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"A Árvore Relâmpago" Por Pat Rothfuss
"A Árvore Relâmpago" Por Pat Rothfuss
"A Árvore Relâmpago" Por Pat Rothfuss
The Lightning Tree
Por – Patrick Rothfuss
“A Árvore Relâmpago”
Equipe de tradução
Tradutores:Daniela Cajado, Felipe Bertoldo, Lucas Dias
Revisores: Bárbara Nery, Vagner Stefanello, Marlon
Bestseller do New York Times, Patrick Rothfuss ganhou grande popularidade e aclamação na
crítica com a publicação de seu romance de estreia, O Nome do Vento. O segundo romance da
série, O Temor do Sábio, foi recebido com o mesmo sucesso e aclamado novamente em todo
o mundo. Outros projetos de Patrick incluem um livro infantil de humor negro, The Adventures of
the Princess and Mr. Whiffle, e Worldbuilders, um projeto beneficente que arrecadou mais que 2
milhões de dólares para a Heifer International desde que ele a fundou em 2008.
Aqui ele nos leva para a icônica Pousada Marco do Percurso afim de acompanhar um dia típico
na vida de um dos personagens mais populares da Crônica do Matador do Rei, o misterioso
Bast, ostensivamente um ajudante, o qual é muito mais do que aparenta ser – um dia no qual
Bast aprende muitas lições, e também ensina algumas.
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Manhã – A Estrada Estreita
Bast quase saiu pela porta dos fundos da pousada Marco do Percurso. Ele na verdade já havia
saído, ambos os pés estavam fora da soleira e a porta estava quase completamente fechada
atrás dele antes que escutasse a voz do seu mestre. Bast detevese, com a mão no trinco. Ele
franziu o cenho ao atravessar a porta, a um palmo de ser fechada. Ele não fez nenhum barulho.
Ele sabia. Ele era familiarizado com todas as partes silenciosas da estalagem, quais assoalhos
rangiam, quais janelas emperravam... As dobradiças da porta dos fundos rangiam às vezes,
dependendo do seu estado, mas isso era fácil de resolver. Bast dirigiu seu punho ao trinco,
levantandoo para que o peso da porta não ficasse tão grande, para que fechasse facilmente.
Sem rangido. A porta giratória estava mais leve que um suspiro.
Bast pôsse de pé e sorriu. Seu rosto era doce, astuto e selvagem. Ele parecia uma criança
malcriada que acabara de roubar a lua e a comera. Seu sorriso era como o último pedaço da
lua remanescente, um fragmento branco e perigoso.
“Bast!“
O chamado veio de novo, mais alto desta vez. Nada tão grosseiro quanto um grito, seu mestre
nunca se rebaixaria a berros. Mas quando ele queria ser ouvido, seu barítono não seria parado
por alguma coisa tão insignificante quanto uma porta de carvalho. Sua voz foi transportada
como uma buzina, e Bast sentiu seu nome sendo tragado como uma mão ao redor de seu
coração. Bast suspirou, então abriu a porta suavemente e caminhou de volta para dentro. Ele
era escuro, alto e amável. Quando caminhava parecia que estava dançando.
“Sim, Reshi? “ ele falou.
Após um momento o hospedeiro entrou na cozinha, ele usava um avental branco e limpo e
seus cabelos eram vermelhos. Além disso, ele era dolorosamente banal. Seu rosto mantinha a
serenidade dos hospedeiros entediados de todas as partes. Apesar de ser cedo, ele parecia
cansado. Ele entregou um livro de couro a Bast.
“Você quase esqueceu isto “ ele disse sem nenhum vestígio de sarcasmo.
Bast pegou o livro e fingiu estar surpreso.
“Oh! Obrigado, Reshi ““
O hospedeiro deu de ombros e sua boca tomou a forma de um sorriso.
“Sem problemas, Bast. Enquanto você se ausenta para realizar seus afazeres, se importaria de
pegar alguns ovos?” Bast assentiu, pondo o livro embaixo do braço.
“ Mais alguma coisa?“ perguntou obedientemente.
“Talvez algumas cenouras também. Estou pensando em fazermos ensopado nesta noite. É
tempo de colheita, então precisamos estar prontos para uma grande clientela.” Sua boca
curvouse um pouco quando disse isso.
O hospedeiro começou a voltar, então parou.
“Oh, o garoto dos Willyams veio aqui procurando por você nesta última noite. Não deixou
nenhum tipo de mensagem.”
Ele ergueu uma sobrancelha para Bast. O olhar falou mais do que fora dito.
“Não tenho a mínima ideia do que ele queria.“ disse Bast.
O hospedeiro fez um barulho evasivo e se virou de volta em direção ao saguão.
Antes que ele desse três passos, Bast já estava porta afora, correndo através dos raios de sol
matutino.
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Brann deu um arrepio. “Quem me contou a história?”
Bast encolheu os ombros. “Escolha alguém que você não goste.”
O menino sorriu cruelmente.
Bast começou a indicar as coisas com os dedos.
“Coloque um pouco de sangue na faca antes de jogála.” Ele apontou para o pano que o rapaz
tinha embrulhado dentro da sua mão.
“Livrese disso, também. O sangue é seco, obviamente velho. Você consegue fingir um bom
choro?”
O rapaz abanou a cabeça, parecendo um pouco envergonhado pelo fato.
“Coloque um pouco de sal em seus olhos. Fique ranhento e choroso antes de você ir até eles.
Lamente e chore. Então, quando eles te perguntarem sobre sua mão, diga a sua mãe que se
lamenta por ter quebrado sua faca.”
Brann escutava, abanando a cabeça lentamente no início e depois mais rápido. Ele sorriu.
“ Isso é bom.” Ele olhou ao redor nervosamente. “O que eu devo a você?”
“Algum segredo?” Bast pediu.
O menino do padeiro pensou por um minuto. Velho Lant está cercado de viúvas... ele disse
em um tom esperançoso
Bast acenou com a mão. Há anos. Todo mundo sabe.
Bast esfregou seu nariz então disse. “ Você pode me trazer dois pães doce hoje mais tarde?”
Brann assentiu com a cabeça.
“Este é um bom começo,” falou Bast. “O que você tem em seus bolsos? “
O rapaz cavou ao redor e ergueu ambas as mãos. Ele tinha duas arruelas de ferro, uma pedra
lisa esverdeada, um crânio de pássaro, um emaranhado de corda, e um pouco de giz.
Bast pediu a corda. Assim, tomou cuidado para não tocar nas arruelas, pegou a pedra
esverdeada entre dois dedos e arqueou uma sobrancelha para o garoto.
Após hesitar por um momento, o garoto assentiu.
Bast pôs a pedra em seu bolso.
“E se, de qualquer forma, eu for castigado? ” Brann perguntou.
Bast deu de ombros. “Isso é problema seu. Você quis uma mentira. Eu te dei uma decente. Se
deseja que eu te livre desse problema, isso é algo completamente diferente. ”
O filho do padeiro pareceu desapontado, mas ele assentiu e desceu a colina.
Próximo à colina havia um garoto um pouco mais velho em uma manta esfarrapada. Um dos
garotos dos Alard, Kale. Ele tinha um corte nos lábios e uma crosta de sangue ao redor de uma
das narinas. Ele estava tão furioso quanto um garoto de dez anos poderia estar. Sua expressão
era de uma tempestade.
“Eu peguei meu irmão beijando Gretta atrás do velho moinho!” ele falou logo quando ia em
dispara para a colina, não esperando Bast falar. “Ele sabia que eu tava a fim dela!”
Bast estendeu as mãos, impotente, encolhendo os ombros.
“Vingança,” o garoto cuspiu.
“Vingança pública?” Bast perguntou. “Ou vingança secreta?”
O garoto tocou seu lábio cortado com a língua. “Vingança secreta,” ele disse em voz baixa.
“Quanto de vingança?” Perguntou Bast.
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pescoço à sua perfeita orelha em forma de concha, até a suave ondulação de seus seios que
eram expostos por cima de seu corpete.
Com os olhos atentos na jovem mulher, Bast pisou numa pedra solta e tropeçou
desajeitadamente pela colina. Ele emitiu um forte guincho, e então soltou mais um pouco de
sua música enquanto atirava um braço descontroladamente para conseguir se equilibrar.
A pastora então riu, mas ela estava olhando incisivamente para a extremidade do vale. Talvez a
ovelha tenha feito algo engraçado. Sim. Sem dúvidas foi isso. Elas poderiam ser animais
engraçados algumas vezes.
Ainda assim, podese olhar para as ovelhas por tanto tempo. Ela suspirou e relaxou,
recostandose contra o tronco inclinado da árvore. O movimento acidentalmente puxou a bainha
da saia até um pouco além de seus joelhos. Suas panturrilhas eram redondas e bronzeadas,
cobertas com o tom mais claro de seu cabelo cor de mel.
Bast continuou descendo a colina. Seus passos eram delicados e graciosos. Ele parecia um
gato furtivo. Ele parecia que estava dançando.
Aparentemente satisfeita de que as ovelhas estavam a salvo, a pastora suspirou novamente,
fechou os olhos e repousou a cabeça no tronco da árvore. Seu rosto inclinado pra cima para
poder pegar um sol. Ela parecia prestes a dormir, apesar de todos seus suspiros, sua
respiração parecia vir rapidamente. E quando moveuse inquietamente para ficar mais
confortável, uma mão caiu de tal maneira que acidentalmente puxou a bainha de seus vestido
ainda mais longe, até que mostrou uma pálida extensão de sua coxa.
É difícil sorrir enquanto toca uma flauta pastoril. De alguma forma, Bast conseguiu.
O sol estava subindo ao céu quando Bast voltou para a árvore relâmpago, agradavelmente
suado e levemente desgrenhado. Não havia crianças esperando perto do monólito cinzento
desta vez, o que lhe convinha perfeitamente.
Ele rapidamente fez um círculo da árvore novamente quando alcançou o topo da colina, um em
cada direção para garantir que seus pequenos trabalhos ainda estavam no lugar. Em seguida
ele afundouse, e ao pé da árvore encostouse no tronco. Menos de um minuto depois. Seus
olhos estavam fechados e ele roncava suavemente.
Após passar a maior parte de uma hora, o som de passos quase silenciosos o despertou. Ele
deu uma grande esticada e avistou um garoto magricelo, com sardas e roupas que iam um
pouco além do que podese ser chamado de “bem vestido”.
“Kostrel!” Bast disse alegremente. “Como está o caminho para Tinuê?”
“Parece ensolarado o suficiente para mim hoje,” o garoto disse enquanto chegava ao topo da
colina. “E eu achei um lindo segredo na beira da estrada. Algo que acho que você poderia estar
interessado.”
“Ah,” Bast disse. “Venha e sentese então. Em que tipo de segredo você tropeçou?”
Kostrel sentouse de pernas cruzadas na grama. “Eu sei onde Emberlee toma seu banho.”
Bast ergueu uma sobrancelha, meio interessado. “É mesmo?”
Kostrel sorriu. “Você finge. Não finja que não se importa.”
“Claro que me importo,” disse Bast, “Ela é a sexta garota mais graciosa na cidade, apesar de
tudo.”
“Sexta?” o garoto disse, indignado. “Ela é a segunda e eu sei disso.”
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“Talvez a quarta,” Bast admitiu. “Após Ania.”
“As pernas de Ania são finas como as de uma galinha.” Kostrel observou calmamente.
Bast sorriu para o garoto. “Cada um com a sua. Mas sim. Estou interessado. O que gostaria
em troca? Uma resposta, um favor, um segredo?”
“Eu quero um favor e uma informação,” o garoto disse com um pequeno sorriso. Seus olhos
escuros era afiados em seu rosto fino. “Eu quero boas respostas para três perguntas. E vale a
pena. Porque Emberlee é a terceira garota mais bela da cidade.”
Bast abriu sua boca como se fosse protestar, então encolheu os ombros e sorriu. “Sem favor.
Mas eu lhe darei três respostas de um tema escolhido de antemão,” ele contrapôs. “Qualquer
assunto exceto sobre meu chefe, cuja a confiança eu não posso trair em sã consciência.”
Kostrel assentiu em concordância. “Três respostas completas,” ele disse. “Sem usar frases
equivocadas ou enrolações.”
Bast assentiu. “Desde que as perguntas sejam diretas e específicas. Sem tolices como
conteme tudo que você sabe a respeito.”
“Isto não seria uma pergunta,” Kostrel frisou.
“Exato” disse Bast. “E você concorda em não contar a mais ninguem onde Emberlee está
tomando seu banho?”
Kostrel fez uma careta por conta disso, e Bast riu. “Seu pentelinho, você teria vendido essa
informação umas vinte vezes, não é mesmo?
O garoto deu de ombros com facilidade, não negando isto, e também sem ficar envergonhado.
“ É uma informação valiosa.”
Bast soltou um riso abafado. “Três respostas completas e sérias em um único assunto com a
condição de que sou o único a quem você contará.”
“Você é,” o garoto disse repentinamente. “Eu vim aqui primeiro.”
“E compreende que não deve contar a Emberlee que alguém sabe sobre isso.” Kostrel pareceu
tão ofendido enquanto Bast não se incomodava de esperar que ele concordasse. “E com a
condição de que você não vai aparecer.”
O garoto de olhos negros cuspiu algumas palavras que surpreenderam Bast mais do que o uso
anterior de “equivocadas”.
“Certo,” Kostrel rosnou. “Mas se você não souber a resposta para a minha pergunta, eu farei
outra.”
Bast pensou por um instante, então assentiu.
“E se eu selecionar um tema que você não saiba muito a respeito, irei escolher outro.”
Outro assentimento. “Justo.”
“E você me emprestar um outro livro,” o garoto disse, seus olhos escuros brilhando. “E uma
moeda de cobre. E você terá que descrever os seios dela para mim.”
Bast jogou a cabeça pra trás e riu. “Feito”.
Eles apertaram as mãos para fechar negócio, a mão fina do menino era delicada como uma
asa de um passarinho.
Bast inclinouse contra a árvore relâmpago, bocejando e esfregando a parte de trás de seu
pescoço. “Então. Qual é o assunto?”
O olhar sombrio de Kostrel projetouse, e ele sorriu animadamente. “Eu quero saber sobre os
Fae”.
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É significativo notar que Bast terminou seu grande ruído de um bocejo como se não se
importasse com a pergunta. É bastante difícil bocejar e espreguiçarse quando sua barriga
sente como se você tivesse engolido um pedaço de ferro amargo e sua boca subitamente
ficara seca.
Mas Bast era uma espécie de um dissimulado profissional, então bocejou e espreguiçouse, e
foi ao ponto de poder coçarse preguiçosamente debaixo do braço.
“E aí?”, perguntou o menino, impaciente. “Você sabe o suficiente sobre eles?”
“Uma quantidade razoável”, falou Bast, fazendo o melhor possível para parecer modesto desta
vez. “Mais do que a maioria das pessoas, eu imagino.”
Kostrel inclinouse para frente, com seu rosto fino atento. “Eu pensei que você soubesse. Você
não é daqui. Você sabe coisas. Você já viu o que realmente está mundo afora.”
“Algumas coisas,” Bast admitiu. Ele olhou para o sol. “Faça logo as suas perguntas. Eu tenho
que estar em algum lugar ao meiodia.”
O garoto assentiu seriamente, então olhou para a grama em frente dele por um momento,
pensando.
“Como eles se parecem?”
Bast piscou por um momento, tomado de surpresa. Então ele riu impotente e ergueu as mãos.
“Tehlu misericordioso. Você tem noção de quão louca foi essa pergunta? Eles não se parecem
com nada. Eles são eles mesmo.”
Kostrel pareceu indignado. “Você tá tentando me tapear!” ele disse, levantando um dedo para
Bast. “Eu disse sem enrolações!”
“Eu não estou. Honestamente não estou.” Bast ergueu suas mãos defensivamente. “É apenas
uma questão impossível de se responder. O que você diria se eu perguntasse a você como as
pessoas se parecem? Como responderia isto? Há tantos tipos de pessoas, e elas são tão
diferentes.”
“Então é uma grande pergunta.” Kostrel disse. “Dême uma grande resposta.”
“Não é apenas grande,” falou Bast. “Preencheria um livro.”
O garoto deu de ombros, profundamente rude.
Bast franziu o cenho. “Podese argumentar que a sua pergunta não é focada nem específica.”
Kostrel ergueu uma sobrancelha. “Então estamos argumentando agora? Achei que nós
estivéssemos trocando informações? Completa e livremente. Se você perguntar onde
Emberlee vai para tomar seu banho, e eu disser, “em um córrego” você iria se sentir como se
eu estivesse medindo as palavras, não sentiria?”
Bast suspirou. “Justo. Mas se lhe dissesse todos os rumores e trechos que já ouvi, ia levar
dias. A maior parte seria inútil, e alguns nem sequer seriam verídicos porque foram apenas de
histórias que ouvi.”
Kostrel franziu o cenho, mas antes que pudesse protestar, Bast ergueu uma mão. “Eis o que
vou fazer. Apesar da natureza sem foco de sua pergunta, vou lhe dar uma resposta que cobre
de forma geral as coisas...” Bast hesitou. “... uma resposta secreta sobre o assunto. Certo?”
“Dois segredos.” Kostrel falou, seus olhos escuros cintilando de empolgação.
“Justo.” Bast profundamente respirou. “Quando você diz fae, você está falando sobre qualquer
coisa que vive no Fae. Isso inclui um monte de coisas que são... apenas criaturas. Tipo
animais. Aqui você tem cachorros e esquilos e ursos. No Fae, eles têm raum e dennerlings e...”
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“E trols?”
Bast assentiu. “E trols. Eles são reais.”
“E dragões?”
Bast balançou a cabeça. “Sobre isto eu não ouvi. Não mais...”
Kostrel parecia desapontado. “E sobre o povo faérico? Como latoeiros fadas e tal?” O garoto
estreitou seus olhos. “Pense, esta não é uma nova pergunta, apenas uma tentativa de
concentrar o avanço da sua resposta.”
Bast riu, impotente. “Senhor e senhora. O avanço? A sua mãe tomou um susto de um juíz
quando estava grávida? De onde você tira esse tipo de conversa?
“Eu fico acordado na igreja.” Kostrel encolheu os ombros. “E algumas vezes Padre Leodin me
permite ler seus livros. Como eles se parecem?”
“Como pessoas comuns,” falou Bast.
“Como você e eu?”, indagou o garoto.
Bast forçou um sorriso. “Assim como você ou eu. Você dificilmente não notaria se eles
passassem por você pela rua. Mas há outros. Alguns deles são... Eles são diferentes. Mais
poderosos.”
“Como Varsa nuncamorto?”
“Um pouco,” Bast admitiu. “Mas alguns são poderosos em outras formas. Como o prefeito é
poderoso. Ou como um agiota.” A expressão de Bast passou a ficar azeda. “Muitos deles... não
são bons de se estar por perto.
Eles gostam de enganar as pessoas. Brincar com elas. Machucálas.”
Muito da empolgação de Kostrel se esvaiu ao ouvir isto. “Eles parecem demônios.”
Bast hesitou, então assentiu relutantemente. “Alguns deles são muito parecidos como
demônios,” ele admitiu. “Ou tão próximo que nem chega a fazer diferença.”
“Alguns deles são como anjos também?” perguntou o garoto.
“É legal pensar nisso,” Bast retrucou. “Eu espero.”
“De onde eles vieram?”
Bast ergueu sua cabeça. “Então esta é a sua segunda pergunta?” ele perguntou. “Suponho que
seja, uma vez que não tem nada a ver com como eles se parecem...”
Kostrel fez uma careta, parecendo um pouco embaraçado, mas Bast não sabia dizer se ele
estava envergonhado ou se estava satisfeito com as suas perguntas, ou envergonhado por ter
sido pego tentando ganhar uma resposta extra. “Desculpeme,” ele disse, “É verdade que um
encantado nunca pode mentir?”
“Alguns não podem,” Bast respondeu. “Alguns não gostam. Alguns ficam felizes de mentir mas
nunca voltam atrás em suas promessas ou quebram sua palavra.” Ele deu de ombros. “Outros
mentem tão bem, e em todas as oportunidades.”
Kostrel começou a perguntar mais alguma coisa, mas Bast pigarreou. “Você tem que admitir,”
ele disse. “É uma resposta muito boa. Eu até te dei algumas perguntas grátis, para ajudar a
manter o foco das coisas, por assim dizer.”
Kostrel deu um aceno mal humorado.
“Eis o seu primeiro segredo.” Bast ergueu um único dedo. “A maioria dos Fae não vem para
este mundo. Eles não gostam. Este mundo é um tanto áspero para eles, como se vestissem
uma camisa de estopa. Mas quando eles vem, gostam de alguns lugares mais do que outros.
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Eles gostam de lugares ermos. Lugares secretos. Lugares estranhos. Há muitos tipos de fae,
como tribunais e casas. E todos eles são regidos de acordo com seus próprios desejos...”
Bast continuou num tom leve de conspiração. “Mas algo que agrada a todos os encantados são
lugares com conexões brutas, coisas verdadeiras que dão forma ao mundo. Lugares que são
tocados com fogo e pedra. Lugares que estão próximos à água e o ar. Quando os quatro
unemse...”
Bast parou para ver se o garoto iria interromper. Mas o rosto de Kostrel havia perdido a astúcia
latente que possuía antes. Ele parecia uma criança novamente, ligeiramente boquiaberto, seus
olhos arregalados de admiração.
“Segundo segredo,” Bast disse. “O povo encantado se parece um pouco conosco, mas não
exatamente. A maioria tem algo que os torna diferentes. Seus olhos. Suas orelhas. A cor de
seus cabelos ou pele. Algumas vezes eles são mais altos que o normal, ou mais baixos, ou
mais fortes, ou mais bonitos.”
“Como Feluriana.”
“Sim, sim,” Bast falou irritadamente. “Como Feluriana. Mas qualquer um do Fae que tenha a
habilidade de viajar pra cá, terá astúcia suficiente para esconder coisas” Ele se inclinou,
assentindo para si mesmo. “Este é um tipo de mágica que os encantados comungam entre si.”
Bast expeliu os comentário final como um pescador arremessando uma isca.
Kostrel fechou sua boca e engoliu à seco. Ele não lutou contra a linha. Ele sequer sabia que
havia sido fisgado. “Que tipo de magia eles podem fazer?”
Bast revirou os olhos dramaticamente. “Oh, vamos, há outro livro inteirinho digno da questão.”
“Bem, talvez você devesse escrever um livro, então,” Kostrel disse categoricamente. “Aí você
pode me emprestar e matar dois pássaros com uma única pedra.”
O comentário pareceu pegar Bast de jeito. “Escrever um livro?”
“É o que as pessoas fazem quando elas sabem toda maldita coisa, não é?” Kostrel disse
sarcasticamente.
“Eles escrevem para então mostrar.”
Bast olhou pensativo por um instante, então sacudiu a cabeça para desanuviála. “Está bem.
Eis o que eu sei. Eles não pensam nisso como magia. Eles nunca usariam este termo. Eles
chamariam de arte ou ofício. Eles falam de parecer ou dar forma.”
Ele olhou para o sol e franziu os lábios. “Mas se eles estavam sendo francos, o que raramente
são, lembrese, diriam que quase tudo que fazem é glammouria ou grammaria. Glammouria é a
arte de fazer algo parecer. Grammaria é a arte de fazer algo ser.”
Bast apressouse antes que o garoto pudesse interrompêlo. “Glammouria é fácil. Eles podem
fazer uma coisa parecer o que não é. Eles poderiam fazer uma camisa branca parecer ser
azul. Ou uma camisa rasgada parecer estar inteira. A maioria do povo tem pelo menos uma
pequena fração desta arte. Suficiente para que se escondam dos olhos mortais. Se seus
cabelos forem de um branco prateado, a sua glammouria poderia fazer com que parecessem
escuros como a noite.”
Novamente, o rosto de Kostrel estava disperso em admiração. Mas não era uma admiração
supérflua, escancarada como antes. Era uma admiração ponderada. Uma admiração
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inteligente, curiosa e faminta. Era o tipo de admiração que conduziria um garoto para uma
pergunta que havia começado com um por quê.
Bast podia ver as formas destas coisas se movendo nos olhos escuros do menino. Seus
malditos olhos sagazes. Muitos sagazes pela metade. Logo esses pensamentos vagos
começaram a se cristalizarem em perguntas do tipo “Como elas fazem sua glammouria?” ou
até pior. “Como um jovem garoto pode quebrálo?”
E então, com uma pergunta assim suspensa no ar? Nada bom poderia provir disto. Quebrar
uma promessa honestamente feita e mentir descaradamente ia contra sua vontade. Até seria
pior fazer isto neste lugar. Seria muito mais fácil dizer a verdade e, em seguida, certificarse de
que algo acontecesse com o garoto...
Mas sinceramente, ele gostava do garoto. Ele não era tapado ou fácil. Não era mesquinho ou
baixo. Ele empurrou de volta. Ele era engraçado, cruel, faminto e mais lívido do quaisquer três
pessoas da cidade juntas. Ele era brilhante como vidro quebrado e afiado o bastante para cortar
a si mesmo. E Bast também, aparentemente. Bast esfregou o rosto. Isto nunca acontecera. Ele
nunca havia estado em conflito com seu próprio desejo antes de chegar aqui. Ele odiava isto.
Isto era unicamente simples. Querer e ter. Ver e tomar. Correr e perseguir. Sedento e saciado.
E se ele houvesse se frustrado em busca de seu desejo... e daí? Este era simplesmente o
modo das coisas. O desejo em si continuaria seu, continuaria puro.
Não foi assim agora. Agora seus desejos ficaram complicados. Eles estavam constantemente
em conflito uns com os outros. Sentiase infinitamente voltado contra si mesmo. De nenhuma
forma nada era mais simples, ele foi arrancado de diversas maneiras...
“Bast?”, Kostrel disse, sua cabeça inclinada para o lado, com preocupação em seu rosto.
“Você está bem?” ele perguntou. “Qual é o problema?”
Bast sorriu um sorriso sincero. Ele era um garoto curioso. De fato. Este era o caminho. Este
era o estreito caminho entre desejos. “Eu só estava pensando. Grammaria é muito mais difícil
de explicar. Eu não posso afirmar que entendo disto tão bem.”
“Apenas faça seu melhor,” Kostrel disse gentilmente. “Qualquer coisa que me diga será mais
do que eu sei.”
Não, ele não podia matar este garoto. Isto seria um tanto quanto difícil.
“Grammaria é mudar uma coisa.” Bast disse, fazendo um gesto indistinto. “Fazendo disto algo
diferente do que é.”
“Como transformar chumbo em ouro?”, indagou Kostrel. “É assim que eles fazem ouro
feérico?”
Bast fez questão de sorrir perante a pergunta. “Boa tentativa, mas isso é glammouria. É fácil,
mas não o bastante. É por isso que as pessoas que pegam ouro faérico acabam com os
bolsos cheios de pedras ou bolotas pela manhã.
“Eles podem transformar cascalho em ouro?” Perguntou Kostrel. “Se eles realmente
quiserem?” “Não é este tipo de mudança.” Interpôs Bast, embora ainda tenha rido e assentido
para aquela questão. “Isto é muito grande. Grammaria é sobre... mudança. É sobre transformar
algo em mais do que realmente é”.
O rosto de Kostrel se retorceu com a confusão.
Bast respirou fundo e expirou de vez pelo nariz. “Deixeme tentar outra coisa. O que você tem
em seus bolsos?”
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Bast enfiou a mão no bolso e tirou o centavo de cobre. “Onde Emberlee toma seu banho?”
Kostrel o encarou furiosamente, depois disse: “Para depois da ponte da Pedra Antiga, em
direção das colinas a cerca de meia milha. Há um pequeno buraco com um olmo ".
“E quando?”
“Depois do almoço na fazenda Boggan. Logo após ela termina de lavar e pendurar a roupa.”
Bast jogou o centavo, sorrindo como um doido.
“Espero que seu pinto caia!” O menino disse venenosamente antes de descer do morro.
Bast não pode evitar em rir. Ele tentou fazêlo silenciosamente para poupar os sentimentos do
menino, mas não obteve sucesso.
Kostrel chegou até a base do morro e gritou. “E você ainda me deve um livro!”
Bast parou de rir como algo tivesse fugido de sua memória. Ele entrou em pânico por um
momento quando percebeu que o exemplar de Celum Tinture não estava no lugar de costume.
Então ele se lembrou de ter deixado o livro no topo da árvore de cima da ribanceira relaxou. O
céu limpo não mostrava sinal de chuva. Ele estaria seguro o suficiente. Além disso, era quase
meio dia, talvez um pouco mais tarde. Então ele voltou e se apressou para baixo do morro, não
querendo se atrasar.
Bast correu a maior parte do caminho para o pequeno vale arborizado, e na hora que chegou,
estava suando como um cavalo de corrida. Sua blusa grudou nele de um modo tão
desagradável que, enquanto ele andava pelo banco de água inclinado, ele a retirou e a usou
para limpar o suor de seu rosto.
Uma longa e plana saliência de pedras prolongavase dentre o Pequeno Riacho de lá, formando
uma calma piscina lateral onde o fluxo retornava para si. Um estande de salgueiros que
pendiam sobre da água o tornavam um local privado e sombreado.
A margem estava cheia de arbustos grossos e a água era suave e calma e clara. Com o peito
nu, Bast saiu pela saliência áspera de pedra. Com roupas, seu rosto e mãos o faziam parecer
um pouco magro demais, mas sem camisa seus ombros largos eram surpreendentes, sendo
mais esperado de se ver em um trabalhador do campo do que em um tipo indolente que nada
mais faz do que ficar em uma estalagem vazia durante o dia todo. Quando ficou fora da sombra
dos salgueiros, Bast ajoelhouse para afundar a camisa na piscina. Então, ele pressionoua
sobre a cabeça, tremendo um pouco por conta do frio da água. Ele a esfregou no peito e nos
braços rapidamente, sacudindo as gotas de água de seu rosto. Ele colocou a camisa de lado,
se apoiou na beirada da pedra da borda da piscina, em seguida, respirou fundo e mergulhou
sua cabeça. O movimento fez os músculos de suas costas e de seus ombros flexionarem. Um
tempo depois, ele tirou a cabeça para fora, ofegando um pouco e sacudindo a água do seu
cabelo. Bast então se levantou, alisando seu cabelo com as duas mãos. A agua escorreu pelo
seu peito, fazendo filetes em seu cabelo escuro, escorrendo toda pela superfície plana de seu
estômago. Ele se sacudiu um pouco, então saiu pelo nicho escuro produzido por uma
plataforma pontiaguda de uma rocha pendendo. Ele apalpou por um tempo antes de puxar a
saliência do sabão cordemanteiga. Ele se ajoelhou novamente na borda da água, molhando
sua blusa várias vezes, em seguida, esfregandoa com o sabão. Demorou um pouco, já que ele
não tinha nenhuma placa de lavar e ele, obviamente, não queria roçar a camisa contra as
pedras ásperas. Ele ensaboou e enxaguou a blusa várias vezes, torcendoa com as mãos,
fazendo com que os músculos de seus braços e ombros se tencionassem e se
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entrelaçassem. Ele fez uma limpeza completa, embora no momento em que ele terminou, ele
estava completamente encharcado e sujo de espuma.
Bast colocou sua camisa em uma pedra de sol para secar. Ele começou a se desfazer de suas
calças, então parou e inclinou a cabeça para um lado, tentando retirar a água de seu ouvido.
Talvez por causa da água em seu ouvido Bast não ouviu os gorjeios animados vindo dos
arbustos que cresciam próximos a margem. Um som que poderia ser, possivelmente, de
pardais batendose entre os galhos. Um bando de pardais. Vários bandos, talvez. E se Bast não
tivesse visto os arbustos se movimentando também? Ou notado que dentre as folhagem
pendurada entre os ramos de salgueiro não havia as cores que normalmente são encontradas
em árvores?
Hora um rosa pálido, hora um vermelho corado. De vez em quando, um amarelo irrefletido ou
um centáureaazul.
E embora seja verdade que os vestidos viessem nessas cores...bem... as aves também.
Tentilhões e gralhas. E, além disso, era de conhecimento popular entre as moças da cidade
que moreno que trabalhava na pousada era terrivelmente míope.
Os pardais piaram nos arbustos a medida que Bast começou a desamarrar o cordão de suas
calças novamente. O nó aparentemente estava dandolhe trabalho. Ele atrapalhouse com ele
por um tempo, então ficou frustrado e deu uma grande esticada felina, com seus braços em
arco sobre a cabeça, o corpo dobrando como um arco. Finalmente ele conseguiu deixar o nó
frouxo e ficou livre de suas calças. Ele não usava nada por baixo.
Ele as jogou em um canto e do salgueiro veio um grito do tipo que poderia ter vindo de um
pássaro maior. Uma garçareal, talvez. Ou um corvo. E se um ramo tremeu violentamente, ao
mesmo tempo, bem, talvez um pássaro tivesse se inclinado para muito longe de seu ramo e
quase caiu. E, além disso, foi no momento em que Bast estava olhando para outro lado.
Bast mergulhou na água, em seguida, respingou água como um menino e ofegante com o frio.
Depois de alguns minutos partiu para uma parte mais rasa da piscina, onde a água subiu até
quase alcançar sua cintura estreita. Debaixo da água, um observador atento poderia notar as
pernas do rapaz parecia um pouco... estranhas. Mas estava sombreado lá e todos sabem que a
agua dobra a luz de forma estranha, fazendo as coisas parecerem diferentes do que elas são.
E, além disso, pássaros não são os observadores mais cautelosos, especialmente porque sua
atenção estava concentrada em outro lugar.
Uma hora mais tarde, ligeiramente úmido e com cheiro doce de sabão de madressilva, Bast
escalou a ribanceira onde tinha certeza de ter deixado o livro de seu mestre. Foi a terceira
ribanceira que ele escalou na última meia hora. Quando chegou no topo, Bast relaxou com a
visão de um espinheiro. Caminhando para mais perto, ele viu que era a árvore certa, com a
brecha onde ele se lembrava. Mas o livro tinha desaparecido. Uma volta em torno da árvore
mostrou que ele não tinha caído no chão. Então o vento se agitou e Bast viu algo branco. Ele
sentiu um calafrio instantâneo, temendo ser uma pagina solta do livro. Poucas coisas irritavam
tanto seu mestre como um livro mal cuidado. Mas não, se aproximando, Bast não viu o papel.
Era uma extensão lisa de casca de bétula. Ele a retirou e viu as letras riscadas com uma
inclinação tosca.
17
Eu prciso fala co vc. Eh emportante.
Rike
Tarde: Pássaros e abelhas
Sem saber onde poderia encontrar Rike, Bast fez seu caminho de volta para a Árvore
Relâmpago. Ele se estabeleceu no lugar de costume quando uma menininha veio até ele.
Ela não parou no monólito e, ao invés disso, marchou direto morro acima.
Ela era mais nova do que os outros, com seis ou sete anos. Ela usava um vestido azul brilhante
e tinha lacinhos roxos amarrados em seu cabelo cuidadosamente enrolado. Ela nunca tinha ido
a árvore relâmpago antes, mas Bast já a havia visto. Mesmo se não tivesse, poderia supor por
suas roupas finas e seu cheiro de água de rosas que era Viette, a filha mais nova do prefeito.
Ela escalou o pequeno morro vagarosamente, carregando algo peludo na dobra de seu braço.
Quando ela cheio no topo ela ficou parada, um pouco inquieto, mas ainda esperando.
Bast olhou para ela silenciosamente por um momento. “Você conhece as regras?” ele
perguntou.
Ela se ficou de pé, com fitas roxas em seu cabelo. Ela obviamente parecia amedrontada, Mas
seu lábio inferior estava tenso, desafiador. Ela assentiu. “Quais são elas?”
A garotinha lambeu os lábios e começou a recitar com uma voz cantada. “Não ser mais alto
que a pedra.” Ela apontou para o monólito caído na parte inferior do morro. “Quando vier para a
árvore preta, venha sozinha.”
Ela colocou o dedo nos lábios, imitando o som de “chiu”.
“Não dizer“
“Espere” Bast interrompeu. “Você não disse as duas ultimas frases enquanto tocava na árvore.”
A menina empalideceu um pouco por conta disso, mas deu um passo a frente e colocou a mão
contra a madeira desbotada pelo sol da árvore que já estava morta há muito tempo. A garota
pigarreou novamente, então parou, seus lábios se movimentando silenciosamente percorrendo
desde o inicio do poema até encontrar onde tinha parado. ”Não dizer a nenhum adulto o que foi
dito aqui, senão, que um relâmpago te acerte e te mate.”
Quando ela disse a ultima palavra, Viette engasgou e puxou a mão para trás, como se algo
tivesse queimado ou mordido seus dedos. Seus olhos ficaram maiores a medida que ela olhava
para as pontas dos seus dedos e viu que estavam intocados, com um rosa saudável. Bast
escondeu um sorriso por trás de sua mão.
“Muito bem então,” Bast disse. “Você conhece as regras. Eu guardo seus segredos e você
guarda os meus. Eu posso responder suas perguntas ou ajudo a solucionar algum problema.”
Ele se sentou novamente, suas costas contra a árvore, deixandolhe na altura dos olhos da
menina. “O que você quer?”
Ela se estendeu a pequena nuvem de pelos brancos que ela carregava na dobra do seu braço.
Ele miou.
“Esse é um gatinho mágico?” ela perguntou.
Bast pegou o gatinho em sua mão e olhou para ele. Era uma coisa dorminhoca, quase inteiro
branco. Um olho era azul e o outro verde. “De fato, é sim” ele disse, um pouco surpreso. “Pelo
menos um pouco” Ele entrou o gato de volta a ela.
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Ela assentiu séria. “Eu quero chamala de Princesa Glacê”
Blast simplesmente ficou olhando para ela, perplexo. “Está bem.”
A menina fez uma careta para ele. “Eu não sei se ela é menina ou menino!”
“Oh” disse Bast. Ele estendeu a mão, pegou o gatinho, em seguida, acariciouo e entregouo de
volta. "É uma menina".
A filha do prefeito estreitou os olhos “Você está mentindo?”
Bast piscou para a menina, então riu “Por que você acreditaria em mim na primeira vez e não
na segunda?” ele perguntou.
“Eu sabia que ela era uma gatinha mágica.” Disse Viette, revirando os olhos, irritada. “Eu só
queria ter certeza. Mas ela não está usando um vestido. Ela não tem fitas ou laços. Como você
pode saber que ela é uma menina?”
Bast abriu sua boca. Então fechou novamente. Ela não era uma filha de fazendeiro qualquer.
Ela tinha uma governanta e um armário cheio de roupas. Ela não passava o tempo entre
ovelhas e porcos e cabras. Ela nunca viu um cordeirinho nascer. Ela tinha irmãs mais velhas,
mas nenhum irmão...
Ele hesitou. Ele preferiria não mentir. Não aqui. Mas ele não tinha prometido responder a
pergunta, não fez nenhum tipo de acordo com ela. Isso fez as coisas serem mais fáceis. Muito
mais fácil do que ter o prefeito raivoso visitando na Marco do Percurso exigindo saber porque
sua filha repentinamente conhecia a palavra “pênis”.
“Eu fiz cócegas na barriga da gatinha” Bast disse com facilidade. “E se ela pisca para mim, eu
sei que é uma menina.”
Isso satisfez Viette e ela balançou a cabeça solenemente. “Como eu faço meu pai me deixar
ficar com ela?”
“Você já pediu gentilmente a ele?”
Ela assentiu. “Papai odeia gatos.”
“Implorou e chorou?” acenou com a cabeça.
“Gritou e deu um ataque histérico?”
Ela revirou os olhos e deu um suspiro irritado. “Eu já tentei tudo isso, ou eu não estaria aqui.”
Bast pensou por um momento. “Está bem, primeiro você deve conseguir um pouco de comida
que possa se manter boa por dois dias. Biscoitos, salsicha, maçãs. Esconda isso no seu
quarto onde ninguém possa ver. Nem mesmo sua governanta. Nem a empregada. Você tem
um lugar assim?”
A garotinha assentiu.
“Então você vai perguntar ao seu papai mais uma vez. Seja gentil e educada. Se ele ainda
disser não, não fique brava. Só diga a ele que você ama a gatinha. Diga que se você não ficar
com ela, você tem medo de ficar tão triste que você morrerá.”
“Ele ainda dirá não” disse a garotinha.
Bast deu os ombros. “Provavelmente. Então ai vem a segunda parte. Hoje a noite, você cutuca
o seu jantar. Não coma. Nem mesmo a sobremesa” A garotinha começou a dizer algo, mas
Bast levantou a mão.
“Se alguém lhe perguntar, somente diga que você não está com fome. Não mencione a gatinha.
Quando você estiver sozinha em seu quarto, coma um pouco da comida que você escondeu.”
A garotinha parecia pensativa. Bast continuou.
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“Amanhã, não tome café da manhã. Não almoce. Você pode beber um pouco de água, mas só
golinhos. Fique só deitada na cama, quando ele perguntar qual é o problema“
Ela se animou “Eu digo que quero minha gatinha!”
Bast balançou a cabeça com uma expressão severa. “Não. Isso vai estragar o plano. Apenas
diga que você está cansada. Se eles lhe deixarem sozinha, você pode comer, mas seja
cuidadosmãea. Se eles a descobrirem, você nunca terá a gatinha.”
A garota escutava atentamente agora, com a testa franzida por causa de sua concentração.
“Lá pela hora do jantar eles estarão preocupados. Eles lhe oferecerão mais comida. Suas
preferidas. Continue dizendo que você não tem fome. Que você só está cansada. Apenas fique
deitada. Não fale. Faça isso o dia todo.”
“Posso levantar para fazer xixi?”
Bast assentiu. “Mas lembrese de parecer cansada. Não brinque. No próximo dia, eles estarão
assustados. Vão lhe levar ao médico. Vão tentar lhe dar caldo para comer. Eles tentarão de
tudo. Em algum momento, seu pai estará do seu lado e ele lhe perguntará qual é o problema.”
Bast sorriu para ela. “É nessa hora que você começa a chorar. Não berrando. Nem
choramingando. Apenas lágrimas. Basta deitar lá e chorar. Depois diga que você sente muita
falta da sua gatinha. Você sente tanta falta que não quer estar mais viva.”
A garotinha pensou sobre isso por um longo minuto, acariciando sua gatinha distraidamente
com uma mão. Finalmente ela assentiu. “Está bem” ela se virou para ir.
“Espere ai!” Bast disse rapidamente. “Eu te dei o que você queria. Você me deve algo.”
A menininha virouse, sua expressão era de uma estranha mistura de surpresa e de um
constrangimento ansioso. “Eu não trouxe nenhum dinheiro” ela disse, não olhando nos olhos
dele.
“Não é dinheiro.” Disse Bast. “Eu lhe dei duas resposta e uma maneira de você ficar com sua
gatinha. Você me deve três coisas. Você paga com presentes e favores. Você paga com
segredos…”
Ela pensou por um momento. “Papai esconde sua chave do cofre dentro do relógio da cornija."
Bast assentiu em aprovação. “Esse é um”
A garotinha olhou para o céu, ainda acariciando seu gato. “Eu vi a mamãe beijar a empregada
uma vez.”
Bast levantou sua sobrancelha diante disso. “São dois...”
A garotinha colocou o dedo na orelha e o mexeu. “Isso é tudo, eu acho.”
“Que tal um favor então?” Bast disse. "Eu preciso que você me busque duas dúzias de
margaridas com hastes longas. E uma fita azul. E duas braçadas de Tesouro de Donzela "
O rosto de Viette enrugouse em confusão. "O que é um Tesouro de Donzela ?"
“Flores” disse Bast, olhando intrigado consigo mesmo. “Talvez você as chame de balsamos?
Elas crescem na natureza por todo canto.” Ele disse, fazendo um amplo gesto com as duas
mãos.
“Você quer dizer gerânios?” Ela perguntou.
Bast balançou sua cabeça. “Não. Elas têm pétalas frouxas e são mais ou menos desse
tamanho.” Fez um circulo com o polegar e o dedo médio “Elas são amarelas e laranjas e
vermelhas...”
A garota o fitou sem expressão.
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“A viúva Creel as deixa na jardineira da janela” Bast continuou “Quando você toca nas vagens,
elas estalam..."
O rosto de Viette se iluminou “Oh! Você quer dizer as NãoMeToques” ela disse, seu tom de
voz mais do que um pouco paternalista. “Eu posso te trazer um monte delas. Isso é fácil.” Ela
virou para correr morro abaixo.
Bast a chamou antes de ela dar o sexto passo. “Espere!” Quando ela se virou, ele perguntou a
ela. “O que você vai dizer quando alguém lhe perguntar para quem está pegando as flores?”
Ela revirou os olhos novamente. “Eu digo que não é da conta deles.” Ela disse. “Porque meu
papai é o prefeito!”
Depois que Viette saiu. Um alto assobio fez Bast olhar para baixo do morro pelo monólito. Não
havia criança lá esperando. O assobio veio novamente e Bast se levantou, se esticando de
forma longa e árdua. Teria surpreendido a maioria das jovens mulheres da cidade o quão fácil
ele visualizou uma figura parada nas sombras da árvore na borda da clareira que estava a
quase duzentos metros de distância.
Bast caminhou descendo a colina, através de um campo gramado, e em direção a sombra das
árvores. Havia um menino mais velho com o rosto sujo e um nariz achatado. Ele talvez tivesse
uns doze anos e tanto sua blusa como calças eram muito pequenas para ele, mostrando muita
sujeira em seu pulso pelo punho e um tornozelo nu embaixo. Estava descalço e havia um
cheiro ligeiramente azedo nele.
“Rike” A voz de Bast não trazia nada de amigável, fazendo um tom que ele usaria com as
outras crianças da cidade. “Como está a estrada para Tinuë?”
“É um maldito caminho longo.” O menino disse com amargura, não olhando nos olhos de Bast.
“Nós vivemos na bunda de lugar nenhum”
“Eu vejo que você tem meu livro.” Bast disse.
O rapaz o estendeu. “Eu num queria tentar roubálo” ele murmurou rapidamente. “Eu só
precisava falar com você.”
Bast pegou o livro silenciosamente.
“Eu não violei as regras” disse o garoto. “Eu nem fui para a clareira. Mas eu preciso da sua
ajuda. Eu lhe pagarei por isso.”
“Você mentiu para mim, Rike” Disse Bast, sua voz severa.
“E eu num paguei por isso?” O rapaz exigiu com raiva, olhandoo pela primeira vez. “Num
paguei por isso dez vezes mais? A minha vida num é uma merda o suficiente sem ter mais
merda empilhada no topo dela?”
“E isso tudo é irrelevante porque você é muito velho agora", disse Bast categoricamente.
Em seguida, o garoto lutou e respirou fundo, visivelmente tentando controlar seu temperamento.
“Tam é mais velho qui eu e ele ainda pode ir a árvore! Eu só sou mais alto qui ele!”
“Essas são as regras” disse Bast.
“Essas são regras de merda!” O rapaz gritou, fazendo um punho com as mãos. “E você é um
bastardo de merda, que merece mais cintadas do que recebe.”
Houve um silêncio então, quebrado apenas pela respiração irregular do garoto. Os olhos de
Rike se voltaram para o chão, os punhos cerrados ao lado do corpo, ele estava tremendo.
Bast estreitou os olhos ligeiramente.
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A voz do menino era áspera. “Só um” disse Rike. “Só um favor só essa vez. É um dos grandes.
Mas eu pagarei. Pagarei o triplo.”
Bast respirou fundo e soltou o ar como um suspiro. “Rike, eu“
“Por favor, Bast?” Ele ainda estava tremendo, mas Bast percebeu que a voz do garoto não
estava mais com raiva. “Só...por favor?” Estendeu a mão e apenas ficou ali à toa, como se não
soubesse o que fazer com ela. Por fim, ele pegou a manga da blusa de Bast e puxoua uma
vez, debilmente, antes de deixar a mão cair de volta para seu lado. “Eu não posso consertar
isso sozinho”.
Rike olhou para cima, seus olhos cheios de lágrimas. Seu rosto foi torcido em um nó de raiva e
medo. Um menino muito jovem para evitar chorar, mas ainda velho o suficiente para ele se
odiar por fazer isso.
“Eu preciso que você se livre do meu pai” ele disse com uma voz partida. “Eu não sei como. Eu
poderia furálo enquanto ele dormia, mas assim minha mãe descobriria. Ele bebe e bate nela. E
ela chora o tempo todo e então ele vai lá e bate mais nela.”
Rike olhava para o chão novamente, as palavras derramavam dele em erupção. “Eu poderia
pegálo enquanto ele estivesse bêbado em algum lugar, mas ele é muito grande. Não poderia
movêlo. Eles encontrariam o corpo e o juíz me pegaria. Eu não poderia olhar para minha mãe
nos olhos então. Não se ela soubesse. Eu não posso pensar o que isso faria com ela, se ela
soubesse que eu sou o tipo de pessoa que mataria seu próprio pá.”
Ele olhou para cima então, seu rosto furioso, seus olhos vermelhos de tanto chorar. “Embora eu
faria. Eu o mataria. Só me diga como fazer.”
Houve um momento de silêncio.
“Está bem” disse Bast.
Eles desceram para o córrego onde ele poderia tomar um gole de água e Rike poderia lavar o
rosto e se recompor um pouco. Quando o rosto do rapaz estava limpo, Bast notou que nem
toda imundice era sujeira. Era fácil de confundir, pois o sol havia o bronzeado em um rico
marrom noz. Mesmo depois de ele ter se limpado bastante era difícil de saber se eram os
restos tênues de contusões.
Suposição ou não, os olhos de Bast eram penetrantes. Bochecha e mandíbula. Uma escuridão
em torno de seu pulso magrelo. E quando ele se inclinou para tomar uma bebida do córrego,
Bast vislumbrou as costas do rapaz...
“Então” disse Bast enquanto sentava ao lado do córrego. “O que exatamente você quer? Você
quer que eu o mate ou quer que ele apenas vá embora?”
“Se ele for apenas embora, eu nunca dormiria novamente por me preocupar de ele voltar.”
Disse Rike, então ele ficou um pouco em silêncio. “Ele foi embora por um período uma vez.”
Ele deu um leve sorriso. “Essa foi uma boa época, só eu e minha mã. Era como se fosse meu
aniversário todos os dias quando eu acordava e ele não estava lá. Eu nunca pensei que minha
mãe pudesse cantar...”
O menino ficou em silêncio novamente. “Eu pensei que ele tivesse caído bêbado em algum
lugar e finalmente tivesse quebrado o pescoço. Mas ele tinha apenas negociado um ano de
peles em troca de dinheiro para beber. Ele só estava em seu barraco de armadilhas, todo
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entorpecido de bebida por metade de um mês, e não um pouco mais de um quilômetro de
distância."
O rapaz sacudiu a cabeça, mais firmemente dessa vez. “Não, se ele for, ele não ficará longe.”
“Eu posso descobrir como fazer” disse Bast. “Isso é o que eu faço. Mas você precisa me dizer
o que você realmente quer.”
Rike sentou por um bom tempo, abrindo e fechando a mandíbula. “Longe” ele disse finalmente.
Essa palavra parecia pegar em sua garganta. “Desde que ele permanece longe para sempre.
Se você puder realmente fazer isso."
“Eu posso fazer isso.” Disse Bast.
Rike olhou para suas mãos por muito tempo. “Longe então. Eu o mataria. Mas esse tipo de
coisa num é certa. Eu não quero ser esse tipo de homem. Um rapaz não deve matar seu
próprio pai ”.
“Eu posso fazer isso para você.”, disse Bast com facilidade.
Rike se sentou por um tempo, então balançou sua cabeça. “É a mesma coisa, num é? De
qualquer forma, sou eu. E se for eu, seria mais honesto se eu fizesse com minhas próprias
mãos do que com minha boca.”
Bast assentiu. “Certo então. Longe para sempre”
“E logo” disse Rike.
Bast suspirou e olhou para o sol. Ele já tinha coisas para fazer hoje. As engrenagens de seu
desejo não pararam de girar só porque algum agricultor bebeu demais. Emberlee tomaria seu
banho logo. Ele deveria pegar cenouras...
Ele não devia nada ao garoto também. Era o oposto. O garoto tinha mentido para ele. Quebrado
uma promessa. E enquanto Bast acertava as contas tão firmemente que as outras crianças da
cidade nem sonhavam em cruzar seu caminho daquele jeito... ainda era irritante de lembrar. A
ideia de ajudálo agora, apesar disso, era completamente o oposto do que ele desejava.
“Tem que ser logo”, Rike disse. “Ele está ficando pior. Eu posso fugir, mas minha mãe não. E o
pequeno Bip também não… E...”
“Certo, certo...” Bast o cortou, sacudindo as mãos. “Logo.”
Rike engoliu. “O que isso vai me custar?” ele perguntou, ansioso.
“Muito.” Bast disse amargamente. “Não estamos falando de fitas e botões aqui. Pense o quanto
você quer isso. O quão importante isso é.” Ele olhou nos olhos do garoto e não desviou o olhar.
“Três vezes isso é o que você me deve. Mais um pouco pelo logo.” Ele encarou o rapaz.
“Pense bem sobre isso.”
Rike estava um pouco pálido agora, mas ele assentiu sem desviar o olhar. “Você pode ter o que
você quiser de mim”, ele disse. “Mas nada de minha mãe. Ela num tem muito mais além que
meu pai já não tenha bebido.”
“Nós resolveremos isso.” Disse Bast. “Mas não será nada dela. Eu prometo.”
Rike respirou fundo. Em seguida, deu um aceno acentuado de cabeça. “Está bem. Quando
começamos?”
Bast apontou para o córrego. “Encontreme uma pedra do rio com um buraco e traga para
mim.”
Rike deu a Bast um olhar estranho. “Ocê quer uma pedra de fada?”
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“Pedra de fada.” Bast disse com um deboche fulminante tão grande que Rike corou de
vergonha.
“Você está muito velho para esse absurdo.” Bast deu uma olhada para o garoto. “Você quer que
eu te ajude ou não?” ele perguntou.
“Eu quero.”, disse Rike em voz baixa.
“Então eu quero uma pedra do rio.” Bast apontou para o córrego. “Você deve ser a pessoa a
achála.” Ele disse. “Não pode ser ninguém mais. E você precisa encontrála seca na margem.”
Rike assentiu.
“Está bem então.” Bast bateu palmas duas vezes. “Pode ir.”
Rike saiu e Bast retornou para a árvore relâmpago. Nenhuma criança estava esperando para
falar com ele, portanto vadiou no tempo livre. Ele pulou pedras no riacho próximo e folheou
Celum Tinture, olhando para algumas das ilustrações. Calcificação. Titulação. Sublimação.
Bran, feliz sem castigo e com uma mão enfaixada, trouxe dois pães doces enrolados em um
lenço branco. Bast comeu o primeiro e deixou o segundo de lado. Viette trouxe as braçadas de
flores e uma fita azul fina. Bast teceu as margaridas em uma coroa, enfiando a fita através do
caule.
Então, olhou para o sol e viu que estava quase na hora. Bast removeu sua blusa e a encheu
com o rico amarelo e vermelho das NãoMeToques que Viette trouxe para ele. Ele adicionou o
lenço e a coroa, em seguida, pegou um pedaço de pau e fez uma trouxinha para que ele
pudesse levar tudo muito mais facilmente.
Ele seguiu afora passando a ponte Pedra Antiga, então para cima em direção às colinas e ao
redor de um precipício até que achou o lugar descrito por Kostrel. Era escondido de maneira
esperta, e o regato se encurvava e espiralava em uma amável pequena piscina perfeita para um
banho privativo.
Bast sentouse atrás de alguns arbustos, e passada meiahora de espera ele caiu no sono. O
estalo agudo de um galho e um pedaço de uma canção preguiçosa despertaramno, e ele se
empertigou para baixo para ver a jovem mulher cuidadosamente se dirigindo da íngreme
vertente para a borda da água.
Movendose silenciosamente, Bast apressouse rio acima, carregando seu fardo. Dois minutos
depois ele estava se ajoelhando na margem coberta de grama com a pilha de flores ao seu
lado.
Ele pegou uma flor amarela e expirou nela geltilmente. Conforme sua respiração roçou nas
pétalas, sua cor mudou gradualmente para um azul delicado. Ele soltoua e a corrente a
carregou lentamente rio abaixo.
Bast juntou um punhado de ramalhetes, vermelhos e laranjas, e expirou neles novamente. Suas
cores também mudaram e deslocaram para um pálido e vibrante azul. Ele os espalhou na
superfície do regato. Fez isso duas vezes mais até que as flores acabaramse.
Então, pegando o lenço e a coroa de margaridas, ele correu de volta rio abaixo para o pequeno
vazio aconchegante entre os olmos. Ele se moveu rápido o bastante para que Emberlee
estivesse a caminho da margem.
Suavemente, silenciosamente, ele se arrastou até o aglomerado de olmos. Mesmo com uma
mão carregando o lenço e a coroa, ele seguiu o lado ágil como um esquilo.
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Bast deitouse ao longo de um ramo, protegido pelas folhas, respirando rápido mas nao forte.
Emberlee estava removendo a meiacalça e dispondoas cuidadosamente em uma sebe. Seu
cabelo brilhava dourado e vermelho, caindo em preguiçosas curvas. Sua face era doce e
redonda, uma amável tom pálido e rosado.
Bast abriu um sorriso enquanto a via olhando ao redor, primeiro para a esquerda, então para a
direita. Então ela começou a soltar o laço de seu corpete. Seu vestido era de um pálido
centáureaazul, com bordas amarelas, e ela esticouo na sebe, chanfrado fulgorosamente de
maneira que parecia a asa de um enorme pássaro. Talvez alguma combinação fantástica entre
um tentilhão e um gaio.
Vestida apenas com sua roupa de baixo branca, Emberlee olhou ao redor denovo: esquerda,
depois direita. Então se remexeu para tirála, um movimento fascinante. Ela jogou a roupa de
baixo de lado e lá estava ela, nua como a lua. Sua cremosa pele estava incrível coberta de
sardas. Seus quadris largos e amáveis. As pontas dos seios coradas como o mais pálido rosa.
Ela se precipitou rapidamente para dentro d’água. Soltando uma série de pequenos,
consternados gemidos de frio. Eles eram, em consideração, nada parecidos com um corvo
afinal. No entanto, poderiam ser, talvez, com uma garça.
Emberlee lavouse um pouco, salpicando água e tremendo. Ela se ensaboou, imergiu sua
cabeça no rio, e veio a tona ofegante. Molhado, seu cabelo ficou da cor de cerejas maduras.
Foi então que os primeiros NãoMeToques chegaram, flutuando na água. Ela dirigiu seu olhar
para eles curiosamente enquanto flutuavam ao redor e começou a ensaboar seu cabelo.
Mais flores seguiram o fluxo. Vieram corrente abaixo e fizeram círculos ao redor dela, pegas no
pequeno rodamoinho da piscina. A garota olhou para elas maravilhada. Então ergueu um
punhado acima da água e as trouxe defronte sua face, inspirando para sentir seu perfume.
Ela riu encantada e mergulhou abaixo da superfície, emergindo no meio das flores, a água
escorreu por sua pele pálida, passando por seus seios nus. Flores se agarraram nela, como se
relutantes em deixala.
Foi então que Bast caiu da árvore.
Houve um breve, irritado arrastar de dedos contra a casca, uns poucos ganidos, então ele bateu
contra o chão como um saco de banha. Ele deitou de costas na grama e deixou sair um grave,
miseravel rosnado.
Ouviu um som de chapinhar, e então Emberlee apareceu diante dele. Ela segurava sua roupa
de baixo branca à frente. Bast, deitado na grama alta, olhou para cima.
Ele foi sortudo em aterrissar naquele trecho de relva, amortecido pela grama alta e verde.
Alguns metros para um lado, e ele teria se esborrachado de encontro as rochas. Dois metros
para o outro lado e ele teria se afundado na lama.
Emberlee ajoelhouse ao seu lado, sua pele pálida, seus cabelos escuros. Um ramalhete
agarrado ao seu pescoço—era da mesma cor de seus olhos, um pálido e vibrante azul.
“Oh,” Bast disse feliz ao olhar para ela. Seus olhos estavam ligeiramente ofuscados. “Você é
muito mais adorável do que eu imaginei.”
Ele levantou uma mão como se para roçar sua bochecha, mas viuse segurando a coroa e o
lenço amarrado. “Ahh,” ele disse, lembrando. “Eu lhe trouxe algumas margaridas também. E
um pão doce.”
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“Obrigada,” ela disse, pegando a coroa de margaridas com as duas mãos. Ela se livrou da
roupa de baixo para fazêlo, que caiu suavemente sobre a grama.
Basst piscou, momentaneamente sem palavras.
Emberlee inclinou a cabeça para olhar a coroa; a faixa era impressionantemente de um azul
safira, mas não era nem perto de ser tão amável como seus olhos. Ela a ergueu com as duas
mãos e a posicionou orgulhosa em sua cabeça. Seus braços ainda erguidos, ela inspirou
lentamente.
O olhar de Bast escorregou da coroa.
Ela sorriu para ele indulgentemente.
Bast puxou ar para falar, mas então parou e inspirou denovo pelo nariz. Madressilva.
“Por acaso você roubou meu sabonete?” ele perguntou incrédulo.
Emberlee riu e o beijou.
Um bom tempo depois, Bast pegou o caminho longo de volta para a árvore relâmpago, fazendo
uma larga curva até as colinas ao norte da cidade. A paisagem era mais rochosa por aqueles
lados, sem solo plano o bastante para o plantio, o terreno muito traiçoeiro para o pasto.
Mesmo com as indicações do menino, Bast levou um tempo para encontrar a destilaria de
Martin. O velho louco merecia certo reconhecimento afinal. Entre os espinheiros, barranco, e
árvores caídas, não havia chance que ele teria trombado com o esconderijo acidentalmente,
espremido dentro de uma caverna superficial, em um insignificantemente pequeno vale.
A destilaria não era nenhuma profusão de geringonças enroscadas a velhas jarras e fios
emaranhados. Era uma obra de arte. Haviam barris e bacias e enormes espirais formadas por
tubos de cobre. Uma enorme chaleira de cobre com o dobro do tamanho de um tanque, e um
fogão para aquecela. Uma vala de madeira se estendia ao longo de todo o teto, e somente
depois de seguila até o lado de fora Bast percebeu que Martin coletava água da chuva para
encher seus barris de refrigeração.
Observando a destilaria, Bast sentiu uma repentina necessidade de folhear o Celum Tinture e
aprender como eram chamadas cada uma das peças, e para que serviam. Somente então ele
percebeu que havia deixado o livro na árvore relâmpago.
Então ao invés disso ele explorou ao redor até que achou uma caixa preenchida com uma
maluca mistura de recipientes: duas dúzias de garrafas de todos os tipos, jarros de barro,
antigas jarras de lata ... Uma dúzia delas estavam cheias. Nenhuma delas estavam rotuladas
de forma alguma.
Bast ergueu a garrafa alta que obviamente conteve vinho um dia. Ele puxou a rolha, cheiroua
cautelosamente, então tomou um gole cuidadoso. Seu rosto desabrochou numa aurora de
deleite. Ele quase que esperava aguarrás, mas isso era ... bem ... ele nao tinha total certeza.
Bebeu outro gole. Havia um toque de maçãs na bebida, e ... cevada?
Bast entornou um terceiro gole, sorrindo. Qualquer coisa que fosse, era adorável. Suave e forte
e só um pouco doce. Martin pode até ser atormentado, mas claramente sabia destilar.
Já havia passado mais do que uma hora antes que Bast fizesse o caminho de volta para a
árvore relâmpago. Rike não havia retornado, mas Celum Tinture permanecia intocado. Era a
primeira vez que se encontrava feliz em ver o livro, pelo que se lembrava. Ele abriu o livro no
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capítulo de destilação e leu por meia hora, assentindo para si mesmo em vários pontos. Era
chamada de bobina de condensação. Parecia importante, pensou ele.
Finalmente ele fechou o livro e emitiu um suspiro. Havia algumas nuvens se adensando, e
nenhum bem seria feito ao deixar o livro abandonado de novo. Sua sorte não duraria para
sempre, e ele estremeceu ao pensar no que aconteceria se o vento tombasse o livro na grama
e rasgasse algumas páginas. Se houvesse uma chuva repentina....
Então Bast caminhou de volta para a Pousada Marco do Percurso e se esgueirou
silenciosamente pela porta de trás. Pisando com cuidado, ele abriu um armário e enfiou o livro
dentro. Ele estava fazendo seu silencioso caminho de volta para a porta antes de ouvir passos
atrás de si.
“Ah, Bast,” o hospedeiro disse. “Você trouxe as cenouras?”
Bast estagnou, pego embaraçosamente no meio de sua fuga. Ele ficou ereto e alisou as roupas
constrangido. “Eu... eu ainda nao cheguei nessa parte, Reshi.”
O hospedeiro suspirou profundamente. “Eu não peço uma...” Ele parou e cheirou, então
estreitou os olhos para o homem de cabelos escuros.”Você está bêbado, Bast?”
Bast pareceu ofendido. “Reshi!”
O hospedeiro virou os olhos. “Está bem então, você esteve bebendo?”
“Eu estive investigando,” Bast disse, enfatizando a palavra. “Você sabia que o Martin Maluco
tem uma destilaria?”
“Eu não.” o hospedeiro disse, seu tom deixando claro que não achava a informação
particularmente emocionante. “E Martin não é louco. Ele só tem um punhado de fortes
afetações compulsivas infelizes. E um toque de maluquice militar de quando ele era soldado.”
“Bem, sim...” Bast disse vagarosamente. “Eu sei, pois ele atiçou seu cachorro em mim e
quando eu escalei uma árvore para fugir, ele tentou derrubar a árvore a machadadas. Mas
também, fora essas coisas, ele também é louco, Reshi. Muito, muito louco.”
“Bast.” O hospedeiro olhouo com olhar de reprovação.
“Eu não estou dizendo que ele é mau, Reshi. Não estou nem dizendo que não gosto dele. Mas
acredite. Eu conheço loucura. Ele não tem a cabeça no lugar, como uma pessoa normal.”
O hospedeiro assentiu conformadamente, senão impaciente. “Eu notei.”
Bast abriu a boca, então pareceu ligeiramente confuso. “Sobre o que estávamos falando?”
“Sobre seu estado avançado em tal investigação,” disse o hospedeiro, dirigindo o olhar para a
janela. “Apesar do fato de ainda estarmos antes da terceira badalada.”
“Ah. Certo!” Bast disse animado. “Eu sei que Martin tem adicionado boa parte dos gastos desse
ano na conta dele até agora. E que você anda com problemas para ajustar as contas porque ele
não tem dinheiro.”
“Ele não usa dinheiro,” o hospedeiro corrigiu gentilmente.
“Mesma coisa, Reshi,” Bast suspirou. “E isso não muda o fato de que não precisamos de outro
saco de cevada. A despensa está transbordando cevada! Entretanto, já que ele tem uma
destilaria...”
O hospedeiro já estava balançando a cabeça. “Não, Bast,” ele disse. “Eu não vou envenenar
meus clientes com vinho das colinas. Você não tem ideia do que poem nessa coisa ...”
“Mas eu sei, sim, Reshi,” Bast disse melancolicamente. “Acetatos de etila e metanos. E
estanho diluído. Não tem nada disso.”
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O hospedeiro piscou, obviamente surpreendido. “Você... você tem mesmo lido o Celum
Tinture?”
“Eu estive, Reshi.” Bast declarou orgulhoso. “Em nome do aperfeiçoamento da minha educação
e do meu desejo de não envenenar as pessoas. Eu degustei um pouco, Reshi, e posso dizer
com alguma autoridade que Martin nao está fazendo vinho das colinas. O produto é encantador.
Sua qualidade equivale a metade de um Rhis, e isso não é o tipo de coisa que eu digo à toa.”
O hospedeiro afagou o lábio superior pensativo. “Onde você conseguiu um pouco disso para
experimentar?”, ele perguntou.
“Em uma troca,” Bast disse, facilmente contornando os limites da verdade. “Estive pensando”,
Bast continuou, “isso não só daria a Martin a chance de quitar sua conta. Mas também nos
ajudaria a arranjar a preencher o estoque. Essa é difícil, do jeito que as estradas andam ruins...”
O hospedeiro levantou as duas mãos incapacitado. “Estou convencido, Bast.” Bast, feliz, abriu
um sorriso.
“Honestamente, eu o faria apenas para celebrar que você se ateve às suas aulas pelo menos
dessa vez. Mas isso será ótimo para Martin, também. Isso vai lhe dar uma desculpa para vir
aqui com mais frequência. Vai ser bom para ele.”
O sorriso de Bast murchou um pouco. Se o hospedeiro notou, não colocou seu comentário.
“Mandarei um garoto para ir até Martin e pedir para ele vir aqui com algumas garrafas.”
“Pegue cinco ou seis,” Bast disse. “Está começando a ficar frio lá fora. O inverno está
chegando.”
O hospedeiro sorriu. “Tenho certeza que Martin ficará lisonjeado.”
Bast empalideceu ao ouvir aquilo. “Por todos os juncos não, Reshi,” ele disse, acenando com
as mãos à sua frente e dando um passo para trás. “Não digalhe que eu irei beber, ele me
odeia.”
O hospedeiro escondeu um sorriso atrás de sua mão.
“Não tem graça, Reshi,” Bast disse nervoso. “Ele arremessa pedras em mim.”
“Mas já faz alguns meses que não joga,” o hospedeiro apontou. “Martin tem sido perfeitamente
cordial em bela parte das últimas vezes que passou por aqui.”
“Isso porque não há nenhuma pedra dentro da pousada,” Bast disse.
“Seja justo, Bast,” o hospedeiro continuou. “Ele tem sido civil por quase um ano. Até educado.
Está lembrado que ele se desculpou com você dois meses atrás? Já ouviu algum relato do
Martin se desculpando com qualquer outro nessa cidade?”
“Não, “ Bast disse, mauhumorado.
O hospedeiro assentiu. “É um gesto grandioso vindo dele. Está virando a página.”
“Eu sei,” Bast murmurou, movendose em direção à porta dos fundos. “Mas se ele estiver aqui
na hora que eu voltar, jantarei na cozinha.”
Rike alcançou Bast mesmo antes dele conseguir chegar na clareira, muito menos na árvore
relâmpago.
“Eu consegui,” o garoto disse, erguendo alto sua mão triunfantemente. Toda a metade de baixo
de seu corpo estava pingando.
“O quê, já?” Bast perguntou.
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O garoto assentiu e fez um floreio ao mostrar a pedra entre seus dois dedos. Era uma pedra
plana, lisa e redonda, um pouco maior do que uma moeda de cobre. “E agora?”
Bast acariciou o queixo durante um momento, como se tentando lembrar algo. “Agora
precisamos de uma agulha. Mas tem que ser emprestada de uma casa onde não haja homens
habitando.”
Rike pareceu pensativo por alguns segundos, então se iluminou. “Posso pedir uma para a tia
Sellie!”
Bast se esforçou para não praguejar. Tinha se esquecido da Sellie. “Pode ser que sirva ...” ele
disse, relutante, “Mas vai funcionar melhor se a agulha vier de uma casa com muita mulheres
morando nela.“
“Rike olhou para cima por mais alguns segundos. “A viúva Creel então. Ela tem uma filha.”
“Ela tem um filho também” Bast apontou. “Tem que ser de uma casa onde não haja homens ou
meninos morando.”
“Mas onde habitem moram muitas mulheres ...” Rike disse. Ele teve que pensar por um longo
período de tempo. “A velha Nan não gosta nem um pouco de mim, “ ele disse. “Mas acredito
que ela me daria um alfinete.”
“Uma agulha,” Bast salientou. “E você tem que emprestálo. Não pode roubálo ou comprálo.
Ela tem que emprestarlhe”
Bast achava que o garoto poderia reclamar sobre certos detalhes, como o fato de que a velha
Nan vivia bem longe do outro lado da cidade, tanto quanto você poderia ir sentido oeste sem sair
da cidade propriamente dita. Ele levaria meiahora para chegar lá, e mesmo assim, a velha Nan
talvez não estivesse em casa.
Mas Rike não fez mais do que suspirar. Simplesmente assentiu seriamente, virouse, e decolou
em uma corrida, quase voando descalço.
Bast continuou até a árvore relâmpago, mas quando alcançoua ele viu um bocado de crianças
brincando no marco do percurso, claramente esperando por ele. Eram quatro crianças.
Coberto pelas sombras das árvores, à margem da clareira, Bast espreitouas hesitante, então
olhou em direção ao Sol antes de se embrenhar de volta na floresta. Ele havia outro peixe para
fritar.
A fazenda dos Williams na verdade não era nenhuma fazenda. Ao menos por décadas. Por
estar a tanto tempo infértil, o solo não parecia ter sido um dia destinado ao plantio, sarapintado
com espinheiros e mudas de árvores. O celeiro alto carecia de reparos e metade do teto era
um buraco aberto ao céu.
Percorrendo o longo caminho através dos campos, Bast virou em uma curva e viu a casa de
Rike. Sua aparência contava uma história diferente à do celeiro. Era pequena mas ajeitada.As
telhas precisavam de um pequeno conserto, mas fora isso, tudo parecia bem cuidado e cheio
de propósito. Cortinas amarelas estavam esvoaçando para fora da janela da cozinha, e havia
uma floreira transbordando de cravos amarelos e filodendros.
De um lado da casa havia uma baia com três cabras, e um jardim bem cuidado do outro.
Estava densamente cercado por gravetos amarrados, no entanto Bast conseguia vislumbrar
linhas estreitas de verde dentro. Cenouras. Ele continuava precisando de cenouras.
Empinando um pouco seu pescoço, Bast viu várias caixas grandes atrás da casa. Deu mais
alguns passos para o lado e olhouas antes de descobrir que eram colméias de abelha.
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“Me chame se ele começar a se agitar,” Nettie disse suavemente. A pequena menina assentiu
seriamente, sentou em uma cadeira próxima e começou a balançar o berço gentilmente com o
pé.
Nettie andou para fora, fechando a porta atrás de si. Ela deu os últimos poucos passos
necessários para chegar até Bast, ajeitando seu corpete inconscientemente. Pela iluminação
da luz do sol Bast notou suas maçãs do rosto altas e boca generosa. Mesmo assim, ela
parecia mais arrumada do que bela, seus olhos negros estavam pesados de preucupação. A
mulher alta cruzou os braços ao redor do peito. “Qual é o problema então?" ela perguntou
desgastada.
Bast pareceu confuso. “Não há problema, “ ele disse. “Eu estava pensando se seu marido tem
alguma tarefa.”
Nettie descruzou os braços, parecendo surpresa. “Oh.”
“Não tem muita coisa para eu fazer na pousada,” Bast disse de maneira um pouco tímida.
“Pensei que seu marido talvez precisasse de uma mão extra.”
Nettie olhou em volta, os olhos mirando o velho celeiro. Sua boca repuxando nas laterais. “Ele
prepara armadilhas e caça pela maior parte do tempo hoje em dia nesses dias,” ela disse.
“Mantem ele ocupado, mas não ao ponto de precisar de ajuda, eu imagino.” Ela olhou de volta
para Bast. “Pelo menos nunca fez menção de precisar.”
“E você?” Bast perguntou, dando seu sorriso mais charmoso. “Tem alguma coisa por aqui em
que você possa precisar de uma mão?”
Nettie sorriu para Bast indulgentemente. Era só um pequeno sorriso, mas retirou 10 anos e
meio mundo de preucupação do rosto dela, fazendoa praticamente brilhar de amabilidade.
“Não tem muito o que fazer,” ela disse desculpandose. “Só três cabras para cuidar, e meu
menino se encarrega disso.”
“Lenha?” Bast perguntou. “Não tenho problemas para fazer um trabalho suado. E deve estar
sendo difícil lidar com as coisas com seu cavalheiro fora por dias afinal ...” Ele sorriou para ela
esperançoso.
“E nós não temos o dinheiro para pagar por uma ajuda, eu temo.” Nettie disse.
“Só preciso de algumas cenouras,” Bast disse.
Nettie olhou para ele por alguns minutos, e então explodiu em gargalhadas. “Cenouras,” ela
disse esfregando a face.
“Quantas cenouras?”
“Talvez... seis?” Bast perguntou, soando claramente não ter certeza de sua resposta.
Ela riu novamente, balançando a cabeça um pouco. “Tudo bem. Você pode partir algumas
toras.” Ela apontou para o bloco de corte que ficava atrás da casa. “Virei até você quando tiver
feito o bastante para seis cenouras.”
Bast partiu obstinado para o trabalho, e logo o quintal estava cheio do barulho fresco e saudável
de madeira partindose. O sol ainda brilhava forte no céu, e depois de alguns minutos Bast
estava coberto por uma fina camada de suor.
Ele arrancou a camisa descuidadamente e penduroua em uma cerca do jardim próxima.
Havia algo diferente na maneira como ele partia a madeira. Nada dramático. Na verdade, ele
partia a madeira do mesmo jeito que todo mundo fazia: você posiciona a tora de pé, você
golpeia com o machado, você corta a madeira.
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Não tem algo em que se possa improvisar.
Mas mesmo assim, havia uma diferença no jeito que ele o fazia. Quando ele colocava a tora de
pé, ele se movia atentamente,
Então ele esperaria um momento, perfeitamente parado. Então vinha o golpe. Era um
movimento fluído.
O posicionamento de seus pés, o dançar dos longos músculos de seu braço ...
Não havia nada extravagante. Nada como um floreio. Mesmo assim, quando ele levantava o
machado e o trazia em um perfeito arco até a madeira, havia elegância nisso. O ruído rouco
agudo que a madeira fazia daao partirse, o jeito repentino como as metades quicavam no
chão. De algum jeito, ele fazia o processo parecer... bem ... arrojado.
Ele trabalhou durante árduos trinta minutos, até que Nettie saiu de dentro da casa, carregando
um copo de água e um punhado de cenouras cheias com o cabo verde ainda preso. “Tenho
certeza que isso já vale pelo menos seis cenouras,” ela disse, sorrindo para ele.
Bast pegou o copo de água, bebeu metade dele, então se curvou e jorrou o resto em sua
cabeça. Ele estremeceu um pouco, então se endireitou, seu cabelo negro se enrolando e
grudando em seu rosto. “ tem certeza de que não tem mais nada em que precise de uma
mão?” ele perguntou, lançando um sorriso fácil para ela. Seus olhos eram negros e sorridentes
e mais azuis do que o céu.
Nettie balançou a cabeça. Seu cabelo estava solto da trança agora, e quando ela olhava para
baixo, as curvas soltas cairam separadamente ao redor de seu rosto. “Não consigo pensar em
nada que precise ser feito,” ela disse.
“Eu tenho jeito com mel também,” Bast disse, içando o machado para apoiálo em seu ombro
nu.
Ela pareceu um pouco confusa até que Bast apontou em direção as colméias de madeira
espalhadas através do campo coberto de mato. “Ah,” ela disse, como se lembrando de um
sonho semiesquecido. “Eu costumava fazer velas e mel. Mas perdemos algumas colméias
para o inverno rigoroso de três anos atrás. E então outra para uma praga. Então houve aquela
primavera úmida e mais três se foram levadas pela chuva colina abaixo antes que
soubessemos”. Ela encolheu os ombros. “No começo desse verão vendemos uma para os
Hestles para poder pagar os impostos ...”
Ela balançou a cabeça de novo, como se estivesse em um devaneio. Ela encolheu os ombros e
se virou para olhar para Bast. “Você sabe lidar com abelhas?”
“Consideravelmente,” Bast disse suave. “Ela não são difíceis de lidar. Elas só precisam de
paciência e ternura.”
Ele casualmente golpeou com um machado para que ficasse preso em um toco próximo. “Elas
são igual a todo o resto, de verdade. Só precisam saber que estão seguras.”
Netties estava olhando em direção ao campo, assentindo com as palavras de Bast
inconscientemente. “Só sobraram duas,” ela disse. “O bastante para algumas velas. Um pouco
de mel. Não muito. Dificilmente vale a pena o esforço, sério.”
“Ah, vamos lá,” Bast disse gentilmente. “Um pouco de doçura é tudo o que temos as vezes.
Sempre vale a pena. Mesmo se demande algum esforço.”
Nettie virou para olhalo. Dessa vez em seus olhos. Em silêncio, mas não desviando o olhar
também. Seus olhos eram como uma porta aberta.
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Bast sorriu, gentil e paciente, sua voz aconchegante e doce como o mel. Ele estendeu sua
mão. “Venha comigo, “ ele disse. “ Tenho algo para lhe mostrar.”
O sol estava começando a afundar em diração a floresta Oeste quando Bast retornou a árvore
relâmpago.
Ele estava mancando um pouco e tinha sujeira em seu cabelo, mas parecia estar de bom
humor. Haviam duas crianças na parte inferior do morro, sentadas no monólito e balançando os
pés como se fosse um enorme banco de pedra. Bast nem sequer teve tempo para sentarse
antes que elas subissem até o morro juntas. Era Wilk, um menino sério de dez anos com um
cabelo loiro bagunçado. Ao seu lado estava sua irmãzinha Pem, com metade de sua idade e
três vezes mais linguaruda.
O garoto assentiu a Bast a medida que ele chegava ao topo do morro, então ele olhou para
baixo.
“Você machucou sua mão” ele disse.
Bast olhou para sua mão e se surpreendeu ao ver algumas manchas escuras de sangue
escorrendo pelos lados. Ele tirou seu lenço e cobriu o machucado.
“O que aconteceu? “A pequena Pem pergunta a ele.
“Eu fui atacado por um urso” ele mentiu despreocupadamente.
O rapaz balançou a cabeça, não dando indícios se ele tinha acreditado ou não que aquilo era
verdade.
“Eu preciso de um enigma para desafiar Tessa” disse o menino. “ Um dos bons”.
”Você cheira como o vovô” Pem piou enquanto ela subia para ficar ao lado de seu irmão.
Wilk a ignorou. Bast fez o mesmo.
“Está bem.” disse Bast. “Eu preciso de um favor, eu posso trocar com você. Um favor por um
enigma.”
“Você cheira como o vovô quando ele tomava seu remédio” Pem esclareceu.
“Porém tem que ser um muito bom”Will salientou. “Um quebracabeça”
“Mostreme alguma coisa que nunca fora vista antes e que nunca será vista novamente.” Bast
disse.
“ Hmmm…” disse Wilk, parecendo pensativo.
“ O vovô diz que ele se sente bem melhor com seu remédio” Pem disse, bem alto e bem
irritada por ser ignorada. “Mas a mamãe disse que não é remédio. Ela diz que ele voltou com a
bebedeira. E o vovô diz que ele se sente muito melhor então é por causa do maldito remédio”.
Ela olha para eles, revezando entre Bast e Wilk como se os desafiasse a repreendêla.
Nenhum dos dois o fez. Ela pareceu um pouco desanimada.
“Esse é um dos bons” Will admitiu, finalmente. “Qual é a resposta?”
Bast deu um lento sorriso. “O que você vai me oferecer em troca disto?”
Wilk inclinou sua cabeça para um lado.
“Eu já disse. Um favor.”
“ Eu troquei seu enigma por um favor.” Bast disse com facilidade. “Mas agora você está pedindo
a resposta…”
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Wilk pareceu confuso por um momento, então seu rosto ficou vermelho e irritado. Ele respirou
fundo, como se estivesse prestes a gritar. Então pareceu pensar melhor e saiu descendo a
colina, batendo seus pés. Sua irmão viu ir, então se virou para Bast.
“Sua camisa está rasgada” disse ela com desaprovação. “E você tem manchas de grama em
suas calças. Sua mãe vai te dar uma surra.”
“Não, ela não vai” Bast disse presunçosamente. “Por que já sou crescido e posso fazer o que
quiser com minhas calças. Poderia atear fogo nelas e eu não teria problema algum.”
A garotinha o encarou com uma ardente inveja.
Wilk voltou ao morro.
“Tudo bem” disse malhumorado.
“Meu favor primeiro” disse Bast.
Ele entregou ao menino uma pequena garrafa com uma rolha na parte superior.
“Eu preciso que você preencha esta garrafa com água enquanto ela ainda está no ar.“
“O quê?“ disse Wilk.
“Água que está caído naturalmente“ disse Bast. “Você não pode mergulhala em um barril nem
em um córrego. Você tem que pegála enquanto ainda está no ar. “
“A água cai de uma bomba quando você a bombeia…“ disse Wilk sem qualquer esperança real
em sua voz.
“Água que está caindo naturalmente.” Bast disse novamente, dando ênfase na última palavra.
“Não serve se alguém somente sobe em uma cadeira e derrama água de um balde.”
“Para que você precisa disso?” Pem perguntou em sua voz estridente.
“O que você vai me oferecer em troca para eu responder essa questão?” Bast disse.
A garotinha ficou pálida e bateu uma mão em sua boca.
“Talvez não chova por dias” Wilk disse.
Pem deu um suspiro tempestuoso.
“Não tem que ser de chuva” disse sua irmã, sua voz cheia de condescendência. “Você poderia
simplesmente ir até a cachoeira perto do Pequeno Penhasco e encher a garrafa lá.”
Wilk piscou. Bast sorriu para ela.
“Você é uma garota esperta.“
Ela revirou os olhos. “Todo mundo diz isso…”
Bast tirou alguma coisa de seu bolso e segurou. Era uma palha de milho verde enrolada em um
pique de favo de mel pegajoso. Os olhos da menina brilharam quando ela viu.
“Eu também preciso de vinte e uma nozes de carvalho perfeitas” ele disse. “Sem buracos, com
seus pequenos chapéus intactos. Se você pegálas para mim perto da cachoeira, eu lhe darei
isso.”
Ela assentiu ansiosamente com a cabeça. Em seguida, ela e seu irmão correram morro abaixo.
Bast voltou para a piscina perto do salgueiro estendido e tomou outro banho. Não era seu
horário de banho habitual, por isso não havia pássaros a sua espera, e como resultado, o banho
foi muito mais prático do que o anterior. Ele rapidamente se enxaguou, livrandose do suor e do
mel, ele havia manchado um pouco de suas roupas, tendo que esfregálas para se livrar das
manchas de grama e do cheiro de uísque. A água fria fez arder um pouco os cortes nas juntas
de seus dedos, mas não eram graves e se curariam bastante bem sozinhos.
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Nu e pingando, ele saiu da piscina e encontrou uma rocha escura, aquecida pelo longo dia de
sol. Colocou suas roupas sobre ela e deixou secar enquanto balançava o cabelo até ficar seco
e retirava a água de seus braços e peito com as mãos.
Em seguida, ele fez o seu caminho de volta para a árvorerelâmpago, pegou um longo pedaço
de grama para mastigar, e quase imediatamente adormeceu no sol dourado da tarde.
Noite: Lições
Horas mais tarde, as sombras da noite esticavamse cobrindo Bast e ele acordou
estremecendo. Ele sentouse, esfregando o rosto e observando com os olhos embaçados ao
seu redor. O sol estava começando a varrer os topos das árvores do ocidente. Wilk e Pem não
haviam retornado, mas isso não foi uma surpresa. Ele comeu o pedaço de favo de mel que
havia prometido a Pem, lambendo os dedos calmamente. Em seguida, mastigou ociosamente
a cera e viu um par de falcões voarem em círculos lentamente no céu.
Eventualmente, ele ouviu um assobio vindo das árvores. Ele se levantou e se esticou, seu corpo
dobrandose como um arco. Então ele correu para baixo da colina... Exceto que, à luz fraca,
não parecia muito com uma corrida veloz. Se ele fosse um menino de dez anos, pareceria que
estava pulando. Mas ele não era um menino. Se ele fosse uma cabra, teria parecido que ele
estava cabriolando. Mas ele não era uma cabra. Um homem descendo o morro tão rápido
pareceria que estava correndo. Mas havia algo estranho no movimento de Bast à luz baixa. Algo
difícil de descrever.
Ele parecia como se estivesse quase… o quê? Gracejando? Dançando? Pouco importa. Basta
dizer que ele rapidamente fez o seu caminho até a borda da clareira onde Rike surgiu no escuro
entre as árvores.
“Eu consegui“ disse o menino, triunfante, ele ergueu a mão, mas a agulha era invisível no
escuro.
“Você pegou emprestado?“ perguntou Bast. “Não trocou nem a negociou?“
Rike confirmou com a cabeça.
“Está bem” disse Bast. “Sigame”.
Eles andaram pelo monólito, Rike seguiu silenciosamente quando Bast escalou um dos lados
da pedra meio caída.
A luz do sol ainda era forte lá, e ambos tinham bastante espaço para ficar na parte de trás do
amplo monólito inclinado. Rike olhou ao redor ansiosamente, como se estivesse preocupado
que alguém pudesse vêlo.
“Vamos ver a pedra”, disse Bast.
Rike cavou em seu bolso e seguroua para Bast.
Bast recusou sua mão de repente, como se o menino tivesse tentado entregarlhe um carvão
incandescente. "Não seja estúpido", ele retrucou. "Não é para mim. O encanto só vai funcionar
para uma pessoa. Você quer que seja eu?"
O menino recuou sua mão e olhou para a pedra. “O que você quer dizer com uma pessoa?”
“É como um amuleto” disse Bast. “Eles só funcionam para uma pessoa de cada vez”.
Vendo a confusão escrita no rosto do menino, Bast suspirou. “Você sabe como as garotas
fazem amuletos que atraem encantos na esperança de capturar o olhar de um rapaz?”
Rike assentiu, corando um pouco.
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“Esse é o oposto,” Bast disse. “É um amuleto de afastamento. Você vai picar seu dedo, pingar
uma gota de seu sangue na pedra e ela estará selada. Fará as coisas se afastarem.”
Rike olhou para a pedra. “Que tipo de coisas?” ele disse.
“Qualquer coisa que machuque você.” Bast disse com facilidade. ”Você pode apenas manter
ele em seu bolso, ou pode pegar um pedaço de cabo...”
“Isso fará meu pai ir embora?” Rike interrompeu.
Bast franziu a testa. “Era isso que eu ia dizer. Você é o sangue dele. Então isso fará ele se
afastar mais fortemente do que qualquer outra coisa. Você provavelmente vai querer guardálo
no seu pescoço ou...”
“E quanto a um urso?” Rike perguntou, olhando pensativamente para a pedra. “Ela faria um urso
me deixar em paz?”
Bast fez um movimento para frente e para trás com sua mão. “Coisas selvagens são
diferentes” ele disse. “Eles são possuídos por puro desejo. Eles não querem o machucálo.
Normalmente eles querem comer ou se proteger. Um urso…”
“Posso dálo para minha mãe?” Rike interrompeu novamente, olhando para Bast. Seus olhos
negros estavam sérios.
“...quer proteger seu territ....O quê? Bast pausou.
“Minha mãe que deveria ter isso.” Rike disse. “E se eu estiver longe com o amuleto e meu pai
voltar??
“Ele estará bem mais longe que isso,” Bast disse, com um tom de certeza na sua voz. “Não
será como se ele estivesse escondido na esquina da ferraria...”
O rosto de Rike estava bem definido agora, o nariz amassado fazendoo parecer ainda mais
teimoso. Ele balançou a cabeça. "Ela deveria têlo. Ela é importante. Ela tem que cuidar da
Tess e do pequeno Bip."
“Funcionará bem...”
“Tem que ser para ELA!” Rike gritou, com sua mão fazendo um punho em volta da pedra. “Você
disse que poderia servir para uma pessoa, então você fará com que seja para ela!”
Bast fez uma careta para o menino sombrio. "Eu não gosto do seu tom", disse ele
severamente. "Você me pediu para fazer o seu pai ir embora. E é isso que eu estou fazendo...”
“Mas e se isso não for o suficiente?” O rosto de Rike estava vermelho.
“Será.” Bast disse distraidamente esfregando o polegar sobre os nós dos dedos de sua mão.
"Ele irá para longe. Você tem a minha palavra."
“NÃO!” Rike disse, seu rosto ficando vermelho e nervoso. “E se mandar ele para longe não seja
o suficiente?? E se eu crescer e ficar como meu pai? Eu fico tão..." Sua voz sufocou, e seus
olhos começaram a escorrer lágrimas. "Eu não sou bom. Eu sei disso. Eu sei melhor do que
ninguém. Como você disse. Eu tenho o sangue dele em mim. Ela precisa estar segura de mim.
Se eu crescer afetado e mau, ela precisará do amuleto para...Ela precisará de algo para me
manter longe...”
Rike cerrou os dentes, incapaz de continuar. Bast estendeu a mão e o segurou ombro do
rapaz. Ele estava duro e rígido como uma tábua de madeira, mas Bast o agregou e colocou os
braços ao redor de seus ombros. Gentilmente, porque ele tinha reparado nas costas do garoto.
Eles ficaram ali por um longo momento, Rike duro e apertado como uma corda de arco,
tremendo como um firme veleiro contra o vento.
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“Rike” Bast disse suavemente. “Você é um bom garoto. Você sabe disso?”
O menino então se curvou, apoiandose em Bast e parecia que ele iria despedaçar com os
soluços. O rosto foi pressionado no estômago de Bast e ele disse algo, mas foi abafado e
desconexo. Bast fez um som cantando suave, do tipo que você usaria para acalmar um cavalo
ou acalmar uma colméia de abelhas inquietas.
A tempestade passou, e Rike se afastou rapidamente para longe e esfregou o rosto
grosseiramente com a manga.
O céu começou a se tingir de vermelho com o pôrdosol.
“Certo,” disse Bast. “Está na hora. Faremos para sua mãe. Você deve dar o amuleto a ela. A
pedra do rio funciona melhor quando é dada como um presente.”
Rike assentiu, não olhando para cima. “Mas e se ela não usálo” perguntou baixinho.
Bast piscou confuso. “Ela usará porque você o dará para ela” ele disse.
“Mas e se ela não usar?” ele perguntou.
Bast abriu sua boca, então hesitou e fechou novamente. Ele olhou para cima e viu as primeiras
estrelas do crepúsculo surgirem. Ele olhou para o menino. Suspirou. Ele não era bom nisso.
Era tão mais fácil.Glammouria era sua segunda natureza. Apenas fazia as pessoas verem o
que elas queriam ver. Enganar gente era simples como cantar. Enganar populares e dizerlhes
mentiras, era como respirar. Mas isso? Convencer alguém da verdade que estava muito
perturbado para verdade?? Por onde começar?
Eram desconcertantes. Estas criaturas. Eles estavam cheias e desgastadas em seus desejos.
Uma cobra nunca iria envenenarse, mas essa gente faz disso uma arte. Eles se prendem em
seus medos e choram por estarem cego. Era irritante. Foi o suficiente para quebrar um
coração.
Então Bast optou pelo caminho mais fácil. “É parte da mágica” ele mentiu. “Quando você der a
ela, você deve dizer que fez para ela por que a ama.”
O menino pareceu desconfortável, como se ele estivesse tentando engolir a pedra.
“É essencial para a mágica” disse Bast firmemente. “E então, para fazer a mágica ficar ainda
mais forte, você deve dizer a ela todos os dias. Uma vez pela manhã e uma vez à noite.”
O menino balançou a cabeça, com um olhar determinado em seu rosto. “Certo. Eu posso fazer
isso.”
“Certo, então.” Bast disse. “Sentese aqui. Fure seu dedo.”
Rike o fez exatamente isso. Ele apontou o dedo curto e grosso e deixou uma gota de sangue
cair sobre a pedra.
“Bom.” Bast disse, sentando em frente ao garoto. “Agora me dê esta agulha”
Rike entregou a agulha. "Mas você disse que só precisava de"
“Não me diga o que eu disse." Bast resmungou. "Segure a pedra lisa de modo que os buracos
fiquem voltados para cima."
Rike o fez.
“Segure firme” disse Bast e furou o próprio dedo. Uma gota de sangue surgiu lentamente. "Não
se mexa."
Rike preparou a pedra com a outra mão.
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O velho Cob finalmente conseguiu engolir. “Você é tapado como um poste, Jacob Walker. Não
foi isso o que aconteceu. Ele caiu no Pequeno Penhasco, mas não havia um puma. Um puma
não atacaria um homem adulto.”
“Atacaria se ele estivesse cheirando a sangue” Jake insistiu. “O que Jessom estava, levando
em conta o fato de que ele estava coletando toda sua caça”
Houve murmúrios em concordância com esse comentário, o que obviamente irritou o velho
Cob. “Não foi um puma” insistiu. “Ele estava bêbado até os pés. Foi o que eu ouvi. Bêbado
tropeçando e perdido. É a única razão disso. Porque o Pequeno Penhasco num é nem de longe
próximo de onde ficam suas armadilhas. Ao menos que o puma tenha seguido ele por pelo
menos uma milha...”
O velho Cob voltou a sentar em sua cadeira, presunçoso como um juiz. Todos sabia que
Jessom era um pouco bebedor.
E embora o Pequeno Penhasco não fosse realmente a uma milha das terras dos Williams,
ainda sim era muito longe para ser perseguido por um puma. Jake encarou venenosamente o
velho Cob, mas antes que ele pudesse dizer algo, Graham se intrometeu “ Eu também ouvi que
ele bebeu mesmo. Duas crianças o encontraram enquanto brincavam perto da cachoeira. Eles
pensaram que ele estava bêbado e correram para buscar o condestável. Mas ele estava
apenas golpeado na cabeça e bêbado como um lorde. Haviam vários pedaços de vidros
quebrados, também. Ele se cortou um pouco”.
O Velho Cob jogou suas mãos para cima no ar “ Bom, isso não é maravilhoso” ele disse,
olhando carrancudo para Graham e Jake. “Alguma outra parte da minha história que vocês
gostariam de contar antes de eu terminar?”
Graham pareceu confuso. “Eu pensei que você...”
“Eu não terminei” Cob disse como se estivesse falando com um simplório. “Eu estava soltando
aos poucos. Eu juro. Vocês não sabem nada sobre contar histórias que caberiam em livros.”
Um silêncio tenso se estabeleceu entre os amigos.
“Eu tenho algumas novidades também” O aprendiz do ferreiro disse quase timidamente. Ele
sentou próximo ao bar, como se envergonhado de ser uma cabeça mais alto do que todos e
duas vezes mais largo nos ombros. “Se ninguém mais ouviu disso, quero dizer.”
Shep falou “Vá em frente, garoto. Você não tem que perguntar. Esses dois tem se mordido por
anos. Eles não falam por mal.”
“Bem, eu estava fazendo sapatos” o aprendiz disse, “Quando o Martin Maluco veio.” O menino
balançou sua cabeça em empolgação e deu um longo gole de cerveja. “Eu só o vi algumas
vezes na cidade, e eu esqueci o quão grande ele era.. Mas ele parecia maior para mim. E hoje
ele aparentava estar ainda maior porque ele estava furioso. Estava cuspindo parafusos. Eu juro.
Ele aparentava como alguem que tinha amarrado dois touros bravos juntos e os fez vestir uma
só camisa!” O garoto riu com uma risada fácil de alguém que tinha bebido um pouco mais de
bebida do que de costume.
Houve uma pausa. “Qual a novidade então?” Shep disse gentilmente, dandolhe uma
cotovelada.
“Oh!” o aprendiz do ferreiro disse. “Ele perguntou ao Mestre Ferris se ele tinha cobre o
suficiente para consertar uma grande chaleira”. O aprendiz abriu seus longos braços bem
abertos, com uma mão quase batendo na cara de Shep. ”Aparentemente alguém encontrou a
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destilaria de Martin”. O aprendiz do ferreiro inclinouse para frente balançando um pouco, e
disse em voz baixa. "Roubaram um monte de suas bebidas e destruíram um pouco do lugar."
O menino se recostou na cadeira e cruzou os braços sobre o peito com orgulho, confiante de
uma história bem contada.
Mas não havia nenhum burburinho que normalmente acompanha uma boa fofoca. Ele deu outro
gole na bebida, e lentamente começava a parecer confuso.
“Por Tehlu” Graham disse, seu rosto pálido. “Martin irá matalo.”
“O que?” O aprendiz disse. “Quem?”
“Jessom, seu estúpido” Jake agarrou. Ele tentou esbofetear o rapaz na parte de trás de sua
cabeça e teve que se contentar com o ombro, ao invés. “O camarada que ficou bêbado como
um gambá no meio do dia e caiu penhasco a baixo carregando um monte de garrafas?”
“Eu pensei que tivesse sido o puma” disse o velho Cob com rancor.
“Ele vai desejar que tivessem sido dez pumãs quando o Martin o pegar.” Jake disse
sombriamente.
“O que?” O aprendiz do ferreiro riu ”O Martin Maluco? Ele está podre, claro, mas ele não é mau.
Há uns tempos, ele me encurralou e falou besteiras sobre cevada por duas horas". Ele riu
novamente.
"Sobre como era saudável. Como trigo iria arruinar um homem. Como o dinheiro era sujo.
Como ele te acorrenta na terra ou alguma coisa sem sentido do tipo."
O aprendiz baixou sua voz e curvou os ombros um pouco, arregalando os olhos e fazendo uma
imitação razoável de Martin Maluco. “Você sabe?” disse ele, fazendo uma voz áspera e
lançando olhares a seu redor. “É. Você sabe. Você ouviu o que eu estou dizendo?”
O aprendiz riu novamente, balançando para frente em seu banco. Obviamente ele tinha tomado
mais cerveja do que era suficiente para ele. “As pessoas pensam que devem ter medo de caras
grandes, mas elas não devem. Eu nunca bati em um homem a minha vida toda.”
Todos apenas o encararam. Seus olhos eram seriamente mortais.
“Martin matou um dos cachorros de Ensal por rosnar para ele.” Shep disse. “Bem no meio do
mercado. Jogou uma pai como se fosse uma lança. Em seguida, deulhe um chute.”
“Quase matou o ultimo padre,” Graham disse. ”O antes de Abbe Leodin. Ninguém sabe porquê.
O camarada foi até a casa de Martin. Aquela tarde Martiu trouxeo para a cidade em um carrinho
de mão e deixouo em frente à igreja.” Ele olhou para o aprendiz do ferreiro.
“Isso foi antes de seu tempo. Faz sentido você não saber.”
“Bateu em um latoeiro uma vez” Jake disse.
“Bateu em um latoeiro?” o estalajadeiro explodiu incrédulo.
“Reshi,” Bast disse gentilmente. “Martin é completamente louco.”
Jake assentiu. “Mesmo o cobrador de impostos não vai á casa de Martin."
Cob parecia como se ele fosse pedir para Jake sair novamente, então decidiu pegar leve. “Bem,
sim”,ele disse. “Verdade. Mas isso é porque Martin serviu por muito tempo no exército do rei.
Oito anos".
“E voltou doido como um cão espumando.” Shep disse.
O velho Cob já tinha levantado de seu banco e estava a meio caminho da porta. “Chega de
conversa. Nós temos que disser a Jessom. Se ele pudesse sair da cidade até Martin se
acalmar um pouco…”
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“Então... quando ele estará morto?” Jake disse rispidamente. “Lembramse quando ele jogou
um cavalo pela janela da velha pousada por que o barman não lhe daria outra bebida?”
“Um latoeiro?” o dono da pousada repetiu, não parecendo menos chocado do que antes.
O silêncio caiu ao som de passos no corredor. Todos olharam para a porta e ficaram imóveis
como uma pedra, com exceção de Bast, que lentamente cortou para a porta da cozinha.
Todos deram um enorme suspiro de alívio quando a porta se abriu para revelar a silhueta alta e
magra de Carter. Ele fechou a porta atrás de si, sem perceber a tensão na sala. “Adivinha quem
vai pagar uma rodada de uísque para todos hoje a noite?” ele gritou alegremente, depois parou
onde estava, confuso com a sala cheia de expressões sombrias.
O velho Cob começou a andar para a porta novamente, encorajando seu amigo a seguilo.
“Venha Carter, eu te explico no caminho. Nós temos que encontrar Jessom muito rápido.”
“Você terá uma longa caminhada para encontralo.” Carter disse. "Eu dirigi e o levei por todo o
caminho a Baden esta tarde."
Todos na sala pareceram relaxar. “É por isso que você está tão atrasado.” Graham disse, sua
voz engrossada com o alivio. Ele retornou para seu banco e bateu forte no bar com as juntas
dos dedos. Bast lhe deu outra cerveja.
Carter fez uma careta. "Não tão tarde assim", reclamou. "Eu gostaria de vêlo fazer todo o
caminho de Baden e de volta agora, que é mais ou menos 40 milhas ..."
O Velho Cob pôs a mão no ombro do homem. “Nem. Não é assim.” Ele disse, dirigindo seu
amigo para o bar. “Nós só estávamos um pouco assustados. Você provavelmente salvou a vida
do tolo do Jessom por tirálo daqui.” Ele apertou os olhos para ele. “Apesar de que eu te disse
que você não deveria estar na estrada sozinho esse dia...”
O estalajadeiro buscou uma tigela para Carter enquanto Bast saiu para cuidar de seu cavalo.
Enquanto ele comia, seus amigos disseramlhe as fofocas do dia pouco a pouco.
“Bem explicado.” disse Carter. ”Jessom apareceu fedendo como um beberrão e aparentava
como se tivesse sido comido por doze demônios diferentes. Me pagou para levalo ao Salão
Municipal e ele recebeu o soldo do rei ali mesmo.” Carter deu um gole em sua cerveja. “Então
me pagou para levalo direto a Baden. Não queria nem parar em sua casa para pegar roupas
ou qualquer outra coisa.”
“Não há muita necessidade nisso.” Disse Shep. ”Eles vão vestilo e alimentalo no exercito do
rei.”
Graham deixou escapar um grande bocejo. ”Isso foi próximo ao acidente. Você pode imaginar o
que aconteceria se o juíz viesse atrás de Martin? "
Todos ficaram em silencio por um momento imaginando a confusão que viria se um oficial da
Lei da Coroa fosse atacado ali na cidade. O aprendiz do ferreiro olhou para ele, “E quanto à
família de Jessom?” ele perguntou bem preocupado. “O Martin irá atrás deles?”
Os homens do bar balançaram suas cabeças juntamente. “Martin é doido,” disse o Velho Cob.
”Mas ele não é desse tipo. Não vai atrás de mulheres ou de criancinhas.”
“Eu ouvi que ele bateu em um latoeiro porque ele estava avançando na pequena Jenna,”
Graham disse.
“Há verdade nisso,” O velho Cob disse suavemente. “Eu vi.”
Todos na sala viraramse para olhálo, surpresos. Eles conheciam Cob a vida toda e ouviram
todas suas histórias. Até a mais entediante delas já foi contada três ou quatro vezes ao longo
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dos anos. O pensamento que ele poderia ter guardado alguma coisa era... Bem... Quase
inimaginável.
“Ele estava todo cheio de mãos com a pequena Jenna,” disse Cob não tirando os olhos de sua
cerveja. “E ela ainda mais nova naquela época, lembremse.” Ele pausou por um momento,
então suspirou. “Mas eu ainda era velho e... bem...Eu sabia que aquele latoeiro me daria uma
surra se eu tentasse parálo. Eu podia ver o plano dele em seu rosto..” O velho suspirou. “Eu
não tenho orgulho disso.”
Cob olhou com um pequeno sorriso perverso. “Então Martin virou a esquina,” ele disse. “Isso foi
atrás da casa do velho Cooper, lembramse? E Martin olhou para o companheiro e Jenna, que
não estava chorando nem nada, mas ela obviamente não estava feliz. E o latroeiro estava a
segurando pelo pulso... "
Cob balançou sua cabeça. “Então ele bateu nele. Era como um martelo batendo um presunto.
Bateu direito para a rua. Dez metros, mais ou menos. Então Martin olhou para Jenna, que
estava chorando um pouquinho então. Mais supresa do que qualquer outra coisa. E Martin
emperrou sua bota nele. Só uma vez. Não tão forte quanto ele podia, contudo. Acho que ele
estava só acertando as contas em sua cabeça. Como se ele fosse agiota acertando os lados
de sua balança.
“Aquele cara não era propriamente um latoeiro.” Jake disse. “Eu me lembro dele.”
“E eu ouvi coisas sobre o padre,” Graham acrescendo.
Alguns outros concordaram sem dizer uma palavra.
“E se Jessom voltar?” O aprendiz do ferreiro perguntou. “Eu ouvi que alguns homens ficam
bêbados e recebem o soldo, então voltam covardemente e pulam dos trilhos quando ficam
sóbrios.”
Todos pareciam estar considerando isso. Não era um pensamento difícil para qualquer um
deles. A banda da guarda do rei tinha vindo pela cidade no mês passado e colocaram um aviso,
anunciando uma recompensa por desertores.
“Por Tehlu,” Shep disse severamente com sua caneca quase vazia. "Isso não seria um grande
provocação à realeza para uma confusão?"
“Jessom não vai voltar,” Bast disse com desdém. Sua voz tinha certo tom de certeza que todos
voltaram os olhares para ele curiosamente.
Bast arrancou um pedaço de pão e coloqueo em sua boca antes de perceber que ele era o
centro das atenções. Ele engoliu desajeitadamente e fez um gesto amplo com as duas mãos.
"O que?” ele perguntou, rindo. “Vocês voltariam sabendo que o Martin estaria a sua espera?”
Houve um coro de grunhidos com negação e cabeças balançando.
“Você tem que ser um tipo especial de estúpido para detonar a destilaria de Martin,” disse o
Velho Cob. “ Talvez oitos anos sejam o suficiente para Martin se acalmar um pouco.” Shep
disse.
“Provavelmente não. “Jake disse.
Mais tarde, depois que os clientes se foram, Bast e o dono da pousada sentaramse na
cozinha, fazendo seu próprio jantar do que sobrou do guisado e meio pedaço de pão.
“Então o que você aprendeu hoje, Bast?” o dono da pousada perguntou.
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Bast deu um grande sorriso. “Hoje, Reshi, eu descobri onde Emberlee toma seu banho!!”
O estalajadeiro inclinou a cabeça, pensativo. “Emberlee? A filha do Alards?”
“Emberlee Ashton!” Bast jogou seus braços para cima e fez um som exasperado. “Ela é
apenas a terceira garota mais bonita em 20 milhas, Reshi!!”
“Ah” disse o dono da pousada, com um sorriso honesto oscilando em seu rosto pela primeira
vez naquele dia.
“Você me apontou ela”.
Bast sorriu “Eu te levo lá amanhã” ele disse ansiosamente. “Eu não sei se ela toma banho lá
todos os dias, mas vale a aposta. Ela é doce como creme e tem um quadris largos.” Seu
sorriso cresceu maliciosamente. ”Ela é uma leiteira, Reshi.” Ele repetiu com bastante enfase.
“Uma leiteira!”
O dono da pousada balançou a cabeça, mesmo que seu próprio sorriso tivesse se espalhado
impotente em seu rosto. Finalmente, ele deu uma risada e levantou sua mão. “Você pode me
mostrala alguma hora quando ela estiver vestida,” disse ele incisivamente. “Isso seria
agradavel.” Bast deu um suspiro de desaprovação. “Seria muito bom se você saisse um pouco,
Reshi.”
O estalajadeiro deu os ombros. "É possível", disse ele enquanto ele cutucava ociosamente seu
guisado.
Eles comeram em silencio por um tempo. Bast tentou pensar em alguma coisa para dizer.
“Eu peguei as cenouras, Reshi,” Bast disse enquanto ele terminava o guisado e despejava o
resto fora da chaleira.
“Antes tarde do que nunca, eu suponho.” Disse o dono da pousada com uma voz apática e
cinza. “Usaremos elas amanhã.”
Bast se mexeu na cadeira, constrangido “Receio que as perdi depois.”
Estalajadeiro disse numa voz apática e cinza. "Não se preocupe com elas, Bast." disse ele
timidamente. Isso arrancou outro sorriso cansado do estalajadeiro. Seus olhos se estreitaram,
então, focando na mão de Bast que segurava uma colher. "O que aconteceu com sua mão?"
Bast olhou para os machucados em sua mão, que não estavam sangrando mais estavam
esfoladas bem gravemente.
“Eu cai da árvore.” Disse Bast. Não mentindo, mas também não respondendo a pergunta. Era
melhor não mentir sem rodeios. Mesmo cansado e sem brilho, o seu mestre não era um
homem fácil de enganar.
“Você deveria ser mais cuidadoso, Bast” disse o dono da pousada, cutucando com indiferença
sua comida. ”E com tão pouco que se tem para fazer por ai, seria bom você gastar seu tempo
com seus estudos.”
“Eu aprendi muitas coisas hoje, Reshi.” Bast protestou.
O dono da pousada se sentou, olhando mais atentamente “Sério?” ele disse. “Então me
impressione.”
Bast pensou por um momento. "Nettie Williams encontrou uma colméia de abelhas selvagens
hoje", disse ele. "E ela conseguiu pegar a rainha ..."