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Faculdade de Ciências de Educação e Psicologia


Departamento de Ciências de Educação e Psicologia
Disciplina: Fundamentos de Pedagogia

Sebenta de Fundamentos de Pedagogia

Nampula
2013
1

Faculdade de Ciências de Educação e Psicologia


Departamento de Ciências de Educação e Psicologia
Disciplina: Fundamentos de Pedagogia

Sebenta de Fundamentos de Pedagogia

Nampula
2013
2

Índice

Introdução------------------------------------------------------------------------------------------------------5

Visão geral da disciplina-------------------------------------------------------------------------------------6

UNIDADE TEMÁTICA I: A CIÊNCIA PEDAGÓGICA E SEU


OBJECTO DE ESTUDO-----------------------------------------------------------------------------------7
1.1 O significado da Pedagogia como reflexão sobre Educação -----------------------------------7
(1) Origem etimológica (definição) da Pedagogia---------------------------------------------------9
(2) Surgimento da Pedagogia como ciência----------------------------------------------------------9
(3) Conceito da Pedagogia: o que é a Pedagogia?-------------------------------------------------10
(4) Objecto e objectivos da Pedagogia---------------------------------------------------------------10

1.2 Educação como objecto da Pedagogia: significado, categorias e


tipos da educação------------------------------------------------------------------------------------------11
(1) O significado de educação------------------------------------------------------------------------12
(2) Categorias básicas da Pedagogia-----------------------------------------------------------------13
(3) Tipos de educação----------------------------------------------------------------------------------14

1.3 A Educação científica como resultado de desenvolvimento do


património sociocultural, científico da humanidade------------------------------------------------17
(1) Etapas do desenvolvimento histórico da educação--------------------------------------------17
a) Educação na idade Primitiva-----------------------------------------------------------------17
b) Educação na Antiguidade Clássica----------------------------------------------------------19
c) Educação na Idade Media---------------------------------------------------------------------25
d) Educação na idade Moderna------------------------------------------------------------------26
e) Educação Contemporânea--------------------------------------------------------------------28

Actividades de aprendizagem------------------------------------------------------------------------------30

Leituras obrigatórias-----------------------------------------------------------------------------------------31
3

UNIDADE TEMÁTICA II: A PEDAGOGIA NO SISTEMA DAS


CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO---------------------------------------------------------------------------32
2.1 O carácter sistemático da ciência pedagógica---------------------------------------------------32

(1) Ramos da pedagogia-------------------------------------------------------------------------------32


(2) Estrutura da pedagogia-----------------------------------------------------------------------------34
(3) Áreas de actuação do pedagogo------------------------------------------------------------------35
(4) A pedagogia como teoria e prática da educação------------------------------------------------36
(5) Relação da pedagogia com outras ciências------------------------------------------------------37

2.2 Os fundamentos da pedagogia----------------------------------------------------------------------43

(1) Os métodos de investigação da pedagogia------------------------------------------------------43


(2) Modelos de relação/comunicação pedagógica “educador – educando”---------------------47

Actividades de aprendizagem------------------------------------------------------------------------------49

Leituras obrigatórias----------------------------------------------------------------------------------------50

UNIDADE TEMÁTICA III: A NECESSIDADE DE REFLEXAO SOBRE


A EDUCAÇÃO E SUA PRATICA NO CAMPO DA PEDAGOGIA---------------------------51
3.1 Função social da educação-----------------------------------------------------------------------------51
3.2 Função cultural da educação--------------------------------------------------------------------------53
3.3 A educabilidade do homem: o acto educativo------------------------------------------------------54
3.4 A planificação, direcção e organização do processo pedagógico--------------------------------58
Actividades de aprendizagem------------------------------------------------------------------------------59
Leituras obrigatórias----------------------------------------------------------------------------------------60

UNIDADE TEMÁTICA IV: O CARACTER HISTORICO- SOCIAL


DA EDUCAÇÃO: CASO DE MOCAMBIQUE-----------------------------------------------------61
4.1. As formações sociopolíticas e o carácter/ função da educação------------------------------61
4

(1) Breve historial da Educação em Moçambique-------------------------------------------------61

(2) Génese do Sistema Nacional do Ensino e o papel da Frelimo no

Processo Educativo da População-------------------------------------------------------------------------62

4.2. A finalidade e objectivos da educação em Moçambique em diferentes

momentos históricos---------------------------------------------------------------------------------------63

(1) O programa de reabilitação económica no processo educativo,

no Moçambique independente-----------------------------------------------------------------------------63

(2) O Sistema Nacional de Educação-----------------------------------------------------------------65

a) Níveis de ensino do SNE--------------------------------------------------------------------------------65

b) Objectivos do SNE---------------------------------------------------------------------------------------65

c) Princípios do SNE----------------------------------------------------------------------------------------65

4. 3 Reforma curricular-----------------------------------------------------------------------------------66

4. 3. 1 Conceitos---------------------------------------------------------------------------------------------66

4. 3 2 A reforma curricular em Moçambique------------------------------------------------------------67

Actividades de aprendizagem------------------------------------------------------------------------------72
Leituras obrigatórias----------------------------------------------------------------------------------------73

Bibliografia---------------------------------------------------------------------------------------------------74
5

Introdução

A Pedagogia e uma ciência que surgiu a partir das reflexões feitas a cerca de educação em
diferentes momentos de desenvolvimento da humanidade, nisto ao falar da pedagogia pressupõe
falar das práticas educativas no que concerne ao que ensinar e como ensinar. A pedagogia como
um conjunto de conhecimentos sistematizados que investiga a natureza e finalidade de educação,
proporciona condições metodológicas da acção educativa. A educação é um processo de
formação de personalidade do homem para vida.

A cadeira de fundamentos de Pedagogia é do tipo nuclear, que deve levar ao aluno a adquirir
habilidades, na planificação do processo pedagógico, reflectir sobre o pensamento pedagógico e o
seu carácter prático. Neste caso pretendem explicar o significado da pedagogia e seu objecto de
estudo, compreender as categorias da pedagogia, distinguir os factores que contribuem para a
formação da personalidade, analisar criticamente a prática da educação em Moçambique em
diferentes momentos históricos e avaliar a prática educativa no contexto das tendências actuais
em Moçambique.

Este trabalho faz uma abordagem dos conteúdos relativos a cadeira de fundamentos de
pedagogia, de formas a facilitar ao professor assim como aos alunos a ter conhecimentos sobre a
cadeira e reflectir em conjunto sobre o processo educativo.

Os conteúdos estão organizados sob forma de unidades temáticas com os respectivos sumários.
Cada unidade temática contém questões de reflexão e recomendações bibliográficas para facilitar
a actividade do aluno e melhor aprofundamento e compreensão dos conteúdos.
6

Visão geral da disciplina

Unidade Tema/ Conteúdos Carga Horária

Cont Est

I A ciência Pedagógica e seu objecto 6 12


- Significado da Pedagogia, como reflexão sobre educação.

- Educação como objecto da Pedagogia:


Significado, categorias básicas da Pedagogia
e tipos de educação.
- A educação científica como resultado do desenvolvimento do
património sociocultural, científico da humanidade.

II A Pedagogia no sistema das ciências de educação: 6 10


- O carácter sistemático da ciência pedagógica.
- Os fundamentos científicos da pedagogia

III A necessidade de reflexão sobre a educação e sua prática no 8 10


campo da pedagogia:

- Função social e cultural da educação.


- Contribuição da educação para a formação da personalidade:
interacção com outros factores.
- A educabilidade do homem
- Planificação, direcção e organização do processo pedagógico,
- As tendências ou correntes pedagógicas e alguns modelos
pedagógicos actuais.

IV O carácter histórico -social da educação: caso de 22 10


Moçambique:

- As formações sociopolíticas e o carácter ou função da educação;


objectivos e finalidades da educação em Moçambique em
diferentes momentos históricos.
- Desafios da educação contemporânea
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UNIDADE TEMÁTICA I: A CIÊNCIA PEDAGÓGICA E SEU OBJECTO DE ESTUDO

Temas da unidade temática I:

1.4 O significado da Pedagogia como reflexão sobre Educação


1.5 Educação objecto da Pedagogia: significado, categorias e tipos da educação
1.6 A Educação científica como resultado de desenvolvimento do património sociocultural,
científico da humanidade.

Objectivos específicos:

 a)Explicar o significado da Pedagogia e seu objecto de estudo;


 b) Descrever a relação das categorias da Pedagogia no processo educativo;
 c) Distinguir os tipos da educação, quanto as características; objectivos; conteúdos;
métodos e/ou meios; actores e intervenientes, de cada tipo.
 d) Explicar a relação dialéctica dos tipos da educação na formação da personalidade.
 e)Caracterizar as etapas do desenvolvimento histórico da educação, quanto ao tipo da
educação; objectivos ou princípios da educação; métodos ou meios da educação; actores
e intervenientes, de cada etapa.
 f) Destacar as ideias principais/centrais dos pensadores que contribuíram na educação
científica.

Tema 1.1 O significado da Pedagogia como reflexão sobre Educação

Sumário:

(1) Origem etimológica (definição) da Pedagogia


(2) Surgimento da Pedagogia como ciência
(3) Conceito da Pedagogia
(4) Objecto e objectivos da Pedagogia

Antes de falarmos da própria pedagogia, vamos primeiro, procurar saber o seu ponto de
referência, que é o homem. Visto que, quem criou a pedagogia, assim como outras ciências é o
homem. E como ser social, reprodutivo, é visto dentro do contexto educativo.
8

O problema educativo, assim como pedagógico, é universal. Surgem em todos povos e em todas
civilizações. Portanto, as primeiras práticas educativas pertenceram ás comunidades primitivas.
Primeiramente entendidas por acções, manifestações culturais que foram tomando o rumo de
acções, actos e práticas educativas.

Segundo G. Landsheere, (1) a cultura gera a educação; (2) a educação inicia a geração jovem na
cultura dos mais velhos; (3) a geração jovem transforma a cultura original numa cultura nova
(com carácter progressiva, divergente). Quer dizer, desde o surgimento da humanidade, o homem
se preocupou em ensinar a geração jovem para assimilar, conservar a cultura, e este por sua vez,
interessada em transformar.

A luta pela sobrevivência e pelo domínio e transformação da natureza, constituem exemplos


vivos da cultura e da prática educativa.

E. Tylar, definiu cultura como um “todo complexo que compreende os conhecimentos, as


crenças, a arte, a moral, as leis, os costumes, os hábitos, etc, adquiridos pelo homem como
membro da sociedade.

Landsheere, entende a “educação é pura expressão de uma cultura nascida da interacção do


homem com o ambiente”.

A reflexão sobre a educação representa um desafio desde os tempos, séculos e séculos da


humanidade e resultado destas, surgiu a pedagogia.

As bases do surgimento da pedagogia, as fontes literárias dão mérito a Grécia antiga. Um dos
sinais de prática pedagógica diz respeito o acompanhar dos escravos aos filhos dos senhores
patrões, daquela altura, para os locais de recreação, desporto, e de educação de infância.

Estes escravos que tinham tais obrigações eram designados de PEDAGOGOS (Paidagogos),
como indivíduos que exerciam a PEDAGOGIA e, Um termo que inicialmente era pejorativo.
9

(1) Origem etimológica da pedagogia

Etimologicamente, o termo PEDAGOGIA (Paidagogiké) vem do grego, (traduz-se em: PAIS,


PAIDÓS – Criança; AGEIN – dirigir, levar; LOGOS – tratado, ciência), resume-se em acto de
dirigir ou conduzir as crianças. Portanto, na antiga Grécia, eram chamados de PEDAGOGOS, os
escravos, era aquele que conduzia a criança, e que tinham fazer valer a sua autoridade quando
necessária (Piletti, 2004).

Portanto, acção considerada de prática educativa. Foi da palavra pedagogo que derivou, mais
tarde, o termo pedagogia, e só então começou a notabilizar, no seu dos filósofos.

Hoje, pedagogo é o especialista em assuntos educacionais, institucionais que lidam com matéria
do processo educativo.

(2) Surgimento da Pedagogia como ciência

A reflexão sobre a pedagogia, começa com ideias empíricas sobre as práticas educativas. Por
exemplo, o método do ensaio e do erro. Que os homens tentavam e enganavam-se hoje, dias
seguintes, acertavam.

Assim foram surgindo as bases pedagógicas, que hoje o homem define como ciência. Quando o
homem começou a compreender que a educação tinha necessariamente que responder, entre
outras, questões como: o que o homem deve ensinar? Como ensinar e porque ensinar? Qual o
objectivo de ensinar?

Para responder estas e outras questões, foi necessário sai do empirismo, da especulação para a
investigação com recurso a métodos de observação e experimentação.

Assim os estudos empíricos e os métodos científicos contribuíram para que no século XVI –
XVII, a pedagogia tornasse ciência e arte, nas obras como “o tratado sobre a educação” de Luis
10

Vives (sec. XVI) e “Didáctica Magna” de Coménio (sec. XVII), que contribuíram para a
sistematização do pensamento pedagógico e oferecendo uma autonomia em relação a filosofia.

(3) Conceito de Pedagogia: o que é Pedagogia?

Para alguns autores, a Pedagogia:


Seria a arte que tem em vista preparar a criança para a realização, na medida do possível, do
ideal humano, concebido pelo educador, e, nesta ordem de ideias, o facto pedagógico seria toda e
qualquer operação tendente á preparação para o cumprimento do destino humano (Viega, 1960).
Actualmente, porem, define-se a PEDAGOGIA como a ciência e a arte de educador.

Com o conjunto de conhecimentos sistemáticos relativas práticas educativas, o conceito de


Pedagogia tem evoluído gradualmente, começando por ciência da educação, arte de educar, por ai
em diante.

É um campo de conhecimento que investiga a natureza das finalidades da educação, numa


determinada sociedade, bem como os meios apropriados para a formação dos indivíduos, tendo
em vista prepara-los para as tarefas da vida social (Libâneo, 2008). É por ser ciência de meios
ambientais apropriados, cria condições metodológicas e organizativas para viabilizar a prática
educativa.

Portanto, Pedagogia estabelece aquilo que há a fazer, estuda os meios de realização da prática
educativa, e põe em prática aquilo que concebe. Visto que a Pedagogia não é uma ciência exacta
e nem é uma ciência de factos, mas sim, de possibilidades, oportunidades, de realizações
constantes e dinâmicas do próprio homem em submeter-se ás influencias educativas.

(4) Objecto e objectivos da Pedagogia

A pedagogia estuda a educação do homem em todas as fases do seu desenvolvimento histórico.


Portanto, a educação é o objecto de estudo da Pedagogia, colocando a acção educativa como
11

objecto de reflexão, com propósito de descrever e explicar sua natureza, seus processos e modos
de actuar.

A Pedagogia não é, certamente, a única área científica que tem a educação como objecto de
estudo. Também a Sociologia, a Psicologia, a Economia, a Linguística, podem ocupar-se de
problemas educativos, para além de seus objectos de investigação (Libâneo, 2009)

A Pedagogia, com isso, “e um campo de estudo com identidade e problemáticas próprias. Seu
campo compreende os elementos da acção educativa e sua contextualização, tais como o aluno
como sujeito do processo de socialização e aprendizagem; os agentes de formação; o saber como
objecto de transmissão e assimilação; o contexto sócio – institucional, (idem)

Perante a acção educativa, os pedagogos colocam como objectivos da Pedagogia:


 Garantir a eficiência e eficácia da educação do homem pelo homem;
 Desenvolver o espírito de análise crítica e reflexiva a problemática do processo educativo;
 Fundamentar o carácter social, político, económico, individual, científico e técnico do
processo educativo, através das metodologias científicas;
 Buscar soluções para a educação de acordo com a dinâmica e aspirações da sociedade;
 Situar o papel da prática educativa no seu de outras ciências do saber;
 Assumir a prática educativa como uma actividade de todos os intervenientes pela
educação do homem.

Tema 1.2 Educação como objecto da Pedagogia: Significado, categorias básicas da


Pedagogia e tipos de educação.

Sumário:
(1) O significado de educação
(2) Categorias básicas da Pedagogia
(3) Tipos de educação
12

A actividade educativa acontece nas várias esferas da vida social: nas famílias, nos grupos
sociais, nas instituições educacionais, associações profissionais, empresas, nos meios de
comunicação, etc.

A educação escolar constitui um sistema de ensino, instrução, formação e educação, com


propósitos intencionais, práticas sistematizadas e alto grau de organização, ligado intimamente às
demais práticas sociais, de outras instituições, organizações sociais.

O processo educativo que se desenvolve na escola, pelo ensino e instrução, consiste na


assimilação de conhecimentos e experiencias acumuladas pelas gerações anteriores no decurso do
desenvolvimento histórico.

(1) O significado da Educação

Já afirmamos que a educação é tão velha como o próprio homem, ou simplesmente, como a
própria humanidade. Sempre se educou o homem para poder preservar a espécie humana, a sua
cultura.

Ora, para ter ideia do significado da educação, convêm entendermos o conceito da EDUCAÇAO,
como influencia intencional e sistemática sobre o ser juvenil, com propósito de forma-lo e
desenvolve-lo. Significa também a acção genérica ampla, de uma sociedade sobre as gerações
jovens com o fim de conservar e transmitir a existência colectiva (Luzuriaga, 1973). Com fim de
transformar, inovar as práticas educativas.

A educação é, assim parte integrante, essencial, da vida do homem e da sociedade, e existe desde
há seres humanos. Por outro lado, a educação é componente tão fundamental da cultura quanto a
ciência, a arte. Sem a educação não seria possível aquisição e transmissão da cultura, pois pela
educação é que a cultura sobrevive no espírito humano.

A educação precedeu, cronologicamente, a pedagogia. A educação existiu sempre, desde que


houve duas gerações: uma geração experiente e amadurecida, e uma geração inexperiente e
13

imatura. A geração experiente tinha a missão de transmitir conhecimentos e experiencias a


geração não experiente.

(2) Categorias básicas da Pedagogia

A Pedagogia, sendo ciência da e para a educação, estuda a educação, a instrução e o ensino. Para
tanto compõe-se de ramos de estudo, como a teoria da educação, a didáctica, a organização
escolar e a história de educação e da Pedagogia. Ao mesmo tempo busca outras ciências que
concorrem para o estudo e esclarecimento do seu objecto de estudo. São elas, a filosofia da
educação, sociologia da educação, psicologia da educação, biologia da educação, economia da
educação e outras.

A definição acima remete-nos as explicar alguns termos considerados de categorias da


pedagogia, nomeadamente: educação, ensino e instrução. Conceitos básicos que a pedagogia se
orienta para a sua abordagem.

Educação: como categoria básica da Pedagogia


A categoria principal da pedagogia é a educação, pois esta possui um carácter mais extensivo,
compreende outras noções da pedagogia que são o ensino e a instrução.

O conceito educação é de natureza complexa e pode ser definido sob muitas formas, de acordo
com a influência das condições sócio-culturais de cada época

DURKEIM (1858-1971), define a educação como “acção exercida pelas gerações adultas sobre
as novas que ainda não se encontram preparadas para a vida social. Tem como objectivo provocar
e desenvolver na criança certo número de condições físicas, intelectuais e morais, no seu
conjunto, seja o meio especial que a ela se destina particularmente”.

Pode-se dizer que educar é introduzir “o que é” a uma plenitude de actualização e expansão,
orientada em sentido de aceitação social; é dar sentido moral ao uso dos conhecimentos e
técnicas.
14

A educação é um processo de transmissão e assimilação de valores culturais, hábitos e normas


com vista a mudança de comportamento para a integração social

Educação enquanto um processo de formação da personalidade do homem para a vida, ela


emprega-se em diferentes sentidos: sentido amplo e sentido restrito.

No sentido amplo

A educação exprime o processo de desenvolvimento e formação da personalidade do homem, que


se efectua sob a influência de todos os factores, particularmente da educação, sobre o meio
ambiente social, para participação activa na vida social, englobando as influências de toda a vida
do homem incluindo o próprio ensino.

No sentido restrito

A educação é uma actividade intencional, especialmente organizada, realizada em instituição


própria, dirigida por um profissional, com objectivos claramente definidos, orientados para o
desenvolvimento da personalidade do homem, mediante uma acção planificada.

Neste sentido a educação deve ser percebida como aquela que ocorre em instituições específicas,
com finalidades explícitas de instrução e ensino mediante uma acção consciente, deliberada e
planificada, embora sem se separar daqueles processos formativos gerais.

(3) Tipos de educação

O ser humano não se desenvolve de forma solitária, nem de modo isolado, necessita do outro
neste processo de humanização, que é a socialização – o que se entende como processo de
adaptação e integração de cada indivíduo no seu grupo social.

A educação é direito inalienável e necessária de qualquer ser humano ao longo de toda a vida.

Os diferentes âmbitos de actuação humana são vários e complexos, o que leva a valorar e
delimitar diversos campos de actuação da educação. Estes campos recebem denominações
diferentes como: educação não formal, educação informal e educação formal (Libâneo, 2009)

a) Educação não formal – refere-se a toda a actividade organizada fora do marco do sistema
oficial, para facilitar determinadas classes de aprendizagem e sub grupos da população; dirige-se
15

a população em geral, crianças, adolescentes, adultos e terceira idade adoptando-se em cada caso
aos processos próprios da aprendizagem.

Uma educação com carácter de intencionalidade, porem com grau de estruturação e


sistematização, implicando certamente relações pedagógicas, mas não formalizadas.

Exemplo: alfabetização, capacitação profissional, actividades escolares complementares,


reciclagem, aperfeiçoamento profissional, reinserção, reabilitação social, etc.

b) Educação informal - Nassif (1980) apud Libâneo (2008), define a educação informal como
“processo contínuo de aquisição de conhecimentos e competências que não se localizam em
nenhum quadro institucional”.

É o processo permanente em que todo o indivíduo adquire e acumula conhecimentos,


habilidades, atitudes, valores e modos de discernimento mediante as experiencias do dia-a-dia,
através das influências educacionais disponíveis no seu meio ambiente.

Refere-se às influências do contexto social e do meio ambiente sobre os indivíduos, abrange


também as possibilidades educativas no decurso da vida de cada indivíduo, constituindo um
processo permanente e não organizado.

Exemplo – a família, os vizinhos, locais de trabalho, os meios de informação de massa.

O carácter não intencional e não institucionalizado da educação informal não diminui a


importância dos influxos do meio humano e do meio ambiente na formação de hábitos,
capacidades e faculdades de pensar e agir do homem.

c) Educação formal - Termo formal (Libâneo, 2008), refere-se a tudo o que implica uma forma,
isto é algo inteligível, estruturada, organizada, planificada intencionalmente, sistemática. Neste
caso, a educação escolar é convencional e tipicamente formal.

Cronologicamente graduado e hierarquicamente estruturado que se estende dos primeiros anos da


escola primária até aos últimos da universidade.

Atende ao desenvolvimento dos primeiros estádios vitais (infância, adolescência e juventude).


Onde haja ensino, há educação formal.
16

A educação escolar pertence e educação formal. A educação escolar representa uma manifestação
peculiar de prática educativa. Constitui assim, a Pedagogia escolar, destinada a investigar factos,
processos, estruturas, contextos, problemas, referentes á educação escolar, isto é, á instrução e ao
ensino.

Em jeito de síntese, apesar das dimensões diferenciadas, nenhuma educação existe fora das
outras. Consideremos por exemplo, uma informação pública e social – educativa “sobre
saneamento do meio” que esteja a ser anunciada ou explicada na imprensa – TVM.

Inicialmente pode ser de carácter informal, assumida ou consumida pela família, depois poder ser
de carácter formal, assumida pela escola como matéria do ensino – aprendizagem e finalmente
pode ser de carácter na formal assumida pelas instituições especializadas e específicas. O caso da
própria TVM, pode estar a fazer educação não formal.

Ensino: como categoria básica da Pedagogia

É a principal via da educação do homem para a vida, para a preparação da vida e para o trabalho.

É o processo especialmente organizado na interacção entre o professor e o aluno que consiste na


transmissão/ mediação e assimilação de conhecimentos científicos, habilidades, hábitos,
convicções de forma sistematizada e que ocorre em estabelecimentos de ensino devidamente
autorizadas.

O ensino é um processo bilateral que inclui por um lado professor a ensinar e por outro lado o
aluno a aprender. O ensino como uma sequência de actividades do professor e dos alunos, tendo
em vista a assimilação de conhecimentos, desenvolvimento de habilidades, através dos quais os
alunos aprimoram capacidades cognitivas.

O ensino representa a educação em acção, isto é, em actividade de concretização dos seus


propósitos. É a explicitação dos meios para a efectivação das intenções do conceito da educação
no comportamento do indivíduo. É um processo bilateral. Ele compõe-se por dois lados (ensinar
e aprender).
17

Instrução: como categoria básica da Pedagogia

É um processo e resultado de aquisição dos sistemas de conhecimentos científicos e habilidades


cognitivas e na base deles a concepção do mundo, das qualidades morais, do desenvolvimento
das forças psíquicas e físicas e das capacidades criativas.

A instrução tem um sentido mais amplo do que o ensino, pois ela não é só resultado do ensino,
como também é resultado de uto – instrução, da influência dos meios de informação (rádio,
jornal, TV, internet) e outras fontes de conhecimento incluindo o quotidiano.

O auto – instrução pressupõe um trabalho independente, intencional, especial, organizado, em


que se busca a aquisição de saber num determinado campo ou área. A auto – instrução está
intimamente ligado a auto – educação, entende – se como um trabalho consciente orientado a
formação de certas qualidades.

A instrução se refere á formação intelectual, formação e desenvolvimento das capacidades


cognitivas mediante o domínio de certo nível de conhecimentos sistematizados.

Concluindo, a acção educativa desenvolve-se em 3 áreas: cognitiva, afectiva e psicomotora, que


se resume em saber, saber fazer e saber estar e ser. Admitindo que no processo educativo, o
professor como integrante essencial e causa eficiente secundaria e o aluno é causa eficiente
primaria. Isto significa, tanto o aluno como o professor influenciam de forma marcante e activa
no processo educativo e no desenvolvimento da personalidade.

1.3 A Educação científica como resultado de desenvolvimento do património sociocultural,


científico da humanidade.
Sumário:
(1) Etapas do desenvolvimento histórico da educação

a) Educação na idade Primitiva


A educação como fenómeno social surgiu na comunidade primitiva, quando surgiu o homem
sapiens, a cerca de 70 mil anos atrás. A condição do surgimento da educação foi sobre o pensar
reflexivo do homem, que começa por questionamentos do seu próprio modo de viver.
18

Significa que a educação é um acontecimento primordial da humanidade, que caracteriza a


espécie humana e em diante aparece sob a forma de instituição especial no dia em que o homem
conseguiu garantir uma vida mais tranquila e segura (Gal, 1976).

A pertinência principal da educação nessa altura consistia em educar a criança directamente no


processo da vida e do trabalho junto dos adultos.

Entre os povos primitivos não havia as escolas, mas havia educação cujo objectivo era de ajustar
a criança ao seu meio ambiente físico e social por meio de aquisição de experiencias de gerações
passadas (Monroe, 1983).

A criança adquiria conhecimentos através da imitação (Gal, 1976 e Piletti, 2004). Nos primeiros
anos, era imitação inconsciente que consistia em brincar com instrumentos utilizados pelos
adultos. Mas tarde, a imitação já era consciente, em que a criança participava nas actividades dos
adultos, esta etapa tem inicio quando se começa a exigir trabalho da criança.

Cerimónias de Iniciação

As cerimónias de iniciação entre os povos primitivos tinham um valor educativo. Geralmente,


tais cerimónias se verificavam desde inicio da adolescência até a admissão do jovem na vida
adulta da tribo.

Os ritos possuíam um valor moral – na medida em que ensinava o jovem a suportar a dor, a
suportar a fome, a tolerar certas circunstâncias difíceis,

Valor social e político – o jovem aprendiam a servir os dirigentes, a obedecer os mais velhos, a
servir os idosos, e a satisfazer as necessidades da família;

Valor religioso – o jovem aprendia a adorar o totem (animal ou vegetal que era considerado
antepassado mítico da tribo de quem esperavam protecção)

Valor prático – o jovem aprendia métodos de capturar os animais, a arte de acender o fogo, a
preparar alimentos.

Portanto, os direitos e as interdições, os respeitos a definir e os tabus a observar ensinavam-se


pelas vias, da prática, da participação nas tradições e cerimónias colectivas. Este tipo de educação
19

pode chamar-se de educação natural, espontânea com estreita adaptação do indivíduo á sociedade
(Gal, 1976).

É claro, num estádio mais avanço da sociedade primitiva, como diz o autor acima, que a
educação natural, reforçada com acções educativas da vida foi considerada de educação no
sentido moderno, pelo facto de aparecer indivíduos especializados na educação de iniciação. São
pessoas que lhes cabiam organizar, dirigir e controlar as cerimónias de iniciação. Dependendo
dos casos, tais especialistas podiam ser, feiticeiros, curandeiros, xamãs, esconjuradores ou
homens que consultam os espíritos familiares.

b) Educação na Antiguidade Clássica

Depois de longos séculos de esforços e tentativas, a passagem da sociedade primitiva para feudal
surge bruscamente, no quarto milénio a.C.

A transição da sociedade primitiva para os primeiros estágios da civilização caracteriza-se pelos


seguintes aspectos: substituição da organização genética da sociedade (baseada na família) por
uma organização política (baseada na individualidade); formação de uma linguagem escrita e de
uma literatura (Piletti, s/d).

Faz parte da desta sociedade, a educação oriental (educação: chinesa, hindu, egípcia, judaica); a
educação grega (educação: espartana, ateniense) e a educação romana.

A educação oriental

Como dissemos anteriormente que a organização política e a linguagem escrita, contribuíram


para o surgimento da educação oriental. Essas características fizeram com que existisse uma
organização de uma educação sistemática, intencional. Assim, surgiram as escolas e os mestres.

A educação chinesa - sua característica resume-se em decorar, para além do método da imitação.
A ideia era, do professor obrigar os seus alunos sempre a decorar. Na escola os alunos aprendiam
conteúdos de linguagem, decorando os textos sagrados, os comentários literários e decorar os
livros didácticos. Era uma educação centrada na vida da cultura que á vida política do povo
chinês. Da cultura aprendia-se a moral, a arquitectura, a pintura, a poesia, artes da guerra e as
maneiras da paz, etc.
20

Entretanto, mais adiante, na época imperial, o rumo da educação chinesa mudou, intervindo-se a
favor da doutrina de Confúcio (551 – 479): uma educação virada para teologia com carácter
humano, centrada na harmonia entre o homem com a natureza (Penna e Penna, 1973).

E, é bom que se diga, apesar da educação rígida, na china não existia um sistema organizado de
educação pública, nem escolas superiores ou universidades onde pudesse ensinar e investigar
livremente.

A educação Hindu - em termos gerais não difere da educação chinesa. A diferença é existência
na educação Hindu o sistema de castas. A casta superior, designada de brâmanes ou sacerdotes –
tinha direito a educação literária e escrituras sagradas; as castas intermédias – os xátrias ou
guerreiros nobres/classe executiva militar e os vaicias ou classe industrial, comercial recebiam
uma educação de leitura e escrita elementar, leccionada por mestres ambulantes; a cama inferior
da organização social hindu era - as castas sudras não recebiam nenhum tipo de educação formal.

Na essência a educação Hindu era constituída da educação brâmane e bunda. Todas elas
utilizavam os métodos de ensino de instrução, castigos com palavras duras e pancadas.

A educação Egípcia - embora tenha sido de poder cultural e religioso. Dessa cultura e religião,
Worrenger (1947) cit.por Penna & Penna (1973) diz que a sabedoria egípcia é o domínio das
fórmulas, de matemática, de ciência médica, de astronomia, entre outras, com recurso aos
métodos da prática, de instrução e de imediatas.

Como acontecia nas sociedades anteriormente descritas, a educação no Egipto estava organizada
de acordo com a organização social. Existiam escolas para as classes superiores e escolas para o
povo.

Em suma, a educação egípcia serviu de inspiração a outras, como a grega e, em parte, a crista
primitiva.

A educação Judaica - apresentava uma característica particularmente singular á demais povos


orientais, pós, esta deu maior relevância o desenvolvimento da personalidade. Nesse aspecto,
contribui para o desenvolvimento da cultura ocidental. Quanto ao ensino, os judaicos não
chegaram de possuir escolas para o povo em geral. Toda instrução era ministrada pelos escribas e
21

sacerdotes e era centralizado no estudo da lei contida na bíblia e no talmude (espécie de uma
obra).

Educação Grega

Com toda justiça chamou-se “milagre grego” a eclosão da arte, do pensamento, da ciência e da
política que se verificou no séc. VI e IV a.C. é certo que a Grécia deve muito ao oriente e em
especial ao Egipto. Mas se a geometria prática nasceu nas margens do rio Nilo, no entanto, a
Grécia é que atingiu o apogeu. A educação revestiu-se de muitas formas ao longo da história
grega antiga.

Se a educação oriental é caracterizada por conservação e reprodução do passado mediante a


supressão da individualidade, no caso da educação grega nota-se ao contrário, é mais oportunista
ao desenvolvimento individual.

Como resultado dessa característica da educação grega surgiu um novo conceito na educação que
ainda hoje é denominada liberal. Apesar da liberdade no pensamento, cerca de 90% da população
viviam como escravos.

Na Grécia antiga distingue dois sistemas da educação: a de Atenas e de Esparta

Educação espartana (750 – 600 a.C.) - A educação espartana tinha um carácter militar em que
todos adultos participavam duma forma obrigatória (dever).

A educação espartana tinha como objectivo dar a cada individuo um nível de perfeição física,
coragem e hábito de obediência as leis que o tornassem um soldado ideal. Uma educação feita de
forma sabia dosagem física com vista harmonizar o corpo, a alma, a formação estética, de arte e
de pensamento.

Em relação a instrução, recebiam apenas o necessário e o restante era para torna-los homens
comandos, lutadores, conquistadores, homem que suporta o trabalho, sob subordinação do estado.

- Até aos 7 anos a criança ficava sob os cuidados da mãe de quem recebia um treino rigoroso.
Depois a criança era retirada do lar e colocado em casernas públicas onde comiam em comum,
ajudam no fornecimento de alimentos necessários, caçavam animais, participavam nas danças
22

corais. E o restante tempo era gasto com exercícios de ginástica – principal elemento da
educação.

18 – 20 anos de idade, o jovem dedicava-se ao estudo de armas e manobras militares.

20 – 30 anos de idade, participava na guerra e os treinos eram feitos nos intervalos de guerra.

Com 30 anos, o jovem passava o tempo a dedicar- se ao serviço do estado, seja nas guerras.

Educação Ateniense - Enquanto a educação Espartana dava importância a educação física a


serviço da guerra, para manter o estado, em Atenas a formação ideal e completa do homem era a
educação física e a intelectual, o que se resume o desenvolvimento harmonioso da personalidade.

Por outro lado, a nova maneira de compreender a estrutura e finalidades do estado, que era
assegurar a liberdade pessoal. O estado não era titular da vida do cidadão, mas sim os pais é que
preparavam a criança para a vida num ambiente de liberdade.

Por outro lado, a própria vocação cultural de Atenas que contribuiu para o desenvolvimento das
ciências e da filosofia, o que elevou o nível intelectual de seus cidadãos. Foi assim que Atenas já
não tivesse analfabetos, como sucederá com Esparta.

Em Atenas os cuidados da criança eram a cargo da família, geralmente era entregue aos cuidados
de amas e escravos, mais tarde pedagogo – guia de crianças á escola. Existiam dois tipos de
escola: a de música e a de ginástica e palestra.

As raparigas, como aconteciam na maior parte das civilizações antigas, tinham menos direitos,
não eram consideradas: a sua educação era feita em casa exclusivamente prática. Só os jovens da
condição superior aprendiam a ler e a escrever.

Os Sofistas (450-400 a.c.). Os sofistas (sophós = sábios) surgiram como sendo a nova classe de
professores que a sociedade exigia. Eram professores ambulantes que percorriam as grandes
cidades, ensinavam as ciências e as artes com finalidades práticas, principalmente a eloquência,
em troca de uma elevada contribuição financeira.
23

Os sofistas preparavam ou forneciam aos seus alunos discursos feitos sobre certos tópicos que
seriam repetidos em outras circunstâncias, como é o caso de tribunais. Transmitiam sentenças
inteligentes para serem utilizados em momentos oportunos.

Outros sofistas davam discurso mais completo, falavam das ciências naturais e históricas dessa
época e um treino em dialéctica por meio da discussão e por meio do discurso público.

O facto de eles auto denominarem se de sábios e exigirem remuneração pelos seus serviços, isto
era contra os princípios mais valorizados pelos gregos: o de harmonia e reverência, a relação
entre professor e aluno que era de estima mútua e não de carácter económico.

Os sofistas acentuavam de forma exagerada o valor da individualidade, e assim o indivíduo


situava-se num nível de independência que ficava acima dos deveres do cidadão. Foi assim que
Protágoras afirma: o homem é a medida de todas as coisas.

Os grandes Filósofos (400-300 a.c.)

Sócrates (470-399 a.c.). Tomou como ponto de partida “ o homem é a medida de todas as coisas”
e afirmou: se o homem é a medida de todas as coisas, então a primeira obrigação de todo o
homem é procurar conhecer se a si mesmo.

Para Sócrates, é na consciência individual que se deve procurar os elementos determinantes da


convivência e da educação, e não em simples opinião para guiar se de valor universal. Pois o fim
da educação é de ministrar o saber ao indivíduo pelo desenvolvimento do seu poder de
pensamento.

Sócrates usava como métodos a ironia e a maiêutica. A ironia, consistia em fazer perguntas de
forma que a obter opiniões do interlocutor e depois através de outras perguntas de forma a levar o
interlocutor a descobrir por si mesmo a contradição e o absurdo das opiniões apresentadas
(descobrir a verdade). A maiêutica, neste caso, é arte de fazer nascer as ideias. Desta forma, as
contribuições de Sócrates na educação consistiam no conhecimento que possuía um valor prático
ou moral, isto é: um valor de natureza universal e não individual; de conversação e de subjectivo
como reflexão e organização da própria experiência. Quer dizer, segundo Sócrates, a educação
tem por objectivo imediato, o desenvolvimento da capacidade de pensar e não apenas ministrar
conhecimentos.
24

Platão (428-348 a.c.). Comungou com ideias de Sócrates sobre: a necessidade de procurar uma
nova base moral para a vida; a nova base deveria encontrar-se em ideias e na verdade universal.

Aceitou e desenvolveu o método dialéctico de Sócrates, e definiu como sendo um contínuo


discurso consigo mesmo. O que se traduz em: a educação é o processo do próprio educando,
mediante a qual são dadas as ideias que fecundam a sua alma. Portanto, a educação consiste na
actividade que cada homem desenvolve para conquistar as ideias de viver de acordo com elas.
Acrescenta ainda que, o conhecimento não vem de fora para o homem, é o esforço da alma para
adaptar-se da verdade.

Para Platão. O papel do educador consiste em promover no educando o processo de


interiorização, graças ao qual ele pode sentir a presença das ideias. Ainda este afirma dizendo
que: a realidade nada mais é do que a ideia que se realiza ou actualiza.

Platão e Sócrates divergem no facto de que para Platão nem todos os homens tem a capacidade de
adquirir conhecimentos, apenas algumas pessoas, enquanto Sócrates, para este, todos possuem a
capacidade de adquirir conhecimentos.

Aristóteles (384 -322 a.c.). Apresentou uma visão bastante diferente de Sócrates e de Platão.
Enquanto esses dois afirmavam que a base de conhecimentos consistia na virtude, Aristóteles
afirmava que a virtude está na conquista da felicidade e do bem.

A virtude não consiste em simples conhecimentos do bem, mas da sua conquista. E o bem na sua
integridade resume-se em bem ser (intelecto) e bem-fazer (acção)

A felicidade é um bem supremo que consiste em realizar o que é específico do homem, é a razão
(amor, saúde, posição social, fortuna, …)

Aristóteles desenvolveu o seu conceito de educação partindo da ideia de imitação. Para o homem
a imitação constitui a arte e o homem se educa na medida em que copia forma de vida dos
adultos, o homem se educa porque actualiza as energias.

Aristóteles sistematizou pela primeira vez o processo de ensino ao postular o seguinte plano
metódico: o mestre deve em primeiro lugar expor a matéria do conhecimento; em seguida tende
25

cuidar que se imprima ou retenha o exposto na mente do aluno; por fim, tem que fazer com que o
educando relacione as diversas representações mediante o exercício.

A educação Romana - Centrada numa educação essencialmente prática e moral com espírito
patriótico e guerreiro, que punha em primeiro lugar as virtudes do cidadão e do soldado, que
subordinava estreitamente o individuo ao Estado e respeitava acima de tudo a lei.
A república romana, ensinava aos filhos dos cidadãos a leitura, a escrita, o calculo, a gramática, a
retórica e eloquência judiciaria ou política, a preparação para actividade agrícola ou comercio e
sobretudo para a vida militar. Além disso, cultivava o espírito de sentimentos, respeito pelos
antepassados, submissão á família, devoção para com a pátria.

c) Educação na Idade Media: sec. V – XVII (466 – 1640)

Por causa da invasão dos povos bárbaros, a cultura greco-romana estava em destruição, e isto não
aconteceu graças a intervenção da igreja crista.

E assim, a igreja passou a educar os novos povos nesta época. Contrariamente aos gregos que
davam ênfase o aspecto intelectual, o cristianismo baseia-se na ideia de caridade crista ou amor,
isto é concentra-se no aspecto moral da pessoa humana.

As escolas baseavam-se no princípio do cristianismo. O ponto de partida da pedagogia cristã


consistia no dogma ou imposição sobre a natureza do homem dual constituído por corpo e por
alma. Se os gregos antigos procuravam harmonizar estas partes, os cristãos procuravam separá-
los exaltando a alma em detrimento do corpo. O corpo é a parte pecaminosa do homem
relacionada com emoções, as paixões, os instintos sensoriais que servem de base ou a vícios nos
seres humanos.

Segundo a doutrina cristã, as necessidades do corpo levam a degradação moral da sociedade e a


sua destruição. A partir deste princípio, os cristãos consideraram como fim principal da educação
a regeneração e aperfeiçoamento espiritual do homem, portanto, formação de capacidades por
dominar e controlar os sentimentos, paixões e os instintos do corpo. O estímulo fundamental para
o aperfeiçoamento espiritual é a fé em Deus e a esperança na vida eterna. A futura vida após a
morte como consequência da vida exemplar no mundo terreno.
26

As escolas ficavam situadas juntos das igrejas e chamavam escolas paroquiais, monásticas,
catedrais e episcopais, dependendo da designação da instituição religiosa.

As crianças eram educadas nas escolas pelas doutrinas cristas duque em conhecimentos
científicos e passavam o tempo ao canto coral religioso e as rezas, que eram considerados mais
importantes.

Os conteúdos de ensino eram as setes artes liberais: gramática, retórica, dialéctica, aritmética,
geometria, astronomia e música. Como disciplina fundamental, considerava-se a teologia.

A retórica e a dialéctica preparava os alunos para debates e temas religiosos, para interpretar e
defender os dogmas da igreja, em fim, todas as disciplinas provavam a existência de deus e sua
influência na natureza e nas acções do homem, e como consequência a sua veneração.

Generalizando, na escola da idade média baseava-se nos métodos de memorização, os alunos


decoravam as regras e definições fornecidos pelos livros sagrados.

As figuras como Carlos Magno, consagrado como imperador romano, criou a escola do palácio
que formava filhos e filhas dos nobres e contribuiu para dar a Europa consciência cultural e
educativa. S. Martinho de Tours, fundou a escola monástica.

Mas é bom que se diga que devido em consequência da expansão árabe verifica na Ásia, África e
mesmo na Europa, a educação árabe foi ganhando espaço no ensino. Como ensino das
matemáticas com álgebra, numeração romana e a trigonometria, astronomia, a química. Nas
cidades árabes como Bagdad tornaram cidades bibliotecárias de tradução para a língua árabe.

O que conta mais no contributo da idade Média é o surgimento e organização do sistema superior
ou universitário. A mais antiga universidade foi a de Paris, aberta em 1200; seguiram-se as de
Oxford em 1206; de Nápoles em 1224; de Cambridge em 1231. Mais tarde de Pisa, Heidelberga,
Colónia, Viena, Pavia, Praga, Cracóvia, Basileia, etc. Os professores eram pagos pelos próprios
professores e ensinavam, disciplinas como ciências da Medicina, Direito, Teologia, artes.

d) Educação na idade Moderna

O interesse da educação no renascimento (educação renascentista) estava centrado nas


actividades específicas da humanidade. Os humanistas colocaram em primeiro lugar o culto do
27

homem, fizeram renascer a dignidade humana como tal, a capacidade e confiança nas suas forças
físicas e intelectuais.

Foram os primeiros homens que se pronunciaram contra a doutrina religiosa, sobre a natureza
pecaminosa do homem, diferenciando-se dos teólogos (eles mostraram mais interesse pelo
homem concreto, pelas suas forças na terra).

O homem da época moderna era educado para uma sociedade em que se anunciava a laicização,
portanto, abriam-se caminhos para a emancipação da mentalidade, ou seja, do pensamento livre.

Definiram o desenvolvimento de todos os aspectos da personalidade humana: físicas, intelectuais,


estéticas e morais, portanto, defendiam uma abordagem integral na formação e desenvolvimento
do homem.

Ainda na mesma educação moderna surgiu a pedagogia Naturalista, que procurou representar
uma reacção contra o formalismo humanismo do renascimento. Os humanistas clássicos faziam
da cultura antiga não só meio como o fim de toda a educação, sem maior preocupação na
formação de novos homens.

Alguns pensadores da pedagogia naturalista como é caso de João Amos Comenio (1592 – 1671),
considerado precursor do direito universal a uma educação nova, foi o maior pedagogo realista e
um dos pensadores mais eminente na história da educação. Foi o primeiro a criar um sistema
científico coerente didáctico e a separação da pedagogia e da filosofia, tornando-se uma ciência
autónoma. Uma das maiores obras é a Didáctica Magna, publicado em 1657, sob trato de
“ensinar tudo a todos”.

John Locke (1631-1704). Foi considerado primeiro psicólogo educacional, o primeiro a defender
a necessidade de ligação entre a pedagogia e psicologia (psicopedagogia). Formulou pela
primeira vez na história da pedagogia de forma sistematizada e coerente as ideias burguesas sobre
Educação próxima da vida; Educação prática; Ensino individualizado.

Jean Jacques Rousseau. Foi defensor da educação naturalista e individualista. Na sua opinião,
tudo que sai das mãos do criador é bom, tudo degenera nas mãos do homem. A maldade humana
não resulta por conseguinte das tendias naturais do homem, mas das influencias mutiladoras da
sociedade.
28

Maria Montessori (1870 – 1952). A pedagogia Montessoriana, reside no facto de conceber a


educação como uma Auto-educação, isto é como processo espontâneo que se desenvolve na alma
da criança, para isso, a condição fundamental consiste em fornecer á criança um ambiente isento
de obstáculos inaturais e de matérias adequados.

Ovide Decroly (1871 – 1932). O seu método opõe-se ao preconizado pela Montessori porque
postula que o desenvolvimento mental da criança se faz a partir do global, do indiferenciado, para
chegar a análise. Portanto, preocupou-se com o aspecto da globalização do ensino.

John Dewey (1859 – 1952). Elaborou a sua filosofia da educação fundada na ideia de principio de
que o pensamento tem uma função instrumental de resposta às necessidades da vida. É opositor
da escola centrada no programa, mas sim, a escola deve centrar-se na criança, reinserindo temas
de estudos baseados na experiencia da criança, através da ocupação em actividades no contexto
da comunidade escolar. (Libâneo, 2009).

É na educação da idade moderna que surgiram os principais renascentistas, como: Vitorino da


Feltre, François Rebelais, Michael Montaigne, Tomas Monrey e Luis de La Vive, entre outros.

e) Educação Contemporânea

O homem da época contemporânea – é educado para um mundo em que se propala a necessidade


de respeitar os direitos humanos, os valores entre os quais: a convivência entre grupos e povos. A
educação tem o desafio de formar o homem capaz de viver em harmonia social.

Vários autores da educação contemporânea, apontam que o ideal do homem domínio da educação
da liberdade, personalizada, socializada, intuitiva, totalizada, criativa, construtiva.

A educação liberdade racional e personalizada significa, autodeterminação, autodomínio do


conhecimento sobre a ciência, o mundo. Um dos precursores da liberdade é C. Roger, titular da
liberdade interior do homem, como factor impulsionador e vital do conhecimento sobre o
presente e para seguir a vida futura (Rocha, 1988).

Ainda no âmbito da liberdade racional e personalizada, pressupõe o respeito do indivíduo, o


estabelecimento de relações interpessoais, autenticidade do conhecimento, a congruência entre o
eu - real e o eu – ideal.
29

A educação da socialidade, no entender de Piaget, citado por Rocha (1988), consiste nas
manifestações psicológica da criança sobre o mundo que lhe rodeia. Visto que a criança vivencia
e pensa sobre o seu próprio mundo e a tarefa dos educadores deve explorar as áreas do
conhecimento da criança.

Portanto, a educação da sociabilidade é uma necessidade da vida do homem. Quanto mais


complexa e organizada for, mais o homem moderno se vê a necessidade de realizar equilíbrios
psicológicos, como de aproximação a realidade físico, adaptação ao aproximo, a realidade virtual.

A educação da sociabilidade associa-se a educação intuitiva, aliás todas se relacionam. Para o


caso da educação intuitiva, entendida como acto de ante – ver, captação do contexto por meio dos
órgãos dos sentidos, da consciência.

A propósito da educação contemporânea, temos a destacar as mais recentes referências do campo


da Pedagogia que é o pensamento pedagógico de Paulo Freire (1921 - ), um dos conceituados
pedagogos da segunda metade do século XX, inserido na libertação, que consiste na conquista
dos direitos e a educação é um direito de crianças e adultos, e no centro disto, está o método de
alfabetização (compreensão dialéctica da educação) por comunicação e diálogo. “Ninguém é
analfabeto por eleição, mas em consequência das condições objectivas em que se encontra”
(Freire, 1975).

Nas suas obras, uma publicada em 1967 “Educação como Pratica da liberdade e a outra publicada
em 1970 “Pedagogia de Oprimidos” coloca pontos nazis sobre a opressão e a necessidade dos
oprimidos se libertarem através de acções concretas. Neste sentido, a sua Pedagogia é
verdadeiramente uma Pedagogia do direito á educação.

O direito e a liberdade são constructos dissociáveis á democracia, entendida por democratização


da educação e do ensino. Onde ensinar e aprender não é pura transmissão, é sim, o
reconhecimento do educando como sujeito cognoscente, vivenciado e experienciado das práticas
sociais. E ser educador merece qualidades como a humildade, a morosidade, a coragem, a
tolerância, a decisão, a segurança.

Resumindo, a Pedagogia de Paulo Freire encontra fundamentos nos seguintes princípios


apontados por Monteiro, 2005:
30

A educação é problematizadora do poder político e deve ser problematizada como forma poder. É
um poder de subjectividade;

A educação é um direito universal, sem discriminação nem exclusão. É direito de aprender a ser
humano e ser diferente;

Direito á educação é direito a uma educação para a libertação e a liberdade. É direito de aprender
a autonomia para o exercício da cidadania;

Direito á educação é direito de ser mais. É um fim em si próprio e um recurso essencial para
realização de todos os direitos humanos;

A escola pública democrática é uma instituição insubstituível para a satisfação do direito de todos
á educação e para o aprofundamento da democracia.

Actividades de aprendizagem

1. Escreva pelo menos 3 definições de cada, dos termos educação e pedagogia. Depois,
reflicta em volta delas, com propósito de encontrar a definições mais abrangentes e
contextualizadas.

2. Descreva as circunstâncias que fizeram com que a pedagogia tornasse uma ciência da
educação.

3. Dos três tipos de educação, estudados, analise quando é que um precisa do outro.

4. Através de exemplos de práticas educativas, demonstre a complementaridade entre, as três


categorias, estudadas.

5. É bom que se diga verdade, desde a educação da antiguidade clássica se falava da


liberdade, da democracia, como direitos da educação do homem. Mas na medida que o
tempo foi passando até chegar-se na educação contemporânea, a abordagem dos dois
termos foi sempre diferente. Comente.
31

6. Diga em que etapas do desenvolvimento da educação surgiram as escolas públicas e


universidades. E, explique qual foi o papel dessas escolas e das universidades.

7. Elaborar quadros sintéticos de comparação, relativos:

a) Tipos de educação, tendo em conta os seguintes itens/elementos: características;


objectivos e/ou princípios; conteúdos; métodos e/ou meios; actores e intervenientes.

b) Etapas da educação, tendo em conta os seguintes itens/elementos: objectivos e/ou


princípios; conteúdos; métodos e/ou meios; actores e intervenientes; pensadores; de
cada etapa.

Leituras obrigatórias

Cambi, franco. História da Pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999.

Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes Necessários á Prática Educativa. São Paulo:
Paz e terra, 1996.

…………………………………… Educação como Prática da Liberdade. São Paulo: Paz e


Terra, 1996.

Libâneo, José Carlos. Didáctica. São Paulo: cortez editora, 2008.

Marrou, Henri – Irénée. História da Educação na Antiguidade. São Paulo: EPU, 1990.

Monteiro, A. Reis. História da Educação. Portugal: porto editor, 2005.

Piletti, Nelson & Piletti, Claudino. História da Educação. 7ed. São Paulo: Ática, s/d.
32

UNIDADE II: A PEDAGOGIA NO SISTEMA DAS CIÊNCIAS DE EDUCAÇÃO

Temas da unidade temática II:

2.1 O carácter sistemático da ciência pedagógica

2.2 Os fundamentos da pedagogia

Objectivos específicos:

 a) Identificar os ramos da pedagogia;


 b) Descrever a estrutura da pedagogia;
 c) Explicar as áreas de actuação do pedagogo.
 d) Caracterizar os métodos de investigação da pedagogia.
 e) Explicar a pedagogia como teoria e prática da educação.
 f) Relacionar a pedagogia com outras ciências.
 g) Identificar os modelos de relação/comunicação pedagógica “educador – educando”

2.1 O carácter sistemático da ciência pedagógica

Sumário:

(1) Ramos da pedagogia

(2) Estrutura da pedagogia

(3) Áreas de actuação do pedagogo

(4) A pedagogia como teoria e prática da educação

(5) Relação da pedagogia com outras ciências

1. Ramos da pedagogia

Na antiguidade, todos conhecimentos eram explicados numa única ciência que se chama Filosofia
– como mãe de todas as ciências.
33

A pedagogia também não foge dessa realidade, e sendo assim, no seu carácter de ciência
independente, subdivide-se nos seguintes ramos:

1. Fundamento de Pedagogia – analisa e examina as premissas do surgimento da


ciência pedagógica (educação), procurando formar as noções básicas e fundamentos
para um posterior aprofundamento.

2. Teoria da Educação – estuda os processos parciais da educação, dentro e fora do


ensino nos quais se formam as qualidades (atitudes, convicções, hábitos, formas do
do homem).

3. Didáctica Geral – estuda as leis da educação, instrução, de auto-instrução e do ensino


propriamente dito, sob orientação do pedagogo. Elabora objectivos, conteúdos,
métodos e técnicas de ensino.

4. Pedagogia das idades – examina teorias gerais do homem nas diferentes faixas
etárias, isto é, estuda as particularidades da educação e do ensino nos diferentes
períodos etários. Assim temos: Pedagogia pré – escolar; Pedagogia escolar e
Andrajosa (educação de adultos).

5. Pedagogia Especial ou Defectologia – ocupa-se nas pesquisas dos problemas da


educação e do ensino, de preparação laboral das pessoas com deficiências físicas,
mentais, visuais, auditivas, etc.

Hoje, a etologia tem outra designação: Necessidades educativas especiais.

Esta ciência subdivide – se em campos autónomos, dependendo do tipo da deficiência,


assim temos:

i. Surdopedagogia – Dedica-se ao desenvolvimento da educação e ensino das


crianças surdas.

ii. Tiflopedagogia – Dedica-se ao desenvolvimento da educação e ensino das


crianças cegas.

iii. Oligopenopedagogia – Dedica-se a educação, instrução e ensino das crianças


com problemas psíquicos.
34

iv. Logopedagogia – Dedica-se a educação e instrução e ensino das crianças com


defeitos no processo de comunicação, audição e linguagem.

v. Etopedagogia – Dedica-se a educação, instrução e ensino das crianças com


problemas comportamentais.

6. História da Pedagogia – examina o desenvolvimento da educação nas escolas e as


teorias pedagógicas em diferentes períodos, desde a antiguidade ate a actualidade.

7. Pedagogia comparada – estuda as tendências gerais e os traços característicos do


desenvolvimento das teorias pedagógicas e das práticas educativas em diferentes
países do Mundo isto é, compara o sistema educativo ao nível dos países.

8. Administração e gestão escolar – investiga os problemas da planificação,


organização, e administração dos sistemas de educação, analisa e elabora conteúdos e
métodos de direcção duma instituição de ensino.

9. Metodologia de Ensino – examina as leis e as regularidades do ensino nas diferentes


disciplinas.

10. Pedagogia Profissional – investiga as regularidades laborais para diferentes


profissões e benefício social.

2. Estrutura da pedagogia

- Pedagogia Normativa (Pedagogia como filosofia) – que investiga fins e ideias fundamentais da
educação tanto ao longo da evolução da humanidade como em seu estado actual e em sua
estrutura intima.

- Pedagogia Descritiva (Pedagogia como Ciência) – estuda os factos, factores que influem na
vida e na realidade educacional, tanto sub aspecto biológico, como sub aspecto psíquico e social.

- Pedagogia Tecnológica (Pedagogia como Arte) – estuda os métodos de organização e as


instituições da educação. Refere-se as técnicas educativas, ao como educar. Este aspecto situa-se
35

entre o filosófico e o científico, isto é, entre o que deve ser e o que é a educação – ligando o ideal
ao real.

Extraído na obra de PILETTI (1991:42)

Aspectos filosóficos
Aspectos científicos
O que deve ser a educação?
O que é a educação?
Para onde conduzir as novas gerações?

Aspectos Técnicos

Como educar?

3. Áreas de actuação do pedagogo

O pedagogo é na visão de Libâneo (2009:33) “o profissional que actua em várias instâncias da


prática educativa, directa e indirectamente ligadas à organização e aos processos de transmissão e
assimilação de saberes e modos de acção, tendo em vista objectivos de formação humana
previamente definidos em sua contextualização histórica”.

Na visão deste autor a prática educativa está presente em todas as esferas da sociedade
extrapolando o âmbito escolar formal e não formal, daí que o pedagogo estende a sua acção em
todas essas esferas.

As áreas de actuação do profissional pedagogo na (op cit: 58) definem-se em duas: a escolar e
extra-escolar:

No campo de acção pedagógica escolar distinguem-se três tipos de actividades:

a) A de professores do ensino público e público e privado;


36

b) A de especialista da acção educativa escolar operando nos níveis centrais, intermédios e


locais do sistema de ensino;

c) Especialistas em actividades pedagógicas paraescolares, actuando em órgãos públicos,


privados e públicos não estatais.

E, no campo de acção pedagógica extra-escolar distinguem-se profissionais que exercem


sistematicamente actividades pedagógicas e os que ocupam apenas parte do seu tempo nestas
actividades nestas actividades:

a) Formadores, animadores, instrutores organizadores, técnicos, consultores, orientadores;

b) Formadores ocasionais que ocupam parte do seu tempo em actividades pedagógicas em


órgãos públicos estatais e não estatais e em empresas referentes a transmissão de saberes e
técnicas ligados a outra actividade profissional especializada.

4. A pedagogia como teoria e prática da educação

Antes de entrar nesta abordagem é necessário rever os termos Educação e Pedagogia, na visão de
Libâneo, (2009: 30)

A pedagogia, é (…) o campo do conhecimento que se ocupa do estudo


sistemático da educação, isto é, do acto educativo, da prática educativa
concreta que se realiza na sociedade como um dos ingredientes básicos da
configuração da actividade humana. E, a educação é o conjunto das
acções, processos, influências, estruturas, que intervêm no
desenvolvimento humano de indivíduos e grupos na sua relação activa com
o meio natural e social, num determinado contexto de relações entre
grupos e classes sociais.

Não há uma forma única nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar em que
ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a única prática, o professor
profissional não é seu único praticante.
37

O processo educativo surge pela necessidade de disseminação e internalização de saberes e


modos de acção (conhecimentos conceitos, habilidades, hábitos, procedimentos, crenças e
atitudes), levando às práticas pedagógicas.

A pedagogia, mediante conhecimentos científicos, filosóficos e técnico-profissionais, investiga a


realidade educacional em transformação, para explicitar objectivos e processos de intervenção
metodológica e organizativa referentes à transmissão/assimilação de saberes e modos de acção.

Ela visa ao entendimento global e intencionalmente dirigido dos problemas educativos e, para
isso, recorre, aos aportes teóricos providos pelas demais ciências da educação. O processo
educativo se viabiliza, portanto, como prática social precisamente por ser dirigido
pedagogicamente.

Falar “(…) do carácter pedagógico da prática educativa, é dizer que a Pedagogia, a par de suas
características de cuidar dos objectivos e formas metodológicas e organizativas de transmissão de
saberes e modo de acção em função da construção humana, explicitamente, a objectivos éticos e a
projectos políticos de gestão social”. (op. cit.: 34).

5. Relação da pedagogia com outras ciências

1. Relação da Pedagogia com a Psicologia

Tendo em conta que o objecto de estudo da psicologia é o comportamento e as actividades


mentais de todos animais incluindo o homem e o da Pedagogia que é a educação, instrução e
ensino do Homem, veremos que a psicologia fornece fundamentos para alguns aspectos da
aprendizagem do aluno.

Por exemplo: aspectos ligados a motivação para que o aluno se interesse pela matéria.

Aos alunos com necessidades educativas especiais, precisam de uma educação “especial” e um
acompanhamento psicológico adequado, isto é, o professor deve estar munido de ferramentas da
psicologia para lhe dar com os alunos com necessidades educativas especiais.

A selecção dos conteúdos e meios didácticos apropriados para a mediação da aula, devem ter em
conta o desenvolvimento psíquico da criança. Essa avaliação (do desenvolvimento psíquico da
criança) é fornecida pela psicologia.
38

A psicologia na educação não se limita na sala de aula, mas se estende para todos os
intervenientes do processo do ensino-aprendizagem, ajudando na elaboração dos currículos e na
resolução dos conflitos entre professores, entre professor e a direcção da escola, entre o professor
e ele mesmo e até entre o professor com a comunidade.

A psicologia contribui para o enriquecimento da teoria e o melhoramento da prática educativa.

A psicologia como as outras ciências, é construída e evoluiu em contexto sócio histórico e


obedece a um processo, que tem um ponto de partida ao infinito, quer dizer, em psicologia o
comportamento do homem é determinado por causa de múltiplas e é ainda modelado por herança
cultural, conforme a cultura explica que as nossas convivências, o nosso lado, a nossa maneira de
viver e a cultura, têm a ver com a hereditariedade do meio e com o meio onde vivemos

A psicologia também estuda aspectos importantes do processo de ensino-aprendizagem, tais


como as implicações das fases do desenvolvimento dos alunos conforme as idades e os
mecanismos psíquicos presentes na assimilação da matéria e no desenvolvimento das habilidades.

A relação da pedagogia com a psicologia não é de dependência, mas sim de interdependência,


porque a pedagogia oferece mecanismos para o desenvolvimento das capacidades psíquicas
pouco desenvolvidas nos alunos.

2. Ralação da Pedagogia com a Sociologia

A sociologia estuda o meio em que as pessoas se encontram e pedagogia nesse caso estuda a
educação como prática social (LIBANEO;1996: 57), orienta-se pelos objectivos da sociedade
onde ela ocorre.

Pode-se entender que a sociologia é uma ciência que estuda os valores sociais, as mudanças na
sociedade, os padrões e modelos de comportamento, ela não estuda as diferenças individuais, mas
sim as diferenças que existem entre grupos de indivíduos (classes ou camadas sociais, grupos
políticos e grupos de trabalho).

A sociedade tem sempre a necessidade de educar porque sempre precisa de passar os


conhecimentos das gerações mais velhas para as gerações “imaturas”. Sendo assim, não há
sociedade sem educação.
39

Como foi dito anteriormente, a educação deve ter em conta os objectivos da sociedade onde ela
ocorre, cada sociedade tem o seu modelo de educação. Assim, cada mudança que ocorre na
sociedade afecta também o processo educativo dessa sociedade. Pode se considerar a educação
como sendo um processo dinâmico.

A pedagogia tem em vista o desenvolvimento integral do ser Humano, para que este possa
integrar-se no sistema social de que faz parte.

Ajuda aos professores a reconhecer a relação existente entre e escola e a sociedade, permitindo
que este medeie a sua aula com a colaboração da sociedade e que também participe nas
actividades da sociedade onde se encontra. Um dos exemplos da relação da pedagogia com a
sociologia é a integração do currículo local no novo currículo do ensino básico em Moçambique.

Em suma, a educação é o meio pelo qual a sociedade renova perpetuamente as condições da sua
própria existência. A sociedade só poderá viver  se entre os membros da mesma se existir uma
certa homogeneidade na maneira de pensar e essa homogeneidade só pode ser fornecida pela
educação (DURKHEIM; 2001:55).

3. Relação da Pedagogia com a Filosofia

A filosofia significa amar/amor a sabedoria, reflexão do homem acerca da vida e o mundo. A


Filosofia era a única ciência que existia na antiguidade, na Grécia e que tem como objecto de
estudo o homem, a terra e a própria natureza e o objectivo é saber o porquê das coisas, ou seja,
esclarecer todas as interrogações.

Foi a partir desses pontos e com os conhecimentos adicionais dos filósofos que começaram a
surgir outras ciências derivadas da Filosofia, com o objectivo de separá-las e cada uma dela o seu
objecto de estudo.

Sendo a filosofia o amor a sabedoria, não tem um objecto de estudo definido, isto é, estuda a
globalidade das coisas e é considerada a mãe de todas as ciências (POLITZER; s/d:14), é
evidente que influencie no pensamento pedagógico.
40

Ela abrange os princípios fundamentais da educação como as relações entre a educação e a vida
quotidiana.

Todo o ser humano, em qualquer sociedade sem distinção da cor, sexo, raça e idade está sempre a
filosofar. A Filosofia esclarece o que deve ser a educação; para que sociedade educar; para onde
deve se conduzir as novas gerações e com que valores educar as pessoas.

Em suma, a pedagogia busca bases filosóficas para melhor esclarecer  o papel da educação no
desenvolvimento das sociedades.

4. Relação da Pedagogia com as Ciências Politicas

As ciências políticas analisam o sistema governativo de uma sociedade  e a maneira de viver da


mesma.

Assim, a realização do  processo educativo de um país/sociedade depende do sistema governativo


do mesmo e as mudanças que afectam o sistema governativo dessa sociedade, também afectam o
processo educativo.

“O discurso  educativo consubstanciado nos planos do governo para o sector, concentra--se na


melhoria da qualidade do ensino e no alargamento da rede escola, particularmente da educação
básica” (Ministério da Educação Apud NGOENHA;2000:199).

Por sua vez, a pedagogia fornece quadros para a manutenção do sistema governativo.

5. Relação da Pedagogia com a Ética

A ética é uma ciência que estuda o comportamento humano na sua relação com o meio natural e
social, visando assegurar a prática das boas normas culturais e sociais.

A ética ajuda a  pedagogia a  delinear as suas regras/princípios  de acordo com as normas de cada
sociedade.

A pedagogia por sua vez ajuda na modificação de alguns hábitos e costumes  das sociedades que
não sejam válidos para um determinado contexto, visto que  as sociedades se desenvolvem  e
algumas normas precisam de ser revistas para se ajustarem a nova realidade.
41

6. Relação da Pedagogia com a Economia Política

“A economia política é a ciência dos interesses da sociedade e, como todas as verdadeiras


ciências, baseia-se na experiência, cujos resultados metodicamente agrupados e alinhados, se
tornaram princípios das verdades gerais” (www.geocities.com/neri_iscsp/ICS.html). Assim, a
qualidade e a quantidade da educação depende das condições financeiras que o estado oferece e
que as populações são capazes de investir neste domínio.

7. Relação da Pedagogia com a História

É a ciência social que estuda o passado com o intuito de melhor compreender o presente e
perspectivar o futuro (www.geocities.com/neri_iscsp/ICS.html).

Assim, ajuda a compreender a evolução do pensamento educativo e ajuda a pedagogia a


perspectivar o futuro da educação.

Repensar na educação de um país, exemplo concreto do nosso território, na sua dimensão


histórica, permitira reconstruir a história da educação em Moçambique e buscar bases teóricas
para projectar nesta área um projecto de educação que supere os sistemas educativos coloniais
(NGOENHA;2000:200).

O educador para poder educar uma certa pessoa, é necessário que se conheça o seu passado.

8. Relação da Pedagogia com a Moral

“Moral é a teoria normativa da acção humana enquanto submetida ao Bem, ao dever de praticar o
Bem. É uma teoria relacionada com a qualidade dos actos” (www.
geocities.com/neriiscsp/ICS.html).

Assim, a educação como objecto de estudo da pedagogia tem como finalidade desenvolver em
cada indivíduo toda a perfeição de que ele e susceptível (Kant Apud DURKHEIM; 2001:6) e
para que se atinja essa perfeição é necessário que as pessoas pratiquem o bem.
42

Um homem só pode ser moral se for social porque para haver princípios morais tem que haver
uma sociedade onde são aplicados esses princípios.

9. Relação da Pedagogia com a Antropologia Cultural

Estuda o Homem como ser criador, portador e transmissor de cultura. Portanto, ela estuda o
homem, suas actividades e comportamento. É importante reflectir que a sociologia tem objecto
material (estudo do homem) e formal (trata do homem e o seu comportamento como um todo).

A Antropologia leva em conta todos os aspectos da existência humana, biológica e cultural,


passada e presente, combinando esses diversos materiais numa abordagem integrada do problema
da existência humana.

Os dados fornecidos pela antropologia cultural são importantes para o desenvolvimento da


educação,  visto que os conhecimentos são transmitidos de geração em geração.

Par melhor compreender o processo educativo é necessário conhecer a história do povo em que
este ocorre, seus hábitos e costumes.

10. Relação da Pedagogia com a Didáctica

Tendo em conta o objecto de estudo da didáctica “a problemática do ensino, enquanto prática da


educação, e o estudo da educação em tempos, ou seja, no qual a aprendizagem é
intencionalmente almejada, no qual os sujeitos envolvidos (professor e aluno) e suas acções (o
trabalho com o conhecimento) são estudados nas sua dimensões histórico-culturais”
(LIBANEO;1996:59).

A pedagogia fornece à didáctica as ferramentas necessárias para a execução do processo de


ensino-aprendizagem.

11. Relação da pedagogia com a educação

A educação é a prática social, sendo um processo, ela começa e não tem fim, respeita a situação
temporal e espacial, na qual ocorre o processo ensino-aprendizagem.
43

O conceito etimológico da educação nos leva a considerar ao mesmo tempo “educação” e


“pedagogia”, porque a tem dupla origem e essa duplicidade aponta para o facto não só semântico
mas também teórico.

A educação vem do latim “educativo” e “educare”. No primeiro caso, o sentido é o de “conduzir


para fora”, “dirigir exteriormente”, no segundo o sentido é o de “sustentar”, “alimentar” e “criar”,
nos dois casos os verbos envolvidos nos levam a tomar a educação não distante do que
entendemos por “instruir”. Todavia, educare instiga a criação de normas e regras – uma
pedagogia – que visam a realização de um trabalho no qual o aprendiz ou educando é levado a se
desenvolver a partir da busca de recursos próprios, sendo que a autoridade externa a ele, a do
professor, se limita a lhe fornecer os processos para tal.

A relação da pedagogia ciência da educação com a própria educação reside no facto de que sendo
a pedagogia parte prática da educação ela oferece subsídios a educação para através das teorias e
técnicas do processo de ensino aprendizagem, o aluno alcance o desenvolvimento dos recursos
internos para levar o processo de aprendizagem a bom termo.

2.2 Os fundamentos da pedagogia

Sumário:

(1) Os métodos de investigação da pedagogia

(2) Modelos de relação/comunicação pedagógica “educador – educando”

1. Os métodos de investigação pedagógica

Como toda a ciência, a pedagogia dispõe de uma série de métodos para estudos de seu objecto,
que é a educação.
44

Conceitos dos métodos

O conceito mais simples de método é, caminho para alcançar uma objectivo; uma acção
encaminhada a um fim; um meio para alcançar um objectivo determinado.

Segundo NÉRICI (1978: 15) método, é um conjunto coerente de procedimentos racionais que
orientam pensamentos para serem alcançados conhecimentos validos.

Para LAKATOS (2000: 45) método é o conjunto de acções que o espírito humano emprega na
investigação e na demonstração da verdade.

O educador ao explicar e orientar o processo educativo em função dos objectivos utiliza


intencional um conjunto de acções, passos, e as condições externas a que chamamos de métodos
pedagógicos.

Daí que, métodos pedagógicos é um modo de reflexão e explicação dos processos pedagógicos,
buscando o desenvolvimento integral do homem, através de uma organização de procedimentos
que favoreçam a consecução dos propósitos estabelecidos. Por outras palavras, é um conjunto de
actividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança e economia permitem o estudo da
educação.

Os métodos pedagógicos decorrem de uma concepção da sociedade, da actividade prática


humana e praticamente da compreensão das práticas educativas numa determinada sociedade.
Neste sentido, os métodos pedagógicos fundamentam-se numa acção de reflexão sobre a
realidade educacional, sobre a lógica interna e externa das relações entre os objectos, factos e
problemas sociais.

Os métodos pedagógicos implicam pois, ver objecto de estudo nas suas propriedades e suas
relações com outros objectos e fenómenos sob vários ângulos e especialmente na sua implicação
com a prática social, uma vez que a apropriação dos conhecimentos tem a sua razão de ser na sua
ligação com necessidades na vida humana.

Em síntese, podemos dizer que métodos pedagógicos são acções de investigação educacional
pelas quais se organizam actividades educativas e dos educandos com vista a alcançar os
objectivos e as necessidades da sociedade.
45

Dada a natureza e a complexidade dos conhecimentos pedagógicos, não há método único, mas
uma variedade de métodos cuja escolha e organização dependem dos recursos, objectivos,
conteúdos, tempo, as formas de organização da educação e as condições socio-económicas.

De uma forma geral, para a reflexão dos aspectos pedagógicos, utilizam-se os métodos que em
última instância são os métodos gerais das ciências sociais, adaptados ou modificados de acordo
com as suas peculiaridades.

Assim, os métodos geralmente classificam-se em três categorias:

- Métodos Pedagógicos ao Nível Empíricos: Observação, Experimentação, Questionários,


Entrevistas, Estudo Documental.

- Métodos Pedagógicos ao Nível Teórico: Análise, Síntese, Indutivo, Dedutivo, Compreensão,


Comparativo, Genético, etc.

-Métodos Pedagógicos ao Nível Quantitativo (Estatístico).

Observação e experimentação – os métodos mais gerais empregados na pedagogia são a


observação e experimentação. A observação consiste na consideração ou percepção dos factos,
tal com se apresentam espontaneamente na realidade educacional. A observação limita-se `a
descrição e registo dos fenómenos, sem modificá-los.

Quando o observador se dirige sobre a própria pessoa, quando o observador se socorre, por
exemplo, de suas lembranças ou experiências como aluno chama-se introspecção; quando a
observação se dirige aos outros, ao estudar, por exemplo, o efeito de determinado método de
ensino sobre os alunos, chama-se heterospecção. A observação divide-se ainda em individual ou
colectiva, conforme se trate de observações sobre um único aluno, ou sobre um grupo de alunos.

A experimentação consiste em observação provocada intencionalmente. Neste caso não se espera


que o fenómeno se produza: é produzido ou provocado. A vantagem do experimento sobre a
observação é que, naquele, pode se repetir os fenómenos nas mesmas condições, modificá-los `a
vontade, e comprovar seus resultados objectivamente.
46

Tanto o experimento como a observação não se podem realizar `as cegas, arbitrariamente, mas
são dirigidos por uma finalidade ou por uma hipótese que se quer demonstrar. É necessário,
portanto, preparar de antemão as condições em que se vão realizar e levá-los a termo, depois,
com o maior cuidado possível.

Análise e Síntese – como é sabido, a análise consiste na dissociação ou decomposição das partes.
O método analítico aplica-se em pedagogia quando, por exemplo se estudarmos componentes de
um processo de ensino ou as aptidões dos alunos que intervêm na resolução de um problema, ou
quando se investiga os efeitos das excursões escolares sobre o ensino, etc.

O método sintético consiste na inversão da análise, isto é em recompor um objecto com suas
partes anti separadas. Por exemplo: quando no ensino das línguas via-se das letras ou sílabas `as
palavras, ou quando se quer obter o perfil psicológico de um aluno. Chama-se reprodutivo,
quando se limita a simples inversão de uma análise anterior e construtivo quando, além dessa
inversão obtém-se novos resultados.

Indução e Dedução - a indução consiste em ir do particular para o geral, dos factos `a lei.
Comummente o método indutivo é o mais empregado pela ciência mas requer grande cuidado na
aplicação. Para que seja eficiente é preciso que se reúna o maior número de casos e se
estabeleçam entre eles as relações e semelhanças, de modo que a lei ou explicação possa ter
aplicação geral. Emprega-se em pedagogia quando se quer determinar, por exemplo, por meio
dos trabalhos dos alunos qual é o melhor método para o ensino do idioma, ou quando se quer
conhecer através de exercícios apropriados, os efeitos do trabalho manual sobre o intelectual.

A dedução é o inverso da indução, e consiste em ir do geral ao particular, da causa ao efeito.


Realmente, a dedução não traz nenhum conhecimento novo, é uma modificação da indução, e
quase não é empregada na ciência. Tem aplicação na educação propriamente dita, como veremos
mais tarde.

O Método Comparativo – consiste em comparar ou relacionar factos ou fenómenos para


encontrar suas semelhanças ou diferenças e obter as conclusões pertinentes. A comparação, o
método comparativo, poderá realizar-se com indivíduos de sexo, idade, nacionalidade ou cultura
diferentes, ou de tipo de psíquico diverso, ou sobre seres de espécies diferentes (criança e
animal).
47

O Método Genético – consiste no estudo dos fenómenos ou actos educativos em seu


desenvolvimento através das diversas épocas. Com ele pode-se estudar por exemplo o processo
das actividades mentais do aluno, desde a infância até a adolescência, para o elas adaptar os
diversos métodos de ensino. O método genético exige, nos casos individuais muitíssimo tempo e
é por isso, de difícil aplicação.

O Método Estatístico – o método compreende ordinariamente as seguintes fases: colecta de dados


referente ao problema estudado; organização dos dados para facilitar a interpretação (tabulação,
distribuição, etc.); elaboração matemática dos dados para isolar e avaliar os actores mais
importantes, medidas de correlação, etc. exame crítico e interpretação dos dados.

O Método dos Testes - consiste essencialmente em provocar ou resposta a estimula previamente


determinado. Trata-se de facto de exame por meio de perguntas, actos ou sugestões, tudo previsto
e graduado de modo científico.

A maior vantagem nos testes é constituírem medidas objectivas independentes do critério pessoal
e subjectivo do examinador e poderão ser entendidos e utilizados universalmente.

O Método da Compreensão – os métodos até agora indicados, referem-se a aplicações da lógica e


da psicologia tradicional. Mas a filosofia moderna adoptou, a partir de Dilthey, como método
essencial das ciências do espírito, o da compreensão.

2. Modelos De Relação/Comunicação Pedagógica “Educador – Educando”

A Relação pedagógica

Ao “conjunto de expectativas recíprocas que se estabelecem entre formandos e formador”, se


designa de contracto pedagógico. (FERRÃO e RODRIGUES, 2000:92). A este respeito, a
contracto pedagógico, regulamenta as permutas entre o parceiros, que se obrigam, uns em relação
aos outros, a agir de uma determinada maneira.

A nível da competência pedagógica e psicossocial, o formador deverá adoptar uma postura que
reúna as seguintes características: predominantemente semi-directivo, facilitador e mediador e
48

animador. (visite FERRÃO e RODRIGUES, 2000:94-98) para detalhes em relação a estas


características.

“As correntes pedagógicas dominantes, apontam para o desenvolvimento de relações pedagógicas


assentes em processos formativos dinâmicos que mobilize os recursos e o capital da
aprendizagem dos formandos sob a orientação de um formador” (idem: 94).

O modelo teórico de Gilles apud (op. cit. 98) apresenta três modelos de relação pedagógica:
centrado nas aquisições, centrado nas iniciativas e o modelo centrado na análise.

Como uma forma de manter a boa relação pedagógica na sala de aulas ou fora dela, Gomez, Mir
e Serrats (14-26) aponta 8 enfoques teóricos da disciplina para garantir o desenvolvimento
integral do formando.

Apontam-se os seguintes

1. Modelo centrado nas aquisições, (didáctica racional), pedagogia por objectivos: conteúdos e
objectivos pré determinados pelo formador, os formandos não participam nessas determinações;

2. Modelo centrado nas iniciativas, (processo de desenvolvimento pessoal centrado no


individuo como uma totalidade), relação de transferência: a vivência de experiências sociais e/ou
intelectuais, individuais e/ou colectivas, dentro e/ou fora do campo profissional, como campo de
aprendizagens direccionadas.

3. Modelo centrado na análise, (saber analisar como aprendizagem fundamental), o formando


deve ser capaz de referenciar aquilo que é conveniente aprender. Não é ensinar a pescar, é dar o
formando a possibilidade de saber escolher a cana certa.

Os dois últimos modelos são os que mais se adaptam às estratégias pedagógicas em matéria de
dinamização de indivíduos e grupos.

Ser um líder e gestor da dinâmica formativa significa, em última instancia, que o formador deve:

- Criar um bom ambiente social, isto é, um bom clima relacional;

- Fomentar a integração e a coesão do grupo;


49

- Favorecer as trocas com os formandos e entre eles;

- Regular e coordenar as intervenções;

- Manter a coesão do grupo;

- Resolver conflitos;

Para conseguir sucesso da materialização das características descritas atrás, significa que o líder
terá que desenvolver uma relação pedagógica, estabelecendo e explicitando um contracto
pedagógico tal, que entre em linha de conta com os seguintes princípios:

- Centra-se nas pessoas e no grupo;

- Criar uma dinâmica de grupo;

- Provocar a discussão, o trabalho individual e em equipa;

- Criar um clima de confiança e competitividade;

- Utilizar a pedagogia do sucesso em vez das técnicas do erro;

- Valorizar as experiencias e os desempenhos utilizando exemplos e analogias. (página 99 de


Libâneo).

Actividades de aprendizagem
1. Identificar e descrever as áreas de actuação do pedagogo
2. Reproduzir conceitos mais ampliados de educação e pedagogia
3. Elaborar uma síntese da relação da Pedagogia com ciências da educação e outras ciências
4. Identificar as diferenças e semelhanças das categorias da Pedagogia.

5. O perfil e o papel do professor no processo educativo

6. Elaborar síntese sobre a evolução histórica da educação em diversas etapas

7. Mencionar os modelos de relação pedagógica.


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Leituras obrigatórias

Para desenvolver mais conhecimentos nestas matérias, leia as seguintes obras:

FERRÃO, Luís e RODRIGUES, Manuela. Formação Pedagógica de Formadores: manual prático


Lidel. 3.ed, Lidel Edições técnicas: Lisboa, 2000.

LIBÂNEO, José Carlos. Pedagogia e Pedagogos, para quê? 11ed. São Paulo, 2009

___________________. Didática. São Paulo, Cortez, 1994.


MARQUES, Ramiro. Dicionário breve de Pedagogia/ed. Lisboa: editorial presença, 2000.

PILETTI, Nelson & PILETTI, Claudino. História da Educação. 7ed. São Paulo, s/d.
51

UNIDADE TEMÁTICA III: A NECESSIDADE DE REFLEXAO SOBRE A EDUCAÇÃO


E SUA PRATICA NO CAMPO DA PEDAGOGIA

Temas da unidade temática III:

3.1 Função social da educação

3.2 Função cultural da educação

3.3 A educabilidade do homem

3.4 A planificação, direcção e organização do processo pedagógico, as tendências ou


correntes pedagógicos e alguns modelos actuais.

Objectivos específicos:

 a)Explicar a finalidade e o papel social/cultural da educação;


 b) Descrever o papel das instituições e agentes participativas na formação da
personalidade;
 c) Distinguir os tipos da planificação do processo pedagógico;
 d) Explicar a organização do processo pedagógico.

3.1 Função social da educação


Ao falarmos da função social da educação estamos perante a educação no seu sentido amplo, ou
seja, enquanto prática social que se dá nas relações sociais que os homens estabelecem entre si,
nas diversas instituições e movimentos sociais, sendo, portanto, constituinte e constitutiva dessas
relações.
A educação pode ser concebida como um instrumento de prolongamento, manutenção e
consolidação da sociedade, bem como dos problemas que nela existem. Nesta perspectiva as
instituições escolares seriam entendidas como destinadas a produzir alunos com um determinado
perfil, de modo a suprir carências sociais do momento.

Afirma DURKEIM que, “a escola e a educação parecem ter ambas as funções: reproduzem a
sociedade numa dinâmica conservadora e, simultaneamente renovadora.”
52

Portanto a função conservadora consiste num acto de transmissão da memória de uma


civilização, permite viabilizar a inserção de cada indivíduo no meio social em que vive.

Como função (re) produtora, educação constitui-se acima de tudo como uma condição pela qual o
ser humano se pode tornar verdadeiramente humano. “Para ser homem, não basta nascer, é
necessário aprender”. Nesta perspectiva, o ser humano é entendido como um processo, algo que
se vai construindo e (trans)formando, um manancial de possibilidades que só serão actualizáveis
por meio da educação.

A função renovadora da educação, possibilita a educação e as instituições condições de


mudanças sociais, isto é, a educação constitui um meio pelo qual a sociedade renova
perpetuamente as condições da sua própria existência.
O homem, no processo de transformação da natureza, instaura leis que regem a sua convivência
com os demais grupos, cria estruturas sociais básicas que se estabelecem e se solidificam à
medida que se vai constituindo em locus de formação humana.

Nesse sentido, a escola, enquanto criação do homem, só se justifica e se legitima diante da


sociedade, ao cumprir a finalidade para a qual foi criada. Assim, a escola, no desempenho de sua
função social de formadora de sujeitos históricos, precisa ser um espaço de sociabilidade que
possibilite a construção e a socialização do conhecimento produzido, tendo em vista que esse
conhecimento não é dado a prior. Trata-se de conhecimento vivo e que se caracteriza como
processo em construção.

Educar significa, formar o indivíduo em quanto pessoa capaz de participar activamente na


construção e melhoramento da sociedade, capaz de reflectir criticamente sobre a realidade que o
rodeia. Assim, este aprender a ser pessoa, a ser humano é possível, porque existem outros seres
humanos.

A educação, como prática social que se desenvolve nas relações estabelecidas entre os grupos,
seja na escola ou em outras esferas da vida social, se caracteriza como campo social de disputa
53

hegemónica, disputa essa que se dá "na perspectiva de articular as concepções, a organização dos
processos e dos conteúdos educativos na escola.

Em consequência, educar não é apenas formar um ser humano isoladamente, mas a verdadeira
humanidade só é possível na convivência, no confronto de Tu e na configuração de um Nós, ou
seja uma vida comum que permita a realização de todos.

3.2 Função cultural da educação

A educação constitui garante da cultura enquanto património a ser herdado pelos membros de
cada nova geração. A educação é um acto de projectar a jovem geração para a cultura dominante
em cada época, espaço/local.

A educação garante, deste modo, a apropriação de conhecimentos, valores, atitudes, crenças,


habilidades, competências, que se consideram relevantes em cada sociedade. Uma vez
assimilados pela jovem geração constituem um “ passaporte” para o gozo da felicidade e uma das
condições para o bem-estar individual e social.

A cultura é concebida como um conjunto comum de esquemas fundamentais, assimilados


principalmente pelos indivíduos na escola, cada um deles adquire uma disposição geral geradora
de esquemas particulares, aplicáveis a seu pensamento e acção, nos espaços de sua prática social,
o que ele denomina de habitus cultivado.

Embora não assume a escola como origem e geradora absoluta da cultura, proclama sua função
modificadora do conteúdo e do espírito da cultura por ela transmitida, visando especialmente
transformar o legado colectivo em um inconsciente individual e comum.

Paín (1992), atribui à educação as seguintes funções:

a) Função mantedora da educação, refere-se à reprodução em cada indivíduo das normas e


comportamentos que a própria espécie humana estabeleceu.
54

b) Função socializadora da educação, refere-se a transformação do sujeito pela regulamentação


das normas de acção. A aprendizagem possibilita o despertar de processos internos do indivíduo,
ligado ao desenvolvimento do sujeito ao meio sócio-histórico-cultural. A aprendizagem escolar
segundo Vygotsky, tem a função principal de internalização da cultura.

A escola tem um papel essencial no processo de sistematização dos conhecimentos da cultura e


fornece um espaço de relações entre os indivíduos. De acordo com Rego (2000) “ ao interagir
com os novos conhecimentos na escola (ler, escrever, calcular, informações, conceitos
científicos, etc.) o ser humano se transforma, pois a escola lhe fornece novas formas de
pensamento, de inserção e actuação em seu meio”.

3.3 A educabilidade do homem: Acto Educativo


Educabilidade é a capacidade de todos indivíduos de receber influências e reagir antes a elas,
construindo a partir da cultura sua própria identidade.

De acordo com CABANAS (2002:60), acto educativo é o acto da educação, acto com que a
educação educa a própria acção de educar.

De princípio é importante frisar que os termos “educativo” e “educacional” não significam o


mesmo, devendo usar-se um ou outro segundo as circunstâncias. Assim, o termo educativo quer
dizer “que educa” (exemplo livro educativo, um jogo educativo), e educacional indica algo
referente à educação (por exemplo, planificação educacional, reforma educacional).

Segundo CABANAS (2002:60), acto educativo é o acto da educação, o acto com que a educação
educa, a própria acção de educar. Podemos também sustentar que o acto educativo é o exercício
concreto da educação. É, por conseguinte, a confluência da actuação do educador com a reacção
do educando, tendo como consequência o acesso deste a um nível de maior perfeição pessoal.
55

Pode-se reafirmar aqui, que a Teoria de Educação é entendida como a teoria do acto educativo,
pois neste convergem os conflitos teóricos básicos que se colocam ao conceber a educação.
Assim, o processo educativo, explica que a educação é um processo (ou súmula de actos
educativos encadeados) de aperfeiçoamento (dai que o vector indique um movimento
ascendente), no qual se trata de fazer com que um sujeito aceda a níveis superiores na sua
existência.

 Sujeito: Suas circunstâncias: psicológicas, socais, culturais;


 Meios: Métodos, Recursos;
 Fins: Estado ideal, valores e Objectivos.

Aqui é, importante conhecer o sujeito educando tendo em conta a sua possibilidade e


necessidade de ser educado, assim como a facilidade ou a dificuldade que a isso oferecera e as
limitações que apresentara. Esta informação é determinante do processo, para que saibamos o que
podemos fazer com e ele e, também, o que devemos fazer com ele: os fins educacionais (não fins
“educativos”, como geralmente se diz) são funções não apenas de exigências objectivas (ideais e
sociais), mas também da natureza do sujeito, pois desta depende também o que esperamos dele e
o que nos proporemos fazer com ele.

Personalidade – no sentido etimológico, deriva do latim (persona-mascara), aparência, aquilo


que uma pessoa parece ser da outra. Na Grécia Antiga, era usada por actores de teatro nas suas
representações.

No estudo da personalidade surgiram varias correntes com diferentes definições, eis algumas:

 É forma característica na qual uma pessoa pensa e se comporta a medida em que se ajusta a
seu meio ambiente;
 “É o estilo de vida do indivíduo ou a maneira característica de reagir aos problemas da vida
incluindo os seus objectivos na vida” (Adler);
 “ É aquilo que permite um prognóstico, aquilo que a pessoa faria numa dada situação” (Patel,
1905);
56

 “ É a continuidade de formas e forcas funcionais manifestadas através de sequências de


processos orgânicos dominantes do comportamento manifestado desde a nascença até a morte”
(Murrei, 1893);
 Alport fez a sistematização dos diferentes conceitos e assim, define a personalidade como
sendo o conjunto dos sistemas psicofisiológicos que se formam durante a vida e que determinam
a originalidade do pensamento e do comportamento de cada homem concreto.

Em suma, personalidade é uma qualidade de propriedades de cada homem, exprime a sua


essência social, isto é, as qualidades psicológicas e sociais humanas adquiridas no processo da
vida. É uma unidade integrativa de um homem, com todo o conjunto das suas características
essenciais (inteligência, carácter, constituição e a sua maneira de ser e de comportar-se).

A personalidade não nasce com ela, mas adquire-se a custo do trabalho próprio e alheio. Nesta
aquisição, algumas das tendências do indivíduo exercem o papel preponderante. Entre elas tem
influência na formação do “eu”, como realidade consciente, afirmando-o e desenvolvendo-o, a
ambição, o orgulho, a vaidade e a emulação, numa palavra o egoísmo.

Estas tendências devem ser regradas e bem dirigidas, caso contrario em vez de qualidades dignas
da pessoa, torna-se vícios nefastos.

Purificando das suas perversões, o egoísmo é legítimo e é guarda da nossa dignidade moral, um
estímulo para o trabalho e para a prática do bem; é condição imprescindível a formação da
personalidade. O sentimento da honra e da dignidade pessoal concorrem para elevação do
homem.

Teorias da personalidade

O modelo mais eficiente de compreender os mecanismos da personalidade humana é objecto de


divergências entre os diferentes psicólogos, daí que algumas teorias põem a tónica processos
inconscientes, outros recorrem os princípios da aprendizagem outros aos processos de realização,
etc., vejamos algumas:
57

a) Teorias sociogenéticas

As teorias sociogenéticas da personalidade, consideram que o desenvolvimento da criança é


resultado das acções directas do meio ambiente que o cercam. O desenvolvimento da
personalidade é a absorção, assimilação das crenças, emoções, sentimentos, etc. a partir dos
outros homens.

b) Teorias Biogenéticas

Consideram que o destino das crianças é sempre determinado pelas propriedades inatas. O
desenvolvimento da personalidade explica-se pela lei biogenética (a ontognese, que é a repetição
abreviada da filogenése).

Forças motrizes do desenvolvimento da personalidade

O processo crescimento é um processo dinâmico que se caracteriza por contradições de varia


ordem. Estas contradições constituem as forcas motrizes do desenvolvimento.

A 1ª Força motriz do processo educativo

Constitui a contradição entre as exigências oriundas do exterior e o nível actual do


desenvolvimento do homem. A contradição entre as novas tarefas cognitivas e práticas que deve
desenvolver o homem e os conhecimentos, aptidões e habilidades o homem que já possui.

A necessidade cumprir tarefas cada vez mais complicadas, obriga aos alunos a mobilizar forças
psíquicas, e assim, eleva-se ao nível mais alto do desenvolvimento.
58

O desenvolvimento da personalidade do homem deixa de correr se não forem colocadas tarefas


mais complicadas que ele é capaz de desenvolver.

2ª Força motriz do processo educativo

Consiste na contribuição entre as exigências externas e as aspirações do próprio homem. Neste


caso, o importante é que o dever para o cumprimento das tarefas se tome no querer do aluno., isto
é, as exigências externas colocadas, por exemplo, pelo professor, tornam-se em exigências dos
alunos perante a si mesmos e provocam a actividade consciente.

3ª Força motriz do processo educativo

Consiste na contradição entre as influências especialmente organizadas e as influências


espontâneas provenientes do meio ambiente social. A principal tendência de solução consiste em
organizar as influências organizadas e eliminar as influências espontâneas negativas.

3.4 A planificação, direcção e organização do processo pedagógico

A planificação é uma actividade que inclui tanto a previsão das actividades didácticas em termos
da sua organização e coordenação em faces dos objectivos propostos, quanto a sua revisão e
adequação no decorrer do processo de ensino. É um meio para se programar as acções docentes,
mas também um momento de pesquisa e reflexão intimamente ligado a avaliação.

Modelos ou tipos de organização

As modalidades de organização e direcção entende se como sendo o conjunto de condições pré


estabelecidas (agrupamento e distribuição espacial dos alunos dos alunos, regras de interacção,
estrutura e encadeamento das actividades, princípios orientadores da acção docente, e estratégias)
que diferem do contexto em que envolve o processo de ensino aprendizagem.
59

Portanto existem evidências de que há uma interacção dinâmica entre as modalidades concretas
de organização e gestão dos ambientes de aprendizagem e os procedimentos de planificação das
actividades.

Tipos de planificação

- Planejamento Educacional conste na tomada de decisões sobre a educação no conjunto do


desenvolvimento geral do país. A elaboração deste tipo de planejamento requer a proposição de
objectivos a longo prezo que define uma política de educação.

- Planejamento do Currículo- é a formulação dos objectivos educacionais a partir daqueles


expressos nos guias curriculares oficiais. Neste caso a escola não deve simplesmente executar o
que é previsto pelos órgãos oficiais seja mais ou menos determinado, cabe a escola interpretar e
operacionalizar esses currículos.

- Planejamento do ensino- consiste em traduzir em termos mais concretos e operacionais o que


o professor fará na sal de aulas, para conduzir os alunos a alcançar os objectivos propostos.

Actividades de aprendizagem

1. Em 10 linhas faça uma síntese sobre o papel social da educação na formação da personalidade.

2. Qual é a função que a educação deve desempenhar na sociedade?

3. A partir de exemplos concretos refira se sobre a influência da cultural no processo de ensino e


aprendizagem.

4. Elabore uma síntese acerca do papel das instituições participativas na formação da


personalidade.

5. Explique porque o homem deve ser educado em todos os períodos do seu desenvolvimento.
60

Leituras obrigatórias

DURKHEIM. Sociologia, educação e moral. Porto. Rés Editora. S/d.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes Necessários á Prática Educativa. São Paulo:
Paz e terra, 1996.

…………………………… Educação como Prática da Liberdade. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

LIBANEO, José Carlos. Didáctica. São Paulo: Cortez editora, 2008.

…………………………... Fundamentos de Pedagogia: Teoria e Prática Educativa.


Universidade Pedagógica.

MONTEIRO, A. Reis. História da Educação. Portugal: porto editor, 2005.

PAIN, Sara. Diagnóstico e tratamento dos problemas de aprendizagem. Porto, 1992.

REGO, Teresa Cristina. Vygotsky: Uma perspectiva histórico-cultural da educação. 14ed.


Petrópolis. Rio de Janeiro, 2002.

SOARES, Magda. Linguagem e escola: Uma perspectiva social. 15ed. São Paulo, 1997.

VIGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente: O desenvolvimento dos processos


psicológicos superiores. São Paulo, 1991.
61

UNIDADE TEMÁTICA IV: O CARACTER HISTORICO- SOCIAL DA EDUCAÇÃO:


CASO DE MOCAMBIQUE

Temas da unidade temática IV:

4.1. As formações sociopolíticas e o carácter/ função da educação

4.2. A finalidade e objectivos em Moçambique em diferentes momentos históricos.

4. 3 Reforma curricular

4. 3. 1 Conceitos

4. 3 2 A reforma curricular em Moçambique

Objectivos específicos:

 a)Explicar a influência geopolítica e económica estrangeira na educação da população


moçambicana;
 b) Descrever os períodos históricos da educação em Moçambique;
 c) Identificar o papel da FRELIMO no processo educativo da população;
 d) Identificar a finalidade e objectivos da educação nos pós – independente;
 e) Explicar a influência dos planos/ programas de reabilitação económica no processo
educativo;

4.1. As formações sociopolíticas e o carácter/ função da educação

Sumário:

1. Breve historial da Educação em Moçambique

Em 1975 a Frelimo Proclama a independência Nacional como o corolário da conquista do poder


pela via armada. Pela frente, a Frelimo tinha gigantesca tarefa de construir um país com elevado
índice de analfabetismo, uma rede escolar insuficiente e sem professores com uma formação
adequada, como consequência do sistema de ensino Colonial que era discriminatório, pois havia
o ensino oficial e qualificado para os colonos brancos mais tarde extensivo aos “assimilados”
62

negros e ensino rudimentar para os indígenas, ministrado pela Igreja Católica ao abrigo da
Concordata de 1940 celebrada entre a Igreja Católica e Governo Colonial Português e o estatuto
Missionário de 1941.

Em consequência da debandada dos colonos o nosso país herdou uma desastrosa herança em
termos de quadros Nacionais e infra-estruturas sociais, sobretudo na área de Educação.

É neste " Mare Magnum" de dificuldades que a Frelimo devia traçar definir estratégias para o
desenvolvimento do país que acabava de nascer e sob o peso da sua responsabilidade. É neste
contexto que a 24 de Julho de 1975, foram nacionalizados a terra e os recursos naturais do país,
os serviços de Saúde e da Educação. Estas nacionalizações visavam fundamentalmente, eliminar
a possibilidade de emergência de burguesia enquanto classe e introduzir novas relações de
produção, (BUENDIA, 1999: 234).

2. Génese do Sistema Nacional do Ensino e o papel da Frelimo no Processo Educativo da


População

Em 1977 Frelimo realiza o terceiro congresso onde traçaria as linhas mestres do desenvolvimento
do país com a elaboração do Plano Prospectivo Indicativo (PPI) que preconizava a erradicação do
sub desenvolvimento em dez anos (1980 - 1990) tendo como sustentáculos mega projectos, tais
como o complexo Agro industrial do Limpopo, o Projecto dos 400 mil hectares do Unango, a
têxtil de Mocuba (Pideco), Carbonífera de Moatize, etc . Estes projectos funcionariam como
varinhas mágicas para impulsionar o almejado desenvolvimento acelerado de Moçambique em
todas esferas da vida Social. Esta visão quimérica do desenvolvimento do país é de inspiração
Socialista imposta pelos "nossos aliados naturais" no âmbito dos compromissos da Luta Armada
de Libertação Nacional e no contexto Global da Luta anti- imperialista.

Como diria Mazula, "O PPI reproduzia, na prática o modelo do desenvolvimento dos países
socialistas. A Frelimo pretendia dar "Grande salto" para o Socialismo. Criava-se a ilusão como
possibilidade racional de desenvolvimento ser vencido numa década o sucesso da educação
resultado rápido desenvolvimento económico.
63

Essa ilusão enquadrava-se, também, no espírito triunfalista que ainda predominava na Frelimo,
(MAZULA, 1995: 170). Um dos resultados importantes e o marco de referência na história de
Moçambique da materialização das directivas do III Congresso foi a elaboração, discussão e
aprovação do SNE como concretização das directivas em matéria de educação aplicada a fase
actual e orientada para o nosso desenvolvimento. "A implementação do SNE é parte integrante da
estratégia da construção do socialismo.

Neste contexto, e ao abrigo da lei 4/83 de 23 de Março é criado o SNE que viria a ser revogado,
desta feita, pela lei 6/92 de 6 de Maio, que reajusta o quadro geral do SNE e adequa as
disposições nele contidas, tendo superado diferenças substanciais e profundas no referido
documento em termos da sua fundamentação, conforme o quadro que a seguir se apresenta:

4.2. A finalidade e objectivos da educação em Moçambique em diferentes momentos


históricos.

Sumário:

(1) O programa de reabilitação económica no processo educativo, no Moçambique


independente
(2) O Sistema Nacional de Educação

Cumprindo a orientação do III Congresso, o Partido divulgou, em 1980, o Plano Prospectivo


Indicativo (PPI). O PPI apresentou-se como um plano de ajuste da situação económica e de
modernização da sociedade. Definia metas e idealizava grandes projectos económicos pela
indústria pesada que aceleraria a socialização do campo, criaria bases para a eliminação do
subdesenvolvimento em dez anos, e, assim, situaria o país ao nível dos países desenvolvidos.
64

O PPI reproduzia, na prática, o modelo de desenvolvimento dos países socialistas. A Frelimo


pretendia dar «o grande salto» para o socialismo. Criava-se a ilusão, como possibilidade
racional" de o subdesenvolvimento ser vencido numa década e o sucesso da educação resultar do
rápido desenvolvimento económico. Essa ilusão enquadrava-se, também, no espírito triunfalista
que ainda predominava na Frelimo.

O SNE foi concebido, basicamente, para responder às metas do Plano Prospectivo Indicativo
(PPI), já superado no IV Congresso que adoptara a estratégia de desenvolvimento através de
pequenos projectos (IV CONG: 63). A Educação devia criar condições para a formação de uma
rede escolar mais adequada e eficaz, garantindo-se desta forma a efectivação da escolaridade
obrigatória, estratégia fundamental para erradicação do analfabetismo, para a formação de
técnicos básicos e médios necessários para os projectos agro-industriais, e para elevar a formação
dos trabalhadores dos sectores considerados prioritários da economia nacional. Sob o ponto de
vista político-ideológico, a educação deveria garantir o acesso dos trabalhadores à ciência e à
técnica, de forma a tornarem-se dirigentes da sociedade, e assegurar a formação do homem novo,
socialista, capaz de acompanhar o processo de transformação social.

A partir de 1981, um ano depois da divulgação do PPI, começa a registar-se um decréscimo


progressivo do PSG, iniciando-se o «período de declínio», de acordo com a classificação de
Johnston (JOHNSTON, 1987: 4).

O PSG decresceu para 6,9%, só em 1982, e em 35%, de 1981 a 1986, decréscimo justificado
pêlos efeitos da seca, da guerra interna, das agressões militares e sabotagens económicas da
África do Sul, que afectaram negativamente a agricultura e outros sectores económicos e sociais,
reflectindo--se, de imediato, na dinâmica das relações económicas exteriores do País. As
exportações baixaram cerca de 53,6%, de 1980 para 1983 (CNP, 1984: 44/45; DNE, 1985: 68).
As importações também decresceram 7,3% de 1980 a 1982, consideradas a preços constantes
(CNP, 1984: 47).
65

No mesmo período, deterioraram-se os termos de troca do comércio internacional de


Moçambique, com reflexos na redução de receitas em divisas e no agravamento das dificuldades
de tesouraria cambial, em 1982 e 1983 (CNP, 1984: 47/48).

Subsistemas do Sistema Nacional de Educação: 1983-1985

O Sistema Nacional de Educação é constituído pelos seguintes subsistemas:


- Subsistema de Educação geral: Ensino Primário, Secundário e pré-universitário
- Subsistema de Educação de adultos;
- Subsistema de Educação técnico profissional;
- Subsistema de Formação de Professores e;
- Subsistema de Educação Superior.

Níveis de Ensino do SNE:

- Nível Primário;

- Nível Secundário;

- Nível Médio e;

- Nível Superior.

Objectivos do Sistema Nacional de Educação

- Erradicação do analfabetismo;

- Introdução da escolaridade obrigatória

- A formação de quadros para as necessidades do desenvolvimento económico e social e da


investigação, científica, tecnológica e cultural.

Princípios do Sistema Nacional de Educação (SNE)

Lei 4/83 de 23 de Março Boletim da República no 12, I série


66

1. A Educação é um direito e um dever de todo cidadão que se traduz na igualdade de


oportunidade de acesso a todos níveis de ensino e na educação permanente e sistemática de
todo povo.

2. A Educação reforça o papel dirigente da classe operária e aliança operário -Camponesa,


garante a apropriação da Ciência, da técnica e da Cultura pelas classes trabalhadoras e
constitui um factor impulsionador do desenvolvimento económico, Social e Cultural do país.

3. A educação e um instrumento principal da criação do Homem Novo, homem liberto de toda


carga ideológica da formação colonial e dos valores negativos da formação tradicional, capaz
de assimilar e utilizar a Ciência e a Técnica ao Serviço da Revolução;

4. A Educação na República Popular de Moçambique baseia-se nas experiências nacionais, nos


princípios universais do Marxismo- Leninísmo, e património Científico Técnico e Cultural da
humanidade;

5. A Educação é dirigida, planificada e controlada pelo Estado, que garante a sua universalidade
e laicidade no quadro da realização dos objectivos fundamentais consagrados na constituição.

4. 3 Reforma Curricular

4. 3. 1 Conceitos
A reforma curricular, como reconheceu Roberto (1987), é o vector principal de qualquer reforma
educativa, pois, o currículo é o elemento fulcral de um sistema educativo.

E como uma mudança contém muitas dimensões conflituosas e estratégicas não se poderá desejar
que as reformas educativas se esgotem por completo na reforma curricular; Manuel Patrício
(1991: 10) apud (PACHECO 2001: 157), “que aquilo em que veio a tornar-se psicose curricular
67

da reforma educativa do ministério Roberto Carneiro, apresentava apenas, no plano global de


actividades do CRSE, uma das 52 actividades previstas para o desenvolvimento.

Mesmo assim, a reforma curricular foi um dos pontos mais visíveis de todo o processo global de
reforma, suscitando opiniões muito diversas. De um modo global, a reforma curricular supõe
mudanças em várias dimensões que significam tanto uma mudança como uma inovação.
PACHECO, (1992: 77) apud (PACHECO 2001:157).

a) Estratégias para a Implementação de qualquer Reforma curricular


O sucesso de qualquer plano curricular está indiscutivelmente associado á concepção de
estratégias adequadas para sua implementação. Essas estratégias, por sua vez, pretende-se com
inúmeros factores, tais como os psicopedagógicos, linguísticos, socioeconómicos e políticos.
Assim sendo, para a implementação de qualquer proposta de um currículo, propõe-se entre outras
as estratégias que a seguir descriminam.

 Criação e expansão da rede escolar


 Formação de professores
 Capacitação de professores
 Preparação de formadores ao nível central
 Formação de formadores provinciais
 Formação de formadores distritais ou zonais
 Capacitação de professores em exercício
 Formação de professores para disciplinas novas
 Formação de instrutores e supervisores

4. 3 2 A reforma curricular em Moçambique

A educação e um processo pelo qual a sociedade prepara os seus membros para garantir a sua
continuidade e o seu desenvolvimento. Trata-se de um processo dinâmico que baseia
continuamente, as melhores estratégias para responder aos novos desafios que a continuidade,
transformação e desenvolvimento da sociedade.
68

Por ex: pode se constatar que os objectivos dos programas escolares do 1º grau do ensino básico
já não estão a adequar-se à realidade do crescimento do ensino em Moçambique, neste caso, os
planificadores podem rever esses objectivos e introduzir emendas.

A reforma curricular não é mais do que a concretização, dos objectivos definidos numa nova
politica educativa para todo o país, tendo em vista produzir alterações significativas no sistema
educativo. É neste quadro complexo que se irá configurar o currículo, sendo essencial ter
presente questões, tais como:

 A definição mais ou menos explicita dos objectivos que deverão ser prosseguidos.
 A tradição curricular do respectivo sistema educativo;
 O tipo do currículo (aberto ou fechado);
 O modelo de organização (centrado em disciplinas ou temas)
 A selecção das matérias e respectivos conteúdos
 Forma como os intervenientes no sistema educativo participarão
 As medidas de apoio á mudança curricular.

( www.hottopos.com )

A inovação curricular apesar de tudo acontece segundo González e Escudero(1987) a pud in


www.hottopos.com em três grandes enfoques teóricos:

Enfoque técnico-científico - as mudanças curriculares são tratados como meras


questões técnicas. Os currículos são altamente estruturados, limitando-se o papel
dos professores á simples execução de instruções superiores.

Enfoque cultural – dá-se uma grande importância à complexidade dos processos


de mudança e às suas interacções. A cultura das escolas é particularmente
valorizada. O papel do professor é valorizado, como agente e intérprete das
culturas em presença.

Enfoque sócio-político – a mudança é perspectivado em termos políticos e ideológicos. O que é


particularmente valorizado são as condições históricas e sociais. Os professores tendem a ser
reduzidos ao papel de simples instrumentos do poder.
69

A sociedade moçambicana, em particular, tem estado, nos últimos tempos, em mudanças


profundas motivadas por factores políticos-económicos e sócio-culturais.

Neste momento da globalização, as sociedades enfrentam o dilema da construção da aldeia global


e a pertinência da defesa e desenvolvimento das identidades nacionais. Este dilema, constitui um
factor que a educação deve equacionar na perspectiva de garantir que os cidadãos, ao mesmo
tempo que se capacitam para se integrarem na aldeia global, não percam a sua identidade pessoal,
comunitária e nacional.

Deste modo, procura-se em cada etapa, desenvolver estratégias educativas por-forma a responder
cabalmente aos desafios que se colocam

O principal desafio que se coloca a reforma curricular, e tornar o ensino mais relevante, no
sentido de formar cidadãos capazes de contribuir para a melhoria da sua vida, a vida da sua
família, da comunidade e do pais, dentro do espírito da preservação da unidade nacional,
manutenção da paz e estabilidade nacional, aprofundamento da democracia e respeito pelos
direitos humanos, bem como da preservação da cultura moçambicana.

A visão da relevância da reforma curricular fundamenta-se na percepção ao de que a educação


tem de ter em conta a diversidade dos indivíduos e dos grupos sociais para que se torne num
factor, por excelência de coerção social e não de exclusão. Exemplo. Escola de necessidades
educativas de Anchilo na província de Nampula.

Efectivamente, muitas vezes, acusa-se os sistemas educativos formais de impor aos educandos os
mesmos modelos culturais e intelectuais sem prestar atenção suficiente `a diversidade dos
talentos da imaginação, atitudes, predilecções, globais, dimensão espiritual e habilidade manual.
Assim, surge a presente reforma curricular que reformula o plano curricular introduzido em 1983,
pela lei 4/83 de 23 de Março, e revisto em 1992, pela lei 6/92, de Março.

Para tornar factível a perspectiva curricular, exposta anteriormente foram tomadas em


consideração as reflexões de diferentes estudos feitos por instituições do ministério de educação,
em particular do Instituto Nacional do Desenvolvimento da Educação INDE, bem como de outras
entidades colectivas e individuais foram também tomadas em conta reflexões e recomendações
dos pais e encarregados de educação em geral, das diferentes sensibilidades da sociedade
70

moçambicana. Governantes, políticos, religiosos, empresários, sindicalistas, autoridades e lideres


locais, organizações não governamentais de entre outras. Associada a estas reflexões e
recomendações foram equacionadas as experiências curriculares de outros países sobretudo os da
região Austral da África.

A construção de um currículo é um processo dinâmico que se deve ajustar `as contínuas


transformações da sociedade.

4. 3. 2. 1 As fases da reforma do SNE moçambicano


A adequar á exigências de desenvolvimento sócio-culturais das comunidades e da sociedade em
geral.

Ajustar as exigências de desenvolvimento técnico-cientificos, operadas na sociedade.

Adequar ás transformações/mudanças sócio-politicas do país.

Tornar relevantes os conteúdos de ensino.

Em Moçambique, desde 1975 as estruturas educacionais moçambicanas já promoveram várias


reformas curriculares nos diferentes níveis e ramos educacionais desde o primário, o técnico, o
secundário geral e universitário. Mazula ( 1995: 58) observa que,

A primeira reforma tinha como principal razão dar acesso ao ensino a maioria dos
Moçambicanos e na mudança dos conteúdos das disciplinas de carácter social (Português,
história, geografia, etc), disciplinas denominadas de secção de letras.

A segunda reforma, foi a estrutural, que decorreu em 1977. Esta, extingui o ensino preparatório
com as denominações de 1º e 2º ano (s) e 3º,4º,5º,6º e 7º ano (s) liceais e ensino complementar na
área técnica e introduz-se as denominações de 5ª…11ªclasses onde de 5ª a 9ª classes correspondia
ao Ensino Secundário Geral e 10ª e 11ª ao pré-universitário, e deixava de existir o complementar
ou seu equivalente.

A terceira reforma é conhecida SNE, lei 4/83 de 23 de Março a qual abrangeu toda estrutura
educacional Moçambicana, desde o primeiro ano de escolaridade até ao nível pré-universitário.
71

Em 1992, houve revisão da lei anterior para a lei 6/92 de 06 de Maio para se enquadrar na nova
constituição da República. Nesta fase, houve abertura para criação de Escolas Privadas.

Com SNE, a idade de ingresso no ensino primário, em todas as escolas públicas, passou a ser 7
anos e introduz-se as designações 1ª classe ao invés do pré, e o ensino primário estende-se até a
6ª classe ao invés da 4ª classe.

Esta reforma teve um grande impacto social-económico e educacional também teve cunho de
reforma estrutural, de conteúdos de ensino económico porque a 9ª classe passou a ser o nível
mais alto de escolaridade geral para a maioria dos jovens antes de serem submetidos a um ensino
profissionalizante.

Além destas grandes reformas curriculares MAZULA( op cit. p 70) acrescenta que,

Existiram outras de menor vulto apesar de serem reforma significantes quanto ao


historial de reforma em Moçambique. Por exemplo, na reforma de1983 a
disciplina de Física era introduzida na 6ª classe mas dois anos depois, isto e, em
1985, a disciplina de física era introduzida na 7ª classe. Pela magnitude da reforma
de 1983 pode se afirmar que esta reforma define a base do sistema educacional
Moçambicano.

Do acima exposto, pode se afirmar que a base das primeiras reformas educacionais em
Moçambique, até 1983, basearam-se na gestão de factores sócio-políticas e de afirmação da
cidadania, isto porque, apesar do abandono massivo de muitos quadros administrativos do pais, o
poder político continuou a prometer e a implementar a massificação do ensino com o slogan “
fazer da escola a base para o povo tomar o poder”.

4. 3. 2. 2 Inovações no ensino básico


Constituem inovações as propostas para o plano curricular do ensino básico, os ciclos de
aprendizagem, ensino básico integrado, currículo local, a distribuição de professores, a promoção
semi-automática e a introdução de línguas moçambicanas, Inglês, ofícios e de educação moral e
cívica.
72

O ensino pré-escolar, não é parte integrante da escolaridade regular de acordo com a lei 6/92 de 6
de Maio. A rede do ensino pré-escolar é constituída por instituições públicas, privadas e
comunitárias, cuja criação cabe `a iniciativa dos órgãos governamentais ao nível central,
provincial ou local, e de outras entidades colectivas ou individuais nomeadamente, associações
de pais moradores, empresas sindicatos, organizações cívicas, conferências e de solidariedade
destina-se a crianças menores de 6 anos, a fim de complementar a educação familiar, com a qual
deve estabelecer uma estrita relação. A sua frequência é de carácter facultativo. PCEB (2008: 25).

4. 3. 2. 3 Reforma do Ensino Técnico Profissional e Vocacional


Reforma de Educação Profissional (PIREP), com objectivo de estabelecer com envolvimento de
todos parceiros sociais, um Sistema de educação Profissional integrado, coerente, flexível e
orientado pela demanda do Mercado de trabalho.

Fase Piloto 2006 – 2010

Expansão 2011 – 2015

Consolidação 2016 – 2020.

4. 3. 2.4 Novos modelos de Formação de Professores:


Articulação entre a vida da escola e da comunidade – o professor deve conhecer e saber
Introdução de novos modelos de formação inicial de professores para o ensino básico e
Secundário Geral.

Actividades de aprendizagem
1. Fale da génese do SNE.
2. Qual é a contribuição da FRELIMO no SNE moçambicano?
3. O que é reforma curricular?
a) Como se traduz a reforma curricular em Moçambique?
b) Mencione as fases da reforma curricular em Moçambique
4. Faça uma análise sobre a educação em diversas fases em Moçambique
5. Confronte o SNE sob perspectiva da lei 4/83 e 6/92
73

Leituras obrigatórias

BUENDIA, Gomez Miguel. Educação moçambicana: História de um Processo, Maputo,


Moçambique, 1999.
MAZULA, Brazão. Educação, Cultura e Ideologia em Moçambique, Afrontamento,
Portugal, 1995.
MACHADO, Fernando Augusto; GONÇALVES, Maria Fernanda M.; FORMOZINHO,
Prefácio de João. Currículo e desenvolvimento Curricular: Problemas e Perspectivas.
ASA, Portugal, 1991.
MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO, Plano Curricular do Ensino Básico: Objectivos, Políticas,
Estrutura, Plano de Estudos e estratégias de Implementação. Maputo, 2008.
74

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2000.

BRITO, Carlos. Gestão Escolar Participativa: Na Escola Todos Somos Gestores. 4ed, texto
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BUENDIA, Gomez Miguel. Educação moçambicana: História de um Processo, Maputo,

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DELORS, Jacques. Educação: um Tesouro a Descobrir. Ediçõ es Asa, Portugal, 1996

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lidel. 3.ed, Lidel Ediçõ es técnicas: Lisboa, 2000.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários á Prática Educativa. Paz e


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GOMES, Miguel Buendia. Educação Moçambicana: História de um Processo (1962 – 1984).


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