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Direito Comercial I (01/07/2009)

DAS DELIBERAÇÕES DOS SÓCIOS (art. 1071 e ss. do CC)


- Matérias objeto da deliberação
- Reunião ou Assembléia
- Formalidade de convocação da Assembléia
- Quóruns de deliberação
- Empate (art. 1.010/CC e art. 129 LSA)

Existem duas formas de conclaves dos sócios para decidirem matérias importantes para a
sociedade: assembléia e reunião.
Primeiro, os sócios deliberam sobre uma matéria na assembléia/reunião; depois, o
administrador, de posse da ata da assembléia/reunião, realiza os atos materiais para dar
concretude aos atos decididos na assembléia/reunião.
O papel do sócio e do administrador são diferentes. O sócio pode ser administrador ou não;
mas não pode lhe ser tirado o direito de participar na formação da vontade social. A soma das
vontades individuais dos sócios, reunidos em assembléia/reunião, forma a vontade da
sociedade.
Em geral, qualquer matéria de interesse da sociedade pode ser objeto de deliberação dos
sócios. Existe um rol exemplificativo no art. 1.071/CC da matérias que podem ser submetidas à
assembléia/reunião. A lei dará outros exemplos de outras matérias que dependem da
deliberação dos sócios, como também o contrato social poderá estipular que certa matéria é
dependente da deliberação dos sócios.
Art. 1.071/CC
Inciso II: O administrador pode ser eleito no contrato social ou em ato separado.
Inciso IV: Não está claro na redação, mas essa regra diz respeito ao moda da remuneração dos
administradores.
Inciso VI: Entre a vontade de dissolver, o ato de dissolução e a extinção propriamente dita (isto
é, a baixa na Junta Comercial), existe o processo de liquidação (a sociedade vende os seus
ativos para pagar o seu passivo). Os sócios podem, no curso da liquidação, decidir pela sua
cessação, voltando a exercer o seu objeto normalmente.
Inciso VII: Quem vai realizar os atos durante o processo de liquidação é o liquidante, não o
administrador. O administrador até pode ser nomeado liquidante, mas ele deixa de ser
administrador para ser liquidante e passa a obrigar a sociedade.
Inciso VIII: O instituto da concordata deixou de existir com a Lei n° 11.101/2005; em
substituição à concordata, foi criada a recuperação judicial.

Reunião ≠ Assembléia.
Assembléia tem formalidades de convocação e instalação mais rígidas do que as exigidas pela
reunião. O art. 1.072 e ss. do CC estabelecem essas formalidades para a Assembléia;
praticamente não trata da reunião (apenas diz que o contrato poderá estabelecer que algumas
dessas formalidades da assembléia podem ser aproveitadas para a reunião).
Portanto, a regra é a Assembléia. Porém, a lei admite que o contrato social pode determinar
que, naquela sociedade, as deliberações acontecem por reunião de sócios (flexibilização das
formalidades de convocação e instalação).
Ex.1 de formalidades da Assembléia de sócios: art. 1.074/CC – exigência de um quórum (3/4 do
capital social) de instalação para que ela comece a deliberar sobre determinadas matérias.
Ex.2 de formalidades da Assembléia de sócios: art. 1.152 e ss. do CC – para uma Assembléia ser
convocada, é necessário a publicação no D.O. e em jornal de grande circulação, três vezes em
cada. Se for o caso de uma sociedade pequena, uma padaria, por ex., isso não faz nenhum
sentido, pois essa publicação é muito cara; contudo, se o contrato social nada dispor sobre
essa questão, acaba tendo que aplicar essa regra. Contudo, atenção: seja na hipótese de
reunião ou assembléia, se todos os sócios comparecem ao conclave e assinam a ata, as
formalidades ficam dispensadas (a formalidade não pode se sobrepor à matéria) – art. 1.072, §
2°/CC: regra aplicada para assembléia e reunião .
Já na reunião, a convocação pode ser feita por qualquer meio de comunicação (email, carta
registrada, circular uma ata para que os sócios declarem estar cientes da reunião, etc.).
Se em uma sociedade tiver mais de 10 sócios, a Assembléia é obrigatória (art. 1.072, § 1º/CC).

É natural que questões colegiadas sejam aprovadas por maioria, mas há vários tipos de
maiorias. O art. 1.076/CC vai dizer quais são esses quóruns de deliberação.
Quóruns de deliberação (arts. 1.071, 1.072, 1.061, 1.063, 1.076, 1.015, 1.0127 e 1.114/CC).
- ¾ do capital social – art. 1.076, inciso I/CC: modificação do contrato social; incorporação,
fusão e dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de liquidação (art. 1.071, incisos V e
VI/CC).
E a cisão (sociedade se divide em duas ou mais sociedades, que passarão a ser titulares das
obrigações e direitos da sociedade primitiva)? O professor acha que a omissão do legislador foi
acidental, mas isso não interessa, porque para fazer a cisão tem que mudar o contrato social,
e, portanto, acaba tendo também um quórum de ¾ do capital social.
- maioria absoluta do capital social (não é dos presentes na assembléia/reunião; é o primeiro
número inteiro após a metade do capital social) – art. 1.076, inciso II/CC: designação de
administradores em ato separado; destituição de administradores; aprovação do modo da
remuneração dos administradores, quando não prevista no contrato social; aprovação do
pedido de recuperação judicial (art. 1.071, incisos II, III, IV e VIII/CC).
- maioria simples (maioria dos presentes) – art. 1.076, inciso III/CC: aprovação das contas dos
administradores (art. 1.071, I/CC); nomeação de destituição dos liquidantes e o julgamento de
duas contas (art. 1.071, VII/CC); qualquer outra matéria que o contrato social preveja, desde
que esse quórum não seja majorado pelo próprio contrato.
Nos incisos I e II do art. 1.076/CC pode o contrato determinar maioria mais elevada? O
professor, assim como Fabio Ulhoa, entende que não, trata-se de quóruns fixos, não podem
ser aumentados pelo contrato social, porque sempre que o CC quer deixar, ele prevê isso,
como acontece no inciso III do art. 1.076/CC.
Existem outros quóruns que o próprio CC prevê, mas que não estão previstos no art. 1.076/CC.
- unanimidade: transformação da sociedade, salvo cláusula em contrário do contrato social
(art. 1.114/CC) – por ex., deixa de ser uma sociedade limitada e vira uma sociedade anônima;
mudança da nacionalidade da sociedade (art. 1.127/CC); nomeação de administrador não-
sócio, na hipótese do capital social não estar totalmente integralizado (art. 1.061/CC).
- 2/3 do capital social: nomeação de administrador não-sócio, na hipótese do capital social
estar totalmente integralizado (art. 1.061, segunda parte/CC); destituição de sócio
administrador, salvo disposição contratual diversa (art. 1.063, § 1°/CC).
Portanto, o quórum ordinário, no silêncio, é o quórum de maioria simples; já os quóruns de
maioria absoluta, ¾ do capital social, unanimidade e 2/3 do capital social dependendo do que
falar a lei ou contrato social.
Antes do CC/2002, a regra era maioria absoluta do capital social para todas as matérias.
Como o quórum é computado? Não é um voto por cabeça; ele é computado pela projeção da
participação do sócio no capital social (art. 1.010/CC).
Art. 1.072/CC: “As deliberações dos sócios, obedecido o disposto no art. 1.010, serão tomadas
em reunião ou em assembléia, conforme previsto no contrato social, (...)”. Esse art. remete ao
art. 1.010/CC, então é como se o art. 1.010 estivesse dentro deste art.
Como se resolve o empate nas deliberações? Se houver um empate no número das cotas,
passa-se para o segundo critério que é o número de cabeças. Se persistir o empate, tem que
remeter ao juiz. (art. 1.010, § 2º/CC)
Essa é a posição do professor, mas há divergências. O professor Carvalhosa fala que, com a
omissão do capítulo da limitada, prevaleceria, por analogia, o art. 129 da LSA, que determina
que havendo empate, a assembléia se exaure e dois meses depois, nova assembléia é
convocada para dirimir o empate e se então persistir o empate, tem que remeter ao juiz. Já
Fabio Ulhoa defende que se o contrato social prever a aplicação supletiva da LSA, o art. a ser
aplicado no caso de empate é o art. 129 da LSA; já se o contrato não prever isso, aplica-se o
capítulo próprio da simples, isto é, a regra do art. 1.010/CC. O professor discorda da posição de
Ulhoa, porque a aplicação supletiva da LSA pressupõe uma omissão do capítulo da limitada, o
que para ele não há, pois o art. 1.072/CC faz remissão ao art. 1.010/CC.

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