperaturas médias anuais entre 18 °C e 22 °C, com
amplitudes térmicas anuais de 7 °C a 9 "C e precipitações entre 1.000 e 1.500 mm/ano. O
verão apresenta chuvas intensas, enquanto no inverno as massas frias podem ocasionar geadas.
É o clima encontrado nas partes altas do Planalto Atlântico do Sudeste, estendendo-se para a
região Sul, até o norte do Estado do Paraná e sul do Estado do Mato Grosso do Sul.
5) Tropical Atlântico: encontrado em toda a tàixa litorânea, desde o Estado do Rio Grande do Norte ao
sul do Estado do Rio Grande do Sul. Caracteriza-se por temperaturas médias entre 18 "C e 26 °C, com
amplitudes térmicas crescentes à medida que se aproxima em direção ao sul. As chuvas são abundantes,
superando 1.200 mm/ano, mas têm distribuição desigual. No litoral do Nordeste concentram-se no
outono e no inverno, enquanto em direção ao sul são mais constantes no verão.
6) Subtropical: ocorre na zona temperada ao sul do Trópico de Capricórnio, caracterizando-se
por temperaturas médias abaixo de 20 °C e variações anuais entre 9 °C e 13 "C. Nas áreas de
maior altitude o verão é suave e o inverno rigoroso, com nevascas ocasionais. A~ precipitações
são abundantes, chegando a 1.500 e 2.000 mm/ano.
Porto Alegre, a capital do Rio Grande do Sul, tem clima composto- com uma estação quente e úmi-
da, que dura quase cinco meses, e uma fresca, também úmida, cada vez menor (um pouco mais de dois
meses)- que faz com que haja a necessidade de dois tipos de estratégias de projeto e que estas, às vezes,
sejam antagônicas. As soluções previstas para o período frio normalmente se contrapõem às adequadas
para o período quente e vice-versa. Nesse tipo de clima, usa-se como base de projeto as características da
estação quente, complementadas com soluções eletromecânicas, por exemplo, para o período frio, visto
que é mais econômico aquecer um ambiente que refrigerá-lo.
A cultura local é de leitores cuja quantidade e qualidade está em constante aumento. Entretanto, e
curiosamente, existem poucos edifícios construídos especificamente para acolher uma biblioteca na cidade
como, por exemplo, a Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul, cuja construção foi iniciada
em 1912 e concluída em 1921. Em universidades privadas encontra-se um número maior de prédios
projetados especialmente para esta finalidade. A complexidade do clima e as características da cultura local
exigem esboçar de forma adequada os condicionantes ambientais próprios deste tipo de espaço, sendo
apenas indicativas as diretrizes propostas para outras regiões.

CONFORTO TÉRMICO

O conforto térmico, para um indivíduo, é a condição de satisfação que ele tem com o ambiente onde se
encontra. O ser humano possui dois mecanismos de regulação térmica para responder às condicionantes do
ambiente: um fisiológico e outro de comportamento. O fisiológico é evidenciado através do suor, batidas
cardíacas, contração de músculos, ao passo que, no de comportamento, as evidências ficam explicitadas através
do sono, cansaço e redução da capacidade de trabalho. O conforto térmico resulta da relação entre padrões
estabelecidos para as características ambientais e as soluções de projeto e construção adotadas para a edificação.
As condições exigidas pelos leitores e pelos livros em relação à temperatura, umidade relativa e movimento
do ar são diferentes. Um dos controles mais importantes, no que diz respeito aos livros e ao material em suporte
eletrônico, é a umidade. Seu excesso produz a formação de mofo, enquanto a secura excessiva toma o papel
frágil. Costuma-se afirmar que a vida provável dos livros atuais pode ser duplicada mantendo-os em um am-
biente entre 30% e 60 %de umidade relativa do ar, sendo 50 %o ideal; também valem essas recomendações
para o material em suporte eletrônico. É importante salientar que 30 % é o limite inferior da segurança para os
acervos. O conforto ambiental para as pessoas consegue-se através de temperaturas do ar entre 20 °C e 23 °C e
a conservação do acervo exige temperaturas nunca superiores a 21,1 oc para suportes em papel e 18,3 °C para
outros tipos de suportes (Trinkley, 2001). Sabe-se, igualmente, que as oscilações de temperatura e umidade são
extremamente danosas a qualquer tipo de acervo. Há muitos dias do ano em que a temperatura e a umidade do
ar variam bastante, podendo serem menores e maiores, respectivamente, às recomendadas, o que obriga a optar
pelo uso de condicionamento artificial nas bibliotecas.

Isolamento térmico do envolvente (fachadas, coberturas e aberturas)

Considerações sobre as características térmicas do envolvente dos edifícios (fachadas e cobertura)


são fundamentais para evitar o consumo demasiado de energia pelo uso do ar-condicionado, assim como
para amenizar as consequências de seu uso excessivo sobre o acervo e os usuários. Hoje, o recurso mais
empregado e eficiente é o isolamento térmico, recomendado tanto para o ganho (verão) como para a
perda (inverno) de calor. Tetos leves, porém isolantes, são recomendados para os climas quentes (regiões
Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste do país) ou com estação quente (região Sul), ambos úmidos.
Se o edifício for usado durante 24 horas, pode-se aumentar a inércia térmica da cobertura - decisão que

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deve levar em conta o preço do material de construção e o preço da energia elétrica. O valor da resistência
térmica (R) recomendado para edifícios condicionados artificialmente é:
a) coberrura,
cor clara R = 1,3 m 2 K/W;
- cor escura R= 1,5 m 2 K/W;
b) fachadas: cor escura R= 1,0 m 2 K/W;
c) edifícios sem condicionamento artificial: R= l m 2 K/W.

As cores claras absorvem entre 30% e 40% da radiação solar (branco sujo, creme, cinza claro). Tá
as cores escuras absorvem entre 60% e 80% da radiação solar (cerâmica vermelha, zinco enferrujado,
fibrocimento escurecido).
Esses valores significam usar as seguintes espessuras de isolante térmico: 28 mm para poliestireno
estrururado, 35 mm para poliestireno expandido e lã de vidro. O isolante térmico deve ser colocado na
cobertura e nas fachadas. Tanto o acervo como os funcionários das bibliotecas sentirão maior conforto
térmico em edifícios corretamente isolados do ponto de vista térmico (Mascaró, J.; Mascaró, L., 1988).
Quando não é possível usar ar-condicionado, a ventilação dos espaços deve ser incorporada ao projeto
arquitetônico. O número de renovações de ar requerido por pessoa (m 3/h) está informado na Tabela 1,
geralmente garantido com ventilação eletromecânica para regime de ventos pobre e irregular.
TABELA 1 -Ventilação mínima necessária
Ar fresco requerido por pessoa (m 3 /h}
Espaço disponível
por pessoa (m3)
Mínimo Valores recomendáveis

3 40,7 61,2
----··
6 25,6 38,5
-
9 18,7 28,1
-----
12 14,4 21,6

Fonte: Rivero, 1985, p. lll (adaptada).

A ventilação natural é difícil de ser obtida satisfatoriamente na maior parte das bibliotecas, porque
os leitores que se sentam perto do perímetro do edifício à procura da luz natural - e por isso, das janelas
abertas- sentirão, provavelmente, o efeito das correntes de ar, ao passo que os do interior do edifício- que
estão protegidos pelas estantes -sentirão seu efeito de maneira diferente. Os projetos de bibliotecas tendem
a ter grandes profundidades, sendo às vezes de forma quadrada para reduzir ao mínimo as circulações. Tais
espaços são difíceis de ventilar na base de abrir e fechar janelas. As correntes de ar excessivas provocam,
aliás, uma perturbação considerável, não só pelo frio no inverno, mas também pelos papéis que voam.
A ventilação eletromecânica torna possível a limpeza do ar por filtração; os filtros devem ser capazes
de reter partículas que excedam um mícron. Isso contribui, em grande medida para a conservação do
acervo em bom estado. O uso do ar-condicionado é uma condição básica da área dos livros raros para
assegurar sua conservação.
Janelas que se abrem com possibilidades de serem reguladas conforme as necessidades da estação,
com peitoril de igual altura ao plano de trabalho- 0,80 m geralmente- fornecem a chamada ventilação de
conforto (verão) para os usuários. Devem ser complementadas com janelas ou aberturas na parte superior
do ambiente para funcionar como ventilação higiênica de inverno, longe dos usuários nesse caso. Ainda

i! • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 57


quando se usa ar-condicionado para climatizar a biblioteca, deve-se prever a ventilação tanto de conforto
como a higiênica, levando em consideração situações tais como a limpeza de manutenção do local ou a
tàlta de energia elétrica (Mascaró, L., 1996).

Iluminação natural

A iluminação é um dos componentes ambientais mais importantes dos espaços da biblioteca, pois
não só permite seu uso adequado (realizar uma tarefa visual de exigência de média a alta), como também
define seu caráter.
Cada área forma parte precisa de iluminâncias diferentes, conforme a taretà visual a ser realizada nela.
Neste texto, apenas será abordada a especificidade do uso da iluminação natural no caso de Porto Alegre.
A disponibilidade de luz natural na região é grande, da ordem dos 20.000 lux no meio-dia do inverno
com céu claro e dos 100.000 lux no mesmo período do dia, no verão. Sob condições de céu encoberto
(50%, em média), esses valores diminuem para 10.000 lux e 50.000 lux respectivamente. Em todos os
casos, são suficientes para fornecer uma iluminância adequada para taretàs visuais de exigência média (500
lux sobre o plano de trabalho).
Grandes espaços, como a wna de estantes, propiciam o uso de iluminação zenital, que pode prolongar-
-se sobre as zonas çle leitura quando o edifício é de planta baixa ou a biblioteca está no último andar. As
zonas de leitura podem fazer uso de iluminação natural lateral quando localizadas na periferia.
A iluminação artificial localizada sobre as estantes e as mesas de leitura é muito conveniente. Grandes
superfícies envidraçadas, sem proteção de radiação solar, provocam o desconforto visual (ofuscan1ento)
e térmico, awnentando indevidamente a temperatura dos locais. É necessário evitar a entrada da radiação
solar direta usando elementos de proteção que a transformem em luz difusa como, por exemplo: estantes
de luz ou brises solei! reguláveis de cores claras (Fell, 2002).

CONFORTO ACÚSTICO

A educação das pessoas que usam a biblioteca é o melhor isolamento acústico que existe. Falar
respeitando a atividade de leitura e de estudo evita uma das principais fontes de ruído aéreo. Sem levar
em consideração a sua torça ou composição de frequência, qualquer som que, numa dada situação seja
indesejável, é considerado como ruído. Não é possível medir, objetivamente, qual é a perturbação que
produzem distintos tipos de som, dado que a conceituação subjetiva do ruído pode variar grandemente. O
ruído produzido por outros incomoda muito mais que o originado pela própria pessoa, ou pelo trabalho
ou pela atividade que se está realizando. Como o ruído tem sobre o homem uma influência notória c,
muitas vezes, daninha, deve ser reduzido. ao mínimo, especialmente em bibliotecas, cuja finalidade é a de
prover um ambiente físico adequado para a leitura ou o estudo.
A determinação do nível sonoro máximo admissível (nível de pressão sonora) para o ruído que penetra
na biblioteca depende do ruído de fundo que, quase sempre, existe no ambiente, causado pelas atividades
que se realizam no edifício. Seu deito é mascarar outros ruídos. Numa sala de leimra, o nível de ruído está
condicionado pela atenção e concentração de seus usuários; assim, por exemplo, um ruído de 25 a 30 dB
não incomoda a leitura, ao passo que é inconveniente a conversação normal entre 50 a 60 dB.
Já para que o ruído proveniente do exterior não seja perceptível na biblioteca, deve estar de I O a 20 dB
por baixo do ruído de fundo e ter, aproximadamente, a mesma distribuição de frequência. Isso significa
janelas e portas devidamente isoladas, porque são estas as partes da editlcação de menor resistência acústica,
ou pela falta de continuidade entre marco e a parede, o~ entre o marco e a folha móvel.

58 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • g


Os ruídos produzidos dentro do edifício- quando a biblioteca forma parte de um prédio maior e com
funções variadas - podem ser tão incômodos como os exteriores, seja os produzidos pelos usuários ou pelas
suas instalações prediais, que podem ser de difícil solução uma vez construído o edifício. Os mídos podem
ser amenizados substancialmente, colocando os locais do edifício com instalações mais bamlhentas o mais
afastado possível da biblioteca ( wneamento ), evitando a localização de dutos e outras partes de instalações
nas paredes que separam a biblioteca e executando sua instalação de forma que os dutos estejam isolados
com material elástico quando não for possível evitar sua instalação nas paredes divisórias (Niilus, 1967).
Acabamentos de piso elástico, ou de piso e forro com absorção acústica, ajudam no controle de am-
biência da biblioteca, devendo ser respeitadas as normas de incêndio na escolha desse tipo de materiais.
O projeto integrado que leva em consideração os diferentes aspectos que devem ser atendidos numa
biblioteca é a melhor solução para os diferentes problemas que precisam ser resolvidos.

REFERÊNCIAS

FELL, José Arthur. Eficiência das estantes de luz nas aberturas: estudo de quatro casos. 2002. 125 f Dissertação
(Mestrado em Arquitetura)- Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2002.
i\1AMBRINI, Honores. Bibliotecas: evolução histórica das tipologias e os aspectos de conforto ambiental. 1997.
160 f. Dissertação (Mestrado em Arquitetura)- Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura, Facul-
dade de Arquitetura, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1997.
M.ASCARÓ, Juan José. Bibliotecas. Porto Alegre: Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Ritter do Reis, 1989.
Relatório de Pesquisa.
M.ASCARÓ, Juan Luis; M.ASCARÓ, Lucia. Uso racional de energia em edificações: isolamento térmico. São
Paulo: Agência para Aplicação de Energia: Secretaria de Obras do Estado de São Paulo, 1988.
M.ASCARÓ, Lucia. Ene1-gta na edificação: estratégias para minimizar seu consumo. 3. ed. São Paulo: Projeto,
1996.
NIILUS, Malle R. V .Aislación acústica en la J>ivienda. Buenos Aires: Centro de Información para la Construcción, 1967.
RIVERO, Roberto. Arquitetura e clima: acondicionamento térmico natural. Porto Alegre: D. C. Luzzatto, 1985.
TRINKLEY, Michael. Considerações sobre preservação na constrnção e reforma de bibliotecas: planejamento para
preservação. 2. ed. Rio de Janeiro: Projeto Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos, 2001.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10152/87: níveis de ruído para conforto
acústico. Rio de Janeiro, 1987.
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 17: ergonomia (117.000-7). Brasília, DF, 1990. Disponível
em: <http://www.mte.gov.br/legislacaojnormas_regulamentadoras/nr_l7.asp>. Acesso em: 9 jan. 2008.

g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 59


Iluminação de bibliotecas

Gilberto José Corrêa da Costa

PERCEPÇÃO VISUAL

Luz e visão são elementos inseparáveis para que o homem consiga perceber visualmente o mundo que
o cerca. Em um ambiente de estudos, com alta exigência da capacidade visual dos indivíduos, a iluminação
deve ser definida como aquele elemento que ao se traduzir em conforto para usuários e equipe da biblioteca,
permite a apreensão de informações disponíveis nos mais variados tipos de registros.

Natureza e importância da luz

Iluminação está ligada a luz, uma necessidade básica da visão. A luz representa para o ser humano
segurança, saúde, conforto e emoção. É através da visão que chegam até o homem oitenta por cento das
informações do mundo externo que, codificadas quimicamente pelo olho, atingem o cérebro, desencadeando
formas de percepção do meio ambiente, variadas segundo cada indivíduo. Naturalmente, as bibliotecas
desempenham para o saber o importante papel de mantenedoras do acervo cultural da humanidade; sendo
a iluminação essencial para a visão, torna-se absolutamente necessário analisar sucintamente o fenômeno
físico da luz e a fisiologia da visão, para que possam ser avaliados os demais aspectos que atuam sobre a
iluminação das bibliotecas, em sua função primordial.
Coube ao físico inglês Newton (1642-1727) realizar os primeiros estudos sobre a decomposição da
luz solar, na clássica experiência da incidência do raio luminoso sobre um prisma em um quarto escuro. 1
Sua experiência, confirmada pelo arco-íris, decompunha a luz do sol em sete cores: violeta, azul-marinho,
azul, verde, amarelo, laranja e vermelho. Mediante o uso de mais um prisma, verificou que a adição dessas
cores resultava na denominada cor branca. Isso contrapunha a opinião científica da época, que apresenta-
va a luz branca como sendo absolutamente pura. Com esse experimento, Newton derrubava, assim, um
conceito arraigado pelas ciências naturais de então e pela primeira vez era realizado um espectro luminoso.
Hoje, qualquer fonte luminosa pode ser analisada pela sua curva de distribuição espectral (Assis, 1996).
Buscando, ainda, conceituar a natureza do fenômeno luminoso, Newton propôs a luz como sendo de
natureza corpuscular, semelhante ao movimento de uma bola de bilhar que muda a direção ao bater sobre a
borda da mesa (esse exemplo simula a reflexão). Entretanto, à medida que a ciência progredia, verificava-se
que a teoria da luz como sendo uma partícula não atendia à explicação de determinados fenômenos físicos e,
dessa forma, surgia a ideia de que a luz devesse ser de natureza ondulatória. 2 Sem entrar em detalhes, hoje é
aceito o fato de que a luz pode comportar-se ora como onda, ora como partícula, dependendo da situação.
Por exemplo, quando a luz é refletida por uma superfície, seu comportamento é sob a forma de partícula
(fóton), mas quando passa através do vidro, seu comportamento obedece às leis dos fenômenos ondulatórios.

1 Em carta enviada ao seu editor, Isaac Newton, comentando sobre luze cores, afirma (apud Assis, 1996, p. 17): "No começo

do ano de 1666 (época em que me dedicava ao polimento de vidros ópticos de outras formas além da esférica), obtive um
prisma de vidro triangular para tentar observar com ele o célebre fenômeno das cores".
2
Uma onda pode ser compreendida por uma experiência simples. Um lençol tranquilo de água- como, por exemplo, a super-
fície de um lago, de uma piscina ou mesmo de uma bacia- pode ser perturbado quando se joga um objeto em sua superfície
(uma pedra), criando ondas que se propagam a partir do ponto em que o objeto caiu. O movimento ondulatório provoca,
portanto, uma perturbação no meio físico.
Parece, à primeira vista, que esse assunto não interessa. Na verdade, é importante que o bibliotecário
tenha conhecimento de que a luz é o resultado da adição de cores e que essas cores influem não somente
no mecanismo da visão, como também na conservação de objetos que tenham natureza orgânica. As cores
estão presentes não apenas na luz solar, mas também nas lâmpadas e nos revestimentos das superfícies.
Depreende-se desse fato que o exame da decomposição da luz em radiações é muito importante.
Entende-se por espectro luminoso visível uma gama de cores que começa na cor violeta e sucessiva-
mente passa para azul, verde, amarelo, laranja e vermelho, nessa ordem. No início e no fim dessa faixa
colorida encontram-se radiações que não são visíveis ao olho humano: o ultravioleta e o infravermelho.
A ciência da óptica física explica que a energia produzida pelas radiações diminui à medida que há o des-
locamento do ultravioleta para o infravermelho, isto é, que a radiação ultravioleta causa mais impacto na
matéria orgânica do que a radiação infravermelha. Isso para o bibliotecário é importante, pois os livros e
os documentos são formados com esse material.
A observação do comportamento da luz solar durante o dia mostra que, na aurora e no crepúsculo,
existe uma predominância das radiações vermelhas e que, ao redor do meio-dia, a luz é mais branca. Isso
tàz com que exista uma maquiagem própria para o dia (mais "leve") e outra para a noite (mais "acentua-
da"). Os maquiadores e o sexo feminino sabem que a maquiagem é feita em função da temperatura da cor.
Ao meio-dia, o sol apresenta uma cor de luz branca, que tende para a radiação azul, ou seja, a cor da
luz solar muda constantemente desde o nascer ao pôr do sol. Esse fenômeno não ocorre com as lâmpadas,
que mantêm as cores do espectro característico ao seu tipo. A iluminação teatral é um bom exemplo, visto
que em todos os teatros de qualidade a iluminação é igual em todo o mw1do. Isso tàz com que cenários,
figurinos e maquiagem dos atores sejam sempre os mesmos, mantendo uma reprodução uniforme do es-
petáculo, sob o ponto de vista luz. Na luz artificial, as lâmpadas incandescentes têm um espectro que tende
ao vermelho, ao passo que as lâmpadas fluorescentes têm wn espectro variável, conforme a composição
dos pós que revestem o interior do tubo de vidro. A cor da luz artificial é, dessa forma, praticamente cons-
tante para uma mesma fonte de luz. Assim, escolher a lâmpada correta é uma decisão que influi na visão.

O processo visual

É uma prática comum associar o olho humano ao funcionamento de uma máquina fotográfica. O
desenvolvimento da tecnologia, a partir do advento da televisão, permite que essa analogia seja mais
adequada quando feita para a câmera de vídeo colorida. Tal como a câmera de vídeo, o olho hwnano tem
algumas características que lhe são similares e, em muitos aspectos, superiores. O olho humano tem um
sistema refratar (composto por líquiqos e lente), que conduz a imagem à retina. A retina, por sua vez,
tem sensores (cones e bastonetes) capazes de se adaptar à luz forte, sensibilizando-a proporcionalmente
a três cores: vermelha, verde e azul (de maneira análoga ao da câmera de vídeo colorida). Quando a
luz é muito intensa, a pupila se contrai e até as pálpebras se fecham, devido a um processo natural de
preservação da retina. A visão de cores é denominada fotópica, sendo os cones responsáveis pela visão;
já a visão da noite é denominada escotópica. Nesse caso os bastonetes, muito mais sensíveis do que os
cones, permitem uma visão de claros e escuros. Quando a iluminação é muito baixa, os sensores colori-
dos não conseguem ser sensibilizados adequadamente, atuando outros que reproduzem a imagem em
tons variados de cinza (tal como nwna câmera em preto e branco), passando do preto ao branco. Além
disso, o olho tem a capacidade de focar os objetos distantes e próximos, assemelhando-se, novamente,
com a câmera de vídeo. Mas a comparação termina aí. Para dar uma ideia da complexidade da retina, é
necessário considerar que a quantidade de sensores presentes em cada olho é de 125 milhões. A informa-
ção contida nesses sensores é pré-processada de forma que um milhão é repassada ao nervo óptico- ou
seja, existe uma compressão de 125: 1 e, mesmo assim, essas informações mantêm sua integralidade. No
terreno neurológico, o sentido da visão é o mais conhecido, mas muito e há ainda a elucidar.

62 • JUS SARA PEREIRA SANTOS (Org.) • Sl


Uma vez identitlcada, a imagem é conduzida pelo nervo óptico ao cérebro sob a forma de impulsos
elétricos que atingem o córtex visuaP (do ponto de vista anatômico, o córtex visual está localizado na parte
de atrás do cérebro), que, por sua vez, encaminha-a às demais regiões do cérebro de forma simultânea.
Por exemplo, o ato de pegar um livro com a mão influi em vários mecanismos nervosos. Primeiramente,
a seleção do livro e a mentalização de seu possível conteúdo. Movimentos musculares atuam conforme
os movimentos de aproximação do corpo, dos braços, da mão e dos dedos, bem como uma avaliação do
peso do objeto. Entretanto, essa atuação motora será acompanhada do motivo pelo qual existe o interesse
no livro, isto é, a emoção que esse livro poderá proporcionar, seja sob a forma de tlcção ou não. Atuam,
assim, vários subsistemas nervosos nesse gesto de natureza comum.
Convém também observar que, paradoxalmente, a radiação luminosa não é visível. O sol nos envia a
sua luz, mas o espaço é completamente negro. Para a radiação luminosa tornar-se visível, é necessário que
a luz da fonte luminosa (sol ou lâmpada) atinja diretamente a retina, ou, de forma indireta, que ela atinja
pela reflexão dos objetos. A nave espacial e o astronauta são visíveis porque as suas superfícies refletem a
radiação proveniente do sol; uma parede é verde porque absorve todas as demais radiações, exceto a verde,
que é por ela refletida. Esse é um fenômeno físico importante que possibilita a visão. No entanto, quando a
luz preenche todo o espaço, é impossível ver. Exemplo disso é a dificuldade do homem em enxergar em um
ambiente repleto de nevoeiro, porque as partículas de vapor d'água refletem toda a luz que sobre elas incide.
Em termos psicofísicos, a percepção visual é uma atividade extremamente complexa, sendo lícito
afirmar que a visão é executada no cérebro. O olho é, na verdade, apenas um magnífico transdutor, que
transforma uma imagem externa em impulsos de namreza nervosa que são encaminhados a todo o córtex
cerebral. Esse, como um manto, cobre as superfícies dos hemisférios, com uma espessura de apenas três
milímetros, sendo constimído por várias camadas paralelas umas às outras, pleno de fissuras e sulcos.
Cérebro e corpo estão ligados um ao outro quimicamente, através de substâncias hormonais que circulam
na corrente sanguínea. Assim, a visão, atuando como uma janela para o exterior, é o primeiro umbral das
nossas emoções. A forma, entretanto, com que essa fronteira age para dentro de nosso corpo, no sentido
amplo de sua atuação, é uma interrogação sobre a qual a neurobiologia se debruça há anos, ou seja, o cé-
rebro é mais do que lógica pura, sendo o computador uma ideia extremamente imprecisa da sua atuação.
Ao trabalhar com iluminação, o profissional deve ter isso bem presente e consciente. Oportuno mencionar
que a memória é um repositório importante de nossas experiências vividas, o que faz com que não nos
enganemos com a visão. Por exemplo, distinguimos um objeto da sua fotografia porque o cérebro aprende
a ver tridimensionalmente, de forma a não nos iludirmos com uma representação bidimensional. Mas isso
nem sempre é verdade. Quando estamos dentro de um trem, paralelo a outro que está parado, somos às
vezes enganados pelo movimento do outro, à medida que ele ganha velocidade lentamente. Somente um
segundo depois verificamos que permanecemos parados c que não estamos nos movendo.

PRODUÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DA LUZ

foi somente com o desenvolvimento da eletricidade que começaram a surgir as lâmpadas elétricas,
inicialmente de natureza incandescente. No tocante ao interesse da iluminação de bibliotecas, existem duas
tecnologias que devem ser mencionadas, já que, no momento, são as mais empregadas: as lâmpadas incandes-
centes e as lâmpadas fluorescentes. Entretanto, como o mercado evolui de forma rápida, nada impede que no
futuro existam outros modelos de lâmpadas mais adequados. Para cada um desses tipos existem prós e contras.

3
Interessante mencionar que no trajeto de condução ao córtex visual existe um pré-processamento de alerta desenvolvido pela
amígdala cerebral. Uma das fi.mções da amígdala é dar lllTia primeira advertência ao perigo, aruando no nível do subconsciente. Por
exemplo, quando alt,ruém nos mostra subitamente \llTia aranha de plástico, somos levados ao susto; no entanto, quando a visão é
processada no cérebro e tomamos conhecimento de que se trata de lll11 modelo, as nossa~ defesas naturais de preservação diminuem.

1! • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 63


Lâmpadas incandescentes

As lâmpadas incandescentes baseiam-se no aquecimento de um filamento até a incandescência. Apre-


sentam uma luz agradável e teoricamente são ditas como as que melhor reproduzem a cor- isso, na verdade,
não é bem assim, e foge ao escopo deste livro uma abordagem mais pormenorizada (mais detalhes podem
ser examinados em bibliografia específica sobre iluminação e cor-4). Seu uso é, sobretudo, residencial, pela
facilidade de substituição. Elas também se encontram em vários formatos de bulbo, sendo espelhadas ou
não. Entretanto, as lâmpadas incandescentes produzem muito calor (90% é radiação infravermelha, isto
é, só aproximadamente 10% é luz), mas emitem muito pouco de radiação ultravioleta.
Uma variante da lâmpada incandescente é a lâmpada halógena, que tem normalmente um facho
luminoso dirigido e concentrado, como é o caso dos projetores de diapositivos. Devido ao alto calor pro-
duzido e direcionado pelo facho, a lâmpada halógena pode apresentar um refletor dicroico que permite a
passagem de parte da radiação infravermelha, refletindo a radiação luminosa. Por essa razão, as lâmpadas
halógenas são empregadas na iluminação de interiores c de vitrines; entretanto, o calor gerado deve ser
retirado do ambiente, por meio de sistemas de condicionamento de ar. Saliente-se que a lâmpada halógena
com refletor dicroico não elimina calor, mas apenas o desloca para outra direção.
O uso das lâmpadas incandescentes - sejam do tipo padrão, halógenas ou halógenas com refletor
dicroico- em bibliotecas de uso público deve ser examinado com extrema cautela. Em bibliotecas parti-
culares, seu emprego pode ser interessante, desde que sejam tomadas medidas cautelares que não venham
a expor as obras ao risco de dano, sobretudo se forem de caráter raro (uma outra solução muito onerosa
seria a adoção de iluminação usando fibras ópticas).

Lâmpadas fluorescentes

Lâmpadas fluorescentes são baseadas no princípio da descarga elétrica através dos gases. Normalmente
apresentam um formato cilíndrico (tubular) linear, mas hoje se encontram, também, lâmpadas circulares (to-
roidais). Sendo a radiação produzida, sobretudo, de origem ultravioleta, é necessária a sua conversão para luz
visível, o que é realizado pela adição de pós de fósforo com terras raras. A composição do pó originará a cor de
luz emitida por esse tipo de lâmpada e a sua qualidade de reprodução de cor. Entretanto, seu desprendimento
de calor é muito menor. É impossível tocar em uma lâmpada incandescente depois de acesa durante algum
tempo, já uma lâmpada fluorescente, nas mesmas condições, apresentará no tubo uma temperatura morna.
A~ lâmpadas fluorescentes exigem o emprego de um acessório para o seu funcionamento, denomi-
nado reator. Sendo a instalação mais complexa, exige conhecimento técnico. Modernamente as lâmpadas
compactas vêm superando essa dificuldade, pois, ao incorporar os acessórios no seu interior, sua substi-
tuição doméstica é similar ao de uma lâmpada incandescente, com um consumo bem menor de energia
elétrica. Para iluminar um mesmo ambiente é preciso uma quantidade de lâmpadas bem menor do que as
incandescentes, sem falar no calor produzido.
Diz-se que as lâmpadas fluorescentes têm índices de reprodução de cor referenciados com ilumina-
ção incandescente, o que, em nível de rigorismo técnico, não é absolutamente válido. Existem lâmpadas
fluorescentes previstas para uso residencial (sua luz aproxima-se da incandescente) e existem lâmpadas
fluorescentes para uso comercial. Ao recomendar a iluminação de uma biblioteca, é muito importante
que o projetista forneça todos os dados relativos à lâmpada, incluindo o índice de reprodução de cor, que
deve ser no mínimo de 85%, bem como uma temperatura de cor de 3.500 a 4.500 K. 5 A substituição de
• Consultar, por exemplo, Costa (2006, p. 63-79), que aborda o tema de forma exaustiva e inédita no Brasil.
5
Kelvin (K) é uma unidade de temperatura absoluta e está relacionada com a equação de Planck. Uma lâmpada incandescente
apresenta uma temperatura de cor de 2.700 a 3.000 K; a luz do dia apresenta no zênite uma temperatura de cor de 6.000
K, extremamente branca.

64 • JUSSARAPEREIRASANTOS (Org.) • i!
uma lâmpada fluorescente implica que a lâmpada nova seja do mesmo modelo e do mesmo fabricante,
sob pena de que o resultado com a iluminação não tenha o mesmo efeito da originalmente projetada.
Em resumo, nas bibliotecas de uso público devem ser empregadas lâmpadas fluorescentes com excelen-
tes índices de reprodução de cor (o melhor possível de ser encontrado no mercado) e com um mínimo de
radiação ultravioleta. Nas bibliotecas particulares podem ser empregadas lâmpadas incandescentes. Todavia,
dependendo do cliente, o uso de fibras ópticas pode também ser uma aplicação interessante, pois a fonte
luminosa é em geral de origem incandescente, mas as radiações infravermelhas e ultravioletas podem ser
praticamente eliminadas. Seu emprego, no entanto, é caro e exige um conhecimento muito especializado.
Existem, evidentemente, outros tipos de lâmpadas que não encontram aplicação em bibliotecas.

Luminárias

A luminária é o componente cuja finalidade principal é distribuir a luz emitida pela fonte luminosa,
além de proporcionar suporte e ligação elétrica à lâmpada, controlar e distribuir o fluxo luminoso, manter a
temperatura de operação dentro de limites recomendados, facilitar a instalação e a troca da lâmpada, ter apa-
rência agradável e apresentar um rendimento elevado associado a um controle de ofuscamento. O fabricante
apresenta, no seu catálogo, vários modelos com a sua respectiva aplicação para o tipo de lâmpada considerado.
As luminárias destinadas ao uso interno (residencial ou comercial) podem apresentar uma iluminação
direta, semidireta, difusa, semi-indireta ou indireta. Quando a luz se dirige só para baixo, a luminária é
dita do tipo direto; quando só para cima, é do tipo indireto; quando para todas as direções, é do tipo
difuso. Na iluminação direta deve haver a preocupação para que a luz não provoque ofuscamentos. O
ofuscamento pode ser direto ou refletido. Por ofuscamento direto entende-se aquele em que os raios lu-
minosos da fonte atingem diretamente a retina; por ofuscamento refletido, aquele proveniente da reflexão
de uma superfície muito iluminada. Atenua -se o ofuscamento direto pela colocação de grades ou difusores
(superfícies translúcidas polidas) na frente das lâmpadas; já o ofuscamento refletido é mais difícil de ser
atenuado, e a forma mais adequada de fazê-lo é deslocar a superfície de trabalho, de forma a evitar a refle-
xão. O ofuscamento pode causar desde uma sensação de desconforto até a impossibilidade de enxergar,
como se existisse um véu na frente dos olhos. Por exemplo, quando uma pessoa conhecida está próxima
de um fundo profusamente iluminado, distingue-se a sua silhueta, porque o olho se adapta naturalmente
entre um fundo claro e um objeto escuro. A entrada em um túnel escuro, num dia de extrema claridade,
impede, momentaneamente, a visão de seu interior. São casos particulares de ofuscamento.

Acessórios

Existem, ainda, sistemas que empregam fotocélulas que têm a missão de acender as lâmpadas na medida
de sua necessidade. Quando associados com os reatores dimerizáveis, são capazes de controlar a ilumina-
ção das lâmpadas, compatibilizando-a com o nível da iluminação solar. Da mesma forma, há também os
detectores de presença, que acendem as lâmpadas quando há movimento de pessoas. Esses dispositivos
concorrem para a conservação da energia, significando redução no faturamento ("conta da luz").

LUZ DO DIA

A luz do dia, também conhecida como iluminação natural, desempenha um papel importante para
a humanidade, tendo o sol uma função vital no mundo. Entendo a luz natural como aquela proveniente
não somente do sol, mas também das estrelas e da lua. Por isso, a meu ver, luz do dia é um termo mais

g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 65


adequado, pois se refere ao aproveitamento da luz do sol para iluminação. Antes do advento da iluminação
elétrica, os projetos arquitetônicos sempre eram previstos com grandes aberturas para permitir a entrada
da luz solar, visto que a iluminação artificial, de natureza principalmente incandescente (baseada no fogo),
nem sempre resultava num iluminamento adequado às taretàs visuais.
Sabe-se que a luz do dia não é uniforme, pois varia em função de como se encontra o céu (claro, com
nuvens, chuvoso, etc.), da época das estações do ano (resultando em dias longos no verão e dias curtos no
inverno) e do movimento aparente do sol (resultando numa variação do espectro solar). A combinação desses
iàtores, bem conhecida, é variável e, por que não dizer, caprichosa. Alguém poderá comentar que o termo
"aleatório" talvez seja mais adequado. Entendo que, pela impossibilidade de controlarmos o clima como
gostaríamos, o termo "caprichoso" seja aquele que reflita a nossa impotência diante das condições do tempo.
Daí resulta que o cálculo da iluminação baseada no sol fundamenta-se numa probabilidade estatística
na qual os eventos são de ditlcil previsão. Isso, entretanto, não impede que qualquer cálculo de iluminação
possa iàzer uma estimativa do seu emprego e da sua contribuição ao ambiente.
Na iluminação natural existe um objeto estático (que é o prédio) e um outro móvel (que é o sol),
justamente a fonte luminosa. A forma de seu emprego dependerá do nível de sofisticação dos controles
que serão adotados, pois se o sol não pode ser controlado, é o recinto que deve ser. Na sua forma mais
simples, o controle da luz do dia é realizado justamente no prédio, mediante o emprego de quebra-sol, de
persiana, de cortina; na sua forma mais complexa, através do uso de fotocélulas e de sistemas dimerizáveis,
que manterão a iluminação dentro dos níveis de iluminação recomendados.
O uso da luz do dia, além de contribuir para a conservação energética, propicia a manutenção de um
luz variável que satisfaz a natureza psíquica do homem. Essa luz introduz um dinamismo e uma atmosfera
no ambiente aprazíveis para a existência. Dessa forma, a luz do dia atende a uma necessidade psicofisio-
lógica. Sua variação, por ser imprevisível, tira o ser humano de uma rotina e de uma monotonia que a
luz artificial geralmente introduz. Por esse motivo, deve-se prever que as condições de leitura de uma
biblioteca estejam próximas das janelas, permanecendo as estantes nos locais mais escuros, iluminados
pela luz artificial. Isso também vem ao encontro da conservação dos livros e documentos. A luz solar é
aquela que tem a radiação ultravioleta mais intensa, e seu emprego exige, nesse caso, muita cautela. É uma
experiência muito comum deixar uma roupa branca molhada ao sol, para torná-la ainda mais branca. Essa
transformação deve-se à radiação ultravioleta, que desbota a roupa em questão.

APLICAÇÃO EM PROJETOS

O que é iluminar? Para o homem, iluminar significa colocar a luz certa, no ponto certo, no momento
certo. Dito assim é fácil. Na prática é uma atividade complexa. A luz certa exige que o especialista em
iluminação conheça não somente as fontes existentes no mercado, mas também as luminárias.
No caso de bibliotecas, são recomendadas as lâmpadas fluorescentes, que apresentam ótimo desempe-
nho quanto à reprodução de cor. As luminárias, por sua vez, devem ser de natureza tal que não provoquem
ofuscamentos indesejáveis. Isso se consegue através de uma altura de montagem elevada ou, então, com a
escolha de luminárias antiofuscantes (um especialista em iluminação deve saber como usar uma grandeza
denominada luminância).
O ponto certo onde colocar a luz delimita-se em função da tarefa visual que está sendo apreciada. A
iluminação das estantes deve ser realizada ao longo dos corredores, entre as estantes e de forma contínua.
Já a iluminação das mesas deve ser estudada para atingir a superfície do tampo, sem provocar sombras
rútidas que vão ocasionar uma fadiga visual.
Finalmente, o momento certo se refere ao uso da biblioteca. Para tanto, preferencialmente, deve haver
uma compatibilização com a luz do dia, de tal maneira que exista uma conservação energética. Caso a
biblioteca apresente compartimentos ou saletas individuais para consulta, deve ser previsto um sensor de

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presença, que somente ligará as luzes quando houver movimento, independentemente da ação do cliente.
Medidas como essas reduzirão as despesas operacionais, que implicam diretamente no fàturamento do
uso da energia elétrica. Trata-se, na verdade, de uma gestão energética.
Ao realizar um projeto de iluminação, o bibliotecário deve informar todos os detalhes possíveis a respeito
de quais atividades são desenvolvidas na sua biblioteca. O especialista em iluminação, por sua vez, deve não
somente compreender essas atividades, como também se colocar na situação do usuário. Para tanto, a pergunta
trivial de seu grau de satisfação deve ser uma constante: estarei satisfeito? O bibliotecário deve realizar tantas
reuniões quanto forem necessárias perguntando sobre o posicionamento das luminárias em função da ilumi-
nação, visto que antes o especialista forneceu todos os dados pertinentes às fontes e às próprias luminárias.

Tarefa visual

Por tarefà visual entende-se aquilo que o olho humano deve fazer para atingir os objetivos propostos.
Numa biblioteca, a tarefà visual mais importante é a leitura; após, as anotações. A leitura pressupõe desde
a atividade de buscar uma ficha catalográfica, a pesquisa da obra nas estantes, até o local onde, de maneira
confortável, tomará ciência do conteúdo e o registro da informação, objeto da sua consulta.
Os materiais de leitura apresentam uma ampla diversidade. Livros infantis, por exemplo, são normal-
mente apresentados com caracteres grandes, pouco texto e muitas gravuras, com um bom contraste entre
o fundo e a letra. Preferencialmente, o fundo deve ser opaco, para evitar ofuscamentos por reflexão, mas
os periódicos, em geral, têm fundo brilhante (isso exige controle de ofuscamento). Jornais são impressos
com tipos menores, em papel que tende a ficar amarelecido com o passar do tempo (isso exige mais luz).
Tarefas de escrita podem ser manuais ou computadorizadas, o que exige- no caso da primeira- que as
sombras nítidas sejam evitadas e- no segundo caso- que o ofuscamento sobre o vídeo seja atenuado.
A pesquisa junto às estantes exige que se possa ver um título desde uma obra colocada na prateleira
superior até uma obra disposta na prateleira de baixo. Isso implica uma iluminação principalmente vertical.
Observe-se que a leitura se fará a partir do titulo da obra, do nome do autor até o número de chamada
colocado, posteriormente, segundo a classificação decimal. Essa escrita deve ser tal que tenha um tama-
nho adequado às demais informações da lombada e um elevado contraste. Por essa razão, recomenda-se
uma iluminação t1uorescente entre os corredores das estantes e de forma continua, o que permitirá uma
uniformidade de iluminação vertical. O especialista deve tàzer uma análise da curva de distribuição foto-
métrica da luminária, o que nem sempre é fornecido pelo fabricante. O cálculo da iluminação deve levar
em consideração que existe uma fileira contínua de luminárias (Costa, 2006, p. 341-349).
Uma questão mais complicada é o uso de terminais ou computadores. O advento dos vídeos invertidos
-isto é, fundo branco sob letras pretas- em muito reduziu os problemas de ofuscamentos por reflexão (o
observador focalizava ou o fundo e via a imagem das luminárias, ou o texto, o que provocava uma fàdiga
visual). Por essa mesma razão, os vídeos devem ficar localizados de forma tal que impeçam a visão da luz
externa proveniente das janelas. Existem mais algumas observações a considerar. Além da luminosidade
do vídeo, há ainda aquela referente ao teclado e ao texto escrito que está sendo utilizado. Nem sempre o
controle é tãcil. Uma lâmpada de mesa, incandescente, com direcionamento e controle de luz variáveis,
permitirá um ajuste adequado por parte do usuário.

Níveis de iluminação

Os níveis de iluminação são estabelecidos através da grandeza totométrica denominada iluminância,


na w1idade lux. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), por meio da NBR 5413/90: ilumi-
nância de interiores, fornece valores específicos para bibliotecas na Subseção 5.3.5. Esses valores devem

g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 67


ser cuidadosamente avaliados. A Illuminating Engineering Society da América do Norte (Iesna) fez uma
cuidadosa revisão quanto a esta questão e incluiu a recomendação de que os valores de iluminância eram
apenas uma parte da questão ligada à quantidade da iluminação, mas não quanto a sua qualidade. No
entender dessa sociedade, são os aspectos qualitativos que devem ser examinados primeiramente; somente
após, os quantitativos (Rea, 2000).
Voltando ao caso brasileiro, a NBR 5413/90 (Associação ... , 1990) considera:
a) salas de leitura: mínimo 300, médio 500 e máximo 750 lux;
b) recinto das estantes: mínimo 200, médio 300 e máximo 500 lux;
c) fichário: mínimo 200, médio 300 e máximo 500 lux.

Deve-se entender que o lux é uma medida de iluminação fotométrica de caráter quantitativo. Por
outro, a Tabela 2 da referida norma considera que, além dessa avaliação quantitativa, deve ser feita uma
outra, de natureza qualitativa. Nesse caso, os fatores a serem levados em consideração englobam a idade
do observador (pessoas com idade acima de 60 anos devem ter uma iluminação mais elevada), a velocidade
e precisão da tarefa (no caso de bibliotecas é pouco pertinente, pois se presume que o observador tenha
tempo para realizar a leitura) e a refletância do fundo da tarefa (documentos amarelados exigem mais luz
para a leitura, principalmente se o contraste for baixo). 6 Esses argumentos colocados na NBR 5413/90 são
interessantes de serem cotejados com aqueles da Iesna.
Para a Iesna, o projeto deve ter como muito importantes os seguintes pontos: os ofuscamentos
direto e refletido, a natureza e distribuição das fontes luminosas e luminárias, a reprodução da cor e a
integração da luz artificial com a luz do dia. Como importantes, os seguintes: o espaço e a aparência das
luminárias, a distribuição da luz nas superfícies e a uniformidade da luz sobre o plano de trabalho. Os
valores quantitativos de iluminância são de 300 lux, tanto no plano horizontal quanto no vertical. Por
que a Iesna propõe apenas um valor? Porque considera que em iluminação não existe um mínimo, e sim
um valor normal a ser atendido e um excepcional, que seria o dobro do recomendado, isto é, 300 ou 600
lux. O valor de 600 lux seria indicado nos casos em que a maioria dos usuários se encontra numa faixa
superior aos 60 anos, como é o caso de bibliotecas de lares de idosos. Além disso, a revisão da edição de
2000 admite que os valores de iluminância anteriores eram elevados e que a vista humana pode operar
com valores mais baixos. Isso se deve ao fato de que está sendo cada vez mais comum o uso de terminais
de computador, que exigem uma menor iluminação, com o fim de reduzir o ofuscamento. É um ponto
polêmico interessante, mas que não deixa de apresentar validade.
A análise da tarefa visual pressupõe que sejam determinados os planos de trabalho horizontal ou ver-
tical. A escolha de um livro numa estante opera em um plano vertical, ao passo que a leitura sobre a mesa
opera no plano horizontal. Como a iluminação vertical é bem mais exigente, é muito provável que, ao
longo dos corredores das estantes, tenham-se níveis da ordem de 500 a 600 lux na horizontal. Sua medição
é feita por meio de um aparelho denominado luxímetro. O luxímetro tem uma fotocélula que é colocada
vertical ou horizontalmente, segundo o desejo da medição a ser efetuada. Quando se tratam de salas que
apresentam dispositivos de multimeios, a luz deve ser ajustada segundo essas diferentes necessidades.
Um bibliotecário deve considerar as seguintes áreas quanto à iluminação: leitura, estudo individual,
grupos de estudo, prateleiras e estantes (livros, catálogos, revistas e jornais), mesas de circulação, salas
para conferências (seminários ou apresentações), escuta de áudio, terminais de vídeos ou de televisão,
escritórios, arquivos, mapotecas, mostruários, acessos e vestíbulos de entrada.
6
Para maiores detalhes, consultar Costa (2006, p. 215-224).

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Acervo de obras raras

É oportuno fazer um comentário a respeito de obras raras. O livro é praticamente constituído de matéria
orgânica: papel, couro, tinta, cola, etc. Não apenas a iluminação, como também a temperatura e a umidade
devem apresentar um controle significativo. Dessa forma, a climatização de uma biblioteca é uma necessidade
imperiosa. Entretanto, quando essa biblioteca apresenta obras raras, os cuidados devem ser redobrados.
Em termos de iluminação, viu-se que, quanto mais existirem radiações azuis, violetas e ultra violetas,
maiores são as preocupações para que não haja o desbotamento das cores. Todo cuidado é pouco. Quando
uma obra rara é exposta durante lO horas por dia, é necessário que essa iluminação seja de no máximo
50 lux, isto é, a sala deve ser colocada numa posição em que naturalmente o usuário tenha fácil adaptação
visual. 7 Isso pode ser conseguido se o usuário for naturalmente se adaptando em corredores cada vez mais
escuros. Outro ponto a ser levado em consideração é que uma obra rara pode ser exposta ao longo do
ano com um total máximo de 200.000 lux-horas, isto é, 100 lux durante 2.000 horas ou 200 lux durante
1.000 horas, e assim por diante.
As radiações ultravioletas devem ser praticamente eliminadas; para isso, empregam-se filtros, que de-
vem ser colocados à frente das lâmpadas ou revestir as janelas, pois a luz do dia é a mais rica em radiações
ultravioletas (mais recomendável seria que as salas não tivessem aberturas). Os fabricantes possuem um
dado denominado fator de dano, que leva em consideração a degradação da matéria orgânica. Esse fator é
da ordem de 0,15 para lâmpadas incandescentes, 0,20 para lâmpadas fluorescentes e 0,6 para a luz do dia
com céu nublado, após passar por uma janela contendo um vidro de 4 milímetros de espessura. Como se
vê, é a luz do dia que apresenta o maior fator de dano. Além disso, atualmente começa a surgir a opção
do uso de LED (diodo emissor de luz).
Outro ponto importante é a questão da radiação infravermelha, que provoca calor, mas que pode ser
atenuado por meio do condicionamento do ambiente. O calor provoca uma fragmentação nos compostos
orgânicos, tornando-os frágeis e rachados.

CONCLUSÃO

Para ler e escrever o homem precisa de uma luz que atenda às exigências de sua visão. A luz é um
fenômeno físico que se enquadra dentro do ramo das radiações visíveis e resulta do processo de adição de
cores. A cor é, na verdade, uma sensação criada pelo cérebro em função da composição espectral da luz
solar ou das lâmpadas elétricas artificiais. A cor sofre, ainda, a influência da reflexão das paredes, de modo
que a luz final resulta da integração de todos os elementos que estão presentes no ambiente.
Em bibliotecas de caráter público, a fonte luminosa por excelência é de natureza fluorescente, compa-
tibilizada com os aspectos da temperatura da cor da fonte e de sua capacidade de reprodução da cor. Além
disso, é importante prever uma integração entre luz do dia e luz artificial com o propósito de atender aos
benefícios da gestão energética.
Além das lâmpadas, é necessário analisar as luminárias. Cada tipo de luminária apresenta dados técnicos
indispensáveis ao estudo da iluminação e, em geral, dispõe de espaço físico para a instalação de acessórios.
Esses dados preferencialmente estão contidos na curva de distribuição luminosa, que exige uma medição
rigorosa, realizada por laboratórios especializados. O nível de iluminação é medido através de luxímetros,
após um funcionamento de 100 horas para uma instalação nova.
O que está sendo recomendado é que iluminar não significa apenas colocar luz no ambiente. iluminar é
uma questão complexa que exige o conhecimento do especialista com a tarefa visual e a integração da biblioteca
7Essa questão é tàcilmente compreendida se lembrarmos que, ao sairmos de um local muito iluminado e entrarmos em um
recinto escuro, temos um tempo de adaptação que poderá ser de 15 a 20 minutos.

g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 69


no prédio como um todo. Ao bibliotecário compete esclarecer quais são as atividades executadas na sua biblio-
teca, como forma de mwúciar o projetista sobre todos os dados pertinentes ao processo. Deve, ainda, realizar
uma rewúão fmal de esclarecimento a respeito da função da iluminação e do atendimento das tarefas visuais.
Existem bibliotecas que têm apenas coleções de livros, ao passo que outras incluem não apenas livros,
mas também toda a sorte de documentação, o que implica diferentes espaços, tais como: áreas de micro-
filmes, de multimeios, de periódicos e áreas com acervo de obras raras. Cada uma dessas áreas apresenta
questões específicas de ilunúnação, cuja tarefa visual é caracterizada pelo bibliotecário. Um projeto deve
apresentar não apenas dados relativos à instalação dos sistemas de iluminação, mas também uma descrição
da tarefa visual e do valor de iluminância específico a ser recomendado para cada ambiente, situando-se
entre 300 e 600 lux; entretanto, as obras raras devem ser iluminadas com no máximo 50 lux, admitindo-
-se um dia de 6 horas de exposição.

REFERÊNCIAS

ASSIS, A. K. T. Óptica: Isaac Newton. São Paulo: Edusp, 1996.


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 5413/90: iluminância de interiores. Rio de Janeiro, 1990.
COSTA, G. J. C. da. Iluminação econômica: cálculo e avaliação. 4. ed. Porto Alegre: Edipucrs, 2006.
REA,, M. S. Quality ofthe Visual Environment. In: THE IESNA Lighting Handbook: n::ference.& application. 9th ed. New
York: Iesna, 2000. Cap. 10, p. 10-1 a 10-17; p.12-l a p. 12-ll.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

DAMÁSIO, A. O mistério da consciência. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. Apêndice.
GLEISER, M. O triunfo da razão. In: ___ . A dança do universo. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. Cap. 5, p.
170-171.
GUYNTON, A. C. Neurociência básica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1993.
HUBEL, D. H. Eye, Brain and Vision. New York: Scientific American, 1995.
PHILIPS Lighting Manual. Eindhoven: Lidac, 1993.
THOMPSON, G. The museum environment. London: Butterworth Heinemann, 1994.

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Proteção contra incêndios em acervos

Alexandre Rava de Campos

A IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO

A história das bibliotecas inclui relatos sobre inúmeros sinistros, sendo possivelmente um dos mais
conhecidos o incêndio da Biblioteca de Alexandria. Fundada por Ptolomeu I Sóter, rei do Egito, chegou
a possuir um acervo de 543 mil volumes sob o reinado de Ptolomeu II. Segundo a lenda, a biblioteca foi
destruída pelo fogo em três ocasiões: em 272 d.C., por ordem do imperador romano Aureliano; em 391
d.C., quando o imperador Teodósio I arrasou-a; e, em 640 d.C., pelos muçulmanos, sob a chefia do califa
Ornar I (Schilling, 2003). 1 Esses sinistros foram provocados; no entanto, o fogo pode atacar de surpresa
e a qualquer hora, exigindo do homem um constante aperfeiçoamento dos meios para combatê-lo e/ou
preveni-lo. O fogo não descoberto ou não combatido a tempo transforma-se em incêndio, que somente
poderá ser debelado com eficiência por equipes bem treinadas e dotadas de recursos adequados. Mesmo
assim, vidas podem ser ceifadas ou danos irreparáveis ao patrimônio podem ser consumados.
A prevenção nada mais é do que evitar ou atenuar uma causa. Dessa forma, é, em princípio e antes de tudo,
uma questão de organização e educação, que deve interessar não somente a todos os setores de uma empresa,
organização ou local de trabalho, como deve ser também um assunto extensivo à residência de cada pessoa.
A principal preocupação deve ser relativa à prevenção e, portanto, precisa ser observado um conjunto
de medidas tomadas no sentido de:
a) evitar que ocorra um princípio de incêndio;
b) evitar, caso ocorra, que o incêndio se desenvolva e se propague;
c) garantir a segurança das pessoas, se o incêndio tomar vulto;
d) tàcilitar as operações de combate ao incêndio.

O combate a incêndio em acervos ganha contornos especiais, e suas operações devem ser bem
estudadas; caso contrário, a demora para o início da atuação e a forma de extinção poderão significar
a perda de documentos de valor inestimável. Isso torna fundamental a percepção da ocorrência de um
incêndio incipiente e a utilização de meios de extinção imediatos, empregando recursos que não provo-
quem prejuízos adicionais. É importante o entendimento de como o fogo se processa, para combatê-lo
de forma eficiente c segura.
Dados coletados pelo grupo de pesquisa em Gestão de Risco de Desastres (Grid) do Programa de
Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (apud Fonseca,
20 ll) revelam uma sensível diminuição da ocorrência de incêndios em Porto Alegre de 2000 até 2010.
Segundo a pesquisadora, a diminuição"[ ... ] é associada às diversas ações de prevenção, programas e es-
forços de fiscalização adotadas pelas instituições responsáveis." (Fonseca, 2011, p. 18-19). Depreende-se
que evitar esse tipo de sinistro em bibliotecas dependerá das atitudes conscientes de sua chefia apoiadas
por seus superiores hierárquicos.
1 Documento eletrônico, não paginado.
O FOGO

O fogo pode ser definido como uma reação de oxidação de material sólido, líquido ou gasoso, acom-
panhada pelo desprendimento de luz e calor. Trata-se de uma reação em cadeia, ou seja, que se processa
durante o fogo, produzindo sua própria energia de ativação. Ele é também denominado combustão.
O conhecimento das condições que determinam a ocorrência ou não da oxidação de uma substância
com o desenvolvimento de calor e luz é essencial para a compreensão dos princípios em que se baseia a
ciência do controle e extinção do fogo.
Para que haja combustão ou queima, é imprescindível a existência conjnnta de três elementos essenciais:
combustível) oxigênio e calor, que formam o triângulo tkJ fogo. Na ausência de um desses elementos não haverá fogo.
O primeiro elemento, o combustível, corresponde àquilo que vai queimar e transformar-se, ou seja,
todos os materiais passíveis de entrar em combustão e que alimentam o fogo. Pode-se afirmar, com
pequenas exceções, que todos os materiais podem se transformar em combustível para o fogo: madeira,
papel, tecidos, derivados de petróleo, fios e cabos, etc.
O segnndo elemento é o oxigênio, gás existente no ar que se respira, presente na atmosfera em uma
proporção de 21 %. É também conhecido como comburente. Para haver combustão, é necessário que o
oxigênio contido no ambiente esteja em uma concentração mínima de 13 %.
O terceiro elemento, o calor, corresponde à ignição, isto é, aquilo que faz começar o fogo e é uma
das suas formas .de energia.
Modernamente, em função do estudo da reação de combustão, também se tem adotado a figura do
quadratki tkJ fogo, considerando como quarto elemento a reação em cadeia, entendida como as reações que
se processam durante o fogo, produzindo sua própria energia de ativação (calor) enquanto houver supri-
mento de comburente (oxigênio) e m~terial combustível para queimar.

Métodos de extinção do fogo

Conhecido o triângulo do fogo, pode-se concluir que a continuidade da combustão depende da exis-
tência permanente dos três elementos essenciais: oxigênio, combustível e calor. Portanto, os métodos de
extinção, que se baseiam nesse conceito, admitem quatro possibilidades: retirada do material, extinção
por resfriamento, extinção por abafamento e reação química.
O método de extinção de incêndio conhecido por retirada do material consiste, como o nome indica,
em retirar, diminuir, interromper ou afastar, com suficiente margem de segurança, o material ainda não
atingido pelo incêndio do campo de propagação do fogo.
A extinção por resfriament() é a retirada de calor do material em combustão até um ponto deter-
minado, abaixo do qual ele não queima ou não emite vapores necessários à combustão. Corresponde à
queda da temperatura do material em queima para uma faixa abaixo de seu ponto de combustão, que
é a temperatura mínima em que um combustível em contato com uma chama ou centelha se inflama,
havendo sustentação.
Extinção por abafamento, por sua vez, consiste na eliminação ou redução do oxigênio nas proximidades
imediatas do combustível incendiado, ou seja, no isolamento do combustível do oxigênio do ar. O fogo
se extinguirá por abafamento assim que o percentual de oxigênio baixar a menos de 13 %.
Já a reação química é a ação extintora de certos hidrocarbonetos halogenados e sais inorgânicos que
atuam como agentes extintores, produzindo uma reação que interfere na cadeia de reações realizadas
durante a combustão, rompendo a cadeia e interrompendo a combustão.

72 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • g


Classes de incêndio

Cada corpo combustível entra em combustão com características próprias. Para facilitar os estudos
de prevenção e combate a incêndios, adota-se a existência de cinco classes gerais de incêndio, a saber: os
da classe A, os da classe B, os da classe C, os da classe D e os da classe K.
Os incêndios da classe A compreendem os que ocorrem em corpos combustíveis comuns, do tipo papel,
madeira, fibras, tecidos, etc., que, quando queimam, deixam resíduos, cinzas ou brasas. Eles queimam em
função do seu volume, isto é, queimam em superfície e profundidade, em que o efeito de "resfriamento"
pela água ou por soluções contendo muita água é de primordial importância. Os documentos de bibliotecas
e arquivos são os combustíveis para a existência dessa classe de incêndio. O combate por resfriamento,
por sua vez, muitas vezes danifica o acervo irremediavelmente.
Os incêndios da classe B são verificados em combustíveis do tipo líquidos inflamáveis, como gasolina,
óleo, tintas, etc. Quando queimam, eles não deixam resíduos, e queimam unicamente em razão da sua
superfície. Por isso, o efeito de "abafamento" é essencial, ou então é preciso que o agente extintor interfira
com a reação química na cadeia de combustão.
Os incêndios em equipamentos elétricos «energizados)), tais como motores, transformadores, chaves,
etc., são os da classe C, nos quais a extinção pode ser realizada com agente não condutor de eletricidade,
de forma a evitar o risco de choque elétrico nas pessoas que combatem o sinistro; os agentes indicados
fazem a extinção pelo efeito de "abafamento".
A classe D corresponde aos incêndios em metais combustíveis (ligas metálicas pirofóricas), como magné-
sio, zinco, titânio, zircônio, sódio, potássio, entre outros. Esses incêndios exigem agentes extintores que
proporcionem ótima cobertura e lençol de abafamento; quando em contato com o metal em combustão,
fundem-se formando uma película abafadora.
Por fim, há os incêndios da classe K, que ocorrem com óleos comestíveis, como óleo de soja, gordura
animal em estado líquido, graxa, entre outros, e que são causados pela alta temperatura ambiente pró-
xima a essas substâncias. Esses incêndios exigem agentes extintores que proporcionem ótima cobertura
em forma de lençol de abafamento. Quando em contato com o material em combustão, forma-se uma
espuma biodegradável que tem também a função de baixar a temperatura da substância em ignição e,
dessa forma, evitar a reignição.

PROTEÇÃO CONTRA INCÊNDIO

A proteção efetiva da edificação deve conter as medidas de prevenção de incêndio, que devem ser
consideradas a partir do momento em que se inicia um projeto arquitetônico de um prédio ou quando
se imagina o leiaute de uma instalação, passando, também, pela especificação dos materiais a serem em-
pregados na construção da obra. O programa de necessidades para a construção, reforma ou ampliação
da sede de uma biblioteca deve conter exigências nesse sentido. Assim, por exemplo, será possível o
confinamento de um incêndio pelo isolamento das áreas com portas e/ou paredes corta-fogo ou, então,
minimizar o risco de incêndio utilizando, em maior escala possível, materiais de construção in combustíveis
ou autoextinguíveis. Da mesma forma, a previsão de saídas de emergência poderá evitar que vidas sejam
tragadas pelo fogo, sem esquecer de instalações elétricas que devem funcionar bem dimensionadas, sem
excesso de carga. Esses são somente alguns pontos a merecer consideração, mas, sem dúvida alguma, o
desenvolvimento dos projetos de forma sincronizada, observando as prescrições de segurança contra incêndio,
proporciona considerável redução dos custos de instalação de sistemas futuramente, além de proporcionar
efetiva proteção às pessoas e aos bens materiais.

g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 73


Ao iniciar um projeto de instalação contra incêndio, deve-se ter sempre em vista que os principais
fatores para o êxito da operação de atendimento a uma ocorrência de incêndio estão na rápida retirada dos
ocupantes da edificação e na pronta ação das instalações de combate ao fogo, os quais se supõe, evidente-
mente, tenham sido bem projetados e executados, permitindo fácil e efetivo funcionamento.
Não sendo o incêndio combatido prontamente, é pouco provável que o socorro do Corpo de Bombei-
ros evite danos consideráveis, apesar da presteza com que ele possa atender. A propósito, a instalação deve .
ser realizada de tal modo que possa também auxiliar a ação dos bombeiros, logo que esses intervenham.
De forma genérica, a proteção contra incêndio pode ser dividida em dois grandes blocos: a proteção
passiva e a proteção ativa.
Proteção passiva é todo e qualquer recurso (material, processo construtivo, etc.) capaz de dotar a
edificação de um menor potencial de risco de incêndio ou de que o mesmo adquira grandes proporções,
não constimindo parte integrante da extinção do fogo. São exemplos de proteção passiva: escadas de
incêndio, materiais incombustíveis ou retardantes do fogo, compartimentação (isolamento de riscos),
saídas alternativas, sistemas de detecção e alarme de incêndio, sistemas de iluminação de emergência e
sinalização de saídas, entre outros.
Quanto à proteção ativa, ela inclui todos os recursos (sistemas, materiais, equipamentos, etc.) que
tàzem parte integrante da extinção do fogo. Como exemplo, pode-se citar: extintores de incêndio, redes
hidráulicas de combate a incêndio (hidrantes, sprinklers, etc.), sistemas de extinção por agentes limpos
(Inergen, dióxido de carbono) e outros.
A ação combinada das proteções passiva e ativa de uma determinada edificação, projetadas, especifi-
cadas e implantadas corretamente, instaladas em atendimento às prescrições das normas e regulamentos
técnicos pertinentes e com suas características preservadas ao longo do tempo, determina aquilo que
tecnicamente é denominado proteção efttiva.

Compartimentação e saídas de emergência

A compartimentação, em uma edificação, tem por objetivo isolar áreas de maior risco ou confiná-las.
Através da compartimentação podem ser reduzidos consideravelmente os custos de implantação de sistema
de proteção contra incêndio ·futuramente. A compartimentação é obtida com a utilização de paredes e
portas corta-fogo ou resistentes ao fogo.
As portas corta-fogo são classificadas de acordo com o tempo de resistência ao. calor. Assim, uma
porta tipo P-60 é aquela que mantém suas características integralmente por um mínimo de 60 minutos.
Comercialmente, encontram-se portas corta-fogo tipo P-30, P-60, P-90 c P-120, além de outros tem-
pos de resistência ao fogo mediante encomenda prévia. As portas corta-fogo podem apresentar-se com
dobradiças do tipo helicoidal, que permitem fechamento automático, ou de correr, que possuem um elo
fusível que possibilita manter a porta permanentemente aberta, o qual, quando se rompe, provoca o seu
fechamento automático. As dimensões das portas são as mais variadas, sendo possível confeccioná-las
sob encomenda. Normalmente, nas linhas de produção das fábricas elas são desenvolvidas nos seguintes
tamanhos: 80 em x 210 em ou 90 em x 210 em.
As saídas de emergência devem receber a máxima atenção quando se está tratando da proteção contra
incêndio de uma edificação, pois é através delas que os usuários da biblioteca e seus funcionários poderão
abandoná-Ia de forma protegida e, também, por elas deverá ingressar o auxílio externo (bombeiros). As
saídas devem ter dimensões adequadas c ser muito bem sinalizadas, contando, inclusive, com letreiros
luminosos com baterias independentes.

74 • JUSSARAPEREIRASANTOS(Org.) • g
A prevenção no dia a dia

A maioria das causas dos incêndios é atribuída a dois motivos básicos: instalações com gás de cozinha
(Gás Liquefeito de Petróleo- GLP) ou eletricidade. Por essa razão, serão aqui apresentadas algumas re-
comendações básicas de caráter preventivo acerca desses dois fatores, registrando-se que o primeiro não
se encontra com facilidade em ambientes de bibliotecas:

a) manusear botijões de gás com atenção, evitando que caiam ou sofram pancadas;

b) guardar os botijões em locais limpos, bem ventilados, livres de óleo e graxa, protegidos contra
chuva, sol e outras fontes de calor;

c) afastar os botijões de gás domésticos do fogão, colocando-os, sempre que possível, tora da
casa e conectados com tubulações metálicas;

d) não riscar fósforo nem acender ou apagar as luzes em caso de percepção de vazamento de gás
no ambiente. Na sequência:
- chamar os bombeiros e, se possível, retirar o botijão de dentro do recinto;
arejar o ambiente, abrindo portas e janelas;
- cortar a energia no quadro de entrada de energia (se não estiver na área afetada pelo vaza-
mento); e,
- ficar longe do local onde o gás estiver vazando.

e) ao instalar um novo botijão, usar espuma de sabão para testar se há vazamentos. Jamais usar
fogo para tal propósito. Um lembrete: o sabão não deve ser usado para vedar vazamentos;

f) riscar o fosforo para posteriormente abrir o gás;

g) fechar o registro de gás caso o recinto fique desocupado por um período prolongado.

Com relação às instalações elétricas, é preciso tomar as seguintes precauções:


a) manter as instalações em bom estado para evitar sobrecarga, mau contato e curto-circuito;

b) não usar tomadas e fios em mau estado ou de bitola inferior à recomendada;

c) não fazer ligações improvisadas ("gambiarras");


d) nunca substituir fusíveis ou disjuntores por ligações diretas com arames ou moedas;
e) não sobrecarregar as instalações elétricas com vários equipamentos ao mesmo tempo (com-
putadores, por exemplo), pois os fios poderão aquecer e ocasionar um incêndio;

f) evitar o uso de benjamins (T), sobrecarregando uma única tomada;


g) observar se os orifícios e as grades de ventilação dos aparelhos eletrônicos (e eletrodomésticos
como televisão, videocassete e forno de micro-ondas) não se encontram vedados;
h) não deixar lâmpadas, velas acesas e aquecedores perto de cortinas, papéis e outros materiais
combustíveis;
i) desligar a chave elétrica principal se o local de trabalho ficar desocupado por um período
prolongado.

i! • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 75


Também é importante destacar algumas regras básicas que devem ser observadas no tocante ao arma-
zenamento de materiais inflamáveis, os quais devem ser mantidos longe de fontes de calor e comburente,
sendo guardados em depósito fechado e ventilado e afastados da biblioteca.
O fumo deve ser proibido nas dependências da biblioteca, já que o cigarro pode causar incêndios de
graves proporções por conduzir um dos elementos do triângulo do fogo.
Outra questão preventiva a ser abordada diz respeito à manutenção adequada dos equipamentos, que
devem receber revisões periódicas e lubrificação constantes, de modo a evitar o aquecimento por atrito em
partes móveis, o que cria fonte de calor. Por outro lado, as instalações elétricas às quais esses aparelhos e
equipamentos estarão conectados deverão ser bem dimensionadas, para que não sofram sobrecargas que
resultem no aquecimento dos cabos e fios, provocando curtos-circuitos. Aqui, novamente, o programa de
necessidades para a instalação de uma biblioteca deve conter elementos que permitam à equipe projetista
o dimensionamento correto da carga elétrica total tendo em vista suas necessidades atuais e futuras.
As técnicas de prevenção devem incluir o conhecimento das condições de segurança do local de
trabalho (e de sua residência) e a verificação da posição de todas as saídas. É importante, também, co-
nhecer o funcionamento dos extintores e equipamentos de combate a incêndios e conservá-los sempre
em condições de uso.
Procurar identificar as saídas de emergência e a localização dos equipamentos de proteção pode ser
vital. As portas corta-fogo dos edifícios servem para evitar a entrada de fumaça e calor na escada e nunca
devem ser fixadas com calços ou outros materiais. Outros pontos podem ainda ser ressaltados:
a) não colocar materiais combustíveis ou inflamáveis dentro das escadas;

b) evitar o acúmulo de material inservível ou perigoso (papel, madeira, tintas, plásticos, etc.);
c) manter álcool, gasolina, removedores, ceras e aerossóis longe de fontes de calor;
d) não permitir o fumo no recinto da biblioteca;

e) exigir que o cigarro seja apagado completamente, se jogado na lixeira;

f) dar passagem ao carro de bombeiros no trânsito, pois a emergência pode ser em seu local de
trabalho ou na sua residência.

Em caso de incêndio, devem ser tomados os seguintes procedimentos, a fim de que o sinistro possa
ser encerrado da forma mais rápida e efetiva:

a) ao notar indícios de incêndio (fumaça, cheiro de queimado, etc.), aproximar-se a uma distância
segura para ver o que está queimando e a extensão do fogo;
b) dar o alarme pelo meio disponível aos responsáveis pela administração do prédio efou telefonar
ao Corpo de Bombeiros (telefone n° 193);
c) se não souber combater o fogo ou não puder dominá-lo, sair do local, fechando todas as
portas e janelas atrás de si, mas sem trancá-las, desligando a eletricidade e alertando os demais
ocupantes do andar;

d) não perder tempo tentando salvar objetos: salvar a própria vida;


e) manter-se vestido, pois a roupa protege o corpo contra o calor e a desidratação;

f) procurar alcançar o pavimento térreo do prédio usando a escada, sem correr;

76 • JUSSARAPEREIRASANTOS (Org.) • 2
g) jamais usar o elevador para descer, pois a energia é normalmente cortada e ele poderá ficar
parado, sem contar que existe a possibilidade de ele abrir justamente no andar em chamas, ou
ainda, o fogo alcançar o duto da escada produzindo o efeito chaminé;
h) se não puder sair,
- manter-se próximo de uma janela, de preferência com vista para a rua e sinalizar sua posição;
-fechar, mas não trancar, a porta do cômodo onde estiver;
-vedar as frestas com um cobertor ou tapete para não deixar a fumaça entrar;
- em caso de fumaça, manter-se junto ao chão e utilizar um leóço ou toalha molhada sobre
o nariz e a boca (filtro);
- deixar a fumaça escapar abrindo uma janela (ou quebrando o vidro, se ela for fixa);
-jogar pela janela o que puder queimar facilmente (papéis, tapetes, cortinas, etc.), mas com
cuidado para não machucar quem estiver na rua.

O COMBATE AO INCÊNDIO

Extintores de incêndio são aparelhos destinados à extinção de princípios de incêndio, sendo constituídos
de um recipiente metálico dentro do qual é colocado um determinado agente extintor, podendo, também,
conter um agente expelente. Entende-se por agentes extintores certas substâncias (sólidas, líquidas ou ga-
sosas) que são utilizadas na extinção do incêndio, promovendo pelo menos um dos métodos de extinção
do fogo (resfriamento, abafamento, interrupção da reação química, ou ainda, o uso simultâneo de alguns
desses processos). Entende-se por agentes expelentes as substâncias capazes de proporcionar o acionamento
do extintor, com a expulsão do agente extintor do interior do cilindro. Os agentes extintores devem ser
empregados conforme a classe de incêndio, pois, em alguns casos, sérias consequências poderão ocorrer
se utilizados inadequadamente.
Os extintores de incêndio, de acordo com a sua capacidade, podem ser classificados em: extintores
portáteis, isto é, de peso e dimensões que permitem seu transporte normalmente, e extintores sobre rodas,
correspondendo aos aparelhos maiores, cujo transporte é feito por meio de carretas.
Ainda podem ser classificados, de acordo com a pressurização, em extintores de pressurização direta,
aqueles cujo agente expelente encontra-se no interior do cilindro juntamente com o agente extintor; e em
extintores de pressurização indireta, correspondendo aos aparelhos que possuem ampolas externas para o ar-
mazenamento do agente expelente, permanecendo armazenado no cilindro principal apenas o agente extintor.
A classificação feita de acordo com a capacidade extintora é entendida como a medida do poder de
extinção de fogo de um extintor, obtida em ensaio prático normalizado.
Os tipos de extintores de incêndio mais comuns podem ser apresentados segundo o tipo de agente
extintor que contêm, como será apresentado no próximo item.

Extintores de incêndio com carga de água

São utilizados para combater princípios de incêndio da classe A. Existem dois tipos de aparelhos,
segundo a forma de pressurização:
l) Extintor de Água Pressurizada (AP): tem no seu interior, além do agente extintor (água), a pressão
para seu funcionamento, obtida através da utilização de nitrogênio (N 2 ). Um manômetro instalado em sua
parte superior, junto à válvula, indica a pressão existente no interior do aparelho. É utilizado para extinção
de incêndios de classe A. Deve-se ter o cuidado para não utilizá-lo em equipamentos elétricos energizados,
pois poderá provocar descarga elétrica (choque) no operador do extintor. Possui capacidade de lO litros,

Q • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • n


um alcance médio de jato da ordem de 8 metros (a norma estabelece um alcance mínimo de 4 metros) e
tempo de descarga em torno de 50 a 120 segundos;
2) Extintor de Água Gás (AG): aparelho de pressão injetada dotado de um recipiente externo e anexo
contendo gás carbônico, que fornece a pressão necessária para o funcionamento do aparelho. A válvula
do recipiente de gás, também conhecida por ampola, só é aberta por ocasião da utilização do aparelho. É
empregado na extinção de incêndios de classe A. Deve-se cuidar para não utilizá-lo em equipamentos elétricos
enewizados, pois poderá provocar descarga elétrica (choque) no operador do extintor.
Os cuidados exigidos para que os extintores com carga de água tenham funcionamento ideal são:
a) inspecionar e verificar as condições de acesso pelo menos uma vez por mês;
b) providenciar a manutenção por empresa certificada pelo Instituto Nacional de Metrologia,
Qualidade e Tecnologia (Inmetro ), anualmente, sendo recomendado entregar os extintores
de incêndio totalmente vazios ao prestador do serviço;
c) submeter o extintor a ensaio hidrostático a cada cinco anos, conforme a NBR 13485/99: ma-
nutenção de terceiro nível (vistoria) em extintores de incêndio (Associação ... , 1999).

Extintores de incêndio com carga de espuma mecânica

São utilizados para combater princípios de incêndio das classes A e B. Existem dois tipos de aparelhos, segw1-
do a forma de pressurização: pressurizados (pressurização direta) e pressão injetada (pressurização indireta).
Para formar a espuma mecânica, é necessário água, ar atmosférico e extrato formador de espuma
(preferencialmente de origem sintética) que, ao se agregarem, formam uma espuma e um filme sobre o
combustível, constituindo um dos mais eficazes agentes extintores.
Esse extintor age na classe A (ocorrência em acervos) pelo método de resfriamento; na classe B, por
abafamento. É importante ressaltar que ele pode ser normalmente utilizado em produtos como álcool,
éter, acetona e diferentes tipos de líquidos inflamáveis, além de outros hidrocarbonetos e seus derivados.
O extintor com carga de espuma mecânica é fàbricado em duas versões: com pressurização permanente
(normalmente através de nitrogênio) e com pressurização injetada (com cilindro lateral de dióxido de
carbono- C0 2 ). No modelo de pressurização direta, há um manômetro instalado em sua parte superior,
junto à válvula de descarga, que indica a pressão existente no interior do aparelho.
O manuseio desse tipo de extintor, seja de pressurização permanente, seja de pressurização injetada,
assemelha-se a todos os outros com as mesmas características.
Para que esse tipo de extintor funcione adequadamente, é necessário observar os seguintes cuidados básicos:
a) verificar o acesso ao extintor,-a carga (pressão) e se ele está lacrado, pelo menos uma vez por mês;
b) realizar a recarga, com empresa especializada certificada pelo Inmetro e de confiança, anualmente;
c) submeter o e>.:tintor a teste hidrostático, conforme nonna NBR 13485/99: manutenção de terceiro
nível (JJistoria) em e:x:tintores de incêndio (Associação ... , 1999), a cada cinco anos.

Os extintores de espuma mecânica possuem as seguintes características:

a) capacidade: 9 ou lO litros (mistura de água e Líquido Gerador de Espuma- LGE);


b) carga nominal de agente extintor: 9 ou lO litros (conforme o fabricante);

c) aplicação: incêndios de classes A e B;

78 • JUSSARAPEREIRASANTOS (Org.) • g
d) alcance médio do jato: 5 metros (medida prática, porém não deve ser realizado ensaio para
verificação do alcance do jato por não ser aplicável para esse tipo de extintor de incêndio);
e) tempo de descarga: 50 a 120 segundos;

f) métodos de extinção: abafamento e resfriamento.

Extintores com carga de dióxido de carbono (gás carbônico)- C02

Esse aparelho é constituído basicamente de um cilindro de aço, uma válvula de descarga, uma manguei-
ra especial para alta pressão, um difusor de formato apropriado, além de outras singularidades. A válvula
é montada em sua parte superior, compreendendo um dispositivo para abrir e fechar em forma de gatilho
(ação rápida). O difusor deve ser de material não condutor de eletricidade. Em aparelhos pequenos, até
dois quilogramas, o difusor é montado diretamente na saída da válvula. Nos aparelhos com capacidade a
partir de 4 quilogramas, o difusor é montado juntamente com o punho, na extremidade de uma mangueira,
que deverá ser dotada de trama de aço. o jato dos extintores de co2 tem alcance médio de meio a um
metro, contc>rme o tamanho do aparelho, considerando-se esse um valor prático, pois não é aplicável a
realização de ensaio para verificação do alcance de jato para esse tipo de extintor de incêndio. O extintor
de co2 deve ser empregado, preferencialmente, no combate a princípios de incêndio em equipamentos
elétricos (classe C), por ser um agente extintor que não deixa resíduos,. Entretanto, ele também poderá ser
utilizado em incêndios por líquidos inflamáveis (classe B), desde que em locais confinados. Os extintores
de gás carbônico não apresentam boa eficiência em áreas abertas.

Extintores com carga de pó

O extintor de incêndio com carga de pó, comumente conhecido como pó químico seco, é constituído
basicamente por um cilindro de aço, um tubo flexível de saída de esguicho e válvula de descarga tipo gatilho,
que permite descargas intermitentes. Esse aparelho pode ser do tipo pressão injetada ou do tipo pressurizado.
O extintor com carga de pó do tipo pressurização indireta contém um cilindro externo (ampola)
contendo o agente expelente, podendo ser gás carbônico (C0 2 ) ou nitrogênio (NJ, ligado ao corpo do
cilindro principal, onde se encontra o agente extintor. Esse cilindro, também conhecido por ampola, quan-
do aberto, injeta no recipiente principal determinada quantidade de gás (agente expelente ), pressurizado-o
suficientemente para o seu acionamento. Existem diversos tipos de pó para extinção de incêndio: à base
de bicarbonato de sódio (o mais comum), utilizável para as classes B e C; à base de bicarbonato de po-
tássio ou de cloreto de potássio tratado com um estearato, a fim de torná-lo anti-higroscópico e de fácil
descarga (também para uso nas classes B e C); à base de monofosfato de amônia (para uso nas classes A,
B e C- polivalente); pós específicos para a classe D, além de outros.
O extintor com carga de pó do tipo pressurização direta, por sua vez, contém no interior do recipiente
para o pó o agente extintor permanentemente pressurizado por nitrogênio, que é o agente expelente. Próxi-
mo à válvula, tipo gatilho, existe um manômetro para controle da pressão necessária ao funcionamento do
aparelho. A principal ação do pó é fazer sobre a superfície em chama uma nuvem capaz de provocar o efeito
de abafàmento. Além dessa ação, o pó cai sobre a superfície incendiada e, durante sua queima, há produção
de C0 2 e vapor d'água, que auxiliam na extinção de fogo como efeitos secundários. À semelhança do que
foi exposto para os extintores com carga de pó com pressurização indireta, são empregados diferentes tipos
de pó, aplicáveis a diferentes classes de incêndio.

g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 79


Extintores com carga de halogenado (Fe-36)

Esse extintor foi projetado para proteção de locais que contêm equipamentos sensíveis e delicados,
como centrais de processamento de dados, de armazenagem de documentos, de comunicação, salas de
controle, aviões, centrais elétricas e telefônicas, salas de ressonância magnética, salas com equipamentos
eletrônicos em geral, etc., que podem ser danificados ou destruídos por agentes extintores, tais como:
água, pó químico e espuma química (agentes que deixam resíduos) ou dióxido de carbono (agente que
pode provocar choque térmico). É destinado à proteção e ao combate aos riscos de incêndio das classes
B (líquidos inflamáveis) e C (materiais elétricos energizados).
O extintor com carga de halogenado é fabricado de acordo com a Norma BrasileiraNBR 11762/01:
extintores de incêndio portáteis com Cat;tJa de halogenado (Associação ... , 2001) e contém o gás Fe-36 (HFC-
-236fa), um novo agente extintor enquadrado na categoria dos agentes limpos e que, por isso, não danifica
equipamentos eletrônicos, não causa choque térmico e não deixa resíduo. É leve e fácil de operar, não
agride o meio ambiente, não ataca a camada de ozônio e não contribui para o efeito estufa.

Redes hidráulicas de combate a incêndio

Por ser abundante, de baixo custo e, principalmente, devido a sua grande capacidade de absorver
calor- o que a torna uma substância muito eficaz para resfriar os materiais e apagar o incêndio-, a água
é a substância mais empregada no combate ao fogo.
Entretanto, para o caso de proteção contra incêndio em acervos, é necessário analisar se os sistemas
de proteção contra incêndio à base de água constituem alternativas adequadas, pois a ação da água poderá
provocar prejuízos severos.
No combate ao incêndio, a água poderá ser utilizada sob as seguintes formas: jato) aspersão ou
emulsão com água.
Sob a forma de jato, normalmente, constituem-se as redes hidráulicas de combate a incêndio sob co-
mando, comumente chamadas de sistemas de hidrantes. O sistema é dito sob comando porque o fluxo de
água ao local do incêndio é obtido mediante a manobra de registros localizados junto aos abrigos e caixas
de incêndio. Os registros abrem e fecham os hidrantes, também chamados de "tomadas de incêndio", e
são utilizados através de mangueiras ou mangotes com seus respectivos esguichos e requintes.
A forma de aspersão congrega os sistemas que empregam aspersores especiais, de funcionamento au-
tomático ou manual. Os mais conhecidos são os sprinklers e os projetores. O sistema de sprinklers consiste,
basicamente, em uma rede de tubulações ligada a um reservatório, com ou sem bomba, conforme o caso,
com aspersores dispostos ao longo do sistema. O sprinkler contém um sensor térmico (normalmente em
uma ampola de vidro) que impede a saída da água quando a situação for normal. Essa ampola, constituída
de quartzoide, contém um líquido apropriado, que, sob a ação do calor gerado pelo incêndio, expande-se
graças ao seu elevado coeficiente de expansão, rompendo a ampola, liberando a passagem da água da tu-
bulação e permitindo, assim, sua aspersão sobre o local, após incidir sobre um defletor adequado. Existem
variações desse sistema, sendo que os sistemas de pré-ação combinados com os sistemas de detecção e
alarme de incêndio constituem a alternativa mais segura para proteção contra incêndio em acervos com
emprego de sistemas de aspersão de água.
O sistema de emulsão com água faz parte dos sistemas ditos especiais para combate a incêndio. São de
emprego específico, como para proteção de transformadores. Os óleos, bem como tintas, vernizes e alguns
líquidos inflamáveis, tornam-se incombustíveis por meio da formação de uma emulsão temporária com
água sobre sua superfície. Para conseguir isso, o sistema Mulsifire, como é conhecido, utiliza água sob
pressão sobre a superfície do óleo, através de bicos especialmente projetados, denominados projetores. A

80 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • !!


água sai do projetor na forma de um cone em expansão, em gotas fmas muito dispersas, com alta veloci-
dade e distribuídas uniformemente sobre a área visada pelo projetor. É o impacto da água sob essa forma
atomizada na superfície que cria a emulsão. O acionamento do sistema Mulsifire pode ser automático,
por meio de detectores de fogo, ou manual, através de válvulas específicas.

SISTEMAS DE DETECÇÃO EALARME DE INCÊNDIO

Um sistema de detecção e alarme de incêndio é composto por sensores automáticos e/ou dispositi-
vos manuais adequadamente dispostos e distribuídos em áreas perfeitamente identificáveis que enviam
informações a uma central. Essa central processa as informações, identifica o alarme e toma decisões
automáticas e/ou indica ações manuais, segundo urna lógica predeterminada, através de equipamentos
periféricos, podendo, até mesmo, comandar o combate ao fogo.
Em indústrias de porte, com riscos elevados e em grandes edifícios, hotéis, hospitais e outras edifica-
ções - sobretudo aquelas que contêm materiais de valor inestimável (como no caso de acervos raros, por
exemplo) -, além da instalação destinada ao combate direto ao fogo, instala-se, também, um sistema de
detecção e alarme, capaz de identificar (localizar) o ponto de irrupção do fogo, possibilitando o aviso da
ocorrência aos ocupantes do local, a mobilização da brigada de incêndio e o início dos procedimentos de
evacuação do local.
De modo geral, os sistemas de detecção e alarme de incêndio obedecem a algumas prescrições básicas,
como estas:
a) são dotados de circuitos permanentemente alimentados, de modo que possam permanecer
em funcionamento contínuo, mesmo quando falta energia elétrica; isso pode ser conseguido
através da utilização de baterias recarregáveis pela rede de energia elétrica;
b) indicam o setor ou o local exato onde ocorreu urna falha do sistema ou onde ele foi acionado;
c) permitem o acionamento de algum tipo de alarme sonoro e(ou visual, como campainha,
sirene, indicador luminoso, etc.;
d) permitem o desligamento do alarme após haver sido debelado o incêndio ou quando a atuação
do sistema não mais se fizer necessária;
e) possibilitam o acionamento, através da válvula ousensor de fluxo, da rede desprinklers, rede de
hidrantes ou sensores especiais, bem como permitem o acionamento de comandos especiais,
como o desligamento do ar-condicionado.
Os sistemas de alarme de incêndio podem ser divididos em manuais ou automáticos. Os do tipo
manual são aqueles que possuem ao longo das tubulações tão somente acionadores do tipo manual. Os
acionadores e alertadores são projetados para ser instalados em locais convenientemente distribuídos, e o
seu acionamento exige a presença de um operador. Os sistemas ditos automáticos são aqueles que, além
de possuírem acionadores manuais, apresentam também detectores de acionamento automático.
Os sistemas de detecção e alarme de incêndio podem ser divididos, ainda, em pontuais, lineares
ou de aspiração.
Sistemas pontuais correspondem àqueles em que o efeito do fogo, devido à geração de calor, fumaça
ou ainda pela radiação luminosa, deve ser captado pelo sensor, ou seja, deve atingir o ponto do detector.
Os detectores encontrados normalmente no mercado podem ser classificados como térmicos ou de fumaça.
Dentre os sensores térmicos, encontramos principalmente os detectores de temperatura fixa, correspon-
dendo àqueles que, atingida determinada temperatura preestabelecida, provocam o disparo do sistema
de alarme. Além desses, há ainda os detectores termovelocimétricos, que, como o nome indica, além de

g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 81


atuarem de forma análoga ao anteriormente citado, podem provocar o acionamento do sistema de alarme
quando um gradiente (variação) de temperatura preestabelecido for verificado no ambiente, mesmo que
a temperatura nominal de disparo do detector ainda não tenha sido atingida.
Os sistemas lineares são capazes de, através de um par de di~ positivos emissor e receptor de raios vermelhos,
estabelecer um plano monitorado que, ao ser interceptado por partículas da fumaça, produz um alarme.
Sistemas por aspiração operam continuamente, extraindo o ar através de uma rede de tubos, empre-
gando um aspirador de alta eficiência, sendo que uma amostra desse ar passa por um filtro de dois estágios.
No primeiro estágio, partículas de poeira e sujeira são removidas da amostra antes que ela entre na câmara
de detecção a laser para a análise da fumaça. O segundo estágio (tlltragem ultrafina) tem a função exclusiva
de fornecer ar limpo, visando proteger as superfícies óticas no interior do detector contra contaminação,
para garantir a calibragem estável e a longa vida do detector. Após o filtro, a amostra de ar passa para a
câmara calibrada de detecção, onde é exposto a uma fonte estável e controlada de luz laser. Se a fumaça
estiver presente, a luz se dispersará no interior da câmara de detecção e será instantaneamente identitlcada
pelos sensores óticos de alta sensibilidade. O sinal será, então, processado e produzirá um alarme.
Os detectores, independentemente da natureza (pontuais, lineares ou de aspiração), são capazes de
comunicar a informação (tanto alarme como defeito) para o painel de controle e alarme de incêndio ou
para o sistema de gerenciamento de segurança do prédio.

Sistemas de extinção de incêndio por agentes limpos

Os sistemas de extinção de incêndio por agentes limpos têm como objetivo limitar a interrupção das
operações e os danos causados pelo fogo em uma instalação, com adequada segurança para as pessoas,
permitindo a rápida restauração das condições operacionais. Um agente limpo é aquele que não é corro-
sivo, não deixa resíduos, não conduz eletricidade e tem efeito tridimensional. Deve ser usado onde o valor
do bem ou a continuidade do negócio justifique o custo do sistema. São sistemas empregados em salas
contendo equipamentos eletrônicos (equipamentos hospitalares, centrais de processamento de dados, salas
de comw1icação, centrais telefônicas), áreas industriais específicas (salas de geradores, salas de controle,
petroquímicas), para fins militares, na aviação, além de serem muito indicados para proteção de patrimônios
históricos e acervos (bibliotecas, museus, etc.). Nessa classificação enquadram-se sofisticados e específicos
sistemas, adotados em áreas de grande risco de incêndio (por exemplo, em refinarias de petróleo).
Como exemplos, podemos citar os sistemas fixos de aplicação de gás carbônico e os sistemas fixos de
aplicação de gases alternativos ao halon.
Nos sistemas fixos de aplicação de gás carbônico (C0 2 ), esse gás pode ser armazenado em reservatórios
ou em cilindros de aço, agrupados por baterias em instalações centralizadas. A atuação dos dispositivos
automáticos de lançamento de gás carbônico pode ser feita por sistemas elétricos, mecânicos ou pneumá-
ticos, acionados por detectores de fumaça, de calor ou de forma manual. Esse sistema normalmente está
interligado ao sistema automático de alarme de incêndio, o qual poderá comandar o disparo do gás também
automaticamente ou de forma manual. o co2 é lançado sob a forma de gás através de aspersores de formato
especial. Faz-se necessário que, ao iniciar o lançamento do gás, as aberturas do recinto se fechem, para que
a concentração de C02 atinja níveis com os quais o incêndio possa ser apagado. O chamado método de
inundação total consiste no lançamento de gás carbônico em recinto fechado, reduzindo o teor de oxigê-
nio, abafando e extinguindo o fogo. Quando interligado ao sistema de alarme de incêndio, normalmente
apresenta um temporizador que proporciona um tempo (regulável) de retardo entre o sinal de alarme e o
disparo de gás, o que possibilita a identificação de um alarme falso e, ao mesmo tempo, a evacuação das
pessoas do local com segurança - procedimento necessário, pois o gás carbônico é asfixiante. Sistemas de
inundação total através de dióxido de carbono não constituem a melhor alternativa de proteção contra

82 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • i!


incêndio para áreas ocupadas por pessoas. Em último caso, se forem adotados como solução, deve-se prever
recursos de alarme e temporização que garantam o prévio abandono do local.
Os sistemas fixos de aplicação de gases alternativos ao halon apresentam lógicas de funcionamento similares
aos sistemas de inundação de gás carbônico, diferindo, entretanto, quanto ao agente extintor empregado. Uma
ótima alternativa, normalmente recomendada por constituir um agente limpo inofensivo ao meio ambiente, é o
emprego do gás Inergen. Esse é tun gás composto por três gases presentes em nossa atmosfera: argônio (40% ),
nitrogênio (52%) e dióxido de carbono (8% ). Trata-se de um agente extintor sem qualquer restrição ambiental,
pois não há contribuição para o efeito estufa e ele não agride a camada de ozônio.

Sistemas de iluminação de emergência

A iluminação de emergência tem por objetivo garantir um nível de iluminação aceitável a um de-
terminado local, de modo a permitir o trânsito seguro das pessoas, pelo menos nas áreas de circulação
(corredores, acesso ou escadarias) da edificação, mesmo em situações de emergência. Esses sistemas podem
ser divididos em sistemas centralizados ou em constituídos de unidades autônomas.
O sistema centralizado é composto por uma central de supervisão e bateria(s), capaz de entrar em
funcionamento quando da falta da energia elétrica convencional, sendo dotado de pontos de luz conve-
nientemente dispostos. Já as unidades autônomas de iluminação de emergência, como o próprio nome
indica, são capazes de operar de forma independente, mas devem ser mantidas em ligação com algum
ponto de energia convencional. Elas acendem imediatamente quando percebem a falta de energia elétrica
convencional, pois são dotadas de baterias internas.
A sinalização de saída, que pode tàzer parte do mesmo sistema de iluminação de emergência ou
constituir-se de um sistema em separado, tem por finalidade orientar as rotas de fuga da edificação. Para
tal, tàz-se necessária a instalação de indicadores luminosos com inscrição da palavra "saída" na cor vermelha
ou na cor verde, conforme o caso previsto na legislação. Ela também deverá ser alimentada por baterias,
podendo ser as mesmas do sistema de iluminação de emergência ou constituir-se de unidades autônomas.

CONCLUSÃO

É difícil, ou mesmo impossível, determinar a priori qual a melhor forma de proteção contra incêndios
a ser adotada por uma biblioteca. Para que um eficaz sistema de proteção possa ser sugerido, é necessário
o conhecimento das características da biblioteca, o público a que atende, o acervo existente e até mesmo
sua localização física. A proteção dos acervos deve ser iniciada na fase de planejamento da edificação que
abrigará a biblioteca ou o arquivo. Os elementos fornecidos pelo bibliotecário à equipe projetista (que
deverá contar com um especialista na questão) permitirão que as formas de prevenção passiva estejam
presentes no prédio, assim como as formas de prevenção ativa.
É verdadeiro afirmar que cada situação exigirá uma solução específica, e essa solução eficaz será encon-
trada se o bibliotecário e o especialista em segurança do trabalho estiverem presentes na equipe de constru-
ção, reforma ou ampliação da sede da biblioteca. Seguramente as soluções contemplarão a segurança dos
acervos, da equipe de trabalhadores da biblioteca c de seus usuários, evitando danos irreparáveis a todos.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRi\SILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 11762/01: extintores de incêndio portáteis


com carga de halogenado. Rio de Janeiro, 2001.

g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 83


ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13485/99: manutenção de terceiro nível
(vistoria) em extintores de incêndio. Rio de Janeiro, 1999.
FONSECA, Virginia. Segurança contra incêndio nas edificações: quem faz o quê mesmo? Conselho em Revista,
Porto Alegre, ano 6, n. 77, p. 17-20, jan. 2011.
SCHILLING, Voltaire. História antiga e medieval. 2003. Disponível em: <http://www.terra.eom.br/voltaire/
antiga.> Acesso em: 16 out. 2003.

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A segurança das edificações
de bibliotecas contra inundações e ventos fortes

Carolina Fauth Vassão


]ussara Pereira Santos

INTRODUÇÃO

A modernidade trouxe à vida das pessoas uma quantidade inimaginável de meios facilitadores para
serem empregados no seu cotidiano. As tecnologias desenvolvidas nas mais diversas áreas apresentaram-
-se como um modelo de aspirações e de necessidade real, contrapondo-se de forma hostil ao passado e a
tudo que lembre lentidão, falta de comodidade e agilidade.
Esse novo estilo de vida, com toda sua bagagem histórica, proporcionou um aumento desenfreado do
número de habitantes nas cidades, o que acabou por concentrar a construção de uma quantidade maior
de edificações altas, próximas umas das outras e com os mais diferentes designs, sem muitas vezes haver
preocupação com a segurança das pessoas, da propriedade e do conteúdo armazenado no local.
É com base nesse foco que, atualmente, profissionais da área de construções e reformas de todo o mun-
do, bem como órgãos especializados, têm se preocupado com a segurança dos patrimônios e da sociedade
em geral, a fim de minimizar os riscos de desastres que rondam as edificações. Essa mesma preocupação
tem se aplicado às edificações de bibliotecas, devido ao valor histórico e cultural que estas possuem e ao
número elevado de frequentadores e trabalhadores existentes em seus prédios.
Com esse pensamento, em 1996 foi constituído o Internacional Comittee of the Blue Shield, com
a participação de quatro organizações não governamentais- Federação Internacional de Associações de
Bibliotecários (Ifla), Conselho Internacional de Arquivos (ICA), Conselho Internacional de Monumentos
e Sítios (Icomos) e Conselho Internacional de Museus (Icom) - apoiado pela Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (U nesco). Sua missão é proteger o patrimônio cultural da
humanidade por meio de ações preventivas, a fim de atender a possíveis situações de emergência causadas
por sinistros naturais ou provocadas (Shimmon, 2003).
No ano de 2006, o Brasil integrou-se a esse movimento internacional criando, em 9 de novembro, o
Comitê Brasileiro do Escudo Azul (Federação ... , 2007).
Assim, novas e enérgicas ações vêm sendo encetadas com a finalidade de proteger os acervos de
bibliotecas, arquivos e museus contra todo e qualquer tipo de sinistro. Cabe à comunidade de profis-
sionais da informação, juntamente com especialistas, conceber e implantar medidas que se constituam
em meios efetivos para prevenir e enfrentar situações extremas que coloquem em risco a segurança de
seus patrimônios.
A construção de uma biblioteca deve ser planejada minuciosamente com soluções arquitetônicas ca-
pazes de fazer face a sinistros como incêndios, inundações e tempestades severas. A proteção de um acervo
inicia-se com o planejamento de sua sede, sendo o edifício de uma biblioteca seu invólucro protetor. De
sua qualidade dependerá a preservação dos suportes e bem-estar das pessoas que o frequentam contra
possíveis agressões de natureza física e/ou biológica (insetos, fungos, roedores).
AS INUNDAÇÕES

São consideradas inundações aqueles eventos em que a água invade sem controle uma determinada
região, cidade, imóveis, etc. Podem ser provenientes de causas naturais, como chuvas, ou de causas estru-
turais apresentadas nas edificações.
O sinistro provocado por inundação acomete, sem aviso prévio, qualquer tipo de região e prédio que
não esteja protegido devidamente contra esse perigo. As inundações têm origens diferentes e, conforme
Trinkley (2001, p. 21), podem ser divididas em:
a) inundações fluviais: transbordamento de um rio sobre sua planície;
b) inundações pela maré: transbordamento de água sobre terras costeiras margeando oceanos
ou pântanos;
c) inundações-relâmpago: inundações locais de grande volume e curta duração.

Acrescentam-se, ainda, as inundações resultantes de condições ambientais (como temporais) e os


acidentes ocasionais por causa de tubulações rompidas.
Na realidade, o motivo mais comum para a ocorrência de inundações é a variabilidade climática da
região. O excesso de chuva somado à poluição urbana tende a ocasionar enchentes e oferecer risco de
inundação para as edificações.
Os defeitos nos forros e telhados de uma edificação e as precárias condições das instalações hidráulicas,
como tubulações entupidas ou danificadas, são apontados pela The British Library National Preservation
Office (2003) como sendo motivos causadores desse sinistro. Assim, o elemento água também deve ser
toco de preocupação e discussão com relação à segurança das bibliotecas. Na verdade, a água é um agente
agressor tão ou mais prejudicial que o fogo para os livros, conforme escreve Greenfield ( 1988, p. 28):

A água constitui um grande risco à sobrevivência dos documentos feitos de papel. Pode causar danos
irreversíveis, como a dissolução de colas, o inchamento e a deformação dos livros, a gueda das capas,
a dissolução de tintas e a aderência dos papéis. As coleções molhadas ficam altamente suscetíveis ao
moto, o que agiliza ainda mais a degradação dos documentos.

A problemática enfrentada pelas bibliotecas em casos de inundação é extremamente grave, pois o


material, além de molhado, tlca sujo e manchado, o que dificulta os procedimentos de restauração dessas
obras. A umidade excessiva depois da inundação também é outro fator de risco para o acervo, devido à
propensão ao ataque de fungos nos materiais, lesando ainda mais o número de obras da coleção. Salvar
todo um patrimônio bibliográfico de uma inundação não é tarefa fácil, e a implantação de uma política
de prevenção torna-se a maneira mais coerente de administrar tais imprevistos.

Meios de prevenção de inundações

Prevenir inundações em bibliotecas requer diversos cuidados a serem observados pelo bibliotecário.
Nesse sentido, Anselmo e Chiarello ([200-]) sugerem as seguintes ações:
a) impermeabilizar e drenar as partes da biblioteca localizadas abaixo do nível do solo;
b) identificar todas as válvulas de água e indicar claramente aos funcionários sua localização para
fechamento em caso de emergência;
c) proteger torneiras e sanitários das áreas públicas da biblioteca contra atos de vandalismo;
d) evitar a passagem de tubulações de água nas áreas de coleções e armazenamento de livros.

86 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • i!


O ideal é que as bibliotecas tenham um bom nivelamento, evitando-se que a superfície do solo esteja
no mesmo nível da biblioteca ou acima dela. Arquitetos recomendam um declive de pelo menos 1o/o a partir
do edifício. Drenos externos, normalmente fechados, devem estar ligados ao sistema de águas pluviais
para cobrir todos os pontos de acesso ao prédio e às áreas mais baixas. Caso não seja possível eliminar
as tubulações das áreas de armazenagem do acervo, pode-se providenciar soluções como a instalação de
tubulações de parede dupla, tubulações de água localizadas na parede (não diretamente no teto) e alarmes
de água ou detectores de vazamento em áreas suscetíveis. O Water Alert, alarme para água, produzido
pela Dorlen Products, pode ser utilizado sozinho ou conectado a um alarme central (Trinkley, 2001).
Com relação a esse assunto, Ogden (2001, p. 15) também chama a atenção para as seguintes ações
pró-ativas:

Jamais guarde material sob canos de água, dutos de vapor, lavatórios, equipamentos de refrigeração de ar
ou outras tomes de água. Armazene sempre o material a pelo menos lO em do chão, nunca diretamente
sobre ele. Evite a armazenagem no subsolo ou em outras áreas em que é maior a ameaça de immdação.

Os riscos oriundos de infiltrações e inundações em bibliotecas têm forte ligação com a tàlta de manu-
tenção da edificação. Ser vigilante e manter o prédio em boas condições são considerados um dos melhores
métodos para resguardar o acervo dos danos. Uma inspeção em pequenos detalhes é importante para
auxiliar na preservação da documentação existente na biblioteca. Informações contidas no site da cidade
de Hamamatsu ([200-?]) ressaltam alguns pontos a serem inspecionados com maior rigor:
a) telhado: verificar se não tàltam telhas ou se existem telhas quebradas;
b) calhas: verificar se as calhas não estão sendo obstmídas por folhas de árvores, areia ou pedras;
se não estão deslocadas, sujas ou deterioradas;
c) paredes: identificar rachaduras na argamassa;
d) vidros: verificar se não estão quebrados, rachados ou soltos das janelas; identificar possível
dano na sua vedação.

Ser cauteloso e ter astúcia são qualidades bem-vindas em se tratando de inundação. É conveniente que
o bibliotecário tome algumas providências antes de uma inundação, e, para isso, a agência americana The
Federal Emergency Management Agency (Fema) ([20--?], tradução nossa),l ligada ao National Flood
Insurance Program (NFIP), aconselha a realização das seguintes taretàs:
a) faça fotos ou vídeos de todas as posses mais importantes- caso sua biblioteca seja danificada
em uma inundação, esses documentos serão de grande ajuda na hora de solicitar reposição
dos materiais;
b) armazene originais importantes e objetos pessoais insubstituíveis em locais em que não possan1
ser danificados;
c) desligue todos os equipamentos elétricos no intermptor de alimentação principal c feche a
válvula de gás principal se a evacuação parecer necessária.

Contatar uma empresa de seguros e adquirir um seguro contra sinistros é outra providência a ser
exigida da instituição à qual a biblioteca está vinculada. Os gastos com o seguro tornam-se íntimos se
comparados às perdas, muitas vezes irreparáveis após a ocorrência de uma tragédia.

1 Documento eletrônico, não paginado.

!! • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 87


Combate às inundações

Tal como colocado anteriormente, as bibliotecas podem estar sujeitas a qualquer tipo de inundação,
seja o rompimento de uma tubulação da parte hidráulica, ou mesmo o acúmulo de água das chuvas tor-
renciais. Sendo assim, é aconselhado aos bibliotecários, após os cuidados desenvolvidos para a prevenção
desse tipo de sinistro, saber também combater o problema da água se, por ventura, o sistema de segurança
implantado não funcionar corretamente.
No momento do incidente é preciso agir imediatamente para não agravar a situação já instalada. Como
o combate à inundação não é de fácil controle, o recomendado, caso a inundação seja proveniente da
própria edificação, é o fechamento do registro geral de água da instituição, de modo a cessar o vazamento
da corrente de água despejada no setor. Trinkley (2001, p. 45) recomenda ainda:

[ ... ] é essencial identificar tanto os hidrantes controladores do abastecimento de água quanto os


registros de distribuição interna. Embora todo o pessoal deva estar treinado para "fechar a água",
deve-se instalar uma sinalização que ofereça instrUções simples para fazê-lo. A~ válvulas para a água
são independentes dos registros principais de aspersores, e embora o pessoal da biblioteca deva saber
a localização do registro principal do sistema de aspersão, este nunca deve ser fechado, a não ser por
firmas de reparo autorizadas e pelo Corpo de Bombeiros.

Se a inundação na biblioteca advier do clima, sendo consequência das chuvas, e puder ser previamente
identificada, será possível minimizar os danos ao acervo, através da colocação dos materiais em locais elevados
cobertos com saco plástico e mantidos em uma sala apropriada em que a inundação não os atinja.
Para manter-se informado quanto ao clima da região, os bibliotecários podem recorrer aosite do Insti-
tuto Nacional de Meteorologia (Inmet), vinculado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
do Brasil, que disponibiliza na internet (no endereço www.inmet.gov.br) informações sobre previsão do
tempo e clima, imagens de satélite, links interessantes, etc. A Defesa Civil dos Estados também coloca à
disposição dos cidadãos um site com informações sobre meteorologia, notícias, histórico e emissão de
boletins de alerta com antecedência de até 72 horas. Todos os dados podem ser acessados livremente. Para
o Rio Grande do Sul, o site tem o seguinte endereço: <www.defesacivil.rs.gov.br>.
Os estragos causados pelas inundações são imensos e requerem, após sua ocorrência, a execução de uma
série de etapas. A Fema ( [20--?], tradução nossa ) 2 sugere chamar a companhia ou o agente de seguro responsável
para tàzer uma reivindicação. Recomenda, ainda, verificar se não há danos estruturais antes de entrar no edificio
e consumir água fervida até que as autoridades locais informem sobre as condições de potabilidade da água.
Posteriormente, é a vez de transferir o material danificado para um local limpo e seco. Na opinião da
The British Library National Preservation Office (2003, p. 60): "Como primeira providência, retiram-se
os documentos que estiverem no chão, depois os das estantes, trabalhando de cima para baixo para que
se evite o desmoronamento,"
Aconselha-se separar os documentos por níveis de importância ou prioridade para serem tratados
imediatamente. Os materiais mais danificados ou aqueles acometidos pelo mofo devem ser levados ao
processo de congelamento, para serem restaurados mais tarde, salvo os casos das peças que estejam cobertas
pelo seguro e possam ser facilmente substituídas.
Para Silva Filho ([20--?] ), 3 é fundamental: "Manter os volumes fechados até que toda a sujidade seja reti-
rada; secar a obra através da circulação do ar; não expor os livros ao sol; envolver os livros e/ou documentos
mais encharcados com papéis mata borrão e não tentar abrir os volumes enquanto estiverem molhados."
O método de salvamento dos livros é escolhido dependendo das condições em que esses materiais se en-
contram. Para livros úmidos ou parcialmente molhados, a secagem ao ar é mais indicada. Livros encharcados,
2
Documento eletrônico, não paginado.
3
Documento detrônico, não paginado.

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livros feitos de papel cuchê e livros com tintas firmes ou borradas devem ser congelados e, ulteriormente,
secos a vácuo para minimizar o possível enrugamento das folhas e distorção das capas (Ogden, 2001).
Na realidade, não existe milagre para salvar os materiais de um sinistro e, nesse sentido, Ogden ( 2001,
p. 19) afirma: "[ ... ] nenhum método de secagem restaura o material. Ele jamais ficará em condições
semelhantes àquelas em que se encontrava quando se iniciou a secagem." Portanto, as ações preventivas
constituem-se na melhor solução para preservação de um acervo ou edificação.

VENTOS

A localização das bibliotecas é outro fator a ser analisado com muita atenção pelas instituições man-
tenedoras. A região em que se encontram e as variações climáticas predominantes podem influenciar, e
muito, na possível ocorrência de sinistros cometidos pela presença de ventos fortes. Nesse sentido, Pitte
(1998, p. 108) destaca: "Alguns fenômenos, mesmo que regulares e, portanto, previsíveis, podem tomar
proporções catastróficas. É o caso dos ciclones, depressões tropicais que provocam trombas d'água (até
mais de um metro de precipitações) e ventos fortíssimos."
A ação dos ventos pode gerar situações aterrorizantes para uma comunidade, como é o caso dos torna-
dos, que têm como característica o poder de arrancar fundações de edifícios, retorcer armações estruturais
de aço, retirar árvores pela raiz, entre outros. Trinkley (2001, p. 20) explica que os tornados têm"[ ... ]
velocidades frequentemente superiores a 320 km/h, os relâmpagos são virtualmente contínuos, a chuva
é muito forte, mas de curta duração, e a precipitação de graniw está sempre associada à tempestade".
Esse fenômeno da natureza tem maior concentração na América do Norte, especificamente nos Estados
Unidos, nos meses de abril e junho, entre o horário de 14 e 19 horas.
Furacões, tornados, entre outros, apesar de não terem ocorrido no Brasil até recentemente, passaram a ser
alvo de preocupação depois da forte ventania ocorrida na cidade de Torres, no litoral gaúcho, no ano de 2004.
Os prejuíws fisicos e humanos deixados pelo ciclone extratropical foram muito sérios, e, com isso, a questão
da proteção nas edificações das bibliotecas contra esse tipo de sinistro em terras brasileiras foi suscitada.
O município de Criciúma, no Estado de Santa Catarina, foi atingido pela presença de tornados no
dia 5 de janeiro de 2005, durante o período da tarde. O jornal eletrônico Correio Braziliense (Tornados ... ,
2005 )4 informa: "Os ventos que chegaram até 115 km/h danificaram cerca de 70 casas, destruíram outras
três e provocaram a queda de árvores e postes. O fornecimento de luz também foi afetado. Uma mulher
morreu de intàrto durante a passagem do fenômeno". O tornado foi caracterizado preliminarmente como
sendo de força um (F-1), de intensidade moderada.
Para o meteorologista Luiz Fernando Nachtigall (apud Tornados ... , 2005), 5 da Rede de Estações de
Climatologia Urbana de São Leopoldo, RS, a pior destruição por tornados ocorreu em Águas Claras, no
município de Viamão (Grande Porto Alegre), em outubro de 2000. Ultimamente, os relatos de tornados
no Sul do Brasil têm sido mais frequentes. Em 2007, Santa Catarina voltou a ser alvo da presença de
tornados. O evento durou cerca de três segundos, com ventos de 170 km/h, arrancou árvores do chão,
deslocou automóveis e afetou o abastecimento de energia elétrica (Reis, 2007).
Em outros locais como Rio de Janeiro e São Paulo, os temporais seguidos de inundações têm sido
frequentes e repentinos, com danos muito sérios a toda a população.
A tipologia dos ventos percorre uma diversidade de nomenclaturas, de acordo com seus efeitos. O
almirante inglês Sir Francês Beuafort elaborou, no final do século XIX, uma escala (ver Quadro 1) com a
fmalidade de qualificar os ventos e seus efeitos produzidos no mar. Posteriormente ela também foi adaptada
para uso em terra (Escola de Iatismo BL3, [20--?]).

• Documento eletrônico, não paginado.


5 Documento eletrônico, não paginado.

2 • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 89


QUADRO 1 - Escala Beaufort dos ventos

Força Velocidade (km/h) Descrição Indicador na Terra

o Menos de 1 Calmaria Calmo, fumaça sobe verticalmente.


- - · - r--- -
1 1-5 Bafagem Fumaça mostra a direção do vento; cata-vento não gira.
- - - - t--- -
2 6-11 Aragem Sente-se o vento na face; cata-vento começa a girar.
-- ---·-

3 12-19 Vento fraco Folhas se mexem; bandeirolas se extendem.


- - - - t--- - ----
Folhas e papéis voam; bandeiras tremulam; pequenos
4 20-29 Vento moderado
galhos se curvam.
---
Pequenas árvores começam a balançar; bandeiras ficam
5 30-38 Vento fresco
bem agitadas.
-
Vento muito Grandes galhos em movimento; o vento assobia ao passar
6 39-50
fresco por fios.
-------
Árvores inteiras se agitando; sente-se resistência ao andar
7 51-61 Vento forte
contra o vento.
---·
Vento muito Árvores inteiras se agitando; sente-se resistência ao andar
8 62-74
forte contra o vento.
--·--- t----
9 75-86 Vento duro Pequenos danos estruturais; casas destelhadas.
----
Árvores quebradas ou arrancadas; dano estrutural
10 87-101 Tempestade
considerável.
--- ---
Tempestade
11 102-120 Danos generalizados em árvores e construções.
violenta
- · · -1 - - - - - - - -· -·-·-
12 Acima de 120 Furacão Danos graves e generalizados.

Fonte: Escola de Iatismo BL3, [20--?] (adaptado)

Meios de prevenção e combate aos ventos

Toda prevenção planejada e organizada pela instituição para diminuir os danos causados pelos ventos deve
incluir soluções práticas, a fim de se executarem da melhor forma os procedimentos para proteção da biblioteca.
Projetar a biblioteca ou reformar sua edificação contra os efeitos dos ventos, incorporando à sua estrutura
maior resistência, é considerado uma das melhores formas de proteção. Na concepção de Trinkley (200 l),
é importante solicitar ao arquiteto encarregado pelo projeto a inclusão de uma área que sirva de abrigo em
casos de alarme de tornados, ciclones, etc., para proteção dos funcionários e usuários da biblioteca. Em con-
tinuidade, o autor salienta ser adequado limitar o número e o tamanho das janelas presentes na biblioteca,
e que os equipamentos de climatização devem ser localizados próximos ao chão e não junto ao telhado.
A edificação pode ser protegida da força dos furacões colocando-se um dispositivo protetor, como painéis de
madeira compensada de l centímetro nas janelas. Para edificios de um único pavimento, essas proteções podem
ser colocadas pelo lado externo, e para edificios com vários pavimentos, podem ser instaladas internamente.
Devem ser previstos furos feitos anteriormente nos caixilhos das janelas ou "grampos para furacão". A instala-
ção de persianas especiais contra furacão em todas as janelas pode alcançar o mesmo eteito (Trinkley, 2001).

90 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • g


Como em sua grande maioria os efeitos dos ventos são devastadores, é recomendável, mesmo para
as bibliotecas situadas no Brasil, desenvolver seriamente métodos de prevenção que amenizem a força
de destruição dos ventos. Os relatos de ocorrências demonstram que já não são tão raros os acidentes
causados por ventos em nosso País.
Combater a energia e a velocidade dos ventos é praticamente impossível para o ser humano. A re-
levância desse fato reforça, com maior precisão, a importância da atividade de prevenção na biblioteca.
A natureza dos ventos, bem como a extensão dos estragos causados em função da sua força, é algo
extremamente imprevisível e difícil de ser dimensionado, portanto recomenda-se prestar sempre atenção aos
boletins e às condições meteorológicas para não estar desprevenido e desprotegido na hora do incidente.
Elaborar um checklist pode ser útil, pois, além de salientar os pontos fortes da biblioteca, a listagem auxilia
a detectar os pontos vulneráveis e que carecem de atenção para elevar o grau de segurança da unidade.

PLANO DE EMERGÊNCIA

O planej<1-mento de emergência para uma biblioteca deve ser calcado em diversos passos obrigatórios
a fim de que haja eficácia no momento do perigo. Ono (2004, p. 9) acredita que: "Um plano de emer-
gência tem como objetivo identificar a vulnerabilidade do edifício a situações de emergência, antecipar
seus potenciais efeitos, indicar como preveni-los, atribuir responsabilidades e propor um plano de ação e
de recuperação em caso de emergências."
Para cada etapa é preciso ter uma pessoa responsável que responda pelo bom andamento do plano;
após sua escolha, os passos seguintes compreendem:

a) avaliar os riscos e as condições físicas do terreno e do imóvel em si;


b) verificar a existência de sistemas de segurança, tanto passiva como ativa, e se estão em plenas
condições de uso, dentro do prazo de validade;
c) verificar a vulnerabilidade dos objetos que compõem o acervo;
d) considerar a vulnerabilidade administrativa, ou seja, verificar se o acervo da instituição está
no seguro, se possui inventário completo.

A avaliação dos riscos é imprescindível para o desenvolvimento do plano de emergências. A técnica


elaborada por Trink.ley (200 l) é de fácil entendimento e baseia-se na seguinte fórmula: risco (probabili-
dade da ocorrência de um evento) X vulnerabilidade (grau de impacto para a instituição) = criticalidade.
O método para definição da criticalidade pode ser desenvolvido através do uso de uma escala com
valores de la 4 (Quadro 2).

QUADRO 2 - Escala para avaliação de riscos


Risco Vulnerabilidade Criticalidade

Ocorrência "certa" Causaria fechamento permanente da biblioteca 4


-- ··-
Ocorrência quase certa Causaria paralisação das operações por tempo inaceitável 3
--·-----
Reduziria operações suficientemente para interferir no
Ocorrência provável 2
funcionamento da instituição
·-·
Ocorrência pouco provável Interferiria nas funções normais em nível tolerável 1

Fonte: Trinkley, 2001, p. 17 (adaptado)

g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 91


Quando todas as medidas citadas anteriormente já tiverem sido providenciadas, é necessário redigir
o plano, no formato de um manual, de maneira a incentivar sua utilização pelos funcionários. Mello e
Santos (2004, p. 14) recomendam ainda: "[ ... ) que as unidades de informação tenham um programa
formal (cartilha) de emergência para facilitar o salvamento do material humano e das coleções no caso de
enfrentar qualquer tipo de desastre."
A redação do plano de emergência deve contemplar três etapas essenciais:
1) informações relativas à organização da segurança;
2) plano de ação;
3) plano de evacuação.

A primeira etapa do plano, organização da segurança, deve conter os organogramas hierárquicos e


funcionais da estrutura interna de segurança, as entidades internas e externas para contatar em situação de
emergência, bem como os nomes das pessoas com missões específicas na aplicação do plano. A segunda
parte, o plano de ação, deve detalhar os tipos de procedimentos adotados em situação de perigo: listar
como os usuários, funcionários e visitantes devem proceder em caso de detecção e percepção de um alarme
de incêndio ou inundação; como devem manejar os dispositivos de segurança; ações a serem tomadas
na prestação de primeiros socorros, entre outros. E a etapa do plano de evacuação deve incluir quais os
procedimentos a serem utilizados pelos ocupantes do estabelecimento, de fo~ma a garantir sua evacuaçãó
segura, rápida e ordenada para o exterior do prédio (Portugal, 2003).
É imprescindível que o plano de evacuação contenha as seguintes informações:

Inventário de riscos potenciais; recenseamento das pessoas a serem evacuadas, nomear pessoas com
capacidades limitadas que careçam ser auxiliadas; programação da evacuação das diversas wnas do
estabelecimento, em função da sua localização e de eventuais dificuldades; escolha de um itinerário
normal e de um itinerário alternativo que melhor se adapte a cada caso, referendando e sinalizando
as vias de evacuação a utilizar; identificação de um ponto de encontro ou local de reunião, para onde
devem convergir e permanecer as pessoas evacuadas; avaliação do número de pessoas necessárias para
enquadrar a evacuação dos ocupantes e compatibilização das soluções encontradas com os meios
existentes. (Portugal, 2003, p. 61)

Ulteriormente à elaboração do plano de emergência, treinamentos periódicos devem ser colocados em


prática para testar a eficácia do plano. A simulação de emergência auxilia no entendimento e especialização do
pessoal da biblioteca e de sua instituição. Pata as instituições de ensino, recomenda-se a realização de, pelo me-
nos, dois treinamentos de evacuação, a cada início de semestre letivo, para orientar toda a comunidade escolar.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Qualquer que seja o sinistro que venha a se abater sobre uma biblioteca, ele causará consequências
graves ao patrimônio e possivelmente às pessoas que a frequentam. A prevenção será sempre a saída mais
inteligente, e a administração pró-ativa redundará em redução de riscos e custos fmanceiros.
As medidas de segurança passiva relativas às edificações serão tomadas no momento do planejamento
de uma construção ou reforma da biblioteca e serão associadas àquelas medidas ativas propostas pelos
planos de emergência e de evacuação.
As intensas e imprevisíveis alterações climáticas a que estão sujeitas todas as regiões do planeta, como
decorrência do aquecimento global, de~em colocar em estado de alerta aqueles que são resft.nsáveis por
instituições que abrigam bens culturais. E responsabilidade dos gestores de bibliotecas agir antecipadamente
à ocorrência de sinistros como incêndios, inundações e ventos fortes, salvando acervos e vidas humanas.

92 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • fl


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DA IFLA, 69,2003, [s.l.].Anaiseletrônicos... [s.l.]: Ifla, 2003. Disponível em: <http://www.ifla.org/IV/it1a69/
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SILVA FILHO, J. T. da Conservação preventiva de acervos bibliográficos. [20--?]. Disponível em: <http://www.
torum.ufrj.br/bibliotecafartigo.html>. Acesso em: 12 mar. 2006.
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TRINKLEY, M. Considerações sobre preservação na construção e reforma de bibliotecas: planejamento para preserva-
ção. 2. ed. Rio de Janeiro: CPBA, 2001. Disponível em: <http://siarq02.siarq.unicamp.br/cpba/pdf_cadtec/38.
pdf>. Acesso em: 22 out. 2006.

1:! • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 93


Acor na Biblioteconomia e na Comunicação

Hanns-Peter Struck

De rudo que realizei como poeta, não me vanglorio, sempre houve


poetas famosos e perfeitos antes de mim e vai havê-los depois de mim.
Mas, que neste século sou o único que reconheceu a verdadeira essência
da cor, disto me vanglorio.
Goethe, O velho conselheiro de Weimar

INTRODUÇÃO

Ninguém menos importante do que Goethe escreveu essas palavras em abril de 1822. E a toda pessoa
pouco versada sobre as cores deve soar estranho o fato de que aquele homem respeitado em todo mundo
pelas suas obras literárias- entre elas Fausto- destaca a sua Doutrina das cores, infelizmente pouco conhecida,
como a sua obra mais importante. No entanto, essas palavras deveriam dar o que pensar, principalmente
quando se sabe que Goethe dedicou ao fenômeno cor o mesmo período de tempo que dedicou ao seu
Fausto: quarenta anos de sua vida.
Os pesquisadores e cientistas, no começo do século XIX, tiveram pouca compreensão para as ideias do
velho poeta e conselheiro de Weimar. Somente nas últimas sessenta décadas do século passado, homens
das mais diversas áreas da ciência reconheceram os passos iniciais dados por esse gênio.
Ele aborda, na sua Doutrina das cores, de 260 páginas, as três grandes áreas nas quais o fenômeno atua:
a física, a fisiologia do globo ocular humano e as reações e associações psicológicas do homem perante a
cor (Goethe, 1996).
Modernamente, o acumulado das pesquisas sobre cores toma o nome genérico de dinâmica das cores,
e os homens que lidam com essa especialidade pertencem a uma das três áreas científicas citadas - ou,
quando são consultores da área, têm conhecimentos das três áreas científicas em relação às cores.
A intenção dessas linhas é justificar, analisar e sugerir alguns aspectos da cor vinculados à biblioteca,
enfocando o ambiente em si e a influência das cores sobre os que têm sua atividade vinculada a esse am-
biente e sobre as pessoas que frequentam o ambiente regular ou esporadicamente.

COR COMO MEIO DE COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL

A cor é o meio de comunicação que o homem vivencia desde o momento em que nasce até o momento
em que fecha os olhos pela última vez.
Estudos sobre a visão revelam que, em média, o homem urbano, 1 nos dias de hoje, recebe do meio
ambiente aproximadamente 25 milhões de estímulos através dos cinco sentidos. A tabela a seguir mostra
a proporcionalidade dos cinco sentidos na assimilação destes estímulos.

1 O homem rural tem em média somente de 15 a 18 milhões de estímulos ambientais.


TABELA 1 -Os sentidos e a assimilação dos sentidos
Sentido Número de estímulos Ofo

Visão- Cor 15.000.000 60,0


Visão - Forma 5.000.000 20,0
Audição 2.750.000 11,0
Olfato 925.000 3,7
Tato 700.000 2,8
Paladar 625.000 2,5

Entretanto, esses dados são verdadeiros apenas para as pessoas que não apresentam distúrbios da
visão colorida! Mas o que são distúrbios da visão colorida? Segundo a origem, distinguem-se distúrbios
congênitos e distúrbios adquiridos. Os congênitos têm origens hereditárias e são bem mais estudados do que
os adquiridos. O termo "doença" não é justo, pois esse não é um processo doentio, mas uma propriedade
que acompanha o indivíduo desde o dia de seu nascimento até o momento de sua morte, sendo imutável
e não podendo, até hoje, ser alterado. Esse distúrbio atinge aproximadamente de 7 % a 8 % da população
masculina e um pouco menos de 0,5 % das mulheres.
Existem vários tipos de distúrbios cromáticos, mas dentre eles o de maior incidência é a não distinção
entre vermelho e verde, popularmente denominado como daltonismo, por ter sido John Dalton, médico
inglês do século XIX, o descobridor da não distinção dessas duas cores devido ao fato de ser ele próprio
portador do distúrbio, herdado do pai.
Muito se tem discutido e perguntado a respeito da cor: todos veem o azul-celeste da mesma manei-
ra, com a mesma luminosidade e com a mesma intensidade? Todas as pessoas de visão normal de cores
realmente as veem da mesma.maneira e podem distinguir um verde-claro de um verde-azulado-claro ou
de um azul-celeste? A resposta é sim, e um sim categórico.
Retornando aos que têm a percepção colorida normal, e pelo fato de a cor ser a "alegria de viver", a orien-
tação ambiental de cores, sob o ponto de vista propedêutico, sem desmerecer a composição estética, elimina o
branco das grandes superfícies, pois ficou comprovado que em termos psicoanalíticos o branco é símbolo do
vazio e não gera afetividade positiva ou negativa. Muitas pessoas sentem-no como símbolo da paz, e quando
foram inquiridas sobre os motivos pelo qual o veem desse modo, ficou tácito que paz para essas pessoas é não
querer se envolver com nada e coisa nenhuma- "ficarem na sua" -,e não o conceito verdadeiro da palavra paz.

A COR NO AMBIENTE DA BIBLIOTECA

Muitas vezes as bibliotecas apresentam-se com paredes e tetos brancos, estantes de livros de madeira
escura ou madeira que escureceu com o tempo. Nesses móveis as lombadas dos livros estão à vista, e, de
cada dez volumes, seguramente oito são de cores escuras: marrom, preto, verde e azul-escuro. Lá de vez
em quando uma lombada é clara ou até amarela, e então voltam obras de cor cinza-escuro ou de vermelhos
muito densos. Quando muito, a identificação dos livros é impressa em ouro ou prata desbotados pelo
tempo. Os assoalhos desses ambientes de bibliotecas são de cor marrom-escura. As mesas de leitura e
consulta apresentam as mesmas cores e tonalidades das cadeiras e, via de regra, não são estofadas.
Esses ambientes - e, por consequência, as cores neles empregadas - começaram a aparecer nos mosteiros
nos séculos VIll e IX, pois os padres, frades e outros religiosos eram os letrados da época. Devido a isso, o am-
biente da biblioteca costumava ser tão austero, principalmente nas bibliotecas de instituições muito tradicionais.
Com o surgimento das universidades nos séculos XII a XV, os estabelecimentos de ensino copiaram a
austeridade que conheciam dos mosteiros e abadias, pois muitos dos professores eram também religiosos.

96 • JUSSARAPEREIRASANTOS (Org.) • 2
A universidade mais antiga da Europa é a de Bologna, Itália, fundada em 1119. Aproximadamente
duzentos anos depois foi fundada a Universidade de Praga, a primeira em língua alemã. A partir de então,
seguiram com relativa brevidade as de Viena, Zurique e tantas outras. E cada uma vangloriava-se- e assim
continua até os dias de hoje - de ter "x" milhões de volumes sob sua guarda. O visitante de um ou dois
desses ambientes de coleções de livros conhece o aspecto de todas as outras.
Somente as universidades (e suas respectivas bibliotecas) construídas no século XX- e, mais ainda,
as estruturadas na segunda metade desse século- começaram a «clarear" o ambiente de suas bibliotecas.
É verdade que na estruturação colorida usou-se o senso estético que acompanhou a evolução da
arquitetura. Em nenhum momento foi cogitado usar as cores como elementos propedêuticos ao cansaço
dos leitores e das pessoas que trabalham constantemente nesse ambiente, auxiliando, através das cores, os
bibliotecários e os usuários de bibliotecas em beneficio do raciocínio lógico, na comunicação interpessoal,
apoiando e treinando a atenção para a busca e o acesso ao conteúdo dos documentos.
Quase todo leigo ouviu falar ou leu em algum almanaque que "o verde descansa e faz bem aos olhos";
com isso, foi apenas informado de meia-verdade. O homem está permanentemente envolto pelas cores e,
em nenhum momento da sua vida, vê e é influenciado por uma cor única, mas sim por uma combinação
de cores refletidas pelas mais distintas superfícies, com texturas diversas e em planos diferentes.
Cores e suas tonalidades e intensidades em planos diferentes atuam de maneiras distintas sobre o homem.
É evidente que ele se comporta de maneira diversa em relação às cores quando elas são aplicadas em tetos,
paredes ou pisos. Além disso, o homem atribui temperatura e peso às cores, que são divididas generica-
mente em pesadas e leves e, ainda, em frias e quentes. São quatro conceitos que a mente tem perante as cores,
permitindo que elas modifiquem a sua influência sobre o homem e sua constante interação com o meio.
Assim, pode-se resumir que as cores agem e influenciam das seguintes formas:
a) cores quentes e claras,
-de cima: estimulando o espírito;
-do lado: aquecendo, aproximando, ativando;
-de baixo: elevando e tornando o passo mais leve.

b) cores quentes e escuras,


- de cima: isolando, dando a impressão de peso, suntuosidade;
-do lado: abraçando, aproximando, aumentando a densidade;
-de baixo: dando a impressão de solidez e segurança ao passo.

c) cores frias e claras,


-de cima: clareando, elevando, atenuando;
-do lado: dando a impressão de frescor, elevando, atenuando;
-de baixo: dando a impressão de escorregadio, estimulam a corrida (textura lisa).
d) cores frias e escuras,
-de cima: provocando a sensação de ameaça, amedrontando;
-do lado: dando a ideia de frio, ambiente depressivo;
-de baixo: sugando, tornando inseguro o passo, instável.

A partir dessas informações, pode-se oferecer duas ou três sugestões de agrupamentos de cores para
bibliotecas. Como as diversas indústrias de cores ambientais preparam-nas por sistemas tintométricos di-
ferentes, serão apresentados apenas os tons de cores. Aos gestores de bibliotecas caberá procurar a melhor
combinação de acordo com as características da clientela da biblioteca:

i! • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 97


a) biblioteca de literarura em geral,
- mobiliário e piso: marrom-escuro;
- tampos das mesas de leitura: verde-água;
- tampo do balcão de atendimento: creme-claro;
- estofados dos assentos: havana e/ou verde-médio;
- intenção: sala calma que oportuniza concentração e atenção ao que é lido.

b) biblioteca técnico-científica (literatura especializada),


mobiliário: cinza-claro ou até branco;
- áreas de trabalho: cinza-azulado-claro;
intenção: auxiliar e apoiar o raciocínio lógico do leitor.

c) biblioteca infantojuvenil (dos 6 aos 16 anos de idade),


mobiliário em madeira clara;
- tampos das mesas de leitura e do balcão de recepção: verde-limão-claro;
estofados das cadeiras: rosa antigo;
- intenção: descansar a visão dos jovens e, com as cores quentes e os verdes, conseguir um equi-
hbrio emocional para os que trabalham e leem no ambiente.
Todas essas composições coloridas são esquemas genéricos e orientadores. Tanto os arquitetos como
os decoradores, em colaboração com os bibliotecários, terão de implantar e dosar as intensidades das
cores e regular as mesmas para os campos mais quentes ou mais frios conforme a exigência arquitetônica
e levando em conta as cores já existentes no ambiente.
Outro aspecto que deve ser mencionado é o uso de lâmpadas com excelente índice de reprodução das
cores e que, ao mesmo tempo, não venham a danificar o acervo.

COMUNICAÇÃO NÃO VERBAL DA COR

Via de regra, ao se falar de comunicação não verbal, a ideia está vinculada à imagem ou configuração
daquilo que se vê em termos globais. Isso significa que toda imagem se compõe de cores e formas. Retor-
nando à tabela mostrada neste texto, percebe-se que a cor atinge o olho humano três vezes mais do que a
forma. Com essa informação pode-se afirmar que a cor é, fora de qualquer dúvida, o maior comunicador
do meio ambiente que o homem conhece e vivencia a todo instante.
Por outro lado, ao se ver uma cor as associações são imediatas, isto é, as cores transmitem informações.
Esse é um mecanismo mental denominado sinestesia. Em outras palavras: são transferências de sensações
de um sentido para o outro. Isso acontece a todo momento, sem que se note. Como o sentido da visão é
o que participa com a maior parte das vivências ambientais do homem, é dele para os outros que é feita a
maioria das sinestesias. Isso significa que:
• Come-se com os olhos: ao se ver um prato de comida já experimentado ou um que tem cores ape-
titosas, as papilas gustativas entram em ação e geram apetite ou reconhece-se a fome.
• Cheira-se com os olhos: ao se ver um frasco de perfume, pelo design da rotulagem identifica-se se
o perfume é seco ou doce. Caso o frasco não o transmita, a configuração do rótulo está incorreta.
• Ouve-se com os olhos: pode-se dizer que alguns sons correspondem ao marrom, ao havana e ao vermelho-
-grená: são osgrapes. Ao se ouvirem sons estridentes e vier o pensamento das cores, virão à mente azuis-
-claros, prateados e até amarelos-claros. Os cenários de shows musicais são compostos em função da música
que será tocada. E já existem informações sinestésicas dos timbres da voz humana em relação às cores.

98 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • f!


• Apalpa-se com os olhos: existe a capacidade de identificar texturas de superfícies quando se veem as
cores. Toda escala dos marrons até o havana levam a pensar em superfícies ásperas. As cores frias claras
transmitem a ideia de lisas e escorregadias. Os rosas e o pêssego têm conotação com seda ou aveludado.

No entanto, não se encerra aqui o que a dinâmica de cores tem em termos da sinestesia. Os níveis
mentais nos quais acontecem as transferências de sensações já são conhecidos. Todavia, há também as
transferências no nível subconsciente, as associações arquetípicas, aquelas que são transmitidas genetica-
mente e que são carregadas através do arquétipo humano. Os exemplos mais palpáveis de associações
arquetípicas são aquelas que não têm explicação lógica. Qual a razão de a maioria das pessoas da cultura
ocidental associar o rosa com a mulher e o azul com o homem? Não são apenas os adultos que fazem essas
transferências de sensação: também as crianças de três ou quatro anos as fazem, sem que lhes tenha sido
dito quais os sentimentos, as pessoas e as coisas que as cores podem representar.
Um estudo recente com alunos de 4 a 16 anos de idade, de ambos os sexos, aos quais foi dita uma
série de palavras-estímulo diante de uma lâmina de vinte e três cores normatizadas e que fazem parte do
teste de cores Der Farbenspiegel, do Dr. Heinrich Frieling- com o qual este autor trabalhou há mais de 50
anos -, apresentou dados surpreendentes. O teste foi realizado num colégio particular de Porto Alegre,
RS. Transcreve-se a seguir a análise de alguns depoimentos colhidos nessa pesquisa.
Os estados emocionais "alegria" e "tristeza" e os conceitos "liberdade" e "proibido", já estudados
estatisticamente em pesquisas americanas e europeias, foram testados em 110 alunos.
Os dados resultantes das pesquisas mostram que, para a ideia "alegria"1 a cor amarela liderou nas três
áreas geográficas analisadas com 45 o/o em relação às outras 22 cores; "tristeza" foi identificada com a cor
preta por 32,5 %das crianças e, da mesma maneira, a ideia de "liberdade" foi identificada com a cor branca
por 37,3 o/o dos alunos, seguida das outras cores. Essas três ideias são comuns nos três estudos. A última
ideia, "proibido"1 foi relacionada ao vermelho com uma liderança de 33,6 o/o tanto nos Estados Unidos
quanto na União Europeia. Com os alunos brasileiros, entretanto, observou-se outro resultado, pois eles
associaram "proibido" à cor vermelho-alaranjado em 28,3 o/o dos casos. Essa diminuição da intensidade
do vermelho (encontrado na pesquisa com crianças americanas e europeias) para o vermelho-alaranjado
(encontrado na pesquisa brasileira) foi interpretada da seguinte maneira: psicanaliticamente, a escolha do
vermelho-alaranjado como símbolo da ideia de "proibido" significa que o que é proibido, na realidade,
não o é tanto, pois sempre existe uma maneira de contornar a proibição. Nas outras duas áreas (Estado
Unidos e União Europeia), quando algo não é permitido, é proibido! Como exemplo, cita-se o semáforo
de trânsito: na Europa e nos Estados Unidos, quando a luz vermelha está acesa, ninguém passa. No Brasil
não é bem assim: em contraposição ao vermelho dos americanos e europeus, o jovem que vive no Brasil
ameniza com o vermelho-alaranjado.
Como a mente humana tàz associações em três níveis, elas são descritas, em linguagem cotidiana,
com alguns exemplos:
• A~sociações arqueúpicas: as carregadas no arquétipo, legadas pelos antepassados. Exemplos: azul= con-
fiança; verde = esperança; vermelho = raiva. Todas essas associações são feitas em nível subconsciente, sem
uma justificativa racional. Crianças de 3 a 4 anos, perguntadas a respeito da cor que representa a mãe, dirão
rosa; o pai normalmente é representado por azul e, se for severo, passa a ter o marrom como seu símbolo.
• Associações sensitivas: cores vistas e vivenciadas no meio ambiente, como azul-celeste, laranja, verde-cam-
po, rosa, violeta e tantas outras. Todas essas associações são ligadas ao meio e feitas em nível pré-consciente.
• Adestramentos: o homem está adestrado a muitas cores e as usa segundo o seu estado emocional
ou até para escondê-lo. Por outro lado, as cores são usadas para a sinalização de trânsito e para a si-
nalização industrial. Esses adestramentos são registrados no consciente. Exemplo: vermelho = pare,

g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 99


perigo; verde = passe, seguro. Na indústria, o operário sabe que uma tubulação vermelha é quente
ou é perigosa e que o contrário acontece com tubulação verde ou até azul. Até na moda atuam asso-
ciações arquetípicas e adestramentos.

Muitas vezes a deficiência de conhecimento das propriedades psicofisiológicas a respeito do fenômeno


cor faz com que a cor não seja aproveitada como instrwnento de comunicação como deveria acontecer.
Na condição de consultor de cores, muitas vezes a questão se impõe: por que razão ainda se imprimem os
livros com "tinta preta sobre papel branco", e, por outro lado, por que se escreve manualmente com tinta
azul em blocos e cadernos de papel branco? Esses são aspectos sobre a cor que ainda devem ser abordados.

LEGIBILIDADE DE CORES

Várias estudos com técnicas qualitativas e amostras significativas para essa técnica definiram uma série de
informações que levam a repensar como e com que cores devem ser impressos os livros do terceiro milênio.
Um levantamento de legibilidade realizado na Europa começou a fazer pensar e a preocupar os edu-
cadores, ao apresentar os seguintes resultados sobre ~ combinação de cores que mais favorece a leirura:
a) primeiro lugar: azul sobre branco;
b) segundo lugar: vermelho sobre branco;
c) terceiro lugar: azul sobre azul-dáro/
d) quarto lugar: verde sobre branco;
e) quinto lugar: azul ou preto sobre amarelo;
f) sexto lugar: vermelho sobre amarelo;
g) sétimo lugar: preto sobre branco.

Após a última combinação (preto sobre branco) aparecem todas as outras combinações viáveis. As
duas combinações menos legíveis são vermelho sobre verde e verde sobre vermelho.
É importante lembrar a utilização da NR 26: sinalização de segurança (Brasil, 1978), que fornece as combina-
ções de cores preferenciais para uso em sistemas de sinalização em qualquer ambiente, inclusive em bibliotecas.
Todas as cores de impressão obviamente são tonalidades cromáticas ou intensas, e as tonalidades
das cores sobre as quais é feita a impressão são luminosas ou claras. Para finalizar, cita-se um exemplo de
aproveitamento do conteúdo deste texto: na Suíça, os livros escolares para o ciclo primário já estão sendo
impressos em azul sobre papel branco, pois se constatou que o contraste entre preto e branco cansa a visão
muito mais do que aquele existente entre as cores classificadas em primeiro lugar na pesquisa- razão pela
qual este capítulo deveria ser escrito na composição mais legível, isto é, azul.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. NR 26: sinalização de segurança (126-000-6). Portaria GM n.


3.214, de 6 de junho de 1978.Diário Oficial da União, Brasília, DF, 6 jul. 1978. Disponível em: <http://www.
mte.gov.br/legislacao(normas_regulamentadoras/nr_26.asp>. Acesso em: 8 fev. 2011.
FRlELlNG, Heinrich.Der Farbenspiegel [O espelho das cores]. 3. ed. ampl. Zurique: Muster-Schmidt, 1995. [O
autor deste capítulo tem os direitos autorais em língua portuguesa].
GOETHE, J. W. Doutrina das cores. Tradução de Marco Giannotti. 2. ed. São Paulo: Nova Alexandria, 1996.
2
Esta combinação de cores, "azul-escuro sobre azul-claro", é a que mais confiança inspira.

100 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • Si!


A sinalização em bibliotecas

Cristian Herrmann

INTRODUÇÃO

A sinalização, por meio dos sinais de identificação, direcionais, instrucionais e informacionais, é considerada
um meio de instrução, permitindo que os indivíduos ajam com autonomia em um ambiente que, não raras
vezes, pode ser encarado como hostil. V m bom sistema de sinalização deve permitir que se encontre o que se
procura sem contratempos, além de facilitar o aprendizado da utilização dos rerursos disporúveis nesse ambiente.
Todos nós recebemos informações do ambiente em que estamos, mas nem sempre percebemos isso. Se essas
informações serão úteis ou não dependerá, em parte, da maneira como esse ambiente foi planejado. Quando
um sistema de sinalização é idealizado para formar um verdadeiro sistema coordenado de informações, ele deve
ter um padrão de construção, de design. Por exemplo, todos os sinais permanentes devem ser desenvolvidos
buscando o máximo de consistência quanto ao tamanho, ao material, à fonte adotada, ao seu espacejamento,
às cores, etc., formando lllll leiaute padrão para cada tipo de informação, ao passo que os sinais temporários
devem ser tratados diferentemente em alguns aspectos, mas sem perder a consistência com os demais.
Assim, fica claro que um sistema de sinalização planejado com o devido cuidado deve levar em consi-
deração alguns aspectos interdisciplinares. Por se tratar de uma forma de comunicação do ambiente com
as pessoas, faz-se necessário entender como se dá um processo de comunicação. Além disso, por depender
do uso de sinais gráficos e da escrita, conhecimentos básicos sobre comunicação visual e tipografia, por
exemplo, também são importantes.

COMUNICAÇÃO

Aristóteles defmiu, na sua obra Retórica (1998), que a meta principal do processo de comunicação é
a persuasão, a tentativa de levar outras pessoas a adotarem o ponto de vista de quem fala.
A Comunicação como é conhecida hoje começou por volta de 1900, quando cursos de como falar em
público dominavam os currículos do ensino superior. Aépoca, os cursos de Comunicação eram ministrados
nos cursos ingleses de Letras. Professores de inglês eram treinados para ensinar aos alunos a arte de falar
em público, pois acreditava-se que falar e escrever eram sinônimos (Berlo, 1999).
O verbo comunicar vem do latim cummunicare, que significa participar, fazer saber, tornar comum. No
entanto, com o tempo, foi perdendo essa nitidez conceitual e incorporou outros significados, um tanto amplos e
variados. Por exemplo, tomou sentidos neurológicos (comunicação entre os neurônios e o cérebro), fisicos (vasos
comunicantes), mecânicos (comunicação entre máquinas), esotéricos (telepatia), místicos (espiritismo), etc.
Na década de 1950, um grupo de pesquisadores das áreas de Psiquiatria, Antropologia e Comunica-
ção, entre outras, encontrou-se em Pala Alto, Califórnia. Esse grupo ficou conhecido como o Grupo de
Paio Alto. Após uma série de debates e reuniões, chegaram ao consenso de que uma pessoa não consegue
não comunicar (Watzlawick; Beavin; Jackson, 1973). De acordo com esse pensamento, tudo pode ser
considerado comunicação, pois está sujeito ao comportamento das pessoas. Mesmo o silêncio seria co-
municação, pois pode expressar discordância, insatisfação, etc. Com o tempo, essa proposta de que não
é possível não comunicar foi sofrendo críticas, e seus criadores chegaram à conclusão de que nem todo o
comportamento é comunicativo, embora possa ser informativo.
Para West e Turner (2000, p. 4, tradução nossa): "Comunicação é um processo no qual indivíduos
empregam signos para estabelecer e interpretar significados em um determinado contexto." Ainda segundo
os autores, comunicação "( ... ] é um processo [... ] contínuo e ininterrupto". Portanto, além de complexa,
a comunicação é um processo dinâmico, em constante mudança.
Analogamente, outras definições encontradas na literatura consideram a comunicação como um pro-
cesso que não tem um início e um fl.m que possam vir a ser delimitados. Por exemplo, as conversas que
mantivemos com as pessoas no passado tlcaram guardadas em suas memórias e elas afetam a comunicação
que mantemos com essas mesmas pessoas hoje.
Sendo um processo em que se busca estabelecer e interpretar significados e sentidos por meio de
signos (palavras, sons, expressões, etc.), os fatores culturais e pessoais podem afetar a comw1icação. A
influência da cultura no processo de comunicação fica mais evidente quando há interação entre pessoas
de diferentes lugares. A maior parte do tempo elas passam tentando se expressar e ser compreendidas por
meio de signos, tendo como base as suas experiências vividas, seu histórico cultural. Devido a isso, no
entanto, alguns desses signos não serão compreendidos, pois nem todos os indivíduos compartilham das
mesmas experiências, tampouco falam o mesmo idioma.
Por sua vez, Miller e Steinberg ( 1975) compreendem a comunicação como um processo no qual ao
menos uma das partes deve transmitir uma mensagem com a intenção de modificar o comportamento da
outra. Consideram, ainda, que somente aquelas mensagens que foram recebidas e interpretadas correta-
mente podem ser chamadas de comunicação.
Para ilustrar de uma maneira mais clara como a Comunicação tem sido abordada ao longo dos anos,
teóricos desenvolveram alguns modelos que demonstram como ocorre esse processo, permitindo que ele
seja visualizado graficamente.
Um dos mais conhecidos é o modelo linear de comunicação, adaptado a partir do modelo de co-
municação eletrônica descrito por Claude Shannon e Warren Weaver (apud West; Turner, 2000, p. 9), 1
cientistas norte-americanos, em 1949 (Figura l).
Este modelo envolve os seguintes elementos: uma fonte, que envia a mensagem por meio de um canal
a um receptor. A fonte é o elemento que tem como objetivo transmitir uma informação, a qual é trans-
formada em mensagem por meio de um codijicador. A fonte e o receptor devem ser sistemas similares. Se
não o forem, não pode haver comunicação. Ainda assim, para esse último poder extrair um significado da
mensagem, é necessário que ele a decodifique por meio de um decodijicador.

Fonte Canal· Receptor

oRuído
--Mensagem

Figura 1 -Modelo linear de comunicação.

Discutindo sobre a tldelidade da comunicação eletrônica, Shannon e Weaver (apud West; Turner,
2000, p. 12) introduziram, também, o conceito de ruído, isto é, tudo aquilo que interfere na etlcácia do
1 Ver SHANNON, Claude Elwood; WEAVER, Warren. Tbe mathematical theory ofcommunícation. Urbana: University of

Illinois Press, 1949.

102 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • i!


processo de comunicação. Dentre os fatores que podem vir a interferir nessa eficácia, tanto por parte da
fonte quanto do receptor, estão as habilidades de comunicação (saber ouvir e falar, ler e escrever, etc.), as
atitudes da fonte para consigo, para com o assunto e para com o receptor, o nível de conhecimento em
relação ao assunto e o sistema sociocultural em que atuam.
Na década de 1970, Dean Barnlund ( 1970) apresentou o modelo transacional de comunicação, o qual
ressalta que há uma simultaneidade no envio e no recebimento de mensagens. O termo transacional quer
dizer que há uma troca e que o processo é cooperativo, sendo ambos a fonte e o receptor responsáveis
pelo efeito e pela eficácia da comunicação. Dessa forma, em vez de se enviar um significado junto com a
mensagem, as pessoas constroem um significado em conjunto e o compartilham.
Nesse modelo, uma mensagem influencia a outra. Na verdade, cada mensagem se estrutura na men-
sagem anterior, havendo, portanto, uma interdependência entre elas. A mudança em uma, fatalmente,
provocará mudanças nas outras .

---~--------·---·-··-- ---------- ....__


/./' •.~... -··- Feedback ... --............____ _
Campo de Campo de
Experiência Experiência

\
1
!

Decodificador
Fonte -- - - - - -------·· Receptor

Figura 2 -Modelo transacional de comunicação.


o Ruído
--Mensagem

Com tamanha diversidade de conceitos e interpretações, os teóricos costumam dividir a Comunicação


em segmentos, tàcilitando, além do seu estudo, também a compreensão e a administração do processo.
Para tal, tomam como ponto de partida o contexto em que se dão os processos de comunicação, ou seja,
a quantidade de pessoas envolvidas, o espaço entre elas, a extensão do feedback, o grau de interação c os
canais disponíveis (Figura 2).

COMUNICAÇÃO VISUAL

No século XXI, vivemos em um mundo "visual", no qual dedicamos grande parte de nossa energia e
tempo ao ato de ver as coisas. Hanson (apud Berger, 1998, p. 20, tradução nossa) 2 diz que"[ ... ] 75% da
informação que chega ao nosso cérebro vem dos olhos".
A informação visual é a mais antiga forma de registro da Humanidade, pois já era encontrada nas
cavernas há dezenas de milhares de anos. Comunicamo-nos por meio de imagens também. Essa comu-
nicação visual se dá, muitas vezes, de forma indireta, por meio de significados simbólicos com o uso de
signos de todos os tipos.

2 Ver HANSON, Jarice. Understanditl...ff Pideo. Newbury Park: Sage, 1987.

i! • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 103


No entanto, ver não é algo tão simples. Estudos indicam que a visão é um décimo física e nove décimos
mental (Preble; Preble apudBerger, 1998, p. 31). 3 Quer dizer, nós não apenas vemos, mas temos que apren-
der como e o que ver, pois não podemos prestar atenção em tudo o que há ao nosso redor. O que fazemos,
na verdade, é selecionar o que queremos ver com base, principalmente, naquilo que conhecemos e desejamos.
Segundo Poynor (1998), ver é uma experiência direta, e a utilização de dados visuais para transmitir
informações representa a máxima aproximação que pode haver com relação à realidade. A experiência
visual humana é fundamental para que possamos apreender o ambiente e reagir a ele.
Donis Dondis, em seu livro Sintaxe da linguagem visual (1997), utiliza o termo alfabetismo visual
dizendo que, da mesma forma que a invenção do tipo móvel criou a necessidade de um alfabetismo verbal,
a criação da câmera criou a necessidade do alfabetismo visual.
Ainda segundo o autor, a evolução da linguagem começou com imagens, avançou rumo aos picto-
gramas, às unidades fonéticas e chegou, finalmente, ao alfabeto.
A cor, que é gerada por ondas eletromagnéticas, é um dos principais elementos da comunicação visual.
Diversos comprimentos de ondas, ou combinações desses comprimentos refletidas em um objeto, enviam
mensagens aos nossos olhos, que os interpreta como uma cor ou combinação de cores.
A cor possui três características principais- que, com o tempo, receberam outros nomes. São elas:
• Matiz (ou tom): é a cor em si. Os matizes primários são o vermelho, o amarelo e o azul. Todas as
outras cores são obtidas por meio da mixagem desses matizes.
• Croma (ou saturação): refere-se à intensidade ou pureza de uma cor. É a função do grau em que uma
cor não é alterada pela mixagem com o preto e o branco. V ai do matiz ao cinza, que não possui cor.
• V alar (ou brilho): o brilho não está relacionado com a cor em si, mas com a intensidade da luz gerada por
um objeto. Por exemplo, a imagem de uma TV preto e branco e de uma TV colorida terá o mesmo brilho.

As cores podem ser descritas como quentes e ftias. As cores tidas como quentes são o vermelho, o laranja e
o amarelo, ao passo que se tem o azul e o verde como cores frias. Em hospitais, é comum o uso da cor branca
e de outros matizes frios com a intenção de acalmar e relaxar as pessoas. Além desse aspecto psicológico, as
cores têm caráter informativo, como o emprego de vermelho, amarelo e verde em um semáforo, por exemplo.
Também são partes fundamentais da comunicação visual os códigos e os pictogramas. Os códigos
podem ser vistos como uma maneira de dar sentido aos pictogramas. Esses códigos podem ser criados
e sistematizados, como os sinais de trânsito, por exemplo, para nos indicar o que fazer em determinadas
situações. A sinalização de trânsito faz extenso uso de elementos gráficos que facilitam a sua interpretação.
A esses elementos dá-se o nome de pictograma, que, segundo Bocker (1996, p. 107, tradução nossa), é
"[ ... ]a classe geral de signos gráficos e inclui ícones e símbolos".
Wood e Wood (apud Piamonte; Abeysekera; Ohlsson, 2001, p. 400) 4 definem pictogramas como
símbolos que são simples, concretos e autoexplicativos sobre as ideias, objetos e funções que representam.
Tradicionalmente, os pictogramas foram utilizados para indicar localizações e serviços em áreas como
aeroportos, rodoviárias, etc. Com o desenvolvimento das comunicações e da informática, os pictogramas
ganharam espaço em telefones, controles remotos e interfaces gráficas de computadores.
Alguns pictogramas são oficialmente reconhecidos e recomendados por organizações de padronização,
como a International Standardization Organization (ISO), enquanto outros seguem padrões definidos
por fabricantes para produtos em comum e, algumas vezes, para uso em seus próprios produtos.
3
Ver PREBLE, Duane; PREBLE, Sarah.Artforms. New York, NY: Harper & Row, 1985.
4
Ver WOOD, W. T.; WOOD, S. K. Icons in ~Weryday life: social ergonomics and stress aspects ofworks with computers.
Hillsdale, NJ: Lawrence Erlbraum Associates, 1987.

104 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • g


Figura 3 - Pictogramas da ISO 7001 -símbolos para informação pública (apud Emerson, 2003 )5

De acordo com Bocker (1996), dentre as vantagens dos pictogramas, podemos destacar:
a) visualmente, são mais esclarecedores e reconhecidos mais facilmente do que um conjunto de
palavras;
b) sua sintaxe e semântica são mais simples que a do texto;
c) requerem pouco espaço para representar muita informação;
d) possuem maior eficácia ao indicar direções e outros atributos de espaço; e
e) são "internacionais", pois não são limitados por um idioma e podem ser interpretados por
analfabetos também.

TIPOGRAFIA

Tipografia, segundo Berger (1998, p. 147, tradução nossa), é"[ ... ] a arte de selecionar e organizar
tipos ou [ ... ] usar tipos em gráficos para obter um efeito específico". Outros autores consideram a tipo-
grafia como uma das ferramentas da Comunicação.
É importante ressaltar que qualquer leitura sobre tipografia requer o conhecimento e a distinção
prévia entre alguns termos, tais como:
• Tipo (ou caráter tipográfico): barra ou bloco de metal com um caráter em relevo chamado face,
cuja impressão reproduz uma letra, número ou símbolo.
• Caráter (plural: caracteres): é cada letra, sinal, marca ou símbolo utilizado tanto na escrita e na
impressão como em computadores. No caso dos computadores, é mais conhecido como caractere.
• Face (ou face de tipos): conjunto de caracteres (letras, numerais, etc.) com um estilo específico e
único, contendo características que os diferenciam dos demais. Cada face é conhecida por um nome,
como a Garamond, por exemplo.
• Estilo (ou estilo de tipos) : são características visuais das faces determinadas pelo ângulo de escrita dos
seus caracteres e pela espessura e largura desses. Alguns exemplos de estilos são o itálico, o negrito e o
condensado. A serifa é outra dessas características que podem estar presentes nas faces, sendo, também, nome
de uma categoria destas. Trata-se de uma linha decorativa que se projeta dos ângulos do caráter. Caracteres
sem serifa (sans-serij) formam outra categoria distinta de faces e não possuem essa linha decorativa.
• Fonte: é a coleção de todos os caracteres de uma única face e que coritêm o mesmo estilo e tamanho.
Por exemplo, a fonte Garamond Italic 14. Também é o nome dado ao conjunto de matrizes a
partir das quais se fundem tipos móveis de tamanho e estilo únicos.
• Família: grupo contendo todos os tamanhos e estilos de uma mesma tàce. Geralmente, a família
recebe o nome da própria tàce. Por exemplo: a família Garamond possui os estilos Bold, Italic, entre
outros, em diversos tamanhos.
5 Documento eletrônico, não paginado.

!i! • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 105


Quando lemos algum material impresso, os caracteres que vemos foram selecionados, bem como a
disposição do texto (centralizado, justificado, etc.), para causar determinado efeito.
Os caracteres das várias tàces existentes podem diferir amplamente em sua forma e aparência. Alguns
são formais e elegantes, já outros são bastante casuais e, enquanto alguns sugerem antiguidade, outros
sugerem modernidade.
O tamanho dos caracteres geralmente é descrito em pontos. Existem 12 pontos em uma paica e cerca
de 6 paicas em uma polegada. Portanto, tàlamos "um caráter de lO pontos". Essa unidade de medida tem
origem nos tipos de metal, ou seja, a medida em pontos expressa o tamanho que o caráter impresso teria
se fosse moldado em metal.
Assim, pode-se perceber claramente a importância da tipografia na transmissão da informação, visto
que a maneira como a mensagem é apresentada influencia muito no seu significado.

PLANEJANDO UM SISTEMA DE SINALIZAÇÃO

Quando se entra em um ambiente não familiar, é bastante comum deparar-se com situações de total
desorientação. Uma biblioteca, com seus equipamentos e, eventualmente, vários andares em que se en-
contram dezenas de milhares de obras ordenadas por códigos alfanuméricos, cuja compreensão escapa à
maioria dos usuários, não tàge a essa regra.
O usuário que entra em uma biblioteca é obrigado a lidar com o seu ambiente físico para procurar a
informação que necessita. Esse ambiente é o meio pelo qual ele terá de se locomover e é a fonte de infor-
mações que ele utiliza para decidir para qual lado deve ir e elaborar suas estratégias de busca.
Para um novo usuário, uma biblioteca mal sinalizada pode int1uenciar a sua atitude em relação a essa
instituição, fazendo-o pensar que todas as demais devem ser mal planejadas também. Além disso, com
frequência os usuários sentem-se frustrados, pois sabem que a informação que procuram está na biblioteca,
mas não sabem como consegui-la.
Muitos usuários também não têm o costume de solicitar ajuda à equipe da biblioteca. Essa situação é
reforçada pelo fato de alguns não gostarem de confessar que, simplesmente, não sabem como proceder,
principalmente quando uma informação sobre tal está disponível de maneira clara e direta, pois seria o
mesmo que admitir que não souberam interpretar quatro ou cinco palavras.
Com base nessa postura, torna-se evidente que, ao elaborar um sistema de sinalização para uma
unidade de informação, além de se ter o cuidado de prestar informações claras e concisas e tàzer uso· de
pictogramas e símbolos de fácil interpretação, também é necessário que esse sistema seja apresentado ao
usuário de urna maneira mais formal, de modo que o usuário o conheça, saiba por que ele foi elaborado
e como se orientar a partir dele.
Um sistema de sinalização bem planejado deve contemplar quatro tipos de sinais:
• Sinais direcionais: conduzem para destinos específicos por meio de setas. Podem indicar mais de um
destino, sendo normalmente agrupados de acordo com a sua direção. Geralmente é preciso indicar e distin-
guir os destinos primários (áreas maiores) dos secundários (áreas menores localizadas dentro das maiores).
• Sinais de identificação: indicam o nome de um destino, podendo ser um lugar, como uma sala, ou
um objeto, como um computador.
• Sinais instrucionais: indicam procedimentos adequados para o uso mais eficiente e eficaz de determinado
local, dos seus serviços e equipamentos disponíveis. A sinalização de segurança se enquadra nesse tipo de sinais.
• Sinais informacionais: deixam a par da disponibilidade dos recursos e serviços do local e sobre suas
condições especiais e/ou restrições de uso. Informações sobre horários de funcionamento e restrições
quanto ao fumo e ao porte de alimentos no seu interior são exemplos desses sinais.

106 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • E!


Além disso, ao se elaborar um sistema de sinalização para uma biblioteca, deve-se levar em conside-
ração, dentre vários fatores, o perfil da instituição mantenedora dessa unidade. É possível, por exemplo,
que venha a ser obrigatório o uso das cores da instituição nos sinais.
Um projeto complexo geralmente requer trabalho em equipe, e a sinalização em bibliotecas não é di-
ferente. Pensar e implantar um sistema de sinalização eficaz não é uma tarefa fácil e exige alguns meses de
trabalho para se chegar a um resultado satisfatório, além de um período de testes para, de fato, ser implantado.
Um projeto interdisciplinar como esse não pode dispensar a participação de arquitetos, designers e,
naturalmente, de bibliotecários também. Afinal, é o bibliotecário quem melhor conhece o seu usuário
e mais sabe sobre a importância dos serviços prestados na biblioteca. O bibliotecário é quem, como
representante de sua equipe de trabalho, deve ter voz ativa ao longo de todo o desenvolvimento do sis-
tema de sinalização, visto que esse sistema deve ser pensado especificamente para uma única biblioteca
e não baseado em generalizações.

Estilo de fonte

Um dos principais aspectos a se considerar na escolha de determinada fonte é a sua legibilidade,


principalmente à distância. Nesse sentido, fontes com caracteres sem serifa são as mais indicadas para uma
leitura que poderá se dar com o leitor em movimento, devido à simplicidade destes quanto à forma. Além
disso, o espacejamento entre os caracteres é mais nítido. Naturalmente, existem fontes com caracteres
serifados que também são adequadas para o uso na sinalização.
A escolha da fonte pode refletir, inclusive, a atmosfera que o local pretende passar. Fontes com caracteres
serifados lembram ambientes mais tradicionais, ao passo que os sem serifa remetem a ambientes mais modernos.

Pictogramas

Pictogramas são um meio muito eficiente de transmitir informações utilizando pouco espaço, além de
não sofrerem limitações quanto ao idioma. Para tal, eles devem possuir um balanço adequado dos elementos
que compõem aquilo que querem representar, de modo que não afete sua legibilidade e compreensão.
A seta é um dos símbolos mais utilizados na sinalização e, por isso, deve ser legível de longas distân-
cias. Segundo Reynolds e Barrett (1981), a seta deve ter o formato de uma ponta de flecha, com a cabeça
formando um ângulo de 45 graus com a linha do corpo.

Figura 4- Modelos de setas.

Espacejamento

O espacejamento entre as linhas, palavras e caracteres influi bastante na legibilidade, não importando
a fonte ou o tamanho do caráter. O espaço entre esses elementos deve ser suficiente para podermos ler
claramente o que está escrito. Qualquer excesso provocará alteração na legibilidade.
O espaço entrelinhas deve sempre evitar que os descendentes dos caracteres da linha de cima toquem
nos ascendentes dos caracteres da linha de baixo. Sinais escritos em caixa-alta necessitam de um espaço
um pouco maior entre as linhas.

g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 107


Tamanho e leiaute dos painéis

Além do estilo, do tamanho e do espacejamento dos caracteres e do uso de pictogramas, o tamanho


dos painéis depende, também, do tipo de informação que ele apresenta.
Painéis com sinais direcionais de uma única linha terão sempre o mesmo tamanho quando agrupados
em um único painel. Já sinais de identificação deverão ter, sempre que possível, a mesma largura e altura.
Tendo em vista a manutenção da consistência e da harmonia do sistema, deve-se evitar um número muito
grande de variações nos tamanhos dos painéis que contêm o mesmo tipo de informação (Reynolds; Barrett, 1981).
Quanto ao leiaute, os painéis com sinais direcionais requerem uma atenção especial em relação à sua
padronização no sistema. Caso os painéis possuam sinais direcionais com mais de um destino, os nomes
desses destinos devem ser agrupados conforme a sua direção. De preferência, inicia-se com as setas que indi-
cam para frente e suas respectivas diagonais, seguidas das horizontais e das diagonais que indicam para trás.
As setas podem ser colocadas tanto à esquerda quanto à direita dos nomes dos destinos. Pode-se
também utilizar uma única seta para uma direção e agrupar todos os destinos que ficam naquela direção.
Os nomes dos destinos são, geralmente, alinhados à esquerda, podendo também ser alinhados conforme
a direção apontada pela seta - por exemplo, alinhados à direita se a seta aponta para a direita.
Os sinais de identificação não requerem regras muito rígidas quanto ao alinhamento das informações.
Quanto à largura e altura, devem ser estabelecidos dois ou três tamanhos diferentes, conforme a quantidade
de informação que apresentarão.

Figura 5 - Sinal de identificação.

Os sinais informacionais e instrucionais, por sua vez, necessitam de uma clara organização do texto.
Os títulos devem ter destaque em relação às infor~ações e instruções. Como as instruções costumam ser
dadas passo a passo, para diferenciá-los deve-se colocar um espaço adicional entre cada passo.

Cores

O uso das cores na sinalização deve ser feito com cuidado e atenção, pois além de poderem afetar o
estado emocional das pessoas, as cores também influenciam na legibilidade dos sinais.
Normalmente, um texto impresso em preto em um fundo branco tem uma legibilidade melhor do que
se fosse ao contrário. O primeiro exemplo é chamado de imagem positiva; o segundo, de imagem negativa.

BIBLIOTECA

Figura 6 -Imagem positiva e imagem negativa.

108 • JUSSARAPEREIRASANTOS (Org.) • g


Quando se utilizam caracteres e fundos coloridos, a característica das cores que afeta a legibilidade é
o contraste entre seus brilhos, o que quer dizer que ou os caracteres devem ser muito escuros e o fundo
deve ser muito claro, ou vice-versa (Institute ofSignage Research, 1979).
A escolha das cores normalmente é feita com base nas cores atuais do local, do seu prédio ou mesmo
da instituição a que pertence. Quando não há essa imposição do ambiente, pode-se utilizar diferentes
cores para identificar cada grupo de sinais ou para enfatizar determinada informação dentro de \lill grupo.
As cores também são empregadas como forma de codificação. Pode-se atribuir uma cor específica
para cada setor, por exemplo. Dessa forma, todos os sinais dentro de determinado setor terão a mesma
cor, independentemente do tipo de informação. No entanto, deve-se limitar o número de cores adotado
e não utilizar as cores como substitutas das palavras, e sim como seus complementos. Inclusive, deve-se
ter cuidado antes de escolher quais cores adotar, para que elas não sejam as mesmas utilizadas nas normas
de sinalização de segurança (Associação ... , 1959, 1995).

Conteúdo dos sinais

Os sinais devem, na medida do possível, transmitir a informação mínima necessária para se encontrar
o que se procura ou fazer uso de um recurso ou serviço, evitando-se o uso de informações desnecessárias
que venham a tirar a atenção do foco principal da mensagem. Segundo Reynolds e Barrett (1981), a in-
formação por meio de palavras deve ser resumida e clara o bastante para alguém lê-la de passagem, pois,
para alguns, parar para ler é uma confissão pública de ignorância, e essas pessoas preferem seguir em frente,
mesmo sem saber o que fazer depois. No caso específico dos pictogramas, eles devem conter somente
elementos essenciais à sua compreensão, de modo a evitar dificuldades de interpretação.
Outro fator importante a ser considerado é a nomeação dos destinos. Isso deve ser feito por meio de
palavras que deem uma indicação precisa dos materiais, recursos e serviços disponíveis naquele local. Uma
vez definidos os nomes, eles devem ser utilizados em todo o sistema, principalmente na sinalização direcional.

Sinalização de segurança

Esse tipo de sinal tem como propósito comunicar informações sobre riscos à saúde em geral e a ne-
cessidade do uso de equipamentos especiais de proteção pessoal, indicar a localização de equipamentos
de segurança/emergência e orientar sobre procedimentos em caso de emergência.
Basicamente, os sinais de segurança são elaborados de duas formas. A mais comum é o uso de pictogramas
e textos para representar um risco, um equipamento ou um processo. A outra forma é o uso somente de texto
para transmitir a informação; todavia, ela não é recomendada, pois esbarra na questão do idioma. Como
complemento dos pictogramas e textos, também são utilizadas cores e formatos dos sinais padronizados.
Os padrões relacionados aos sinais de segurança são definidos pela Internacional Organization for
Standardization (ISO) por meio das normas ISO 3864: graphical symbols> safety colours and safety signs e
ISO 7010:graphical symbols, safety colours and safety signs- safety signs used in workplaces and public areas. A
norma ISO 3864 é dividida em três partes e aborda a elaboração dos sinais: a Parte 1 trata dos princípios
de design da sinalização de segurança em locais de trabalho e áreas públicas; a Parte 2 trata dos princípios
de design de símbolos de segurança utilizados em produtos; a Parte 3 trata dos critérios de design de sím-
bolos gráficos utilizados em locais de trabalho.
De acordo com a Internacional Organization for Standardization (2002, 2003,2004, 2006), os sinais
de segurança são divididos da seguinte forma:
a) proibitivos: círculo de fundo branco com borda e tarja vermelhas- o pictograma é preto;

i:! • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 109


b) de advertência: triângulo de fundo amarelo com borda preta - o pictograma é preto;
c) de equipamentos de emergência e meios de escape: retângulo de fundo verde- o pictograma
é branco;
d) de ação: círculo de fundo azul- o pictograma é branco.

No Brasil, o Ministério do Trabalho e Emprego editou a NR 26: sinalização de segurança (Brasil,


1978). Segundo ela, o uso de cores não dispensa o emprego de outras formas de prevenção, e tal uso deve
ser evitado ao máximo, de modo que não cause distração ou confusão. Além das cores preconizadas nas
normas da ISO, a NR 26 adota as cores laranja, púrpura, lilás, cinza, alumínio e marrom.

Localização dos painéis

Os sinais direcionais devem permitir aos usuários que se desloquem da entrada principal da biblioteca
para todos os destinos primários e, então, para os secundários, bem como fazer o caminho de volta para
a entrada e se deslocar entre os destinos primários. Esse tipo de sinal deve ser colocado em locais em·quc
o usuário se depara com mais de uma possibilidade de caminho a seguir. Caso contrário, corre o risco de
ser ignorado. Em grandes complexos de prédios ou campi universitários, os sinais direcionais externos não
são, necessariamente, de responsabilidade do bibliotecário.
Os sinais de identificação são necessários desde a entrada principal, de modo que o usuário saiba
que, de fato, chegou à biblioteca. Para não tornar inúteis todos os sinais direcionais, é preciso identificar
também os locais indicados por estes, bem como todos os escritórios e salas de trabalho, banheiros e áreas
às quais não é permitido o acesso aos usuários.
Por sua vez, os sinais informacionais/instrucionais devem ser colocados o mais próximo possível do
local em que são necessários, de modo que não sejam ignorados ou esquecidos. Informações sobre os ho-
rários de atendimento devem ser colocadas tanto do lado de dentro quanto do lado de fora da biblioteca,
e instruções sobre como utilizar materiais e recursos devem ficar juntas destes.
Deve-se distribuir os sinais de caráter restritivo, diferenciando-os dos demais, em todos os locais
necessários. Segundo Cohen e Cohen (1979), nem mesmo o mais gritante sinal proibitivo é capaz de
chamar a atenção de algumas pessoas. Dessa forma, os autores sugerem que, sempre que possível, sejam
utilizadas barreiras físicas para impedir determinada ação ou comportamento. Por exemplo, uma porta
chaveada pode indicar mais claramente que é proibida a entrada de estranhos do que qualquer sinalização.

CONCLUSÃO

A primeira impressão que o usuário tem ao entrar em uma biblioteca poderá influenciar a sua con-
duta ao longo de suas dependências. Uma má impressão da biblioteca por parte do usuário resultará, no
mínimo, em uma má utilização desse espaço.
Além de possuir a informação, uma biblioteca deve disponibilizar meios eficazes para que seus usuários
possam descobrir se essa informação lhe interessa ou não. Quer dizer, uma biblioteca pode ter um acervo
atualizado e riquíssimo em informação, mas o usuário sairá dela com uma impressão negativa caso não
consiga sequer chegar àquela informação.
Se o ambiente da biblioteca será hostil ou amigável ou se a visita será proveitosa ou inútil, grande
parte disso dependerá se a biblioteca tem ou não um bom sistema de sinalização. Portanto, não se pode
negar a importância que a sinalização tem para a biblioteca como um todo. A pouca atenção que a
sinalização recebe se deve, na maioria das vezes, ao fato de os bibliotecários não poderem contar com

110 • JUSSARAPEREIRASANTOS(Org.) • 2
arquitetos e designers para a elaboração do projeto de sinalização e não terem tempo para acrescentar
mais esta atividade à sua rotina.
Mudanças nos acervos e nos serviços prestados podem resultar em completas alterações na estrutura
física de uma biblioteca, e isso também serve para causar confusão no usuário. Além disso, o advento das
novas tecnologias faz com que novos espaços tenham de ser criados para acomodar serviços e equipamen-
tos, e tais mudanças implicam uma necessidade ainda maior de um sistema de sinalização eficaz que deixe
o usuário a par das alterações e que facilite a sua adaptação a elas.
Portanto, fica claro que um sistema de sinalização adequado se faz necessário para que o ambiente
da biblioteca se torne mais funcional, tanto para os usuários quanto para os funcionários, que terão mais
tempo para realizar suas tarefas, deixando de responder perguntas cujas respostas podem ser dadas por
meio de um sistema de sinalização bem planejado.

REFERÊNCIAS

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NB 76/59: cores para segurança. Rio de Janeiro, 1959.
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BERGER, Arthur Asa. Seeing is Believing: an introduction to visual communication. 2"d. ed. Mountain View:
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___ .ISO 3864-2:2004: graphical symbols, safety colours and safety signs. Part 2: design principies for
product safety labels. Geneva, 2004.
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BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

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SEGURANÇA e medicina do trabalho. 50. ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 225-228.

112 • JUSSARAPEREIRASANTOS (Org.) •!!


A preservação dos suportes informacionais em bibliotecas

Marília de Oliveira Santos


Jussara Pereira Santos

INTRODUÇÃO

Somente o conhecimento pode dar ao homem a exata medida de sua importância enquanto agente
transformador da sociedade e, de urna forma abrangente, é nas bibliotecas que o conhecimento se apresenta
registrado nos mais variados suportes. Dos livros aos gibis, dos jornais e revistas aos vídeos, à internet,
tudo está ali: o pensar, o chorar, o rir, o sentir, o saber e o tornar-se consciente de si e do mundo.
A biblioteca é aquele lugar mágico que, ao conter fragmentos da evolução da humanidade, guarda seus
erros, acertos, amores, suas guerras e descobertas. Hoje, a essa magia soma-se a magnitude da informática.
Buscar um livro na biblioteca ou acessar urna informação em meio eletrônico, tanto faz. O que importa é o
direito à informação e ao conhecimento e a possibilidade de acompanhar o desenvolvimento das civilizações.
Uma biblioteca dinâmica, cujo acervo é intensamente manuseado, apresentará, com frequência,
obras desgastadas e que necessitam reparos. Cabe ao indivíduo responsável por sua gestão zelar por sua
conservação como um todo e com o acervo em particular.

A RESPONSABILIDADE SOCIAL DO BIBLIOTECÁRIO


EM RELAÇÃO À PRESERVAÇÃO DE SUPORTES INFORMACIONAIS

O livro foi, durante muitos séculos, um registro de informações à disposição, exclusivamente, das clas-
ses sociais mais privilegiadas. Essas coleções eram organizadas segundo critérios filosóficos predominantes
em cada época, e o responsável por sua organização, até o século XIX, era, quase sempre, um erudito ou
escritor sem formação especializada. Essa situação persistiu até o século XX, quando se criaram os cursos
de Biblioteconomia e as especializações na área da preservação de documentos.
Martins (1996, p. 335) relata a mudança de atitude dos bibliotecários participantes do 5° Congresso
Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação, realizado em São Paulo, em 1967, quando aprovaram
as seguintes recomendações:

O bibliotecário tem por missão social conservar, organizar, difundir e fàvorecer os conhecimentos. Sua
ação é eminentemente pedagógica, visando não apenas manter, mas estender e desenvolver a educação
de base. Ele é encarregado de estimular o interesse pelos livros, de encorajar o hábito de leitura, de
contribuir para o desenvolvimento intelectual de cada um em benefício de todos. O bibliotecário não
gozará na sociedade da consideração que merece se não possuir sólidos conhecimentos administrativos
c técnicos e uma cultura geral igual à que exigem as demais profissões liberais.

Dentre as chamadas missões enunciadas pelo autor, existem algumas que podem ser consideradas como
mais ''visíveis" ao grande público: a função da preservação, na qual "permeiam" todas as atividades, já que na
biblioteca está a guarda dos registros do conhecimento humano; a função da educação, pois o bibliotecário dá
apoio à educação formal e informal na medida em que orienta e auxilia o usuário no uso correto do acervo e
em atividades de promoção da leitura; a função do suporte ao estudo, tendo como missão a responsabilidade
do fornecimento de fontes de informações adequadas aos usuários; a função de amparo à pesquisa, oferecendo
meios que produzam e estimulem a atividade de pesquisa, ampliando os conhecimentos (Mueller, 1989).
O bibliotecário deve conhecer, portanto, além das técnicas biblioteconômicas, os avanços propos-
tos pelos desenvolvimentos ocorridos. Para que isso aconteça, cabe-lhe gerenciar o conjunto de obras
monográficas (livros, enciclopédias, dicionários, teses, dissertações) e de publicações em série (revistas,
relatórios, anais de congressos), quaisquer que sejam seus suportes, preocupando-se com sua preservação,
conservação e restauração.

A PRESERVAÇÃO DO SUPORTE

No momento em que as bibliotecas enfrentam a expansão da informação e a redução de seus orçamentos,


o problema da depredação do patrimônio bibliográfico tem se apresentado como um desafio. O bibliotecário
voltado para a preservação do acervo deve conhecer o comportamento dos materiais e de seus suportes para
poder tomar medidas que conduzam à conservação do acervo, avaliando a resistência ou a fragilidade dos
documentos e a natureza do mal que reside em seu suporte. De acordo com Silva ( 1998, p. 9), a preservação
é"[ ... ] toda ação que se destina a salvaguardar ou a recuperar as condições físicas e proporcionar permanên-
cia aos materiais dos suportes que contêm a informação." Assim, no âmbito da preservação encontram-se

[ ... ] três atividades importantes, que são: atividades ligadas ao tratamento dado ao ambiente da biblio-
teca c nas maneiras de torná-lo ideal a seus conteúdos; atividades relativas aos esforços para prolongar
a vida física através dos métodos de restauração e encadernação; e atividades que envolvem a migração
do conteúdo intelectual ou informativo de um formato para outro (Campos, 2006, p. 42).

Com a implantação de políticas de preservação e ações de conservação adequadas, os suportes podem


durar muito tempo.
No âmbito da preservação dos documentos encontram-se aquelas ações políticas que determinarão as
prioridades entre categorias de material a ser preservado; o uso de técnicas aceitáveis e o tipo dos materiais
para conserto; as diretrizes sobre a exposição dos documentos; as orientações quanto ao armazenamento
das coleções; a implantação de regulamentos relativos ao acesso e uso; as ações a serem implementadas
em caso de sinistros (incêndios, inundações, vendavais) e os planos de segurança e, finalmente, o treina-
mento do pessoal da biblioteca e a conscientização dos usuários no manuseio adequado dos documentos
(Feather, 1996). Constimem-se, ainda, em medidas preventivas todas aquelas relativas ao ambiente físico
da biblioteca, especialmente a ventilação e os controles de temperamra, da umidade relativa do ar e dos
níveis de iluminância a que estão sujeitas as diversas coleções. A aplicação dessas ações ocorre no âmbito
da conservação dos documentos, que se constitui numa atividade de rotina dentro de uma biblioteca. Sem
uma conservação adequada, não há possibilidade de se dispor de arquivo nem de biblioteca em caráter
permanente. Já as intervenções realizadas diretamente sobre o suportes daniticados constimem o grupo
de atividades de restauração.

A CONSERVAÇÃO DOS SUPORTES

As medidas de rotina aplicadas aos suportes informacionais referem-se ao combate aos agentes quí-
micos, físicos e biológicos que constimem as três principais categorias responsáveis pela danificação e
destruição dos livros, manuscritos e material multimídia.

Os agentes químicos

Dentre os agentes químicos, acham-se os produtos utilizados na fabricação dos suportes, a cola e os
materiais de costura das lombadas, além de partículas metálicas (Luccas; Seripierri, 1995).

114 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • g


Os inúmeros produtos químicos utilizados durante o processo de fabricação do papel tornam sua vida
mais curta. Ocorre uma espécie de auto e lenta combustão devido à acidez, que é agravada pelos compo-
nentes da tinta de impressão. Poucos são os fabricantes de papel neutro para a impressão de documentos
de longa durabilidade, o que dificulta a tarefa de conservação desse material.

Agentes físicos

Na categoria dos agentes físicos encontra-se a luz, seja natural ou artificial. As radiações infravermelhas e
ultravioletas tornam o papel desidratado e quebradiço. A radiação ultravioleta presente na luz solar e nas lâm-
padas fluorescentes ataca o papel, pois sua ação branqueadm-a provoca alteração em tintas e/ou escurecimento,
resseca a fibra e queima o papel. Consequentemente, o papel terá maior durabilidade em ambientes escuros
ou com índices de ilurninância bastante baixos. O uso de filtros nas lâmpadas fluorescentes e o fechamento
da parte superior das prateleiras trazem, igualmente, uma maior proteção ao acervo.
Outra medida importante é a manutenção da coleção longe da luz solar. Assim, a vedação de luz
proveniente das janelas deverá ser feita por meio de persianas ou pela aplicação de filmes protetores.
Outro agente bastante agressor aos documentos é a umidade relativa do ar decorrente das condições
climáticas em que se sin1a a biblioteca. A condensação da umidade penetra no papel, originando fungos e
moto, os quais, além de destruir os suportes, concorrem para a infestação de vários insetos. Sua associa-
ção à temperatura contribui para a deterioração do papel, assim como suas oscilações, que propiciam o
desenvolvimento de micro-organismos e insetos. Recomenda-se que os documentos sejam guardados em
locais onde a temperatura e umidade sejam controladas permanentemente e onde os índices determinados
sejam mantidos mesmo em horários e dias em que a biblioteca esteja fechada ao público.
Deve-se buscar soluções integradas para o controle desses fatores com o uso de controladores da umi-
dade relativa do ar, manutenção permanente da temperatura ideal para conservação dos acervos e níveis
de iluminância compatíveis com a idade do acervo e seu objetivo. O uso de ventiladores é importante para
evitar a estagnação de ar entre as estantes e as prateleiras.
Existem algumas soluções "caseiras" para auxiliar na manutenção dos índices de umidade relativa do
ar a serem utilizadas em pequenos ambientes, como o uso de cal, sal grosso e sílica-gel, em quantidades
proporcionais ao tamanho da sala. Colocam-se cal e sal grosso em vidros sem tampa, trocando seu con-
teúdo quando se tornar liquefeito. A sílica-gel azul, ao absorver a umidade, torna-se rosada, podendo ser
reutilizada após sua colocação em forno quente e/ou outra fonte de calor que retire a umidade por ela
absorvida. É evidente que essas soluções só se aplicam a ambientes de pequenas dimensões.
Ainda na categoria dos agentes físicos encontram-se o fogo, a água e os ventos. A queima dos docu-
mentos em papel, a deformação dos suportes em meio magnético e a água utilizada para o resfriamento
desses combustíveis no momento de um incêndio provocarão danos tão ou mais irreversíveis quanto a
própria queima. As inundações provocadas por encanamentos danificados ou por chuvas intensas trazem
prejuízos enormes, tal como exposto anteriormente. É necessário ficar atento, igualmente, à ação dos
ventos fortes capazes de destruir prédios e colocar a perder valiosos patrimônios científicos e culturais.

Agentes biológicos

Como agentes biológicos encontram-se os insetos, os roedores, os fungos e o homem.


Os insetos são agentes biológicos causadores de danos ao homem e a seus pertences em função de sua
necessidade de alimentar-se. Eles competem com o homem devido a seu tamanho, sua abundância e sua rápida
reprodução e adaptação ao meio. Sua reprodução só acontece no estado adulto, e a proliferação é tanto maior
quanto mais alta for a temperarura do ambiente, sendo 2 7 oc a temperarura ideal para o seu desenvolvimento. Os

!l o GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS o 115


insetos são os agentes que produzem estragos mais significativos ao material impresso, pois muitos se alimentam
de sua polpa. Os danos causados por baratas, traças, cupins e formigas de asa são, usualmente, irreversíveis.
Uma solução para repelir os insetos em ambientes de pequenas dimensões é o uso do chamado
.. "pó mágico", que é preparado à base de ervas aromáticas, servindo de solução até mesmo contra ratos.
Trituram-se folhas secas de arruda, manjericão, sálvia, alecrim, coentro e hortelã até formar um pó fino e
espalha-se a mistura pelos esconderijos preferidos desses hóspedes inoportunos. O "pó mágico" pode ser
usado em sachês, evitando-se, assim, a sujeira decorrente dele. Sua substituição deve ser frequente para
manutenção de seus efeitos benéficos.
Já as traças costumam habitar casulos de seda, arrastando-os quando se movem enquanto são lagar-
tas. São repelidas pela mistura de diversas ervas aromáticas (alecrim, manjerona, sálvia, hortelã, arruda)
colocadas em sachês distribuídos nos locais infestados. A naftalina é um produto que pode ser usado com
sucesso, pois afasta os insetos e não prejudica o acervo.
As baratas são insetos de hábitos noturnos que podem ser repelidos com elementos de torre aroma,
como folhas de louro e cravo. Também se pode usar 15 gramas de ácido bórico misturado a uma pequena
cebola ralada, que deve ser colocada em locais estratégicos, como a proximidade dos ralos.
Os cupins formam colônias autossuficientes com um sistema especializado de alimentação. São os insetos
que mais causam prejuízo ao acervo, pois se movimentam em todas as direções e deixam seus ovos por onde
passam. Contra o cupim ainda não foi encontrado um inseticida ideal. Uma opção preventiva "caseira" é passar
na madeira das aberturas uma fina camada de óle? de lavanda diluído em álcool ou óleo da casca de bergamota.
A broca ataca os livros que estiverem apertados nas prateleiras. Como resíduo, deixa cair um pó,
como farinha, o que indica sua presença e ação. O controle é feito com inseticidas líquidos, tomando-se
o cuidado de jamais pulverizar esse produto químico diretamente sobre os livros. Sua aplicação deve ser
feita nas áreas de circulação, como corredores, saguão, salas, etc.
Quanto aos ratos, sabe-se que urna ninhada contém de quatro a dez filhotes, podendo uma fêmea ter
até cinco ninhadas por ano. Para repeli-los sem o emprego de elementos químicos, pode-se usar arruda,
hortelã, naftalina, essências de limão e menta nos locais a serem protegidos. Para exterminá-los, pode-se
usar um composto de quatro partes de farinha de fubá misturada a uma parte de cimento branco, colocan-
do a mistura nos lugares onde os animais deixam seus excrementos. A vedação das portas e janelas, assim
como urna busca cuidadosa de frestas junto a assoalhos e forros, deve ser realizada para que os roedores
não tenham acesso ao recinto da biblioteca.
O emprego de agentes químicos deve ser visto como último recurso no combate aos insetos e roedores.
Esses agentes deixam resíduos importantes impregnados nos documentos e no mobiliário em geral, po-
dendo trazer consequências sérias à saúde dos usuários e da equipe da biblioteca, além de comprometerem
a durabilidade dos documentos. A seleção do produto e a escolha da empresa para sua aplicação devem
seguir critérios rigorosos estabelecidos depois de estudos relativos à extensão dos danos e do comprome-
timento causado ao acervo. O uso de iscas com barato é uma das soluções propostas, já que o produto
não entra em contato direto com os documentos.
Cardoso (2004) aponta os seguintes métodos alternativos para o controle de pragas de insetos, es-
pecialmente as de cupins: barreiras físicas (mistura de partículas de granito, areia e basalto); micro-ondas
(aplicação de energia magnética em frequência de micro-ondas); iscas e predadores naturais.
Outro agente biológico altamente destrutivo dos acervos é o homem, pois concorre para a destruição dos
documentos através do uso indevido, como dobrar as páginas de livros; colocar elementos como flores e/ou
folhas em seu interior; rabiscar ou marcar trechos que considera importantes; umedecer os dedos com saliva;
colar fitas adesivas, além de efetuar furtos e cortes de partes dos documentos. A única forma de prevenir esses
hábitos é a conscientização de usuários e funcionários da biblioteca. Campanhas educativas, palestras, exposições
de obras danificadas podem, ao longo do tempo, provocar mudança no comportamento das pessoas.

116 • JUSSARAPEREIRASANTOS (Org.) • g


OS SUPORTES INFORMACIONAIS E SUA CONSERVAÇÃO

Na atualidade, ao tradicional suporte em papel somam-se inúmeros meios nos quais são registradas as
informações, como os disquetes, o CD-ROM, os filmes, os microfilmes e os diapositivos, para mencionar
os mais comuns nas bibliotecas.

O papel

Sobre os elementos que podem acelerar a destruição do papel, Báez (2006) reafirma a inadequação
do ambiente quanto a umidade, falta de ventilação, atmosfera seca em demasia, alta temperatura, conta-
minação por agentes químicos e biológicos e excesso de luz.
Dentre algumas medidas para a conservação de documentos em suporte em papel, citam-se:
a) redução de incidência de luz solar ou artificial;
b) equilíbrio e manutenção da temperatura sem oscilação, por meio da instalação de aparelhos
de ar-condicionado;
c) monitoração da umidade relativa do ar e da temperatura por meio de higrômetros e de ter-
mômetros;
d) pintura de estantes e arquivos de metal com produtos antiferrugem;
e) guarda de documentos e gravuras com proteção de papel neutro, para evitar que os aditivos
i químicos passem de um para o outro;
f) limpeza das mãos durante o manuseio do documento;
g) utilização de ambas as mãos ao manusear documentos;
h) retirada dos livros das estantes pelas laterais e não pelo cabeceado (borda superior da lombada);
i) utilização de lápis com grafite macio para fazer eventuais anotações;
j) manutenção dos livros de grande porte, que não couberem na forma vertical nas estantes, na
posição horiwntal (no máximo três volumes);
k) não uso de fitas adesivas (seja em que situação for);
1) proibição da entrada de alimentos sólidos ou líquidos nas áreas reservadas ao acervo;
m) sistema de prevenção de incêndio funcional e eficaz para, em caso de emergência, não causar
maiores danos aos documentos.

A acidez do papel (que foi responsável pela destruição de centenas de milhares de documentos no
mundo todo) aliada ao pouco uso de papéis neutros e tintas de impressão não nocivas aos livros hoje pro-
duzidos, torna vulnerável esse suporte, ainda o mais popular em todas as bibliotecas do mundo. Somente
medidas preventivas poderão assegurar sua existência nos próximos anos.

Fotografia

As fotografias constituem parte de muitos acervos documentais e são importantes fontes de informação.
Usualmente, seus suportes são o papel, o plástico, o metal, a cerâmica e a madeira. A camada adesiva
transparente sobre o suporte, chamada ligante, pode ser de gelatina (derivada de ossos e couros de ani-

g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 117


mais), albúmen (derivado da clara de ovo) e colódio (solução viscosa de piroxilina em uma mistura de
álcool e éter). A substância formadora da imagem nas fotografias em preto e branco é a prata metálica; nas
fotografias coloridas, são os corantes orgânicos formados durante o próprio processamento fotográfico.
Segundo Burgi (1988), todos os suportes de materiais fotográficos respondem a variações de umidade
relativa e temperatura ambientais. A umidade pode ser considerada como um dos principais fatores de
deterioração das fotografias, provocando mudança na forma e no tamanho do objeto, reações químicas
de deterioração e deterioração biológica (fungos e bactérias).
Além das causas químicas e biológicas, outros fatores são determinantes na deterioração de materiais
fotográficos: poluentes ambientais (gases de escapamento de automóveis, gases industriais, etc.), materiais
acessórios inadequados e manuseio e arquivamento incorretos.
Para a preservação de acervos que contenham material fotográfico, deve-se seguir algumas medidas
essenciais, como:
a) controle da temperatura e da umidade relativa do ar;
b) proteção individual das fotografias por meio de invólucro de boa qualidade, como papéis
filtrantes (linter). Os invólucros de plástico (poliéster, polietileno) podem ser utilizados desde
que o ambiente de guarda conte com controle permanente de temperatura e umidade;
c) uso de luvas de algodão para manuseio do material;
d) guarda dos documentos em móveis de aço;
e) emprego de lápis macio para identificação dos documentos no seu verso.

Diapositivos

A estrutura de um diapositivo colorido após o processamento compõe-se de suporte plástico trans-


parente (triacetato de celulose) no qual está o ligante (gelatina de origem animal), que fixa a substância
formadora da imagem.
Por tratar-se de material muito sensível, as medidas de conservação a serem consideradas são:
a) acondicionar os diapositivos em cartelas flexíveis de polietileno e/ou polipropileno;
b) usar caixas de plástico rígido, com ranhuras para o acondicionamento vertical individual de
cadaslide;

c) utilizar mobiliário metálico (armários ou arquivos de aço);


d) controlar as condições ambientais (umidade relativa, temperatura e iluminação);
e) produzir, sempre que possível, duplicatas para projeções frequentes e empréstimos.

Paralelamente a essas medidas de conservação, deve-se ter preocupação com as condições de limpeza
do material. O ambiente deve estar sempre muito limpo, arejado, com controle permanente de tempera-
tura e umidade relativa do ar.

Microfilme

O microfilme é um material plástico transparente recoberto por uma camada formadora da imagem,
não vista a olho nu, que necessita de equipamento especial para sua leitura.

118 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • !!


O microfilme é útil na preservação de grande volume de documentos em suporte papel para serem
colocados à disposição do público, documentos estes que de outra forma não poderiam ser acessados.
As seguintes recomendações devem ser seguidas para a conservação de microfilmes:
a) colocá-los em latas vedadas à umidade e armazená-los em cofres, arquivos ou armários à
prova de fogo;
b) ter cautela no controle da temperatura, já que o calor excessivo provoca a deformação do filme,
encolhendo as bordas -para isso, recomenda-se o uso de ar-condicionado;
c) a área de armazenagem deve ser acima do nível térreo, para ser protegida da água (a última
gaveta deve estar no mínimo 16 centímetros acima do chão);
d) controle de umidade: a baixa umidade pode tornar os filmes quebradiços e deixá-los com
eletricidade estática quando manuseados com frequência, ao passo que a alta umidade pode
favorecer o aparecimento de fungos;
e) evitar atmosfera contaminada: como precaução, deve-se protegê-los em containers selados;
t) fazer duplicatas para uso do público e manter os originais armazenados, pois, com o manuseio
inadequado, podem ocorrer arranhões, rasgos ou manchas de impressões digitais;
g) a sujeira pode ser removida dos filmes com um pano limpo que não solte fiapos, umedecido
com produtos especiais (exemplo: Kodak Film Cleaner).

Suportes digitais: discos rígidos, disquetes, COs, OVOs, discos Blu-ray© e outras tecnologias

A quantidade cada vez maior de computadores e seus periféricos em bibliotecas trouxe para o coti-
diano dos bibliotecários a incumbência de preservar tais equipamentos, sem os quais muitas informações
disponíveis em bases de dados tornam-se inacessíveis. Além dos computadores, as mídias que armazenam
as informações localmente devem ser cuidadas, pois estão bastante sujeitas ao ataque de agentes danosos
e à danificação por mau uso.
A primeira observação a fazer é bastante óbvia: existem dados digitais e meios de armazenagem desses
dados. Mesmo parecendo tão simples, essa observação pode nos levar a alguns cuidados essenciais com
informações digitais: proteger os meios de armazenamento e ter sempre cópias de segurança dos dados,
afinal os dados digitais em si não diferem se estão gravados em um meio ou em outro, mas as formas de
acesso e os equipamentos capazes de realizarem-na é que mudam. A possibilidade de os dados digitais
serem copiados permite, por exemplo, que mesmo a internet sirva como recurso para cópias de segurança:
empresas especializadas alugam quotas de espaço em seus computadores para cópias de segurança, aos
quais garantem absoluto controle de condições de operação e manutenção.
Para o bom funcionamento de qualquer sistema digital, especialmente os destinados à armazenagem
de dados, deve-se buscar a configuração e a instalação de programas, periféricos e equipamentos da ma-
neira mais profissional possível: para isso, e para realizar a manutenção dos equipamentos, deve-se preterir
empresas sólidas de fornecimento e manutenção de computadores que contem com técnicos qualiticados
e que, acima de tudo, busquem sistemas confiáveis.
Um dos quesitos dessa confiabilidade advém da aquisição de softwares originais (apesar do custo mais
elevado se comparado a cópias), pois o mau funcionamento do programa pode causar prejuízos e perda
de dados. Caso o programa seja legal, o suporte técnico dado pelo fabricante (preferencialmente, buscar
programas desenvolvidos ou com equipes de suporte no Brasil) deve resolver possíveis problemas de im-

g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 119


plantação e até mesmo fornecer treinamento básico; caso contrário, deve-se buscar um técnico (mesmo
que não autorizado) para realizar reparos e eventualmente recuperar dados perdidos por falha do software.
As configurações de hardware também são importantes na confiabilidade dos sistemas. Alguns com-
ponentes têm um custo mais alto que outros justamente por suportarem melhor os testes de qualidade
das fábricas. Isso não quer dizer que as marcas mais caras sejam as melhores, mas que componentes de
categorias superiores têm comportamento confiável, o que as linhas mais baratas podem deixar a desejar.
De qualquer maneira, um técnico qualificado saberá escolher e aconselhar na compra desses equipamentos.
Na eventualidade de alguma falha ocorrer, os equipamentos podem ser protegidos de diversas formas:
sistemas de cópia de segurança automáticos, filtros de linha e sistemas de prevenção de interrupção do
fornecimento de energia contribuem para a estabilidade das instalações.
As cópias de segurança podem ser feitas automaticamente através de mecanismos como os sistemas
RAID, os quais garantem que, mesmo após uma falha de um dos discos rígidos, os dados possam ser
recompostos a partir dos outros (normalmente são utilizados três discos rígidos em conjunto). No entan-
to, as cópias de segurança também devem ser feitas em mídias externas, como os discos de CD, DVD e
outros tipos de memória externa. Falaremos adiante sobre os cuidados com as mídias propriamente ditas.
A utilização de sistemas de prevenção de interrupção do fornecimento de energia (conhecidos como
no break) garante que não haja danos causados por corte de energia e perda de dados não salvos.
O sistema como um todo - ou em partes elaboradas a partir de um projeto específico - deve estar
ligado a estabilizadores e aterrado, de modo a evitar que descargas repentinas na rede de eletricidade
danifiquem os equipamentos e até mesmo machuquem quem os utiliza.
Alguns cuidados básicos no uso de computadores também podem ajudar a prolongar sua vida útil:
a) proteger o computador do sol, que não deve atingi-lo em nenhuma hora do dia;
b) colocar o computador longe de janelas em virtude da poeira e umidade, pois essa poeira contém
enxofre que, em contato com a umidade, gera acidez, o que poderá provocar mau contato
nos circuitos do computador;
c) a mesa sobre a qual o computador fica instalado deve estar sempre limpa e isenta de poeira;
d) nunca beber, comer ou fumar perto do computador;
e) nunca puxar o cabo pelo fio, e sim pelo conectar;
f) não bater com força nas teclas, pois isso pode diminuir a vida útil do teclado;
g) usar capas plásticas para evitar poeira;
h) evitar a umidade, grande causadora de maus contatos, por meio da utilização de sacos de
sílica-gel (120 gramas em papel, não em plástico), colocados no interior do gabinete, do
monitor e da impressora.

Quanto às mídias externas, alguns cuidados podem aumentar sua vida útil. No entanto, vale ressaltar que
raramente elas devam ser o suporte principal de informações que não possam ser obtidas de alguma outra forma.
Tanto CDs quanto disquetes, DVDs e agora os discos Blu-ray© são mídias de grande versatilidade e
que permitem a gravação e regravação muitas vezes, favorecendo o uso contínuo de uma mesma mídia.
Desde os disquetes de 5 1/4 de polegada até os discos de alta capacidade que temos à disposição hoje,
ocorreram consideráveis avanços na quantidade de informações que cada unidade é capaz de armazenar e
na durabilidade das mídias. Essa equação deve, no entanto, ser pesada de maneira a não confiar demasia-
damente em um suporte frágil à ação de arranhões, fungos, luz solar, calor, entre outros.

120 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • g


Os disquetes de 3Vz polegadas permitem que 1,44 MB de dados sejam gravados, o que é suficiente para
a maioria dos arquivos de texto e tabelas que compõem as publicações simples. No entanto, a capacidade
de transmitir dados a distância pela internet e o avanço na praticidade de outras mídias estão tornando os
disquetes obsoletos. Novos computadores raramente vêm com drives para disquetes, e a confiabilidade
que essa mídia dispõe é baixa, pois facilmente sofre ações que impedem a leitura dos dados.
Os discos compactos, chamados CDs, permitem armazenar, em geral, 650 ou 700MB de dados, o
que corresponde a 450 disquetes de 1,44 MB. Os DVDs com camada simples permitem armazenar 4,7
GB, o que corresponde a 3.340 disquetes, ao passo que os DVDs de dupla camada carregam o dobro
disso (9GB), correspondendo a mais de 6.000 disquetes.
A nova tecnologia dos discos Blu-ray©, que se dissemina rapidamente nos Estados Unidos, permite gravar
em um disco de camada simples 25 GB e, num disco de camada dupla, 50 GB. Esse enorme aumento de escala
deve-se ao fato de que cada vez mais os dados digitais são compostos por elementos de vídeo, som e imagem
de maior resolução. Livros inteiros, com páginas e páginas de ilustrações, podem caber em um CD, mas
publicações multimídia necessitam, com o advento da televisão de alta resolução, muito mais espaço que isso.
Essa grande quantidade de informação, no entanto, não deve ser tomada como garantia de preser-
vação. Todos esses suportes sofrem com arranhões e calor. Sua operação, portanto, deve ser medida em
relação à sua preservação. A facilidade, no entanto, de se copiar os discos inúmeras vezes permite que certas
informações possam ter cópias para armazenamento apenas, enquanto outras possam ser disponibilizadas
para uso e consulta, por exemplo.
Os CD-ROM estão sujeitos, também, à ação de fungos. Báez (2006, p. 309) relata:

[ ... ]descobriu-se em 1999 que é atacado por um fungo do tipo Geotrichum, que é, em essência, um
fungo comum [ ... ] O Geotrichum se introduz nos CDs da seguinte maneira: entra pelas bordas e man-
tém uma trajetória sinuosa que causa danos irreversíveis nas trilhas do disco, até destruí-lo. Como se
pode ver, o perigo é real.

Assim, os mesmos cuidados dedicados ao ambiente no qual está armazenado o acervo geral de uma
biblioteca devem ser estendidos aos suportes eletrônicos, igualmente sujeitos aos danos da umidade e da
temperatura quando não controladas.
O armazenamento desses discos requer controle de umidade, temperatura e iluminação e, em especial,
cuidado com a poeira. Outro cuidado que se deve ter é com a durabilidade dos aparelhos de leitura das
mídias. Enquanto os livros e a escrita já existem por milênios, as mídias digitais têm tido vidas úteis de
uma década ou menos. A dificuldade de prever o andamento das inovações tecnológicas cria uma insta-
bilidade quanto à confiabilidade de armazenamento nessas mídias. Esse problema obriga que, das obras
mantidas exclusivamente em meios digitais, sejam feitas cópias de segurança em mais de uma mídia ou que
se transfiram os dados de maneira planejada para as novas mídias antes que um meio se torne inacessível.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As publicações eletrônicas estão inundando o mercado mundial, seja em disquete, CD-ROM ou via
internet. O fenômeno da informática está revolucionando o acesso à informação, criando novos paradigmas
e diminuindo fronteiras. A distribuição das infovias, os suportes em CD, DVD, discos Blu-ray©} pen drives
e outros que chegam a cada momento são cada vez mais populares, facilitando o acesso à informação.
A história do livro tem cerca de 6 mil anos, o que corresponde a aproximadamente a um oitavo na
civilização humana. Através dele, foi-nos legada a história, permitindo entender e conhecer nosso desenvol-
vimento como seres individuais e da sociedade. O livro ultrapassou, nessa caminhada, várias dificuldades,

!! • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 121


sobrevivendo a catástrofes e a guerras. Aparentemente sensível e frágil, ele nos mostra que sua majestade
pode ser transformada, mas não substituída.
Para o bibliotecário, cujo objeto de trabalho está ligado aos suportes que contêm a informação, essa
realidade se faz presente tendo em vista que o pensamento humano não morre, mas se desenvolve assentado
no conhecimento concreto do que nos foi transmitido.
A tecnologia desenvolve, auxilia e desencadeia aperfeiçoamentos, cabendo a esse profissional, em
cumprimento de seu papel, estar constantemente atualizado para poder gerenciar a massa documental que
lhe é confiada. Deve, ao mesmo tempo, ser um agente transformador da sociedade, constituindo o ponto
central do processo de transferência de informação precisa, necessitando, para isso, obrigatoriamente co-
nhecer toda gama de seu material de trabalho, a tiln de valorizá-lo e preservá-lo de deterioração. Somente
assim será visto pela sociedade como parte indispensável para a comunicação, a disseminação e a guarda
de conhecimentos transmitidos e confiados a si.
Os profissionais precisam hoje somar habilidades- obtendo noção generalista de tecnologia, organi-
zação e preservação - à capacidade de entender a informação como um recurso econômico e estratégico,
transformando suas perspectivas diante da sociedade e suas exigências com criatividade e competência.

REFERÊNCIAS

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Janeiro: Ediouro, 2006.
BURGI, Sérgio. Introdução à preservação e conservação de acervos fotográficos: técnicas, métodos e materiais. Rio
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2006. 76 f Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso)- Bacharelado em Biblioteconomia, Faculdade de
Biblioteconomia e Comunicação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006.
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MUELLER, Suzana P. M. Pertü do bibliotedrio, serviços e responsabilidades na área de informação e formação
profissional. Revista de Biblioteconomia de Brast1ia, Brasília, DF, v. I 7, n. I, p. 63-70, jan./jun. 1989.
SILVA, Sérgio Conde de Albite. Algumas reflexões sobre preservação de acervos em arquivos e bibliotecas. Rio de
Janeiro: Academia Brasileira de Letras, I998.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

BEZSONOFF, Daniel. Le profissionel des bibliotheques életroniques du futur sera um "communicatien".


Documentaliste: Sciences de L'lnformation, Paris, v. 32, n. I, p.16, I995.
BURGI, Sérgio et al. Organização e preservação de acervos de diapositivos. Anais Brasileiros de Dermatologia,
Rio de Janeiro, v. 69, n. I, p. 48-51, jan./fev. 1994.

122 • JUSSARAPEREIRASANTOS (Org.) • i:!


CAMPOS, Arnaldo. Breve história de livro. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1994.
CARUSO, Carlos A. A; STEFFEN, Flavio Deny. Segurança em informática. Rio de Janeiro: Livros Técnicos
e Científicos, 1991.
CELENTANO, Marco Antonio. CD-ROM: o fururo no presente. São Paulo: Érica, 1991.
DORFMAN, Harold H. (Ed.).Armazenagem e conserração de microfilmes. São Paulo: Cenadem, 1997.
HANDY, Charles. Receita para gerir pessoas insensíveis. Exame, São Paulo, p. 62-65, jul. 1995.
HARRIS, G. L. Resumos de informação. Brasília, DF: [s.n.], 1986.
LIONELLO, Vera Regina. Preservação do patrimônio bibliográfico: urna questão de consciência. Cadernos de
Aplicação, Porto Alegre, [1990?).
MILANESI, Luiz. Ordenar para desordenar: centros de culrura e bibliotecas públicas. São Paulo: Brasiliense,
1986.
ORTEGA Y GASSET, José. Ellibro de las misiones. 5. ed. Buenos Aires: Espasa-Calpe Argentina, 1950.
REZENDE, Yara; MARCHIORI, Patrícia Zeni. Do acervo ao acesso: a perspectiva da biblioteca virtual em
empresas. Ciência da Informação, Brasília, DF, v. 23, n. 3, p. 349-352, set.fdez. 1994.
SANTOS, Jussara Pereira (Coord.). Materiais especiais: controle bibliográfico. Porto Alegre, 1994. Trabalho
desenvolvido na disciplina Organização de Bibliotecas I.

g • GESTÃO AMBIENTAL EM BIBLIOTECAS • 123


Sobre os autores

Alexandre Rava de Campos é engenheiro civil e engenheiro de segurança do trabalho. É responsável técnico
pela empresa RCC Sistemas de Segurança e Prevenção de Incêndio, diretor e secretário do Comitê Brasileiro
de Segurança contra Incêndio (CB-24) da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e membro da
National Fire Protection Association, dos Estados Unidos.
Homepage: http://www.rccincendio.com.br
E-mail: ravacampos@rccincendio.com. br

Carolina Fauth Vassão é bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). Foi bibliotecária do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), em Canoas (RS), e da Es-
cola de Ensino Médio Luterana Maninho Lutero, em Porto Alegre (RS). É bibliotecária-chefe do Instituto de
Química da UFRGS.
E-mail: carolina.fv@bol.com.br

Célia Regina Simonetti Barbalho é bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Amazonas
(Ufam), mestre em Ciência da Informação pela Faculdade de Biblioteconomia da Pontifícia Universidade
Católica (PUC) de Campinas e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo. É professora
adjunta do curso de Biblioteconomia da Ufam.
E-mail: biblioteconomia@ufam.edu.br; simonetti@ufam.edu.br

Cristian Herrmann é bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFR-
GS). Durante o período acadêmico, realiwu estágios na Escola de Enfermagem da mesma Universidade, no
Departamento Municip~ de Limpeza Urbana de Porto Alegre e na Pontifícia Universidade Católica (PUC)
do Rio Grande do Sul. E bibliotecário de sistema na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) desde 2004.
E-mail: cherrman@unisc.br

Gilberto José Corrêa da Costa é engenheiro eletricista formado em 1963 pela Escola de Engenharia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foi professor titular da Pontifícia Universidade
Católica (PUC) do Rio Grande do Sul nas faculdades de Engenharia e de Arquitetura e Urbanismo, nas
disciplinas de Iluminação e de Instalações Elétricas de Baixa Tensão, durante 41 ~nos. É membro assinante
da International Illuminating Engineering Society ofNorth America (IESNA). E coordenador do Comitê
TC6-63 - Measurement of Radiation Using the Phytometric System for Plant Applications da Divisão 6
(Fotobiologia e Fotoquímica) da Comission Internacional de l'Éclairage (CIE). Atualmente exerce consultoria
na área de iluminação.
E-mail: gjcosta.prof@uol.com.br

Hanns-Peter Struck graduou-se em Ciências Contábeis pela Faculdade de Ciências Econômicas e em


Artes Plásticas pelo Instituto de Artes, ambos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
É Master of Arts AID - University of Denver, Colorado, Estados Unidos. Foi professor da Faculdade
de Meios de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul e do
Centro de Comunicação da Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos). Foi presidente da Associação
Brasileira da Cor (ABCor). É consultor na área de Dinâmica de Cores para desenho industrial e gráfico
e para ambientes em atividades de saúde, ensino, prestação de serviços e residências. Membro do Centro
Alemão da Cor; palestrante e facilitador de cursos sobre dinâmica de cores em universidades brasileiras
e europeias. Foi nomeado sócio honorário do Conselho Administrativo do Centro Alemão da Cor, Uni-
versidade Bauhaus, de Weimar, em 2005.
E-mail: hstruck@terra.com.br
Juan José Mascaró é arquiteto, graduado pela Faculdade Ritter dos Reis, e doutor em Arquitetura pela
Universitat Politecnica de Catalunya, da Espanha. É professor da Faculdade de Engenharia e Arquitetura da
Universidade de Passo Fundo, desde 1996, e responsável pelas disciplinas de Projeto Arquitetô~ico 2 e 7, na
graduação, e Infraestrutura e Meio Ambiente no Programa de Pós-Graduação em Engenharia. E pesquisador
da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs).
E-mail: arqmascaro@terra.com. br

Jussara Pereira Santos é bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) e mestre em Library Science pela Vanderbilt University, de Nashville, nos Estados Unidos. Foi
bibliotecária-documentalista do Sistema de Bibliotecas da UFRGS de 1960 até 1991. É professora adjunta do
curso de Biblioteconomia da UFRGS desde 1986 e responsável pela Disciplina BIB03022- Gestão de Recursos
Informacionais, do Currículo 2000.
E-mail: jussarapansardi@yahoo.com.br

Lucia Mascaró é arquiteta pela Universidad Nacional de Tucumán, da Argentina. Especializou-se pela Technical
University ofDenmark. É mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
e doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo. Atualmente é professora pós-doutora
do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da UFRGS.
E-mail: lucia.elvira@terra.com. br

Maria do Rodo Fontoura Teixeira é·bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS), mestre em Administração pela Escola de Administração e doutoranda em Educação em
Ciências, pela UFRGS. É professora assistente do Departamento de Ciências da Informação da Faculdade de
Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS. Atualmente coordena a Comissão de Graduação em Arquivologia
e o Sistema de Acervos e Arquivos da UFRGS (SAArq).
E-mail: maria.teixeira@ufrgs.br

Marília de Oliveira Santos é bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
e especialista em Restauração de Documentos pela Escola Arte do Livro. Foi bibliotecária da Associação dos
Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris) e professora de Conservação e Restauração da Escola Darcy Ribeiro (ex-
-Arte do Livro).

Tânia Marli Stasiak Wilhelms é bacharel em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade Ritter dos Reis, de
Porto Alegre (RS). É sanitarista pela Escola de Saúde Pública do Estado do Rio Grande do Sul, especialista
em Engenharia de Produção, com ênfase em Ergonomia, pelo Programa de Pós-Graduação de Engenharia da
Produção da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foi professora
de Desenho Técnico na Escola Técnica da UFRGS. Atualmente é arquiteta da Secretaria de Saúde do Estado
do Rio Grande do Sul.
E-mail: tania-wilhelms@saude.rs.gov.br

126 • JUSSARA PEREIRA SANTOS (Org.) • g


Sobre os autores

Alexandre Rava de Campos é engenheiro civil e engenheiro de segurança do trabalho. É responsável técnico
pela empresa RCC Sistemas de Segurança e Prevenção de Incêndio, diretor e secretário do Comitê Brasileiro
de Segurança contra Incêndio (CB-24) da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e membro da
National Fire Protection Association, dos Estados Unidos.
Homepage: http://www.rccincendio.com.br
E-mail: ravacampos@rccincendio.com.br
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Carolina Fauth Vassão é bacharel~~~ Biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). Foi bibliotecária do Centro Universitário Ritter dos Reis (UniRitter), em Canoas (RS), e da Es-
cola de Ensino Médio Luterana Martinho Lutero, em Porto Alegre (RS). É bibliotecária-chefe do Instituto de
Química da UFRGS.
E-mail: carolina.fv@bol.com.br ·

Célia Regina Simonetti Barbalho é bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Amazonas
(Ufam), mestre em Ciência da Informação pela Faculdade de Biblioteconomia da Pontifícia Universidade
Católica (PUC) de Campinas e doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC de São Paulo. É professora
adjunta do curso de Biblioteconomia da,Ufam.
E-mail: biblioteconomia@ufam.edu.br; simonetti@ufam.edu.br

Cristian Herrmann é bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFR-
GS). Durante o período acadêmico, realizou estágios na Escola de Enfermagem da mesma Universidade, no
Departamento Municipal de Limpeza Urbana de Porto Alegre e na Pontifícia Universidade Católica (PUC)
do Rio Grande do Sul. É bibliotecário de sistema na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) desde 2004.
E-mail: cherrman @unisc. br

Gilberto José Corrêa da Costa é engenheiro eletricista formado em 1963 pela Escola de Engenharia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foi professor titular da Pontifícia Universidade
Católica (PUC) do Rio Grande do Sul nas faculdades de Engenharia e de Arquitetura e Urbanismo, nas
disciplinas de Iluminação e de Instalações Elétricas de Baixa Tensão, durante 41 anos. É membro assinante
da International Illuminating Engineering Society ofNorth America (IESNA). É coordenador do Comitê.
TC6-63 - Measurement of Radiation Using the Phytometris System for Plant Applications da Divisão 6
(Foto biologia e Fotoquímica) da Comission Internacional de I'Eclairage (CIE). Atualmente exerce consultoria
na área de iluminação.
E-mail: gjcosta.prof@uol.com.br

Hanns-Peter Struck graduou-se em Ciências Contábeis pela Faculdade de Ciências· Econômicas e em


1}rtes Plásticas pelo Instituto de Artes, ambos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
E Master of Arts AID - University of Denver, Colorado, Estados Unidos. Foi professor da Faculdade
de Meios de Comunicação Social da Pontifícia Universidade Católica (PU C) do Rio Grande do Sul e do
Centro de Comunicação da ,Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos). Foi presidente da Associação
Brasileira da Cor (ABCor). E consultor na área de Dinâmica de Cores para desenho industrial e gráfico
e para ambientes em atividades de saúde, ensino, prestação de serviços e residências. Membro do Centro
Alemão da Cor; palestrante e facilitador de cursos sobre dinâmica de cores em universidades brasileiras
e europeias. Foi nomeado sócio honorário do Conselho Administrativo do Centro Alemão da Cor, Uni-
versidade Bauhaus, de Weimar, em 2005.
E-mail: hstruck@terra.com.br
Juan José Mascaró é arquiteto, graduado pela F~culdade Ritter dos Reis, e doutor em Arquitetura pela
Universitat Politêcnica de Catalunya, da Espanha. E professor da Faculdade de Engenharia e Arquitetura da
Universidade de Passo Fundo, desde 1996, e responsável pelas disciplinas de Projeto Arquitet6~co 2 e 7, na
graduação, e Infraestrutura e Meio Ambiente no Programa de Pós-Graduação em Engenharia. E pesquisador
da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs).
E-mail: arqmascaro@terra.com.br

Jussara Pereira Santos é bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS) e mestre em Library Science pela Vanderbilt University, de Nashville, nos Estados Unidos. Foi
bibliotecária-documentalista do Sistema de Bibliotecas da UFRGS de 1960 até 1991. É professora adjunta do
curso de Biblioteconomia da UFRGS desde 1986 e responsável pela Disciplina BIB03022- Gestão de Recursos
Informacionais, do Currículo 2000.
E-mail: jussarapansardi@yahoo.com.br

Lucia Mascaró é arquiteta pela Universidad Nacional de Tucumán, da Argentina. Especializou-se pela Technical
University of Denmark. É mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
e doutora em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo. Atualmente é professora pós-doutora
do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura da UFRGS.
E-mail: lucia.elvira@terra.com.br

Maria do Rodo Fontoura Teixeira é bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS), mestre em Administração pela Escola de Administração e doutoranda em Educação em
Ciências, pela UFRGS. É professora assistente do Departamento de Ciências da Informação da Faculdade de
Biblioteconomia e Comunicação da UFRGS. Atualmente coordena a Comissão de Graduação em Arquivologia
e o Sistema de Acervos e Arquivos da UFRGS (SAArq).
E-mail: maria.teixeira@ufrgs.br

Marília de Oliveira Santos é bacharel em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
e especialista em Restauração de Documentos pela Escola Arte do Livro. Foi bibliotecária da Associação dos
Juízes do Rio Grande do Sul (Ajuris) e professora de Conservação e Restauração da Escola Darcy Ribeiro (ex-
-Arte do Livro).

Tânia Marli Stasiak Wilhelms é bacharel em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade Ritter dos Reis, de
Porto Alegre (RS). É sanitarista pela Escola de Saúde Púb~ica do Estado do Rio Grande do Sul, especialista
em Engenharia de Produção, com ênfase em Ergonomia, pelo Programa de Pós-Graduação de Engenharia da
Produção da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foi professora
de Desenho Técnico na Escola Técnica da UFRGS. Atualmente é arq!}iteta da Secretaria de Saúde do Estado
do Rio Grande do Sul. ·
E-mail: tania-wilhelms@saude.rs.gov.br

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Série Graduaç-ão

Físico-química
Um estudo dirigido sobre equilíbrio entre fases,
soluções e eletroquímica ·
Veda Pinheiro Dick e Roberto Fernando de Souza
Jtísico-quír:nica I .
· Termodinâmica química e equilíbrio químico
Luiz Pilla.
Histologia
Texto, atlas e roteiro de aulas práticas
Tatiana Montanari.
Introdução à bioquímica clínica veterinária
Félix H. Díaz González eSérgio Ceroni da Silva
Métodos numéricos
Alejandro Borche
Ciências Humanas: pesquisa e método
Celi Regina Jardim Pinto e Gesar A. Barcellos Guazzelli (Org.)
Pesquisa quantitativa nas Ciências Sociais
Mareei/o Baquero ·
Físico-química 11: ~quiHbrio entre fa~es, soluções líquidas e eletroquímica
(2. ed. rev. e atual.)
Luiz Pilla
Introdução à cefalometria radiográfica (4. ed. rev. e ampl.)
Cléber Bidegain Pereira, ·cartas Alberto Mundstock e Telmo Bandeira Berlhold (Org.)
Pré-Cálculo (3. ed.)

-~ C/auslvo Doering, Liana Beatriz Costi Nácu/ e Luisa Rodríguez Doering (Org,)_
'
Gestão ambiental em bibliotecas: aspectos interdisciplinares sobre ergonomia,

o
segurança, condicionantes ambi_entais e estética nos espaços de informação
Jussara Pereira Santos (Org.)
Planejamento em saúde coletiva:
teoria e prática para estudantes e profissionais da saúde
Deison Alencar Lucietto, Sonia Mária Blauth de S/avutzky e Vania Maria Aita de Lemos
Química geral experimental
Mara Bertrand Campos de Araujo e Suz~ma Trindade Amaral
\
Tipologia utilizada no texto: Joulliard, corpo 9,5/13
Off ser 90g/m2
. Impresso na Gráfica e Editora Copiart - TubarãojSC

Editora da UFRGS • Ramiro Barcelos, 2500- Porto Alegre, RS- 900S6-00S- Fone/fax (51) SSOB-5645- admeditora@ufrgs.br- www.editora.ufrg.s.br • D~
Sara Viola Rodrigues • Editoração: Luciane Delani (coordenadora), Alice Hetzel, Carla M. Luzzatto, Cristiano Tarouco, Fernanda Kautzmann e Rosang~b dt
Mello; suporte editorial:· Alexandre Giaparelli Colombo, Jaqueline Moura e Jefer.son Mello Rocha (bolsistas) • Administração: Najára Machado, Aline Vasconcefm.cb
Silveira, Getulio Ferreira de Almeida, Janer Bi~terí2;"urt, "Jaqueline Trombin, Laerte Balbinot Dias, Maria da Glória Almeida dos Santos e Valéria Gomes da Siln.

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