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Direito Constitucional STF
Direito Constitucional STF
DIREITO CONSTITUCIONAL
O art. 38 da Lei 8.880/94 previu que a URV deveria ser utilizada como parâmetro de
cálculo dos índices de correção monetária nos dois primeiros meses de implantação do
Plano Real.
As pessoas que tinham contratos em vigor e que haviam sido celebrados antes da Lei
8.880/94 começaram a questionar a aplicação imediata deste dispositivo. Alegaram que a
sua aplicação aos contratos em vigor seria inconstitucional por violar o direito adquirido
(art. 5º, XXXVI, da CF/88).
O STF não concordou com essa tese e decidiu que:
É constitucional o art. 38 da Lei 8.880/94 e que a sua aplicação imediata para os contratos
em vigor não violou a garantia do “direito adquirido”, prevista no art. 5º, XXXVI, da
Constituição Federal.
Não é possível opor a cláusula de proteção ao direito adquirido ou ato jurídico perfeito
em face da aplicação imediata de normas que tratam de regime monetário, as quais
possuem natureza estatutária e institucional, como é a situação daquelas responsáveis por
substituir uma moeda por outra.
As normas que tratam do regime monetário - inclusive, portanto, as de correção monetária
-, têm natureza institucional e estatutária, insuscetíveis de disposição por ato de vontade,
razão pela qual sua incidência é imediata, alcançando as situações jurídicas em curso de
formação ou de execução.
STF. Plenário. ADPF 77/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 16/5/19 (Info 940).
STF. 1ª T. RE 307108/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, j.
12/11/19 (Info 959).
OBS:
Por que a autora não propôs uma ADC? Porque o art. 38 da Lei nº 8.880/94 era uma regra
transitória, que somente produziu seus efeitos em relação aos dois primeiros meses de
implementação do Plano Real. Segundo a jurisprudência do STF, não cabe ADI/ADC tendo
como objeto lei revogada ou que tenha tido a sua eficácia exaurida. No caso, a eficácia do art.
38 já estava exaurida, de sorte que não caberia ADC. Assim, o único instrumento de controle
concentrado passível de ser manejado em face do art. 38 era a arguição de descumprimento
de preceito fundamental, que possui a característica de ser subsidiária (art. 4º, § 1º, da Lei nº
9.882/99). Nas palavras do STF: “O requisito da subsidiariedade está presente, visto que se
questiona preceito de natureza eminentemente transitória, com efeitos exauridos no momento do
ajuizamento da ação. É incabível outro instrumento de controle concentrado capaz de solver a
controvérsia de forma ampla, geral e imediata”.
Cabe ADPF para declarar a constitucionalidade de dispositivo de lei cuja
eficácia já foi exaurida. Dado o seu perfil subsidiário, a arguição de
descumprimento de preceito fundamental se apresenta como medida processual
mais adequada para afirmar a constitucionalidade do art. 38 da Lei 8.880/94,
dispositivo de natureza transitória e de eficácia já exaurida que
instrumentalizou a instituição do Plano Real. STF. Plenário. ADPF 77/DF, Rel.
Min. Dias Toffoli, j. 16/5/19 (Info 940).
1.2. DIREITO À SAÚDE: Pulverização aérea de inseticida contra Aedes aegypti precisa
de autorização prévia de autoridades sanitária e ambiental e comprovação científica da
eficácia da medida – (Info 951)
O art. 1º, § 3º da Lei 13.301/016 prevê, como uma das medidas para combater o Aedes
aegypti, que o poder público fica autorizado a fazer a pulverização, por meio de
aeronaves, de produtos químicos para matar o mosquito:
§ 3º São ainda medidas fundamentais para a contenção das doenças causadas
pelos vírus de que trata o caput:
IV - permissão da incorporação de mecanismos de controle vetorial por meio
de dispersão por aeronaves mediante aprovação das autoridades sanitárias e
da comprovação científica da eficácia da medida.
O STF deu intepretação conforme a esse dispositivo dizendo que, além da comprovação
científica e da aprovação das autoridades sanitárias (mencionadas expressamente no texto
da lei), é necessário também que haja a aprovação das autoridades ambientais. A
aprovação das autoridades sanitárias e ambientais competentes e a comprovação científica
da eficácia da medida são condições prévias e inafastáveis à incorporação de mecanismo
de controle vetorial por meio de dispersão por aeronaves.
STF. Plenário. ADI 5592/DF, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, j.
11/9/19 (Info 951).
1.4. SAÚDE: Fornecimento pelo Poder Judiciário de medicamentos não registrados pela
ANVISA – (Info 941) – IMPORTANTE!!! – REPERCUSSÃO GERAL!!!
1.5. DIREITOS POLÍTICOS: A suspensão de direitos políticos prevista no art. 15, III, da
CF, aplica-se tanto para condenados a penas privativas de liberdade como também a penas
restritivas de direitos – (Info 939) - REPERCUSSÃO GERAL!!!
A suspensão de direitos políticos prevista no art. 15, III, da Constituição Federal, aplica-se
no caso de substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos.
Havendo condenação criminal transitada em julgado, a pessoa condenada fica com seus
direitos políticos suspensos tanto no caso de pena privativa de liberdade como na
hipótese de substituição por pena restritiva de direitos. Veja o dispositivo constitucional:
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos
casos de:
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;
STF. Plenário. RE 601182/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 8/5/2019 (repercussão geral) (Info 939).
OBS:
Religiões de matriz africana: É uma nomenclatura utilizada para designar as religiões que
tiveram origem ou buscaram inspiração nas religiões tradicionais africanas. A história das
religiões de matriz africana está diretamente relacionada com a escravidão no Brasil,
quando escravos negros chegaram ao país vindos da África e trouxeram seu idioma,
conhecimentos, tradições e religiões. Os adeptos dessas religiões sempre sofreram com o
preconceito de muitas pessoas com relação às suas práticas religiosas. Podemos citar os
seguintes exemplos de religiões de matriz africana: Candomblé, Cabula, Catimbó, Umbanda,
Quimbanda, Xambá e Omolocô.
ADI: O MP do Rio Grande do Sul ingressou com ADI no TJ/RS alegando que esse parágrafo
único seria inconstitucional tanto sob o ponto de vista formal como material. Sob o aspecto
formal, a lei teria violado a competência da União para legislar sobre direito penal (art. 22,
I, da CF/88). Isso porque este art. 2º, parágrafo único, da Lei estadual teria criado uma causa
excludente de ilicitude para afastar a incidência de crime ambiental. Além disso, haveria
inconstitucionalidade material pela violação ao art. 19, I, da CF/88 considerando que a lei
estadual somente permitiu o sacrifício de animais nos cultos de matriz africana, deixando
de fora da regra os cultos de outras religiões:
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o
funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de
dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse
público;
A questão chegou até o STF que respondeu ao seguinte questionamento: essa lei é
constitucional? SIM.
Lei estadual não tratou sobre direito penal: A Lei do Estado do Rio Grande do Sul não tratou
sobre matéria penal. A Lei 11.915/03, do RS, instituiu o Código Estadual de Proteção aos
Animais, ou seja, um diploma que estabelece regras de proteção à fauna, define conceitos e
afasta a prática de determinadas condutas. Não há, portanto, nenhuma matéria criminal
envolvida, razão pela qual não houve usurpação de competência da União. O § único do
art. 2º da Lei prevê uma hipótese de exclusão de responsabilidade administrativa na
hipótese de abate de animais em cultos religiosos, que em nada se relaciona com a
excludente de ilicitude penal. Em nenhum momento a lei estadual fala em crime ou na sua
exclusão.
Lei estadual não violou competência da União para editar normas gerais de proteção ao
meio ambiente: A competência para legislar sobre proteção da fauna e do meio ambiente em
geral é concorrente, estando dividida entre a União, Estados, DF e Municípios (art. 24, VI c/c
art. 30, I, da CF/88). Logo, compete à União editar normas gerais sobre o tema, cabendo ao
Estado suplementar essa legislação federal (art. 22, § 2º). Vale ressaltar que a norma editada
pelo Estado não contraria aquilo que está previsto nas normas gerais da União, sob pena de
ser inconstitucional. No caso concreto, o STF considerou que o art. 2º, § único, da Lei gaúcha
não ofendeu a competência da União para editar normas gerais de proteção do meio
ambiente. Isso porque não existe lei federal tratando sobre o sacrifício de animais com
finalidade religiosa. Logo, a lei estadual, ao tratar sobre o tema, não infringiu normas gerais
da União. A Lei de Crimes Ambientais (Lei federal 9.605/98) foi editada para tutelar a fauna
silvestre, especialmente em atividades de caça. Ela não tratou, nem mesmo indiretamente,
sobre imolação de animais em custos religiosos. Logo, percebe-se uma omissão da União
em editar normas gerais sobre esse tema específico (sacrifício de animais em rituais
religiosos). A omissão da União na edição de normas gerais faz com que o Estado-membro
tenha liberdade para estabelecer regras a respeito, observado o § 3º do art. 24 da CF/88:
Art. 24 (...)
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a
competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
Vale ressaltar que, apesar de não ter força de lei ordinária, o Ministério da Agricultura
possui a Instrução Normativa nº 3, de 17/01/2000, que regulamenta os métodos de
insensibilização para o abate humanitário de animais de açougue. Em seu artigo 11.3, o
regulamento expressamente prevê que “é facultado o sacrifício de animais de acordo com
preceitos religiosos, desde que sejam destinados ao consumo por comunidade religiosa que
os requeria ou ao comércio internacional com países que façam essa exigência, sempre
atendidos os métodos de contenção dos animais.”
Isso porque se deve evitar que a tutela de um valor constitucional relevante (meio
ambiente) aniquile o exercício de um direito fundamental (liberdade de culto), revelando-se
desproporcional impedir todo e qualquer sacrifício religioso quando diariamente a
população consome carnes de várias espécies. Além disso, deve-se reforçar o argumento de
que os animais sacrificados nestes cultos são abatidos de forma rápida, mediante degola, de
sorte que a realização dos rituais religiosos com estes animais não se amolda ao art. 225, §
1º, VII, que proíbe práticas cruéis com animais.
Por que fazer essa exigência? Qual a razão disso? A exigência desse registro é para garantir o
respeito ao princípio da unicidade sindical, adotado pela CF/88, em seu art. 8º, II, segundo
o qual é proibida a criação de mais de um sindicato na mesma base territorial. Assim, o
Ministério do Trabalho controla para que não exista mais de um sindicato, da mesma
categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial. Nesse sentido:
Súmula 677-STF: Até que lei venha a dispor a respeito, incumbe ao Ministério
do Trabalho proceder ao registro das entidades sindicais e zelar pela
observância do princípio da unicidade.
1.8. DIREITOS SOCIAIS: Não há vedação para a fixação de piso salarial em múltiplos do
salário mínimo, desde que inexistam reajustes automáticos – (Info 929)
Não há vedação para a fixação de piso salarial em múltiplos do salário mínimo, desde que
inexistam reajustes automáticos. Isso não configura afronta ao art. 7º, IV, da CF/88 nem à
SV 4.
STF. 1ª Turma. RE 1077813 AgR/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 5/2/19 (Info 929).
STF. 2ª Turma. ARE 1110094 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 29/6/18.
Como a decisão da Justiça do Trabalho determina que a atualização salarial ficará vinculada
aos termos do que foi definido em acordo ou convenção coletiva, ela não afronta o art. 7º,
IV, da CF/88 e a SV 4, considerando que não utiliza o salário mínimo como “indexador de
base de cálculo de vantagem”, cuja prática é vedada pela SV nº 4.
Em suma, não viola o art. 7º, IV, da CF/88 o estabelecimento de piso salarial em múltiplos
do salário mínimo do valor à época da contratação, desde que o mesmo não seja indexador
para reajustes futuros:
(...) A decisão que aplica o piso salarial estabelecido no art. 5º da Lei 4.950/66,
mas ressalva a vedação de vinculação aos futuros aumentos do salário mínimo,
está em consonância com o enunciado da Súmula Vinculante 4 e com a decisão
proferida na ADPF 53 MC. (...) STF. 1ª Turma. Rcl 19130 AgR, Rel. Min. Luiz
Fux, julgado em 03/03/2015.
Segundo restou apurado, atos de manifestação de pensamento e mesmo aulas teriam sido
interrompidos ou proibidos.
Art. 37 da Lei 9504/97: Os juízes e TRE’s deferiram essas ordens de busca e apreensão
alegando que o art. 37 da Lei 9.504/97 proíbe propaganda eleitoral em universidades
públicas:
Art. 37. Nos bens cujo uso dependa de cessão ou permissão do poder público,
ou que a ele pertençam, e nos bens de uso comum, inclusive postes de
iluminação pública, sinalização de tráfego, viadutos, passarelas, pontes, paradas
de ônibus e outros equipamentos urbanos, é vedada a veiculação de
propaganda de qualquer natureza, inclusive pichação, inscrição a tinta e
exposição de placas, estandartes, faixas, cavaletes, bonecos e assemelhados.
§ 1º A veiculação de propaganda em desacordo com o disposto no caput deste
artigo sujeita o responsável, após a notificação e comprovação, à restauração do
bem e, caso não cumprida no prazo, a multa no valor de R$ 2.000,00 (dois mil
reais) a R$ 8.000,00 (oito mil reais).
§ 2º Não é permitida a veiculação de material de propaganda eleitoral em bens
públicos ou particulares, exceto de:
I - bandeiras ao longo de vias públicas, desde que móveis e que não dificultem o
bom andamento do trânsito de pessoas e veículos;
II - adesivo plástico em automóveis, caminhões, bicicletas, motocicletas e janelas
residenciais, desde que não exceda a 0,5 m² (meio metro quadrado). (...)
ADPF: A PGR ajuizou ADPF contra esse conjunto de atos do Poder Público (decisões
judiciais e ações policiais). Alegou que tais apreensões ultrapassaram os limites de
fiscalização do processo eleitoral e afrontaram o preceito fundamental da liberdade de
expressão, na qual se incluem a livre manifestação do pensamento e de cátedra e a
autonomia universitária.
A autonomia universitária, por sua vez, está consagrada no caput do art. 207 CF/88:
Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica,
administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio
de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.
Pediu, portanto, a declaração de nulidade desses atos e que fosse garantido o direito à
liberdade de expressão no ambiente universitário.
Primeira pergunta: cabe ADPF neste caso? SIM. A arguição de descumprimento de preceito
fundamental é uma ação prevista no art. 102, § 1º, da CF/88:
CF/Art. 102 (...)
§ 1º A arguição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta
Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei.
Foi editada a Lei 9.882/99 para regulamentar a ADPF. Trata-se de um instrumento de
controle concentrado de constitucionalidade. A competência para julgar a ADPF de que
trata o art. 102, § 1º da CF/88 é do STF. As hipóteses de cabimento da ADPF estão previstas
no art. 1º da Lei nº 9.882/99:
Art. 1º A arguição prevista no § 1º do art. 102 da Constituição Federal será
proposta perante o Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou
reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público.
Parágrafo único. Caberá também arguição de descumprimento de preceito
fundamental:
I - quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei
ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à
Constituição;
E quanto ao mérito, o STF concordou com o pedido da PGR? SIM. Os atos questionados
violam:
Os princípios constitucionais que asseguram a liberdade de manifestação do
pensamento e
As garantias inerentes à autonomia universitária.
Por isso, toda interpretação de norma jurídica que colida com qualquer daqueles
princípios ou que restrinja ou impeça a manifestação da liberdade é inconstitucional e,
portanto, inválida.
Essa nulidade é ainda mais grave porque a restrição à liberdade de manifestação ocorreu
dentro do ambiente universitário, onde vigora, por força constitucional, a liberdade de
informação, ensino e aprendizagem, além da autonomia universitária.
Finalidade do art. 37 da Lei 9.504/97: A finalidade desta norma é impedir o abuso do poder
econômico e político e preservar a igualdade entre os candidatos no processo. A norma
visa, portanto, resguardar a liberdade do cidadão, o amplo acesso às informações, para que
ele decida conforme sua livre convicção, sem cerceamento direto ou indireto a seu direito
de escolha. Assim, esse artigo não proíbe o exercício das liberdades individuais e públicas,
ou seja, não veda que os cidadãos divulguem suas ideias, opiniões, ideologias. Da mesma
forma, não proíbe as atividades de docência, que devem ser exercidas com liberdade.
Autonomia universitária: A CF/88 assegurou às universidade autonomia para que elas, de
forma discricionária, possam fazer suas escolhas para o melhor desempenho de suas
funções. O pluralismo de ideias está na base da autonomia universitária como extensão do
princípio fundante da democracia brasileira, previsto no art. 1º, V, da CF/88. As
universidades são, portanto, “espaços de liberdade e de libertação pessoal e política”.
Valor cobrado não é tributo; logo, não há violação ao princípio da legalidade tributária: A
quota mensal escolar cobrada dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio
Militar do Brasil não possui natureza tributária. Não se trata de tributo porque o ingresso
no Sistema de Ensino do Exército é facultativo e baseado em critérios meritocráticos.
Assim, o vínculo jurídico do aluno com a instituição possui natureza contratual, de forma
que o valor pago por ele não é tributo. Vale a pena relembrar que o conceito de tributo,
previsto no art. 3º do CTN, exige compulsoriedade e, portanto, exclui de sua abrangência os
valores pagos a título de contrato (ajuste de vontades):
Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo
valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída
em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.
Uma pergunta: existem alguns colégios militares da Polícia Militar, ou seja, colégios
estaduais mantidos e organizados pela Polícia Militar. É válida a cobrança de mensalidade
ou de outros valores por parte desses colégios? O STF não enfrentou este tema nesta ADI
5082/DF. Os Ministérios Públicos, em âmbito estadual, questionam essa cobrança alegando
que ela violaria o princípio da gratuidade. Veremos como os Tribunais irão interpretar o
tema agora com essa decisão do STF. Será necessário analisar o caso concreto para saber se
esses colégios da Polícia Militar gozam das mesmas características dos Colégios Militares do
Exército, inclusive quanto à questão orçamentária.
2) o titular deverá se afastar do mandato seis meses antes das eleições: Ex:
Auricélio era Prefeito e renunciou ao cargo seis meses antes das eleições a fim
de permitir que seu cunhado Hélio (que é parente por afinidade em segundo
grau) fosse candidato ao mesmo cargo.
Terceiro mandato no mesmo núcleo familiar: O TSE considerou que, se fosse permitido que
Hélio continuasse no cargo de Prefeito e exercesse o mandato de 2017 a 2020, isso significaria
o terceiro mandato consecutivo do mesmo núcleo familiar para o mesmo cargo. Para o TSE,
ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à
conclusão sobre qual foi a intenção do legislador constituinte: proibir que pessoas do mesmo
núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder
Executivo. Em outros termos, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse
três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente. Quando Hélio foi
eleito em 2012 e passou a exercer o mandato em 2013, este foi o segundo mandato
consecutivo de Prefeito daquele grupo familiar. Mesmo sendo uma outra pessoa, é como se
fosse a reeleição de Auricélio. O mandato de 2013-2016 desempenhado por Hélio é como se
fosse o segundo mandato de Auricélio. Logo, já chega. Não pode um terceiro consecutivo.
Obs1: quando falamos em “núcleo familiar” aqui estamos nos referindo ao cônjuge e aos
parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção (art. 14, § 7º).
Situação de Hélio foi parecida com o caso Garotinho e Rosinha: A situação acima exposta foi
semelhante ao que aconteceu no Governo do RJ envolvendo Anthony Garotinho e sua esposa
Rosinha. Em 1998, Garotinho foi eleito Governador do RJ. No final do seu 1º mandato (em
2002), ele renunciou ao cargo para se desincompatibilizar e concorrer à Presidência da
República. Sua esposa, Rosinha, candidatou-se ao cargo de Governador na eleição de 2002,
tendo sido eleita. O TSE considerou que Rosinha poderia concorrer e assumir o cargo porque
seu marido havia renunciado e ainda estava no 1º mandato. A lógica utilizada pelo TSE foi a
seguinte: ora, se o próprio Garotinho poderia concorrer novamente ao cargo de Governador,
não haveria sentido em se negar à sua esposa o direito de disputar a eleição. Vale ressaltar,
no entanto, que ao ganhar a eleição, é como se Rosinha estivesse exercendo o 2º mandato
consecutivo. Logo, em 2006, ele não pode concorrer novamente ao Governo. Em suma, este
núcleo familiar foi eleito Governador em 1998 e reeleito em 2002, não podendo figurar em
um terceiro mandato consecutivo.
O STF concordou com o argumento de Hélio? A proibição de que um mesmo núcleo familiar
exerça três mandatos consecutivos deve ser afastada se um desses mandatos é apenas um
mandato-tampão? NÃO. O STF concordou com a decisão do TSE e afirmou que a proibição
de que um mesmo núcleo familiar exerça três mandatos consecutivos existe ainda que um
desses mandatos seja apenas mandato-tampão:
A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo
núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a
convocação do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-
tampão. STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, j. 23/10/18
(Info 921).
1.12. DIREITO À EDUCAÇÃO: Lei estadual tratando sobre livre organização de entidades
estudantis – (Info 920)
Nesse sentido, é necessário que a lei que venha a regulamentar o ensino domiciliar prescreva,
dentre outros pontos, o que será essa “frequência”.
E se, atualmente, os pais adotarem o “homeschooling”, o que pode acontecer? Tais pais ou
responsáveis poderão ser responsabilizados civil e até mesmo criminalmente. Isso porque
o ordenamento jurídico, atualmente, obriga que os pais matriculem seus filhos menores nas
escolas de educação formal. Veja:
Código Civil
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal,
o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:
I – dirigir-lhes a criação e a educação;
Como o homeschooling atualmente não é permitido, há quem defenda que os pais que o
praticam cometem o crime de abandono intelectual, tipificado no art. 246 do Código Penal:
Abandono intelectual
Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em
idade escolar:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.
Para Damásio de Jesus, não há crime: Educação domiciliar constitui crime? Jornal Carta
Forense, 1º abr. 2010. Por outro lado, Cleber Masson entende que o homeschooling, enquanto
não houver disciplina legal sobre o assunto, configura o delito do art. 246 do CP (Direito
Penal. São Paulo: Método, 2018, p. 215).
São constitucionais a exigência de idade mínima de quatro e seis anos para ingresso,
respectivamente, na educação infantil e no ensino fundamental, bem como a fixação da
data limite de 31 de março para que referidas idades estejam completas.
STF. Plenário. ADPF 292/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 1º/8/2018 (Info 909).
OBS: O STJ também possui o entendimento de que tais Resoluções são válidas:
As Resoluções nº 01/2010 e nº 06/2010, ambas emanadas da Câmara de Educação Básica do
Conselho Nacional de Educação (CNE/CEB), ao estabelecerem corte etário para ingresso
de crianças na primeira série do ensino fundamental (6 anos completos até 31 de março do
correspondente ano letivo), não incorreram em contexto de ilegalidade (não violaram a
lei). Ao contrário, tais Resoluções encontram respaldo na interpretação conjunta dos arts.
29 e 32 da Lei nº 9.394/96 (LDB).
O Poder Judiciário não pode substituir-se às autoridades públicas de educação para fixar
ou suprimir requisitos para o ingresso de crianças no ensino fundamental, quando os atos
normativos de regência não revelem traços de ilegalidade, abusividade ou ilegitimidade.
STJ. 1ª Turma. REsp 1412704/PE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/12/2014.
Uma decisão judicial determinou a retirada de matéria de “blog” jornalístico, bem como a
proibição de novas publicações, por haver considerado a notícia ofensiva à honra de
delegado da polícia federal.
Essa decisão afronta o que o STF decidiu na ADPF 130/DF, que julgou não recepcionada a
Lei de Imprensa.
A ADPF 130/DF pode ser utilizada como parâmetro para ajuizamento de reclamação que
verse sobre conflito entre a liberdade de expressão e de informação e a tutela das garantias
individuais relativas aos direitos de personalidade.
A determinação de retirada de matéria jornalística afronta a liberdade de expressão e de
informação, além de constituir censura prévia. Essas liberdades ostentam preferência em
relação ao direito à intimidade, ainda que a matéria tenha sido redigida em tom crítico.
O STF assumiu, mediante reclamação, papel relevante em favor da liberdade de
expressão, para derrotar uma cultura censória e autoritária que começava a se projetar no
Judiciário.
STF. 1ª Turma. Rcl 28747/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ ac. Min. Luiz Fux, j.
5/6/18 (Info 905).
Sobre o mesmo tema: STF. 1ª Turma. Rcl 22328/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
6/3/2018 (Info 893).
OBS:
A situação concreta foi a seguinte: Determinado blog publicou matéria jornalística criticando
vazamentos de informações na “Operação Lava-Jato” e os atribuindo a uma Delegada e a
membros do MPF que atuam na força tarefa. A referida Delegada ajuizou ação de
indenização por danos morais acusando o jornalista responsável pelo blog de ter veiculado
matérias jornalísticas supostamente atentatórias a sua honra. A autora, além de requerer
reparação pecuniária pelas alegadas ofensas, postulou, em sede de tutela de urgência, a
retirada das matérias publicadas do blog do jornalista, bem como a proibição de que ele
divulgasse novas matérias acerca de sua atuação na “Operação Lava-Jato”. O juízo do 8ª
Juizado Especial Cível de Curitiba (PR) concedeu liminar determinando a retirada da matéria
jornalística veiculada no blog, sob pena de multa diária. Diante disso, o jornalista ingressou
com reclamação no STF alegando que o magistrado, ao assim agir, teria violado a autoridade
do que decidiu o Tribunal na ADPF 130, que entendeu que a Lei de Imprensa (Lei
5.250/1967) não foi recepcionada pela Constituição de 1988.
A reclamação foi acolhida pelo STF (foi julgada procedente)? SIM. A 1ª Turma do STF julgou
procedente a reclamação. Em matéria de liberdade de expressão, o STF tem aceitado julgar
reclamações mesmo que não tenham correlação direta com o julgado no caso paradigma. A
decisão representa afronta ao julgado na ADPF 130, pois não ficou claro que o intuito do
jornalista tenha sido o de ofender a honra da delegada mediante a divulgação de notícia
sabidamente falsa contra sua honra, mas sim apontar a existência de vazamentos de
informações na Operação Lava-Jato e, para tanto, identificou supostas fontes. A
jurisprudência do STF é no sentido de que deve haver uma maior tolerância quanto às
matérias de cunho potencialmente lesivo à honra de agentes públicos, especialmente
quando existente interesse público, como considera ser o caso do conteúdo das matérias
jornalísticas excluídas do blog. A retirada de matéria divulgada em blog jornalístico exige
uma caracterização inequívoca de comportamento doloso contra alguém. No caso concreto,
houve apenas a divulgação de matéria com críticas à Lava-Jato.
Além disso, o dispositivo impugnado ofende o art. 134 do Pacto de San Jose da Costa Rica
(Convenção Americana sobre Direitos Humanos), segundo o qual o exercício do direito à
liberdade de pensamento e de expressão não pode estar sujeito a censura prévia, mas a
responsabilidades ulteriores.
1.18. SIGILO BANCÁRIO: Dados obtidos com a quebra de sigilo bancário não podem ser
divulgados abertamente em site oficial – (Info 899)
Os dados obtidos por meio da quebra dos sigilos bancário, telefônico e fiscal devem ser
mantidos sob reserva.
Assim, a página do Senado Federal na internet não pode divulgar os dados obtidos por
meio da quebra de sigilo determinada por comissão parlamentar de inquérito (CPI).
STF. Plenário. MS 25940, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/4/18 (Info 899).
1.20. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: A incitação de ódio público feita por líder religioso
contra outras religiões pode configurar o crime de racismo – (Info 893) – IMPORTANTE!!!
Sobre o tema:
As operadoras de plano de saúde que estejam em débito quanto ao
ressarcimento de valores devidos ao SUS podem, em razão da inadimplência,
ser inscritas no Cadin. STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 307.233-RJ, Rel. Min.
Benedito Gonçalves, julgado em 6/6/2013 (Info 524).
Sigilo bancário não se aplica para contas públicas: O sigilo bancário constitui espécie do
direito à intimidade/privacidade, consagrado no art. 5º, X e XII, da CF/88, devendo,
portanto, ser protegido. No entanto, as contas bancárias dos entes públicos, em regra, não
são albergadas pelo direito à intimidade/privacidade e, em consequência, não são
protegidas pelo sigilo bancário. Isso porque, no que tange às contas públicas, vigoram os
princípios da publicidade e da moralidade (art. 37, CF/88). Quando a CF/88 fala em
intimidade e vida privada, ela está se referindo à pessoa humana, aos indivíduos que
compõem a sociedade e às pessoas jurídicas de direito privado. Tais conceitos (intimidade e
vida privada) são inaplicáveis aos entes públicos. Dessa forma, o MP, na investigação de
crimes, possui o poder de requisitar os registros de operações financeiras relacionadas com
recursos públicos movimentados a partir de conta corrente de titularidade do Município.
MP pode requisitar os registros de operações financeiras feitas com recursos públicos, ainda
que isso acabe atingindo indiretamente terceiros beneficiários dos valores: O poder do MP
de requisitar informações bancárias de conta corrente de titularidade do Município
abrange, por extensão, o direito de acesso aos registros das operações bancárias realizadas
por particulares, a partir das verbas públicas creditadas naquela conta. Em outras palavras,
o MP pode, por exemplo, requisitar, sem autorização judicial, os valores que o Município
transferiu para contas de particulares. Ora, de nada adiantaria permitir ao MP requisitar
diretamente os registros das operações feitas na conta bancária da Municipalidade e negar-
lhe o principal: o acesso ao real destino dos recursos públicos, a partir do exame de operações
bancárias sucessivas (v.g., desconto de cheque emitido pela Municipalidade na boca do caixa,
seguido de transferência a particular do valor sacado).
1.24. EDUCAÇÃO: O ensino religioso nas escolas públicas brasileiras pode ter natureza
confessional – (Info 879) – IMPORTANTE!!! – (Anal. Judic./STJ-2018) (MPSC-2019) (MPGO-
2019) (DPESP-2019)
A CF/88 prevê que “o ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos
horários normais das escolas públicas de ensino fundamental.” (art. 210, § 1º).
Diante disso, nas escolas públicas são oferecidas aulas de ensino religioso, normalmente
vinculadas a uma religião específica. É o chamado ensino religioso confessional.
O PGR ajuizou ADI pedindo que fosse conferida interpretação conforme a Constituição
ao art. 33, §§ 1º e 2º da LDB e ao art. 11, § 1º do acordo Brasil-Santa Sé. Na ação, o PGR
afirmava que não é permitido que se ofereça ensino religioso confessional (vinculado a
uma religião específica). Para o autor, o ensino religioso deve ser voltado para a história e
a doutrina das várias religiões, ensinadas sob uma perspectiva laica e deve ser ministrado
por professores regulares da rede pública de ensino, e não por pessoas vinculadas às
igrejas.
O STF julgou improcedente a ADI e decidiu que o ensino religioso nas escolas públicas
brasileiras pode ter natureza confessional, ou seja, pode sim ser vinculado a religiões
específicas.
A partir da conjugação do binômio Laicidade do Estado (art. 19, I) e Liberdade religiosa
(art. 5º, VI), o Estado deverá assegurar o cumprimento do art. 210, § 1º, CF/88, autorizando
na rede pública, em igualdade de condições o oferecimento de ensino confessional das
diversas crenças, mediante requisitos formais previamente fixados pelo Ministério da
Educação.
Assim, deve ser permitido aos alunos, que expressa e voluntariamente se matricularem, o
pleno exercício de seu direito subjetivo ao ensino religioso como disciplina dos horários
normais das escolas públicas de ensino fundamental, ministrada de acordo com os
princípios de sua confissão religiosa, por integrantes da mesma, devidamente
credenciados a partir de chamamento público e, preferencialmente, sem qualquer ônus
para o Poder Público.
Dessa forma, o STF entendeu que a CF/88 não proíbe que sejam oferecidas aulas de uma
religião específica, que ensine os dogmas ou valores daquela religião. Não há qualquer
problema nisso, desde que se garanta oportunidade a todas as doutrinas religiosas.
STF. Plenário. ADI 4439/DF, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 27/9/17 (Info 879).
(MPGO-2019): Segundo jurisprudência recente do STF, o ensino religioso nas escolas
públicas de ensino fundamental, que constituirá disciplina dos horários normais, poderá
ter natureza confessional, na medida que sua matrícula é facultativa nos termos do artigo
210, § 1°, da CF/88. BL: Info 879, STF.
(DPESP-2019-FCC): O art. 19, I, CF/88, proíbe que a União, Estados, Distrito Federal e
Municípios estabeleçam cultos religiosos ou igrejas, que os subvencionem ou mantenham
com eles relação de dependência ou aliança. Ao mesmo tempo, a CF/88 garante a
liberdade de consciência e de crença (art. 5º, VI), bem como assegura que ninguém pode
ser privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou
política (art. 5º , VIII). Tais normas compõem o que se denomina de Estado Laico. Sobre a
laicidade estatal, no julgamento da ADI 4439, entendeu-se que o ensino religioso nas
escolas públicas não viola a laicidade estatal sob o argumento, dentre outros, de que seria
de matrícula facultativa, podendo ser até mesmo confessional, pois a laicidade estatal
tem significado de “neutralidade” e não de “oposição” ou “beligerância” às religiões. BL:
Info 879, STF.
OBS: Apesar de o julgado ter sido publicado na parte de Direito Previdenciário, é inegável a
sua importância no estudo do Direito Constitucional.
Se um brasileiro nato que mora nos EUA e possui o green card decidir adquirir a
nacionalidade norte-americana, ele irá perder a nacionalidade brasileira.
Não se pode afirmar que a presente situação se enquadre na exceção prevista na alínea “b”
do § 4º do art. 12 da CF/88. Isso porque, como ele já tinha o green card, não havia
necessidade de ter adquirido a nacionalidade norte-americana como condição para
permanência ou para o exercício de direitos civis.
O estrangeiro titular de green card já pode morar e trabalhar livremente nos EUA.
Dessa forma, conclui-se que a aquisição da cidadania americana ocorreu por livre e
espontânea vontade.
Vale ressaltar que, perdendo a nacionalidade, ele perde os direitos e garantias inerentes
ao brasileiro nato. Assim, se cometer um crime nos EUA e fugir para o Brasil, poderá ser
extraditado sem que isso configure ofensa ao art. 5º, LI, da CF/88.
Art. 12 (...)
§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em
estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício
de direitos civis;
STF. 1ª Turma. MS 33864/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 19/4/16 (Info 822).
STF. 1ª Turma. Ext 1462/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 28/3/17 (Info 859).
(Anal. Judic./STJ-2018-CESPE): Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal,
brasileiro nato que tiver perdido a nacionalidade poderá ser extraditado. BL: Info 859,
STF.
1.30. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: Pesquisador tem direito de acesso aos áudios das
sessões secretas de julgamento ocorridas no STM durante a época do regime militar – (Info
857)
O STF deferiu mandado de segurança impetrado por pesquisador que queria ter acesso
aos áudios das sessões de julgamento do STM ocorridas na década de 1970, época do
regime militar.
Entendeu-se que a coleta de dados históricos a partir de documentos públicos e registros
fonográficos, mesmo que para fins particulares, constitui-se em motivação legítima a
garantir o acesso a tais informações.
Ocorre que, mesmo com essa decisão judicial, o STM somente autorizou que o
pesquisador tivesse acesso aos áudios das sessões públicas realizadas (na qual havia
leitura do relatório e sustentação oral dos advogados). O Tribunal se negou, contudo, a
fornecer os áudios das sessões secretas, nas quais os votos dos magistrados eram colhidos.
O impetrante ingressou, então, com reclamação, julgada procedente pelo STF.
Ao autorizar a consulta apenas dos registros relacionados com a parte pública das sessões,
o STM violou a decisão do STF, que deu acesso amplo aos áudios das sessões.
Além disso, a recusa do STM está em descompasso com a ordem constitucional vigente,
que garante o acesso à informação como direito fundamental.
O STF concluiu, portanto, que o STM deve permitir o acesso do reclamante a todos os
documentos e áudios das sessões de julgamento, com exceção apenas daqueles que forem
considerados sigilosos no resguardo do interesse público, na defesa da intimidade e para
a proteção da sociedade e do Estado, desde que isso seja motivado de forma explícita e
pormenorizada a fim de que possa ser novamente questionado no STF caso se mostre
indevido.
STF. Plenário. Rcl 11949/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 15/3/2017 (Info 857).
1.31. DIREITO DE RESPOSTA: Sentença que nega direito de resposta por não ter havido
ofensa não ofende a decisão do STF na ADPF 130/DF – (Info 851)
Não cabe reclamação para o STF contra sentença que julgou improcedente pedido de
direito de resposta sob o fundamento de que não houve, no caso concreto, ofensa.
Esta sentença não afronta a autoridade da decisão do STF no julgamento da ADPF 130/DF.
Como a sentença não violou nenhuma decisão do STF proferida em sede de controle
concentrado de constitucionalidade, o que se percebe é que o autor, por meio da
reclamação, deseja que o Supremo examine se a sentença afrontou, ou não, o art. 5º, V, da
CF/88.
Para isso, seria necessário reexaminar matéria de fato, o que não é possível em reclamação,
que se presta unicamente a preservar a autoridade de decisão do STF.
Ademais, isso significaria o exame per saltum, ou seja, "pulando-se" as instâncias
recursais do ato impugnado diretamente à luz do art. 5º, V, CF/88.
STF. 1ª Turma. Rcl 24459 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, j. 13/12/16 (Info 851).
1.32. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: Análise do caso "Jonas Abib" (racismo) – (Info 849) –
IMPORTANTE!!!
Determinado padre escreveu um livro, voltado ao público da Igreja Católica, no qual ele
faz críticas ao espiritismo e a religiões de matriz africana, como a umbanda e o
candomblé.
O MP da Bahia ofereceu denúncia contra ele pela prática do art. 20, § 2º da Lei 7.716/89
(Lei do racismo).
No caso concreto, o STF entendeu que não houve o crime.
A CF/88 garante o direito à liberdade religiosa. Um dos aspectos da liberdade religiosa é o
direito que o indivíduo possui de não apenas escolher qual religião irá seguir, mas
também o de fazer proselitismo religioso.
Proselitismo religioso significa empreender esforços para convencer outras pessoas a
também se converterem à sua religião.
Desse modo, a prática do proselitismo, ainda que feita por meio de comparações entre as
religiões (dizendo que uma é melhor que a outra) não configura, por si só, crime de
racismo.
Só haverá racismo se o discurso dessa religião supostamente superior for de dominação,
opressão, restrição de direitos ou violação da dignidade humana das pessoas integrantes
dos demais grupos. Por outro lado, se essa religião supostamente superior pregar que tem
o dever de ajudar os "inferiores" para que estes alcancem um nível mais alto de bem-estar
e de salvação espiritual e, neste caso não haverá conduta criminosa.
Na situação concreta, o STF entendeu que o réu apenas fez comparações entre as religiões,
procurando demonstrar que a sua deveria prevalecer e que não houve tentativa de
subjugar os adeptos do espiritismo.
Pregar um discurso de que as religiões são desiguais e de que uma é inferior à outra não
configura, por si, o elemento típico do art. 20 da Lei 7.716/89. Para haver o crime, seria
indispensável que tivesse ficado demonstrado o especial fim de supressão ou redução da
dignidade do diferente, elemento que confere sentido à discriminação que atua como
verbo núcleo do tipo.
STF. 1ª Turma. RHC 134682/BA, Rel. Min. Edson Fachin, j. 29/11/16 (Info 849).
Ex: um programa de TV que não exiba cenas de violência, sexo ou uso de drogas é
classificado como "livre para todos os públicos". Se ele tiver cenas de nudez velada,
insinuação sexual, linguagem de conteúdo sexual, simulações de sexo etc., poderá ser
classificado como "recomendado para maiores de 12 anos".
O governo estipulou horários em que cada um desses programas deverá passar de acordo
com a faixa etária que ele foi enquadrado. Ex: o programa livre para todos os públicos poderá
ser exibido em qualquer horário; por outro lado, o programa recomendado para maiores de
12 anos somente podia ser transmitido a partir de 20h.
Quem faz essa classificação? O Ministério da Justiça, por meio de um setor específico que
cuida do assunto. Há uma portaria que regulamenta o tema (Portaria 368/2014-MJ).
Quais os critérios utilizados? Existe uma espécie de "manual" utilizado pelo MJ para fazer
esta classificação. Há, em resumo, três critérios de análise: a) violência; b) sexo e nudez; c)
drogas. A partir daí, o programa pode ser classificado em seis diferentes faixas: livre, 10, 12,
14, 16 ou 18 anos. No rádio e na TV aberta existem horários apropriados para que estes
programas sejam exibidos, de acordo com a faixa etária classificada.
A Constituição Federal trata sobre o assunto? Sim. O tema é tratado em alguns dispositivos
da CF/88. Confira:
Art. 21. Compete à União:
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de
programas de rádio e televisão;
Duplo dever: De acordo com a redação do art. 254 do ECA, as emissoras de rádio e TV
possuíam dois deveres impostos por lei:
1) Avisar, antes de o programa começar, qual é a classificação etária do espetáculo (aquele
famoso aviso: "programa recomendado para todos os públicos" ou "programa recomendado
para maiores de 12 anos");
2) Somente transmitir os programas nos horários compatíveis com a sua classificação etária.
Ex: se o programa foi recomendado para maiores de 12 anos, ele não podia ser exibido antes
das 20h.
ADI: Em 2001, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) ingressou com uma ADI contra o art.
254 do ECA alegando que ele violou o art. 5º, IX (liberdade de expressão), o art. 21, XVI e o
art. 220, caput e parágrafos, da CF/88. Isso porque o art. 254 do ECA extrapolou o que
determina a Constituição Federal, já que impôs que as emissoras de rádio e TV somente
exibissem os programas em determinados horários sob pena de serem punidas
administrativamente.
O STF finalmente enfrentou o tema. O que foi decidido? A ADI foi julgada procedente? SIM.
O STF julgou a ADI procedente e decidiu que: É inconstitucional a expressão “em horário
diverso do autorizado” contida no art. 254 do ECA. STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min.
Dias Toffoli, j. 31/8/2016 (Info 837).
Proteção das crianças e adolescentes: Por outro lado, a criança e o adolescente, pela posição
de fragilidade em que se colocam, devem ser destinatários, tanto quanto possível, de normas
e ações protetivas voltadas ao seu desenvolvimento pleno e à preservação contra situações
potencialmente danosas a sua formação física, moral e mental.
O que fez a CF/88 para compatibilizar esses dois valores? Ela determinou, em seu art. 21,
XVI e art. 220, § 3º, que fosse criado um sistema de classificação indicativa dos espetáculos.
Assim, os programas devem ser classificados de acordo com faixas etárias e essa classificação
deve ser divulgada aos telespectadores a fim de que eles tenham as informações necessárias
para decidir se permitem ou não que as crianças e adolescentes assistam tais programas. No
entanto, em nenhum momento o texto constitucional determinou que as empresas sejam
obrigadas a veicular os programas em determinados horários, sob pena de punição. O
sistema de classificação indicativa foi o ponto de equilíbrio tênue adotado pela CF/88 para
compatibilizar os dois postulados, a fim de velar pela integridade das crianças e dos
adolescentes sem deixar de lado a preocupação com a garantia da liberdade de expressão. A
classificação dos produtos audiovisuais busca esclarecer, informar, indicar aos pais a
existência de conteúdo inadequado para as crianças e os adolescentes. Essa classificação
desenvolvida pela União possibilita que os pais, calcados na autoridade do poder familiar,
decidam se a criança ou o adolescente pode ou não assistir a determinada programação.
Censura prévia: A expressão “em horário diverso do autorizado”, contida no art. 254 do
ECA, embora não impedisse a veiculação de ideias, não impusesse cortes nas obras
audiovisuais, mas tão-somente exigisse que as emissoras veiculassem seus programas em
horário adequado ao público-alvo, implicava verdadeira censura prévia, acompanhada de
elemento repressor, de punição. Esse caráter não se harmoniza com os arts. 5º, IX; 21, XVI; e
220, § 3º, I, todos da CF/88.
Efeito pedagógico: A exibição do aviso de classificação indicativa deve ter apenas efeito
pedagógico, a exigir reflexão por parte do espectador e dos responsáveis. É dever estatal,
nesse ponto, conferir maior publicidade aos avisos de classificação, bem como desenvolver
programas educativos acerca desse sistema. Além disso, o controle pelos pais e responsáveis
sobre os programas assistidos pelas crianças e adolescentes pode ser feito com o auxílio de
meios eletrônicos de restrição de acesso a determinados programas, como já feito em outros
países. Essa tecnologia, inclusive, é de uso obrigatório no Brasil, apesar de ainda não adotada
na prática, conforme previsto no art. 1º da Lei nº 10.359/2001:
Art. 1º Os aparelhos de televisão produzidos no território nacional deverão
dispor, obrigatoriamente, de dispositivo eletrônico que permita ao usuário
bloquear a recepção de programas transmitidos pelas emissoras, concessionárias
e permissionárias de serviços de televisão, inclusive por assinatura e a cabo,
mediante:
I - a utilização de código alfanumérico, de forma previamente programada; ou
II - o reconhecimento de código ou sinal, transmitido juntamente com os
programas que contenham cenas de sexo ou violência.
Outros dispositivos do ECA: O ECA possui outro dispositivo parecido que trata sobre o
tema, mas que não foi impugnado nem declarado inconstitucional. Trata-se do art. 76, que
possui a seguinte redação:
Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibirão, no horário
recomendado para o público infanto juvenil, programas com finalidades
educativas, artísticas, culturais e informativas.
Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado ou anunciado sem aviso
de sua classificação, antes de sua transmissão, apresentação ou exibição.
Este dispositivo não estabelece nenhuma punição para as emissoras de rádio e TV que
exibirem programas fora de horários estipulados pelo Poder Público. Por essa razão, não é
considerado inconstitucional, já que não viola a liberdade de expressão. Cuidado nas
provas porque o enunciado da questão pode tentar confundir você.
São constitucionais o art. 28, § 1º e o art. 30 da Lei nº 13.146/2015, que determinam que as
escolas privadas ofereçam atendimento educacional adequado e inclusivo às pessoas com
deficiência sem que possam cobrar valores adicionais de qualquer natureza em suas
mensalidades, anuidades e matrículas para cumprimento dessa obrigação.
STF. Plenário. ADI 5357 MC-Referendo/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j 9/6/16 (Info 829).
(TJPR-2017-CESPE): A respeito da ordem e dos direitos sociais previstos na CF, assinale
a opção correta: É constitucional norma que obriga escolas privadas a oferecer
atendimento adequado a pessoas com deficiência, vedado o repasse do custo financeiro
da adaptação às mensalidades escolares. BL: Info 829, STF.
1.36. EDUCAÇÃO: Poder Judiciário pode obrigar Município a fornecer vaga em creche –
(Info 827) – (TJPR-2017)
O Poder Judiciário pode obrigar o Município a fornecer vaga em creche a criança de até 5
anos de idade.
A educação infantil, em creche e pré-escola, representa prerrogativa constitucional
indisponível garantida às crianças até 5 anos de idade, sendo um dever do Estado (art. 208,
IV, da CF/88).
Os Municípios, que têm o dever de atuar prioritariamente no ensino fundamental e na
educação infantil (art. 211, § 2º, da CF/88), não podem se recusar a cumprir este mandato
constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi conferido pela CF/1988.
STF. Decisão monocrática. RE 956475, Rel. Min. Celso de Mello, j. 12/5/16 (Info 827).
OBS: Dessa forma, impõe-se ao Poder Público a obrigação constitucional de criar condições
objetivas que possibilitem, de maneira concreta, em favor das crianças até 5 anos de idade o
efetivo acesso e atendimento em creches e unidades de pré-escola, sob pena de configurar-se
inaceitável omissão governamental.
Precedentes: Apesar de a decisão acima ter sido monocrática, existem outros precedentes no
mesmo sentido. É o caso do STF. 2ª Turma. ARE 639337 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, j.
23/8/11.
Repercussão geral: Vale ressaltar que o tema acima ainda será definitivamente dirimido
considerando que a questão está submetida ao STF, em regime de repercussão geral
reconhecida, no AI 761.908, que aguarda julgamento.
O art. 210 da Lei 8112/90, assim como outras leis estaduais e municipais, prevê que o prazo
para a servidora que adotar uma criança é inferior à licença que ela teria caso tivesse tido
um filho biológico. De igual forma, este dispositivo estabelece que, se a criança adotada
for maior que 1 ano de idade, o prazo será menor do que seria se ela tivesse até 1 ano.
Segundo o STF, tal previsão é inconstitucional. Foi fixada, portanto, a seguinte tese:
Os prazos da licença-adotante não podem ser inferiores ao prazo da licença-gestante, o
mesmo valendo para as respectivas prorrogações. Em relação à licença-adotante, não é
possível fixar prazos diversos em função da idade da criança adotada.
STF. Plenário. RE 778889/PE, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 10/3/16 (repercussão geral) (Info
817).
1.39. SIGILO BANCÁRIO: É possível que o Fisco requisite das instituições financeiras
informações bancárias sobre os contribuintes sem intervenção do Poder Judiciário – (Info
815) – IMPORTANTE!!! REPERCUSSÃO GERAL!!! (DPEAP-2018) (TJSC-2019)
O sigilo bancário é protegido pela CF/88? SIM. A CF/88 não utiliza a expressão "sigilo
bancário", mas isso está sim protegido em dois incisos do art. 5º da CF/88:
Art. 5º (...)
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação; (...)
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas,
de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem
judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação
criminal ou instrução processual penal;
Para que haja acesso aos dados bancários (quebra do sigilo bancário), é necessária
autorização judicial? Em regra, sim. Segundo entende o STF, em regra, para que se tenha
acesso aos dados bancários de uma pessoa, é necessário prévia autorização judicial por se
tratar de verdadeira cláusula de reserva de jurisdição.
E no caso do Fisco? A Receita Federal pode requisitar, sem autorização judicial, informações
bancárias das instituições financeiras? SIM. Essa possibilidade está prevista no art. 6º da
LC 105/01, não se exigindo autorização judicial para tanto. Logo, a lei autoriza que a Receita
Federal requisite diretamente das instituições financeiras informações sobre as
movimentações bancárias dos contribuintes.
Este art. 6º da LC 105/01, que autoriza o Fisco a ter acesso a informações bancárias sem
autorização judicial, é compatível com a CF/88? SIM. O STF decidiu que esse dispositivo é
CONSTITUCIONAL.
Mas o art. 6º não representa uma "quebra de sigilo bancário" sem autorização judicial?
NÃO. O STF entendeu que esse repasse das informações dos bancos para o Fisco não pode
ser chamado de "quebra de sigilo bancário". Isso porque as informações são passadas para
o Fisco (ex: Receita Federal) em caráter sigiloso e permanecem de forma sigilosa na
Administração Tributária. É uma tramitação sigilosa entre os bancos e o Fisco e, por não ser
acessível a terceiros, não pode ser considerado violação (quebra) do sigilo.
Assim, na visão do STF, o que o art. 6º da LC 105/01 faz não é quebra de sigilo bancário,
mas somente a “transferência de sigilo” dos bancos ao Fisco. Os dados, até então protegidos
pelo sigilo bancário, prosseguem protegidos pelo sigilo fiscal. Para o STF, o simples fato de
o Fisco ter acesso aos dados bancários do contribuinte não viola a garantia do sigilo
bancário. Só haverá violação se esses dados "vazarem" para pessoas estranhas ao órgão
fazendário. Aí sim haveria quebra do sigilo bancário por ter sido exposta a intimidade do
contribuinte para terceiros. Em casos de vazamento, a LC 105/01 prevê punições ao
responsável, que estará sujeito à pena de reclusão, de 1 a 4 anos, mais multa, além de
responsabilização civil, culminando com a perda do cargo (art. 10).
As Receitas estadual e municipal também poderão requisitar dos bancos informações sobre
movimentações bancárias? SIM. O art. 6º da LC 105/01 fala que estão autorizados a
requisitar as informações bancárias as autoridades e agentes fiscais tributários não apenas
da União (Receita Federal), mas também dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Assim, as Receitas estadual e municipal (Secretarias de Fazenda estadual e municipal)
também poderão requisitar dos bancos, sem autorização judicial, informações sobre
movimentações bancárias sem que isso configure quebra do sigilo bancário. No entanto, para
que os Estados, DF e Municípios possam fazer uso dessa prerrogativa prevista no art. 6º da
LC 105/2001, eles precisarão, antes, editar um ato normativo que regulamente e traga, com
detalhes, todas as regras operacionais para aplicação do dispositivo legal. Neste
regulamento deverão ser previstos sistemas adequados de segurança e registros de acesso
para evitar a manipulação indevida dos dados, garantindo-se ao contribuinte a transparência
do processo. A Receita Federal, atualmente, já pode requisitar tais informações bancárias
porque possui esse regulamento (Decreto 3.724/2001, que "regulamenta o art. 6º da Lei
Complementar nº 105, de 10 de janeiro de 2001, relativamente à requisição, acesso e uso, pela
Secretaria da Receita Federal, de informações referentes a operações e serviços das instituições
financeiras e das entidades a elas equiparadas").
Mudança de entendimento do STF: Vale ressaltar que o julgado acima representa mudança de
entendimento do STF. Isso porque no RE 389808, o STF havia decidido que seria necessário
prévia autorização judicial, de sorte que o art. 6º da LC 105/01 seria inconstitucional.
Posição do STJ: O novo entendimento do STF já era adotado, em parte, pelo STJ, que
possui, inclusive, um Recurso Especial repetitivo sobre o tema (REsp 1.134.665/SP). Na
ocasião, o STJ firmou a tese de que a autoridade fiscal pode solicitar diretamente das
instituições financeiras, ou seja, sem autorização judicial, informações sobre operações
realizadas pelo contribuinte, requerendo, até mesmo, os extratos de contas bancárias. Para
o STJ, no âmbito do processo administrativo fiscal, para fins de constituição de crédito
tributário, é possível a requisição direta de informações pela autoridade fiscal às instituições
bancárias sem prévia autorização judicial. STJ. 1ª Seção. REsp 1134665/SP, Rel. Min. Luiz
Fux, julgado em 25/11/2009 (recurso repetitivo).
É possível que as informações bancárias obtidas pelo Fisco sem autorização judicial sejam
utilizadas em processos criminais ou somente em procedimentos administrativo-
tributários? SIM. Não é nula a condenação criminal lastreada em prova produzida no
âmbito da Receita Federal do Brasil por meio da obtenção de informações de instituições
financeiras sem prévia autorização judicial de quebra do sigilo bancário. Isso porque o STF
decidiu que são constitucionais os arts. 5º e 6º da LC 105/01, que permitem o acesso direto
da Receita Federal à movimentação financeira dos contribuintes. STF. 2ª Turma. RHC
121429/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 19/4/2016 (Info 822).
Quadro-resumo dos órgãos que podem requisitar informações bancárias diretamente (sem
autorização judicial):
SIGILO BANCÁRIO
Os órgãos poderão requerer informações bancárias diretamente das instituições
financeiras?
POLÍCIA NÃO. É necessária autorização judicial.
NÃO. É necessária autorização judicial (STJ HC 160.646/SP, Dje 19/9/11).
Exceção: É lícita a requisição pelo MP de informações bancárias de contas
MP de titularidade de órgãos e entidades públicas, com o fim de proteger o
patrimônio público, não se podendo falar em quebra ilegal de sigilo
bancário (STJ. 5ª Turma. HC 308.493-CE, j. em 20/10/15).
NÃO. É necessária autorização judicial (STF MS 22934/DF, DJe de 9/5/12).
Exceção: O envio de informações ao TCU relativas a operações de crédito
TCU
originárias de recursos públicos não é coberto pelo sigilo bancário (STF.
MS 33340/DF, j. em 26/5/2015).
SIM, com base no art. 6º da LC 105/01. O repasse das informações dos
Receita
bancos para o Fisco não pode ser definido como sendo "quebra de sigilo
Federal
bancário".
Fisco SIM, desde que regulamentem, no âmbito de suas esferas de
estadual, competência, o art. 6º da LC 105/01, de forma análoga ao Decreto Federal
distrital, 3.724/01.
municipal
SIM (seja ela federal ou estadual/distrital) (art. 4º, § 1º da LC 105/01).
CPI
Prevalece que CPI municipal não pode.
Art. 5º da LC 105/01: Acima falamos bastante sobre o art. 6º da LC 105/01, mas vale ressaltar
que o art. 5º da mesma Lei também foi impugnado:
Art. 5º O Poder Executivo disciplinará, inclusive quanto à periodicidade e aos
limites de valor, os critérios segundo os quais as instituições financeiras
informarão à administração tributária da União, as operações financeiras
efetuadas pelos usuários de seus serviços.
§ 1º Consideram-se operações financeiras, para os efeitos deste artigo:
I – depósitos à vista e a prazo, inclusive em conta de poupança;
II – pagamentos efetuados em moeda corrente ou em cheques;
III – emissão de ordens de crédito ou documentos assemelhados;
IV – resgates em contas de depósitos à vista ou a prazo, inclusive de poupança;
V – contratos de mútuo;
VI – descontos de duplicatas, notas promissórias e outros títulos de crédito;
VII – aquisições e vendas de títulos de renda fixa ou variável;
VIII – aplicações em fundos de investimentos;
IX – aquisições de moeda estrangeira;
X – conversões de moeda estrangeira em moeda nacional;
XI – transferências de moeda e outros valores para o exterior;
XII – operações com ouro, ativo financeiro;
XIII - operações com cartão de crédito;
XIV - operações de arrendamento mercantil; e
XV – quaisquer outras operações de natureza semelhante que venham a ser
autorizadas pelo Banco Central do Brasil, Comissão de Valores Mobiliários ou
outro órgão competente.
§ 2º As informações transferidas na forma do caput deste artigo restringir-se-ão
a informes relacionados com a identificação dos titulares das operações e os
montantes globais mensalmente movimentados, vedada a inserção de qualquer
elemento que permita identificar a sua origem ou a natureza dos gastos a partir
deles efetuados.
§ 3º Não se incluem entre as informações de que trata este artigo as operações
financeiras efetuadas pelas administrações direta e indireta da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
§ 4º Recebidas as informações de que trata este artigo, se detectados indícios de
falhas, incorreções ou omissões, ou de cometimento de ilícito fiscal, a autoridade
interessada poderá requisitar as informações e os documentos de que necessitar,
bem como realizar fiscalização ou auditoria para a adequada apuração dos
fatos.
§ 5º As informações a que refere este artigo serão conservadas sob sigilo fiscal,
na forma da legislação em vigor. (...)
Este art. 5º da LC 105/01 permite que o Poder Executivo edite um ato normativo obrigando
as instituições financeiras informem a Receita Federal sempre que houver uma operação
financeira acima de determinado valor. Atualmente, o ato normativo que regulamenta o
art. 5º da LC 105/2001 é a Instrução Normativa RFB nº 1571, de 02 de julho de 2015.
Segundo esta IN, as instituições financeiras são obrigadas a informar para a Receita Federal
sempre que houver uma movimentação financeira acima de:
R$ 2 mil, no caso de pessoas físicas; e
R$ 6 mil reais, no caso de pessoas jurídicas.
Assim, se você faz a transferência de R$ 5 mil reais de sua conta bancária para a de seu pai,
por exemplo, esta informação será repassada pelo banco à Receita Federal. Caso a Receita
Federal considere que você efetuou movimentações bancárias muito superiores à renda que
declarou, para fins de imposto de renda, ela poderá instaurar uma ação fiscal para que você
justifique tais operações (art. 5º, § 4º da LC 105/01), sob pena de ela considerar que você
omitiu receitas.
Desse modo, estes dados são utilizados pelo Fisco para cruzar informações e assim verificar
se há compatibilidade entre os valores movimentados e os dados apresentados na declaração
do IR. Vale ressaltar que os gastos com cartão de crédito também estão abrangidos por este
dever de informar. Assim, se o valor da fatura paga é comunicado à Receita.
O art. 5º da LC 105/2001 foi julgado constitucional pelo STF com base nos mesmos
argumentos acima explicados quanto ao art. 6º.
As hipóteses de inelegibilidade previstas no art. 14, § 7º, da CF, inclusive quanto ao prazo
de seis meses, são aplicáveis às eleições suplementares.
STF. Plenário. RE 843455/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 7/10/15 (repercussão geral) (Info
802).
Para que seja publicada uma biografia NÃO é necessária autorização prévia do indivíduo
biografado, das demais pessoas retratadas, nem de seus familiares. Essa autorização
prévia seria uma forma de censura, não sendo compatível com a liberdade de expressão
consagrada pela CF/88. As exatas palavras do STF foram as seguintes:
“É inexigível o consentimento de pessoa biografada relativamente a obras biográficas
literárias ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária a autorização de pessoas
retratadas como coadjuvantes ou de familiares, em caso de pessoas falecidas ou ausentes”.
Caso o biografado ou qualquer outra pessoa retratada na biografia entenda que seus
direitos foram violados pela publicação, terá direito à reparação, que poderá ser feita não
apenas por meio de indenização pecuniária, como também por outras formas, tais como a
publicação de ressalva, de nova edição com correção, de direito de resposta etc.
STF. Plenário. ADI 4815/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/6/2015 (Info 789).
OBS:
Interpretação literal do art. 20 do CC : As biografias não-autorizadas seriam proibidas, já que
elas constituiriam na divulgação ou publicação da imagem-atributo do biografado sem que
este tenha dado seu consentimento. Diante disso, o biografado poderia, invocando seu direito
à imagem e à vida privada, pleitear judicialmente providências para impedir ou fazer cessar
essa publicação (art. 21 do CC). Em outras palavras, o biografado poderia impedir a
produção da biografia ou, se ela já estivesse pronta, a sua comercialização. O exemplo mais
emblemático de disputa judicial envolvendo o tema ocorreu no caso do cantor Roberto
Carlos, que processou o jornalista e escritor Paulo Cesar de Araújo, autor de sua biografia
não-autorizada chamada de “Roberto Carlos em detalhes” e que havia sido lançada em
dezembro de 2006 pela Editora Planeta, sendo proibida pela Justiça em abril de 2007.
ADI 4815: Em 2012, a Associação Nacional dos Editores de Livros (ANEL) ajuizou uma ADI
no STF com o objetivo de declarar a inconstitucionalidade parcial dos arts. 20 e 21 do CC/02.
O pedido principal da autora foi para que o STF desse interpretação conforme a Constituição
e declarasse que não é necessário o consentimento da pessoa biografada para a publicação ou
veiculação de obras biográficas, literárias ou audiovisuais.
Liberdade de expressão: A CF/88 consagra a liberdade de expressão em seu art. 5º, IX,
prevendo que “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença”. No art. 220, § 2º, a Carta afirma que é “vedada toda e
qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”. Desse modo, uma regra
infraconstitucional (Código Civil) não pode abolir o direito de expressão e criação de obras
literárias.
1.48. ATO JURÍDICO PERFEITO: Aplicação imediata aos contratos em curso da lei que
fixa novos índices de correção monetária – (Info 783)
A Lei 9.069/95 (Lei do Plano Real) estabeleceu, em seu art. 21, que os índices de correção
monetária previstos nos contratos de locação comercial que já existiam antes mesmo da
sua vigência deveriam ser alterados.
Essa medida não violou direito adquirido nem ato jurídico perfeito.
Segundo a jurisprudência do STF, nas situações de natureza contratual, a lei nova pode
incidir imediatamente sobre as cláusulas presentes no contrato, desde que as normas
legais sejam de natureza cogente, ou seja, aquelas cujo conteúdo foge do domínio da
vontade dos contratantes.
Assim, se estivermos diante de um contrato de trato sucessivo e execução diferida, se
surgir uma lei nova que determine, de forma cogente, sua aplicação imediata, os
contratantes não podem invocar direito adquirido ou ato jurídico perfeito com o objetivo
de manter o teor das cláusulas na forma como originalmente foram previstas no contrato.
STF. Plenário. RE 212609/SP, RE 215016/SP, RE 211304/RJ, RE 222140/SP e RE 268652/RJ,
red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, j. 29/4/15 (Info 783).
Súmula Vinculante 40: A contribuição confederativa de que trata o artigo 8º, IV, da
Constituição Federal, só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo.
OBS:
Art. 8º (...)
IV — a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria
profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da
representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista
em lei;
1.50. DIREITO À INFORMAÇÃO: Jornal tem direito de obter informações sobre o uso da
verba indenizatória por senadores – (Info 776) – IMPORTANTE!!!
Determinado jornal requereu ao Senado Federal cópia dos documentos que
demonstrassem como os Senadores utilizaram a verba indenizatória dos seus gabinetes.
A Presidência do Senado negou ao jornal o acesso aos dados sob o fundamento de que os
documentos solicitados seriam sigilosos e que haveria uma invasão à privacidade dos
Parlamentares.
O STF determinou que o Senado forneça cópia dos documentos solicitados.
A verba indenizatória destina-se a custear despesas direta e exclusivamente relacionadas
ao exercício da função parlamentar. Desse modo, tais valores possuem natureza pública,
tanto pelo fato de estarem sendo pagas por um órgão público (Senado Federal) quanto
pela finalidade a que se destinam, estando vinculadas ao exercício da representação
popular (mandato). Sendo a verba pública, a regra geral é a de que as informações sobre o
seu uso são públicas.
A Corte entendeu que o fornecimento de tais informações não acarreta qualquer risco à
segurança nem viola a privacidade ou intimidade dos Parlamentares.
STF. Plenário. MS 28178/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 4/3/2015 (Info 776).
1.51. DIREITOS SOCIAIS: Proibição de que o salário mínimo seja utilizado como
indexador econômico – (Info 774)
Lei estadual criou um benefício assistencial e previu que seu valor seria o do salário
mínimo vigente. Tal previsão, em princípio, viola o art. 7º, IV, da CF/88, que proíbe que o
salário mínimo seja utilizado como referência (parâmetro) para outras finalidades que não
sejam a remuneração do trabalho. No entanto, o STF afirmou que seria possível conferir
interpretação conforme a Constituição e dizer que o dispositivo previu que o valor do
benefício seria igual ao salário mínimo vigente na época em que a lei foi editada (R$ 545).
Após isso, mesmo o salário mínimo aumentando nos anos seguintes, o valor do benefício
não pode acompanhar automaticamente os reajustes realizados sobre o salário mínimo,
considerando que ele não pode servir como indexador.
Em suma, o STF determinou que a referência ao salário mínimo contida na lei estadual
seja considerada como um valor certo que vigorava na data da edição da lei, passando a
ser corrigido nos anos seguintes por meio de índice econômico diverso. Com isso, o
benefício continua existindo e será necessário ao governo do Amapá apenas reajustar esse
valor por meio de índices econômicos.
STF. Plenário. ADI 4726 MC/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 11/2/2015 (Info 774)
A Lei (art. 28, inciso V, da Lei 8.906/94) que veda o exercício da atividade de advocacia por
aqueles que desempenham, direta ou indiretamente, atividade policial, não afronta o
princípio da isonomia.
STF. Plenário. ADI 3541/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 12/2/14 (Info 735)
1.54. NACIONALIDADE: Ministro da Justiça não tem competência para rever ato de
naturalização – (Info 694)
Segundo o art. 12, § 4º, I, da CF/88, após ter sido deferida a naturalização, seu
desfazimento só pode ocorrer mediante processo judicial, mesmo que o ato de concessão
da naturalização tenha sido embasado em premissas falsas (erro de fato).
O STF entendeu que os §§ 2º e 3º do art. 112 da Lei nº 6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro)
não foram recepcionados pela CF/88.
Assim, o Ministro de Estado da Justiça não tem competência para rever ato de
naturalização.
STF. Plenário. RMS 27840/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min.
Marco Aurélio, j. 7/2/13 (Info 694).
É também constitucional fixar cotas para alunos que sejam egressos de escolas públicas.
STF. Plenário. RE 597285/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 9/5/12 (repercussão geral)
(Info 665).
2. ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
2.1. Alteração dos limites de um Município exige plebiscito – (Info 872)
Para a criação de novos Municípios, o art. 18, § 4º da CF/88 exige a edição de uma Lei
Complementar Federal estabelecendo o procedimento e o período no qual os Municípios
poderão ser criados, incorporados, fundidos ou desmembrados.
Como atualmente não existe essa LC, as leis estaduais que forem editadas criando novos
Municípios serão inconstitucionais por violarem a exigência do § 4º do art. 18.
STF. Plenário. ADI 4992/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 11/9/14 (Info 758).
3. COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
3.1. COMPETÊNCIAS MUNICIPAIS: Em regra, a competência para dar nome a
logradouros públicos é do Prefeito, por meio de decreto; contudo, a lei orgânica poderá
prever essa competência também para a Câmara Municipal, por meio de lei, desde que não
exclua a do Prefeito – (Info 954)
É inconstitucional lei estadual que proíbe que as empresas concessionárias cobrem “taxa”
de religação no caso de corte de fornecimento de energia por atraso no pagamento.
Essa lei estadual invadiu a competência privativa da União para dispor sobre energia,
violando, assim, o art. 22, IV, da CF/88. Além disso, também interferiu na prestação de um
serviço público federal, considerando que o serviço de energia elétrica é de competência
da União, nos termos do art. 21, XII, “b”, da CF/88.
Ex: concessionária havia “cortado” (suspendido) o serviço de energia elétrica em razão de
inadimplemento; o consumidor regularizou a situação, quitando os débitos; a
concessionária pode exigir do cliente o pagamento de uma tarifa para efetuar o
religamento do serviço; lei estadual não pode proibir que a concessionária cobre esse
valor.
STF. Plenário. ADI 5610/BA, Rel. Min. Luiz Fux, j. 8/8/19 (Info 946).
OBS:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...)
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
Não confundir: Vale a pena relembrar outro julgado sobre competência legislativa e energia
elétrica para você não confundir no momento da prova:
É constitucional lei estadual que proíbe que as empresas concessionárias
façam o corte do fornecimento de água e luz por falta de pagamento, em
determinados dias. Ex: lei do Estado do Paraná proíbe concessionárias de
serviços públicos de água e luz de cortarem o fornecimento residencial de seus
serviços por falta de pagamento de contas às sextas-feiras, sábados, domingos,
feriados e no último dia útil anterior a feriado. Também estabelece que o
consumidor que tiver suspenso o fornecimento nesses dias passa a ter o direito
de acionar juridicamente a concessionária por perdas e danos, além de ficar
desobrigado do pagamento do débito que originou o corte. STF. Plenário. ADI
5961/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, j.
19/12/2018 (Info 928).
3.4. COMPETÊNCIAS MUNICIPAIS: É constitucional lei municipal que estabelece que
os supermercados ficam obrigados a colocar à disposição dos consumidores pessoal
suficiente nos caixas, de forma que a espera na fila não seja superior a 15 minutos – (Info 942)
3.7. COMPETÊNCIAS DA UNIÃO: CE não pode exigir autorização da ALE para que o
Governador (ou o Vice) se ausente do país qualquer que seja o prazo – (Info 939)
A Lei federal nº 9.478/97 dispõe sobre a política energética nacional e sobre as atividades
relativas ao monopólio do petróleo. Os arts. 48 e 49 dessa lei tratam sobre a distribuição dos
royalties de petróleo, a fim de dar cumprimento ao art. 20, § 1º, da CF/88.
ADI: A Presidente da República ajuizou ADI contra esses dois atos normativos (lei e decreto
estaduais). Na ação, alegou que os atos seriam inconstitucionais porque o art. 22 da CF/88
afirma que compete à União legislar sobre águas, energia e recursos minerais:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...)
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; (...)
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;
O que decidiu o STF? O STF julgou parcialmente procedente a ADI para declarar a
inconstitucionalidade formal dos trechos da Lei e do Decreto que falavam em
“arrecadação”. A Lei baiana permitia que o Estado definisse condições para o recolhimento
(pagamento) das compensações financeiras decorrentes da exploração de recursos hídricos e
minerais em seu território e autorizava que a arrecadação dos valores fosse feita diretamente
por intermédio da Secretaria Estadual da Fazenda. A norma também impunha infrações e
penalidades pelo atraso no pagamento de tais compensações. Ocorre que tais dispositivos
usurparam a competência privativa da União para dispor sobre a exploração de recursos
energéticos, hídricos e minerais.
Condições de recolhimento e repartição são definidas pela União: Conforme vimos acima, o
§ 1º do art. 20 assegura aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e aos órgãos da
administração direta da União participação no resultado da exploração dos recursos hídricos
e minerais. Esses valores possuem natureza jurídica de “receita patrimonial originária”, cuja
titularidade pertence a cada um dos entes federados. Todavia, embora sejam originárias de
Estados e Munícipios, suas condições de recolhimento e repartição são definidas por
regramento da União, uma vez que a ela cabe definir as condições legislativas gerais de
exploração dos potenciais recursos hídricos e minerais (art. 22, IV e XII, da CF/88). A União
possui, na verdade, dupla autoridade normativa na matéria considerando que compete a
ela:
• definir as condições legislativas gerais de exploração de potenciais e recursos hídricos e
minerais (art. 22, IV e XII, da CF/88 – dispositivos transcritos acima); e
• estabelecer as condições contratuais específicas caso essas atividades sejam outorgadas a
particulares (art. 176, da CF/88):
Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais
de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de
exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao
concessionário a propriedade do produto da lavra.
§ 1º A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais
a que se refere o "caput" deste artigo somente poderão ser efetuados mediante
autorização ou concessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou
empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração
no País, na forma da lei, que estabelecerá as condições específicas quando essas
atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas.
§ 2º - É assegurada participação ao proprietário do solo nos resultados da lavra,
na forma e no valor que dispuser a lei. (...)
Logo, o Estado-membro não pode disciplinar como será a arrecadação desses valores de
que trata o § 1º do art. 20 da CF/88.
Lei estadual pode dispor sobre a fiscalização e controle: Por outro lado, não há nenhum
vício na lei estadual que estipula regras para fiscalização e controle desses recursos. Vale
ressaltar, inclusive, que o art. 23, XI, da CF/88 permite aos entes federativos adotar
providências administrativas para registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de
direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios,
possibilitando que tenham controle sobre as quotas-partes repassadas a título de
compensação financeira pela União. Confira:
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios: (...)
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e
exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;
Por esse motivo, o STF afirmou que são constitucionais os dispositivos da Lei estadual que
tratam sobre as providências administrativas que devem ser observados pelas
concessionárias instaladas no Estado.
O que decidiu o STF? Esta Lei é inconstitucional? NÃO. O STF julgou improcedente a ADI,
mantendo a validade da lei.
Lei trata sobre direito do consumidor: De fato, a competência para legislar sobre
“telecomunicações” é privativa da União (art. 22, IV, da CF/88). Ocorre que o STF entendeu
que essa Lei do Estado do Rio de Janeiro versa, na verdade, sobre direito do consumidor,
matéria que se insere no rol de competências legislativas concorrentes:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...)
V - produção e consumo; (...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
Medida de segurança: O objetivo da Lei foi o de conferir uma proteção aos consumidores,
para tentar evitar que eles sejam vítimas de assaltantes que se passam por funcionários das
empresas prestadoras de serviço. Desse modo, a Lei amplia a segurança dos clientes no
momento em que eles receberão prestadores de serviços em casa.
Não há interferência na atividade de telecomunicações: Vale ressaltar, por fim, que a lei
questionada, ao exigir que a empresa comunique ao consumidor os dados do funcionário
que prestará o serviço, não interfere na atividade de telecomunicações propriamente dita.
Logo, não houve ofensa à competência privativa da União.
3.14. É constitucional lei estadual que veda o corte do fornecimento de água e luz, em
determinados dias, pelas empresas concessionárias, por falta de pagamento – (Info 928) –
IMPORTANTE!!!
É constitucional lei estadual que proíbe que as empresas concessionárias façam o corte do
fornecimento de água e luz por falta de pagamento, em determinados dias.
Ex: lei do Estado do Paraná proíbe concessionárias de serviços públicos de água e luz de
cortarem o fornecimento residencial de seus serviços por falta de pagamento de contas às
sextas-feiras, sábados, domingos, feriados e no último dia útil anterior a feriado. Também
estabelece que o consumidor que tiver suspenso o fornecimento nesses dias passa a ter o
direito de acionar juridicamente a concessionária por perdas e danos, além de ficar
desobrigado do pagamento do débito que originou o corte.
O STF entendeu que a referida lei dispõe sobre Direito do Consumidor, de modo que não
há vício formal. Isso porque Direito do Consumidor é matéria de competência
concorrente, nos termos do art. 24, V e VIII, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 5961/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Marco
Aurélio, j. 19/12/18 (Info 928).
OBS:
Direito do Consumidor: O STF entendeu que a referida lei dispõe sobre Direito do
Consumidor, de modo que não há vício formal. Isso porque Direito do Consumidor é
matéria de competência concorrente, nos termos do art. 24, V e VIII, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...)
V - produção e consumo; (...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
Lei do PR não impediu o corte de forma absoluta: Vale ressaltar que a Lei do Estado do
Paraná não impediu, de forma absoluta, que a concessionária fizesse o corte dos serviços em
caso de inadimplemento. Se a lei estadual tivesse feito isso, seria inconstitucional por afrontar
o que prevê a lei federal a respeito do tema. O que a lei estadual fez foi estabelecer que esse
corte não pode ser realizado em determinados dias nos quais ficaria difícil para o consumidor
regularizar a situação, o que agravaria ainda mais a sua situação.
3.15. É inconstitucional lei do Distrito Federal que trate sobre a estrutura e o regime
jurídico da Polícia Civil do Distrito Federal (a competência para isso é da União) – (Notícia
no site) – (Sem Info) – IMPORTANTE!!!
Tais leis são constitucionais? NÃO. É o que foi decidido pelo STF na ADI 3666.
Deve-se reconhecer que o art. 21, XIV, da CF/88, trata tanto de competência administrativa
quanto legislativa, sendo a matéria atribuída, prioritariamente, à União.
As três leis distritais impugnadas, ao criarem cargos em comissão e novos órgãos, também
instituíram novas obrigações pecuniárias a serem suportadas pela União. Ocorre que é
vedado ao Distrito Federal valer-se de leis distritais para instituir encargos financeiros a
serem arcados pela União. Isso reforça a ideia de que a competência para legislar sobre a
Polícia Civil do Distrito Federal não se enquadra na competência concorrente do art. 24,
XVI, da CF/88, sendo, na verdade, competência privativa da União, com base no art. 21, XIV.
Vale ressaltar que a União não tem competência absoluta para legislar sobre todas as
questões relacionadas com a Polícia Civil do Distrito Federal. Em outras palavras, não há
dúvidas de que existe a possibilidade de o Distrito Federal legislar pontualmente sobre sua
própria Polícia Civil. No entanto, o DF não pode legislar sobre a “estrutura e o regime
jurídico” da PC/DF. Se isso fosse permitido, o DF acabaria invadindo a competência da
União prevista no art. 21, XIV, da CF/88.
Modulação dos efeitos: As leis do DF declaradas inconstitucionais eram de 2001, 2002 e 2005,
ou seja, vigoravam há mais de uma década. Diante disso, o STF entendeu que não se
poderia declarar a inconstitucionalidade de tais diplomas com efeitos ex tunc (retroativos).
Assim, o STF, em nome da segurança jurídica, do excepcional interesse social e da boa-fé,
decidiu modular os efeitos da decisão, fixando as seguintes regras:
1) os atos já praticados ficam preservados;
2) a decisão deverá produzir efeitos somente a partir de 24 meses, contados da
data da sessão de julgamento; e
3) o presente acórdão não incide, exclusivamente para efeitos de aposentadoria,
para os servidores que já estejam aposentados e aqueles que implementaram os
requisitos para aposentação até a data da publicação da ata de julgamento.
3.17. Lei estadual pode impor que as agências bancárias instalem divisórias individuais
nos caixas de atendimento – (Notícia no site) - (Sem Info)
É constitucional lei estadual ou municipal que imponha sanções às agências bancárias que
não instalarem divisórias individuais nos caixas de atendimento.
Trata-se de matéria relativa a relação de consumo, o que garante ao Estado competência
concorrente para legislar sobre o tema (art. 24, V, CF/88).
STF. Plenário. ADI 4633/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 10/4/18 (notícia do site).
STF. 1ª Turma. ARE 756593 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 16/12/14.
OBS: O STF já possuía um precedente em sentido semelhante, no entanto, relacionado com
uma lei municipal: STF. 1ª Turma. ARE 756593 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 16/12/14.
A CE/AP trouxe regra dizendo que se o Prefeito ou o Vice-Prefeito for viajar ao exterior,
“por qualquer tempo”, ele deverá pedir uma licença prévia da Câmara Municipal para a
viagem.
O STF considerou inconstitucional a expressão “por qualquer tempo”.
Essa regra de “por qualquer tempo” está em desacordo com o princípio da simetria. Isso
porque a CF/88 somente exige autorização do Congresso Nacional se a ausência do
Presidente da República for superior a 15 dias (art. 49, III).
De igual modo, a Constituição do Estado do Amapá também só exige autorização da
Assembleia Legislativa se a ausência do Governador (ou do Vice) for superior a 15 dias
(art. 118, § 1º).
Logo, a exigência de autorização da Câmara Municipal para que o Prefeito possa se
ausentar por períodos menores que 15 dias quebra a simetria existente em relação ao
Governador.
STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 25/10/18 (Info 921).
Competência privativa da União: A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de
sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, CF/88:
Art. 22 (...)
XX - sistemas de consórcios e sorteios;
A expressão “sistema de sorteios”, constante do art. 22, XX, CF/88, abrange os jogos de
azar, as loterias e similares (STF. Plenário. ADI 3895, Rel. Min. Menezes Direito, j. 4/6/08).
A SV fala em Estado e Distrito Federal. Isso significa que os Municípios poderiam legislar
sobre o assunto? NÃO. Os Municípios também não podem. A instituição (criação) de
sistemas de consórcios e sorteios, como no caso das loterias, é matéria de competência
legislativa privativa da União. Extrapola as competências dos Municípios para legislar sobre
interesse local a instituição de loteria municipal, tendo em vista que a legislação federal não
permite isso.
3.23. Lei estadual que fixa piso salarial profissional violando os requisitos da LC federal
103/2000 é considerada inconstitucional por ofensa ao art. 22, I e parágrafo único da CF/88 –
(Info 919)
A competência para editar lei fixando o piso salarial das categorias profissionais (art. 7º,
V, CF/88) é privativa da União por se tratar de direito do trabalho (art. 22, I).
A União editou a LC federal 103/2000 autorizando que os Estados-membros e o DF editem
leis fixando o piso salarial dos profissionais de acordo com suas realidades regionais.
Ocorre que a União exigiu, dentre outros requisitos, que essa lei seja de iniciativa do
chefe do Poder Executivo estadual (Governador).
Se uma lei estadual/distrital de iniciativa parlamentar fixa o piso salarial, essa lei
ultrapassa os limites impostos pela LC federal 103/2000 e, em última análise, viola
diretamente o art. 22, I e § único, da CF/88, sendo considerada inconstitucional.
Assim, a extrapolação dos limites da competência legislativa delegada pela União aos
Estados e ao Distrito Federal representa a usurpação de competência legislativa da União
para legislar sobre direito do trabalho (art. 22, I e parágrafo único) e, consequentemente, a
inconstitucionalidade formal da lei delegada.
STF. Plenário. ADI 5344 MC/PI, Rel. Min. Edson Fachin, j. 11/10/2018 (Info 919).
OBS:
Piso salarial: A Constituição Federal, em seu art. 7º, prevê o seguinte direito social:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social: (...)
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;
Piso salarial é o valor mínimo que os membros de determinada categoria profissional devem
ganhar. Ex: piso salarial dos jornalistas, dos engenheiros, dos psicólogos etc.
Quem fixa esse piso salarial? O piso salarial pode ser fixado:
• por lei;
• por sentença normativa
• por acordo ou convenção coletiva de trabalho.
Se for fixado por lei, de quem é a competência para editá-la? A fixação de um piso salarial
para empregados é um assunto relacionado com Direito do Trabalho. Logo, compete à União,
privativamente, editar lei tratando sobre o piso salarial dos empregados da iniciativa
privada, conforme determina o art. 22, I, da CF/88:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo,
aeronáutico, espacial e do trabalho;
As competências do art. 22 podem ser delegadas pela União para os entes federativos? SIM.
É o que determina o parágrafo único do art. 22:
Art. 22 (...)
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre
questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.
LC 103/2000: O que fez a União? Editou uma lei complementar delegando para os Estados-
membros e DF a competência para editarem leis fixando o piso salarial dos profissionais.
Em outras palavras, a União falou o seguinte: como a realidade de cada Estado é diferente, eu
abro mão de fixar o piso salarial nacional para os profissionais e autorizo que cada
Estado/DF edite sua própria lei prevendo o valor mínimo que os profissionais deverão
receber. Isso foi feito por meio da LC 103/2000, que tem a seguinte redação:
Art. 1º Os Estados e o Distrito Federal ficam autorizados a instituir, mediante
lei de iniciativa do Poder Executivo, o piso salarial de que trata o inciso V do
art. 7º da Constituição Federal para os empregados que não tenham piso salarial
definido em lei federal, convenção ou acordo coletivo de trabalho.
§ 1º A autorização de que trata este artigo não poderá ser exercida:
I – no segundo semestre do ano em que se verificar eleição para os cargos de
Governador dos Estados e do Distrito Federal e de Deputados Estaduais e
Distritais;
II – em relação à remuneração de servidores públicos municipais.
§ 2º O piso salarial a que se refere o caput poderá ser estendido aos empregados
domésticos.
Art. 2º Esta Lei Complementar entra em vigor na data de sua publicação.
Pisos salariais fixados em valor mais alto em acordos ou convenções coletivas deverão
prevalecer: Vale ressaltar que, se determinada categoria profissional conseguiu, por meio de
acordo ou convenção coletiva, estipular um piso salarial, irá prevalecer aquilo que foi
definido na negociação coletiva. Assim, o piso salarial fixado pela legislação estadual não
incidirá sobre as profissões que tenham convenção ou acordo coletivo de trabalho,
preservando-se os pisos salariais assim definidos. Por outro lado, em relação aos
trabalhadores não abrangidos por nenhuma forma anterior de negociação coletiva, o piso
salarial estadual incidirá, passando a ser esse, portanto, o patamar mínimo legalmente
assegurado à categoria, e não mais o “salário mínimo nacional”. A instituição do piso
salarial regional visa reduzir as desigualdades sociais, conferindo proteção aos trabalhadores
e assegurando a eles melhores condições salariais. A LC federal 103/00 teve por objetivo
maior assegurar àquelas classes de trabalhadores menos mobilizadas e, portanto, com menor
capacidade de organização sindical, um patamar mínimo de salário. A fim de manter-se o
incentivo à negociação coletiva (art. 7º, XXVI, CF/88), os pisos salariais regionais somente
serão estabelecidos por lei naqueles casos em que não haja convenção ou acordo coletivo
de trabalho. Assim, as entidades sindicais continuarão podendo atuar nas negociações
coletivas, desde que respeitado o patamar mínimo legalmente assegurado. STF. Plenário.
ADI 4.364 ED, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 29/5/13.
Lei do Estado do Piauí tratando sobre o piso salarial de fisioterapeutas: O Estado do Piauí,
conforme autoriza a LC federal 103/2000, editou a Lei 6.633/15 fixando o piso salarial do
Fisioterapeuta e do Terapeuta Ocupacional. Veja:
Art. 1º O piso salarial do Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional no âmbito do
Estado do Piauí é de:
I - R$ 2.000,00 (dois mil reais) mensais, para jornada de até quatro horas diárias
ou vinte horas semanais;
II - R$ 2 500,00 (dois mil e quinhentos reais) mensais, para jornada de até seis
horas diárias ou trinta horas semanais.
Art. 2º - O reajuste do piso salarial de que trata esta Lei é anual, sempre no dia
primeiro de janeiro do ano subsequente, pela variação acumulada do Índice
Nacional de Preços ao Consumidor.
Qual foi, no entanto, o “problema” desta Lei? Ela foi fruto de projeto de lei de iniciativa de
um Deputado Estadual. Em outras palavras, foi um Deputado Estadual quem propôs o
projeto que deu origem a essa lei.
Há um vício neste caso? SIM. Isso porque o art. 1º da LC federal 103/2000 afirma que “os
Estados e o Distrito Federal ficam autorizados a instituir, mediante lei de iniciativa do Poder
Executivo, o piso salarial de que trata o inciso V do art. 7º da Constituição Federal (...)”.
Essa Lei do Estado do Piauí violou, portanto, o art. 1º da LC federal 103/2000. Isso está
muito claro... A dúvida que resta é a seguinte: podemos dizer que a Lei do Piauí é
inconstitucional ou ela é meramente ilegal? Caberia ADI contra esta Lei? SIM. A Lei do
Piauí é inconstitucional. O STF possui entendimento de que a lei estadual que extrapola, ou
seja, que ultrapassa a autorização conferida pela LC federal é considerada
INCONSTITUCIONAL.
3.24. Os Municípios detêm competência para legislar sobre assuntos de interesse local,
ainda que, de modo reflexo, tratem de direito comercial ou do consumidor – (Info 917) –
IMPORTANTE!!!
A constitucionalidade dessa lei foi questionada sob o argumento de que teria havido
invasão de competência da União. O que decidiu o STF? Essa lei é inconstitucional? NÃO. O
STF decidiu que essa lei é constitucional.
Competência dos Municípios para legislar sobre assuntos de interesse local: Compete ao
município legislar sobre assuntos de interesse local, nos termos do art. 30, I, da CF/88:
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
Assim, os Municípios podem legislar sobre proteção ao consumidor, desde que fiquem
restritos ao interesse local. Nesse sentido:
Lei do Município de Campos do Jordão fixou tempo máximo de espera para
atendimento em caixas de supermercado. A jurisprudência do STF vem
reiteradamente afirmando a competência dos municípios para legislar sobre
matéria consumerista quando sobreleva o interesse local, como ocorre no caso
dos autos, em que a necessidade de um melhor atendimento aos consumidores
nos supermercados e hipermercados é aferível em cada localidade, a partir da
observação da realidade local. STF. 2ª Turma. RE 818550 AgR, Rel. Min. Dias
Toffoli, julgado em 06/10/2017.
Compete ao município legislar sobre medidas que propiciem segurança,
conforto e rapidez aos usuários de serviços bancários, uma vez que tratam de
assuntos de interesse local. STF. 2ª Turma. ARE 747757 AgR, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, j. 24/06/2014.
Os Municípios detêm competência para legislar determinando a instalação de
sanitários nas agências bancárias, uma vez que essa questão é de interesse
local e diz respeito às normas de proteção das relações de consumo, posto que
visa o maior conforto dos usuários daquele serviço, não se confundindo com a
atividade-fim das instituições bancárias. STF. 1ª Turma. RE 266536 AgR, Rel.
Min. Dias Toffoli, j. 17/04/2012.
Súmula Vinculante 38-STF: É competente o município para fixar o horário de
funcionamento de estabelecimento comercial.
Súmula 19-STJ: A fixação do horário bancário, para atendimento ao público, é
da competência da União.
Proteção das relações de consumo: A lei atacada está dentro da competência legislativa
municipal, porque diz respeito à proteção das relações de consumo dos seus munícipes. Ela
tem por objetivo evitar o constrangimento dos particulares e de lhes proporcionar maior
conforto, haja vista que impede a dupla conferência das mercadorias e evita o enfrentamento
de várias filas.
Municípios podem legislar sobre direito do consumidor, desde que em assuntos de interesse
local: Os Municípios detêm competência para legislar sobre assuntos de interesse local, ainda
que, de modo reflexo, tratem de direito comercial ou do consumidor. Ao se analisar leis
municipais que tratem sobre assuntos de interesse local, o STF tem procurado conferir
uma interpretação constitucional que seja mais favorável à autonomia legislativa dos
municípios, haja vista ter sido essa a intenção do constituinte ao elevá-los ao status de
entes federativos na CF/88. Essa autonomia revela-se primordialmente quando o município
exerce, de forma plena, sua competência legislativa em matéria de interesse da
municipalidade, como previsto no art. 30, I, da CF/88. Em outras palavras, uma das
expressões da autonomia municipal é justamente a sua competência para legislar sobre
assuntos de interesse local. Por isso, toda interpretação que limite ou mesmo vede a atuação
legislativa do Município deve considerar a primazia do interesse da matéria regulada, de
modo a preservar a essencial autonomia desse ente político no sistema federativo pátrio.
Não houve violação ao art. 22, I, da CF/88: O STF ressaltou que a referida lei tratou sobre o
bem-estar dos consumidores e, portanto, não houve qualquer relação com a atividade-fim
das empresas, razão pela qual não se pode dizer que a lei disponha sobre direito civil ou
direito comercial. Logo, não houve violação do art. 22, I, da CF/88.
Interesse local: Não existe um critério objetivo para definir, de maneira absolutamente
segura, em que consiste interesse local e quando a legislação ultrapassa isso. Assim, deve-se
prestigiar a vereança local, que bem conhece a realidade e as necessidades da comunidade.
A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados. Isso significa que os Estados-membros podem complementar a
legislação federal editada pela União. Obviamente, as normas estaduais não podem
contrariar as normas gerais elaboradas pela União.
Se a União ainda não tiver editado as normas gerais sobre esse assunto, os Estados
exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. Em outras
palavras, não havendo normas gerais da União, o Estado-membro fica livre para legislar a
respeito daquele tema. Vale ressaltar, no entanto, que se a União vier a editar
posteriormente as normas gerais, a lei estadual terá sua eficácia suspensa naquilo que for
contrário à legislação da União. Importante também esclarecer que a competência da União
restringe-se a estabelecer “normas gerais”. Logo, se a União fizer uma lei geral que estabeleça
muitos detalhes, esta lei também será inconstitucional por invadir a competência dos
Estados-membros.
Lei do Rio Grande do Sul: Em 2000, o Estado do Rio Grande do Sul editou a Lei estadual nº
11.463 tratando sobre o tema da seguinte forma:
Art. 1º O cultivo comercial e as atividades com organismos geneticamente
modificados (OGMs), inclusive as de pesquisa, testes, experiências, em regime
de contenção ou ensino, bem como os aspectos ambientais e fiscalização
obedecerão estritamente à legislação federal específica.
O art. 2º diz que a Lei entra em vigor no dia de sua publicação e o art. 3º fala que ela revoga
as leis em sentido contrário. Em outras palavras, a lei estadual é só isso mesmo. Ela diz
apenas que, no RS, toda e qualquer atividade relacionada com os OGMs “obedecerão
estritamente à legislação federal específica”.
Essa Lei estadual possui algum vício? SIM. O STF considerou que essa lei é
INCONSTITUCIONAL.
Por quê? Em primeiro lugar, deve-se reiterar que o Estado-membro poderia legislar sobre
esse tema. O “problema” está no conteúdo. O STF entendeu que essa lei do Estado do Rio
Grande do Sul significou uma verdadeira “renúncia” ao exercício da competência
legislativa concorrente prevista no art. 24, V, VIII e XII, da CF/88. Em outras palavras, o
Estado abriu mão de sua competência suplementar prevista no art. 24, § 2º da CF/88. O ente
federado não pode se recusar a implementar as providências impostas a ele pelo legislador
constituinte. Segundo o Min. Marco Aurélio,
“O descompasso da lei impugnada é ainda maior quando se considera o
federalismo cooperativo. A lógica mostra-se intransponível e direciona ao
estabelecimento de normas gerais pela União e à atuação dos Estados no
atendimento das peculiaridades regionais. O Estado se exime de cumprir o
dever constitucional de providenciar a implementação, harmoniosa e atenta aos
interesses regionais, de valores consagrados na Lei Fundamental.”
O Brasil possui uma extensa dimensão territorial e, por essa razão, é indispensável que
exista um tratamento particularizado para essa matéria, tendo em vista a diversidade
biológica verificada no país. Assim, é necessário que sejam elaboradas políticas públicas
específicas à realidade local. O respeito às necessidades regionais é uma condição de
viabilidade da Federação. Em outras palavras, só há Federação com a autonomia dos
Estados-membros sendo exercida. Essa Lei do RS foi uma lei remissiva, ou seja, ela falou o
seguinte: a competência para tratar sobre esse assunto é minha também, mas façam aí tudo o
que a legislação federal determinar. Para o STF, “a banalização de normas estaduais
remissivas fragiliza a estrutura federativa descentralizada, e consagra o monopólio da
União, sem atentar para nuances locais.”
3.26. Lei estadual que regule a forma de cobrança do ITCMD pela PGE não viola o CPC –
(Info 905)
3.27. É constitucional lei estadual que obrigue plano de saúde a justificar recusa de
tratamento – (Info 890)
Assim, a lei impugnada não disciplinou assuntos de direito civil, comercial ou política
securitária. O CDC é a norma geral editada pela União na defesa do consumidor e tal
diploma reconhece como direito básico do consumidor a informação adequada e clara sobre
os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem
(art. 6º, III). A lei estadual está, portanto, em harmonia com o CDC, respeitando assim as
regras do art. 24 da CF/88. Além disso, essa lei atende ao comando do inciso XXXII do art. 5º
da Constituição:
Art. 5º (...)
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;
Sem interferência nos contratos: A lei atacada cumpre a função estatal de proteção ao
consumo, não havendo interferência nos contratos firmados entre as operadoras e os
usuários nem representando equilíbrio atuarial das operadoras de planos e seguros
privados de assistência à saúde. Conforme explicou a Min. Cármen Lúcia:
“A entrega do documento informativo expondo as razões pelo qual um
determinado tratamento ou procedimento foi negado não amplia o rol de
obrigações contratuais entre a operadora e o usuário. Pelo contrário, o que se
tem é apenas uma transparência maior para cumprimento dos termos
legislados” (Min. Cármen Lúcia).
Em outras palavras, as operadoras já tinham esse dever por força do próprio CDC e a lei
estadual apenas explicitou o comando.
Sem violação à livre iniciativa: A lei estadual impugnada não limita a livre iniciativa. Ao
contrário, fomenta o desenvolvimento de um mercado mais sustentável. Além disso,
conforme preconiza o inciso V do art. 170, a livre iniciativa deverá ser exercida observando-se
como um dos seus princípios a defesa do consumidor.
3.28. Inconstitucionalidade de lei estadual que estabeleça exigências nos rótulos dos
produtos em desconformidade com a legislação federal – (Info 871)
3.30. Compete aos Municípios legislar sobre meio ambiente em assuntos de interesse local
– (Info 870) – IMPORTANTE!!!
O Município tem competência para legislar sobre meio ambiente e controle da poluição,
quando se tratar de interesse local.
Ex: é constitucional lei municipal, regulamentada por decreto, que preveja a aplicação de
multas para os proprietários de veículos automotores que emitem fumaça acima de
padrões considerados aceitáveis.
STF. Plenário. RE 194704/MG, rel. orig. Min. Carlos Velloso, red. p/ o ac. Min. Edson
Fachin, j. 29/6/17 (Info 870).
(PGEPE-2009-CESPE): O Município não está elencado no artigo constitucional que trata
da competência concorrente, mas pode legislar acerca do tema meio ambiente.
OBS:
Normas municipais prevendo multa para carros com fumaça acima dos padrões: O
Município de Belo Horizonte editou uma lei, depois regulamentada por um decreto,
estipulando a aplicação de multas para os proprietários de veículos automotores que emitem
fumaça acima de padrões considerados aceitáveis.
O Município poderia ter legislado sobre esse tema? Essas normas são compatíveis com a
CF/88? SIM.
De quem é a competência para legislar sobre meio ambiente? A competência para legislar
sobre o meio ambiente é concorrente, nos termos do art. 24, VI e VIII, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...)
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos
recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; (...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;
A competência da União será para estabelecer normas gerais sobre os assuntos do art. 24.
Ex: o Congresso Nacional editou o Código Florestal com normas gerais sobre a proteção das
florestas.
A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados. Isso significa que os Estados-membros podem complementar a
legislação federal editada pela União. Obviamente, as normas estaduais não podem
contrariar as normas gerais elaboradas pela União.
Se a União ainda não tiver editado as normas gerais sobre esse assunto, os Estados
exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. Em outras
palavras, não havendo normas gerais da União, o Estado-membro fica livre para legislar a
respeito daquele tema. Vale ressaltar, no entanto, que se a União vier a editar posteriormente
as normas gerais, a lei estadual terá sua eficácia suspensa naquilo que for contrário à
legislação da União.
Mas os Municípios não estão elencados no caput do art. 24...: É verdade. No entanto, mesmo
assim eles podem legislar sobre os assuntos do art. 24, desde que o façam para atender
peculiaridades municipais, ou seja, no interesse local. Essa autorização para que os
Municípios legislem sobre matérias de competência concorrente está prevista no art. 30, I e II,
da CF/88:
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;
Dessa forma, os Municípios podem tratar sobre os assuntos do art. 24, no que couber, ou seja,
naquilo que for de interesse local. Em virtude do exposto, conclui-se que os Municípios
possuem competência para legislar sobre o meio ambiente, limitada esta, no entanto, ao
tratamento normativo de assuntos de interesse estritamente local.
3.31. Municípios podem legislar sobre Direito Ambiental, desde que o façam
fundamentadamente – (Info 857)
3.32. Estado-membro pode legislar sobre a concessão, por empresas privadas, de bolsa de
estudos para professores – (Info 856)
3.34. Viola a competência privativa da União lei estadual que exija nova certidão negativa
não prevista na Lei 8.666/93 – (Info 838) – IMPORTANTE!!!
É inconstitucional lei estadual que exija Certidão negativa de Violação aos Direitos do
Consumidor dos interessados em participar de licitações e em celebrar contratos com
órgãos e entidades estaduais.
Esta lei é inconstitucional porque compete privativamente à União legislar sobre normas
gerais de licitação e contratos (art. 22, XXVII, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 3.735/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 8/9/16 (Info 838).
OBS:
Certidão de Violação aos Direitos do Consumidor (CVDC): O Estado do Mato Grosso do Sul
editou uma lei prevendo que para a pessoa (física ou jurídica) participar de licitações ou
assinar contratos com a Administração Pública estadual acima de determinado valor, ela
deveria apresentar uma certidão negativa de violação aos direitos do consumidor. De acordo
com a lei, a pessoa ficaria impedida de tirar essa certidão negativa se já tivesse sido
condenada, administrativa ou judicialmente, por ofensa a direitos do consumidor, nos
últimos 5 anos.
Isso significa que os Estados, DF e os Municípios podem editar leis tratando sobre licitações e
contratos, desde que sejam referentes a normas “não gerais”. Em outras palavras, tais entes
podem suplementar as normas gerais fixadas pela União, conforme autorizam os arts. 24, §
2º, 25, §1º, e 30, II:
Art. 24 (...)
§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a
competência suplementar dos Estados.
Art. 25 (...)
§ 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas
por esta Constituição.
Requisitos para que a suplementação feita pelos Estados, DF e Municípios seja válida: Para
se analisar se a suplementação feita pelos Estados, DF e Municípios foi válida ou não, deverá
ser feito um exame em duas etapas:
1ª) identificar quais são as normas gerais fixadas pela União no caso concreto como modelo
nacional;
2ª) verificar se as inovações feitas pelo legislador estadual, distrital ou municipal sobre o
tema são compatíveis com as normas gerais impostas pela União.
Lei do Estado do MS afrontou as normas gerais fixadas pela União: O principal diploma que
trata sobre licitações e contratos é a Lei nº 8.666/93. Nela, a União fixou as normas gerais
sobre o tema. A Lei nº 8.666/93 exige algumas certidões referentes à regularidade fiscal e
trabalhista (art. 29), mas não faz qualquer exigência quanto à inexistência de condenações
relacionadas com a violação de direitos do consumidor. Assim, a lei editada pelo Estado do
MS criou novas condições que somente lei federal poderia prever. Ao criar requisito de
habilitação obrigatório para a maioria dos contratos estaduais, o Estado-membro se arvorou
na condição de intérprete primeiro do direito constitucional de participar de licitações. Criou,
ainda, uma presunção legal, de sentido e alcance amplíssimos, segundo a qual a existência de
registros desabonadores nos cadastros públicos de proteção do consumidor seria motivo
suficiente para justificar o impedimento à contratação de pessoas físicas e jurídicas pela
Administração local.
A lei estadual impugnada introduziu um requisito genérico e inteiramente novo para
habilitação em qualquer licitação. Ao assim prever, a legislação estadual afrontou as normas
gerais do ordenamento nacional de licitações e contratos e se apropriou de competência da
União.
3.35. Lei estadual que trata sobre a cobrança em estacionamento de veículos – (Info 835) –
IMPORTANTE!!! – (TJMSP-2016)
OBS:
Qual é o motivo de a lei ser inconstitucional? Os Ministros que julgaram a ADI procedente
ficaram divididos quanto ao fundamento pelo qual a lei é inconstitucional:
A lei é formalmente inconstitucional. Isso porque as regras sobre estacionamento de
veículos inserem-se no campo do Direito Civil e a competência para legislar sobre
este assunto é da União, nos termos do art. 22, I, da CF/88. Nesse sentido: Ministros
Gilmar Mendes e Dias Toffoli.
A lei é materialmente inconstitucional. Ela não trata sobre Direito Civil, mas sim
sobre Direito do Consumidor, assunto que é de competência concorrente entre União
e Estados/DF (art. 24, VIII, da CF/88). Logo, em tese, o Estado-membro poderia
legislar sobre o tema. Ocorre que a referida lei estabelece um controle de preços, o
que claramente viola o princípio constitucional da livre iniciativa (art. 170). Votaram
dessa forma: Ministros Roberto Barroso, Cármen Lúcia e Rosa Weber.
O Min. Marco Aurélio defendeu que a lei padece tanto de inconstitucionalidade formal (a
competência seria privativa da União) como material (indevida intervenção da norma na
iniciativa privada).
Existem diversos Municípios que possuem leis semelhantes a esta. Caso sejam questionadas,
tais leis municipais que tratam sobre o tema também poderão ser declaradas
inconstitucionais? SIM. Tanto as leis estaduais como também as municipais que estabeleçam
regras de cobrança fracionada em estacionamentos são consideradas inconstitucionais.
Assim, não muda nada o fato de a lei ser municipal ou estadual.
Leis municipais que imponham cobrança fracionada serão também consideradas
inconstitucionais, seja porque a competência para legislar sobre o tema é da União
(argumento 1), seja porque violariam a livre iniciativa (argumento 2).
Lei estadual que disponha sobre bloqueadores de sinal de celular em presídio invade a
competência da União para legislar sobre telecomunicações.
Normas estaduais que interfiram diretamente na prestação da atividade desempenhada
pelas concessionárias de serviços de telecomunicação são formalmente inconstitucionais
considerando que, por envolverem questões relacionadas ao interesse geral ou nacional,
devem ser tratadas de maneira uniforme no País inteiro. A disciplina dos serviços
públicos que funcionam em todo o território cabe à União.
Pela teoria da prevalência do interesse, quando a matéria transcender os interesses locais e
regionais, a competência para dispor sobre o assunto é da União. A instalação de
bloqueadores de sinal nas proximidades dos presídios pode afetar diretamente a
qualidade da prestação do serviço para a população circundante, de forma que este tema
deve ser discutido e disciplinado de maneira uniforme em todo o País. Essas leis estaduais
não estão relacionadas com peculiaridades locais. Além disso, o STF não concordou com o
argumento dos Estados de que tais leis tratariam sobre direito penitenciário.
STF. Plenário. ADI 3835/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, ADI 5356/MS, red. p/ o acórdão
Min. Marco Aurélio, ADI 5253/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, ADI 5327/PR, Rel. Min Dias
Toffoli, ADI 4861/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 3/8/16 (Info 833).
A Lei de que trata este inciso é a Lei 9472/97, que dispõe sobre a organização dos serviços de
telecomunicações, a criação e funcionamento de um órgão regulador e outros aspectos
institucionais.
3.39. Inconstitucionalidade de lei estadual que trate sobre revalidação de títulos obtidos
em instituições de ensino dos países do MERCOSUL – (Info 817)
É inconstitucional lei estadual que veda ao Poder Público estadual exigir a revalidação de
títulos obtidos em instituições de ensino superior dos países membros do Mercado
Comum do Sul – MERCOSUL.
A lei estadual que trata sobre revalidação de títulos obtidos em instituições de ensino
superior dos países membros do MERCOSUL afronta o pacto federativo (art. 60, §4º, I, da
CF/88) na medida em que usurpa a competência da União para dispor sobre diretrizes e
bases da educação nacional (art. 22, XXIV).
STF. Plenário. ADI 5341 MC- Referendo/AC, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 10/3/2016
(Info 817).
3.40. Inconstitucionalidade de lei estadual que prevê punições para quem exige teste de
gravidez nas contratações (Info 807)
3.41. A disciplina sobre o ordenamento do espaço urbano pode ser feita por meio de outras
leis municipais além do plano diretor, desde que sejam compatíveis com esta (Info 805)
Os Municípios com mais de 20 mil habitantes e o Distrito Federal podem legislar sobre
programas e projetos específicos de ordenamento do espaço urbano por meio de leis que
sejam compatíveis com as diretrizes fixadas no plano diretor.
Isso significa que nem sempre que o Município for legislar sobre matéria urbanística, ele
precisará fazê-lo por meio do Plano Diretor. O Plano Diretor é o instrumento legal que
dita a atuação do Município ou do Distrito Federal quanto ao ordenamento urbano,
traçando suas linhas gerais, porém a sua execução pode se dar mediante a expedição de
outras lei e decretos, desde que guardem conformidade com o Plano Diretor.
STF. Plenário. RE 607940/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 29/10/2015 (Info 805).
3.43. Lei estadual pode fixar número máximo de alunos por sala de aula – (Info 775)
A competência para legislar sobre educação e ensino é concorrente (art. 24, IX, da CF/88).
No âmbito da legislação concorrente, a União tem competência apenas para estabelecer as
normas gerais (§ 1º) e os Estados podem suplementar (complementar, detalhar) a
legislação federal (§ 2º).
As normas gerais sobre educação foram editadas pela União na Lei 9.394/96 (LDB).
Determinado Estado-membro editou uma lei prevendo o número máximo de alunos que
poderiam estudar nas salas de aula das escolas, públicas ou particulares, ali existentes.
O STF entendeu que essa lei é constitucional e que não usurpa a competência da União
para legislar sobre normas gerais de educação.
STF. Plenário. ADI 4060/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/2/2015 (Info 775).
3.46. Lei estadual não pode proibir que concessionárias de serviços de telecomunicações
cobrem assinatura mensal do consumidor – (Info 763) – IMPORTANTE!!! – (TJPB-2015)
(TJPR-2017)
3.47. Competência do TCE para julgar as contas dos Presidentes das Câmaras Municipais –
(Info 757)
3.48. Lei estadual não pode impor prazos para as empresas de planos de saúde – (Info 754)
É INCONSTITUCIONAL lei estadual que prevê prazos máximos para que as empresas de
planos de saúde autorizem exames médicos aos usuários. Isso porque trata-se de lei que
dispõe sobre direito civil, direito comercial e política de seguros, matérias que são de
competência da União (art. 22, I e VII, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 4701/PE, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 13/8/2014 (Info 754).
3.49. Competência para julgar MS contra ato de Presidente de TJ que cumpre resolução do
CNJ – (Info 753)
CE pode prever que o servidor público eleito para um cargo de dirigente sindical terá
direito de ficar afastado do serviço, recebendo sua remuneração, enquanto durar seu
mandato.
STF. Plenário. ADI 510/AM, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 11/6/2014 (Info 750).
3.51. União é parte legítima para figurar no polo passivo de ação buscando assegurar
gratificação a policial civil do DF – (Info 748)
3.52. Estado-membro tem competência para legislar sobre procedimentos do IP desde que
não viole as normas gerais da União – (Info 741) - Atenção! MP e Delegado!
3.53. CE não pode exigir autorização da ALE para que o Governador (ou o Vice) se ausente
do país qualquer que seja o prazo – (Info 741)
3.55. Lei estadual pode regular procedimento para homologação judicial de acordo de
alimentos com a participação da Defensoria Pública – (Info 741)
3.56. CE não pode vincular determinadas receitas para o pagamento de apenas uma espécie
de precatório – (Info 740)
3.57. CE não pode impor prazos para que o chefe do Poder Executivo apresente
proposições legislativas ou pratique atos administrativos – (Info 736)
É inconstitucional norma da Constituição estadual que impõe prazos para que o chefe do
Poder Executivo apresente proposições legislativas ou pratique atos administrativos.
STF. Plenário. ADI 179/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/2/2014 (Info 736).
3.58. CE não pode vincular remuneração dos servidores públicos estaduais ao salário
mínimo profissional (piso salarial profissional) – (Info 736)
É incompatível com a CF/88 norma da Constituição estadual que preveja que os servidores
públicos estaduais não poderão receber remuneração inferior ao piso salarial profissional
(salário mínimo profissional) estabelecido em lei federal. Tal regra viola o art. 37, XIII, da
CF/88 e a autonomia dos estados para fixar os vencimentos de seus servidores (arts. 2º e
25).
STF. Plenário. ADI 290/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/2/2014 (Info 736).
STF. Plenário. ADI 668/AL, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/2/2014 (Info 736).
3.59. É inconstitucional norma da CE que prevê que ex-Deputados que forem servidores
públicos poderão ficar em disponibilidade remunerada após o exercício do mandato – (Info
736)
3.60. CE não pode impor obrigações para servidores municipais nem para empresas
públicas e sociedades de economia mista – (Info 736)
3.61. CE não pode tratar sobre o regime trabalhista dos servidores das empresas públicas e
sociedades de economia mista – (Info 736)
3.62. CE não pode prever, para o servidor público em disponibilidade, regras diferentes do
modelo instituído pela CF/88 – (Info 736)
É incompatível com a CF/88 norma da Constituição estadual que afirme que o servidor
público em disponibilidade ficará recebendo remuneração INTEGRAL. Isso porque o § 3º
do art. 41 da CF/88 estabelece que o servidor em disponibilidade terá remuneração
PROPORCIONAL ao tempo de serviço.
É também incompatível com a CF/88 norma da Constituição estadual que afirme que o
servidor público em disponibilidade deverá ser aproveitado em outro cargo NO PRAZO
MÁXIMO de 1 ano. Isso porque a CF/88, ao tratar sobre o tema, não estipulou tal
interregno.
STF. Plenário. ADI 239/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/2/2014 (Info 736)
3.64. COMPETÊNCIAS ESTADUAIS: Lei estadual que obriga ônibus a serem adaptados
para portadores de necessidades especiais – (Info 707) – IMPORTANTE!!! – (TJBA-2019)
OBS: O STF declarou constitucional lei do Estado de Minas Gerais que dispõe sobre
adaptação dos veículos de transporte coletivo com a finalidade de assegurar seu acesso por
pessoas com deficiência ou dificuldade de locomoção. A Corte entendeu que é hipótese de
competência legislativa concorrente (art. 24, XIV, CF) e que a legislação é harmônica com a
Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, primeiro tratado
internacional aprovado pelo rito legislativo previsto no art. 5º, § 3º, da Constituição Federal,
e, portanto, incorporado ao ordenamento constitucional com status constitucional.
Na época em que foi editada a lei mineira, não existia ainda lei geral nacional sobre a
acessibilidade de pessoas com deficiência (Lei 10.098/2000). Assim, era possível aos Estados-
membros exercerem a competência legislativa plena, suprindo o espaço normativo com suas
legislações locais (art. 24, § 3º, da CF).
Registrou-se que, diante da superveniência dessa lei nacional, a norma mineira, embora
constitucional, perdeu força normativa, na atualidade, naquilo que esteja em
desconformidade com a legislação geral de regência do tema (art. 24, § 4º, da CF/88).
4. PROCESSO LEGISLATIVO
4.1. MEDIDAS PROVISÓRIAS: A CF/88 prevê expressamente que é vedada a reedição,
na mesma sessão legislativa, de medida provisória que tenha sido rejeitada – (Info 946)
Matérias que não podem ser tratadas por MP: Segundo o § 1º do art. 62 da CF/88, é vedada a
edição de medidas provisórias sobre matéria:
I – relativa a:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito
eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a
garantia de seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais
e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º;
II – que vise a detenção ou seqüestro de bens, de poupança popular ou qualquer
outro ativo financeiro;
III – reservada a lei complementar;
IV – já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e
pendente de sanção ou veto do Presidente da República.
Qual é o prazo de eficácia da medida provisória? 60 dias, podendo ser prorrogada, apenas
uma vez, por mais 60 dias. Isso está previsto no art. 62, §§ 3º e 7º da CF/88:
Art. 62. (...)
§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 perderão
eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta
dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual período, devendo o
Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas
delas decorrentes. (...)
§ 7º Prorrogar-se-á uma única vez por igual período a vigência de medida
provisória que, no prazo de sessenta dias, contado de sua publicação, não tiver a
sua votação encerrada nas duas Casas do Congresso Nacional.
O prazo fica suspenso (ou seja, não corre) durante os períodos de recesso do Congresso
Nacional (art. 62, § 4º). Vale ressaltar que a MP continua produzindo efeitos. O que fica
suspenso é a contagem do prazo para que ela perca sua vigência.
Prorrogação é automática: A prorrogação da vigência da MP é automática. Assim,
terminado o prazo de 60 dias, se a MP ainda não tiver sido votada nas duas Casas do
Congresso Nacional, ela será automaticamente prorrogada (o Presidente não precisa pedir a
prorrogação). Essa prorrogação pode ocorrer uma única vez.
O que acontece se uma MP não é convertida em lei no prazo de eficácia + prorrogação (120
dias)? Se uma medida provisória não for convertida em lei no prazo, ela perde eficácia desde
a sua edição (sua eficácia fica exaurida). Ocorrendo essa situação, o Congresso Nacional
deverá editar um decreto legislativo disciplinando como ficarão as relações jurídicas que
foram afetadas pela MP no período em que ela vigorou (art. 62, § 3º). Em outras palavras,
este decreto legislativo irá dizer se os efeitos produzidos pela MP no período em que ela
vigorou continuam ou não, mesmo ela não tendo sido aprovada:
Art. 62 (...)
§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 perderão
eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta
dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual período, devendo o
Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas
delas decorrentes.
O que acontece se uma MP é rejeitada? Se uma medida provisória é votada dentro do prazo
e rejeitada, ela também perde eficácia desde a sua edição, sendo, então, arquivada.
Possibilidades da MP: A partir do que vimos acima, podemos identificar três ocorrências
possíveis para as medidas provisórias:
A MP é votada dentro do seu prazo de O texto é promulgado e, com isso,
1) Aprovação duração, sendo aprovada pelo Congresso. a MP é convertida em lei
ordinária.
A MP é votada dentro do seu prazo de A MP é arquivada.
2) Rejeição
duração, mas não obtém os votos necessários
EXPRESSA
para ser aprovada (maioria simples).
A MP não é votada dentro do prazo de A MP é arquivada.
duração.
3) Rejeição
Diz-se que a eficácia foi exaurida pelo
TÁCITA
decurso do prazo (perdeu eficácia por
decurso do prazo).
O que é reedição da medida provisória? A definição de reedição da medida provisória
mudou com a EC 32/01. Atualmente, reedição de medida provisória, significa o ato do
Presidente da República de editar nova medida provisória com o mesmo teor de uma outra
que foi rejeitada ou que não foi votada durante o seu prazo de duração (perdendo a sua
eficácia). Ex: em 2017, o Presidente da República editou a MP nº 5.000/17 criando a obrigação
“x”. Essa MP não foi votada em 120 dias, de modo que teve a sua eficácia exaurida pelo
decurso do prazo. Em 2018, o Presidente edita a MP nº 5.010/18 criando novamente a
obrigação “x”. Isso significa que houve uma reedição da medida provisória.
É possível a reedição de medidas provisórias? SIM, mas desde que isso ocorra em outra
sessão legislativa. Veja o que diz o § 10 do art. 62 da CF/88:
Art. 62 (...)
§ 10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória que tenha
sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo.
Interpretando esse dispositivo a contrario sensu, é possível a reedição, em outra sessão
legislativa, de medida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia
por decurso de prazo.
Sessão legislativa: Quando o § 10 do art. 62 fala em “sessão legislativa”, está se referindo à
sessão legislativa ordinária. Sessão legislativa é o período anual de trabalho ordinário dos
parlamentares no Congresso Nacional. Inicia-se em 02 de fevereiro, é interrompido em 17 de
julho para o recesso do meio do ano e recomeça em 1º de agosto, indo até 22 de dezembro.
Desse modo, a sessão legislativa ordinária vai de 02 de fevereiro até 22 de dezembro, com
uma pausa (intervalo) entre 18 de julho até 31 de julho.
Questão de concurso:
(Analista Judiciário - TRE-PA - IADES - 2014) Uma medida provisória não poderá ser
revogada por outra (ERRADO).
Vale ressaltar, no entanto, que a segunda MP irá apenas suspender a eficácia jurídica da
medida provisória revogada. Isso significa que o Congresso Nacional permanece com o
poder de deliberar sobre a validade da MP. Ex: o Congresso pode decidir rejeitar a segunda
MP (MP “revogadora”) e aprovar a primeira (que o Presidente queria revogar com a
segunda). Veja esta elucidativo precedente da Corte sobre o tema:
(...) 1. Porque possui força de lei e eficácia imediata a partir de sua publicação,
a MP não pode ser “retirada” pelo Presidente da República à apreciação do
Congresso Nacional. Precedentes. 2. Como qualquer outro ato legislativo, a
Medida Provisória é passível de ab-rogação mediante diploma de igual ou
superior hierarquia. Precedentes. 3. A revogação da MP por outra MP apenas
suspende a eficácia da norma ab-rogada, que voltará a vigorar pelo tempo que
lhe reste para apreciação, caso caduque ou seja rejeitada a MP ab-rogante. 4.
Consequentemente, o ato revocatório não subtrai ao Congresso Nacional o
exame da matéria contida na MP revogada. (...) STF. Plenário. ADI 2984 MC,
Rel. Min. Ellen Gracie, j. 4/09/03.
4.4. É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura
de emenda à Constituição Estadual – (Info 921) – IMPORTANTE!!!
O art. 61, § 2º, da CF/88 admite a apresentação de projeto de lei por meio de iniciativa
popular. Isso vale também para emendas à Constituição Federal? É possível a apresentação
de proposta de emenda à Constituição Federal por meio de iniciativa popular? NÃO. Isso
porque o art. 60, da CF/88 trouxe o rol de legitimados e nele não previu a iniciativa popular.
Além disso, o art. 61, § 2º é expresso ao mencionar “projeto de lei”:
Art. 61 (...)
§ 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos
Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do
eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos
de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.
Obs: José Afonso da Silva, talvez um dos maiores constitucionalistas do Brasil, defende que a
Constituição Federal poderia ser emendada por proposta de iniciativa popular. Isso com base
em uma interpretação sistemática e com fulcro na soberania popular (SILVA, José Afonso da.
Curso de Direito Constitucional positivo. 33ª ed. São Paulo. Malheiros, 2010, p. 64). Trata-se,
contudo, de posição francamente minoritária.
Art. 110. A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Assembleia
Legislativa de projeto de lei, subscrito por, no mínimo, um por cento do
eleitorado estadual, distribuído pelo menos por cinco Municípios, com um
mínimo de dois por cento dos eleitores de cada um deles, e de proposta de
emenda à Constituição na forma do inciso IV do art. 103.
Essa previsão foi questionada no STF. O que decidiu o Supremo? É possível que Constituição
do Estado preveja a possibilidade de apresentação de proposta de emenda à Constituição
Estadual por meio de iniciativa popular? SIM. É o que foi decidido no julgado veiculado no
Info 921 do STF.
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto
direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: (...)
II - referendo;
III - iniciativa popular.
Na democracia representativa, além dos mecanismos tradicionais de seu exercício, por meio
dos representantes eleitos pelo povo, também há instrumentos de participação direta, como é
o caso do projeto de iniciativa popular. A Constituição do Amapá democratizou ainda mais o
processo de reforma das regras constitucionais estaduais. O fato de não haver regra expressa
semelhante na CF/88 não faz com que a norma da CE/AP seja inconstitucional por violação
à simetria. Isso porque se, por um lado, não existe previsão expressa, por outro, não há uma
proibição na CF/88, devendo, então, ser considerada válida a norma estadual, tendo em
vista que ela aumenta os mecanismos de participação direta do povo. Além disso, a CF/88
prevê a possibilidade de a população ser chamada a participar por meio de plebiscitos e
referendos, de forma que não há qualquer problema em o Poder Legislativo estadual
acolher a propositura de um tema trazido ao parlamento pelos cidadãos.
4.5. É inconstitucional lei estadual que exige prévia autorização da ALE para que os
órgãos do SISNAMA possam celebrar instrumentos de cooperação no Estado – (Info 919)
É inconstitucional, por violar o princípio da separação dos poderes, lei estadual que exige
autorização prévia do Poder Legislativo estadual (Assembleia Legislativa) para que sejam
firmados instrumentos de cooperação pelos órgãos componentes do Sistema Nacional do
Meio Ambiente – SISNAMA.
Também é inconstitucional lei estadual que afirme que Fundação estadual de proteção do
meio ambiente só poderá transferir responsabilidades ou atribuições para outros órgãos
componentes do SISNAMA se houver aprovação prévia da Assembleia Legislativa.
STF. Plenário. ADI 4348/RR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 10/10/18 (Info 919).
OBS: Comentários no arquivo de Direito Ambiental.
Não viola a Constituição Federal lei municipal, de iniciativa parlamentar, que veda a
realização, em imóveis do Município, de eventos patrocinados por empresas produtoras,
distribuidoras, importadoras ou representantes de bebidas alcoólicas ou de cigarros, com
a utilização da respectiva propaganda.
STF. 2ª Turma. RE 305470/SP, rel. orig. Min. Ellen Gracie, rel. p/ o ac. Min. Teori Zavascki, j.
18/10/16 (Info 844).
(PGETO-2018-CESPE): Determinado Município editou lei para fixar o horário de
funcionamento de estabelecimentos comerciais de venda de bebidas alcoólicas de modo
incompatível com o horário de funcionamento estabelecido por lei do respectivo Estado.
De acordo com a Constituição Federal e considerando a jurisprudência do STF, a referida
lei municipal ateve-se aos limites constitucionais de sua competência legislativa, sendo
inconstitucional a lei estadual, que poderá ser objeto de ação direta de
inconstitucionalidade perante o STF, mas não poderá ser objeto de reclamação
constitucional, ainda que a lei estadual tenha contrariado súmula vinculante editada na
matéria. BL: Info 844, STF.
OBS: Vejamos o teor da Súmula Vinculante 38: “É competente o Município para fixar o
horário de funcionamento de estabelecimento comercial”. Nesse sentido, vejamos o
seguinte julgado do STF: "O Supremo Tribunal Federal já decidiu positivamente acerca da
competência do Município, e não do Estado, para legislar a respeito de horário de funcionamento
de estabelecimento comercial, inclusive para aqueles que comercializam bebidas alcoólicas, por ser
matéria de interesse local, nos termos do art. 30, I, da Constituição Federal." (RE 852233 AgR,
Rel. Min. Roberto Barroso, 1ª Turma, j. 26.8.16). Sabemos que a lei é inconstitucional.
Logo, caberá ADI. Por fim, no caso em tela, não cabe reclamação constitucional contra
leis, a teor do que dispõe o art. 103-A, §3º da CF: “Do ato administrativo ou decisão
judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação
ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará
a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da
súmula, conforme o caso.” A reclamação é, portanto, contra ato administrativo ou decisão
judicial.
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: Foi aprovado, na Câmara Municipal, projeto de lei
iniciado por um Vereador e que proíbe a realização de eventos patrocinados por produtoras,
distribuidoras, importadoras ou representantes de bebidas alcoólicas ou de cigarros em
imóveis de propriedade do Município de São Paulo. Algum tempo depois esta lei foi
questionada judicialmente pelo Prefeito junto ao Tribunal de Justiça sob o argumento de que
ela seria inconstitucional por duas razões:
1ª) Vício de iniciativa. A lei teria invadido a esfera de atribuição do Poder Executivo
considerando que a iniciativa para propor projetos de lei que tratem sobre a Administração
Pública municipal é do Prefeito, nos termos do art. 61, § 1º, II, “e”, da CF/88 (aplicável ao
âmbito municipal em face do princípio da simetria):
Art. 61. (...)
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...)
II - disponham sobre:
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública,
observado o disposto no art. 84, VI;
2ª) Invasão de competência federal. A referida lei municipal teria tratado sobre propaganda
comercial, assunto que é de esfera da competência da União, conforme determina o art. 22,
XXIX, da CF/88:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
XXIX - propaganda comercial.
A referida lei municipal apresenta os vícios acima apontados? A lei é inconstitucional?
NÃO. É o que foi decidido no Info 844 do STF.
4.7. Disciplina sobre a extinção de empresa estatal deverá ser tratada em lei de iniciativa
do Poder Executivo – (Info 830)
Existem também outros recentes no mesmo sentido: STF. Plenário. ADI 3942/DF, Rel. Min.
Cármen Lúcia, jugado em 5/2/2015 (Info 773).
Caso concreto julgado pelo STF: O Governador do Estado enviou projeto de lei tratando
sobre os servidores de determinada entidade estadual. Durante a tramitação do projeto, um
Deputado apresentou emenda criando uma gratificação para os servidores dessa entidade. O
projeto foi aprovado e sancionado, convertendo-se em lei. O STF julgou essa lei
inconstitucional porque houve aumento de despesa.
"A prerrogativa para instaurar o processo legislativo, conferida ao Tribunal de Contas, tem
por finalidade preservar sua autonomia funcional, administrativa e financeira. Os projetos
apresentados ao Legislativo consubstanciam o instrumento formal do exercício do poder de
iniciativa, consistente na escolha dos interesses a serem juridicamente tutelados." (Min.
Marco Aurélio).
Obs: apesar de o art. 73 falar em TCU, essa regra também se aplica aos Tribunais de Contas
dos Estados, por força do art. 75 da CF/88:
Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à
organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e
do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos
Municípios.
Assim, os projetos de lei que versam sobre os Tribunais de Contas dos Estados somente
podem ser propostos pelo próprio Tribunal.
Vimos acima que os parlamentares não poderão iniciar projetos de lei que tratem sobre a
organização dos Tribunais de Contas. Mas e se o Tribunal de Contas apresentar um projeto
de lei, enquanto ele estiver tramitando na Casa legislativa, os parlamentares poderão
apresentar emendas a este projeto? SIM, é possível que haja emendas parlamentares em
projetos de lei de iniciativa do Tribunal de Contas, desde que respeitados dois requisitos:
a) guardem pertinência temática com a proposta original (tratem sobre o mesmo assunto);
b) não acarretem em aumento de despesas.
ATENÇÃO: Emendas parlamentares que não respeitem a pertinência temática servem como
um meio de usurpar, ainda que de forma indireta, a iniciativa dos Tribunais de Contas para
deflagrar os seus projetos de lei, atingindo, assim, a própria autonomia constitucionalmente
assegurada à instituição.
4.11. Emenda parlamentar em projeto de lei do Poder Executivo – (Infos 773 e 790) - (TJPE-
2015) (TJAL-2015)
Constituição estadual poderá prever que a Lei Orgânica da Polícia Civil daquele estado
tenha status de lei complementar.
Não há nada na CF/88 que impeça o constituinte estadual de exigir quórum maior (lei
complementar) para tratar sobre essa questão.
Seria uma demasia (um exagero) negar à Constituição estadual a possibilidade de escolher
determinados temas como mais sensíveis, exigindo, para eles, uma aprovação legislativa
mais qualificada por meio de lei complementar.
STF. Plenário. ADI 2314/RJ, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Marco
Aurélio, julgado em 17/6/2015 (Info 790).
4.14. Iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico dos servidores públicos e
militares – (Info 773 e 766) – (TJPE-2015) (TJPR-2019)
4.15. Iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico dos servidores públicos – (Info
776)
É inconstitucional Lei Orgânica Municipal que disponha sobre o regime jurídico dos
servidores públicos (seus direitos e deveres).
O art. 61, § 1º, II, “c”, da CF/88 prevê que compete ao Chefe do Poder Executivo a
iniciativa de lei que trate sobre os direitos e deveres dos servidores públicos e sobre o
regime jurídico dos militares. Essa regra também é aplicada no âmbito municipal por
força do princípio da simetria.
STF. Plenário. RE 590829/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/3/2015 (Info 776).
4.17. Iniciativa de lei que disponha sobre criação de cargos públicos e estruturação de
órgãos da Administração direta e autárquica – (Info 771)
4.19. Lei que proíba o nepotismo no Poder Executivo pode ser proposta por parlamentar –
(Info 771)
4.24. Constitucionalidade de lei estadual que obriga o Poder Executivo a divulgar dados de
contratos e obras públicas – (Info 766)
4.26. O Tribunal de Contas possui iniciativa privativa para as leis que tratam sobre sua
organização e funcionamento – (Info 766)
4.27. É inconstitucional lei estadual que obriga agentes públicos de outros poderes a
apresentarem declaração de bens à ALE – (Info 765)
É possível que haja emendas parlamentares em projetos de lei de iniciativa dos Poderes
Executivo e Judiciário, desde que cumpram dois requisitos:
a) guardem pertinência temática com a proposta original (tratem sobre o mesmo assunto);
b) não acarretem em aumento de despesas.
4.30. Em regra, é inconstitucional a lei que vincula a receita de impostos a órgão, fundo ou
despesa – (Info 765)
4.32. Iniciativa privativa do chefe do Executivo para projetos de lei que versem sobre
órgãos públicos – (Info 760)
4.33. Lei estadual não pode dispor sobre inspeção técnica veicular – (Info 759)
É INCONSTITUCIONAL lei estadual que trate sobre inspeção técnica de veículos. Isso
porque essa Lei versa sobre TRÂNSITO, matéria de competência privativa da União (art.
22, XI, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 1972/RS, rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 18/9/2014 (Info 759).
4.34. CE não pode dispor sobre as atribuições para a defesa dos direitos das populações
indígenas – (Info 759)
É inconstitucional lei de iniciativa parlamentar que preveja que o Poder Executivo deverá
destinar às Secretarias de Cultura e de Segurança Pública os recursos necessários para a
realização de um evento anual de música.
O STF entendeu que a referida lei é inconstitucional por vício de iniciativa. Isso porque a
lei impõe obrigações aos órgãos públicos (serviços públicos), além de interferir no
orçamento do Poder Executivo, matérias que somente poderiam ser disciplinadas em lei
de iniciativa do Governador do Estado, nos termos do art. 61, § 1º, II, “b” e art. 165, III, da
CF/88.
STF. Plenário. ADI 4180/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/9/2014 (Info 758).
4.37. A iniciativa de leis que tratam sobre regime jurídico de servidores é do chefe do
Poder Executivo – (Info 755) – (TJAM-2013)
O STF julgou inconstitucionais as seguintes leis estaduais que tratavam sobre servidores
públicos, mas foram iniciadas por Deputados Estaduais:
Lei 7.385/2002 (ES): dispunha sobre a reestruturação da carreira de fotógrafo
criminal pertencente ao quadro de serviços efetivos da polícia civil daquele
Estado-membro (ADI 2834/ES);
Lei 5.729/95 (AL): fixava regras sobre a transferência para a reserva, reforma e
elegibilidade de policiais militares (ADI 1381/AL);
LC 11.370/99 (RS): vedava a supressão administrativa de direitos e vantagens que
foram legalmente incorporados ao patrimônio funcional dos servidores, prevendo
que somente poderiam ser suprimidas pela via judicial (ADI 2300/RS).
O art. 61, § 1º, II, “c”, da CF/88 prevê que compete ao Chefe do Poder Executivo a
iniciativa de lei que trate sobre os direitos e deveres dos servidores públicos. Essa regra
também é aplicada no âmbito estadual por força do princípio da simetria.
STF. Plenário. ADI 2834/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/8/2014 (Info 755).
4.38. Lei que imponha deveres aos servidores públicos deve ser de iniciativa do chefe do
Executivo – (Info 754)
4.40. Número de Deputados Federais deve ser fixado por meio de Lei Complementar, não
podendo ser feito pelo TSE – (Info 751)
A CF/88 previu que o número total de Deputados, bem como a representação por Estado e
pelo Distrito Federal, deve ser estabelecido por lei complementar, proporcionalmente à
população (§ 1º do art. 45).
Em 1993, foi editada a LC 78/93, que disciplina a fixação do número de Deputados.
O art. 1º da LC 78/93 previu que, em cada ano anterior às eleições, o IBGE deverá fornecer
ao TSE a atualização estatística demográfica das unidades da Federação. Com base nesses
dados, o TSE faz o cálculo da quantidade de Deputados Federais por Estado/DF e
encaminha para os TRE’s e para os partidos políticos o número de vagas a serem
disputadas (parágrafo único do art. 1º da LC).
Em 2013, com base no art. 1º da LC 78/93, o TSE editou a Resolução 23.389 alterando o
número de vagas de Deputado Federal de cada Estado/DF e, consequentemente, o número
de vagas de Deputados Estaduais a serem disputadas nas eleições de 2014.
O Congresso Nacional, argumentando que o TSE exorbitou do seu poder regulamentar,
publicou o Decreto Legislativo 424/2013 sustando os efeitos da Resolução TSE 23.389/2013.
O STF entendeu que:
O parágrafo único do art. 1º da LC 78/93 e a Resolução TSE 23.389/2013 são
INCONSTITUCIONAIS por violarem o § 1º do art. 45 da CF/88 e a independência
do Poder Legislativo.
O Decreto Legislativo 424/2013, editado pelo Congresso Nacional, é
INCONSTITUCIONAL por violar o art. 49, V, da CF/88 e a independência do
Poder Judiciário.
Nas eleições de outubro de 2014 deverão ser adotados os mesmos critérios
aplicados nas eleições de 2010, ou seja, o número de vagas de Deputados Federais
não foi alterado.
STF. Plenário. ADI 4947, 5020, 5028, 5130, 4963, 4965 e ADC 33/DF, Rel. p. Acórdão Min.
Rosa Weber, julgados em 18/6/2014 (Info 751).
5. MEDIDAS PROVISÓRIAS
5.1. É possível editar medidas provisórias sobre meio ambiente? – (Info 896)
É possível a edição de medidas provisórias tratando sobre matéria ambiental, mas sempre
veiculando normas favoráveis ao meio ambiente.
Normas que importem diminuição da proteção ao meio ambiente equilibrado só podem
ser editadas por meio de lei formal, com amplo debate parlamentar e participação da
sociedade civil e dos órgão e instituições de proteção ambiental, como forma de assegurar
o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Dessa forma, é inconstitucional a edição de MP que importe em diminuição da proteção
ao meio ambiente equilibrado, especialmente em se tratando de diminuição ou supressão
de unidades de conservação, com consequências potencialmente danosas e graves ao
ecossistema protegido.
A proteção ao meio ambiente é um limite material implícito à edição de medida
provisória, ainda que não conste expressamente do elenco das limitações previstas no art.
62, § 1º, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 4717/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 5/4/18 (Info 896).
OBS:
O que é medida provisória? Medida provisória é um ato normativo editado pelo Presidente
da República, em situações de relevância e urgência, e que tem força de lei, ou seja, é como se
fosse uma lei ordinária, com a diferença de que ainda será votada pelo Congresso Nacional,
podendo ser aprovada (quando, então, é convertida em lei) ou rejeitada (situação em que
deixará de existir). As regras sobre as medidas provisórias estão previstas no art. 62 da
CF/88.
Matérias que não podem ser tratadas por MP: Segundo o § 1º do art. 62 da CF/88, é vedada a
edição de medidas provisórias sobre:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito
eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a
garantia de seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais
e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º;
e) que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer
outro ativo financeiro;
f) matéria reservada a lei complementar;
g) matéria já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e
pendente de sanção ou veto do Presidente da República.
5.2. O § 11 do art. 62 da CF/88 deve ser interpretado com cautela, não se podendo protrair
indefinidamente a vigência de medidas provisórias rejeitadas ou não apreciadas – (Info 894)
Nos arts. 6º a 12, a MP estabeleceu os requisitos para que a empresa interessada pudesse
requerer licença da Receita Federal para explorar uma CLIA. A grande vantagem da CLIA é
que, para a sua exploração, não era necessária licitação. Bastava preencher os requisitos
previstos na lei. Durante a vigência da MP, 43 empresas fizeram requerimento à Receita
Federal para instalar CLIA. O Fisco examinou e acolheu 5 desses pedidos.
Ocorre que, em 13 de dezembro de 2016, antes que a Receita tivesse terminado de examinar
todos os requerimentos, o Senado rejeitou a MP 320/2006. Desse modo, de todos os
requerimentos feitos na vigência da MP 320/2006, apenas 5 deles foram apreciados e os 38
restantes não tiveram resposta antes de a MP ser rejeitada.
O que acontece se uma MP não é convertida em lei? Se uma medida provisória não for
convertida em lei, ela perde eficácia desde a sua edição. Ocorrendo essa situação, o
Congresso Nacional deverá editar um decreto legislativo disciplinando como ficarão as
relações jurídicas que foram afetadas pela MP no período em que ela vigorou (art. 62, § 3º).
Em outras palavras, este decreto legislativo irá dizer se os efeitos produzidos pela MP no
período em que ela vigorou continuam ou não, mesmo ela não tendo sido aprovada:
Art. 62 (...)
§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 perderão
eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta
dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual período, devendo o
Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas
delas decorrentes.
E se o Congresso Nacional não editar este decreto legislativo? Se não for editado o decreto
legislativo até 60 dias após a rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, neste caso, a
fim de evitar lacuna e insegurança jurídica, o art. 62, § 11 da CF/88 determina que a falecida
MP continuará regendo as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados
durante a vigência da MP. Veja:
§ 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até sessenta dias
após a rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, as relações jurídicas
constituídas e decorrentes de atos praticados durante sua vigência conservar-se-
ão por ela regidas. (Incluído pela EC 32/2001)
Voltando ao caso concreto: O Congresso Nacional rejeitou a MP 320/2006, mas não editou o
decreto legislativo a que se refere o § 3º disciplinando as relações jurídicas que decorreram da
MP. Diante disso, o que fez a Receita Federal: declarou que os 38 requerimentos que haviam
sido feitos estão prejudicados, ou seja, não podem ser sequer examinados. As empresas que
fizeram esses 38 requerimentos (vamos chama-las de “grupo B”) não se conformaram e
começaram a ingressar com ações judiciais para que a Receita Federal apreciasse os pedidos
conforme as regras da MP 320/2006.
O fundamento para essas ações foi o § 11 do art. 62 da CF/88. Elas disseram o seguinte: como
o Congresso Nacional não editou o decreto legislativo, as situações ocorridas durante a
vigência da MP (requerimentos feitos) continuam regidos pela referida MP mesmo ela tendo
sido rejeitada. Por outro lado, as outras empresas que conseguiram a autorização da Receita
antes da rejeição da MP 320/2006 (vamos chamá-las de “grupo A”) tinham interesse que os
pedidos não fossem apreciados porque assim teriam menos concorrência.
Diante dessa situação, uma associação de empresas que trabalham com movimentação,
armazenagem e despacho aduaneiro de mercadorias, em atenção aos interesses do “grupo
A”, ajuizou ADPF no Supremo para evitar que os pedidos de registro para exploração de
CLIA feitos sob a vigência da MP 320/2006, fossem analisados pela Receita Federal. A
entidade afirmou que as ações judiciais propostas pelo “grupo B” estavam tentando dar
uma interpretação ilegítima aos §§ 3º e 11 do art. 62 da CF/88.
Primeira pergunta: cabe ADPF neste caso? SIM.
É cabível ADPF para questionar interpretação judicial de norma
constitucional. Em outras palavras, cabe ADPF para dizer que a interpretação
que está sendo dada pelos juízes e Tribunais a respeito de determinado
dispositivo constitucional está incorreta e, com isso, viola preceito
fundamental. STF. Plenário. ADPF 216/DF, Rel. Min. Cámen Lúcia, j.
14/3/2018 (Info 894).
Vale ressaltar que, em outra oportunidade, o STF já havia decidido que:
Cabe ADPF para discutir a adequada interpretação do § 11 do art. 62 da CF/88,
ou seja, se ela regularia apenas as relações no período de sua vigência ou
também situações nas relações prospectivas. STF. ADPF 84 AgR/DF, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, julgado em 31/5/2006.
Segunda pergunta: os pedidos feitos durante a vigência da MP 320/2006 devem ser examinados pela
Receita? NÃO. O § 11 do art. 62 da CF/88 deve ser interpretado com cautela, não se podendo
protrair indefinidamente a vigência de medidas provisórias rejeitadas ou não apreciadas.
O mencionado § 11 tem por objetivo garantir segurança jurídica àqueles que praticaram
atos embasados em medida provisória rejeitada ou não apreciada. Isso, contudo, não pode
fazer com que haja uma sobreposição da vontade do Presidente da República sobre a vontade
do Poder Legislativo. Se a interpretação do § 11 conduzir à ideia de que todos os efeitos da
MP rejeitada ou não apreciada irão prevalecer, o que acontecerá, na prática, é que a
vontade do Chefe do Executivo, manifestada na MP, irá prevalecer ao final mesmo tendo
havido rejeição do ato normativo.
5.3. O trancamento da pauta por conta de MPs não votadas no prazo de 45 dias só alcança
projetos de lei que versem sobre temas passíveis de serem tratados por MP – (Info 870) –
IMPORTANTE!!!
O art. 62, § 6º da CF/88 afirma que “se a medida provisória não for apreciada em até
quarenta e cinco dias contados de sua publicação, entrará em regime de urgência,
subsequentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas,
até que se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que
estiver tramitando”.
Apesar de o dispositivo falar em “todas as demais deliberações”, o STF, ao interpretar
esse § 6º, não adotou uma exegese literal e afirmou que ficarão sobrestadas (paralisadas)
apenas as votações de projetos de leis ordinárias que versem sobre temas que possam ser
tratados por medida provisória.
Assim, por exemplo, mesmo havendo medida provisória trancando a pauta pelo fato de
não ter sido apreciada no prazo de 45 dias (art. 62, § 6º), ainda assim a Câmara ou o Senado
poderão votar normalmente propostas de emenda constitucional, projetos de lei
complementar, projetos de resolução, projetos de decreto legislativo e até mesmo projetos
de lei ordinária que tratem sobre um dos assuntos do art. 62, § 1º, da CF/88. Isso porque a
MP somente pode tratar sobre assuntos próprios de lei ordinária e desde que não incida
em nenhuma das proibições do art. 62, § 1º.
STF. Plenário. MS 27931/DF, Rel. Min. Celso de Mello, j. 29/6/2017 (Info 870).
OBS:
Trancamento de pauta: O desejo do legislador constituinte é o de que a medida provisória
seja votada pelo Congresso Nacional, evitando que ela perca a eficácia por ausência de
apreciação. Assim, para “forçar” a análise da MP, o art. 62, § 6º da CF/88 determinou que “se
a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de sua
publicação, entrará em regime de urgência, subsequentemente, em cada uma das Casas do
Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais
deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando”.
Em outras palavras, se já tiverem se passado 45 dias e até então a MP não tiver sido votada,
haverá o chamado “trancamento de pauta”, ou seja, não se poderá analisar outras matérias a
fim de que se dê prioridade para a MP que está pendente.
Sobrestamento atinge apenas projetos de lei ordinária que possam ser tratados por MP: Vale
ressaltar, no entanto, que, apesar de o dispositivo falar em “todas as demais deliberações”, o
STF, ao interpretar esse § 6º, não adotou uma exegese literal e afirmou que ficarão
sobrestadas (paralisadas) apenas as votações de projetos de leis ordinárias que versem
sobre temas que possam ser tratados por medida provisória. Assim, por exemplo, mesmo
havendo medida provisória trancando a pauta pelo fato de não ter sido apreciada no prazo
de 45 dias (art. 62, § 6º), ainda assim a Câmara ou o Senado poderão votar normalmente
propostas de emenda constitucional, projetos de lei complementar, projetos de resolução,
projetos de decreto legislativo e até mesmo projetos de lei ordinária que tratem sobre um dos
assuntos do art. 62, § 1º, da CF/88. Isso porque a MP somente pode tratar sobre assuntos
próprios de lei ordinária e desde que não incida em nenhuma das proibições do art. 62, § 1º.
Compare:
Redação literal do art. 62, § 6º CF/88 Como deve ser interpretado o dispositivo
Se a medida provisória não for apreciada Se a medida provisória não for apreciada
em até quarenta e cinco dias contados de em até quarenta e cinco dias contados de
sua publicação, entrará em regime de sua publicação, entrará em regime de
urgência, subseqüentemente, em cada uma urgência, subseqüentemente, em cada uma
das Casas do Congresso Nacional, ficando das Casas do Congresso Nacional, ficando
sobrestadas, até que se ultime a votação, sobrestadas, até que se ultime a votação,
todas as demais deliberações legislativas da todas as demais deliberações legislativas
Casa em que estiver tramitando. ordinárias, que possam ser tratadas por
medida provisória.
Obs: Se, em uma prova objetiva for cobrada a redação literal do art. 62, § 6º da CF/88, sem
qualquer menção ao entendimento do STF, esta alternativa deve ser assinalada como correta.
Por outro lado, a resposta será outra se o enunciado falar algo como “de acordo com o STF”
ou “de acordo com a jurisprudência”.
Curiosidade: Vale ressaltar que essa interpretação restritiva e não literal do art. 62. § 6º da
CF/88 foi criada por Michel Temer. Em 2009, Temer era Presidente da Câmara dos
Deputados e passou a adotar esse entendimento naquela Casa afirmando que só ficariam
sobrestadas as demais deliberações legislativas que envolvessem projetos de lei ordinária que
pudessem ser tratadas por medida provisória. Alguns Deputados impetraram, então,
mandado de segurança no STF contra essa decisão do então Presidente da Câmara. O STF
agora julgou o MS concordando com a interpretação realizada.
O art. 62 da CF/88 prevê que o Presidente da República somente poderá editar medidas
provisórias em caso de relevância e urgência.
A definição do que seja relevante e urgente para fins de edição de medidas provisórias
consiste, em regra, em um juízo político (escolha política/discricionária) de competência
do Presidente da República, controlado pelo Congresso Nacional.
Desse modo, salvo em caso de notório abuso, o Poder Judiciário não deve se imiscuir na
análise dos requisitos da MP.
No caso de MP que trate sobre situação tipicamente financeira e tributária, deve
prevalecer, em regra, o juízo do administrador público, não devendo o STF declarar a
norma inconstitucional por afronta ao art. 62 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 1055/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2016 (Info 851).
5.5. Análise dos requisitos constitucionais de relevância e urgência e MP que trate sobre
situação tipicamente financeira e tributária – (Info 851)
6. PEC DA BENGALA
6.1. ADI proposta contra a EC 88/2015 – (Info 786) – IMPORTANTE!!!
No dia 08/05/2015, foi publicada a EC 88/2015, que ficou jocosamente conhecida como
“PEC da Bengala” em virtude de aumentar o limite de idade da aposentadoria
compulsória dos Ministros de Tribunais Superiores.
Foi proposta uma ADI contra essa EC, tendo o STF julgado a medida liminar. Veja o que
foi decidido:
O art. 100 do ADCT afirma que os Ministros do STF, dos Tribunais Superiores e do TCU
irão se aposentar compulsoriamente, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, “nas condições
do art. 52 da Constituição Federal”. O que quer dizer essa parte final?
O objetivo dessa parte final do dispositivo foi o de exigir que o Ministro que complete 70
anos somente possa continuar no cargo se for submetido a nova arguição pública
(“sabatina”) e votação no Senado Federal. Em outras palavras, o Ministro, quando
completasse 70 anos, poderia continuar no cargo até os 75 anos, mas, para isso, seu nome
precisaria ser novamente aprovado pelo Senado.
O STF entendeu que seria possível estender essa regra da aposentadoria compulsória aos
75 anos para juízes e Desembargadores mesmo sem a edição de lei complementar?
NÃO. O STF afirmou que o art. 100 do ADCT da CF/88 não poderia ser estendido a outros
agentes públicos até que fosse editada a Lei Complementar Nacional a que se refere o art.
40, § 1º, inciso II, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786).
7. AMICUS CURIAE
7.1. AMICUS CURIAE: A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do
amicus curiae é irrecorrível – (Info 920) – IMPORTANTE!!!
7.2. Havendo três amici curiae para fazer sustentação oral no STF, o prazo deverá ser
considerado em dobro, dividido entre eles – (Info 863)
Nos processos que tramitam no STF, o amicus curiae pode fazer sustentação oral.
Em regra, o amicus curiae dispõe de 15 minutos para a sustentação oral no STF.
Se houver mais de um amicus curiae, o prazo para sustentação oral no STF será o mesmo?
NÃO. Havendo mais de um amicus curiae, o STF adota a seguinte sistemática: o prazo é
duplicado e dividido entre eles. Assim, em vez de 15, os amici curiae (plural de amicus
curiae) terão 30 minutos, que deverão ser divididos entre eles.
Dessa forma, se são três amici curiae para fazer sustentação oral, o prazo deverá ser
considerado em dobro, ou seja, 30 minutos, devendo ser dividido pelo número de
sustentações orais. Logo, cada um deles terá 10 minutos para manifestação na tribuna.
STF. Plenário. RE 612043/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 4/5/2017 (Info 863).
OBS:
Conceito e finalidade: Amicus curiae é alguém que, mesmo sem ser parte, em razão de sua
representatividade, é chamado ou se oferece para intervir em processo relevante com o
objetivo de apresentar ao Tribunal a sua opinião sobre o debate que está sendo travado nos
autos, fazendo com que a discussão seja amplificada e o órgão julgador possa ter mais
elementos para decidir de forma legítima.
Nomenclatura: Amicus curiae, em uma tradução literal do latim, significa “amigo da corte”
ou “amigo do tribunal”. Obs.: amici curiae é o plural de amicus curiae.
Origem: Alguns autores afirmam que esta figura surgiu no direito processual penal inglês,
enquanto outros identificam uma origem mais remota, lembrando que havia figura
assemelhada no direito romano (Marcelo Novelino).
Natureza jurídica: A maioria da doutrina defende que o amicus curiae seria uma forma de
intervenção anômala de terceiros. Para o Min. Luiz Fux, no entanto, o amigo da Corte não é
parte nem terceiro, mas apenas agente colaborador.
Previsão legal: O CPC 2015 passou a disciplinar expressamente a figura do amicus curiae,
nos seguintes termos:
Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a
especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da
controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das
partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de
pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com
representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação.
§ 1º A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competência
nem autoriza a interposição de recursos, ressalvadas a oposição de embargos de
declaração e a hipótese do § 3º.
§ 2º Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a
intervenção, definir os poderes do amicus curiae.
§ 3º O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de
resolução de demandas repetitivas.
Quem pode ser amicus curiae? Pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada,
com representatividade adequada.
Poderes do amicus curiae: Havia uma intensa discussão a respeito de quais seriam os poderes
do amicus curiae. O novo CPC, a fim de dirimir essa polêmica, afirma que caberá ao juiz ou
ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir os poderes do amicus
curiae (art. 138, § 2º do CP 2015).
Nos processos que tramitam no STF o amicus curiae pode fazer sustentação oral? SIM.
Qual é o prazo de que dispõe o amicus curiae para a sustentação oral no STF? Em regra, 15
minutos (art. 132 do RISTF).
Se houver mais de um amicus curiae, o prazo para sustentação oral no STF será o mesmo?
NÃO. Havendo mais de um amicus curiae, o STF adota a seguinte sistemática: o prazo é
duplicado e dividido entre eles. Assim, em vez de 15, os amici curiae (plural de amicus
curiae) terão 30 minutos, que deverão ser divididos entre eles.
A intervenção do amicus curiae pode ocorrer não apenas em processos que tramitem em
Tribunais, mas também em feitos que estejam em 1ª instância.
Determinado Deputado Federal estava respondendo a ação penal no STF pela suposta
prática do crime de peculato.
O partido político que ele integra requereu a sua intervenção no feito como amicus curiae.
O STF indeferiu o pedido afirmando que a agremiação partidária, autoqualificando-se
como amicus curiae, pretendia, na verdade, ingressar numa posição que a relação
processual penal não admite, considerados os estritos termos do CPP.
STF. 1ª T. AP 504/DF, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, j.
9/8/16 (Info 834).
7.5. Recurso contra decisão que nega intervenção de amicus curiae – (Info 772)
7.7. Amicus curiae e momento limite para a sua intervenção – (Info 747)
O amicus curiae não poderá intervir se o processo já foi liberado pelo Relator para que
seja incluído na pauta de julgamentos.
STF. Plenário. ADI 5104 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 21/5/14 (Info 747).
OBS:
Em princípio, a manifestação dos amici curiae devem ocorrer antes da inclusão
do processo em pauta para julgamento. No entanto, o STF admite algumas
exceções se ficar demonstrado que: a) existe grande relevância no caso; b) ou
que a manifestação do requerente poderá trazer notória contribuição para o
julgamento da causa. Em tais situações é possível admitir o ingresso do amicus
curiae mesmo após a inclusão do processo em pauta. STF. Decisão monocrática.
RE 647827, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/10/2016.
Mesmo sendo uma decisão monocrática, vale a pena conhecer esta posição.
8. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
8.1. ADI: Mesmo que uma lei seja fruto de acordo homologado judicialmente, ela poderá
ser objeto de ADI, não havendo violação da coisa julgada material – (Info 955)
Foi proposta ADI contra lei municipal. O TJ não conheceu da ação sob o argumento de
que a lei impugnada seria fruto de um acordo homologado judicialmente. Logo, não seria
possível rediscutir a matéria por meio de ação direta de inconstitucionalidade,
considerando que haveria violação à coisa julgada material. O STF concordou com essa
conclusão?
NÃO. O fato de a lei ter sido aplicada em casos concretos, com decisões transitadas em
julgado, em nada interfere na possibilidade dessa mesma norma ser analisada,
abstratamente, em sede de ação direta de inconstitucionalidade.
Acordos homologados judicialmente jamais podem afastar o controle concentrado de
constitucionalidade das leis.
Desse modo, não pode prevalecer a afirmação do TJ no sentido de que a norma tida por
viciada não pode ser objeto de ADI, pois se discute aqui a constitucionalidade da lei
impugnada, e não o trânsito em julgado dos acordos homologados judicialmente.
STF. 1ª T. RE 1186465 AgR/TO, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 8/10/19 (Info 955).
8.2. ADI: Uma lei que tenha destinatários determináveis continua possuindo caráter
abstrato e geral e pode ser impugnada por meio de ADI – (Info 955)
O fato de uma lei possuir destinatários determináveis não retira seu caráter abstrato e
geral, tampouco a transforma em norma de efeitos concretos.
STF. 1ª T. RE 1186465 AgR/TO, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 8/10/19 (Info 955).
8.3. ADI: É cabível ADI contra decreto autônomo que extingue colegiados da
Administração Pública – (Info 944) – IMPORTANTE!!!
É cabível ADI contra decreto presidencial que, com fundamento no art. 84, VI, “a”, da
CF/88, extingue colegiados da Administração Pública federal. Isso porque se trata de
decreto autônomo, que retira fundamento de validade diretamente da Constituição
Federal e, portanto, é dotado de generalidade e abstração.
STF. Plenário. ADI 6121 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 12 e 13/6/2019 (Info 944).
8.4. ADPF: Possibilidade de conhecimento da ADPF mesmo que a lei atacada tenha sido
revogada antes do julgamento, se persistir a utilidade em se proferir decisão com caráter erga
omnes e vinculante – (Info 939)
Em Fortaleza, foi editada a Lei municipal 10.553/16 proibindo o serviço de transporte em
aplicativos. Foi ajuizada ADPF contra a lei. Antes que a ação fosse julgada, a referida Lei
foi revogada.
Mesmo com a revogação, o STF conheceu da ADPF e julgou o mérito, declarando a Lei
10.553/16 inconstitucional.
O Tribunal considerou que a revogação da Lei atacada na ADPF por outra lei local não
retira o interesse de agir no feito. Isso porque persiste a utilidade da prestação
jurisdicional com o intuito de estabelecer, com caráter erga omnes e vinculante, o regime
aplicável às relações jurídicas estabelecidas durante a vigência da norma impugnada, bem
como no que diz respeito a leis de idêntico teor aprovadas em outros Municípios.
Trata-se da solução mais consentânea com o princípio da eficiência processual e o
imperativo aproveitamento dos atos já praticados de maneira socialmente proveitosa.
STF. Plenário. ADPF 449/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 8 e 9/5/19 (Info 939).
8.5. OBJETO DA ADI: Se for editada MP revogando lei que está sendo questionada por
meio de ADI, esta ação poderá ser julgada enquanto a MP não for votada (enquanto a MP
não for votada, não há perda do objeto) – (Info 935) – IMPORTANTE!!!
Não se conta em dobro o prazo recursal para a Fazenda Pública em processo objetivo,
mesmo que seja para interposição de recurso extraordinário em processo de fiscalização
normativa abstrata.
Não há, nos processos de fiscalização normativa abstrata, a prerrogativa processual dos
prazos em dobro.
Não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a norma
que concede prazo em dobro à Fazenda Pública.
Assim, por exemplo, a Fazenda Pública não possui prazo recursal em dobro no processo
de controle concentrado de constitucionalidade, mesmo que seja para a interposição de
recurso extraordinário.
STF. Plenário. ADI 5814 MC-AgR-AgR/RR, Rel. Min. Roberto Barroso; ARE 830727
AgR/SC, Rel. para acórdão Min. Cármen Lúcia, j. 06/02/2019 (Info 929).
OBS:
Prerrogativa de prazo em dobro: A Fazenda Pública possui prazo em dobro para recorrer.
Isso está previsto no art. 183 do CPC/15:
Art. 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas
respectivas autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em
dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a
partir da intimação pessoal.
• Min. Celso de Mello: defendeu que o processo de fiscalização normativa abstrata possui,
normalmente, uma autonomia em relação aos institutos peculiares aos processos de índole
meramente subjetiva. Em outras palavras, existem várias regras aplicáveis aos processos
subjetivos que não incidem em caso de processos objetivos. Assim, o direito processual
constitucional* é autônomo, regido por princípios próprios, em que são afastados os
interesses meramente subjetivos.
8.7. OBJETO DA ADI: Coexistência de ADI no TJ e ADI no STF, sendo a ADI estadual
julgada primeiro – (Info 926) – IMPORTANTE!!!
Viola a igualdade a exigência de que o cargo público seja ocupado por indivíduo com
curso de administração pública mantido por instituição pública credenciada no respectivo
Estado
É inconstitucional lei estadual que, ao criar o cargo de administrador público, exige que
ele seja ocupado por profissional graduado em Curso de Administração Pública mantido
por Instituição Pública de Ensino Superior, credenciada no respectivo Estado.
Essa previsão da lei estadual ofende o princípio constitucional da igualdade no acesso a
cargos públicos. Além disso, essa regra também viola o art. 19, III, da CF/88, que proíbe a
criação de distinções ilegítimas entre brasileiros.
STF. Plenário. ADI 3659/AM, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 13/12/18 (Info 927).
OBS:
A situação concreta foi a seguinte: O Estado do Amazonas editou a Lei 2.778/02, que criou,
no âmbito da Administração Pública estadual, o cargo de “administrador público”. Até aí,
Ok. O problema foi que a lei estadual previu como requisito para esse cargo “Graduação em
Curso de Administração Pública mantida por Instituição Pública de Ensino Superior,
credenciada no Estado do Amazonas”. Veja o texto da Lei:
Art. 1.º Fica instituída, no Quadro de Pessoal do Poder Executivo, a carreira de
Administrador Público, com os cargos de provimento efetivo e vencimentos
fixados no Anexo Único desta Lei. (...)
Art. 3.º O provimento dos cargos na classe inicial da carreira dar-se-á por
aprovação em concurso público de provas e títulos, e Graduação em Curso de
Administração Pública mantido por Instituição Pública de Ensino Superior,
credenciada no Estado do Amazonas.
§ 1.º A classificação final dos candidatos será feita pela média ponderada da
nota global do concurso, as provas e títulos com peso 1 e coeficiente final de
rendimento em Curso de Administração Pública, mantido por Instituição
Pública de Ensino Superior, credenciada no Estado do Amazonas, com peso 2.
(...)
Duas ações diretas de inconstitucionalidade: Foram propostas duas ações diretas de
inconstitucionalidade contra essa previsão:
• ADI ajuizada pelo PGJ do Amazonas, no Tribunal de Justiça, alegando que a lei violaria a
Constituição Estadual.
• ADI ajuizada pelo PGR, no STF, argumentando que a previsão ofenderia a CF/88.
Julgamento da ADI estadual: A 1ª ação julgada foi a ADI estadual. O TJ/AM julgou a ADI
procedente e declarou esta previsão inconstitucional por violar o princípio da igualdade
previsto no art. 3º da CE do Amazonas e reproduzido no art. 5º, caput, da CF. Vale ressaltar
que, como o acórdão do TJ/AM analisou um dispositivo que é reproduzido também na
CF/88, contra esta decisão caberia recurso extraordinário para o STF. Ocorre que, como não
foi manejado nenhum recurso, houve o trânsito em julgado.
Julgamento da ADI no STF: Chegou o dia de se julgar a ADI proposta no STF. Surgiu uma
dúvida: com a decisão do TJ/AM declarando a inconstitucionalidade da lei, houve a perda
do objeto da ADI proposta no STF? Como a Lei 2.778/02 já foi declarada inconstitucional,
pode-se dizer que ficou prejudicado o conhecimento da ADI no STF? NÃO. A ADI no STF
não ficou prejudicada. Vamos entender o motivo.
Coexistência de duas ADIs:
Coexistindo duas ações diretas de inconstitucionalidade, uma ajuizada perante
o tribunal de justiça local e outra perante o STF, o julgamento da primeira –
estadual – somente prejudica o da segunda – do STF – se preenchidas duas
condições cumulativas:
1) se a decisão do Tribunal de Justiça for pela procedência da ação e
2) se a inconstitucionalidade for por incompatibilidade com preceito da
Constituição do Estado sem correspondência na Constituição Federal. Caso o
parâmetro do controle de constitucionalidade tenha correspondência na
Constituição Federal, subsiste a jurisdição do STF para o controle abstrato de
constitucionalidade.
STF. Plenário. ADI 3659/AM, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 13/12/18 (Info
927).
No caso concreto, foi preenchido o requisito 1, mas não se verificou a condição 2.
Na verdade, o que o TJ/AM deveria ter feito era suspender a ADI lá proposta a fim de
aguardar o pronunciamento do STF. Nesse sentido:
(...) A ocorrência de coexistência de jurisdições constitucionais estadual e
nacional configura a hipótese de suspensão prejudicial do processo de
controle normativo abstrato instaurado perante o Tribunal de Justiça local. (...)
STF. Plenário. ADPF 190, Rel. Min. Edson Fachin, j. 29/9/16.
(...) Coexistência de jurisdições constitucionais estaduais e federal. Propositura
simultânea de ADI contra lei estadual perante o Supremo Tribunal Federal e o
Tribunal de Justiça. Suspensão do processo no âmbito da justiça estadual, até a
deliberação definitiva desta Corte. (...) STF. Plenário. Pet 2701 AgR, Rel. Min.
Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Gilmar Mendes, j. 08/10/2003.
Como isso não ocorreu, não pode o STF ficar limitado ao que decidiu a Corte local. Caso
contrário, seria possível que um tribunal de justiça, por não suspender o trâmite de
representação de inconstitucionalidade, dessa interpretação à norma de repetição obrigatória
que valeria apenas para o respectivo estado-membro. Isso porque o STF poderia conferir
interpretação diversa à norma de repetição obrigatória para os demais entes da Federação.
Com esse entendimento, o STF rejeitou a alegação de prejudicialidade da ADI e julgou o
mérito da ação lá proposta.
E quanto ao mérito, o que decidiu o STF? Esta previsão da Lei estadual é realmente
inconstitucional, como decidiu o TJ/AM? SIM. O STF julgou procedente a ADI e também
considerou inconstitucional a expressão “Graduação em Curso de Administração Pública
mantido por Instituição Pública de Ensino Superior, credenciada no Estado do Amazonas”.
Realmente, essa previsão da lei estadual ofende o princípio constitucional da igualdade no
acesso a cargos públicos. Além disso, essa regra também viola o art. 19, III, da Constituição
Federal, que proíbe a criação de distinções ilegítimas entre brasileiros.
Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97)
a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare
expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte.
8.10. CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO: É nula decisão que deixa de aplicar o art.
94, II, da Lei 9.472/97 sem observar a cláusula de reserva de plenário - (Info 919)
É nula a decisão de órgão fracionário que se recusa a aplicar o art. 94, II, da Lei nº 9.472/97,
sem observar a cláusula de reserva de plenário (art. 97, da CF/88), observado o art. 949 do
CPC/2015.
STF. Plenário. ARE 791932/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 10 e 11/10/18
(repercussão geral) (Info 919).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A “Oi” é uma empresa concessionária de serviços de
telecomunicações. A “Oi” contratou outra empresa (Contax) para fazer o atendimento dos
consumidores que ligassem para o serviço de atendimento ao cliente da concessionária. Em
outras palavras, a “Oi” contratou uma empresa de call center para atender seus clientes. A
“Oi” invocou, como fundamento legal para a contratação o art. 94, II, da Lei nº 9.472/97 (Lei
das Telecomunicações):
Art. 94. No cumprimento de seus deveres, a concessionária poderá, observadas
as condições e limites estabelecidos pela Agência: (...)
II - contratar com terceiros o desenvolvimento de atividades inerentes,
acessórias ou complementares ao serviço, bem como a implementação de
projetos associados.
Ocorre que uma ex-funcionária da empresa de call center ajuizou reclamação trabalhista
contra a Contax e contra a “Oi”, alegando que, embora tenha sido formalmente contratada
pela empresa fornecedora de mão-de-obra, na realidade prestou serviços apenas no interesse
e sob a fiscalização da empresa de telefonia. Logo, pediu o reconhecimento de vínculo
trabalhista com a “Oi”. Após a 1ª e 2ª instâncias, uma das Turmas do TST julgou o caso e
entendeu que o contrato de trabalho celebrado entre a funcionária e a Contax foi ilícito e que
houve vínculo empregatício direto com a concessionária. Isso porque houve terceirização de
atividade-fim, o que não é admitido pela jurisprudência do TST (Enunciado 331).
Recurso extraordinário: A empresa interpôs recurso contra esta decisão ao STF alegando que
a turma do TST (órgão fracionário daquele Tribunal), ao afastar a aplicação do art. 94, II, da
Lei 9.472/97 (Lei das Telecomunicações) sem que isso tenha sido submetido ao Plenário,
violou a Súmula Vinculante 10:
Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97)
a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare
expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte.
Veja o que diz o art. 97 da CF/88, no qual está prevista a cláusula de reserva de plenário:
Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos
membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.
Foi correta a decisão da Justiça do Trabalho? NÃO. A decisão do órgão fracionário do TST
desrespeitou a cláusula de reserva do plenário (art. 97, CF/88). Ao entender ilícita a
terceirização da atividade-fim, com suporte na Súmula 331, o TST, na prática, afastou, em
parte, a vigência e a eficácia do inciso II do art. 94 da Lei 9.472/97, sem deliberar
expressamente sobre a sua inconstitucionalidade. Assim, o TST fez justamente aquilo que a
SV 10 busca coibir. Diante disso, o STF fixou a seguinte tese:
É nula a decisão de órgão fracionário que se recusa a aplicar o art. 94, II, da Lei
9.472/97, sem observar a cláusula de reserva de plenário (art. 97, CF/88),
observado o art. 949, CPC/15. STF. Plenário. ARE 791932/DF, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, j. 10 e 11/10/18 (Info 919).
O STF declarou nula a decisão do TST por violação à cláusula de reserva de plenário. Em
outras palavras, o STF disse o seguinte: a turma do TST não poderia ter declarado a lei
inconstitucional. Isso teria que ter sido feito pelo Plenário. Diante disso, com a declaração
de nulidade da decisão, o STF, obrigatoriamente, terá que determinar o retorno dos autos ao
TST para que aquele Tribunal, por meio de seu Plenário, decida sobre a constitucionalidade
ou não da lei? O retorno dos autos é a medida a ser adotada? NÃO. O STF entendeu que a
devolução ao TST não seria uma medida lógica e somente atrasaria a resolução final do
processo. Isso porque o STF já tem posição consolidada sobre o assunto, tendo decidido que
o Enunciado 331 do TST é inconstitucional e que é lícita a terceirização de toda e qualquer
atividade, meio ou fim, de forma que não se configura relação de emprego entre a
contratante e o empregado da contratada. Assim, é possível que uma empresa de telefonia
terceirize os serviços de call center mesmo que consideremos isso como atividade-fim. O
art. 94, II, da Lei nº 9.472/97 é constitucional. O STF considera que é lícita a terceirização de
toda e qualquer atividade da empresa, seja ela atividade-meio ou fim:
É lícita a terceirização ou qualquer outra forma de divisão do trabalho entre
pessoas jurídicas distintas, independentemente do objeto social das empresas
envolvidas, mantida a responsabilidade subsidiária da empresa contratante. Os
itens I e III da Súmula 331 do TST são inconstitucionais. STF. Plenário. ADPF
324/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 29 e 30/8/18 (Info 913). STF. Plenário. RE
958252/MG, Rel. Min. Luiz Fux, j. 29 e 30/8/18 (repercussão geral) (Info 913).
Parágrafo único do art. 949 do CPC: O parágrafo único do art. 949 do CPC reforça a
desnecessidade do retorno do feito ao TST, pois o STF se pronunciou sobre a
constitucionalidade da contratação de terceiros para o desenvolvimento de atividades
inerentes ou atividade-fim, e o art. 94 autoriza a contratação da atividade-fim. Ademais, a
devolução não atende o direito fundamental da duração razoável do processo. Veja o que diz
o CPC:
Art. 949. Se a arguição for:
I - rejeitada, prosseguirá o julgamento;
II - acolhida, a questão será submetida ao plenário do tribunal ou ao seu órgão
especial, onde houver.
Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao
plenário ou ao órgão especial a arguição de inconstitucionalidade quando já
houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal
sobre a questão.
Caso o STF, ao julgar uma ADI, ADC ou ADPF, declare a lei ou ato normativo
inconstitucional, ele poderá, de ofício, fazer a modulação dos efeitos dessa decisão.
Ex: no julgamento de uma ADI, o STF decidiu que determinado artigo de lei é
inconstitucional. Um dos legitimados do art. 103 da CF/88 opôs embargos de declaração
pedindo a modulação dos efeitos. Ocorre que o STF considerou que esses embargos eram
intempestivos. O STF, mesmo não conhecendo dos embargos, poderá decretar a
modulação dos efeitos da decisão.
STF. Plenário. ADI 5617 ED/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 2/10/18 (Info 918).
OBS:
Modulação dos efeitos do julgado no caso de processos objetivos de constitucionalidade: No
julgamento de ADI, ADC ou ADPF, as Lei 9.868/99 e 9.882/99 preveem expressamente que o
STF poderá modular os efeitos da decisão que julga determinado ato contrário à CF/88. Em
outras palavras, a Lei permite que o STF determine que os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade somente valham a partir da decisão proferida (ex nunc) ou ainda a
partir de determinada data futura (efeitos prospectivos). Veja o que diz a Lei nº 9.868/99:
Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em
vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o
Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir
os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu
trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.
Mesma regra pode ser encontrada no art. 11, da Lei nº 9.882/99.
8.14. É constitucional a lei que extinguiu a contribuição sindical obrigatória – (Info 908) –
IMPORTANTE!!!
Questões de concurso:
(AGU CESPE 2012) Considere a seguinte situação hipotética. Foi ajuizada ADI no STF contra
lei estadual por contrariedade a dispositivo expresso na CF. Porém, antes do julgamento da
ação, o parâmetro de controle foi alterado, de modo a tornar a norma impugnada
consentânea com o dispositivo constitucional. Nessa situação hipotética, admite-se, de acordo
com recente jurisprudência do STF, a denominada constitucionalidade superveniente,
devendo, portanto, ser afastada a aplicação do princípio da contemporaneidade e julgada
improcedente a ação. (ERRADO)
(Promotor MPE GO 2016 banca própria) O sistema jurídico brasileiro não contempla a figura
da constitucionalidade superveniente, exceto se houver taxativa previsão constitucional.
(CERTO)
(Juiz TJ/MS 2012) Se uma lei fere o processo legislativo previsto na Constituição sob a qual
foi editada e, até o advento da nova Constituição, não fora objeto de controle de
constitucionalidade, ela não pode ser recebida pela nova Constituição, uma vez que o
Supremo Tribunal Federal já se manifestou contra a adoção da teoria da constitucionalidade
superveniente. (CERTO)
Esse entendimento foi reafirmado agora:
A alteração do parâmetro constitucional, quando o processo ainda está em
curso, não prejudica o conhecimento da ADI. Isso para evitar situações em
que uma lei que nasceu claramente inconstitucional volte a produzir, em tese,
seus efeitos. STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/6/18 (Info
907).
Vale ressaltar que nos casos de alteração do parâmetro o STF deverá realizar dois juízos:
1) um juízo de constitucionalidade com relação ao parâmetro original, ou seja, verificar se a
lei ou ato normativo impugnado era constitucional (compatível com o parâmetro
impugnado);
2) um juízo de recepção ou não com o novo parâmetro, isto é, analisar se a lei ou ato
normativo impugnado está de acordo com a redação atual da CF/88. Fala-se em recepção ou
não nesta segunda hipótese porque o texto constitucional que se estará comparando é
posterior à lei ou ato normativo impugnado.
Foi o que ensinou o Min. Gilmar Mendes na ADI 94/RO: “nesses casos, impõe-se a
verificação da constitucionalidade do dispositivo em relação aos dois parâmetros
constitucionais” (DJ de 16/12/11).
É inconstitucional a lei que determina que, na votação eletrônica, o registro de cada voto
deverá ser impresso e depositado, de forma automática e sem contato manual do eleitor,
em local previamente lacrado (art. 59-A da Lei 9.504/97, incluído pela Lei 13.165/2015).
Essa previsão acaba permitindo a identificação de quem votou, ou seja, permite a quebra
do sigilo, e, consequentemente, a diminuição da liberdade do voto, violando o art. 14 e o §
4º do art. 60 da Constituição Federal.
Cabe ao legislador fazer a opção pelo voto impresso, eletrônico ou híbrido, visto que a
CF/88 nada dispõe a esse respeito, observadas, entretanto, as características do voto nela
previstas.
O modelo híbrido trazido pelo art. 59-A constitui efetivo retrocesso aos avanços
democráticos conquistados pelo Brasil para garantir eleições realmente livres, em que as
pessoas possam escolher os candidatos que preferirem.
STF. Plenário. ADI 5889/DF, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 6/6/2018 (Info 905).
OBS: Veja comentários no arquivo Direito Eleitoral.
8.17. Procuração com poderes específicos para o ajuizamento de ADI – (Info 905) –
IMPORTANTE!!!
8.18. Não cabe ADI contra decreto regulamentar de lei estadual – (Info 905)
8.19. Cabimento de ADI contra Resolução do TSE – (Info 747 e 900) – (TJMS-2015)
É cabível ADI contra Resolução do TSE que tenha, em seu conteúdo material, “norma de
decisão” de caráter abstrato, geral e autônomo, apta a ser apreciada pelo STF em sede de
controle abstrato de constitucionalidade.
STF. Plenário. ADI 5122, Rel. Min. Edson Fachin, j. 3/5/2018 (Info 900).
OBS: Outro precedente no mesmo sentido:
A Resolução do TSE pode ser impugnada no STF por meio de ADI se, a pretexto
de regulamentar dispositivos legais, assumir caráter autônomo e inovador. STF.
Plenário. ADI 5104 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 21/5/14 (Info 747).
A Resolução do CNMP consiste em ato normativo de caráter geral e abstrato, editado pelo
Conselho no exercício de sua competência constitucional, razão pela qual constitui ato
normativo primário, sujeito a controle de constitucionalidade, por ação direta, no
Supremo Tribunal Federal.
STF. Plenário. ADI 4263/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 25/4/18 (Info 899).
8.21. CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO: Decisão que deixa de aplicar o art. 25, §
1º, da Lei 8.987/95 – (Info 896) – TEMA POLÊMICO!!!
O art. 25, § 1º, da Lei 8.987/95 prevê o seguinte: “(...) a concessionária poderá contratar com
terceiros o desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias ou complementares ao
serviço concedido, bem como a implementação de projetos associados.”
Se o órgão fracionário de um Tribunal (ex: uma das Turmas do TRT) julga ilegal a
terceirização contratada por uma concessionária do serviço público, afastando a aplicação
do art. 25, § 1º, da Lei 8.987/95, esta decisão viola a súmula vinculante 10?
• SIM. O art. 25, § 1º, da Lei 8.987/95 permite a terceirização da atividade-fim das empresas
concessionárias do serviço público. Logo, se um órgão fracionário do TRT afasta a
aplicação deste dispositivo, haverá afronta à súmula vinculante 10 por violação à cláusula
da reserva de plenário.
STF. 1ª Turma. Rcl 27068/MG, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Luís Roberto, j.
5/3/18 (Info 896).
8.22. O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões proferidas
em sede de controle concentrado de constitucionalidade – (Info 896) – IMPORTANTE!!!
Esse recurso terá êxito? NÃO. Os embargos de declaração não serão conhecidos.
Legitimidade não é do Estado, mas sim do Governador: A legitimidade para recorrer, neste
caso, é do Governador do Estado de São Paulo. O Estado de São Paulo não tem legitimidade
para opor embargos de declaração porque o Estado de São Paulo não é parte neste processo.
Vale ressaltar que, na petição inicial da ADI, quando proposta pelo Governador, quem figura
como autor da ação é o Governador do Estado (e não o Estado).
Desse modo, repita-se, o Estado-membro não tem legitimidade para propor ADI. A
legitimidade pertence ao Governador do Estado. Logo, se a ação é julgada improcedente,
quem tem legitimidade para recorrer é o próprio Governador (e não o Estado).
No entanto, o recurso foi interposto desta forma (apenas um exemplo): “O ESTADO DE SÃO
PAULO vem opor os presentes EMBARGOS DE DECLARAÇÃO”.
Diante disso, o que acontecerá? Os embargos de declaração não serão conhecidos (seu
mérito não será apreciado) em virtude da ilegitimidade da parte recorrente. O Estado de São
Paulo não é parte legítima para recorrer.
8.23. ADPF: É possível celebrar acordo em ADPF – (Info 892) – IMPORTANTE! Não tem
nos livros!!!
Exemplo: As pessoas que tinham dinheiro em conta poupança nos anos de 1986 a 1991 foram
prejudicadas pelos planos econômicos editados neste período (Planos Cruzado, Bresser,
Verão e Collor II). Isso porque esses planos fizeram a conversão dos valores depositados de
forma errada (os chamados “expurgos inflacionários”). Em razão disso, tais poupadores
ingressaram com ações judiciais pedindo a correção disso e o pagamento das diferenças.
Além das ações individuais, também foram propostas ações coletivas ajuizadas por
associações de defesa do consumidor e por associações de poupadores. Os juízes e Tribunais
estavam todos decidindo em favor dos poupadores. A fim de tentar reverter a situação,
Confederação Nacional do Sistema Financeiro (CONSIF) ajuizou, no STF, a ADPF 165,
pedindo, com eficácia erga omnes (para todos) e efeito vinculante, a suspensão de qualquer
decisão judicial que tivesse por objeto a reposição das perdas decorrentes dos planos
econômicos. Na ação, a CONSIF alegava a plena constitucionalidade dos referidos planos, de
forma que os poupadores não teriam nada a receber. Ao longo da tramitação da ADPF, as
várias associações de defesa do consumidor e dos poupadores, que haviam ajuizado ações
coletivas tratando do tema, pediram para intervir no processo na qualidade de amicus curiae
(ex: Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, Associação Brasileira do Consumidor,
entre outras), o que foi aceito pelo STF. Depois de quase 9 anos tramitando no STF, houve
um acordo entre a CONSIF (autora da ADPF) e as associações de defesa do
consumidor/poupadores. Vale ressaltar que a AGU atuou como mediadora desse ajuste (art.
4º da Lei nº 13.140/2015), por meio da Câmara de Conciliação e Arbitragem da
Administração Federal. Por meio desse acordo, os bancos aceitam pagar os poupadores
segundo cronograma e condições que estão no ajuste e, em troca, os correntistas desistem
das ações individuais que possuíam contra as instituições financeiras. Além disso, as
associações de defesa do consumidor comprometeram-se a peticionar nas ações civis
públicas que ingressaram requerendo a extinção do processo pela transação (art. 487, III, “b”,
do CPC). Os termos do acordo preveem o pagamento de mais de 12 bilhões de reais aos
poupadores, que serão inscritos em plataforma digital preparada pelo CNJ. Os bancos irão
analisar os requerimentos dos interessados. Os pagamentos serão feitos nas contas correntes
dos beneficiários, que receberão os respectivos valores à vista ou parceladamente, a depender
do montante. Terão direito à reparação todos que haviam ingressado com ações coletivas e
individuais para cobrar das instituições financeiras os valores referentes às correções. No
caso das ações individuais, poupadores ou herdeiros que ingressaram judicialmente dentro
do prazo prescricional de 20 anos da edição de cada plano também poderão receber os
valores. Igualmente poderão aderir os poupadores que, com base em ações civis públicas,
requereram execução de sentença coletiva até 31/12/2016.
E o que a aconteceu com a ADPF? Foi extinta, nos termos do art. 487, III, “b”, do CPC:
Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: (...)
III - homologar: (...)
b) a transação;
Apesar de a resolução da ADPF ter sido com resolução do mérito, ressalte-se, mais uma vez,
que o STF, ao homologar o acordo, não concordou com nenhuma das teses jurídicas
defendidas pelas partes no processo, ou seja, não disse que os poupadores ou que os
bancos tinham razão. Isso não foi analisado na homologação do acordo.
Existe previsão legal de que as associações autoras de ações civis públicas possam fazer
transação nessas ações? NÃO. A Lei 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) prevê que os
órgãos públicos podem fazer acordos nas ações civis públicas em curso, não mencionando
as associações privadas. Confira:
Art. 5º (...)
§ 6º Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados
compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante
cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.
Mesmo sem previsão legal as associações privadas podem transacionar em ações civis
públicas: O STF afirmou que, mesmo sem previsão normativa expressa, as associações
privadas também podem fazer acordos nas ações coletivas. Assim, a ausência de disposição
normativa expressa no que concerne a associações privadas não afasta a viabilidade do
acordo. Isso porque a existência de previsão explícita unicamente quanto aos entes públicos
diz respeito ao fato de que somente podem fazer o que a lei determina, ao passo que aos
entes privados é dado fazer tudo que a lei não proíbe. Para o Min. Ricardo Lewandoswki,
“não faria sentido prever um modelo que autoriza a justiciabilidade privada de direitos e,
simultaneamente, deixar de conferir aos entes privados as mais comezinhas faculdades
processuais, tais como a de firmar acordos.”
O que acontece se a lei impugnada por meio de ADI é alterada antes do julgamento da
ação?
Neste caso, o autor da ADI deverá aditar a petição inicial demonstrando que a nova
redação do dispositivo impugnado apresenta o mesmo vício de inconstitucionalidade que
existia na redação original.
A revogação, ou substancial alteração, do complexo normativo impõe ao autor o ônus de
apresentar eventual pedido de aditamento, caso considere subsistir a
inconstitucionalidade na norma que promoveu a alteração ou revogação.
Se o autor não fizer isso, o STF não irá conhecer da ADI, julgando prejudicado o pedido
em razão da perda superveniente do objeto.
STF. Plenário. ADI 1931/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 7/2/18 (Info 890).
OBS:
O que acontece se a lei impugnada por meio de ADI é alterada antes do julgamento da ação?
Ex: em 1999, foi proposta uma ADI contra o art. 10 da Lei 9.656/98; em 2013, foi editada a Lei
12.880 alterando esse art. 10 da Lei 9.656/98; ocorre que a ADI ainda não foi julgada pelo
STF; o que fazer? Neste caso, o autor da ADI deverá aditar a petição inicial demonstrando
que a nova redação do dispositivo impugnado apresenta o mesmo vício de
inconstitucionalidade que existia na redação original. Em outras palavras, ele informa ao
STF que houve a alteração legislativa, mas que, apesar disso, a nova redação continua
contrariando a Constituição Federal.
E se o autor da ADI não fizer isso? Neste caso, o STF não irá conhecer da ADI, julgando
prejudicado o pedido em razão da perda superveniente do objeto (perda superveniente do
interesse de agir), nos termos do art. 485, VI, do CPC:
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: (...)
VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;
Nesse sentido:
A revogação, ou substancial alteração, do complexo normativo impõe ao autor o
ônus de apresentar eventual pedido de aditamento, caso considere subsistir a
inconstitucionalidade na norma que promoveu a alteração ou revogação. STF.
Plenário. ADI 2595 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 18/12/2017.
O que acontece caso o ato normativo que estava sendo impugnado na ADI seja revogado
antes do julgamento da ação?
Regra: haverá perda superveniente do objeto e a ADI não deverá ser conhecida (STF ADI
1203).
Exceção 1: não haverá perda do objeto e a ADI deverá ser conhecida e julgada caso fique
demonstrado que houve "fraude processual", ou seja, que a norma foi revogada de forma
proposital a fim de evitar que o STF a declarasse inconstitucional e anulasse os efeitos por ela
produzidos (STF ADI 3306).
Exceção 2: não haverá perda do objeto se ficar demonstrado que o conteúdo do ato
impugnado foi repetido, em sua essência, em outro diploma normativo. Neste caso, como
não houve desatualização significativa no conteúdo do instituto, não há obstáculo para o
conhecimento da ação (STF ADI 2418/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 4/5/16. Info 824).
Exceção 3: caso o STF tenha julgado o mérito da ação sem ter sido comunicado previamente
que houve a revogação da norma atacada. Nesta hipótese, não será possível reconhecer,
após o julgamento, a prejudicialidade da ADI já apreciada (STF. Plenário. ADI 951 ED/SC,
Rel. Min. Roberto Barroso, j. 27/10/16. Info 845).
8.25. O STF não admite a teoria da transcendência dos motivos determinantes – (Infos 808
e 887) – (PGM/Macéio-2012)
2) Quanto ao aspecto OBJETIVO (que partes da decisão produzem eficácia erga omnes e
efeito vinculante?)
1ª corrente: teoria restritiva
Somente o dispositivo da decisão produz efeito vinculante. Os motivos invocados na decisão
(fundamentação) não são vinculantes.
Em suma, pela teoria da transcendência dos motivos determinantes (efeitos irradiantes dos
motivos determinantes), a ratio decidendi, ou seja, os fundamentos determinantes da decisão
também teriam efeito vinculante. Ocorre que o STF NÃO adota a teoria da transcendência
dos motivos determinantes (teoria extensiva). O STF já chegou a manifestar apreço pela
teoria da transcendência dos motivos determinantes, mas atualmente, a posição da Corte é no
sentido de que não pode ser acolhida.
OBS:
Imagine a seguinte situação: Foi ajuizada uma ADI contra a Lei Estadual 3.579/01, do Estado
do Rio de Janeiro. O objeto da ação (pedido do autor) era, portanto, o seguinte: Tribunal,
declare inconstitucional a Lei Estadual 3.579/01.
O que o STF decidiu? O STF não concordou com o autor da ADI e julgou improcedente o
pedido. Isso significa dizer que o STF entendeu que a Lei Estadual 3.579/01 é constitucional.
Qual é a eficácia dessa decisão do STF que declarou constitucional a Lei Estadual 3.579/01?
• Eficácia contra todos (erga omnes);
• Efeito vinculante.
Isso porque a referida lei foi declarada constitucional em sede de controle abstrato de
constitucionalidade, atraindo assim os efeitos previstos no art. 102, § 2º da CF/88:
Art. 102 (...)
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal
Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de
constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante,
relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública
direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.
Qual é a eficácia da decisão do STF que declarou, incidentalmente, a Lei Federal 9.055/95
inconstitucional? Qual é a eficácia da decisão do STF que declara, incidentalmente, a
inconstitucionalidade de uma lei? Segundo o entendimento clássico, a decisão do STF
reconhecendo a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo irá variar de acordo com a
espécie de controle exercido:
Desse modo, pela teoria tradicional, em regra, a decisão que declara incidentalmente uma
lei inconstitucional produz efeitos inter partes e não vinculantes.
Após declarar a inconstitucionalidade de uma lei em controle difuso, o STF deverá
comunicar essa decisão ao Senado e este poderá suspender a execução, no todo ou em parte,
da lei viciada (art. 52, X):
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional
por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal;
A decisão do Senado de suspender a execução da lei seria discricionária. Caso ele resolva
fazer isso, os efeitos da decisão de inconstitucionalidade do STF, que eram inter partes,
passam a ser erga omnes. Assim, pela teoria tradicional a resolução do Senado ampliaria a
eficácia do controle difuso realizado pelo Supremo. Assim, pela teoria tradicional, a eficácia
da decisão do STF que declarou, incidentalmente, a Lei Estadual 3.579/01 inconstitucional
produziria efeitos inter partes e não vinculante.
Ocorre que o STF decidiu abandonar a concepção tradicional e fez uma nova interpretação
do art. 52, X, da CF/88.
O que entendeu o STF? O STF decidiu que, mesmo se ele declarar, incidentalmente, a
inconstitucionalidade de uma lei, essa decisão também terá efeito vinculante e erga omnes.
A fim de evitar anomias e fragmentação da unidade, deve-se atribuir à decisão proferida em
sede de controle incidental (difuso) a mesma eficácia da decisão tomada em sede de controle
abstrato.
O § 5º do art. 535 do CPC/2015 reforça esse tratamento uniforme:
Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante
judicial, por carga, remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30
(trinta) dias e nos próprios autos, impugnar a execução, podendo arguir:
III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
§ 5º Para efeito do disposto no inciso III do caput deste artigo, considera-se
também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado
em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal
Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo
tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição
Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.
O Min. Gilmar Mendes afirmou que é preciso fazer uma releitura do art. 52, X, da CF/88.
Essa nova interpretação deve ser a seguinte: quando o STF declara uma lei
inconstitucional, mesmo em sede de controle difuso, a decisão já tem efeito vinculante e
erga omnes e o STF apenas comunica ao Senado com o objetivo de que a referida Casa
Legislativa dê publicidade daquilo que foi decidido.
Mutação constitucional: O Min. Celso de Mello afirmou que o STF fez uma verdadeira
mutação constitucional com o objetivo de expandir os poderes do Tribunal com relação à
jurisdição constitucional. Assim, a nova intepretação do art. 52, X, da CF/88 é a de que o
papel do Senado no controle de constitucionalidade é simplesmente o de, mediante
publicação, divulgar a decisão do STF. A eficácia vinculante, contudo, já resulta da própria
decisão da Corte.
Preclusão consumativa da matéria: Por fim, o Min. Edson Fachin concluiu que a declaração
de inconstitucionalidade, ainda que incidental, opera uma preclusão consumativa da matéria.
Isso evita que se caia numa dimensão semicircular progressiva e sem fim.
Pode-se dizer que o STF passou a adotar a teoria da abstrativização do controle difuso?
SIM. Apesar de essa nomenclatura não ter sido utilizada expressamente pelo STF no
julgamento, o certo é que a Corte mudou seu antigo entendimento e passou a adotar a
abstrativização do controle difuso. Em uma explicação bem simples, a teoria da
abstrativização do controle difuso preconiza que, se o Plenário do STF decidir a
constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, ainda que em
controle difuso, essa decisão terá os mesmos efeitos do controle concentrado, ou seja, eficácia
erga omnes e vinculante. Para essa corrente, o art. 52, X, da CF/88 sofreu uma mutação
constitucional e, portanto, deve ser reinterpretado. Dessa forma, o papel do Senado,
atualmente, é apenas o de dar publicidade à decisão do STF. Em outras palavras, a decisão do
STF, mesmo em controle difuso, já é dotada de efeitos erga omnes e o Senado apenas confere
publicidade a isso.
Pode-se dizer que o STF passou a adotar a teoria da transcendência dos motivos
determinantes? NÃO. Segundo a teoria da transcendência dos motivos determinantes, além
do dispositivo, os motivos determinantes (ratio decidendi) da decisão também seriam
vinculantes. Com a decisão acima explicada, o STF chega mais próximo à teoria da
transcendência dos motivos determinantes, mas não se pode afirmar categoricamente que
esta passou a ser adotada pelo Tribunal. O Dizer o Direito acredita que não seja uma posição
segura para se adotar em provas, considerando que não houve afirmação expressa nesse
sentido.
8.27. Se a maioria dos Ministros votou pela procedência da ADI, mas não se obteve
maioria absoluta dos votos, a lei não deverá ser declarada inconstitucional – (Info 874)
Imagine a seguinte situação: é proposta uma ADI contra determinada lei. Cinco Ministros
votam pela inconstitucionalidade da lei. Quatro Ministros votam pela
constitucionalidade. Dois Ministros declaram-se impedidos de votar.
Qual deverá ser a proclamação do resultado? Pode-se dizer que esta lei foi declarada
inconstitucional por maioria de votos?
NÃO. Não foi atingido o número mínimo de votos para a declaração de
inconstitucionalidade da lei (6 votos). Assim, como não foi alcançado o quórum exigido
pelo art. 97 da CF/88, entende-se que o STF não pronunciou juízo de constitucionalidade
ou inconstitucionalidade da lei. Isso significa que o STF não declarou a lei nem
constitucional nem inconstitucional. Além disso, esse julgamento não tem eficácia
vinculante, ou seja, os juízes e Tribunais continuam livres para decidir que a lei é
constitucional ou inconstitucional, sem estarem vinculados ao STF.
STF. Plenário. ADI 4066/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. em 23 e 24/8/17 (Info 874).
OBS:
QUÓRUM DE SESSÃO (QUÓRUM PARA JULGAMENTO/VOTAÇÃO)
O que é quórum de sessão no controle de constitucionalidade? É a quantidade mínima de
Ministros presentes na sessão para que o Tribunal inicie a discussão se uma lei ou ato
normativo é inconstitucional.
Qual é o quórum de sessão para que o STF examine a constitucionalidade de uma lei ou ato
normativo? 8 (oito) Ministros. No STF, para que seja iniciada a sessão de julgamento na qual
será votada a constitucionalidade de uma lei ou ato normativo é necessário que estejam
presentes no mínimo oito Ministros. Se houver sete, por exemplo, a discussão não pode
sequer ser iniciada. O quórum de sessão está previsto no parágrafo único do art. 143 do
RISTF (que fala de forma genérica, valendo tanto para controle difuso como concentrado) e
no art. 22 da Lei nº 9.868/99 (que é específico para o controle concentrado):
Art. 22. A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei
ou do ato normativo somente será tomada se presentes na sessão pelo menos
oito Ministros.
QUÓRUM DE JULGAMENTO
O que é quórum de julgamento no controle de constitucionalidade? É a quantidade mínima
de votos necessários para que uma lei ou ato normativo seja declarado inconstitucional.
Qual é o quórum de julgamento para que o STF declare uma lei ou ato normativo
inconstitucional? 6 (seis) votos. É necessário que seis Ministros votem pela
inconstitucionalidade da lei ou ato normativo. É o que determina o art. 97 da CF/88, ao
prever que, somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros, o Tribunal poderá
declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público. O STF possui onze
membros, de forma que a maioria absoluta corresponde a seis Ministros.
Imagine que na sessão de julgamento há apenas nove Ministros (duas cadeiras estão vagas).
Está sendo analisada ADI contra determinada lei. Cinco Ministros entendem que a lei é
inconstitucional e quatro consideram que ela é compatível com a CF/88. Teremos aí uma
maioria simples dizendo que a lei é inconstitucional. No entanto, não se chegou a uma
maioria absoluta. Logo, a lei não poderá ser declarada inconstitucional. Ela continuará sendo
válida.
Repetindo: o STF só pode declarar uma lei ou ato normativo inconstitucional pelo voto da
maioria absoluta de seus membros (6 Ministros).
8.28. Não se admite ADI contra lei que teria violado tratado internacional não incorporado
ao ordenamento brasileiro na forma do art. 5º, § 3º da CF/88 – (Info 872)
Em regra, não é cabível ADI sob o argumento de que uma lei ou ato normativo violou um
tratado internacional.
Em regra, os tratados internacionais não podem ser utilizados como parâmetro em sede de
controle concentrado de constitucionalidade.
Exceção: será cabível ADI contra lei ou ato normativo que violou tratado ou convenção
internacional que trate sobre direitos humanos e que tenha sido aprovado segundo a regra
do § 3º do art. 5º, da CF/88. Isso porque neste caso esse tratado será incorporado ao
ordenamento brasileiro como se fosse uma emenda constitucional.
STF. Plenário. ADI 2030/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 9/8/17 (Info 872).
OBS:
Parâmetro (ou norma de referência): Em controle de constitucionalidade, quando falamos em
"parâmetro", queremos dizer quais serão as normas da Constituição que serão analisadas
para sabermos se a lei ou o ato normativo atacado realmente as violou. Em outras palavras,
parâmetro são as normas que servirão como referência para que o Tribunal analise se
determinada lei é ou não inconstitucional. Se a lei está em confronto com o parâmetro, ela é
inconstitucional.
Quando é proposta uma ADI no STF contra lei federal ou estadual, qual é o parâmetro que
será analisado pelo Tribunal? A Constituição Federal. Isso inclui: normas originárias,
emendas constitucionais, normas do ADCT e tratados internacionais de direitos humanos
aprovados por 3/5 dos membros de cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos de
votação. Assim, quando o autor propõe uma ADI no STF contra determinada lei, ele está
dizendo que esta lei viola a CF/88 (parâmetro).
Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação: Foi proposta uma ADI contra lei
estadual alegando que ela violou um tratado internacional, qual seja, a Convenção sobre
Prevenção da Poluição Marinha por Alijamento de Resíduos e Outras Matérias, assinada em
Londres, e promulgada pelo Brasil por meio do Decreto 87.566/1982.
É cabível ADI sob o argumento de que uma lei ou ato normativo violou um tratado
internacional? É cabível ADI utilizando-se um tratado internacional como parâmetro? Em
regra, não.
Exceção: será cabível ADI contra lei ou ato normativo que violou tratado ou convenção
internacional que trate sobre direitos humanos e que tenha sido aprovado segundo a regra do
§ 3º do art. 5º, da CF/88. Isso porque neste caso esse tratado será incorporado ao
ordenamento brasileiro como se fosse uma emenda constitucional. Veja:
Art. 5º (...)
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três
quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45/2004)
Obs1: quando se diz que um tratado possui status supralegal isso significa que ele está
hierarquicamente acima da legislação ordinária, mas abaixo da Constituição Federal. É o
caso, por exemplo, da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da
Costa Rica), que foi incorporada ao Direito brasileiro antes da EC 45/2004 e, portanto, tem
status supralegal (STF. Plenário. RE 466343, Rel. Min. Cezar Peluso, julgado em 03/12/2008).
O status normativo supralegal dos tratados internacionais de direitos humanos subscritos
pelo Brasil torna inaplicável a legislação infraconstitucional com ele conflitante, seja ela
anterior ou posterior ao ato de adesão (STF. Plenário. RE 349703, Rel. p/ ac. Min. Gilmar
Mendes, DJ 5/6/2009).
Obs2: não se pode confundir parâmetro com objeto. Parâmetro já foi explicado acima. Objeto
significa os atos normativos contra os quais se pode propor ADI. Todos os tratados
internacionais aprovados pelo Brasil podem ser objeto de ADI, ou seja, pode-se ajuizar ação
alegando que eles violam a Constituição Federal. Nesse sentido:
(Diplomata 2011 CESPE) A ação direta de inconstitucionalidade pode ser
impetrada contra tratados que versem sobre direitos humanos com status de
norma constitucional, contra tratados de direitos humanos que ingressem no
ordenamento jurídico com a natureza de norma supralegal e contra os tratados
que, não dispondo sobre direitos humanos, adentrem o ordenamento com força
de lei ordinária. (correta)
Voltando à situação acima analisada: O STF não conheceu da ADI proposta contra a
referida lei estadual porque a Convenção sobre Prevenção da Poluição Marinha por
Alijamento de Resíduos e Outras Matérias (Decreto 87.566/1982) não trata sobre direitos
humanos e, portanto, possui status de lei ordinária em nosso país. Logo, o autor estava
alegando, em uma ADI, que uma lei estadual teria violado uma norma com status de lei
ordinária federal. Isso não é matéria de ADI. Nas palavras do STF, “não se admite o exame
de contrariedade à norma infraconstitucional em sede de controle concentrado de
constitucionalidade”.
O Estado do Rio de Janeiro vive uma grave crise econômica, estando em débito com o
pagamento de fornecedores e atraso até mesmo no pagamento da remuneração dos
servidores públicos. Os órgãos e entidades também estão sem dinheiro para custear os
serviços públicos.
Diante disso, diversas ações (individuais e coletivas) foram propostas, tanto na Justiça
comum estadual como também na Justiça do Trabalho, pedindo a realização desses
pagamentos. Os órgãos judiciais estavam acolhendo os pedidos e determinando a
apreensão de valores nas contas do Estado para a concretização dos pagamentos.
Neste cenário, o Governador do Estado ajuizou ADPF no STF com o objetivo de
suspender os efeitos de todas as decisões judiciais do TJRJ e do TRT da 1ª Região que
tenham determinado o arresto, o sequestro, o bloqueio, a penhora ou a liberação de
valores das contas administradas pelo Estado do Rio de Janeiro.
O STF afirmou que a ADPF é instrumento processual adequado para esse pedido e
deferiu a medida liminar.
O conjunto de decisões questionadas são atos típicos do Poder Público passíveis de
impugnação por meio de APDF.
STF. Plenário. ADPF 405 MC/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, j. 14/6/17 (Info 869).
OBS:
Modulação dos efeitos do julgado no caso de processos objetivos de constitucionalidade: No
julgamento de ADI, ADC ou ADPF, a Lei prevê expressamente que o STF poderá modular os
efeitos da decisão que julga determinado ato contrário à CF. Em outras palavras, a Lei
permite que o STF determine que os efeitos da declaração de inconstitucionalidade somente
valham a partir da decisão proferida (ex nunc) ou ainda a partir de determinada data futura
(efeitos prospectivos).
Lei 9.868/99:
Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em
vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o
Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros,
restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a
partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.
OBS:
É possível que uma lei ou ato normativo municipal seja impugnado por meio de ADI
proposta no Supremo Tribunal Federal? NÃO. A CF/88 somente autoriza que seja proposta
ADI no STF contra lei ou ato normativo FEDERAL ou ESTADUAL. Veja:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade
de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de
constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;
É possível que uma lei ou ato normativo municipal seja impugnado por meio de ADI
proposta no Tribunal de Justiça? SIM. A CF/88 autorizou essa possibilidade, determinando
que o tema seja tratado nas Constituições estaduais. Confira:
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios
estabelecidos nesta Constituição.
§ 1º - A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado,
sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.
§ 2º - Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade
de leis ou atos normativos estaduais OU MUNICIPAIS em face da
Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um
único órgão.
Quando é proposta uma ADI no STF contra lei federal ou estadual, qual é o parâmetro que
será analisado pelo Tribunal? A Constituição Federal. Isso inclui: normas originárias,
emendas constitucionais, normas do ADCT e tratados internacionais de direitos humanos
aprovados por 3/5 dos membros de cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos de
votação. Assim, quando o autor propõe uma ADI no STF contra determinada lei, ele está
dizendo que esta lei viola a CF/88 (parâmetro).
Quando é proposta uma ADI no TJ contra lei municipal, qual é o parâmetro que será
analisado pelo Tribunal? A Constituição Estadual. Isso está expressamente previsto no § 2º
do art. 125 da CF/88: "§ 2º - Cabe aos Estados a instituição de representação de
inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da
Constituição Estadual (...)".
Assim, em regra, quando o Tribunal de Justiça julga uma ADI proposta contra lei ou ato
normativo estadual ou municipal, ele deverá analisar se esta lei ou ato normativo viola ou
não algum dispositivo da Constituição Estadual.
Quando o TJ julga uma ADI contra lei estadual ou municipal, ele poderá declará-la
inconstitucional sob o argumento de que viola um dispositivo da Constituição Federal? Em
regra, não. Isso porque, como vimos acima, o parâmetro da ADI proposta perante o TJ é a
Constituição Estadual (e não a Constituição Federal).
Assim, em regra, na ADI estadual, o TJ irá analisar se a lei ou ato normativo atacado viola ou
não a Constituição Estadual. Este é o parâmetro da ação. O TJ não pode examinar se o ato
impugnado ofende a Constituição Federal. O STF, em reiteradas oportunidades, já decidiu
sobre o tema:
Não cabe a tribunais de justiça estaduais exercer o controle de
constitucionalidade de leis e demais atos normativos municipais em face da
Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 347, Rel. Min. Joaquim Barbosa,
julgado em 20/09/2006.
Exceção: A regra acima exposta comporta uma exceção. Os Tribunais de Justiça, ao julgarem
a representação de inconstitucionalidade proposta contra lei municipal, poderão declará-la
inconstitucional utilizando como parâmetro dispositivos da Constituição Federal, desde que
eles sejam normas de reprodução obrigatória pelos Estados.
Não existe um artigo da Constituição Federal que diga quais são as normas de reprodução
obrigatória. Isso foi uma "construção" da jurisprudência do STF, ou seja, em diversos
julgados o Tribunal foi mencionando quais as normas seriam de reprodução obrigatória.
Como exemplos de normas de reprodução obrigatória podemos citar as regras da
Constituição Federal que tratam sobre organização político-administrativa, competências,
separação dos Poderes, servidores públicos, processo legislativo, entre outras.
Veja a importante lição de Marcelo Novelino sobre o tema:
"(...) Diversamente da Carta anterior, que as relacionava expressamente
(CF/1967-1969, art. 13, I, III e IX), na Constituição de 1988 as normas de
observância obrigatória não foram elencadas de forma textual. Adotou-se uma
formulação genérica que, embora teoricamente conferira maior liberdade de
auto-organização aos Estados-membros, cria o risco de possibilitar
interpretações excessivamente amplas na identificação de tais normas. (...)
(...)
As normas de observância obrigatória são diferenciadas em três espécies. Os
princípios constitucionais sensíveis representam a essência da organização
constitucional da federação brasileira e estabelecem limites à autonomia
organizatória dos Estados-membros (CF, art. 34, VII). Os princípios
constitucionais extensíveis consagram normas organizatórias para a União que
se estendem aos Estados, por previsão constitucional expressa (CF, arts. 28 e 75)
ou implícita (CF, art. 58, § 3.°; arts. 59 e ss.). Os princípios constitucionais
estabelecidos restringem a capacidade organizatória dos Estados federados por
meio de limitações expressas (CF, art. 37) ou implícitas (CF, art. 21)."
(NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. Salvador: Juspdodivm,
2015, p. 82).
Resumindo:
Em regra, quando os Tribunais de Justiça exercem controle abstrato de
constitucionalidade de leis municipais deverão examinar a validade dessas leis à luz
da Constituição Estadual.
Exceção: os Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato de
constitucionalidade de leis municipais utilizando como parâmetro normas da
Constituição Federal, desde que se trate de normas de reprodução obrigatória pelos
Estados.
Exemplos da exceção:
Ex1: Município do Paraná aprovou lei tratando sobre direito do trabalho; foi
proposta uma ADI estadual no TJ contra esta lei; o TJ poderá julgar a lei
inconstitucional alegando que ela viola o art. 22, I, da CF/88 (mesmo que a
Constituição do Estado não tenha regra semelhante); isso porque essa regra de
competência legislativa é considerada como norma de reprodução obrigatória. Nesse
sentido: STF. 1ª Turma. Rcl 17954 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
21/10/2016.
Ex2: Município do Rio Grande do Sul editou lei criando gratificação para o Prefeito
fora do regime de subsídio, o que violaria o art. 39, § 4º, da CF/88; o TJ/RS poderá
julgar a lei municipal inconstitucional utilizando como parâmetro este dispositivo da
Constituição Federal; isso porque a regra sobre o subsídio para membros de Poder e
detentores de mandato eletivo é considerada norma de reprodução obrigatória.
Nesse sentido: STF. Plenário. Rel. originário Min. Marco Aurélio, Rel. para acórdão
Min. Roberto Barroso, julgado em 01/02/2017 (repercussão geral).
Tese fixada pelo STF: O tema acima exposto foi enfrentado pelo STF em um
recurso extraordinário julgado sob a sistemática da repercussão geral, tendo
sido fixada a seguinte tese: Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato
de constitucionalidade de leis municipais utilizando como parâmetro normas da
Constituição Federal, desde que se trate de normas de reprodução obrigatória
pelos estados. STF. Plenário. Rel. originário Min. Marco Aurélio, Rel. para
acórdão Min. Roberto Barroso, j. 1/2/17 (repercussão geral).
Obs: a tese acima fala em "leis municipais", mas ela também pode ser aplicada para
representações de inconstitucionalidade propostas no TJ contra "leis estaduais". A tese falou
apenas de leis municipais porque foi o caso analisado no recurso extraordinário.
Vale ressaltar que a decisão do STF neste recurso extraordinário terá eficácia erga omnes
porque foi proferida em um processo objetivo de controle de constitucionalidade.
8.33. Conversão da MP em lei antes que a ADI proposta seja julgada – (Info 851) –
IMPORTANTE!!!
Se é proposta ADI contra uma medida provisória e, antes de a ação ser julgada, a MP é
convertida em lei com o mesmo texto que foi atacado, esta ADI não perde o objeto e
poderá ser conhecida e julgada.
Como o texto da MP foi mantido, não cabe falar em prejudicialidade do pedido. Isso
porque não há a convalidação ("correção") de eventuais vícios existentes na norma, razão
pela qual permanece a possibilidade de o STF realizar o juízo de constitucionalidade.
Neste caso, ocorre a continuidade normativa entre o ato legislativo provisório (MP) e a lei
que resulta de sua conversão.
Ex: foi proposta uma ADI contra a MP 449/1994 e, antes de a ação ser julgada, houve a
conversão na Lei nº 8.866/94.
Vale ressaltar, no entanto, que o autor da ADI deverá peticionar informando esta situação
ao STF e pedindo o aditamento da ação.
STF. Plenário. ADI 1055/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 15/12/2016 (Info 851).
OBS:
Nesse sentido, confira o seguinte precedente do STF:
(...) Não prejudica a ação direta de inconstitucionalidade material de medida
provisória a sua intercorrente conversão em lei sem alterações, dado que a sua
aprovação e promulgação integrais apenas lhe tornam definitiva a vigência, com
eficácia "ex tunc" e sem solução de continuidade, preservada a identidade
originaria do seu conteúdo normativo, objeto da arguição de invalidade. (...)
STF. Plenário. ADI 691 MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 22/04/1992.
8.34. Revogação do ato normativo que estava sendo impugnado e julgamento da ação sem
comunicar este fato ao STF – (Infos 824 e 845) – IMPORTANTE!!!
O que acontece caso o ato normativo que estava sendo impugnado na ADI seja revogado
antes do julgamento da ação?
Regra: haverá perda superveniente do objeto e a ADI não deverá ser conhecida (STF ADI
1203).
"A revogação superveniente do ato normativo impugnado prejudica a ação direta de
inconstitucionalidade, independentemente da existência de efeitos residuais concretos.
Esse entendimento jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal nada mais reflete
senão a própria natureza jurídica do controle normativo abstrato, em cujo âmbito não
se discutem situações de caráter concreto ou individual."
(STF. Plenário. ADI 1203 QO, Rel. Min. Celso de Mello, j. 19/04/1995).
Exceção 1: não haverá perda do objeto e a ADI deverá ser conhecida e julgada caso fique
demonstrado que houve "fraude processual", ou seja, que a norma foi revogada de forma
proposital a fim de evitar que o STF a declarasse inconstitucional e anulasse os efeitos por
ela produzidos (STF ADI 3306).
"Sucessivas leis distritais que tentaram revogar os atos normativos impugnados. (...)
Fatos que não caracterizaram o prejuízo da ação. Quadro fático que sugere a intenção
de burlar a jurisdição constitucional da Corte. Configurada a fraude processual com a
revogação dos atos normativos impugnados na ação direta, o curso procedimental e o
julgamento final da ação não ficam prejudicados. (...)"
(STF. Plenário. ADI 3306, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 17/03/2011)
Exceção 2: não haverá perda do objeto se ficar demonstrado que o conteúdo do ato
impugnado foi repetido, em sua essência, em outro diploma normativo. Neste caso, como
não houve desatualização significativa no conteúdo do instituto, não há obstáculo para o
conhecimento da ação (ADI 2418/DF). (Info 824)
Exceção 3: caso o STF tenha julgado o mérito da ação sem ter sido comunicado
previamente que houve a revogação da norma atacada. Nesta hipótese, não será possível
reconhecer, após o julgamento, a prejudicialidade da ADI já apreciada. (Info 845)
STF. Plenário. ADI 2418/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 4/5/2016 (Info 824).
STF. Plenário. ADI 951 ED/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 27/10/16 (Info 845).
OBS:
EXCEÇÃO 2: não haverá perda do objeto e a ADI deverá ser conhecida e julgada caso fique
demonstrado que o conteúdo do ato impugnado foi repetido, em sua essência, em outro
diploma normativo. Neste caso, como não houve desatualização significativa no conteúdo do
instituto, não há obstáculo para o conhecimento da ação.
Exemplo da exceção 2: Foi proposta uma ADI contra o art. 10 da MP 2.102-27/01, que
acrescentou um parágrafo único ao art. 741 do CPC 1973. Ocorre que a ADI somente foi
julgada pelo STF em maio de 2016, ou seja, quando já havia entrado em vigor o CPC 2015,
que revogou esse dispositivo do CPC 1973. Diante disso, a AGU afirmou que a ação perdeu o
seu objeto e que, por essa razão, não deveria mais ser conhecida. A OAB, por sua vez, autora
da ação, argumentou que o CPC 2016 praticamente repetiu esse dispositivo. Dessa forma,
persistia a necessidade de enfrentamento do tema.
O que decidiu o STF? A ADI poderá ser conhecida e julgada mesmo tendo havido a
revogação do dispositivo que estava sendo impugnado? SIM. O STF entendeu que não houve
a perda de objeto da ação mesmo tendo havido a revogação do § único do art. 741 do CPC
1973 pela Lei 13105/15. Isso porque a matéria disciplinada no referido dispositivo foi
mantida pelo NCPC, que tratou sobre o tema de forma semelhante, ainda que com algumas
diferenças, nos §§ 5º a 8º do art. 535 e nos §§ 12 a 15 do art. 525 do CPC 2015. Persistem,
portanto, as razões invocadas pela autora da ADI para afirmar a inconstitucionalidade da
previsão. Dessa forma, como não houve desatualização significativa no conteúdo do
instituto, não há obstáculo para o conhecimento da ação. Nesse mesmo sentido: STF.
Plenário. ADI 2.501/MG, DJe de 19/12/2008; ADI 3147 ED, julgado em 28/05/2014.
EXCEÇÃO 3: caso o STF tenha julgado o mérito da ação sem ter sido comunicado
previamente que houve a revogação da norma atacada.
Exemplo da exceção 3: Foi ajuizada ADI contra uma lei do Estado de Santa Catarina. Poucos
meses antes do STF julgar a ação, a referida lei foi inteiramente revogada. Ocorre que o STF
não foi informado sobre a revogação e julgou a ADI procedente, declarando a lei
inconstitucional. Após o julgamento, a Assembleia Legislativa do Estado apresentou
embargos de declaração alegando contradição do acórdão sob o argumento de que o STF
deveria ter julgado a ADI prejudicada em face da revogação da lei.
O argumento exposto nos embargos de declaração foi acolhido? NÃO. Deve-se afastar a
prejudicialidade de ação direta de inconstitucionalidade caso o STF tenha julgado o mérito da
ação sem ter sido comunicado previamente a respeito da revogação da norma atacada. É
preciso preservar o trabalho já efetuado pelo Tribunal, bem como evitar que a constatação da
efetiva violação à ordem constitucional se torne inócua. Permitir que se pleiteie a
desconstituição do julgamento em embargos de declaração depois de decidido o mérito da
ação equivaleria a abrir à parte a possibilidade de manipular a decisão do STF. Assim, se esta
lhe for favorável, bastará não invocar a perda de objeto e usufruir de seus efeitos. Se, ao
contrário, lhe for desfavorável, o reconhecimento da prejudicialidade a imunizará contra os
efeitos do reconhecimento da inconstitucionalidade. Ademais, como a revogação da lei
catarinense não foi alegada antes do julgamento do mérito, não é possível falar em omissão,
obscuridade ou contradição nem há também, por esse motivo, fundamento para acolher os
embargos de declaração. Por fim, vale ressaltar que a lei efetivamente vigeu durante
determinado período, de modo que, se fosse considerada a prejudicialidade dessa ação, isso
significaria admitir como válidos os efeitos da lei no período em que ela vigorou, sendo que
o STF já declarou que ela era inconstitucional desde o seu início (inconstitucionalidade com
efeitos ex tunc). STF. Plenário. ADI 951 ED/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 27/10/2016
(Info 845).
Foi proposta ADI contra a Lei 3.041/05, do Estado do Mato Grosso do Sul, que tratava
sobre assunto de competência da União. Ocorre que esta Lei havia revogado outras leis
estaduais de mesmo conteúdo. Desse modo, se a Lei 3.041/05 fosse, isoladamente,
declarada inconstitucional, as demais leis revogadas "voltariam" a vigorar mesmo
padecendo de idêntico vício.
A fim de evitar essa "eficácia repristinatória indesejada", o PGR, que ajuizou a ação,
impugnou não apenas a Lei 3.041/05, mas também aquelas outras normas por ela
revogadas.
O STF concordou com o PGR e, ao declarar inconstitucional a Lei 3.041/05, afirmou que
não deveria haver o efeito repristinatório em relação às leis anteriores de mesmo
conteúdo.
O dispositivo do acórdão ficou, portanto, com a seguinte redação:
"O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou procedente o pedido
formulado para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 3.041/2005, do Estado de Mato
Grosso do Sul, inexistindo efeito repristinatório em relação às leis anteriores de mesmo
conteúdo, (...)"
STF. Plenário. ADI 3.735/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 8/9/16 (Info 838).
OBS:
O autor da ADI deverá impugnar a lei atual e a lei revogada (se esta contiver o mesmo vício)
a fim de evitar uma "eficácia repristinatória indesejada", ou seja, com o objetivo de evitar que
aquela decisão do STF seja inútil. Digo inútil porque a lei atual será declarada
inconstitucional, mas "voltará" uma lei com semelhante mácula.
"No caso de efeito repristinatório indesejado, ou seja, quando a lei revogada também for
eivada do vício de inconstitucionalidade, faz-se necessária a formulação de pedidos
sucessivos de declaração de inconstitucionalidade, tanto do diploma ab-rogatório quanto das
normas por ele revogadas. Caso a norma anterior não seja impugnada, a ADI não será
conhecida." (Marcelo Novelino).
8.36. Associação que abranja apenas uma fração da categoria profissional não possui
legitimidade para ADI/ADPF de norma que envolva outros representados – (Info 826)
As associações que representam fração de categoria profissional não são legitimadas para
instaurar controle concentrado de constitucionalidade de norma que extrapole o universo
de seus representados.
Ex: a ANAMAGES, associação que representa apenas os juízes estaduais, não pode ajuizar
ADPF questionando dispositivo da LOMAN, considerando que esta lei rege não apenas
os juízes estaduais, mas sim os magistrados de todo o Poder Judiciário, seja ele federal ou
estadual.
STF. Plenário. ADPF 254 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 18/5/16 (Info 826).
OBS:
Os legitimados para a propositura de ADI, ADC ou ADPF estão previstos no art. 103 da
CF/88. Dentre eles, destaco o inciso IX:
Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação
declaratória de constitucionalidade:
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.
OBS: Vale ressaltar, no entanto, que se terminar o exercício financeiro a que se refere a lei
sem que a ADI tenha sido julgada, haverá perda superveniente do objeto. Ex: foi proposta
ADI contra a LDO relativa a 2014, mas terminou o ano sem que ela tenha sido julgada.
Haverá, portanto, perda do objeto. Nesse sentido: STF. Plenário. ADI 4663 MC-Ref, Rel.
Min. Luiz Fux, julgado em 15/10/2014.
OBS: A eficácia geral e o efeito vinculante de decisão, proferida pelo Supremo Tribunal
Federal, em ação direta de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo federal, só atingem os demais órgãos do Poder Judiciário e todos os do Poder
Executivo, NÃO ALCANÇANDO o legislador, que pode editar nova lei com idêntico
conteúdo normativo, sem ofender a autoridade daquela decisão." (RTJ 193/858, Rel.
Min. CEZAR PELUSO)
8.41. Cabimento de nova ADI por inconstitucionalidade material contra ato normativo já
reconhecido formalmente constitucional pelo STF – (Info 787) – IMPORTANTE!!! – (MPGO-
2016)
A Lei “X” foi questionada no STF por meio de ADI. Na ação, o autor afirmou que a lei
seria formalmente inconstitucional. O STF julgou a ADI improcedente, declarando a lei
constitucional. Quatro anos mais tarde, outro legitimado ajuíza nova ADI contra a Lei “X”,
mas desta vez alega que ela é materialmente inconstitucional.
Essa ação poderia ter sido proposta? O STF poderá, nesta segunda ação, declarar a lei
materialmente inconstitucional?
SIM. Na primeira ação, o STF não discutiu a inconstitucionalidade material da Lei “X”
(nem disse que ela era constitucional nem inconstitucional do ponto de vista material).
Logo, nada impede que uma segunda ADI seja proposta questionando, agora, a
inconstitucionalidade material da lei e nada impede que o STF decida declará-la
inconstitucional sob o aspecto material.
O fato de o STF ter declarado a validade formal de uma norma não interfere nem impede
que ele reconheça posteriormente que ela é materialmente inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 27/5/2015 (Info 787).
A Lei 9.868/99, ao tratar sobre o procedimento da ADC, prevê, em seu art. 14, os requisitos
da petição inicial. Um desses requisitos exigidos é se demonstre que existe controvérsia
judicial relevante sobre a lei objeto da ação.
Em outras palavras, só cabe ADC se houver uma divergência na jurisprudência sobre a
constitucionalidade daquela lei, ou seja, é necessário que existam juízes ou Tribunais
decidindo que aquela lei é inconstitucional. Se não existirem decisões contrárias à lei, não
há razão para se propor a ADC.
É possível que uma lei, dias após ser editada, já seja objeto de ADC? É possível preencher
o requisito da “controvérsia judicial relevante” com poucos dias de vigência do ato
normativo?
SIM. Mesmo a lei ou ato normativo possuindo pouco tempo de vigência, já é possível
preencher o requisito da controvérsia judicial relevante se houver decisões julgando essa
lei ou ato normativo inconstitucional.
O STF decidiu que o requisito relativo à existência de controvérsia judicial relevante é
qualitativo e não quantitativo. Em outras palavras, para verificar se existe a controvérsia
não se examina apenas o número de decisões judiciais. Não é necessário que haja muitas
decisões em sentido contrário à lei. Mesmo havendo ainda poucas decisões julgando
inconstitucional a lei já pode ser possível o ajuizamento da ADC se o ato normativo
impugnado for uma emenda constitucional (expressão mais elevada da vontade do
parlamento brasileiro) ou mesmo em se tratando de lei se a matéria nela versada for
relevante e houver risco de decisões contrárias à sua constitucionalidade se multiplicarem.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 21/5/2015 (Info 786).
O STF, ao apreciar uma ADI, julgou que determinada lei é inconstitucional. No dia que
ocorreu o julgamento, havia apenas 10 Ministros presentes. Na oportunidade, discutiu-se
se deveria haver ou não a modulação dos efeitos da decisão. 7 Ministros votaram a favor,
mas como são necessários, no mínimo, 8 votos, a proposta de modulação foi rejeitada e o
resultado final do julgamento foi proclamado. No dia seguinte, o Ministro que estava
ausente compareceu à sessão e afirmou que era favorável à modulação dos efeitos da
decisão que declarou a lei inconstitucional no dia anterior.
Diante disso, indaga-se: é possível que o Plenário reabra a discussão sobre a modulação?
NÃO. Depois da proclamação do resultado final, o julgamento deve ser considerado
concluído e encerrado e, por isso, mostra-se inviável a sua reabertura para discutir
novamente a modulação dos efeitos da decisão proferida.
A análise da ação direta de inconstitucionalidade é realizada de maneira bifásica:
a) primeiro, o Plenário decide se a lei é constitucional ou não; e
b) em seguida, se a lei foi declarada inconstitucional, discute-se a possibilidade de
modulação dos efeitos.
Uma vez encerrado o julgamento e proclamado o resultado, inclusive com a votação sobre
a modulação (que não foi alcançada), não há como reabrir o caso, ficando preclusa a
possibilidade de reabertura para deliberação sobre a modulação dos efeitos.
STF. Plenário. ADI 2949 QO/MG, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min.
Marco Aurélio, julgado em 8/4/2015 (Info 780).
8.46. Quórum de sessão e discussão sobre a recepção de lei ou ato normativo – (Info 769)
No STF, para que seja iniciada a sessão de julgamento onde será votada a
constitucionalidade de uma lei ou ato normativo é necessário que estejam presentes no
mínimo 8 Ministros. Se houver 7, por exemplo, a discussão não pode sequer ser iniciada
(art. 143, parágrafo único, do art. 143 do RISTF). A isso chamamos de quórum de sessão (ou
quórum para julgamento/votação).
Essa exigência de quórum para julgamento não se aplica caso o STF esteja analisando a
recepção ou não de uma lei ou ato normativo. Isso porque não haverá, nesse caso, controle
(juízo) de constitucionalidade. Trata-se apenas de discussão em torno de direito pré-
constitucional.
Assim, por exemplo, mesmo estando presentes apenas 7 Ministros, o STF poderá discutir
se uma lei foi ou não recepcionada pela CF/88.
STF. Plenário. RE 658312/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 27/11/2014 (Info 769).
8.49. Membro do MPT tem legitimidade para interpor RE contra decisões do TST – (Info
759)
8.50. Regimento Interno de Assembleia Legislativa pode ser objeto de ADI – (Info 747)
Dispositivo de Regimento Interno de uma Assembleia Legislativa pode ser impugnado no
STF por meio de ADI, desde que possua caráter normativo e autônomo. É o caso, por
exemplo, de um artigo do Regimento Interno que preveja o pagamento de remuneração
aos Deputados Estaduais em virtude de convocação para sessão extraordinária.
STF. Plenário. ADI 4587/GO, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 22/5/2014 (Info
747)
8.52. CE pode prever que o ato impugnado em ADI seja defendido pelo Procurador-Geral
do Estado ou pelo Procurador-Geral da ALE – (Info 736)
O Governador do Estado enviou um projeto de lei para a ALE tratando sobre servidores
públicos estaduais e, por meio de uma emenda parlamentar, foi inserida determinada
gratificação.
O STF considerou essa previsão inconstitucional por violar o art. 63, I, da CF/88, que
também se aplica na esfera estadual.
STF. Plenário. ADI 4759 MC/BA, rel. Min. Marco Aurélio, j. 5/2/2014 (Info 734).
8.55. Mandado de segurança contra projeto de lei supostamente inconstitucional – (Info
711) – IMPORTANTE!!! – (TJDFT-2014) (TJSP-2015)
OBS:
Regra: em regra, não se deve admitir a propositura de ação judicial para se realizar o controle
de constitucionalidade prévio dos atos normativos.
O caso concreto examinado pelo STF não se enquadrava em nenhuma dessas duas situações
excepcionais, pois não se tratava de emenda à Constituição e a tramitação deste projeto não
violou nenhuma regra constitucional sobre o processo legislativo.
Assim, a médio e longo prazo, haveria uma série de ações judiciais da mesma espécie perante
o STF, que passaria a atuar como uma espécie de terceiro participante das rodadas
parlamentares, e exerceria papel típico do Legislativo. O controle repressivo de
constitucionalidade (que atualmente é a regra) cederia espaço, então, ao controle preventivo
(que deve ser excepcional).
Por fim, deve-se ressaltar que as eventuais inconstitucionalidades do projeto poderiam ser
analisadas e resolvidas se e quando este fosse aprovado e se transformasse em lei.
No julgamento, ficaram vencidos os Min. Gilmar Mendes, relator, Dias Toffoli e Celso de
Mello, que concediam parcialmente o mandamus.
As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo STF, em ADI e ADC, produzem eficácia
contra todos e efeito vinculante. Tais efeitos não vinculam, contudo, o próprio STF.
Assim, se o STF decidiu, em uma ADI ou ADC, que determinada lei é
CONSTITUCIONAL, a Corte poderá, mais tarde, mudar seu entendimento e decidir que
esta mesma lei é INCONSTITUCIONAL por conta de mudanças no cenário jurídico,
político, econômico ou social do país.
As sentenças contêm implicitamente a cláusula rebus sic stantibus, de modo que as
alterações posteriores que alterem a realidade normativa, bem como eventual modificação
da orientação jurídica sobre a matéria, podem tornar inconstitucional norma
anteriormente considerada legítima (“inconstitucionalidade superveniente”) (obs: a
expressão inconstitucionalidade superveniente foi utilizada aqui em sentido diferente da
situação em que uma lei anterior à CF/88 torna-se incompatível com o novo Texto
Constitucional. Os autores afirmam que neste caso houve uma “não recepção”, não se
podendo falar em “inconstitucionalidade superveniente”).
Esta mudança de entendimento do STF sobre a constitucionalidade de uma norma pode
ser decidida durante o julgamento de uma reclamação constitucional.
STF. Plenário. Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18/4/2013.
8.59. O STF pode, por meio de reclamação, fazer a (re)intepretação de decisão proferida em
controle de constitucionalidade abstrato
É possível que o STF, por meio de reclamação, faça a (re)interpretação de decisão proferida
em controle de constitucionalidade abstrato.
Ao julgar uma reclamação, o STF realiza um juízo de confronto e de adequação entre o
objeto (ato impugnado) e o parâmetro (decisão do STF tida por violada). Isso pode fazer
com que se conclua pela necessidade de redefinição do conteúdo e do alcance do
parâmetro (decisão que havia sido proferida).
Ao analisar uma reclamação, o STF faz uma espécie de “balançar de olhos” (expressão
cunhada por Karl Engisch) entre o ato impugnado (objeto) e que havia sido decidido
(parâmetro) e poderá chegar a conclusão diferente do que já tinha deliberado
anteriormente.
É por meio da reclamação, portanto, que as decisões do STF permanecem abertas a esse
constante processo hermenêutico de reinterpretação realizado pelo próprio Tribunal.
A reclamação, dessa forma, constitui um instrumento para a realização de mutação
constitucional e de inconstitucionalização de normas que muitas vezes podem levar à
redefinição do conteúdo e do alcance, e até mesmo à superação, total ou parcial, de uma
antiga decisão.
STF. Plenário. Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18/4/2013.
Não é possível aplicar o art. 86, § 4º, da CF/88 para o Presidente da Câmara dos Deputados,
considerando que a garantia prevista neste dispositivo é destinada expressamente ao chefe
do Poder Executivo da União (Presidente da República).
Desse modo, por se tratar de um dispositivo de natureza restritiva, não é possível
qualquer interpretação que amplie a sua incidência a outras autoridades, notadamente do
Poder Legislativo.
STF. Plenário. Inq 3983/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 02 e 03/03/2016 (Info 816).
OBS:
Art. 86 (...) § 4º - O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser
responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.
O Deputado Federal Eduardo Cunha foi denunciado pela prática de crimes e sua defesa pediu
suspensão do processo com base na aplicação, por analogia, do § 4º do art. 86, da CF/88,
considerando que ele é Presidente da Câmara dos Deputados. Tal pedido foi aceito pelo STF?
NÃO. É entendimento esposado no julgado acima, publicado no Info 816.
10.2. Deputados Estaduais gozam das mesmas imunidades formais previstas para os
parlamentares federais no art. 53 da CF/88 – (Info 939)
10.3. Judiciário pode impor aos parlamentares as medidas cautelares do art. 319 do CPP, no
entanto, a respectiva Casa legislativa pode rejeitá-las (caso Aécio Neves) – (Info 881) –
IMPORTANTE!!!
O Poder Judiciário possui competência para impor aos parlamentares, por autoridade
própria, as medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP, seja em substituição de prisão
em flagrante delito por crime inafiançável, por constituírem medidas individuais e
específicas menos gravosas; seja autonomamente, em circunstâncias de excepcional
gravidade.
Obs: no caso de Deputados Federais e Senadores, a competência para impor tais medidas
cautelares é do STF (art. 102, I, “b”, da CF/88).
Importante, contudo, fazer uma ressalva: se a medida cautelar imposta pelo STF
impossibilitar, direta ou indiretamente, que o Deputado Federal ou Senador exerça o seu
mandato, então, neste caso, o Supremo deverá encaminhar a sua decisão, no prazo de 24
horas, à Câmara dos Deputados ou ao Senado Federal para que a respectiva Casa delibere
se a medida cautelar imposta pela Corte deverá ou não ser mantida.
Assim, o STF pode impor a Deputado Federal ou Senador qualquer das medidas
cautelares previstas no art. 319 do CPP. No entanto, se a medida imposta impedir, direta
ou indiretamente, que esse Deputado ou Senador exerça seu mandato, então, neste caso, a
Câmara ou o Senado poderá rejeitar (“derrubar”) a medida cautelar que havia sido
determinada pelo Judiciário.
Aplica-se, por analogia, a regra do §2º do art. 53 da CF/88 também para as medidas
cautelares diversas da prisão.
STF. Plenário. ADI 5526/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 11/10/17 (Info 881).
OBS:
O Deputado Federal ou Senador pode ser preso antes da condenação definitiva?
Regra: NÃO. Como regra, os membros do Congresso Nacional não podem ser presos
antes da condenação definitiva.
Exceção: poderão ser presos caso estejam em flagrante delito de um crime
inafiançável.
Pela redação literal do art. 53, § 2º da CF/88, o Deputado Estadual, o Deputado Federal e o
Senador somente poderão ser presos, antes da condenação definitiva, em uma única hipótese:
em caso de flagrante delito de crime inafiançável. Isso significa que, pela literalidade do
dispositivo constitucional, tais parlamentares não podem ter contra si uma ordem de prisão
preventiva. Trata-se da imunidade formal em relação à prisão, também chamada de
“incoercibilidade pessoal relativa” (freedom from arrest). As imunidades parlamentares são
prerrogativas conferidas pela CF/88 aos parlamentares para que eles possam exercer seu
mandato com liberdade e independência. Vale ressaltar que a imunidade prevista no art. 53,
§ 2º da CF/88 aplica-se não apenas para Deputados Federais e Senadores, mas também para
os Deputados Estaduais. Isso porque os Deputados Estaduais possuem as mesmas
imunidades que os parlamentares federais, por força do art. 27, § 1º da CF/88.
O Deputado Federal ou Senador pode ser preso se for condenado em processo criminal com
trânsito em julgado? SIM. O § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar
(provisória) do parlamentar, ou seja, não proíbe a prisão decorrente da sentença transitada
em julgado, como no caso de Deputado Federal condenado definitivamente pelo STF. STF.
Plenário. AP 396 QO/RO, AP 396 ED-ED/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 26/6/2013 (Info 712).
Em suma, pode-se dizer que o § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar
(provisória) do parlamentar, ou seja, não proíbe a prisão decorrente da sentença transitada
em julgado, como foi a hipótese do ex-Deputado Federal Natan Donadon, condenado pelo
STF na AP 396/RO.
Segundo o art. 53, § 2º da CF/88, o Deputado ou Senador não pode ser preso antes do trânsito
em julgado, salvo prisão em flagrante de crime inafiançável. Assim, pelo texto da
Constituição, o Judiciário não pode decretar a prisão preventiva de um Deputado ou
Senador. E quanto às demais medidas cautelares? O Judiciário pode decretar medidas
cautelares diversas da prisão (art. 319 do CPP) em desfavor de Deputados ou Senadores que
estejam sendo investigados ou que sejam réus? SIM.
De onde o STF tirou essa conclusão de que deveria encaminhar a sua decisão para o
Parlamento avaliar se deveria ou não ser mantida? Do art. 53, § 2º da CF/88:
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não
poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso (ou
seja, na hipótese de o parlamentar ser preso), os autos serão remetidos dentro de
vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus
membros, resolva sobre a prisão.
Mas o art. 53, § 2º da CF/88 fala em resolver sobre a “prisão” e não sobre “medidas
cautelares” do art. 319 do CPP...: O STF entendeu que o mesmo raciocínio que vale para a
prisão dos parlamentares deve ser aplicado também no caso de medidas cautelares. O art. 53,
§ 2º da CF/88 foi pensado com um objetivo, qual seja, o de fazer com que o parlamentar
somente fosse afastado do exercício de seu mandato conferido pelo povo em uma única
hipótese: prisão em flagrante delito por crime inafiançável. Dessa forma, esta norma
constitucional estabeleceu, implicitamente, a impossibilidade de qualquer outro tipo de
prisão cautelar. Diante disso, o STF entendeu que impor ao Deputado ou Senador medidas
cautelares que impeçam o exercício do mandato seria uma forma de violar a imunidade
formal que protege o livre exercício do mandato parlamentar contra interferências externas.
Assim, a decisão do Poder Judiciário que aplique medida cautelar que impossibilite direta ou
indiretamente o exercício regular do mandato legislativo deve ser submetida ao controle
político da Casa Legislativa respectiva, nos termos do art. 53, § 2º, da CF/88.
Obs: o resultado deste julgamento ocorreu por apertada maioria (6x5).
Houve uma mudança de entendimento do STF? SIM. Em 2016, o Plenário do STF aplicou a
medida cautelar do inciso VI do art. 319 do CPP e afastou o Eduardo Cunha do seu cargo de
Deputado Federal e da função de Presidente da Câmara dos Deputados durante a tramitação
dos inquéritos que ele respondia. Naquela ocasião, o STF afastou Cunha do cargo e não
cogitou dar à Câmara dos Deputados a possibilidade de reverter essa decisão. Em outras
palavras, no caso de Cunha, o STF impôs a medida cautelar e o Parlamento não pode se
manifestar sobre isso. STF. Plenário. AC 4070/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
5/5/2016 (Info 579).
A posição manifestada pelo STF na ADI 5526/DF (poder do Parlamento de dar a última
palavra sobre as medidas cautelares) aplica-se também aos Deputados Estaduais? O STF
não apreciou este tema. No entanto, penso que o entendimento pode sim valer também para
os Parlamentares estaduais. Isso porque o art. 27, § 1º da CF/88 determina que deverão ser
aplicadas aos Deputados Estaduais as mesmas regras previstas para os Deputados Federais e
Senadores relacionadas com inviolabilidade, imunidades, perda de mandato, licença,
impedimentos, entre outros.
O objetivo do legislador, ao prever este tipo penal, foi o de proteger a confiança no sistema
financeiro. Isso porque “a divulgação de uma informação falsa sobre a saúde da instituição
financeira pode provocar a corrida dos correntistas à instituição para sacarem seus valores,
trazendo prejuízo efetivo à instituição e ao sistema”. (BALTAZAR JUNIOR, José Paulo.
Crimes federais. 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2016, p. 636).
2) Imunidade material
A entrevista concedida tinha relação direta com o cargo de Deputado Estadual que, à época,
era ocupado pelo réu. Isso se mostra ainda mais evidente pelo fato de que as declarações
foram prestadas dentro da Assembleia Legislativa, reforçando que se tratou de uma
manifestação do exercício de suas prerrogativas de parlamentar. Em virtude disso, não se
pode dizer que tenha havido crime porque o acusado agiu acobertado pela imunidade
material prevista no art. 53 da CF/88:
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por
quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.
10.5. Deputado que, em entrevista à imprensa, afirma que determinada Deputada "não
merece ser estuprada" não está protegido pela imunidade material – (Info 831)
Além disso, a Deputada ajuizou contra ele queixa-crime sob a alegação de que teria sido
vítima de injúria:
Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.
Defesa do Deputado: A defesa argumentou que o parlamentar não cometeu qualquer crime
com seu comentário, considerando estar acobertado pela imunidade material prevista no art.
53 da CF/88:
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por
quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.
A denúncia e a queixa-crime foram recebidas pelo STF? Existem elementos indiciários para
se prosseguir com a ação penal? SIM.
Este entendimento não poderia ser aplicado ao caso concreto, considerando que as palavras
e a entrevista foram dadas dentro das dependências da Câmara dos Deputados? O STF
afirmou que as declarações prestadas pelo Deputado dentro do plenário até poderiam estar
abarcadas por este entendimento. No entanto, no dia seguinte ele deu uma entrevista na qual
reafirmou as palavras. Portanto, neste momento, a imunidade não é absoluta.
Depois das declarações do Deputado, surgiu uma campanha na internet no qual várias
pessoas postaram a seguinte frase: "eu não mereço ser estuprada". A defesa do parlamentar
afirmou que, se as palavras dele incentivaram o estupro, então as mulheres que aderiram a
esse movimento também o teriam praticado porque o contexto seria o mesmo. O STF acolheu
este argumento? NÃO. Esta campanha se trata de uma crítica e repúdio às declarações do
parlamentar. O sentido conferido, na referida campanha, ao verbo “merecer” revela-se
oposto ao empregado pelo acusado nas manifestações que externara publicamente. Essas
mensagens buscaram restabelecer o sentimento social de que o estupro é uma crueldade
intolerável.
Injúria: Por fim, o STF afirmou que as declarações do Deputado atingiram a honra subjetiva
da Deputada, porque rebaixaram sua dignidade moral, expondo sua imagem à humilhação
pública, além de associar as características da mulher à possibilidade de ser vítima de
estupro.
Tese da retorsão imediata: Vale ressaltar que o Deputado ainda não foi condenado. Na
verdade, agora que se inicia o processo criminal e, após toda a instrução, o mérito das
acusações ainda será analisado. Importante destacar que o STF ainda não se manifestou sobre
um dos argumentos do Deputado, qual seja, o de que ele teria apenas se defendido de
prévias agressões verbais praticadas pela Deputada (tese da "retorsão imediata" ou da
"reação a injusta provocação"). O STF afirmou que esta alegação somente deveria ser
apreciada ao final do processo, após a instrução.
A imunidade material de parlamentar (art. 53, “caput”, da CF/88) quanto a crimes contra a
honra só alcança as supostas ofensas irrogadas fora do Parlamento quando guardarem
conexão com o exercício da atividade parlamentar.
No caso concreto, determinado Deputado Federal afirmou, em seu blog pessoal, que certo
Delegado de Polícia teria praticado fato definido como prevaricação.
A 1ª Turma do STF recebeu a denúncia formulada contra o Deputado por entender que,
no caso concreto, deveria ser afastada a tese de imunidade parlamentar apresentada pela
defesa.
A Min. Rel. Rosa Weber ressaltou que a imunidade parlamentar material (art. 53 da CF/88)
só é absoluta quando as afirmações de um parlamentar sobre qualquer assunto ocorrem
dentro do Congresso Nacional. No entendimento da Ministra, fora do parlamento é
necessário que as afirmações tenham relação direta com o exercício do mandato. Na
hipótese, o STF entendeu que as declarações do Deputado não tinha relação direta com o
exercício de seu mandato.
STF. 1ª Turma. Inq 3672/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 14/10/2014 (Info 763).
10.8. Parlamentares não têm imunidade formal quanto à prisão em caso de condenação
definitiva – (Info 712)
11.2. A condenação criminal transitada em julgado é suficiente, por si só, para acarretar a
perda automática do mandato eletivo de Deputado Federal ou de Senador? – (Info 863, 903 e
904) – IMPORTANTE!!! Atualize seus livros!!! – (Investigador de Polícia/PCMA-2018)
2ª Turma do STF: NÃO. A perda não é automática. A Casa é que irá deliberar.
O STF apenas comunica, por meio de ofício, à Mesa da Câmara dos Deputados ou do
Senado Federal informando sobre a condenação do parlamentar.
A Mesa da Câmara ou do Senado irá, então, deliberar (decidir) como entender de direito
(como quiser) se o parlamentar irá perder ou não o mandato eletivo, conforme prevê o art.
55, VI, § 2º, da CF/88.
Assim, mesmo com a condenação criminal, quem decide se haverá a perda do mandato é a
Câmara dos Deputados ou o Senado Federal.
STF. 2ª Turma. AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 29/5/2018 (Info 904) (obs: o Relator
Edson Fachin ficou vencido neste ponto).
OBS: O Código Penal prevê que a pessoa condenada criminalmente perderá o cargo, função
pública ou mandato eletivo que ocupe nos seguintes casos:
Art. 92. São também efeitos da condenação:
I – a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a
um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para
com a Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4
(quatro) anos nos demais casos.
Art. 14 (...)
§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:
II – o pleno exercício dos direitos políticos;
Para a primeira corrente, a regra do art. 15, III, da CF/88 não se aplica a Deputados Federais
e Senadores. Isto porque no caso desses parlamentares há uma norma específica que
excepciona a regra geral. Trata- se do art. 55, VI e § 2º da CF/88, que afirma expressamente
que a perda do cargo é decidida pela respectiva Casa legislativa. Confira:
Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:
VI – que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado. (...)
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será DECIDIDA pela
Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta,
mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no
Congresso Nacional, assegurada ampla defesa
Logo, para esta 1ª corrente, mesmo o Deputado Federal ou o Senador tendo sido condenado
criminalmente, com sentença judicial transitada em julgado, ele somente perderá o mandato
se assim DECIDIR a maioria absoluta da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal.
É a posição adotada pela 2ª Turma do STF: AP 996, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
29/05/2018 (obs: o Relator Edson Fachin ficou vencido neste ponto).
Para a segunda corrente, o § 2º do art. 55 da CF/88 não precisa ser aplicado em todos os casos
nos quais o Deputado ou Senador tenha sido condenado criminalmente, mas apenas nas
hipóteses em que a decisão condenatória não tenha decretado a perda do mandato
parlamentar por não estarem presentes os requisitos legais do art. 92, I, do CP ou se foi
proferida anteriormente à expedição do diploma, com o trânsito em julgado em momento
posterior. Em outras palavras:
1) Se na decisão condenatória o STF não determinou a perda do mandato eletivo, nos
termos do art. 92, I, do CP: a perda do mandato somente poderá ocorrer se a maioria
absoluta da Câmara ou do Senado assim votar (aplica-se o art. 55, § 2º da CF/88);
2) Se na decisão condenatória o STF determinou a perda do mandato eletivo, nos
termos do art. 92, I, do CP: a perda do mandato ocorrerá sem necessidade de votação
pela Câmara ou Senado (não se aplica o art. 55, § 2º).
Logo, para esta segunda corrente, se o Deputado Federal ou o Senador foi condenado
criminalmente, com sentença judicial transitada em julgado, o STF poderá determinar a
perda do mandato eletivo, nos termos do art. 92, I, do CP. Nessa hipótese, não será necessária
votação pela respectiva Casa (não se aplica o art. 55, § 2º da CF/88). A condenação já tem o
condão de acarretar a perda do mandato.
O STF já adotou esta corrente no julgamento do “Mensalão” (AP 470/MG, Rel. Min.
Joaquim Barbosa, julgado em 10 e 13/12/2012) (Info 692). No entanto, não representa mais o
entendimento da Corte. A composição dos Ministros da época já foi bastante modificada.
3ª corrente: DEPENDE:
Se o Deputado ou Senador for condenado a mais de 120 dias em regime fechado: a
perda do cargo será uma consequência lógica da condenação. Neste caso, caberá à
Mesa da Câmara ou do Senado apenas declarar que houve a perda (sem poder
discordar da decisão do STF), nos termos do art. 55, III e § 3º da CF/88.
Se o Deputado ou Senador for condenado a uma pena em regime aberto ou
semiaberto: a condenação criminal não gera a perda automática do cargo. O
Plenário da Câmara ou do Senado irá deliberar, nos termos do art. 55, § 2º, se o
condenado deverá ou não perder o mandato.
Se o Deputado ou Senador for condenado a mais de 120 dias em regime fechado, ele deverá
cumprir a pena em penitenciária e não poderá sair para trabalho externo. Logo, não poderá
frequentar o Congresso Nacional, devendo, por consequência, perder o mandato com base
no art. 55, III, da CF/88:
Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador: (...)
III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das
sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta
autorizada;
Esse inciso III prevê a perda do mandato ao parlamentar que, em cada sessão legislativa,
faltar a 1/3 das sessões ordinárias. Como a sessão legislativa é anual (equivalente a 1 ano),
1/3 significa 4 meses (120 dias). Logo, se o parlamentar irá ficar preso durante mais de 120
dias, ele não poderá comparecer às sessões neste período e, portanto, deverá ser declarada a
perda de seu mandato.
No caso deste inciso III, a perda do mandado é DECLARADA pela Mesa Diretora da
Câmara ou do Senado:
Art. 55 (...)
§ 3º - Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa
da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus
membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional,
assegurada ampla defesa.
Declaração não é o mesmo que deliberação (decisão). Assim, ocorrendo a situação descrita
no inciso III do art. 55, a Mesa da Casa respectiva não tem o poder de decidir se o
Parlamentar irá perder ou não o mandato. A Mesa é obrigada a simplesmente declarar
(reconhecer, formalizar) que o Parlamentar perdeu o mandato. Assim, no caso do inciso III,
não há necessidade de deliberação do Plenário e a perda do mandato deve ser
automaticamente declarada pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados ou do Senado
Federal.
Por que se o parlamentar for condenado ao regime semiaberto ou aberto ele não perderá
automaticamente o cargo? Porque nos casos de condenação em regime inicial aberto ou
semiaberto, há a possibilidade de autorização de trabalho externo. Logo, em tese, ele
poderia ser um presidiário que sai para trabalhar como parlamentar durante o dia e volta
para o presídio à noite.
Qual é a posição que devo adotar em concursos? Em uma prova de concurso, você deve
expor que existe divergência entre a 1ª e a 2ª Turmas do STF. O cenário atual é o seguinte:
Se o STF condenar criminalmente um Deputado Federal ou Senador, haverá a
perda automática do mandato ou isso ainda dependerá de uma deliberação
(decisão) da Câmara ou do Senado, respectivamente?
A condenação criminal transitada em julgado é suficiente, por si só, para acarretar
a perda automática do mandato eletivo de Deputado Federal ou de Senador?
1ª Turma do STF: DEPENDE 2ª Turma do STF: NÃO. A perda não é
automática. A Casa é que irá deliberar
• Se o Deputado ou Senador for O STF apenas comunica, por meio de
condenado a mais de 120 dias em ofício, à Mesa da Câmara dos Deputados
regime fechado: a perda do cargo será ou do Senado Federal informando sobre a
uma consequência lógica da condenação do parlamentar.
condenação. Neste caso, caberá à A Mesa da Câmara ou do Senado irá,
Mesa da Câmara ou do Senado então, deliberar (decidir) como entender de
apenas declarar que houve a perda direito (como quiser) se o parlamentar irá
(sem poder discordar da decisão do perder ou não o mandato eletivo, conforme
STF), nos termos do art. 55, III e § 3º prevê o art. 55, VI, § 2º, da CF/88.
da CF/88. Assim, mesmo com a condenação criminal,
• Se o Deputado ou Senador for quem decide se haverá a perda do mandato
condenado a uma pena em regime é a Câmara dos Deputados ou o Senado
aberto ou semiaberto: a condenação Federal.
criminal não gera a perda automática STF. 2ª Turma. AP 996, Rel. Min. Edson
do cargo. O Plenário da Câmara ou Fachin, julgado em 29/05/2018 (obs: o
do Senado irá deliberar, nos termos Relator Edson Fachin ficou vencido neste
do art. 55, § 2º, se o condenado deverá ponto).
ou não perder o mandato.
STF. 1ª Turma. AP 694/MT, Rel. Min.
Rosa Weber, julgado em 2/5/2017
(Info 863).
STF. 1ª Turma. AP 968/SP, Rel. Min.
Luiz Fux, julgado em 22/5/2018 (Info
903).
O STF concordou com o pedido de João? O Vereador, enquanto parlamentar e cidadão, tem
direito de requerer diretamente do chefe do Poder Executivo informações e documentos sobre
a gestão municipal? SIM.
Art. 5º, XXXIII, da CF/88: A Constituição Federal de 1988 assegura, em seu art. 5º, XXXIII,
que TODOS têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
sociedade e do Estado. A regra geral num Estado Republicano é a da total transparência no
acesso a documentos públicos, sendo o sigilo a exceção.
Lei 12.527/11: O tema foi regulamentado, em nível infraconstitucional, pela Lei 12.527/11,
que ficou conhecida como “Lei de Acesso à Informação”.
Nesse sentido:
(...) O poder de fiscalização legislativa da ação administrativa do Poder
Executivo é outorgado aos órgãos coletivos de cada câmara do Congresso
Nacional, no plano federal, e da Assembleia Legislativa, no dos Estados;
nunca, aos seus membros individualmente, salvo, é claro, quando atuem em
representação (ou presentação) de sua Casa ou comissão. (...) STF. Plenário.
ADI 3046, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 15/4/04.
11.5. Afastamento de Deputado Federal do cargo por decisão judicial – (Info 824) –
IMPORTANTE!!!
Qual a natureza jurídica do pedido formulado pelo MP? Trata-se de um pedido de aplicação
de medida cautelar. O CPP prevê, em seu art. 319, um rol de medidas cautelares diversas da
prisão. Uma delas é o afastamento da pessoa investigada ou acusada do cargo, empregou ou
função pública que ocupa. Veja:
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (...)
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza
econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a
prática de infrações penais;
Vale ressaltar que, apesar de o dispositivo falar apenas em "função pública", esta expressão
deverá ser compreendida em sentido amplo, conforme explica Renato Brasileiro:
"Função pública: compreende toda atividade desempenhada com o objetivo de
consecução de finalidades próprias do Estado, por meio daquele que exerce
cargo, emprego ou função pública, nos termos do art. 327 do Código Penal.
Exercem função pública todos aqueles que prestam serviços ao Estado e às
pessoas jurídicas da Administração indireta, aí incluídos os agentes políticos, os
servidores públicos, assim como os particulares em colaboração com o Poder
Público." (Código de Processo Penal comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p.
914).
Dupla função da medida cautelar do inciso VI: A literalidade do inciso VI fala que a
suspensão do exercício de função pública pode ocorrer "quando houver justo receio de sua
utilização para a prática de infrações penais". No entanto, o STF afirmou que, além disso,
esse inciso possui duas outras funções:
1) preservação da utilidade do processo, evitando que o detentor da função
pública dificulte ou impeça o trabalho de persecução penal; e
Mas esse inciso VI pode ser aplicado para afastar parlamentares federais? A CF/88 não
afirma que a competência para decretar a perda do mandato é da Casa Legislativa (Câmara
dos Deputados ou Senado Federal)? SIM. Esse inciso VI do art. 319 do CPP pode ser utilizado
como fundamento para se afastar do cargo Deputados Federais e Senadores. De fato, os §§ 2º
e 3º do art. 55 da CF/88 outorgam às Casas Legislativas do Congresso Nacional a
competência para decidir a respeito da perda do mandato político nos casos em que venha a
se configurar qualquer das infrações previstas nos incisos I a VI do mesmo art. 55. Veja:
Art. 55 (...)
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela
Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta, mediante
provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no
Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.
§ 3º - Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa
da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus
membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional,
assegurada ampla defesa.
Vale ressaltar que, mesmo em caso de condenação definitiva transitada em julgado em
processo judicial, o Deputado ou Senador só poderá perder o cargo após decisão da
respectiva Casa (STF AP 565).
Isso não significa, no entanto, que o Poder Judiciário não possa suspender o exercício do
mandato parlamentar. A legitimidade do deferimento das medidas cautelares de persecução
criminal contra Deputados e Senadores encontra abrigo no princípio da inafastabilidade da
jurisdição (art. 5º, XXXV, da CF/88) e no fato de que as imunidades parlamentares não são
absolutas, podendo ser relativizadas quando o cargo não for exercido segundo os fins
constitucionalmente previstos. Nesse sentido, já decidiu o STF no HC 89.417.
Vale ressaltar que os membros do Poder Judiciário podem ser suspensos de suas atribuições
pelo Tribunal competente para julgá-los “quando, pela natureza ou gravidade da infração
penal, se torne aconselhável o recebimento de denúncia ou de queixa contra magistrado” (art.
29 da LOMAN).
Desse modo, não há razão para conferir tratamento diferenciado apenas aos Parlamentares,
livrando-os de qualquer intervenção preventiva no exercício do mandato por ordem judicial.
Conclusão: Por reputar que os elementos fáticos e jurídicos demonstram que a manutenção
de Eduardo Cunha na função de parlamentar e de Presidente da Câmara dos Deputados
representaria risco para as investigações penais instauradas contra ele, o Plenário do STF
determinou a suspensão do exercício do mandato de Deputado Federal e, por consequência,
da função de Presidente da Câmara dos Deputados.
11.6. PERDA DO MANDATO: Perda do mandato por infidelidade partidária não se aplica
a cargos eletivos majoritários – (Info 787) – IMPORTANTE!!!
Se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, decidir sair do partido político no qual foi
eleito, ele perderá o cargo que ocupa?
a) Se for um cargo eletivo MAJORITÁRIO: NÃO
A perda do mandato em razão de mudança de partido não se aplica aos candidatos eleitos
pelo sistema majoritário, sob pena de violação da soberania popular e das escolhas feitas
pelo eleitor.
No sistema majoritário, o candidato escolhido é aquele que obteve mais votos, não
importando o quociente eleitoral nem o quociente partidário.
Nos pleitos dessa natureza, os eleitores votam no candidato e não no seu partido político.
Desse modo, no sistema majoritário, a imposição da perda do mandato por infidelidade
partidária é antagônica (contrária) à soberania popular.
Durante sessão da Câmara Municipal, após discussão sobre uma representação contra o
Prefeito, um Vereador passou a proferir pesadas ofensas contra outro Parlamentar. O
Vereador ofendido ajuizou ação de indenização por danos morais contra o ofensor. A
questão chegou até o STF que, julgando o tema sob a sistemática da repercussão geral,
declarou que o Vereador não deveria ser condenado porque agiu sob o manto da
imunidade material. Na oportunidade, o STF definiu a seguinte tese que deverá ser
aplicada aos casos semelhantes:
Nos limites da circunscrição do Município e havendo pertinência com o exercício do
mandato, garante-se a imunidade prevista no art. 29, VIII, da CF aos vereadores.
STF. Plenário. RE 600063/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 25/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).
A imunidade formal prevista no art. 51, I, e no art. 86, caput, da CF/88 n ão se estende para
os codenunciados que não se encontrem investidos nos cargos de Presidente da República,
Vice-Presidente da República e Ministro de Estado.
A finalidade dessa imunidade é proteger o exercício regular desses cargos, razão pela qual
não é extensível a codenunciados que não se encontrem ocupando tais funções.
STF. Plenário. Inq 4483 AgR-segundo/DF e Inq 4327 AgR-segundo/DF, rel. Min. Edson
Fachin, j. 14 e 19/12/17 (Info 888).
OBS:
O que acontece quando o Presidente da República comete um crime? Deverá ser analisado se
o fato praticado está relacionado com as suas funções de Presidente:
1) Se o crime praticado não estiver relacionado com as suas funções de Presidente ou tiver
sido praticado antes do início do mandato: Neste caso, enquanto durar o mandato, o
Presidente não poderá ser denunciado. Após terminar o mandato, ele irá ser denunciado e
responderá o processo criminal em 1ª instância. Ex: o Presidente da República agride a sua
esposa. Ele somente irá responder por este fato quando terminar o mandato. Isso está
previsto no art. 86, § 4º, da CF/88:
Art. 86 (...)
§ 4º O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser
responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.
Trata-se de uma espécie de imunidade especial e temporária porque irá durar apenas pelo
período do mandato.
Apesar de não haver previsão expressa, a doutrina majoritária entende que, nesta situação, a
prescrição ficará suspensa enquanto perdurar o mandato.
2) Se o crime praticado estiver relacionado com o exercício das suas funções: O Procurador-
Geral da República irá apresentar ao STF denúncia contra o Presidente (se o PGR se
convencer que existe crime; em caso contrário, ele pedirá o arquivamento ao STF). Se o delito
praticado for de ação penal privada, é o ofendido quem deverá apresentar queixa-crime no
STF.
Depois que a denúncia ou queixa-crime chega ao STF, qual é a providência a ser adotada? O
STF deverá encaminhar a denúncia ou queixa-crime à Câmara dos Deputados para que esta
Casa decida se o Supremo poderá dar ou não continuidade à análise da peça acusatória. Na
prática, funciona assim: o Ministro que foi sorteado como relator do caso irá encaminhar à
Presidência do STF a denúncia/queixa pedindo que ela seja remetida oficialmente ao
Presidente da Câmara dos Deputados. Vale ressaltar que o STF somente poderá decidir se
aceita ou não a denúncia (ou queixa) se a Câmara dos Deputados autorizar. Para que a
Câmara autorize, exige-se o voto de, no mínimo, 2/3 dos Deputados. Confira:
Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:
I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra
o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado;
Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços
da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo
Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal,
nos crimes de responsabilidade.
Responsabilidade subjetiva: Vale ressaltar que o fato de os corréus serem desde logo
julgados não significa que se esteja indiretamente julgando o Presidente da República, em
contrariedade ao que decidiu a Câmara dos Deputados. Isso porque vigora em nosso
ordenamento jurídico o princípio da responsabilidade subjetiva, como corolário do Direito
Penal do fato, segundo o qual a análise da responsabilidade é de acordo com a conduta de
cada indivíduo. Assim, eventual condenação ou absolvição dos corréus não irá,
necessariamente, influenciar no futuro julgamento de Temer.
Imagine que foi formulada denúncia contra o Presidente da República por infrações
penais comuns. O STF deverá encaminhar esta denúncia para a Câmara dos Deputados
exercer o seu juízo político.
É possível que, antes desse envio, o STF analise questões jurídicas a respeito desta
denúncia, como a validade dos elementos informativos (“provas”) que a embasaram?
NÃO. Não há possibilidade de o STF conhecer e julgar qualquer questão ou matéria
defensiva suscitada pelo Presidente antes que a matéria seja examinada pela Câmara dos
Deputados. O juízo político de admissibilidade exercido pela Câmara dos Deputados
precede a análise jurídica pelo STF para conhecer e julgar qualquer questão ou matéria
defensiva suscitada pelo denunciado.
1) Se o crime praticado não estiver relacionado com as suas funções de Presidente ou tiver
sido praticado antes do início do mandato:
Neste caso, enquanto durar o mandato, o Presidente não poderá ser denunciado. Após
terminar o mandato, ele irá ser denunciado e responderá o processo criminal em 1ª instância.
Ex: o Presidente da República agride a sua esposa. Ele somente irá responder por este fato
quando terminar o mandato. Isso está previsto no art. 86, § 4º da CF/88:
Art. 86 (...)
§ 4º O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser
responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.
Trata-se de uma espécie de imunidade especial e temporária porque irá durar apenas pelo
período do mandato. Apesar de não haver previsão expressa, a doutrina majoritária entende
que, nesta situação, a prescrição ficará suspensa enquanto perdurar o mandato.
Depois que a denúncia ou queixa-crime chega ao STF, qual é a providência a ser adotada? O
STF deverá encaminhar a denúncia ou queixa-crime à Câmara dos Deputados para que esta
Casa decida se o Supremo poderá dar ou não continuidade à análise da peça acusatória. Na
prática. funciona assim: o Ministro que foi sorteado como relator do caso irá encaminhar à
Presidência do STF a denúncia/queixa pedindo que ela seja remetida oficialmente ao
Presidente da Câmara dos Deputados.
Vale ressaltar que o STF somente poderá decidir se aceita ou não a denúncia (ou queixa) se
a Câmara dos Deputados autorizar. Para que a Câmara autorize exige-se o voto de, no
mínimo, 2/3 dos Deputados. Confira:
Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços
da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo
Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal,
nos crimes de responsabilidade.
A necessidade de autorização da Câmara dos Deputados exigida pela CF/88 tem a finalidade
de proteger a soberania do voto popular, impondo que, quem fora eleito pelo sufrágio, só
seja afastado do exercício de seu mandato com a autorização dos representantes do próprio
povo. Essa é a razão, também, pela qual a CF/88 elegeu a Câmara dos Deputados para
realizar esse juízo político, eis que se trata da Casa do Congresso Nacional tradicionalmente
associada à representação do povo.
Imagine agora a seguinte situação: Estava tramitando no STF um inquérito para apurar
eventuais crimes cometidos pelo Presidente Michel Temer. Pouco antes de o Procurador-
Geral da República apresentar denúncia contra Temer, a defesa do Presidente formulou uma
questão de ordem no STF requerendo que fosse sustada (suspensa) a tramitação da futura
denúncia até que fossem concluídas as investigações sobre supostas irregularidades no
acordo de colaboração premiada celebrado entre executivos do grupo J&F e a PGR. O
advogado de Temer argumentou que a denúncia do PGR seria baseada na colaboração
premiada de Joesley Batista e Ricardo Saud, executivos do grupo J&F. No entanto, surgiram
indícios de que houve irregularidades na negociação do referido acordo de colaboração
premiada. Logo, para a defesa, a denúncia somente poderia ser formulada após ser encerrada
a investigação policial sobre esse acordo de colaboração, inclusive sobre a participação do ex-
Procurador da República Marcelo Miller. Além disso, a defesa pediu que fossem
desconsideradas as provas obtidas a partir das gravações realizadas por Joesley considerando
que teria havido flagrante provocado.
Como o STF não pode fazer juízo de admissibilidade sobre a denúncia oferecida contra o
Presidente da República antes da autorização pela Câmara dos Deputados, da mesma forma,
não pode fazer juízo antecipado a respeito de eventuais teses defensivas. Isso porque o
momento adequado para este exame é justamente o do art. 4º da Lei 8.038/90.
A discussão sobre o valor probatório dos elementos de convicção (“provas”), ou mesmo a
respeito da validade desses elementos que eventualmente embasarem a denúncia, constitui
matéria relacionada com a chamada “justa causa”, uma das condições da ação penal, cuja
constatação ou não se dará por ocasião do juízo de admissibilidade, a ser levado a efeito pelo
Plenário do STF após eventual autorização da Câmara dos Deputados.
Rescisão do acordo de colaboração afeta apenas o colaborador, não produzindo efeitos
sobre terceiros: O STF decidiu, ainda, que a possibilidade de rescisão ou de revisão, total ou
parcial, do acordo de colaboração premiada de Joesley em decorrência do descumprimento
dos deveres que ele havia assumido não tem a força de fazer com que as provas obtidas a
partir deste acordo sejam consideradas imprestáveis. Isso porque a rescisão ou revisão tem
efeitos somente entre as partes, não atingindo a esfera jurídica de terceiros.
14.3. Não há necessidade de prévia autorização da ALE para que o STJ receba denúncia
criminal contra o Governador do Estado – (Info 863 e Info 872) - (Investigador de
Polícia/PCMA-2018)
O STF sempre entendeu assim? NÃO. Houve uma mudança na jurisprudência. O STF
entendia válida a norma prevista em Constituição estadual que exigia autorização prévia da
Assembleia Legislativa. Nesse sentido: STF. Plenário. ADI 4791/PR, Rel. Min. Teori Zavascki,
julgado em 12/2/2015 (Info 774). O Min. Edson Fachin afirmou que era necessário superar o
antigo entendimento do STF “diante dos reiterados e vergonhosos casos de negligência
deliberada pelas assembleias legislativas estaduais, que têm sistematicamente se negado a
deferir o processamento de governadores”. A orientação anterior, que privilegiava a
autonomia dos Estados-membros e o princípio federativo, entrou em linha de tensão com o
princípio republicano, que prevê a responsabilização política dos governantes. Verificou-se
que, ao longo do tempo, as Assembleias Legislativas bloquearam a possiblidade de
instauração de processos contra os Governadores.
O art. 86, § 1º, I, da CF/88 prevê que se o STF receber a denúncia ou queixa-crime contra o
Presidente da República, ele ficará automaticamente suspenso de suas funções. Essa regra
também se aplica para os Governadores de Estado. Se o STJ receber a denúncia ou queixa-
crime contra o Governador, ele ficará automaticamente suspenso de suas funções no Poder
Executivo estadual? NÃO. O afastamento do cargo não se dá de forma automática. O simples
recebimento de uma denúncia é um ato de baixa densidade decisória e não pode importar em
afastamento automático do Governador. Esse afastamento somente pode ocorrer se o STJ
entender que há elementos a justificá-lo. O Governador pode ser afastado, mas não como
decorrência automática do recebimento da denúncia. Assim, o STJ, no ato de recebimento da
denúncia ou queixa, irá decidir, de forma fundamentada, se há necessidade de o
Governador do Estado ser ou não afastado do cargo. Vale ressaltar que, além do
afastamento do cargo (art. 319, VI, do CPP), o STJ poderá aplicar qualquer uma das medidas
cautelares penais. Exs: prisão preventiva (art. 311 do CPP), proibição de ausentar-se da
comarca (art. 319, IV), fiança (art. 319, VIII), monitoração eletrônica (art. 319, IX) etc. Essas
medidas cautelares poderão ser decretadas no momento do recebimento da denúncia/queixa
ou durante o curso do processo e precisam ser sempre fundamentadas.
E quanto aos crimes de responsabilidade? O STF entende que o Estado-membro não pode
dispor sobre crime de responsabilidade, ainda que seja na Constituição estadual. Isso porque
a competência para legislar sobre crime de responsabilidade é privativa da União. Definir o
que é crime de responsabilidade e prever as regras de processo e julgamento dessas infrações
significa legislar sobre Direito Penal e Processual Penal, matérias que são de competência
privativa da União, nos termos do art. 22, I, e art. 85, parágrafo único, da CF. O Supremo
possui, inclusive, um enunciado destacando essa conclusão:
Súmula vinculante 46-STF: São da competência legislativa da União a definição
dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de
processo e julgamento.
14.4. Não há necessidade de prévia autorização da ALE para que o STJ receba denúncia
criminal contra o Governador do Estado – IMPORTANTE!!! Atualize seus livros!!! – (Info
863) - (Investigador de Polícia/PCMA-2018)
O STF sempre entendeu assim? NÃO. Houve uma mudança na jurisprudência. O STF
entendia válida a norma prevista em Constituição estadual que exigia autorização prévia da
Assembleia Legislativa. Nesse sentido: STF. Plenário. ADI 4791/PR, Rel. Min. Teori Zavascki,
julgado em 12/2/2015 (Info 774). O Min. Edson Fachin afirmou que era necessário superar o
antigo entendimento do STF “diante dos reiterados e vergonhosos casos de negligência
deliberada pelas assembleias legislativas estaduais, que têm sistematicamente se negado a
deferir o processamento de governadores”. A orientação anterior, que privilegiava a
autonomia dos Estados-membros e o princípio federativo, entrou em linha de tensão com o
princípio republicano, que prevê a responsabilização política dos governantes. Verificou-se
que, ao longo do tempo, as Assembleias Legislativas bloquearam a possiblidade de
instauração de processos contra os Governadores.
O art. 86, § 1º, I, da CF/88 prevê que se o STF receber a denúncia ou queixa-crime contra o
Presidente da República, ele ficará automaticamente suspenso de suas funções. Essa regra
também se aplica para os Governadores de Estado. Se o STJ receber a denúncia ou queixa-
crime contra o Governador, ele ficará automaticamente suspenso de suas funções no Poder
Executivo estadual? NÃO. O afastamento do cargo não se dá de forma automática. O simples
recebimento de uma denúncia é um ato de baixa densidade decisória e não pode importar em
afastamento automático do Governador. Esse afastamento somente pode ocorrer se o STJ
entender que há elementos a justificá-lo. O Governador pode ser afastado, mas não como
decorrência automática do recebimento da denúncia. Assim, o STJ, no ato de recebimento da
denúncia ou queixa, irá decidir, de forma fundamentada, se há necessidade de o
Governador do Estado ser ou não afastado do cargo. Vale ressaltar que, além do
afastamento do cargo (art. 319, VI, do CPP), o STJ poderá aplicar qualquer uma das medidas
cautelares penais. Exs: prisão preventiva (art. 311 do CPP), proibição de ausentar-se da
comarca (art. 319, IV), fiança (art. 319, VIII), monitoração eletrônica (art. 319, IX) etc. Essas
medidas cautelares poderão ser decretadas no momento do recebimento da denúncia/queixa
ou durante o curso do processo e precisam ser sempre fundamentadas.
E quanto aos crimes de responsabilidade? O STF entende que o Estado-membro não pode
dispor sobre crime de responsabilidade, ainda que seja na Constituição estadual. Isso porque
a competência para legislar sobre crime de responsabilidade é privativa da União. Definir o
que é crime de responsabilidade e prever as regras de processo e julgamento dessas infrações
significa legislar sobre Direito Penal e Processual Penal, matérias que são de competência
privativa da União, nos termos do art. 22, I, e art. 85, parágrafo único, da CF. O Supremo
possui, inclusive, um enunciado destacando essa conclusão:
Súmula vinculante 46-STF: São da competência legislativa da União a definição
dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de
processo e julgamento.
14.6. Decisão do STF que definiu o rito do processo de impeachment da Presidente Dilma
– (Info 812) – IMPORTANTE!!! – (MPGO-2016)
I – O Estado-membro não pode dispor sobre crime de responsabilidade, ainda que seja na
Constituição estadual. Isso porque a competência para legislar sobre crime de
responsabilidade é privativa da União, nos termos do art. 22, I, e art. 85 da CF/88.
II – As Constituições estaduais não podem prever que os Governadores serão julgados
pela Assembleia Legislativa em caso de crimes de responsabilidade. Isso porque o art. 78,
§ 3º da Lei 1.079/50 afirma que a competência para julgar os Governadores de Estado em
caso de crimes de responsabilidade é de um “Tribunal Especial”, composto especialmente
para julgar o fato e que será formado por 5 Deputados Estaduais e 5 Desembargadores,
sob a presidência do Presidente do Tribunal de Justiça.
STF. Plenário. ADI 4791/PR, Rel. Min. Teori Zavascki; ADI 4800/RO e ADI 4792/ES, Rel.
Min. Cármen Lúcia, julgados em 12/2/2015 (Info 774).
OBS:
Art. 187, § 4º do RICD: Como se sabe, caso o Presidente da República seja "acusado" de ter
praticado um crime de responsabilidade, a Câmara dos Deputados decide se autoriza ou não
a instauração de processo, nos termos do art. 51, I, da CF/88:
Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:
I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra
o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado;
Polêmica sobre a ordem dos Deputados que iriam votar: O art. 187, § 4º do Regimento prevê
que a votação será nominal e cada Deputado Federal será chamado e deverá responder "sim"
ou "não" para a instauração do processo. No entanto, uma frase desse § 4º gerou enorme
divergência durante as discussões sobre o processo de impeachment da Presidente Dilma. O
que gerou polêmica foi a previsão contida no referido § 4º, no sentido de que a chamada dos
Deputados Federais para votar deverá ocorrer, "alternadamente, do norte para o sul e vice-
versa". A votação do processo de impeachment da Presidente Dilma estava marcada para
ocorrer no domingo (17/04/2016). Havia a expectativa de que o então Presidente da Câmara
dos Deputados, Eduardo Cunha, começasse a votação pelos Deputados Federais do Estado
do sul. Ocorre que, em tese, isso seria ruim para a Presidente porque ela teria mais aliados
entre os Deputados dos Estados do norte. Assim, os aliados do Governo temiam que, se a
votação começasse pelo sul, haveria, já no início da votação, vários votos a favor do processo
de impeachment e isso geraria um "efeito manada", ou seja, uma "pressão psicológica" nos
parlamentares que viriam depois e que votariam também a favor da instauração por sentirem
que esta seria uma tendência irreversível.
ADI 5498: Tendo em vista este cenário, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), no dia
14/04/2016, ingressou com ação direta de inconstitucionalidade pedindo que o STF desse
interpretação conforme a Constituição ao art. 187, § 4º, do Regimento Interno para
determinar ao Presidente da Câmara que a ordem de votação ocorresse da seguinte forma:
1ª opção: que a votação fosse intercalada (um Deputado do norte, depois um do sul,
outro do norte, outro do sul e assim por diante)
2ª opção: como pedido subsidiário, o autor da ação pedia que fosse declarada a
inconstitucionalidade do art. 187, § 4º, do Regimento e que o STF, em substituição a
essa regra, determinasse que a votação fosse em ordem alfabética, tal como ocorreu
no processo de impeachment do ex-Presidente Collor em 1992.
3ª opção: que a votação fosse nominal, aberta e simultânea por meio do painel
eletrônico.
Houve uma discussão se o STF deveria conhecer desta ADI ou se a referida ação impugnava
um ato interna corporis e, portanto, insuscetível de controle de constitucionalidade. O que
decidiu a Corte? A ação foi conhecida? SIM. O Tribunal, por maioria, conheceu da ação.
Ficaram vencidos os Ministros Gilmar Mendes e Celso de Mello, que dela não conheciam por
considerarem que a questão discutida configuraria matéria “interna corporis”, insuscetível de
controle abstrato de constitucionalidade. O STF possui precedentes no sentido de que cabe
ADI contra regimentos internos de órgãos legislativos, desde que possuam caráter normativo
e autônomo. Nesse sentido: STF. Plenário. ADI 4587, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 22/05/2014.
Quanto ao mérito, o STF concordou com o pedido do autor? NÃO. O Plenário do STF, por
maioria, indeferiu a medida cautelar formulada na ADI. O autor da ação não demonstrou de
que modo os dispositivos atacados teriam ofendido os princípios constitucionais do
contraditório, da ampla defesa, da impessoalidade, da moralidade e da República. A mera
invocação genérica de transgressão a um postulado constitucional não é suficiente para
legitimar o ajuizamento de ação direta. É preciso não apenas indicar os valores, os princípios,
mas também estabelecer as razões jurídicas que possam legitimar a pretendida ocorrência de
violação às normas de parâmetro invocadas no processo de controle objetivo de
constitucionalidade. O requerente não articulou minimamente a alegação de ofensa ao
princípio do devido processo legal, ao aduzir que a votação poderia gerar efeito cascata, de
modo que os primeiros votos pudessem influenciar os últimos, o que comprometeria o
princípio da imparcialidade. Qualquer tipo de votação nominal, independentemente do
critério adotado, jamais afastaria a possibilidade de efeito cascata. Assim, inexistindo
incompatibilidade entre o dispositivo regimental com qualquer preceito constitucional, não
se vislumbrou a relevância do direito, o que seria razão para indeferir a medida liminar.
Ademais, o Tribunal sublinhou que não se pode exigir isenção e imparcialidade dos
membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Na realidade, o “impeachment” é
uma questão política que deve ser resolvida com critérios políticos. A garantia da
imparcialidade está no alto quórum exigido para a votação.
Como ficou a ordem da votação? Antes que iniciasse a sessão do STF, o então Presidente da
Câmara voltou atrás de sua ideia inicial de começar a votação pelos Estados do Sul e
anunciou que a ordem seria a seguinte: “a) (...) a chamada terá início por um Estado da região
norte e, em alternância, será chamado um Estado da região sul. Em seguida, em razão do
‘vice-versa’, será chamado um Estado da região sul e, depois, um Estado da região norte, e
assim sucessivamente, passando pelas demais regiões; b) a ordem dos Estados seguirá a
tradição da Casa, a disposição constante no painel de votação e, por analogia, a ordem
geográfica das capitais prevista no art. 3º, § 3º, do Regimento Interno da Câmara dos
Deputados (...)”.
Além da ADI acima mencionada, havia dois mandados de segurança questionando essa
ordem de votação, mas o STF também negou os pedidos de medida cautelar formulados nos
writs que questionavam a interpretação dada por Eduardo Cunha.
Segundo entendeu o Supremo, a ordem definida pelo Presidente da Câmara era uma das
interpretações possíveis do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Além disso, os
Ministros entenderam que não havia matéria constitucional relevante sendo discutida nos
mandados de segurança.
Dessa forma, foi mantida a ordem de votação proposta pelo ex-Presidente da Câmara.
STF. Plenário. MS 34127 MC/DF, MS 34128 MC/DF, Rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/
o acórdão Min. Teori Zavascki, julgados em 14/4/2016 (Info 821).
Existe uma decisão proferida pelo TJ em processo coletivo que beneficia diversos
servidores do Poder Judiciário.
Esses servidores começam a ingressar com execuções individuais pedindo o pagamento
dos valores reconhecidos no acórdão do TJ. João é um deles e ajuíza pedido de
cumprimento de sentença. O TJ remete a execução individual de João para o STF
afirmando que mais da metade dos Desembargadores possui alguma relação de
parentesco com outros servidores beneficiados pela decisão. Logo, para o TJ, a
competência para julgar todas as execuções individuais seria do STF, com base no art. 102,
I, “n”, segunda parte, da CF/88.
O STF, contudo, não concordou com a decisão.
O STF não é competente para julgar originariamente a execução de João, pois não há
impedimento dos Desembargadores. Nenhum deles mantêm relação de parentesco com
João, servidor que figura especificamente no processo de execução individual.
STF. 1ª T. AO 2380 AgR/SE, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso, j. 25/6/19 (Info 945).
É válido ato do CNJ que, ao dar plena aplicabilidade ao art. 31 do ADCT, decide pela
invalidade dos atos administrativos de nomeação de todos os titulares de cartórios
privatizados que tenham ingressado no cargo após 5 de outubro de 1988, data de
promulgação da CF em vigor.
As pessoas que assumiram as serventias judiciais depois da CF/88, em caráter privado, não
têm direito líquido e certo de nelas permanecerem, qualquer que seja a forma de
provimento. Há flagrante inconstitucionalidade a partir do momento em que assumem
cargo em serventia que deveria ser estatizada.
Isso porque é inconstitucional o provimento de pessoas para exercerem a função de titular
de serventias judiciais, com caráter privado (serventias judicias privatizadas / não
estatizadas), após a CF/88.
O art. 31 do ADCT é autoaplicável, de modo que é obrigatória a estatização das serventias
judiciais à medida que elas fiquem vagas.
O prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado
afronta diretamente a Constituição Federal.
STF. 1ª Turma. MS 29323/DF, MS 29970/DF, MS 30267/DF e MS 30268/DF, rel. orig. Min.
Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, j. 12/2/19 (Info 930).
O escrivão que ocupa serventia judicial provida, em caráter privado, antes da CF/88, pode
ser mantido na titularidade da serventia.
O art. 31 do ADCT garante, expressamente, o direito do escrivão nomeado antes da CF/88
de continuar explorando a serventia. Isso porque este dispositivo afirma que, depois da
CF/88, deverão ser estatizadas as serventias do foro judicial, “respeitados os direitos dos
então titulares”.
STF. 1ª Turma. MS 29998/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 28/5/2019 (Info 942).
15.3. Juiz do Trabalho Substituto, durante seu afastamento para tratamento de saúde, não
tem direito de continuar recebendo a verba de substituição – (Info 934)
15.4. Constitucionalidade da verba “auxílio-voto”, paga aos juízes convocados para atuar
nos processos de 2ª instância do Tribunal – (Info 910)
Foi instituído, no Tribunal de Justiça de São Paulo, o pagamento de uma verba pela
atuação em 2ª instância de magistrados de 1ª instância. Em outras palavras, o juiz era
convocado para atuar nos processos do Tribunal e, em razão disso, recebia uma verba que
ficou conhecida como “auxílio-voto”.
O CNJ, em procedimento de controle administrativo (PCA), considerou a verba irregular,
por suposta ofensa ao teto constitucional, e determinou a devolução dos valores recebidos
pelos juízes.
O STF cassou a decisão do CNJ. Argumentos:
1) A decisão do CNJ violou o devido processo legal administrativo e os princípios do
contraditório e da ampla defesa. Isso porque os magistrados não foram notificados para
apresentação de defesa escrita, além de não terem participado da instrução processual. A
decisão proferida pelo Conselho surpreendeu a todos os envolvidos. Além disso, o PCA
no qual o CNJ decidiu pela irregularidade da verba foi instaurado para tratar sobre
assunto completamente diverso.
2) A verba paga aos magistrados de 1ª instância que atuaram nos processos do Tribunal de
Justiça foi regular, considerando que baseada no art. 124 da LC 35/79 (LOMAN). Essa
convocação de juízes para atuar no Tribunal é válida e não viola a CF/88. Como essa
convocação de juízes é válida (compatível com a CF/88), é natural que seja devido o
pagamento de um valor como forma de “recomposição patrimonial dos magistrados, dado
o exercício extraordinário de atribuições transitórias desempenhadas acumuladamente
com a jurisdição ordinária”. De igual modo, como se trata de uma verba prevista em lei,
fica afastada qualquer alegação de má-fé. Como a verba em questão servia para pagar os
magistrados por um serviço extraordinário, elas não estavam abrangidas pelo subsídio.
STF. 2ª Turma. MS 29002/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 7/8/2018 (Info 910).
O art. 96, II, “b”, por sua vez, prevê a competência do Tribunal de Justiça para iniciar a
discussão legislativa sobre a remuneração de seus membros (magistrados) e também dos
serviços auxiliares:
Art. 96. Compete privativamente: (...)
II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de
Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169:
(...)
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços auxiliares e
dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus
membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, onde houver;
15.8. Dever do Poder Executivo de efetuar os repasses de duodécimo na forma do art. 168
da CF/88 – (Info 848)
A lei orçamentária anual do Estado do Rio de Janeiro foi aprovada e nela previsto o
orçamento do Poder Judiciário. Ocorre que o Poder Executivo estadual não estava
cumprindo seu dever de repassar os recursos correspondentes às dotações orçamentárias
do Poder Judiciário em duodécimos. Diante disso, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro
impetrou mandado de segurança, com pedido de tutela de urgência, contra o ato omissivo
do Governador do Estado do Rio de Janeiro no atraso do repasse dos referidos recursos. O
Governador argumentou que o Estado passa por uma crise muito grave e que no ano de
2016 houve um déficit orçamentário de 19,6% em relação ao orçamento que foi previsto na
Lei orçamentária anual.
O STF deferiu parcialmente a medida liminar, assegurando-se ao Poder Judiciário do
Estado do Rio de Janeiro o direito de receber, até o dia 20 de cada mês, em duodécimos, os
recursos correspondentes às dotações orçamentárias, sendo, contudo, facultado ao Poder
Executivo fazer um desconto de 19,6% da Receita Corrente Líquida prevista na LOA.
A crise do Estado e a queda na arrecadação não justificam que o Poder Executivo deixe de
repassar o duodécimo ao Poder Judiciário. No entanto, deve ser autorizado que o
Executivo diminua os valores a serem entregues ao TJ de forma proporcional à redução
que houve na arrecadação inicialmente prevista pela Lei Orçamentária Anual.
Não faz sentido que, diante de uma situação de déficit orçamentário (a realização do
orçamento foi muito inferior ao previsto), o Poder Executivo reduza seu orçamento e o
Poder Judiciário continue com seu duodécimo calculado com base na previsão da receita
que não foi a verificada na prática. Havendo frustração de receita, o ônus deve ser
compartilhado de forma isonômica entre todos os Poderes. Em suma, a base de cálculo dos
duodécimos deve observar o valor real de efetivo desempenho orçamentário e não o valor
fictício previsto na lei orçamentária.
STF. 1ª Turma. MS 34483-MC/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 22/11/2016 (Info 848).
15.9. CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO: Órgão do tribunal que afasta a aplicação
da legislação federal para a situação analisada – (Info 848) – IMPORTANTE!!! – (PGM-
Salvador-2015-CESPE) (DPEPR-2017)
Não viola a Súmula Vinculante 10, nem a regra do art. 97 da CF/88, a decisão do órgão
fracionário do Tribunal que deixa de aplicar a norma infraconstitucional por entender não
haver subsunção aos fatos ou, ainda, que a incidência normativa seja resolvida mediante a
sua mesma interpretação, sem potencial ofensa direta à Constituição.
Além disso, a reclamação constitucional fundada em afronta à SV 10 não pode ser usada
como sucedâneo (substituto) de recurso ou de ação própria que analise a
constitucionalidade de normas que foram objeto de interpretação idônea e legítima pelas
autoridades jurídicas competentes.
STF. 1ª Turma. Rcl 24284/SP, rel. Min. Edson Fachin, j. 22/11/16 (Info 848).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: A concessionária de energia elétrica contratou uma
empresa privada para entregar na casa dos consumidores os boletos de pagamento da conta.
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) não concordou com isso e ingressou
com ação para proibir este contrato, sob o argumento de que o STF, no julgamento da ADPF
46, decidiu que os Correios detêm o privilégio (vulgarmente chamado de "monopólio") de
exercer o serviço postal no Brasil e que, por isso, apenas eles poderiam fazer essa entrega dos
carnês de pagamento. O Juiz Federal julgou a ação improcedente afirmando que a
concessionária de energia elétrica agiu amparada pelo art. 25, § 1º, da Lei nº 8.987/95, que
estabelece:
Art. 25 (...)
§ 1º Sem prejuízo da responsabilidade a que se refere este artigo, a
concessionária poderá contratar com terceiros o desenvolvimento de atividades
inerentes, acessórias ou complementares ao serviço concedido, bem como a
implementação de projetos associados.
Segundo a Min. Cármen Lúcia, "é possível que dada norma não sirva para desate do quadro
submetido ao crivo jurisdicional pura e simplesmente porque não há subsunção" (Rcl 6944).
Em palavras mais simples, a lei ou ato normativo não se enquadra no caso concreto.
O tema não é muito simples e pode gerar confusão nos concursos. Portanto, cuidado com as
seguintes afirmações aparentemente contraditórias e que poderão aparecer na sua prova:
Viola a cláusula de reserva de plenário a decisão de órgão fracionário de tribunal
que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do Poder Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte. (certo)
Não viola a cláusula de reserva de plenário a decisão de órgão fracionário de tribunal
que deixa de aplicar a norma infraconstitucional por entender não haver subsunção
aos fatos ou, ainda, que a incidência normativa seja resolvida mediante a sua mesma
interpretação, sem potencial ofensa direta à Constituição. (certo)
Para que haja violação da cláusula de reserva de plenário, é necessário que o órgão
fracionário do tribunal tenha afastado a lei ou ato normativo sob o argumento, expresso ou
implícito, de que a norma infraconstitucional é incompatível com os critérios previstos na
CF/88. Se o afastamento da lei ou ato normativo foi por causa de falta de subsunção, não há
ofensa ao art. 97 da CF/88.
O STF entendeu que o órgão fracionário do TRF apenas interpretou a legislação federal (Lei
nº 8.987/95), à luz da decisão proferida pelo Supremo na ADPF 46, sem que tenha declarado
a inconstitucionalidade do art. 25, § 1º da referida norma.
Vale ressaltar também que essa discussão (se a concessionária poderá contratar empresa
terceirizada para entregar os carnês) já se encontra judicializada em sede de recurso
extraordinário com repercussão geral reconhecida e a dúvida razoável acerca da
interpretação das normas infraconstitucionais não é hipótese de cabimento de reclamação.
Não viola o art. 97 da CF/88 nem a SV 10 a decisão de órgão fracionário do Tribunal que
declara inconstitucional decreto legislativo que se refira a uma situação individual e
concreta. Isso porque o que se sujeita ao princípio da reserva de plenário é a lei ou o ato
normativo.
Se o decreto legislativo tinha um destinatário específico e referia-se a uma dada situação
individual e concreta, exaurindo-se no momento de sua promulgação, ele não pode ser
considerado como ato normativo, mas sim como ato de efeitos concretos.
STF. 2ª Turma. Rcl 18165 AgR/RR, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 18/10/16 (Info 844).
OBS:
REGRA DA RESERVA DE PLENÁRIO: No chamado controle difuso de constitucionalidade,
também adotado pelo Brasil, ao lado do controle abstrato, qualquer juiz ou Tribunal pode
declarar a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo no caso concreto. No entanto, se
o Tribunal for fazer essa declaração, deverá respeitar a cláusula de reserva de plenário. A
chamada “cláusula de reserva de plenário” significa que, se um Tribunal for declarar a
inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, é obrigatória que essa declaração de
inconstitucionalidade seja feita pelo voto da maioria absoluta do Plenário ou do órgão
especial deste Tribunal. Esta exigência da cláusula de reserva de plenário tem como objetivo
conferir maior segurança jurídica para as decisões dos Tribunais, evitando que, dentro de um
mesmo Tribunal, haja posições divergentes acerca da constitucionalidade de um dispositivo,
gerando instabilidade e incerteza. A reserva de plenário é também conhecida como regra do
full bench, full court ou julgamento en banc e está prevista no art. 97 da CF/88 e nos art. 948 e
949 do CPC 2015:
Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos
membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.
A proteção é reforçada pelo enunciado 10 da Súmula Vinculante, que tem a seguinte redação:
Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97)
a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare
expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte.
Essas exceções estão também consagradas no parágrafo único do art. 949 do CPC:
Art. 949 (...) Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não
submeterão ao plenário ou ao órgão especial a arguição de
inconstitucionalidade quando já houver pronunciamento destes ou do plenário
do Supremo Tribunal Federal sobre a questão.
A tese foi acolhida pelo STF? NÃO. O que se sujeita ao princípio da reserva de plenário – e,
consequentemente, à SV 10, é a "lei" e o "ato normativo". O decreto legislativo que foi
declarado inconstitucional pelo TRF não constitui lei em sentido formal ou material, nem
possui caráter de ato normativo. Atos normativos “são aqueles expedidos sem destinatários
determinados, com finalidade normativa, alcançando todos os sujeitos que se encontram na
mesma situação de fato abrangida por seus preceitos. São atos de comando abstrato e
impessoal, semelhantes aos da lei (...)” (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo
Brasileiro, 37ª ed., São Paulo: Malheiros, p. 168).
Desse modo, para que seja caracterizado como ato normativo são necessários os seguintes
requisitos: a) abstração; b) generalidade e c) impessoalidade.
Salvo em situações graves e excepcionais, não cabe ao Poder Judiciário, sob pena de
violação ao princípio da separação de Poderes, interferir na função do Poder Legislativo
de definir receitas e despesas da Administração Pública, emendando projetos de leis
orçamentárias, quando atendidas as condições previstas no art. 166, §§ 3º e 4º, da
Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 5468/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 29 e 30/6/2016 (Info 832).
OBS:
Fixar e definir o orçamento é atividade típica do Poder Legislativo: Ressalte-se que, no caso
concreto, o corte no orçamento da Justiça do Trabalho não foi promovido pelo Poder
Executivo. Este consolidou e enviou o projeto na forma como havia sido proposto pelo TST.
A redução foi efetuada no âmbito do Parlamento. Esclarecido este ponto, deve-se chamar
atenção para a primeira conclusão do STF sobre o tema: a atividade de fixar e definir o
orçamento é uma típica atribuição do Poder Legislativo.
O corte realizado pelo Legislativo à proposta orçamentária do TST viola o art. 99 da CF/88?
NÃO. Ainda que o texto constitucional tenha estabelecido que compete ao próprio Poder
Judiciário encaminhar suas propostas orçamentárias, não há vedação absoluta, sob o ponto
de vista formal, para que o Poder Legislativo realize um controle sobre o que foi proposto.
Regras previstas no art. 166 da CF/88: Conforme já exposto, o Poder Legislativo detém a
possibilidade de emendar a proposta da lei orçamentária e o que se deve observar é se essas
mudanças estão ou não de acordo com as condicionantes exigidas pela CF/88. Tais
condicionantes ("restrições") estão elencadas no art. 166, devendo ser destacados os seguintes
dispositivos:
Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes
orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicionais serão apreciados
pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do regimento comum.
§ 1º - Caberá a uma Comissão mista permanente de Senadores e Deputados:
I - examinar e emitir parecer sobre os projetos referidos neste artigo e sobre as
contas apresentadas anualmente pelo Presidente da República;
II - examinar e emitir parecer sobre os planos e programas nacionais, regionais e
setoriais previstos nesta Constituição e exercer o acompanhamento e a
fiscalização orçamentária, sem prejuízo da atuação das demais comissões do
Congresso Nacional e de suas Casas, criadas de acordo com o art. 58.
§ 2º - As emendas serão apresentadas na Comissão mista, que sobre elas emitirá
parecer, e apreciadas, na forma regimental, pelo Plenário das duas Casas do
Congresso Nacional.
§ 3º - As emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou aos projetos que o
modifiquem somente podem ser aprovadas caso:
I - sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei de diretrizes
orçamentárias;
II - indiquem os recursos necessários, admitidos apenas os provenientes de
anulação de despesa, excluídas as que incidam sobre:
a) dotações para pessoal e seus encargos;
b) serviço da dívida;
c) transferências tributárias constitucionais para Estados, Municípios e Distrito
Federal; ou
III - sejam relacionadas:
a) com a correção de erros ou omissões; ou
b) com os dispositivos do texto do projeto de lei.
§ 4º - As emendas ao projeto de lei de diretrizes orçamentárias não poderão ser
aprovadas quando incompatíveis com o plano plurianual. (...)
A aprovação da lei orçamentária pode ser classificada como um "ato complexo de elaboração
conjunta" considerando que o Poder Judiciário envia sua proposta, o Poder Executivo a
consolida e o Poder Legislativo a arbitra. Não há afronta à separação de Poderes quando o
Parlamento decide promover mudanças na proposta encaminhada.
15.12. Lei estadual que concede ressarcimento de despesas de saúde a magistrados não viola
a CF/88 nem a LOMAN – (Info 825)
OBS:
Atenção: A CF/88 exige, como requisito para ingresso na carreira da Magistratura e do
Ministério Público, além da aprovação em concurso público, que o bacharel em direito
possua, no mínimo, três anos de atividade jurídica (art. 93, I e art. 129, § 3º). Essa exigência
foi inserida na CF/88 pela EC 45/2004. Desde que essa regra foi aprovada, surgiu uma
intensa discussão sobre o momento no qual deveria ser feita esta exigência.
Essa distinção possui importantes consequências práticas, considerando que, como entre a
inscrição definitiva e a posse normalmente se passam alguns meses, ou até anos, dependendo
da posição em que o candidato foi aprovado, é muito comum acontecer de, no momento da
inscrição, a pessoa não ter os três anos, mas completá-los antes do ato da posse.
No entanto, o CNJ resolveu dar solução diversa ao caso e, por meio de Resolução, estabeleceu
que os três anos de atividade jurídica (exercidos após a obtenção do grau de bacharel em
direito) deveriam ser exigidos no ato da inscrição definitiva dos concursos da magistratura.
Argumento utilizado pelo CNJ: Foi o de que estavam sendo aprovados muitos candidatos
sem os requisitos necessários, o que somente era percebido no momento da posse,
atrapalhando o planejamento do Poder Judiciário para o preenchimento das vagas. Assim,
antecipando esta comprovação para o ato da inscrição definitiva, os Tribunais poderiam
saber previamente quantos candidatos aprovados teriam condições de assumir e decidiriam
se era caso de deflagrar ou não, desde logo, outro concurso.
Este debate chegou até o STF. O que decidiu o Supremo? Em que momento deverão ser
comprovados os três anos de atividade jurídica? No momento da inscrição definitiva.
15.14. Férias coletivas de 60 dias para serventuários da Justiça não é compatível com a CF/88
– (Info 816)
É correta decisão do CNJ que considera indevida a existência de férias coletivas para
servidores de Tribunal de Justiça, mesmo que estas estejam previstas em lei ou ato
normativo estadual. Isso porque a EC 45/2004 incluiu o inciso XII ao art. 93 da CF/88
proibindo as férias coletivas de juízes e Tribunais de 2º grau. Com a edição da EC 45/2004,
as leis e atos normativos que previam férias coletivas nos Tribunais de 2º grau foram
considerados não recepcionados ("revogados") pela nova redação do art. 93, XII, da CF/88.
STF. 2ª Turma. MS 26739/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 1º/3/2016 (Info 816).
OBS:
As férias coletivas do STF, STJ, TST, TSE e STM continuam existindo. Nos meses de janeiro e
julho eles param. Assim, a regra do inciso XII do art. 93 da CF/88 não se estende aos
Tribunais Superiores (STF. 1ª Turma. AI 636765 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 15/05/2007).
15.16. Cláusula de reserva de plenário pode ser afastada quando houver jurisprudência do
STF sobre matéria – (SEM INFO) – (TJRJ-2016)
O STF tem competência para processar e julgar causas em que se discute prerrogativa dos
juízes de portar arma de defesa pessoal, por se tratar de ação em que todos os membros da
magistratura são direta ou indiretamente interessados (art. 102, I, “n”, da CF/88).
STF. Plenário. Rcl 11323 AgR/SP, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Teori
Zavascki, julgado em 22/4/2015 (Info 782).
15.18. CE não pode criar regras novas para a escolha do Desembargador pelo quinto
constitucional – (Info 775)
A antiguidade entre magistrados deve ser aferida em razão do tempo no cargo e, no caso
de posse no mesmo dia, deve ser respeitada a ordem de classificação no concurso como
critério de desempate.
A CF/88 determina que uma Lei Complementar, de caráter nacional, deverá reger a
magistratura (art. 93 da CF/88). Logo, a norma local não pode dispor de forma diferente do
que disciplinado pela LOMAN. Justamente por isso, o STF tem declarado a
inconstitucionalidade de leis estaduais que, a pretexto de esmiuçarem questões referentes
à magistratura, modificam o critério de desempate escolhido pela LOMAN.
STF. 1ª Turma. MS 28494/MT, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 2/9/2014 (Info 757).
Segundo o art. 102, I, “f”, da CF/88, compete ao STF processar e julgar “as causas e os
conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros,
inclusive as respectivas entidades da administração indireta”.
O STF confere interpretação restritiva a esse dispositivo e entende que, para se
caracterizar a hipótese do art. 102, I, “f”, da CF/88 é indispensável que, além de haver uma
causa envolvendo União e Estado, essa demanda tenha densidade suficiente para abalar o
pacto federativo. Em outras palavras, não é qualquer causa envolvendo União contra
Estado que irá ser julgada pelo STF, mas somente quando essa disputa puder resultar em
ofensa às regras do sistema federativo.
STF. 1ª Turma. Rcl 12957/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/8/2014 (Info 756).
15.21. Recurso contra a prova oral nos concursos da magistratura – (Info 756)
15.22. Existência de inquérito contra o candidato ao quinto constitucional não impede a sua
posse no cargo de Desembargador – (Info 755)
15.23. Quórum para recusar a promoção por antiguidade de magistrado – (Info 753)
A CF/88 prevê que a promoção por antiguidade do juiz mais antigo somente pode ser
negada se ele for recusado pelo voto fundamentado de 2/3 (dois terços) dos membros do
respectivo Tribunal, assegurada a ampla defesa (art. 93, II, “d”).
Segundo o STF, o quórum de votos para um tribunal recusar a promoção do juiz mais
antigo não deve computar os cargos vagos ou os desembargadores afastados.
A vontade de um tribunal é manifestada por seus membros juridicamente aptos.
Desfalcado o tribunal, deve-se computar apenas os magistrados em atividade, a não ser
que afastados em caráter meramente eventual.
Assim, os cargos vagos, bem como os cargos providos, mas cujos ocupantes estejam
afastados cautelarmente do exercício da função jurisdicional, não devem ser computados
para o fim de determinação do referido quórum.
STF. 1ª Turma. MS 31357/DF e MS 31361/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 5/8/14 (Info 753).
15.24. Elevação de entrância da comarca e situação do juiz que lá era titular – (Info 752) -
Somente para concursos de Juiz de Direito!
Se a lei eleva a comarca para outra instância superior (ex: de entrância intermediária para
final), o juiz que lá é titular não pode ser removido compulsoriamente em virtude dessa
transformação.
Aplica-se, no caso, a Súmula 40 do STF: A elevação da entrância da comarca não promove
automaticamente o Juiz, mas não interrompe o exercício de suas funções na mesma
comarca.
Logo, mesmo tendo havido essa transformação, o TJ não pode abrir edital para remoção
ou promoção dessa comarca. Deve-se aguardar o magistrado decidir deixar a vaga.
STF. 1ª Turma. MS 26366/PI, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 24/6/2014 (Info 752).
15.25. CE não pode impor limites à remuneração do Poder Judiciário – (Info 736)
O Ministério Público tem legitimidade para a propositura de ação civil pública em defesa
de direitos sociais relacionados ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
STF. Plenário. RE 643978/SE, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 9/10/19 (repercussão geral
– Tema 850) (Info 955).
Em provas, tenha cuidado com a redação do art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 7.347/85:
Art. 1º (...) Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões
que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser
individualmente determinados. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35/2001)
Se for cobrada a mera transcrição literal deste dispositivo em uma prova objetiva,
provavelmente, esta será a alternativa correta.
16.2. O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário –
(Info 921)
O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato
administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.
STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, j. 25/10/18 (repercussão geral) (Info 921).
16.5. Compete ao PGR decidir conflito negativo entre MPE e MPF – (Info 851)
16.6. O PGJ somente pode ser reconduzido uma única vez – (Info 847)
16.9. Conflito de atribuições envolvendo MPE e MPF deve ser dirimido pelo PGR – (Info
826 e Info 835)
RESUMINDO:
16.10. Impossibilidade de o membro do MP exercer cargos fora da Instituição – (Info 817) –
IMPORTANTE!!!
Membros do Ministério Público não podem ocupar cargos públicos fora do âmbito da
instituição, salvo cargo de professor e funções de magistério.
A Resolução 72/2011 do CNMP, ao permitir que membro do Parquet exerça cargos fora do
MP, é flagrantemente contrária ao art. 128, § 5º, II, "d", da CF/88.
Consequentemente, a nomeação de membro do MP para o cargo de Ministro da Justiça
viola o texto constitucional.
STF. Plenário. ADPF 388/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 9/3/2016 (Info 817).
16.12. Três anos de atividade jurídica para ingresso na carreira – (Info 800)
Ex1: a Constituição Estadual pode prever que o Vice-Governador será julgado pelo TJ. Isso
porque a autoridade “equivalente”, em âmbito federal (Vice-Presidente da República), possui
foro por prerrogativa de função no STF (art. 102, I, “b”, CF/88). Logo, foi respeitado o
princípio da simetria.
Ex2: a Constituição Estadual não pode prever foro por prerrogativa de função para os
Delegados de Polícia, considerando que não há previsão semelhante para os Delegados
Federais na Constituição Federal (STF ADI 2587).
Essa autorização para que as Constituições Estaduais prevejam hipóteses de foro por
prerrogativa de função no TJ existe por força do art. 125, § 1º, da CF/88:
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios
estabelecidos nesta Constituição.
§ 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo
a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.
Assim, à luz do disposto no art. 125, § 1º, da Constituição Federal, o constituinte estadual
possui legitimidade para fixar a competência do Tribunal de Justiça e, por conseguinte,
estabelecer a prerrogativa de foro às autoridades que desempenham funções similares na
esfera federal.
Obs: o tema foi analisado tendo como parâmetro a redação originária da Constituição
Federal de 1988, ou seja, antes das Emendas Constitucionais 45/2004 e 80/2014.
(TJSC-2019-CESPE): A constituição de determinado estado da Federação dispõe que aos
defensores públicos serão garantidas as mesmas prerrogativas, os mesmos impedimentos
e os mesmos vencimentos dos membros do Ministério Público. Nessa situação hipotética,
à luz do disposto na Constituição Federal de 1988 e do entendimento jurisprudencial do
STF, a referida norma estadual é inconstitucional, pois ofende norma da CF, que veda a
equiparação e a vinculação remuneratória entre os referidos órgãos. BL: Info 907, STF.
17.4. Para que a DPE atue no STJ, é necessário que possua escritório de representação em
Brasília – (Info 856) – ATENÇÃO!! DEFENSORIA PÚBLICA!!
A Defensoria Pública Estadual pode atuar no STJ, no entanto, para isso, é necessário que
possua escritório de representação em Brasília. Se a Defensoria Pública estadual não tiver
representação na capital federal, as intimações das decisões do STJ nos processos de
interesse da DPE serão feitas para a DPU.
Assim, enquanto os Estados, mediante lei específica, não organizarem suas Defensorias
Públicas para atuarem continuamente nesta Capital Federal, inclusive com sede própria, o
acompanhamento dos processos no STJ constitui prerrogativa da DPU.
A DPU foi estruturada sob o pálio dos princípios da unidade e da indivisibilidade para
dar suporte às Defensorias Públicas estaduais e fazer as vezes daquelas de Estados-
Membros longínquos, que não podem exercer o múnus a cada recurso endereçado aos
tribunais superiores.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 378.088/SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 06/12/16.
STF. 1ª Turma. HC 118294/AP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso, j. 7/3/17 (Info 856).
É possível que emenda à Constituição Federal proposta por iniciativa parlamentar trate
sobre as matérias previstas no art. 61, § 1º da CF/88.
As regras de reserva de iniciativa fixadas no art. 61, § 1º da CF/88 não são aplicáveis ao
processo de emenda à Constituição Federal, que é disciplinado em seu art. 60.
Assim, a EC 74/13, que conferiu autonomia às Defensorias Públicas da União e do Distrito
Federal, não viola o art. 61, § 1º, II, alínea "c", da CF/88 nem o princípio da separação dos
poderes, mesmo tendo sido proposta por iniciativa parlamentar.
STF. Plenário. ADI 5296 MC/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 18/5/16 (Info 826).
OBS:
É possível emenda constitucional de iniciativa parlamentar tratando sobre os assuntos que,
em caso de propositura de projeto de lei, seriam de iniciativa reservada ao chefe do Poder
Executivo (art. 61, § 1º, da CF/88)?
Emenda à Constituição Federal proposta por parlamentares federais: SIM.
Emenda à Constituição Estadual proposta por parlamentares estaduais: NÃO.
17.8. Dever do Poder Executivo de efetuar os repasses de duodécimo na forma do art. 168
da CF/88 – (Info 826) – IMPORTANTE!!!
É inconstitucional a Lei de Diretrizes Orçamentárias que seja elaborada sem contar com a
participação da Defensoria Pública para elaborar as respectivas propostas orçamentárias.
Assim, a LDO enviada pelo Governador do Estado à Assembleia Legislativa deve contar
com a participação prévia da Defensoria Pública. Isso porque a LDO fixa limites do
orçamento anual que será destinado à Instituição.
Aplica-se às Defensorias Públicas o disposto no § 2º do art. 99 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 5381 Referendo-MC/PR, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 18/5/16 (Info 826).
18. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
18.1. O STF entende que não é possível a revisão do mérito das decisões do CNJ, cujos atos
e procedimentos estão sujeitos apenas ao controle de legalidade daquela Corte – (Info 933)
O STF entende que não é seu papel fazer a revisão do mérito das decisões do CNJ.
Assim, os atos e procedimentos do CNJ estão sujeitos apenas ao controle de legalidade
por parte do STF.
O mandado de segurança não se presta ao reexame de fatos e provas analisados pelo CNJ
no processo disciplinar.
A LOMAN não estabelece regras de prescrição da pretensão punitiva por faltas
disciplinares praticadas por magistrados. Diante disso, deve ser feita a aplicação
subsidiária da Lei nº 8.112/90.
STF. 2ª Turma. MS 35540/DF e MS 35521/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 12/3/19 (Info
933).
18.2. STF mantém punição aplicada pelo CNJ à juíza envolvida no caso de prisão de
adolescente em cela masculina no Pará – (Info 929)
Deve ser mantida a decisão do CNJ que aplica pena de disponibilidade (art. 42, IV, da LC
35/79) à magistrada que, mesmo depois de informada que uma adolescente mulher estava
presa em uma mesma cela com homens, demora a tomar as providências necessárias para
corrigir essa situação e, além disso, procura se eximir de responsabilidade produzindo
documento falso com data retroativa, na tentativa de comprovar que teria adotado
providências que, na realidade, não adotou.
STF. 1ª T. MS 34490/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, j.
5/2/19 (Info 929).
18.3. O fato de o PCA instaurado no CNJ contar com um número elevado de partes
interessadas não significa, necessariamente, violação ao devido processo legal – (Info 915)
Caso concreto: foi instaurado procedimento de controle administrativo (PCA) no CNJ para
apurar a regularidade de 300 serventias judiciais.
O impetrante alega a nulidade do PCA pelo fato de haver um grande número de
interessados no mesmo processo, defendendo a ideia de que deveria ser um procedimento
para cada parte.
O STF não concordou com o mandado de segurança impetrado e manteve a decisão do
CNJ.
O fato de o PCA instaurado no CNJ contar com um número elevado de partes interessadas
não significa, necessariamente, violação ao devido processo legal, ao contraditório e à
ampla defesa.
O prejuízo à defesa deve ser analisado concretamente, à luz das especificidades do caso.
No caso concreto, tendo em vista que todos os interessados foram intimados para se
manifestarem no processo e o que CNJ enfrentou de maneira detida as teses jurídicas por
eles apresentadas, não há que se falar em anulação do ato impugnado.
Como regra geral, o controle dos atos do CNJ pelo STF somente se justifica nas hipóteses
de:
a) inobservância do devido processo legal;
b) exorbitância das competências do Conselho; e
c) injuridicidade ou manifesta irrazoabilidade do ato impugnado.
No caso concreto, não se identifica nenhuma dessas três situações. Logo, não há motivo
para a anulação da decisão do CNJ.
STF. 1ª T. MS 28495/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, j.
13/11/18 (Info 923).
18.4. CNJ pode determinar que Tribunais de Justiça reduzam o adicional de férias dos
magistrados para 1/3 – (Info 915)
O CNJ não pode fazer controle de constitucionalidade de lei ou ato normativo de forma a
substituir a competência do STF.
Contudo, o CNJ pode determinar a correção de ato do Tribunal local que, embora
respaldado por legislação estadual, se distancie do entendimento do STF.
Assim, o CNJ pode afirmar que determinada lei ou ato normativo é inconstitucional se
esse entendimento já estiver pacificado no STF. Isso porque, neste caso, o CNJ estará
apenas aplicando uma jurisprudência, um entendimento já pacífico.
As leis estaduais que preveem abono de férias aos magistrados em percentual superior a
1/3 são inconstitucionais. Isso porque essa majoração do percentual de férias não encontra
respaldo na LOMAN, que prevê, de forma taxativa, as vantagens conferidas aos
magistrados, sendo essa a Lei que deve tratar do regime jurídico da magistratura, por
força do art. 93 da CF/88.
Não viola a autonomia dos tribunais locais deliberação do CNJ que determina aos
tribunais de justiça que enviem projeto de lei tendente à adequação da legislação local ao
regramento uniforme de âmbito nacional, pois não há no caso reserva de iniciativa da
matéria aos tribunais locais; ao contrário, os direitos da magistratura, dentre os quais o
direito ao abono de férias, são matéria de regramento nacional uniforme.
Logo, o CNJ agiu corretamente ao determinar aos Tribunais de Justiça que pagam
adicional de férias superior a 1/3 que eles enviem projetos de lei para as Assembleias
Legislativas reduzindo esse percentual.
STF. 2ª Turma. MS 31667 AgR/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 11/9/18 (Info 915).
18.5. CNJ pode avocar PAD que tramita no Tribunal se não há quórum suficiente para se
atingir maioria absoluta – (Info 901)
18.6. CNJ pode anular decisão do TJ que, em concurso de cartório, conferiu, na fase de
títulos, pontuação com base em interpretação contrária à Resolução do Conselho – (Info 895)
O CNJ não pode substituir a banca examinadora do concurso na escolha das questões, na
correção de provas e nas atribuições de notas. Assim, ao Conselho é defeso (proibido)
substituir o critério valorativo para escolha e correção das questões pela Banca
Examinadora nos concursos públicos.
O CNJ pode, no entanto, substituir, anular ou reformar decisões da banca do concurso que
firam os princípios da razoabilidade, da igualdade, da legalidade, da impessoalidade, da
moralidade e da publicidade. Isso porque a discricionariedade da banca de concurso não
se confunde com arbitrariedade. Se houver desrespeito aos princípios constitucionais da
administração pública, será possível a plena revisão da decisão pelo Conselho.
Ex: o CNJ pode anular decisão do Tribunal de Justiça que, em concurso de cartório, deu
interpretação equivocada a determinado item do edital, e conferiu pontuação indevida a
certos candidatos na fase de títulos. A pontuação conferida pela Comissão no TJ violava à
Resolução do CNJ que regulamenta os concursos de cartório. Neste caso, o CNJ atuou
dentro dos limites constitucionais do controle administrativo.
STF. 1ª Turma. MS 33527/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Alexandre de Moraes, j. 20/3/18 (Info 895).
18.7. O prazo de 1 ano previsto no art. 103-B, § 4º, V da CF/88 incide apenas para revisões
de PADs, não se aplicando para atuação originária do CNJ – (Info 886)
O CNJ atuou de forma originária, instaurando, pela primeira vez, o processo administrativo
disciplinar para apurar os fatos. Assim, não se aplica o prazo do art. 103-B, § 4º, V, da CF/88,
tendo em vista que este deve ficar restrito a hipóteses em que o CNJ revisa um processo
administrativo realizado pelas instâncias correicionais inferiores.
18.8. CNJ não pode examinar controvérsia que está submetida à apreciação do Poder
Judiciário – (Info 885)
Não cabe ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cujas atribuições são exclusivamente
administrativas, o controle de controvérsia que está submetida à apreciação do Poder
Judiciário.
STF. 1ª Turma. MS 28845/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 21/11/17 (Info 885).
OBS: Outro precedente no mesmo sentido:
O Conselho Nacional de Justiça não pode decidir, em procedimento
administrativo, matéria que já foi judicializada, ou seja, que está sendo discutida
em uma ação judicial.
O CNJ tem atribuições de natureza exclusivamente administrativa, razão pela
qual não lhe é permitido decidir questões que estejam submetidas à análise
judicial.
Se a questão já está sendo discutida em ação judicial, não cabe ao CNJ conhecer
e apreciar a matéria, sob pena de ele estar assumindo funções jurisdicionais. Se a
parte interessada não concorda com a decisão judicial, ela dispõe de recursos
para impugná-la, não podendo provocar o CNJ para interferir no assunto.
STF. 2ª Turma. MS 27650/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 24/6/14 (Info 752).
Quem julga mandado de segurança contra ato do CNJ? O STF, nos termos do art. 102, I, “r”,
da CF/88.
E se o magistrado tivesse proposto ação ordinária? Quem julga ação ordinária proposta
contra ato do CNJ? Justiça Federal de 1ª instância (art. 109, I, da CF/88).
As interceptações não foram direcionadas ao Juiz Estadual, tendo seu nome surgido a partir
de uma descoberta fortuita.
Vale ressaltar que, segundo a jurisprudência do STF, a partir do momento em que surgem
indícios de participação de detentor de prerrogativa de foro nos fatos apurados, cumpre à
autoridade judicial declinar da competência, e não persistir na prática de atos objetivando
aprofundar a investigação (RHC 135683/GO).
No caso concreto, o STF entendeu que não houve atraso indevido do Juiz Federal no envio
das provas descobertas contra o Juiz Estadual aos órgãos competentes para investigá-lo (TJ e
CNJ).
O CNJ pode determinar que Tribunal de Justiça exonere servidores nomeados sem
concurso público para cargos em comissão que não se amoldam às atribuições de direção,
chefia e assessoramento, contrariando o art. 37, V, da CF/88. Esta decisão do CNJ não
configura controle de constitucionalidade, sendo exercício de controle da validade dos
atos administrativos do Poder Judiciário.
STF. Plenário. Pet 4656/PB, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 19/12/16 (Info 851).
OBS:
O STF manteve a decisão do CNJ? SIM. O STF considerou válida a atuação do CNJ.
O STF afirmou que esse mesmo entendimento pode ser aplicado para órgãos administrativos
autônomos, como o TCU, o CNMP e o CNJ. Assim, tais órgãos, ao realizarem controle de
validade dos atos administrativos, podem determinar a não aplicação de leis
inconstitucionais.
O CNJ pode proceder à revisão disciplinar de juízes e membros de tribunais desde que
observado o requisito temporal: processos disciplinares julgados há menos de um ano.
Essa medida pode ser instaurada de ofício ou mediante provocação de qualquer
interessado e admite que o CNJ agrave ou abrande a decisão disciplinar revista (art. 103-B,
§ 4º, V, da CF/88).
STF. 1ª Turma. MS 33565/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 14/6/16 (Info 830).
OBS:
Exemplo: Determinado Juiz respondeu a um processo disciplinar na corregedoria do
Tribunal de Justiça. Ao final, recebeu, como pena, uma pena de suspensão de 90 dias.
Não houve recurso e o processo se encerrou no âmbito do TJ. O CNJ pode, de ofício ou
mediante provocação de qualquer interessado, instaurar, no âmbito do Conselho, um
processo de revisão disciplinar.
Quais são as hipóteses em que será possível essa revisão? O que justifica uma revisão pelo
CNJ? O tema foi disciplinado pelo Regimento Interno do CNJ nos seguintes termos:
Art. 83. A revisão dos processos disciplinares será admitida:
I - quando a decisão for contrária a texto expresso da lei, à evidência dos autos
ou a ato normativo do CNJ;
II - quando a decisão se fundar em depoimentos, exames ou documentos
comprovadamente falsos;
III - quando, após a decisão, surgirem fatos novos ou novas provas ou
circunstâncias que determinem ou autorizem modificação da decisão proferida
pelo órgão de origem.
O que o CNJ irá fazer neste processo de revisão disciplinar? Irá examinar o processo
disciplinar que foi realizado no âmbito do Tribunal e poderá anular ou reformar a decisão
que foi tomada, seja para absolver ou condenar o magistrado processado. O CNJ poderá,
ainda, aumentar ou diminuir a pena imposta. Nesse sentido, o Regimento Interno do CNJ
prevê:
Art. 88. Julgado procedente o pedido de revisão, o Plenário do CNJ poderá
determinar a instauração de processo administrativo disciplinar, alterar a
classificação da infração, absolver ou condenar o juiz ou membro de Tribunal,
modificar a pena ou anular o processo.
Prazo: O CNJ possui um prazo decadencial de 1 ano para instaurar o processo de revisão
disciplinar. Veja o que diz a CF/88:
Art. 103-B (...)
§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do
Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-
lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da
Magistratura: (...)
V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes
e membros de tribunais julgados há menos de um ano;
A partir de quando é contado este prazo de 1 ano? O prazo estabelecido no art. 103-B, § 4º, V,
da CF/88 para o CNJ rever processo disciplinar instaurado contra magistrado começa a fluir
da publicação da decisão do Tribunal no órgão oficial (STF. 2ª Turma. MS 26.540, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2014).
Imagine que passou o prazo de 1 ano, mas o juiz que foi punido administrativamente pelo TJ
ainda não se conformou com a decisão e deseja revertê-la. Como não pediu a revisão
disciplinar ao CNJ, o que ele ainda poderá fazer? O pedido de revisão disciplinar para o CNJ
deve ser feito até 1 ano após o julgamento do processo disciplinar pelo respectivo Tribunal.
Esgotado tal prazo só restará ao interessado socorrer-se da via judicial para discutir a
punição que lhe foi aplicada. (STF. Plenário. MS 27.767-AgR, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, j. 23/3/11).
O CNJ possui a competência para rever, de ofício ou mediante provocação, as decisões das
Corregedorias locais que julgam, a favor ou contra, juízes e membros de Tribunais. No
entanto, essa competência revisora deverá ser exercida no prazo máximo de 1 ano depois
da decisão proferida (art. 103-B, § 4º, V, da CF/88).
STF. 2ª Turma. MS 32724/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 17/11/15 (Info 808).
I – É desnecessário esgotar as vias ordinárias para que o CNJ instaure processo de revisão
disciplinar.
II – Não se aplica a prescrição punitiva em perspectiva, sendo imprescindível a
instauração do competente processo administrativo disciplinar, no qual serão apurados os
fatos e indicada a infração para a qual teria concorrido o magistrado para, só então,
verificar se houve a prescrição.
STF. 1ª Turma. MS 28918 AgR/DF, Rel. Min. Dias Tofoli, julgado em 4/11/2014 (Info 766).
18.16. CNJ não pode interferir em matéria de competência jurisidicional – (Info 753)
CNJ não pode declarar inválido artigo do Regimento Interno do Tribunal de Justiça que
trate sobre competência jurisdicional. Isso porque o CNJ tem a competência de exercer o
controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos
deveres funcionais dos juízes. No caso em análise, o Conselho interferiu em matéria de
competência jurisdicional do TJ, matéria que é estranha às suas funções.
STF. 2ª Turma. MS 30793/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/8/2014 (Info 753).
19. CNMP
19.1. Caso tenha avocado o PAD, o CNMP pode aproveitar os atos instrutórios realizados
na origem – (Info 874)
Se o CNMP decidir avocar um PAD que está tramitando na Corregedoria local por
suspeita de parcialidade do Corregedor, ele poderá aproveitar os atos instrutórios
praticados regularmente na origem pela Comissão Processante.
Não há motivo para se anular os atos instrutórios já realizados pela Comissão Processante,
sem participação do Corregedor, especialmente se o interessado não demonstra a
ocorrência de prejuízo. O princípio do pas de nullité sans grief é plenamente aplicável no
âmbito do Direito Administrativo, inclusive em processos disciplinares.
Desse modo, o STF reconheceu que não houve qualquer ilegalidade na atuação do CNMP.
STF. 2ª Turma. MS 34666 AgR/DF, rel. Min. Dias Toffoli, j. 29/8/17 (Info 875).
19.3. STF não têm competência para ações decorrentes de decisões negativas do CNMP e
do CNJ – (Info 785)
Esse parâmetro estabelecido pela CF/88 deverá ser seguido pelas Constituições Estaduais
por força do princípio da simetria. Em outras palavras, se as Cartas estaduais forem tratar
sobre a Polícia Civil e seu chefe, não poderão prever regra diferente do que preconiza o § 4º
acima.
A Constituição Estadual poderá prever que o chefe da Polícia Civil será alguém que não é
Delegado? NÃO. É inconstitucional dispositivo de Constituição estadual que preveja que o
chefe da Polícia Civil seja alguém que não integre a carreira. Isso porque essa pessoa deverá
ser obrigatoriamente um Delegado de Polícia de carreira.
A Constituição Estadual poderá exigir que o chefe da Polícia Civil seja um Delegado de
Polícia integrante da classe final da carreira? Também NÃO. O cargo de Superintendente da
Polícia Civil deve ser escolhido entre Delegados de carreira. No entanto, não se pode exigir
que este(a) Delegado(a) seja da classe final da carreira. A CF/88 trata sobre o tema no art.
144, § 4º e não faz esta exigência. Logo, o constituinte estadual violou o modelo imposto pela
CF/88, criando um novo requisito. Veja precedente do STF neste sentido:
Consoante dispõe o artigo 144, § 4º, da Constituição Federal, as polícias civis são
dirigidas por delegados de carreira, não cabendo a inobservância da citada
qualificação, nem a exigência de que se encontrem no último nível da
organização policial. STF. Plenário. ADI 3038, Rel. Min. Marco Aurélio, j.
11/12/14.
O prazo decadencial quinquenal, previsto no art. 54 da Lei 9.784/99, não se aplica para a
atuação do TCU em processo de tomada de contas, considerando que se trata de
procedimento regido pela Lei nº 8.443/92, que se constitui em norma especial.
Em suma, o prazo decadencial de 5 anos, previsto no art. 54 da Lei 9.784/99, não se aplica
aos processos de tomada de contas conduzidos pelo TCU considerando que existe uma lei
específica que rege o tema, que é a Lei nº 8.443/92.
STF. 1ª T. MS 35038 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 12/11/19 (Info 959).
STF. Plenário. MS 25641, Rel. Min. Eros Grau, j. 22/11/07.
STF. 1ª T. MS 33414 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, j. 2/8/16.
STF. 2ª T. MS 26297 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, j. 17/3/17.
TCU possui a competência para determinar que empresa pública federal (BNDES)
suspenda pagamentos que estão sendo realizados com base em contrato de confissão de
dívida cuja regularidade está sendo apurada em tomada de contas.
STF. 1ª T. MS 35038 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 12/11/19 (Info 959).
21.3. O TCU (e não o TCDF) é o órgão competente para fiscalizar os recursos decorrentes
do Fundo Constitucional do Distrito Federal – (Info 958)
21.4. Ministério Público do Tribunal de Contas não possui legitimidade para impetrar
mandado de segurança mesmo que para defender suas prerrogativas institucionais – (SEM
INFO) – IMPORTANTE!!!
MPTC não possui fisionomia institucional próprias: O Ministério Público junto ao Tribunal
de Contas não dispõe de “fisionomia institucional própria”, estando vinculado
administrativamente às Cortes de Contas:
O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas não dispõe de fisionomia
institucional própria, não integrando o conceito de Ministério Público
enquanto ente despersonalizado de função essencial à Justiça (CF/88, art.
127), cuja abrangência é disciplina no art. 128 da Constituição Federal. STF. 2ª T.
Rcl 24162 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/11/2016.
Ausência de autonomia: As autonomias previstas no art. 127, § 2º, da CF/88 não se aplicam
ao Ministério Público especial junto aos Tribunais de Contas. Assim, esse “Parquet” continua
sendo, na linha da tradição jurídica consagrada pela prática republicana, parte integrante da
própria estruturação orgânica dos Tribunais de Contas (Min. Celso de Mello).
MPTC não possui as atribuições do Ministério Público comum: O Ministério Público junto
ao Tribunal de Contas possui atuação funcional exclusiva perante as Cortes de Contas,
limitada ao controle externo a que se refere o art. 71 da CF/88:
Nos termos do art. 128 da CF/88, o MP junto aos Tribunais de Contas não
compõe a estrutura do Ministério Público comum da União e dos Estados,
sendo apenas atribuídas aos membros daquele as mesmas prerrogativas
funcionais deste (art. 130). As atribuições do Ministério Público comum, entre
as quais se inclui sua legitimidade processual extraordinária e autônoma, não se
estendem ao Ministério Público junto aos Tribunais de Contas, cuja atuação está
limitada ao controle externo a que se refere o art. 71 da CF/88. STF. 1ª Turma.
Rcl 24159 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/11/2016.
E o art. 130 da CF/88, não poderia ser invocado como fundamento para conferir legitimidade
ao MPTC? NÃO. A cláusula de garantia inscrita no art. 130 da CF/88 é de ordem subjetiva,
ou seja, diz apenas que os membros do MPTC possuem os mesmos direitos, vedações e
forma de investidura que os demais membros do Ministério Público “comum”. No entanto,
esse dispositivo não se relaciona com as atribuições institucionais do MPTC. Nesse sentido:
Rcl 24.162 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe 7/12/2016.
Obs: o STJ tinha entendimento contrário ao do STF (RMS 52741-GO, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 8/8/2017), mas terá agora que se curvar ao entendimento do Supremo.
A CF/88 determina ainda que seja feito um cálculo para que os Municípios onde ocorreram
os fatos geradores do ICMS (ex: venda da mercadoria) recebam mais que os outros. Assim,
os Municípios nos quais mais se vendeu mercadorias (p. ex.) que geraram o recolhimento de
ICMS receberão, em tese, cotas maiores de repasse. Confira o texto constitucional:
Art. 158 (...)
Parágrafo único. As parcelas de receita pertencentes aos Municípios,
mencionadas no inciso IV, serão creditadas conforme os seguintes critérios:
I - três quartos, no mínimo, na proporção do valor adicionado nas operações
relativas à circulação de mercadorias e nas prestações de serviços, realizadas em
seus territórios;
II - até um quarto, de acordo com o que dispuser lei estadual ou, no caso dos
Territórios, lei federal.
Vale ressaltar que, no mínimo, 3/4 dos 25% a que os Municípios têm direito deverão
obedecer a esse critério. No entanto, é possível que no 1/4 restante o Estado adote outros
critérios para repartir o valor do ICMS.
1/4 (no máximo) deverão ser repartidos conforme critérios que o Estado definir em
lei estadual. Ex: receberão mais os Municípios com maior preservação do meio
ambiente, com menor IDH, com maior população etc.
Assim, a cota-parte que será repassada a cada Município depende desses cálculos.
Desse modo, a CE/AP estabeleceu que, após serem feitos os cálculos de quanto cada
Município deverá receber a título de ICMS (normalmente este cálculo é feito pela Secretaria
de Fazenda), o TCE deverá homologar ou não esse resultado. A Assembleia Legislativa do
Amapá argumentou que essa competência poderia ser concedida ao TCE considerando que a
CF/88 conferiu ao TCU a competência para realizar os cálculos das quotas relacionadas com
os Fundos de Participação dos Estados (FPE) e dos Municípios (FPM), nos termos do art. 161,
parágrafo único:
Art. 161. Cabe à lei complementar: (...)
II - estabelecer normas sobre a entrega dos recursos de que trata o art. 159,
especialmente sobre os critérios de rateio dos fundos previstos em seu inciso I,
objetivando promover o equilíbrio sócio-econômico entre Estados e entre
Municípios; (...)
Parágrafo único. O Tribunal de Contas da União efetuará o cálculo das quotas
referentes aos fundos de participação a que alude o inciso II.
A ALE/AP alegou, portanto, que o art. 112, XVII, foi inspirado no § único do art. 161 da
CF/88 e que, portanto, poderia ser reputado, constitucional em homenagem ao princípio da
simetria.
Essa previsão do art. 112, XVII, da CE/AP é constitucional? NÃO. Sujeitar o ato de repasse
de recursos públicos à homologação do Tribunal de Contas do Estado representa ofensa ao
princípio da separação e da independência dos Poderes. Como o TCE é um órgão auxiliar da
Assembleia Legislativa, o STF entendeu que, condicionar o repasse das cotas-partes dos
Municípios à homologação do TCE significaria, ao fim e ao cabo, condicionar este
pagamento à ingerência da Assembleia Legislativa. Para os Ministros, não há semelhança
entre a atividade de gerenciamento dos Fundos de Participação dos Estados (FPE) e dos
Municípios (FPM), exercida pelo TCU com base no art. 161, parágrafo único da CF/88, com a
homologação dos cálculos de quotas do ICMS pelo TCE. Não há que se falar em simetria
neste caso porque inexiste simetria entre os Fundos de Participação e quotas de repasse de
ICMS. São situações distintas. No caso do FPE e do FPM, o próprio TCU efetua os cálculos
das quotas-partes cabíveis aos entes federados à luz de estimativas demográficas fornecidas
pelo IBGE. Os fundos de participação são de natureza contábil, desprovidos de
personalidade jurídica e de gerenciamento do TCU por força da CF/88. Situação diversa diz
respeito ao repasse obrigatório às municipalidades das verbas arrecadadas pelo estado-
membro referente ao ICMS, uma vez que não é fundo financeiro e possui relativa liberdade
de conformação. Dessa forma, o TCE é completamente alheio ao processo de definição dos
critérios das quotas, da mesma forma que o TCU não participa dos repasses na arrecadação
de tributos federais, como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Não compete ao TCU adotar procedimento de fiscalização que alcance a Fundação Banco
do Brasil quanto aos recursos próprios, de natureza eminentemente privada, repassados
por aquela entidade a terceiros, eis que a FBB não integra o rol de entidades obrigadas a
prestar contas àquela Corte de Contas, nos termos do art. 71, II, da CF.
A FBB é uma pessoa jurídica de direito privado não integrante da Administração Pública.
Assim, a FBB não necessita se submeter aos ditames da gestão pública quando repassar
recursos próprios a terceiros por meio de convênios.
Por outro lado, quando a FBB recebe recursos provenientes do Banco do Brasil —
sociedade de economia mista que sofre a incidência dos princípios da Administração
Pública previstos no art. 37, caput, da Constituição Federal, — ficará sujeita à fiscalização
do TCU. Isso porque, neste caso, tais recursos, como são provenientes do BB, têm caráter
público.
STF. 2ª Turma. MS 32703/DF, Rel. Min. Dias Tóffoli, j. 10/4/18 (Info 897).
OBS:
O TCU tem competência para fiscalizar o Banco do Brasil? SIM. O Banco do Brasil integra a
Administração Pública federal indireta e, portanto, está sujeito à fiscalização do TCU, nos
termos do art. 71, II, da CF/88:
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o
auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete: (...)
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros,
bens e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as
fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as
contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de
que resulte prejuízo ao erário público;
O TCU tem competência para fiscalizar a Fundação Banco do Brasil? Em regra, não deveria
ter. Isso porque como se trata de uma fundação de caráter privado, em regra, ela não está
sujeita à fiscalização do TCU nem se submete aos princípios e à legislação aplicáveis à
Administração Pública. Como fundação de direito privado, a FBB está, em regra, submetida
apenas à fiscalização do Ministério Público estadual, nos termos do art. 66 do Código Civil:
Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas.
Quando a FBB for transferir dinheiro para alguma entidade social, de pesquisa etc.,
precisará observar os princípios que regem a Administração Pública (ex: a Lei nº 8.666/93)?
Essa transferência está sujeita à fiscalização do TCU? Depende. É necessário analisar a
natureza jurídica do recurso transferido pela FBB (se são recursos públicos ou
eminentemente privados) para que se possa aferir, com exatidão, a necessidade de submissão
aos princípios norteadores da gestão pública, consequentemente, ao crivo do controle
externo. A situação é, portanto, a seguinte:
se os recursos que a FBB estiver transferindo para terceiros forem provenientes do
Banco do Brasil ou de alguma outra entidade do poder público (o BB transferiu
esses recursos para a FBB e agora a FBB está repassando para terceiros): haverá
fiscalização do TCU. Isso porque, neste caso, tais recursos, como são provenientes do
BB, têm caráter público.
se os valores que a FBB estiver transferindo forem “recursos próprios” (excluídas
as dotações que recebe do Banco do Brasil): não haverá fiscalização do TCU porque
a FBB não é uma entidade da Administração Pública. Logo, se são recursos
eminentemente seus (recursos próprios), a verba é privada.
A FBB não poderia ser considerada como uma fundação instituída e mantida“pelo Poder
Público federal”, atraindo sempre a fiscalização do TCU com base no art. 71, II, da CF/88?
NÃO. Isso porque o STF entende que o Banco do Brasil, apesar de integrar a Administração
Pública federal, não pode ser considerado como “poder público”:
O Banco do Brasil, entidade da Administração Indireta dotada de personalidade
jurídica de direito privado, voltada à exploração de atividade econômica em
sentido estrito, não pode ser concebida como poder público. STF. Plenário. MS
24427, Rel. Min. Eros Grau, DJ 24/11/06.
Logo, a FBB consiste em entidade privada não instituída pelo poder público.
21.10. A Constituição Federal não proíbe a extinção de Tribunais de Contas dos Municípios
– (Info 883) – IMPORTANTE!!!
Assim, por exemplo, imagine que exista um Tribunal de Contas dos Municípios na Bahia.
Este Tribunal irá auxiliar a Câmara Municipal de Ilhéus (BA) a fazer o controle externo dos
recursos daquele Município. De igual forma, irá também atuar em relação às contas de
Vitória da Conquista, Feira de Santana e todos os demais Municípios da Bahia.
Desse modo, o Tribunal de Contas dos Municípios é um órgão ESTADUAL que atua na
fiscalização das contas de todos os Municípios de determinado Estado.
Atualmente, só existem três Tribunais de Contas dos Municípios: na Bahia, em Goiás e no
Pará.
Nos demais Estados onde não há Tribunal de Contas dos Municípios, a competência para
realizar essa fiscalização é do TCE.
Vale ressaltar que a CF/88 não proíbe que os Estados criem novos Tribunais de Contas dos
Municípios.
Situação enfrentada pelo STF: No Estado do Ceará havia um Tribunal de Contas dos
Municípios, ou seja, um Tribunal de Contas específico para auxiliar as Câmaras Municipais
no exercício do controle externo sobre os Municípios cearenses. Em 2017, houve uma emenda
à Constituição do Estado do Ceará extinguindo o TCM/Ceará. A Associação dos Membros
dos Tribunais de Contas do Brasil (ATRICON) ajuizou uma ADI contra esta emenda
constitucional apresentando os seguintes argumentos:
A emenda foi aprovada pelos Deputados como retaliação pelo fato de que muitos
deles tiveram as suas contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas dos Municípios do
Estado do Ceará com relação ao período em que eram Prefeitos. Teria havido,
portanto, desvio do poder de legislar;
Não haveria redução de despesas na extinção do Tribunal de Contas;
O art. 31, § 4º da CF/88 proibiria a extinção dos Tribunais de Contas dos Municípios;
Teria havido vício de iniciativa porque a emenda constitucional foi proposta por
parlamentares.
O STF concordou com os argumentos da ATRICON? A ADI foi julgada procedente? NÃO.
Ausência de provas do suposto desvio do poder de legislar: O STF entendeu que a fraude na
edição de lei com o objetivo de alcançar finalidade diversa do interesse público deve ser
explicitada e comprovada. O mero fato de alguns dos Parlamentares terem tido suas contas
desaprovadas não conduz à conclusão de que a votação da emenda estaria viciada.
CF/88 não impede a extinção dos Tribunais de Contas dos Municípios: O art. 31, §§ 1º e 4º, da
CF/88 não proíbem a extinção de Tribunais de Contas dos Municípios. A Constituição
permitiu (facultou) que os Estados-membros concentrassem toda a fiscalização no Tribunal
de Contas do Estado (TCE) ou que criassem um outro órgão (Tribunal de Contas dos
Municípios) exclusivamente com a finalidade de fiscalizar as contas dos Municípios daquele
respectivo Estado. Não há, assim, qualquer norma na Constituição Federal que proíba a
extinção do Tribunal de Contas dos Municípios por meio da promulgação de emenda à
Constituição Estadual.
Não houve vício de iniciativa: A CF/88 afirmou que cabe aos Tribunais de Contas dispor
sobre a própria organização e funcionamento, e o fez com o propósito de assegurar-lhes a
autonomia necessária para exercer atividade fundamental à integridade do erário. Isso não
impede, contudo, que haja a extinção de Tribunal de Contas dos Municípios mediante
emenda cujo processo de elaboração tenha sido deflagrado por Deputados Estaduais. Não há
qualquer dispositivo constitucional que leve à conclusão de que é impossível emenda à
Constituição, de iniciativa parlamentar, tratando sobre a extinção de Tribunal de Contas dos
Municípios.
21.11. MPTC não possui legitimidade para propor reclamação no STF – (Info 883)
O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas não possui legitimidade ativa para
propor reclamação no STF alegando descumprimento da decisão do Supremo.
A atuação dos membros do MPTC limita-se, unicamente, ao âmbito dos próprios
Tribunais de Contas perante os quais oficiam.
STF. 2ª T. Rcl 24156 AgR/DF e Rcl 24158 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, j. 24/10/17
(Info 883).
OBS:
Cuidado com a situação excepcional reconhecida pelo STJ:
O membro do Ministério Público que atua perante o Tribunal de Contas
possui legitimidade e capacidade postulatória para impetrar mandado de
segurança, em defesa de suas prerrogativas institucionais, contra acórdão
prolatado pela respectiva Corte de Contas. Ex: Procurador de Contas pode
impetrar mandado de segurança contra acórdão do Tribunal de Contas que
extinguiu representação contra licitação sem incluí-la em pauta e sem intimar o
MP. STJ. 2ª Turma. RMS 52.741-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 8/8/17 (Info
611).
21.13. Prazo prescricional para aplicação de multa pelo TCU – (Info 858)
O prazo prescricional para que o TCU aplique multas é de 5 anos, aplicando-se a previsão
do art. 1º da Lei nº 9.873/99.
Caso esteja sendo imputada ao agente público a conduta omissiva de ter deixado de tomar
providências que eram de sua responsabilidade, tem-se que, enquanto ele permaneceu no
cargo, perdurou a omissão. No momento em que o agente deixou o cargo, iniciou-se o
fluxo do prazo prescricional.
STF. 1ª Turma. MS 32201/DF, rel. Min. Roberto Barroso, j. 21/3/17 (Info 858).
Determinada Constituição Estadual prevê que, se o TCE não elaborar, no prazo de 180
dias, o parecer prévio na prestação de contas do Prefeito, o processo deverá ser
encaminhado à Câmara Municipal e esta julgará as contas mesmo sem o parecer.
Esta previsão é inconstitucional por violar o art. 31, § 2º, da CF/88. Pela leitura desse
dispositivo, a elaboração do parecer prévio é sempre necessária e a Câmara Municipal
somente poderá dele discordar se houver manifestação de, no mínimo, 2/3 dos Vereadores.
Assim, a CE/SE criou uma exceção na qual a Câmara Municipal poderia julgar as contas
dos Prefeitos mesmo sem parecer do TCE. Ocorre que esta nova situação não encontra
abrigo na Constituição Federal, sendo, portanto, inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 3077/SE, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 16/11/16 (Info 847).
OBS:
Qual é o "órgão competente" para julgar as contas do Prefeito? A Câmara Municipal.
21.16. É inconstitucional norma da CE que preveja competir à ALE julgar as contas do Poder
Legislativo – (Info 847) – (TJPE-2013) (DPEMG-2014)
As contas dos demais administradores que lidem com verbas federais serão julgados pelo
TCU? SIM. De acordo com a CF/88, o TCU irá julgar as contas de todos os administradores
que lidem com verbas federais, salvo as do Presidente da República (que são julgadas pelo
Parlamento). Essa é a interpretação que se chega a partir da leitura dos incisos I e II do art. 71.
Essas regras acima expostas são aplicáveis também para os Tribunais de Contas estaduais?
SIM. Os Tribunais de Contas estaduais são competentes para julgar as contas dos
administradores que lidem com verbas estaduais ou municipais, com exceção das contas dos
chefes do Poder Executivo (Governador e Prefeitos). Desse modo, o TCE irá julgar as contas
de todos os administradores que lidem com verbas estaduais ou municipais, salvo as do
Governador e dos Prefeitos. As contas do Governador são julgadas pela Assembleia
Legislativa, após o TCE elaborar um parecer. As contas dos Prefeitos são julgadas pelas
respectivas Câmaras Municipais, após o TCE elaborar um parecer.
O interessado alega que não mora mais no endereço para o qual a carta com AR foi
enviada. Contudo, constata-se que esse é o endereço que consta na Receita Federal como
sendo do interessado, além do que é o mesmo que está na petição inicial do MS por ele
impetrado. A alegação de nulidade da citação deverá ser aceita?
NÃO. Inicialmente, deve-se esclarecer que a validade da comunicação dos atos do TCU
não depende de comunicação pessoal do interessado, bastando sua efetivação por meio de
carta registrada com aviso de recebimento que comprove sua entrega no endereço do
destinatário.
No caso concreto, a citação foi enviada ao endereço fornecido pelo impetrante no cadastro
da Receita Federal do Brasil, que é o mesmo informado na petição inicial do mandado de
segurança impetrado. Logo, o STF entendeu que foi comprovada a entrega da carta
registrada no endereço do destinatário, de forma que não se podia falar em nulidade do
processo.
STF. 2ª Turma. MS 27427 AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 8/9/2015 (Info
798).
21.23. Competência para declarar a inidoneidade de empresa para licitar – (Info 786) –
IMPORTANTE!!!
O TCU tem competência para declarar a inidoneidade de empresa privada para participar
de licitações promovidas pela Administração Pública. Essa previsão está expressa no art.
46 da Lei 8.443/92, sendo considerada constitucional:
Art. 46. Verificada a ocorrência de fraude comprovada à licitação, o Tribunal declarará a
inidoneidade do licitante fraudador para participar, por até cinco anos, de licitação na
Administração Pública Federal.
STF. Plenário. MS 30788/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 21/5/2015 (Info 786).
O TCU tem legitimidade para anular acordo extrajudicial firmado entre particulares e a
Administração Pública, quando não homologado judicialmente.
Se o acordo foi homologado judicialmente, o TCU não pode anulá-lo porque a questão já
passou a ser de mérito da decisão judicial, o que não pode ser revisto pelo Tribunal de
Contas.
Contudo, sendo o acordo apenas extrajudicial, a situação está apenas no âmbito
administrativo, de sorte que o TCU tem legitimidade para anular o ajuste celebrado.
STF. 1ª Turma. MS 24379/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/4/2015 (Info 780).
21.26. Lei estadual que veda acesso de documentos ao TCE é inconstitucional – (Info 760)
É inconstitucional lei estadual que proíbe que o TCE, quando estiver fazendo inspeções
ou auditorias, tenha acesso a determinados documentos inerentes à Administração
Pública.
Essa previsão constitui ato atentatório à efetiva atuação do Tribunal de Contas,
restringindo sua competência para realizar o controle externo das contas do Estado-
membro sem que a CF/88 tenha permitido essa limitação.
STF. Plenário. ADI 2361/CE, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 24/9/2014 (Info 760).
22. ADVOGADO
22.1. Advogado tem direito de ser atendido no INSS independentemente de distribuição
de fichas – (Info 742)
Viola o art. 132 da CF/88 norma da Constituição Estadual que preveja que a assistência
jurídica da Administração indireta será exercida por profissionais do corpo jurídico que
compõem seus respectivos quadros
É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que preveja que “a representação
judicial e extrajudicial dos órgãos da administração indireta é de competência dos
profissionais do corpo jurídico que compõem seus respectivos quadros e integram
advocacia pública cujas atividades são disciplinadas em leis especificas.”
Essa previsão viola o princípio da unicidade da representação judicial dos Estados e do
Distrito Federal.
O art. 132 da CF/88 atribuiu aos Procuradores dos Estados e do DF exclusividade no
exercício da atividade jurídica contenciosa e consultiva não apenas dos órgãos, mas
também das entidades que compõem a administração pública indireta.
STF. Plenário. ADI 5262 MC/RR, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 27 e 28/3/19 (Info 935).
23.5. Viola o art. 132 da CF/88 norma da Constituição Estadual que preveja que a
representação judicial e consultoria jurídica da PGE ficará restrita ao Poder Executivo – (Info
935) – IMPORTANTE!!!
Esse entendimento acima exposto vale também para os casos de emenda à Constituição
Federal? NÃO. Não existe iniciativa privativa (reservada) para a propositura de emendas à
Constituição Federal. A proibição de que emendas constitucionais tratem sobre as matérias
do art. 61, § 1º da CF/88 só vale para emendas à Constituição Estadual. Dito de outro modo:
É possível que emenda à CF/88 proposta por iniciativa parlamentar trate sobre
as matérias previstas no art. 61, § 1º da CF/88. As regras de reserva de iniciativa
fixadas no art. 61, § 1º da CF/88 não são aplicáveis ao processo de emenda à
CF/88, que é disciplinado em seu art. 60. STF. Plenário. ADI 5296 MC/DF, Rel.
Min. Rosa Weber, julgado em 18/5/2016 (Info 826).
Por que existe essa diferença de tratamento entre emenda à Constituição Federal e emenda à
Constituição Estadual? O poder constituinte estadual não é originário. É poder
constituído, cercado por limites mais rígidos do que o poder constituinte federal. A regra
da simetria é um exemplo dessa limitação. Por essa razão, as Assembleias Legislativas se
submetem a limites mais rigorosos quando pretendem emendar as Constituições Estaduais.
Assim, se os Deputados Estaduais apresentam emenda à Constituição Estadual tratando
sobre os assuntos do art. 61, § 1º, da CF/88 eles estão, em última análise, violando a própria
regra da CF/1988.
23.7. Técnico superior em Direito de autarquia estadual não pode exercer atribuições de
representação jurídica da entidade, mas pode fazer atuação jurídica no âmbito interno da
autarquia, sobretudo em atividades de compliance – (Info 927) – IMPORTANTE!!!
É inconstitucional lei estadual que preveja que servidor de autarquia (no caso, era Técnico
Superior do DETRAN) será responsável por:
• representar a entidade “em juízo ou fora dele nas ações em que haja interesse da
autarquia”.
• praticar “todos os demais atos de natureza judicial ou contenciosa, devendo, para tanto,
exercer as suas funções profissionais e de responsabilidade técnica regidas pela Ordem
dos Advogados do Brasil OAB”.
Tais previsões violam o “princípio da unicidade da representação judicial dos Estados e
do Distrito Federal”, insculpido no art. 132 da CF/88.
A legislação impugnada, apesar de não ter criado uma procuradoria paralela, atribuiu ao
cargo de Técnico Superior do Detran/ES, com formação em Direito, diversas funções
privativas de advogado.
Ao assim agir, conferiu algumas atribuições de representação jurídica do DETRAN a
pessoas estranhas aos quadros da Procuradoria-Geral do Estado, com violação do art. 132,
caput, da CF/88.
O STF decidiu modular os efeitos da decisão para:
• manter os cargos em questão, excluídas as atribuições judiciais inerentes às
procuradorias;
• declarar a validade dos atos praticados (ex: contestações, recursos etc.) até a data do
julgamento, com base na teoria do funcionário de fato.
ATENÇÃO: Por outro lado, é válido que esses servidores façam a atuação jurídica no
âmbito interno da autarquia, sobretudo em atividades de compliance, tais como conceber
e formular medidas e soluções de otimização, fiscalização e auditoria (exs: interpretar
textos e instrumentos legais, elaborar pareceres sobre questões jurídicas que envolvam as
atividades da entidade, elaborar editais, contratos, convênios etc.). Essas atribuições
podem sim ser exercidas pelos Técnicos Superiores do DETRAN, sem que isso ofenda o
princípio da unicidade da representação judicial.
O STF entendeu que não se pode deslocar qualquer atuação técnico-jurídica da autarquia
para a PGE, porque esta não conseguirá fazer frente a essa gama de trabalho, sob pena de
ter suas atividades inviabilizadas.
STF. Plenário. ADI 5109/ES, Rel. Min. Luiz Fux, j. 13/12/18 (Info 927).
OBS:
Segundo a jurisprudência do STF, é possível que lei estadual crie cargos em comissão para o
desempenho das atribuições de assessoramento jurídico no âmbito do Poder Executivo?
NÃO.
A atividade de assessoramento jurídico do Poder Executivo dos Estados deve
ser exercida por Procuradores do Estado, organizados em carreira, cujo
ingresso depende de concurso público de provas e títulos, nos termos do art. 132
da CF/88.
Esse preceito tem como objetivo garantir a necessária qualificação técnica e
independência funcional desses especiais agentes públicos.
Assim, é inconstitucional a norma que outorgue a ocupante de cargo em
comissão ou de função de confiança o exercício, no âmbito do Poder Executivo
local, de atribuições inerentes à representação judicial e ao desempenho da
atividade de consultoria e de assessoramento jurídicos, pois tais encargos
traduzem prerrogativa institucional outorgada, em caráter de exclusividade,
aos Procuradores do Estado.
STF. Plenário. ADI 4261, Rel. Min. Ayres Britto, j. 2/8/10.
STF. Plenário. ADI 4843/MC-ED-Ref, Rel. Min. Celso de Mello, j. 11/12/14.
Este princípio possui exceções? SIM. Podemos mencionar a existência de duas exceções:
Tramita no Congresso Nacional uma PEC com o objetivo de “alterar a redação do art. 132 da
Constituição Federal para estender aos Municípios a obrigatoriedade de organizar carreira de
procurador (para fins de representação judicial e assessoria jurídica), com ingresso por
concurso público, com a participação da OAB em todas as suas fases, garantida a estabilidade
dos procuradores após 3 anos de efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho.”
(PEC 17/2012).
Feita esta breve revisão, veja o caso concreto julgado pelo STF: O Estado do Espírito Santo
editou lei criando o cargo de Técnico Superior do DETRAN (autarquia estadual). Até aí, ok.
O problema foi que a Lei previu que os ocupantes deste cargo seriam responsáveis por
representar o DETRAN/ES “em juízo ou fora dele nas ações em que haja interesse da
autarquia”. Além disso, determinou que tais servidores teriam a incumbência de praticar
“todos os demais atos de natureza judicial ou contenciosa, devendo, para tanto, exercer as
suas funções profissionais e de responsabilidade técnica regidas pela Ordem dos Advogados
do Brasil OAB”.
Tais previsões são constitucionais? NÃO. Tais previsões violam o “princípio da unicidade
da representação judicial dos Estados e do Distrito Federal”, insculpido no art. 132 da
CF/88. A legislação impugnada, apesar de não ter criado uma procuradoria paralela,
atribuiu ao cargo de Técnico Superior do Detran/ES, com formação em Direito, diversas
funções privativas de advogado. Ao assim agir, conferiu algumas atribuições de
representação jurídica do DETRAN a pessoas estranhas aos quadros da Procuradoria-Geral
do Estado, com violação do art. 132, caput, da CF/88.
Outras atribuições: A legislação prevê também outras atuações técnico-jurídicas deste
servidor no âmbito interno da autarquia, tais como:
• Interagir com as demais unidades administrativas da autarquia na elaboração de normas,
instruções, resoluções e demais atos a serem expedidos;
• Interpretar textos e instrumentos legais;
• Elaborar estudos sobre questões jurídicas que envolvam as atividades do DETRAN/ES;
• Elaborar editais, contratos, convênios, acordos e ajustes celebrados pela Autarquia, com a
emissão de parecer.
A previsão dessas outras atribuições também é inconstitucional? NÃO. Essas outras
atribuições podem sim ser exercidas pelos Técnicos Superiores do DETRAN, sem que isso
ofenda o princípio da unicidade da representação judicial. O STF entendeu que não se pode
deslocar qualquer atuação técnico-jurídica da autarquia para a PGE, porque esta não
conseguirá fazer frente a essa gama de trabalho, sob pena de ter suas atividades
inviabilizadas. Nesse contexto, é válida a atuação jurídica dos servidores técnicos no âmbito
interno, sobretudo em atividades de compliance, tais como conceber e formular medidas e
soluções de otimização, fiscalização e auditoria.
Modulação dos efeitos: Em nome do princípio da confiança e do postulado da segurança
jurídica, o STF fez a modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade.
23.11. Legitimidade da ANAPE para questionar lei que equipara determinada carreira com
a de Procurador do Estado – (Info 835)
A Associação Nacional dos Procuradores dos Estados e do Distrito Federal (ANAPE) tem
legitimidade ativa para, via arguição de descumprimento de preceito fundamental
(ADPF), questionar dispositivos de lei estadual que estabelece a isonomia de vencimentos
entre as carreiras de Procurador estadual e de Delegado de Polícia.
STF. Plenário. ADPF 328 AgR/MA, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Roberto Barroso, j. 18/08/16 (Info 835).
23.12. Inconstitucionalidade de lei estadual que crie cargo em comissão para o desempenho
de assessoramento jurídico no Poder Executivo – (Info 771)
Constituição Estadual pode prever que o Procurador-Geral do Estado seja julgado pelo TJ.
A lei estadual não pode prever que o Procurador-Geral do Estado tenha foro por
prerrogativa de função no TJ.
A Constituição Estadual, ao prever as competências do TJ, não pode trazer um dispositivo
aberto, delegando ao legislador infraconstitucional a tarefa de definir as autoridades com
foro privativo.
STF. Plenário. HC 103803/RR, rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 01/07/2014 (Info 752).
É constitucional lei estadual que concede o desconto de 50% no valor dos ingressos em
casas de diversões, praças desportivas e similares aos jovens de até 21 anos de idade.
STF. Plenário. ADI 2163/RJ, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/ o ac. Min. Ricardo
Lewandowski, j. 12/4/2018 (Info 897).
OBS:
A situação concreta foi a seguinte: A Lei 3364/00, do Estado do Rio de Janeiro, assegura o
desconto de 50% no valor dos ingressos em casas de diversões, praças desportivas e similares
aos jovens de até 21 anos de idade (Lei da Meia Entrada). Em 2006, a Confederação Nacional
do Comércio (CNC) ajuizou ADI contra essa Lei afirmando que ela seria formal e
materialmente inconstitucional.
Esse critério etário, ou seja, conceder meia-entrada para todo mundo que for menor que 21
anos, é válido? SIM. A lei é constitucional porque facilita o acesso dos jovens à cultura, à
educação e a atividades desportivas. “Entendo que essa é uma lei evidente e eminentemente
inclusiva. Tem como alvo o jovem que tradicionalmente não flui dessas regalias. O jovem
excluído do sistema educacional”, disse o então Min. Joaquim Barbosa, que participou do
julgamento. O Min. Ricardo Lewandowski defendeu que, nesse caso, é legítima a
intervenção do Estado no domínio econômico. “Aqui me parece que o legislador estadual
foi generoso porque ele quer também dar acesso ao lazer e à cultura aos jovens em geral,
mesmo aqueles que não tiveram o privilégio de ter ido à escola ou que possam ir à escola.
São aqueles jovens que trabalham, que não têm lazer, não têm cultura”.
Outro precedente no mesmo sentido envolvendo uma Lei do Estado de São Paulo:
(...) 1. É certo que a ordem econômica na Constituição de 1.988 define opção por
um sistema no qual joga um papel primordial a livre iniciativa. Essa
circunstância não legitima, no entanto, a assertiva de que o Estado só intervirá
na economia em situações excepcionais.
2. Mais do que simples instrumento de governo, a nossa Constituição enuncia
diretrizes, programas e fins a serem realizados pelo Estado e pela sociedade.
Postula um plano de ação global normativo para o Estado e para a sociedade,
informado pelos preceitos veiculados pelos seus artigos 1º, 3º e 170.
3. A livre iniciativa é expressão de liberdade titulada não apenas pela
empresa, mas também pelo trabalho. Por isso a Constituição, ao contemplá-la,
cogita também da "iniciativa do Estado"; não a privilegia, portanto, como bem
pertinente apenas à empresa.
4. Se de um lado a Constituição assegura a livre iniciativa, de outro determina
ao Estado a adoção de todas as providências tendentes a garantir o efetivo
exercício do direito à educação, à cultura e ao desporto [artigos 23, inciso V,
205, 208, 215 e 217 § 3º, da Constituição]. Na composição entre esses princípios
e regras há de ser preservado o interesse da coletividade, interesse público
primário.
5. O direito ao acesso à cultura, ao esporte e ao lazer, são meios de
complementar a formação dos estudantes.
6. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.
STF. Plenário. ADI 1950, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 03/11/2005.
Leis federais posteriores: Depois que esta Lei do Estado do Rio de Janeiro foi publicada
(2000), o Congresso Nacional editou duas leis que tratam sobre meia-entrada em eventos
culturais e desportivos.
O art. 220, § 4º da CF/88 prevê que lei poderá impor restrições às propagandas de bebidas
alcoólicas.
Com o objetivo de regulamentar esse dispositivo, foi editada a Lei 9.294/96.
Ocorre que a Lei 9.294/96 afirmou expressamente que só haveria restrições para as
propagandas de bebidas alcoólicas com teor alcoólico superior a 13º GL (art. 1º, parágrafo
único).
O PGR não concordou com a medida e ajuizou ação direta de inconstitucionalidade por
omissão afirmando que o Congresso Nacional estaria em mora legislativa, considerando
que deveria impor restrições à propaganda de bebidas alcoólicas independentemente do
seu teor de álcool.
O STF julgou improcedente o pedido. A Corte entendeu que não é possível que o Poder
Judiciário crie norma geral e abstrata em substituição ao legislador definindo o que é
bebida alcoólica para fins de propaganda. Além disso, o STF considerou que não existe a
alegada omissão. O legislador federal aprovou a Lei 9.294/96, que foi objeto de amplo
debate no Congresso Nacional. Foi feita uma escolha política de só serem impostas
restrições para propagandas de bebidas alcóolicas com grau superior a 13º GL, não
podendo o STF rever essa decisão.
Por fim, o STF entendeu que a Lei 9.294/96 não contraria a Lei 11.705/2008 (Lei Seca),
considerando que são diplomas legislativos com âmbitos de incidência totalmente
diversos. A primeira lei cuida de restrições à propaganda e liberdade de expressão. Nela
não se está julgando o teor alcoólico da bebida e sim até que limite pode ir a sua
publicidade. Na segunda, estão sendo discutidos os efeitos do álcool para pessoas que
dirigem veículo automotor e a proibição imposta para essa prática.
STF. Plenário. ADO 22/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/4/2015 (Info 781).
STF suspendeu decisão de TRF que havia anulado portaria do Ministério das
Comunicações tratando sobre aspectos técnicos da transmissão dos programas de TV
(recursos de audiodescrição para deficientes visuais e intelecuais).
Segundo a Corte, a complexidade da causa requer cautela por parte dos magistrados e
maior consideração às soluções encontradas pelos órgãos técnicos especialistas na área.
STF. Plenário. ADPF 309 Referendo-MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 25/9/14 (Info 760).
27.2. Poder Judiciário pode obrigar a Administração Pública a manter quantidade mínima
de determinado medicamento em estoque – (Info 752) – IMPORTANTE!!!
A Administração Pública pode ser obrigada, por decisão do Poder Judiciário, a manter
estoque mínimo de determinado medicamento utilizado no combate a certa doença grave,
de modo a evitar novas interrupções no tratamento.
Não há violação ao princípio da separação dos poderes no caso. Isso porque com essa
decisão o Poder Judiciário não está determinando metas nem prioridades do Estado, nem
tampouco interferindo na gestão de suas verbas. O que se está fazendo é controlar os atos
e serviços da Administração Pública que, neste caso, se mostraram ilegais ou abusivos já
que, mesmo o Poder Público se comprometendo a adquirir os medicamentos, há falta em
seu estoque, ocasionando graves prejuízos aos pacientes.
Assim, não tendo a Administração adquirido o medicamento em tempo hábil a dar
continuidade ao tratamento dos pacientes, atuou de forma ilegítima, violando o direito à
saúde daqueles pacientes, o que autoriza a ingerência do Poder Judiciário.
STJ. 1ª T. RE 429903/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 25/6/2014 (Info 752).
Como regra, se os índios não estavam na posse da área em 05/10/1988, ela não será
considerada terra indígena (art. 231 da CF/88).
Existe, contudo, uma exceção a essa regra. Trata-se do chamado renitente esbulho.
Assim, se, na época da promulgação da CF/88, os índios não ocupavam a terra porque dela
haviam sido expulsos em virtude de conflito possessório, considera-se que eles foram
vítimas de esbulho e, assim, essa área será considerada terra indígena para os fins do art.
231.
O renitente esbulho se caracteriza pelo efetivo conflito possessório, iniciado no passado e
persistente até o marco demarcatório temporal da data da promulgação da Constituição de
1988, materializado por circunstâncias de fato ou por controvérsia possessória
judicializada.
Vale ressaltar que, para que se caracterize o renitente esbulho, é necessário que, no
momento da promulgação da CF/88, os índios ainda estivessem disputando a posse da
terra ou tivessem sido delas expulsos há pouco tempo. Se eles foram dela expulsos muitos
anos antes de entrar em vigor a CF/88, não se configura o chamado “renitente esbulho”.
Exemplo: no caso concreto apreciado pelo STF, a última ocupação indígena na área
ocorreu no ano de 1953, data em que os índios foram expulsos da região. Nessa situação, a
Corte entendeu que não estava caracterizado o renitente esbulho, mas sim “a desocupação
forçada ocorrida no passado” já que, no momento da promulgação da CF/88, já havia se
passado muitos anos da saída dos índios do local e eles não mais estavam em conflito
possessório por aquelas terras.
STF. 2ª T. ARE 803462 AgR/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 9/12/14 (Info 771).
O art. 68 do ADCT estabelece que “aos remanescentes das comunidades dos quilombos
que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o
Estado emitir-lhes os títulos respectivos.”
Em 2003, foi editado o Decreto 4.887, com o objetivo de regulamentar o procedimento para
identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas
por remanescentes das comunidades dos quilombos.
O STF entendeu que este Decreto não invadiu esfera reservada à lei. O objetivo do
Decreto foi tão somente o de regular o comportamento do Estado na implementação do
comando constitucional previsto no art. 68 do ADCT. Houve o mero exercício do poder
regulamentar da Administração, nos limites estabelecidos pelo art. 84, VI, da Constituição.
O art. 2º, caput e § 1º do Decreto 4.887/03 prevê como deve ser o critério utilizado pelo
Poder Público para a identificação dos quilombolas. O critério escolhido foi o da
autoatribuição (autodefinição). O STF entendeu que a escolha do critério desse critério
não foi arbitrária, não sendo contrária à Constituição.
O art. 2º, §§ 2º e 3º, do Decreto preconiza que, na identificação, medição e demarcação das
terras dos quilombolas devem ser levados em consideração critérios de territorialidade
indicados pelos remanescentes das comunidades dos quilombos. O STF afirmou que essa
previsão é constitucional. Isso porque o que o Decreto está garantindo é apenas que as
comunidades envolvidas sejam ouvidas, não significando que a demarcação será feita
exclusivamente com base nos critérios indicados pelos quilombolas.
O art. 13 do Decreto, por sua vez, estabelece que o INCRA poderá realizar a
desapropriação de determinadas áreas caso os territórios ocupados por remanescentes das
comunidades dos quilombos estejam situados em locais pertencentes a particulares. O
STF reputou válida essa previsão tendo em vista que, em nenhum momento a
Constituição afirma que são nulos ou extintos os títulos eventualmente incidentes sobre
as terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos. Assim, o art. 68 do
ADCT, apesar de reconhecer um direito aos quilombolas, não invalida os títulos de
propriedade eventualmente existentes, de modo que, para que haja a regularização do
registro em favor das comunidades quilombolas, exige-se a realização do procedimento de
desapropriação.
Por fim, o STF não acolheu a tese de que somente poderiam ser consideradas terras de
quilombolas aqueles que estivessem sendo ocupadas por essas comunidades na data da
promulgação da CF/88 (05/10/1988). Em outras palavras, mesmo que, na data da
promulgação da CF/88, a terra não mais estivesse sendo ocupada pelas comunidades
quilombolas, é possível, em tese, que seja garantido o direito previsto no art. 68 do ADCT.
STF. Plenário. ADI 3239/DF, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red.p/ o ac. Min. Rosa Weber, j.
8/2/18 (Info 890).
OBS:
CF/88:
Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam
ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado
emitir-lhes os títulos respectivos.
Decreto 4.887/2003:
Art. 2º Consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os
fins deste Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-
atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais
específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a
resistência à opressão histórica sofrida.
§ 1º Para os fins deste Decreto, a caracterização dos remanescentes das
comunidades dos quilombos será atestada mediante autodefinição da própria
comunidade.
§ 2º São terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos as
utilizadas para a garantia de sua reprodução física, social, econômica e cultural.
§ 3º Para a medição e demarcação das terras, serão levados em consideração
critérios de territorialidade indicados pelos remanescentes das comunidades
dos quilombos, sendo facultado à comunidade interessada apresentar as peças
técnicas para a instrução procedimental.
Art. 13. Incidindo nos territórios ocupados por remanescentes das comunidades
dos quilombos título de domínio particular não invalidado por nulidade,
prescrição ou comisso, e nem tornado ineficaz por outros fundamentos, será
realizada vistoria e avaliação do imóvel, objetivando a adoção dos atos
necessários à sua desapropriação, quando couber. (...)
§ 2º O INCRA regulamentará as hipóteses suscetíveis de desapropriação, com
obrigatória disposição de prévio estudo sobre a autenticidade e legitimidade do
título de propriedade, mediante levantamento da cadeia dominial do imóvel até
a sua origem.