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RESUMO DOS INFORMATIVOS - SITE DIZER O DIREITO

DIREITO CONSTITUCIONAL

Atualizado em 26/05/2020: novos julgados + questões de concurso

Pontos atualizados: nº 03 (Info 954); nº 23 (Info 954); nº 08 (Info 955 – 2 julgados); nº 16


(Info 955); nº 21 (Info 958); nº01 (Info 959); nº 21 (Info 959 – 2 julgados)

1. DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS


1.1. DIREITO ADQUIRIDO: É constitucional o art. 38 da Lei 8.880/94, não importando a
aplicação imediata desse dispositivo em violação ao art. 5º, XXXVI, da CF/88 – (Info 959)

O art. 38 da Lei 8.880/94 previu que a URV deveria ser utilizada como parâmetro de
cálculo dos índices de correção monetária nos dois primeiros meses de implantação do
Plano Real.
As pessoas que tinham contratos em vigor e que haviam sido celebrados antes da Lei
8.880/94 começaram a questionar a aplicação imediata deste dispositivo. Alegaram que a
sua aplicação aos contratos em vigor seria inconstitucional por violar o direito adquirido
(art. 5º, XXXVI, da CF/88).
O STF não concordou com essa tese e decidiu que:
É constitucional o art. 38 da Lei 8.880/94 e que a sua aplicação imediata para os contratos
em vigor não violou a garantia do “direito adquirido”, prevista no art. 5º, XXXVI, da
Constituição Federal.
Não é possível opor a cláusula de proteção ao direito adquirido ou ato jurídico perfeito
em face da aplicação imediata de normas que tratam de regime monetário, as quais
possuem natureza estatutária e institucional, como é a situação daquelas responsáveis por
substituir uma moeda por outra.
As normas que tratam do regime monetário - inclusive, portanto, as de correção monetária
-, têm natureza institucional e estatutária, insuscetíveis de disposição por ato de vontade,
razão pela qual sua incidência é imediata, alcançando as situações jurídicas em curso de
formação ou de execução.
STF. Plenário. ADPF 77/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 16/5/19 (Info 940).
STF. 1ª T. RE 307108/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, j.
12/11/19 (Info 959).
OBS:
Por que a autora não propôs uma ADC? Porque o art. 38 da Lei nº 8.880/94 era uma regra
transitória, que somente produziu seus efeitos em relação aos dois primeiros meses de
implementação do Plano Real. Segundo a jurisprudência do STF, não cabe ADI/ADC tendo
como objeto lei revogada ou que tenha tido a sua eficácia exaurida. No caso, a eficácia do art.
38 já estava exaurida, de sorte que não caberia ADC. Assim, o único instrumento de controle
concentrado passível de ser manejado em face do art. 38 era a arguição de descumprimento
de preceito fundamental, que possui a característica de ser subsidiária (art. 4º, § 1º, da Lei nº
9.882/99). Nas palavras do STF: “O requisito da subsidiariedade está presente, visto que se
questiona preceito de natureza eminentemente transitória, com efeitos exauridos no momento do
ajuizamento da ação. É incabível outro instrumento de controle concentrado capaz de solver a
controvérsia de forma ampla, geral e imediata”.
Cabe ADPF para declarar a constitucionalidade de dispositivo de lei cuja
eficácia já foi exaurida. Dado o seu perfil subsidiário, a arguição de
descumprimento de preceito fundamental se apresenta como medida processual
mais adequada para afirmar a constitucionalidade do art. 38 da Lei 8.880/94,
dispositivo de natureza transitória e de eficácia já exaurida que
instrumentalizou a instituição do Plano Real. STF. Plenário. ADPF 77/DF, Rel.
Min. Dias Toffoli, j. 16/5/19 (Info 940).

1.2. DIREITO À SAÚDE: Pulverização aérea de inseticida contra Aedes aegypti precisa
de autorização prévia de autoridades sanitária e ambiental e comprovação científica da
eficácia da medida – (Info 951)
O art. 1º, § 3º da Lei 13.301/016 prevê, como uma das medidas para combater o Aedes
aegypti, que o poder público fica autorizado a fazer a pulverização, por meio de
aeronaves, de produtos químicos para matar o mosquito:
§ 3º São ainda medidas fundamentais para a contenção das doenças causadas
pelos vírus de que trata o caput:
IV - permissão da incorporação de mecanismos de controle vetorial por meio
de dispersão por aeronaves mediante aprovação das autoridades sanitárias e
da comprovação científica da eficácia da medida.
O STF deu intepretação conforme a esse dispositivo dizendo que, além da comprovação
científica e da aprovação das autoridades sanitárias (mencionadas expressamente no texto
da lei), é necessário também que haja a aprovação das autoridades ambientais. A
aprovação das autoridades sanitárias e ambientais competentes e a comprovação científica
da eficácia da medida são condições prévias e inafastáveis à incorporação de mecanismo
de controle vetorial por meio de dispersão por aeronaves.
STF. Plenário. ADI 5592/DF, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, j.
11/9/19 (Info 951).

1.3. DIREITOS SOCIAIS: É inconstitucional lei que autorize o trabalho de gestantes e


lactantes em atividades insalubres – (Info 942) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional a expressão “quando apresentar atestado de saúde, emitido por médico


de confiança da mulher, que recomende o afastamento”, contida nos incisos II e III do art.
394-A da CLT, inseridos pelo art. 1º da Lei nº 13.467/2017 (Reforma Trabalhista).
Essa expressão, inserida no art. 394-A da CLT, tinha como objetivo autorizar que
empregadas grávidas ou lactantes pudessem trabalhar em atividades insalubres.
Ocorre que o STF entendeu que o trabalho de gestantes e de lactantes em atividades
insalubres viola a Constituição Federal.
O art. 6º da CF/88 proclama importantes direitos, entre eles a proteção à maternidade, a
proteção do mercado de trabalho da mulher e redução dos riscos inerentes ao trabalho, por
meio de normas de saúde, higiene e segurança.
A proteção para que a gestante e a lactante não sejam expostas a atividades insalubres
caracteriza-se como importante direito social instrumental que protege não apenas a
mulher como também a criança (art. 227 da CF/88).
A proteção à maternidade e a integral proteção à criança são direitos irrenunciáveis e não
podem ser afastados pelo desconhecimento, impossibilidade ou a própria negligência da
gestante ou lactante em apresentar um atestado médico, sob pena de prejudicá-la e
prejudicar o recém-nascido.
Em suma, é proibido o trabalho da gestante ou da lactante em atividades insalubres.
STF. Plenário. ADI 5938/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 29/5/2019 (Info 942).

1.4. SAÚDE: Fornecimento pelo Poder Judiciário de medicamentos não registrados pela
ANVISA – (Info 941) – IMPORTANTE!!! – REPERCUSSÃO GERAL!!!

Fornecimento pelo Poder Judiciário de medicamentos não registrados pela ANVISA


1. O Estado não pode ser obrigado a fornecer medicamentos experimentais.
2. A ausência de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) impede,
como regra geral, o fornecimento de medicamento por decisão judicial.
3. É possível, excepcionalmente, a concessão judicial de medicamento sem registro
sanitário, em caso de mora irrazoável da Anvisa em apreciar o pedido (prazo superior ao
previsto na Lei 13.411/16), quando preenchidos três requisitos cumulativos:
a) a existência de pedido de registro do medicamento no Brasil (salvo no caso de
medicamentos órfãos para doenças raras e ultrarraras);
b) a existência de registro do medicamento em renomadas agências de regulação no
exterior; e
c) a inexistência de substituto terapêutico com registro no Brasil.
4. As ações que demandem fornecimento de medicamentos sem registro na Anvisa
deverão necessariamente ser propostas em face da União.
STF. Plenário. RE 657718/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso, j. 22/5/19 (repercussão geral) (Info 941).
Responsabilidade pelo fornecimento do medicamento ou pela realização do tratamento de
saúde
Os entes da Federação, em decorrência da competência comum, são solidariamente
responsáveis nas demandas prestacionais na área da saúde e, diante dos critérios
constitucionais de descentralização e hierarquização, compete à autoridade judicial
direcionar o cumprimento conforme as regras de repartição de competências e determinar
o ressarcimento a quem suportou o ônus financeiro.
STF. Plenário. RE 855178 ED/SE, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, j.
23/5/19 (Info 941).

1.5. DIREITOS POLÍTICOS: A suspensão de direitos políticos prevista no art. 15, III, da
CF, aplica-se tanto para condenados a penas privativas de liberdade como também a penas
restritivas de direitos – (Info 939) - REPERCUSSÃO GERAL!!!

A suspensão de direitos políticos prevista no art. 15, III, da Constituição Federal, aplica-se
no caso de substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos.
Havendo condenação criminal transitada em julgado, a pessoa condenada fica com seus
direitos políticos suspensos tanto no caso de pena privativa de liberdade como na
hipótese de substituição por pena restritiva de direitos. Veja o dispositivo constitucional:
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos
casos de:
III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;
STF. Plenário. RE 601182/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 8/5/2019 (repercussão geral) (Info 939).

1.6. LIBERDADE RELIGIOSA: É constitucional lei estadual que permite o sacrifício de


animais em cultos de religiões de matriz africana – (Info 935) – IMPORTANTE!!!
REPERCUSSÃO GERAL!!! – (MPGO-2019)

É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a liberdade religiosa,


permite o sacrifício ritual de animais em cultos de religiões de matriz africana.
STF. Plenário. RE 494601/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin,
j. 28/3/19 (Info 935).
(MPGO-2019): É constitucional a lei de proteção animal que, a fim de resguardar a
liberdade religiosa, permite o sacrifício ritual de animais em cultos de religiões de matriz
africana, conforme entendimento recente do STF. BL: Info 935, STF.

OBS:
Religiões de matriz africana: É uma nomenclatura utilizada para designar as religiões que
tiveram origem ou buscaram inspiração nas religiões tradicionais africanas. A história das
religiões de matriz africana está diretamente relacionada com a escravidão no Brasil,
quando escravos negros chegaram ao país vindos da África e trouxeram seu idioma,
conhecimentos, tradições e religiões. Os adeptos dessas religiões sempre sofreram com o
preconceito de muitas pessoas com relação às suas práticas religiosas. Podemos citar os
seguintes exemplos de religiões de matriz africana: Candomblé, Cabula, Catimbó, Umbanda,
Quimbanda, Xambá e Omolocô.

Animais em cultos de religiões de matriz africana: Algumas religiões de matriz africana


realizam sacrifício de animais em seus cultos. É o caso do Candomblé. A Umbanda, por outro
lado, não concorda com essa prática. Os rituais variam de acordo com o grupo religioso. No
entanto, em linhas gerais, acontece mais ou menos o seguinte: é escolhido um animal para ser
morto no ritual (geralmente galinhas, patos, bodes, carneiros, bois). Depois de morto por um
líder religioso que tem essa função (axogum), algumas partes do animal são colocadas em
locais específicos para serem oferecidos à divindade religiosa (orixá). O sangue pode ser
utilizado para sacramentar imagens. A carne é preparada para servir como refeição e o couro,
algumas vezes empregado na confecção de atabaques. Existe uma premissa que é defendida
e adotada pela maioria dos terreiros: o animal utilizado no sacrifício deve ser morto de forma
rápida com o objetivo de não causar dor. Assim, as lideranças religiosas defendem que não
há maus-tratos e condenam praticantes que deixam animais feridos, mas ainda vivos em
encruzilhadas.
Lei estadual prevendo a possibilidade de sacrifício ritual de animais em cultos: O caput do
art. 2º da Lei estadual 11.915/03, do Rio Grande do Sul, proíbe uma lista de condutas que
são consideradas maus-tratos de animais. O parágrafo único deste artigo, no entanto, prevê
que tais vedações não se aplicam para o sacrifício de animais em rituais de cultos de
religiões de matriz africana. Veja a redação do dispositivo legal:
Art. 2º É vedado:
I - ofender ou agredir fisicamente os animais, sujeitando-os a qualquer tipo de
experiência capaz de causar sofrimento ou dano, bem como as que criem
condições inaceitáveis de existência;
II - manter animais em local completamente desprovido de asseio ou que lhes
impeçam a movimentação, o descanso ou os privem de ar e luminosidade;
III - obrigar animais a trabalhos exorbitantes ou que ultrapassem sua força;
IV - não dar morte rápida e indolor a todo animal cujo extermínio seja
necessário para consumo;
V - exercer a venda ambulante de animais para menores desacompanhados por
responsável legal;
VI - enclausurar animais com outros que os molestem ou aterrorizem;
VII - sacrificar animais com venenos ou outros métodos não preconizados pela
Organização Mundial da Saúde - OMS -, nos programas de profilaxia da raiva.
Parágrafo único. Não se enquadra nessa vedação o livre exercício dos cultos e
liturgias das religiões de matriz africana. (Incluído pela Lei nº 12.131/2004)

ADI: O MP do Rio Grande do Sul ingressou com ADI no TJ/RS alegando que esse parágrafo
único seria inconstitucional tanto sob o ponto de vista formal como material. Sob o aspecto
formal, a lei teria violado a competência da União para legislar sobre direito penal (art. 22,
I, da CF/88). Isso porque este art. 2º, parágrafo único, da Lei estadual teria criado uma causa
excludente de ilicitude para afastar a incidência de crime ambiental. Além disso, haveria
inconstitucionalidade material pela violação ao art. 19, I, da CF/88 considerando que a lei
estadual somente permitiu o sacrifício de animais nos cultos de matriz africana, deixando
de fora da regra os cultos de outras religiões:
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o
funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de
dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse
público;

A questão chegou até o STF que respondeu ao seguinte questionamento: essa lei é
constitucional? SIM.

Lei estadual não tratou sobre direito penal: A Lei do Estado do Rio Grande do Sul não tratou
sobre matéria penal. A Lei 11.915/03, do RS, instituiu o Código Estadual de Proteção aos
Animais, ou seja, um diploma que estabelece regras de proteção à fauna, define conceitos e
afasta a prática de determinadas condutas. Não há, portanto, nenhuma matéria criminal
envolvida, razão pela qual não houve usurpação de competência da União. O § único do
art. 2º da Lei prevê uma hipótese de exclusão de responsabilidade administrativa na
hipótese de abate de animais em cultos religiosos, que em nada se relaciona com a
excludente de ilicitude penal. Em nenhum momento a lei estadual fala em crime ou na sua
exclusão.

Lei estadual não violou competência da União para editar normas gerais de proteção ao
meio ambiente: A competência para legislar sobre proteção da fauna e do meio ambiente em
geral é concorrente, estando dividida entre a União, Estados, DF e Municípios (art. 24, VI c/c
art. 30, I, da CF/88). Logo, compete à União editar normas gerais sobre o tema, cabendo ao
Estado suplementar essa legislação federal (art. 22, § 2º). Vale ressaltar que a norma editada
pelo Estado não contraria aquilo que está previsto nas normas gerais da União, sob pena de
ser inconstitucional. No caso concreto, o STF considerou que o art. 2º, § único, da Lei gaúcha
não ofendeu a competência da União para editar normas gerais de proteção do meio
ambiente. Isso porque não existe lei federal tratando sobre o sacrifício de animais com
finalidade religiosa. Logo, a lei estadual, ao tratar sobre o tema, não infringiu normas gerais
da União. A Lei de Crimes Ambientais (Lei federal 9.605/98) foi editada para tutelar a fauna
silvestre, especialmente em atividades de caça. Ela não tratou, nem mesmo indiretamente,
sobre imolação de animais em custos religiosos. Logo, percebe-se uma omissão da União
em editar normas gerais sobre esse tema específico (sacrifício de animais em rituais
religiosos). A omissão da União na edição de normas gerais faz com que o Estado-membro
tenha liberdade para estabelecer regras a respeito, observado o § 3º do art. 24 da CF/88:
Art. 24 (...)
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a
competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.

Vale ressaltar que, apesar de não ter força de lei ordinária, o Ministério da Agricultura
possui a Instrução Normativa nº 3, de 17/01/2000, que regulamenta os métodos de
insensibilização para o abate humanitário de animais de açougue. Em seu artigo 11.3, o
regulamento expressamente prevê que “é facultado o sacrifício de animais de acordo com
preceitos religiosos, desde que sejam destinados ao consumo por comunidade religiosa que
os requeria ou ao comércio internacional com países que façam essa exigência, sempre
atendidos os métodos de contenção dos animais.”

Liberdade de culto e de liturgia: A discussão em foco envolve a exegese de normas


fundamentais, estando relacionada com o exercício da liberdade de culto e de liturgia. A
religião desempenha papel importante em vários aspectos da vida da comunidade, tendo
recebido especial proteção do legislador constituinte:
Art. 5º (...)
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre
exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais
de culto e a suas liturgias;

Patrimônio cultural imaterial: A prática e os rituais relacionados ao sacrifício animal são


“patrimônio cultural imaterial”, na forma do disposto no Artigo 2, item 2, alínea “c”, da
Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial da Unesco. Além disso,
como dispõe o texto constitucional, elas constituem os modos de criar, fazer e viver de
diversas comunidades religiosas e se confundem com a própria expressão de sua identidade.
Vale ressaltar que o Estado brasileiro tem o dever de proteger as “manifestações das culturas
populares, indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do processo
civilizatório nacional” (art. 215, § 1º).

Não há violação ao princípio da laicidade: O princípio da laicidade significa dizer que o


Estado brasileiro é laico (secular ou não-confessional), ou seja, não existe nele uma religião
oficial (art. 19, I, da CF/88). Assim, por força deste princípio, o Estado não pode estar
associado a nenhuma religião, nem sob a forma de proteção, nem de perseguição. Há,
portanto, uma separação formal entre Igreja e Estado. O STF entendeu que, ao contrário do
que alegou o MP/RS, a referida lei não viola o princípio da laicidade. A proteção legal às
religiões de matriz africana não representa um privilégio, mas sim um mecanismo de
assegurar a liberdade religiosa, mantida a laicidade do Estado. Desse modo, a lei gaúcha,
na verdade, está de acordo com o princípio da laicidade. Isso porque a laicidade do Estado
proíbe que haja o menosprezo ou a supressão de rituais, especialmente no caso de religiões
minoritárias que poderiam ser subjugadas pelo Estado.

Não há violação ao princípio da igualdade: A CF promete uma sociedade livre de


preconceitos, entre os quais, o religioso. A cultura afro-brasileira merece maior atenção do
Estado, por conta de sua estigmatização, fruto de preconceito estrutural. A proibição do
sacrifício de animais em seus cultos negaria a própria essência da pluralidade cultural,
com a consequente imposição de determinada visão de mundo. Ao se conferir uma proteção
aos cultos de religiões historicamente estigmatizadas, o legislador não ofende o princípio
da igualdade. Ao contrário, materializa esse princípio diante do preconceito histórico
sofrido.

Não há violação ao art. 225 da CF/88: O legislador, ao admitir a prática de imolação


(sacrifício), não violou o dever constitucional de amparo aos animais, estampado no art.
225, § 1º, VII, da CF/88:
Art. 225 (...)
§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: (...)
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou
submetam os animais a crueldade.

Isso porque se deve evitar que a tutela de um valor constitucional relevante (meio
ambiente) aniquile o exercício de um direito fundamental (liberdade de culto), revelando-se
desproporcional impedir todo e qualquer sacrifício religioso quando diariamente a
população consome carnes de várias espécies. Além disso, deve-se reforçar o argumento de
que os animais sacrificados nestes cultos são abatidos de forma rápida, mediante degola, de
sorte que a realização dos rituais religiosos com estes animais não se amolda ao art. 225, §
1º, VII, que proíbe práticas cruéis com animais.

1.7. DIREITOS SOCIAIS: É indispensável o registro do sindicato no Ministério do


Trabalho para poder ingressar em juízo na defesa de seus filiados – (Info 931)

A legitimidade dos sindicatos para representação de determinada categoria depende do


devido registro no Ministério do Trabalho em obediência ao princípio constitucional da
unicidade sindical (art. 8º, II, da CF/88).
STF. 1ª Turma. RE 740434 AgR/MA, Rel. Min. Luiz Fux, j. 19/2/2019 (Info 931)
OBS: Os sindicatos podem fazer a defesa dos direitos e interesses individuais ou coletivos da
categoria, conforme prevê o art. 8º, III, da CF/88. No entanto, para que os sindicatos possam
fazer isso, eles precisam ser registrados no Ministério do Trabalho. O registro sindical é o ato
que habilita as entidades sindicais para a representação de determinada categoria.

Por que fazer essa exigência? Qual a razão disso? A exigência desse registro é para garantir o
respeito ao princípio da unicidade sindical, adotado pela CF/88, em seu art. 8º, II, segundo
o qual é proibida a criação de mais de um sindicato na mesma base territorial. Assim, o
Ministério do Trabalho controla para que não exista mais de um sindicato, da mesma
categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial. Nesse sentido:
Súmula 677-STF: Até que lei venha a dispor a respeito, incumbe ao Ministério
do Trabalho proceder ao registro das entidades sindicais e zelar pela
observância do princípio da unicidade.

Vale ressaltar que o objetivo do registro do sindicato no Ministério do Trabalho não é o de


controlar o funcionamento da entidade sindical, que goza de liberdade, nos termos do art. 8º,
I:
Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:
I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato,
ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao Poder Público a
interferência e a intervenção na organização sindical;

O propósito é unicamente garantir que seja respeitado o princípio da unicidade sindical.


Desse modo, mesmo que o sindicato seja registrado no cartório (serventia extrajudicial), ele
só passa a ter existência legal e somente pode representar os trabalhadores após o registro
no Ministério do Trabalho. Esse é o entendimento consolidado no STF há muitos anos:
(...) 1. Incumbe ao sindicato comprovar que possui registro sindical junto ao
Ministério do Trabalho e Emprego, instrumento indispensável para a
fiscalização do postulado da unicidade sindical. 2. O registro sindical é o ato
que habilita as entidades sindicais para a representação de determinada
categoria, tendo em vista a necessidade de observância do postulado da
unicidade sindical. 3. O postulado da unicidade sindical, devidamente previsto
no art. 8º, II, da CF/88, é a mais importante das limitações constitucionais à
liberdade sindical. (...) STF. Plenário. Rcl 4990 AgR, Rel. Min. Ellen Gracie, j.
4/03/2009.

É também a posição do STJ:


É indispensável o registro do Sindicato no Ministério do Trabalho e Emprego
(MTE) para ingresso em juízo na defesa de seus filiados. STJ. 2ª Turma. AgRg
no AREsp 608.253/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, j. 20/4/17.

1.8. DIREITOS SOCIAIS: Não há vedação para a fixação de piso salarial em múltiplos do
salário mínimo, desde que inexistam reajustes automáticos – (Info 929)
Não há vedação para a fixação de piso salarial em múltiplos do salário mínimo, desde que
inexistam reajustes automáticos. Isso não configura afronta ao art. 7º, IV, da CF/88 nem à
SV 4.
STF. 1ª Turma. RE 1077813 AgR/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 5/2/19 (Info 929).
STF. 2ª Turma. ARE 1110094 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 29/6/18.

No mesmo sentido é a OJ 71, da SBDI-2 do TST: “A estipulação do salário profissional em


múltiplos do salário mínimo não afronta o art. 7º, inciso IV, da Constituição Federal de
1988, só incorrendo em vulneração do referido preceito constitucional a fixação de
correção automática do salário pelo reajuste do salário mínimo.”
OBS:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social: (...)
IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender a
suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação,
educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com
reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua
vinculação para qualquer fim;

Súmula vinculante 4: Salvo os casos previstos na Constituição, o salário mínimo


não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor
público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial.

Como a decisão da Justiça do Trabalho determina que a atualização salarial ficará vinculada
aos termos do que foi definido em acordo ou convenção coletiva, ela não afronta o art. 7º,
IV, da CF/88 e a SV 4, considerando que não utiliza o salário mínimo como “indexador de
base de cálculo de vantagem”, cuja prática é vedada pela SV nº 4.

Em suma, não viola o art. 7º, IV, da CF/88 o estabelecimento de piso salarial em múltiplos
do salário mínimo do valor à época da contratação, desde que o mesmo não seja indexador
para reajustes futuros:
(...) A decisão que aplica o piso salarial estabelecido no art. 5º da Lei 4.950/66,
mas ressalva a vedação de vinculação aos futuros aumentos do salário mínimo,
está em consonância com o enunciado da Súmula Vinculante 4 e com a decisão
proferida na ADPF 53 MC. (...) STF. 1ª Turma. Rcl 19130 AgR, Rel. Min. Luiz
Fux, julgado em 03/03/2015.

1.9. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: Violam a CF/88 os atos de busca e apreensão de


materiais de cunho eleitoral e a suspensão de atividades de divulgação de ideias em
universidades públicas e privadas – (Info 922)

São inconstitucionais os atos judiciais ou administrativos que determinem ou promovam:


• o ingresso de agentes públicos em universidades públicas e privadas;
• o recolhimento de documentos (ex: panfletos);
• a interrupção de aulas, debates ou manifestações de docentes e discentes universitários;
• a realização de atividade disciplinar docente e discente e a coleta irregular de
depoimentos desses cidadãos pela prática de manifestação livre de ideias e divulgação do
pensamento nos ambientes universitários ou em equipamentos sob a administração de
universidades públicas e privadas.
STF. Plenário. ADPF 548 MC-Ref/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 31/10/18 (Info 922).
OBS:
Buscas e apreensões realizadas em universidades: Durante o segundo turno das eleições
presidenciais de 2018 houve “denúncias” de que, em algumas universidades públicas,
professores e alunos estariam fazendo campanha eleitoral contra o então candidato Jair
Bolsonaro. Diante disso, alguns juízes e TRE’s proferiram decisões determinando busca e
apreensão de supostos panfletos e materiais que estariam sendo distribuídos em tais
instituições e que representariam campanha eleitoral, o que seria vedado por se tratar de uma
entidade pública. Tais panfletos conteriam a frase “Ele Não” e outras mensagens contra o
referido candidato. Em algumas outras universidades, os materiais foram retirados por
iniciativa da própria Polícia, sem que houvesse ordem judicial. Três exemplos:
 Na Universidade Federal de Uberlândia – UFU, policiais militares retiraram uma faixa
com propaganda eleitoral colocada do lado externo de uma das portarias do campus.
 Na Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ, policiais retiraram faixas em
homenagem à vereadora Marielle Franco e com as inscrições “Direito Uerj
Antifascismo”.
 Na Universidade do Estado da Bahia – UNEB, foram retirados cartazes supostamente
de apoio ao candidato Fernando Haddad.

Segundo restou apurado, atos de manifestação de pensamento e mesmo aulas teriam sido
interrompidos ou proibidos.

Art. 37 da Lei 9504/97: Os juízes e TRE’s deferiram essas ordens de busca e apreensão
alegando que o art. 37 da Lei 9.504/97 proíbe propaganda eleitoral em universidades
públicas:
Art. 37. Nos bens cujo uso dependa de cessão ou permissão do poder público,
ou que a ele pertençam, e nos bens de uso comum, inclusive postes de
iluminação pública, sinalização de tráfego, viadutos, passarelas, pontes, paradas
de ônibus e outros equipamentos urbanos, é vedada a veiculação de
propaganda de qualquer natureza, inclusive pichação, inscrição a tinta e
exposição de placas, estandartes, faixas, cavaletes, bonecos e assemelhados.
§ 1º A veiculação de propaganda em desacordo com o disposto no caput deste
artigo sujeita o responsável, após a notificação e comprovação, à restauração do
bem e, caso não cumprida no prazo, a multa no valor de R$ 2.000,00 (dois mil
reais) a R$ 8.000,00 (oito mil reais).
§ 2º Não é permitida a veiculação de material de propaganda eleitoral em bens
públicos ou particulares, exceto de:
I - bandeiras ao longo de vias públicas, desde que móveis e que não dificultem o
bom andamento do trânsito de pessoas e veículos;
II - adesivo plástico em automóveis, caminhões, bicicletas, motocicletas e janelas
residenciais, desde que não exceda a 0,5 m² (meio metro quadrado). (...)

ADPF: A PGR ajuizou ADPF contra esse conjunto de atos do Poder Público (decisões
judiciais e ações policiais). Alegou que tais apreensões ultrapassaram os limites de
fiscalização do processo eleitoral e afrontaram o preceito fundamental da liberdade de
expressão, na qual se incluem a livre manifestação do pensamento e de cátedra e a
autonomia universitária.

A liberdade de cátedra (também chamada de liberdade acadêmica) é um princípio segundo


o qual o professor deve ter a liberdade de pesquisar e ensinar, ou seja, divulgar seu
pensamento, arte e saber. Por outro lado, o aluno tem também a liberdade de aprender e
pesquisar, sem a imposição de censuras. A liberdade de cátedra está prevista nos incisos II e
III do art. 206 da CF/88:
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: (...)
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e
o saber;
III - pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas, e coexistência de
instituições públicas e privadas de ensino;

A autonomia universitária, por sua vez, está consagrada no caput do art. 207 CF/88:
Art. 207. As universidades gozam de autonomia didático-científica,
administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio
de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

Pediu, portanto, a declaração de nulidade desses atos e que fosse garantido o direito à
liberdade de expressão no ambiente universitário.

Primeira pergunta: cabe ADPF neste caso? SIM. A arguição de descumprimento de preceito
fundamental é uma ação prevista no art. 102, § 1º, da CF/88:
CF/Art. 102 (...)
§ 1º A arguição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta
Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei.
Foi editada a Lei 9.882/99 para regulamentar a ADPF. Trata-se de um instrumento de
controle concentrado de constitucionalidade. A competência para julgar a ADPF de que
trata o art. 102, § 1º da CF/88 é do STF. As hipóteses de cabimento da ADPF estão previstas
no art. 1º da Lei nº 9.882/99:
Art. 1º A arguição prevista no § 1º do art. 102 da Constituição Federal será
proposta perante o Supremo Tribunal Federal, e terá por objeto evitar ou
reparar lesão a preceito fundamental, resultante de ato do Poder Público.
Parágrafo único. Caberá também arguição de descumprimento de preceito
fundamental:
I - quando for relevante o fundamento da controvérsia constitucional sobre lei
ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à
Constituição;

O STF entende que:


O conjunto de reiteradas decisões sobre determinada matéria é considerado
ato do poder público passível de controle pela ADPF e esta é a via correta para
questionar interpretação judicial de normas constitucionais e legais. STF.
Plenário. ADPF 548 MC-Ref/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 31/10/18 (Info 922).

E quanto ao mérito, o STF concordou com o pedido da PGR? SIM. Os atos questionados
violam:
 Os princípios constitucionais que asseguram a liberdade de manifestação do
pensamento e
 As garantias inerentes à autonomia universitária.

Subjetivismo e erro de interpretação: Para o STF, as decisões proferidas apresentam-se com


alto grau de “subjetivismo”, incompatível com a objetividade e neutralidade que devem
permear a função judicante. Além disso, tais atos demonstram erro de interpretação de lei,
conduzindo a uma interpretação contrária ao Estado democrático de direito.

Liberdades públicas e processo eleitoral democrático: O processo eleitoral, no Estado


democrático, fundamenta-se nos princípios:
 Da liberdade de manifestação do pensamento;
 Da liberdade de informação;
 Da liberdade de ensino e aprendizagem;
 Da liberdade de escolhas políticas; e
 Da autonomia universitária.

As decisões impugnadas interromperam atos pelos quais professores e alunos expressavam


suas ideias e ideologias, preferências, propostas e percepções do que se quer no processo
político.

Sem liberdade de manifestação, a escolha é inexistente. O processo eleitoral transforma-se


em enquadramento eleitoral, próprio das ditaduras.

Por isso, toda interpretação de norma jurídica que colida com qualquer daqueles
princípios ou que restrinja ou impeça a manifestação da liberdade é inconstitucional e,
portanto, inválida.

Essa nulidade é ainda mais grave porque a restrição à liberdade de manifestação ocorreu
dentro do ambiente universitário, onde vigora, por força constitucional, a liberdade de
informação, ensino e aprendizagem, além da autonomia universitária.

Finalidade do art. 37 da Lei 9.504/97: A finalidade desta norma é impedir o abuso do poder
econômico e político e preservar a igualdade entre os candidatos no processo. A norma
visa, portanto, resguardar a liberdade do cidadão, o amplo acesso às informações, para que
ele decida conforme sua livre convicção, sem cerceamento direto ou indireto a seu direito
de escolha. Assim, esse artigo não proíbe o exercício das liberdades individuais e públicas,
ou seja, não veda que os cidadãos divulguem suas ideias, opiniões, ideologias. Da mesma
forma, não proíbe as atividades de docência, que devem ser exercidas com liberdade.
Autonomia universitária: A CF/88 assegurou às universidade autonomia para que elas, de
forma discricionária, possam fazer suas escolhas para o melhor desempenho de suas
funções. O pluralismo de ideias está na base da autonomia universitária como extensão do
princípio fundante da democracia brasileira, previsto no art. 1º, V, da CF/88. As
universidades são, portanto, “espaços de liberdade e de libertação pessoal e política”.

1.10. DIREITO À EDUCAÇÃO: Colégios Militares do Exército podem cobrar mensalidade


dos seus alunos – (Info 921)

Não viola a Constituição Federal a cobrança de contribuição obrigatória dos alunos


matriculados nos Colégios Militares do Exército Brasileiro.
Os Colégios Militares apresentam peculiaridades que fazem com que eles sejam
instituições diferentes dos estabelecimentos oficiais de ensino, por razões éticas, fiscais,
legais e institucionais.
Podem, assim, ser qualificados como instituições educacionais sui generis.
A quota mensal escolar exigida nos Colégios Militares não representa ofensa à regra
constitucional de gratuidade do ensino público, uma vez que não há violação concreta ou
potencial ao núcleo de intangibilidade do direito fundamental à educação.
Por fim, deve-se esclarecer que esse valor cobrado dos alunos para o custeio das
atividades do Sistema Colégio Militar do Brasil não possui natureza tributária (não é
tributo). Logo, é válida a sua instituição por meio de atos infralegais.
Portanto, são válidos os arts. 82 e 83, da Portaria 42/2008 do Comandante do Exército, que
disciplinam essa cobrança.
STF. Plenário. ADI 5082/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 24/10/18 (Info 921).
OBS: “Essas escolas militares não se sujeitam à gratuidade, uma vez que não se encontram os
colégios militares inseridos no sistema da rede pública de ensino e não participam daquela
distribuição de recursos públicos destinados à educação.” (Min. Ricardo Lewandowski).

Valor cobrado não é tributo; logo, não há violação ao princípio da legalidade tributária: A
quota mensal escolar cobrada dos alunos para o custeio das atividades do Sistema Colégio
Militar do Brasil não possui natureza tributária. Não se trata de tributo porque o ingresso
no Sistema de Ensino do Exército é facultativo e baseado em critérios meritocráticos.
Assim, o vínculo jurídico do aluno com a instituição possui natureza contratual, de forma
que o valor pago por ele não é tributo. Vale a pena relembrar que o conceito de tributo,
previsto no art. 3º do CTN, exige compulsoriedade e, portanto, exclui de sua abrangência os
valores pagos a título de contrato (ajuste de vontades):
Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo
valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída
em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada.

Uma pergunta: existem alguns colégios militares da Polícia Militar, ou seja, colégios
estaduais mantidos e organizados pela Polícia Militar. É válida a cobrança de mensalidade
ou de outros valores por parte desses colégios? O STF não enfrentou este tema nesta ADI
5082/DF. Os Ministérios Públicos, em âmbito estadual, questionam essa cobrança alegando
que ela violaria o princípio da gratuidade. Veremos como os Tribunais irão interpretar o
tema agora com essa decisão do STF. Será necessário analisar o caso concreto para saber se
esses colégios da Polícia Militar gozam das mesmas características dos Colégios Militares do
Exército, inclusive quanto à questão orçamentária.

1.11. DIREITOS POLÍTICOS: A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos pelo


mesmo núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que um dos mandatos tenha sido
para suceder o eleito que foi cassado – (Info 921)

Ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à


conclusão de que a intenção do poder constituinte foi a de proibir que pessoas do mesmo
núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder
Executivo.
Em outras palavras, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse três
mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente.
A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo núcleo
familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a convocação do segundo
colocado nas eleições para o exercício de mandato-tampão.
Ex: de 2010 a 2012, o Prefeito da cidade era Auricélio. Era o primeiro mandato de
Auricélio. Seis meses antes das eleições, Auricélio renunciou ao cargo. Em 2012, Hélio
(cunhado de Auricélio) vence a eleição para Prefeito da mesma cidade. De 2013 a 2016,
Hélio cumpre o mandato de Prefeito. Em 2016, Hélio não poderá se candidatar à reeleição
ao cargo de Prefeito porque seria o terceiro mandato consecutivo deste núcleo familiar.
STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, j. 23/10/18 (Info 921).
OBS: O motivo da inelegibilidade seria a aplicação combinada dos §§ 5º e 7º do art. 14, CF:
Art. 14 (...)
§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito
Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos
mandatos poderão ser reeleitos para um único período subsequente. (...)
§ 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes
consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da
República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de
Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao
pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.

A jurisprudência, ao interpretar esses dois parágrafos, afirma que o cônjuge ou parente do


chefe do Poder Executivo (ex: cônjuge ou parente do Prefeito) só poderá concorrer para o
mesmo cargo de chefe do Executivo (ex: só poderá concorrer ao cargo de Prefeito) se forem
cumpridos dois requisitos:
1) o cônjuge ou parente só pode se candidatar a sucessão do titular quando este
for reelegível: Ex: o parente do Prefeito quer concorrer à Prefeitura; esse parente
só poderá concorrer se não houver nenhum impedimento para que o próprio
Prefeito concorra; em outras palavras, o Prefeito poderá se candidatar à
reeleição, mas escolheu não fazer isso; neste caso, seu parente poderá concorrer.
Assim, se já era o segundo mandato consecutivo do Prefeito, por exemplo, seu
parente não poderá concorrer; isso porque o próprio Prefeito não poderia
participar novamente da eleição.

2) o titular deverá se afastar do mandato seis meses antes das eleições: Ex:
Auricélio era Prefeito e renunciou ao cargo seis meses antes das eleições a fim
de permitir que seu cunhado Hélio (que é parente por afinidade em segundo
grau) fosse candidato ao mesmo cargo.

Terceiro mandato no mesmo núcleo familiar: O TSE considerou que, se fosse permitido que
Hélio continuasse no cargo de Prefeito e exercesse o mandato de 2017 a 2020, isso significaria
o terceiro mandato consecutivo do mesmo núcleo familiar para o mesmo cargo. Para o TSE,
ao se fazer uma interpretação conjugada dos §§ 5º e 7º do art. 14 da CF/88 chega-se à
conclusão sobre qual foi a intenção do legislador constituinte: proibir que pessoas do mesmo
núcleo familiar ocupem três mandatos consecutivos para o mesmo cargo no Poder
Executivo. Em outros termos, a CF/88 quis proibir que o mesmo núcleo familiar ocupasse
três mandatos consecutivos de Prefeito, de Governador ou de Presidente. Quando Hélio foi
eleito em 2012 e passou a exercer o mandato em 2013, este foi o segundo mandato
consecutivo de Prefeito daquele grupo familiar. Mesmo sendo uma outra pessoa, é como se
fosse a reeleição de Auricélio. O mandato de 2013-2016 desempenhado por Hélio é como se
fosse o segundo mandato de Auricélio. Logo, já chega. Não pode um terceiro consecutivo.

Obs1: quando falamos em “núcleo familiar” aqui estamos nos referindo ao cônjuge e aos
parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção (art. 14, § 7º).

Obs2: a causa de inelegibilidade prevista no art. 14, § 7º da CF/88 abrange o


cunhado/cunhada do chefe do Poder Executivo (STF. Plenário. RE 171061, Rel. Min.
Francisco Rezek, julgado em 02/03/1994).

Situação de Hélio foi parecida com o caso Garotinho e Rosinha: A situação acima exposta foi
semelhante ao que aconteceu no Governo do RJ envolvendo Anthony Garotinho e sua esposa
Rosinha. Em 1998, Garotinho foi eleito Governador do RJ. No final do seu 1º mandato (em
2002), ele renunciou ao cargo para se desincompatibilizar e concorrer à Presidência da
República. Sua esposa, Rosinha, candidatou-se ao cargo de Governador na eleição de 2002,
tendo sido eleita. O TSE considerou que Rosinha poderia concorrer e assumir o cargo porque
seu marido havia renunciado e ainda estava no 1º mandato. A lógica utilizada pelo TSE foi a
seguinte: ora, se o próprio Garotinho poderia concorrer novamente ao cargo de Governador,
não haveria sentido em se negar à sua esposa o direito de disputar a eleição. Vale ressaltar,
no entanto, que ao ganhar a eleição, é como se Rosinha estivesse exercendo o 2º mandato
consecutivo. Logo, em 2006, ele não pode concorrer novamente ao Governo. Em suma, este
núcleo familiar foi eleito Governador em 1998 e reeleito em 2002, não podendo figurar em
um terceiro mandato consecutivo.

Recurso extraordinário e mandato-tampão: A defesa de Hélio não se conformou com a


decisão do TSE e recorreu ao STF. No recurso, Hélio argumentou o seguinte: eu sei que a
jurisprudência não permite três mandatos consecutivos para o mesmo cargo do Poder
Executivo. No entanto, no caso concreto existe uma peculiaridade: o meu cunhado
Auricélio, nas eleições municipais de 2008, foi o 2º colocado no pleito. Quem ganhou e
assumiu a Prefeitura de Guamaré (RN) foi outro político, o Mozaniel. Ocorre que o
mandato de Mozaniel foi cassado e a Justiça Eleitoral determinou que o 2º colocado (meu
cunhado Auricélio) assumisse para um mandato-tampão (de 2010 a 2012). Isso significa que
o meu cunhado não exerceu um mandato completo. Sendo apenas um mandato-tampão,
não se pode querer aplicar esse entendimento jurisprudencial que veda três mandatos
consecutivos.

O STF concordou com o argumento de Hélio? A proibição de que um mesmo núcleo familiar
exerça três mandatos consecutivos deve ser afastada se um desses mandatos é apenas um
mandato-tampão? NÃO. O STF concordou com a decisão do TSE e afirmou que a proibição
de que um mesmo núcleo familiar exerça três mandatos consecutivos existe ainda que um
desses mandatos seja apenas mandato-tampão:
A vedação ao exercício de três mandatos consecutivos de prefeito pelo mesmo
núcleo familiar aplica-se também na hipótese em que tenha havido a
convocação do segundo colocado nas eleições para o exercício de mandato-
tampão. STF. 2ª Turma. RE 1128439/RN, Rel. Min. Celso de Mello, j. 23/10/18
(Info 921).

1.12. DIREITO À EDUCAÇÃO: Lei estadual tratando sobre livre organização de entidades
estudantis – (Info 920)

É constitucional lei estadual que:


• assegure, nos estabelecimentos de ensino superior estadual e municipal, a livre
organização dos Centros Acadêmicos, Diretórios Acadêmicos e Diretórios Centrais dos
Estudantes.
• estabeleça que é de competência exclusiva dos estudantes a definição das formas, dos
critérios, dos estatutos e demais questões referentes à organização dos Centros
Acadêmicos, Diretórios Acadêmicos e Diretórios Centrais dos Estudantes.
• determine que os estabelecimentos de ensino deverão garantir espaços, em suas
dependências, para a divulgação e instalações para os Centros Acadêmicos, Diretórios
Acadêmicos e Diretórios Centrais Estudantis.
Vale ressaltar, no entanto, que esta lei não se aplica para as instituições federais e
particulares de ensino superior considerando que elas integram o “sistema federal”, de
competência da União.
Deve-se acrescentar, por fim, que é inconstitucional que essa lei estadual preveja multa
para as entidades particulares de ensino em caso de descumprimento das medidas acima
listadas.
STF. Plenário. ADI 3757/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 17/10/18 (Info 920).

1.13. DIREITOS SOCIAIS: É garantida a estabilidade à empregada gestante mesmo que no


momento em que ela tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez
– (Info 919) – IMPORTANTE!!! REPERCUSSÃO GERAL!!!

A incidência da estabilidade prevista no art. 10, II, do ADCT somente exige a


anterioridade da gravidez à dispensa sem justa causa.
Art. 10. (...) II - fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa: (...) da empregada
gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.
O único requisito exigido é de natureza biológica. Exige-se apenas a comprovação de que
a gravidez tenha ocorrido antes da dispensa arbitrária, não sendo necessários quaisquer
outros requisitos, como o prévio conhecimento do empregador ou da própria gestante.
Assim, é possível assegurar a estabilidade à gestante mesmo que no momento em que ela
tenha sido demitida pelo empregador ele não soubesse de sua gravidez.
STF. Plenário. RE 629053/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 10/10/18 (repercussão geral) (Info 919).

1.14. HOMESCHOOLING: Não é possível, atualmente, o homeschooling no Brasil – (Info


915) – IMPORTANTE!!! REPERCUSSÃO GERAL!!!

Não é possível, atualmente, o ensino domiciliar (homeschooling) como meio lícito de


cumprimento, pela família, do dever de prover educação.
Não há, na CF/88, uma vedação absoluta ao ensino domiciliar. A CF/88, apesar de não o
prever expressamente, não proíbe o ensino domiciliar.
No entanto, o ensino domiciliar não pode ser atualmente exercido porque não há
legislação que regulamente os preceitos e as regras aplicáveis a essa modalidade de
ensino.
Assim, o ensino domiciliar somente pode ser implementado no Brasil após uma
regulamentação por meio de lei na qual sejam previstos mecanismos de avaliação e
fiscalização, devendo essa lei respeitar os mandamentos constitucionais que tratam sobre
educação, especialmente o art. 208, § 3º, da CF/88.
STF. Plenário. RE 888815/RS, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o acórdão Min.
Alexandre de Moraes, j. 12/9/18 (repercussão geral) (Info 915).
OBS:
Art. 208 (...)
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental,
fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à
escola.

Nesse sentido, é necessário que a lei que venha a regulamentar o ensino domiciliar prescreva,
dentre outros pontos, o que será essa “frequência”.

Desse modo, para o STF, o homeschooling (o ensino domiciliar utilitarista ou por


conveniência circunstancial), atualmente, não é permitido por falta de regulamentação
legal. No entanto, como a CF/88 não o proíbe, é possível que o Congresso Nacional edite
uma lei disciplinando o tema, respeitados os dispositivos constitucionais relacionados com a
educação.

E se, atualmente, os pais adotarem o “homeschooling”, o que pode acontecer? Tais pais ou
responsáveis poderão ser responsabilizados civil e até mesmo criminalmente. Isso porque
o ordenamento jurídico, atualmente, obriga que os pais matriculem seus filhos menores nas
escolas de educação formal. Veja:
Código Civil
Art. 1.634. Compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal,
o pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos:
I – dirigir-lhes a criação e a educação;

Lei nº 8.096/90 (ECA)


Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos
menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer
cumprir as determinações judiciais. (...)

Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou


pupilos na rede regular de ensino. (...)

Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino fundamental comunicarão


ao Conselho Tutelar os casos de:
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar, esgotados os recursos
escolares; (...)
Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável:
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar sua freqüência e
aproveitamento escolar; (...)

Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres inerentes ao poder


familiar ou decorrente de tutela ou guarda, bem assim determinação da
autoridade judiciária ou Conselho Tutelar:
Pena - multa de três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em caso
de reincidência.

Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação)


Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na
educação básica a partir dos 4 (quatro) anos de idade.

Como o homeschooling atualmente não é permitido, há quem defenda que os pais que o
praticam cometem o crime de abandono intelectual, tipificado no art. 246 do Código Penal:
Abandono intelectual
Art. 246 - Deixar, sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em
idade escolar:
Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa.

Para Damásio de Jesus, não há crime: Educação domiciliar constitui crime? Jornal Carta
Forense, 1º abr. 2010. Por outro lado, Cleber Masson entende que o homeschooling, enquanto
não houver disciplina legal sobre o assunto, configura o delito do art. 246 do CP (Direito
Penal. São Paulo: Método, 2018, p. 215).

1.15. EDUCAÇÃO: Constitucionalidade das idades mínimas para ingresso na educação


infantil e no ensino fundamental – (Info 909)

São constitucionais a exigência de idade mínima de quatro e seis anos para ingresso,
respectivamente, na educação infantil e no ensino fundamental, bem como a fixação da
data limite de 31 de março para que referidas idades estejam completas.
STF. Plenário. ADPF 292/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 1º/8/2018 (Info 909).

É constitucional a exigência de 6 (seis) anos de idade para o ingresso no ensino


fundamental, cabendo ao Ministério da Educação a definição do momento em que o aluno
deverá preencher o critério etário.
STF. Plenário. ADC 17/DF, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, j.
1º/8/18 (Info 909).

OBS: O STJ também possui o entendimento de que tais Resoluções são válidas:
As Resoluções nº 01/2010 e nº 06/2010, ambas emanadas da Câmara de Educação Básica do
Conselho Nacional de Educação (CNE/CEB), ao estabelecerem corte etário para ingresso
de crianças na primeira série do ensino fundamental (6 anos completos até 31 de março do
correspondente ano letivo), não incorreram em contexto de ilegalidade (não violaram a
lei). Ao contrário, tais Resoluções encontram respaldo na interpretação conjunta dos arts.
29 e 32 da Lei nº 9.394/96 (LDB).
O Poder Judiciário não pode substituir-se às autoridades públicas de educação para fixar
ou suprimir requisitos para o ingresso de crianças no ensino fundamental, quando os atos
normativos de regência não revelem traços de ilegalidade, abusividade ou ilegitimidade.
STJ. 1ª Turma. REsp 1412704/PE, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 16/12/2014.

1.16. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: Cabe reclamação contra decisão judicial que


determina retirada de matéria jornalística de blog – (Info 905) – IMPORTANTE!!! – (PGEPA-
2011)

Uma decisão judicial determinou a retirada de matéria de “blog” jornalístico, bem como a
proibição de novas publicações, por haver considerado a notícia ofensiva à honra de
delegado da polícia federal.
Essa decisão afronta o que o STF decidiu na ADPF 130/DF, que julgou não recepcionada a
Lei de Imprensa.
A ADPF 130/DF pode ser utilizada como parâmetro para ajuizamento de reclamação que
verse sobre conflito entre a liberdade de expressão e de informação e a tutela das garantias
individuais relativas aos direitos de personalidade.
A determinação de retirada de matéria jornalística afronta a liberdade de expressão e de
informação, além de constituir censura prévia. Essas liberdades ostentam preferência em
relação ao direito à intimidade, ainda que a matéria tenha sido redigida em tom crítico.
O STF assumiu, mediante reclamação, papel relevante em favor da liberdade de
expressão, para derrotar uma cultura censória e autoritária que começava a se projetar no
Judiciário.
STF. 1ª Turma. Rcl 28747/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ ac. Min. Luiz Fux, j.
5/6/18 (Info 905).
Sobre o mesmo tema: STF. 1ª Turma. Rcl 22328/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
6/3/2018 (Info 893).
OBS:
A situação concreta foi a seguinte: Determinado blog publicou matéria jornalística criticando
vazamentos de informações na “Operação Lava-Jato” e os atribuindo a uma Delegada e a
membros do MPF que atuam na força tarefa. A referida Delegada ajuizou ação de
indenização por danos morais acusando o jornalista responsável pelo blog de ter veiculado
matérias jornalísticas supostamente atentatórias a sua honra. A autora, além de requerer
reparação pecuniária pelas alegadas ofensas, postulou, em sede de tutela de urgência, a
retirada das matérias publicadas do blog do jornalista, bem como a proibição de que ele
divulgasse novas matérias acerca de sua atuação na “Operação Lava-Jato”. O juízo do 8ª
Juizado Especial Cível de Curitiba (PR) concedeu liminar determinando a retirada da matéria
jornalística veiculada no blog, sob pena de multa diária. Diante disso, o jornalista ingressou
com reclamação no STF alegando que o magistrado, ao assim agir, teria violado a autoridade
do que decidiu o Tribunal na ADPF 130, que entendeu que a Lei de Imprensa (Lei
5.250/1967) não foi recepcionada pela Constituição de 1988.

A reclamação foi acolhida pelo STF (foi julgada procedente)? SIM. A 1ª Turma do STF julgou
procedente a reclamação. Em matéria de liberdade de expressão, o STF tem aceitado julgar
reclamações mesmo que não tenham correlação direta com o julgado no caso paradigma. A
decisão representa afronta ao julgado na ADPF 130, pois não ficou claro que o intuito do
jornalista tenha sido o de ofender a honra da delegada mediante a divulgação de notícia
sabidamente falsa contra sua honra, mas sim apontar a existência de vazamentos de
informações na Operação Lava-Jato e, para tanto, identificou supostas fontes. A
jurisprudência do STF é no sentido de que deve haver uma maior tolerância quanto às
matérias de cunho potencialmente lesivo à honra de agentes públicos, especialmente
quando existente interesse público, como considera ser o caso do conteúdo das matérias
jornalísticas excluídas do blog. A retirada de matéria divulgada em blog jornalístico exige
uma caracterização inequívoca de comportamento doloso contra alguém. No caso concreto,
houve apenas a divulgação de matéria com críticas à Lava-Jato.

Como já foi cobrado em concursos:


 “Na ADPF 130, o STF, por maioria, julgou pela total procedência da ação para o
efeito de declarar a Lei federal 5.250/67 (“Lei de Imprensa”) como não recepcionada
pela Constituição de 1988, entendendo que na ponderação entre os direitos
fundamentais que dão conteúdo à liberdade de imprensa e o bloco dos direitos
fundamentais à imagem, honra, intimidade e vida privada, deve ser dada
precedência aos primeiros; cabendo a incidência a posteriori do segundo bloco para o
efeito de assegurar o direito de resposta e assentar responsabilidades penal, civil e
administrativa”. (Procurador do Estado – PGE/PR- Banca Própria – 2011 – Correto).

1.17. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: É inconstitucional norma que proíbe proselitismo em


rádios comunitárias – (Info 902) – (TRF2-2018) (MPGO-2019)

É inconstitucional o § 1º do art. 4º da Lei nº 9.612/98. Esse dispositivo proíbe, no âmbito


da programação das emissoras de radiodifusão comunitária, a prática de proselitismo, ou
seja, a transmissão de conteúdo tendente a converter pessoas a uma doutrina, sistema,
religião, seita ou ideologia.
O STF entendeu que essa proibição afronta os arts. 5º, IV, VI e IX, e 220, da CF/88.
A liberdade de pensamento inclui o discurso persuasivo, o uso de argumentos críticos, o
consenso e o debate público informado e pressupõe a livre troca de ideias e não apenas a
divulgação de informações.
O art. 220 da CF/88 expressamente consagra a liberdade de expressão sob qualquer forma,
processo ou veículo, hipótese que inclui o serviço de radiodifusão comunitária.
STF. Plenário. ADI 2566/DF, rel. orig. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Edson
Fachin, j. 16/5/2018 (Info 902).
OBS: O art. 4º, § 1º da Lei 9.612/98 proíbe, no âmbito da programação das emissoras de
radiodifusão comunitária, a prática de proselitismo, ou seja, a transmissão de conteúdo
tendente a converter pessoas a uma doutrina, sistema, religião, seita ou ideologia. Vejamos:
Art. 4º (...)
§ 1º É vedado o proselitismo de qualquer natureza na programação das
emissoras de radiodifusão comunitária.

O STF, por maioria, julgou procedente a ADI e declarou a inconstitucionalidade do § 1º do


art. 4º da Lei nº 9.612/98. A norma impugnada viola os art. 5º, IV, VI e IX e o art. 220, da
CF/88:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (...)
IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; (...)
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre
exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais
de culto e a suas liturgias; (...)
IX - é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de
comunicação, independentemente de censura ou licença;
(...)
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação,
sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição,
observado o disposto nesta Constituição.

Além disso, o dispositivo impugnado ofende o art. 134 do Pacto de San Jose da Costa Rica
(Convenção Americana sobre Direitos Humanos), segundo o qual o exercício do direito à
liberdade de pensamento e de expressão não pode estar sujeito a censura prévia, mas a
responsabilidades ulteriores.

A restrição imposta pelo § 1º do art. 4º da Lei nº 9.612/98 ao proselitismo não é compatível


com as liberdades de expressão e de religião.

1.18. SIGILO BANCÁRIO: Dados obtidos com a quebra de sigilo bancário não podem ser
divulgados abertamente em site oficial – (Info 899)

Os dados obtidos por meio da quebra dos sigilos bancário, telefônico e fiscal devem ser
mantidos sob reserva.
Assim, a página do Senado Federal na internet não pode divulgar os dados obtidos por
meio da quebra de sigilo determinada por comissão parlamentar de inquérito (CPI).
STF. Plenário. MS 25940, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 26/4/18 (Info 899).

1.19. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: Cabe reclamação contra decisão judicial que


determina retirada de matéria jornalística de site – (Info 893) – IMPORTANTE!!!

O STF tem sido mais flexível na admissão de reclamação em matéria de liberdade de


expressão, em razão da persistente vulneração desse direito na cultura brasileira, inclusive
por via judicial.
No julgamento da ADPF 130, o STF proibiu enfaticamente a censura de publicações
jornalísticas, bem como tornou excepcional qualquer tipo de intervenção estatal na
divulgação de notícias e de opiniões.
A liberdade de expressão desfruta de uma posição preferencial no Estado democrático
brasileiro, por ser uma pré-condição para o exercício esclarecido dos demais direitos e
liberdades.
A retirada de matéria de circulação configura censura em qualquer hipótese, o que se
admite apenas em situações extremas.
Assim, em regra, a colisão da liberdade de expressão com os direitos da personalidade
deve ser resolvida pela retificação, pelo direito de resposta ou pela reparação civil.
Diante disso, se uma decisão judicial determina que se retire do site de uma revista
determinada matéria jornalística, esta decisão viola a orientação do STF, cabendo
reclamação.
STF. 1ª Turma. Rcl 22328/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 6/3/18 (Info 893).
OBS:
A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: A revista “VEJA RIO” publicou uma
reportagem na sua edição impressa e também no site. João, mencionado na matéria, sentiu-se
ofendido e ajuizou ação pedindo a retirada da reportagem do site, além de indenização por
danos morais. O juiz da vara cível, com base no art. 20 do CC, concedeu a tutela provisória de
urgência determinando que a empresa jornalística retirasse, de seu sítio eletrônico, a matéria
referente ao autor. Vale ressaltar que, na decisão, o juiz afirma expressamente que não está
decidindo com base na Lei de Imprensa. Inconformada, a revista apresentou reclamação no
STF, alegando que a decisão do juiz teria afrontado o entendimento do STF firmado na ADPF
130/DF (DJE de 6.11.09), que declarou a não recepção da chamada “Lei de Imprensa” (Lei
5.250/67) pela CF/88. Argumenta que a decisão reclamada configura censura à atividade de
imprensa, restringe a liberdade de expressão e afronta o direito de acesso à informação.
Afirma, por fim, que a imposição de censura é desarrazoada, considerando que eventuais
danos sofridos poderão ser compensados por meio de indenização.
 
A reclamação foi acolhida pelo STF (foi julgada procedente)? SIM. A 1ª Turma do STF julgou
procedente reclamação.
 
Cabimento de reclamação quando há afronta à liberdade de imprensa: Em regra, o STF é
muito restritivo em aceitar reclamações propostas contra decisões que teriam desrespeitado
acórdãos da Corte. Essa posição do STF está dentro daquilo que se chama de “jurisprudência
defensiva”, ou seja, uma postura interpretativa dos Tribunais Superiores de restringir o
cabimento de recursos e de ações autônomas (como é o caso da reclamação), com o objetivo
de reduzir a quantidade de processos que chegam aos Tribunais. Assim, os Ministros do
STF e do STJ adotam um “rigor” maior na análise dos aspectos formais a fim de limitar os
casos que chegam para análise dos Tribunais. Um exemplo de “jurisprudência defensiva” é
a interpretação consolidada no STF no sentido de que não se deve adotar a teoria da
transcendência dos motivos determinantes. Pela teoria da transcendência dos motivos
determinantes (efeitos irradiantes dos motivos determinantes), a ratio decidendi, ou seja, os
fundamentos determinantes da decisão do STF também teriam efeito vinculante. Ocorre que
o STF não acolhe esta posição e entende que, em regra, as decisões proferidas pelo STF em
controle abstrato de constitucionalidade devem ter eficácia vinculante apenas quanto à parte
dispositiva do julgado. Assim, em regra, não se admite reclamação sob a alegação de que
houve violação dos fundamentos da decisão do STF. Nesse sentido:
(...) a exegese jurisprudencial conferida ao art. 102, I, “l”, da Magna Carta
rechaça o cabimento de reclamação fundada na tese da transcendência dos
motivos determinantes. (...) STF. 1ª Turma. Rcl 22470 AgR, Rel. Min. Rosa
Weber, j. 24/11/17.
 
Como explica o Min. Roberto Barroso, essa recusa em se admitir a transcendência dos
motivos determinantes representa “uma jurisprudência defensiva, destinada a conter a
multiplicação de reclamações, em número que ultrapassaria a capacidade física de
julgamento dos ministros”.
 
Essa linha restritiva, no entanto, tem sido excepcionada em processos relacionados com a
liberdade de expressão ou liberdade de imprensa. Nesses casos, o STF tem proferido
inúmeras decisões admitido reclamações mesmo que a decisão reclamada não esteja baseada
no mesmo ato declarado inconstitucional em sede concentrada. A justificativa para essa
postura mais ampla está no fato de que “a liberdade de expressão ainda não se tornou uma
ideia suficientemente enraizada na cultura do Poder Judiciário de uma maneira geral. Não
sem sobressalto, assiste-se à rotineira providência de juízes e tribunais no sentido de
proibirem ou suspenderem a divulgação de notícias e opiniões, num “ativismo antiliberal”
que precisa ser contido.” (Min. Roberto Barroso). Em suma, o STF possui uma posição
menos rigorosa ao analisar reclamações envolvendo decisões que violem a liberdade de
expressão. Por essa razão, é cabível reclamação contra decisão judicial que determina a
retirada de matéria jornalística da página eletrônica do meio de comunicação mesmo que
esta decisão esteja supostamente baseada no art. 20 do Código Civil, e não na Lei de
Imprensa.
 
A solução de conflitos entre liberdade de imprensa e direitos da personalidade: A censura
consiste na possibilidade de o Estado interferir no conteúdo da manifestação do pensamento.
A censura é proibida pela CF/88 em diversos dispositivos (art. 5º, IV, IX e XIV, bem como art.
220, §§ 1º e 2º). Diante da existência de diversos dispositivos assegurando a liberdade de
expressão, podemos dizer que a CF/88 conferiu uma espécie de “prioridade” para essa
garantia. Assim, embora não haja hierarquia entre direitos fundamentais, a liberdade de
expressão (aqui entendida em sentindo amplo) possui uma posição preferencial (preferred
position) em relação aos demais direitos. Isso significa que o afastamento da liberdade de
expressão é excepcional, e o ônus argumentativo é de quem sustenta o direito oposto. Como
consequência disso, deve-se fazer uma análise muito rigorosa, criteriosa e excepcional de
toda e qualquer medida que tenha por objetivo restringir a liberdade de expressão.
 
Razões pelas quais a liberdade de expressão ocupa lugar privilegiado: O Min. Roberto
Barroso cita 5 motivos principais pelos quais a liberdade de expressão ocupa um lugar
privilegiado tanto no ordenamento jurídico interno como nos documentos internacionais.
São eles:
a) a liberdade de expressão desempenha uma função essencial para a
democracia, ao assegurar um livre fluxo de informações e a formação de um
debate público robusto e irrestrito, condições essenciais para a tomada de
decisões da coletividade e para o autogoverno democrático;
b) a proteção da liberdade de expressão está relacionada com a própria
dignidade humana, ao permitir que indivíduos possam exprimir de forma
desinibida suas ideias, preferências e visões de mundo, bem como terem acesso
às dos demais indivíduos, fatores essenciais ao desenvolvimento da
personalidade, à autonomia e à realização existencial;
c) este direito está diretamente ligado à busca da verdade. Isso porque as ideias
só possam ser consideradas ruins ou incorretas após o confronto com outras
ideias;
d) a liberdade de expressão possui uma função instrumental indispensável ao
gozo de outros direitos fundamentais, como o de participar do debate público, o
de reunir-se, de associar-se, e o de exercer direitos políticos, dentre outros; e
e) a liberdade de expressão é garantia essencial para a preservação da cultura e
da história da sociedade, por se tratar de condição para a criação e o avanço do
conhecimento e para a formação e preservação do patrimônio cultural de uma
nação.
 
Liberdade de expressão não é absoluta: Vale ressaltar que nenhum direito constitucional é
absoluto e, portanto, a liberdade de expressão também não é. A própria Constituição impõe
alguns limites ou qualificações à liberdade de expressão, como por exemplo:
a) vedação do anonimato (art. 5º, IV);
b) direito de resposta (art. 5º, V);
c) restrições à propaganda comercial de tabaco, bebidas alcoólicas, agrotóxicos e
terapias (art. 220, § 4º);
d) classificação indicativa (art. 21, XVI); e
e) dever de respeitar a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas (art. 5º, X).
 
Isso significa que é indispensável que haja uma ponderação entre a liberdade de expressão e
os direitos da personalidade.
 
Direitos da personalidade: Direitos da personalidade é uma expressão de uso relativamente
recente no direito brasileiro, tendo sido desenvolvida pela doutrina contemporânea até
ingressar no CC/02, que abriu para o tema um capítulo específico, logo no Título I. O Min.
Barroso afirma que “é possível conceituar os direitos da personalidade, inerentes a toda
pessoa humana, como a versão privada dos direitos fundamentais, e sua aplicação às
relações com outros indivíduos como regra geral”. Os direitos da personalidade costumam
ser divididos pela doutrina civilista em dois grandes grupos:
a) direitos à integridade física, que englobam o direito à vida, o direito ao
próprio corpo e o direito ao cadáver; e
b) direitos à integridade moral, rubrica sob a qual se abrigam, entre outros, os
já mencionados direitos à honra, à imagem, à privacidade e o direito moral do
autor.
 
Ponderação entre liberdade de expressão e os direitos da personalidade: Tanto a liberdade de
expressão como os direitos de privacidade, honra e imagem têm estatura constitucional. Vale
dizer: entre eles não há hierarquia. De modo que não é possível estabelecer, em abstrato,
qual deve prevalecer. Em caso de conflito entre normas dessa natureza, impõe-se a
necessidade de ponderação, que é uma técnica de decisão que se desenvolve em três
etapas:
1) na primeira, verificam-se as normas que postulam incidência ao caso;
2) na segunda, selecionam-se os fatos relevantes;
3) e, por fim, testam-se as soluções possíveis para verificar, em concreto, qual
delas melhor realiza a vontade constitucional.
 
Em um cenário ideal, a ponderação deve procurar fazer concessões recíprocas, preservando
o máximo possível dos direitos em disputa. No limite, porém, fazem-se escolhas. Todo esse
processo intelectual tem como fio condutor o princípio instrumental da proporcionalidade ou
razoabilidade.
 
Critérios para a ponderação entre a liberdade de expressão e os direitos da personalidade: O
Min. Barroso defende a aplicação de 8 critérios ou elementos a serem considerados na
ponderação entre a liberdade de expressão e os direitos da personalidade. São eles:
a) veracidade do fato: a notícia divulgada dever ser verdadeira. Isso porque a
informação que goza de proteção constitucional é a verdadeira. A divulgação
deliberada de uma notícia falsa, em detrimento de outrem, não constitui direito
fundamental do emissor. Os veículos de comunicação têm o dever de apurar,
com boa-fé e dentro de critérios de razoabilidade, a correção do fato ao qual
darão publicidade. É bem de ver, no entanto, que não se trata de uma verdade
objetiva, mas subjetiva, subordinada a um juízo de plausibilidade e ao ponto de
observação de quem a divulga. Para haver responsabilidade, é necessário haver
clara negligência na apuração do fato ou dolo na difusão da falsidade.
 
b) licitude do meio empregado na obtenção da informação: o conhecimento
acerca do fato que se pretende divulgar tem de ter sido obtido por meios
admitidos pelo direito. A CF/88, da mesma forma que veda a utilização, em
juízo, de provas obtidas por meios ilícitos, também proíbe a divulgação de
notícias às quais se teve acesso mediante cometimento de um crime. Se o
jornalista ou alguém empreitado pelo veículo de comunicação realizou, por
exemplo, uma interceptação telefônica clandestina, invadiu domicílio, violou o
segredo de justiça em um processo de família ou obteve uma informação
mediante tortura ou grave ameaça, sua divulgação, em princípio, não será
legítima. Note-se ainda que a circunstância de a informação estar disponível
em arquivos públicos ou poder ser obtida por meios regulares e lícitos torna-a
pública e, portanto, presume-se que a divulgação desse tipo de informação
não afeta a intimidade, a vida privada, a honra ou a imagem dos envolvidos.
 
c) personalidade pública ou privada da pessoa objeto da notícia: a depender se
a pessoa for uma personalidade pública ou privada, o grau de exposição é maior
ou menor.
 
d) local do fato: deve-se analisar também se os locais dos fatos narrados são
reservados ou protegidos pelo direito à intimidade.
 
e) natureza do fato: deve-se analisar se os fatos divulgados possuem caráter
sigiloso ou se estão relacionados com a intimidade da pessoa.
 
f) existência de interesse público na divulgação em tese: presume-se, como
regra geral, o interesse público na divulgação de qualquer fato verdadeiro.
 
g) existência de interesse público na divulgação de fatos relacionados com a
atuação de órgãos públicos.
 
h) preferência por sanções a posteriori, que não envolvam a proibição prévia
da divulgação: o uso abusivo da liberdade de expressão pode ser reparado por
mecanismos diversos, que incluem a retificação, a retratação, o direito de
resposta, a responsabilização civil ou penal e a proibição da divulgação.
Somente em hipóteses extremas se deverá utilizar a última possibilidade. Nas
questões envolvendo honra e imagem, por exemplo, como regra geral será
possível obter reparação satisfatória após a divulgação, pelo desmentido – por
retificação, retratação ou direito de resposta – e por eventual reparação do dano,
quando seja o caso.

1.20. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: A incitação de ódio público feita por líder religioso
contra outras religiões pode configurar o crime de racismo – (Info 893) – IMPORTANTE!!!

A incitação ao ódio público contra quaisquer denominações religiosas e seus seguidores


não está protegida pela cláusula constitucional que assegura a liberdade de expressão.
STF. 2ª Turma. RHC 146303/RJ, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, j.
6/3/18 (Info 893).
Atenção. Compare com RHC 134682/BA, Rel. Min. Edson Fachin, j. 29/11/16 (Info 849).
OBS: Vejamos comentários no arquivo de Direito Penal.

1.21. DIREITO À SAÚDE: Constitucionalidade do ressarcimento ao SUS previsto no art.


32 da Lei 9.656/98 – (Info 890) – IMPORTANTE! ATENÇÃO! CONCURSOS FEDERAIS!

É constitucional o ressarcimento previsto no art. 32 da Lei 9.656/98, o qual é aplicável aos


procedimentos médicos, hospitalares ou ambulatoriais custeados pelo SUS e posteriores a
4.6.1998, assegurados o contraditório e a ampla defesa, no âmbito administrativo, em todos
os marcos jurídicos.
O art. 32 da Lei 9.656/98 prevê que, se um cliente do plano de saúde utilizar-se dos
serviços do SUS, o Poder Público poderá cobrar do referido plano o ressarcimento que ele
teve com essas despesas. Assim, o chamado “ressarcimento ao SUS”, criado pelo art. 32, é
uma obrigação legal das operadoras de planos privados de assistência à saúde de restituir
as despesas que o SUS teve ao atender uma pessoa que seja cliente e que esteja coberta
por esses planos.
STF. Plenário. RE 597064/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 7/2/18 (repercussão geral) (Info
890).
OBS:
Art. 32. Serão ressarcidos pelas operadoras dos produtos de que tratam o inciso
I e o § 1º do art. 1º desta Lei, de acordo com normas a serem definidas pela ANS,
os serviços de atendimento à saúde previstos nos respectivos contratos,
prestados a seus consumidores e respectivos dependentes, em instituições
públicas ou privadas, conveniadas ou contratadas, integrantes do Sistema Único
de Saúde - SUS. (Redação dada pela Medida Provisória nº 2.177-44/2001)

Sobre o tema:
As operadoras de plano de saúde que estejam em débito quanto ao
ressarcimento de valores devidos ao SUS podem, em razão da inadimplência,
ser inscritas no Cadin. STJ. 1ª Turma. AgRg no AREsp 307.233-RJ, Rel. Min.
Benedito Gonçalves, julgado em 6/6/2013 (Info 524).

1.22. DIREITO À SÁUDE: O programa “Mais Médicos” é constitucional – (Info 886)

O programa “Mais Médicos”, instituído pela MP 691/2013, posteriormente convertida na


Lei nº 12.871/2013, é constitucional.
STF. Plenário. ADI 5035/DF e ADI 5037/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min.
Alexandre de Moraes, j. 30/11/17 (Info 886).

1.23. SIGILO BANCÁRIO: Requisição pelo MP de informações bancárias de ente da


administração pública – (Info 879) – IMPORTANTE!!!
Não são nulas as provas obtidas por meio de requisição do Ministério Público de
informações bancárias de titularidade de Prefeitura para fins de apurar supostos crimes
praticados por agentes públicos contra a Administração Pública.
É lícita a requisição pelo Ministério Público de informações bancárias de contas de
titularidade da Prefeitura, com o fim de proteger o patrimônio público, não se podendo
falar em quebra ilegal de sigilo bancário.
O sigilo de informações necessário à preservação da intimidade é relativizado quando há
interesse da sociedade em conhecer o destino dos recursos públicos.
Diante da existência de indícios da prática de ilícitos penais envolvendo verbas públicas,
cabe ao MP, no exercício de seus poderes investigatórios (art. 129, VIII, CF/88), requisitar
os registros de operações financeiras relativos aos recursos movimentados a partir de
conta-corrente de titularidade da Prefeitura. Essa requisição compreende, por extensão, o
acesso aos registros das operações bancárias sucessivas, ainda que realizadas por
particulares, e objetiva garantir o acesso ao real destino desses recursos públicos.
STJ. 5ª Turma. HC 308.493-CE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, j. 20/10/15 (Info 572).
STF. 2ª Turma. RHC 133118/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 26/9/17 (Info 879).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: O MP instaurou procedimento de investigação
criminal (PIC) para apurar possíveis delitos de desvios de verbas públicas, fraudes em
licitações e lavagem de dinheiro que estariam sendo praticados pelo Prefeito de um
Município do interior. Como uma das diligências, o MP, sem autorização judicial, requisitou
do gerente do banco informações bancárias da conta corrente mantida pelo Município
naquela agência. Tais informações foram prestadas pelo banco e, com base nelas, descobriu-
se a prática de crimes, tendo esses documentos servido como base para o ajuizamento de
ação penal contra o Prefeito. A denúncia foi recebida pelo Tribunal de Justiça (art. 29, X, da
CF/88). A defesa, no entanto, impetrou habeas corpus alegando que as provas obtidas eram
ilícitas e, portanto, o processo era nulo. Isso porque teria havido quebra do sigilo bancário
sem autorização judicial. Segundo argumentou a defesa, “quando o MP solicitou ao gerente
do Banco do Brasil da Agência de Potengi/CE as fitas do caixa bancário das contas da
prefeitura, ele, por via reflexa, invadiu a privacidade das pessoas físicas que com a prefeitura
tinham alguma prestação de serviço, quebrando indiretamente o sigilo dessas pessoas
naturais”.

A tese da defesa foi aceita pelo STJ e pelo STF? NÃO.

Sigilo bancário não se aplica para contas públicas: O sigilo bancário constitui espécie do
direito à intimidade/privacidade, consagrado no art. 5º, X e XII, da CF/88, devendo,
portanto, ser protegido. No entanto, as contas bancárias dos entes públicos, em regra, não
são albergadas pelo direito à intimidade/privacidade e, em consequência, não são
protegidas pelo sigilo bancário. Isso porque, no que tange às contas públicas, vigoram os
princípios da publicidade e da moralidade (art. 37, CF/88). Quando a CF/88 fala em
intimidade e vida privada, ela está se referindo à pessoa humana, aos indivíduos que
compõem a sociedade e às pessoas jurídicas de direito privado. Tais conceitos (intimidade e
vida privada) são inaplicáveis aos entes públicos. Dessa forma, o MP, na investigação de
crimes, possui o poder de requisitar os registros de operações financeiras relacionadas com
recursos públicos movimentados a partir de conta corrente de titularidade do Município.

MP pode requisitar os registros de operações financeiras feitas com recursos públicos, ainda
que isso acabe atingindo indiretamente terceiros beneficiários dos valores: O poder do MP
de requisitar informações bancárias de conta corrente de titularidade do Município
abrange, por extensão, o direito de acesso aos registros das operações bancárias realizadas
por particulares, a partir das verbas públicas creditadas naquela conta. Em outras palavras,
o MP pode, por exemplo, requisitar, sem autorização judicial, os valores que o Município
transferiu para contas de particulares. Ora, de nada adiantaria permitir ao MP requisitar
diretamente os registros das operações feitas na conta bancária da Municipalidade e negar-
lhe o principal: o acesso ao real destino dos recursos públicos, a partir do exame de operações
bancárias sucessivas (v.g., desconto de cheque emitido pela Municipalidade na boca do caixa,
seguido de transferência a particular do valor sacado).

Precedente do STF envolvendo requisição do TCU: Em caso semelhante ao acima explicado o


STF decidiu que o TCU poderia requisitar informações bancárias de contas envolvendo
recursos públicos. Veja trechos da ementa:
(...) 2. O primado do ordenamento constitucional democrático assentado no
Estado de Direito pressupõe uma transparente responsabilidade do Estado e,
em especial, do Governo. (...)
3. O sigilo de informações necessárias para a preservação da intimidade é
relativizado quando se está diante do interesse da sociedade de se conhecer o
destino dos recursos públicos.
4. Operações financeiras que envolvam recursos públicos não estão abrangidas
pelo sigilo bancário a que alude a LC nº 105/01, visto que as operações dessa
espécie estão submetidas aos princípios da administração pública insculpidos
no art. 37 da Constituição Federal. Em tais situações, é prerrogativa
constitucional do Tribunal [TCU] o acesso a informações relacionadas a
operações financiadas com recursos públicos. (...)
7. O Tribunal de Contas da União não está autorizado a, manu militari, decretar
a quebra de sigilo bancário e empresarial de terceiros, medida cautelar
condicionada à prévia anuência do Poder Judiciário, ou, em situações pontuais,
do Poder Legislativo. (...) 8. In casu, contudo, o TCU deve ter livre acesso às
operações financeiras realizadas pelas impetrantes, entidades de direito privado
da Administração Indireta submetidas ao seu controle financeiro, mormente
porquanto operacionalizadas mediante o emprego de recursos de origem
pública. Inoponibilidade de sigilo bancário e empresarial ao TCU quando se está
diante de operações fundadas em recursos de origem pública. Conclusão
decorrente do dever de atuação transparente dos administradores públicos em
um Estado Democrático de Direito. (...)
(STF. 1ª Turma. MS 33340, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/05/2015).

(Procurador-ALE/RJ-2017-FGV): Determinada agência de fomento estadual, enquadrada


como instituição financeira, é instada pelo competente Tribunal de Contas a apresentar
dados relativos aos financiamentos públicos por ela concedidos. Diante da requisição,
deve a agência: fornecer os dados requisitados pelo Tribunal de Contas, considerando o
fato de que operações financeiras que envolvam recursos públicos não estão submetidas ao
sigilo bancário. BL: STF, MS 33340.

1.24. EDUCAÇÃO: O ensino religioso nas escolas públicas brasileiras pode ter natureza
confessional – (Info 879) – IMPORTANTE!!! – (Anal. Judic./STJ-2018) (MPSC-2019) (MPGO-
2019) (DPESP-2019)

A CF/88 prevê que “o ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina dos
horários normais das escolas públicas de ensino fundamental.” (art. 210, § 1º).
Diante disso, nas escolas públicas são oferecidas aulas de ensino religioso, normalmente
vinculadas a uma religião específica. É o chamado ensino religioso confessional.
O PGR ajuizou ADI pedindo que fosse conferida interpretação conforme a Constituição
ao art. 33, §§ 1º e 2º da LDB e ao art. 11, § 1º do acordo Brasil-Santa Sé. Na ação, o PGR
afirmava que não é permitido que se ofereça ensino religioso confessional (vinculado a
uma religião específica). Para o autor, o ensino religioso deve ser voltado para a história e
a doutrina das várias religiões, ensinadas sob uma perspectiva laica e deve ser ministrado
por professores regulares da rede pública de ensino, e não por pessoas vinculadas às
igrejas.
O STF julgou improcedente a ADI e decidiu que o ensino religioso nas escolas públicas
brasileiras pode ter natureza confessional, ou seja, pode sim ser vinculado a religiões
específicas.
A partir da conjugação do binômio Laicidade do Estado (art. 19, I) e Liberdade religiosa
(art. 5º, VI), o Estado deverá assegurar o cumprimento do art. 210, § 1º, CF/88, autorizando
na rede pública, em igualdade de condições o oferecimento de ensino confessional das
diversas crenças, mediante requisitos formais previamente fixados pelo Ministério da
Educação.
Assim, deve ser permitido aos alunos, que expressa e voluntariamente se matricularem, o
pleno exercício de seu direito subjetivo ao ensino religioso como disciplina dos horários
normais das escolas públicas de ensino fundamental, ministrada de acordo com os
princípios de sua confissão religiosa, por integrantes da mesma, devidamente
credenciados a partir de chamamento público e, preferencialmente, sem qualquer ônus
para o Poder Público.
Dessa forma, o STF entendeu que a CF/88 não proíbe que sejam oferecidas aulas de uma
religião específica, que ensine os dogmas ou valores daquela religião. Não há qualquer
problema nisso, desde que se garanta oportunidade a todas as doutrinas religiosas.
STF. Plenário. ADI 4439/DF, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 27/9/17 (Info 879).
(MPGO-2019): Segundo jurisprudência recente do STF, o ensino religioso nas escolas
públicas de ensino fundamental, que constituirá disciplina dos horários normais, poderá
ter natureza confessional, na medida que sua matrícula é facultativa nos termos do artigo
210, § 1°, da CF/88. BL: Info 879, STF.

(DPESP-2019-FCC): O art. 19, I, CF/88, proíbe que a União, Estados, Distrito Federal e
Municípios estabeleçam cultos religiosos ou igrejas, que os subvencionem ou mantenham
com eles relação de dependência ou aliança. Ao mesmo tempo, a CF/88 garante a
liberdade de consciência e de crença (art. 5º, VI), bem como assegura que ninguém pode
ser privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou
política (art. 5º , VIII). Tais normas compõem o que se denomina de Estado Laico. Sobre a
laicidade estatal, no julgamento da ADI 4439, entendeu-se que o ensino religioso nas
escolas públicas não viola a laicidade estatal sob o argumento, dentre outros, de que seria
de matrícula facultativa, podendo ser até mesmo confessional, pois a laicidade estatal
tem significado de “neutralidade” e não de “oposição” ou “beligerância” às religiões. BL:
Info 879, STF.

1.25. EXERCÍCIO PROFISSIONAL: É constitucional a previsão da lei de que determinadas


atividades são privativas de nutricionistas – (Info 879)

É constitucional a expressão “privativas”, contida no caput do art. 3º da Lei 8.234/91, que


regulamenta a profissão de nutricionista, respeitado o âmbito de atuação profissional das
demais profissões regulamentadas.
STF. Plenário. ADI 803/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 28/9/17 (Info 879).

1.26. COTAS RACIAIS EM CONCURSOS PÚBLICOS: Constitucionalidade do sistema de


cotas raciais em concursos públicos. Além da autodeclaração, é possível que a Administração
Pública adote critérios de heteroidentificação para analisar se o candidato se enquadra nos
parâmetros da cota – (Info 868) – IMPORTANTE!!! – (TRF5-2017)

Constitucionalidade do sistema de cotas raciais em concursos públicos


A Lei 12.990/14 estabeleceu uma cota aos negros de 20% das vagas em concursos públicos
realizados no âmbito da administração pública federal, das autarquias, das fundações
públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controladas pela
União.
O STF declarou que essa Lei é constitucional e fixou a seguinte tese de julgamento:
"É constitucional a reserva de 20% das vagas oferecidas nos concursos públicos para
provimento de cargos efetivos e empregos públicos no âmbito da administração pública
direta e indireta.”

Além da autodeclaração, é possível que a Administração Pública adote critérios de


heteroidentificação para analisar se o candidato se enquadra nos parâmetros da cota
A Lei 12.990/14 estabeleceu uma cota aos negros de 20% das vagas em concursos públicos
da administração pública federal, direta e indireta.
Segundo o art. 2º da Lei, poderão concorrer às vagas reservadas a candidatos negros
aqueles que se autodeclararem pretos ou pardos no ato da inscrição no concurso público,
conforme o quesito cor ou raça utilizado pelo IBGE. Trata-se do chamado critério da
autodeclaração.
O STF afirmou que este critério é constitucional. Entretanto, é possível também que a
Administração Pública adote um controle heterônomo, sobretudo quando existirem
fundadas razões para acreditar que houve abuso na autodeclaração.
Assim, é legítima a utilização de critérios subsidiários de heteroidentificação dos
candidatos que se declararam pretos ou pardos.
A finalidade é combater condutas fraudulentas e garantir que os objetivos da política de
cotas sejam efetivamente alcançados. Vale ressaltar que tais critérios deverão respeitar a
dignidade da pessoa humana e assegurar o contraditório e a ampla defesa.
Exemplos desse controle heterônomo: exigência de autodeclaração presencial perante a
comissão do concurso; exigência de apresentação de fotos pelos candidatos; formação de
comissões com composição plural para entrevista dos candidatos em momento posterior à
autodeclaração.

Essa conclusão do STF foi resumida na seguinte tese de julgamento:


"É legítima a utilização, além da autodeclaração, de critérios subsidiários de
heteroidentificação, desde que respeitada a dignidade da pessoa humana e garantidos o
contraditório e a ampla defesa".
STF. Plenário. ADC 41/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 8/6/17 (Info 868).
(TRF5-2017-CESPE): Com base no princípio da igualdade, o STF julgou constitucional a
Lei das Cotas Raciais (Lei 12.990/14), que reserva para negros o percentual de vinte por
cento das vagas oferecidas nos concursos públicos para provimento de cargos efetivos e
empregos públicos. De acordo com o STF, contudo, tal percentual abrange apenas a
administração pública federal direta e indireta, no âmbito dos três Poderes. BL: Info 868,
STF e art. 1º da Lei 12990/14.

1.27. DIREITO À EDUCAÇÃO: Universidades públicas podem cobrar mensalidade em


cursos de especialização – (Info 862) – IMPORTANTE!!!

A garantia constitucional da gratuidade de ensino não obsta a cobrança por universidades


públicas de mensalidade em cursos de especialização.
STF. Plenário. RE 597854/GO, Rel. Min. Edson Fachin, j. 26/4/17 (repercussão geral) (Info
862).

1.28. BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA: Estrangeiros residentes no Brasil têm


direito ao BPC – (Info 861) – IMPORTANTE!!!

Os estrangeiros residentes no País são beneficiários da assistência social prevista no art.


203, V, da Constituição Federal, uma vez atendidos os requisitos constitucionais e legais.
STF. Plenário. RE 587970/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 19 e 20/4/17 (repercussão geral)
(Info 861).

OBS: Apesar de o julgado ter sido publicado na parte de Direito Previdenciário, é inegável a
sua importância no estudo do Direito Constitucional.

1.29. NACIONALIDADE: Situação do brasileiro titular de green card que adquire


nacionalidade norte-americana – (Infos 822 e 859) – (DPU-2017) (Anal. Judic./STJ-2018)

Se um brasileiro nato que mora nos EUA e possui o green card decidir adquirir a
nacionalidade norte-americana, ele irá perder a nacionalidade brasileira.
Não se pode afirmar que a presente situação se enquadre na exceção prevista na alínea “b”
do § 4º do art. 12 da CF/88. Isso porque, como ele já tinha o green card, não havia
necessidade de ter adquirido a nacionalidade norte-americana como condição para
permanência ou para o exercício de direitos civis.
O estrangeiro titular de green card já pode morar e trabalhar livremente nos EUA.
Dessa forma, conclui-se que a aquisição da cidadania americana ocorreu por livre e
espontânea vontade.
Vale ressaltar que, perdendo a nacionalidade, ele perde os direitos e garantias inerentes
ao brasileiro nato. Assim, se cometer um crime nos EUA e fugir para o Brasil, poderá ser
extraditado sem que isso configure ofensa ao art. 5º, LI, da CF/88.
Art. 12 (...)
§ 4º - Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que:
II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos:
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira;
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em
estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício
de direitos civis;
STF. 1ª Turma. MS 33864/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 19/4/16 (Info 822).
STF. 1ª Turma. Ext 1462/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 28/3/17 (Info 859).
(Anal. Judic./STJ-2018-CESPE): Conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal,
brasileiro nato que tiver perdido a nacionalidade poderá ser extraditado. BL: Info 859,
STF.

1.30. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: Pesquisador tem direito de acesso aos áudios das
sessões secretas de julgamento ocorridas no STM durante a época do regime militar – (Info
857)

O STF deferiu mandado de segurança impetrado por pesquisador que queria ter acesso
aos áudios das sessões de julgamento do STM ocorridas na década de 1970, época do
regime militar.
Entendeu-se que a coleta de dados históricos a partir de documentos públicos e registros
fonográficos, mesmo que para fins particulares, constitui-se em motivação legítima a
garantir o acesso a tais informações.
Ocorre que, mesmo com essa decisão judicial, o STM somente autorizou que o
pesquisador tivesse acesso aos áudios das sessões públicas realizadas (na qual havia
leitura do relatório e sustentação oral dos advogados). O Tribunal se negou, contudo, a
fornecer os áudios das sessões secretas, nas quais os votos dos magistrados eram colhidos.
O impetrante ingressou, então, com reclamação, julgada procedente pelo STF.
Ao autorizar a consulta apenas dos registros relacionados com a parte pública das sessões,
o STM violou a decisão do STF, que deu acesso amplo aos áudios das sessões.
Além disso, a recusa do STM está em descompasso com a ordem constitucional vigente,
que garante o acesso à informação como direito fundamental.
O STF concluiu, portanto, que o STM deve permitir o acesso do reclamante a todos os
documentos e áudios das sessões de julgamento, com exceção apenas daqueles que forem
considerados sigilosos no resguardo do interesse público, na defesa da intimidade e para
a proteção da sociedade e do Estado, desde que isso seja motivado de forma explícita e
pormenorizada a fim de que possa ser novamente questionado no STF caso se mostre
indevido.
STF. Plenário. Rcl 11949/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 15/3/2017 (Info 857).

1.31. DIREITO DE RESPOSTA: Sentença que nega direito de resposta por não ter havido
ofensa não ofende a decisão do STF na ADPF 130/DF – (Info 851)

Não cabe reclamação para o STF contra sentença que julgou improcedente pedido de
direito de resposta sob o fundamento de que não houve, no caso concreto, ofensa.
Esta sentença não afronta a autoridade da decisão do STF no julgamento da ADPF 130/DF.
Como a sentença não violou nenhuma decisão do STF proferida em sede de controle
concentrado de constitucionalidade, o que se percebe é que o autor, por meio da
reclamação, deseja que o Supremo examine se a sentença afrontou, ou não, o art. 5º, V, da
CF/88.
Para isso, seria necessário reexaminar matéria de fato, o que não é possível em reclamação,
que se presta unicamente a preservar a autoridade de decisão do STF.
Ademais, isso significaria o exame per saltum, ou seja, "pulando-se" as instâncias
recursais do ato impugnado diretamente à luz do art. 5º, V, CF/88.
STF. 1ª Turma. Rcl 24459 AgR/SP, Rel. Min. Edson Fachin, j. 13/12/16 (Info 851).

1.32. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: Análise do caso "Jonas Abib" (racismo) – (Info 849) –
IMPORTANTE!!!

Determinado padre escreveu um livro, voltado ao público da Igreja Católica, no qual ele
faz críticas ao espiritismo e a religiões de matriz africana, como a umbanda e o
candomblé.
O MP da Bahia ofereceu denúncia contra ele pela prática do art. 20, § 2º da Lei 7.716/89
(Lei do racismo).
No caso concreto, o STF entendeu que não houve o crime.
A CF/88 garante o direito à liberdade religiosa. Um dos aspectos da liberdade religiosa é o
direito que o indivíduo possui de não apenas escolher qual religião irá seguir, mas
também o de fazer proselitismo religioso.
Proselitismo religioso significa empreender esforços para convencer outras pessoas a
também se converterem à sua religião.
Desse modo, a prática do proselitismo, ainda que feita por meio de comparações entre as
religiões (dizendo que uma é melhor que a outra) não configura, por si só, crime de
racismo.
Só haverá racismo se o discurso dessa religião supostamente superior for de dominação,
opressão, restrição de direitos ou violação da dignidade humana das pessoas integrantes
dos demais grupos. Por outro lado, se essa religião supostamente superior pregar que tem
o dever de ajudar os "inferiores" para que estes alcancem um nível mais alto de bem-estar
e de salvação espiritual e, neste caso não haverá conduta criminosa.
Na situação concreta, o STF entendeu que o réu apenas fez comparações entre as religiões,
procurando demonstrar que a sua deveria prevalecer e que não houve tentativa de
subjugar os adeptos do espiritismo.
Pregar um discurso de que as religiões são desiguais e de que uma é inferior à outra não
configura, por si, o elemento típico do art. 20 da Lei 7.716/89. Para haver o crime, seria
indispensável que tivesse ficado demonstrado o especial fim de supressão ou redução da
dignidade do diferente, elemento que confere sentido à discriminação que atua como
verbo núcleo do tipo.
STF. 1ª Turma. RHC 134682/BA, Rel. Min. Edson Fachin, j. 29/11/16 (Info 849).

1.33. VAQUEJADA: É inconstitucional a prática da vaquejada – (Info 842) –


IMPORTANTE!!!

É inconstitucional lei estadual que regulamenta a atividade da “vaquejada”.


Segundo decidiu o STF, os animais envolvidos nesta prática sofrem tratamento cruel,
razão pela qual esta atividade contraria o art. 225, § 1º, VII, da CF/88.
A crueldade provocada pela “vaquejada” faz com que, mesmo sendo esta uma atividade
cultural, não possa ser permitida.
A obrigação de o Estado garantir a todos o pleno exercício de direitos culturais,
incentivando a valorização e a difusão das manifestações, não prescinde da observância
do disposto no inciso VII do § 1º do art. 225 da CF/88, que veda práticas que submetam os
animais à crueldade.
STF. Plenário. ADI 4983/CE, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 06/10/16 (Info 842).

1.34. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: Classificação indicativa dos programas de rádio e TV


– (Info 837) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional a expressão “em horário diverso do autorizado” contida no art. 254 do


ECA: "Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo em horário diverso do
autorizado ou sem aviso de sua classificação: Pena - multa de vinte a cem salários de
referência; duplicada em caso de reincidência a autoridade judiciária poderá determinar a
suspensão da programação da emissora por até dois dias."
O Estado não pode determinar que os programas somente possam ser exibidos em
determinados horários. Isso seria uma imposição, o que é vedado pelo texto constitucional
por configurar censura. O Poder Público pode apenas recomendar os horários adequados.
A classificação dos programas é indicativa (e não obrigatória).
STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 31/8/16 (Info 837).
OBS:
Classificação indicativa: O art. 254 do ECA prevê que os programas de rádio e TV, com base
em seu conteúdo, deverão ser classificados como apropriados ou não, de acordo com a faixa
etária.

Ex: um programa de TV que não exiba cenas de violência, sexo ou uso de drogas é
classificado como "livre para todos os públicos". Se ele tiver cenas de nudez velada,
insinuação sexual, linguagem de conteúdo sexual, simulações de sexo etc., poderá ser
classificado como "recomendado para maiores de 12 anos".

O governo estipulou horários em que cada um desses programas deverá passar de acordo
com a faixa etária que ele foi enquadrado. Ex: o programa livre para todos os públicos poderá
ser exibido em qualquer horário; por outro lado, o programa recomendado para maiores de
12 anos somente podia ser transmitido a partir de 20h.

Quem faz essa classificação? O Ministério da Justiça, por meio de um setor específico que
cuida do assunto. Há uma portaria que regulamenta o tema (Portaria 368/2014-MJ).

Quais os critérios utilizados? Existe uma espécie de "manual" utilizado pelo MJ para fazer
esta classificação. Há, em resumo, três critérios de análise: a) violência; b) sexo e nudez; c)
drogas. A partir daí, o programa pode ser classificado em seis diferentes faixas: livre, 10, 12,
14, 16 ou 18 anos. No rádio e na TV aberta existem horários apropriados para que estes
programas sejam exibidos, de acordo com a faixa etária classificada.

A Constituição Federal trata sobre o assunto? Sim. O tema é tratado em alguns dispositivos
da CF/88. Confira:
Art. 21. Compete à União:
XVI - exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de
programas de rádio e televisão;

Art. 220 (...)


§ 3º Compete à lei federal:
I - regular as diversões e espetáculos públicos, cabendo ao Poder Público
informar sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se recomendem,
locais e horários em que sua apresentação se mostre inadequada;
II - estabelecer os meios legais que garantam à pessoa e à família a possibilidade
de se defenderem de programas ou programações de rádio e televisão que
contrariem o disposto no art. 221, bem como da propaganda de produtos,
práticas e serviços que possam ser nocivos à saúde e ao meio ambiente.

Art. 221. A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão


atenderão aos seguintes princípios: (...)
IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

Infração administrativa: Caso a emissora de rádio ou TV exibisse o programa fora do


horário recomendado, ela praticaria infração administrativa e poderia ser punida com multa
e até suspensão da programação na hipótese de reincidência. Vejamos:
Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão, espetáculo em horário
diverso do autorizado ou sem aviso de sua classificação:
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; duplicada em caso de
reincidência a autoridade judiciária poderá determinar a suspensão da
programação da emissora por até dois dias.

Duplo dever: De acordo com a redação do art. 254 do ECA, as emissoras de rádio e TV
possuíam dois deveres impostos por lei:
1) Avisar, antes de o programa começar, qual é a classificação etária do espetáculo (aquele
famoso aviso: "programa recomendado para todos os públicos" ou "programa recomendado
para maiores de 12 anos");
2) Somente transmitir os programas nos horários compatíveis com a sua classificação etária.
Ex: se o programa foi recomendado para maiores de 12 anos, ele não podia ser exibido antes
das 20h.

ADI: Em 2001, o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) ingressou com uma ADI contra o art.
254 do ECA alegando que ele violou o art. 5º, IX (liberdade de expressão), o art. 21, XVI e o
art. 220, caput e parágrafos, da CF/88. Isso porque o art. 254 do ECA extrapolou o que
determina a Constituição Federal, já que impôs que as emissoras de rádio e TV somente
exibissem os programas em determinados horários sob pena de serem punidas
administrativamente.
O STF finalmente enfrentou o tema. O que foi decidido? A ADI foi julgada procedente? SIM.
O STF julgou a ADI procedente e decidiu que: É inconstitucional a expressão “em horário
diverso do autorizado” contida no art. 254 do ECA. STF. Plenário. ADI 2404/DF, Rel. Min.
Dias Toffoli, j. 31/8/2016 (Info 837).

Liberdade de programação é uma forma de liberdade de expressão: A CF/88 garante a


liberdade de expressão (art. 5º, IX) e a liberdade de comunicação social, prevista no art. 220
da CF/88:
Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação,
sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição,
observado o disposto nesta Constituição.

Como consectário dessa garantia, as emissoras de rádio e TV gozam de "liberdade de


programação", sendo esta uma das dimensões da liberdade de expressão em sentido
amplo. Assim, a programação das emissoras deve permanecer como sendo uma tarefa
autônoma e livre de interferências do Poder Público.

Proteção das crianças e adolescentes: Por outro lado, a criança e o adolescente, pela posição
de fragilidade em que se colocam, devem ser destinatários, tanto quanto possível, de normas
e ações protetivas voltadas ao seu desenvolvimento pleno e à preservação contra situações
potencialmente danosas a sua formação física, moral e mental.

Necessidade de compatibilizar tais valores: O caso em tela envolve dois valores


constitucionais que devem ser sopesados para uma correta decisão: de um prisma, a
liberdade de expressão nos meios de comunicação; de outro, a necessidade de garantir a
proteção da criança e do adolescente.

O que fez a CF/88 para compatibilizar esses dois valores? Ela determinou, em seu art. 21,
XVI e art. 220, § 3º, que fosse criado um sistema de classificação indicativa dos espetáculos.
Assim, os programas devem ser classificados de acordo com faixas etárias e essa classificação
deve ser divulgada aos telespectadores a fim de que eles tenham as informações necessárias
para decidir se permitem ou não que as crianças e adolescentes assistam tais programas. No
entanto, em nenhum momento o texto constitucional determinou que as empresas sejam
obrigadas a veicular os programas em determinados horários, sob pena de punição. O
sistema de classificação indicativa foi o ponto de equilíbrio tênue adotado pela CF/88 para
compatibilizar os dois postulados, a fim de velar pela integridade das crianças e dos
adolescentes sem deixar de lado a preocupação com a garantia da liberdade de expressão. A
classificação dos produtos audiovisuais busca esclarecer, informar, indicar aos pais a
existência de conteúdo inadequado para as crianças e os adolescentes. Essa classificação
desenvolvida pela União possibilita que os pais, calcados na autoridade do poder familiar,
decidam se a criança ou o adolescente pode ou não assistir a determinada programação.

Classificação indicativa não se confunde com autorização para exibir os programas: A


CF/88 conferiu à União e ao legislador federal margem limitada de atuação no campo da
classificação dos espetáculos e diversões públicas. A autorização constitucional é para que a
União classifique, informe, indique as faixas etárias e/ou horários não recomendados. Ela
não pode, contudo, proibir, vedar ou censurar os programas. A classificação indicativa deve
ser entendida como um aviso aos usuários sobre o conteúdo da programação, jamais como
obrigação às emissoras de exibição em horários específicos, especialmente sob pena de
sanção administrativa. Por essa razão, percebe-se que o art. 254 do ECA violou a CF/88 ao
instituir punição para as emissoras que transmitam espetáculo "em horário diverso do
autorizado". O uso do verbo “autorizar” revela a ilegitimidade do dispositivo legal. O art.
255, ao estabelecer punição às empresas do ramo por exibirem programa em horário diverso
do autorizado, incorre, portanto, em abuso constitucional.

Submissão de programa ao Ministério da Justiça: É legítimo que se exija que as emissoras


submetam os programas para serem analisados e classificados pelo Ministério da Justiça. No
entanto, a submissão de programa ao Ministério não consiste em condição para que ele
possa ser exibido, pois não se trata de uma licença ou de autorização estatal . A CF/88 veda
que se exija licença ou autorização do governo para a exibição de programas de rádio ou
TV. Dessa forma, esta submissão ocorre, exclusivamente, com o objetivo de que a União
exerça sua competência administrativa para classificar, a título indicativo, as diversões
públicas e os programas de rádio e televisão, conforme determina o art. 21, XVI, da CF/88.

Imposição de horários para os programas é inconstitucional: O Estado não pode determinar


que os programas somente possam ser exibidos em determinados horários. Isso seria uma
imposição, o que é vedado pelo texto constitucional. O Poder Público pode apenas
recomendar os horários adequados. A classificação dos programas é indicativa (e não
obrigatória).

Censura prévia: A expressão “em horário diverso do autorizado”, contida no art. 254 do
ECA, embora não impedisse a veiculação de ideias, não impusesse cortes nas obras
audiovisuais, mas tão-somente exigisse que as emissoras veiculassem seus programas em
horário adequado ao público-alvo, implicava verdadeira censura prévia, acompanhada de
elemento repressor, de punição. Esse caráter não se harmoniza com os arts. 5º, IX; 21, XVI; e
220, § 3º, I, todos da CF/88.

Efeito pedagógico: A exibição do aviso de classificação indicativa deve ter apenas efeito
pedagógico, a exigir reflexão por parte do espectador e dos responsáveis. É dever estatal,
nesse ponto, conferir maior publicidade aos avisos de classificação, bem como desenvolver
programas educativos acerca desse sistema. Além disso, o controle pelos pais e responsáveis
sobre os programas assistidos pelas crianças e adolescentes pode ser feito com o auxílio de
meios eletrônicos de restrição de acesso a determinados programas, como já feito em outros
países. Essa tecnologia, inclusive, é de uso obrigatório no Brasil, apesar de ainda não adotada
na prática, conforme previsto no art. 1º da Lei nº 10.359/2001:
Art. 1º Os aparelhos de televisão produzidos no território nacional deverão
dispor, obrigatoriamente, de dispositivo eletrônico que permita ao usuário
bloquear a recepção de programas transmitidos pelas emissoras, concessionárias
e permissionárias de serviços de televisão, inclusive por assinatura e a cabo,
mediante:
I - a utilização de código alfanumérico, de forma previamente programada; ou
II - o reconhecimento de código ou sinal, transmitido juntamente com os
programas que contenham cenas de sexo ou violência.

Permanece o dever de informar a classificação indicativa: É importante salientar que


permanece o dever das emissoras de rádio e de televisão de exibir ao público o aviso de
classificação etária, de forma antecedente e concomitante com a veiculação do conteúdo,
regra essa prevista no parágrafo único do art. 76 do ECA, sendo seu descumprimento
tipificado como infração administrativa pelo art. 254. O que foi declarado inconstitucional
foi apenas a punição caso a emissora exiba o programa fora do horário recomendado.

Responsabilização judicial em caso de abusos: As emissoras não estão livres de


responsabilidade. Será possível que elas sejam processadas e responsabilizadas
judicialmente caso pratiquem abusos ou danos à integridade de crianças e adolescentes,
tendo em conta, inclusive, a recomendação do Ministério de Estado da Justiça em relação
aos horários em que determinada programação seria adequada. É o caso, por exemplo, de
uma emissora que exiba, reiteradamente, programas violentos ou com fortes cenas de sexo
em plena manhã ou tarde. Nesse exemplo extremo, o MP poderia ajuizar ação civil pública
contra a emissora pedindo a sua responsabilização pelos danos causados a crianças e
adolescentes. Isso porque a liberdade de expressão não é uma garantia absoluta e exige
responsabilidade no seu exercício. Assim, as emissoras devem observar na sua programação
as cautelas necessárias às peculiaridades do público infanto-juvenil.

Outros dispositivos do ECA: O ECA possui outro dispositivo parecido que trata sobre o
tema, mas que não foi impugnado nem declarado inconstitucional. Trata-se do art. 76, que
possui a seguinte redação:
Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibirão, no horário
recomendado para o público infanto juvenil, programas com finalidades
educativas, artísticas, culturais e informativas.
Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado ou anunciado sem aviso
de sua classificação, antes de sua transmissão, apresentação ou exibição.
Este dispositivo não estabelece nenhuma punição para as emissoras de rádio e TV que
exibirem programas fora de horários estipulados pelo Poder Público. Por essa razão, não é
considerado inconstitucional, já que não viola a liberdade de expressão. Cuidado nas
provas porque o enunciado da questão pode tentar confundir você.

1.35. EDUCAÇÃO: Constitucionalidade do art. 28, § 1º e do art. 30 da Lei 13.146/2015


(Estatuto da Pessoa com Deficiência) – (Info 829) – IMPORTANTE!!! – (TJPR-2017)

São constitucionais o art. 28, § 1º e o art. 30 da Lei nº 13.146/2015, que determinam que as
escolas privadas ofereçam atendimento educacional adequado e inclusivo às pessoas com
deficiência sem que possam cobrar valores adicionais de qualquer natureza em suas
mensalidades, anuidades e matrículas para cumprimento dessa obrigação.
STF. Plenário. ADI 5357 MC-Referendo/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j 9/6/16 (Info 829).
(TJPR-2017-CESPE): A respeito da ordem e dos direitos sociais previstos na CF, assinale
a opção correta: É constitucional norma que obriga escolas privadas a oferecer
atendimento adequado a pessoas com deficiência, vedado o repasse do custo financeiro
da adaptação às mensalidades escolares. BL: Info 829, STF.

1.36. EDUCAÇÃO: Poder Judiciário pode obrigar Município a fornecer vaga em creche –
(Info 827) – (TJPR-2017)

O Poder Judiciário pode obrigar o Município a fornecer vaga em creche a criança de até 5
anos de idade.
A educação infantil, em creche e pré-escola, representa prerrogativa constitucional
indisponível garantida às crianças até 5 anos de idade, sendo um dever do Estado (art. 208,
IV, da CF/88).
Os Municípios, que têm o dever de atuar prioritariamente no ensino fundamental e na
educação infantil (art. 211, § 2º, da CF/88), não podem se recusar a cumprir este mandato
constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi conferido pela CF/1988.
STF. Decisão monocrática. RE 956475, Rel. Min. Celso de Mello, j. 12/5/16 (Info 827).
OBS: Dessa forma, impõe-se ao Poder Público a obrigação constitucional de criar condições
objetivas que possibilitem, de maneira concreta, em favor das crianças até 5 anos de idade o
efetivo acesso e atendimento em creches e unidades de pré-escola, sob pena de configurar-se
inaceitável omissão governamental.

Precedentes: Apesar de a decisão acima ter sido monocrática, existem outros precedentes no
mesmo sentido. É o caso do STF. 2ª Turma. ARE 639337 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, j.
23/8/11.

Repercussão geral: Vale ressaltar que o tema acima ainda será definitivamente dirimido
considerando que a questão está submetida ao STF, em regime de repercussão geral
reconhecida, no AI 761.908, que aguarda julgamento.

1.37. SAÚDE: Inconstitucionalidade da Lei 13.269/16, que autorizou o uso da


fosfoetanolamina sintética – (Info 826)

É inconstitucional a Lei 13.269/16, que autorizou o uso da fosfoetanolamina sintética


("pílula do câncer) por pacientes diagnosticados com neoplasia maligna mesmo sem que
existam estudos conclusivos sobre os efeitos colaterais em seres humanos e mesmo sem
que haja registro sanitário da substância perante a ANVISA.
Obs: trata-se de decisão cautelar, não tendo o julgamento sido ainda concluído.
STF. Plenário. ADI 5501 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 19/5/16 (Info 826).

1.38. DIREITOS SOCIAIS: Proibição de tratamento diferenciado entre a licença-


maternidade e a licença-adotante – (Info 817) – IMPORTANTE!!! REPERCUSSÃO GERAL!!! -
(Proc./IPSM-2018)

O art. 210 da Lei 8112/90, assim como outras leis estaduais e municipais, prevê que o prazo
para a servidora que adotar uma criança é inferior à licença que ela teria caso tivesse tido
um filho biológico. De igual forma, este dispositivo estabelece que, se a criança adotada
for maior que 1 ano de idade, o prazo será menor do que seria se ela tivesse até 1 ano.
Segundo o STF, tal previsão é inconstitucional. Foi fixada, portanto, a seguinte tese:
Os prazos da licença-adotante não podem ser inferiores ao prazo da licença-gestante, o
mesmo valendo para as respectivas prorrogações. Em relação à licença-adotante, não é
possível fixar prazos diversos em função da idade da criança adotada.
STF. Plenário. RE 778889/PE, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 10/3/16 (repercussão geral) (Info
817).

1.39. SIGILO BANCÁRIO: É possível que o Fisco requisite das instituições financeiras
informações bancárias sobre os contribuintes sem intervenção do Poder Judiciário – (Info
815) – IMPORTANTE!!! REPERCUSSÃO GERAL!!! (DPEAP-2018) (TJSC-2019)

As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito Federal e


dos Municípios podem requisitar diretamente das instituições financeiras informações
sobre as movimentações bancárias dos contribuintes. Esta possibilidade encontra-se
prevista no art. 6º da LC 105/01, que foi considerada constitucional pelo STF. Isso porque
esta previsão não se caracteriza como "quebra" de sigilo bancário, ocorrendo apenas a
“transferência de sigilo” dos bancos ao Fisco.
Os Estados-Membros e os Municípios somente podem obter as informações previstas no
art. 6º da LC 105/01, uma vez regulamentada a matéria de forma análoga ao Decreto
Federal 3.724/01, observados os seguintes parâmetros:
a) pertinência temática entre a obtenção das informações bancárias e o tributo objeto de
cobrança no procedimento administrativo instaurado;

b) prévia notificação do contribuinte quanto à instauração do processo e a todos os demais


atos, garantido o mais amplo acesso do contribuinte aos autos, permitindo-lhe tirar cópias,
não apenas de documentos, mas também de decisões;
c) sujeição do pedido de acesso a um superior hierárquico;

d) existência de sistemas eletrônicos de segurança que fossem certificados e com o registro


de acesso; e, finalmente,

e) estabelecimento de mecanismos efetivos de apuração e correção de desvios.

A Receita Federal, atualmente, já pode requisitar tais informações bancárias porque


possui esse regulamento. Trata-se justamente do Decreto 3.724/01 acima mencionada, que
regulamenta o art. 6º da LC 105/2001.
O art. 5º da LC 105/2001, que permite obrigar as instituições financeiras a informarem
periodicamente à Receita Federal as operações financeiras realizadas acima de
determinado valor, também é considerado constitucional.
STF. Plenário. ADI 2390/DF, ADI 2386/DF, ADI 2397/DF e ADI 2859/DF, Rel. Min. Dias
Toffoli, j. 24/2/16 (Info 815).
STF. Plenário. RE 601314/SP, Rel. Min. Edson Fachin, j. 24/2/16 (repercussão geral) (Info
815).
(DPEAP-2018-FCC): Dados protegidos por sigilo bancário são requisitados a
determinada instituição financeira pela Secretaria da Receita Federal, com base em
permissivo legal, para utilização em sede de procedimento administrativo visando à
apuração de supostas irregularidades fiscais cometidas por contribuinte pessoa física.
Nessa hipótese, à luz da Constituição Federal e da jurisprudência do STF,  não há ofensa
ao direito ao sigilo bancário, inerente ao direito constitucional à vida privada, na
requisição efetuada pela autoridade fazendária, sendo constitucional o respectivo
permissivo legal, na medida em que exija da autoridade fazendária que mantenha o
dever de sigilo imposto na esfera bancária. BL: Info 815, STF.

OBS: Vejamos o teor do art. 6º da LC 105/2001:


Art. 6º As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios somente poderão examinar documentos,
livros e registros de instituições financeiras, inclusive os referentes a contas de
depósitos e aplicações financeiras, quando houver processo administrativo
instaurado ou procedimento fiscal em curso e tais exames sejam considerados
indispensáveis pela autoridade administrativa competente.
Parágrafo único. O resultado dos exames, as informações e os documentos a que
se refere este artigo serão conservados em sigilo, observada a legislação
tributária.

O sigilo bancário é protegido pela CF/88? SIM. A CF/88 não utiliza a expressão "sigilo
bancário", mas isso está sim protegido em dois incisos do art. 5º da CF/88:
Art. 5º (...)
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação; (...)
XII - é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas,
de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem
judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação
criminal ou instrução processual penal;

O legislador infraconstitucional reafirmou a proteção ao sigilo bancário no caput do art. 1º da


LC 105/01:
Art. 1º As instituições financeiras conservarão sigilo em suas operações ativas e
passivas e serviços prestados.

No § 1º do art. 1º da LC 105/01, o legislador elenca quem são consideradas instituições


financeiras. A lista é extensa e abrange bancos de qualquer espécie, distribuidoras de valores
mobiliários, corretoras de câmbio e até as bolsas de valores.

Para que haja acesso aos dados bancários (quebra do sigilo bancário), é necessária
autorização judicial? Em regra, sim. Segundo entende o STF, em regra, para que se tenha
acesso aos dados bancários de uma pessoa, é necessário prévia autorização judicial por se
tratar de verdadeira cláusula de reserva de jurisdição.

E no caso do Fisco? A Receita Federal pode requisitar, sem autorização judicial, informações
bancárias das instituições financeiras? SIM. Essa possibilidade está prevista no art. 6º da
LC 105/01, não se exigindo autorização judicial para tanto. Logo, a lei autoriza que a Receita
Federal requisite diretamente das instituições financeiras informações sobre as
movimentações bancárias dos contribuintes.

Este art. 6º da LC 105/01, que autoriza o Fisco a ter acesso a informações bancárias sem
autorização judicial, é compatível com a CF/88? SIM. O STF decidiu que esse dispositivo é
CONSTITUCIONAL.

Mas o art. 6º não representa uma "quebra de sigilo bancário" sem autorização judicial?
NÃO. O STF entendeu que esse repasse das informações dos bancos para o Fisco não pode
ser chamado de "quebra de sigilo bancário". Isso porque as informações são passadas para
o Fisco (ex: Receita Federal) em caráter sigiloso e permanecem de forma sigilosa na
Administração Tributária. É uma tramitação sigilosa entre os bancos e o Fisco e, por não ser
acessível a terceiros, não pode ser considerado violação (quebra) do sigilo.

Assim, na visão do STF, o que o art. 6º da LC 105/01 faz não é quebra de sigilo bancário,
mas somente a “transferência de sigilo” dos bancos ao Fisco. Os dados, até então protegidos
pelo sigilo bancário, prosseguem protegidos pelo sigilo fiscal. Para o STF, o simples fato de
o Fisco ter acesso aos dados bancários do contribuinte não viola a garantia do sigilo
bancário. Só haverá violação se esses dados "vazarem" para pessoas estranhas ao órgão
fazendário. Aí sim haveria quebra do sigilo bancário por ter sido exposta a intimidade do
contribuinte para terceiros. Em casos de vazamento, a LC 105/01 prevê punições ao
responsável, que estará sujeito à pena de reclusão, de 1 a 4 anos, mais multa, além de
responsabilização civil, culminando com a perda do cargo (art. 10).

Outros argumentos levantados pelos Ministros para considerarem o art. 6º constitucional:


 O sigilo bancário não é absoluto e deve ceder espaço ao princípio da moralidade nas
hipóteses em que transações bancárias indiquem ilicitudes.
 A LC 105/01 é um instrumento para fiscalizar o dever fundamental do contribuinte de
pagar tributos. O dever fundamental de pagar tributos está alicerçado na ideia de
solidariedade social. Assim, dado que o pagamento de tributos, no Brasil, seria um dever
fundamental — por representar o contributo de cada cidadão para a manutenção e o
desenvolvimento de um Estado que promove direitos fundamentais —, é preciso que
sejam adotados mecanismos efetivos de combate à sonegação fiscal.
 A prática prevista na LC 105/01 é comum em vários países desenvolvidos e a declaração
de inconstitucionalidade do dispositivo questionado seria um retrocesso diante dos
compromissos internacionais assumidos pelo Brasil para combater ilícitos como a
lavagem de dinheiro e evasão de divisas e para coibir práticas de organizações
criminosas.
 A identificação de patrimônio, rendimentos e atividades econômicas do contribuinte
pela administração tributária dá efetividade ao princípio da capacidade contributiva,
que, por sua vez, sofre riscos quando se restringem as hipóteses que autorizam seu
acesso às transações bancárias dos contribuintes.
 A LC 105/01 não viola a CF/88. Isso porque o legislador estabeleceu requisitos objetivos
para requisição de informação pela administração tributária às instituições financeiras
e exigiu que, quando essas informações chegassem ao Fisco, ali mantivessem o dever de
sigilo. Com efeito, o parágrafo único do art. 6º preconiza que o resultado dos exames, as
informações e os documentos deverão ser conservados em sigilo, observada a legislação
tributária. Assim, não há ofensa a intimidade ou qualquer outro direito fundamental,
pois a LC 105/01 não permite a "quebra de sigilo bancário", mas sim a transferência
desse sigilo dos bancos ao Fisco.
 O art. 6º da LC 105/01 é taxativo e razoável ao facultar o exame de documentos, livros e
registros de instituições financeiras somente se houver processo administrativo
instaurado ou procedimento fiscal em curso e tais exames sejam considerados
indispensáveis pela autoridade administrativa competente.

As Receitas estadual e municipal também poderão requisitar dos bancos informações sobre
movimentações bancárias? SIM. O art. 6º da LC 105/01 fala que estão autorizados a
requisitar as informações bancárias as autoridades e agentes fiscais tributários não apenas
da União (Receita Federal), mas também dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
Assim, as Receitas estadual e municipal (Secretarias de Fazenda estadual e municipal)
também poderão requisitar dos bancos, sem autorização judicial, informações sobre
movimentações bancárias sem que isso configure quebra do sigilo bancário. No entanto, para
que os Estados, DF e Municípios possam fazer uso dessa prerrogativa prevista no art. 6º da
LC 105/2001, eles precisarão, antes, editar um ato normativo que regulamente e traga, com
detalhes, todas as regras operacionais para aplicação do dispositivo legal. Neste
regulamento deverão ser previstos sistemas adequados de segurança e registros de acesso
para evitar a manipulação indevida dos dados, garantindo-se ao contribuinte a transparência
do processo. A Receita Federal, atualmente, já pode requisitar tais informações bancárias
porque possui esse regulamento (Decreto 3.724/2001, que "regulamenta o art. 6º da Lei
Complementar nº 105, de 10 de janeiro de 2001, relativamente à requisição, acesso e uso, pela
Secretaria da Receita Federal, de informações referentes a operações e serviços das instituições
financeiras e das entidades a elas equiparadas").

Portanto, os Estados, DF e Municípios também poderão requisitar informações de


instituições bancárias relativas a seus clientes. Para isso, no entanto, precisarão editar o
mencionado regulamento, além de só poderem fazer essa requisição se houver processo
administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso e tais dados forem
considerados indispensáveis pela autoridade administrativa competente.

Mudança de entendimento do STF: Vale ressaltar que o julgado acima representa mudança de
entendimento do STF. Isso porque no RE 389808, o STF havia decidido que seria necessário
prévia autorização judicial, de sorte que o art. 6º da LC 105/01 seria inconstitucional.

Posição do STJ: O novo entendimento do STF já era adotado, em parte, pelo STJ, que
possui, inclusive, um Recurso Especial repetitivo sobre o tema (REsp 1.134.665/SP). Na
ocasião, o STJ firmou a tese de que a autoridade fiscal pode solicitar diretamente das
instituições financeiras, ou seja, sem autorização judicial, informações sobre operações
realizadas pelo contribuinte, requerendo, até mesmo, os extratos de contas bancárias. Para
o STJ, no âmbito do processo administrativo fiscal, para fins de constituição de crédito
tributário, é possível a requisição direta de informações pela autoridade fiscal às instituições
bancárias sem prévia autorização judicial. STJ. 1ª Seção. REsp 1134665/SP, Rel. Min. Luiz
Fux, julgado em 25/11/2009 (recurso repetitivo).

É possível que as informações bancárias obtidas pelo Fisco sem autorização judicial sejam
utilizadas em processos criminais ou somente em procedimentos administrativo-
tributários? SIM. Não é nula a condenação criminal lastreada em prova produzida no
âmbito da Receita Federal do Brasil por meio da obtenção de informações de instituições
financeiras sem prévia autorização judicial de quebra do sigilo bancário. Isso porque o STF
decidiu que são constitucionais os arts. 5º e 6º da LC 105/01, que permitem o acesso direto
da Receita Federal à movimentação financeira dos contribuintes. STF. 2ª Turma. RHC
121429/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 19/4/2016 (Info 822).

Quadro-resumo dos órgãos que podem requisitar informações bancárias diretamente (sem
autorização judicial):
SIGILO BANCÁRIO
Os órgãos poderão requerer informações bancárias diretamente das instituições
financeiras?
POLÍCIA NÃO. É necessária autorização judicial.
NÃO. É necessária autorização judicial (STJ HC 160.646/SP, Dje 19/9/11).
Exceção: É lícita a requisição pelo MP de informações bancárias de contas
MP de titularidade de órgãos e entidades públicas, com o fim de proteger o
patrimônio público, não se podendo falar em quebra ilegal de sigilo
bancário (STJ. 5ª Turma. HC 308.493-CE, j. em 20/10/15).
NÃO. É necessária autorização judicial (STF MS 22934/DF, DJe de 9/5/12).
Exceção: O envio de informações ao TCU relativas a operações de crédito
TCU
originárias de recursos públicos não é coberto pelo sigilo bancário (STF.
MS 33340/DF, j. em 26/5/2015).
SIM, com base no art. 6º da LC 105/01. O repasse das informações dos
Receita
bancos para o Fisco não pode ser definido como sendo "quebra de sigilo
Federal
bancário".
Fisco SIM, desde que regulamentem, no âmbito de suas esferas de
estadual, competência, o art. 6º da LC 105/01, de forma análoga ao Decreto Federal
distrital, 3.724/01.
municipal
SIM (seja ela federal ou estadual/distrital) (art. 4º, § 1º da LC 105/01).
CPI
Prevalece que CPI municipal não pode.
 
Art. 5º da LC 105/01: Acima falamos bastante sobre o art. 6º da LC 105/01, mas vale ressaltar
que o art. 5º da mesma Lei também foi impugnado:
Art. 5º O Poder Executivo disciplinará, inclusive quanto à periodicidade e aos
limites de valor, os critérios segundo os quais as instituições financeiras
informarão à administração tributária da União, as operações financeiras
efetuadas pelos usuários de seus serviços.
§ 1º Consideram-se operações financeiras, para os efeitos deste artigo:
I – depósitos à vista e a prazo, inclusive em conta de poupança;
II – pagamentos efetuados em moeda corrente ou em cheques;
III – emissão de ordens de crédito ou documentos assemelhados;
IV – resgates em contas de depósitos à vista ou a prazo, inclusive de poupança;
V – contratos de mútuo;
VI – descontos de duplicatas, notas promissórias e outros títulos de crédito;
VII – aquisições e vendas de títulos de renda fixa ou variável;
VIII – aplicações em fundos de investimentos;
IX – aquisições de moeda estrangeira;
X – conversões de moeda estrangeira em moeda nacional;
XI – transferências de moeda e outros valores para o exterior;
XII – operações com ouro, ativo financeiro;
XIII - operações com cartão de crédito;
XIV - operações de arrendamento mercantil; e
XV – quaisquer outras operações de natureza semelhante que venham a ser
autorizadas pelo Banco Central do Brasil, Comissão de Valores Mobiliários ou
outro órgão competente.
§ 2º As informações transferidas na forma do caput deste artigo restringir-se-ão
a informes relacionados com a identificação dos titulares das operações e os
montantes globais mensalmente movimentados, vedada a inserção de qualquer
elemento que permita identificar a sua origem ou a natureza dos gastos a partir
deles efetuados.
§ 3º Não se incluem entre as informações de que trata este artigo as operações
financeiras efetuadas pelas administrações direta e indireta da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
§ 4º Recebidas as informações de que trata este artigo, se detectados indícios de
falhas, incorreções ou omissões, ou de cometimento de ilícito fiscal, a autoridade
interessada poderá requisitar as informações e os documentos de que necessitar,
bem como realizar fiscalização ou auditoria para a adequada apuração dos
fatos.
§ 5º As informações a que refere este artigo serão conservadas sob sigilo fiscal,
na forma da legislação em vigor. (...)

Este art. 5º da LC 105/01 permite que o Poder Executivo edite um ato normativo obrigando
as instituições financeiras informem a Receita Federal sempre que houver uma operação
financeira acima de determinado valor. Atualmente, o ato normativo que regulamenta o
art. 5º da LC 105/2001 é a Instrução Normativa RFB nº 1571, de 02 de julho de 2015.
Segundo esta IN, as instituições financeiras são obrigadas a informar para a Receita Federal
sempre que houver uma movimentação financeira acima de:
 R$ 2 mil, no caso de pessoas físicas; e
 R$ 6 mil reais, no caso de pessoas jurídicas.

Assim, se você faz a transferência de R$ 5 mil reais de sua conta bancária para a de seu pai,
por exemplo, esta informação será repassada pelo banco à Receita Federal. Caso a Receita
Federal considere que você efetuou movimentações bancárias muito superiores à renda que
declarou, para fins de imposto de renda, ela poderá instaurar uma ação fiscal para que você
justifique tais operações (art. 5º, § 4º da LC 105/01), sob pena de ela considerar que você
omitiu receitas.

Desse modo, estes dados são utilizados pelo Fisco para cruzar informações e assim verificar
se há compatibilidade entre os valores movimentados e os dados apresentados na declaração
do IR. Vale ressaltar que os gastos com cartão de crédito também estão abrangidos por este
dever de informar. Assim, se o valor da fatura paga é comunicado à Receita.

Importante esclarecer que, nos termos do § 2º do art. 5º da LC 105/01, somente são


informados os valores movimentados e os titulares das operações. A Receita Federal, em tese,
não tem acesso à origem ou natureza dos gastos (ex: se a pessoa gastou tais valores no
supermercado, no hospital, no motel etc.).

O art. 5º da LC 105/2001 foi julgado constitucional pelo STF com base nos mesmos
argumentos acima explicados quanto ao art. 6º.

§§ 1º e 2º do art. 198 do CTN inseridos pela LC 104/01: A LC 104/2001 inseriu os §§ 1º e 2º ao


art. 198 do CTN, com a seguinte redação:
Art. 198. Sem prejuízo do disposto na legislação criminal, é vedada a
divulgação, por parte da Fazenda Pública ou de seus servidores, de informação
obtida em razão do ofício sobre a situação econômica ou financeira do sujeito
passivo ou de terceiros e sobre a natureza e o estado de seus negócios ou
atividades.
§ 1º Excetuam-se do disposto neste artigo, além dos casos previstos no art. 199,
os seguintes:
I – requisição de autoridade judiciária no interesse da justiça;
II – solicitações de autoridade administrativa no interesse da Administração
Pública, desde que seja comprovada a instauração regular de processo
administrativo, no órgão ou na entidade respectiva, com o objetivo de
investigar o sujeito passivo a que se refere a informação, por prática de
infração administrativa.
§ 2º O intercâmbio de informação sigilosa, no âmbito da Administração
Pública, será realizado mediante processo regularmente instaurado, e a
entrega será feita pessoalmente à autoridade solicitante, mediante recibo, que
formalize a transferência e assegure a preservação do sigilo.

O inciso II do § 1º e o § 2º do mesmo art. 198 autorizam o compartilhamento de


informações sigilosas entre as autoridades administrativas, no interesse da Administração
Pública. Nas ADIs propostas questionava-se a constitucionalidade da previsão. O STF,
contudo, rejeitou ações considerando que os dispositivos são constitucionais. Mais uma vez
o STF entendeu que os dispositivos acima não configuram "quebra" de sigilo mas sim uma
mera transferência de informações sigilosas no âmbito da Administração Pública. Além
disso, o STF considerou que o legislador previu formalidades e mecanismos para assegurar
que não haja vazamento dessas informações.

Conclusões: As ações diretas questionavam a constitucionalidade do art. 1º da LC 104/01


(que alterou o CTN), dos arts. 1º, § 3º e 4º, 3º, § 3º, 5º e 6º da LC 105/2001 e dos Decretos
3.724/2001, 4.489/2002 e 4.545/2002. As ADIs foram julgadas improcedentes e esses
dispositivos foram considerados constitucionais. No RE 601314/SP, o STF também
considerou constitucional a Lei 10.174/01 que, ao trazer nova redação do art. 11 da Lei
9.311/96 (que instituiu a CPFM) permitiu que a Receita Federal, de posse das informações
sobre a movimentação financeira de titulares de contas bancárias as utilizasse para a
averiguação de divergências e, em face delas, instaurasse procedimento administrativo
tendente à verificação da existência de crédito tributário relativo a impostos e contribuições, e
o lançamento de crédito porventura existente.

1.40. SAÚDE: Diferença de classes no SUS é inconstitucional – (Info 810) –


IMPORTANTE!!! – REPERCUSSÃO GERAL!!! (TJCE-2018) (Proc./IPSM-2018)

É inconstitucional a possibilidade de um paciente do Sistema Único de Saúde (SUS) pagar


para ter acomodações superiores ou ser atendido por médico de sua preferência, a
chamada "diferença de classes".
Existe uma portaria do Ministério da Saúde (Portaria 113/97) que proíbe a diferença de
classe. Este ato estava sendo questionado e o STF, em recurso extraordinário submetido à
repercussão geral, declarou que ele é constitucional, firmando a seguinte tese, que vale de
forma ampla para todos os casos envolvendo diferença de classe:
"É constitucional a regra que veda, no âmbito do Sistema Único de Saúde - SUS, a
internação em acomodações superiores, bem como o atendimento diferenciado por
médico do próprio SUS, ou por médico conveniado, mediante o pagamento da diferença
dos valores correspondentes."
STF. Plenário. RE 581488/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 3/12/15 (repercussão geral) (Info
810).

1.41. INVIOLABILIDADE DE DOMICÍLIO: Parâmetros para a validade da entrada


forçada em domicílio sem mandado judicial – (Info 806) – IMPORTANTE!!! REPERCUSSÃO
GERAL!!! – (TJSC-2019)

A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período


noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas “a posteriori”,
que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de
responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de nulidade dos
atos praticados.
STF. Plenário. RE 603616/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 4 e 5/11/15 (repercussão geral)
(Info 806).

1.42. DIREITOS POLÍTICOS: As hipóteses de inelegibilidade são aplicáveis às eleições


suplementares – (Info 802) – IMPORTANTE!!! REPERCUSSÃO GERAL!!!

As hipóteses de inelegibilidade previstas no art. 14, § 7º, da CF, inclusive quanto ao prazo
de seis meses, são aplicáveis às eleições suplementares.
STF. Plenário. RE 843455/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 7/10/15 (repercussão geral) (Info
802).

1.43. DIREITOS POLÍTICOS: Inconstitucionalidade das doações eleitorais feitas por


pessoas jurídicas – (Info 799)

As contribuições de pessoas jurídicas para campanhas eleitorais e partidos políticos são


inconstitucionais.
As contribuições de pessoas físicas são válidas e regulam-se de acordo com a lei em vigor.
STF. Plenário. ADI 4650/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 16 e 17/9/15 (Info 799).

1.44. Sistema carcerário e Estado de Coisas Inconstitucional – (Info 798) – IMPORTANTE!!!


– (DPEPR-2017) (DPESC-2017) (DPEAP-2018-3x) (TJBA-2019)

O Estado de Coisas Inconstitucional ocorre quando verifica-se a existência de um quadro


de violação generalizada e sistêmica de direitos fundamentais, causado pela inércia ou
incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a conjuntura,
de modo que apenas transformações estruturais da atuação do Poder Público e a atuação
de uma pluralidade de autoridades podem modificar a situação inconstitucional.
O STF reconheceu que o sistema penitenciário brasileiro vive um "Estado de Coisas
Inconstitucional", com uma violação generalizada de direitos fundamentais dos presos. As
penas privativas de liberdade aplicadas nos presídios acabam sendo penas cruéis e
desumanas.
Vale ressaltar que a responsabilidade por essa situação deve ser atribuída aos três Poderes
(Legislativo, Executivo e Judiciário), tanto da União como dos Estados-Membros e do
Distrito Federal.
A ausência de medidas legislativas, administrativas e orçamentárias eficazes representa
uma verdadeira "falha estrutural" que gera ofensa aos direitos dos presos, além da
perpetuação e do agravamento da situação.
Assim, cabe ao STF o papel de retirar os demais poderes da inércia, coordenar ações
visando a resolver o problema e monitorar os resultados alcançados.
Diante disso, o STF, em ADPF, concedeu parcialmente medida cautelar determinando
que:
 juízes e Tribunais de todo o país implementem, no prazo máximo de 90 dias, a
audiência de custódia;
 a União libere, sem qualquer tipo de limitação, o saldo acumulado do Fundo
Penitenciário Nacional para utilização na finalidade para a qual foi criado,
proibindo a realização de novos contingenciamentos.
Na ADPF havia outros pedidos, mas estes foram indeferidos, pelo menos na análise da
medida cautelar.
STF. Plenário. ADPF 347 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 9/9/15 (Info 798)
(TJBA-2019-CESPE): A respeito da situação conhecida como estado de coisas
inconstitucional, assinale a opção correta: No plano dos remédios estruturais para
saneamento do estado de coisas inconstitucional, estão a superação dos bloqueios
institucionais e políticos e o aumento da deliberação de soluções sobre a demanda. BL:
Info 798 do STF. 

(DPEAP-2018-FCC): Em voto proferido quando da concessão de medida cautelar em


sede de arguição de descumprimento de preceito fundamental, o Ministro Relator,
apoiando-se em técnica empregada por Corte Constitucional estrangeira, entendeu que
estava comprovada, no caso, situação de violação generalizada de direitos fundamentais
e incapacidade reiterada e persistente das autoridades públicas em modificar a situação,
sendo que a superação das transgressões exigia a atuação não apenas de um órgão, e sim
de uma pluralidade de autoridades. Mais adiante, afirmou o Relator que, em situações
tais, ao Tribunal cabe retirar as autoridades públicas do estado de letargia, provocar a
formulação de novas políticas públicas, aumentar a deliberação política e social sobre a
matéria e monitorar o sucesso da implementação das providências escolhidas,
assegurando, assim, a efetividade prática das soluções propostas. Cuida-se, no caso, de
técnica de declaração de estado de coisas inconstitucional. BL: Info 798 do STF. 
(DPEPR-2017-FCC): Em determinada decisão de sua relatoria no STF, Ministro da
referida casa assim se pronunciou: o Tribunal não chega a ser um “elaborador” de
políticas públicas, e sim um coordenador institucional, produzindo um “efeito
desbloqueador”. Na mesma decisão disse, ainda, que naquele caso caberia ao Judiciário
catalisar ações e políticas públicas, coordenar a atuação dos órgãos do Estado na adoção
dessas medidas e monitorar a eficiência das soluções. Os efeitos mencionados pelo
Ministro são característicos da decisão que reconhece o Estado de Coisas Inconstitucional
BL: Info 798 do STF. 

1.45. CONTROLE JURISDICIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS: Judiciário pode


determinar a realização de obras emergenciais em estabelecimento prisional – (Info 794) –
IMPORTANTE!!! – REPERCUSSÃO GERAL!!! (DPEAP-2018)

É lícito ao Poder Judiciário impor à Administração Pública obrigação de fazer, consistente


na promoção de medidas ou na execução de obras emergenciais em estabelecimentos
prisionais para dar efetividade ao postulado da dignidade da pessoa humana e assegurar
aos detentos o respeito à sua integridade física e moral, nos termos do que preceitua o art.
5º, XLIX, da CF, não sendo oponível à decisão o argumento da reserva do possível nem o
princípio da separação dos poderes.
STF. Plenário. RE 592581/RS, rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 13/8/15 (repercussão geral)
(Info 794).
(DPEAP-2018-FCC): Sob o fundamento de passar por situação de drástica redução na
arrecadação tributária e da necessidade de atender aos percentuais constitucionais de
aplicação de recursos nas áreas de educação e saúde, determinado Estado da federação
suspende a realização de investimentos destinados à execução de obras em todas as
áreas de atuação do poder público. Nesse contexto, são paralisados procedimentos
internos preparatórios de licitações para realização de obras em unidades prisionais do
Estado, entre as quais, uma que enfrenta situação de superlotação e precariedade
extrema das condições a que submetidos os que ali cumprem pena, conforme atestado
em vistoria realizada por órgão correicional do sistema prisional estadual. Diante disso, a
Defensoria Pública estadual pretende ir a juízo, para compelir o Estado a realizar obras
emergenciais na unidade prisional em questão. Nessa situação, à luz da legislação
pertinente e da jurisprudência do STF, a Defensoria Pública possui legitimidade para
ajuizar ação civil pública, visando compelir o Estado à realização de obras emergenciais
na unidade prisional, para dar efetividade ao postulado da dignidade da pessoa humana
e assegurar aos detentos o respeito à sua integridade física e moral, não sendo oponíveis
à decisão judicial o argumento da reserva do possível e o princípio da separação de
poderes. BL: Info 794, STF.

(MPSP-2017): Ministério Público propôs, em face da Fazenda Pública do Estado,


demanda coletiva, visando condená-la em obrigação de fazer, consubstanciada na
realização de obras estruturais emergenciais necessárias para assegurar a integridade
física dos detentos de determinada unidade prisional. Em contestação, a Fazenda arguiu
a incidência de discricionariedade administrativa, da teoria da reserva do possível e da
inexistência de previsão orçamentária para os gastos pertinentes. O Magistrado
culminou por julgar improcedente a demanda, acolhendo, para tanto, as teses defensivas
aqui mencionadas. Ante tais premissas, e em consonância com posicionamento firmado
pelo STF, o entendimento correto é que a sentença comporta reforma, vez que a
assecuração do postulado da dignidade da pessoa humana sobrepuja a margem de
discricionariedade conferida ao Administrador Público e direciona o investimento de
recursos, inviabilizando a adoção da teoria da reserva do possível. BL: Info 794, STF.
1.46. HABEAS DATA: Possibilidade de se obter dados do contribuinte que constem nos
sistemas dos órgãos fazendários – (Info 790) – IMPORTANTE!!! – REPERCUSSÃO GERAL!!!
(Proc./IPSM-2018)

O habeas data é a garantia constitucional adequada para a obtenção dos dados


concernentes ao pagamento de tributos do próprio contribuinte constantes dos sistemas
informatizados de apoio à arrecadação dos órgãos da administração fazendária dos entes
estatais.
No caso concreto, o STF reconheceu que o contribuinte pode ajuizar habeas data para ter
acesso às informações relacionadas consigo e que estejam presentes no sistema SINCOR
da Receita Federal.
O SINCOR (Sistema de Conta Corrente de Pessoa Jurídica) é um banco de dados da
Receita Federal no qual ela armazena as informações sobre os débitos e créditos dos
contribuintes pessoas jurídicas.
A decisão foi tomada com base no SINCOR, mas seu raciocínio poderá ser aplicado para
outros bancos de dados mantidos pelos órgãos fazendários.
STF. Plenário. RE 673707/MG, Rel. Min. Luiz Fux, j. 17/6/15 (repercussão geral) (Info 790).

1.47. LIBERDADE DE EXPRESSÃO: Biografias: autorização prévia e liberdade de


expressão – (Info 789) – IMPORTANTE!!!

Para que seja publicada uma biografia NÃO é necessária autorização prévia do indivíduo
biografado, das demais pessoas retratadas, nem de seus familiares. Essa autorização
prévia seria uma forma de censura, não sendo compatível com a liberdade de expressão
consagrada pela CF/88. As exatas palavras do STF foram as seguintes:
“É inexigível o consentimento de pessoa biografada relativamente a obras biográficas
literárias ou audiovisuais, sendo por igual desnecessária a autorização de pessoas
retratadas como coadjuvantes ou de familiares, em caso de pessoas falecidas ou ausentes”.
Caso o biografado ou qualquer outra pessoa retratada na biografia entenda que seus
direitos foram violados pela publicação, terá direito à reparação, que poderá ser feita não
apenas por meio de indenização pecuniária, como também por outras formas, tais como a
publicação de ressalva, de nova edição com correção, de direito de resposta etc.
STF. Plenário. ADI 4815/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 10/6/2015 (Info 789).
OBS:
Interpretação literal do art. 20 do CC : As biografias não-autorizadas seriam proibidas, já que
elas constituiriam na divulgação ou publicação da imagem-atributo do biografado sem que
este tenha dado seu consentimento. Diante disso, o biografado poderia, invocando seu direito
à imagem e à vida privada, pleitear judicialmente providências para impedir ou fazer cessar
essa publicação (art. 21 do CC). Em outras palavras, o biografado poderia impedir a
produção da biografia ou, se ela já estivesse pronta, a sua comercialização. O exemplo mais
emblemático de disputa judicial envolvendo o tema ocorreu no caso do cantor Roberto
Carlos, que processou o jornalista e escritor Paulo Cesar de Araújo, autor de sua biografia
não-autorizada chamada de “Roberto Carlos em detalhes” e que havia sido lançada em
dezembro de 2006 pela Editora Planeta, sendo proibida pela Justiça em abril de 2007.

ADI 4815: Em 2012, a Associação Nacional dos Editores de Livros (ANEL) ajuizou uma ADI
no STF com o objetivo de declarar a inconstitucionalidade parcial dos arts. 20 e 21 do CC/02.
O pedido principal da autora foi para que o STF desse interpretação conforme a Constituição
e declarasse que não é necessário o consentimento da pessoa biografada para a publicação ou
veiculação de obras biográficas, literárias ou audiovisuais.

O STF concordou com o pedido? As biografias não-autorizadas podem ser publicadas


mesmo sem prévia autorização do biografado (ou de sua família)? SIM. O STF julgou
procedente a ADI e conferiu interpretação conforme à Constituição aos arts. 20 e 21 do CC
para declarar que não é necessária a autorização prévia para a publicação de biografias.

Liberdade de expressão: A CF/88 consagra a liberdade de expressão em seu art. 5º, IX,
prevendo que “é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença”. No art. 220, § 2º, a Carta afirma que é “vedada toda e
qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”. Desse modo, uma regra
infraconstitucional (Código Civil) não pode abolir o direito de expressão e criação de obras
literárias.

Argumentos utilizados pelo STF:


a) a Constituição assegura como direitos fundamentais a liberdade de pensamento e de sua
expressão, a liberdade de atividade intelectual, artística, literária, científica e cultural;
b) a Constituição garante o direito de acesso à informação e de pesquisa acadêmica, para o
que a biografia seria fonte fecunda;
c) a Constituição proíbe a censura de qualquer natureza, não se podendo concebê-la de forma
subliminar pelo Estado ou por particular sobre o direito de outrem;
d) a Constituição garante a inviolabilidade da intimidade, da privacidade, da honra e da
imagem da pessoa; e
e) a legislação infraconstitucional não poderia amesquinhar ou restringir direitos
fundamentais constitucionais, ainda que sob pretexto de estabelecer formas de proteção,
impondo condições ao exercício de liberdades de forma diversa da constitucionalmente
fixada.

Direitos do biografado: Os Ministros fizeram, no entanto, a ressalva de que os direitos do


biografado não ficarão desprotegidos. A biografia poderá ser lançada mesmo sem
autorização do biografado, mas se ficar constatado que houve abuso da liberdade de
expressão e violação à honra do indivíduo retratado, este poderá pedir:
• a reparação dos danos morais e materiais que sofreu;
• a retificação das informações veiculadas;
• o direito de resposta;
• e até mesmo, em último caso, a responsabilização penal do autor da obra.

1.48. ATO JURÍDICO PERFEITO: Aplicação imediata aos contratos em curso da lei que
fixa novos índices de correção monetária – (Info 783)

A Lei 9.069/95 (Lei do Plano Real) estabeleceu, em seu art. 21, que os índices de correção
monetária previstos nos contratos de locação comercial que já existiam antes mesmo da
sua vigência deveriam ser alterados.
Essa medida não violou direito adquirido nem ato jurídico perfeito.
Segundo a jurisprudência do STF, nas situações de natureza contratual, a lei nova pode
incidir imediatamente sobre as cláusulas presentes no contrato, desde que as normas
legais sejam de natureza cogente, ou seja, aquelas cujo conteúdo foge do domínio da
vontade dos contratantes.
Assim, se estivermos diante de um contrato de trato sucessivo e execução diferida, se
surgir uma lei nova que determine, de forma cogente, sua aplicação imediata, os
contratantes não podem invocar direito adquirido ou ato jurídico perfeito com o objetivo
de manter o teor das cláusulas na forma como originalmente foram previstas no contrato.
STF. Plenário. RE 212609/SP, RE 215016/SP, RE 211304/RJ, RE 222140/SP e RE 268652/RJ,
red. p/ o acórdão Min. Teori Zavascki, j. 29/4/15 (Info 783).

1.49. CONTRIBUIÇÃO CONFEDERATIVA: Súmula vinculante 40 – (Info 777)

Súmula Vinculante 40: A contribuição confederativa de que trata o artigo 8º, IV, da
Constituição Federal, só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo.
OBS:
Art. 8º (...)
IV — a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria
profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da
representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista
em lei;

1.50. DIREITO À INFORMAÇÃO: Jornal tem direito de obter informações sobre o uso da
verba indenizatória por senadores – (Info 776) – IMPORTANTE!!!
Determinado jornal requereu ao Senado Federal cópia dos documentos que
demonstrassem como os Senadores utilizaram a verba indenizatória dos seus gabinetes.
A Presidência do Senado negou ao jornal o acesso aos dados sob o fundamento de que os
documentos solicitados seriam sigilosos e que haveria uma invasão à privacidade dos
Parlamentares.
O STF determinou que o Senado forneça cópia dos documentos solicitados.
A verba indenizatória destina-se a custear despesas direta e exclusivamente relacionadas
ao exercício da função parlamentar. Desse modo, tais valores possuem natureza pública,
tanto pelo fato de estarem sendo pagas por um órgão público (Senado Federal) quanto
pela finalidade a que se destinam, estando vinculadas ao exercício da representação
popular (mandato). Sendo a verba pública, a regra geral é a de que as informações sobre o
seu uso são públicas.
A Corte entendeu que o fornecimento de tais informações não acarreta qualquer risco à
segurança nem viola a privacidade ou intimidade dos Parlamentares.
STF. Plenário. MS 28178/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 4/3/2015 (Info 776).

1.51. DIREITOS SOCIAIS: Proibição de que o salário mínimo seja utilizado como
indexador econômico – (Info 774)

Lei estadual criou um benefício assistencial e previu que seu valor seria o do salário
mínimo vigente. Tal previsão, em princípio, viola o art. 7º, IV, da CF/88, que proíbe que o
salário mínimo seja utilizado como referência (parâmetro) para outras finalidades que não
sejam a remuneração do trabalho. No entanto, o STF afirmou que seria possível conferir
interpretação conforme a Constituição e dizer que o dispositivo previu que o valor do
benefício seria igual ao salário mínimo vigente na época em que a lei foi editada (R$ 545).
Após isso, mesmo o salário mínimo aumentando nos anos seguintes, o valor do benefício
não pode acompanhar automaticamente os reajustes realizados sobre o salário mínimo,
considerando que ele não pode servir como indexador.
Em suma, o STF determinou que a referência ao salário mínimo contida na lei estadual
seja considerada como um valor certo que vigorava na data da edição da lei, passando a
ser corrigido nos anos seguintes por meio de índice econômico diverso. Com isso, o
benefício continua existindo e será necessário ao governo do Amapá apenas reajustar esse
valor por meio de índices econômicos.
STF. Plenário. ADI 4726 MC/AP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 11/2/2015 (Info 774)

1.52. PRINCÍPIO DA IGUALDADE: É constitucional a Lei que veda que ocupantes da


carreira policial exerçam advocacia – (Info 735)

A Lei (art. 28, inciso V, da Lei 8.906/94) que veda o exercício da atividade de advocacia por
aqueles que desempenham, direta ou indiretamente, atividade policial, não afronta o
princípio da isonomia.
STF. Plenário. ADI 3541/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 12/2/14 (Info 735)

1.53. CONTROE JURISDICIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS: Direito a acessibilidade


em prédios públicos – (Info 726) – IMPORTANTE!!! - (Proc./IPSM-2018)

A CF/88 e a Convenção Internacional sobre Direitos das Pessoas com Deficiência


asseguram o direito dos portadores de necessidades especiais ao acesso a prédios
públicos, devendo a Administração adotar providências que o viabilizem. O Poder
Judiciário, em situações excepcionais, pode determinar que a Administração Pública adote
medidas assecuratórias de direitos constitucionalmente reconhecidos como essenciais,
sem que isso configure violação do princípio da separação de poderes.
STF. 1ª Turma. RE 440028/SP, rel. Min. Marco Aurélio, j. 29/10/13 (Info 726).

1.54. NACIONALIDADE: Ministro da Justiça não tem competência para rever ato de
naturalização – (Info 694)
Segundo o art. 12, § 4º, I, da CF/88, após ter sido deferida a naturalização, seu
desfazimento só pode ocorrer mediante processo judicial, mesmo que o ato de concessão
da naturalização tenha sido embasado em premissas falsas (erro de fato).
O STF entendeu que os §§ 2º e 3º do art. 112 da Lei nº 6.815/80 (Estatuto do Estrangeiro)
não foram recepcionados pela CF/88.
Assim, o Ministro de Estado da Justiça não tem competência para rever ato de
naturalização.
STF. Plenário. RMS 27840/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão Min.
Marco Aurélio, j. 7/2/13 (Info 694).

1.55. PRINCÍPIO DA IGUALDADE: Constitucionalidade do sistema de cotas em


universidades para alunos de escolas públicas – (Info 665) – REPERCUSSÃO GERAL!!!

É também constitucional fixar cotas para alunos que sejam egressos de escolas públicas.
STF. Plenário. RE 597285/RS, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 9/5/12 (repercussão geral)
(Info 665).

1.56. PRINCÍPIO DA IGUALDADE: Constitucionalidade do sistema de cotas em


universidades com critério étnico-racial – (Info 663)

O sistema de cotas em universidades públicas, com base em critério étnico-racial, é


CONSTITUCIONAL. No entanto, as políticas de ação afirmativa baseadas no critério
racial possuem natureza transitória.
STF. Plenário. ADPF 186/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 25 e 26/4/12 (Info 663).

2. ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
2.1. Alteração dos limites de um Município exige plebiscito – (Info 872)

Para que sejam alterados os limites territoriais de um Município é necessária a realização


de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, nos
termos do art. 18, § 4º da CF/88.
STF. Plenário. ADI 2921/RJ, rel. orig. Min. Ayres Britto, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, j.
9/8/17 (Info 872).

2.2. Formação de novos municípios – (Info 758)

Para a criação de novos Municípios, o art. 18, § 4º da CF/88 exige a edição de uma Lei
Complementar Federal estabelecendo o procedimento e o período no qual os Municípios
poderão ser criados, incorporados, fundidos ou desmembrados.
Como atualmente não existe essa LC, as leis estaduais que forem editadas criando novos
Municípios serão inconstitucionais por violarem a exigência do § 4º do art. 18.
STF. Plenário. ADI 4992/RO, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 11/9/14 (Info 758).

3. COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS
3.1. COMPETÊNCIAS MUNICIPAIS: Em regra, a competência para dar nome a
logradouros públicos é do Prefeito, por meio de decreto; contudo, a lei orgânica poderá
prever essa competência também para a Câmara Municipal, por meio de lei, desde que não
exclua a do Prefeito – (Info 954)

A Lei Orgânica do Município de Sorocaba/SP previu que cabe à Câmara Municipal


legislar sobre “denominação de próprios, vias e logradouros públicos” (art. 33, XII).
O STF afirmou que se deve realizar uma interpretação conforme a Constituição Federal
para o fim de reconhecer que existe, no caso, uma coabitação normativa entre os Poderes
Executivo (decreto) e Legislativo (lei formal) para o exercício da competência destinada à
denominação de próprios, vias e logradouros públicos e suas alterações, cada qual no
âmbito de suas atribuições. Assim, o art. 33, XII, deve ser interpretado como sendo uma
previsão dúplice, no sentido de que tanto o chefe do Poder Executivo (mediante decreto)
como também a Câmara Municipal (por meio de lei) podem estabelecer os nomes das vias
e logradouros públicos.
Assim, tanto o chefe do Poder Executivo (mediante decreto) como também a Câmara
Municipal (por meio de lei) podem estabelecer os nomes das vias e logradouros públicos.
STF. Plenário. RE 1151237/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 3/10/19 (Info 954).

3.2. COMPETÊNCIAS MUNICIPAIS: É inconstitucional lei municipal que preveja que o


Poder Executivo poderá conceder autorização para que sejam explorados serviços de
radiodifusão no Município – (Info 947)

É formalmente inconstitucional lei municipal que autoriza o Poder Executivo Municipal a


conceder a exploração do Serviço de Radiodifusão Comunitária no âmbito do território do
Município.
O art. 21, XII, “a”, da CF/88 estabelece que a competência para conceder autorização para
tais serviços é da União.
Além disso, o art. 22, IV da CF/88 confere à União a competência privativa para legislar
sobre o tema “radiodifusão”.
STF. Plenário. ADPF 235/TO, Rel. Min. Luiz Fux, j. 14/8/19 (Info 947).

3.3. COMPETÊNCIAS ESTADUAIS: Lei estadual não pode proibir que as


concessionárias de energia elétrica cobrem um valor do consumidor para a religação do
serviço que havia sido suspenso por inadimplemento – (Info 946) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional lei estadual que proíbe que as empresas concessionárias cobrem “taxa”
de religação no caso de corte de fornecimento de energia por atraso no pagamento.
Essa lei estadual invadiu a competência privativa da União para dispor sobre energia,
violando, assim, o art. 22, IV, da CF/88. Além disso, também interferiu na prestação de um
serviço público federal, considerando que o serviço de energia elétrica é de competência
da União, nos termos do art. 21, XII, “b”, da CF/88.
Ex: concessionária havia “cortado” (suspendido) o serviço de energia elétrica em razão de
inadimplemento; o consumidor regularizou a situação, quitando os débitos; a
concessionária pode exigir do cliente o pagamento de uma tarifa para efetuar o
religamento do serviço; lei estadual não pode proibir que a concessionária cobre esse
valor.
STF. Plenário. ADI 5610/BA, Rel. Min. Luiz Fux, j. 8/8/19 (Info 946).
OBS:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...)
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;

Art. 21. Compete à União: (...)


XII - explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão:
(...)
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos
cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais
hidroenergéticos;

Não confundir: Vale a pena relembrar outro julgado sobre competência legislativa e energia
elétrica para você não confundir no momento da prova:
É constitucional lei estadual que proíbe que as empresas concessionárias
façam o corte do fornecimento de água e luz por falta de pagamento, em
determinados dias. Ex: lei do Estado do Paraná proíbe concessionárias de
serviços públicos de água e luz de cortarem o fornecimento residencial de seus
serviços por falta de pagamento de contas às sextas-feiras, sábados, domingos,
feriados e no último dia útil anterior a feriado. Também estabelece que o
consumidor que tiver suspenso o fornecimento nesses dias passa a ter o direito
de acionar juridicamente a concessionária por perdas e danos, além de ficar
desobrigado do pagamento do débito que originou o corte. STF. Plenário. ADI
5961/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, j.
19/12/2018 (Info 928).
3.4. COMPETÊNCIAS MUNICIPAIS: É constitucional lei municipal que estabelece que
os supermercados ficam obrigados a colocar à disposição dos consumidores pessoal
suficiente nos caixas, de forma que a espera na fila não seja superior a 15 minutos – (Info 942)

É constitucional lei municipal que estabelece que os supermercados e hipermercados do


Município ficam obrigados a colocar à disposição dos consumidores pessoal suficiente no
setor de caixas, de forma que a espera na fila para o atendimento seja de, no máximo, 15
minutos. Isso porque compete aos Municípios legislar sobre assuntos de interesse local,
notadamente sobre a definição do tempo máximo de espera de clientes em filas de
estabelecimentos empresariais.
Vale ressaltar que essa lei municipal não obriga a contratação de pessoal, e sim sua
colocação suficiente no setor de caixas para o atendimento aos consumidores.
STF. 1ª T. ARE 809489 AgR/SP, Rel. Min. Rosa Weber, j. 28/5/2019 (Info 942).
OBS:
Não confundir com este outro julgado:
São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à
prestação de serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por
violação ao princípio da livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88). STF.
Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min.
Roberto Barroso, j. 1º/8/17 (Info 871). STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min.
Luiz Fux, j. 24/10/18 (repercussão geral) (Info 921).

3.5. COMPETÊNCIAS MUNICIPAIS: São inconstitucionais leis municipais que proíbam


o serviço de transporte de passageiros mediante aplicativo – (Info 939) REPERCUSSÃO
GERAL!!!

A proibição ou restrição da atividade de transporte privado individual por motorista


cadastrado em aplicativo é inconstitucional, por violação aos princípios da livre iniciativa
e da livre concorrência.
STF. Plenário. ADPF 449/DF, Rel. Min. Luiz Fux; RE 1054110/SP, Rel. Min. Roberto Barroso,
j. 8 e 9/5/19 (repercussão geral) (Info 939).

3.6. COMPETÊNCIAS DA UNIÃO: Os Municípios, ao editarem as leis locais


regulamentando o transporte de passageiros mediante aplicativo, deverão observar as regras
impostas pela Lei federal nº 13.640/2018 – (Info 939) – REPERCUSSÃO GERAL!!!

No exercício de sua competência para regulamentação e fiscalização do transporte privado


individual de passageiros, os municípios e o Distrito Federal não podem contrariar os
parâmetros fixados pelo legislador federal.
Isso porque compete à União legislar sobre “trânsito e transporte”, nos termos do art. 22,
XI, da CF/88.
STF. Plenário. ADPF 449/DF, Rel. Min. Luiz Fux; RE 1054110/SP, Rel. Min. Roberto Barroso,
j. 8 e 9/5/19 (repercussão geral) (Info 939).

3.7. COMPETÊNCIAS DA UNIÃO: CE não pode exigir autorização da ALE para que o
Governador (ou o Vice) se ausente do país qualquer que seja o prazo – (Info 939)

A exigência de prévia autorização da assembleia legislativa para o governador e o vice-


governador do Estado ausentarem-se, “em qualquer tempo”, do território nacional mostra-
se incompatível com os postulados da simetria e da separação dos Poderes.
A Constituição Federal, em seu art. 49, III e em seu art. 83, prevê que é da competência do
Congresso Nacional autorizar o Presidente e o Vice-presidente da República a se
ausentarem do País quando a ausência for por período superior a 15 dias.
Logo, afronta os princípios da separação dos Poderes e da simetria a norma da
Constituição estadual que exige prévia licença da Assembleia Legislativa para que o
Governador e o Vice-governador se ausentem do País por qualquer prazo.
Os Estados-membros não podem criar novas ingerências de um Poder na órbita de outro
que não derivem explícita ou implicitamente de regra ou princípio previsto na
Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 5373 MC/RR, Rel. Min. Celso de Mello, j. 9/5/2019 (Info 939).
3.8. COMPETÊNCIAS DA UNIÃO: É inconstitucional lei estadual que crie hipóteses de
isenção de pagamento de direitos autorais fora do rol trazido pela Lei federal nº 9.610/98 –
(Info 939)

É inconstitucional lei estadual que isenta entidades filantrópicas de recolher as taxas de


retribuição autoral arrecadadas pelo ECAD.
A competência legislativa concorrente sobre produção e consumo e responsabilidade por
dano ao consumidor, prevista no art. 24, V e VIII, da Constituição Federal, não autoriza os
Estados-membros e o Distrito Federal a disporem sobre direitos autorais.
A lei estadual que cria novas hipóteses de não recolhimento de direitos autorais não
previstas na Lei federal usurpa a competência privativa da União para legislar sobre
direito civil, direito de propriedade e para estabelecer regras de intervenção no domínio
econômico (art. 22, I, da CF/88).
Além disso, essa lei estadual retira dos autores das obras musicais o seu direito exclusivo
de utilização, publicação ou reprodução das obras ou do reconhecimento por sua criação,
afrontando o art. 5º, XXII e XXVII, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 5800/AM, Rel. Min. Luiz Fux, j. 8/5/2019 (Info 939).

3.9. COMPETÊNCIAS ESTADUAIS: É constitucional lei estadual que dispensa multa


por quebra da fidelidade nos contratos com as empresas de telefonia em caso de desemprego
superveniente do cliente – (Info 937)

É constitucional lei estadual que obriga as empresas de telefonia fixa e móvel a


cancelarem a multa contratual de fidelidade quando o usuário comprovar que perdeu o
vínculo empregatício após a adesão do contrato.
Desse modo, implementada norma de proteção ao consumidor, rigorosamente contida nos
limites do art. 24, V, da CF/88, entendeu o STF que esta norma em nada interfere no
regime de exploração, na estrutura remuneratória da prestação dos serviços ou no
equilíbrio dos contratos administrativos, razão pela qual não há usurpação da
competência legislativa privativa da União.
STF. Plenário. ADI 4908/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, j. 11/4/2019 (Info 937).

3.10. COMPETÊNCIAS ESTADUAIS: É inconstitucional lei estadual que exija que o


pescador, para exercer sua atividade, cadastre-se em entidade privada (Federação de
Pescadores) que cobra taxa por essa fiscalização – (Info 937)

É inconstitucional lei estadual que preveja que o pescador semiprofissional ou esportivo,


para o exercício da atividade, deverá se cadastrar e se habilitar na Federação de Pescadores
do Estado.
Também é inconstitucional a norma estadual que afirme que a taxa de cadastro e o
fornecimento da habilitação para exercer a atividade de pescador semiprofissional ou
esportivo será definida em Assembleia Geral da Federação de Pescadores do Estado.
Tais disposições invadem a competência da União para editar as normas gerais sobre
pesca.
Existe lei federal que regulamenta, de modo unificado, todo o procedimento de
habilitação de pesca com requisitos nacionais.
Além disso, a lei não poderia ter delegado a uma entidade de direito privado (Federação
dos Pescadores) o poder de definir o valor da taxa a ser cobrada.
STF. Plenário. ADI 3829/RS, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 11/4/19 (Info 937).

3.11. COMPETÊNCIAS ESTADUAIS: Inconstitucionalidade de lei estadual que imponha


obrigações contratuais para seguradoras – (Info 934)

É inconstitucional lei estadual que discipline as obrigações contratuais relativas a seguros


de veículos e regras de registro, desmonte e comercialização de veículos sinistrados.
Esta lei estadual viola a competência privativa da União para legislar sobre direito civil,
seguros, trânsito e transporte (art. 22, I, VII e XI, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 4704/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/3/2019 (Info 934).
3.12. COMPETÊNCIAS ESTADUAIS: É inconstitucional lei estadual que discipline a
arrecadação das receitas decorrentes da exploração de recursos hídricos e minerais – (Info
932)

É inconstitucional lei estadual que discipline a ARRECADAÇÃO das receitas oriundas da


exploração de recursos hídricos para geração de energia elétrica e de recursos minerais,
inclusive petróleo e gás natural.
Há uma inconstitucionalidade formal, considerando que cabe à União legislar sobre o
tema (art. 22, IV e XII, da CF/88).
Por outro lado, a lei estadual pode dispor sobre a fiscalização e o controle dessas receitas,
tendo em vista que é de competência comum aos entes registrar, acompanhar e fiscalizar
as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus
territórios (art. 23, XI, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 4606/BA, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 28/2/2019 (Info 932).
OBS:
Recursos hídricos e minerais: Os recursos hídricos e os recursos minerais pertencem à
União, conforme prevê o art. 20 da CF/88:
Art. 20. São bens da União: (...)
VIII - os potenciais de energia hidráulica;
IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo;

Exemplo de aproveitamento dos recursos hídricos para geração de energia: hidrelétrica.

Exemplo de recurso mineral: petróleo.

Participação dos Estados/DF e Municípios na exploração dessas riquezas: Apesar de


pertencerem à União, a CF/88 assegura também aos Estados, DF e Municípios uma
participação no resultado da exploração de petróleo, gás natural, recursos hídricos e outros
recursos minerais situados no respectivo território ou a compensação financeira por tal
exploração. Isso está previsto no § 1º do art. 20:
Art. 20 (...)
§ 1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos
Municípios, bem como a órgãos da administração direta da União, participação
no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para
fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo
território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva,
ou compensação financeira por essa exploração.

A Lei federal nº 9.478/97 dispõe sobre a política energética nacional e sobre as atividades
relativas ao monopólio do petróleo. Os arts. 48 e 49 dessa lei tratam sobre a distribuição dos
royalties de petróleo, a fim de dar cumprimento ao art. 20, § 1º, da CF/88.

Legislação estadual tratando sobre receitas decorrentes da exploração de recursos hídricos e


minerais: A Bahia editou a Lei estadual 10.850/2007 trazendo regras sobre:
• a fiscalização,
• o controle e
• a arrecadação...
... das receitas recebidas com a exploração de recursos hídricos para a geração de energia
elétrica e de recursos minerais, inclusive petróleo e gás natural, e as respectivas
compensações e participações financeiras que deverão ser feitas ao Estado.

O Decreto estadual nº 11.736/2009 regulamentou esta Lei.

ADI: A Presidente da República ajuizou ADI contra esses dois atos normativos (lei e decreto
estaduais). Na ação, alegou que os atos seriam inconstitucionais porque o art. 22 da CF/88
afirma que compete à União legislar sobre águas, energia e recursos minerais:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...)
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; (...)
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;

O que decidiu o STF? O STF julgou parcialmente procedente a ADI para declarar a
inconstitucionalidade formal dos trechos da Lei e do Decreto que falavam em
“arrecadação”. A Lei baiana permitia que o Estado definisse condições para o recolhimento
(pagamento) das compensações financeiras decorrentes da exploração de recursos hídricos e
minerais em seu território e autorizava que a arrecadação dos valores fosse feita diretamente
por intermédio da Secretaria Estadual da Fazenda. A norma também impunha infrações e
penalidades pelo atraso no pagamento de tais compensações. Ocorre que tais dispositivos
usurparam a competência privativa da União para dispor sobre a exploração de recursos
energéticos, hídricos e minerais.

Condições de recolhimento e repartição são definidas pela União: Conforme vimos acima, o
§ 1º do art. 20 assegura aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municípios e aos órgãos da
administração direta da União participação no resultado da exploração dos recursos hídricos
e minerais. Esses valores possuem natureza jurídica de “receita patrimonial originária”, cuja
titularidade pertence a cada um dos entes federados. Todavia, embora sejam originárias de
Estados e Munícipios, suas condições de recolhimento e repartição são definidas por
regramento da União, uma vez que a ela cabe definir as condições legislativas gerais de
exploração dos potenciais recursos hídricos e minerais (art. 22, IV e XII, da CF/88). A União
possui, na verdade, dupla autoridade normativa na matéria considerando que compete a
ela:
• definir as condições legislativas gerais de exploração de potenciais e recursos hídricos e
minerais (art. 22, IV e XII, da CF/88 – dispositivos transcritos acima); e
• estabelecer as condições contratuais específicas caso essas atividades sejam outorgadas a
particulares (art. 176, da CF/88):
Art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais
de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de
exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao
concessionário a propriedade do produto da lavra.
§ 1º A pesquisa e a lavra de recursos minerais e o aproveitamento dos potenciais
a que se refere o "caput" deste artigo somente poderão ser efetuados mediante
autorização ou concessão da União, no interesse nacional, por brasileiros ou
empresa constituída sob as leis brasileiras e que tenha sua sede e administração
no País, na forma da lei, que estabelecerá as condições específicas quando essas
atividades se desenvolverem em faixa de fronteira ou terras indígenas.
§ 2º - É assegurada participação ao proprietário do solo nos resultados da lavra,
na forma e no valor que dispuser a lei. (...)

Logo, o Estado-membro não pode disciplinar como será a arrecadação desses valores de
que trata o § 1º do art. 20 da CF/88.

Lei estadual pode dispor sobre a fiscalização e controle: Por outro lado, não há nenhum
vício na lei estadual que estipula regras para fiscalização e controle desses recursos. Vale
ressaltar, inclusive, que o art. 23, XI, da CF/88 permite aos entes federativos adotar
providências administrativas para registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de
direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios,
possibilitando que tenham controle sobre as quotas-partes repassadas a título de
compensação financeira pela União. Confira:
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios: (...)
XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e
exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios;

Por esse motivo, o STF afirmou que são constitucionais os dispositivos da Lei estadual que
tratam sobre as providências administrativas que devem ser observados pelas
concessionárias instaladas no Estado.

3.13. COMPETÊNCIAS ESTADUAIS: É constitucional lei estadual que obriga as empresas


prestadoras de serviço no Estado a fornecerem previamente ao consumidor a identificação do
profissional que fará o atendimento na sua residência – (Info 929) – IMPORTANTE!!!

É constitucional lei estadual que obriga as empresas prestadoras de serviços de televisão a


cabo, por satélite ou digital no Estado a informarem previamente a seus clientes os dados
do empregado que realizará o serviço na residência do consumidor.
Ex: Lei do RJ prevê que as empresas prestadoras de serviços, quando acionadas para
realizar qualquer reparo na residência do consumidor, ficam obrigadas a enviar uma
mensagem de celular, pelo menos 1h antes do horário agendado, informando o nome e a
identidade do funcionário que irá ao local.
STF. Plenário. STF. Plenário. ADI 5745/RJ, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o acórdão
Min. Edson Fachin, j. 7/02/2019 (Info 929).
OBS:
ADI: A Associação das Operadoras de Celulares (Acel) ajuizou ação direta de
inconstitucionalidade contra a lei alegando que ela teria invadido a competência privativa da
União para legislar sobre as atividades de telecomunicações.

O que decidiu o STF? Esta Lei é inconstitucional? NÃO. O STF julgou improcedente a ADI,
mantendo a validade da lei.

Lei trata sobre direito do consumidor: De fato, a competência para legislar sobre
“telecomunicações” é privativa da União (art. 22, IV, da CF/88). Ocorre que o STF entendeu
que essa Lei do Estado do Rio de Janeiro versa, na verdade, sobre direito do consumidor,
matéria que se insere no rol de competências legislativas concorrentes:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...)
V - produção e consumo; (...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

Medida de segurança: O objetivo da Lei foi o de conferir uma proteção aos consumidores,
para tentar evitar que eles sejam vítimas de assaltantes que se passam por funcionários das
empresas prestadoras de serviço. Desse modo, a Lei amplia a segurança dos clientes no
momento em que eles receberão prestadores de serviços em casa.

Não há interferência na atividade de telecomunicações: Vale ressaltar, por fim, que a lei
questionada, ao exigir que a empresa comunique ao consumidor os dados do funcionário
que prestará o serviço, não interfere na atividade de telecomunicações propriamente dita.
Logo, não houve ofensa à competência privativa da União.

Federação: A Federação não é apenas um mecanismo de distribuição de competências e


rendas, mas também de desconcentração do poder político e, como tal, um instrumento
para estimular a democracia. Antes de se considerar determinada lei estadual como sendo
inconstitucional por supostamente invadir a competência privativa da União, deve-se
proceder a uma leitura sistemática e teleológica da Constituição Federal. No caso, o valor
constitucional tutelado primariamente pela norma impugnada não é o serviço de
telecomunicações em si, mas a própria segurança do consumidor. O ato normativo
impugnado estabelece uma obrigação de fazer, ou seja, uma obrigação de prestação positiva,
que é informar ao consumidor. Tratando-se de matéria sujeita à competência concorrente
(art. 24, V), mostra-se legítima a atividade legislativa do estado-membro ao ampliar as
garantias dos consumidores. Assim, não há que se falar em invasão da competência
privativa da União para legislar sobre telecomunicações.

3.14. É constitucional lei estadual que veda o corte do fornecimento de água e luz, em
determinados dias, pelas empresas concessionárias, por falta de pagamento – (Info 928) –
IMPORTANTE!!!

É constitucional lei estadual que proíbe que as empresas concessionárias façam o corte do
fornecimento de água e luz por falta de pagamento, em determinados dias.
Ex: lei do Estado do Paraná proíbe concessionárias de serviços públicos de água e luz de
cortarem o fornecimento residencial de seus serviços por falta de pagamento de contas às
sextas-feiras, sábados, domingos, feriados e no último dia útil anterior a feriado. Também
estabelece que o consumidor que tiver suspenso o fornecimento nesses dias passa a ter o
direito de acionar juridicamente a concessionária por perdas e danos, além de ficar
desobrigado do pagamento do débito que originou o corte.
O STF entendeu que a referida lei dispõe sobre Direito do Consumidor, de modo que não
há vício formal. Isso porque Direito do Consumidor é matéria de competência
concorrente, nos termos do art. 24, V e VIII, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 5961/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Marco
Aurélio, j. 19/12/18 (Info 928).
OBS:
Direito do Consumidor: O STF entendeu que a referida lei dispõe sobre Direito do
Consumidor, de modo que não há vício formal. Isso porque Direito do Consumidor é
matéria de competência concorrente, nos termos do art. 24, V e VIII, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...)
V - produção e consumo; (...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

Lei do PR não impediu o corte de forma absoluta: Vale ressaltar que a Lei do Estado do
Paraná não impediu, de forma absoluta, que a concessionária fizesse o corte dos serviços em
caso de inadimplemento. Se a lei estadual tivesse feito isso, seria inconstitucional por afrontar
o que prevê a lei federal a respeito do tema. O que a lei estadual fez foi estabelecer que esse
corte não pode ser realizado em determinados dias nos quais ficaria difícil para o consumidor
regularizar a situação, o que agravaria ainda mais a sua situação.

3.15. É inconstitucional lei do Distrito Federal que trate sobre a estrutura e o regime
jurídico da Polícia Civil do Distrito Federal (a competência para isso é da União) – (Notícia
no site) – (Sem Info) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional lei do Distrito Federal que institua, extinga e transforme órgãos


internos da Polícia Civil do Distrito Federal.
Essa lei viola o art. 21, XIV, da CF/88, que fixa a competência da União para manter e
organizar a Polícia Civil do Distrito Federal.
Deve-se reconhecer que o art. 21, XIV, CF/88 trata tanto de competência administrativa
quanto legislativa, sendo a matéria, portanto, atribuída, prioritariamente, à União.
As leis distritais impugnadas, ao criarem cargos em comissão e novos órgãos, também
instituíram novas obrigações pecuniárias a serem suportadas pela União. Ocorre que é
vedado ao Distrito Federal valer-se de leis distritais para instituir encargos financeiros a
serem arcados pela União.
Como as leis distritais declaradas inconstitucionais eram muito antigas (2001, 2002 e 2005),
o STF decidiu modular os efeitos da decisão.
STF. Plenário. ADI 3666, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 06/12/2018 (notícia do site).
OBS:
Imagine a seguinte situação: O Distrito Federal editou três leis que promoveram a
reestruturação da Polícia Civil do DF. Tais leis instituíram, extinguiram e transformaram
órgãos internos da Polícia, bem como criaram novos cargos comissionados, dentre outras
alterações substanciais. Versaram sobre a estrutura administrativa do Polícia Civil/DF e o
regime jurídico dos respectivos servidores.

Tais leis são constitucionais? NÃO. É o que foi decidido pelo STF na ADI 3666.

Veja o que diz o art. 21, XIV, da CF/88:


Art. 21. Compete à União: (...)
XIV - organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros
militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito
Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio;

Deve-se reconhecer que o art. 21, XIV, da CF/88, trata tanto de competência administrativa
quanto legislativa, sendo a matéria atribuída, prioritariamente, à União.

As três leis distritais impugnadas, ao criarem cargos em comissão e novos órgãos, também
instituíram novas obrigações pecuniárias a serem suportadas pela União. Ocorre que é
vedado ao Distrito Federal valer-se de leis distritais para instituir encargos financeiros a
serem arcados pela União. Isso reforça a ideia de que a competência para legislar sobre a
Polícia Civil do Distrito Federal não se enquadra na competência concorrente do art. 24,
XVI, da CF/88, sendo, na verdade, competência privativa da União, com base no art. 21, XIV.
Vale ressaltar que a União não tem competência absoluta para legislar sobre todas as
questões relacionadas com a Polícia Civil do Distrito Federal. Em outras palavras, não há
dúvidas de que existe a possibilidade de o Distrito Federal legislar pontualmente sobre sua
própria Polícia Civil. No entanto, o DF não pode legislar sobre a “estrutura e o regime
jurídico” da PC/DF. Se isso fosse permitido, o DF acabaria invadindo a competência da
União prevista no art. 21, XIV, da CF/88.

Modulação dos efeitos: As leis do DF declaradas inconstitucionais eram de 2001, 2002 e 2005,
ou seja, vigoravam há mais de uma década. Diante disso, o STF entendeu que não se
poderia declarar a inconstitucionalidade de tais diplomas com efeitos ex tunc (retroativos).
Assim, o STF, em nome da segurança jurídica, do excepcional interesse social e da boa-fé,
decidiu modular os efeitos da decisão, fixando as seguintes regras:
1) os atos já praticados ficam preservados;
2) a decisão deverá produzir efeitos somente a partir de 24 meses, contados da
data da sessão de julgamento; e
3) o presente acórdão não incide, exclusivamente para efeitos de aposentadoria,
para os servidores que já estejam aposentados e aqueles que implementaram os
requisitos para aposentação até a data da publicação da ata de julgamento.

3.16. É inconstitucional lei estadual que obriga empresas de telefonia e de TV por


assinatura a manterem escritórios regionais e representantes para atendimento presencial de
consumidores – (Notícia no site) – (Sem Info)

É inconstitucional lei estadual que obriga as empresas concessionárias de serviços de


telecomunicações a manterem escritórios regionais e representantes legais para
atendimento presencial de consumidores em cidades com população superior a 100 mil
habitantes, bem como a divulgarem os correspondentes endereços físicos no site, no
contrato de prestação de serviços e nas faturas enviadas aos usuários.
Trata-se de matéria relativa a “serviços públicos de telecomunicações”, cuja competência é
privativa da União (art. 21, XI e art. 22, IV, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 4633/PR, Rel. Min. Luiz Fux, j. 10/04/18 (notícia do site).

3.17. Lei estadual pode impor que as agências bancárias instalem divisórias individuais
nos caixas de atendimento – (Notícia no site) - (Sem Info)

É constitucional lei estadual ou municipal que imponha sanções às agências bancárias que
não instalarem divisórias individuais nos caixas de atendimento.
Trata-se de matéria relativa a relação de consumo, o que garante ao Estado competência
concorrente para legislar sobre o tema (art. 24, V, CF/88).
STF. Plenário. ADI 4633/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 10/4/18 (notícia do site).
STF. 1ª Turma. ARE 756593 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 16/12/14.
OBS: O STF já possuía um precedente em sentido semelhante, no entanto, relacionado com
uma lei municipal: STF. 1ª Turma. ARE 756593 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 16/12/14.

3.18. É inconstitucional lei estadual que obrigue a concessionária a fornecer um carro


reserva ao cliente que está aguardando o conserto do seu veículo – (Info 926) –
IMPORTANTE!!!

É inconstitucional lei estadual que impõe às montadoras, concessionárias e importadoras


de veículos a obrigação de fornecer veículo reserva a clientes cujo automóvel fique
inabilitado por mais de quinze dias por falta de peças originais ou por impossibilidade de
realização do serviço, durante o período de garantia contratual.
STF. Plenário. ADI 5158/PE, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 6/12/2018 (Info 926).
OBS: O STF entendeu que há uma inconstitucionalidade orgânica na lei. Vamos entender o
que isso significa:
 
Quanto à NATUREZA do vício, existem duas espécies de inconstitucionalidade
1) MATERIAL Ocorre quando o conteúdo da lei ou ato normativo está em
(NOMOESTÁTICA) desacordo com o conteúdo de uma regra ou princípio
constitucional.
Ex: é inconstitucional lei que estabeleça diferença de
tratamento para filhos havidos fora do casamento. O
conteúdo desta lei viola o conteúdo do art. 227, § 6º da
CF/88.
Ocorre quando é desrespeitada alguma regra do processo
legislativo.
Há uma violação no processo de produção da norma.
Descumprimento dos requisitos formais.
A inconstitucionalidade formal pode ser subdividida em três
espécies:
2.1) Inconstitucionalidade orgânica:
Ocorre quando há inobservância das regras de competência
para a edição do ato.
Ex: uma lei estadual que trate sobre direito penal ou sobre
direito civil.
2) FORMAL 2.2) Inconstitucionalidade formal propriamente dita:
(NOMODINÂMICA) Ocorre quando é descumprido o devido processo legislativo
Dica para guardar o previsto na CF/88.
nome: dinâmica = Esse descumprimento pode ser:
relacionada com o a) Subjetivo: se houve um vício de iniciativa (vício no
processo (movimento) “sujeito” que iniciou o processo legislativo). Ex: lei de
legislativo iniciativa parlamentar sobre um assunto do art. 61, § 1º (que
são de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo).
b) Objetiva: quando são violados outros aspectos do
procedimento legislativo. Ex: uma lei complementar que é
aprovada por maioria simples e não maioria absoluta (art.
69).
2.2) Inconstitucionalidade por violação aos pressupostos
objetivos do ato:
A CF/88 prevê pressupostos objetivos para a edição de
determinados atos. Ex: o art. 62 exige que a medida
provisória somente seja editada em caso de “relevância e
urgência”.
 
Inconstitucionalidade orgânica: Desse modo, repetindo, houve, no presente caso, uma
inconstitucionalidade formal orgânica, considerando que foi violada a regra de
competência para a edição desta lei.
 
Por quê? O Min. Roberto Barroso explicou que esta Lei do Estado de Pernambuco trata sobre
direito do consumidor. Em princípio, os Estados-membros podem legislar sobre “direito do
consumidor”, considerando que se trata matéria de competência concorrente, prevista no art.
24, V, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...)
V - produção e consumo;
 
A competência da União será para estabelecer normas gerais sobre os assuntos do art. 24. Ex:
o Congresso Nacional editou o Código de Defesa do Consumidor, sendo estas as normas
gerais. A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados. Isso significa que os Estados-membros podem complementar a
legislação federal editada pela União. Obviamente, as normas estaduais não podem
contrariar as normas gerais elaboradas pela União. O Ministro Relator entendeu que, neste
caso, o Estado de Pernambuco extrapolou a competência concorrente e não apenas
complementou a legislação federal. Para o STF, foram ultrapassadas as balizas impostas ao
legislador estadual para a elaboração de normas consumeristas. O Min. Ricardo
Lewandowski acompanhou o entendimento pela inconstitucionalidade formal e salientou
que o Estado-membro estaria também, neste caso, legislando sobre “contratos”, ou seja,
sobre Direito Civil, de modo que invadiu a esfera privativa da União. Assim, o STF julgou
procedente o pedido formulado na ação direta para declarar, por vício formal, a
inconstitucionalidade da Lei 15.304/14, do Estado de Pernambuco, em sua integralidade.
3.19. NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS EXAMINADAS PELO STF: CE pode
prever que o Estado e os Municípios deverão reservar vagas para pessoas com deficiência –
(Info 921)

É constitucional norma de Constituição Estadual que preveja que “o Estado e os


Municípios reservarão vagas em seus respectivos quadros de pessoal para serem
preenchidas por pessoas portadoras de deficiência.”
Apesar de, em tese, a Constituição Estadual não poder dispor sobre servidores municipais,
sob pena de afronta à autonomia municipal, neste caso não há inconstitucionalidade,
considerando que se trata de mera repetição de norma da CF/88:
Art. 37 (...) VIII - a lei reservará percentual dos cargos e empregos públicos para as pessoas
portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão;
STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 25/10/18 (Info 921).

3.20. NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS EXAMINADAS PELO STF:


Constituição estadual só pode exigir que o Prefeito (ou o Vice) peça autorização da Câmara
Municipal para viajar se a viagem for superior a 15 dias – (Info 921)

A CE/AP trouxe regra dizendo que se o Prefeito ou o Vice-Prefeito for viajar ao exterior,
“por qualquer tempo”, ele deverá pedir uma licença prévia da Câmara Municipal para a
viagem.
O STF considerou inconstitucional a expressão “por qualquer tempo”.
Essa regra de “por qualquer tempo” está em desacordo com o princípio da simetria. Isso
porque a CF/88 somente exige autorização do Congresso Nacional se a ausência do
Presidente da República for superior a 15 dias (art. 49, III).
De igual modo, a Constituição do Estado do Amapá também só exige autorização da
Assembleia Legislativa se a ausência do Governador (ou do Vice) for superior a 15 dias
(art. 118, § 1º).
Logo, a exigência de autorização da Câmara Municipal para que o Prefeito possa se
ausentar por períodos menores que 15 dias quebra a simetria existente em relação ao
Governador.
STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 25/10/18 (Info 921).

3.21. São inconstitucionais leis estaduais ou municipais que obriguem o supermercado a


manter empacotador para as compras – (Info 871 e 921)

São inconstitucionais as leis que obrigam supermercados ou similares à prestação de


serviços de acondicionamento ou embalagem das compras, por violação ao princípio da
livre iniciativa (art. 1º, IV e art. 170 da CF/88).
STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso, j. 1º/8/17 (Info 871).
STF. Plenário. RE 839950/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 24/10/18 (repercussão geral) (Info 921).
OBS: O modelo econômico previsto na CF/88 é o da livre iniciativa. Nesse modelo, não cabe
ao Estado decidir se vai ter ou não empacotador nos supermercados. O Estado somente deve
interferir na economia se houver fundamentos constitucionais que legitimem essa
intervenção. Isso não se verifica no caso de exigir empacotadores nos supermercados.

Vejamos o teor do julgado veiculado no Info 871 do STF:


Lei estadual que torna obrigatória a prestação de serviços de empacotamento
nos supermercados é inconstitucional por afrontar o princípio constitucional da
livre inciativa. STF. Plenário. ADI 907/RJ, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red.
p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgado em 1º/8/2017 (Info 871).

3.22. COMPETÊNCIA DA UNIÃO: É inconstitucional lei municipal que institua loteria


local – (Info 920)

É inconstitucional lei municipal que cria concurso de prognósticos de múltiplas chances


(loteria) em âmbito local.
A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de sorteios) é privativa da União,
conforme determina o art. 22, XX, da CF/88.
Sobre o tema, vale a pena lembrar a Súmula Vinculante 2: É inconstitucional a lei ou ato
normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios,
inclusive bingos e loterias.
STF. Plenário. ADPF 337/MA, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 17/10/18 (Info 920).
OBS:
O que são “concursos de prognósticos”? Prognóstico é uma previsão de algo que ainda irá
ocorrer. Concurso de prognóstico consiste em premiar aquela pessoa que consegue prever
algo que irá acontecer. Ex: a Mega-Sena é um concurso de prognóstico que premia aquele
que consegue prever os seis números que serão sorteados.

Competência privativa da União: A competência para tratar sobre esse assunto (sistemas de
sorteios) é privativa da União, conforme determina o art. 22, XX, CF/88:
Art. 22 (...)
XX - sistemas de consórcios e sorteios;

A expressão “sistema de sorteios”, constante do art. 22, XX, CF/88, abrange os jogos de
azar, as loterias e similares (STF. Plenário. ADI 3895, Rel. Min. Menezes Direito, j. 4/6/08).

O STF editou uma súmula vinculante sobre o tema:


Súmula vinculante 2: É inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou
distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e
loterias.

Vejamos o seguinte julgado do STF:


É inconstitucional norma estadual ou distrital que regulamente o
funcionamento de loterias, por ser matéria de competência privativa da União.
STF. Plenário. ADI 3630, Rel. Min. Edson Fachin, j. 30/06/2017.

A SV fala em Estado e Distrito Federal. Isso significa que os Municípios poderiam legislar
sobre o assunto? NÃO. Os Municípios também não podem. A instituição (criação) de
sistemas de consórcios e sorteios, como no caso das loterias, é matéria de competência
legislativa privativa da União. Extrapola as competências dos Municípios para legislar sobre
interesse local a instituição de loteria municipal, tendo em vista que a legislação federal não
permite isso.

3.23. Lei estadual que fixa piso salarial profissional violando os requisitos da LC federal
103/2000 é considerada inconstitucional por ofensa ao art. 22, I e parágrafo único da CF/88 –
(Info 919)

A competência para editar lei fixando o piso salarial das categorias profissionais (art. 7º,
V, CF/88) é privativa da União por se tratar de direito do trabalho (art. 22, I).
A União editou a LC federal 103/2000 autorizando que os Estados-membros e o DF editem
leis fixando o piso salarial dos profissionais de acordo com suas realidades regionais.
Ocorre que a União exigiu, dentre outros requisitos, que essa lei seja de iniciativa do
chefe do Poder Executivo estadual (Governador).
Se uma lei estadual/distrital de iniciativa parlamentar fixa o piso salarial, essa lei
ultrapassa os limites impostos pela LC federal 103/2000 e, em última análise, viola
diretamente o art. 22, I e § único, da CF/88, sendo considerada inconstitucional.
Assim, a extrapolação dos limites da competência legislativa delegada pela União aos
Estados e ao Distrito Federal representa a usurpação de competência legislativa da União
para legislar sobre direito do trabalho (art. 22, I e parágrafo único) e, consequentemente, a
inconstitucionalidade formal da lei delegada.
STF. Plenário. ADI 5344 MC/PI, Rel. Min. Edson Fachin, j. 11/10/2018 (Info 919).
OBS:
Piso salarial: A Constituição Federal, em seu art. 7º, prevê o seguinte direito social:
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social: (...)
V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;

Piso salarial é o valor mínimo que os membros de determinada categoria profissional devem
ganhar. Ex: piso salarial dos jornalistas, dos engenheiros, dos psicólogos etc.
Quem fixa esse piso salarial? O piso salarial pode ser fixado:
• por lei;
• por sentença normativa
• por acordo ou convenção coletiva de trabalho.

Se for fixado por lei, de quem é a competência para editá-la? A fixação de um piso salarial
para empregados é um assunto relacionado com Direito do Trabalho. Logo, compete à União,
privativamente, editar lei tratando sobre o piso salarial dos empregados da iniciativa
privada, conforme determina o art. 22, I, da CF/88:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo,
aeronáutico, espacial e do trabalho;

As competências do art. 22 podem ser delegadas pela União para os entes federativos? SIM.
É o que determina o parágrafo único do art. 22:
Art. 22 (...)
Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre
questões específicas das matérias relacionadas neste artigo.

LC 103/2000: O que fez a União? Editou uma lei complementar delegando para os Estados-
membros e DF a competência para editarem leis fixando o piso salarial dos profissionais.
Em outras palavras, a União falou o seguinte: como a realidade de cada Estado é diferente, eu
abro mão de fixar o piso salarial nacional para os profissionais e autorizo que cada
Estado/DF edite sua própria lei prevendo o valor mínimo que os profissionais deverão
receber. Isso foi feito por meio da LC 103/2000, que tem a seguinte redação:
Art. 1º Os Estados e o Distrito Federal ficam autorizados a instituir, mediante
lei de iniciativa do Poder Executivo, o piso salarial de que trata o inciso V do
art. 7º da Constituição Federal para os empregados que não tenham piso salarial
definido em lei federal, convenção ou acordo coletivo de trabalho.
§ 1º A autorização de que trata este artigo não poderá ser exercida:
I – no segundo semestre do ano em que se verificar eleição para os cargos de
Governador dos Estados e do Distrito Federal e de Deputados Estaduais e
Distritais;
II – em relação à remuneração de servidores públicos municipais.
§ 2º O piso salarial a que se refere o caput poderá ser estendido aos empregados
domésticos.
Art. 2º Esta Lei Complementar entra em vigor na data de sua publicação.

Requisitos para a edição de lei estadual/distrital fixando o piso salarial:


1) a lei deve ser de iniciativa do Governador do Estado;
2) a categoria profissional abrangida pela lei não pode ter piso salarial definido em lei
federal, convenção ou acordo coletivo de trabalho;
3) a lei não pode ser editada no segundo semestre do ano em que se verificar eleição para
os cargos de Governador e de Deputados;
4) não pode ser editada para tratar sobre a remuneração de servidores públicos municipais.

Pisos salariais fixados em valor mais alto em acordos ou convenções coletivas deverão
prevalecer: Vale ressaltar que, se determinada categoria profissional conseguiu, por meio de
acordo ou convenção coletiva, estipular um piso salarial, irá prevalecer aquilo que foi
definido na negociação coletiva. Assim, o piso salarial fixado pela legislação estadual não
incidirá sobre as profissões que tenham convenção ou acordo coletivo de trabalho,
preservando-se os pisos salariais assim definidos. Por outro lado, em relação aos
trabalhadores não abrangidos por nenhuma forma anterior de negociação coletiva, o piso
salarial estadual incidirá, passando a ser esse, portanto, o patamar mínimo legalmente
assegurado à categoria, e não mais o “salário mínimo nacional”. A instituição do piso
salarial regional visa reduzir as desigualdades sociais, conferindo proteção aos trabalhadores
e assegurando a eles melhores condições salariais. A LC federal 103/00 teve por objetivo
maior assegurar àquelas classes de trabalhadores menos mobilizadas e, portanto, com menor
capacidade de organização sindical, um patamar mínimo de salário. A fim de manter-se o
incentivo à negociação coletiva (art. 7º, XXVI, CF/88), os pisos salariais regionais somente
serão estabelecidos por lei naqueles casos em que não haja convenção ou acordo coletivo
de trabalho. Assim, as entidades sindicais continuarão podendo atuar nas negociações
coletivas, desde que respeitado o patamar mínimo legalmente assegurado. STF. Plenário.
ADI 4.364 ED, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 29/5/13.

Lei do Estado do Piauí tratando sobre o piso salarial de fisioterapeutas: O Estado do Piauí,
conforme autoriza a LC federal 103/2000, editou a Lei 6.633/15 fixando o piso salarial do
Fisioterapeuta e do Terapeuta Ocupacional. Veja:
Art. 1º O piso salarial do Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional no âmbito do
Estado do Piauí é de:
I - R$ 2.000,00 (dois mil reais) mensais, para jornada de até quatro horas diárias
ou vinte horas semanais;
II - R$ 2 500,00 (dois mil e quinhentos reais) mensais, para jornada de até seis
horas diárias ou trinta horas semanais.
Art. 2º - O reajuste do piso salarial de que trata esta Lei é anual, sempre no dia
primeiro de janeiro do ano subsequente, pela variação acumulada do Índice
Nacional de Preços ao Consumidor.

Qual foi, no entanto, o “problema” desta Lei? Ela foi fruto de projeto de lei de iniciativa de
um Deputado Estadual. Em outras palavras, foi um Deputado Estadual quem propôs o
projeto que deu origem a essa lei.

Há um vício neste caso? SIM. Isso porque o art. 1º da LC federal 103/2000 afirma que “os
Estados e o Distrito Federal ficam autorizados a instituir, mediante lei de iniciativa do Poder
Executivo, o piso salarial de que trata o inciso V do art. 7º da Constituição Federal (...)”.

Essa Lei do Estado do Piauí violou, portanto, o art. 1º da LC federal 103/2000. Isso está
muito claro... A dúvida que resta é a seguinte: podemos dizer que a Lei do Piauí é
inconstitucional ou ela é meramente ilegal? Caberia ADI contra esta Lei? SIM. A Lei do
Piauí é inconstitucional. O STF possui entendimento de que a lei estadual que extrapola, ou
seja, que ultrapassa a autorização conferida pela LC federal é considerada
INCONSTITUCIONAL.

Por que se considera que o vício é de inconstitucionalidade? Porque se a lei estadual/distrital


ultrapassou os limites impostos pela LC federal 103/2000, ela, na verdade, está, em última
análise, usurpando, ou seja, apoderando-se indevidamente da competência legislativa
privativa da União prevista no art. 22, I e parágrafo único.
Assim, a extrapolação dos limites da competência legislativa delegada pela União aos
Estados e ao Distrito Federal representa a usurpação de competência legislativa da União
para legislar sobre direito do trabalho (art. 22, I e parágrafo único) e, consequentemente, a
inconstitucionalidade formal da lei delegada. A lei estadual que ultrapassa os limites da
lei delegadora de competência privativa da União é inconstitucional, por ofensa direta às
regras constitucionais de repartição da competência legislativa. Existindo lei complementar
federal autorizando os Estados-membros a legislar sobre determinada questão específica, não
pode a lei estadual ultrapassar os limites da competência delegada, pois, se tal ocorrer, o
diploma legislativo estadual incidirá diretamente no vício da inconstitucionalidade. Atuar
fora dos limites da delegação é legislar sem competência, e a usurpação da competência
legislativa qualifica-se como ato de transgressão constitucional.

3.24. Os Municípios detêm competência para legislar sobre assuntos de interesse local,
ainda que, de modo reflexo, tratem de direito comercial ou do consumidor – (Info 917) –
IMPORTANTE!!!

É constitucional lei municipal que proíbe a conferência de mercadorias realizada na saída


de estabelecimentos comerciais localizados na cidade. A Lei prevê que, após o cliente
efetuar o pagamento nas caixas registradoras da empresa instaladas, não é possível nova
conferência na saída.
Os Municípios detêm competência para legislar sobre assuntos de interesse local (art. 30,
I, da CF/88), ainda que, de modo reflexo, tratem de direito comercial ou do consumidor.
STF. 2ª Turma. RE 1052719 AgR/PB, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 25/9/18 (Info 917).
OBS:
Prática de vistoriar as mercadorias adquiridas pelos consumidores na saída do
estabelecimento: Existem alguns supermercados (ex.: atacadistas) que colocam um
funcionário na porta de saída da loja e que fica responsável por conferir as mercadorias que a
pessoa está levando em comparação com a nota fiscal. Assim, após o cliente pagar as suas
compras no caixa, ele ainda tem que apresentar a nota fiscal na saída do estabelecimento e o
funcionário confere se os itens que estão no carrinho de compra constam na nota.
 
Posição de alguns Ministérios Públicos: Normalmente, o procedimento acima descrito é
rápido e não gera nenhum constrangimento ao consumidor, sendo uma mera conferência.
Apesar disso, existem algumas ações civis públicas propostas pelo MP questionando a
conduta. Alegam que se trata de ação intimidatória e desproporcional porque o comerciante
detém meios menos gravosos para exercer vigilância, como é o caso da instalação de alarmes
e câmeras, além da presença de fiscais no interior das lojas.
 
Esse entendimento é acolhido pelo STJ? Em regra, NÃO. A realização de vistoria em
mercadorias adquiridas pelo consumidor na saída do estabelecimento comercial, por si só,
realizada de forma indistinta e desprovida de caráter acusatório, não configura conduta
abusiva. Nesse sentido:
A prática da conferência indistinta de mercadorias pelos estabelecimentos
comerciais, após a consumação da venda, é em princípio lícito e tem como
base o exercício do direito de vigilância e proteção ao patrimônio, razão pela
qual não constitui, por si só, prática abusiva. Se a revista dos bens adquiridos é
realizada em observância aos limites da urbanidade e civilidade, constitui mero
desconforto, a que atualmente a grande maioria dos consumidores se submete,
em nome da segurança. STJ. 3ª Turma. REsp 1120113/SP, Rel. Min. Nancy
Andrighi, julgado em 15/02/2011.
 
Mais recentemente: STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1660314/GO, Rel. Min. Antonio Carlos
Ferreira, j. 07/11/2017.

A constitucionalidade dessa lei foi questionada sob o argumento de que teria havido
invasão de competência da União. O que decidiu o STF? Essa lei é inconstitucional? NÃO. O
STF decidiu que essa lei é constitucional.
 
Competência dos Municípios para legislar sobre assuntos de interesse local: Compete ao
município legislar sobre assuntos de interesse local, nos termos do art. 30, I, da CF/88:
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
 
Assim, os Municípios podem legislar sobre proteção ao consumidor, desde que fiquem
restritos ao interesse local. Nesse sentido:
Lei do Município de Campos do Jordão fixou tempo máximo de espera para
atendimento em caixas de supermercado. A jurisprudência do STF vem
reiteradamente afirmando a competência dos municípios para legislar sobre
matéria consumerista quando sobreleva o interesse local, como ocorre no caso
dos autos, em que a necessidade de um melhor atendimento aos consumidores
nos supermercados e hipermercados é aferível em cada localidade, a partir da
observação da realidade local. STF. 2ª Turma. RE 818550 AgR, Rel. Min. Dias
Toffoli, julgado em 06/10/2017.
 
Compete ao município legislar sobre medidas que propiciem segurança,
conforto e rapidez aos usuários de serviços bancários, uma vez que tratam de
assuntos de interesse local. STF. 2ª Turma. ARE 747757 AgR, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, j. 24/06/2014.
 
Os Municípios detêm competência para legislar determinando a instalação de
sanitários nas agências bancárias, uma vez que essa questão é de interesse
local e diz respeito às normas de proteção das relações de consumo, posto que
visa o maior conforto dos usuários daquele serviço, não se confundindo com a
atividade-fim das instituições bancárias. STF. 1ª Turma. RE 266536 AgR, Rel.
Min. Dias Toffoli, j. 17/04/2012.
 
Súmula Vinculante 38-STF: É competente o município para fixar o horário de
funcionamento de estabelecimento comercial.
 
Súmula 19-STJ: A fixação do horário bancário, para atendimento ao público, é
da competência da União.

Proteção das relações de consumo: A lei atacada está dentro da competência legislativa
municipal, porque diz respeito à proteção das relações de consumo dos seus munícipes. Ela
tem por objetivo evitar o constrangimento dos particulares e de lhes proporcionar maior
conforto, haja vista que impede a dupla conferência das mercadorias e evita o enfrentamento
de várias filas.

Municípios podem legislar sobre direito do consumidor, desde que em assuntos de interesse
local: Os Municípios detêm competência para legislar sobre assuntos de interesse local, ainda
que, de modo reflexo, tratem de direito comercial ou do consumidor. Ao se analisar leis
municipais que tratem sobre assuntos de interesse local, o STF tem procurado conferir
uma interpretação constitucional que seja mais favorável à autonomia legislativa dos
municípios, haja vista ter sido essa a intenção do constituinte ao elevá-los ao status de
entes federativos na CF/88. Essa autonomia revela-se primordialmente quando o município
exerce, de forma plena, sua competência legislativa em matéria de interesse da
municipalidade, como previsto no art. 30, I, da CF/88. Em outras palavras, uma das
expressões da autonomia municipal é justamente a sua competência para legislar sobre
assuntos de interesse local. Por isso, toda interpretação que limite ou mesmo vede a atuação
legislativa do Município deve considerar a primazia do interesse da matéria regulada, de
modo a preservar a essencial autonomia desse ente político no sistema federativo pátrio.
 
Não houve violação ao art. 22, I, da CF/88: O STF ressaltou que a referida lei tratou sobre o
bem-estar dos consumidores e, portanto, não houve qualquer relação com a atividade-fim
das empresas, razão pela qual não se pode dizer que a lei disponha sobre direito civil ou
direito comercial. Logo, não houve violação do art. 22, I, da CF/88.
 
Interesse local: Não existe um critério objetivo para definir, de maneira absolutamente
segura, em que consiste interesse local e quando a legislação ultrapassa isso. Assim, deve-se
prestigiar a vereança local, que bem conhece a realidade e as necessidades da comunidade.

3.25. É inconstitucional lei estadual que, ao tratar sobre matéria de competência


concorrente (art. 24 da CF/88), simplesmente determina que devem ser observadas as regras
previstas na lei federal – (Info 914) – IMPORTANTE!!!

A competência para legislar sobre as atividades que envolvam organismos geneticamente


modificados (OGM) é concorrente (art. 24, V, VIII e XII, da CF/88).
No âmbito das competências concorrentes, cabe à União estabelecer normas gerais e aos
Estados-membros editar leis para suplementar essas normas gerais (art. 24, §§ 1º e 2º).
Determinado Estado-membro editou lei estabelecendo que toda e qualquer atividade
relacionada com os OGMs naquele Estado deveria observar “estritamente à legislação
federal específica”.
O STF entendeu que essa lei estadual é inconstitucional porque significou uma
verdadeira “renúncia” ao exercício da competência legislativa concorrente prevista no art.
24, V, VIII e XII, da CF/88. Em outras palavras, o Estado abriu mão de sua competência
suplementar prevista no art. 24, § 2º da CF/88.
Essa norma estadual remissiva fragiliza a estrutura federativa descentralizada, e consagra
o monopólio da União, sem atentar para nuances locais.
Assim, é inconstitucional lei estadual que remete o regramento do cultivo comercial e das
atividades com organismos geneticamente modificados à regência da legislação federal.
STF. Plenário. ADI 2303/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 5/9/18 (Info 914).
OBS:
O Estado-membro tem competência para editar lei regulamentando as atividades realizadas
com organismos geneticamente modificados (OGMs) no âmbito estadual? SIM. A
regulamentação das atividades com organismos geneticamente modificados (OGMs) é matéria
considerada como sendo de competência legislativa concorrente porque envolve “produção e
consumo”, “meio ambiente”, “direito do consumidor” e “defesa da saúde”, nos termos do art.
24, V, VIII e XII, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...)
V - produção e consumo; (...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; (...)
XII - previdência social, proteção e defesa da saúde; (...).
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a
estabelecer normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a
competência suplementar dos Estados.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a
competência legislativa plena, para atender as suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da
lei estadual, no que lhe for contrário.
 
A competência da União será para estabelecer normas gerais sobre os assuntos do art. 24.
Ex: o Congresso Nacional editou o Código Florestal com normas gerais sobre a proteção das
florestas.

A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados. Isso significa que os Estados-membros podem complementar a
legislação federal editada pela União. Obviamente, as normas estaduais não podem
contrariar as normas gerais elaboradas pela União.

Se a União ainda não tiver editado as normas gerais sobre esse assunto, os Estados
exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. Em outras
palavras, não havendo normas gerais da União, o Estado-membro fica livre para legislar a
respeito daquele tema. Vale ressaltar, no entanto, que se a União vier a editar
posteriormente as normas gerais, a lei estadual terá sua eficácia suspensa naquilo que for
contrário à legislação da União. Importante também esclarecer que a competência da União
restringe-se a estabelecer “normas gerais”. Logo, se a União fizer uma lei geral que estabeleça
muitos detalhes, esta lei também será inconstitucional por invadir a competência dos
Estados-membros.

Lei do Rio Grande do Sul: Em 2000, o Estado do Rio Grande do Sul editou a Lei estadual nº
11.463 tratando sobre o tema da seguinte forma:
Art. 1º O cultivo comercial e as atividades com organismos geneticamente
modificados (OGMs), inclusive as de pesquisa, testes, experiências, em regime
de contenção ou ensino, bem como os aspectos ambientais e fiscalização
obedecerão estritamente à legislação federal específica.
 
O art. 2º diz que a Lei entra em vigor no dia de sua publicação e o art. 3º fala que ela revoga
as leis em sentido contrário. Em outras palavras, a lei estadual é só isso mesmo. Ela diz
apenas que, no RS, toda e qualquer atividade relacionada com os OGMs “obedecerão
estritamente à legislação federal específica”.
 
Essa Lei estadual possui algum vício? SIM. O STF considerou que essa lei é
INCONSTITUCIONAL.
 
Por quê? Em primeiro lugar, deve-se reiterar que o Estado-membro poderia legislar sobre
esse tema. O “problema” está no conteúdo. O STF entendeu que essa lei do Estado do Rio
Grande do Sul significou uma verdadeira “renúncia” ao exercício da competência
legislativa concorrente prevista no art. 24, V, VIII e XII, da CF/88. Em outras palavras, o
Estado abriu mão de sua competência suplementar prevista no art. 24, § 2º da CF/88. O ente
federado não pode se recusar a implementar as providências impostas a ele pelo legislador
constituinte. Segundo o Min. Marco Aurélio,
“O descompasso da lei impugnada é ainda maior quando se considera o
federalismo cooperativo. A lógica mostra-se intransponível e direciona ao
estabelecimento de normas gerais pela União e à atuação dos Estados no
atendimento das peculiaridades regionais. O Estado se exime de cumprir o
dever constitucional de providenciar a implementação, harmoniosa e atenta aos
interesses regionais, de valores consagrados na Lei Fundamental.”
 
O Brasil possui uma extensa dimensão territorial e, por essa razão, é indispensável que
exista um tratamento particularizado para essa matéria, tendo em vista a diversidade
biológica verificada no país. Assim, é necessário que sejam elaboradas políticas públicas
específicas à realidade local. O respeito às necessidades regionais é uma condição de
viabilidade da Federação. Em outras palavras, só há Federação com a autonomia dos
Estados-membros sendo exercida. Essa Lei do RS foi uma lei remissiva, ou seja, ela falou o
seguinte: a competência para tratar sobre esse assunto é minha também, mas façam aí tudo o
que a legislação federal determinar. Para o STF, “a banalização de normas estaduais
remissivas fragiliza a estrutura federativa descentralizada, e consagra o monopólio da
União, sem atentar para nuances locais.”

3.26. Lei estadual que regule a forma de cobrança do ITCMD pela PGE não viola o CPC –
(Info 905)

As disposições legais sobre a forma de cobrança do Imposto sobre Transmissão “Causa


Mortis” e Doação de quaisquer Bens ou Direitos (ITCMD) pela Procuradoria Geral do
Estado e de sua intervenção em processos de inventário, arrolamento e outros de interesse
da Fazenda Pública são regras de procedimento que não violam o Código de Processo
Civil.
Neste caso, são normas eminentemente procedimentais, autorizadas pelo art. 24 da CF/88,
que prevê a competência concorrente da União e dos Estados. A possibilidade de a
Procuradoria-Geral do Estado intervir e ser ouvida nos inventários, arrolamentos e outros
feitos em nada atrapalha o processo.
STF. Plenário. ADI 4409/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 6/6/2018 (Info 905).

3.27. É constitucional lei estadual que obrigue plano de saúde a justificar recusa de
tratamento – (Info 890)

É constitucional lei estadual que obrigue os planos de saúde a fornecerem aos


consumidores informações e documentos justificando as razões pelas quais houve recusa
de algum procedimento, tratamento ou internação.
O Mato Grosso do Sul editou uma lei estadual prevendo que, se o plano de saúde recusar
algum procedimento, tratamento ou internação, ele deverá fornecer, por escrito, ao
usuário, um comprovante fundamentado expondo as razões da negativa.
O STF entendeu que essa norma não viola competência privativa da União, considerando
que ela trata sobre proteção ao consumidor, matéria inserida na competência concorrente
(art. 24, V, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 4512/MS, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 7/2/2018 (Info 890).
OBS:
Proteção do consumidor e acesso à informação: Essa lei estadual tratou sobre proteção do
consumidor, matéria que está dentro da competência legislativa concorrente, nos termos do
art. 24, V, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...)
V - produção e consumo; (...)
§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a
estabelecer normas gerais.
§ 2º A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a
competência suplementar dos Estados.
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a
competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
§ 4º A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da
lei estadual, no que lhe for contrário.

Assim, a lei impugnada não disciplinou assuntos de direito civil, comercial ou política
securitária. O CDC é a norma geral editada pela União na defesa do consumidor e tal
diploma reconhece como direito básico do consumidor a informação adequada e clara sobre
os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características,
composição, qualidade, tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que apresentem
(art. 6º, III). A lei estadual está, portanto, em harmonia com o CDC, respeitando assim as
regras do art. 24 da CF/88. Além disso, essa lei atende ao comando do inciso XXXII do art. 5º
da Constituição:
Art. 5º (...)
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;

Sem interferência nos contratos: A lei atacada cumpre a função estatal de proteção ao
consumo, não havendo interferência nos contratos firmados entre as operadoras e os
usuários nem representando equilíbrio atuarial das operadoras de planos e seguros
privados de assistência à saúde. Conforme explicou a Min. Cármen Lúcia:
“A entrega do documento informativo expondo as razões pelo qual um
determinado tratamento ou procedimento foi negado não amplia o rol de
obrigações contratuais entre a operadora e o usuário. Pelo contrário, o que se
tem é apenas uma transparência maior para cumprimento dos termos
legislados” (Min. Cármen Lúcia).

Em outras palavras, as operadoras já tinham esse dever por força do próprio CDC e a lei
estadual apenas explicitou o comando.

Sem violação à livre iniciativa: A lei estadual impugnada não limita a livre iniciativa. Ao
contrário, fomenta o desenvolvimento de um mercado mais sustentável. Além disso,
conforme preconiza o inciso V do art. 170, a livre iniciativa deverá ser exercida observando-se
como um dos seus princípios a defesa do consumidor.

3.28. Inconstitucionalidade de lei estadual que estabeleça exigências nos rótulos dos
produtos em desconformidade com a legislação federal – (Info 871)

É inconstitucional lei estadual que estabelece a obrigatoriedade de que os rótulos ou


embalagens de todos os produtos alimentícios comercializados no Estado contenham uma
série de informações sobre a sua composição, que não são exigidas pela legislação federal.
STF. Plenário. ADI 750/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 3/8/17 (Info 871).

3.29. É inconstitucional lei estadual que disponha sobre a segurança de estacionamentos e


o regime de contratação dos funcionários – (Info 871)

Lei estadual que impõe a prestação de serviço de segurança em estacionamento a toda


pessoa física ou jurídica que disponibilize local para estacionamento é inconstitucional,
quer por violar a competência privativa da União para legislar sobre direito civil, quer por
violar a livre iniciativa.
Lei estadual que impõe a utilização de empregados próprios na entrada e saída de
estacionamento, impedindo a terceirização, viola a competência privativa da União para
legislar sobre Direito do Trabalho.
STF. Plenário. ADI 451/RJ, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 1º/8/17 (Info 871).
OBS:
Assunto correlato: Sobre esse tema, importante recordar um julgado do STF no qual ele
decidiu que lei estadual não pode tratar sobre a cobrança em estacionamento de veículos:
É inconstitucional lei estadual que estabelece regras para a cobrança em
estacionamento de veículos. STF. Plenário. ADI 4862/PR, Rel. Min. Gilmar
Mendes, j. 18/8/2016 (Info 835).

3.30. Compete aos Municípios legislar sobre meio ambiente em assuntos de interesse local
– (Info 870) – IMPORTANTE!!!

O Município tem competência para legislar sobre meio ambiente e controle da poluição,
quando se tratar de interesse local.
Ex: é constitucional lei municipal, regulamentada por decreto, que preveja a aplicação de
multas para os proprietários de veículos automotores que emitem fumaça acima de
padrões considerados aceitáveis.
STF. Plenário. RE 194704/MG, rel. orig. Min. Carlos Velloso, red. p/ o ac. Min. Edson
Fachin, j. 29/6/17 (Info 870).
(PGEPE-2009-CESPE): O Município não está elencado no artigo constitucional que trata
da competência concorrente, mas pode legislar acerca do tema meio ambiente.

OBS:
Normas municipais prevendo multa para carros com fumaça acima dos padrões: O
Município de Belo Horizonte editou uma lei, depois regulamentada por um decreto,
estipulando a aplicação de multas para os proprietários de veículos automotores que emitem
fumaça acima de padrões considerados aceitáveis.

O Município poderia ter legislado sobre esse tema? Essas normas são compatíveis com a
CF/88? SIM.

De quem é a competência para legislar sobre meio ambiente? A competência para legislar
sobre o meio ambiente é concorrente, nos termos do art. 24, VI e VIII, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre: (...)
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos
recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; (...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

A competência da União será para estabelecer normas gerais sobre os assuntos do art. 24.
Ex: o Congresso Nacional editou o Código Florestal com normas gerais sobre a proteção das
florestas.
A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência
suplementar dos Estados. Isso significa que os Estados-membros podem complementar a
legislação federal editada pela União. Obviamente, as normas estaduais não podem
contrariar as normas gerais elaboradas pela União.
Se a União ainda não tiver editado as normas gerais sobre esse assunto, os Estados
exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. Em outras
palavras, não havendo normas gerais da União, o Estado-membro fica livre para legislar a
respeito daquele tema. Vale ressaltar, no entanto, que se a União vier a editar posteriormente
as normas gerais, a lei estadual terá sua eficácia suspensa naquilo que for contrário à
legislação da União.

Mas os Municípios não estão elencados no caput do art. 24...: É verdade. No entanto, mesmo
assim eles podem legislar sobre os assuntos do art. 24, desde que o façam para atender
peculiaridades municipais, ou seja, no interesse local. Essa autorização para que os
Municípios legislem sobre matérias de competência concorrente está prevista no art. 30, I e II,
da CF/88:
Art. 30. Compete aos Municípios:
I - legislar sobre assuntos de interesse local;
II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

Dessa forma, os Municípios podem tratar sobre os assuntos do art. 24, no que couber, ou seja,
naquilo que for de interesse local. Em virtude do exposto, conclui-se que os Municípios
possuem competência para legislar sobre o meio ambiente, limitada esta, no entanto, ao
tratamento normativo de assuntos de interesse estritamente local.

Controle da poluição ambiental: O controle da poluição ambiental, especialmente aquele


destinado a impedir a degradação dos índices de qualidade do ar, consiste em matéria que se
insere na esfera de competência legislativa dos Municípios, observado o interesse local e
desde que as medidas de regulação normativa não transgridam nem conflitem com o âmbito
de atuação que a Constituição atribuiu à União e aos Estados-membros.

3.31. Municípios podem legislar sobre Direito Ambiental, desde que o façam
fundamentadamente – (Info 857)

Os Municípios podem legislar sobre Direito Ambiental, desde que o façam


fundamentadamente.
STF. 2ª Turma. ARE 748206 AgR/SC, Rel Min. Celso de Mello, j. 14/3/2017 (Info 857).
OBS: Dessa forma, o Município é competente para legislar sobre o meio ambiente,
juntamente com a União e o Estado-membro/DF, no limite do seu interesse local e desde que
esse regramento seja harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados
(art. 24, VI, c/c o art. 30, I e II, da CF/88). Se o Município legisla sobre Direito Ambiental,
fazendo de forma fundamentada segundo seus interesses locais, não há, em princípio,
violação às regras de competência.

3.32. Estado-membro pode legislar sobre a concessão, por empresas privadas, de bolsa de
estudos para professores – (Info 856)

É constitucional lei estadual que preveja a possibilidade de empresas patrocinarem bolsas


de estudo para professores em curso superior, tendo como contrapartida a obrigação de
que esses docentes ministrem aula de alfabetização ou aperfeiçoamento para os
empregados da empresa patrocinadora.
Essa lei insere-se na competência legislativa do Estado-Membro para dispor sobre
educação e ensino, prevista no art. 24, IX, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 2663/RS, Rel. Min. Luiz Fux, j. 8/3/17 (Info 856).

3.33. É inconstitucional lei estadual tratando sobre a venda de títulos de capitalização –


(Info 847)

É inconstitucional lei estadual que estabeleça normas sobre a comercialização de títulos


de capitalização, proibindo a venda casada e prevendo regras para a publicidade desses
produtos.
STF. Plenário. ADI 2905/MG, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, j.
16/11/16 (Info 847).
OBS: Em um julgado bem apertado, o STF decidiu que esta lei trata sobre direito comercial e
outros temas que são de competência privativa da União, nos termos do art. 22, I, VI, VII e
XIX, da CF/88:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo,
aeronáutico, espacial e do trabalho; (...)
VI - sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais;
VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores; (...)
XIX - sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular;

Afastou-se a alegação de que a lei trata sobre direito do consumidor. O Estado-membro só


poderá legislar sobre as matérias do art. 24 (dentre elas, a defesa do consumidor) se houver
situações peculiares que justifiquem a lei. É isso que se extrai dos §§ 2º e 3º do art. 24:
§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a
competência suplementar dos Estados.
§ 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a
competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.

Para a maioria dos Ministros, não há qualquer peculiaridade no mercado de títulos de


capitalização em Minas Gerais que justifique uma legislação especial por parte do Estado-
membro. O risco ao consumidor na venda desses produtos em Minas Gerais existe em
qualquer outra unidade da federação. Assim, o Estado não estava autorizado a expedir tal
norma porque não há qualquer especificidade no caso. Sob o pretexto de proteger o
consumidor do Estado, o legislador mineiro adentrou o campo do direito comercial. Além
disso, a legislação federal já estabelece as regras sobre a comercialização dos títulos de
capitalização e até permite em alguns casos a venda casada de títulos.

3.34. Viola a competência privativa da União lei estadual que exija nova certidão negativa
não prevista na Lei 8.666/93 – (Info 838) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional lei estadual que exija Certidão negativa de Violação aos Direitos do
Consumidor dos interessados em participar de licitações e em celebrar contratos com
órgãos e entidades estaduais.
Esta lei é inconstitucional porque compete privativamente à União legislar sobre normas
gerais de licitação e contratos (art. 22, XXVII, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 3.735/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 8/9/16 (Info 838).
OBS:
Certidão de Violação aos Direitos do Consumidor (CVDC): O Estado do Mato Grosso do Sul
editou uma lei prevendo que para a pessoa (física ou jurídica) participar de licitações ou
assinar contratos com a Administração Pública estadual acima de determinado valor, ela
deveria apresentar uma certidão negativa de violação aos direitos do consumidor. De acordo
com a lei, a pessoa ficaria impedida de tirar essa certidão negativa se já tivesse sido
condenada, administrativa ou judicialmente, por ofensa a direitos do consumidor, nos
últimos 5 anos.

Essa Lei estadual é constitucional? NÃO.

Estados, DF e Municípios podem suplementar normas gerais fixadas pela União: A


Constituição previu que compete privativamente à União fixar as normas gerais sobre
licitações e contratos:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...)
XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para
as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União,
Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e
para as empresas públicas e sociedades de economia mista, nos termos do art.
173, § 1°, III;

Isso significa que os Estados, DF e os Municípios podem editar leis tratando sobre licitações e
contratos, desde que sejam referentes a normas “não gerais”. Em outras palavras, tais entes
podem suplementar as normas gerais fixadas pela União, conforme autorizam os arts. 24, §
2º, 25, §1º, e 30, II:
Art. 24 (...)
§ 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a
competência suplementar dos Estados.

Art. 25 (...)
§ 1º - São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas
por esta Constituição.

Art. 30. Compete aos Municípios:


II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber;

Assim, a ordem constitucional reconhece, em favor dos Estados-membros, autonomia para


criar direito em matéria de licitações e contratos independentemente de autorização formal
da União. Todavia, essa autonomia não é incondicionada, devendo ser exercida apenas para
a suplementação das normas gerais expedidas pela União.

Requisitos para que a suplementação feita pelos Estados, DF e Municípios seja válida: Para
se analisar se a suplementação feita pelos Estados, DF e Municípios foi válida ou não, deverá
ser feito um exame em duas etapas:
1ª) identificar quais são as normas gerais fixadas pela União no caso concreto como modelo
nacional;
2ª) verificar se as inovações feitas pelo legislador estadual, distrital ou municipal sobre o
tema são compatíveis com as normas gerais impostas pela União.

Lei do Estado do MS afrontou as normas gerais fixadas pela União: O principal diploma que
trata sobre licitações e contratos é a Lei nº 8.666/93. Nela, a União fixou as normas gerais
sobre o tema. A Lei nº 8.666/93 exige algumas certidões referentes à regularidade fiscal e
trabalhista (art. 29), mas não faz qualquer exigência quanto à inexistência de condenações
relacionadas com a violação de direitos do consumidor. Assim, a lei editada pelo Estado do
MS criou novas condições que somente lei federal poderia prever. Ao criar requisito de
habilitação obrigatório para a maioria dos contratos estaduais, o Estado-membro se arvorou
na condição de intérprete primeiro do direito constitucional de participar de licitações. Criou,
ainda, uma presunção legal, de sentido e alcance amplíssimos, segundo a qual a existência de
registros desabonadores nos cadastros públicos de proteção do consumidor seria motivo
suficiente para justificar o impedimento à contratação de pessoas físicas e jurídicas pela
Administração local.
A lei estadual impugnada introduziu um requisito genérico e inteiramente novo para
habilitação em qualquer licitação. Ao assim prever, a legislação estadual afrontou as normas
gerais do ordenamento nacional de licitações e contratos e se apropriou de competência da
União.

3.35. Lei estadual que trata sobre a cobrança em estacionamento de veículos – (Info 835) –
IMPORTANTE!!! – (TJMSP-2016)

É inconstitucional lei estadual que estabelece regras para a cobrança em estacionamento


de veículos.
STF. Plenário. ADI 4862/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 18/8/16 (Info 835).
(TJMSP-2016-VUNESP): Considere o seguinte caso hipotético. Lei do Estado de São
Paulo estabelece hipóteses de gratuidade de estacionamento, em razão do tempo de
utilização ou da realização de compras acima de determinado valor, em estabelecimentos
privados, como shopping centers e hipermercados. O STF considera, sob o ponto de vista
da repartição de competências estabelecida na Constituição Federal, que tal lei é
inconstitucional, pois versa sobre limitação genérica ao direito de propriedade, limitação
essa para a qual seria competente somente a União. BL: Info 835, STF.

OBS:
Qual é o motivo de a lei ser inconstitucional? Os Ministros que julgaram a ADI procedente
ficaram divididos quanto ao fundamento pelo qual a lei é inconstitucional:
 A lei é formalmente inconstitucional. Isso porque as regras sobre estacionamento de
veículos inserem-se no campo do Direito Civil e a competência para legislar sobre
este assunto é da União, nos termos do art. 22, I, da CF/88. Nesse sentido: Ministros
Gilmar Mendes e Dias Toffoli.
 A lei é materialmente inconstitucional. Ela não trata sobre Direito Civil, mas sim
sobre Direito do Consumidor, assunto que é de competência concorrente entre União
e Estados/DF (art. 24, VIII, da CF/88). Logo, em tese, o Estado-membro poderia
legislar sobre o tema. Ocorre que a referida lei estabelece um controle de preços, o
que claramente viola o princípio constitucional da livre iniciativa (art. 170). Votaram
dessa forma: Ministros Roberto Barroso, Cármen Lúcia e Rosa Weber.

O Min. Marco Aurélio defendeu que a lei padece tanto de inconstitucionalidade formal (a
competência seria privativa da União) como material (indevida intervenção da norma na
iniciativa privada).

Existem diversos Municípios que possuem leis semelhantes a esta. Caso sejam questionadas,
tais leis municipais que tratam sobre o tema também poderão ser declaradas
inconstitucionais? SIM. Tanto as leis estaduais como também as municipais que estabeleçam
regras de cobrança fracionada em estacionamentos são consideradas inconstitucionais.
Assim, não muda nada o fato de a lei ser municipal ou estadual.
Leis municipais que imponham cobrança fracionada serão também consideradas
inconstitucionais, seja porque a competência para legislar sobre o tema é da União
(argumento 1), seja porque violariam a livre iniciativa (argumento 2).

3.36. Lei estadual que obriga concessionárias a instalarem bloqueadores de celular é


inconstitucional – (Info 833) – IMPORTANTE!!! – (TJPR-2017)

Lei estadual que disponha sobre bloqueadores de sinal de celular em presídio invade a
competência da União para legislar sobre telecomunicações.
Normas estaduais que interfiram diretamente na prestação da atividade desempenhada
pelas concessionárias de serviços de telecomunicação são formalmente inconstitucionais
considerando que, por envolverem questões relacionadas ao interesse geral ou nacional,
devem ser tratadas de maneira uniforme no País inteiro. A disciplina dos serviços
públicos que funcionam em todo o território cabe à União.
Pela teoria da prevalência do interesse, quando a matéria transcender os interesses locais e
regionais, a competência para dispor sobre o assunto é da União. A instalação de
bloqueadores de sinal nas proximidades dos presídios pode afetar diretamente a
qualidade da prestação do serviço para a população circundante, de forma que este tema
deve ser discutido e disciplinado de maneira uniforme em todo o País. Essas leis estaduais
não estão relacionadas com peculiaridades locais. Além disso, o STF não concordou com o
argumento dos Estados de que tais leis tratariam sobre direito penitenciário.
STF. Plenário. ADI 3835/MS, Rel. Min. Marco Aurélio, ADI 5356/MS, red. p/ o acórdão
Min. Marco Aurélio, ADI 5253/BA, Rel. Min. Dias Toffoli, ADI 5327/PR, Rel. Min Dias
Toffoli, ADI 4861/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 3/8/16 (Info 833).

3.37. A inconstitucionalidade de lei estadual por dispor acerca da possibilidade de


acúmulo de franquias de minutos mensais ofertados por operadoras de telefonia, matéria
esta de de competência privativa da União – (SEM INFO) – IMPORTANTE!!! – (PGESP-2012)

A Lei 5.934/11 do Estado do Rio de Janeiro, ao dispor acerca da possibilidade de acúmulo


das franquias de minutos mensais ofertados pelas operadoras de telefonia, violou o art.
22, inciso IV, da CF/88, que confere à União a competência privativa para dispor sobre
telecomunicações.
STF, Plenário, ADI 4.649/RJ, Min. Rel. Dias Toffoli, j. 1/7/16.
(PGESP-2012-FCC): Lei Estadual contém o dispositivo: “Art. 1o. Dispõe sobre a
possibilidade de acúmulo das franquias de minutos mensais ofertados pelas operadoras de
telefonia. § 1o. Os minutos de franquia não utilizados no mês de sua aquisição serão transferidos,
enquanto não forem utilizados, para os meses subsequentes.” De acordo com a jurisprudência
do STF, esse dispositivo é inconstitucional, pois a legislação sobre telecomunicações e
radiodifusão é de competência privativa da União. BL: ADI 4649/RJ, STF.

3.38. A competência para legislar sobre serviços de telecomunicações é privativa da União


– (Info 822)

A competência para legislar sobre serviços de telecomunicações é privativa da União art.


21, XI e art. 22, IV, da CF/88).
Logo, é inconstitucional lei estadual que determinou às empresas telefônicas que criem e
mantenham um cadastro de assinantes interessados em receber ofertas de produtos e
serviços, que deve ser disponibilizado para as empresas de telemarketing.
STF. Plenário. ADI 3959/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 20/4/2016 (Info 822).
OBS:
A competência para legislar sobre telecomunicações é privativa da União, estando prevista
nos art. 21, XI e 22, IV, da CF/88:
Art. 21. Compete à União:
XI – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os
serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a
organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos
institucionais;

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


IV – águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;

A Lei de que trata este inciso é a Lei 9472/97, que dispõe sobre a organização dos serviços de
telecomunicações, a criação e funcionamento de um órgão regulador e outros aspectos
institucionais.

3.39. Inconstitucionalidade de lei estadual que trate sobre revalidação de títulos obtidos
em instituições de ensino dos países do MERCOSUL – (Info 817)

É inconstitucional lei estadual que veda ao Poder Público estadual exigir a revalidação de
títulos obtidos em instituições de ensino superior dos países membros do Mercado
Comum do Sul – MERCOSUL.
A lei estadual que trata sobre revalidação de títulos obtidos em instituições de ensino
superior dos países membros do MERCOSUL afronta o pacto federativo (art. 60, §4º, I, da
CF/88) na medida em que usurpa a competência da União para dispor sobre diretrizes e
bases da educação nacional (art. 22, XXIV).
STF. Plenário. ADI 5341 MC- Referendo/AC, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 10/3/2016
(Info 817).

3.40. Inconstitucionalidade de lei estadual que prevê punições para quem exige teste de
gravidez nas contratações (Info 807)

É inconstitucional lei estadual que preveja punições a empresas privadas e a agentes


públicos que exijam a realização de teste de gravidez e a apresentação de atestado de
laqueadura para admissão de mulheres ao trabalho.
STF. Plenário. ADI 3165/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11/11/2015 (Info 807).

3.41. A disciplina sobre o ordenamento do espaço urbano pode ser feita por meio de outras
leis municipais além do plano diretor, desde que sejam compatíveis com esta (Info 805)

Os Municípios com mais de 20 mil habitantes e o Distrito Federal podem legislar sobre
programas e projetos específicos de ordenamento do espaço urbano por meio de leis que
sejam compatíveis com as diretrizes fixadas no plano diretor.
Isso significa que nem sempre que o Município for legislar sobre matéria urbanística, ele
precisará fazê-lo por meio do Plano Diretor. O Plano Diretor é o instrumento legal que
dita a atuação do Município ou do Distrito Federal quanto ao ordenamento urbano,
traçando suas linhas gerais, porém a sua execução pode se dar mediante a expedição de
outras lei e decretos, desde que guardem conformidade com o Plano Diretor.
STF. Plenário. RE 607940/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 29/10/2015 (Info 805).

3.42. A competência para legislar sobre serviços de telecomunicações é privativa da União


– (Info 777)

A competência para legislar sobre serviços de telecomunicações é privativa da União.


Logo, é inconstitucional lei estadual que verse sobre este tema, como é o caso de lei
estadual que dispõe sobre a organização dos serviços de telecomunicações, a criação e
funcionamento de um órgão regulador e outros aspectos institucionais.
STF. Plenário. ADI 2615/SC, red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/3/2015
(Info 777).

3.43. Lei estadual pode fixar número máximo de alunos por sala de aula – (Info 775)

A competência para legislar sobre educação e ensino é concorrente (art. 24, IX, da CF/88).
No âmbito da legislação concorrente, a União tem competência apenas para estabelecer as
normas gerais (§ 1º) e os Estados podem suplementar (complementar, detalhar) a
legislação federal (§ 2º).
As normas gerais sobre educação foram editadas pela União na Lei 9.394/96 (LDB).
Determinado Estado-membro editou uma lei prevendo o número máximo de alunos que
poderiam estudar nas salas de aula das escolas, públicas ou particulares, ali existentes.
O STF entendeu que essa lei é constitucional e que não usurpa a competência da União
para legislar sobre normas gerais de educação.
STF. Plenário. ADI 4060/SC, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 25/2/2015 (Info 775).

3.44. É inconstitucional lei estadual que cria obrigações pecuniárias para as


concessionárias de energia elétrica – (Info 774) - (TJPB-2015)

É INCONSTITUCIONAL lei estadual que determine que os postes de sustentação à rede


elétrica que estejam causando transtornos ou impedimentos aos proprietários de terrenos
serão removidos, sem qualquer ônus para os interessados. Isso porque essa lei trata sobre
energia elétrica, matéria de competência privativa da União (art. 22, IV, da CF/88), além de
interferir nos termos da relação contratual estabelecida entre o poder federal e as
concessionárias que exploram o serviço de fornecimento de energia elétrica no Estado-
membro.
STF. Plenário. ADI 4925/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 12/2/2015 (Info 774).
3.45. É inconstitucional lei estadual que proíba comercialização de produtos estrangeiros
com agrotóxicos – (Info 774) - (TJPB-2015)

É INCONSTITUCIONAL lei estadual que proíba a comercialização, no referido Estado-


membro, de produtos importados que não tenham sido submetidos à análise de resíduos
químicos de agrotóxicos. Isso porque essa lei trata sobre comércio exterior, matéria cuja
competência é privativa da União, nos termos do art. 22, VIII, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 3813/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 12/2/2015 (Info 774).

3.46. Lei estadual não pode proibir que concessionárias de serviços de telecomunicações
cobrem assinatura mensal do consumidor – (Info 763) – IMPORTANTE!!! – (TJPB-2015)
(TJPR-2017)

A competência para legislar sobre serviços de telecomunicações é privativa da União.


Logo, é inconstitucional lei estadual que proíba a cobrança de assinatura mensal pelas
concessionárias de serviços de telecomunicações.
STF. Plenário. ADI 4715 MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, j. 7/2/13, ADI 4907 MC/RS, rel.
Min. Ricardo Lewandowski, j. 7/2/13, ADI 4739 MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, j. 7/2/13
(Info 694).
STF. Plenário. ADI 4369/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 15/10/14 (Info 763).

3.47. Competência do TCE para julgar as contas dos Presidentes das Câmaras Municipais –
(Info 757)

É inconstitucional norma da CE que preveja que compete às Câmaras Municipais os


julgamentos das contas de seus Presidentes.
A CF/88 somente autoriza que as Câmaras Municipais julguem as contas dos Prefeitos. No
caso das contas dos Presidentes das Câmaras de Vereadores, estas devem ser julgadas pelo
TCE.
STF. Plenário. ADI 1964/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/9/2014 (Info 757).

3.48. Lei estadual não pode impor prazos para as empresas de planos de saúde – (Info 754)

É INCONSTITUCIONAL lei estadual que prevê prazos máximos para que as empresas de
planos de saúde autorizem exames médicos aos usuários. Isso porque trata-se de lei que
dispõe sobre direito civil, direito comercial e política de seguros, matérias que são de
competência da União (art. 22, I e VII, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 4701/PE, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 13/8/2014 (Info 754).

3.49. Competência para julgar MS contra ato de Presidente de TJ que cumpre resolução do
CNJ – (Info 753)

Compete ao STF julgar mandado de segurança contra ato do Presidente de Tribunal de


Justiça que, na condição de mero executor, apenas dá cumprimento à resolução do CNJ.
STF. 2ª Turma. Rcl 4731/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/8/2014 (Info 753).

3.50. CE pode prever afastamento temporário de servidor integrante da executiva de


sindicato – (Info 750)

CE pode prever que o servidor público eleito para um cargo de dirigente sindical terá
direito de ficar afastado do serviço, recebendo sua remuneração, enquanto durar seu
mandato.
STF. Plenário. ADI 510/AM, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 11/6/2014 (Info 750).

3.51. União é parte legítima para figurar no polo passivo de ação buscando assegurar
gratificação a policial civil do DF – (Info 748)

A ação proposta com o objetivo de assegurar o pagamento de gratificação a policiais civis


do Distrito Federal deverá ser proposta contra a União e o DF em litisconsórcio passivo,
sendo, portanto, julgada pela Justiça Federal. Isso porque compete à União organizar e
manter (custear) a polícia civil, a polícia militar e os bombeiros do DF, possuindo, assim,
interesse na demanda (art. 21, XIV, da CF/88).
STF. 1ª Turma. RE 275438/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, 27/5/2014 (Info 748)

3.52. Estado-membro tem competência para legislar sobre procedimentos do IP desde que
não viole as normas gerais da União – (Info 741) - Atenção! MP e Delegado!

É INCONSTITUCIONAL lei estadual que preveja a tramitação direta do inquérito


policial entre a polícia e o Ministério Público.
É CONSTITUCIONAL lei estadual que preveja a possibilidade de o MP requisitar
informações quando o inquérito policial não for encerrado em 30 dias, tratando-se de
indiciado solto.
STF. Plenário. ADI 2886/RJ, red. p/ o acórdão Min. Joaquim Barbosa, julgado em 3/4/2014
(Info 741).

3.53. CE não pode exigir autorização da ALE para que o Governador (ou o Vice) se ausente
do país qualquer que seja o prazo – (Info 741)

É inconstitucional norma da Constituição estadual que exija autorização da Assembleia


Legislativa para que o Governador e o Vice possam se ausentar do país por menos de 15
dias.
A CE somente poderia prever a autorização se a ausência fosse superior a esse prazo.
STF. Plenário. ADI 775/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 3/4/2014 (Info 741).
STF. Plenário. ADI 2453/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 3/4/2014 (Info 741)

3.54. CE não pode atribuir iniciativa da lei de organização judiciária ao Governador do


Estado nem prever a criação de Conselho Estadual de Justiça – (Info 741)

É inconstitucional norma da Constituição estadual que preveja que a iniciativa da Lei de


organização judiciária é do Governador do Estado.
É inconstitucional norma da Constituição estadual que institua a criação de órgão de
controle administrativo do Poder Judiciário do qual participem representantes de outros
Poderes ou entidades.
STF. Plenário. ADI 197/SE, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/4/2014 (Info 741).

3.55. Lei estadual pode regular procedimento para homologação judicial de acordo de
alimentos com a participação da Defensoria Pública – (Info 741)

É constitucional lei estadual que regula procedimento para homologação judicial de


acordo sobre a prestação de alimentos firmada com a intervenção da Defensoria Pública.
Isso porque tal legislação está inserida na competência concorrente (art. 24, XI, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 2922/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 3/4/2014 (Info 741).

3.56. CE não pode vincular determinadas receitas para o pagamento de apenas uma espécie
de precatório – (Info 740)

É inconstitucional norma da Constituição estadual que preveja que os recursos recebidos


pelo Estado, da União, a título de indenização ou pagamento de débito, serão destinados
ao pagamento de precatórios decorrentes de condenações judiciais da mesma origem da
indenização ou do pagamento.
Tal previsão gera uma fila preferencial de precatórios, em detrimento da ordem
cronológica, o que ofende o art. 100 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 584/PR, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/3/2014 (Info 740).

3.57. CE não pode impor prazos para que o chefe do Poder Executivo apresente
proposições legislativas ou pratique atos administrativos – (Info 736)

É inconstitucional norma da Constituição estadual que impõe prazos para que o chefe do
Poder Executivo apresente proposições legislativas ou pratique atos administrativos.
STF. Plenário. ADI 179/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/2/2014 (Info 736).
3.58. CE não pode vincular remuneração dos servidores públicos estaduais ao salário
mínimo profissional (piso salarial profissional) – (Info 736)

É incompatível com a CF/88 norma da Constituição estadual que preveja que os servidores
públicos estaduais não poderão receber remuneração inferior ao piso salarial profissional
(salário mínimo profissional) estabelecido em lei federal. Tal regra viola o art. 37, XIII, da
CF/88 e a autonomia dos estados para fixar os vencimentos de seus servidores (arts. 2º e
25).
STF. Plenário. ADI 290/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/2/2014 (Info 736).
STF. Plenário. ADI 668/AL, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/2/2014 (Info 736).

3.59. É inconstitucional norma da CE que prevê que ex-Deputados que forem servidores
públicos poderão ficar em disponibilidade remunerada após o exercício do mandato – (Info
736)

É inconstitucional a garantia da disponibilidade remunerada ao ex-detentor de mandato


eletivo, com a opção pelo retorno ou não às atividades, se servidor público, após o
encerramento da atividade parlamentar.
Tal previsão ofende o art. 41, §§ 2º e 3º da CF/88, além de violar as regras sobre
afastamento do titular de cargo público para o exercício de mandato eletivo (art. 38, CF/88).
STF. Plenário. ADI 119/RO, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/2/2014 (Info 736).

3.60. CE não pode impor obrigações para servidores municipais nem para empresas
públicas e sociedades de economia mista – (Info 736)

É inconstitucional norma da Constituição estadual que impõe obrigações relacionadas


com servidores municipais. Há, no caso, violação à autonomia municipal.
É inconstitucional norma da Constituição estadual que impõe obrigações de natureza
civil, comercial ou trabalhista às empresas públicas e às sociedades de economia mista.
Isso porque tais entidades estão sujeitas ao regime das empresas privadas (art. 173, § 1º da
CF/88).
STF. Plenário. ADI 144/RN, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/2/2014 (Info 736).

3.61. CE não pode tratar sobre o regime trabalhista dos servidores das empresas públicas e
sociedades de economia mista – (Info 736)

É inconstitucional norma da Constituição estadual que disponha sobre o regime


trabalhista dos servidores das empresas públicas e sociedades de economia mista. Isso
porque tais entidades estão sujeitas ao regime das empresas privadas (art. 173, § 1º da
CF/88). Logo, a CE estaria legislando sobre direito do trabalho.
STF. Plenário. ADI 318/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/2/2014 (Info 736).

3.62. CE não pode prever, para o servidor público em disponibilidade, regras diferentes do
modelo instituído pela CF/88 – (Info 736)

É incompatível com a CF/88 norma da Constituição estadual que afirme que o servidor
público em disponibilidade ficará recebendo remuneração INTEGRAL. Isso porque o § 3º
do art. 41 da CF/88 estabelece que o servidor em disponibilidade terá remuneração
PROPORCIONAL ao tempo de serviço.
É também incompatível com a CF/88 norma da Constituição estadual que afirme que o
servidor público em disponibilidade deverá ser aproveitado em outro cargo NO PRAZO
MÁXIMO de 1 ano. Isso porque a CF/88, ao tratar sobre o tema, não estipulou tal
interregno.
STF. Plenário. ADI 239/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/2/2014 (Info 736)

3.63. GOVERNADOR DO ESTADO NÃO PODE REDUZIR PROPOSTA


ORÇAMENTÁRIA DA DEFENSORIA PÚBLICA ELABORADA DE ACORDO COM A LDO
– (Info 733)

Governador do Estado não pode reduzir proposta orçamentária da Defensoria Pública


elaborada de acordo com a LDO.
STF. Plenário. ADPF 307 Referendo-MC/DF, rel. Min. Dias Toffoli, j. 19/12/13 (Info 733)

3.64. COMPETÊNCIAS ESTADUAIS: Lei estadual que obriga ônibus a serem adaptados
para portadores de necessidades especiais – (Info 707) – IMPORTANTE!!! – (TJBA-2019)

É CONSTITUCIONAL lei estadual que determine que as empresas concessionárias de


transporte coletivo intermunicipal devam fazer adaptações em seus veículos a fim de
facilitar o acesso e a permanência de pessoas com deficiência física ou com dificuldade de
locomoção.
A competência para legislar sobre trânsito e transporte é da União (art. 22, XI da CF). No
entanto, a lei questionada trata também sobre o direito à acessibilidade física das pessoas
com deficiência, que é de competência concorrente entre União, os Estados e o Distrito
Federal (art. 24, XIV).
STF. Plenário. ADI 903/MG, rel. Min. Dias Toffoli, 22/5/2013 (Info 707).
(TJBA-2019-CESPE): A lei estadual X estabeleceu a obrigatoriedade da realização de
adaptações nos veículos de transporte coletivo intermunicipal de propriedade das
empresas concessionárias do serviço, com a finalidade de facilitar o acesso de pessoas
com deficiência física ou com dificuldades de locomoção. Conforme as disposições do
texto constitucional, a legislação, a doutrina e a jurisprudência do STF, a lei estadual X é
constitucional, pois está compatível com a CF e com a Convenção Internacional sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência, incorporada ao direito nacional como norma
constitucional. BL: Info 707, STF.

OBS: O STF declarou constitucional lei do Estado de Minas Gerais que dispõe sobre
adaptação dos veículos de transporte coletivo com a finalidade de assegurar seu acesso por
pessoas com deficiência ou dificuldade de locomoção. A Corte entendeu que é hipótese de
competência legislativa concorrente (art. 24, XIV, CF) e que a legislação é harmônica com a
Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, primeiro tratado
internacional aprovado pelo rito legislativo previsto no art. 5º, § 3º, da Constituição Federal,
e, portanto, incorporado ao ordenamento constitucional com status constitucional. 

O STF entendeu que deveria prevalecer, no caso, a densidade do direito à acessibilidade


física das pessoas com deficiência (art. 24, XIV). Logo, a situação deveria ser enquadrada no
rol de competências legislativas concorrentes dos entes federados.

Na época em que foi editada a lei mineira, não existia ainda lei geral nacional sobre a
acessibilidade de pessoas com deficiência (Lei 10.098/2000). Assim, era possível aos Estados-
membros exercerem a competência legislativa plena, suprindo o espaço normativo com suas
legislações locais (art. 24, § 3º, da CF).

Registrou-se que, diante da superveniência dessa lei nacional, a norma mineira, embora
constitucional, perdeu força normativa, na atualidade, naquilo que esteja em
desconformidade com a legislação geral de regência do tema (art. 24, § 4º, da CF/88).

3.65. A inconstitucionalidade de norma do Estado ou do Distrito Federal que disponha


sobre proibição de revista íntima em empregados de estabelecimentos situados no respectivo
território – (Info 585) – IMPORTANTE!!! – (TJCE-2018)

É inconstitucional norma do Estado ou do Distrito Federal que disponha sobre proibição


de revista íntima em empregados de estabelecimentos situados no respectivo território.
A matéria concernente a relações de trabalho compreende competência privativa da
União, consoante dispõe os arts. 21, XXIV, e 22, I, da CF.
STF. Plenário. ADI 2947, Rel. Min. Cezar Peluso, j. 05/05/2010 (Info 585)

3.66. Lei estadual dispondo sobre matéria já disciplinada em lei federal –


IMPORTANTE!!! – (TJCE-2018)

O Estado-membro, ao dispor sobre a matéria de que já trata a lei federal, e no mesmo


sentido dessa, não avança indevidamente sobre competência legislativa da União. Não foi
além da simples reprodução dos preceitos da lei federal, preceitos que veiculam norma
geral.
STF. Decisão Monocrática. ADI 3158, Rel. Min. Eros Grau, Cezar Peluso, j. 14/04/2005 .
(TJCE-2018-CESPE): Com relação à disciplina constitucional acerca do pacto federativo e
da repartição de competências entre as entidades federadas, assinale a opção correta, com
base na jurisprudência do STF: Lei estadual que reproduza o conteúdo de lei federal
sobre licitações e contratos não ofenderá a competência privativa da União de legislar
sobre o assunto. BL: ADI 3158, STF.

4. PROCESSO LEGISLATIVO
4.1. MEDIDAS PROVISÓRIAS: A CF/88 prevê expressamente que é vedada a reedição,
na mesma sessão legislativa, de medida provisória que tenha sido rejeitada – (Info 946)

O STF declarou inconstitucional dispositivo da MP 886/19, que transferia para o


Ministério da Agricultura a competência para realizar a demarcação de terras indígenas.
Essa disposição foi declarada inconstitucional porque o Congresso Nacional já havia
rejeitado uma outra proposta, com esse mesmo teor, prevista em outra medida provisória
(MP 870), editada no mesmo ano/sessão legislativa (2019).
Assim, o STF entendeu que houve a reedição, na mesma sessão legislativa, de proposta
que já havia sido rejeitada pelo Congresso Nacional, o que violou o § 10 do art. 62 da
CF/88:
§ 10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória que tenha
sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo. (Incluído pela
Emenda Constitucional nº 32/2001)
Nos termos expressos da Constituição Federal, é vedada a reedição, na mesma sessão
legislativa, de medida provisória que tenha sido rejeitada.
STF. Plenário.ADI 6062 MC-Ref/DF, ADI 6172 MC-Ref/DF, ADI 6173 MC-Ref/DF, ADI
6174 MC-Ref/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 1º/8/19 (Info 946).

4.2. MEDIDAS PROVISÓRIAS: Proibição de reedição de medidas provisórias na mesma


sessão legislativa – (Info 935) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional medida provisória ou lei decorrente de conversão de medida provisória


cujo conteúdo normativo caracterize a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida
provisória anterior rejeitada, de eficácia exaurida por decurso do prazo ou que ainda não
tenha sido apreciada pelo Congresso Nacional dentro do prazo estabelecido pela
Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 5717/DF, ADI 5709/DF, ADI 5716/DF e ADI 5727/DF, Rel. Min. Rosa
Weber, j. 27/3/19 (Info 935).
OBS:
O que é medida provisória? É um ato normativo editado pelo Presidente da República, em
situações de relevância e urgência, e que tem força de lei, ou seja, é como se fosse uma lei
ordinária, com a diferença de que ainda será votada pelo Congresso Nacional, podendo ser
aprovada (quando, então, é convertida em lei) ou rejeitada (situação em que deixará de
existir). As regras sobre as medidas provisórias estão previstas no art. 62 da CF/88.

Como funciona: O Presidente da República, sozinho, edita a MP e, desde o momento em que


ela é publicada no Diário Oficial, já passa a produzir efeitos como se fosse lei. Esta MP é,
então, enviada ao Congresso Nacional. Ali chegando, ela é submetida inicialmente à uma
comissão mista de Deputados e Senadores, que irão examiná-la e sobre ela emitir um
parecer (art. 62, § 9º). Depois, a MP será votada primeiro pelo plenário da Câmara dos
Deputados (art. 62, § 8º) e, se for aprovada, seguirá para votação no plenário do Senado
Federal. Caso seja aprovada no plenário das duas Casas, esta MP é convertida em lei.

Matérias que não podem ser tratadas por MP: Segundo o § 1º do art. 62 da CF/88, é vedada a
edição de medidas provisórias sobre matéria:
I – relativa a:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito
eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a
garantia de seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais
e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º;
II – que vise a detenção ou seqüestro de bens, de poupança popular ou qualquer
outro ativo financeiro;
III – reservada a lei complementar;
IV – já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e
pendente de sanção ou veto do Presidente da República.

Qual é o prazo de eficácia da medida provisória? 60 dias, podendo ser prorrogada, apenas
uma vez, por mais 60 dias. Isso está previsto no art. 62, §§ 3º e 7º da CF/88:
Art. 62. (...)
§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 perderão
eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta
dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual período, devendo o
Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas
delas decorrentes. (...)
§ 7º Prorrogar-se-á uma única vez por igual período a vigência de medida
provisória que, no prazo de sessenta dias, contado de sua publicação, não tiver a
sua votação encerrada nas duas Casas do Congresso Nacional.
 
O prazo fica suspenso (ou seja, não corre) durante os períodos de recesso do Congresso
Nacional (art. 62, § 4º). Vale ressaltar que a MP continua produzindo efeitos. O que fica
suspenso é a contagem do prazo para que ela perca sua vigência.
 
Prorrogação é automática: A prorrogação da vigência da MP é automática. Assim,
terminado o prazo de 60 dias, se a MP ainda não tiver sido votada nas duas Casas do
Congresso Nacional, ela será automaticamente prorrogada (o Presidente não precisa pedir a
prorrogação). Essa prorrogação pode ocorrer uma única vez.
 
O que acontece se uma MP não é convertida em lei no prazo de eficácia + prorrogação (120
dias)? Se uma medida provisória não for convertida em lei no prazo, ela perde eficácia desde
a sua edição (sua eficácia fica exaurida). Ocorrendo essa situação, o Congresso Nacional
deverá editar um decreto legislativo disciplinando como ficarão as relações jurídicas que
foram afetadas pela MP no período em que ela vigorou (art. 62, § 3º). Em outras palavras,
este decreto legislativo irá dizer se os efeitos produzidos pela MP no período em que ela
vigorou continuam ou não, mesmo ela não tendo sido aprovada:
Art. 62 (...)
§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 perderão
eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta
dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual período, devendo o
Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas
delas decorrentes.
 
O que acontece se uma MP é rejeitada? Se uma medida provisória é votada dentro do prazo
e rejeitada, ela também perde eficácia desde a sua edição, sendo, então, arquivada.
 
Possibilidades da MP: A partir do que vimos acima, podemos identificar três ocorrências
possíveis para as medidas provisórias:
A MP é votada dentro do seu prazo de O texto é promulgado e, com isso,
1) Aprovação duração, sendo aprovada pelo Congresso. a MP é convertida em lei
ordinária.
A MP é votada dentro do seu prazo de A MP é arquivada.
2) Rejeição
duração, mas não obtém os votos necessários
EXPRESSA
para ser aprovada (maioria simples).
A MP não é votada dentro do prazo de A MP é arquivada.
duração.
3) Rejeição
Diz-se que a eficácia foi exaurida pelo
TÁCITA
decurso do prazo (perdeu eficácia por
decurso do prazo).
 
O que é reedição da medida provisória? A definição de reedição da medida provisória
mudou com a EC 32/01. Atualmente, reedição de medida provisória, significa o ato do
Presidente da República de editar nova medida provisória com o mesmo teor de uma outra
que foi rejeitada ou que não foi votada durante o seu prazo de duração (perdendo a sua
eficácia). Ex: em 2017, o Presidente da República editou a MP nº 5.000/17 criando a obrigação
“x”. Essa MP não foi votada em 120 dias, de modo que teve a sua eficácia exaurida pelo
decurso do prazo. Em 2018, o Presidente edita a MP nº 5.010/18 criando novamente a
obrigação “x”. Isso significa que houve uma reedição da medida provisória.
 
É possível a reedição de medidas provisórias? SIM, mas desde que isso ocorra em outra
sessão legislativa. Veja o que diz o § 10 do art. 62 da CF/88:
Art. 62 (...)
§ 10. É vedada a reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória que tenha
sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo.
 
Interpretando esse dispositivo a contrario sensu, é possível a reedição, em outra sessão
legislativa, de medida provisória que tenha sido rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia
por decurso de prazo.
 
Sessão legislativa: Quando o § 10 do art. 62 fala em “sessão legislativa”, está se referindo à
sessão legislativa ordinária. Sessão legislativa é o período anual de trabalho ordinário dos
parlamentares no Congresso Nacional. Inicia-se em 02 de fevereiro, é interrompido em 17 de
julho para o recesso do meio do ano e recomeça em 1º de agosto, indo até 22 de dezembro.
Desse modo, a sessão legislativa ordinária vai de 02 de fevereiro até 22 de dezembro, com
uma pausa (intervalo) entre 18 de julho até 31 de julho.

Obs: fala-se em sessão legislativa ordinária porque é possível a convocação dos


parlamentares para deliberações extraordinárias. É a chamada convocação extraordinária,
prevista no art. 57, § 7º:
Art. 57 (...)
§ 7º Na sessão legislativa extraordinária, o Congresso Nacional somente
deliberará sobre a matéria para a qual foi convocado, ressalvada a hipótese do §
8º deste artigo, vedado o pagamento de parcela indenizatória, em razão da
convocação.
 
Feitas esta breve revisão, imagine a seguinte situação concreta: Em 3/2/17, o então
Presidente da República Michel Temer publicou a MP 768/17, que criou a Secretaria-Geral da
Presidência da República, o Ministério dos Direitos Humanos, e alterou a Lei 10.683/03, que
dispõe sobre a organização da Presidência da República e dos Ministérios.
 
Revogação da MP 768 por uma nova MP que tratou do mesmo assunto: A MP 768/17 não foi
apreciada no prazo de 60 dias. Diante disso, a MP 768/17, em 20/3/17, foi prorrogada por
mais 60 dias. A MP 768/17 iria perder a eficácia pelo decurso do prazo em maio/2017, ou
seja, ela teria que ser votada pelo Congresso até esta data. Ocorre que, em maio/2017, Temer
editou nova MP (a MP 782/17), que estabeleceu a organização básica dos órgãos da
Presidência da República e dos Ministérios, ou seja, tratou sobre o mesmo assunto da MP
768/17, com algumas pequenas diferenças em relação à primeira MP. Além disso, esta
segunda MP (MP 782/2017) revogou expressamente a primeira (MP 768/17). A segunda MP
(MP 782/2017) foi votada e aprovada pelo Congresso Nacional, tendo sido convertida na Lei
nº 13.502/2017.
 
Primeira pergunta: o Presidente da República pode “desistir” da MP que ele editou? Ele pode
pedir a “retirada” da MP que está tramitando no Congresso Nacional? NÃO. Não existe essa
possibilidade na Constituição Federal.
 
Segunda pergunta: é possível que o Presidente da República edite MP revogando medida
provisória anterior que está tramitando no Congresso Nacional? SIM. O Presidente da
República, embora não tenha disponibilidade sobre medida provisória já editada (não
pode retirar do Congresso Nacional), possui legitimidade para editar outra medida
provisória com efeito ab-rogante (revogando a MP anterior). O STF entende que não existe,
na Constituição, proibição explícita a respeito para a edição de nova MP revogando MP
anterior.

Questão de concurso:
 (Analista Judiciário - TRE-PA - IADES - 2014) Uma medida provisória não poderá ser
revogada por outra (ERRADO).

Vale ressaltar, no entanto, que a segunda MP irá apenas suspender a eficácia jurídica da
medida provisória revogada. Isso significa que o Congresso Nacional permanece com o
poder de deliberar sobre a validade da MP. Ex: o Congresso pode decidir rejeitar a segunda
MP (MP “revogadora”) e aprovar a primeira (que o Presidente queria revogar com a
segunda). Veja esta elucidativo precedente da Corte sobre o tema:
(...) 1. Porque possui força de lei e eficácia imediata a partir de sua publicação,
a MP não pode ser “retirada” pelo Presidente da República à apreciação do
Congresso Nacional. Precedentes. 2. Como qualquer outro ato legislativo, a
Medida Provisória é passível de ab-rogação mediante diploma de igual ou
superior hierarquia. Precedentes. 3. A revogação da MP por outra MP apenas
suspende a eficácia da norma ab-rogada, que voltará a vigorar pelo tempo que
lhe reste para apreciação, caso caduque ou seja rejeitada a MP ab-rogante. 4.
Consequentemente, o ato revocatório não subtrai ao Congresso Nacional o
exame da matéria contida na MP revogada. (...) STF. Plenário. ADI 2984 MC,
Rel. Min. Ellen Gracie, j. 4/09/03.

Observação importante: Presidente, ao revogar a MP anterior, admite que aquele assunto


não é urgente: O STF entende que o chefe do Poder Executivo da União, ao revogar
determinada medida provisória, abre mão do poder de disposição sobre aquela matéria,
com o caráter de urgência que justificava a edição do ato normativo. Ora, se o próprio
Presidente revogou a MP anterior, significa que aquele assunto que era nela tratado pode
esperar (não é urgente) e, portanto, não deve ser tratado por meio de medida provisória (art.
62 da CF/88). A hipótese corresponde, portanto, à figura da rejeição. Confira precedente
neste sentido:
(...) o ato de revogação pura e simples de uma medida provisória outra coisa
não é senão uma auto-rejeição; ou seja, o autor da medida a se antecipar a
qualquer deliberação legislativa para proclamar, ele mesmo (Poder Executivo),
que sua obra normativa já não tem serventia. Logo, reeditá-la significaria
artificializar os requisitos constitucionais de urgência e relevância, já
categoricamente desmentidos pela revogação em si. (...) STF. Plenário. ADI 3964
MC, Rel. Min. Carlos Britto, j. 12/12/2007.
 
Voltando ao nosso caso concreto: O Presidente da República até poderia ter editado a MP
782/17 revogando a MP 768/17. Não há vedação quanto a isso considerando que o
Congresso continuaria com o poder de apreciar as medidas provisórias editadas. No entanto,
o Presidente não poderia ter veiculado, na MP 782/17, o mesmo assunto que tratou na MP
768/17. Isso por duas razões:
1) Quando o Presidente revogou a MP 768/17 ele admitiu que o assunto ali tratado
não era urgente. Logo, se queria apresentar de novo esse tema, deveria fazê-lo por
meio de um projeto de lei (e não mais por MP, que exige urgência).
2) A MP 782/17, ao tratar sobre o mesmo assunto da MP 768/17, significou, na
realidade, a reedição da MP, o que é vedado de ser feito na mesma sessão legislativa,
por força do art. 62, § 10 da CF/88. Importante ressaltar que essa vedação do § 10 vale
também para hipóteses de revogação da medida provisória anterior, conforme já
decidiu o STF:
5. O sistema instituído pela EC nº 32 leva à impossibilidade - sob pena de fraude à
Constituição - de reedição da MP revogada, cuja matéria somente poderá voltar a
ser tratada por meio de projeto de lei. (...) STF. Plenário. ADI 2984 MC, Rel. Min.
Ellen Gracie, j. 04/09/2003.
 
Assim, se a MP 782/17 deveria ter se limitado a revogar a MP 768/17, sem disciplinar
novamente o mesmo assunto.
 
O fato de a MP 782/17 ter algumas diferenças em relação à MP 768/17 pode servir como
argumento para se dizer que não se trata de uma reedição? NÃO. Se não há modificações
substanciais, deve-se considerar que há uma mera reedição. Em outras palavras, a
publicação de nova MP com pequenas alterações em relação à MP anterior configura
reedição, de sorte que não pode ocorrer na mesma sessão legislativa. Muitas vezes, quando
se busca fraudar o dispositivo constitucional, faz-se uma maquiagem na MP para não repetir
o teor da outra pura e simplesmente. Assim, a reedição, ainda que parcial, de medida
provisória revogada é causa necessária e suficiente para sua incidência na vedação
prescrita no § 10 do art. 62 da CF/88:
(...) 1. Num exame prefacial, tem consistência a alegação de que a MP nº 394/07 é
mera reedição de parte da MP nº 379/07. Isto porque a mais recente incorpora
temas da mais antiga, sem o aporte de modificações substanciais. (...) 2.
Impossibilidade de reedição, na mesma sessão legislativa, de medida provisória
revogada. Tese contrária importaria violação do princípio da Separação de
Poderes, na medida em que o Presidente da República passaria, com tais
expedientes revocatório-reedicionais de medidas provisórias, a organizar e
operacionalizar a pauta dos trabalhos legislativos. Pauta que se inscreve no
âmbito do funcionamento da Câmara dos Deputados e do Senado Federal e, por
isso mesmo, matéria de competência privativa dessas duas Casas Legislativas
(inciso IV do art. 51 e inciso XIII do art. 52, ambos da CF/88). (...) STF. Plenário.
ADI 3964 MC, Rel. Min. Carlos Britto, julgado em 12/12/2007.
 
Inconstitucionalidade: Desse modo, a Lei 13.502/17 (fruto da conversão da MP 782/17) é
inconstitucional. A MP 782/17 representou a reedição da MP 768/17. Logo, houve a reedição
da MP na mesma sessão legislativa, o que é vedado pelo § 10 do art. 62 da CF/88. O § 10 do
art. 62 da CF/88 é um mecanismo procedimental que tem por objetivo limitar o abuso no
exercício excepcional da função legiferante pelo Presidente da República. A MP 782/17
trouxe novamente a mesma matéria da MP anterior como forma de burla à CF/88. Logo, em
razão disso, houve a contaminação da MP impugnada em sua totalidade, porque a vedação
resulta de vício de origem e, assim, abrange todo o ato normativo.
 
O fato de a MP 782/17 ter sido aprovada pelo Congresso Nacional e, portanto, convertida na
Lei 13.502/17 não poderia ser considerada como uma forma de convalidar seus vícios? NÃO.
O STF afirmou expressamente que os vícios formais que surgiram com a edição da MP
782/17 não podem ser convalidados com a sua conversão em lei. Enfim, é o que foi decidido
no Info 935 do STF.

4.3. Inconstitucionalidade de lei estadual, de iniciativa parlamentar, que imponha


atribuições ao DETRAN – (Info 934)

É inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que imponha ao DETRAN a


obrigação de publicar, no diário oficial e na internet, a relação de cada um dos veículos
sinistrados, seus respectivos dados, com destinação para os que sofreram desmonte e/ou
comercialização das peças e partes.
Essa lei trata sobre “atribuições” de órgãos/entidades da administração pública, matéria
que é de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo (art. 61, § 1º, II, “e”, da CF/88).
A correta interpretação que deve ser dada ao art. 61, § 1º, II, “e” c/c o art. 84, VI, da CF/88 é
a de que a iniciativa para leis que disponham sobre “estruturação e atribuições” dos
órgãos públicos é do chefe do Poder Executivo.
STF. Plenário. ADI 4704/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 21/3/19 (Info 934).
OBS:
Violação à iniciativa do chefe do Poder Executivo: Lei de iniciativa parlamentar que
imponha obrigações pecuniárias aos órgãos e entidades ligadas ao Executivo é
inconstitucional por usurpar a iniciativa do chefe do Poder Executivo para a elaboração de
normas que estabeleçam as atribuições dos órgãos pertencentes à estrutura administrativa da
unidade federativa. É a interpretação dada pelo STF ao art. 61, § 1º, II e ao art. 84, VI, “a”, da
CF/88:
Art. 61 (...)
§ 1º São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...)
II - disponham sobre: (...)
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública,
observado o disposto no art. 84, VI;
Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...)
VI – dispor, mediante decreto, sobre:
a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar
aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos;

4.4. É possível que a Constituição do Estado preveja iniciativa popular para a propositura
de emenda à Constituição Estadual – (Info 921) – IMPORTANTE!!!

A iniciativa popular de emenda à Constituição Estadual é compatível com a Constituição


Federal, encontrando fundamento no art. 1º, parágrafo único, no art. 14, II e III e no art. 49,
VI, da CF/88.
Embora a Constituição Federal não autorize proposta de iniciativa popular para emendas
ao próprio texto, mas apenas para normas infraconstitucionais, não há impedimento para
que as Constituições Estaduais prevejam a possibilidade, ampliando a competência
constante da Carta Federal.
STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 25/10/18 (Info 921).
OBS:
Quem pode propor emendas à Constituição Federal? O art. 60 da CF/88 estabelece que a
Constituição Federal poderá ser emendada mediante proposta:
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do
Senado Federal;
II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da
Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus
membros.

O art. 61, § 2º, da CF/88 admite a apresentação de projeto de lei por meio de iniciativa
popular. Isso vale também para emendas à Constituição Federal? É possível a apresentação
de proposta de emenda à Constituição Federal por meio de iniciativa popular? NÃO. Isso
porque o art. 60, da CF/88 trouxe o rol de legitimados e nele não previu a iniciativa popular.
Além disso, o art. 61, § 2º é expresso ao mencionar “projeto de lei”:
Art. 61 (...)
§ 2º A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos
Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do
eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não menos
de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.

Obs: José Afonso da Silva, talvez um dos maiores constitucionalistas do Brasil, defende que a
Constituição Federal poderia ser emendada por proposta de iniciativa popular. Isso com base
em uma interpretação sistemática e com fulcro na soberania popular (SILVA, José Afonso da.
Curso de Direito Constitucional positivo. 33ª ed. São Paulo. Malheiros, 2010, p. 64). Trata-se,
contudo, de posição francamente minoritária.

CE/AP e iniciativa popular para emendas constitucionais: A Constituição do Amapá previu


expressamente a possibilidade de apresentação de proposta de emenda à Constituição
Estadual por meio de iniciativa popular:
Art. 103. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
I - de um terço, no mínimo, dos Deputados Estaduais;
II - do Governador do Estado;
III - de mais da metade das Câmaras Municipais do Estado, manifestando-se,
cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros;
IV - de cidadãos, mediante iniciativa popular assinada, no mínimo, por um
por cento dos eleitores do Estado;

Art. 110. A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Assembleia
Legislativa de projeto de lei, subscrito por, no mínimo, um por cento do
eleitorado estadual, distribuído pelo menos por cinco Municípios, com um
mínimo de dois por cento dos eleitores de cada um deles, e de proposta de
emenda à Constituição na forma do inciso IV do art. 103.

Essa previsão foi questionada no STF. O que decidiu o Supremo? É possível que Constituição
do Estado preveja a possibilidade de apresentação de proposta de emenda à Constituição
Estadual por meio de iniciativa popular? SIM. É o que foi decidido no julgado veiculado no
Info 921 do STF.

Vejamos os seguintes artigos da CF/88, citados no julgado:


Art. 1º (...)
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto
direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: (...)
II - referendo;
III - iniciativa popular.

Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:


XV - autorizar referendo e convocar plebiscito;

Na democracia representativa, além dos mecanismos tradicionais de seu exercício, por meio
dos representantes eleitos pelo povo, também há instrumentos de participação direta, como é
o caso do projeto de iniciativa popular. A Constituição do Amapá democratizou ainda mais o
processo de reforma das regras constitucionais estaduais. O fato de não haver regra expressa
semelhante na CF/88 não faz com que a norma da CE/AP seja inconstitucional por violação
à simetria. Isso porque se, por um lado, não existe previsão expressa, por outro, não há uma
proibição na CF/88, devendo, então, ser considerada válida a norma estadual, tendo em
vista que ela aumenta os mecanismos de participação direta do povo. Além disso, a CF/88
prevê a possibilidade de a população ser chamada a participar por meio de plebiscitos e
referendos, de forma que não há qualquer problema em o Poder Legislativo estadual
acolher a propositura de um tema trazido ao parlamento pelos cidadãos.

A Min. Rosa Weber destacou a importância da iniciativa popular de emenda para a


implantação da democracia participativa no Brasil. O Min. Luiz Fux frisou que o princípio
democrático conspira em prol da possibilidade de a iniciativa popular promover emendas
constitucionais. O Min. Ricardo Lewandowski, por sua vez, afirmou que, em matéria de
direitos fundamentais, os Estados podem ampliá-los com relação àquilo que é previsto na
CF/88. A soberania e a cidadania são valores máximos abrigados na CF, estando
relacionados com o Estado Democrático de Direito.

Como o tema já foi cobrado em concursos:


 (Juiz Substituto - TJRS - VUNESP - 2018) A iniciativa popular no processo de reforma
da Constituição Federal de 1988 não é prevista expressamente pelo texto
constitucional, muito embora seja admitida por alguns autores, com fundamento em
uma interpretação sistemática da Constituição Federal (CERTO).

4.5. É inconstitucional lei estadual que exige prévia autorização da ALE para que os
órgãos do SISNAMA possam celebrar instrumentos de cooperação no Estado – (Info 919)

É inconstitucional, por violar o princípio da separação dos poderes, lei estadual que exige
autorização prévia do Poder Legislativo estadual (Assembleia Legislativa) para que sejam
firmados instrumentos de cooperação pelos órgãos componentes do Sistema Nacional do
Meio Ambiente – SISNAMA.
Também é inconstitucional lei estadual que afirme que Fundação estadual de proteção do
meio ambiente só poderá transferir responsabilidades ou atribuições para outros órgãos
componentes do SISNAMA se houver aprovação prévia da Assembleia Legislativa.
STF. Plenário. ADI 4348/RR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 10/10/18 (Info 919).
OBS: Comentários no arquivo de Direito Ambiental.

4.6. Lei municipal que proíbe a realização, em imóveis do Município, de eventos


patrocinados por bebidas alcoólicas e cigarros – (Info 844) – IMPORTANTE!!! – (TJPR-2017)
(PGETO-2018)

Não viola a Constituição Federal lei municipal, de iniciativa parlamentar, que veda a
realização, em imóveis do Município, de eventos patrocinados por empresas produtoras,
distribuidoras, importadoras ou representantes de bebidas alcoólicas ou de cigarros, com
a utilização da respectiva propaganda.
STF. 2ª Turma. RE 305470/SP, rel. orig. Min. Ellen Gracie, rel. p/ o ac. Min. Teori Zavascki, j.
18/10/16 (Info 844).
(PGETO-2018-CESPE): Determinado Município editou lei para fixar o horário de
funcionamento de estabelecimentos comerciais de venda de bebidas alcoólicas de modo
incompatível com o horário de funcionamento estabelecido por lei do respectivo Estado.
De acordo com a Constituição Federal e considerando a jurisprudência do STF, a referida
lei municipal ateve-se aos limites constitucionais de sua competência legislativa, sendo
inconstitucional a lei estadual, que poderá ser objeto de ação direta de
inconstitucionalidade perante o STF, mas não poderá ser objeto de reclamação
constitucional, ainda que a lei estadual tenha contrariado súmula vinculante editada na
matéria. BL: Info 844, STF.

OBS: Vejamos o teor da Súmula Vinculante 38: “É competente o Município para fixar o
horário de funcionamento de estabelecimento comercial”. Nesse sentido, vejamos o
seguinte julgado do STF: "O Supremo Tribunal Federal já decidiu positivamente acerca da
competência do Município, e não do Estado, para legislar a respeito de horário de funcionamento
de estabelecimento comercial, inclusive para aqueles que comercializam bebidas alcoólicas, por ser
matéria de interesse local, nos termos do art. 30, I, da Constituição Federal." (RE 852233 AgR,
Rel. Min. Roberto Barroso, 1ª Turma, j. 26.8.16). Sabemos que a lei é inconstitucional.
Logo, caberá ADI. Por fim, no caso em tela, não cabe reclamação constitucional contra
leis, a teor do que dispõe o art. 103-A, §3º da CF: “Do ato administrativo ou decisão
judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação
ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará
a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da
súmula, conforme o caso.” A reclamação é, portanto, contra ato administrativo ou decisão
judicial.

(TJPR-2017-CESPE): Considerando a jurisprudência do STF sobre a organização e


estrutura dos poderes na CF e o modelo federativo, assinale a opção correta: Não violará
a competência privativa da União para legislar sobre propaganda a aprovação, por
câmara municipal, de lei que proíba a realização de eventos patrocinados por
distribuidoras de bebidas alcoólicas ou cigarros em imóveis do município. BL: Info 844,
STF.

OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: Foi aprovado, na Câmara Municipal, projeto de lei
iniciado por um Vereador e que proíbe a realização de eventos patrocinados por produtoras,
distribuidoras, importadoras ou representantes de bebidas alcoólicas ou de cigarros em
imóveis de propriedade do Município de São Paulo. Algum tempo depois esta lei foi
questionada judicialmente pelo Prefeito junto ao Tribunal de Justiça sob o argumento de que
ela seria inconstitucional por duas razões:
1ª) Vício de iniciativa. A lei teria invadido a esfera de atribuição do Poder Executivo
considerando que a iniciativa para propor projetos de lei que tratem sobre a Administração
Pública municipal é do Prefeito, nos termos do art. 61, § 1º, II, “e”, da CF/88 (aplicável ao
âmbito municipal em face do princípio da simetria):
Art. 61. (...)
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...)
II - disponham sobre:
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública,
observado o disposto no art. 84, VI;
 
2ª) Invasão de competência federal. A referida lei municipal teria tratado sobre propaganda
comercial, assunto que é de esfera da competência da União, conforme determina o art. 22,
XXIX, da CF/88:
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
XXIX - propaganda comercial.
 
A referida lei municipal apresenta os vícios acima apontados? A lei é inconstitucional?
NÃO. É o que foi decidido no Info 844 do STF.

Inexistência de vício de iniciativa: A Lei municipal atacada não invadiu a esfera de


atribuição própria do Poder Executivo. O Prefeito tem atribuição constitucional para exercer
a administração do patrimônio municipal, mas isso não impede que o Poder Legislativo
estabeleça, mediante lei, limitações à realização, em imóveis do Município, de eventos
patrocinados por empresas ligadas ao comércio de cigarros e de bebidas alcoólicas. Além
disso, a realização de eventos não se enquadra nas atividades de mera administração dos
bens públicos, de forma que não se mostra ilegítima sua regulamentação, mediante lei,
pela Câmara Municipal. Vale ressaltar, por fim, que as hipóteses de iniciativa legislativa
reservadas ao Prefeito devem ser interpretadas de forma restritiva (e não ampliativa), sob
pena de afronta ao princípio da harmonia e independência entre os Poderes.
 
Não houve ofensa ao art. 22, XXIX, da CF/88: A Lei municipal em questão não limita a
veiculação de propagandas comerciais por distribuidoras de cigarro e de bebidas
alcoólicas, mas apenas proíbe a realização, em imóveis do Município, de eventos
patrocinados por empresas envolvidas no comércio dessas substâncias. Dessa forma, a lei
local impõe restrição que recai sobre a Administração Pública municipal e não sobre as
empresas comercializadoras de cigarros e bebidas alcoólicas. Logo, esta lei encontra-se no
âmbito de competência do Poder Legislativo local.

4.7. Disciplina sobre a extinção de empresa estatal deverá ser tratada em lei de iniciativa
do Poder Executivo – (Info 830)

É inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que:


 determina o destino que o Poder Executivo deverá dar aos bens de empresa estatal
que está sendo extinta;
 disciplina as consequências jurídicas das relações mantidas pelo Poder Executivo
com particulares;
 cria conselho de acompanhamento dentro da estrutura do Poder Executivo.
STF. Plenário. ADI 2295/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 15/6/16 (Info 830).
OBS:
Essa lei deveria ser de iniciativa do chefe do Poder Executivo, sob pena de violação do art. 61,
§ 1º, II, “e”, da CF/88:
Art. 61. (...)
§ 1º - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que: (...)
II - disponham sobre:
e) criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública,
observado o disposto no art. 84, VI;

4.8. Emenda parlamentar em projeto de lei do Poder Executivo – (Info 822)

É inconstitucional norma resultante de emenda parlamentar a projeto de lei de iniciativa


exclusiva do Chefe do Poder Executivo, na hipótese em que a emenda apresentada
acarrete aumento de despesa (art. 61, § 1º, II, “a” e art. 63, I, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 2810/RS, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 20/4/2016 (Info 822).
OBS:
REQUISITOS PARA QUE SEJA VÁLIDA A EMENDA PARLAMENTAR A PROJETOS DE
LEI DE OUTROS PODERES
O parlamentar poderá apresentar emendas em um projeto de lei que seja de iniciativa
privativa do chefe do Poder Executivo? Em outras palavras, o projeto de lei que trata sobre
uma das matérias do art. 61, § 1º da CF/88 e que esteja tramitando no Parlamento poderá ser
alterado pelos parlamentares? SIM. É possível que haja emenda parlamentar em um projeto
de lei de iniciativa reservada ao Chefe do Poder Executivo, desde que cumpridos dois
requisitos:
a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto original);
e
b) a emenda não acarrete aumento de despesas (art. 63, I, da CF/88).
Assim, nos projetos de lei de iniciativa do Chefe do Executivo, o parlamentar pode até propor
emendas, mas estas deverão respeitar as restrições trazidas pelo art. 63, I, da CF/88.
Art. 63. Não será admitido aumento da despesa prevista:
I — nos projetos de iniciativa exclusiva do Presidente da República, ressalvado
o disposto no art. 166, § 3º e § 4º;
Obs.: os §§ 3º e 4º tratam sobre os projetos de lei orçamentária e da LDO; nesses
dois casos, é possível que a emenda parlamentar acarrete aumento de despesas.

Existem também outros recentes no mesmo sentido: STF. Plenário. ADI 3942/DF, Rel. Min.
Cármen Lúcia, jugado em 5/2/2015 (Info 773).

Caso concreto julgado pelo STF: O Governador do Estado enviou projeto de lei tratando
sobre os servidores de determinada entidade estadual. Durante a tramitação do projeto, um
Deputado apresentou emenda criando uma gratificação para os servidores dessa entidade. O
projeto foi aprovado e sancionado, convertendo-se em lei. O STF julgou essa lei
inconstitucional porque houve aumento de despesa.

4.9. Emendas parlamentares em projetos de lei de iniciativa dos Tribunais de Contas –


(Info 818)

A iniciativa de projetos de lei que tratem sobre a organização e o funcionamento dos


Tribunais de Contas é reservada privativamente ao próprio Tribunal (arts. 73 e 96, II, “b”,
da CF/88).
É possível que haja emendas parlamentares em projetos de lei de iniciativa do Tribunal
de Contas, desde que respeitados dois requisitos:
a) guardem pertinência temática com a proposta original (tratem sobre o mesmo assunto);
b) não acarretem em aumento de despesas.
STF. Plenário. ADI 5442 MC/DF e ADI 5453 MC/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 17/3/16
(Info 818).
OBS:
Os projetos de lei que tratem sobre a organização e o funcionamento do Tribunal de Contas
podem ser propostos pelo Poder Executivo ou por um parlamentar? NÃO. A iniciativa de
projetos de lei que tratem sobre estes temas é reservada ao próprio Tribunal de Contas,
conforme decorre da interpretação sistemática dos arts. 73 e 96, inciso II, alínea “b”, da
CF/88:
Art. 73. O Tribunal de Contas da União, integrado por nove Ministros, tem sede
no Distrito Federal, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território
nacional, exercendo, no que couber, as atribuições previstas no art. 96.
(...)
Art. 96. Compete privativamente:
II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de
Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169:
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços auxiliares e
dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus
membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, onde houver;

"A prerrogativa para instaurar o processo legislativo, conferida ao Tribunal de Contas, tem
por finalidade preservar sua autonomia funcional, administrativa e financeira. Os projetos
apresentados ao Legislativo consubstanciam o instrumento formal do exercício do poder de
iniciativa, consistente na escolha dos interesses a serem juridicamente tutelados." (Min.
Marco Aurélio).

Obs: apesar de o art. 73 falar em TCU, essa regra também se aplica aos Tribunais de Contas
dos Estados, por força do art. 75 da CF/88:
Art. 75. As normas estabelecidas nesta seção aplicam-se, no que couber, à
organização, composição e fiscalização dos Tribunais de Contas dos Estados e
do Distrito Federal, bem como dos Tribunais e Conselhos de Contas dos
Municípios.

Assim, os projetos de lei que versam sobre os Tribunais de Contas dos Estados somente
podem ser propostos pelo próprio Tribunal.

Vimos acima que os parlamentares não poderão iniciar projetos de lei que tratem sobre a
organização dos Tribunais de Contas. Mas e se o Tribunal de Contas apresentar um projeto
de lei, enquanto ele estiver tramitando na Casa legislativa, os parlamentares poderão
apresentar emendas a este projeto? SIM, é possível que haja emendas parlamentares em
projetos de lei de iniciativa do Tribunal de Contas, desde que respeitados dois requisitos:
a) guardem pertinência temática com a proposta original (tratem sobre o mesmo assunto);
b) não acarretem em aumento de despesas.

ATENÇÃO: Emendas parlamentares que não respeitem a pertinência temática servem como
um meio de usurpar, ainda que de forma indireta, a iniciativa dos Tribunais de Contas para
deflagrar os seus projetos de lei, atingindo, assim, a própria autonomia constitucionalmente
assegurada à instituição.

4.10. Emenda parlamentar em projeto de lei do Poder Executivo e pertinência temática –


(Info 793)

A iniciativa de competência privativa do Poder Executivo não impede a apresentação de


emendas parlamentares, presente a identidade de matéria e acompanhada da estimativa
de despesa e respectiva fonte de custeio.
Assim, é possível que haja emenda parlamentar em um projeto de lei de iniciativa
reservada ao Chefe do Poder Executivo, desde que cumpridos dois requisitos:
a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto
original); e
b) a emenda não acarrete aumento de despesas originalmente previstas (art. 63, I, da
CF/88).
STF. Plenário. ADI 3926/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/8/2015 (Info 793).

4.11. Emenda parlamentar em projeto de lei do Poder Executivo – (Infos 773 e 790) - (TJPE-
2015) (TJAL-2015)

A iniciativa de competência privativa do Poder Executivo não impede a apresentação de


emendas parlamentares, presente a identidade de matéria e acompanhada da estimativa
de despesa e respectiva fonte de custeio.
Assim, é possível que haja emenda parlamentar em um projeto de lei de iniciativa
reservada ao Chefe do Poder Executivo, desde que cumpridos dois requisitos:
a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto
original); e
b) a emenda não acarrete aumento de despesas originalmente previstas (art. 63, I, da
CF/88).
STF. Plenário. ADI 4433/SC, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 18/6/2015 (Info 790).
STF. Plenário. ADI 3942/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, jugado em 5/2/2014 (Info 773).

4.12. NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS JULGADAS COMPATÍVEIS COM


A CF/88: CE pode prever que a Lei Orgânica da Polícia Civil tenha status de lei
complementar – (Info 790)

Constituição estadual poderá prever que a Lei Orgânica da Polícia Civil daquele estado
tenha status de lei complementar.
Não há nada na CF/88 que impeça o constituinte estadual de exigir quórum maior (lei
complementar) para tratar sobre essa questão.
Seria uma demasia (um exagero) negar à Constituição estadual a possibilidade de escolher
determinados temas como mais sensíveis, exigindo, para eles, uma aprovação legislativa
mais qualificada por meio de lei complementar.
STF. Plenário. ADI 2314/RJ, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min. Marco
Aurélio, julgado em 17/6/2015 (Info 790).

4.13. NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS JULGADAS COMPATÍVEIS COM


A CF/88: CE pode prever que as proibições e impedimentos dos Deputados Estaduais são
aplicáveis também aos Governadores de Estado – (Info 787)

É constitucional norma da Constituição estadual que preveja que as proibições e os


impedimentos estabelecidos para os Deputados Estaduais deverão ser aplicados também
para o Governador e o Vice-Governador do Estado.
STF. Plenário. ADI 253/MT, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 28/5/2015 (Info 787).

4.14. Iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico dos servidores públicos e
militares – (Info 773 e 766) – (TJPE-2015) (TJPR-2019)

É inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que disponha sobre o regime


jurídico dos servidores públicos e dos miliares estaduais (seus direitos e deveres).
O art. 61, § 1º, II, “c” e “f”, da CF/88 prevê que compete ao Chefe do Poder Executivo a
iniciativa de lei que trate sobre os direitos e deveres dos servidores públicos e sobre o
regime jurídico dos militares. Essa regra também é aplicada no âmbito estadual por força
do princípio da simetria.
O fato de o Governador do Estado sancionar esse projeto de lei não faz com que o vício de
iniciativa seja sanado (corrigido). A Súmula 5 do STF há muitos anos foi cancelada.
STF. Plenário. ADI 3920/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/2/2015 (Info 773).
STF. Plenário. ADI 3627/AP, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 6/11/2014. (Info 766).

4.15. Iniciativa de lei que disponha sobre o regime jurídico dos servidores públicos – (Info
776)

É inconstitucional Lei Orgânica Municipal que disponha sobre o regime jurídico dos
servidores públicos (seus direitos e deveres).
O art. 61, § 1º, II, “c”, da CF/88 prevê que compete ao Chefe do Poder Executivo a
iniciativa de lei que trate sobre os direitos e deveres dos servidores públicos e sobre o
regime jurídico dos militares. Essa regra também é aplicada no âmbito municipal por
força do princípio da simetria.
STF. Plenário. RE 590829/MG, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 5/3/2015 (Info 776).

4.16. Inconstitucionalidade de EC iniciada por parlamentar tratando sobre matérias do art.


61, § 1º da CF – (Info 774)

É INCONSTITUCIONAL emenda constitucional que insira na Constituição estadual


dispositivo determinando a revisão automática da remuneração de servidores públicos
estaduais. Isso porque tal matéria é prevista no art. 61, § 1º, II, “c”, da CF/88 como sendo
de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo.
STF. Plenário. ADI 3848/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/2/2015 (Info 774).

4.17. Iniciativa de lei que disponha sobre criação de cargos públicos e estruturação de
órgãos da Administração direta e autárquica – (Info 771)

É formalmente inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que trata sobre a


criação de cargos e a estruturação de órgãos da Administração direta e autárquica. A
iniciativa para essas matérias é reservada ao chefe do Poder Executivo (art. 61, § 1º, II, “a”,
“c” e “e”, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 2940/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 11/12/2014 (Info 771).

4.18. Inconstitucionalidade de lei municipal, de iniciativa parlamentar, que isenta


determinada classe do pagamento de tarifas municipais – (Info 771)

É inconstitucional lei municipal, de iniciativa parlamentar, que autoriza que os oficiais de


justiça do Estado estacionem seus veículos de trabalho nas chamadas “zonas azuis” sem
pagamento das tarifas.
A lei em questão, de iniciativa parlamentar, interfere em questões da Administração
Pública municipal e acarreta redução de receita legalmente estimada para os cofres
públicos, o que viola o princípio da harmonia e independência dos Poderes.
STF. Plenário. RE 239458/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 11/12/2014 (Info 771).

4.19. Lei que proíba o nepotismo no Poder Executivo pode ser proposta por parlamentar –
(Info 771)

As leis que proíbam o nepotismo na Administração Pública não são de iniciativa


exclusiva do Chefe do Poder Executivo, podendo, portanto, ser propostas pelos
parlamentares.
STF. Plenário. RE 570392/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 11/12/2014 (Info 771).

4.20. NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS EXAMINADAS PELO STF: CE não


pode prever isonomia de vencimentos entre membros das Polícias Civil e Militar – (Info 768)

É INCONSTITUCIONAL norma da Constituição Estadual que preveja a isonomia de


vencimentos entre os membros das Polícias Civil e Militar.
Tal regra viola o art. 61, § 1º, II, “a”, da CF/88, considerando que o estabelecimento de
política remuneratória dos servidores do Poder Executivo estadual é de competência
exclusiva do Governador do Estado.
Além disso, ofende também o art. 37, XIII, da CF/88, que proíbe equiparações entre
servidores de carreiras distintas.
STF. Plenário. ADI 3777/BA, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 19/11/2014 (Info 768).

4.21. NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS EXAMINADAS PELO STF: É


inconstitucional EC iniciada por parlamentares tratando sobre as matérias do art. 61, § 1º da
CF/88 – (Info 768)

É INCONSTITUCIONAL emenda parlamentar proposta por parlamentares inserindo a


Polícia Científica no rol dos órgãos de segurança pública do Estado. Isso porque esse
assunto somente pode ser disciplinado por meio de iniciativa privativa do chefe do Poder
Executivo.
STF. Plenário. ADI 2616/PR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/11/2014 (Info 768).

4.22. NORMAS DE CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS EXAMINADAS PELO STF: Norma


originária da LODF pode tratar sobre a direção superior das empresas públicas e sociedades
de economia mista – (Info 768)

É CONSTITUCIONAL norma originária da Lei Orgânica do DF que preveja que “a


direção superior das empresas públicas, autarquias, fundações e sociedades de economia
mista terá representantes dos servidores”.
A Lei Orgânica do DF é uma manifestação do poder constitucional derivado decorrente,
ou seja, ela possui o mesmo status jurídico ostentado pelas Constituições estaduais.
STF. Plenário. ADI 1167/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/11/2014 (Info 768).

4.23. Constitucionalidade de lei, de iniciativa parlamentar, que autoriza o Estado-membro


a reconhecer sua responsabilidade civil – (Info 768)

É constitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que autoriza que o Estado-


membro indenize as pessoas que foram vítimas de violências praticadas pelos agentes
públicos.
Segundo o STF, a iniciativa para encaminhar projeto de lei tratando sobre essa matéria
não é privativa do chefe do Poder Executivo, não havendo, portanto, violação a qualquer
das alíneas do inciso II do § 1º do art. 61 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 2255/ES, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 19/11/2014 (Info 768).

4.24. Constitucionalidade de lei estadual que obriga o Poder Executivo a divulgar dados de
contratos e obras públicas – (Info 766)

É constitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que obriga o Poder Executivo do


referido Estado-membro a divulgar, na imprensa oficial e na internet, a relação completa
de obras atinentes a rodovias, portos e aeroportos.
STF. Plenário. ADI 2444/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/11/2014 (Info 766).

4.25. Constitucionalidade da lei de iniciativa parlamentar que inclui Município na região


metropolitana – (Info 766)

É constitucional lei complementar, de iniciativa parlamentar, que inclui município


limítrofe na região metropolitana. A iniciativa para esse projeto de lei não é privativa do
chefe do Poder Executivo e essa inclusão não acarreta aumento de despesa, não violando
assim os arts. 61, § 1º e 63, I, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 2803/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/11/2014 (Info 766).

4.26. O Tribunal de Contas possui iniciativa privativa para as leis que tratam sobre sua
organização e funcionamento – (Info 766)

É inconstitucional lei de iniciativa parlamentar que trate sobre os cargos, a organização e o


funcionamento do Tribunal de Contas. É a própria Corte de Contas quem tem
competência reservada para deflagrar o processo legislativo que trate sobre essa matéria
(arts. 73, 75 e 96 da CF/88).
STF. Plenário. ADI 3223/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 6/11/2014 (Info 766).

4.27. É inconstitucional lei estadual que obriga agentes públicos de outros poderes a
apresentarem declaração de bens à ALE – (Info 765)

Determinada Lei estadual, de iniciativa parlamentar, obrigava que alguns agentes


públicos estaduais (Magistrados, membros do MP, Deputados, Procuradores do Estado,
Defensores Públicos, Delegados etc.) apresentassem, anualmente, a declaração de todos os
seus bens à ALE.
O STF entendeu que a referida lei é inconstitucional já que essa competência de
fiscalização conferida pela lei à Assembleia Legislativa não tem amparo na CF/88, que não
previu semelhante atribuição ao Congresso Nacional no âmbito federal. Não poderia a
Assembleia Legislativa outorgar-se a si mesma competência que não encontra previsão na
Carta Federal.
Os Ministros consideraram que a Lei somente seria válida quanto aos servidores do
próprio Poder Legislativo que administrem ou sejam responsáveis por bens e valores,
sendo constitucional que se exija que estes apresentem sua declaração de bens à ALE por
se tratar de uma forma de controle administrativo interno.
STF. Plenário. ADI 4203/RJ e ADI 4232/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 30/10/14 (Info 765).

4.28. Iniciativa privativa de projetos de lei do Poder Judiciário e emendas parlamentares –


(Info 765 e 756)

É possível que haja emendas parlamentares em projetos de lei de iniciativa dos Poderes
Executivo e Judiciário, desde que cumpram dois requisitos:
a) guardem pertinência temática com a proposta original (tratem sobre o mesmo assunto);
b) não acarretem em aumento de despesas.

No caso concreto, o Tribunal de Justiça encaminhou um projeto de lei aumentando os


vencimentos dos servidores do Poder Judiciário e um Deputado Estadual apresentou
emenda à proposta prevendo anistia aos servidores que fizeram greve e compensação dos
dias paralisados. O STF entendeu que não havia pertinência temática entre a emenda e o
projeto apresentado.
STF. Plenário. ADI 1333/RS, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 29/10/2014 (Info 765).
STF. Plenário. ADI 5087 MC/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/8/2014 (Info 756).

4.29. Inconstitucionalidade formal de provimento da Corregedoria do TJ que disponha


sobre a permanência de magistrados na comarca – (Info 765)

É inconstitucional provimento editado pela Corregedoria do Tribunal de Justiça dispondo


sobre o expediente dos magistrados estaduais e exigindo autorização do Presidente da
Corte para que o juiz possa se ausentar da comarca. Esse ato normativo padece de
inconstitucionalidade formal já que tal matéria é reservada à lei complementar de
iniciativa do STF (art. 93, VII, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 2880/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 30/10/2014 (Info 765).

4.30. Em regra, é inconstitucional a lei que vincula a receita de impostos a órgão, fundo ou
despesa – (Info 765)

A Constituição do Estado do Rio de Janeiro previa que um percentual mínimo da receita


prevista no orçamento anual deveria ser destinado à educação especial, à UERJ e à
FAPERJ.
O STF julgou essa previsão parcialmente inconstitucional considerando que ela restringe
a competência constitucional do Poder Executivo de elaborar a proposta de lei
orçamentária, além de violar o art. 167, inciso IV, da CF/88.
A Corte, contudo, considerou constitucional a determinação da CE de que 2% da receita
tributária do exercício deve ser destinado à Fundação de Amparo à Pesquisa (Faperj). Isso
porque essa regra está em consonância com o art. 218, § 5º da CF/88, que faculta aos
estados e ao Distrito Federal vincular parte da receita orçamentária a entidades públicas
de fomento ao ensino e à pesquisa científica e tecnológica.
STF. Plenário. ADI 4102/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 30/10/2014 (Info 765).

4.31. É inconstitucional lei de iniciativa parlamentar que conceda anistia a servidores


públicos – (Info 763) – (TJAM-2016)

É inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que conceda anistia a servidores


públicos punidos em virtude de participação em movimentos reivindicatórios. Existe um
vício formal. Isso porque a CF/88 prevê que compete ao Chefe do Poder Executivo a
iniciativa de lei que trate sobre os direitos e deveres dos servidores públicos (art. 61, § 1º,
II, “c”, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 1440/SC, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 15/10/2014 (Info 763).

4.32. Iniciativa privativa do chefe do Executivo para projetos de lei que versem sobre
órgãos públicos – (Info 760)

É inconstitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que determinava que todos os


órgãos que prestassem serviços de atendimento de emergência no Estado deveriam estar
unificados em uma única central de atendimento telefônico, que teria o número 190. Essa
lei trata sobre “estruturação e atribuições” de órgãos da administração pública, matéria
que é de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo (art. 61, § 1º, II, “e”, da CF/88).
A correta interpretação que deve ser dada ao art. 61, § 1º, II, “e” c/c o art. 84, VI, da CF/88 é
a de que a iniciativa para leis que disponham sobre “estruturação e atribuições” dos
órgãos públicos continua sendo do Poder Executivo, não tendo a EC 32/2001 tido a
intenção de retirar essa iniciativa privativa. Ao contrário, tais matérias tanto são de
interesse precípuo do Executivo que podem ser tratadas por meio de Decreto.
STF. Plenário. ADI 2443/RS, Rel. Marco Aurélio, julgado em 25/9/2014 (Info 760).

4.33. Lei estadual não pode dispor sobre inspeção técnica veicular – (Info 759)

É INCONSTITUCIONAL lei estadual que trate sobre inspeção técnica de veículos. Isso
porque essa Lei versa sobre TRÂNSITO, matéria de competência privativa da União (art.
22, XI, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 1972/RS, rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 18/9/2014 (Info 759).

4.34. CE não pode dispor sobre as atribuições para a defesa dos direitos das populações
indígenas – (Info 759)

É INCONSTITUCIONAL norma da Constituição Estadual que disponha as atribuições


para a defesa dos direitos e interesses das populações indígenas. Isso porque somente a
União pode legislar sobre a matéria, conforme determina o art. 22, XIV, da CF/88.
STF. 1ª Turma. ADI 1499/PA, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 17/9/2014 (Info 759).

4.35. É inconstitucional lei de iniciativa parlamentar que trate sobre o orçamento e


imponha obrigações aos órgãos públicos – (Info 758)

É inconstitucional lei de iniciativa parlamentar que preveja que o Poder Executivo deverá
destinar às Secretarias de Cultura e de Segurança Pública os recursos necessários para a
realização de um evento anual de música.
O STF entendeu que a referida lei é inconstitucional por vício de iniciativa. Isso porque a
lei impõe obrigações aos órgãos públicos (serviços públicos), além de interferir no
orçamento do Poder Executivo, matérias que somente poderiam ser disciplinadas em lei
de iniciativa do Governador do Estado, nos termos do art. 61, § 1º, II, “b” e art. 165, III, da
CF/88.
STF. Plenário. ADI 4180/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 11/9/2014 (Info 758).

4.36. Emenda parlamentar a proposições legislativas de iniciativa privativa do chefe do


Executivo – (Info 756)

O parlamentar poderá apresentar emendas em um projeto de lei que seja de iniciativa


privativa do chefe do Poder Executivo? Em outras palavras, o projeto de lei que trata sobre
uma das matérias do art. 61, § 1º da CF/88 e que esteja tramitando no Parlamento poderá
ser alterado pelos parlamentares?
SIM. É possível que haja emenda parlamentar em um projeto de lei de iniciativa
reservada ao Chefe do Poder Executivo, desde que cumpridos dois requisitos:
a) haja pertinência temática (a emenda não trate sobre assunto diferente do projeto
original); e
b) a emenda não acarrete aumento de despesas (art. 63, I, da CF/88).

Diante disso, o STF considerou inconstitucional a emenda apresentada por parlamentar a


uma PEC de iniciativa do Governador que instituía o teto do funcionalismo estadual. A
emenda do Deputado previa exceções ao teto de forma que acabava criando despesas, o
que viola o art. 63, I, da CF/88 aplicável ao processo legislativo estadual com base no
princípio da simetria.
STF. Plenário. ADI 5087 MC/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 27/8/2014 (Info 756).

4.37. A iniciativa de leis que tratam sobre regime jurídico de servidores é do chefe do
Poder Executivo – (Info 755) – (TJAM-2013)

O STF julgou inconstitucionais as seguintes leis estaduais que tratavam sobre servidores
públicos, mas foram iniciadas por Deputados Estaduais:
 Lei 7.385/2002 (ES): dispunha sobre a reestruturação da carreira de fotógrafo
criminal pertencente ao quadro de serviços efetivos da polícia civil daquele
Estado-membro (ADI 2834/ES);
 Lei 5.729/95 (AL): fixava regras sobre a transferência para a reserva, reforma e
elegibilidade de policiais militares (ADI 1381/AL);
 LC 11.370/99 (RS): vedava a supressão administrativa de direitos e vantagens que
foram legalmente incorporados ao patrimônio funcional dos servidores, prevendo
que somente poderiam ser suprimidas pela via judicial (ADI 2300/RS).

O art. 61, § 1º, II, “c”, da CF/88 prevê que compete ao Chefe do Poder Executivo a
iniciativa de lei que trate sobre os direitos e deveres dos servidores públicos. Essa regra
também é aplicada no âmbito estadual por força do princípio da simetria.
STF. Plenário. ADI 2834/ES, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/8/2014 (Info 755).

4.38. Lei que imponha deveres aos servidores públicos deve ser de iniciativa do chefe do
Executivo – (Info 754)

É INCONSTITUCIONAL lei estadual, de iniciativa parlamentar, que imponha obrigação


ao Procurador do Estado de ajuizar ação regressiva contra o servidor causador do dano.
Isso porque compete ao Governador do Estado a iniciativa de lei que trate sobre direitos e
deveres dos servidores públicos. Aplica-se ao processo legislativo estadual, por força do
princípio da simetria, a regra prevista no art. 61, § 1º, II, “c”, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 3564/PR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 13/8/2014 (Info 754).

4.39. É de iniciativa privativa do Governador do Estado a proposição legislativa que trate


sobre o Conselho Estadual de Educação – (Info 754)

É INCONSTITUCIONAL emenda à Constituição estadual, de iniciativa parlamentar, que


disponha sobre o Conselho Estadual de Educação. Isso porque compete ao Governador do
Estado a iniciativa de lei ou emenda constitucional que trate sobre a organização dos
órgãos públicos, dentre os quais se inclui o referido Conselho. Aplica-se ao processo
legislativo estadual, por força do princípio da simetria, a regra prevista no art. 61, § 1º, II,
“e”, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 2654/AL, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 13/8/2014 (Info 754).

4.40. Número de Deputados Federais deve ser fixado por meio de Lei Complementar, não
podendo ser feito pelo TSE – (Info 751)

A CF/88 previu que o número total de Deputados, bem como a representação por Estado e
pelo Distrito Federal, deve ser estabelecido por lei complementar, proporcionalmente à
população (§ 1º do art. 45).
Em 1993, foi editada a LC 78/93, que disciplina a fixação do número de Deputados.
O art. 1º da LC 78/93 previu que, em cada ano anterior às eleições, o IBGE deverá fornecer
ao TSE a atualização estatística demográfica das unidades da Federação. Com base nesses
dados, o TSE faz o cálculo da quantidade de Deputados Federais por Estado/DF e
encaminha para os TRE’s e para os partidos políticos o número de vagas a serem
disputadas (parágrafo único do art. 1º da LC).
Em 2013, com base no art. 1º da LC 78/93, o TSE editou a Resolução 23.389 alterando o
número de vagas de Deputado Federal de cada Estado/DF e, consequentemente, o número
de vagas de Deputados Estaduais a serem disputadas nas eleições de 2014.
O Congresso Nacional, argumentando que o TSE exorbitou do seu poder regulamentar,
publicou o Decreto Legislativo 424/2013 sustando os efeitos da Resolução TSE 23.389/2013.
O STF entendeu que:
 O parágrafo único do art. 1º da LC 78/93 e a Resolução TSE 23.389/2013 são
INCONSTITUCIONAIS por violarem o § 1º do art. 45 da CF/88 e a independência
do Poder Legislativo.
 O Decreto Legislativo 424/2013, editado pelo Congresso Nacional, é
INCONSTITUCIONAL por violar o art. 49, V, da CF/88 e a independência do
Poder Judiciário.
 Nas eleições de outubro de 2014 deverão ser adotados os mesmos critérios
aplicados nas eleições de 2010, ou seja, o número de vagas de Deputados Federais
não foi alterado.
STF. Plenário. ADI 4947, 5020, 5028, 5130, 4963, 4965 e ADC 33/DF, Rel. p. Acórdão Min.
Rosa Weber, julgados em 18/6/2014 (Info 751).

5. MEDIDAS PROVISÓRIAS
5.1. É possível editar medidas provisórias sobre meio ambiente? – (Info 896)

É possível a edição de medidas provisórias tratando sobre matéria ambiental, mas sempre
veiculando normas favoráveis ao meio ambiente.
Normas que importem diminuição da proteção ao meio ambiente equilibrado só podem
ser editadas por meio de lei formal, com amplo debate parlamentar e participação da
sociedade civil e dos órgão e instituições de proteção ambiental, como forma de assegurar
o direito de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado.
Dessa forma, é inconstitucional a edição de MP que importe em diminuição da proteção
ao meio ambiente equilibrado, especialmente em se tratando de diminuição ou supressão
de unidades de conservação, com consequências potencialmente danosas e graves ao
ecossistema protegido.
A proteção ao meio ambiente é um limite material implícito à edição de medida
provisória, ainda que não conste expressamente do elenco das limitações previstas no art.
62, § 1º, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 4717/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 5/4/18 (Info 896).
OBS:
O que é medida provisória? Medida provisória é um ato normativo editado pelo Presidente
da República, em situações de relevância e urgência, e que tem força de lei, ou seja, é como se
fosse uma lei ordinária, com a diferença de que ainda será votada pelo Congresso Nacional,
podendo ser aprovada (quando, então, é convertida em lei) ou rejeitada (situação em que
deixará de existir). As regras sobre as medidas provisórias estão previstas no art. 62 da
CF/88.

Matérias que não podem ser tratadas por MP: Segundo o § 1º do art. 62 da CF/88, é vedada a
edição de medidas provisórias sobre:
a) nacionalidade, cidadania, direitos políticos, partidos políticos e direito
eleitoral;
b) direito penal, processual penal e processual civil;
c) organização do Poder Judiciário e do Ministério Público, a carreira e a
garantia de seus membros;
d) planos plurianuais, diretrizes orçamentárias, orçamento e créditos adicionais
e suplementares, ressalvado o previsto no art. 167, § 3º;
e) que vise a detenção ou sequestro de bens, de poupança popular ou qualquer
outro ativo financeiro;
f) matéria reservada a lei complementar;
g) matéria já disciplinada em projeto de lei aprovado pelo Congresso Nacional e
pendente de sanção ou veto do Presidente da República.

5.2. O § 11 do art. 62 da CF/88 deve ser interpretado com cautela, não se podendo protrair
indefinidamente a vigência de medidas provisórias rejeitadas ou não apreciadas – (Info 894)

Determinada medida provisória foi editada criando a possibilidade de que empresas


instalassem Centros Logísticos e Industriais Aduaneiros (CLIA), desde que autorizados
pela Receita Federal.
Diversas empresas fizeram o requerimento pedindo a instalação desses Centros. Ocorre
que, antes que a Receita examinasse todos os pedidos, a MP foi rejeitada pelo Senado.
O Congresso Nacional não editou decreto legislativo disciplinando as situações ocorridas
durante o período em que a MP vigorou (§ 3º do art. 62 da CF/88).
Diante disso, as empresas defendiam a tese de que os requerimentos formulados
deveriam ser apreciados pela Receita Federal com base no § 11 do art. 62:
“§ 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até sessenta dias após a
rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, as relações jurídicas constituídas e
decorrentes de atos praticados durante sua vigência conservar-se-ão por ela regidas.”
O STF não concordou e afirmou que os pedidos formulados pelos interessados durante a
vigência da MP 320/2006 não foram sequer examinados. Logo, não se pode dizer que havia
ato jurídico perfeito.
O simples fato de ter sido feito o requerimento não significa “relação jurídica
constituída”, de sorte que não se pode invocar o § 11 para justificar a aplicação da medida
provisória rejeitada.
O mero protocolo do pedido não constitui uma “relação jurídica constituída” de que trata
o § 11.
STF. Plenário. ADPF 216/DF, Rel. Min. Cámen Lúcia, j. 14/3/18 (Info 894).
OBS:
MP 320/2006: Em 24 de agosto de 2006, foi editada a MP 320/2006, que tratou sobre a
movimentação e armazenagem de mercadorias importadas ou despachadas para exportação.
A MP estabeleceu o seguinte:
 Em regra, a movimentação e a armazenagem de mercadorias importadas ou
despachadas para exportação serão feitas sob controle aduaneiro, em locais e recintos
alfandegados (art. 1º). Dito de outro modo, essas atividades deverão acontecer em
um local sob a supervisão da Receita Federal.
 É possível, no entanto, que isso seja também feito em um estabelecimento
empresarial administrado por uma empresa, desde que seja licenciado pela Receita
Federal. Este local é chamado de Centro Logístico e Industrial Aduaneiro (CLIA).

Nos arts. 6º a 12, a MP estabeleceu os requisitos para que a empresa interessada pudesse
requerer licença da Receita Federal para explorar uma CLIA. A grande vantagem da CLIA é
que, para a sua exploração, não era necessária licitação. Bastava preencher os requisitos
previstos na lei. Durante a vigência da MP, 43 empresas fizeram requerimento à Receita
Federal para instalar CLIA. O Fisco examinou e acolheu 5 desses pedidos.

Ocorre que, em 13 de dezembro de 2016, antes que a Receita tivesse terminado de examinar
todos os requerimentos, o Senado rejeitou a MP 320/2006. Desse modo, de todos os
requerimentos feitos na vigência da MP 320/2006, apenas 5 deles foram apreciados e os 38
restantes não tiveram resposta antes de a MP ser rejeitada.
 
O que acontece se uma MP não é convertida em lei? Se uma medida provisória não for
convertida em lei, ela perde eficácia desde a sua edição. Ocorrendo essa situação, o
Congresso Nacional deverá editar um decreto legislativo disciplinando como ficarão as
relações jurídicas que foram afetadas pela MP no período em que ela vigorou (art. 62, § 3º).
Em outras palavras, este decreto legislativo irá dizer se os efeitos produzidos pela MP no
período em que ela vigorou continuam ou não, mesmo ela não tendo sido aprovada:
Art. 62 (...)
§ 3º As medidas provisórias, ressalvado o disposto nos §§ 11 e 12 perderão
eficácia, desde a edição, se não forem convertidas em lei no prazo de sessenta
dias, prorrogável, nos termos do § 7º, uma vez por igual período, devendo o
Congresso Nacional disciplinar, por decreto legislativo, as relações jurídicas
delas decorrentes.
 
E se o Congresso Nacional não editar este decreto legislativo? Se não for editado o decreto
legislativo até 60 dias após a rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, neste caso, a
fim de evitar lacuna e insegurança jurídica, o art. 62, § 11 da CF/88 determina que a falecida
MP continuará regendo as relações jurídicas constituídas e decorrentes de atos praticados
durante a vigência da MP. Veja:
§ 11. Não editado o decreto legislativo a que se refere o § 3º até sessenta dias
após a rejeição ou perda de eficácia de medida provisória, as relações jurídicas
constituídas e decorrentes de atos praticados durante sua vigência conservar-se-
ão por ela regidas. (Incluído pela EC 32/2001)
 
Voltando ao caso concreto: O Congresso Nacional rejeitou a MP 320/2006, mas não editou o
decreto legislativo a que se refere o § 3º disciplinando as relações jurídicas que decorreram da
MP. Diante disso, o que fez a Receita Federal: declarou que os 38 requerimentos que haviam
sido feitos estão prejudicados, ou seja, não podem ser sequer examinados. As empresas que
fizeram esses 38 requerimentos (vamos chama-las de “grupo B”) não se conformaram e
começaram a ingressar com ações judiciais para que a Receita Federal apreciasse os pedidos
conforme as regras da MP 320/2006.
O fundamento para essas ações foi o § 11 do art. 62 da CF/88. Elas disseram o seguinte: como
o Congresso Nacional não editou o decreto legislativo, as situações ocorridas durante a
vigência da MP (requerimentos feitos) continuam regidos pela referida MP mesmo ela tendo
sido rejeitada. Por outro lado, as outras empresas que conseguiram a autorização da Receita
antes da rejeição da MP 320/2006 (vamos chamá-las de “grupo A”) tinham interesse que os
pedidos não fossem apreciados porque assim teriam menos concorrência.

Diante dessa situação, uma associação de empresas que trabalham com movimentação,
armazenagem e despacho aduaneiro de mercadorias, em atenção aos interesses do “grupo
A”, ajuizou ADPF no Supremo para evitar que os pedidos de registro para exploração de
CLIA feitos sob a vigência da MP 320/2006, fossem analisados pela Receita Federal. A
entidade afirmou que as ações judiciais propostas pelo “grupo B” estavam tentando dar
uma interpretação ilegítima aos §§ 3º e 11 do art. 62 da CF/88.
 
Primeira pergunta: cabe ADPF neste caso? SIM.
É cabível ADPF para questionar interpretação judicial de norma
constitucional. Em outras palavras, cabe ADPF para dizer que a interpretação
que está sendo dada pelos juízes e Tribunais a respeito de determinado
dispositivo constitucional está incorreta e, com isso, viola preceito
fundamental. STF. Plenário. ADPF 216/DF, Rel. Min. Cámen Lúcia, j.
14/3/2018 (Info 894).
 
Vale ressaltar que, em outra oportunidade, o STF já havia decidido que:
Cabe ADPF para discutir a adequada interpretação do § 11 do art. 62 da CF/88,
ou seja, se ela regularia apenas as relações no período de sua vigência ou
também situações nas relações prospectivas. STF. ADPF 84 AgR/DF, Rel. Min.
Sepúlveda Pertence, julgado em 31/5/2006.
 
Segunda pergunta: os pedidos feitos durante a vigência da MP 320/2006 devem ser examinados pela
Receita? NÃO. O § 11 do art. 62 da CF/88 deve ser interpretado com cautela, não se podendo
protrair indefinidamente a vigência de medidas provisórias rejeitadas ou não apreciadas.
O mencionado § 11 tem por objetivo garantir segurança jurídica àqueles que praticaram
atos embasados em medida provisória rejeitada ou não apreciada. Isso, contudo, não pode
fazer com que haja uma sobreposição da vontade do Presidente da República sobre a vontade
do Poder Legislativo. Se a interpretação do § 11 conduzir à ideia de que todos os efeitos da
MP rejeitada ou não apreciada irão prevalecer, o que acontecerá, na prática, é que a
vontade do Chefe do Executivo, manifestada na MP, irá prevalecer ao final mesmo tendo
havido rejeição do ato normativo.

No caso concreto, os pedidos formulados pelos interessados durante a vigência da MP


320/2006 não foram sequer examinados. Logo, não se pode dizer que havia ato jurídico
perfeito. Dessa forma, o simples fato de ter sido feito o requerimento não significa “relação
jurídica constituída”, de sorte que não se pode invocar o § 11 para justificar a aplicação da
medida provisória rejeitada.

Interpretação contrária postergaria indevidamente a eficácia de medida provisória já


rejeitada pelo Congresso Nacional, e ofenderia não apenas o § 11 do art. 62 da Constituição,
mas também o princípio da separação dos Poderes e o princípio da segurança jurídica.

5.3. O trancamento da pauta por conta de MPs não votadas no prazo de 45 dias só alcança
projetos de lei que versem sobre temas passíveis de serem tratados por MP – (Info 870) –
IMPORTANTE!!!

O art. 62, § 6º da CF/88 afirma que “se a medida provisória não for apreciada em até
quarenta e cinco dias contados de sua publicação, entrará em regime de urgência,
subsequentemente, em cada uma das Casas do Congresso Nacional, ficando sobrestadas,
até que se ultime a votação, todas as demais deliberações legislativas da Casa em que
estiver tramitando”.
Apesar de o dispositivo falar em “todas as demais deliberações”, o STF, ao interpretar
esse § 6º, não adotou uma exegese literal e afirmou que ficarão sobrestadas (paralisadas)
apenas as votações de projetos de leis ordinárias que versem sobre temas que possam ser
tratados por medida provisória.
Assim, por exemplo, mesmo havendo medida provisória trancando a pauta pelo fato de
não ter sido apreciada no prazo de 45 dias (art. 62, § 6º), ainda assim a Câmara ou o Senado
poderão votar normalmente propostas de emenda constitucional, projetos de lei
complementar, projetos de resolução, projetos de decreto legislativo e até mesmo projetos
de lei ordinária que tratem sobre um dos assuntos do art. 62, § 1º, da CF/88. Isso porque a
MP somente pode tratar sobre assuntos próprios de lei ordinária e desde que não incida
em nenhuma das proibições do art. 62, § 1º.
STF. Plenário. MS 27931/DF, Rel. Min. Celso de Mello, j. 29/6/2017 (Info 870).
OBS:
Trancamento de pauta: O desejo do legislador constituinte é o de que a medida provisória
seja votada pelo Congresso Nacional, evitando que ela perca a eficácia por ausência de
apreciação. Assim, para “forçar” a análise da MP, o art. 62, § 6º da CF/88 determinou que “se
a medida provisória não for apreciada em até quarenta e cinco dias contados de sua
publicação, entrará em regime de urgência, subsequentemente, em cada uma das Casas do
Congresso Nacional, ficando sobrestadas, até que se ultime a votação, todas as demais
deliberações legislativas da Casa em que estiver tramitando”.
Em outras palavras, se já tiverem se passado 45 dias e até então a MP não tiver sido votada,
haverá o chamado “trancamento de pauta”, ou seja, não se poderá analisar outras matérias a
fim de que se dê prioridade para a MP que está pendente.

Sobrestamento atinge apenas projetos de lei ordinária que possam ser tratados por MP: Vale
ressaltar, no entanto, que, apesar de o dispositivo falar em “todas as demais deliberações”, o
STF, ao interpretar esse § 6º, não adotou uma exegese literal e afirmou que ficarão
sobrestadas (paralisadas) apenas as votações de projetos de leis ordinárias que versem
sobre temas que possam ser tratados por medida provisória. Assim, por exemplo, mesmo
havendo medida provisória trancando a pauta pelo fato de não ter sido apreciada no prazo
de 45 dias (art. 62, § 6º), ainda assim a Câmara ou o Senado poderão votar normalmente
propostas de emenda constitucional, projetos de lei complementar, projetos de resolução,
projetos de decreto legislativo e até mesmo projetos de lei ordinária que tratem sobre um dos
assuntos do art. 62, § 1º, da CF/88. Isso porque a MP somente pode tratar sobre assuntos
próprios de lei ordinária e desde que não incida em nenhuma das proibições do art. 62, § 1º.

Compare:
Redação literal do art. 62, § 6º CF/88 Como deve ser interpretado o dispositivo
Se a medida provisória não for apreciada Se a medida provisória não for apreciada
em até quarenta e cinco dias contados de em até quarenta e cinco dias contados de
sua publicação, entrará em regime de sua publicação, entrará em regime de
urgência, subseqüentemente, em cada uma urgência, subseqüentemente, em cada uma
das Casas do Congresso Nacional, ficando das Casas do Congresso Nacional, ficando
sobrestadas, até que se ultime a votação, sobrestadas, até que se ultime a votação,
todas as demais deliberações legislativas da todas as demais deliberações legislativas
Casa em que estiver tramitando. ordinárias, que possam ser tratadas por
medida provisória.

Obs: Se, em uma prova objetiva for cobrada a redação literal do art. 62, § 6º da CF/88, sem
qualquer menção ao entendimento do STF, esta alternativa deve ser assinalada como correta.
Por outro lado, a resposta será outra se o enunciado falar algo como “de acordo com o STF”
ou “de acordo com a jurisprudência”.

Curiosidade: Vale ressaltar que essa interpretação restritiva e não literal do art. 62. § 6º da
CF/88 foi criada por Michel Temer. Em 2009, Temer era Presidente da Câmara dos
Deputados e passou a adotar esse entendimento naquela Casa afirmando que só ficariam
sobrestadas as demais deliberações legislativas que envolvessem projetos de lei ordinária que
pudessem ser tratadas por medida provisória. Alguns Deputados impetraram, então,
mandado de segurança no STF contra essa decisão do então Presidente da Câmara. O STF
agora julgou o MS concordando com a interpretação realizada.

5.4. Emenda parlamentar em medida provisória e contrabando legislativo – (Info 857) –


IMPORTANTE!!!

O art. 62 da CF/88 prevê que o Presidente da República somente poderá editar medidas
provisórias em caso de relevância e urgência.
A definição do que seja relevante e urgente para fins de edição de medidas provisórias
consiste, em regra, em um juízo político (escolha política/discricionária) de competência
do Presidente da República, controlado pelo Congresso Nacional.
Desse modo, salvo em caso de notório abuso, o Poder Judiciário não deve se imiscuir na
análise dos requisitos da MP.
No caso de MP que trate sobre situação tipicamente financeira e tributária, deve
prevalecer, em regra, o juízo do administrador público, não devendo o STF declarar a
norma inconstitucional por afronta ao art. 62 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 1055/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 15/12/2016 (Info 851).

5.5. Análise dos requisitos constitucionais de relevância e urgência e MP que trate sobre
situação tipicamente financeira e tributária – (Info 851)

Durante a tramitação de uma medida provisória no Congresso Nacional, os parlamentares


poderão apresentar emendas?
SIM, no entanto, tais emendas deverão ter relação de pertinência temática com a medida
provisória que está sendo apreciada. Assim, a emenda apresentada deverá ter relação com
o assunto tratado na medida provisória.
Desse modo, é incompatível com a Constituição a apresentação de emendas sem relação
de pertinência temática com medida provisória submetida à sua apreciação.
A inserção, por meio de emenda parlamentar, de assunto diferente do que é tratado na
medida provisória que tramita no Congresso Nacional é chamada de "contrabando
legislativo", sendo uma prática vedada.
Vale ressaltar, no entanto, que a primeira vez que o STF declarou inconstitucional o
contrabando legislativo foi no julgamento da ADI 5127/DF, em 15/10/2015 (Info 803).
Como antes desse julgamento, a prática do contrabando legislativo era algo muito comum,
o STF decidiu, por razões de segurança jurídica, modular os efeitos da decisão e afirmou o
seguinte: todas as leis que foram aprovadas até 15/10/2015 serão mantidas como válidas
(hígidas) mesmo que tenham sido fruto de contrabando legislativo. Os dispositivos legais
aprovados após 15/10/2015 e que tenham sido resultado de contrabando legislativo
deverão ser julgados inconstitucionais.
Seguindo este raciocínio, o STF reconheceu que os arts. 113 a 126 da Lei nº 12.249/2010
foram fruto de contrabando legislativo (porque inseridos durante a tramitação de uma MP
que tratava sobre assunto diverso), no entanto, declarou que eles deverão ser mantidos
como válidos porque aprovados antes de 15/10/2015.
STF. Plenário. ADI 5012/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 16/3/17 (Info 857).

5.6. Emenda parlamentar em medida provisória e contrabando legislativo – (Info 803) –


IMPORTANTE!!!

Durante a tramitação de uma medida provisória no Congresso Nacional, os parlamentares


poderão apresentar emendas?
SIM, no entanto, tais emendas deverão ter relação de pertinência temática com a medida
provisória que está sendo apreciada. Assim, a emenda apresentada deverá ter relação com
o assunto tratado na medida provisória.
Desse modo, é incompatível com a Constituição a apresentação de emendas sem relação de
pertinência temática com medida provisória submetida à sua apreciação. A inserção, por
meio de emenda parlamentar, de assunto diferente do que é tratado na medida provisória
que tramita no Congresso Nacional é chamada de "contrabando legislativo", sendo uma
prática vedada.
O STF declarou que o contrabando legislativo é proibido pela CF/88, como vimos acima.
No entanto, a Corte afirmou que esse entendimento só deverá valer para as próximas
medidas provisórias que forem convertidas em lei. Assim, ficou decidido que o STF irá
comunicar ao Poder Legislativo esse seu novo posicionamento e as emendas que forem
aprovadas a partir de então e que não tiverem relação com o assunto da MP serão
declaradas inconstitucionais.
É como se o STF tivesse dado uma chance ao Congresso Nacional e, ao mesmo tempo, um
alerta: o que já foi aprovado não será declarado inconstitucional, porém não faça mais isso.
STF. Plenário. ADI 5127/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Edson
Fachin, julgado em 15/10/2015 (Info 803).

6. PEC DA BENGALA
6.1. ADI proposta contra a EC 88/2015 – (Info 786) – IMPORTANTE!!!

No dia 08/05/2015, foi publicada a EC 88/2015, que ficou jocosamente conhecida como
“PEC da Bengala” em virtude de aumentar o limite de idade da aposentadoria
compulsória dos Ministros de Tribunais Superiores.
Foi proposta uma ADI contra essa EC, tendo o STF julgado a medida liminar. Veja o que
foi decidido:
O art. 100 do ADCT afirma que os Ministros do STF, dos Tribunais Superiores e do TCU
irão se aposentar compulsoriamente, aos 75 (setenta e cinco) anos de idade, “nas condições
do art. 52 da Constituição Federal”. O que quer dizer essa parte final?
O objetivo dessa parte final do dispositivo foi o de exigir que o Ministro que complete 70
anos somente possa continuar no cargo se for submetido a nova arguição pública
(“sabatina”) e votação no Senado Federal. Em outras palavras, o Ministro, quando
completasse 70 anos, poderia continuar no cargo até os 75 anos, mas, para isso, seu nome
precisaria ser novamente aprovado pelo Senado.

Essa exigência é compatível com a CF/88?


NÃO. Essa exigência é INCONSTITUCIONAL. O STF suspendeu a aplicação da
expressão “nas condições do artigo 52 da Constituição Federal”, contida no final do art.
100 do ADCT.
Essa exigência de nova sabatina acaba “por vulnerar as condições materiais necessárias ao
exercício imparcial e independente da função jurisdicional, ultrajando a separação de
Poderes, cláusula pétrea inscrita no artigo 60, parágrafo 4º, inciso III, da Constituição
Federal”. Em simples palavras, o STF entendeu que há violação ao princípio da separação
dos Poderes.
Desse modo, os Ministros do STF, dos Tribunais Superiores (STJ, TST, TSE, STM) e do
TCU possuem o direito de se aposentar compulsoriamente somente aos 75 anos e, para
isso, não precisam passar por uma nova sabatina e aprovação do Senado Federal.

O STF entendeu que seria possível estender essa regra da aposentadoria compulsória aos
75 anos para juízes e Desembargadores mesmo sem a edição de lei complementar?
NÃO. O STF afirmou que o art. 100 do ADCT da CF/88 não poderia ser estendido a outros
agentes públicos até que fosse editada a Lei Complementar Nacional a que se refere o art.
40, § 1º, inciso II, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786).

7. AMICUS CURIAE
7.1. AMICUS CURIAE: A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do
amicus curiae é irrecorrível – (Info 920) – IMPORTANTE!!!

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.


Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do
amicus curiae é irrecorrível.
STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux,
j. 17/10/2018 (repercussão geral) (Info 920).

7.2. Havendo três amici curiae para fazer sustentação oral no STF, o prazo deverá ser
considerado em dobro, dividido entre eles – (Info 863)

Nos processos que tramitam no STF, o amicus curiae pode fazer sustentação oral.
Em regra, o amicus curiae dispõe de 15 minutos para a sustentação oral no STF.
Se houver mais de um amicus curiae, o prazo para sustentação oral no STF será o mesmo?
NÃO. Havendo mais de um amicus curiae, o STF adota a seguinte sistemática: o prazo é
duplicado e dividido entre eles. Assim, em vez de 15, os amici curiae (plural de amicus
curiae) terão 30 minutos, que deverão ser divididos entre eles.
Dessa forma, se são três amici curiae para fazer sustentação oral, o prazo deverá ser
considerado em dobro, ou seja, 30 minutos, devendo ser dividido pelo número de
sustentações orais. Logo, cada um deles terá 10 minutos para manifestação na tribuna.
STF. Plenário. RE 612043/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 4/5/2017 (Info 863).
OBS:
Conceito e finalidade: Amicus curiae é alguém que, mesmo sem ser parte, em razão de sua
representatividade, é chamado ou se oferece para intervir em processo relevante com o
objetivo de apresentar ao Tribunal a sua opinião sobre o debate que está sendo travado nos
autos, fazendo com que a discussão seja amplificada e o órgão julgador possa ter mais
elementos para decidir de forma legítima.

Nomenclatura: Amicus curiae, em uma tradução literal do latim, significa “amigo da corte”
ou “amigo do tribunal”. Obs.: amici curiae é o plural de amicus curiae.

Origem: Alguns autores afirmam que esta figura surgiu no direito processual penal inglês,
enquanto outros identificam uma origem mais remota, lembrando que havia figura
assemelhada no direito romano (Marcelo Novelino).

Natureza jurídica: A maioria da doutrina defende que o amicus curiae seria uma forma de
intervenção anômala de terceiros. Para o Min. Luiz Fux, no entanto, o amigo da Corte não é
parte nem terceiro, mas apenas agente colaborador.

Previsão legal: O CPC 2015 passou a disciplinar expressamente a figura do amicus curiae,
nos seguintes termos:
Art. 138. O juiz ou o relator, considerando a relevância da matéria, a
especificidade do tema objeto da demanda ou a repercussão social da
controvérsia, poderá, por decisão irrecorrível, de ofício ou a requerimento das
partes ou de quem pretenda manifestar-se, solicitar ou admitir a participação de
pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada, com
representatividade adequada, no prazo de 15 (quinze) dias de sua intimação.
§ 1º A intervenção de que trata o caput não implica alteração de competência
nem autoriza a interposição de recursos, ressalvadas a oposição de embargos de
declaração e a hipótese do § 3º.
§ 2º Caberá ao juiz ou ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a
intervenção, definir os poderes do amicus curiae.
§ 3º O amicus curiae pode recorrer da decisão que julgar o incidente de
resolução de demandas repetitivas.

Quem pode ser amicus curiae? Pessoa natural ou jurídica, órgão ou entidade especializada,
com representatividade adequada.

Poderes do amicus curiae: Havia uma intensa discussão a respeito de quais seriam os poderes
do amicus curiae. O novo CPC, a fim de dirimir essa polêmica, afirma que caberá ao juiz ou
ao relator, na decisão que solicitar ou admitir a intervenção, definir os poderes do amicus
curiae (art. 138, § 2º do CP 2015).

Nos processos que tramitam no STF o amicus curiae pode fazer sustentação oral? SIM.

Qual é o prazo de que dispõe o amicus curiae para a sustentação oral no STF? Em regra, 15
minutos (art. 132 do RISTF).

Se houver mais de um amicus curiae, o prazo para sustentação oral no STF será o mesmo?
NÃO. Havendo mais de um amicus curiae, o STF adota a seguinte sistemática: o prazo é
duplicado e dividido entre eles. Assim, em vez de 15, os amici curiae (plural de amicus
curiae) terão 30 minutos, que deverão ser divididos entre eles.

7.3. Cabimento de amicus curiae em reclamação – (Info 857)

É cabível a intervenção de amicus curiae em reclamação.


STF. Plenário. Rcl 11949/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 15/3/2017 (Info 857).
OBS:
Em regra, admite-se a intervenção do amicus curiae em qualquer tipo de processo, desde que:
a) a causa tenha relevância; e
b) a pessoa tenha capacidade de oferecer contribuição ao processo.

A intervenção do amicus curiae pode ocorrer não apenas em processos que tramitem em
Tribunais, mas também em feitos que estejam em 1ª instância.

Dessa forma, é cabível a participação de amicus curiae em processo de reclamação.

7.4. Impossibilidade de intervenção de partido político como amicus curiae em processo


criminal de seu filiado – (Info 834)

Determinado Deputado Federal estava respondendo a ação penal no STF pela suposta
prática do crime de peculato.
O partido político que ele integra requereu a sua intervenção no feito como amicus curiae.
O STF indeferiu o pedido afirmando que a agremiação partidária, autoqualificando-se
como amicus curiae, pretendia, na verdade, ingressar numa posição que a relação
processual penal não admite, considerados os estritos termos do CPP.
STF. 1ª T. AP 504/DF, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, j.
9/8/16 (Info 834).

7.5. Recurso contra decisão que nega intervenção de amicus curiae – (Info 772)

O amicus pode recorrer contra a decisão proferida?


NÃO. Em regra, o amicus curiae não pode recorrer porque não é parte. Não pode nem
mesmo opor embargos de declaração.
Exceção: o amicus curiae pode recorrer, interpondo agravo regimental, contra a decisão do
Relator que inadmitir sua participação no processo.
Obs.: a decisão (“despacho”) que admite a participação do amicus curiae no processo é
irrecorrível.
STF. Plenário. ADI 5022 AgR/RO, Rel. Min. Celso de Mello, j. 18/12/14 (Info 772).
7.6. Não cabimento de amicus curiae em mandado de segurança – (Info 755) – (TJPR-2017)

Não é cabível a intervenção de amicus curiae em mandado de segurança.


STF. 1ª Turma. MS 29192/DF, rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/8/2014 (Info 755).

7.7. Amicus curiae e momento limite para a sua intervenção – (Info 747)

O amicus curiae não poderá intervir se o processo já foi liberado pelo Relator para que
seja incluído na pauta de julgamentos.
STF. Plenário. ADI 5104 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 21/5/14 (Info 747).
OBS:
Em princípio, a manifestação dos amici curiae devem ocorrer antes da inclusão
do processo em pauta para julgamento. No entanto, o STF admite algumas
exceções se ficar demonstrado que: a) existe grande relevância no caso; b) ou
que a manifestação do requerente poderá trazer notória contribuição para o
julgamento da causa. Em tais situações é possível admitir o ingresso do amicus
curiae mesmo após a inclusão do processo em pauta. STF. Decisão monocrática.
RE 647827, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 27/10/2016.

Mesmo sendo uma decisão monocrática, vale a pena conhecer esta posição.

8. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE
8.1. ADI: Mesmo que uma lei seja fruto de acordo homologado judicialmente, ela poderá
ser objeto de ADI, não havendo violação da coisa julgada material – (Info 955)

Foi proposta ADI contra lei municipal. O TJ não conheceu da ação sob o argumento de
que a lei impugnada seria fruto de um acordo homologado judicialmente. Logo, não seria
possível rediscutir a matéria por meio de ação direta de inconstitucionalidade,
considerando que haveria violação à coisa julgada material. O STF concordou com essa
conclusão?
NÃO. O fato de a lei ter sido aplicada em casos concretos, com decisões transitadas em
julgado, em nada interfere na possibilidade dessa mesma norma ser analisada,
abstratamente, em sede de ação direta de inconstitucionalidade.
Acordos homologados judicialmente jamais podem afastar o controle concentrado de
constitucionalidade das leis.
Desse modo, não pode prevalecer a afirmação do TJ no sentido de que a norma tida por
viciada não pode ser objeto de ADI, pois se discute aqui a constitucionalidade da lei
impugnada, e não o trânsito em julgado dos acordos homologados judicialmente.
STF. 1ª T. RE 1186465 AgR/TO, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 8/10/19 (Info 955).

8.2. ADI: Uma lei que tenha destinatários determináveis continua possuindo caráter
abstrato e geral e pode ser impugnada por meio de ADI – (Info 955)

O fato de uma lei possuir destinatários determináveis não retira seu caráter abstrato e
geral, tampouco a transforma em norma de efeitos concretos.
STF. 1ª T. RE 1186465 AgR/TO, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 8/10/19 (Info 955).

8.3. ADI: É cabível ADI contra decreto autônomo que extingue colegiados da
Administração Pública – (Info 944) – IMPORTANTE!!!

É cabível ADI contra decreto presidencial que, com fundamento no art. 84, VI, “a”, da
CF/88, extingue colegiados da Administração Pública federal. Isso porque se trata de
decreto autônomo, que retira fundamento de validade diretamente da Constituição
Federal e, portanto, é dotado de generalidade e abstração.
STF. Plenário. ADI 6121 MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 12 e 13/6/2019 (Info 944).

8.4. ADPF: Possibilidade de conhecimento da ADPF mesmo que a lei atacada tenha sido
revogada antes do julgamento, se persistir a utilidade em se proferir decisão com caráter erga
omnes e vinculante – (Info 939)
Em Fortaleza, foi editada a Lei municipal 10.553/16 proibindo o serviço de transporte em
aplicativos. Foi ajuizada ADPF contra a lei. Antes que a ação fosse julgada, a referida Lei
foi revogada.
Mesmo com a revogação, o STF conheceu da ADPF e julgou o mérito, declarando a Lei
10.553/16 inconstitucional.
O Tribunal considerou que a revogação da Lei atacada na ADPF por outra lei local não
retira o interesse de agir no feito. Isso porque persiste a utilidade da prestação
jurisdicional com o intuito de estabelecer, com caráter erga omnes e vinculante, o regime
aplicável às relações jurídicas estabelecidas durante a vigência da norma impugnada, bem
como no que diz respeito a leis de idêntico teor aprovadas em outros Municípios.
Trata-se da solução mais consentânea com o princípio da eficiência processual e o
imperativo aproveitamento dos atos já praticados de maneira socialmente proveitosa.
STF. Plenário. ADPF 449/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 8 e 9/5/19 (Info 939).

8.5. OBJETO DA ADI: Se for editada MP revogando lei que está sendo questionada por
meio de ADI, esta ação poderá ser julgada enquanto a MP não for votada (enquanto a MP
não for votada, não há perda do objeto) – (Info 935) – IMPORTANTE!!!

Determinada lei foi impugnada por meio de ação direta de inconstitucionalidade.


Foi editada medida provisória revogando essa lei.
Enquanto esta medida provisória não for aprovada, será possível julgar esta ADI.
Assim, se chegar o dia de julgamento da ADI, e a MP ainda não tiver sido votada, o STF
poderá apreciar livremente a ação, não tendo havido perda do interesse de agir (perda do
objeto). Isso, porque a edição de medida provisória não tem eficácia normativa imediata
de revogação da legislação anterior com ela incompatível, mas apenas de suspensão,
paralisação, das leis antecedentes até o término do prazo do processo legislativo de sua
conversão.
Embora seja espécie normativa com força de lei, a medida provisória precisa ser
confirmada.
A medida provisória é lei sob condição resolutiva. Se for aprovada, a lei de conversão
resultará na revogação da norma.
Dessa maneira, enquanto não aprovada a MP, não se pode falar em perda de interesse
(perda do objeto).
STF. Plenário. ADI 5717/DF, ADI 5709/DF, ADI 5716/DF e ADI 5727/DF, Rel. Min. Rosa
Weber, j. 27/3/19 (Info 935).

8.6. Não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a


norma que concede prazo em dobro à Fazenda Pública – (Info 929) – IMPORTANTE!!!

Não se conta em dobro o prazo recursal para a Fazenda Pública em processo objetivo,
mesmo que seja para interposição de recurso extraordinário em processo de fiscalização
normativa abstrata.
Não há, nos processos de fiscalização normativa abstrata, a prerrogativa processual dos
prazos em dobro.
Não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a norma
que concede prazo em dobro à Fazenda Pública.
Assim, por exemplo, a Fazenda Pública não possui prazo recursal em dobro no processo
de controle concentrado de constitucionalidade, mesmo que seja para a interposição de
recurso extraordinário.
STF. Plenário. ADI 5814 MC-AgR-AgR/RR, Rel. Min. Roberto Barroso; ARE 830727
AgR/SC, Rel. para acórdão Min. Cármen Lúcia, j. 06/02/2019 (Info 929).
OBS:
Prerrogativa de prazo em dobro: A Fazenda Pública possui prazo em dobro para recorrer.
Isso está previsto no art. 183 do CPC/15:
Art. 183. A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas
respectivas autarquias e fundações de direito público gozarão de prazo em
dobro para todas as suas manifestações processuais, cuja contagem terá início a
partir da intimação pessoal.

A Fazenda Pública possui prazo em dobro nos processos objetivos de controle de


constitucionalidade (ex: dentro de um prazo de ADI, ADC, ADPF)? NÃO. Não há, nos
processos de fiscalização normativa abstrata, a prerrogativa processual dos prazos em
dobro. Não se aplica ao processo objetivo de controle abstrato de constitucionalidade a
norma que concede prazo em dobro à Fazenda Pública. O STF entende que a previsão do
prazo em dobro trazida atualmente pelo art. 183 do CPC/2015 tem incidência unicamente
nos processos subjetivos, ou seja, que discutem situações concretas e individuais, não se
aplicando nos processos de controle concentrado de constitucionalidade. O processo de
fiscalização abstrata de constitucionalidade configura típico processo de caráter objetivo,
destinado a viabilizar o julgamento, não de uma relação jurídica concreta, mas de validade de
lei em tese.

Alguns dos argumentos invocados pelos Ministros:


• Min. Alexandre de Moraes: salientou que o tratamento diferenciado (prazo em dobro) está
relacionado com a defesa dos interesses subjetivos da Fazenda Pública e, portanto, não se
aplica ao processo objetivo. Assim, a natureza objetiva do processo afasta a prerrogativa da
Fazenda Pública.
• Min. Edson Fachin: enfatizou que o tratamento isonômico na matéria (todos terem prazo
simples nos processos objetivos), além de ser consentâneo com a orientação jurisprudencial
adotada pelo STF há muito tempo, decorre do princípio republicano.
• Min. Luiz Fux: assinalou que a Fazenda Pública, no caso do recurso extraordinário, é
representante da unidade federativa onde há a declaração de inconstitucionalidade da lei por
ela editada; logo, tem contato direto com a questão, e não se justifica o prazo em dobro.
• Min. Gilmar Mendes: afirmou que o próprio CPC, no § 2º do art. 188, faz menção à
inaplicabilidade desses prazos aos procedimentos especiais:
Art. 188 (...)
§ 2º Não se aplica o benefício da contagem em dobro quando a lei estabelecer,
de forma expressa, prazo próprio para o ente público.

• Min. Celso de Mello: defendeu que o processo de fiscalização normativa abstrata possui,
normalmente, uma autonomia em relação aos institutos peculiares aos processos de índole
meramente subjetiva. Em outras palavras, existem várias regras aplicáveis aos processos
subjetivos que não incidem em caso de processos objetivos. Assim, o direito processual
constitucional* é autônomo, regido por princípios próprios, em que são afastados os
interesses meramente subjetivos.

* Direito Processual Constitucional é o conjunto de preceitos destinados a


regular o exercício da jurisdição constitucional, ou seja, a aplicação jurisdicional
das normas da Constituição (MARQUES, Frederico. Manual de Direito
Processual Civil. São Paulo: Saraiva, 1974). Assim, por exemplo, as regras
processuais que regem a ADI, ADC, ADPF fazem parte do direito processual
constitucional.

8.7. OBJETO DA ADI: Coexistência de ADI no TJ e ADI no STF, sendo a ADI estadual
julgada primeiro – (Info 926) – IMPORTANTE!!!

Coexistência de ADI no TJ e ADI no STF, sendo a ADI estadual julgada primeiro.


Coexistindo duas ações diretas de inconstitucionalidade, uma ajuizada perante o tribunal
de justiça local e outra perante o STF, o julgamento da primeira – estadual – somente
prejudica o da segunda – do STF – se preenchidas duas condições cumulativas:
1) se a decisão do Tribunal de Justiça for pela procedência da ação e
2) se a inconstitucionalidade for por incompatibilidade com preceito da Constituição do
Estado sem correspondência na Constituição Federal. Caso o parâmetro do controle de
constitucionalidade tenha correspondência na Constituição Federal, subsiste a jurisdição
do STF para o controle abstrato de constitucionalidade.

Viola a igualdade a exigência de que o cargo público seja ocupado por indivíduo com
curso de administração pública mantido por instituição pública credenciada no respectivo
Estado
É inconstitucional lei estadual que, ao criar o cargo de administrador público, exige que
ele seja ocupado por profissional graduado em Curso de Administração Pública mantido
por Instituição Pública de Ensino Superior, credenciada no respectivo Estado.
Essa previsão da lei estadual ofende o princípio constitucional da igualdade no acesso a
cargos públicos. Além disso, essa regra também viola o art. 19, III, da CF/88, que proíbe a
criação de distinções ilegítimas entre brasileiros.
STF. Plenário. ADI 3659/AM, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 13/12/18 (Info 927).
OBS:
A situação concreta foi a seguinte: O Estado do Amazonas editou a Lei 2.778/02, que criou,
no âmbito da Administração Pública estadual, o cargo de “administrador público”. Até aí,
Ok. O problema foi que a lei estadual previu como requisito para esse cargo “Graduação em
Curso de Administração Pública mantida por Instituição Pública de Ensino Superior,
credenciada no Estado do Amazonas”. Veja o texto da Lei:
Art. 1.º Fica instituída, no Quadro de Pessoal do Poder Executivo, a carreira de
Administrador Público, com os cargos de provimento efetivo e vencimentos
fixados no Anexo Único desta Lei. (...)
Art. 3.º O provimento dos cargos na classe inicial da carreira dar-se-á por
aprovação em concurso público de provas e títulos, e Graduação em Curso de
Administração Pública mantido por Instituição Pública de Ensino Superior,
credenciada no Estado do Amazonas.
§ 1.º A classificação final dos candidatos será feita pela média ponderada da
nota global do concurso, as provas e títulos com peso 1 e coeficiente final de
rendimento em Curso de Administração Pública, mantido por Instituição
Pública de Ensino Superior, credenciada no Estado do Amazonas, com peso 2.
(...)
 
Duas ações diretas de inconstitucionalidade: Foram propostas duas ações diretas de
inconstitucionalidade contra essa previsão:
• ADI ajuizada pelo PGJ do Amazonas, no Tribunal de Justiça, alegando que a lei violaria a
Constituição Estadual.
• ADI ajuizada pelo PGR, no STF, argumentando que a previsão ofenderia a CF/88.
 
Julgamento da ADI estadual: A 1ª ação julgada foi a ADI estadual. O TJ/AM julgou a ADI
procedente e declarou esta previsão inconstitucional por violar o princípio da igualdade
previsto no art. 3º da CE do Amazonas e reproduzido no art. 5º, caput, da CF. Vale ressaltar
que, como o acórdão do TJ/AM analisou um dispositivo que é reproduzido também na
CF/88, contra esta decisão caberia recurso extraordinário para o STF. Ocorre que, como não
foi manejado nenhum recurso, houve o trânsito em julgado.
 
Julgamento da ADI no STF: Chegou o dia de se julgar a ADI proposta no STF. Surgiu uma
dúvida: com a decisão do TJ/AM declarando a inconstitucionalidade da lei, houve a perda
do objeto da ADI proposta no STF? Como a Lei 2.778/02 já foi declarada inconstitucional,
pode-se dizer que ficou prejudicado o conhecimento da ADI no STF? NÃO. A ADI no STF
não ficou prejudicada. Vamos entender o motivo.
 
Coexistência de duas ADIs:
Coexistindo duas ações diretas de inconstitucionalidade, uma ajuizada perante
o tribunal de justiça local e outra perante o STF, o julgamento da primeira –
estadual – somente prejudica o da segunda – do STF – se preenchidas duas
condições cumulativas:
1) se a decisão do Tribunal de Justiça for pela procedência da ação e
2) se a inconstitucionalidade for por incompatibilidade com preceito da
Constituição do Estado sem correspondência na Constituição Federal. Caso o
parâmetro do controle de constitucionalidade tenha correspondência na
Constituição Federal, subsiste a jurisdição do STF para o controle abstrato de
constitucionalidade.
STF. Plenário. ADI 3659/AM, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 13/12/18 (Info
927).
 
No caso concreto, foi preenchido o requisito 1, mas não se verificou a condição 2.

O fundamento para o TJ/AM decidir que a lei é inconstitucional foi o princípio da


igualdade. Este princípio da igualdade está previsto na Constituição do Estado e possui
correspondência na Constituição Federal. Em outras palavras, essa previsão pode ser
encontrada tanto na Constituição Estadual como na Federal.

Se a decisão do TJ prejudicasse o conhecimento da ADI no STF, significaria dizer que o STF


ficou vinculado à interpretação que o TJ deu para o princípio da igualdade previsto na
CF/88. Ocorre que a última palavra sobre interpretação da CF/88 pertence ao STF. Logo,
seria inadmissível negar ao STF a possibilidade de examinar o tema.

Na verdade, o que o TJ/AM deveria ter feito era suspender a ADI lá proposta a fim de
aguardar o pronunciamento do STF. Nesse sentido:
(...) A ocorrência de coexistência de jurisdições constitucionais estadual e
nacional configura a hipótese de suspensão prejudicial do processo de
controle normativo abstrato instaurado perante o Tribunal de Justiça local. (...)
STF. Plenário. ADPF 190, Rel. Min. Edson Fachin, j. 29/9/16.
 
(...) Coexistência de jurisdições constitucionais estaduais e federal. Propositura
simultânea de ADI contra lei estadual perante o Supremo Tribunal Federal e o
Tribunal de Justiça. Suspensão do processo no âmbito da justiça estadual, até a
deliberação definitiva desta Corte. (...) STF. Plenário. Pet 2701 AgR, Rel. Min.
Marco Aurélio, Relator p/ Acórdão Min. Gilmar Mendes, j. 08/10/2003.
 
Como isso não ocorreu, não pode o STF ficar limitado ao que decidiu a Corte local. Caso
contrário, seria possível que um tribunal de justiça, por não suspender o trâmite de
representação de inconstitucionalidade, dessa interpretação à norma de repetição obrigatória
que valeria apenas para o respectivo estado-membro. Isso porque o STF poderia conferir
interpretação diversa à norma de repetição obrigatória para os demais entes da Federação.
Com esse entendimento, o STF rejeitou a alegação de prejudicialidade da ADI e julgou o
mérito da ação lá proposta.
 
E quanto ao mérito, o que decidiu o STF? Esta previsão da Lei estadual é realmente
inconstitucional, como decidiu o TJ/AM? SIM. O STF julgou procedente a ADI e também
considerou inconstitucional a expressão “Graduação em Curso de Administração Pública
mantido por Instituição Pública de Ensino Superior, credenciada no Estado do Amazonas”.
Realmente, essa previsão da lei estadual ofende o princípio constitucional da igualdade no
acesso a cargos públicos. Além disso, essa regra também viola o art. 19, III, da Constituição
Federal, que proíbe a criação de distinções ilegítimas entre brasileiros.

8.8. CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO: Não viola a SV 10 a decisão de Turma do


TRT que determina nomeação dos aprovados no concurso em razão de preterição e diz que
não se aplica, ao caso, o art. 25, § 1º, da Lei 8.987/95 – (Info 926)

Sociedade de economia mista realizou concurso público para advogado da empresa.


Mesmo havendo aprovados no certame, que ainda estava dentro do prazo de vigência, a
empresa decidiu contratar um escritório de advocacia para realizar os serviços jurídicos.
Diante disso, uma das Turmas do TRT reconheceu que houve preterição dos aprovados e
determinou a nomeação.
Ao assim decidir, a Turma do TRT disse que não se aplicava, ao caso, o art. 25, § 1º, da Lei
nº 8.987/95.
Essa decisão da Turma do TRT (órgão fracionário do Tribunal) não viola a SV 10. Isso
porque o enfoque do acórdão do TRT não era a terceirização dos serviços, mas sim a
preterição arbitrária praticada pela Administração Pública.
STF. 1ª T. Rcl 29307 AgR/PB, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Rosa Weber,
j. 4/12/18 (Info 926).
OBS:
Art. 25 (...)
§ 1º Sem prejuízo da responsabilidade a que se refere este artigo, a
concessionária poderá contratar com terceiros o desenvolvimento de atividades
inerentes, acessórias ou complementares ao serviço concedido, bem como a
implementação de projetos associados.

Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97)
a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare
expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte.

8.9. AMICUS CURIAE: A decisão do Relator que ADMITE ou INADMITE o ingresso do


amicus curiae é irrecorrível – (Info 920) – IMPORTANTE!!!

É irrecorrível a decisão denegatória de ingresso no feito como amicus curiae.


Assim, tanto a decisão do Relator que ADMITE como a que INADMITE o ingresso do
amicus curiae é irrecorrível.
STF. Plenário. RE 602584 AgR/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux,
j. 17/10/18 (repercussão geral) (Info 920).
OBS:
Argumentos:
 O art. 138 do CPC é explícito no sentido de conferir ao juiz competência
discricionária para admitir ou não a participação, no processo, de pessoa natural ou
jurídica, órgão ou entidade especializada, e de não admitir recurso contra essa
decisão.
 O art. 7º da Lei nº 9.868/99, de igual modo, é no mesmo sentido.
 O amicus curiae não é parte, mas agente colaborador. Portanto, sua intervenção é
concedida como privilégio, e não como uma questão de direito. O privilégio acaba
quando a sugestão é feita.
 Assim, o amigo da Corte, como mero agente colaborador, não possui direito
subjetivo de ser admitido pelo Tribunal.
 Haveria inúmeros prejuízos ao andamento dos trabalhos do STF se fosse admitida a
possibilidade de recurso, sobretudo em processos em que há um grande número de
requerimentos de participação como amicus curiae.

8.10. CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO: É nula decisão que deixa de aplicar o art.
94, II, da Lei 9.472/97 sem observar a cláusula de reserva de plenário - (Info 919)

É nula a decisão de órgão fracionário que se recusa a aplicar o art. 94, II, da Lei nº 9.472/97,
sem observar a cláusula de reserva de plenário (art. 97, da CF/88), observado o art. 949 do
CPC/2015.
STF. Plenário. ARE 791932/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 10 e 11/10/18
(repercussão geral) (Info 919).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A “Oi” é uma empresa concessionária de serviços de
telecomunicações. A “Oi” contratou outra empresa (Contax) para fazer o atendimento dos
consumidores que ligassem para o serviço de atendimento ao cliente da concessionária. Em
outras palavras, a “Oi” contratou uma empresa de call center para atender seus clientes. A
“Oi” invocou, como fundamento legal para a contratação o art. 94, II, da Lei nº 9.472/97 (Lei
das Telecomunicações):
Art. 94. No cumprimento de seus deveres, a concessionária poderá, observadas
as condições e limites estabelecidos pela Agência: (...)
II - contratar com terceiros o desenvolvimento de atividades inerentes,
acessórias ou complementares ao serviço, bem como a implementação de
projetos associados.

Ocorre que uma ex-funcionária da empresa de call center ajuizou reclamação trabalhista
contra a Contax e contra a “Oi”, alegando que, embora tenha sido formalmente contratada
pela empresa fornecedora de mão-de-obra, na realidade prestou serviços apenas no interesse
e sob a fiscalização da empresa de telefonia. Logo, pediu o reconhecimento de vínculo
trabalhista com a “Oi”. Após a 1ª e 2ª instâncias, uma das Turmas do TST julgou o caso e
entendeu que o contrato de trabalho celebrado entre a funcionária e a Contax foi ilícito e que
houve vínculo empregatício direto com a concessionária. Isso porque houve terceirização de
atividade-fim, o que não é admitido pela jurisprudência do TST (Enunciado 331).

Recurso extraordinário: A empresa interpôs recurso contra esta decisão ao STF alegando que
a turma do TST (órgão fracionário daquele Tribunal), ao afastar a aplicação do art. 94, II, da
Lei 9.472/97 (Lei das Telecomunicações) sem que isso tenha sido submetido ao Plenário,
violou a Súmula Vinculante 10:
Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97)
a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare
expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte.

Veja o que diz o art. 97 da CF/88, no qual está prevista a cláusula de reserva de plenário:
Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos
membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.

Foi correta a decisão da Justiça do Trabalho? NÃO. A decisão do órgão fracionário do TST
desrespeitou a cláusula de reserva do plenário (art. 97, CF/88). Ao entender ilícita a
terceirização da atividade-fim, com suporte na Súmula 331, o TST, na prática, afastou, em
parte, a vigência e a eficácia do inciso II do art. 94 da Lei 9.472/97, sem deliberar
expressamente sobre a sua inconstitucionalidade. Assim, o TST fez justamente aquilo que a
SV 10 busca coibir. Diante disso, o STF fixou a seguinte tese:
É nula a decisão de órgão fracionário que se recusa a aplicar o art. 94, II, da Lei
9.472/97, sem observar a cláusula de reserva de plenário (art. 97, CF/88),
observado o art. 949, CPC/15. STF. Plenário. ARE 791932/DF, Rel. Min.
Alexandre de Moraes, j. 10 e 11/10/18 (Info 919).

O STF declarou nula a decisão do TST por violação à cláusula de reserva de plenário. Em
outras palavras, o STF disse o seguinte: a turma do TST não poderia ter declarado a lei
inconstitucional. Isso teria que ter sido feito pelo Plenário. Diante disso, com a declaração
de nulidade da decisão, o STF, obrigatoriamente, terá que determinar o retorno dos autos ao
TST para que aquele Tribunal, por meio de seu Plenário, decida sobre a constitucionalidade
ou não da lei? O retorno dos autos é a medida a ser adotada? NÃO. O STF entendeu que a
devolução ao TST não seria uma medida lógica e somente atrasaria a resolução final do
processo. Isso porque o STF já tem posição consolidada sobre o assunto, tendo decidido que
o Enunciado 331 do TST é inconstitucional e que é lícita a terceirização de toda e qualquer
atividade, meio ou fim, de forma que não se configura relação de emprego entre a
contratante e o empregado da contratada. Assim, é possível que uma empresa de telefonia
terceirize os serviços de call center mesmo que consideremos isso como atividade-fim. O
art. 94, II, da Lei nº 9.472/97 é constitucional. O STF considera que é lícita a terceirização de
toda e qualquer atividade da empresa, seja ela atividade-meio ou fim:
É lícita a terceirização ou qualquer outra forma de divisão do trabalho entre
pessoas jurídicas distintas, independentemente do objeto social das empresas
envolvidas, mantida a responsabilidade subsidiária da empresa contratante. Os
itens I e III da Súmula 331 do TST são inconstitucionais. STF. Plenário. ADPF
324/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 29 e 30/8/18 (Info 913). STF. Plenário. RE
958252/MG, Rel. Min. Luiz Fux, j. 29 e 30/8/18 (repercussão geral) (Info 913).

Parágrafo único do art. 949 do CPC: O parágrafo único do art. 949 do CPC reforça a
desnecessidade do retorno do feito ao TST, pois o STF se pronunciou sobre a
constitucionalidade da contratação de terceiros para o desenvolvimento de atividades
inerentes ou atividade-fim, e o art. 94 autoriza a contratação da atividade-fim. Ademais, a
devolução não atende o direito fundamental da duração razoável do processo. Veja o que diz
o CPC:
Art. 949. Se a arguição for:
I - rejeitada, prosseguirá o julgamento;
II - acolhida, a questão será submetida ao plenário do tribunal ou ao seu órgão
especial, onde houver.
Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao
plenário ou ao órgão especial a arguição de inconstitucionalidade quando já
houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal
sobre a questão.

8.11. Possibilidade de decretação, de ofício, da modulação dos efeitos da decisão proferida


em ADI – (Info 918) – IMPORTANTE!!! – (TJCE-2018)

Caso o STF, ao julgar uma ADI, ADC ou ADPF, declare a lei ou ato normativo
inconstitucional, ele poderá, de ofício, fazer a modulação dos efeitos dessa decisão.
Ex: no julgamento de uma ADI, o STF decidiu que determinado artigo de lei é
inconstitucional. Um dos legitimados do art. 103 da CF/88 opôs embargos de declaração
pedindo a modulação dos efeitos. Ocorre que o STF considerou que esses embargos eram
intempestivos. O STF, mesmo não conhecendo dos embargos, poderá decretar a
modulação dos efeitos da decisão.
STF. Plenário. ADI 5617 ED/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 2/10/18 (Info 918).
OBS:
Modulação dos efeitos do julgado no caso de processos objetivos de constitucionalidade: No
julgamento de ADI, ADC ou ADPF, as Lei 9.868/99 e 9.882/99 preveem expressamente que o
STF poderá modular os efeitos da decisão que julga determinado ato contrário à CF/88. Em
outras palavras, a Lei permite que o STF determine que os efeitos da declaração de
inconstitucionalidade somente valham a partir da decisão proferida (ex nunc) ou ainda a
partir de determinada data futura (efeitos prospectivos). Veja o que diz a Lei nº 9.868/99:
Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em
vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o
Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros, restringir
os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu
trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.
 
Mesma regra pode ser encontrada no art. 11, da Lei nº 9.882/99.

Podemos assim sintetizar a modulação dos efeitos:


REGRA: se o STF declara uma lei ou ato normativo inconstitucional em ADI, ADC ou
ADPF,
essa decisão, em regra, produz efeitos EX TUNC (retroativos)
                                                                                               
Excepcionalmente, o STF pode, pelo voto de, no mínimo, 8 Ministros (2/3):
* restringir os efeitos da declaração; ou Desde que haja razões de:
* decidir que ela só tenha eficácia a partir de * segurança jurídica ou;
seu trânsito em julgado; ou * excepcional interesse social
* de outro momento que venha a ser
fixado.
 
Imagine agora a seguinte situação: No julgamento de uma ADI, o STF decidiu que o art. XX
da Lei YY é inconstitucional. Um dos legitimados do art. 103 da CF/88 apresentou embargos
de declaração pedindo a modulação dos efeitos. Ocorre que o STF considerou que esses
embargos eram intempestivos.
 
Indaga-se: mesmo assim será possível a modulação dos efeitos? SIM. É o que foi decidido no
julgado veiculado no Info 918 do STF.

Uma última informação adicional:


É possível a modulação dos efeitos da decisão proferida em sede de controle
incidental de constitucionalidade. Assim, não é apenas no controle abstrato que
se admite a modulação. STF. Plenário. RE 522897/RN, Rel. Min. Gilmar
Mendes, j. 16/3/17 (Info 857).

8.12. ABERT tem legitimidade para propor ADI – (Info 917)

A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) possui legitimidade


para propor ADI contra ato normativo que previa que a competência para autorizar o
pedido de trabalho de crianças e adolescentes em espetáculos artísticos seria da Justiça do
Trabalho.
A ABERT enquadra-se no conceito de entidade de classe de âmbito nacional (art. 103, IX,
da CF/88) e possui pertinência temática para questionar ato normativo que versa sobre
esse tema, considerando a participação de crianças e adolescentes nos programas de suas
associadas.
STF. Plenário. ADI 5326/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 27/9/2018 (Info 917).
8.13. Cabe ADI contra recomendação de Tribunal que fixa a competência da Justiça do
Trabalho para autorizar o trabalho de crianças e adolescentes em eventos de natureza
artística – (Info 917) – IMPORTANTE!!!

Cabe ADI contra recomendação conjunta de Tribunal de Justiça e de Tribunal Regional


do Trabalho recomendando aos juízes que considerem como sendo da Justiça do Trabalho
a competência para autorizar o trabalho de crianças e adolescentes em eventos de natureza
artística.
Esta recomendação deve ser considerada como ato de caráter primário, autônomo e
cogente, inovando no ordenamento jurídico, razão pela qual pode ser impugnada por
meio de ADI.
STF. Plenário. ADI 5326/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 27/9/2018 (Info 917).
OBS:
Imagine a seguinte situação: A Corregedoria do TJ/SP e as Corregedorias dos TRTs com
jurisdição em São Paulo (TRT02 e TRT15), em conjunto com o MP/SP e com os MPTs que
atuam em São Paulo (MPT02 / MPT15) editaram uma recomendação para seus membros
dizendo que a competência para autorizar a participação de crianças e adolescentes em
espetáculos artísticos seria da Justiça do Trabalho. Veja:
Recomendação Conjunta 1/2014 das Corregedorias dos Tribunais de Justiça e
do Trabalho, e dos Ministérios Públicos estadual e do Trabalho, todos do Estado
de São Paulo:
RECOMENDAR aos Juízes de Direito da Infância e da Juventude, aos Juízes do
Trabalho da Segunda e da Décima Quinta Região e aos Membros do Ministério
Público Estadual e do Ministério Público do Trabalho da Segunda e da Décima
Quinta Região, que tomem como diretriz, para efeito de competência:
I - As causas que tenham como fulcro os direitos fundamentais da criança e do
adolescente e sua proteção integral, nos termos da Lei 8.069, de 13 de julho de
1990, inserem-se no âmbito da competência dos Juízes de Direito da Infância e
da Juventude;
II - As causas que tenham como fulcro a autorização para trabalho de crianças e
adolescentes, inclusive artístico e desportivo, e outras questões conexas
derivadas dessas relações de trabalho, debatidas em ações individuais e
coletivas, inserem-se no âmbito da competência dos Juízes do Trabalho, nos
termos do art. 114, incisos I e IX, da Constituição da República.
 
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT) ajuizou ADI contra esse
ato normativo.
 
Indaga-se: essa ação foi conhecida? Cabe ADI neste caso? SIM. Por meio da dita
“Recomendação”, fixou-se a competência da Justiça do Trabalho para analisar os pedidos de
autorização para crianças e adolescentes participarem em eventos de natureza artística.
Apesar de ter sido nominado como “recomendação”, o que se observa é que se trata de um
verdadeiro ato de caráter geral e abstrato definindo competência para os juízes
trabalhistas. Como é um ato emanado pelas Corregedorias dos referidos Tribunais, é de se
supor que os juízes a eles vinculados se sentirão propensos a cumpri-las. Diante disso, o STF
entendeu que essa recomendação conjunta representava um ato normativo de caráter
cogente e vinculativo que alterou o entendimento até então prevalecente no sentido de que
a competência seria da Justiça Estadual. Assim, considerou-se que esse ato inovou no
ordenamento jurídico, fixando competência jurisdicional com suposto fundamento direto
nos incisos I e IX do art. 114 da CF/88. Esta recomendação conjunta fez, portanto, o papel
que seria próprio de lei ordinária. Logo, a ação direta foi conhecida porque se considerou que
tal recomendação possuía caráter primário e autônomo.

8.14. É constitucional a lei que extinguiu a contribuição sindical obrigatória – (Info 908) –
IMPORTANTE!!!

São compatíveis com a Constituição Federal os dispositivos da Lei nº 13.467/2017


(Reforma Trabalhista) que extinguiram a obrigatoriedade da contribuição sindical e
condicionaram o seu pagamento à prévia e expressa autorização dos filiados.
No âmbito formal, o STF entendeu que a Lei nº 13.467/2017 não contempla normas gerais
de direito tributário (art. 146, III, “a”, da CF/88). Assim, não era necessária a edição de lei
complementar para tratar sobre matéria relativa a contribuições.
Também não se aplica ao caso a exigência de lei específica prevista no art. 150, § 6º, da
CF/88, pois a norma impugnada não disciplinou nenhum dos benefícios fiscais nele
mencionados, quais sejam, subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de
crédito presumido, anistia ou remissão.
Sob o ângulo material, o STF afirmou que a Constituição assegura a livre associação
profissional ou sindical, de modo que ninguém é obrigado a filiar-se ou a manter-se
filiado a sindicato (art. 8º, V, da CF/88). O princípio constitucional da liberdade sindical
garante tanto ao trabalhador quanto ao empregador a liberdade de se associar a uma
organização sindical, passando a contribuir voluntariamente com essa representação.
Não há nenhum comando na Constituição Federal determinando que a contribuição
sindical é compulsória.
Não se pode admitir que o texto constitucional, de um lado, consagre a liberdade de
associação, sindicalização e expressão (art. 5º, IV e XVII, e art. 8º) e, de outro, imponha
uma contribuição compulsória a todos os integrantes das categorias econômicas e
profissionais.
STF. Plenário. ADI 5794/DF, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Luiz Fux, j. 29/6/18
(Info 908).
OBS:
Custeio das entidades sindicais: Com o objetivo de garantir o seu custeio, a CF/88 assegurou
às entidades sindicais duas contribuições diferentes. Veja:
Art. 8º (...)
IV — a assembleia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria
profissional, será descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da
representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista
em lei;
 
Desse modo, apesar de a redação do inciso ser um pouco truncada, é possível perceber que
ele fala em duas espécies de contribuição:
1) Contribuição fixada pela assembleia geral (destacada na primeira parte);
2) Contribuição prevista em lei (destacada na segunda parte).
 
Confira as diferenças que EXISTIAM entre elas:
Contribuição CONFEDERATIVA Contribuição SINDICAL
Prevista na 1ª parte do art. 8º, IV, Prevista na 2ª parte do art. 8º, IV,
da CF/88. da CF/88.
Também chamada de “contribuição Também chamada de “imposto
de assembleia”. sindical”, expressão incorreta
porque não é imposto.
NÃO é tributo. ERA considerada um TRIBUTO.
ERA uma contribuição parafiscal
(ou especial).
Fixada pela assembleia geral do Era instituída por meio de lei
sindicato (obrigação ex voluntate). (obrigação ex lege).
É VOLUNTÁRIA. ERA COMPULSÓRIA.
A contribuição confederativa é ERA paga por todos aqueles que
considerada como voluntária faziam parte de uma determinada
porque somente é paga pelas categoria econômica ou
pessoas que resolveram (optaram) profissional, ou de uma profissão
se filiar ao sindicato. liberal, em favor do sindicato
A contribuição confederativa de representativo da mesma
que trata o art. 8º, IV, da categoria ou profissão ou,
Constituição, só é exigível dos inexistindo este, à Federação
filiados ao sindicato respectivo (SV correspondente à mesma
40): categoria econômica ou
Súmula vinculante 40: A profissional.
contribuição confederativa de que Não havia jeito: se o indivíduo
trata o artigo 8º, IV, da Constituição fosse metalúrgico, p. ex., ele tinha
Federal, só é exigível dos filiados que pagar a contribuição sindical,
ao sindicato respectivo. mesmo que não fosse filiado ao
sindicato. ERA um tributo.
 
O que fez a Lei 13.467/17? A Lei 13.467/17, conhecida como “Reforma Trabalhista”, alterou
os dispositivos da CLT que tratavam sobre a contribuição sindical com o objetivo de fazer
com que ela deixasse de ser compulsória e passasse a ser FACULTATIVA. Vamos comparar
os principais dispositivos sobre o tema que foram alterados:
CLT
Antes da Lei 13.467/2017 Depois da Lei 13.467/2017
Art. 578. As contribuições devidas Art. 578. As contribuições devidas
aos Sindicatos pelos que aos sindicatos pelos participantes
participem das categorias das categorias econômicas ou
econômicas ou profissionais ou profissionais ou das profissões
das profissões liberais liberais representadas pelas
representadas pelas referidas referidas entidades serão, sob a
entidades serão, sob a denominação de contribuição
denominação do "imposto sindical, pagas, recolhidas e
sindical", pagas, recolhidas e aplicadas na forma estabelecida
aplicadas na forma estabelecida neste Capítulo, desde que prévia e
neste Capítulo. expressamente autorizadas.
Art. 579. A contribuição sindical é Art. 579. O desconto da
devida por todos aqueles que contribuição sindical está
participarem de uma determinada condicionado à autorização prévia
categoria econômica ou e expressa dos que participarem de
profissional, ou de uma profissão uma determinada categoria
liberal, em favor do sindicato econômica ou profissional, ou de
representativo da mesma categoria uma profissão liberal, em favor do
ou profissão ou, inexistindo este, sindicato representativo da mesma
na conformidade do disposto no categoria ou profissão ou,
art. 591. inexistindo este, na conformidade
do disposto no art. 591 desta
Consolidação.
Art. 582. Os empregadores são Art. 582. Os empregadores são
obrigados a descontar da folha de obrigados a descontar da folha de
pagamento de seus empregados, pagamento de seus empregados
relativa ao mês de março de cada relativa ao mês de março de cada
ano, o imposto sindical por estes ano a contribuição sindical dos
devido aos respectivos sindicatos. empregados que autorizaram
(...) prévia e expressamente o seu
recolhimento aos respectivos
sindicatos.
(...)
Art. 587. O recolhimento da Art. 587.  Os empregadores que
contribuição sindical dos optarem pelo recolhimento da
empregadores efetuar-se-á no mês contribuição sindical deverão
de janeiro de cada ano, ou, para os fazê-lo no mês de janeiro de cada
que venham a estabelecer-se após ano, ou, para os que venham a se
aquele mês, na ocasião em que estabelecer após o referido mês, na
requeiram às repartições o registro ocasião em que requererem às
ou a licença para o exercício da repartições o registro ou a licença
respectiva atividade. para o exercício da respectiva
atividade.
 
Veja, portanto, que o legislador alterou todos os dispositivos que dispunham sobre a
contribuição sindical como sendo algo obrigatório, passando a ser tratada como um
pagamento facultativo.
 
ADI: Algumas entidades sindicais ingressam com ADIs contra essas alterações. Nas ações, as
entidades alegaram, dentre outros argumentos, que:
 A contribuição sindical foi recepcionada pela Constituição de 1988 como sendo uma
contribuição parafiscal (art. 149 da CF/88), ou seja, um tributo;
 O art. 146, III, “a”, da CF/88 prevê que a instituição de tributos parafiscais e suas
definições, espécies, bases de cálculo, fatos geradores e contribuintes devem ser feitas
por meio de lei complementar. Ocorre que a Lei 13.467/17 é uma lei ordinária, de
modo que teria havido uma inconstitucionalidade formal;
 Além disso, o fim da obrigatoriedade da contribuição sindical foi promovida pela Lei
13.467/17 que tratou sobre vários outros assuntos. Para as entidades, isso não seria
possível porque o art. 150, § 6º, da CF/88 exige explicitamente que a matéria seja
regulada por meio de lei tributária específica:
Art. 150 (...)
§ 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de
crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou
contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual
ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o
correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, §
2.º, XII, g.
 
 A alteração legislativa teria violado direitos fundamentais previstos no art. 5º da
CF/88, especialmente quando ela fala em acesso à Justiça, em direito ao contraditório
e à ampla defesa e à assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem
insuficiência de recursos. Além disso, teria afrontado também os direitos à educação,
à saúde, à alimentação, ao trabalho, à moradia, ao transporte, ao lazer, à segurança.
Isso porque os sindicatos oferecem assistência judiciária integral e gratuita para os
trabalhadores carentes e esses serviços eram custeados com a contribuição sindical
obrigatória. Sem essa verba, os sindicatos não poderão mais oferecer essa assistência,
o que representa um enorme retrocesso social.
 
O que o STF decidiu? A ADI foi julgada procedente? O fim da obrigatoriedade da
contribuição sindical viola a Constituição Federal? NÃO. A ADI foi julgada improcedente e
o STF decidiu que:
São compatíveis com a Constituição Federal os dispositivos da Lei 13.467/17
(Reforma Trabalhista) que extinguiram a obrigatoriedade da contribuição
sindical e condicionaram o seu pagamento à prévia e expressa autorização dos
filiados. STF. Plenário. ADI 5794/DF, Rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min.
Luiz Fux, j. 29/6/18 (Info 908).
 
Dispor sobre o fim da obrigatoriedade sindical não significa tratar sobre normas gerais de
tributário: No âmbito formal, o STF entendeu que o assunto tratado pela Lei 13.467/17 (fim
da obrigatoriedade da contribuição sindical) não pode ser considerado como norma geral de
direito tributário. Logo, o fim da obrigatoriedade sindical não precisava ter sido veiculado
por meio de lei complementar por não se enquadrar na exigência do art. 146, III, “a”, da
CF/88, como argumentavam as entidades sindicais:
Art. 146. Cabe à lei complementar: (...)
III - estabelecer normas gerais em matéria de legislação tributária, especialmente
sobre:
a) definição de tributos e de suas espécies, bem como, em relação aos impostos
discriminados nesta Constituição, a dos respectivos fatos geradores, bases de
cálculo e contribuintes;
 
Acabar com a obrigatoriedade da contribuição sindical não exige lei específicas: O § 6º do
art. 150 da CF/88 exige lei específica para conceder subsídio, isenção, reduzir base de cálculo
e conceder outros “benefícios fiscais”. A Lei 13.467/17 não disciplinou nenhum desses
benefícios fiscais. Logo, não se exigia a edição de uma lei específica.
 
Livre associação profissional ou sindical: Sob o ângulo material, o STF lembrou que a
Constituição assegura a livre associação profissional ou sindical, de modo que ninguém é
obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato (art. 8º, V). O princípio constitucional
da liberdade sindical garante tanto ao trabalhador quanto ao empregador a liberdade de se
associar a uma organização sindical, passando a contribuir voluntariamente com essa
representação. Não se pode admitir que o texto constitucional, de um lado, consagre a
liberdade de associação, sindicalização e expressão e, de outro, imponha uma contribuição
compulsória a todos os integrantes das categorias econômicas e profissionais.
 
CF/88 não impõe que a contribuição sindical seja obrigatória: “A contribuição sindical não
foi constitucionalizada no texto magno”. O que o STF quis dizer com essa frase: não há
qualquer comando na Constituição dizendo que deverá ser instituída uma contribuição
sindical compulsória, com natureza de tributo, em favor dos sindicatos. O inciso IV do art.
8º da CF/88 prevê que a lei poderá instituir uma contribuição sindical, mas sem mencionar
que deva ser obrigatória.
 
Contribuição confederativa é a principal fonte de custeio dos sindicatos: Analisando o inciso
IV do art. 8º, o STF afirma que fica claro que a contribuição sindical, na forma da lei,  é uma
fonte de custeio (fonte de receita) subsidiária das entidades sindicais. A principal fonte de
custeio é a contribuição confederativa, instituída em assembleia geral.
 
Modelo de gestão sindical é uma decisão política: A discussão a respeito do modelo de
gestão sindical a ser adotado no Brasil é eminentemente política, cujo protagonista é o
Congresso Nacional. O STF deve ser autocontido, de forma a respeitar as escolhas políticas
do Legislativo.
 
Sistema sindical moderno: Ademais, a reforma trabalhista buscou a evolução de um sistema
sindical centralizador, arcaico e paternalista para um modelo mais moderno, baseado na
liberdade. O modelo de contribuição compulsória não estimulava a competitividade e a
representatividade, levando a um verdadeiro negócio privado, bom apenas para
sindicalistas. A sistemática anterior criou um associativismo com enorme distorção
representativa. No Brasil, são quase 17 mil sindicatos, enquanto em outros países apenas
algumas centenas. A contribuição compulsória vinha gerando oferta excessiva e artificial
de associações sindicais, o que configura perda social em detrimento dos trabalhadores. Esse
número estratosférico de sindicatos não se revertia em aumento do bem-estar de nenhuma
categoria. Nesse contexto, as entidades sindicais frequentemente se engajam em atividades
políticas, lançando e apoiando candidatos, conclamando protestos e mantendo estreitos laços
com partidos políticos. Ocorre que o discurso político é o núcleo por excelência da liberdade
de expressão. Ao exigir que indivíduos financiem atividades políticas com as quais não
concordam, por meio de contribuições compulsórias a sindicatos, o regime anterior
certamente vulnerava a garantia fundamental da liberdade de expressão, protegida pelo art.
5º, IV, da Constituição. Por sua vez, a nova sistemática leva a um novo pensar da sociedade
sobre como lidar com as categorias econômicas e trabalhistas e com as formas de atuação na
sociedade, sem depender necessariamente do Estado. Os sindicatos passarão a ser
sustentados por contribuições voluntárias, do mesmo modo que as demais associações.
 
Votos vencidos: Ficaram vencidos os Ministros Edson Fachin, Rosa Weber e Dias Toffoli,
para quem as alterações legislativas são inconstitucionais formal e materialmente.

8.15. Alteração do parâmetro constitucional não prejudica o conhecimento da ADI – (Info


907) – IMPORTANTE!!!

A alteração do parâmetro constitucional, quando o processo ainda está em curso, não


prejudica o conhecimento da ADI. Isso para evitar situações em que uma lei que nasceu
claramente inconstitucional volte a produzir, em tese, seus efeitos.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/6/2018 (Info 907).
OBS:
Parâmetro (ou norma de referência): Em controle de constitucionalidade, quando falamos em
“parâmetro”, queremos dizer quais serão as normas da Constituição que serão analisadas
para sabermos se a lei ou o ato normativo atacado realmente as violou. Em outras palavras,
parâmetro são as normas que servirão como referência para que o Tribunal analise se
determinada lei é ou não inconstitucional. Se a lei está em confronto com o parâmetro, ela é
inconstitucional.
 
Quando é proposta uma ADI no STF contra lei federal ou estadual, qual é o parâmetro que
será analisado pelo Tribunal? A Constituição Federal. Isso inclui: normas originárias,
emendas constitucionais, normas do ADCT e tratados internacionais de direitos humanos
aprovados por 3/5 dos membros de cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos de
votação. Assim, quando o autor propõe uma ADI no STF contra determinada lei, ele está
dizendo que esta lei viola a CF/88 (parâmetro).
                                                                                                                                      
O que acontece se, durante a tramitação de uma ADI, ocorre a alteração do parâmetro que
havia sido invocado? Ex: em 1998, determinado Estado aprovou uma lei prevendo que os
servidores aposentados deveriam pagar contribuição previdenciária; foi ajuizada uma ADI
contra esta lei alegando que ela violou o art. 40 da CF/88; em 2003, antes que a ação fosse
julgada, foi editada a EC 41 que alterou o art. 40 e passou a prever expressamente que os
servidores inativos poderiam pagar contribuição previdenciária. Em outras palavras, o
parâmetro invocado foi modificado. Diante disso, o julgamento da ADI ficará prejudicado?
NÃO. O conhecimento da ADI não fica prejudicado. Mesmo tendo havido a alteração do
parâmetro, o STF terá que examinar o mérito da ADI e verificar se a lei impugnada violava
ou não a redação do parâmetro antes da mudança efetuada. Em outras palavras, o STF terá
que examinar se aquilo que o autor afirmou na ação estava correto, ou seja, se aquela lei
violava a redação do parâmetro constitucional naquela época.
 
Por quê? Porque a mudança da Constituição Federal não tem o condão (a força) de
convalidar o vício da lei que era inconstitucional. Se a lei era inconstitucional na época em
que foi editada, a alteração superveniente não poderá corrigi-la. Isso significa que o direito
brasileiro não admite a figura da constitucionalidade superveniente. Nesse sentido:
(...) 1. Em nosso ordenamento jurídico, não se admite a figura da
constitucionalidade superveniente. Mais relevante do que a atualidade do
parâmetro de controle é a constatação de que a inconstitucionalidade persiste e
é atual, ainda que se refira a dispositivos da Constituição Federal que não se
encontram mais em vigor. Caso contrário, ficaria sensivelmente enfraquecida a
própria regra que proíbe a convalidação.
2. A jurisdição constitucional brasileira não deve deixar às instâncias ordinárias
a solução de problemas que podem, de maneira mais eficiente, eficaz e segura,
ser resolvidos em sede de controle concentrado de normas.
3. A Lei estadual nº 12.398/98, que criou a contribuição dos inativos no Estado
do Paraná, por ser inconstitucional ao tempo de sua edição, não poderia ser
convalidada pela Emenda Constitucional nº 41/03. E, se a norma não foi
convalidada, isso significa que a sua inconstitucionalidade persiste e é atual,
ainda que se refira a dispositivos da Constituição Federal que não se
encontram mais em vigor, alterados que foram pela Emenda Constitucional
nº 41/03. (...) STF. Plenário. ADI 2158, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 15/9/10.
 
Constitucionalidade superveniente seria, portanto, a possibilidade de uma lei ou ato
normativo inconstitucional ao tempo de sua edição se tornar constitucional a partir da
promulgação de novo texto constitucional. Como já dito, a constitucionalidade
superveniente não é aceita pelo STF. Isso porque a norma inconstitucional é nula desde o
seu nascedouro, não podendo ser convalidada com a alteração do parâmetro constitucional.
Adota-se o princípio da contemporaneidade para se analisar a constitucionalidade da
norma.

Questões de concurso:
(AGU CESPE 2012) Considere a seguinte situação hipotética. Foi ajuizada ADI no STF contra
lei estadual por contrariedade a dispositivo expresso na CF. Porém, antes do julgamento da
ação, o parâmetro de controle foi alterado, de modo a tornar a norma impugnada
consentânea com o dispositivo constitucional. Nessa situação hipotética, admite-se, de acordo
com recente jurisprudência do STF, a denominada constitucionalidade superveniente,
devendo, portanto, ser afastada a aplicação do princípio da contemporaneidade e julgada
improcedente a ação. (ERRADO)
 
(Promotor MPE GO 2016 banca própria) O sistema jurídico brasileiro não contempla a figura
da constitucionalidade superveniente, exceto se houver taxativa previsão constitucional.
(CERTO)
 
(Juiz TJ/MS 2012) Se uma lei fere o processo legislativo previsto na Constituição sob a qual
foi editada e, até o advento da nova Constituição, não fora objeto de controle de
constitucionalidade, ela não pode ser recebida pela nova Constituição, uma vez que o
Supremo Tribunal Federal já se manifestou contra a adoção da teoria da constitucionalidade
superveniente. (CERTO)
 
Esse entendimento foi reafirmado agora:
A alteração do parâmetro constitucional, quando o processo ainda está em
curso, não prejudica o conhecimento da ADI. Isso para evitar situações em
que uma lei que nasceu claramente inconstitucional volte a produzir, em tese,
seus efeitos. STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/6/18 (Info
907).
 
Vale ressaltar que nos casos de alteração do parâmetro o STF deverá realizar dois juízos:
1) um juízo de constitucionalidade com relação ao parâmetro original, ou seja, verificar se a
lei ou ato normativo impugnado era constitucional (compatível com o parâmetro
impugnado);
2) um juízo de recepção ou não com o novo parâmetro, isto é, analisar se a lei ou ato
normativo impugnado está de acordo com a redação atual da CF/88. Fala-se em recepção ou
não nesta segunda hipótese porque o texto constitucional que se estará comparando é
posterior à lei ou ato normativo impugnado.

Foi o que ensinou o Min. Gilmar Mendes na ADI 94/RO: “nesses casos, impõe-se a
verificação da constitucionalidade do dispositivo em relação aos dois parâmetros
constitucionais” (DJ de 16/12/11).

8.16. VOTO IMPRESSO: Inconstitucionalidade do voto híbrido previsto no art. 59-A da


Lei 9.504/97 – (Info 905) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional a lei que determina que, na votação eletrônica, o registro de cada voto
deverá ser impresso e depositado, de forma automática e sem contato manual do eleitor,
em local previamente lacrado (art. 59-A da Lei 9.504/97, incluído pela Lei 13.165/2015).
Essa previsão acaba permitindo a identificação de quem votou, ou seja, permite a quebra
do sigilo, e, consequentemente, a diminuição da liberdade do voto, violando o art. 14 e o §
4º do art. 60 da Constituição Federal.
Cabe ao legislador fazer a opção pelo voto impresso, eletrônico ou híbrido, visto que a
CF/88 nada dispõe a esse respeito, observadas, entretanto, as características do voto nela
previstas.
O modelo híbrido trazido pelo art. 59-A constitui efetivo retrocesso aos avanços
democráticos conquistados pelo Brasil para garantir eleições realmente livres, em que as
pessoas possam escolher os candidatos que preferirem.
STF. Plenário. ADI 5889/DF, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, julgado em 6/6/2018 (Info 905).
OBS: Veja comentários no arquivo Direito Eleitoral.

8.17. Procuração com poderes específicos para o ajuizamento de ADI – (Info 905) –
IMPORTANTE!!!

O advogado que assina a petição inicial da ação direta de inconstitucionalidade precisa de


procuração com poderes específicos. A procuração deve mencionar a lei ou ato normativo
que será impugnado na ação.
Repetindo: não basta que a procuração autorize o ajuizamento de ADI, devendo indicar,
de forma específica, o ato contra o qual se insurge.
Caso esse requisito não seja cumprido, a ADI não será conhecida.
Vale ressaltar, contudo, que essa exigência constitui vício sanável e que é possível a sua
regularização antes que seja reconhecida a carência da ação.
STF. Plenário. ADI 4409/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 6/6/18 (Info 905).
OBS:
Ex: uma entidade de classe de âmbito nacional contrata um escritório de advocacia para
ajuizar uma ADI; na procuração outorgada pelo presidente dessa entidade deverá constar
expressamente algo como: outorga poderes para ajuizar ação direta de inconstitucionalidade
no Supremo Tribunal Federal contra os artigos X, Y e Z, da Lei nº XXX/XXXX.

Veja outro precedente no mesmo sentido:


(...) A jurisprudência desta Corte é firme no sentido da necessidade de
subscrição da exordial por procurador devidamente amparado por poderes
especiais para o questionamento do ato normativo. Nesse sentido, o ato de
mandato deve conter descrição mínima do objeto digno de hostilização.
2. Admite-se a regularização processual do feito, contudo é próprio da
economia processual deixar de intimar o Requerente para fazê-lo, quando se
nota a carência da ação, que torna desnecessária a providência. (...)
STF. Plenário. ADPF 480 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, j. 13/04/2018.

8.18. Não cabe ADI contra decreto regulamentar de lei estadual – (Info 905)

A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) é meio processual inadequado para o


controle de decreto regulamentar de lei estadual.
Seria possível a propositura de ADI se fosse um decreto autônomo. Mas sendo um decreto
que apenas regulamenta a lei, não é hipótese de cabimento de ADI.
STF. Plenário. ADI 4409/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 6/6/18 (Info 905).
OBS:
Qual é o objeto da ADI? Quando se fala em objeto da ADI, o que se está querendo dizer é o
seguinte: a ADI é proposta contra o que, contra qual norma... Assim, o objeto da ADI
significa a norma que é impugnada por esta ação. O objeto da ADI está previsto no art. 102,
I, “a”, da CF/88:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente:
a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou
estadual (...)
 
Desse modo, a ADI pode ser proposta contra lei ou ato normativo federal ou estadual. Esse é
o objeto da ADI.
 
Objeto da ADI: Podem ser objeto de ADI:
- Lei ou ato normativo
- federal ou estadual
- editados posteriormente à promulgação da CF/88 e
- que ainda estejam em vigor (se a lei perde vigência depois de proposta a ADI, esta, em
regra, perde o objeto)
 
E se uma lei estadual ou municipal for contrária à Constituição estadual? Nesse caso, quem
julga a ADI é o Tribunal de Justiça local (art. 125, § 2º). No entanto, se a lei também
contraria a CF/88, cabe recurso extraordinário para o STF. A lei municipal também pode ser
objeto de ADPF julgada diretamente pelo STF.
 
Uma lei distrital (lei do DF) pode ser objeto de ADI? Depende. Como o Distrito Federal não
é dividido em Municípios, ele goza cumulativamente das competências legislativas
reservadas aos Estados e aos Municípios (art. 32, § 1º, da CF/88). Em outras palavras, o
Distrito Federal pode editar leis como se fosse um Estado-membro e também leis como se
fosse um Município. Assim, existem leis do DF que tratam de assuntos estaduais e outras de
assuntos locais (municipais). As leis que o DF editou no exercício de competência de
Estado-membro (leis de assuntos estaduais) podem ser objeto de ADI. As leis que o DF
editou no exercício de competência de Município (leis que ele editou como se fosse um
Município) NÃO podem ser objeto de ADI.
 
O que é lei ou ato normativo para fins de ADI?
 todas as espécies normativas do art. 59 da CF/88;
 qualquer outro ato que tenha conteúdo normativo (ex.: resolução ou deliberação
administrativa de Tribunal).
 
Um Decreto pode ser considerado ato normativo para os fins do art. 102, I, da CF/88? Um
decreto pode ser objeto de ADI? Depende.
 Decreto que apenas regulamenta uma lei: NÃO. Não cabe ADI contra decreto
meramente regulamentar de lei. Isso porque, neste caso, esse decreto terá natureza
de ato secundário. Nesse sentido:
(...) Vocacionada ao controle da constitucionalidade das leis e atos normativos, a
ação direta de inconstitucionalidade não constitui meio idôneo para impugnar a
validade de ato regulamentar e secundário em face de legislação
infraconstitucional. (...) STF. Plenário. ADI 4127 AgR, Rel. Min. Rosa Weber, j.
16/10/14.
 
 Decreto autônomo: SIM. Cabe ADI contra decreto autônomo. O decreto autônomo
possui “coeficiente mínimo de normatividade, generalidade e abstração”, ou seja,
ele retira seu fundamento de validade diretamente da Constituição Federal, não
regulamentando nenhuma lei. Ele possui caráter essencialmente abstrato e primário.

8.19. Cabimento de ADI contra Resolução do TSE – (Info 747 e 900) – (TJMS-2015)

É cabível ADI contra Resolução do TSE que tenha, em seu conteúdo material, “norma de
decisão” de caráter abstrato, geral e autônomo, apta a ser apreciada pelo STF em sede de
controle abstrato de constitucionalidade.
STF. Plenário. ADI 5122, Rel. Min. Edson Fachin, j. 3/5/2018 (Info 900).
OBS: Outro precedente no mesmo sentido:
A Resolução do TSE pode ser impugnada no STF por meio de ADI se, a pretexto
de regulamentar dispositivos legais, assumir caráter autônomo e inovador. STF.
Plenário. ADI 5104 MC/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 21/5/14 (Info 747).

8.20. Cabe ADI contra Resolução do CNMP – (Info 899)

A Resolução do CNMP consiste em ato normativo de caráter geral e abstrato, editado pelo
Conselho no exercício de sua competência constitucional, razão pela qual constitui ato
normativo primário, sujeito a controle de constitucionalidade, por ação direta, no
Supremo Tribunal Federal.
STF. Plenário. ADI 4263/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 25/4/18 (Info 899).

8.21. CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO: Decisão que deixa de aplicar o art. 25, §
1º, da Lei 8.987/95 – (Info 896) – TEMA POLÊMICO!!!

O art. 25, § 1º, da Lei 8.987/95 prevê o seguinte: “(...) a concessionária poderá contratar com
terceiros o desenvolvimento de atividades inerentes, acessórias ou complementares ao
serviço concedido, bem como a implementação de projetos associados.”
Se o órgão fracionário de um Tribunal (ex: uma das Turmas do TRT) julga ilegal a
terceirização contratada por uma concessionária do serviço público, afastando a aplicação
do art. 25, § 1º, da Lei 8.987/95, esta decisão viola a súmula vinculante 10?
• SIM. O art. 25, § 1º, da Lei 8.987/95 permite a terceirização da atividade-fim das empresas
concessionárias do serviço público. Logo, se um órgão fracionário do TRT afasta a
aplicação deste dispositivo, haverá afronta à súmula vinculante 10 por violação à cláusula
da reserva de plenário.
STF. 1ª Turma. Rcl 27068/MG, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Luís Roberto, j.
5/3/18 (Info 896).

• NÃO. O ato reclamado, ao considerar ilegal a contratação de empregado, por empresa


interposta, para prestar serviços essenciais à atividade fim da tomadora, nos termos da
Súmula 331, I, do TST, não declarou expressamente, nem implicitamente, a
inconstitucionalidade de qualquer norma especial de regência aplicável ao caso. É firme a
jurisprudência do STF no sentido de que não se exige reserva de plenário para a mera
interpretação e aplicação das normas jurídicas que emerge do próprio exercício da
jurisdição, sendo necessário, para caracterizar violação à cláusula de reserva de plenário,
que a decisão de órgão fracionário fundamente-se na incompatibilidade entre a norma
legal e o Texto Constitucional.
STF. 1ª Turma. Rcl 24284/SP, rel. Min. Edson Fachin, j. 22/11/16 (Info 848).
STF. 2ª Turma. Rcl 26408 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, j. 7/11/17.
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: A Encel – Engenharia de Construções Elétricas Ltda é
uma concessionária de energia elétrica. A Encel contratou outra empresa para exercer parte
de sua atividade-fim. Em outras palavras, houve terceirização da atividade-fim dessa
concessionária. A concessionária invocou, como fundamento legal, para a contratação, o art.
25, § 1º da Lei nº 8.987/95:
Art. 25 (...)
§ 1º Sem prejuízo da responsabilidade a que se refere este artigo, a
concessionária poderá contratar com terceiros o desenvolvimento de
atividades inerentes, acessórias ou complementares ao serviço concedido,
bem como a implementação de projetos associados.
 
Uma das Turmas do TRT da 3ª Região não concordou e afirmou que este § 1º do art. 25 não
autoriza a possibilidade de terceirização da atividade-fim das empresas concessionárias do
serviço público. Afirmou o TRT, citando julgados do TST:
“A Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que dispõe sobre o regime de concessão e
permissão de prestação de serviços públicos, ostenta natureza administrativa e, como tal,
ao tratar, em seu art. 25, da contratação com terceiros de atividades inerentes, acessórias
ou complementares ao serviço concedido, não autorizou a terceirização da atividade-fim
das empresas do setor elétrico. Isso porque, esse diploma administrativo não aborda
matéria trabalhista, nem seus princípios, conceitos e institutos, cujo plano de eficácia é
outro. A legislação trabalhista protege, substancialmente, um valor: o trabalho humano,
prestado em benefício de outrem, de forma não eventual, oneroso e sob subordinação
jurídica, apartes à já insuficiente conceituação individualista. E o protege sob o influxo
de outro princípio maior, o da dignidade da pessoa humana. Não se poderia, assim, dizer
que a norma administrativista, preocupada com princípios e valores do Direito
Administrativo, viesse derrogar o eixo fundamental da legislação trabalhista, que é o
conceito de empregado e empregador, jungido que está ao conceito de contrato de
trabalho, previsto na CLT.”
 
Reclamação: A concessionária não se conformou com a decisão do órgão fracionário do TRT
e ingressou com reclamação no STF alegando que a turma, ao afastar a aplicação do § 1º do
art. 25 da Lei nº 8.987/95 sem que isso tenha sido submetido ao Plenário, violou a Súmula
Vinculante 10:
Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97)
a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare
expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte.
 
Veja o que diz o art. 97 da CF/88, no qual está prevista a cláusula de reserva de plenário:
Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos
membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.
 
O STF concordou com a reclamação proposta? SIM. O STF, por maioria, julgou procedente
reclamação.
A 1ª Turma do STF entendeu que o art. 25, § 1º da Lei nº 8.987/95 permite a terceirização e o
TRT, ao não aplicá-lo para a situação concreta, negou vigência ao dispositivo sem que isso
tenha sido submetido ao Plenário ou órgão especial do Tribunal. Logo, houve violação à
cláusula da reserva de plenário prevista no art. 97 da CF/88. STF. 1ª Turma. Rcl 27.068/MG,
rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Luís Roberto, julgado em 5/3/2018 (Info 896).
 
Tema polêmico: O tema é polêmico e existem decisões em sentido contrário, como é o caso
da Rcl 24284/SP, rel. Min. Edson Fachin, julgado em 22/11/2016 (Info 848).

8.22. O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões proferidas
em sede de controle concentrado de constitucionalidade – (Info 896) – IMPORTANTE!!!

O Estado-membro não possui legitimidade para recorrer contra decisões proferidas em


sede de controle concentrado de constitucionalidade, ainda que a ADI tenha sido ajuizada
pelo respectivo Governador.
A legitimidade para recorrer, nestes casos, é do próprio Governador (previsto como
legitimado pelo art. 103 da CF/88).
Os Estados-membros não se incluem no rol dos legitimados a agir como sujeitos
processuais em sede de controle concentrado de constitucionalidade.
STF. Plenário. ADI 4420 ED-AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 05/04/2018 (Info 896).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: O Governador do Estado de São Paulo ajuíza uma
ADI no STF. O Supremo julga improcedente a ação. O acórdão é publicado e o Estado de São
Paulo opõe embargos de declaração alegando que há contradição no julgado.

Esse recurso terá êxito? NÃO. Os embargos de declaração não serão conhecidos.

Legitimidade não é do Estado, mas sim do Governador: A legitimidade para recorrer, neste
caso, é do Governador do Estado de São Paulo. O Estado de São Paulo não tem legitimidade
para opor embargos de declaração porque o Estado de São Paulo não é parte neste processo.
Vale ressaltar que, na petição inicial da ADI, quando proposta pelo Governador, quem figura
como autor da ação é o Governador do Estado (e não o Estado).

A petição inicial da ADI fica assim: “O GOVERNADOR DO ESTADO DE SÃO PAULO, no


exercício da atribuição que lhe confere o art. 103, V, da CF/88, vem propor a presente AÇÃO
DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE”.

Desse modo, repita-se, o Estado-membro não tem legitimidade para propor ADI. A
legitimidade pertence ao Governador do Estado. Logo, se a ação é julgada improcedente,
quem tem legitimidade para recorrer é o próprio Governador (e não o Estado).

Os embargos de declaração deveriam ser assim redigidos: “O GOVERNADOR DO ESTADO


DE SÃO PAULO vem opor os presentes EMBARGOS DE DECLARAÇÃO”.

No entanto, o recurso foi interposto desta forma (apenas um exemplo): “O ESTADO DE SÃO
PAULO vem opor os presentes EMBARGOS DE DECLARAÇÃO”.

Diante disso, o que acontecerá? Os embargos de declaração não serão conhecidos (seu
mérito não será apreciado) em virtude da ilegitimidade da parte recorrente. O Estado de São
Paulo não é parte legítima para recorrer.

8.23. ADPF: É possível celebrar acordo em ADPF – (Info 892) – IMPORTANTE! Não tem
nos livros!!!

É possível que seja celebrado um acordo no bojo de uma arguição de descumprimento de


preceito fundamental (ADPF)?
SIM. É possível a celebração de acordo num processo de índole objetiva, como a ADPF,
desde que fique demonstrado que há no feito um conflito intersubjetivo subjacente
(implícito), que comporta solução por meio de autocomposição.
Vale ressaltar que, na homologação deste acordo, o STF não irá chancelar ou legitimar
nenhuma das teses jurídicas defendidas pelas partes no processo.
O STF irá apenas homologar as disposições patrimoniais que forem combinadas e que
estiverem dentro do âmbito da disponibilidade das partes.
A homologação estará apenas resolvendo um incidente processual, com vistas a conferir
maior efetividade à prestação jurisdicional.
STF. Plenário. ADPF 165/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 1º/3/18 (Info 892).
OBS:
É possível que seja celebrado um acordo no bojo de uma arguição de descumprimento de
preceito fundamental (ADPF)? SIM.

Exemplo: As pessoas que tinham dinheiro em conta poupança nos anos de 1986 a 1991 foram
prejudicadas pelos planos econômicos editados neste período (Planos Cruzado, Bresser,
Verão e Collor II). Isso porque esses planos fizeram a conversão dos valores depositados de
forma errada (os chamados “expurgos inflacionários”). Em razão disso, tais poupadores
ingressaram com ações judiciais pedindo a correção disso e o pagamento das diferenças.
Além das ações individuais, também foram propostas ações coletivas ajuizadas por
associações de defesa do consumidor e por associações de poupadores. Os juízes e Tribunais
estavam todos decidindo em favor dos poupadores. A fim de tentar reverter a situação,
Confederação Nacional do Sistema Financeiro (CONSIF) ajuizou, no STF, a ADPF 165,
pedindo, com eficácia erga omnes (para todos) e efeito vinculante, a suspensão de qualquer
decisão judicial que tivesse por objeto a reposição das perdas decorrentes dos planos
econômicos. Na ação, a CONSIF alegava a plena constitucionalidade dos referidos planos, de
forma que os poupadores não teriam nada a receber. Ao longo da tramitação da ADPF, as
várias associações de defesa do consumidor e dos poupadores, que haviam ajuizado ações
coletivas tratando do tema, pediram para intervir no processo na qualidade de amicus curiae
(ex: Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, Associação Brasileira do Consumidor,
entre outras), o que foi aceito pelo STF. Depois de quase 9 anos tramitando no STF, houve
um acordo entre a CONSIF (autora da ADPF) e as associações de defesa do
consumidor/poupadores. Vale ressaltar que a AGU atuou como mediadora desse ajuste (art.
4º da Lei nº 13.140/2015), por meio da Câmara de Conciliação e Arbitragem da
Administração Federal. Por meio desse acordo, os bancos aceitam pagar os poupadores
segundo cronograma e condições que estão no ajuste e, em troca, os correntistas desistem
das ações individuais que possuíam contra as instituições financeiras. Além disso, as
associações de defesa do consumidor comprometeram-se a peticionar nas ações civis
públicas que ingressaram requerendo a extinção do processo pela transação (art. 487, III, “b”,
do CPC). Os termos do acordo preveem o pagamento de mais de 12 bilhões de reais aos
poupadores, que serão inscritos em plataforma digital preparada pelo CNJ. Os bancos irão
analisar os requerimentos dos interessados. Os pagamentos serão feitos nas contas correntes
dos beneficiários, que receberão os respectivos valores à vista ou parceladamente, a depender
do montante. Terão direito à reparação todos que haviam ingressado com ações coletivas e
individuais para cobrar das instituições financeiras os valores referentes às correções. No
caso das ações individuais, poupadores ou herdeiros que ingressaram judicialmente dentro
do prazo prescricional de 20 anos da edição de cada plano também poderão receber os
valores. Igualmente poderão aderir os poupadores que, com base em ações civis públicas,
requereram execução de sentença coletiva até 31/12/2016.

E o que a aconteceu com a ADPF? Foi extinta, nos termos do art. 487, III, “b”, do CPC:
Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: (...)
III - homologar: (...)
b) a transação;

Apesar de a resolução da ADPF ter sido com resolução do mérito, ressalte-se, mais uma vez,
que o STF, ao homologar o acordo, não concordou com nenhuma das teses jurídicas
defendidas pelas partes no processo, ou seja, não disse que os poupadores ou que os
bancos tinham razão. Isso não foi analisado na homologação do acordo.

Existe previsão legal de que as associações autoras de ações civis públicas possam fazer
transação nessas ações? NÃO. A Lei 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública) prevê que os
órgãos públicos podem fazer acordos nas ações civis públicas em curso, não mencionando
as associações privadas. Confira:
Art. 5º (...)
§ 6º Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados
compromisso de ajustamento de sua conduta às exigências legais, mediante
cominações, que terá eficácia de título executivo extrajudicial.

Mesmo sem previsão legal as associações privadas podem transacionar em ações civis
públicas: O STF afirmou que, mesmo sem previsão normativa expressa, as associações
privadas também podem fazer acordos nas ações coletivas. Assim, a ausência de disposição
normativa expressa no que concerne a associações privadas não afasta a viabilidade do
acordo. Isso porque a existência de previsão explícita unicamente quanto aos entes públicos
diz respeito ao fato de que somente podem fazer o que a lei determina, ao passo que aos
entes privados é dado fazer tudo que a lei não proíbe. Para o Min. Ricardo Lewandoswki,
“não faria sentido prever um modelo que autoriza a justiciabilidade privada de direitos e,
simultaneamente, deixar de conferir aos entes privados as mais comezinhas faculdades
processuais, tais como a de firmar acordos.”

8.24. Alteração da Lei impugnada antes do julgamento da ADI – (Info 890) –


IMPORTANTE!!!

O que acontece se a lei impugnada por meio de ADI é alterada antes do julgamento da
ação?
Neste caso, o autor da ADI deverá aditar a petição inicial demonstrando que a nova
redação do dispositivo impugnado apresenta o mesmo vício de inconstitucionalidade que
existia na redação original.
A revogação, ou substancial alteração, do complexo normativo impõe ao autor o ônus de
apresentar eventual pedido de aditamento, caso considere subsistir a
inconstitucionalidade na norma que promoveu a alteração ou revogação.
Se o autor não fizer isso, o STF não irá conhecer da ADI, julgando prejudicado o pedido
em razão da perda superveniente do objeto.
STF. Plenário. ADI 1931/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 7/2/18 (Info 890).
OBS:
O que acontece se a lei impugnada por meio de ADI é alterada antes do julgamento da ação?
Ex: em 1999, foi proposta uma ADI contra o art. 10 da Lei 9.656/98; em 2013, foi editada a Lei
12.880 alterando esse art. 10 da Lei 9.656/98; ocorre que a ADI ainda não foi julgada pelo
STF; o que fazer? Neste caso, o autor da ADI deverá aditar a petição inicial demonstrando
que a nova redação do dispositivo impugnado apresenta o mesmo vício de
inconstitucionalidade que existia na redação original. Em outras palavras, ele informa ao
STF que houve a alteração legislativa, mas que, apesar disso, a nova redação continua
contrariando a Constituição Federal.

E se o autor da ADI não fizer isso? Neste caso, o STF não irá conhecer da ADI, julgando
prejudicado o pedido em razão da perda superveniente do objeto (perda superveniente do
interesse de agir), nos termos do art. 485, VI, do CPC:
Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: (...)
VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual;

Nesse sentido:
A revogação, ou substancial alteração, do complexo normativo impõe ao autor o
ônus de apresentar eventual pedido de aditamento, caso considere subsistir a
inconstitucionalidade na norma que promoveu a alteração ou revogação. STF.
Plenário. ADI 2595 AgR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 18/12/2017.

O que acontece caso o ato normativo que estava sendo impugnado na ADI seja revogado
antes do julgamento da ação?
Regra: haverá perda superveniente do objeto e a ADI não deverá ser conhecida (STF ADI
1203).

Exceção 1: não haverá perda do objeto e a ADI deverá ser conhecida e julgada caso fique
demonstrado que houve "fraude processual", ou seja, que a norma foi revogada de forma
proposital a fim de evitar que o STF a declarasse inconstitucional e anulasse os efeitos por ela
produzidos (STF ADI 3306).

Exceção 2: não haverá perda do objeto se ficar demonstrado que o conteúdo do ato
impugnado foi repetido, em sua essência, em outro diploma normativo. Neste caso, como
não houve desatualização significativa no conteúdo do instituto, não há obstáculo para o
conhecimento da ação (STF ADI 2418/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 4/5/16. Info 824).

Exceção 3: caso o STF tenha julgado o mérito da ação sem ter sido comunicado previamente
que houve a revogação da norma atacada. Nesta hipótese, não será possível reconhecer,
após o julgamento, a prejudicialidade da ADI já apreciada (STF. Plenário. ADI 951 ED/SC,
Rel. Min. Roberto Barroso, j. 27/10/16. Info 845).

8.25. O STF não admite a teoria da transcendência dos motivos determinantes – (Infos 808
e 887) – (PGM/Macéio-2012)

O STF não admite a “teoria da transcendência dos motivos determinantes”.


Segundo a teoria restritiva, adotada pelo STF, somente o dispositivo da decisão produz
efeito vinculante. Os motivos invocados na decisão (fundamentação) não são vinculantes.
A reclamação no STF é uma ação na qual se alega que determinada decisão ou ato: •
usurpou competência do STF; ou
• desrespeitou decisão proferida pelo STF.
Não cabe reclamação sob o argumento de que a decisão impugnada violou os motivos
(fundamentos) expostos no acórdão do STF, ainda que este tenha caráter vinculante. Isso
porque apenas o dispositivo do acórdão é que é vinculante.
Assim, diz-se que a jurisprudência do STF é firme quanto ao não cabimento de
reclamação fundada na transcendência dos motivos determinantes do acórdão com efeito
vinculante.
STF. Plenário. Rcl 8168/SC, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin,
j. 19/11/15 (Info 808).
STF. 2ª Turma. Rcl 22012/RS, Rel. Min. Dias Toffoli, red. p/ ac. Min. Ricardo Lewandowski,
j. 12/9/17 (Info 887).
OBS: A Constituição Federal, em seu art. 102, § 2º, estabelece os efeitos da decisão proferida
pelo STF no controle abstrato de constitucionalidade:
Art. 102 (...)
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal
Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de
constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante,
relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública
direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.

Vamos explicar melhor esses efeitos:


1) Quanto ao aspecto SUBJETIVO (quem é atingido pela decisão?)
• Eficácia contra todos (erga omnes)
• Efeito vinculante

2) Quanto ao aspecto OBJETIVO (que partes da decisão produzem eficácia erga omnes e
efeito vinculante?)
 1ª corrente: teoria restritiva
Somente o dispositivo da decisão produz efeito vinculante. Os motivos invocados na decisão
(fundamentação) não são vinculantes.

 2ª corrente: teoria extensiva


Além do dispositivo, os motivos determinantes (ratio decidendi) da decisão também são
vinculantes. Admite-se a transcendência dos motivos que embasaram a decisão.

Em suma, pela teoria da transcendência dos motivos determinantes (efeitos irradiantes dos
motivos determinantes), a ratio decidendi, ou seja, os fundamentos determinantes da decisão
também teriam efeito vinculante. Ocorre que o STF NÃO adota a teoria da transcendência
dos motivos determinantes (teoria extensiva). O STF já chegou a manifestar apreço pela
teoria da transcendência dos motivos determinantes, mas atualmente, a posição da Corte é no
sentido de que não pode ser acolhida.

8.26. Efeito vinculante de declaração incidental de inconstitucionalidade – (Info 886) –


IMPORTANTE!!! – (MPMS-2018)

Se uma lei ou ato normativo é declarado inconstitucional pelo STF, incidentalmente, ou


seja, em sede de controle difuso, essa decisão, assim como acontece no controle abstrato,
também produz eficácia erga omnes e efeitos vinculantes.
O STF passou a acolher a teoria da abstrativização do controle difuso. Assim, se o Plenário
do STF decidir a constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei ou ato
normativo, ainda que em controle difuso, essa decisão terá os mesmos efeitos do controle
concentrado, ou seja, eficácia erga omnes e vinculante.
Houve mutação constitucional do art. 52, X, da CF/88. A nova interpretação deve ser a
seguinte: quando o STF declara uma lei inconstitucional, mesmo em sede de controle
difuso, a decisão já tem efeito vinculante e erga omnes e o STF apenas comunica ao
Senado com o objetivo de que a referida Casa Legislativa dê publicidade daquilo que foi
decidido.
STF. Plenário. ADI 3406/RJ e ADI 3470/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, j. 29/11/17 (Info 886).
(MPMS-2018): Segundo a posição atual do Supremo Tribunal Federal, a declaração
incidental de inconstitucionalidade de uma lei, em sede de controle difuso de
constitucionalidade, terá efeito vinculante e erga omnes. BL: Info 886, STF.

OBS:
Imagine a seguinte situação: Foi ajuizada uma ADI contra a Lei Estadual 3.579/01, do Estado
do Rio de Janeiro. O objeto da ação (pedido do autor) era, portanto, o seguinte: Tribunal,
declare inconstitucional a Lei Estadual 3.579/01.

O que o STF decidiu? O STF não concordou com o autor da ADI e julgou improcedente o
pedido. Isso significa dizer que o STF entendeu que a Lei Estadual 3.579/01 é constitucional.

Qual é a eficácia dessa decisão do STF que declarou constitucional a Lei Estadual 3.579/01?
• Eficácia contra todos (erga omnes);
• Efeito vinculante.

Isso porque a referida lei foi declarada constitucional em sede de controle abstrato de
constitucionalidade, atraindo assim os efeitos previstos no art. 102, § 2º da CF/88:
Art. 102 (...)
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal
Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de
constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante,
relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública
direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.

Decisão incidental do STF: Acompanhe agora o seguinte ponto interessante: durante os


debates para julgar a ação, o STF concluiu que o art. 2º da Lei Federal 9.055/95 era
inconstitucional. Vale ressaltar que o art. 2º da Lei federal 9.055/95 não era objeto da ação.
Assim, o art. 2º da Lei Federal 9.055/95 foi declarado inconstitucional de forma incidental, ou
seja, em controle difuso de constitucionalidade.

Qual é a eficácia da decisão do STF que declarou, incidentalmente, a Lei Federal 9.055/95
inconstitucional? Qual é a eficácia da decisão do STF que declara, incidentalmente, a
inconstitucionalidade de uma lei? Segundo o entendimento clássico, a decisão do STF
reconhecendo a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo irá variar de acordo com a
espécie de controle exercido:

Controle concentrado Controle difuso


Realizado pelo STF, de forma abstrata, nas Realizado por qualquer juiz ou Tribunal
hipóteses em que lei ou ato normativo (inclusive o STF), em um caso concreto.
violar a CF/88.
Produz, como regra, os seguintes efeitos: Produz, como regra, os seguintes efeitos:
• Ex tunc • Ex tunc
• Erga omnes • Inter partes
• Vinculante • Não vinculante

Desse modo, pela teoria tradicional, em regra, a decisão que declara incidentalmente uma
lei inconstitucional produz efeitos inter partes e não vinculantes.
Após declarar a inconstitucionalidade de uma lei em controle difuso, o STF deverá
comunicar essa decisão ao Senado e este poderá suspender a execução, no todo ou em parte,
da lei viciada (art. 52, X):
Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:
X - suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional
por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal;

A decisão do Senado de suspender a execução da lei seria discricionária. Caso ele resolva
fazer isso, os efeitos da decisão de inconstitucionalidade do STF, que eram inter partes,
passam a ser erga omnes. Assim, pela teoria tradicional a resolução do Senado ampliaria a
eficácia do controle difuso realizado pelo Supremo. Assim, pela teoria tradicional, a eficácia
da decisão do STF que declarou, incidentalmente, a Lei Estadual 3.579/01 inconstitucional
produziria efeitos inter partes e não vinculante.
Ocorre que o STF decidiu abandonar a concepção tradicional e fez uma nova interpretação
do art. 52, X, da CF/88.

O que entendeu o STF? O STF decidiu que, mesmo se ele declarar, incidentalmente, a
inconstitucionalidade de uma lei, essa decisão também terá efeito vinculante e erga omnes.
A fim de evitar anomias e fragmentação da unidade, deve-se atribuir à decisão proferida em
sede de controle incidental (difuso) a mesma eficácia da decisão tomada em sede de controle
abstrato.
O § 5º do art. 535 do CPC/2015 reforça esse tratamento uniforme:
Art. 535. A Fazenda Pública será intimada na pessoa de seu representante
judicial, por carga, remessa ou meio eletrônico, para, querendo, no prazo de 30
(trinta) dias e nos próprios autos, impugnar a execução, podendo arguir:
III - inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
§ 5º Para efeito do disposto no inciso III do caput deste artigo, considera-se
também inexigível a obrigação reconhecida em título executivo judicial fundado
em lei ou ato normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal
Federal, ou fundado em aplicação ou interpretação da lei ou do ato normativo
tido pelo Supremo Tribunal Federal como incompatível com a Constituição
Federal, em controle de constitucionalidade concentrado ou difuso.

O Min. Gilmar Mendes afirmou que é preciso fazer uma releitura do art. 52, X, da CF/88.
Essa nova interpretação deve ser a seguinte: quando o STF declara uma lei
inconstitucional, mesmo em sede de controle difuso, a decisão já tem efeito vinculante e
erga omnes e o STF apenas comunica ao Senado com o objetivo de que a referida Casa
Legislativa dê publicidade daquilo que foi decidido.

Mutação constitucional: O Min. Celso de Mello afirmou que o STF fez uma verdadeira
mutação constitucional com o objetivo de expandir os poderes do Tribunal com relação à
jurisdição constitucional. Assim, a nova intepretação do art. 52, X, da CF/88 é a de que o
papel do Senado no controle de constitucionalidade é simplesmente o de, mediante
publicação, divulgar a decisão do STF. A eficácia vinculante, contudo, já resulta da própria
decisão da Corte.

Declaração de inconstitucionalidade da matéria (e não apenas do ato normativo): A Min.


Cármen Lúcia afirmou que o STF está caminhando para uma inovação da jurisprudência, no
sentido de não ser mais declarado inconstitucional cada ato normativo, mas a própria matéria
que nele se contém.

Preclusão consumativa da matéria: Por fim, o Min. Edson Fachin concluiu que a declaração
de inconstitucionalidade, ainda que incidental, opera uma preclusão consumativa da matéria.
Isso evita que se caia numa dimensão semicircular progressiva e sem fim.

Em suma, qual é a eficácia da decisão do STF que declara, incidentalmente, a


inconstitucionalidade de uma lei?

Concepção tradicional Concepção moderna (atual)


Eficácia inter partes Eficácia erga omnes
Efeitos não vinculantes Efeitos vinculantes

Pode-se dizer que o STF passou a adotar a teoria da abstrativização do controle difuso?
SIM. Apesar de essa nomenclatura não ter sido utilizada expressamente pelo STF no
julgamento, o certo é que a Corte mudou seu antigo entendimento e passou a adotar a
abstrativização do controle difuso. Em uma explicação bem simples, a teoria da
abstrativização do controle difuso preconiza que, se o Plenário do STF decidir a
constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, ainda que em
controle difuso, essa decisão terá os mesmos efeitos do controle concentrado, ou seja, eficácia
erga omnes e vinculante. Para essa corrente, o art. 52, X, da CF/88 sofreu uma mutação
constitucional e, portanto, deve ser reinterpretado. Dessa forma, o papel do Senado,
atualmente, é apenas o de dar publicidade à decisão do STF. Em outras palavras, a decisão do
STF, mesmo em controle difuso, já é dotada de efeitos erga omnes e o Senado apenas confere
publicidade a isso.

Pode-se dizer que o STF passou a adotar a teoria da transcendência dos motivos
determinantes? NÃO. Segundo a teoria da transcendência dos motivos determinantes, além
do dispositivo, os motivos determinantes (ratio decidendi) da decisão também seriam
vinculantes. Com a decisão acima explicada, o STF chega mais próximo à teoria da
transcendência dos motivos determinantes, mas não se pode afirmar categoricamente que
esta passou a ser adotada pelo Tribunal. O Dizer o Direito acredita que não seja uma posição
segura para se adotar em provas, considerando que não houve afirmação expressa nesse
sentido.

8.27. Se a maioria dos Ministros votou pela procedência da ADI, mas não se obteve
maioria absoluta dos votos, a lei não deverá ser declarada inconstitucional – (Info 874)

Imagine a seguinte situação: é proposta uma ADI contra determinada lei. Cinco Ministros
votam pela inconstitucionalidade da lei. Quatro Ministros votam pela
constitucionalidade. Dois Ministros declaram-se impedidos de votar.
Qual deverá ser a proclamação do resultado? Pode-se dizer que esta lei foi declarada
inconstitucional por maioria de votos?
NÃO. Não foi atingido o número mínimo de votos para a declaração de
inconstitucionalidade da lei (6 votos). Assim, como não foi alcançado o quórum exigido
pelo art. 97 da CF/88, entende-se que o STF não pronunciou juízo de constitucionalidade
ou inconstitucionalidade da lei. Isso significa que o STF não declarou a lei nem
constitucional nem inconstitucional. Além disso, esse julgamento não tem eficácia
vinculante, ou seja, os juízes e Tribunais continuam livres para decidir que a lei é
constitucional ou inconstitucional, sem estarem vinculados ao STF.
STF. Plenário. ADI 4066/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. em 23 e 24/8/17 (Info 874).
OBS:
QUÓRUM DE SESSÃO (QUÓRUM PARA JULGAMENTO/VOTAÇÃO)
O que é quórum de sessão no controle de constitucionalidade? É a quantidade mínima de
Ministros presentes na sessão para que o Tribunal inicie a discussão se uma lei ou ato
normativo é inconstitucional.

Qual é o quórum de sessão para que o STF examine a constitucionalidade de uma lei ou ato
normativo? 8 (oito) Ministros. No STF, para que seja iniciada a sessão de julgamento na qual
será votada a constitucionalidade de uma lei ou ato normativo é necessário que estejam
presentes no mínimo oito Ministros. Se houver sete, por exemplo, a discussão não pode
sequer ser iniciada. O quórum de sessão está previsto no parágrafo único do art. 143 do
RISTF (que fala de forma genérica, valendo tanto para controle difuso como concentrado) e
no art. 22 da Lei nº 9.868/99 (que é específico para o controle concentrado):
Art. 22. A decisão sobre a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade da lei
ou do ato normativo somente será tomada se presentes na sessão pelo menos
oito Ministros.

QUÓRUM DE JULGAMENTO
O que é quórum de julgamento no controle de constitucionalidade? É a quantidade mínima
de votos necessários para que uma lei ou ato normativo seja declarado inconstitucional.

Qual é o quórum de julgamento para que o STF declare uma lei ou ato normativo
inconstitucional? 6 (seis) votos. É necessário que seis Ministros votem pela
inconstitucionalidade da lei ou ato normativo. É o que determina o art. 97 da CF/88, ao
prever que, somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros, o Tribunal poderá
declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público. O STF possui onze
membros, de forma que a maioria absoluta corresponde a seis Ministros.

Imagine que na sessão de julgamento há apenas nove Ministros (duas cadeiras estão vagas).
Está sendo analisada ADI contra determinada lei. Cinco Ministros entendem que a lei é
inconstitucional e quatro consideram que ela é compatível com a CF/88. Teremos aí uma
maioria simples dizendo que a lei é inconstitucional. No entanto, não se chegou a uma
maioria absoluta. Logo, a lei não poderá ser declarada inconstitucional. Ela continuará sendo
válida.
Repetindo: o STF só pode declarar uma lei ou ato normativo inconstitucional pelo voto da
maioria absoluta de seus membros (6 Ministros).

Imagine a seguinte situação:


É proposta uma ADI contra determinada lei.
5 Ministros votam pela inconstitucionalidade da lei.
4 Ministros votam pela constitucionalidade.
2 Ministros declaram-se impedidos de votar.
Qual deverá ser a proclamação do resultado? Pode-se dizer que esta lei foi declarada
inconstitucional por maioria de votos? NÃO. Não foi atingido o número mínimo de votos
para a declaração de inconstitucionalidade da lei (6 votos). Assim, como não foi alcançado o
quórum exigido pelo art. 97 da CF/88, entende-se que o STF não pronunciou juízo de
constitucionalidade ou inconstitucionalidade da lei. Isso significa que o STF não declarou a
lei nem constitucional nem inconstitucional. Além disso, esse julgamento não tem eficácia
vinculante, ou seja, os juízes e Tribunais continuam livres para decidir que a lei é
constitucional ou inconstitucional, sem estarem vinculados ao STF. Foi o que aconteceu na
ADI 4066/DF, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 23 e 24/8/2017 (Info 874).

8.28. Não se admite ADI contra lei que teria violado tratado internacional não incorporado
ao ordenamento brasileiro na forma do art. 5º, § 3º da CF/88 – (Info 872)

Em regra, não é cabível ADI sob o argumento de que uma lei ou ato normativo violou um
tratado internacional.

Em regra, os tratados internacionais não podem ser utilizados como parâmetro em sede de
controle concentrado de constitucionalidade.

Exceção: será cabível ADI contra lei ou ato normativo que violou tratado ou convenção
internacional que trate sobre direitos humanos e que tenha sido aprovado segundo a regra
do § 3º do art. 5º, da CF/88. Isso porque neste caso esse tratado será incorporado ao
ordenamento brasileiro como se fosse uma emenda constitucional.
STF. Plenário. ADI 2030/SC, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 9/8/17 (Info 872).
OBS:
Parâmetro (ou norma de referência): Em controle de constitucionalidade, quando falamos em
"parâmetro", queremos dizer quais serão as normas da Constituição que serão analisadas
para sabermos se a lei ou o ato normativo atacado realmente as violou. Em outras palavras,
parâmetro são as normas que servirão como referência para que o Tribunal analise se
determinada lei é ou não inconstitucional. Se a lei está em confronto com o parâmetro, ela é
inconstitucional.

Quando é proposta uma ADI no STF contra lei federal ou estadual, qual é o parâmetro que
será analisado pelo Tribunal? A Constituição Federal. Isso inclui: normas originárias,
emendas constitucionais, normas do ADCT e tratados internacionais de direitos humanos
aprovados por 3/5 dos membros de cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos de
votação. Assim, quando o autor propõe uma ADI no STF contra determinada lei, ele está
dizendo que esta lei viola a CF/88 (parâmetro).

Feitos estes esclarecimentos, imagine a seguinte situação: Foi proposta uma ADI contra lei
estadual alegando que ela violou um tratado internacional, qual seja, a Convenção sobre
Prevenção da Poluição Marinha por Alijamento de Resíduos e Outras Matérias, assinada em
Londres, e promulgada pelo Brasil por meio do Decreto 87.566/1982.

É cabível ADI sob o argumento de que uma lei ou ato normativo violou um tratado
internacional? É cabível ADI utilizando-se um tratado internacional como parâmetro? Em
regra, não.
Exceção: será cabível ADI contra lei ou ato normativo que violou tratado ou convenção
internacional que trate sobre direitos humanos e que tenha sido aprovado segundo a regra do
§ 3º do art. 5º, da CF/88. Isso porque neste caso esse tratado será incorporado ao
ordenamento brasileiro como se fosse uma emenda constitucional. Veja:
Art. 5º (...)
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três
quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas
constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45/2004)

Qual é a natureza jurídica dos tratados internacionais promulgados pelo Brasil?


Os tratados internacionais são equivalentes a que espécie normativa?
1) Tratados internacionais que não tratem sobre direitos Status de lei ordinária
humanos
2) Tratados internacionais que versem sobre direitos humanos, Status supralegal
mas que não tenham sido aprovados na forma do art. 5º, § 3º,
da CF/88
3) Tratados internacionais sobre Direito Tributário (art. 98 do Status supralegal
CTN)
4) Tratados internacionais sobre matéria processual civil (art. Status supralegal
13 do CPC/2015)
5) Tratados internacionais que versem sobre direitos humanos Emenda constitucional
e que tenham sido aprovados na forma do art. 5º, § 3º, da
CF/88

Obs1: quando se diz que um tratado possui status supralegal isso significa que ele está
hierarquicamente acima da legislação ordinária, mas abaixo da Constituição Federal. É o
caso, por exemplo, da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da
Costa Rica), que foi incorporada ao Direito brasileiro antes da EC 45/2004 e, portanto, tem
status supralegal (STF. Plenário. RE 466343, Rel. Min. Cezar Peluso, julgado em 03/12/2008).
O status normativo supralegal dos tratados internacionais de direitos humanos subscritos
pelo Brasil torna inaplicável a legislação infraconstitucional com ele conflitante, seja ela
anterior ou posterior ao ato de adesão (STF. Plenário. RE 349703, Rel. p/ ac. Min. Gilmar
Mendes, DJ 5/6/2009).

Obs2: não se pode confundir parâmetro com objeto. Parâmetro já foi explicado acima. Objeto
significa os atos normativos contra os quais se pode propor ADI. Todos os tratados
internacionais aprovados pelo Brasil podem ser objeto de ADI, ou seja, pode-se ajuizar ação
alegando que eles violam a Constituição Federal. Nesse sentido:
(Diplomata 2011 CESPE) A ação direta de inconstitucionalidade pode ser
impetrada contra tratados que versem sobre direitos humanos com status de
norma constitucional, contra tratados de direitos humanos que ingressem no
ordenamento jurídico com a natureza de norma supralegal e contra os tratados
que, não dispondo sobre direitos humanos, adentrem o ordenamento com força
de lei ordinária. (correta)

Voltando à situação acima analisada: O STF não conheceu da ADI proposta contra a
referida lei estadual porque a Convenção sobre Prevenção da Poluição Marinha por
Alijamento de Resíduos e Outras Matérias (Decreto 87.566/1982) não trata sobre direitos
humanos e, portanto, possui status de lei ordinária em nosso país. Logo, o autor estava
alegando, em uma ADI, que uma lei estadual teria violado uma norma com status de lei
ordinária federal. Isso não é matéria de ADI. Nas palavras do STF, “não se admite o exame
de contrariedade à norma infraconstitucional em sede de controle concentrado de
constitucionalidade”.

8.29. Cabimento de ADPF contra conjunto de decisões judiciais que determinaram a


expropriação de recursos do Estado-membro – (Info 869)

O Estado do Rio de Janeiro vive uma grave crise econômica, estando em débito com o
pagamento de fornecedores e atraso até mesmo no pagamento da remuneração dos
servidores públicos. Os órgãos e entidades também estão sem dinheiro para custear os
serviços públicos.
Diante disso, diversas ações (individuais e coletivas) foram propostas, tanto na Justiça
comum estadual como também na Justiça do Trabalho, pedindo a realização desses
pagamentos. Os órgãos judiciais estavam acolhendo os pedidos e determinando a
apreensão de valores nas contas do Estado para a concretização dos pagamentos.
Neste cenário, o Governador do Estado ajuizou ADPF no STF com o objetivo de
suspender os efeitos de todas as decisões judiciais do TJRJ e do TRT da 1ª Região que
tenham determinado o arresto, o sequestro, o bloqueio, a penhora ou a liberação de
valores das contas administradas pelo Estado do Rio de Janeiro.
O STF afirmou que a ADPF é instrumento processual adequado para esse pedido e
deferiu a medida liminar.
O conjunto de decisões questionadas são atos típicos do Poder Público passíveis de
impugnação por meio de APDF.
STF. Plenário. ADPF 405 MC/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, j. 14/6/17 (Info 869).

8.30. Modulação de efeitos em recurso extraordinário – (Info 857) – (Procurador/IPSM-


2018)

É possível a modulação dos efeitos da decisão proferida em sede de controle incidental de


constitucionalidade.
STF. Plenário. RE 522897/RN, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 16/3/17 (Info 857).
(TJDFT-2012): Em caso de controle difuso de constitucionalidade, a jurisprudência da
Excelsa Corte consagrou entendimento que admite, excepcionalmente, a modulação
temporal da declaração de inconstitucionalidade, com efeitos prospectivos, desde que a
decisão seja por maioria de 2/3 e se reconheça a presença de razões de segurança jurídica
ou de exponencial interesse social.

OBS:
Modulação dos efeitos do julgado no caso de processos objetivos de constitucionalidade: No
julgamento de ADI, ADC ou ADPF, a Lei prevê expressamente que o STF poderá modular os
efeitos da decisão que julga determinado ato contrário à CF. Em outras palavras, a Lei
permite que o STF determine que os efeitos da declaração de inconstitucionalidade somente
valham a partir da decisão proferida (ex nunc) ou ainda a partir de determinada data futura
(efeitos prospectivos).

Lei 9.868/99:
Art. 27. Ao declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em
vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o
Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros,
restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a
partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que venha a ser fixado.

Mesma regra pode ser encontrada no art. 11, da Lei n.9.882/99.

Regra: efeitos EX TUNC (retroativos)

Excepcionalmente o STF pode, pelo voto de, no mínimo, 8 Ministros (2/3):


* restringir os efeitos da declaração; ou Desde que haja razões de:
* decidir que ela só tenha eficácia a partir de seu trânsito * segurança jurídica ou;
em julgado; ou * excepcional interesse social
* de outro momento que venha a ser fixado.

Modulação dos efeitos do julgado no caso de processos subjetivos. É possível a modulação


dos efeitos do julgado no caso de processos subjetivos, como na hipótese da decisão
proferida em um recurso extraordinário (controle difuso)? SIM. O STF entende que,
excepcionalmente, admite-se, em caso de controle difuso de constitucionalidade, a
modulação temporal dos efeitos da decisão proferida. Com o objetivo de seguir o mesmo
modelo previsto no art. 27 da Lei 9.868/99, o STF decidiu que é necessário o quórum de 2/3
para que ocorra a modulação de efeitos em sede de recurso extraordinário com repercussão
geral reconhecida. Considerou-se que esta maioria qualificada seria necessária para conferir
eficácia objetiva ao instrumento.

8.31. Na ADI a causa de pedir é aberta – (Info 856) – IMPORTANTE!!!

O STF, ao julgar as ações de controle abstrato de constitucionalidade, não está vinculado


aos fundamentos jurídicos invocados pelo autor.
Assim, pode-se dizer que na ADI, ADC e ADPF, a causa de pedir (causa petendi) é aberta.
Isso significa que todo e qualquer dispositivo da Constituição Federal ou do restante do
bloco de constitucionalidade poderá ser utilizado pelo STF como fundamento jurídico
para declarar uma lei ou ato normativo inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 3796/PR, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 8/3/17 (Info 856).
8.32. TJ pode julgar ADI contra lei municipal tendo como parâmetro norma da
Constituição Federal? – (Info 852) – IMPORTANTE!!! – (PGM-Salvador/BA-2015) (TJRS-2018)
(Auditor Fiscal de Tributos Estaduais/SEFIN-RO-2018) (TJSC-2017/2019)

Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato de constitucionalidade de leis


municipais utilizando como parâmetro normas da Constituição Federal, desde que se trate
de normas de reprodução obrigatória pelos estados.
STF. Plenário. RE 650898/RS, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso, j. 1º/2/17 (repercussão geral) (Info 852).
(TJRS-2018-VUNESP): Conforme já decidido pelo STF, em matéria de controle de
constitucionalidade, inexiste usurpação de competência do STF quando os Tribunais de
Justiça analisam, em controle concentrado, a constitucionalidade de leis municipais ante
normas constitucionais estaduais que reproduzam regras da Constituição Federal que
sejam de observância obrigatória. BL: Info 852, STF.

(Auditor Fiscal de Tributos Estaduais/SEFIN-RO-2018-FGV): O Tribunal de Justiça do


Estado Alfa foi instado a realizar o controle concentrado de constitucionalidade de lei do
Município Beta. O autor da ação argumentava que teriam sido violados: (I) o Art. 10 da
Constituição Estadual, que reproduzia literalmente preceito da Constituição da
República; e (II) o Art. 39 da Constituição da República, pois é considerada norma de
reprodução obrigatória, e a Constituição Estadual sujeitou os servidores às “normas
constitucionais que lhes sejam aplicáveis”. Considerando o paradigma de confronto
passível de ser utilizado pelo Tribunal de Justiça no controle concentrado de
constitucionalidade, assinale a afirmativa correta: A ação pode ser conhecida em relação
a ambos os fundamentos, pois o Tribunal de Justiça pode utilizar como parâmetro as
normas da Constituição Estadual e as da Constituição da República de reprodução
obrigatória. 

(TJSC-2017-FCC): De acordo com a jurisprudência do STF e com as normas da


Constituição Federal a respeito das limitações ao Poder Constituinte dos Estados-
membros, é admissível que emenda à Constituição estadual estabeleça a competência do
Tribunal de Justiça do Estado para julgar ações diretas de inconstitucionalidade de leis
municipais em face da Constituição estadual, ainda que a norma constitucional violada
também conste da Constituição Federal e seja de observância obrigatória por todos os
entes federados.

(PGM-Salvador-2015-CESPE): A omissão pela Constituição estadual de norma


constitucional federal de reprodução obrigatória não impede o controle mediante ação
direta contra lei municipal em face dos preceitos omitidos.

OBS:
É possível que uma lei ou ato normativo municipal seja impugnado por meio de ADI
proposta no Supremo Tribunal Federal? NÃO. A CF/88 somente autoriza que seja proposta
ADI no STF contra lei ou ato normativo FEDERAL ou ESTADUAL. Veja:
Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição, cabendo-lhe:
I - processar e julgar, originariamente: a) a ação direta de inconstitucionalidade
de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de
constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;

Vale ressaltar que é cabível ADPF contra lei municipal.

É possível que uma lei ou ato normativo municipal seja impugnado por meio de ADI
proposta no Tribunal de Justiça? SIM. A CF/88 autorizou essa possibilidade, determinando
que o tema seja tratado nas Constituições estaduais. Confira:
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios
estabelecidos nesta Constituição.
§ 1º - A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado,
sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.
§ 2º - Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade
de leis ou atos normativos estaduais OU MUNICIPAIS em face da
Constituição Estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um
único órgão.

A CF/88 utilizou o termo “representação de inconstitucionalidade”, mas é plenamente


possível que a chamemos de “ação direta de inconstitucionalidade estadual” (ADI estadual).

Parâmetro (ou norma de referência): Em controle de constitucionalidade, quando falamos em


"parâmetro", queremos dizer quais serão as normas da Constituição que serão analisadas
para sabermos se a lei ou o ato normativo atacado realmente as violou. Em outras palavras,
parâmetro são as normas que servirão como referência para que o Tribunal analise se
determinada lei é ou não inconstitucional. Se a lei está em confronto com o parâmetro, ela é
inconstitucional.

Quando é proposta uma ADI no STF contra lei federal ou estadual, qual é o parâmetro que
será analisado pelo Tribunal? A Constituição Federal. Isso inclui: normas originárias,
emendas constitucionais, normas do ADCT e tratados internacionais de direitos humanos
aprovados por 3/5 dos membros de cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos de
votação. Assim, quando o autor propõe uma ADI no STF contra determinada lei, ele está
dizendo que esta lei viola a CF/88 (parâmetro).

Quando é proposta uma ADI no TJ contra lei municipal, qual é o parâmetro que será
analisado pelo Tribunal? A Constituição Estadual. Isso está expressamente previsto no § 2º
do art. 125 da CF/88: "§ 2º - Cabe aos Estados a instituição de representação de
inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da
Constituição Estadual (...)".
Assim, em regra, quando o Tribunal de Justiça julga uma ADI proposta contra lei ou ato
normativo estadual ou municipal, ele deverá analisar se esta lei ou ato normativo viola ou
não algum dispositivo da Constituição Estadual.

Quando o TJ julga uma ADI contra lei estadual ou municipal, ele poderá declará-la
inconstitucional sob o argumento de que viola um dispositivo da Constituição Federal? Em
regra, não. Isso porque, como vimos acima, o parâmetro da ADI proposta perante o TJ é a
Constituição Estadual (e não a Constituição Federal).
Assim, em regra, na ADI estadual, o TJ irá analisar se a lei ou ato normativo atacado viola ou
não a Constituição Estadual. Este é o parâmetro da ação. O TJ não pode examinar se o ato
impugnado ofende a Constituição Federal. O STF, em reiteradas oportunidades, já decidiu
sobre o tema:
Não cabe a tribunais de justiça estaduais exercer o controle de
constitucionalidade de leis e demais atos normativos municipais em face da
Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 347, Rel. Min. Joaquim Barbosa,
julgado em 20/09/2006.

Logo, o TJ não pode dizer o seguinte: julgo a presente representação de inconstitucionalidade


porque a Lei municipal XX/2015 viola o art. YY da Constituição Federal de 1988.

Exceção: A regra acima exposta comporta uma exceção. Os Tribunais de Justiça, ao julgarem
a representação de inconstitucionalidade proposta contra lei municipal, poderão declará-la
inconstitucional utilizando como parâmetro dispositivos da Constituição Federal, desde que
eles sejam normas de reprodução obrigatória pelos Estados.

Normas de reprodução obrigatória: Normas de reprodução obrigatória são dispositivos da


Constituição Federal de 1988 que, como o próprio nome indica, devem ser repetidos nas
Constituições Estaduais. Elas são também chamadas de "normas de observância obrigatória"
ou "normas centrais".
Importante esclarecer que, se uma norma é de reprodução obrigatória, considera-se que ela
está presente na Constituição Estadual mesmo que a Carta estadual seja silente. Ex: a CF/88
prevê que os Municípios são autônomos (art. 18). Trata-se de norma de reprodução
obrigatória. Isso significa que, mesmo se a Constituição Estadual não disser que os
Municípios são autônomos, ainda assim considera-se que essa regra está presente na Carta
Estadual.
Confira a explicação do Ministro Luis Roberto Barroso, para quem normas de reprodução
obrigatória são:
"as disposições da Carta da República que, por pré-ordenarem diretamente a
organização dos Estados-membros, do Distrito Federal e/ou dos Municípios,
ingressam automaticamente nas ordens jurídicas parciais editadas por esses
entes federativos. Essa entrada pode ocorrer, seja pela repetição textual do
texto federal, seja pelo silêncio dos constituintes locais – afinal, se sua absorção
é compulsória, não há qualquer discricionariedade na sua incorporação pelo
ordenamento local." (Rcl 17954 AgR/PR).

Não existe um artigo da Constituição Federal que diga quais são as normas de reprodução
obrigatória. Isso foi uma "construção" da jurisprudência do STF, ou seja, em diversos
julgados o Tribunal foi mencionando quais as normas seriam de reprodução obrigatória.
Como exemplos de normas de reprodução obrigatória podemos citar as regras da
Constituição Federal que tratam sobre organização político-administrativa, competências,
separação dos Poderes, servidores públicos, processo legislativo, entre outras.
Veja a importante lição de Marcelo Novelino sobre o tema:
"(...) Diversamente da Carta anterior, que as relacionava expressamente
(CF/1967-1969, art. 13, I, III e IX), na Constituição de 1988 as normas de
observância obrigatória não foram elencadas de forma textual. Adotou-se uma
formulação genérica que, embora teoricamente conferira maior liberdade de
auto-organização aos Estados-membros, cria o risco de possibilitar
interpretações excessivamente amplas na identificação de tais normas. (...)
(...)
As normas de observância obrigatória são diferenciadas em três espécies. Os
princípios constitucionais sensíveis representam a essência da organização
constitucional da federação brasileira e estabelecem limites à autonomia
organizatória dos Estados-membros (CF, art. 34, VII). Os princípios
constitucionais extensíveis consagram normas organizatórias para a União que
se estendem aos Estados, por previsão constitucional expressa (CF, arts. 28 e 75)
ou implícita (CF, art. 58, § 3.°; arts. 59 e ss.). Os princípios constitucionais
estabelecidos restringem a capacidade organizatória dos Estados federados por
meio de limitações expressas (CF, art. 37) ou implícitas (CF, art. 21)."
(NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. Salvador: Juspdodivm,
2015, p. 82).

Resumindo:
 Em regra, quando os Tribunais de Justiça exercem controle abstrato de
constitucionalidade de leis municipais deverão examinar a validade dessas leis à luz
da Constituição Estadual.
 Exceção: os Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato de
constitucionalidade de leis municipais utilizando como parâmetro normas da
Constituição Federal, desde que se trate de normas de reprodução obrigatória pelos
Estados.

Exemplos da exceção:
 Ex1: Município do Paraná aprovou lei tratando sobre direito do trabalho; foi
proposta uma ADI estadual no TJ contra esta lei; o TJ poderá julgar a lei
inconstitucional alegando que ela viola o art. 22, I, da CF/88 (mesmo que a
Constituição do Estado não tenha regra semelhante); isso porque essa regra de
competência legislativa é considerada como norma de reprodução obrigatória. Nesse
sentido: STF. 1ª Turma. Rcl 17954 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em
21/10/2016.

 Ex2: Município do Rio Grande do Sul editou lei criando gratificação para o Prefeito
fora do regime de subsídio, o que violaria o art. 39, § 4º, da CF/88; o TJ/RS poderá
julgar a lei municipal inconstitucional utilizando como parâmetro este dispositivo da
Constituição Federal; isso porque a regra sobre o subsídio para membros de Poder e
detentores de mandato eletivo é considerada norma de reprodução obrigatória.
Nesse sentido: STF. Plenário. Rel. originário Min. Marco Aurélio, Rel. para acórdão
Min. Roberto Barroso, julgado em 01/02/2017 (repercussão geral).

Tese fixada pelo STF: O tema acima exposto foi enfrentado pelo STF em um
recurso extraordinário julgado sob a sistemática da repercussão geral, tendo
sido fixada a seguinte tese: Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato
de constitucionalidade de leis municipais utilizando como parâmetro normas da
Constituição Federal, desde que se trate de normas de reprodução obrigatória
pelos estados. STF. Plenário. Rel. originário Min. Marco Aurélio, Rel. para
acórdão Min. Roberto Barroso, j. 1/2/17 (repercussão geral).

Obs: a tese acima fala em "leis municipais", mas ela também pode ser aplicada para
representações de inconstitucionalidade propostas no TJ contra "leis estaduais". A tese falou
apenas de leis municipais porque foi o caso analisado no recurso extraordinário.

Recurso: Se a representação de inconstitucionalidade sustentar que a norma apontada como


violada (parâmetro) é uma norma de reprodução obrigatória, então, neste caso, caberá
recurso extraordinário para o STF contra a decisão do TJ. Sobre o tema:
(...) Tratando-se de ação direta de inconstitucionalidade da competência do
Tribunal de Justiça local – lei estadual ou municipal em face da Constituição
estadual –, somente é admissível o recurso extraordinário diante de questão que
envolva norma da Constituição Federal de reprodução obrigatória na
Constituição estadual. (...) STF. 2ª Turma. RE 246903 AgR, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, julgado em 26/11/2013.

Desse modo, Tribunais de Justiça podem exercer controle abstrato de constitucionalidade de


leis municipais utilizando como parâmetro normas da Constituição Federal, desde que se
trate de normas de reprodução obrigatória pelos Estados. Contra esta decisão, cabe recurso
extraordinário.

Vale ressaltar que a decisão do STF neste recurso extraordinário terá eficácia erga omnes
porque foi proferida em um processo objetivo de controle de constitucionalidade.

8.33. Conversão da MP em lei antes que a ADI proposta seja julgada – (Info 851) –
IMPORTANTE!!!

Se é proposta ADI contra uma medida provisória e, antes de a ação ser julgada, a MP é
convertida em lei com o mesmo texto que foi atacado, esta ADI não perde o objeto e
poderá ser conhecida e julgada.
Como o texto da MP foi mantido, não cabe falar em prejudicialidade do pedido. Isso
porque não há a convalidação ("correção") de eventuais vícios existentes na norma, razão
pela qual permanece a possibilidade de o STF realizar o juízo de constitucionalidade.
Neste caso, ocorre a continuidade normativa entre o ato legislativo provisório (MP) e a lei
que resulta de sua conversão.
Ex: foi proposta uma ADI contra a MP 449/1994 e, antes de a ação ser julgada, houve a
conversão na Lei nº 8.866/94.
Vale ressaltar, no entanto, que o autor da ADI deverá peticionar informando esta situação
ao STF e pedindo o aditamento da ação.
STF. Plenário. ADI 1055/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 15/12/2016 (Info 851).
OBS:
Nesse sentido, confira o seguinte precedente do STF:
(...) Não prejudica a ação direta de inconstitucionalidade material de medida
provisória a sua intercorrente conversão em lei sem alterações, dado que a sua
aprovação e promulgação integrais apenas lhe tornam definitiva a vigência, com
eficácia "ex tunc" e sem solução de continuidade, preservada a identidade
originaria do seu conteúdo normativo, objeto da arguição de invalidade. (...)
STF. Plenário. ADI 691 MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 22/04/1992.

8.34. Revogação do ato normativo que estava sendo impugnado e julgamento da ação sem
comunicar este fato ao STF – (Infos 824 e 845) – IMPORTANTE!!!

O que acontece caso o ato normativo que estava sendo impugnado na ADI seja revogado
antes do julgamento da ação?
Regra: haverá perda superveniente do objeto e a ADI não deverá ser conhecida (STF ADI
1203).
"A revogação superveniente do ato normativo impugnado prejudica a ação direta de
inconstitucionalidade, independentemente da existência de efeitos residuais concretos.
Esse entendimento jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal nada mais reflete
senão a própria natureza jurídica do controle normativo abstrato, em cujo âmbito não
se discutem situações de caráter concreto ou individual."
(STF. Plenário. ADI 1203 QO, Rel. Min. Celso de Mello, j. 19/04/1995).

Exceção 1: não haverá perda do objeto e a ADI deverá ser conhecida e julgada caso fique
demonstrado que houve "fraude processual", ou seja, que a norma foi revogada de forma
proposital a fim de evitar que o STF a declarasse inconstitucional e anulasse os efeitos por
ela produzidos (STF ADI 3306).
"Sucessivas leis distritais que tentaram revogar os atos normativos impugnados. (...)
Fatos que não caracterizaram o prejuízo da ação. Quadro fático que sugere a intenção
de burlar a jurisdição constitucional da Corte. Configurada a fraude processual com a
revogação dos atos normativos impugnados na ação direta, o curso procedimental e o
julgamento final da ação não ficam prejudicados. (...)"
(STF. Plenário. ADI 3306, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 17/03/2011)

Exceção 2: não haverá perda do objeto se ficar demonstrado que o conteúdo do ato
impugnado foi repetido, em sua essência, em outro diploma normativo. Neste caso, como
não houve desatualização significativa no conteúdo do instituto, não há obstáculo para o
conhecimento da ação (ADI 2418/DF). (Info 824)

Exceção 3: caso o STF tenha julgado o mérito da ação sem ter sido comunicado
previamente que houve a revogação da norma atacada. Nesta hipótese, não será possível
reconhecer, após o julgamento, a prejudicialidade da ADI já apreciada. (Info 845)

STF. Plenário. ADI 2418/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 4/5/2016 (Info 824).
STF. Plenário. ADI 951 ED/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 27/10/16 (Info 845).
OBS:
EXCEÇÃO 2: não haverá perda do objeto e a ADI deverá ser conhecida e julgada caso fique
demonstrado que o conteúdo do ato impugnado foi repetido, em sua essência, em outro
diploma normativo. Neste caso, como não houve desatualização significativa no conteúdo do
instituto, não há obstáculo para o conhecimento da ação.

Exemplo da exceção 2: Foi proposta uma ADI contra o art. 10 da MP 2.102-27/01, que
acrescentou um parágrafo único ao art. 741 do CPC 1973. Ocorre que a ADI somente foi
julgada pelo STF em maio de 2016, ou seja, quando já havia entrado em vigor o CPC 2015,
que revogou esse dispositivo do CPC 1973. Diante disso, a AGU afirmou que a ação perdeu o
seu objeto e que, por essa razão, não deveria mais ser conhecida. A OAB, por sua vez, autora
da ação, argumentou que o CPC 2016 praticamente repetiu esse dispositivo. Dessa forma,
persistia a necessidade de enfrentamento do tema.

O que decidiu o STF? A ADI poderá ser conhecida e julgada mesmo tendo havido a
revogação do dispositivo que estava sendo impugnado? SIM. O STF entendeu que não houve
a perda de objeto da ação mesmo tendo havido a revogação do § único do art. 741 do CPC
1973 pela Lei 13105/15. Isso porque a matéria disciplinada no referido dispositivo foi
mantida pelo NCPC, que tratou sobre o tema de forma semelhante, ainda que com algumas
diferenças, nos §§ 5º a 8º do art. 535 e nos §§ 12 a 15 do art. 525 do CPC 2015. Persistem,
portanto, as razões invocadas pela autora da ADI para afirmar a inconstitucionalidade da
previsão. Dessa forma, como não houve desatualização significativa no conteúdo do
instituto, não há obstáculo para o conhecimento da ação. Nesse mesmo sentido: STF.
Plenário. ADI 2.501/MG, DJe de 19/12/2008; ADI 3147 ED, julgado em 28/05/2014.

EXCEÇÃO 3: caso o STF tenha julgado o mérito da ação sem ter sido comunicado
previamente que houve a revogação da norma atacada.

Exemplo da exceção 3: Foi ajuizada ADI contra uma lei do Estado de Santa Catarina. Poucos
meses antes do STF julgar a ação, a referida lei foi inteiramente revogada. Ocorre que o STF
não foi informado sobre a revogação e julgou a ADI procedente, declarando a lei
inconstitucional. Após o julgamento, a Assembleia Legislativa do Estado apresentou
embargos de declaração alegando contradição do acórdão sob o argumento de que o STF
deveria ter julgado a ADI prejudicada em face da revogação da lei.

O argumento exposto nos embargos de declaração foi acolhido? NÃO. Deve-se afastar a
prejudicialidade de ação direta de inconstitucionalidade caso o STF tenha julgado o mérito da
ação sem ter sido comunicado previamente a respeito da revogação da norma atacada. É
preciso preservar o trabalho já efetuado pelo Tribunal, bem como evitar que a constatação da
efetiva violação à ordem constitucional se torne inócua. Permitir que se pleiteie a
desconstituição do julgamento em embargos de declaração depois de decidido o mérito da
ação equivaleria a abrir à parte a possibilidade de manipular a decisão do STF. Assim, se esta
lhe for favorável, bastará não invocar a perda de objeto e usufruir de seus efeitos. Se, ao
contrário, lhe for desfavorável, o reconhecimento da prejudicialidade a imunizará contra os
efeitos do reconhecimento da inconstitucionalidade. Ademais, como a revogação da lei
catarinense não foi alegada antes do julgamento do mérito, não é possível falar em omissão,
obscuridade ou contradição nem há também, por esse motivo, fundamento para acolher os
embargos de declaração. Por fim, vale ressaltar que a lei efetivamente vigeu durante
determinado período, de modo que, se fosse considerada a prejudicialidade dessa ação, isso
significaria admitir como válidos os efeitos da lei no período em que ela vigorou, sendo que
o STF já declarou que ela era inconstitucional desde o seu início (inconstitucionalidade com
efeitos ex tunc). STF. Plenário. ADI 951 ED/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 27/10/2016
(Info 845).

8.35. Declaração de inconstitucionalidade de lei sem a produção de efeito repristinatório


em relação às leis anteriores de mesmo conteúdo – (Info 838) – IMPORTANTE!!!

Foi proposta ADI contra a Lei 3.041/05, do Estado do Mato Grosso do Sul, que tratava
sobre assunto de competência da União. Ocorre que esta Lei havia revogado outras leis
estaduais de mesmo conteúdo. Desse modo, se a Lei 3.041/05 fosse, isoladamente,
declarada inconstitucional, as demais leis revogadas "voltariam" a vigorar mesmo
padecendo de idêntico vício.
A fim de evitar essa "eficácia repristinatória indesejada", o PGR, que ajuizou a ação,
impugnou não apenas a Lei 3.041/05, mas também aquelas outras normas por ela
revogadas.
O STF concordou com o PGR e, ao declarar inconstitucional a Lei 3.041/05, afirmou que
não deveria haver o efeito repristinatório em relação às leis anteriores de mesmo
conteúdo.
O dispositivo do acórdão ficou, portanto, com a seguinte redação:
"O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Relator, julgou procedente o pedido
formulado para declarar a inconstitucionalidade da Lei nº 3.041/2005, do Estado de Mato
Grosso do Sul, inexistindo efeito repristinatório em relação às leis anteriores de mesmo
conteúdo, (...)"
STF. Plenário. ADI 3.735/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 8/9/16 (Info 838).
OBS:
O autor da ADI deverá impugnar a lei atual e a lei revogada (se esta contiver o mesmo vício)
a fim de evitar uma "eficácia repristinatória indesejada", ou seja, com o objetivo de evitar que
aquela decisão do STF seja inútil. Digo inútil porque a lei atual será declarada
inconstitucional, mas "voltará" uma lei com semelhante mácula.
"No caso de efeito repristinatório indesejado, ou seja, quando a lei revogada também for
eivada do vício de inconstitucionalidade, faz-se necessária a formulação de pedidos
sucessivos de declaração de inconstitucionalidade, tanto do diploma ab-rogatório quanto das
normas por ele revogadas. Caso a norma anterior não seja impugnada, a ADI não será
conhecida." (Marcelo Novelino).

8.36. Associação que abranja apenas uma fração da categoria profissional não possui
legitimidade para ADI/ADPF de norma que envolva outros representados – (Info 826)

As associações que representam fração de categoria profissional não são legitimadas para
instaurar controle concentrado de constitucionalidade de norma que extrapole o universo
de seus representados.
Ex: a ANAMAGES, associação que representa apenas os juízes estaduais, não pode ajuizar
ADPF questionando dispositivo da LOMAN, considerando que esta lei rege não apenas
os juízes estaduais, mas sim os magistrados de todo o Poder Judiciário, seja ele federal ou
estadual.
STF. Plenário. ADPF 254 AgR/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 18/5/16 (Info 826).
OBS:
Os legitimados para a propositura de ADI, ADC ou ADPF estão previstos no art. 103 da
CF/88. Dentre eles, destaco o inciso IX:
Art. 103. Podem propor a ação direta de inconstitucionalidade e a ação
declaratória de constitucionalidade:
IX - confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional.

Segundo a jurisprudência do STF, "entidade de classe de âmbito nacional" não possui


legitimidade para a instauração do controle concentrado de constitucionalidade (art. 103, IX,
da CF) quando a associação autora representa apenas fração ou parcela da categoria
profissional cujo interesse está sendo defendido em juízo.

8.37. Leis orçamentárias podem ser objeto de ADI – (Info 817)

É possível a impugnação, em sede de controle abstrato de constitucionalidade, de leis


orçamentárias. Assim, é cabível a propositura de ADI contra lei orçamentária, lei de
diretrizes orçamentárias e lei de abertura de crédito extraordinário.
STF. Plenário. ADI 5449 MC-Referendo/RR, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 10/3/16 (Info 817).
Durante alguns anos o STF entendeu que a lei orçamentária e a lei de diretrizes
orçamentárias (LDO) não poderiam ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade. O
argumento para isso era o de que tais leis possuíam efeitos concretos de forma que mais se
pareceriam com um ato administrativo do que com uma lei. Este entendimento ainda vigora
atualmente? NÃO.

OBS: Vale ressaltar, no entanto, que se terminar o exercício financeiro a que se refere a lei
sem que a ADI tenha sido julgada, haverá perda superveniente do objeto. Ex: foi proposta
ADI contra a LDO relativa a 2014, mas terminou o ano sem que ela tenha sido julgada.
Haverá, portanto, perda do objeto. Nesse sentido: STF. Plenário. ADI 4663 MC-Ref, Rel.
Min. Luiz Fux, julgado em 15/10/2014.

8.38. Reclamação contra decisões proferidas em recurso extraordinário e RE 567.985/MT –


(Info 813) – IMPORTANTE!!!

Em regra, a decisão proferida pelo STF em processos individuais (ex: recurso


extraordinário, reclamação) possui eficácia inter partes. No entanto, no caso do RE
567.985/MT, do RE 580963/PR e do Rcl 4374/PE é diferente. Isso porque o Plenário da Corte
Suprema, no julgamento desses processos não apenas resolveu o conflito individual
deduzido naquela causa, mas realizou, expressamente, a reinterpretação da decisão
proferida pelo STF na ADI 1.232/DF.
Em outras palavras, a decisão proferida no processo individual ganhou eficácia erga
omnes e efeito vinculante porque reinterpretou e modificou uma decisão proferida em
ADI, que possui tais atributos. Logo, por ter "substituído" um entendimento do STF que
tinha eficácia erga omnes e efeito vinculante, a nova decisão proferida em sede de controle
concreto ganhou contornos de controle abstrato.
Dessa forma, se uma decisão proferida por outro órgão jurisdicional violar o que foi
decidido pelo STF no RE 567.985/MT, no RE 580963/PR e no Rcl 4374/PE caberá reclamação
para o Supremo.
Obs: apenas para esclarecer, em 1998, na ADI 1.232/DF, o STF havia decidido que o § 3º do
art. 20 da Lei nº 8.742/93 era constitucional. Em 2013, ao apreciar novamente o tema no RE
567.985/MT, no RE 580963/PR e no Rcl 4374/PE, processos individuais julgados em
conjunto, o STF mudou de entendimento e afirmou que o referido § 3º é parcialmente
inconstitucional.
STF. Decisão monocrática. Rcl 18636, Rel. Min. Celso de Mello, j. 10/11/15 (Info 813).
8.39. Não cabimento de ADPF contra decisão judicial transitada em julgado – (Info 810) –
(TJMSP-2016-VUNESP)

Não cabe arguição de descumprimento de preceito fundamental (ADPF) contra decisão


judicial transitada em julgado. Este instituto de controle concentrado de
constitucionalidade não tem como função desconstituir a coisa julgada.
STF. Decisão monocrática. ADPF 81 MC, Rel. Min. Celso de Mello, j. 27/10/2015 (Info 810).

8.40. Superação legislativa da jurisprudência (reação legislativa) – (Info 801) – (TJPR-2017)


(Anal. Legisl./ALESE-2018)

As decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF no julgamento de ADI, ADC ou


ADPF possuem eficácia contra todos (erga omnes) e efeito vinculante (§ 2º do art. 102 da
CF/88).
O Poder Legislativo, em sua função típica de legislar, não fica vinculado. Assim, o STF
não proíbe que o Poder Legislativo edite leis ou emendas constitucionais em sentido
contrário ao que a Corte já decidiu. Não existe uma vedação prévia a tais atos normativos.
O legislador pode, por emenda constitucional ou lei ordinária, superar a jurisprudência.
Trata-se de uma reação legislativa à decisão da Corte Constitucional com o objetivo de
reversão jurisprudencial.
No caso de reversão jurisprudencial (reação legislativa) proposta por meio de emenda
constitucional, a invalidação somente ocorrerá nas restritas hipóteses de violação aos
limites previstos no art. 60, e seus §§, da CF/88. Em suma, se o Congresso editar uma
emenda constitucional buscando alterar a interpretação dada pelo STF para determinado
tema, essa emenda somente poderá ser declarada inconstitucional se ofender uma cláusula
pétrea ou o processo legislativo para edição de emendas.
No caso de reversão jurisprudencial proposta por lei ordinária, a lei que frontalmente
colidir com a jurisprudência do STF nasce com presunção relativa de
inconstitucionalidade, de forma que caberá ao legislador o ônus de demonstrar,
argumentativamente, que a correção do precedente se afigura legítima. Assim, para ser
considerada válida, o Congresso Nacional deverá comprovar que as premissas fáticas e
jurídicas sobre as quais se fundou a decisão do STF no passado não mais subsistem. O
Poder Legislativo promoverá verdadeira hipótese de mutação constitucional pela via
legislativa.
STF. Plenário. ADI 5105/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j em 1º/10/2015 (Info 801).
(Anal. Legisl./ALESE-2018-FCC): No exercício do controle concentrado de
constitucionalidade, o STF declarou a inconstitucionalidade de uma lei editada pelo
Congresso Nacional, com efeitos ex tunc. Não satisfeito com a decisão, o Poder
Legislativo edita nova lei, com conteúdo idêntico à lei tida por inconstitucional pelo STF.
Essa nova lei deverá, para que possa ser retirada do ordenamento jurídico pelo Poder
Judiciário, ser objeto de novo controle concentrado de constitucionalidade, uma vez que
o efeito vinculante das decisões definitivas de mérito proferidas pelo STF nas ações
diretas de inconstitucionalidade não atinge o Poder Legislativo. BL: Info 801, STF.

(TJPR-2017-CESPE): O juiz constitucional já não interpreta, no processo constitucional,


de forma isolada: muitos são os participantes do processo; as formas de participação se
ampliam acentuadamente. Os instrumentos de informação dos juízes constitucionais —
não apesar, mas em razão da própria vinculação à lei — devem ser ampliados e
aperfeiçoados, especialmente no que se refere às formas gradativas de participação e à
própria possibilidade de participação no processo constitucional (especialmente nas
audiências e nas “intervenções”). Devem ser desenvolvidas novas formas de
participação das potências públicas pluralistas como intérpretes em sentido amplo da
Constituição. Peter Häberle. Hermenêutica constitucional: a sociedade aberta dos
intérpretes da Constituição. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 2000, p. 47-8
(com adaptações). Tendo o texto precedente como referência inicial, assinale a opção
correta acerca dos modelos e dos diversos instrumentos de controle de
constitucionalidade do ordenamento jurídico brasileiro. Será constitucional o processo
legislativo em que assembleia legislativa aprove lei com idêntico conteúdo de norma
declarada inconstitucional pelo STF em sede de controle abstrato. BL: Info 801, STF.

OBS: A eficácia geral e o efeito vinculante de decisão, proferida pelo Supremo Tribunal
Federal, em ação direta de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo federal, só atingem os demais órgãos do Poder Judiciário e todos os do Poder
Executivo, NÃO ALCANÇANDO o legislador, que pode editar nova lei com idêntico
conteúdo normativo, sem ofender a autoridade daquela decisão." (RTJ 193/858, Rel.
Min. CEZAR PELUSO)

8.41. Cabimento de nova ADI por inconstitucionalidade material contra ato normativo já
reconhecido formalmente constitucional pelo STF – (Info 787) – IMPORTANTE!!! – (MPGO-
2016)

A Lei “X” foi questionada no STF por meio de ADI. Na ação, o autor afirmou que a lei
seria formalmente inconstitucional. O STF julgou a ADI improcedente, declarando a lei
constitucional. Quatro anos mais tarde, outro legitimado ajuíza nova ADI contra a Lei “X”,
mas desta vez alega que ela é materialmente inconstitucional.
Essa ação poderia ter sido proposta? O STF poderá, nesta segunda ação, declarar a lei
materialmente inconstitucional?
SIM. Na primeira ação, o STF não discutiu a inconstitucionalidade material da Lei “X”
(nem disse que ela era constitucional nem inconstitucional do ponto de vista material).
Logo, nada impede que uma segunda ADI seja proposta questionando, agora, a
inconstitucionalidade material da lei e nada impede que o STF decida declará-la
inconstitucional sob o aspecto material.
O fato de o STF ter declarado a validade formal de uma norma não interfere nem impede
que ele reconheça posteriormente que ela é materialmente inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 27/5/2015 (Info 787).

8.42. Efeitos da declaração de inconstitucionalidade e ação rescisória – (Info 787) –


IMPORTANTE!!! – (TJDFT-2016)

A decisão do STF que declara a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito


normativo não produz a automática reforma ou rescisão das decisões proferidas em outros
processos anteriores que tenham adotado entendimento diferente do que posteriormente
decidiu o Supremo.
Para que haja essa reforma ou rescisão, será indispensável a interposição do recurso
próprio ou, se for o caso, a propositura da ação rescisória própria, nos termos do art. 485, V,
do CPC 1973 (art. 966, V do CPC 2015), observado o prazo decadencial de 2 anos (art. 495
do CPC 1973 / art. 975 do CPC 2015).
Segundo afirmou o STF, não se pode confundir a eficácia normativa de uma sentença que
declara a inconstitucionalidade (que retira do plano jurídico a norma com efeito “ex tunc”)
com a eficácia executiva, ou seja, o efeito vinculante dessa decisão.
STF. Plenário. RE 730462/SP, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 28/5/15 (repercussão geral) (Info
787).

8.43. Cumulação de ADI com ADC – (Info 786) – IMPORTANTE!!!

O legitimado poderá ajuizar uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) requerendo a


inconstitucionalidade do art. XX da Lei ZZZ e, na mesma ação, pedir que o art. YY seja
declarado constitucional? É possível, em uma mesma ação, cumular pedido típico de ADI
com pedido típico de ADC?
SIM. O STF entendeu que é possível a cumulação de pedidos típicos de ADI e ADC em
uma única demanda de controle concentrado.
A cumulação de ações, neste caso, além de ser possível, é recomendável para a promoção
dos fins a que destinado o processo objetivo de fiscalização abstrata de
constitucionalidade, destinado à defesa, em tese, da harmonia do sistema constitucional.
A cumulação objetiva permite o enfrentamento judicial coerente, célere e eficiente de
questões minimamente relacionadas entre si.
Rejeitar a possibilidade de cumulação de ações, além de carecer de fundamento expresso
na Lei 9.868/1999, traria como consequência apenas o fato de que o autor iria propor
novamente a demanda, com pedido e fundamentação idênticos, ação que seria distribuída
por prevenção.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 21/5/2015 (Info 786).

8.44. Controvérsia judicial relevante – (Info 786)

A Lei 9.868/99, ao tratar sobre o procedimento da ADC, prevê, em seu art. 14, os requisitos
da petição inicial. Um desses requisitos exigidos é se demonstre que existe controvérsia
judicial relevante sobre a lei objeto da ação.
Em outras palavras, só cabe ADC se houver uma divergência na jurisprudência sobre a
constitucionalidade daquela lei, ou seja, é necessário que existam juízes ou Tribunais
decidindo que aquela lei é inconstitucional. Se não existirem decisões contrárias à lei, não
há razão para se propor a ADC.
É possível que uma lei, dias após ser editada, já seja objeto de ADC? É possível preencher
o requisito da “controvérsia judicial relevante” com poucos dias de vigência do ato
normativo?
SIM. Mesmo a lei ou ato normativo possuindo pouco tempo de vigência, já é possível
preencher o requisito da controvérsia judicial relevante se houver decisões julgando essa
lei ou ato normativo inconstitucional.
O STF decidiu que o requisito relativo à existência de controvérsia judicial relevante é
qualitativo e não quantitativo. Em outras palavras, para verificar se existe a controvérsia
não se examina apenas o número de decisões judiciais. Não é necessário que haja muitas
decisões em sentido contrário à lei. Mesmo havendo ainda poucas decisões julgando
inconstitucional a lei já pode ser possível o ajuizamento da ADC se o ato normativo
impugnado for uma emenda constitucional (expressão mais elevada da vontade do
parlamento brasileiro) ou mesmo em se tratando de lei se a matéria nela versada for
relevante e houver risco de decisões contrárias à sua constitucionalidade se multiplicarem.
STF. Plenário. ADI 5316 MC/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 21/5/2015 (Info 786).

8.45. Impossibilidade de reabertura da discussão sobre a modulação se o Plenário já


discutiu e rejeitou a proposta, proclamando o resultado – (Info 780) – IMPORTANTE!!!

O STF, ao apreciar uma ADI, julgou que determinada lei é inconstitucional. No dia que
ocorreu o julgamento, havia apenas 10 Ministros presentes. Na oportunidade, discutiu-se
se deveria haver ou não a modulação dos efeitos da decisão. 7 Ministros votaram a favor,
mas como são necessários, no mínimo, 8 votos, a proposta de modulação foi rejeitada e o
resultado final do julgamento foi proclamado. No dia seguinte, o Ministro que estava
ausente compareceu à sessão e afirmou que era favorável à modulação dos efeitos da
decisão que declarou a lei inconstitucional no dia anterior.
Diante disso, indaga-se: é possível que o Plenário reabra a discussão sobre a modulação?
NÃO. Depois da proclamação do resultado final, o julgamento deve ser considerado
concluído e encerrado e, por isso, mostra-se inviável a sua reabertura para discutir
novamente a modulação dos efeitos da decisão proferida.
A análise da ação direta de inconstitucionalidade é realizada de maneira bifásica:
a) primeiro, o Plenário decide se a lei é constitucional ou não; e
b) em seguida, se a lei foi declarada inconstitucional, discute-se a possibilidade de
modulação dos efeitos.
Uma vez encerrado o julgamento e proclamado o resultado, inclusive com a votação sobre
a modulação (que não foi alcançada), não há como reabrir o caso, ficando preclusa a
possibilidade de reabertura para deliberação sobre a modulação dos efeitos.
STF. Plenário. ADI 2949 QO/MG, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o acórdão Min.
Marco Aurélio, julgado em 8/4/2015 (Info 780).

8.46. Quórum de sessão e discussão sobre a recepção de lei ou ato normativo – (Info 769)

No STF, para que seja iniciada a sessão de julgamento onde será votada a
constitucionalidade de uma lei ou ato normativo é necessário que estejam presentes no
mínimo 8 Ministros. Se houver 7, por exemplo, a discussão não pode sequer ser iniciada
(art. 143, parágrafo único, do art. 143 do RISTF). A isso chamamos de quórum de sessão (ou
quórum para julgamento/votação).
Essa exigência de quórum para julgamento não se aplica caso o STF esteja analisando a
recepção ou não de uma lei ou ato normativo. Isso porque não haverá, nesse caso, controle
(juízo) de constitucionalidade. Trata-se apenas de discussão em torno de direito pré-
constitucional.
Assim, por exemplo, mesmo estando presentes apenas 7 Ministros, o STF poderá discutir
se uma lei foi ou não recepcionada pela CF/88.
STF. Plenário. RE 658312/SC, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 27/11/2014 (Info 769).

8.47. Relator poderá decidir pela inconstitucionalidade se já houver pronunciamento do


plenário – (Info 761) – (TJSP-2014) (Anal. Judic./TJDFT-2015)

Se já houve pronunciamento anterior, emanado do Plenário do STF ou do órgão


competente do TJ local declarando determinada lei ou ato normativo inconstitucional, será
possível que o Tribunal julgue que esse ato é inconstitucional de forma monocrática (um
só Ministro) ou por um colegiado que não é o Plenário (uma câmara, p. ex.), sem que isso
implique violação à cláusula da reserva de plenário.
Ora, se o próprio STF, ou o Plenário do TJ local, já decidiram que a lei é inconstitucional,
não há sentido de, em todos os demais processos tratando sobre o mesmo tema, continuar
se exigindo uma decisão do Plenário ou do órgão especial. Nesses casos, o próprio Relator
monocraticamente, ou a Câmara (ou Turma) tem competência para aplicar o entendimento
já consolidado e declarar a inconstitucionalidade da lei ou ato normativo.
STF. 2ª Turma. Rcl 17185 AgR/MT, Rel. Min. Celso de Mello, j. 30/9/14 (Info 761).
(Anal. Judic./TJDFT-2015-CESPE): O STF, mitigando norma constitucional, entende que é
dispensável a submissão da demanda judicial à regra da reserva de plenário quando a
decisão do tribunal basear-se em jurisprudência do plenário ou em súmula do STF. BL:
art. 949, § único do CPC e Info 761 do STF.

8.48. Julgamento monocrático do RE pelo Ministro Relator – (Info 759) – IMPORTANTE!!!


– (Advogado-IEMA/ES-2007)

O Tribunal de Justiça julga as ações de controle concentrado de constitucionalidade em


âmbito estadual.
Se o parâmetro, ou seja, a norma da Constituição Estadual que foi apontada como violada,
for uma norma de reprodução obrigatória, caberá recurso extraordinário contra o acórdão
do TJ.
Chegando esse RE na Corte Suprema, o Ministro Relator poderá, monocraticamente, negar
provimento ao recurso se a decisão impugnada estiver de acordo com pacífica
jurisprudência do STF sobre o tema.
STF. Plenário. RE 376440 ED/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 18/9/2014 (Info 759)
(Advogado-IEMA/ES-2007-CESPE): A existência de normas de reprodução obrigatória
nas constituições estaduais possibilita a interposição de recurso extraordinário para o STF.

8.49. Membro do MPT tem legitimidade para interpor RE contra decisões do TST – (Info
759)

O MPT não pode atuar diretamente no STF.


O exercício das funções do MPU (dentre os quais se inclui o MPT) junto ao STF cabe
privativamente ao Procurador-Geral da República.
Quando se diz que o MPT não pode atuar diretamente no STF isso significa que não pode
ajuizar ações originárias no STF nem pode recorrer contra decisões proferidas por essa
Corte.
Importante esclarecer, no entanto, que o membro do MPT pode interpor recurso
extraordinário, a ser julgado pelo STF, contra uma decisão proferida pelo TST.
STF. Plenário. RE 789874/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 17/9/14 (repercussão geral) (Info
759).

8.50. Regimento Interno de Assembleia Legislativa pode ser objeto de ADI – (Info 747)
Dispositivo de Regimento Interno de uma Assembleia Legislativa pode ser impugnado no
STF por meio de ADI, desde que possua caráter normativo e autônomo. É o caso, por
exemplo, de um artigo do Regimento Interno que preveja o pagamento de remuneração
aos Deputados Estaduais em virtude de convocação para sessão extraordinária.
STF. Plenário. ADI 4587/GO, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 22/5/2014 (Info
747)

8.51. Abstrativização do controle difuso – (Info 740)

O STF não acolhe a teoria da abstrativização do controle difuso.


Não houve mutação constitucional do art. 52, X, da CF/88.
Para a maioria dos Ministros, a decisão em controle difuso continua produzindo, em regra,
efeitos apenas inter partes e o papel do Senado é o de amplificar essa eficácia,
transformando em eficácia erga omnes.
STF. Plenário. Rcl 4335/AC, rel. Min. Gilmar Mendes, j. 20/3/2014 (Info 740).

8.52. CE pode prever que o ato impugnado em ADI seja defendido pelo Procurador-Geral
do Estado ou pelo Procurador-Geral da ALE – (Info 736)

Não é inconstitucional norma da Constituição do Estado que atribui ao Procurador da


Assembleia Legislativa ou, alternativamente, ao Procurador-Geral do Estado, a
incumbência de defender a constitucionalidade de ato normativo estadual questionado em
controle abstrato de constitucionalidade na esfera de competência do Tribunal de Justiça.
Essa previsão não afronta o art. 103, § 3º da CF/88 já que não existe, quanto a isso, um
dever de simetria para com o modelo federal.
Ademais, essa norma estadual não viola o art. 132 da CF/88 uma vez que a atuação do
Procurador-Geral da ALE nos processos de controle de constitucionalidade não se
confunde com o papel de representação judicial do Estado, esse sim de exclusividade da
Procuradoria-Geral do Estado.
STF. Plenário. ADI 119/RO, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/2/2014 (Info 736).

8.53. Decisão administrativa de TJ que estende gratificação a todos os servidores do


Judiciário estadual pode ser objeto de ADI – (Info 734) – IMPORTANTE!!! (MPGO-2016)

O Plenário do TJRN, em um processo administrativo envolvendo dois servidores do Poder


Judiciário, reconheceu que eles teriam direito a determinada gratificação e, além disso,
estendeu esse mesmo benefício para todos os demais servidores do Tribunal que
estivessem em situação análoga.
O STF decidiu que essa decisão administrativa poderia ser objeto de ADI porque ela teve
conteúdo normativo, com generalidade e abstração.
Quanto ao mérito, o STF decidiu que a decisão administrativa do TJ foi inconstitucional
por violar a necessidade de lei para concessão da gratificação (art. 37, X), por implicar em
equiparação remuneratória entre os servidores (art. 37, XIII) e por violar o entendimento
exposto na Súmula 339 do STF.
STF. Plenário. ADI 3202/RN, rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/2/2014 (Info 734).
(MPGO-2016): Podem ser objeto de ação direta de inconstitucionalidade as decisões
proferidas em processo administrativo, quando a extensão dessas mesmas decisões seja tal
que as torne um verdadeiro ato administrativo normativo genérico. BL: Info 734 do STF.

8.54. É inconstitucional emenda parlamentar que institua gratificação para servidores


públicos em projeto de lei de iniciativa do Executivo – (Info 734)

O Governador do Estado enviou um projeto de lei para a ALE tratando sobre servidores
públicos estaduais e, por meio de uma emenda parlamentar, foi inserida determinada
gratificação.
O STF considerou essa previsão inconstitucional por violar o art. 63, I, da CF/88, que
também se aplica na esfera estadual.
STF. Plenário. ADI 4759 MC/BA, rel. Min. Marco Aurélio, j. 5/2/2014 (Info 734).
8.55. Mandado de segurança contra projeto de lei supostamente inconstitucional – (Info
711) – IMPORTANTE!!! – (TJDFT-2014) (TJSP-2015)

É possível que o STF, ao julgar MS impetrado por parlamentar, exerça controle de


constitucionalidade de projeto que tramita no Congresso Nacional e o declare
inconstitucional, determinando seu arquivamento?
Em regra, não.
Existem duas exceções nas quais o STF pode determinar o arquivamento da propositura:
a) Proposta de emenda constitucional que viole cláusula pétrea;
b) Proposta de emenda constitucional ou projeto de lei cuja tramitação esteja ocorrendo
com violação às regras constitucionais sobre o processo legislativo.
STF. Plenário. MS 32033/DF, rel. orig. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o acórdão Min. Teori
Zavascki, j. 20/6/13 (Info 711).
(TJSP-2015-VUNESP): Por meio de mandado de segurança preventivo, Vereador
pretende obter ordem judicial obstando a tramitação de projeto de lei municipal que
disciplina, no âmbito do Município, como deve ser ministrado o ensino religioso.
Adotando como referência o decidido pelo STF no julgamento do MS 32033/DF, é correto
afirmar que não é cabível o controle preventivo de constitucionalidade material das
normas em curso de formação. BL: Info 711, STF.

(TJDFT-2014-CESPE): No que se refere à impetração de mandado de segurança por vício


de inconstitucionalidade e ao ajuizamento de ADI contra PEC em tramitação no
Congresso Nacional, assinale a opção correta: Somente parlamentar tem legitimidade para
impetrar mandamus contra atos ditos incompatíveis com disposições constitucionais sobre
processo legislativo e praticados durante o trâmite de PEC. BL: Info 711, STF.

OBS:
Regra: em regra, não se deve admitir a propositura de ação judicial para se realizar o controle
de constitucionalidade prévio dos atos normativos.

Exceções: Há duas exceções em que é possível o controle de constitucionalidade prévio


realizado pelo Poder Judiciário:
a) caso a proposta de emenda à Constituição seja manifestamente ofensiva à
cláusula pétrea; e
b) na hipótese em que a tramitação do projeto de lei ou de emenda à
Constituição violar regra constitucional que discipline o processo legislativo.

Nessas duas situações acima, o vício de inconstitucionalidade está diretamente relacionado


aos aspectos formais e procedimentais da atuação legislativa (regras de processo legislativo),
sendo, portanto, admitida a impetração de mandado de segurança com a finalidade de
corrigir tal vício, antes e independentemente da final aprovação da norma.

O caso concreto examinado pelo STF não se enquadrava em nenhuma dessas duas situações
excepcionais, pois não se tratava de emenda à Constituição e a tramitação deste projeto não
violou nenhuma regra constitucional sobre o processo legislativo.

Se fosse concedido o mandado de segurança, a consequência seria a universalização do


controle preventivo judicial de constitucionalidade, o que ultrapassa os limites
constitucionais da intervenção do Judiciário no processo de formação das leis.

Assim, a médio e longo prazo, haveria uma série de ações judiciais da mesma espécie perante
o STF, que passaria a atuar como uma espécie de terceiro participante das rodadas
parlamentares, e exerceria papel típico do Legislativo. O controle repressivo de
constitucionalidade (que atualmente é a regra) cederia espaço, então, ao controle preventivo
(que deve ser excepcional).

Por fim, deve-se ressaltar que as eventuais inconstitucionalidades do projeto poderiam ser
analisadas e resolvidas se e quando este fosse aprovado e se transformasse em lei.
No julgamento, ficaram vencidos os Min. Gilmar Mendes, relator, Dias Toffoli e Celso de
Mello, que concediam parcialmente o mandamus.

8.56. Modulação de efeitos em recurso extraordinário – (Info 695)

É possível a modulação dos efeitos da decisão proferida em recurso extraordinário com


repercussão geral reconhecida. Para que seja realizada esta modulação, exige-se o voto de
2/3 (dois terços) dos membros do STF (maioria qualificada).
STF. Plenário. RE 586453/SE, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, j. 20/2/13 (Info 695 STF).

8.57. O STF não admite a teoria da transcendência dos motivos determinantes

O STF não admite a “teoria da transcendência dos motivos determinantes”.


Não se pode utilizar a reclamação, que é uma via excepcional, como se fosse um incidente
de uniformização de jurisprudência.
STF. Primeira Turma. Rcl 11477 AgR/CE, rel. Min. Marco Aurélio, j. 29/5/12 (Info 668 STF).

8.58. Possibilidade de o STF modificar entendimento firmado em controle concentrado

As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo STF, em ADI e ADC, produzem eficácia
contra todos e efeito vinculante. Tais efeitos não vinculam, contudo, o próprio STF.
Assim, se o STF decidiu, em uma ADI ou ADC, que determinada lei é
CONSTITUCIONAL, a Corte poderá, mais tarde, mudar seu entendimento e decidir que
esta mesma lei é INCONSTITUCIONAL por conta de mudanças no cenário jurídico,
político, econômico ou social do país.
As sentenças contêm implicitamente a cláusula rebus sic stantibus, de modo que as
alterações posteriores que alterem a realidade normativa, bem como eventual modificação
da orientação jurídica sobre a matéria, podem tornar inconstitucional norma
anteriormente considerada legítima (“inconstitucionalidade superveniente”) (obs: a
expressão inconstitucionalidade superveniente foi utilizada aqui em sentido diferente da
situação em que uma lei anterior à CF/88 torna-se incompatível com o novo Texto
Constitucional. Os autores afirmam que neste caso houve uma “não recepção”, não se
podendo falar em “inconstitucionalidade superveniente”).
Esta mudança de entendimento do STF sobre a constitucionalidade de uma norma pode
ser decidida durante o julgamento de uma reclamação constitucional.
STF. Plenário. Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18/4/2013.

8.59. O STF pode, por meio de reclamação, fazer a (re)intepretação de decisão proferida em
controle de constitucionalidade abstrato

É possível que o STF, por meio de reclamação, faça a (re)interpretação de decisão proferida
em controle de constitucionalidade abstrato.
Ao julgar uma reclamação, o STF realiza um juízo de confronto e de adequação entre o
objeto (ato impugnado) e o parâmetro (decisão do STF tida por violada). Isso pode fazer
com que se conclua pela necessidade de redefinição do conteúdo e do alcance do
parâmetro (decisão que havia sido proferida).
Ao analisar uma reclamação, o STF faz uma espécie de “balançar de olhos” (expressão
cunhada por Karl Engisch) entre o ato impugnado (objeto) e que havia sido decidido
(parâmetro) e poderá chegar a conclusão diferente do que já tinha deliberado
anteriormente.
É por meio da reclamação, portanto, que as decisões do STF permanecem abertas a esse
constante processo hermenêutico de reinterpretação realizado pelo próprio Tribunal.
A reclamação, dessa forma, constitui um instrumento para a realização de mutação
constitucional e de inconstitucionalização de normas que muitas vezes podem levar à
redefinição do conteúdo e do alcance, e até mesmo à superação, total ou parcial, de uma
antiga decisão.
STF. Plenário. Rcl 4374/PE, rel. Min. Gilmar Mendes, 18/4/2013.

8.60. Inadmissibilidade da tese das normas constitucionais inconstitucionais, isto é,


aquelas advindas do Poder Constituinte Originário – (MPGO-2016)
A tese de que há hierarquia entre normas constitucionais originarias dando azo a
declaração de inconstitucionalidade de umas em face de outras e incompossível com o
sistema de Constituição rígida.
Na atual Carta Magna "compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da
Constituição" (artigo 102, "caput"), o que implica dizer que essa jurisdição lhe e atribuída
para impedir que se desrespeite a Constituição como um todo, e não para, com relação a
ela, exercer o papel de fiscal do Poder Constituinte originário, a fim de verificar se este
teria, ou não, violado os princípios de direito suprapositivo que ele próprio havia incluído
no texto da mesma Constituição.
Por outro lado, as cláusulas pétreas não podem ser invocadas para sustentação da tese da
inconstitucionalidade de normas constitucionais inferiores em face de normas
constitucionais superiores, porquanto a Constituição as prevê apenas como limites ao
Poder Constituinte derivado ao rever ou ao emendar a Constituição elaborada pelo Poder
Constituinte originário, e não como abarcando normas cuja observância se impôs ao
próprio Poder Constituinte originário com relação as outras que não sejam consideradas
como clausulas pétreas, e, portanto, possam ser emendadas.
STF. Tribunal Pleno. ADI 815/DF, rel. Min. Moreira Alves, j. em 28/03/96.

(TJRJ-2016-VUNESP): No que se refere à Teoria das Normas Constitucionais


Inconstitucionais, é correto afirmar, segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal,
que não há hierarquia entre normas constitucionais do Poder Constituinte Originário,
tendo em vista o princípio da unidade hierárquico-normativa e caráter rígido da
Constituição. BL: ADI 815/DF.

(MPGO-2016): A tese de que há hierarquia entre normas constitucionais originárias,


permitindo, assim, a declaração de inconstitucionalidade de umas em face de outras, é
rejeitada pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal.

8.61. Desnecessidade de manifestação do Advogado-Geral da União em Ação Direta de


Inconstitucionalidade por Omissão – (SEM INFO) – (TJDFT-2007)

Segundo o STF, não é necessária a manifestação do Advogado-Geral da União (art. 103, §


3º, da CF/88) em ação direta de inconstitucionalidade por omissão.
STF. Tribunal Pleno. ADI 480, Rel. Min. PAULO BROSSARD, j. 13/10/1994.
OBS: O AGU não se manifesta em caso de ADO simplesmente porque não há texto
impugnado.

9. IRRESPONSABILIDADE PENAL RELATIVA


9.1. Impossibilidade de aplicação do art. 86, § 4º, da CF/88 a outras autoridades – (Info
816) – IMPORTANTE!!!

Não é possível aplicar o art. 86, § 4º, da CF/88 para o Presidente da Câmara dos Deputados,
considerando que a garantia prevista neste dispositivo é destinada expressamente ao chefe
do Poder Executivo da União (Presidente da República).
Desse modo, por se tratar de um dispositivo de natureza restritiva, não é possível
qualquer interpretação que amplie a sua incidência a outras autoridades, notadamente do
Poder Legislativo.
STF. Plenário. Inq 3983/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 02 e 03/03/2016 (Info 816).
OBS:
Art. 86 (...) § 4º - O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser
responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.

Este dispositivo traz duas regras:


 Regra 1: o Presidente da República, durante o seu mandato, não pode ser denunciado,
processado ou condenado por infrações penais (crimes/contravenções) que não tenham
relação com seu cargo, ou seja, com as funções por ele desempenhadas.
Ex1: se o Presidente da República, em um momento de lazer, sair para dar uma volta de
moto, atropelar e matar culposamente um pedestre, ele não irá responder por este crime
enquanto for Presidente porque o fato é estranho ao exercício de suas funções. Depois que
terminar o mandato, o Ministério Público poderá oferecer normalmente denúncia contra
ele.
Ex2: imagine que se descobre que, antes de assumir o cargo de Presidente da República,
ele praticou, como Ministro de Estado, corrupção passiva. Ao assumir o cargo de
Presidente, a apuração ou o processo relacionado com este crime deverá ficar suspenso
porque também é estranho ao exercício de suas funções (não tem nada a ver com sua
condição de Presidente).
Apesar de o texto constitucional não falar isso, a doutrina entende que, enquanto a
persecução penal estiver sobrestada aguardando o término do mandato, o prazo
prescricional também ficará suspenso.

 Regra 2: o Presidente da República poderá ser responsabilizado pela prática de infrações


penais, mesmo antes do mandato terminar, se o delito cometido tiver relação com o
exercício de suas funções, ou seja, se foi praticado in officio (em ofício) ou propter
officium (em razão do ofício).
Ex: se o Presidente, valendo-se de seu cargo, comete corrupção passiva, ele poderá, após
autorização da Câmara dos Deputados (art. 51, I, da CF/88), ser denunciado pelo
Procurador-Geral da República e responder a processo criminal perante o STF, isso tudo
mesmo antes de seu mandato terminar.

Essa garantia é chamada de "irresponsabilidade penal relativa do Presidente da República".


Atenção para o fato de que o § 4º do art. 86 não trata sobre "crimes de responsabilidade", mas
sim sobre infrações penais comuns (crimes e contravenções).

Governadores e Prefeitos gozam da imunidade penal relativa prevista no § 4º do art. 86, da


CF/88? NÃO. "Por se tratar de exceção ao princípio republicano, esta prerrogativa somente
pode ser contemplada pela Constituição da República, não podendo ser estendida pelas
Constituições estaduais a Governadores e Prefeitos. A nosso ver, o caráter excepcional desta
norma impõe uma exegese estrita, o que impede a extensão desta imunidade temporária ao
Vice-Presidente." (NOVELINO, Marcelo. Manual de Direito Constitucional. São Paulo:
Método, 2014, p. 1326).

O Deputado Federal Eduardo Cunha foi denunciado pela prática de crimes e sua defesa pediu
suspensão do processo com base na aplicação, por analogia, do § 4º do art. 86, da CF/88,
considerando que ele é Presidente da Câmara dos Deputados. Tal pedido foi aceito pelo STF?
NÃO. É entendimento esposado no julgado acima, publicado no Info 816.

10. IMUNIDADE PARLAMENTAR


10.1. Assembleia Legislativa pode rejeitar a prisão preventiva e as medidas cautelares
impostas pelo Poder Judiciário contra Deputados Estaduais – (Info 939)

É constitucional resolução da Assembleia Legislativa que, com base na imunidade


parlamentar formal (art. 53, § 2º c/c art. 27, § 1º da CF/88), revoga a prisão preventiva e as
medidas cautelares penais que haviam sido impostas pelo Poder Judiciário contra
Deputado Estadual, determinando o pleno retorno do parlamentar ao seu mandato.
O Poder Legislativo estadual tem a prerrogativa de sustar decisões judiciais de natureza
criminal, precárias e efêmeras, cujo teor resulte em afastamento ou limitação da função
parlamentar.
STF. Plenário. ADI 5823 MC/RN, ADI 5824 MC/RJ e ADI 5825 MC/MT, rel. orig. Min.
Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, j. 8/5/2019 (Info 939).

10.2. Deputados Estaduais gozam das mesmas imunidades formais previstas para os
parlamentares federais no art. 53 da CF/88 – (Info 939)

São constitucionais dispositivos da Constituição do Estado que estendem aos Deputados


Estaduais as imunidades formais previstas no art. 53 da CF/1988 para Deputados Federais
e Senadores.
A leitura da Constituição da República revela, sob os ângulos literal e sistemático, que os
Deputados Estaduais também têm direito às imunidades formal e material e à
inviolabilidade que foram conferidas pelo constituinte aos congressistas (membros do
Congresso Nacional). Isso porque tais imunidades foram expressamente estendidas aos
Deputados pelo § 1º do art. 27 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 5823 MC/RN, ADI 5824 MC/RJ e ADI 5825 MC/MT, rel. orig. Min.
Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, j. 8/5/19 (Info 939).

10.3. Judiciário pode impor aos parlamentares as medidas cautelares do art. 319 do CPP, no
entanto, a respectiva Casa legislativa pode rejeitá-las (caso Aécio Neves) – (Info 881) –
IMPORTANTE!!!

O Poder Judiciário possui competência para impor aos parlamentares, por autoridade
própria, as medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP, seja em substituição de prisão
em flagrante delito por crime inafiançável, por constituírem medidas individuais e
específicas menos gravosas; seja autonomamente, em circunstâncias de excepcional
gravidade.
Obs: no caso de Deputados Federais e Senadores, a competência para impor tais medidas
cautelares é do STF (art. 102, I, “b”, da CF/88).

Importante, contudo, fazer uma ressalva: se a medida cautelar imposta pelo STF
impossibilitar, direta ou indiretamente, que o Deputado Federal ou Senador exerça o seu
mandato, então, neste caso, o Supremo deverá encaminhar a sua decisão, no prazo de 24
horas, à Câmara dos Deputados ou ao Senado Federal para que a respectiva Casa delibere
se a medida cautelar imposta pela Corte deverá ou não ser mantida.
Assim, o STF pode impor a Deputado Federal ou Senador qualquer das medidas
cautelares previstas no art. 319 do CPP. No entanto, se a medida imposta impedir, direta
ou indiretamente, que esse Deputado ou Senador exerça seu mandato, então, neste caso, a
Câmara ou o Senado poderá rejeitar (“derrubar”) a medida cautelar que havia sido
determinada pelo Judiciário.
Aplica-se, por analogia, a regra do §2º do art. 53 da CF/88 também para as medidas
cautelares diversas da prisão.
STF. Plenário. ADI 5526/DF, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 11/10/17 (Info 881).
OBS:
O Deputado Federal ou Senador pode ser preso antes da condenação definitiva?
 Regra: NÃO. Como regra, os membros do Congresso Nacional não podem ser presos
antes da condenação definitiva.
 Exceção: poderão ser presos caso estejam em flagrante delito de um crime
inafiançável.

Isso está previsto no art. 53, § 2º da CF/88:


Art. 53 (...) § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso
Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável.
Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa
respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a
prisão.

Pela redação literal do art. 53, § 2º da CF/88, o Deputado Estadual, o Deputado Federal e o
Senador somente poderão ser presos, antes da condenação definitiva, em uma única hipótese:
em caso de flagrante delito de crime inafiançável. Isso significa que, pela literalidade do
dispositivo constitucional, tais parlamentares não podem ter contra si uma ordem de prisão
preventiva. Trata-se da imunidade formal em relação à prisão, também chamada de
“incoercibilidade pessoal relativa” (freedom from arrest). As imunidades parlamentares são
prerrogativas conferidas pela CF/88 aos parlamentares para que eles possam exercer seu
mandato com liberdade e independência. Vale ressaltar que a imunidade prevista no art. 53,
§ 2º da CF/88 aplica-se não apenas para Deputados Federais e Senadores, mas também para
os Deputados Estaduais. Isso porque os Deputados Estaduais possuem as mesmas
imunidades que os parlamentares federais, por força do art. 27, § 1º da CF/88.

O Deputado Federal ou Senador pode ser preso se for condenado em processo criminal com
trânsito em julgado? SIM. O § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar
(provisória) do parlamentar, ou seja, não proíbe a prisão decorrente da sentença transitada
em julgado, como no caso de Deputado Federal condenado definitivamente pelo STF. STF.
Plenário. AP 396 QO/RO, AP 396 ED-ED/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 26/6/2013 (Info 712).

REGRA: Deputados Federais e Senadores não poderão ser presos.


Exceção 1: Exceção 2:
Poderão ser presos em flagrante de crime O Deputado ou Senador condenado por
inafiançável. sentença judicial transitada pode ser preso
para cumprir pena.
Trata-se de exceção prevista expressamente Trata-se de exceção construída pela
na CF/88. jurisprudência do STF.
Obs: os autos do flagrante serão remetidos, Poderíamos ter, em tese, a esdrúxula
em até 24h, à Câmara ou ao Senado, para situação de um Deputado condenado ao
que se decida, pelo voto aberto da maioria regime semiaberto que, durante o dia vai
de seus membros, pela manutenção ou não até o Congresso Nacional trabalhar e,
da prisão do parlamentar. durante a noite, fica recolhido no presídio.

Obs: existe divergência na doutrina sobre a possibilidade de o Deputado ou Senador ser


preso por conta de atraso no pagamento da pensão alimentícia (prisão civil). Admitem: Uadi
Bulos e Marcelo Novelino. Não admitem: Pedro Lenza e Bernardo Fernandes. Não há
precedente do STF sobre o tema.

Em suma, pode-se dizer que o § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar
(provisória) do parlamentar, ou seja, não proíbe a prisão decorrente da sentença transitada
em julgado, como foi a hipótese do ex-Deputado Federal Natan Donadon, condenado pelo
STF na AP 396/RO.

Medidas cautelares diversas da prisão: A prisão preventiva é uma espécie de “prisão


cautelar”. A prisão cautelar, por sua vez, é uma das espécies de “medida cautelar”. Assim,
além da prisão existem outras espécies de medidas cautelares. As medidas cautelares são
providências urgentes que devem ser decretadas na fase pré-processual ou durante o
processo penal com o objetivo de assegurar a apuração do fato delituoso, a instrução
processual, a aplicação da sanção penal, a proteção da ordem pública ou o ressarcimento do
dano causado pelo delito. Como já disse, a prisão processual é uma espécie de medida
processual. As demais medidas cautelares diversas da prisão estão elencadas no art. 319 do
CPP:
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:
I - comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo
juiz, para informar e justificar atividades;
II - proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer
distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;
III - proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela
permanecer distante;
IV - proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja
conveniente ou necessária para a investigação ou instrução;
V - recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o
investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza
econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a
prática de infrações penais;
VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com
violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou
semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração;
VIII - fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a
atos do processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência
injustificada à ordem judicial;
IX - monitoração eletrônica.

Segundo o art. 53, § 2º da CF/88, o Deputado ou Senador não pode ser preso antes do trânsito
em julgado, salvo prisão em flagrante de crime inafiançável. Assim, pelo texto da
Constituição, o Judiciário não pode decretar a prisão preventiva de um Deputado ou
Senador. E quanto às demais medidas cautelares? O Judiciário pode decretar medidas
cautelares diversas da prisão (art. 319 do CPP) em desfavor de Deputados ou Senadores que
estejam sendo investigados ou que sejam réus? SIM.

Medidas cautelares que impossibilitem direta ou indiretamente o exercício do mandato:


Importante fazer uma ressalva: se a medida cautelar imposta pelo STF impossibilitar, direta
ou indiretamente, que o Deputado Federal ou Senador exerça o seu mandato, então, neste
caso, o Supremo deverá encaminhar a sua decisão, no prazo de 24 horas, à Câmara dos
Deputados ou ao Senado Federal para que a respectiva Casa delibere se a medida cautelar
imposta pela Corte deverá ou não ser mantida. Assim, o STF pode impor a Deputado
Federal ou Senador qualquer das medidas cautelares previstas no art. 319 do CPP. No
entanto, se a medida imposta impedir, direta ou indiretamente, que esse Deputado ou
Senador exerça seu mandato, então, neste caso, a Câmara ou o Senado poderá afastar
(“derrubar”) a medida cautelar que havia sido determinada pelo Poder Judiciário.

Exemplo: O Senador Aécio Neves é alvo de diversas investigações criminais. A pedido do


PGR, o STF impôs ao investigado que cumprisse as seguintes medidas cautelares diversas da
prisão:
• suspensão das suas funções como Senador (art. 319, VI);
• obrigação de recolhimento domiciliar noturno (art. 319, V);
• proibição de entrar em contato com outros investigados por qualquer meio (art. 319, III);
• proibição de se ausentar do país, com a entrega do passaporte (art. 319, IV).
O Senado Federal, aplicando o entendimento do STF na ADI 5526/DF acima explicada,
entendeu que as medidas cautelares impostas a Aécio Neves impossibilitavam que ele
exercesse o seu mandato parlamentar. Em razão disso, o Senado se reuniu e decidiu rejeitar
as medidas cautelares que haviam sido impostas pelo STF em desfavor de Aécio Neves.

De onde o STF tirou essa conclusão de que deveria encaminhar a sua decisão para o
Parlamento avaliar se deveria ou não ser mantida? Do art. 53, § 2º da CF/88:
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não
poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso (ou
seja, na hipótese de o parlamentar ser preso), os autos serão remetidos dentro de
vinte e quatro horas à Casa respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus
membros, resolva sobre a prisão.

Mas o art. 53, § 2º da CF/88 fala em resolver sobre a “prisão” e não sobre “medidas
cautelares” do art. 319 do CPP...: O STF entendeu que o mesmo raciocínio que vale para a
prisão dos parlamentares deve ser aplicado também no caso de medidas cautelares. O art. 53,
§ 2º da CF/88 foi pensado com um objetivo, qual seja, o de fazer com que o parlamentar
somente fosse afastado do exercício de seu mandato conferido pelo povo em uma única
hipótese: prisão em flagrante delito por crime inafiançável. Dessa forma, esta norma
constitucional estabeleceu, implicitamente, a impossibilidade de qualquer outro tipo de
prisão cautelar. Diante disso, o STF entendeu que impor ao Deputado ou Senador medidas
cautelares que impeçam o exercício do mandato seria uma forma de violar a imunidade
formal que protege o livre exercício do mandato parlamentar contra interferências externas.
Assim, a decisão do Poder Judiciário que aplique medida cautelar que impossibilite direta ou
indiretamente o exercício regular do mandato legislativo deve ser submetida ao controle
político da Casa Legislativa respectiva, nos termos do art. 53, § 2º, da CF/88.
Obs: o resultado deste julgamento ocorreu por apertada maioria (6x5).

Houve uma mudança de entendimento do STF? SIM. Em 2016, o Plenário do STF aplicou a
medida cautelar do inciso VI do art. 319 do CPP e afastou o Eduardo Cunha do seu cargo de
Deputado Federal e da função de Presidente da Câmara dos Deputados durante a tramitação
dos inquéritos que ele respondia. Naquela ocasião, o STF afastou Cunha do cargo e não
cogitou dar à Câmara dos Deputados a possibilidade de reverter essa decisão. Em outras
palavras, no caso de Cunha, o STF impôs a medida cautelar e o Parlamento não pode se
manifestar sobre isso. STF. Plenário. AC 4070/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em
5/5/2016 (Info 579).

A posição manifestada pelo STF na ADI 5526/DF (poder do Parlamento de dar a última
palavra sobre as medidas cautelares) aplica-se também aos Deputados Estaduais? O STF
não apreciou este tema. No entanto, penso que o entendimento pode sim valer também para
os Parlamentares estaduais. Isso porque o art. 27, § 1º da CF/88 determina que deverão ser
aplicadas aos Deputados Estaduais as mesmas regras previstas para os Deputados Federais e
Senadores relacionadas com inviolabilidade, imunidades, perda de mandato, licença,
impedimentos, entre outros.

10.4. IMUNIDADE MATERIAL: Imunidade material alcança o delito do art. 3º da Lei


7.492/86 (“divulgar informação falsa ou prejudicialmente incompleta sobre instituição
financeira”) – (Info 865)

Deputado Estadual que, ao defender a privatização de banco estadual, presta declarações


supostamente falsas sobre o montante das dívidas dessa instituição financeira não comete
o delito do art. 3º da Lei nº 7.492/86, estando acobertado pela imunidade material.
STF. 1ª Turma. HC 115397/ES, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 16/5/17 (Info 865).
OBS:
Art. 3º Divulgar informação falsa ou prejudicialmente incompleta sobre
instituição financeira:
Pena - Reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.

O objetivo do legislador, ao prever este tipo penal, foi o de proteger a confiança no sistema
financeiro. Isso porque “a divulgação de uma informação falsa sobre a saúde da instituição
financeira pode provocar a corrida dos correntistas à instituição para sacarem seus valores,
trazendo prejuízo efetivo à instituição e ao sistema”. (BALTAZAR JUNIOR, José Paulo.
Crimes federais. 9ª ed., São Paulo: Saraiva, 2016, p. 636).

O STF apontou dois argumentos para absolver o ex-Deputado:


1) Ausência de dolo
A declaração do ex-parlamentar demonstrou apenas sua satisfação com o fato de o Banco ser
privatizado, o que geraria desoneração de dívida do Estado. Dessa forma, não se percebe que
esteja presente o dolo de divulgar informação falsa ou incompleta sobre a instituição
financeira. Nas palavras do Min. Marco Aurélio:
“Não ficou configurado na conduta o dolo de divulgar informação falsa ou incompleta
sobre instituição financeira, inclusive porque as afirmações do deputado fizeram-se
ligadas a análises de operações realizadas pelo banco. O que consignado nas entrevistas
evidenciou a opinião do parlamentar quanto à viabilidade da privatização.”

2) Imunidade material
A entrevista concedida tinha relação direta com o cargo de Deputado Estadual que, à época,
era ocupado pelo réu. Isso se mostra ainda mais evidente pelo fato de que as declarações
foram prestadas dentro da Assembleia Legislativa, reforçando que se tratou de uma
manifestação do exercício de suas prerrogativas de parlamentar. Em virtude disso, não se
pode dizer que tenha havido crime porque o acusado agiu acobertado pela imunidade
material prevista no art. 53 da CF/88:
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por
quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.

A CF/88, ao tratar sobre as imunidades, no art. 53 fala sobre Deputados Federais e


Senadores. Indaga-se: os Deputados Estaduais e os Vereadores também gozam das mesmas
imunidades?

Deputados Estaduais Vereadores


SIM. A CF/88 determina que os Deputados Os Vereadores gozam de inviolabilidade
Estaduais possuem as mesmas imunidades por suas opiniões, palavras e votos no
que os parlamentares federais (art. 27, § 1º). exercício do mandato e na circunscrição do
Logo, os Deputados Estaduais gozam tanto Município (art. 29, VIII).
da imunidade material como formal.
Resumindo:
• Imunidade formal: NÃO gozam;
• Imunidade material: possuem, mas desde
que relacionada ao mandato e por
manifestações promovidas dentro do
Município.

10.5. Deputado que, em entrevista à imprensa, afirma que determinada Deputada "não
merece ser estuprada" não está protegido pela imunidade material – (Info 831)

A imunidade parlamentar material (art. 53 da CF/88) protege os Deputados Federais e


Senadores, qualquer que seja o âmbito espacial (local) em que exerçam a liberdade de
opinião. No entanto, para isso é necessário que as suas declarações tenham conexão
(relação) com o desempenho da função legislativa ou tenham sido proferidas em razão
dela.
Para que as afirmações feitas pelo parlamentar possam ser consideradas como
"relacionadas ao exercício do mandato", elas devem ter, ainda de forma mínima, um teor
político.
Exemplos de afirmações relacionadas com o mandato: declarações sobre fatos que estejam
sendo debatidos pela sociedade; discursos sobre fatos que estão sendo investigados por
CPI ou pelos órgãos de persecução penal (Polícia, MP); opiniões sobre temas que sejam de
interesse de setores da sociedade, do eleitorado, de organizações ou grupos representados
no parlamento etc.
Palavras e opiniões meramente pessoais, sem relação com o debate democrático de fatos
ou ideias não possuem vínculo com o exercício das funções de um parlamentar e, portanto,
não estão protegidos pela imunidade material.
No caso concreto, as palavras do Deputado Federal dizendo que a parlamentar não
merecia ser estuprada porque seria muito feia não são declarações que possuem relação
com o exercício do mandato e, por essa razão, não estão amparadas pela imunidade
material.
STF. 1ª Turma. Inq 3932/DF e Pet 5243/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 21/6/16 (Info 831).
OBS:
A situação analisada, com adaptações, foi a seguinte: O Deputado Federal Jair Bolsonaro
(PSC-RJ), durante uma discussão no plenário da Câmara, afirmou que a também Deputada
Federal, Maria do Rosário (PT-RS), “não merece ser estuprada”. No dia seguinte, em
entrevista concedida em seu gabinete ao jornal "Zero Hora", Bolsonaro reiterou as
declarações, dizendo que Maria do Rosário “não merece ser estuprada por ser muito ruim,
muito feia, não faz meu gênero”. E acrescentou que, se fosse estuprador, "não iria estuprá-la
porque ela não merece".

Denúncia e queixa-crime: O Procurador-Geral da República ofereceu denúncia contra o


parlamentar afirmando que ele, ao fazer essas declarações, teria incentivado o crime de
estupro, incorrendo, portanto, no delito do art. 286 do CP:
Incitação ao crime
Art. 286. Incitar, publicamente, a prática de crime:
Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.

Além disso, a Deputada ajuizou contra ele queixa-crime sob a alegação de que teria sido
vítima de injúria:
Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena - detenção, de um a seis meses, ou multa.

Defesa do Deputado: A defesa argumentou que o parlamentar não cometeu qualquer crime
com seu comentário, considerando estar acobertado pela imunidade material prevista no art.
53 da CF/88:
Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por
quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.

A denúncia e a queixa-crime foram recebidas pelo STF? Existem elementos indiciários para
se prosseguir com a ação penal? SIM.

Existe uma posição jurisprudencial no sentido de que as declarações proferidas pelo


parlamentar dentro do Congresso Nacional seriam sempre protegidas pela imunidade
parlamentar ainda que as palavras não tivessem relação com o exercício do mandato. Esse
entendimento existe mesmo? SIM. Há diversos julgados do STF afirmando que a imunidade
parlamentar material (art. 53 da CF/88) é absoluta quando as afirmações do Deputado ou
Senador sobre qualquer assunto ocorrem dentro do Congresso Nacional. A situação poderia
ser assim resumida:
 Ofensas feitas DENTRO do Parlamento: a imunidade é absoluta. O parlamentar é
imune mesmo que a manifestação não tenha relação direta com o exercício de seu
mandato.
 Ofensas feitas FORA do Parlamento: a imunidade é relativa. Para que o
parlamentar seja imune, é necessário que a manifestação feita tenha relação com o
exercício do seu mandato.

Este entendimento não poderia ser aplicado ao caso concreto, considerando que as palavras
e a entrevista foram dadas dentro das dependências da Câmara dos Deputados? O STF
afirmou que as declarações prestadas pelo Deputado dentro do plenário até poderiam estar
abarcadas por este entendimento. No entanto, no dia seguinte ele deu uma entrevista na qual
reafirmou as palavras. Portanto, neste momento, a imunidade não é absoluta.

Depois das declarações do Deputado, surgiu uma campanha na internet no qual várias
pessoas postaram a seguinte frase: "eu não mereço ser estuprada". A defesa do parlamentar
afirmou que, se as palavras dele incentivaram o estupro, então as mulheres que aderiram a
esse movimento também o teriam praticado porque o contexto seria o mesmo. O STF acolheu
este argumento? NÃO. Esta campanha se trata de uma crítica e repúdio às declarações do
parlamentar. O sentido conferido, na referida campanha, ao verbo “merecer” revela-se
oposto ao empregado pelo acusado nas manifestações que externara publicamente. Essas
mensagens buscaram restabelecer o sentimento social de que o estupro é uma crueldade
intolerável.

Injúria: Por fim, o STF afirmou que as declarações do Deputado atingiram a honra subjetiva
da Deputada, porque rebaixaram sua dignidade moral, expondo sua imagem à humilhação
pública, além de associar as características da mulher à possibilidade de ser vítima de
estupro.

Tese da retorsão imediata: Vale ressaltar que o Deputado ainda não foi condenado. Na
verdade, agora que se inicia o processo criminal e, após toda a instrução, o mérito das
acusações ainda será analisado. Importante destacar que o STF ainda não se manifestou sobre
um dos argumentos do Deputado, qual seja, o de que ele teria apenas se defendido de
prévias agressões verbais praticadas pela Deputada (tese da "retorsão imediata" ou da
"reação a injusta provocação"). O STF afirmou que esta alegação somente deveria ser
apreciada ao final do processo, após a instrução.

10.6. Imunidade material – (Info 810)

A imunidade parlamentar é uma proteção adicional ao direito fundamental de todas as


pessoas à liberdade de expressão, previsto no art. 5º, IV e IX, da CF/88. Assim, mesmo
quando desbordem e se enquadrem em tipos penais, as palavras dos congressistas, desde
que guardem alguma pertinência com suas funções parlamentares, estarão cobertas pela
imunidade material do art. 53, “caput”, da CF/88.
STF. 1ª Turma. Inq 4088/DF e Inq 4097/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 1º/12/15 (Info 810).

10.7. Parlamentar só tem imunidade material por manifestações proferidas fora do


parlamento se tiverem relação direta com o exercício do mandato – (Info 763) –
IMPORTANTE!!!

A imunidade material de parlamentar (art. 53, “caput”, da CF/88) quanto a crimes contra a
honra só alcança as supostas ofensas irrogadas fora do Parlamento quando guardarem
conexão com o exercício da atividade parlamentar.
No caso concreto, determinado Deputado Federal afirmou, em seu blog pessoal, que certo
Delegado de Polícia teria praticado fato definido como prevaricação.
A 1ª Turma do STF recebeu a denúncia formulada contra o Deputado por entender que,
no caso concreto, deveria ser afastada a tese de imunidade parlamentar apresentada pela
defesa.
A Min. Rel. Rosa Weber ressaltou que a imunidade parlamentar material (art. 53 da CF/88)
só é absoluta quando as afirmações de um parlamentar sobre qualquer assunto ocorrem
dentro do Congresso Nacional. No entendimento da Ministra, fora do parlamento é
necessário que as afirmações tenham relação direta com o exercício do mandato. Na
hipótese, o STF entendeu que as declarações do Deputado não tinha relação direta com o
exercício de seu mandato.
STF. 1ª Turma. Inq 3672/RJ, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 14/10/2014 (Info 763).

10.8. Parlamentares não têm imunidade formal quanto à prisão em caso de condenação
definitiva – (Info 712)

O § 2º do art. 53 da CF/88 veda apenas a prisão penal cautelar (provisória) do parlamentar,


ou seja, não proíbe a prisão decorrente da sentença transitada em julgado, como no caso de
Deputado Federal condenado definitivamente pelo STF.
STF. Plenário. AP 396 QO/RO, AP 396 ED-ED/RO, rel. Min. Cármen Lúcia, 26/6/13 (Info
712).

11. PODER LEGISLATIVO


11.1. CPI: O investigado pode se recusar a comparecer na sessão da CPI na qual seria
ouvido? – (Info 942)

O investigado pode se recusar a comparecer na sessão da CPI na qual seria ouvido?


1ª corrente: SIM. Ministros Gilmar Mendes e Celso de Mello.
O comparecimento do investigado perante a CPI para ser ouvido é facultativo. Cabe a ele
decidir se irá ou não comparecer.
Se decidir comparecer, ele terá direito: a) ao silêncio; b) à assistência de advogado; c) de
não prestar compromisso de dizer a verdade; d) de não sofrer constrangimentos.
Caso o investigado não compareça, a CPI não pode determinar a sua condução coercitiva.
Aplica-se para as CPIs o mesmo entendimento da ADPF 395/DF.

2ª corrente: NÃO. Ministros Edson Fachin e Cármen Lúcia.


O comparecimento do investigado perante a CPI para ser ouvido é compulsório. Ele tem
que comparecer. No entanto, chegando lá, o investigado tem direito: a) ao silêncio; b) à
assistência de advogado; c) de não prestar compromisso de dizer a verdade; d) de não
sofrer constrangimentos.
Caso o investigado não compareça, a CPI poderia determinar a sua condução coercitiva.
Desse modo, tivemos dois votos favoráveis à tese de que o paciente não estava obrigado a
comparecer à CPI e dois votos contrários.
Em caso de empate, prevalece a decisão mais favorável ao paciente.
Assim, a 2ª Turma do STF concedeu a ordem de habeas corpus para transformar a
compulsoriedade de comparecimento em facultatividade e deixar a cargo do paciente a
decisão de comparecer ou não à Câmara dos Deputados, perante a CPI, para ser ouvido na
condição de investigado.
STF. 2ª T. HC 171438/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 28/5/19 (Info 942).

11.2. A condenação criminal transitada em julgado é suficiente, por si só, para acarretar a
perda automática do mandato eletivo de Deputado Federal ou de Senador? – (Info 863, 903 e
904) – IMPORTANTE!!! Atualize seus livros!!! – (Investigador de Polícia/PCMA-2018)

Se o STF condenar criminalmente um Deputado Federal ou Senador, haverá a perda


automática do mandato ou isso ainda dependerá de uma deliberação (decisão) da Câmara
ou do Senado, respectivamente? A condenação criminal transitada em julgado é suficiente,
por si só, para acarretar a perda automática do mandato eletivo de Deputado Federal ou de
Senador?
1ª Turma do STF: DEPENDE.
 Se o Deputado ou Senador for condenado a mais de 120 dias em regime fechado: a
perda do cargo será uma consequência lógica da condenação. Neste caso, caberá à
Mesa da Câmara ou do Senado apenas declarar que houve a perda (sem poder
discordar da decisão do STF), nos termos do art. 55, III e § 3º da CF/88.
 Se o Deputado ou Senador for condenado a uma pena em regime aberto ou
semiaberto: a condenação criminal não gera a perda automática do cargo. O
Plenário da Câmara ou do Senado irá deliberar, nos termos do art. 55, § 2º, da
CF/88, se o condenado deverá ou não perder o mandato.
STF. 1ª Turma. AP 694/MT, Rel. Min. Rosa Weber, j. 2/5/2017 (Info 863).
STF. 1ª Turma. AP 968/SP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 22/5/2018 (Info 903).

2ª Turma do STF: NÃO. A perda não é automática. A Casa é que irá deliberar.
O STF apenas comunica, por meio de ofício, à Mesa da Câmara dos Deputados ou do
Senado Federal informando sobre a condenação do parlamentar.
A Mesa da Câmara ou do Senado irá, então, deliberar (decidir) como entender de direito
(como quiser) se o parlamentar irá perder ou não o mandato eletivo, conforme prevê o art.
55, VI, § 2º, da CF/88.
Assim, mesmo com a condenação criminal, quem decide se haverá a perda do mandato é a
Câmara dos Deputados ou o Senado Federal.
STF. 2ª Turma. AP 996/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 29/5/2018 (Info 904) (obs: o Relator
Edson Fachin ficou vencido neste ponto).
OBS: O Código Penal prevê que a pessoa condenada criminalmente perderá o cargo, função
pública ou mandato eletivo que ocupe nos seguintes casos:
Art. 92. São também efeitos da condenação:
I – a perda de cargo, função pública ou mandato eletivo:
a) quando aplicada pena privativa de liberdade por tempo igual ou superior a
um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para
com a Administração Pública;
b) quando for aplicada pena privativa de liberdade por tempo superior a 4
(quatro) anos nos demais casos.

Ex: se um Prefeito é condenado criminalmente a 2 anos de detenção pela prática de um crime


contra a Administração Pública, no próprio acórdão já deverá constar a determinação,
fundamentada, de que ele perderá o mandato eletivo. Vale ressaltar que, para Prefeito, por
exemplo, não é necessária nenhuma outra providência adicional além da determinação na
decisão condenatória.

Assim, em caso de condenação criminal transitada em julgado, haverá a perda imediata do


mandato eletivo no caso de Vereadores, Prefeitos, Governadores e Presidente da
República.

Além da previsão expressa no Código Penal, a perda do mandato eletivo encontra


justificativa na CF/88. Isso porque, para a pessoa exercer um mandato eletivo, ela precisa
estar no pleno gozo de seus direitos políticos, e o indivíduo condenado criminalmente fica
com seus direitos políticos suspensos enquanto durarem os efeitos da condenação. Tal
conclusão está prevista expressamente no art. 15, III c/c art. 14, § 3º, II da CF/88:
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se
dará nos casos de:
III – condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos;

Art. 14 (...)
§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:
II – o pleno exercício dos direitos políticos;

A grande controvérsia reside no caso de condenação criminal de Deputados Federais e


Senadores. A discussão jurídica é a seguinte: Se o STF condenar criminalmente um Deputado
Federal ou Senador, haverá a perda automática do mandato ou isso ainda dependerá de uma
deliberação (decisão) da Câmara ou do Senado, respectivamente? A condenação criminal
transitada em julgado é suficiente, por si só, para acarretar a perda automática do mandato
eletivo de Deputado Federal ou de Senador? Existem três correntes principais a respeito do
tema:
 1ª corrente: NÃO: mesmo com a condenação criminal, quem decide se haverá a
perda do mandato é a Câmara dos Deputados ou o Senado Federal.

Para a primeira corrente, a regra do art. 15, III, da CF/88 não se aplica a Deputados Federais
e Senadores. Isto porque no caso desses parlamentares há uma norma específica que
excepciona a regra geral. Trata- se do art. 55, VI e § 2º da CF/88, que afirma expressamente
que a perda do cargo é decidida pela respectiva Casa legislativa. Confira:
Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador:
VI – que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado. (...)
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será DECIDIDA pela
Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta,
mediante provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no
Congresso Nacional, assegurada ampla defesa

Logo, para esta 1ª corrente, mesmo o Deputado Federal ou o Senador tendo sido condenado
criminalmente, com sentença judicial transitada em julgado, ele somente perderá o mandato
se assim DECIDIR a maioria absoluta da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal.

É a posição adotada pela 2ª Turma do STF: AP 996, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em
29/05/2018 (obs: o Relator Edson Fachin ficou vencido neste ponto).

 2ª corrente: SIM: se o STF condenar o parlamentar e determinar a perda do


mandato, a Câmara ou o Senado não mais irá decidir nada e deverá apenas
formalizar (cumprir) a perda que já foi decretada.

Para a segunda corrente, o § 2º do art. 55 da CF/88 não precisa ser aplicado em todos os casos
nos quais o Deputado ou Senador tenha sido condenado criminalmente, mas apenas nas
hipóteses em que a decisão condenatória não tenha decretado a perda do mandato
parlamentar por não estarem presentes os requisitos legais do art. 92, I, do CP ou se foi
proferida anteriormente à expedição do diploma, com o trânsito em julgado em momento
posterior. Em outras palavras:
1) Se na decisão condenatória o STF não determinou a perda do mandato eletivo, nos
termos do art. 92, I, do CP: a perda do mandato somente poderá ocorrer se a maioria
absoluta da Câmara ou do Senado assim votar (aplica-se o art. 55, § 2º da CF/88);
2) Se na decisão condenatória o STF determinou a perda do mandato eletivo, nos
termos do art. 92, I, do CP: a perda do mandato ocorrerá sem necessidade de votação
pela Câmara ou Senado (não se aplica o art. 55, § 2º).

O procedimento estabelecido no art. 55 da CF disciplina circunstâncias em que a perda de


mandato eletivo parlamentar pode ser decretada com base em juízo político. No entanto, esse
procedimento não é aplicável quando a aludida perda foi determinada em decisão do Poder
Judiciário como efeito irreversível da sentença condenatória.

Em outras palavras, se o STF determinou a perda do cargo, a Casa Legislativa deverá


simplesmente cumprir a decisão. Se o STF não determinou a perda do cargo, mesmo assim a
Casa Legislativa pode entender que não é correto manter um Deputado ou Senador com
mandato quando ele tiver sido condenado e decidir pela perda do cargo, com base no art. 55,
§ 2º, da CF/88.

Logo, para esta segunda corrente, se o Deputado Federal ou o Senador foi condenado
criminalmente, com sentença judicial transitada em julgado, o STF poderá determinar a
perda do mandato eletivo, nos termos do art. 92, I, do CP. Nessa hipótese, não será necessária
votação pela respectiva Casa (não se aplica o art. 55, § 2º da CF/88). A condenação já tem o
condão de acarretar a perda do mandato.

O STF já adotou esta corrente no julgamento do “Mensalão” (AP 470/MG, Rel. Min.
Joaquim Barbosa, julgado em 10 e 13/12/2012) (Info 692). No entanto, não representa mais o
entendimento da Corte. A composição dos Ministros da época já foi bastante modificada.

3ª corrente: DEPENDE:
 Se o Deputado ou Senador for condenado a mais de 120 dias em regime fechado: a
perda do cargo será uma consequência lógica da condenação. Neste caso, caberá à
Mesa da Câmara ou do Senado apenas declarar que houve a perda (sem poder
discordar da decisão do STF), nos termos do art. 55, III e § 3º da CF/88.
 Se o Deputado ou Senador for condenado a uma pena em regime aberto ou
semiaberto: a condenação criminal não gera a perda automática do cargo. O
Plenário da Câmara ou do Senado irá deliberar, nos termos do art. 55, § 2º, se o
condenado deverá ou não perder o mandato.

É a posição adotada pela 1ª Turma. Nesse sentido:


STF. 1ª T. AP 694/MT, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 2/5/2017 (Info 863).
STF. 1ª T. AP 863/SP, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 23/5/2017 (Info 866).

Se o Deputado ou Senador for condenado a mais de 120 dias em regime fechado, ele deverá
cumprir a pena em penitenciária e não poderá sair para trabalho externo. Logo, não poderá
frequentar o Congresso Nacional, devendo, por consequência, perder o mandato com base
no art. 55, III, da CF/88:
Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador: (...)
III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das
sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta
autorizada;

Esse inciso III prevê a perda do mandato ao parlamentar que, em cada sessão legislativa,
faltar a 1/3 das sessões ordinárias. Como a sessão legislativa é anual (equivalente a 1 ano),
1/3 significa 4 meses (120 dias). Logo, se o parlamentar irá ficar preso durante mais de 120
dias, ele não poderá comparecer às sessões neste período e, portanto, deverá ser declarada a
perda de seu mandato.

No caso deste inciso III, a perda do mandado é DECLARADA pela Mesa Diretora da
Câmara ou do Senado:
Art. 55 (...)
§ 3º - Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa
da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus
membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional,
assegurada ampla defesa.

Declaração não é o mesmo que deliberação (decisão). Assim, ocorrendo a situação descrita
no inciso III do art. 55, a Mesa da Casa respectiva não tem o poder de decidir se o
Parlamentar irá perder ou não o mandato. A Mesa é obrigada a simplesmente declarar
(reconhecer, formalizar) que o Parlamentar perdeu o mandato. Assim, no caso do inciso III,
não há necessidade de deliberação do Plenário e a perda do mandato deve ser
automaticamente declarada pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados ou do Senado
Federal.

Por que se o parlamentar for condenado ao regime semiaberto ou aberto ele não perderá
automaticamente o cargo? Porque nos casos de condenação em regime inicial aberto ou
semiaberto, há a possibilidade de autorização de trabalho externo. Logo, em tese, ele
poderia ser um presidiário que sai para trabalhar como parlamentar durante o dia e volta
para o presídio à noite.

Qual é a posição que devo adotar em concursos? Em uma prova de concurso, você deve
expor que existe divergência entre a 1ª e a 2ª Turmas do STF. O cenário atual é o seguinte:

 
Se o STF condenar criminalmente um Deputado Federal ou Senador, haverá a
perda automática do mandato ou isso ainda dependerá de uma deliberação
(decisão) da Câmara ou do Senado, respectivamente?
A condenação criminal transitada em julgado é suficiente, por si só, para acarretar
a perda automática do mandato eletivo de Deputado Federal ou de Senador?
 
1ª Turma do STF: DEPENDE 2ª Turma do STF: NÃO. A perda não é
automática. A Casa é que irá deliberar
• Se o Deputado ou Senador for O STF apenas comunica, por meio de
condenado a mais de 120 dias em ofício, à Mesa da Câmara dos Deputados
regime fechado: a perda do cargo será ou do Senado Federal informando sobre a
uma consequência lógica da condenação do parlamentar.
condenação. Neste caso, caberá à A Mesa da Câmara ou do Senado irá,
Mesa da Câmara ou do Senado então, deliberar (decidir) como entender de
apenas declarar que houve a perda direito (como quiser) se o parlamentar irá
(sem poder discordar da decisão do perder ou não o mandato eletivo, conforme
STF), nos termos do art. 55, III e § 3º prevê o art. 55, VI, § 2º, da CF/88.
da CF/88. Assim, mesmo com a condenação criminal,
• Se o Deputado ou Senador for quem decide se haverá a perda do mandato
condenado a uma pena em regime é a Câmara dos Deputados ou o Senado
aberto ou semiaberto: a condenação Federal.
criminal não gera a perda automática STF. 2ª Turma. AP 996, Rel. Min. Edson
do cargo. O Plenário da Câmara ou Fachin, julgado em 29/05/2018 (obs: o
do Senado irá deliberar, nos termos Relator Edson Fachin ficou vencido neste
do art. 55, § 2º, se o condenado deverá ponto).
ou não perder o mandato.
STF. 1ª Turma. AP 694/MT, Rel. Min.
Rosa Weber, julgado em 2/5/2017
(Info 863).
STF. 1ª Turma. AP 968/SP, Rel. Min.
Luiz Fux, julgado em 22/5/2018 (Info
903).

11.3. Parlamentar, mesmo sem a aprovação da Mesa Diretora, pode, na condição de


cidadão, ter acesso a informações de interesse pessoal ou coletivo dos órgãos públicos – (Info
899) – IMPORTANTE!!!

O parlamentar, na condição de cidadão, pode exercer plenamente seu direito fundamental


de acesso a informações de interesse pessoal ou coletivo, nos termos do art. 5º, inciso
XXXIII, da Constituição Federal e das normas de regência desse direito.
O parlamentar, na qualidade de cidadão, não pode ter cerceado o exercício do seu direito
de acesso, via requerimento administrativo ou judicial, a documentos e informações sobre
a gestão pública, desde que não estejam, EXCEPCIONALMENTE, sob regime de sigilo ou
sujeitos à aprovação de CPI. O fato de as casas legislativas, em determinadas situações,
agirem de forma colegiada, por intermédio de seus órgãos, não afasta, tampouco restringe,
os direitos inerentes ao parlamentar como indivíduo.
STF. Plenário. RE 865401/MG, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 25/4/18 (repercussão geral) (Info
899).
OBS:
A situação concreta, com adaptações, foi a seguinte: João, Vereador do Município de
Guiricema (MG), formulou requerimento à Mesa Diretora da Câmara Municipal pedindo que
o Poder Legislativo municipal requisitasse do Prefeito da cidade informações e documentos
relacionados com determinados contratos assinados pelo Poder Executivo com fornecedores.
Como João era Vereador da oposição e a situação era maioria, a Câmara Municipal não
aprovou o pedido. Diante disso, João requereu os dados diretamente ao chefe do Executivo,
que se negou a prestar as informações desejadas. João impetrou, então, um mandado de
segurança, mas o TJ/MG negou o pedido argumentando que a fiscalização dos atos do Poder
Executivo deveria ser feita pelo Poder Legislativo como um todo (e não isoladamente por
parte de um só Vereador). O impetrante recorreu, até que a questão chegou ao STF.

O STF concordou com o pedido de João? O Vereador, enquanto parlamentar e cidadão, tem
direito de requerer diretamente do chefe do Poder Executivo informações e documentos sobre
a gestão municipal? SIM.
Art. 5º, XXXIII, da CF/88: A Constituição Federal de 1988 assegura, em seu art. 5º, XXXIII,
que TODOS têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
sociedade e do Estado. A regra geral num Estado Republicano é a da total transparência no
acesso a documentos públicos, sendo o sigilo a exceção.

Lei 12.527/11: O tema foi regulamentado, em nível infraconstitucional, pela Lei 12.527/11,
que ficou conhecida como “Lei de Acesso à Informação”.

Princípio da colegialidade: A Constituição Federal, em matéria de fiscalização, inclusive


financeira, operacional e orçamentária, instituiu o princípio da colegialidade para
impessoalizar seu discurso e respeitar a separação de poderes. Para isso, estabeleceu um
protocolo mínimo de diálogo entre as instituições. O que significa isso? Quer dizer que, em
regra, os atos de fiscalização do Poder Legislativo são realizados mediante atuação do
colegiado (Mesa Diretora, Plenário, Comissões) e não pela atuação individual dos
parlamentares. Como exemplo, podemos citar o art. 50, caput e § 2º, da CF/88:
Art. 50. A Câmara dos Deputados e o Senado Federal, ou qualquer de suas
Comissões, poderão convocar Ministro de Estado ou quaisquer titulares de
órgãos diretamente subordinados à Presidência da República para prestarem,
pessoalmente, informações sobre assunto previamente determinado,
importando crime de responsabilidade a ausência sem justificação adequada.
(...)
§ 2º As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal poderão
encaminhar pedidos escritos de informações a Ministros de Estado ou a
qualquer das pessoas referidas no caput deste artigo, importando em crime de
responsabilidade a recusa, ou o não - atendimento, no prazo de trinta dias, bem
como a prestação de informações falsas.

Nesse sentido:
(...) O poder de fiscalização legislativa da ação administrativa do Poder
Executivo é outorgado aos órgãos coletivos de cada câmara do Congresso
Nacional, no plano federal, e da Assembleia Legislativa, no dos Estados;
nunca, aos seus membros individualmente, salvo, é claro, quando atuem em
representação (ou presentação) de sua Casa ou comissão. (...) STF. Plenário.
ADI 3046, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 15/4/04.

Apesar do princípio da colegialidade, aquilo que o cidadão pode, o parlamentar também


pode: Ocorre, no entanto, que o fato de as casas legislativas, em determinadas situações,
agirem de forma colegiada, por intermédio de seus órgãos, não afasta, tampouco restringe,
os direitos inerentes ao parlamentar como indivíduo, membro do povo, da nação. A
Constituição da República não restringe (não proíbe) o direito do parlamentar de buscar as
informações de interesse individual, público ou coletivo, nas hipóteses em que o cidadão
comum pode, solitariamente, exercer o direito fundamental. Em outras palavras, se o
“cidadão comum” pode requisitar as informações e documentos, não faz sentido proibir o
parlamentar de, sozinho, também requerer estes dados. Caso o parlamentar não pudesse
requerer tais informações, ele seria transformado em um cidadão de segunda categoria. O
fato de ser parlamentar não o despe de seus direitos de cidadão.

Art. 7º da Lei 12.527/11: No caso concreto, as informações requeridas pelo parlamentar


poderiam ser solicitadas por qualquer cidadão, com fundamento no art. 7º, VI c/c art. 10, da
Lei 12.527/11:
Art. 7º O acesso à informação de que trata esta Lei compreende, entre outros, os
direitos de obter: (...)
VI - informação pertinente à administração do patrimônio público, utilização de
recursos públicos, licitação, contratos administrativos; e

Art. 10. Qualquer interessado poderá apresentar pedido de acesso a


informações aos órgãos e entidades referidos no art. 1º desta Lei, por qualquer
meio legítimo, devendo o pedido conter a identificação do requerente e a
especificação da informação requerida.
Outros dispositivos infralegais que asseguram a publicidade:
 arts. 4º e 21, § 1º, da Lei nº 8.666/93;
 art. 8º, § 2º, da Lei nº 7.347/85;
 arts. 32, § 4º, e 48, §§ 1º e 2º, da Lei de Responsabilidade Fiscal;
 art. 48-A da Lei Complementar nº 101/2000.

11.4. Processo de cassação de mandato parlamentar e autocontenção do Poder Judiciário –


(Info 838)

O ex-Deputado Federal Eduardo Cunha impetrou mandado de segurança no STF pedindo


a suspensão do processo de cassação que tramitava contra ele na Câmara dos Deputados
por quebra de decoro parlamentar.
O pedido do impetrante foi negado.
O STF só pode interferir em procedimentos legislativos (ex: processo de cassação) em uma
das seguintes hipóteses:
a) para assegurar o cumprimento da Constituição Federal;
b) para proteger direitos fundamentais; ou
c) para resguardar os pressupostos de funcionamento da democracia e das instituições
republicanas.
Exemplo típico na jurisprudência é a preservação dos direitos das minorias, onde o
Supremo poderá intervir.
No caso concreto, o STF entendeu que nenhuma dessas situações estava presente.
Em se tratando de processos de cunho acentuadamente político, como é o caso da cassação
de mandato parlamentar, o STF deve se pautar pela deferência (respeito) às decisões do
Legislativo e pela autocontenção, somente intervindo em casos excepcionalíssimos.
Dessa forma, neste caso, o STF optou pela técnica da autocontenção (judicial self-
restraint), que é o oposto do chamado ativismo judicial. Na autocontenção, o Poder
Judiciário deixa de atuar (interferir) em questões consideradas estritamente políticas.
STF. Plenário. MS 34.327/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 8/9/16 (Info 838).

11.5. Afastamento de Deputado Federal do cargo por decisão judicial – (Info 824) –
IMPORTANTE!!!

O STF entendeu que a manutenção de Eduardo Cunha na função de parlamentar e de


Presidente da Câmara dos Deputados representaria risco para as investigações penais
instauradas contra ele e, por essa razão, determinou a suspensão do exercício do seu
mandato de Deputado Federal e, por consequência, da função de Presidente da Câmara
dos Deputados que era por ele ocupada.
A decisão foi baseada na medida cautelar prevista no art. 319, VI, do CPP.
Esse inciso VI do art. 319 do CPP pode ser utilizado como fundamento para se afastar do
cargo Deputados Federais e Senadores.
Os §§ 2º e 3º do art. 55 da CF/88 outorgam às Casas Legislativas do Congresso Nacional a
competência para decidir a respeito da perda do mandato político. Isso não significa, no
entanto, que o Poder Judiciário não possa suspender o exercício do mandato parlamentar.
A legitimidade do deferimento das medidas cautelares de persecução criminal contra
Deputados e Senadores encontra abrigo no princípio da inafastabilidade da jurisdição
(art. 5º, XXXV, da CF/88) e no fato de que as imunidades parlamentares não são absolutas,
podendo ser relativizadas quando o cargo não for exercido segundo os fins
constitucionalmente previstos. Vale ressaltar que os membros do Poder Judiciário e até o
chefe do Poder Executivo podem ser suspensos de suas atribuições quando estejam sendo
acusados de crime. Desse modo, não há razão para conferir tratamento diferenciado
apenas aos Parlamentares, livrando-os de qualquer intervenção preventiva no exercício do
mandato por ordem judicial.
STF. Plenário. AC 4070/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 5/5/2016 (Info 824).
OBS:
Introdução: O Deputado Federal Eduardo Cunha responde a cinco inquéritos instaurados no
STF onde estão sendo apurados crimes que teriam sido, em tese, praticados por ele. O
Procurador-Geral da República formulou requerimento ao STF pedindo o afastamento de
Eduardo Cunha do cargo de Deputado Federal e da função de Presidente da Câmara dos
Deputados enquanto os inquéritos não são concluídos. O pedido foi deferido pelo Ministro
Relator Teori Zavascki e referendado pelo Plenário do STF.

Vejamos abaixo os principais argumentos desenvolvidos pela Corte:


O que o Ministério Público alegou no pedido? O MP sustentou que Eduardo Cunha estaria se
utilizando do cargo de Deputado Federal e da função de Presidente da Câmara dos
Deputados para evitar que as investigações instauradas contra si fossem concluídas.
Alegou também que ele estaria praticando novas atividades ilícitas com o intuito de obter
vantagens indevidas.

Qual a natureza jurídica do pedido formulado pelo MP? Trata-se de um pedido de aplicação
de medida cautelar. O CPP prevê, em seu art. 319, um rol de medidas cautelares diversas da
prisão. Uma delas é o afastamento da pessoa investigada ou acusada do cargo, empregou ou
função pública que ocupa. Veja:
Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: (...)
VI - suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza
econômica ou financeira quando houver justo receio de sua utilização para a
prática de infrações penais;

Vale ressaltar que, apesar de o dispositivo falar apenas em "função pública", esta expressão
deverá ser compreendida em sentido amplo, conforme explica Renato Brasileiro:
"Função pública: compreende toda atividade desempenhada com o objetivo de
consecução de finalidades próprias do Estado, por meio daquele que exerce
cargo, emprego ou função pública, nos termos do art. 327 do Código Penal.
Exercem função pública todos aqueles que prestam serviços ao Estado e às
pessoas jurídicas da Administração indireta, aí incluídos os agentes políticos, os
servidores públicos, assim como os particulares em colaboração com o Poder
Público." (Código de Processo Penal comentado. Salvador: Juspodivm, 2016, p.
914).

Quais os atos que o Deputado estaria praticando, segundo o MP? O Procurador-Geral da


República elencou cerca de 11 fatos supostamente criminosos que teriam sido praticados por
Eduardo Cunha e que, na visão do MPF, justificariam o seu afastamento.

Dupla função da medida cautelar do inciso VI: A literalidade do inciso VI fala que a
suspensão do exercício de função pública pode ocorrer "quando houver justo receio de sua
utilização para a prática de infrações penais". No entanto, o STF afirmou que, além disso,
esse inciso possui duas outras funções:
1) preservação da utilidade do processo, evitando que o detentor da função
pública dificulte ou impeça o trabalho de persecução penal; e

2) preservação da finalidade pública do cargo, eliminando a possibilidade de


que o titular da função se utilize do cargo em favor de conveniências
particulares.

Mas esse inciso VI pode ser aplicado para afastar parlamentares federais? A CF/88 não
afirma que a competência para decretar a perda do mandato é da Casa Legislativa (Câmara
dos Deputados ou Senado Federal)? SIM. Esse inciso VI do art. 319 do CPP pode ser utilizado
como fundamento para se afastar do cargo Deputados Federais e Senadores. De fato, os §§ 2º
e 3º do art. 55 da CF/88 outorgam às Casas Legislativas do Congresso Nacional a
competência para decidir a respeito da perda do mandato político nos casos em que venha a
se configurar qualquer das infrações previstas nos incisos I a VI do mesmo art. 55. Veja:
Art. 55 (...)
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida pela
Câmara dos Deputados ou pelo Senado Federal, por maioria absoluta, mediante
provocação da respectiva Mesa ou de partido político representado no
Congresso Nacional, assegurada ampla defesa.
§ 3º - Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa
da Casa respectiva, de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus
membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional,
assegurada ampla defesa.
Vale ressaltar que, mesmo em caso de condenação definitiva transitada em julgado em
processo judicial, o Deputado ou Senador só poderá perder o cargo após decisão da
respectiva Casa (STF AP 565).

Isso não significa, no entanto, que o Poder Judiciário não possa suspender o exercício do
mandato parlamentar. A legitimidade do deferimento das medidas cautelares de persecução
criminal contra Deputados e Senadores encontra abrigo no princípio da inafastabilidade da
jurisdição (art. 5º, XXXV, da CF/88) e no fato de que as imunidades parlamentares não são
absolutas, podendo ser relativizadas quando o cargo não for exercido segundo os fins
constitucionalmente previstos. Nesse sentido, já decidiu o STF no HC 89.417.

Vale ressaltar que os membros do Poder Judiciário podem ser suspensos de suas atribuições
pelo Tribunal competente para julgá-los “quando, pela natureza ou gravidade da infração
penal, se torne aconselhável o recebimento de denúncia ou de queixa contra magistrado” (art.
29 da LOMAN).

De igual forma, o chefe do Poder Executivo fica automaticamente suspenso do exercício de


suas funções caso tenha contra si recebida, relativamente a infrações penais comuns, uma
correspondente denúncia ou mesmo uma simples queixa-crime (art. 86, § 1º, I, da CF/88).

Desse modo, não há razão para conferir tratamento diferenciado apenas aos Parlamentares,
livrando-os de qualquer intervenção preventiva no exercício do mandato por ordem judicial.

E o pedido de afastamento do Deputado de sua função de Presidente da Câmara, isso


também é possível? SIM. Assim como o mandato de Deputado Federal não pode ser
utilizado para atrapalhar as investigações penais, também o cargo de Presidente da Câmara
igualmente não pode servir de anteparo para a frustração da jurisdição penal. Se é possível
afastar o investigado/réu até mesmo de seu mandato conferido por sufrágio popular
(eleições gerais), com mais razão é possível afastá-lo da função de Presidente da Câmara para
o qual foi escolhido por eleição interna.

Conclusão: Por reputar que os elementos fáticos e jurídicos demonstram que a manutenção
de Eduardo Cunha na função de parlamentar e de Presidente da Câmara dos Deputados
representaria risco para as investigações penais instauradas contra ele, o Plenário do STF
determinou a suspensão do exercício do mandato de Deputado Federal e, por consequência,
da função de Presidente da Câmara dos Deputados.

11.6. PERDA DO MANDATO: Perda do mandato por infidelidade partidária não se aplica
a cargos eletivos majoritários – (Info 787) – IMPORTANTE!!!

Se o titular do mandato eletivo, sem justa causa, decidir sair do partido político no qual foi
eleito, ele perderá o cargo que ocupa?
a) Se for um cargo eletivo MAJORITÁRIO: NÃO
A perda do mandato em razão de mudança de partido não se aplica aos candidatos eleitos
pelo sistema majoritário, sob pena de violação da soberania popular e das escolhas feitas
pelo eleitor.
No sistema majoritário, o candidato escolhido é aquele que obteve mais votos, não
importando o quociente eleitoral nem o quociente partidário.
Nos pleitos dessa natureza, os eleitores votam no candidato e não no seu partido político.
Desse modo, no sistema majoritário, a imposição da perda do mandato por infidelidade
partidária é antagônica (contrária) à soberania popular.

b) Se for um cargo eletivo PROPORCIONAL: SIM


O mandato parlamentar conquistado no sistema eleitoral proporcional pertence ao partido
político.
Assim, se o parlamentar eleito decidir mudar de partido político, ele sofrerá um processo
na Justiça Eleitoral que poderá resultar na perda do seu mandato. Neste processo, com
contraditório e ampla defesa, será analisado se havia justa causa para essa mudança.
O assunto está disciplinado na Resolução 22.610/2007 do TSE, que elenca, inclusive, as
hipóteses consideradas como “justa causa”.
STF. Plenário. ADI 5081/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/5/2015 (Info 787).
11.7. Imunidade material dos Vereadores – (Info 775) – IMPORTANTE!!!

Durante sessão da Câmara Municipal, após discussão sobre uma representação contra o
Prefeito, um Vereador passou a proferir pesadas ofensas contra outro Parlamentar. O
Vereador ofendido ajuizou ação de indenização por danos morais contra o ofensor. A
questão chegou até o STF que, julgando o tema sob a sistemática da repercussão geral,
declarou que o Vereador não deveria ser condenado porque agiu sob o manto da
imunidade material. Na oportunidade, o STF definiu a seguinte tese que deverá ser
aplicada aos casos semelhantes:
Nos limites da circunscrição do Município e havendo pertinência com o exercício do
mandato, garante-se a imunidade prevista no art. 29, VIII, da CF aos vereadores.
STF. Plenário. RE 600063/SP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 25/2/2015 (repercussão geral) (Info 775).

12. AGENTES POLÍTICOS


12.1. Exercentes de mandato eletivo que não forem vinculados a regime próprio deverão
pagar contribuição previdenciária ao RGPS – (Info 866)

Incide contribuição previdenciária sobre os rendimentos pagos aos exercentes de mandato


eletivo, decorrentes da prestação de serviços à União, aos Estados e ao Distrito Federal ou
aos Municípios, após o advento da Lei 10.887/04, desde que não vinculados a regime
próprio de previdência.
STF. Plenário. RE 626837/GO, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 25/5/17 (repercussão geral) (Info
866).

13. SUBSTITUIÇÃO PRESIDENCIAL


13.1. Réu em processo criminal não pode assumir, como substituto, o cargo de Presidente
da República – (Info 850) – IMPORTANTE!!!

Os substitutos eventuais do Presidente da República a que se refere o art. 80 da CF/88, caso


ostentem a posição de réus criminais perante o STF, ficarão impossibilitados de exercer o
ofício de Presidente da República. No entanto, mesmo sendo réus, podem continuar na
chefia do Poder por eles titularizados.
Ex: o Presidente do Senado Renan Calheiros tornou-se réu em um processo criminal; logo,
ele não poderá assumir a Presidência da República na forma do art. 80 da CF/88; porém,
ele pode continuar normalmente como Presidente do Senado, não precisando ser afastado
deste cargo.
STF. Plenário. ADPF 402 MC-REF/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 7/12/16 (Info 850).

14. PODER EXECUTIVO


14.1. Imunidade do art. 51, I, e art. 86 da CF/88 não se estende para codenunciados que não
sejam Presidente da República, Vice ou Ministro de Estado – (Info 888) – IMPORTANTE!!!

A imunidade formal prevista no art. 51, I, e no art. 86, caput, da CF/88 n ão se estende para
os codenunciados que não se encontrem investidos nos cargos de Presidente da República,
Vice-Presidente da República e Ministro de Estado.
A finalidade dessa imunidade é proteger o exercício regular desses cargos, razão pela qual
não é extensível a codenunciados que não se encontrem ocupando tais funções.
STF. Plenário. Inq 4483 AgR-segundo/DF e Inq 4327 AgR-segundo/DF, rel. Min. Edson
Fachin, j. 14 e 19/12/17 (Info 888).
OBS:
O que acontece quando o Presidente da República comete um crime? Deverá ser analisado se
o fato praticado está relacionado com as suas funções de Presidente:

1) Se o crime praticado não estiver relacionado com as suas funções de Presidente ou tiver
sido praticado antes do início do mandato: Neste caso, enquanto durar o mandato, o
Presidente não poderá ser denunciado. Após terminar o mandato, ele irá ser denunciado e
responderá o processo criminal em 1ª instância. Ex: o Presidente da República agride a sua
esposa. Ele somente irá responder por este fato quando terminar o mandato. Isso está
previsto no art. 86, § 4º, da CF/88:
Art. 86 (...)
§ 4º O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser
responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.

Trata-se de uma espécie de imunidade especial e temporária porque irá durar apenas pelo
período do mandato.
Apesar de não haver previsão expressa, a doutrina majoritária entende que, nesta situação, a
prescrição ficará suspensa enquanto perdurar o mandato.

2) Se o crime praticado estiver relacionado com o exercício das suas funções: O Procurador-
Geral da República irá apresentar ao STF denúncia contra o Presidente (se o PGR se
convencer que existe crime; em caso contrário, ele pedirá o arquivamento ao STF). Se o delito
praticado for de ação penal privada, é o ofendido quem deverá apresentar queixa-crime no
STF.

Depois que a denúncia ou queixa-crime chega ao STF, qual é a providência a ser adotada? O
STF deverá encaminhar a denúncia ou queixa-crime à Câmara dos Deputados para que esta
Casa decida se o Supremo poderá dar ou não continuidade à análise da peça acusatória. Na
prática, funciona assim: o Ministro que foi sorteado como relator do caso irá encaminhar à
Presidência do STF a denúncia/queixa pedindo que ela seja remetida oficialmente ao
Presidente da Câmara dos Deputados. Vale ressaltar que o STF somente poderá decidir se
aceita ou não a denúncia (ou queixa) se a Câmara dos Deputados autorizar. Para que a
Câmara autorize, exige-se o voto de, no mínimo, 2/3 dos Deputados. Confira:
Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:
I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra
o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado;

Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços
da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo
Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal,
nos crimes de responsabilidade.

O art. 51, I, e o art. 86 da CF/88 conferem ao Presidente da República (ao Vice-Presidente e


aos Ministros de Estado), portanto, uma imunidade formal em relação ao processo.

Imagine agora a seguinte situação: O Procurador-Geral da República ofereceu denúncia


contra o Presidente Michel Temer pela prática de crimes comuns. O STF encaminhou a
denúncia à Câmara dos Deputados para a realização do juízo de admissibilidade previsto no
art. 51, I, e art. 86 da CF/88. Ocorre que a Câmara dos Deputados não autorizou a
instauração do processo contra o Presidente da República.
O STF foi comunicado da decisão da Câmara por meio de ofício. Diante disso, o Min. Edson
Fachin, relator do inquérito no STF, proferiu decisão determinando que o processo criminal
contra Michel Temer fique suspenso até quando perdurar o seu mandato presidencial. Isso
significa que a denúncia será analisada pelo Poder Judiciário quando terminar o mandato de
Temer (obs: como ele, provavelmente, não terá nenhum outro mandato, esse processo
criminal será julgado pela Justiça Federal de 1ª instância). Até aí, sem nenhuma polêmica
jurídica. O ponto interessante vem agora: o Ministro Fachin determinou que investigados
sem foro por prerrogativa de função e que praticaram, em tese, crimes conexos aos do
Presidente da República deveriam ser processados imediatamente em 1ª instância. Em outras
palavras, o STF determinou o desmembramento dos feitos e o processo de todos aqueles que
não possuem foro por prerrogativa de função deverá ser julgado em 1ª instância mesmo
antes de terminar o mandato de Temer. Esses investigados não concordaram com isso e
recorreram contra a decisão do Ministro Fachin alegando, entre outros argumentos, que,
como os fatos são conexos, somente poderiam ser processados quando terminasse o mandato
de Temer.

A tese dos investigados foi acolhida pelo Plenário do STF? NÃO.


Regras de imunidade devem ser interpretadas restritivamente: O regime de imunidades
previsto na Constituição Federal, por se tratar de exceção à norma de responsabilização por
atos que afrontem regras dispostas no ordenamento jurídico positivo, não admite
interpretação extensiva, sendo legítima a incidência apenas nas restritas hipóteses elencadas
pelo Poder Constituinte. Assim, se a Câmara dos Deputados impede o processamento da
denúncia, isso vale, exclusivamente, com relação ao Presidente da República, ao Vice-
Presidente e aos Ministros de Estado denunciados, sendo inviável a extensão dos efeitos
de tal decisão, de natureza eminentemente política, a outras pessoas que não se encontrem
investidas nos referidos cargos.

A regra é o desmembramento: Além disso, a jurisprudência do STF é no sentido de que, como


regra, deverá haver o desmembramento dos processos quando houver corréus sem
prerrogativa. Em outras palavras, permanece no STF apenas a apuração dos investigados
com foro por prerrogativa de função e os demais são julgados em 1ª instância. Apenas
excepcionalmente será admitido que o STF julgue pessoas sem foro privativo, quando ficar
demonstrado que o julgamento em separado possa causar prejuízo relevante à prestação
jurisdicional. No caso concreto, não se verificou qualquer prejuízo no desmembramento dos
autos em relação aos não detentores de foro por prerrogativa de função no STF.

Responsabilidade subjetiva: Vale ressaltar que o fato de os corréus serem desde logo
julgados não significa que se esteja indiretamente julgando o Presidente da República, em
contrariedade ao que decidiu a Câmara dos Deputados. Isso porque vigora em nosso
ordenamento jurídico o princípio da responsabilidade subjetiva, como corolário do Direito
Penal do fato, segundo o qual a análise da responsabilidade é de acordo com a conduta de
cada indivíduo. Assim, eventual condenação ou absolvição dos corréus não irá,
necessariamente, influenciar no futuro julgamento de Temer.

14.2. PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Não é possível que o STF examine questões


jurídicas formuladas a respeito da denúncia antes do seu envio à Câmara dos Deputados para
o juízo político de que trata o art. 86 da CF/88 – (Info 878) – IMPORTANTE!!!

Imagine que foi formulada denúncia contra o Presidente da República por infrações
penais comuns. O STF deverá encaminhar esta denúncia para a Câmara dos Deputados
exercer o seu juízo político.

É possível que, antes desse envio, o STF analise questões jurídicas a respeito desta
denúncia, como a validade dos elementos informativos (“provas”) que a embasaram?
NÃO. Não há possibilidade de o STF conhecer e julgar qualquer questão ou matéria
defensiva suscitada pelo Presidente antes que a matéria seja examinada pela Câmara dos
Deputados. O juízo político de admissibilidade exercido pela Câmara dos Deputados
precede a análise jurídica pelo STF para conhecer e julgar qualquer questão ou matéria
defensiva suscitada pelo denunciado.

A discussão sobre o valor probatório dos elementos de convicção (“provas”), ou mesmo a


respeito da validade desses elementos que eventualmente embasarem a denúncia,
constitui matéria relacionada com a chamada “justa causa”, uma das condições da ação
penal, cuja constatação ou não se dará por ocasião do juízo de admissibilidade, a ser
levado a efeito pelo Plenário do STF após eventual autorização da Câmara dos Deputados.
STF. Plenário. Inq 4483 QO/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 20 e 21/9/17 (Info 878).
OBS:
O que acontece quando o Presidente da República comete um crime? Deverá ser analisado se
o fato praticado está relacionado com as suas funções de Presidente:

1) Se o crime praticado não estiver relacionado com as suas funções de Presidente ou tiver
sido praticado antes do início do mandato:
Neste caso, enquanto durar o mandato, o Presidente não poderá ser denunciado. Após
terminar o mandato, ele irá ser denunciado e responderá o processo criminal em 1ª instância.
Ex: o Presidente da República agride a sua esposa. Ele somente irá responder por este fato
quando terminar o mandato. Isso está previsto no art. 86, § 4º da CF/88:
Art. 86 (...)
§ 4º O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser
responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.

Trata-se de uma espécie de imunidade especial e temporária porque irá durar apenas pelo
período do mandato. Apesar de não haver previsão expressa, a doutrina majoritária entende
que, nesta situação, a prescrição ficará suspensa enquanto perdurar o mandato.

2) Se o crime praticado estiver relacionado com o exercício das suas funções:


O Procurador-Geral da República irá apresentar ao STF denúncia contra o Presidente (se o
PGR se convencer que existe crime; em caso contrário, ele pedirá o arquivamento ao STF). Se
o delito praticado for de ação penal privada, é o ofendido quem deverá apresentar queixa-
crime no STF.

Depois que a denúncia ou queixa-crime chega ao STF, qual é a providência a ser adotada? O
STF deverá encaminhar a denúncia ou queixa-crime à Câmara dos Deputados para que esta
Casa decida se o Supremo poderá dar ou não continuidade à análise da peça acusatória. Na
prática. funciona assim: o Ministro que foi sorteado como relator do caso irá encaminhar à
Presidência do STF a denúncia/queixa pedindo que ela seja remetida oficialmente ao
Presidente da Câmara dos Deputados.

Vale ressaltar que o STF somente poderá decidir se aceita ou não a denúncia (ou queixa) se
a Câmara dos Deputados autorizar. Para que a Câmara autorize exige-se o voto de, no
mínimo, 2/3 dos Deputados. Confira:
Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços
da Câmara dos Deputados, será ele submetido a julgamento perante o Supremo
Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado Federal,
nos crimes de responsabilidade.

A necessidade de autorização da Câmara dos Deputados exigida pela CF/88 tem a finalidade
de proteger a soberania do voto popular, impondo que, quem fora eleito pelo sufrágio, só
seja afastado do exercício de seu mandato com a autorização dos representantes do próprio
povo. Essa é a razão, também, pela qual a CF/88 elegeu a Câmara dos Deputados para
realizar esse juízo político, eis que se trata da Casa do Congresso Nacional tradicionalmente
associada à representação do povo.

Imagine agora a seguinte situação: Estava tramitando no STF um inquérito para apurar
eventuais crimes cometidos pelo Presidente Michel Temer. Pouco antes de o Procurador-
Geral da República apresentar denúncia contra Temer, a defesa do Presidente formulou uma
questão de ordem no STF requerendo que fosse sustada (suspensa) a tramitação da futura
denúncia até que fossem concluídas as investigações sobre supostas irregularidades no
acordo de colaboração premiada celebrado entre executivos do grupo J&F e a PGR. O
advogado de Temer argumentou que a denúncia do PGR seria baseada na colaboração
premiada de Joesley Batista e Ricardo Saud, executivos do grupo J&F. No entanto, surgiram
indícios de que houve irregularidades na negociação do referido acordo de colaboração
premiada. Logo, para a defesa, a denúncia somente poderia ser formulada após ser encerrada
a investigação policial sobre esse acordo de colaboração, inclusive sobre a participação do ex-
Procurador da República Marcelo Miller. Além disso, a defesa pediu que fossem
desconsideradas as provas obtidas a partir das gravações realizadas por Joesley considerando
que teria havido flagrante provocado.

O pedido da defesa foi acolhido pelo STF? NÃO.

Como o STF não pode fazer juízo de admissibilidade sobre a denúncia oferecida contra o
Presidente da República antes da autorização pela Câmara dos Deputados, da mesma forma,
não pode fazer juízo antecipado a respeito de eventuais teses defensivas. Isso porque o
momento adequado para este exame é justamente o do art. 4º da Lei 8.038/90.
A discussão sobre o valor probatório dos elementos de convicção (“provas”), ou mesmo a
respeito da validade desses elementos que eventualmente embasarem a denúncia, constitui
matéria relacionada com a chamada “justa causa”, uma das condições da ação penal, cuja
constatação ou não se dará por ocasião do juízo de admissibilidade, a ser levado a efeito pelo
Plenário do STF após eventual autorização da Câmara dos Deputados.
Rescisão do acordo de colaboração afeta apenas o colaborador, não produzindo efeitos
sobre terceiros: O STF decidiu, ainda, que a possibilidade de rescisão ou de revisão, total ou
parcial, do acordo de colaboração premiada de Joesley em decorrência do descumprimento
dos deveres que ele havia assumido não tem a força de fazer com que as provas obtidas a
partir deste acordo sejam consideradas imprestáveis. Isso porque a rescisão ou revisão tem
efeitos somente entre as partes, não atingindo a esfera jurídica de terceiros.

14.3. Não há necessidade de prévia autorização da ALE para que o STJ receba denúncia
criminal contra o Governador do Estado – (Info 863 e Info 872) - (Investigador de
Polícia/PCMA-2018)

Não há necessidade de prévia autorização da Assembleia Legislativa para que o STJ


receba denúncia ou queixa e instaure ação penal contra Governador de Estado, por crime
comum.
Em outras palavras, não há necessidade de prévia autorização da ALE para que o
Governador do Estado seja processado por crime comum.
Se a Constituição Estadual exigir autorização da ALE para que o Governador seja
processado criminalmente, essa previsão é considerada inconstitucional.

Assim, é vedado às unidades federativas instituir normas que condicionem a instauração


de ação penal contra Governador por crime comum à previa autorização da Casa
Legislativa.
Se o STJ receber a denúncia ou queixa-crime contra o Governador, ele ficará
automaticamente suspenso de suas funções no Poder Executivo estadual?
NÃO. O afastamento do cargo não se dá de forma automática.
O STJ, no ato de recebimento da denúncia ou queixa, irá decidir, de forma fundamentada,
se há necessidade de o Governador do Estado ser ou não afastado do cargo.
Vale ressaltar que, além do afastamento do cargo, o STJ poderá aplicar qualquer uma das
medidas cautelares penais (exs: prisão preventiva, proibição de ausentar-se da comarca,
fiança, monitoração eletrônica etc.).
STF. Plenário. ADI 4777/BA, ADI 4674/RS, ADI 4362/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/
o acórdão Min. Roberto Barroso, j. em 9/8/17 (Info 872).
STF. Plenário. ADI 5540/MG, Rel. Min. Edson Fachin, j. 3/5/17 (Info 863).
STF. Plenário. ADI 4764/AC, ADI 4797/MT e ADI 4798/PI, Rel. Min. Celso de Mello, red. p/
o ac. Min. Roberto Barroso, j. 4/5/17 (Info 863).
OBS:
NOÇÕES GERAIS
Responsabilidade do chefe do Poder Executivo: O chefe do Poder Executivo (Presidente da
República, Governadores e Prefeitos) pode praticar duas espécies de crime:

CRIMES COMUNS CRIMES DE


RESPONSABILIDADE

São aqueles tipificados na lei penal São infrações político-administrativas


(Código Penal e legislação extravagante). praticadas por pessoas que ocupam
Exs: peculato, corrupção passiva etc. determinados cargos públicos. Caso o agente
seja condenado por crime de
responsabilidade, ele não receberá sanções
penais (prisão ou multa), mas sim sanções
político-administrativas (perda do cargo e
inabilitação para o exercício de função
pública).
Os crimes de responsabilidade estão
previstos:
 Presidente: art. 85 da CF/88 e Lei
1.079/50.
 Governador: Lei 1.079/50.
 Prefeito: DL 201/67.
Quem julga: Quem julga:
 Presidente: STF (após autorização de  Presidente: Senado (após autorização da
2/3 da Câmara dos Deputados). CD – 2/3).
 Governador: STJ (não precisa de  Governador: Tribunal Especial
prévia autorização da ALE). (composto por 5 membros da ALE e 5
 Prefeito: TJ/TRF/TRE (não precisa de Desembargadores, sob a presidência do
prévia autorização da Câmara Presidente do TJ)
Municipal).  Prefeito: Câmara Municipal.

CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS NÃO PODEM PREVER LICENÇA PRÉVIA DA ALE


COMO CONDIÇÃO PARA O PROCESSO
Algumas Constituições estaduais preveem que, antes de os Governadores serem julgados
(por crimes comuns ou de responsabilidade), é necessária a autorização da Assembleia
Legislativa (licença prévia) mediante voto de 2/3 de seus membros. É o caso, por exemplo, da
Constituição do Estado do Acre: “Art. 81. Admitida a acusação contra o governador do
Estado, por dois terços da Assembleia Legislativa, é ele submetido a julgamento perante o
Superior Tribunal de Justiça, nos crimes comuns, ou perante a Assembleia Legislativa, nos
crimes de responsabilidade”. Essa regra é válida? NÃO. O STF decidiu que não há
necessidade de prévia autorização da Assembleia Legislativa para que o Governador do
Estado seja processado por crime comum. Assim, o STJ pode receber denúncia ou queixa
proposta contra o Governador e seguir com a ação penal sem que seja necessária autorização
prévia da Assembleia Legislativa.

Ex: o Procurador-Geral da República ofereceu denúncia contra o Governador de Minas


Gerais imputando-lhe a prática de crimes. Esta denúncia não é apreciada pela Assembleia
Legislativa de MG. O STJ poderá receber a denúncia e julgar o Governador sem que seja
necessária prévia autorização da ALE. A ALE não irá participar de nenhuma forma deste
processo.
As Constituições Estaduais que exigem prévia autorização da Assembleia Legislativa são
inconstitucionais (violam a Constituição Federal).

Por quê? O STF invocou cinco argumentos principais:


a) Ausência de previsão expressa e inexistência de simetria;
b) Princípio republicano (art. 1º);
c) Princípio da separação dos poderes (art. 2º)
d) Competência privativa da União (art. 22, I); e
e) Princípio da igualdade (art. 5º).

a) ausência de previsão expressa e inexistência de simetria: A CF/88 não prevê a necessidade


de autorização prévia da Assembleia Legislativa para o processamento e julgamento de
Governador por crimes comuns perante o STJ. Não existe fundamento normativo-
constitucional expresso que faculte aos Estados-membros fazerem essa exigência em suas
Constituições estaduais. Vale ressaltar também que a regra da CF/88 (art. 86) que exige
autorização da Câmara dos Deputados para que o Presidente da República seja processado
criminalmente não pode ser utilizada pelos Estados sob o argumento da simetria. Para o STF,
não há, neste caso, simetria a ser observada pelos Estados-membros. A exigência de prévia
autorização foi expressamente prevista apenas para Presidente da República, Vice-
presidente e Ministros de Estado. Essa é uma decorrência das características e competências
que moldam e constituem o cargo de Presidente da República, mas que não aplicam no caso
de Governador.
Sendo essa previsão uma excepcionalidade, não pode ser transladada como se fosse regra ou
como se estivesse cumprindo a suposta exigência de simetria para Governador.

b) princípio republicano: A exigência de autorização prévia da Assembleia Legislativa


ocasiona o congelamento de qualquer tentativa de apuração judicial de eventuais crimes
praticados por Governadores. Dessa forma, essa previsão afronta a responsabilidade exigida
dos gestores públicos, o que viola o princípio republicano do Estado.
c) separação dos Poderes: A exigência viola, ainda, a separação dos Poderes, pois estabelece
uma condição não prevista pela CF/88 para o exercício da jurisdição pelo Poder Judiciário.
Assim, o STJ fica impedido de exercer suas competências e funções até que haja autorização
prévia do Poder Legislativo estadual. Esse tipo de restrição é sempre excepcional e deve estar
expresso na CF/88.

d) competência privativa da União: Ao prever a necessidade de autorização prévia da


Assembleia Legislativa como condição para que o STJ receba a denúncia ou queixa, o Estado-
membro acaba legislando sobre direito processual penal, matéria que é de competência
privativa da União, nos termos do art. 22, I, da CF/88. Desse modo, essa regra da prévia
autorização viola a competência privativa da União.

e) princípio da igualdade: Por fim, a previsão da autorização prévia afronta o princípio da


igualdade (art. 5º). Estabelecer essa condição de procedibilidade faz com que o Governador
seja alçado à condição de superior em relação às outras pessoas apenas por ocupar este cargo.
Vale ressaltar, ainda, que a EC 35/01 alterou a redação do art. 53, § 1º, da CF/88 e aboliu a
exigência de autorização prévia das casas legislativas para o processamento e julgamento de
Deputados Federais, Senadores e Deputados Estaduais. O mesmo entendimento de
valorização da igualdade e “accountability” dos representantes do povo deve ser aplicado aos
Governadores, sem as exigências prévias que consubstanciam privilégios e restrições não
autorizados pela CF/88.

O STF sempre entendeu assim? NÃO. Houve uma mudança na jurisprudência. O STF
entendia válida a norma prevista em Constituição estadual que exigia autorização prévia da
Assembleia Legislativa. Nesse sentido: STF. Plenário. ADI 4791/PR, Rel. Min. Teori Zavascki,
julgado em 12/2/2015 (Info 774). O Min. Edson Fachin afirmou que era necessário superar o
antigo entendimento do STF “diante dos reiterados e vergonhosos casos de negligência
deliberada pelas assembleias legislativas estaduais, que têm sistematicamente se negado a
deferir o processamento de governadores”. A orientação anterior, que privilegiava a
autonomia dos Estados-membros e o princípio federativo, entrou em linha de tensão com o
princípio republicano, que prevê a responsabilização política dos governantes. Verificou-se
que, ao longo do tempo, as Assembleias Legislativas bloquearam a possiblidade de
instauração de processos contra os Governadores.

Mutação constitucional: Houve, portanto, na presente situação, uma mutação constitucional.


Há três situações que legitimam a mutação constitucional e a superação de jurisprudência
consolidada:
a) mudança na percepção do direito;
b) modificações na realidade fática; e
c) consequência prática negativa de determinada linha de entendimento. Para o STF, as três
hipóteses estão presentes no caso concreto.

O art. 86, § 1º, I, da CF/88 prevê que se o STF receber a denúncia ou queixa-crime contra o
Presidente da República, ele ficará automaticamente suspenso de suas funções. Essa regra
também se aplica para os Governadores de Estado. Se o STJ receber a denúncia ou queixa-
crime contra o Governador, ele ficará automaticamente suspenso de suas funções no Poder
Executivo estadual? NÃO. O afastamento do cargo não se dá de forma automática. O simples
recebimento de uma denúncia é um ato de baixa densidade decisória e não pode importar em
afastamento automático do Governador. Esse afastamento somente pode ocorrer se o STJ
entender que há elementos a justificá-lo. O Governador pode ser afastado, mas não como
decorrência automática do recebimento da denúncia. Assim, o STJ, no ato de recebimento da
denúncia ou queixa, irá decidir, de forma fundamentada, se há necessidade de o
Governador do Estado ser ou não afastado do cargo. Vale ressaltar que, além do
afastamento do cargo (art. 319, VI, do CPP), o STJ poderá aplicar qualquer uma das medidas
cautelares penais. Exs: prisão preventiva (art. 311 do CPP), proibição de ausentar-se da
comarca (art. 319, IV), fiança (art. 319, VIII), monitoração eletrônica (art. 319, IX) etc. Essas
medidas cautelares poderão ser decretadas no momento do recebimento da denúncia/queixa
ou durante o curso do processo e precisam ser sempre fundamentadas.

E quanto aos crimes de responsabilidade? O STF entende que o Estado-membro não pode
dispor sobre crime de responsabilidade, ainda que seja na Constituição estadual. Isso porque
a competência para legislar sobre crime de responsabilidade é privativa da União. Definir o
que é crime de responsabilidade e prever as regras de processo e julgamento dessas infrações
significa legislar sobre Direito Penal e Processual Penal, matérias que são de competência
privativa da União, nos termos do art. 22, I, e art. 85, parágrafo único, da CF. O Supremo
possui, inclusive, um enunciado destacando essa conclusão:
Súmula vinculante 46-STF: São da competência legislativa da União a definição
dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de
processo e julgamento.

14.4. Não há necessidade de prévia autorização da ALE para que o STJ receba denúncia
criminal contra o Governador do Estado – IMPORTANTE!!! Atualize seus livros!!! – (Info
863) - (Investigador de Polícia/PCMA-2018)

Não há necessidade de prévia autorização da Assembleia Legislativa para que o STJ


receba denúncia ou queixa e instaure ação penal contra Governador de Estado, por crime
comum.
Em outras palavras, não há necessidade de prévia autorização da ALE para que o
Governador do Estado seja processado por crime comum.
Se a Constituição Estadual exigir autorização da ALE para que o Governador seja
processado criminalmente, essa previsão é considerada inconstitucional.

Assim, é vedado às unidades federativas instituir normas que condicionem a instauração


de ação penal contra Governador por crime comum à previa autorização da Casa
Legislativa.
Se o STJ receber a denúncia ou queixa-crime contra o Governador, ele ficará
automaticamente suspenso de suas funções no Poder Executivo estadual?
NÃO. O afastamento do cargo não se dá de forma automática.
O STJ, no ato de recebimento da denúncia ou queixa, irá decidir, de forma fundamentada,
se há necessidade de o Governador do Estado ser ou não afastado do cargo.
Vale ressaltar que, além do afastamento do cargo, o STJ poderá aplicar qualquer uma das
medidas cautelares penais (exs: prisão preventiva, proibição de ausentar-se da comarca,
fiança, monitoração eletrônica etc.).
STF. Plenário. ADI 5540/MG, Rel. Min. Edson Fachin, j. 3/5/17 (Info 863).
STF. Plenário. ADI 4764/AC, ADI 4797/MT e ADI 4798/PI, Rel. Min. Celso de Mello, red. p/
o ac. Min. Roberto Barroso, j. 4/5/17 (Info 863).
OBS:
NOÇÕES GERAIS
Responsabilidade do chefe do Poder Executivo: O chefe do Poder Executivo (Presidente da
República, Governadores e Prefeitos) pode praticar duas espécies de crime:

CRIMES COMUNS CRIMES DE


RESPONSABILIDADE

São aqueles tipificados na lei penal São infrações político-administrativas


(Código Penal e legislação extravagante). praticadas por pessoas que ocupam
Exs: peculato, corrupção passiva etc. determinados cargos públicos. Caso o agente
seja condenado por crime de
responsabilidade, ele não receberá sanções
penais (prisão ou multa), mas sim sanções
político-administrativas (perda do cargo e
inabilitação para o exercício de função
pública).
Os crimes de responsabilidade estão
previstos:
 Presidente: art. 85 da CF/88 e Lei
1.079/50.
 Governador: Lei 1.079/50.
 Prefeito: DL 201/67.
Quem julga: Quem julga:
 Presidente: STF (após autorização de  Presidente: Senado (após autorização da
2/3 da Câmara dos Deputados). CD – 2/3).
 Governador: STJ (não precisa de  Governador: Tribunal Especial
prévia autorização da ALE). (composto por 5 membros da ALE e 5
 Prefeito: TJ/TRF/TRE (não precisa de Desembargadores, sob a presidência do
prévia autorização da Câmara Presidente do TJ)
Municipal).  Prefeito: Câmara Municipal.

CONSTITUIÇÕES ESTADUAIS NÃO PODEM PREVER LICENÇA PRÉVIA DA ALE


COMO CONDIÇÃO PARA O PROCESSO
Algumas Constituições estaduais preveem que, antes de os Governadores serem julgados
(por crimes comuns ou de responsabilidade), é necessária a autorização da Assembleia
Legislativa (licença prévia) mediante voto de 2/3 de seus membros. É o caso, por exemplo, da
Constituição do Estado do Acre: “Art. 81. Admitida a acusação contra o governador do
Estado, por dois terços da Assembleia Legislativa, é ele submetido a julgamento perante o
Superior Tribunal de Justiça, nos crimes comuns, ou perante a Assembleia Legislativa, nos
crimes de responsabilidade”. Essa regra é válida? NÃO. O STF decidiu que não há
necessidade de prévia autorização da Assembleia Legislativa para que o Governador do
Estado seja processado por crime comum. Assim, o STJ pode receber denúncia ou queixa
proposta contra o Governador e seguir com a ação penal sem que seja necessária autorização
prévia da Assembleia Legislativa.

Ex: o Procurador-Geral da República ofereceu denúncia contra o Governador de Minas


Gerais imputando-lhe a prática de crimes. Esta denúncia não é apreciada pela Assembleia
Legislativa de MG. O STJ poderá receber a denúncia e julgar o Governador sem que seja
necessária prévia autorização da ALE. A ALE não irá participar de nenhuma forma deste
processo.
As Constituições Estaduais que exigem prévia autorização da Assembleia Legislativa são
inconstitucionais (violam a Constituição Federal).

Por quê? O STF invocou cinco argumentos principais:


a) Ausência de previsão expressa e inexistência de simetria;
b) Princípio republicano (art. 1º);
c) Princípio da separação dos poderes (art. 2º)
d) Competência privativa da União (art. 22, I); e
e) Princípio da igualdade (art. 5º).

a) ausência de previsão expressa e inexistência de simetria: A CF/88 não prevê a necessidade


de autorização prévia da Assembleia Legislativa para o processamento e julgamento de
Governador por crimes comuns perante o STJ. Não existe fundamento normativo-
constitucional expresso que faculte aos Estados-membros fazerem essa exigência em suas
Constituições estaduais. Vale ressaltar também que a regra da CF/88 (art. 86) que exige
autorização da Câmara dos Deputados para que o Presidente da República seja processado
criminalmente não pode ser utilizada pelos Estados sob o argumento da simetria. Para o STF,
não há, neste caso, simetria a ser observada pelos Estados-membros. A exigência de prévia
autorização foi expressamente prevista apenas para Presidente da República, Vice-
presidente e Ministros de Estado. Essa é uma decorrência das características e competências
que moldam e constituem o cargo de Presidente da República, mas que não aplicam no caso
de Governador.
Sendo essa previsão uma excepcionalidade, não pode ser transladada como se fosse regra ou
como se estivesse cumprindo a suposta exigência de simetria para Governador.

b) princípio republicano: A exigência de autorização prévia da Assembleia Legislativa


ocasiona o congelamento de qualquer tentativa de apuração judicial de eventuais crimes
praticados por Governadores. Dessa forma, essa previsão afronta a responsabilidade exigida
dos gestores públicos, o que viola o princípio republicano do Estado.
c) separação dos Poderes: A exigência viola, ainda, a separação dos Poderes, pois estabelece
uma condição não prevista pela CF/88 para o exercício da jurisdição pelo Poder Judiciário.
Assim, o STJ fica impedido de exercer suas competências e funções até que haja autorização
prévia do Poder Legislativo estadual. Esse tipo de restrição é sempre excepcional e deve estar
expresso na CF/88.

d) competência privativa da União: Ao prever a necessidade de autorização prévia da


Assembleia Legislativa como condição para que o STJ receba a denúncia ou queixa, o Estado-
membro acaba legislando sobre direito processual penal, matéria que é de competência
privativa da União, nos termos do art. 22, I, da CF/88. Desse modo, essa regra da prévia
autorização viola a competência privativa da União.

e) princípio da igualdade: Por fim, a previsão da autorização prévia afronta o princípio da


igualdade (art. 5º). Estabelecer essa condição de procedibilidade faz com que o Governador
seja alçado à condição de superior em relação às outras pessoas apenas por ocupar este cargo.
Vale ressaltar, ainda, que a EC 35/01 alterou a redação do art. 53, § 1º, da CF/88 e aboliu a
exigência de autorização prévia das casas legislativas para o processamento e julgamento de
Deputados Federais, Senadores e Deputados Estaduais. O mesmo entendimento de
valorização da igualdade e “accountability” dos representantes do povo deve ser aplicado aos
Governadores, sem as exigências prévias que consubstanciam privilégios e restrições não
autorizados pela CF/88.

O STF sempre entendeu assim? NÃO. Houve uma mudança na jurisprudência. O STF
entendia válida a norma prevista em Constituição estadual que exigia autorização prévia da
Assembleia Legislativa. Nesse sentido: STF. Plenário. ADI 4791/PR, Rel. Min. Teori Zavascki,
julgado em 12/2/2015 (Info 774). O Min. Edson Fachin afirmou que era necessário superar o
antigo entendimento do STF “diante dos reiterados e vergonhosos casos de negligência
deliberada pelas assembleias legislativas estaduais, que têm sistematicamente se negado a
deferir o processamento de governadores”. A orientação anterior, que privilegiava a
autonomia dos Estados-membros e o princípio federativo, entrou em linha de tensão com o
princípio republicano, que prevê a responsabilização política dos governantes. Verificou-se
que, ao longo do tempo, as Assembleias Legislativas bloquearam a possiblidade de
instauração de processos contra os Governadores.

Mutação constitucional: Houve, portanto, na presente situação, uma mutação constitucional.


Há três situações que legitimam a mutação constitucional e a superação de jurisprudência
consolidada:
a) mudança na percepção do direito;
b) modificações na realidade fática; e
c) consequência prática negativa de determinada linha de entendimento. Para o STF, as três
hipóteses estão presentes no caso concreto.

O art. 86, § 1º, I, da CF/88 prevê que se o STF receber a denúncia ou queixa-crime contra o
Presidente da República, ele ficará automaticamente suspenso de suas funções. Essa regra
também se aplica para os Governadores de Estado. Se o STJ receber a denúncia ou queixa-
crime contra o Governador, ele ficará automaticamente suspenso de suas funções no Poder
Executivo estadual? NÃO. O afastamento do cargo não se dá de forma automática. O simples
recebimento de uma denúncia é um ato de baixa densidade decisória e não pode importar em
afastamento automático do Governador. Esse afastamento somente pode ocorrer se o STJ
entender que há elementos a justificá-lo. O Governador pode ser afastado, mas não como
decorrência automática do recebimento da denúncia. Assim, o STJ, no ato de recebimento da
denúncia ou queixa, irá decidir, de forma fundamentada, se há necessidade de o
Governador do Estado ser ou não afastado do cargo. Vale ressaltar que, além do
afastamento do cargo (art. 319, VI, do CPP), o STJ poderá aplicar qualquer uma das medidas
cautelares penais. Exs: prisão preventiva (art. 311 do CPP), proibição de ausentar-se da
comarca (art. 319, IV), fiança (art. 319, VIII), monitoração eletrônica (art. 319, IX) etc. Essas
medidas cautelares poderão ser decretadas no momento do recebimento da denúncia/queixa
ou durante o curso do processo e precisam ser sempre fundamentadas.

E quanto aos crimes de responsabilidade? O STF entende que o Estado-membro não pode
dispor sobre crime de responsabilidade, ainda que seja na Constituição estadual. Isso porque
a competência para legislar sobre crime de responsabilidade é privativa da União. Definir o
que é crime de responsabilidade e prever as regras de processo e julgamento dessas infrações
significa legislar sobre Direito Penal e Processual Penal, matérias que são de competência
privativa da União, nos termos do art. 22, I, e art. 85, parágrafo único, da CF. O Supremo
possui, inclusive, um enunciado destacando essa conclusão:
Súmula vinculante 46-STF: São da competência legislativa da União a definição
dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de
processo e julgamento.

14.5. Ordem de votação dos Deputados Federais na fase de juízo de admissibilidade do


processo de Impeachment – (Info 821)

Caso o Presidente da República seja "acusado" de ter praticado um crime de


responsabilidade, a Câmara dos Deputados é que irá decidir se autoriza ou não a
instauração de processo, nos termos do art. 51, I, da CF/88.
O art. 187, § 4º do Regimento da Câmara dos Deputados prevê que, na votação que
autoriza ou não a instauração de processo, cada Deputado Federal será chamado
nominalmente e deverá responder "sim" ou "não". Ainda segundo este § 4º, a chamada dos
Deputados Federais para votar deverá ocorrer, "alternadamente, do norte para o sul e vice-
versa".
Segundo decidiu o STF, não existe nenhuma inconstitucionalidade nesta previsão, não
havendo ofensa aos princípios do contraditório, da ampla defesa, da impessoalidade, da
moralidade e da República.
Qualquer tipo de votação nominal, independentemente do critério adotado, jamais poderá
afastar a possibilidade de "efeito cascata".
O STF afirmou, ainda, que não se pode exigir isenção e imparcialidade dos membros da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Na realidade, o “impeachment” é uma
questão política que deve de ser resolvida com critérios políticos. A garantia da
imparcialidade está no alto quórum exigido para a votação.
STF. Plenário. ADI 5498 MC/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Teori
Zavascki, julgado em 14/4/2016 (Info 821).
STF. Plenário. MS 34127 MC/DF, MS 34128 MC/DF, Rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/
o acórdão Min. Teori Zavascki, julgados em 14/4/2016 (Info 821).

14.6. Decisão do STF que definiu o rito do processo de impeachment da Presidente Dilma
– (Info 812) – IMPORTANTE!!! – (MPGO-2016)

Principais conclusões do STF na decisão que definiu o rito do processo de impeachment


da Presidente Dilma:
1) Não há direito à defesa prévia antes do recebimento da denúncia pelo Presidente da
Câmara.
2) É possível a aplicação subsidiária dos Regimentos Internos da Câmara e do Senado que
tratam sobre o impeachment, desde que sejam compatíveis com os preceitos legais e
constitucionais pertinentes.
3) Após o início do processo de impeachment, durante a instrução probatória, a defesa tem
o direito de se manifestar após a acusação.
4) O interrogatório deve ser o ato final da instrução probatória.
5) O recebimento da denúncia no processo de “impeachment” ocorre apenas após a
decisão do Plenário do Senado Federal. Assim, a Câmara dos Deputados somente atua no
âmbito pré-processual, não valendo a sua autorização como um recebimento da denúncia,
em sentido técnico. Compete ao Senado decidir se deve receber ou não a denúncia cujo
prosseguimento foi autorizado pela Câmara. O Senado não está vinculado à decisão da
Câmara.
6) A decisão do Senado que delibera se instaura ou não o processo se dá pelo voto da
maioria simples, presente a maioria absoluta de seus membros. (MPGO-2016)
7) É possível a aplicação analógica dos arts. 44, 45, 46, 47, 48 e 49 da Lei 1.079/1950 — os
quais determinam o rito do processo de “impeachment” contra Ministros do STF e o PGR
— ao processamento no Senado Federal de crime de responsabilidade contra o Presidente
da República.
8) Não é possível que sejam aplicadas, para o processo de impeachment, as hipóteses de
impedimento do CPP. Assim, não se pode invocar o impedimento do Presidente da
Câmara para participar do processo de impeachment com base em dispositivos do CPP.
9) A eleição da comissão especial do impeachment deve ser feita por indicação dos líderes
e voto aberto do Plenário. Os representantes dos partidos políticos ou blocos
parlamentares que irão compor a chapa da comissão especial da Câmara dos Deputados
deverão ser indicados pelos líderes, na forma do Regimento Interno da Câmara dos
Deputados. Assim, não é possível a apresentação de candidaturas ou chapas avulsas para
a formação da comissão especial.
STF. Plenário. ADPF 378/DF, Rel. Min. Edson Fachin, j. 16, 17 e 18/12/15 (Info 812).
(MPGO-2016): Em relação ao processo de apuração de crime de responsabilidade
cometido por Presidente da República, segundo a jurisprudência dominante do STF, é
correto afirmar que: A apresentação de defesa prévia não é uma exigência do princípio
constitucional da ampla defesa: ela é exceção, e não a regra no processo penal, de tal arte
que não é direito subjetivo do Presidente da República o exercício de defesa previamente
ao ato do Presidente da Câmara dos Deputados que inicia o rito de impeachment naquela
Casa. BL: Info 812, STF.

14.7. Crimes de responsabilidade envolvendo Governadores de Estado – (Info 774) –


IMPORTANTE!!! – (Vide Info 863, acima)

I – O Estado-membro não pode dispor sobre crime de responsabilidade, ainda que seja na
Constituição estadual. Isso porque a competência para legislar sobre crime de
responsabilidade é privativa da União, nos termos do art. 22, I, e art. 85 da CF/88.
II – As Constituições estaduais não podem prever que os Governadores serão julgados
pela Assembleia Legislativa em caso de crimes de responsabilidade. Isso porque o art. 78,
§ 3º da Lei 1.079/50 afirma que a competência para julgar os Governadores de Estado em
caso de crimes de responsabilidade é de um “Tribunal Especial”, composto especialmente
para julgar o fato e que será formado por 5 Deputados Estaduais e 5 Desembargadores,
sob a presidência do Presidente do Tribunal de Justiça.
STF. Plenário. ADI 4791/PR, Rel. Min. Teori Zavascki; ADI 4800/RO e ADI 4792/ES, Rel.
Min. Cármen Lúcia, julgados em 12/2/2015 (Info 774).
OBS:
Art. 187, § 4º do RICD: Como se sabe, caso o Presidente da República seja "acusado" de ter
praticado um crime de responsabilidade, a Câmara dos Deputados decide se autoriza ou não
a instauração de processo, nos termos do art. 51, I, da CF/88:
Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados:
I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra
o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado;

As regras dessa votação são disciplinadas pelo Regimento Interno da Câmara.

Polêmica sobre a ordem dos Deputados que iriam votar: O art. 187, § 4º do Regimento prevê
que a votação será nominal e cada Deputado Federal será chamado e deverá responder "sim"
ou "não" para a instauração do processo. No entanto, uma frase desse § 4º gerou enorme
divergência durante as discussões sobre o processo de impeachment da Presidente Dilma. O
que gerou polêmica foi a previsão contida no referido § 4º, no sentido de que a chamada dos
Deputados Federais para votar deverá ocorrer, "alternadamente, do norte para o sul e vice-
versa". A votação do processo de impeachment da Presidente Dilma estava marcada para
ocorrer no domingo (17/04/2016). Havia a expectativa de que o então Presidente da Câmara
dos Deputados, Eduardo Cunha, começasse a votação pelos Deputados Federais do Estado
do sul. Ocorre que, em tese, isso seria ruim para a Presidente porque ela teria mais aliados
entre os Deputados dos Estados do norte. Assim, os aliados do Governo temiam que, se a
votação começasse pelo sul, haveria, já no início da votação, vários votos a favor do processo
de impeachment e isso geraria um "efeito manada", ou seja, uma "pressão psicológica" nos
parlamentares que viriam depois e que votariam também a favor da instauração por sentirem
que esta seria uma tendência irreversível.

ADI 5498: Tendo em vista este cenário, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), no dia
14/04/2016, ingressou com ação direta de inconstitucionalidade pedindo que o STF desse
interpretação conforme a Constituição ao art. 187, § 4º, do Regimento Interno para
determinar ao Presidente da Câmara que a ordem de votação ocorresse da seguinte forma:
 1ª opção: que a votação fosse intercalada (um Deputado do norte, depois um do sul,
outro do norte, outro do sul e assim por diante)
 2ª opção: como pedido subsidiário, o autor da ação pedia que fosse declarada a
inconstitucionalidade do art. 187, § 4º, do Regimento e que o STF, em substituição a
essa regra, determinasse que a votação fosse em ordem alfabética, tal como ocorreu
no processo de impeachment do ex-Presidente Collor em 1992.
 3ª opção: que a votação fosse nominal, aberta e simultânea por meio do painel
eletrônico.

Houve uma discussão se o STF deveria conhecer desta ADI ou se a referida ação impugnava
um ato interna corporis e, portanto, insuscetível de controle de constitucionalidade. O que
decidiu a Corte? A ação foi conhecida? SIM. O Tribunal, por maioria, conheceu da ação.
Ficaram vencidos os Ministros Gilmar Mendes e Celso de Mello, que dela não conheciam por
considerarem que a questão discutida configuraria matéria “interna corporis”, insuscetível de
controle abstrato de constitucionalidade. O STF possui precedentes no sentido de que cabe
ADI contra regimentos internos de órgãos legislativos, desde que possuam caráter normativo
e autônomo. Nesse sentido: STF. Plenário. ADI 4587, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 22/05/2014.

Quanto ao mérito, o STF concordou com o pedido do autor? NÃO. O Plenário do STF, por
maioria, indeferiu a medida cautelar formulada na ADI. O autor da ação não demonstrou de
que modo os dispositivos atacados teriam ofendido os princípios constitucionais do
contraditório, da ampla defesa, da impessoalidade, da moralidade e da República. A mera
invocação genérica de transgressão a um postulado constitucional não é suficiente para
legitimar o ajuizamento de ação direta. É preciso não apenas indicar os valores, os princípios,
mas também estabelecer as razões jurídicas que possam legitimar a pretendida ocorrência de
violação às normas de parâmetro invocadas no processo de controle objetivo de
constitucionalidade. O requerente não articulou minimamente a alegação de ofensa ao
princípio do devido processo legal, ao aduzir que a votação poderia gerar efeito cascata, de
modo que os primeiros votos pudessem influenciar os últimos, o que comprometeria o
princípio da imparcialidade. Qualquer tipo de votação nominal, independentemente do
critério adotado, jamais afastaria a possibilidade de efeito cascata. Assim, inexistindo
incompatibilidade entre o dispositivo regimental com qualquer preceito constitucional, não
se vislumbrou a relevância do direito, o que seria razão para indeferir a medida liminar.
Ademais, o Tribunal sublinhou que não se pode exigir isenção e imparcialidade dos
membros da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Na realidade, o “impeachment” é
uma questão política que deve ser resolvida com critérios políticos. A garantia da
imparcialidade está no alto quórum exigido para a votação.

Como ficou a ordem da votação? Antes que iniciasse a sessão do STF, o então Presidente da
Câmara voltou atrás de sua ideia inicial de começar a votação pelos Estados do Sul e
anunciou que a ordem seria a seguinte: “a) (...) a chamada terá início por um Estado da região
norte e, em alternância, será chamado um Estado da região sul. Em seguida, em razão do
‘vice-versa’, será chamado um Estado da região sul e, depois, um Estado da região norte, e
assim sucessivamente, passando pelas demais regiões; b) a ordem dos Estados seguirá a
tradição da Casa, a disposição constante no painel de votação e, por analogia, a ordem
geográfica das capitais prevista no art. 3º, § 3º, do Regimento Interno da Câmara dos
Deputados (...)”.

Além da ADI acima mencionada, havia dois mandados de segurança questionando essa
ordem de votação, mas o STF também negou os pedidos de medida cautelar formulados nos
writs que questionavam a interpretação dada por Eduardo Cunha.

Segundo entendeu o Supremo, a ordem definida pelo Presidente da Câmara era uma das
interpretações possíveis do Regimento Interno da Câmara dos Deputados. Além disso, os
Ministros entenderam que não havia matéria constitucional relevante sendo discutida nos
mandados de segurança.

Dessa forma, foi mantida a ordem de votação proposta pelo ex-Presidente da Câmara.
STF. Plenário. MS 34127 MC/DF, MS 34128 MC/DF, Rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/
o acórdão Min. Teori Zavascki, julgados em 14/4/2016 (Info 821).

15. PODER JUDICIÁRIO


15.1. REGIME JURÍDICO: Para os fins do art. 102, I, “n”, da CF/88, o impedimento deve
ser afirmado nos autos do processo cujo deslocamento se pretende – (Info 945)

Existe uma decisão proferida pelo TJ em processo coletivo que beneficia diversos
servidores do Poder Judiciário.
Esses servidores começam a ingressar com execuções individuais pedindo o pagamento
dos valores reconhecidos no acórdão do TJ. João é um deles e ajuíza pedido de
cumprimento de sentença. O TJ remete a execução individual de João para o STF
afirmando que mais da metade dos Desembargadores possui alguma relação de
parentesco com outros servidores beneficiados pela decisão. Logo, para o TJ, a
competência para julgar todas as execuções individuais seria do STF, com base no art. 102,
I, “n”, segunda parte, da CF/88.
O STF, contudo, não concordou com a decisão.
O STF não é competente para julgar originariamente a execução de João, pois não há
impedimento dos Desembargadores. Nenhum deles mantêm relação de parentesco com
João, servidor que figura especificamente no processo de execução individual.
STF. 1ª T. AO 2380 AgR/SE, Rel. Min. Alexandre de Moraes, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso, j. 25/6/19 (Info 945).

15.2. REGIME JURÍDICO: É válido o provimento de pessoas para exercerem a função de


titular de serventias judiciais, com caráter privado (serventias judicias privatizadas / não
estatizadas), antes da CF/88 – (Info 930 e Info 942)

É válido ato do CNJ que, ao dar plena aplicabilidade ao art. 31 do ADCT, decide pela
invalidade dos atos administrativos de nomeação de todos os titulares de cartórios
privatizados que tenham ingressado no cargo após 5 de outubro de 1988, data de
promulgação da CF em vigor.
As pessoas que assumiram as serventias judiciais depois da CF/88, em caráter privado, não
têm direito líquido e certo de nelas permanecerem, qualquer que seja a forma de
provimento. Há flagrante inconstitucionalidade a partir do momento em que assumem
cargo em serventia que deveria ser estatizada.
Isso porque é inconstitucional o provimento de pessoas para exercerem a função de titular
de serventias judiciais, com caráter privado (serventias judicias privatizadas / não
estatizadas), após a CF/88.
O art. 31 do ADCT é autoaplicável, de modo que é obrigatória a estatização das serventias
judiciais à medida que elas fiquem vagas.
O prazo decadencial do art. 54 da Lei nº 9.784/99 não se aplica quando o ato a ser anulado
afronta diretamente a Constituição Federal.
STF. 1ª Turma. MS 29323/DF, MS 29970/DF, MS 30267/DF e MS 30268/DF, rel. orig. Min.
Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, j. 12/2/19 (Info 930).

O escrivão que ocupa serventia judicial provida, em caráter privado, antes da CF/88, pode
ser mantido na titularidade da serventia.
O art. 31 do ADCT garante, expressamente, o direito do escrivão nomeado antes da CF/88
de continuar explorando a serventia. Isso porque este dispositivo afirma que, depois da
CF/88, deverão ser estatizadas as serventias do foro judicial, “respeitados os direitos dos
então titulares”.
STF. 1ª Turma. MS 29998/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 28/5/2019 (Info 942).

15.3. Juiz do Trabalho Substituto, durante seu afastamento para tratamento de saúde, não
tem direito de continuar recebendo a verba de substituição – (Info 934)

Se o Juiz do Trabalho Substituto está exercendo as funções do Juiz do Trabalho Titular,


ele terá direito de receber um valor a mais denominado “substituição” (art. 656, § 3º da
CLT e art. 124 da LOMAN).
Essa verba da substituição não deverá ser paga durante a licença-saúde do Juiz Substituto.
Assim, Juiz do Trabalho Substituto, durante seu afastamento para tratamento de saúde,
não tem direito de continuar recebendo a verba de substituição pelo fato de estar na
Titularidade da unidade judiciária.
Esse tipo de verba só pode ser paga enquanto mantido o desempenho da titularidade da
unidade judiciária – condição necessária para seu recebimento.
STF. 2ª Turma. AO 2234 ED/MS, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 19/3/19 (Info 934).

15.4. Constitucionalidade da verba “auxílio-voto”, paga aos juízes convocados para atuar
nos processos de 2ª instância do Tribunal – (Info 910)

Foi instituído, no Tribunal de Justiça de São Paulo, o pagamento de uma verba pela
atuação em 2ª instância de magistrados de 1ª instância. Em outras palavras, o juiz era
convocado para atuar nos processos do Tribunal e, em razão disso, recebia uma verba que
ficou conhecida como “auxílio-voto”.
O CNJ, em procedimento de controle administrativo (PCA), considerou a verba irregular,
por suposta ofensa ao teto constitucional, e determinou a devolução dos valores recebidos
pelos juízes.
O STF cassou a decisão do CNJ. Argumentos:
1) A decisão do CNJ violou o devido processo legal administrativo e os princípios do
contraditório e da ampla defesa. Isso porque os magistrados não foram notificados para
apresentação de defesa escrita, além de não terem participado da instrução processual. A
decisão proferida pelo Conselho surpreendeu a todos os envolvidos. Além disso, o PCA
no qual o CNJ decidiu pela irregularidade da verba foi instaurado para tratar sobre
assunto completamente diverso.
2) A verba paga aos magistrados de 1ª instância que atuaram nos processos do Tribunal de
Justiça foi regular, considerando que baseada no art. 124 da LC 35/79 (LOMAN). Essa
convocação de juízes para atuar no Tribunal é válida e não viola a CF/88. Como essa
convocação de juízes é válida (compatível com a CF/88), é natural que seja devido o
pagamento de um valor como forma de “recomposição patrimonial dos magistrados, dado
o exercício extraordinário de atribuições transitórias desempenhadas acumuladamente
com a jurisdição ordinária”. De igual modo, como se trata de uma verba prevista em lei,
fica afastada qualquer alegação de má-fé. Como a verba em questão servia para pagar os
magistrados por um serviço extraordinário, elas não estavam abrangidas pelo subsídio.
STF. 2ª Turma. MS 29002/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 7/8/2018 (Info 910).

15.5. Inconstitucionalidade de norma da Constituição Estadual que vincula vencimentos


de escrivães aos dos juízes – (Info 907)

A Constituição do Estado do Ceará previa que os escrivães de entrância especial teriam


seus vencimentos fixados de modo a não exceder a 80% do que fosse atribuído aos juízes
da entrância inferior, aplicando-se o mesmo limite percentual para os escrivães das demais
entrâncias.
O STF decidiu que essa regra é inconstitucional por violar o art. 37, XIII, da CF/88, que
proíbe a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias de pessoal do
serviço público e também por violar a iniciativa legislativa do Poder Judiciário (art. 96, II,
“b”, da CF/88).
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/6/2018 (Info 907).
OBS:
O art. 37, XIII, da Constituição veda, expressamente, a vinculação ou equiparação de
quaisquer espécies remuneratórias para efeito de remuneração de pessoal do serviço público:
Art. 37 (...)
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies
remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público;
(Redação dada pela EC 19/98)

O art. 96, II, “b”, por sua vez, prevê a competência do Tribunal de Justiça para iniciar a
discussão legislativa sobre a remuneração de seus membros (magistrados) e também dos
serviços auxiliares:
Art. 96. Compete privativamente: (...)
II - ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de
Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no art. 169:
(...)
b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços auxiliares e
dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus
membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, onde houver;

15.6. Constitucionalidade do art. 6º, I, da Resolução 146/2012-CNJ – (Info 899)

A Resolução 146/2012 do CNJ dispõe sobre o instituto da redistribuição de cargos efetivos


dos quadros de pessoal dos órgãos do Poder Judiciário da União.
O STF entendeu que É CONSTITUCIONAL o art. 6º, I, da referida Resolução, que prevê o
seguinte:
“Art. 6º O cargo ocupado somente poderá ser redistribuído se o servidor preencher
cumulativamente os seguintes requisitos:
I – tempo mínimo de 36 meses de exercício no cargo a ser redistribuído;”
O instituto da redistribuição de cargos efetivos tem função de resguardar o interesse da
Administração Pública e não visa a atender às necessidades do servidor.
O prazo de 36 meses previsto no referido dispositivo coincide com o prazo estabelecido no
art. 41 da CF/88 relativo à estabilidade do servidor público, de modo a evidenciar a
razoabilidade e a proporcionalidade da resolução.
STF. Plenário. ADI 4938/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 26/4/2018 (Info 899).

15.7. Análise da constitucionalidade de resolução que permite reeleição para cargos de


direção no TJ – (Info 851)

É inconstitucional norma do Tribunal de Justiça que permite a reeleição de


desembargadores para cargos de direção após o intervalo de dois mandatos.
Esta previsão viola o art. 93, caput, da CF/88, segundo o qual a regulamentação da matéria
afeta à elegibilidade para os órgãos diretivos dos tribunais está reservada a lei
complementar de iniciativa do Supremo Tribunal Federal. Além disso, esta norma afronta
o tratamento que foi dado à matéria pelo art. 102 da LOMAN (LC 35/79), que regulamenta
o art. 93 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 5310/RJ, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 14/12/2016 (Info 851).

15.8. Dever do Poder Executivo de efetuar os repasses de duodécimo na forma do art. 168
da CF/88 – (Info 848)

A lei orçamentária anual do Estado do Rio de Janeiro foi aprovada e nela previsto o
orçamento do Poder Judiciário. Ocorre que o Poder Executivo estadual não estava
cumprindo seu dever de repassar os recursos correspondentes às dotações orçamentárias
do Poder Judiciário em duodécimos. Diante disso, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro
impetrou mandado de segurança, com pedido de tutela de urgência, contra o ato omissivo
do Governador do Estado do Rio de Janeiro no atraso do repasse dos referidos recursos. O
Governador argumentou que o Estado passa por uma crise muito grave e que no ano de
2016 houve um déficit orçamentário de 19,6% em relação ao orçamento que foi previsto na
Lei orçamentária anual.
O STF deferiu parcialmente a medida liminar, assegurando-se ao Poder Judiciário do
Estado do Rio de Janeiro o direito de receber, até o dia 20 de cada mês, em duodécimos, os
recursos correspondentes às dotações orçamentárias, sendo, contudo, facultado ao Poder
Executivo fazer um desconto de 19,6% da Receita Corrente Líquida prevista na LOA.
A crise do Estado e a queda na arrecadação não justificam que o Poder Executivo deixe de
repassar o duodécimo ao Poder Judiciário. No entanto, deve ser autorizado que o
Executivo diminua os valores a serem entregues ao TJ de forma proporcional à redução
que houve na arrecadação inicialmente prevista pela Lei Orçamentária Anual.
Não faz sentido que, diante de uma situação de déficit orçamentário (a realização do
orçamento foi muito inferior ao previsto), o Poder Executivo reduza seu orçamento e o
Poder Judiciário continue com seu duodécimo calculado com base na previsão da receita
que não foi a verificada na prática. Havendo frustração de receita, o ônus deve ser
compartilhado de forma isonômica entre todos os Poderes. Em suma, a base de cálculo dos
duodécimos deve observar o valor real de efetivo desempenho orçamentário e não o valor
fictício previsto na lei orçamentária.
STF. 1ª Turma. MS 34483-MC/RJ, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 22/11/2016 (Info 848).
15.9. CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO: Órgão do tribunal que afasta a aplicação
da legislação federal para a situação analisada – (Info 848) – IMPORTANTE!!! – (PGM-
Salvador-2015-CESPE) (DPEPR-2017)

Não viola a Súmula Vinculante 10, nem a regra do art. 97 da CF/88, a decisão do órgão
fracionário do Tribunal que deixa de aplicar a norma infraconstitucional por entender não
haver subsunção aos fatos ou, ainda, que a incidência normativa seja resolvida mediante a
sua mesma interpretação, sem potencial ofensa direta à Constituição.
Além disso, a reclamação constitucional fundada em afronta à SV 10 não pode ser usada
como sucedâneo (substituto) de recurso ou de ação própria que analise a
constitucionalidade de normas que foram objeto de interpretação idônea e legítima pelas
autoridades jurídicas competentes.
STF. 1ª Turma. Rcl 24284/SP, rel. Min. Edson Fachin, j. 22/11/16 (Info 848).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: A concessionária de energia elétrica contratou uma
empresa privada para entregar na casa dos consumidores os boletos de pagamento da conta.
A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) não concordou com isso e ingressou
com ação para proibir este contrato, sob o argumento de que o STF, no julgamento da ADPF
46, decidiu que os Correios detêm o privilégio (vulgarmente chamado de "monopólio") de
exercer o serviço postal no Brasil e que, por isso, apenas eles poderiam fazer essa entrega dos
carnês de pagamento. O Juiz Federal julgou a ação improcedente afirmando que a
concessionária de energia elétrica agiu amparada pelo art. 25, § 1º, da Lei nº 8.987/95, que
estabelece:
Art. 25 (...)
§ 1º Sem prejuízo da responsabilidade a que se refere este artigo, a
concessionária poderá contratar com terceiros o desenvolvimento de atividades
inerentes, acessórias ou complementares ao serviço concedido, bem como a
implementação de projetos associados.

A ECT recorreu e a 2ª Turma do TRF (órgão fracionário do Tribunal) deu provimento à


apelação afirmando que o art. 25, § 1º, da Lei 8.987/95 não autoriza que a concessionária de
energia elétrica contrate empresa terceirizada para fazer a entrega das faturas. Diante disso, a
concessionária de energia elétrica ajuizou reclamação no STF afirmando que o órgão
fracionário do TRF declarou a inconstitucionalidade do art. 25, § 1º, da Lei 8.987/95 sem
observar a cláusula de reserva de plenário, afrontando, assim, a SV 10.

O STF concordou com a reclamação proposta? NÃO.

Nesse sentido, veja como já decidiu o STF em outra oportunidade:


(...) A simples ausência de aplicação de uma dada norma jurídica ao caso sob
exame não caracteriza, apenas por isso, violação da orientação firmada pelo
Supremo Tribunal Federal. 2. Para caracterização da contrariedade à súmula
vinculante n. 10, do Supremo Tribunal Federal, é necessário que a decisão
fundamente-se na incompatibilidade entre a norma legal tomada como base dos
argumentos expostos na ação e a Constituição. (...) STF. Plenário. Rcl 6944, Rel.
Min. Cármen Lúcia, j. 23/06/2010.

Segundo a Min. Cármen Lúcia, "é possível que dada norma não sirva para desate do quadro
submetido ao crivo jurisdicional pura e simplesmente porque não há subsunção" (Rcl 6944).
Em palavras mais simples, a lei ou ato normativo não se enquadra no caso concreto.

O tema não é muito simples e pode gerar confusão nos concursos. Portanto, cuidado com as
seguintes afirmações aparentemente contraditórias e que poderão aparecer na sua prova:
 Viola a cláusula de reserva de plenário a decisão de órgão fracionário de tribunal
que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do Poder Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte. (certo)
 Não viola a cláusula de reserva de plenário a decisão de órgão fracionário de tribunal
que deixa de aplicar a norma infraconstitucional por entender não haver subsunção
aos fatos ou, ainda, que a incidência normativa seja resolvida mediante a sua mesma
interpretação, sem potencial ofensa direta à Constituição. (certo)
Para que haja violação da cláusula de reserva de plenário, é necessário que o órgão
fracionário do tribunal tenha afastado a lei ou ato normativo sob o argumento, expresso ou
implícito, de que a norma infraconstitucional é incompatível com os critérios previstos na
CF/88. Se o afastamento da lei ou ato normativo foi por causa de falta de subsunção, não há
ofensa ao art. 97 da CF/88.

O STF entendeu que o órgão fracionário do TRF apenas interpretou a legislação federal (Lei
nº 8.987/95), à luz da decisão proferida pelo Supremo na ADPF 46, sem que tenha declarado
a inconstitucionalidade do art. 25, § 1º da referida norma.

Vale ressaltar também que essa discussão (se a concessionária poderá contratar empresa
terceirizada para entregar os carnês) já se encontra judicializada em sede de recurso
extraordinário com repercussão geral reconhecida e a dúvida razoável acerca da
interpretação das normas infraconstitucionais não é hipótese de cabimento de reclamação.

15.10. CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO: Não se aplica a cláusula de reserva de


plenário para atos de efeitos concretos – (Info 844) – IMPORTANTE!!! – (DPEPR-2017)

Não viola o art. 97 da CF/88 nem a SV 10 a decisão de órgão fracionário do Tribunal que
declara inconstitucional decreto legislativo que se refira a uma situação individual e
concreta. Isso porque o que se sujeita ao princípio da reserva de plenário é a lei ou o ato
normativo.
Se o decreto legislativo tinha um destinatário específico e referia-se a uma dada situação
individual e concreta, exaurindo-se no momento de sua promulgação, ele não pode ser
considerado como ato normativo, mas sim como ato de efeitos concretos.
STF. 2ª Turma. Rcl 18165 AgR/RR, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 18/10/16 (Info 844).
OBS:
REGRA DA RESERVA DE PLENÁRIO: No chamado controle difuso de constitucionalidade,
também adotado pelo Brasil, ao lado do controle abstrato, qualquer juiz ou Tribunal pode
declarar a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo no caso concreto. No entanto, se
o Tribunal for fazer essa declaração, deverá respeitar a cláusula de reserva de plenário. A
chamada “cláusula de reserva de plenário” significa que, se um Tribunal for declarar a
inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, é obrigatória que essa declaração de
inconstitucionalidade seja feita pelo voto da maioria absoluta do Plenário ou do órgão
especial deste Tribunal. Esta exigência da cláusula de reserva de plenário tem como objetivo
conferir maior segurança jurídica para as decisões dos Tribunais, evitando que, dentro de um
mesmo Tribunal, haja posições divergentes acerca da constitucionalidade de um dispositivo,
gerando instabilidade e incerteza. A reserva de plenário é também conhecida como regra do
full bench, full court ou julgamento en banc e está prevista no art. 97 da CF/88 e nos art. 948 e
949 do CPC 2015:
Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos
membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.

Art. 948. Arguida, em controle difuso, a inconstitucionalidade de lei ou de ato


normativo do poder público, o relator, após ouvir o Ministério Público e as
partes, submeterá a questão à turma ou à câmara à qual competir o
conhecimento do processo.

Art. 949. Se a arguição for:


I - rejeitada, prosseguirá o julgamento;
II - acolhida, a questão será submetida ao plenário do tribunal ou ao seu órgão
especial, onde houver.
Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao
plenário ou ao órgão especial a arguição de inconstitucionalidade quando já
houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal
sobre a questão.

A proteção é reforçada pelo enunciado 10 da Súmula Vinculante, que tem a seguinte redação:
Súmula vinculante 10-STF: Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97)
a decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare
expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder
Público, afasta a sua incidência no todo ou em parte.

EXCEÇÕES À CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO: Existem duas mitigações à


cláusula de reserva de plenário, ou seja, duas hipóteses em que o órgão fracionário poderá
decretar a inconstitucionalidade sem necessidade de remessa dos autos ao Plenário (ou órgão
especial):
a) quando o Plenário (ou órgão especial) do Tribunal que estiver decidindo já
tiver se manifestado pela inconstitucionalidade da norma;
b) quando o Plenário do STF já tiver decidido que a norma em análise é
inconstitucional.

Essas exceções estão também consagradas no parágrafo único do art. 949 do CPC:
Art. 949 (...) Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não
submeterão ao plenário ou ao órgão especial a arguição de
inconstitucionalidade quando já houver pronunciamento destes ou do plenário
do Supremo Tribunal Federal sobre a questão.

CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO E ATO DE EFEITOS CONCRETOS


Imagine a seguinte situação adaptada: A Assembleia Legislativa do Estado de Roraima
editou um decreto legislativo tratando especificamente da situação de determinado
Deputado Estadual. O TRF da 1ª Região, ao apreciar um processo envolvendo este Deputado,
declarou, em controle difuso, a inconstitucionalidade deste decreto legislativo. Ocorre que
esta decisão foi tomada por um órgão fracionário do TRF1 (e não pelo Plenário ou pelo órgão
especial deste Tribunal). Diante disso, a defesa do Deputado alegou que houve violação ao
art. 97 da CF/88 e à SV 10.

A tese foi acolhida pelo STF? NÃO. O que se sujeita ao princípio da reserva de plenário – e,
consequentemente, à SV 10, é a "lei" e o "ato normativo". O decreto legislativo que foi
declarado inconstitucional pelo TRF não constitui lei em sentido formal ou material, nem
possui caráter de ato normativo. Atos normativos “são aqueles expedidos sem destinatários
determinados, com finalidade normativa, alcançando todos os sujeitos que se encontram na
mesma situação de fato abrangida por seus preceitos. São atos de comando abstrato e
impessoal, semelhantes aos da lei (...)” (MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo
Brasileiro, 37ª ed., São Paulo: Malheiros, p. 168).

Desse modo, para que seja caracterizado como ato normativo são necessários os seguintes
requisitos: a) abstração; b) generalidade e c) impessoalidade.

No caso concreto, o decreto legislativo tinha um destinatário específico e referia-se a uma


dada situação individual e concreta, exaurindo-se no momento de sua promulgação. Logo,
este decreto legislativo não preencheu os requisitos de abstração, generalidade e
impessoalidade, não podendo ser considerado como ato normativo, sendo caracterizado
como típico ato estatal de efeitos concretos. Diante disso, não se aplica ao caso a regra do art.
97 da CF/88 nem há ofensa ao Enunciado 10 da SV.

15.11. Inexistência de inconstitucionalidade no corte do orçamento do Poder Judiciário


durante a tramitação da Lei Orçamentária Anual – (Info 832) – IMPORTANTE!!!

Salvo em situações graves e excepcionais, não cabe ao Poder Judiciário, sob pena de
violação ao princípio da separação de Poderes, interferir na função do Poder Legislativo
de definir receitas e despesas da Administração Pública, emendando projetos de leis
orçamentárias, quando atendidas as condições previstas no art. 166, §§ 3º e 4º, da
Constituição Federal.
STF. Plenário. ADI 5468/DF, Rel. Min. Luiz Fux, j. 29 e 30/6/2016 (Info 832).
OBS:
Fixar e definir o orçamento é atividade típica do Poder Legislativo: Ressalte-se que, no caso
concreto, o corte no orçamento da Justiça do Trabalho não foi promovido pelo Poder
Executivo. Este consolidou e enviou o projeto na forma como havia sido proposto pelo TST.
A redução foi efetuada no âmbito do Parlamento. Esclarecido este ponto, deve-se chamar
atenção para a primeira conclusão do STF sobre o tema: a atividade de fixar e definir o
orçamento é uma típica atribuição do Poder Legislativo.

O corte realizado pelo Legislativo à proposta orçamentária do TST viola o art. 99 da CF/88?
NÃO. Ainda que o texto constitucional tenha estabelecido que compete ao próprio Poder
Judiciário encaminhar suas propostas orçamentárias, não há vedação absoluta, sob o ponto
de vista formal, para que o Poder Legislativo realize um controle sobre o que foi proposto.

Regras previstas no art. 166 da CF/88: Conforme já exposto, o Poder Legislativo detém a
possibilidade de emendar a proposta da lei orçamentária e o que se deve observar é se essas
mudanças estão ou não de acordo com as condicionantes exigidas pela CF/88. Tais
condicionantes ("restrições") estão elencadas no art. 166, devendo ser destacados os seguintes
dispositivos:
Art. 166. Os projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes
orçamentárias, ao orçamento anual e aos créditos adicionais serão apreciados
pelas duas Casas do Congresso Nacional, na forma do regimento comum.
§ 1º - Caberá a uma Comissão mista permanente de Senadores e Deputados:
I - examinar e emitir parecer sobre os projetos referidos neste artigo e sobre as
contas apresentadas anualmente pelo Presidente da República;
II - examinar e emitir parecer sobre os planos e programas nacionais, regionais e
setoriais previstos nesta Constituição e exercer o acompanhamento e a
fiscalização orçamentária, sem prejuízo da atuação das demais comissões do
Congresso Nacional e de suas Casas, criadas de acordo com o art. 58.
§ 2º - As emendas serão apresentadas na Comissão mista, que sobre elas emitirá
parecer, e apreciadas, na forma regimental, pelo Plenário das duas Casas do
Congresso Nacional.
§ 3º - As emendas ao projeto de lei do orçamento anual ou aos projetos que o
modifiquem somente podem ser aprovadas caso:
I - sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei de diretrizes
orçamentárias;
II - indiquem os recursos necessários, admitidos apenas os provenientes de
anulação de despesa, excluídas as que incidam sobre:
a) dotações para pessoal e seus encargos;
b) serviço da dívida;
c) transferências tributárias constitucionais para Estados, Municípios e Distrito
Federal; ou
III - sejam relacionadas:
a) com a correção de erros ou omissões; ou
b) com os dispositivos do texto do projeto de lei.
§ 4º - As emendas ao projeto de lei de diretrizes orçamentárias não poderão ser
aprovadas quando incompatíveis com o plano plurianual. (...)

A aprovação da lei orçamentária pode ser classificada como um "ato complexo de elaboração
conjunta" considerando que o Poder Judiciário envia sua proposta, o Poder Executivo a
consolida e o Poder Legislativo a arbitra. Não há afronta à separação de Poderes quando o
Parlamento decide promover mudanças na proposta encaminhada.

Para o STF, não foram demonstrados excessos na redução da proposta orçamentária,


considerando que esta depende do cenário socioeconômico do País em dado momento
histórico. Além disso, a função de definir receitas e despesas do aparato estatal é uma das
mais tradicionais e relevantes dentre os poderes constituídos e deve ser preservada pelo
Poder Judiciário, sob pena de indevida e ilegítima tentativa de esvaziamento de típica função
parlamentar.

15.12. Lei estadual que concede ressarcimento de despesas de saúde a magistrados não viola
a CF/88 nem a LOMAN – (Info 825)

O art. 65, § 2º da LOMAN (LC 35/79), ao vedar a concessão de adicionais ou vantagens


pecuniárias nela não previstas, não proíbe que as leis estaduais prevejam o pagamento de
verbas de natureza indenizatória aos magistrados estaduais.
Com base nesse entendimento, o STF considerou válida previsão de lei estadual que
concede aos magistrados o direito de serem ressarcidos pelos cofres públicos em relação
às despesas médicas, cirúrgicas e odontológicas que realizem e que excedam o custeio
coberto pelo Instituto de Previdência do Estado.
STF. 1ª Turma. MS 27463/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 10/5/2016 (Info 825).

15.13. CONCURSO PARA MAGISTRATURA: Momento de comprovação dos três anos de


atividade jurídica – (Info 821) – IMPORTANTE!!! – (TJPR-2017)

A comprovação do triênio de atividade jurídica exigida para o ingresso no cargo de juiz


substituto, nos termos do art. 93, I, da CF, deve ocorrer no momento da inscrição definitiva
no concurso público.
STF. Plenário. RE 655265/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin,
julgado em 13/4/2016 (repercussão geral) (Info 821).
(TJPR-2017-CESPE): O ingresso na carreira de juiz se dá mediante concurso público de
provas e títulos, com a participação da OAB em todas as fases, exigindo-se do candidato
que ele seja bacharel em direito com, no mínimo, três anos de atividade jurídica. Nesse
sentido, de acordo com o entendimento do STF, a exigência de comprovação do triênio
de prática forense, quando houver ausência de especificação de data no edital, deverá ser
cumprida no ato de inscrição definitiva no concurso. BL: Info 821, STF.

OBS:
Atenção: A CF/88 exige, como requisito para ingresso na carreira da Magistratura e do
Ministério Público, além da aprovação em concurso público, que o bacharel em direito
possua, no mínimo, três anos de atividade jurídica (art. 93, I e art. 129, § 3º). Essa exigência
foi inserida na CF/88 pela EC 45/2004. Desde que essa regra foi aprovada, surgiu uma
intensa discussão sobre o momento no qual deveria ser feita esta exigência.

Essa distinção possui importantes consequências práticas, considerando que, como entre a
inscrição definitiva e a posse normalmente se passam alguns meses, ou até anos, dependendo
da posição em que o candidato foi aprovado, é muito comum acontecer de, no momento da
inscrição, a pessoa não ter os três anos, mas completá-los antes do ato da posse.

Durante os debates sobre o tema, os candidatos tentaram fazer prevalecer o entendimento


consagrado no STJ para concursos em geral, de que os requisitos do cargo, por serem
inerentes ao exercício, devem ser exigidos no ato da posse:
Súmula 266-STJ: O diploma ou habilitação legal para o exercício do cargo deve
ser exigido na posse e não na inscrição para o concurso público.

No entanto, o CNJ resolveu dar solução diversa ao caso e, por meio de Resolução, estabeleceu
que os três anos de atividade jurídica (exercidos após a obtenção do grau de bacharel em
direito) deveriam ser exigidos no ato da inscrição definitiva dos concursos da magistratura.

Argumento utilizado pelo CNJ: Foi o de que estavam sendo aprovados muitos candidatos
sem os requisitos necessários, o que somente era percebido no momento da posse,
atrapalhando o planejamento do Poder Judiciário para o preenchimento das vagas. Assim,
antecipando esta comprovação para o ato da inscrição definitiva, os Tribunais poderiam
saber previamente quantos candidatos aprovados teriam condições de assumir e decidiriam
se era caso de deflagrar ou não, desde logo, outro concurso.

Este debate chegou até o STF. O que decidiu o Supremo? Em que momento deverão ser
comprovados os três anos de atividade jurídica? No momento da inscrição definitiva.

Principais argumentos invocados pelo STF:


 É importante que todos os candidatos que adentrem na disputa tenham condições para
o exercício do cargo no momento da inscrição definitiva, a fim de evitar que o
candidato, depois de aprovado, ingresse com medidas judiciais para tentar suplantar
este requisito da atividade jurídica, o que atrapalharia o preenchimento dos cargos,
contrariando o interesse público;
 Exigir o requisito no momento da inscrição definitiva atende ao princípio da isonomia.
Isso porque o edital serve para orientar e alertar os potenciais candidatos de que, se
forem aprovados, deverão cumprir os requisitos do cargo. Não se pode estimular
aqueles que não atendem às exigências a adentrar no certame, com a esperança de
lograrem êxito judicialmente ao retardarem o momento da posse.
 Definir a data da posse como termo final para cumprimento dos três anos apresenta
outro ponto negativo, pois privilegia aqueles que ficaram com pior classificação no
concurso já que estes terão mais tempo para completar o triênio.

Concursos para membros do Ministério Público: O julgamento acima tratou de forma


específica sobre os concursos da magistratura. Tanto que a tese definida pelo STF fala em
"cargo de juiz substituto". No âmbito do Ministério Público, o CNMP possui a Resolução
40/2009 afirmando que a comprovação dos três anos deverá ocorrer no momento da posse
(art. 3º, com redação dada pela Resolução 87/2012). Desse modo, por enquanto, no âmbito do
MP, a comprovação é no momento da posse. Digo "por enquanto" porque, durante a sessão, o
Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, afirmou que, para manter a isonomia entre as
carreiras jurídicas, ele já solicitou a alteração da resolução do CNMP a fim de que, também
nos concursos do Ministério Público, a comprovação dos três anos de atividade jurídica seja
feita no momento da inscrição definitiva.

15.14. Férias coletivas de 60 dias para serventuários da Justiça não é compatível com a CF/88
– (Info 816)

É correta decisão do CNJ que considera indevida a existência de férias coletivas para
servidores de Tribunal de Justiça, mesmo que estas estejam previstas em lei ou ato
normativo estadual. Isso porque a EC 45/2004 incluiu o inciso XII ao art. 93 da CF/88
proibindo as férias coletivas de juízes e Tribunais de 2º grau. Com a edição da EC 45/2004,
as leis e atos normativos que previam férias coletivas nos Tribunais de 2º grau foram
considerados não recepcionados ("revogados") pela nova redação do art. 93, XII, da CF/88.
STF. 2ª Turma. MS 26739/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 1º/3/2016 (Info 816).
OBS:
As férias coletivas do STF, STJ, TST, TSE e STM continuam existindo. Nos meses de janeiro e
julho eles param. Assim, a regra do inciso XII do art. 93 da CF/88 não se estende aos
Tribunais Superiores (STF. 1ª Turma. AI 636765 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 15/05/2007).

Competência do CNJ para o ato: A análise da regularidade das férias de serventuários da


Justiça constitui função atribuída ao CNJ pelo art. 103-B, § 4º, II, da CF/88 (zelar pela
legalidade dos atos administrativos). Não há, nesta atuação, uma usurpação do papel do STF
mesmo que, para fazer este controle, o CNJ tenha que dizer que determinado ato normativo é
contrário à CF/88.

15.15. Competências do órgão especial – (Info 809)

Em regra, o órgão interno do Tribunal que decide as questões administrativas é o


Plenário, chamado de "tribunal pleno" e que é formado, como o próprio nome diz, pela
totalidade dos julgadores. Ocorre que nos Tribunais maiores (exs: TJ/SP, TJ/MG) existem
centenas de membros, o que dificulta a reunião para decidirem as questões
administrativas. Diante disso, a fim de facilitar o funcionamento, a CF/88 previu que, se o
Tribunal possuir mais que 25 membros, ele poderá criar um "órgão especial" para exercer
algumas atribuições administrativas e jurisdicionais que seriam originalmente de
competência do tribunal pleno (art. 93, XI).
Compete aos Tribunais de Justiça definirem quais as competências que serão delegadas
ao órgão especial, desde que aprovadas pela maioria absoluta de seus membros.
STF. Plenário. MS 26411 MC/DF, rel. orig. Min. Sepúlveda Pertence, red. p/ o acórdão Min.
Teori Zavascki, julgado em 26/11/2015 (Info 809).

15.16. Cláusula de reserva de plenário pode ser afastada quando houver jurisprudência do
STF sobre matéria – (SEM INFO) – (TJRJ-2016)

O STF reafirmou seu entendimento no sentido de reconhecer a desnecessidade de


submissão de demanda judicial à regra da reserva de plenário na hipótese em que a
decisão judicial estiver fundada em jurisprudência do Plenário do STF ou em súmula da
Corte. A questão foi analisada pelo Plenário Virtual ao julgar o Recurso Extraordinário
com Agravo (ARE) 914045, que teve repercussão geral conhecida.
O Tribunal ainda reiterou entendimento em relação à matéria de fundo do recurso, pela
inconstitucionalidade de restrições impostas pelo Estado ao livre exercício de atividade
econômica ou profissional, quando essas forem utilizadas como meio de cobrança indireta
de tributos.
STF. Plenário. ARE 914045. Min. Edson Fachin. (sem info).
(TJRJ-2016-VUNESP): O STF possui entendimento no sentido de reconhecer a
desnecessidade de submissão de demanda judicial à regra da reserva de plenário, na
hipótese em que a decisão judicial estiver fundada em jurisprudência do plenário do STF
ou em súmula da Corte.

15.17. Causa que interessa a todos os membros da magistratura – (Info 782)

O STF tem competência para processar e julgar causas em que se discute prerrogativa dos
juízes de portar arma de defesa pessoal, por se tratar de ação em que todos os membros da
magistratura são direta ou indiretamente interessados (art. 102, I, “n”, da CF/88).
STF. Plenário. Rcl 11323 AgR/SP, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão Min. Teori
Zavascki, julgado em 22/4/2015 (Info 782).

15.18. CE não pode criar regras novas para a escolha do Desembargador pelo quinto
constitucional – (Info 775)

A Assembleia Legislativa de determinado estado aprovou emenda constitucional


afirmando que, após o Governador escolher um dos candidatos da lista tríplice para ser
Desembargador pelo quinto constitucional, ele deveria ainda submeter esse nome à
apreciação da ALE. Assim, o candidato escolhido pelo chefe do Poder Executivo somente
seria nomeado se a Assembleia aprovasse a indicação pelo voto da maioria absoluta dos
Deputados. Dessa forma, foi criada mais uma etapa na escolha dos Desembargadores pelo
quinto constitucional, que não está prevista no art. 94 da CF/88.
O STF julgou essa emenda inconstitucional. A exigência de submissão do nome escolhido
pelo governador à Casa Legislativa, para preenchimento de vaga destinada ao quinto
constitucional, invade a atuação do Poder Executivo. O procedimento para a escolha dos
Desembargadores foi tratado de forma exaustiva pelo art. 94 da CF/88, não podendo o
constituinte estadual inovar e estabelecer novas etapas que não estejam expressamente
previstas na Carta Federal.
STF. Plenário. ADI 4150/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 25/2/2015 (Info 775).

15.19. Critério de desempate na promoção por antiguidade de magistrados – (Info 757)

A antiguidade entre magistrados deve ser aferida em razão do tempo no cargo e, no caso
de posse no mesmo dia, deve ser respeitada a ordem de classificação no concurso como
critério de desempate.
A CF/88 determina que uma Lei Complementar, de caráter nacional, deverá reger a
magistratura (art. 93 da CF/88). Logo, a norma local não pode dispor de forma diferente do
que disciplinado pela LOMAN. Justamente por isso, o STF tem declarado a
inconstitucionalidade de leis estaduais que, a pretexto de esmiuçarem questões referentes
à magistratura, modificam o critério de desempate escolhido pela LOMAN.
STF. 1ª Turma. MS 28494/MT, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 2/9/2014 (Info 757).

15.20. Análise do art. 102, I, “f”, da CF/88 – (Info 756)

Segundo o art. 102, I, “f”, da CF/88, compete ao STF processar e julgar “as causas e os
conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros,
inclusive as respectivas entidades da administração indireta”.
O STF confere interpretação restritiva a esse dispositivo e entende que, para se
caracterizar a hipótese do art. 102, I, “f”, da CF/88 é indispensável que, além de haver uma
causa envolvendo União e Estado, essa demanda tenha densidade suficiente para abalar o
pacto federativo. Em outras palavras, não é qualquer causa envolvendo União contra
Estado que irá ser julgada pelo STF, mas somente quando essa disputa puder resultar em
ofensa às regras do sistema federativo.
STF. 1ª Turma. Rcl 12957/AM, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 26/8/2014 (Info 756).

15.21. Recurso contra a prova oral nos concursos da magistratura – (Info 756)

Cabe recurso administrativo contra a prova oral nos concursos da magistratura?


Depende:
 Se o recurso tiver por objetivo impugnar os critérios de correção aplicados pelo
examinador para as respostas dadas (discutir o acerto das respostas): NÃO
 Se o recurso tiver por objetivo impugnar alguma questão que esteja fora do
conteúdo programático ou suscitar outras violações formais ao edital ou à
Resolução: SIM.
STF. 2ª Turma. MS 32042/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 26/8/2014 (Info 756).

15.22. Existência de inquérito contra o candidato ao quinto constitucional não impede a sua
posse no cargo de Desembargador – (Info 755)

O princípio constitucional da presunção de inocência veda o tratamento diferenciado a


qualquer pessoa, ou a restrição de seus direitos, pelo simples fato de responder a
inquérito.
Assim, um advogado escolhido para ser nomeado Desembargador pelo quinto
constitucional não pode ser impedido de tomar posse sob o argumento de que ele
responde a um inquérito.
STF. 2ª Turma. MS 32491/DF, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 19/8/2014 (Info 755).

15.23. Quórum para recusar a promoção por antiguidade de magistrado – (Info 753)

A CF/88 prevê que a promoção por antiguidade do juiz mais antigo somente pode ser
negada se ele for recusado pelo voto fundamentado de 2/3 (dois terços) dos membros do
respectivo Tribunal, assegurada a ampla defesa (art. 93, II, “d”).
Segundo o STF, o quórum de votos para um tribunal recusar a promoção do juiz mais
antigo não deve computar os cargos vagos ou os desembargadores afastados.
A vontade de um tribunal é manifestada por seus membros juridicamente aptos.
Desfalcado o tribunal, deve-se computar apenas os magistrados em atividade, a não ser
que afastados em caráter meramente eventual.
Assim, os cargos vagos, bem como os cargos providos, mas cujos ocupantes estejam
afastados cautelarmente do exercício da função jurisdicional, não devem ser computados
para o fim de determinação do referido quórum.
STF. 1ª Turma. MS 31357/DF e MS 31361/MT, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 5/8/14 (Info 753).

15.24. Elevação de entrância da comarca e situação do juiz que lá era titular – (Info 752) -
Somente para concursos de Juiz de Direito!

Se a lei eleva a comarca para outra instância superior (ex: de entrância intermediária para
final), o juiz que lá é titular não pode ser removido compulsoriamente em virtude dessa
transformação.
Aplica-se, no caso, a Súmula 40 do STF: A elevação da entrância da comarca não promove
automaticamente o Juiz, mas não interrompe o exercício de suas funções na mesma
comarca.
Logo, mesmo tendo havido essa transformação, o TJ não pode abrir edital para remoção
ou promoção dessa comarca. Deve-se aguardar o magistrado decidir deixar a vaga.
STF. 1ª Turma. MS 26366/PI, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 24/6/2014 (Info 752).

15.25. CE não pode impor limites à remuneração do Poder Judiciário – (Info 736)

É incompatível com a CF/88 norma da Constituição estadual que imponha limites à


remuneração do Poder Judiciário, considerando que isso já é feito pelo art. 93, V, da CF/88,
que é o quem competência para dispor sobre o tema.
STF. Plenário. ADI 509/MT, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 19/4/14 (Info 736).
16. MINISTÉRIO PÚBLICO
16.1. Ministério Público possui legitimidade para propor ACP em defesa de direitos
sociais relacionados com o FGTS – (Info 955) – IMPORTANTE!!! ATENÇÃO!!! MP!!!

O Ministério Público tem legitimidade para a propositura de ação civil pública em defesa
de direitos sociais relacionados ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).
STF. Plenário. RE 643978/SE, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 9/10/19 (repercussão geral
– Tema 850) (Info 955).

Em provas, tenha cuidado com a redação do art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 7.347/85:
Art. 1º (...) Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular pretensões
que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o Fundo de Garantia do Tempo de
Serviço - FGTS ou outros fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser
individualmente determinados. (Incluído pela Medida provisória nº 2.180-35/2001)
Se for cobrada a mera transcrição literal deste dispositivo em uma prova objetiva,
provavelmente, esta será a alternativa correta.

16.2. O Ministério Público pode ajuizar ACP para anular aposentadoria que lese o erário –
(Info 921)

O Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação civil pública que vise anular ato
administrativo de aposentadoria que importe em lesão ao patrimônio público.
STF. Plenário. RE 409356/RO, Rel. Min. Luiz Fux, j. 25/10/18 (repercussão geral) (Info 921).

16.3. Inconstitucionalidade da norma de CE que equipara remuneração de Delegados a dos


Promotores – (Info 907)

A Constituição do Estado do Ceará previa que os Delegados de Polícia de classe inicial


deveriam receber idêntica remuneração a dos Promotores de Justiça de primeira entrância,
prosseguindo na equivalência entre as demais classes pelo escalonamento das entrâncias
judiciárias.
O STF decidiu que essa regra é inconstitucional por violar o art. 37, XIII, da CF/88, que
proíbe a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias de pessoal do
serviço público.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/6/18 (Info 907).
OBS: O art. 37, XIII, da Constituição veda, expressamente, a vinculação ou equiparação de
quaisquer espécies remuneratórias para efeito de remuneração de pessoal do serviço público:
Art. 37 (...)
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies
remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público;
(Redação dada pela EC 19/98)

16.4. O art. 127 da CF/88 assegura ao MP autonomia financeira – (Info 907)

É constitucional dispositivo da Constituição Estadual que assegura ao Ministério Público


autonomia financeira e a iniciativa ao Procurador-Geral de Justiça para propor ao Poder
Legislativo a criação e a extinção dos cargos e serviços auxiliares e a fixação dos
vencimentos dos membros e dos servidores de seus órgãos auxiliares.
Também é constitucional a previsão de que o Ministério Público elaborará a sua proposta
orçamentária dentro dos limites estabelecidos pela LDO.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/6/2018 (Info 907).
OBS: O STF entende que, mesmo que o art. 127, § 2º, da CF/88 não fale em autonomia
financeira, ela é sim assegurada ao Ministério Público.
Art. 127. (...)
§ 2º Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e administrativa,
podendo, observado o disposto no art. 169, propor ao Poder Legislativo a
criação e extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por
concurso público de provas ou de provas e títulos, a política remuneratória e os
planos de carreira; a lei disporá sobre sua organização e funcionamento.
O § 3º do art. 127 reforça essa conclusão porque prevê que “o Ministério Público elaborará
sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes
orçamentárias.”

Sobre o tema, veja:


(...) A dimensão financeira dessa autonomia constitucional - considerada a
instrumentalidade de que se reveste - responde à necessidade de assegurar-se,
ao Ministério Público, a plena realização dos fins eminentes para os quais foi ele
concebido, instituído e organizado. Precedentes. Doutrina.
- Sem que disponha de capacidade para livremente gerir e aplicar os recursos
orçamentários vinculados ao custeio e à execução de suas atividades, o
Ministério Público nada poderá realizar, frustrando-se, desse modo, de maneira
indevida, os elevados objetivos que refletem a destinação constitucional dessa
importantíssima Instituição da República, incumbida de defender a ordem
jurídica, de proteger o regime democrático e de velar pelos interesses sociais e
individuais indisponíveis. (...)
STF. Plenário. ADI 2513 MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 03/04/2002.

Como já foi cobrado em concursos:


 “No que diz respeito à disciplina constitucional da autonomia financeira, aos poderes
e aos órgãos públicos, assinale a opção correta. Ao elaborar sua proposta
orçamentária, deve o MP ater-se aos limites estabelecidos na LDO, não sendo dado
ao chefe do Poder Executivo estadual interferir nessa proposta, ressalvada a
possibilidade de pleitear a sua redução ao respectivo parlamento.” (Defensor Público
– DPE-RN – CESPE – 2015 – Certo)

16.5. Compete ao PGR decidir conflito negativo entre MPE e MPF – (Info 851)

Compete ao Procurador-Geral da República (e não ao STF) decidir conflito negativo de


atribuições entre Ministério Público estadual e Ministério Público Federal.
O PGR decide conflitos de atribuições entre MPE e MPF, seja este conflito positivo ou
negativo, tanto em matéria cível como criminal.
O conflito negativo ocorre quando ambos os órgãos (MPE e MPF) entendem que não
possuem atribuição para atuar no caso; o conflito positivo é o contrário, ou seja, tanto um
como o outro defendem que têm atribuição para a causa.
No caso concreto, o MPE e o MPF divergiram sobre quem teria atribuição para apurar, em
inquérito civil, irregularidades em projeto de intervenção urbana que estaria causando
risco de danos ao meio ambiente e à segurança da população local.
STF. Plenário. Pet 5586 AgR/RS, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Teori Zavascki, j.
15/12/16 (Info 851).

16.6. O PGJ somente pode ser reconduzido uma única vez – (Info 847)

É inconstitucional dispositivo de CE que permita a recondução ao cargo de Procurador-


Geral de Justiça sem limite de mandatos.
Essa previsão contraria o art. 128, § 3º da CF/88, que autoriza uma única recondução.
STF. Plenário. ADI 3077/SE, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 16/11/16 (Info 847).
OBS:
Vejamos o art. 128, § 3º da CF/88, que autoriza uma única recondução
Art. 128 (...)
§ 3º - Os Ministérios Públicos dos Estados e o do Distrito Federal e Territórios
formarão lista tríplice dentre integrantes da carreira, na forma da lei respectiva,
para escolha de seu Procurador-Geral, que será nomeado pelo Chefe do Poder
Executivo, para mandato de dois anos, permitida uma recondução.

Cuidado para não confundir:


 Chefe do MPU: Procurador-Geral da República. Não há limites de recondução (art.
128, § 1º).
 Chefe do MPE: Procurador-Geral de Justiça. Só é permitida uma recondução (art. 128,
§ 3º).
Atenção: não há impedimento para que uma pessoa seja PGJ, seja reconduzida, passe um
mandato fora do cargo e, depois, seja novamente nomeada. O que se impede é a ocorrência
de três mandatos consecutivos.

16.7. O ato de vitaliciamento tem natureza de ato administrativo, e, assim, se sujeita ao


controle de legalidade do CNMP – (Info 842) – (MPAM-2015) (MPSC-2016)

Determinado Promotor de Justiça foi considerado aprovado no estágio probatório pelo


Colégio de Procuradores do MP. O CNMP, de ofício, reformou esta decisão e negou o
vitaliciamento do Promotor, determinando a sua exoneração.
O STF considerou legítima a atuação do CNMP.
O ato de vitaliciamento tem natureza de ato administrativo, e, assim, se sujeita ao controle
de legalidade do CNMP, por força do art. 130-A, § 2º, II, da CF/88, cuja previsão se
harmoniza perfeitamente com o art. 128, § 5º, I, "a", do texto constitucional.
Vale ressaltar que, quando o CNMP tomou esta decisão, o referido Promotor já estava
suspenso do exercício de suas funções e não chegou a completar 2 anos de efetivo
exercício. Logo, como o Promotor ainda não havia acabado seu estágio probatório, poderia
perder o cargo por decisão administrativa, não sendo necessária sentença judicial
transitada em julgado (art. 128, § 5º, I, "a", da CF/88).
STF. 2ª Turma. MS 27542/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 04/10/16 (Info 842).

16.8. Ilegitimidade ativa do MP para impetrar MS questionando decisão administrativa


que reconheceu a prescrição em processo administrativo – (Info 831) – IMPORTANTE!!!

O Procurador-Geral da República não possui legitimidade ativa para impetrar mandado


de segurança com o objetivo de questionar decisão que reconheça a prescrição da
pretensão punitiva em processo administrativo disciplinar.
A legitimidade para impetrar mandado de segurança pressupõe a titularidade do direito
pretensamente lesado ou ameaçado de lesão por ato de autoridade pública.
O Procurador-Geral da República não tem legitimidade para a impetração, pois não é o
titular do direito líquido e certo que afirmara ultrajado.
Para a impetração do MS não basta a demonstração do simples interesse ou atuação como
custos legis, uma vez que os direitos à ordem democrática e à ordem jurídica não são de
titularidade do Ministério Público, mas de toda a sociedade.
STF. 2ª Turma. MS 33736/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 21/6/16 (Info 831).
OBS:
E o § 6º do art. 103-B da CF/88? Quando o § 6º do art. 103-B da CF/88 prevê que o PGR
oficiará junto ao CNJ, esta atuação restringe-se ao âmbito interno do conselho, não
significando que ele tenha legitimidade para impetrar mandado de segurança contra as
decisões ali proferidas.

16.9. Conflito de atribuições envolvendo MPE e MPF deve ser dirimido pelo PGR – (Info
826 e Info 835)

Cabe ao Procurador-Geral da República a apreciação de conflitos de atribuição entre


órgãos do Ministério Público.
Compete ao PGR, na condição de órgão nacional do MP, dirimir conflitos de atribuições
entre membros do MPF e de Ministérios Públicos estaduais.
STF. Plenário. ACO 924/PR, Rel. Min. Luiz Fux, j. 19/5/16 (Info 826).
OBS:
"O conflito de atribuições não se confunde com o conflito de competência. Cuidando-se de
ato de natureza jurisdicional, o conflito será de competência; tratando-se de controvérsia
entre órgãos do Ministério Público sobre ato que caiba a um deles praticar, ter-se-á um
conflito de atribuições." (LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal. 3ª ed.,
Salvador: Juspodivm, 2015, p. 1113).

RESUMINDO:
16.10. Impossibilidade de o membro do MP exercer cargos fora da Instituição – (Info 817) –
IMPORTANTE!!!

Membros do Ministério Público não podem ocupar cargos públicos fora do âmbito da
instituição, salvo cargo de professor e funções de magistério.
A Resolução 72/2011 do CNMP, ao permitir que membro do Parquet exerça cargos fora do
MP, é flagrantemente contrária ao art. 128, § 5º, II, "d", da CF/88.
Consequentemente, a nomeação de membro do MP para o cargo de Ministro da Justiça
viola o texto constitucional.
STF. Plenário. ADPF 388/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 9/3/2016 (Info 817).

16.11. Designação de Promotor Eleitoral – (Info 817)

O art. 79 da LC 75/93, que confere ao Procurador Regional Eleitoral a incumbência de


designar os membros do Ministério Público estadual que atuarão junto à Justiça Eleitoral,
é constitucional, tanto sob o ponto de vista formal como material.
O Procurador-Geral da República detém a prerrogativa, ao lado daquela atribuída ao
Chefe do Poder Executivo, de iniciar os projetos de lei que versem sobre a organização e
as atribuições do Ministério Público Eleitoral.
A designação de membro do Ministério Público local (estadual) como Promotor Eleitoral
por Procurador Regional Eleitoral, que é membro do Ministério Público Federal, não
afronta a autonomia administrativa do Ministério Público do Estado.
STF. Plenário. ADI 3802/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 10/3/2016 (Info 817).

16.12. Três anos de atividade jurídica para ingresso na carreira – (Info 800)

A Constituição Federal exige, como requisito para ingresso na carreira da Magistratura, do


Ministério Público e da Defensoria Pública, além da aprovação em concurso público, que
o bacharel em direito possua, no mínimo, três anos de atividade jurídica (art. 93, I e art.
129, § 3º).
A referência a “três anos de atividade jurídica”, contida na CF/88, não se limita à atividade
privativa de bacharel em Direito.
Em outras palavras, os três anos de atividade jurídica não precisam ter sido exercidos em
um cargo privativo de bacharel em Direito. Assim, por exemplo, se uma pessoa
desempenhou por mais de três anos o cargo de técnico judiciário (nível médio), mas nele
realizava atividades de cunho jurídico, ele terá cumprido o referido requisito.
STF. 1ª Turma. MS 27601/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 22/9/2015 (Info 800).

16.13. Conselho Superior do MPE ou Colégio de Procuradores poderão anular questão de


concurso público do MP, mesmo sem previsão no edital – (Info 740)

É válido recurso contra a decisão da comissão examinadora do concurso de Promotor de


Justiça, mesmo que não tenha previsão no edital, desde que seja previsto na Lei Orgânica
da carreira.
O julgamento do recurso pelos órgãos internos do MP é válido mesmo sem a participação
da OAB. Isso porque tal decisão nada mais é do que o exercício do princípio da autotutela.
STF. 1ª Turma. MS 32176/DF, rel. Min. Dias Toffoli, j. 18/3/14 (Info 740)

17. DEFENSORIA PÚBLICA


17.1. É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Defensores Públicos – (Info
940) – IMPORTANTE!!!
É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa
de função, no Tribunal de Justiça, para Procuradores do Estado, Procuradores da ALE,
Defensores Públicos e Delegados de Polícia.
A CF/88, apenas excepcionalmente, conferiu prerrogativa de foro para as autoridades
federais, estaduais e municipais. Assim, não se pode permitir que os Estados possam,
livremente, criar novas hipóteses de foro por prerrogativa de função.
STF. Plenário. ADI 2553/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 15/5/19 (Info 940).
OBS:
Onde estão previstas as regras sobre o foro por prerrogativa de função?
 Posição tradicional do STF: O STF e a doutrina majoritária, tradicionalmente,
ensinavam o seguinte:
• Em regra, os casos de foro por prerrogativa de função são previstos na
Constituição Federal. Exs: art. 102, I, “b” e “c”; art. 105, I, “a”.
• As Constituições estaduais podem prever casos de foro por prerrogativa de
função desde que seja respeitado o princípio da simetria com a Constituição
Federal. Isso significa que a autoridade estadual que “receber” o foro por
prerrogativa na Constituição Estadual deve ser equivalente a uma autoridade
federal que tenha foro por prerrogativa de função na Constituição Federal.

Ex1: a Constituição Estadual pode prever que o Vice-Governador será julgado pelo TJ. Isso
porque a autoridade “equivalente”, em âmbito federal (Vice-Presidente da República), possui
foro por prerrogativa de função no STF (art. 102, I, “b”, CF/88). Logo, foi respeitado o
princípio da simetria.

Ex2: a Constituição Estadual não pode prever foro por prerrogativa de função para os
Delegados de Polícia, considerando que não há previsão semelhante para os Delegados
Federais na Constituição Federal (STF ADI 2587).

Essa autorização para que as Constituições Estaduais prevejam hipóteses de foro por
prerrogativa de função no TJ existe por força do art. 125, § 1º, da CF/88:
Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios
estabelecidos nesta Constituição.
§ 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo
a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.

Assim, à luz do disposto no art. 125, § 1º, da Constituição Federal, o constituinte estadual
possui legitimidade para fixar a competência do Tribunal de Justiça e, por conseguinte,
estabelecer a prerrogativa de foro às autoridades que desempenham funções similares na
esfera federal.

 Posição defendida pelo Min. Alexandre de Moraes nesta ADI 2553/MA:


A CF/88, apenas excepcionalmente, conferiu prerrogativa de foro para as
autoridades federais, estaduais e municipais. Assim, não se pode permitir que
os Estados possam, livremente, criar novas hipóteses de foro por prerrogativa
de função. A interpretação que conferisse às Constituições estaduais a
possibilidade de definir foro, considerando o princípio federativo e com esteio
no art. 125, § 1º, da CF/88, permitiria aos Estados dispor, livremente, sobre essas
prerrogativas, o que seria equivalente a assinar um “cheque em branco”. Desse
modo, para o Min. Alexandre de Moraes, as hipóteses de foro por prerrogativa
de função somente podem ser previstas validamente pela Constituição
Estadual se estiverem asseguradas, explicita ou implicitamente, pela
Constituição Federal.

Observação: Alguns Ministros acompanharam a conclusão do voto do Min. Alexandre de


Moraes, mas sem se comprometer expressamente com a sua argumentação. Assim, não se
pode dizer que esse seja o novo entendimento do STF sobre o tema. O que é preciso saber
para fins de prova é o resumo do quadro amarelo acima.
17.2. Equiparação entre Defensoria Pública e MP – (Info 907) – IMPORTANTE!!! – (TJSC-
2019)

É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que concede aos Defensores


Públicos a aplicação do regime de garantias, vencimentos, vantagens e impedimentos do
Ministério Público e da Procuradoria-Geral do Estado.
Os estatutos jurídicos das carreiras do Ministério Público e da Defensoria Pública foram
tratados de forma diversa pelo texto constitucional originário.
Ademais, a equivalência remuneratória entre as carreiras encontra óbice no art. 37, XIII, da
CF/88, que veda a equiparação ou vinculação remuneratória.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 20/6/2018 (Info 907).

Obs: o tema foi analisado tendo como parâmetro a redação originária da Constituição
Federal de 1988, ou seja, antes das Emendas Constitucionais 45/2004 e 80/2014.
(TJSC-2019-CESPE): A constituição de determinado estado da Federação dispõe que aos
defensores públicos serão garantidas as mesmas prerrogativas, os mesmos impedimentos
e os mesmos vencimentos dos membros do Ministério Público. Nessa situação hipotética,
à luz do disposto na Constituição Federal de 1988 e do entendimento jurisprudencial do
STF, a referida norma estadual é inconstitucional, pois ofende norma da CF, que veda a
equiparação e a vinculação remuneratória entre os referidos órgãos. BL: Info 907, STF.

17.3. Inconstitucionalidade de contratação de advogados, sem concurso público, para


serem Defensores Públicos – (Info 881)

É inconstitucional a contratação, sem concurso público, após a instalação da Assembleia


Constituinte, de advogados para exercerem a função de Defensor Público estadual.
Tal contratação amplia, de forma indevida, a regra excepcional do art. 22 do ADCT da
CF/88 e afronta o princípio do concurso público.
STF. 1ª Turma. RE 856550/ES, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 10/10/17 (Info 881).

17.4. Para que a DPE atue no STJ, é necessário que possua escritório de representação em
Brasília – (Info 856) – ATENÇÃO!! DEFENSORIA PÚBLICA!!

A Defensoria Pública Estadual pode atuar no STJ, no entanto, para isso, é necessário que
possua escritório de representação em Brasília. Se a Defensoria Pública estadual não tiver
representação na capital federal, as intimações das decisões do STJ nos processos de
interesse da DPE serão feitas para a DPU.
Assim, enquanto os Estados, mediante lei específica, não organizarem suas Defensorias
Públicas para atuarem continuamente nesta Capital Federal, inclusive com sede própria, o
acompanhamento dos processos no STJ constitui prerrogativa da DPU.
A DPU foi estruturada sob o pálio dos princípios da unidade e da indivisibilidade para
dar suporte às Defensorias Públicas estaduais e fazer as vezes daquelas de Estados-
Membros longínquos, que não podem exercer o múnus a cada recurso endereçado aos
tribunais superiores.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 378.088/SC, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, j. 06/12/16.
STF. 1ª Turma. HC 118294/AP, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto
Barroso, j. 7/3/17 (Info 856).

17.5. Constitucionalidade da EC 74/13, que conferiu autonomia à DPU e à DPDF – (Info


826) – IMPORTANTE!!!

É possível que emenda à Constituição Federal proposta por iniciativa parlamentar trate
sobre as matérias previstas no art. 61, § 1º da CF/88.
As regras de reserva de iniciativa fixadas no art. 61, § 1º da CF/88 não são aplicáveis ao
processo de emenda à Constituição Federal, que é disciplinado em seu art. 60.
Assim, a EC 74/13, que conferiu autonomia às Defensorias Públicas da União e do Distrito
Federal, não viola o art. 61, § 1º, II, alínea "c", da CF/88 nem o princípio da separação dos
poderes, mesmo tendo sido proposta por iniciativa parlamentar.
STF. Plenário. ADI 5296 MC/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 18/5/16 (Info 826).
OBS:
É possível emenda constitucional de iniciativa parlamentar tratando sobre os assuntos que,
em caso de propositura de projeto de lei, seriam de iniciativa reservada ao chefe do Poder
Executivo (art. 61, § 1º, da CF/88)?
 Emenda à Constituição Federal proposta por parlamentares federais: SIM.
 Emenda à Constituição Estadual proposta por parlamentares estaduais: NÃO.

17.6. Inconstitucionalidade de lei estadual que atribua ao Governador competências


administrativas na Defensoria Pública – (Info 826) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional lei estadual que atribui ao chefe do Poder Executivo estadual


competências administrativas no âmbito da Defensoria Pública.
Assim, viola o art. 134, § 2º da CF/88 a lei estadual que preveja que compete ao
Governador:
a) a nomeação do Subdefensor Público-Geral, do Corregedor-Geral, dos Defensores
Chefes e do Ouvidor da Defensoria Pública estadual;
b) autorizar o afastamento de Defensores Públicos para estudos ou missão;
c) propor, por meio de lei de sua iniciativa, o subsídio dos membros da Defensoria
Pública.
Obs: tais competências pertencem ao Defensor Público-Geral do Estado.
STF. Plenário. ADI 5286/AP, Rel. Min. Luiz Fux, j. 18/5/16 (Info 826).

17.7. Governador não pode reduzir proposta orçamentária da Defensoria elaborada de


acordo com a LDO – (Info 826) – IMPORTANTE!!!

Governador do Estado, ao encaminhar para a Assembleia Legislativa o projeto de lei


orçamentária, não pode reduzir a proposta orçamentária elaborada pela Defensoria
Pública e que estava de acordo com a LDO.
Há, neste caso, violação ao § 2º do art. 134 da CF/88.
Assim, é inconstitucional a redução unilateral pelo Poder Executivo dos orçamentos
propostos pelos outros Poderes e por órgãos constitucionalmente autônomos, como o MP
e a Defensoria Pública, na fase de consolidação do projeto de lei orçamentária anual,
quando tenham sido elaborados em obediência às leis de diretrizes orçamentárias e
enviados conforme o art. 99, § 2º, da CF/88.
Caso o Governador do Estado discorde da proposta elaborada, ele poderá só pleitear ao
Poder Legislativo a redução pretendida, visto que a fase de apreciação legislativa é o
momento constitucionalmente correto para o debate de possíveis alterações no projeto de
lei orçamentária. Não pode, contudo, já encaminhar o projeto com a proposta alterada.
STF. Plenário. ADI 5287/PB, Rel. Min. Luiz Fux, j. 18/5/16 (Info 826).

17.8. Dever do Poder Executivo de efetuar os repasses de duodécimo na forma do art. 168
da CF/88 – (Info 826) – IMPORTANTE!!!

O Governador do Estado é obrigado a efetuar o repasse, sob a forma de duodécimos e até


o dia 20 de cada mês, da integralidade dos recursos orçamentários destinados, pela lei
orçamentária, à Defensoria Pública estadual.
STF. Plenário. ADPF 339/PI, Rel. Min. Luiz Fux, j. 18/5/16 (Info 826).

17.9. Participação da Defensoria na discussão da LDO – (Info 826) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional a Lei de Diretrizes Orçamentárias que seja elaborada sem contar com a
participação da Defensoria Pública para elaborar as respectivas propostas orçamentárias.
Assim, a LDO enviada pelo Governador do Estado à Assembleia Legislativa deve contar
com a participação prévia da Defensoria Pública. Isso porque a LDO fixa limites do
orçamento anual que será destinado à Instituição.
Aplica-se às Defensorias Públicas o disposto no § 2º do art. 99 da CF/88.
STF. Plenário. ADI 5381 Referendo-MC/PR, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 18/5/16 (Info 826).
18. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA
18.1. O STF entende que não é possível a revisão do mérito das decisões do CNJ, cujos atos
e procedimentos estão sujeitos apenas ao controle de legalidade daquela Corte – (Info 933)

O STF entende que não é seu papel fazer a revisão do mérito das decisões do CNJ.
Assim, os atos e procedimentos do CNJ estão sujeitos apenas ao controle de legalidade
por parte do STF.
O mandado de segurança não se presta ao reexame de fatos e provas analisados pelo CNJ
no processo disciplinar.
A LOMAN não estabelece regras de prescrição da pretensão punitiva por faltas
disciplinares praticadas por magistrados. Diante disso, deve ser feita a aplicação
subsidiária da Lei nº 8.112/90.
STF. 2ª Turma. MS 35540/DF e MS 35521/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. 12/3/19 (Info
933).

18.2. STF mantém punição aplicada pelo CNJ à juíza envolvida no caso de prisão de
adolescente em cela masculina no Pará – (Info 929)

Deve ser mantida a decisão do CNJ que aplica pena de disponibilidade (art. 42, IV, da LC
35/79) à magistrada que, mesmo depois de informada que uma adolescente mulher estava
presa em uma mesma cela com homens, demora a tomar as providências necessárias para
corrigir essa situação e, além disso, procura se eximir de responsabilidade produzindo
documento falso com data retroativa, na tentativa de comprovar que teria adotado
providências que, na realidade, não adotou.
STF. 1ª T. MS 34490/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, j.
5/2/19 (Info 929).

18.3. O fato de o PCA instaurado no CNJ contar com um número elevado de partes
interessadas não significa, necessariamente, violação ao devido processo legal – (Info 915)

Caso concreto: foi instaurado procedimento de controle administrativo (PCA) no CNJ para
apurar a regularidade de 300 serventias judiciais.
O impetrante alega a nulidade do PCA pelo fato de haver um grande número de
interessados no mesmo processo, defendendo a ideia de que deveria ser um procedimento
para cada parte.
O STF não concordou com o mandado de segurança impetrado e manteve a decisão do
CNJ.
O fato de o PCA instaurado no CNJ contar com um número elevado de partes interessadas
não significa, necessariamente, violação ao devido processo legal, ao contraditório e à
ampla defesa.
O prejuízo à defesa deve ser analisado concretamente, à luz das especificidades do caso.
No caso concreto, tendo em vista que todos os interessados foram intimados para se
manifestarem no processo e o que CNJ enfrentou de maneira detida as teses jurídicas por
eles apresentadas, não há que se falar em anulação do ato impugnado.
Como regra geral, o controle dos atos do CNJ pelo STF somente se justifica nas hipóteses
de:
a) inobservância do devido processo legal;
b) exorbitância das competências do Conselho; e
c) injuridicidade ou manifesta irrazoabilidade do ato impugnado.
No caso concreto, não se identifica nenhuma dessas três situações. Logo, não há motivo
para a anulação da decisão do CNJ.
STF. 1ª T. MS 28495/PR, Rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, j.
13/11/18 (Info 923).

18.4. CNJ pode determinar que Tribunais de Justiça reduzam o adicional de férias dos
magistrados para 1/3 – (Info 915)

O CNJ não pode fazer controle de constitucionalidade de lei ou ato normativo de forma a
substituir a competência do STF.
Contudo, o CNJ pode determinar a correção de ato do Tribunal local que, embora
respaldado por legislação estadual, se distancie do entendimento do STF.
Assim, o CNJ pode afirmar que determinada lei ou ato normativo é inconstitucional se
esse entendimento já estiver pacificado no STF. Isso porque, neste caso, o CNJ estará
apenas aplicando uma jurisprudência, um entendimento já pacífico.
As leis estaduais que preveem abono de férias aos magistrados em percentual superior a
1/3 são inconstitucionais. Isso porque essa majoração do percentual de férias não encontra
respaldo na LOMAN, que prevê, de forma taxativa, as vantagens conferidas aos
magistrados, sendo essa a Lei que deve tratar do regime jurídico da magistratura, por
força do art. 93 da CF/88.
Não viola a autonomia dos tribunais locais deliberação do CNJ que determina aos
tribunais de justiça que enviem projeto de lei tendente à adequação da legislação local ao
regramento uniforme de âmbito nacional, pois não há no caso reserva de iniciativa da
matéria aos tribunais locais; ao contrário, os direitos da magistratura, dentre os quais o
direito ao abono de férias, são matéria de regramento nacional uniforme.
Logo, o CNJ agiu corretamente ao determinar aos Tribunais de Justiça que pagam
adicional de férias superior a 1/3 que eles enviem projetos de lei para as Assembleias
Legislativas reduzindo esse percentual.
STF. 2ª Turma. MS 31667 AgR/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 11/9/18 (Info 915).

18.5. CNJ pode avocar PAD que tramita no Tribunal se não há quórum suficiente para se
atingir maioria absoluta – (Info 901)

O TRF condenou juiz federal à pena de aposentadoria compulsória. Ocorre que, em


virtude de alguns Desembargadores terem se averbado suspeitos, este juiz foi condenado
com um quórum de maioria simples.
O CNJ reconheceu a irregularidade da proclamação do resultado e anulou o julgamento
de mérito realizado pelo TRF. Isso porque o art. 93, VIII e X, da CF/88 exige quórum de
maioria absoluta do tribunal.
Ocorre que o CNJ, após anular o julgamento de mérito realizado pelo TRF, decidiu avocar
o processo administrativo para que o magistrado fosse julgado diretamente pelo
Conselho.
O juiz impetrou MS contra essa avocação, mas o STF afirmou que o CNJ agiu
corretamente.
A Constituição, expressamente, confere ao CNJ competência para avocar processos de
natureza disciplinar em curso contra membros do Poder Judiciário. Assim, não há óbice
para que o CNJ anule o julgamento do Tribunal e inicie lá um outro procedimento.
Uma das causas legítimas de avocação de procedimentos administrativos pelo CNJ é
justamente a falta do quórum para proferir decisão administrativa por maioria absoluta
em razão de suspeição, impedimento ou falta de magistrados.
O CNJ poderia ter devolvido o processo ao TRF2, mas optou por exercer sua competência
concorrente, dentro da discricionariedade conferida pela Constituição, para julgar o
processo e evitar novas questões de suspeição e impedimento.
STF. 1ª Turma. MS 35100/DF, rel. orig. Min. Luiz Fux, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, j. 8/5/2018 (Info 901).
OBS: O art. 93, VIII e X, da CF/88 exige quórum de maioria absoluta do tribunal e, no caso
concreto, foi atingida apenas a maioria simples:
Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá
sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios: (...)
VIII - o ato de remoção, disponibilidade e aposentadoria do magistrado, por
interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do
respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla
defesa; (...)
X - as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em sessão
pública, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus
membros;

18.6. CNJ pode anular decisão do TJ que, em concurso de cartório, conferiu, na fase de
títulos, pontuação com base em interpretação contrária à Resolução do Conselho – (Info 895)

O CNJ não pode substituir a banca examinadora do concurso na escolha das questões, na
correção de provas e nas atribuições de notas. Assim, ao Conselho é defeso (proibido)
substituir o critério valorativo para escolha e correção das questões pela Banca
Examinadora nos concursos públicos.
O CNJ pode, no entanto, substituir, anular ou reformar decisões da banca do concurso que
firam os princípios da razoabilidade, da igualdade, da legalidade, da impessoalidade, da
moralidade e da publicidade. Isso porque a discricionariedade da banca de concurso não
se confunde com arbitrariedade. Se houver desrespeito aos princípios constitucionais da
administração pública, será possível a plena revisão da decisão pelo Conselho.
Ex: o CNJ pode anular decisão do Tribunal de Justiça que, em concurso de cartório, deu
interpretação equivocada a determinado item do edital, e conferiu pontuação indevida a
certos candidatos na fase de títulos. A pontuação conferida pela Comissão no TJ violava à
Resolução do CNJ que regulamenta os concursos de cartório. Neste caso, o CNJ atuou
dentro dos limites constitucionais do controle administrativo.
STF. 1ª Turma. MS 33527/RJ, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Alexandre de Moraes, j. 20/3/18 (Info 895).

18.7. O prazo de 1 ano previsto no art. 103-B, § 4º, V da CF/88 incide apenas para revisões
de PADs, não se aplicando para atuação originária do CNJ – (Info 886)

A competência originária do CNJ para a apuração disciplinar, ao contrário da revisional,


não se sujeita ao parâmetro temporal previsto no art. 103-B, § 4º, V da CF/88.
STF. 2ª Turma. MS 34685 AgR/RR, rel. Min. Dias Toffoli, j. 28/11/17 (Info 886).
OBS:
Art. 103-B (...)
§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do
Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-
lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da
Magistratura: (...)
V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes
e membros de tribunais julgados há menos de um ano;

O CNJ atuou de forma originária, instaurando, pela primeira vez, o processo administrativo
disciplinar para apurar os fatos. Assim, não se aplica o prazo do art. 103-B, § 4º, V, da CF/88,
tendo em vista que este deve ficar restrito a hipóteses em que o CNJ revisa um processo
administrativo realizado pelas instâncias correicionais inferiores.

18.8. CNJ não pode examinar controvérsia que está submetida à apreciação do Poder
Judiciário – (Info 885)

Não cabe ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), cujas atribuições são exclusivamente
administrativas, o controle de controvérsia que está submetida à apreciação do Poder
Judiciário.
STF. 1ª Turma. MS 28845/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 21/11/17 (Info 885).
OBS: Outro precedente no mesmo sentido:
O Conselho Nacional de Justiça não pode decidir, em procedimento
administrativo, matéria que já foi judicializada, ou seja, que está sendo discutida
em uma ação judicial.
O CNJ tem atribuições de natureza exclusivamente administrativa, razão pela
qual não lhe é permitido decidir questões que estejam submetidas à análise
judicial.
Se a questão já está sendo discutida em ação judicial, não cabe ao CNJ conhecer
e apreciar a matéria, sob pena de ele estar assumindo funções jurisdicionais. Se a
parte interessada não concorda com a decisão judicial, ela dispõe de recursos
para impugná-la, não podendo provocar o CNJ para interferir no assunto.
STF. 2ª Turma. MS 27650/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 24/6/14 (Info 752).

18.9. Competência originária e concorrente do CNJ. Utilização no PAD de dados obtidos


em descoberta fortuita na investigação criminal – (Info 875)

Competência originária e concorrente do CNJ


A CF conferiu competência originária e concorrente ao CNJ para aplicação de medidas
disciplinares. Assim, a competência do CNJ é autônoma (e não subsidiária). Logo, o CNJ
pode atuar mesmo que não tenha sido dada oportunidade para que a corregedoria local
pudesse investigar o caso.

Utilização no PAD de dados obtidos em descoberta fortuita na investigação criminal


É possível a utilização de dados obtidos por descoberta fortuita em interceptações
telefônicas devidamente autorizadas como prova emprestada em processo administrativo
disciplinar.
STF. 1ª Turma. MS 30361 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 29/8/17 (Info 875).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: O Juiz Federal deferiu interceptação telefônica para
investigar uma organização criminosa. Um dos investigados mencionou o nome de João (Juiz
de Direito) como tendo participação nos crimes. O magistrado informou o fato ao TJ. O CNJ
tomou conhecimento e instaurou processo disciplinar contra o Juiz Estadual, aplicando-lhe a
pena de aposentadoria compulsória. Diante disso, o magistrado condenado impetrou
mandado de segurança alegando, dentre outros argumentos:
a) ofensa ao princípio da subsidiariedade. A competência disciplinar do CNJ é subsidiária e,
antes de o Conselho atuar, deveria ter sido dada oportunidade para que o caso fosse apurado
pela Corregedoria do TJ ao qual o Juiz é vinculado;
b) invalidade das provas, as quais haviam sido obtidas durante a investigação de outras
pessoas.

Quem julga mandado de segurança contra ato do CNJ? O STF, nos termos do art. 102, I, “r”,
da CF/88.

E se o magistrado tivesse proposto ação ordinária? Quem julga ação ordinária proposta
contra ato do CNJ? Justiça Federal de 1ª instância (art. 109, I, da CF/88).

O STF concordou com os argumentos do impetrante do MS? NÃO.

As interceptações não foram direcionadas ao Juiz Estadual, tendo seu nome surgido a partir
de uma descoberta fortuita.

Vale ressaltar que, segundo a jurisprudência do STF, a partir do momento em que surgem
indícios de participação de detentor de prerrogativa de foro nos fatos apurados, cumpre à
autoridade judicial declinar da competência, e não persistir na prática de atos objetivando
aprofundar a investigação (RHC 135683/GO).

No caso concreto, o STF entendeu que não houve atraso indevido do Juiz Federal no envio
das provas descobertas contra o Juiz Estadual aos órgãos competentes para investigá-lo (TJ e
CNJ).

18.10. CNJ, no exercício de controle administrativo, pode deixar de aplicar lei


inconstitucional – (Info 851) – (TJRS-2018)

O CNJ pode determinar que Tribunal de Justiça exonere servidores nomeados sem
concurso público para cargos em comissão que não se amoldam às atribuições de direção,
chefia e assessoramento, contrariando o art. 37, V, da CF/88. Esta decisão do CNJ não
configura controle de constitucionalidade, sendo exercício de controle da validade dos
atos administrativos do Poder Judiciário.
STF. Plenário. Pet 4656/PB, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 19/12/16 (Info 851).
OBS:
O STF manteve a decisão do CNJ? SIM. O STF considerou válida a atuação do CNJ.

Não houve controle de constitucionalidade: Em primeiro lugar, importante esclarecer que,


realmente, o CNJ não pode fazer controle de constitucionalidade porque este órgão não
possui atribuições jurisdicionais (mas apenas administrativas). Nesse sentido:
"O Conselho Nacional de Justiça, embora seja órgão do Poder Judiciário, nos
termos do art. 103-B, § 4º, II, da Constituição Federal, possui, tão somente,
atribuições de natureza administrativa e, nesse sentido, não lhe é permitido
apreciar a constitucionalidade dos atos administrativos, mas somente sua
legalidade." (STF. Plenário. MS 28872 AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski,
julgado em 24/02/2011).
No entanto, no caso concreto, o STF entendeu que o CNJ não fez controle de
constitucionalidade. Para o Supremo, o CNJ apenas declarou a nulidade dos atos de
nomeação afirmando que, administrativamente, não se poderia aplicar aquela lei estadual.

Órgãos autônomos podem deixar de aplicar leis inconstitucionais: As leis inconstitucionais


não são normas atendíveis, porque colidem com mandamento de uma lei superior, que é a
Constituição Federal. Em virtude desse entendimento, a doutrina defende que é possível que
o chefe do Poder Executivo se recuse a cumprir uma lei se ela for claramente inconstitucional.

O STF afirmou que esse mesmo entendimento pode ser aplicado para órgãos administrativos
autônomos, como o TCU, o CNMP e o CNJ. Assim, tais órgãos, ao realizarem controle de
validade dos atos administrativos, podem determinar a não aplicação de leis
inconstitucionais.

18.11. Revisão disciplinar e prazo de instauração – (Info 830)

O CNJ pode proceder à revisão disciplinar de juízes e membros de tribunais desde que
observado o requisito temporal: processos disciplinares julgados há menos de um ano.
Essa medida pode ser instaurada de ofício ou mediante provocação de qualquer
interessado e admite que o CNJ agrave ou abrande a decisão disciplinar revista (art. 103-B,
§ 4º, V, da CF/88).
STF. 1ª Turma. MS 33565/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 14/6/16 (Info 830).
OBS:
Exemplo: Determinado Juiz respondeu a um processo disciplinar na corregedoria do
Tribunal de Justiça. Ao final, recebeu, como pena, uma pena de suspensão de 90 dias.
Não houve recurso e o processo se encerrou no âmbito do TJ. O CNJ pode, de ofício ou
mediante provocação de qualquer interessado, instaurar, no âmbito do Conselho, um
processo de revisão disciplinar.

Quais são as hipóteses em que será possível essa revisão? O que justifica uma revisão pelo
CNJ? O tema foi disciplinado pelo Regimento Interno do CNJ nos seguintes termos:
Art. 83. A revisão dos processos disciplinares será admitida:
I - quando a decisão for contrária a texto expresso da lei, à evidência dos autos
ou a ato normativo do CNJ;
II - quando a decisão se fundar em depoimentos, exames ou documentos
comprovadamente falsos;
III - quando, após a decisão, surgirem fatos novos ou novas provas ou
circunstâncias que determinem ou autorizem modificação da decisão proferida
pelo órgão de origem.

O que o CNJ irá fazer neste processo de revisão disciplinar? Irá examinar o processo
disciplinar que foi realizado no âmbito do Tribunal e poderá anular ou reformar a decisão
que foi tomada, seja para absolver ou condenar o magistrado processado. O CNJ poderá,
ainda, aumentar ou diminuir a pena imposta. Nesse sentido, o Regimento Interno do CNJ
prevê:
Art. 88. Julgado procedente o pedido de revisão, o Plenário do CNJ poderá
determinar a instauração de processo administrativo disciplinar, alterar a
classificação da infração, absolver ou condenar o juiz ou membro de Tribunal,
modificar a pena ou anular o processo.

Prazo: O CNJ possui um prazo decadencial de 1 ano para instaurar o processo de revisão
disciplinar. Veja o que diz a CF/88:
Art. 103-B (...)
§ 4º Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do
Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-
lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da
Magistratura: (...)
V - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes
e membros de tribunais julgados há menos de um ano;
A partir de quando é contado este prazo de 1 ano? O prazo estabelecido no art. 103-B, § 4º, V,
da CF/88 para o CNJ rever processo disciplinar instaurado contra magistrado começa a fluir
da publicação da decisão do Tribunal no órgão oficial (STF. 2ª Turma. MS 26.540, Rel. Min.
Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2014).

Imagine que passou o prazo de 1 ano, mas o juiz que foi punido administrativamente pelo TJ
ainda não se conformou com a decisão e deseja revertê-la. Como não pediu a revisão
disciplinar ao CNJ, o que ele ainda poderá fazer? O pedido de revisão disciplinar para o CNJ
deve ser feito até 1 ano após o julgamento do processo disciplinar pelo respectivo Tribunal.
Esgotado tal prazo só restará ao interessado socorrer-se da via judicial para discutir a
punição que lhe foi aplicada. (STF. Plenário. MS 27.767-AgR, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, j. 23/3/11).

18.12. Revisão disciplinar e prazo de instauração – (Info 808)

O CNJ possui a competência para rever, de ofício ou mediante provocação, as decisões das
Corregedorias locais que julgam, a favor ou contra, juízes e membros de Tribunais. No
entanto, essa competência revisora deverá ser exercida no prazo máximo de 1 ano depois
da decisão proferida (art. 103-B, § 4º, V, da CF/88).
STF. 2ª Turma. MS 32724/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, j. 17/11/15 (Info 808).

18.13. Sindicância e delegação de competência – (Info 799)

A competência constitucional do CNJ é autônoma (e não subsidiária).


É regular a designação de juiz auxiliar, seja ele originário do Judiciário estadual ou
federal, para a condução de sindicância, por delegação do Corregedor-Nacional de Justiça,
ainda que o investigado seja magistrado federal. A autoridade delegada atua em nome do
CNJ, sendo irrelevante, portanto, se é Juiz Estadual ou Federal.
STF. 2ª Turma. MS 28513/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 15/9/2015 (Info 799).

18.14. Possibilidade de processo disciplinar e afastamento cautelar de magistrado para


apurar sua suposta parcialidade – (Info 767)

O CNJ, ao iniciar um processo disciplinar contra o magistrado, pode determinar o seu


afastamento cautelar das funções por ele desempenhadas, caso a continuidade do
exercício do ofício judicante possa interferir no curso da apuração ou comprometer a
legitimidade de sua atuação e a higidez dos atos judiciais.
O CNJ pode instaurar processo disciplinar contra juiz para apurar eventual parcialidade
de suas decisões. A prerrogativa da intangibilidade dos atos de conteúdo jurisdicional não
é absoluta e não autoriza a prática de ilegalidades. Ademais, a análise dos fatos a serem
apurados pelo CNJ não avança sobre o mérito das decisões judiciais prolatadas pelo
magistrado, mas sobre sua conduta, supostamente parcial. Embora os atos judiciais e a
parcialidade de magistrado na condução do processo estejam sujeitos a medidas
processuais específicas, como recursos, a atuação do juiz pode e deve ser objeto de exame
disciplinar quando houver indícios de violação dos deveres funcionais impostos pela lei e
pela Constituição.
STF. 2ª Turma. MS 32721/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 11/11/2014 (Info 767).

18.15. Processo de revisão disciplinar – (Info 766)

I – É desnecessário esgotar as vias ordinárias para que o CNJ instaure processo de revisão
disciplinar.
II – Não se aplica a prescrição punitiva em perspectiva, sendo imprescindível a
instauração do competente processo administrativo disciplinar, no qual serão apurados os
fatos e indicada a infração para a qual teria concorrido o magistrado para, só então,
verificar se houve a prescrição.
STF. 1ª Turma. MS 28918 AgR/DF, Rel. Min. Dias Tofoli, julgado em 4/11/2014 (Info 766).

18.16. CNJ não pode interferir em matéria de competência jurisidicional – (Info 753)

CNJ não pode declarar inválido artigo do Regimento Interno do Tribunal de Justiça que
trate sobre competência jurisdicional. Isso porque o CNJ tem a competência de exercer o
controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos
deveres funcionais dos juízes. No caso em análise, o Conselho interferiu em matéria de
competência jurisdicional do TJ, matéria que é estranha às suas funções.
STF. 2ª Turma. MS 30793/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 5/8/2014 (Info 753).

18.17. Ato do CNJ e matéria sujeita à apreciação judicial – (Info 752)

O CNJ não pode decidir, em procedimento administrativo, matéria que já foi


judicializada, ou seja, que está sendo discutido em uma ação judicial.
O CNJ tem atribuições de natureza exclusivamente administrativas, razão pela qual não
lhe é permitido decidir questões que estejam submetidas à análise judicial.
Se a questão já está sendo discutida em ação judicial, não cabe ao CNJ conhecer e apreciar
a matéria, sob pena de ele estar assumindo funções jurisdicionais. Se a parte interessada
não concorda com a decisão judicial ele dispõe de recursos para impugná-la, não podendo
provocar o CNJ para interferir no assunto.
STF. 2ª Turma. MS 27650/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 24/6/2014 (Info 752).

19. CNMP
19.1. Caso tenha avocado o PAD, o CNMP pode aproveitar os atos instrutórios realizados
na origem – (Info 874)

Se o CNMP decidir avocar um PAD que está tramitando na Corregedoria local por
suspeita de parcialidade do Corregedor, ele poderá aproveitar os atos instrutórios
praticados regularmente na origem pela Comissão Processante.
Não há motivo para se anular os atos instrutórios já realizados pela Comissão Processante,
sem participação do Corregedor, especialmente se o interessado não demonstra a
ocorrência de prejuízo. O princípio do pas de nullité sans grief é plenamente aplicável no
âmbito do Direito Administrativo, inclusive em processos disciplinares.
Desse modo, o STF reconheceu que não houve qualquer ilegalidade na atuação do CNMP.
STF. 2ª Turma. MS 34666 AgR/DF, rel. Min. Dias Toffoli, j. 29/8/17 (Info 875).

19.2. Procedimento de controle administrativo e notificação pessoal (Info 805)

Reveste-se de nulidade a decisão do CNMP que, em procedimento de controle


administrativo (PCA), notifica o interessado por meio de edital publicado no Diário
Oficial da União para restituir valores aos cofres públicos.
A notificação por edital é feita com fundamento no Regimento Interno do CNMP. Essa
previsão também constava no Regimento interno do CNJ. Ocorre que o STF entende que
tal disposição normativa é inconstitucional, sendo necessária a intimação pessoal.
STF. 2ª Turma. MS 26419/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 27/10/15 (Info 805).

19.3. STF não têm competência para ações decorrentes de decisões negativas do CNMP e
do CNJ – (Info 785)

A competência para julgar mandados de segurança impetrados contra o CNJ e o CNMP é


do STF (art. 102, I, “r”, da CF/88).
Algumas vezes o interessado provoca o CNJ ou o CNMP, mas tais órgãos recusam-se a
tomar alguma providência no caso concreto porque alegam que não tem competência para
aquela situação ou que não é hipótese de intervenção. Nessas hipóteses, dizemos que a
decisão do CNJ ou CNMP foi “NEGATIVA” porque ela nada determina, nada aplica,
nada ordena, nada invalida.
Nesses casos, a parte interessada poderá impetrar MS contra o CNJ/CNMP no STF?
NÃO. O STF não tem competência para processar e julgar ações decorrentes de decisões
negativas do CNMP e do CNJ. Segundo entende o STF, como o conteúdo da decisão do
CNJ/CNMP foi “negativo”, ele não decidiu nada. Se não decidiu nada, não praticou
nenhum ato. Se não praticou nenhum ato, não existe ato do CNJ/CNMP a ser atacado no
STF.
STF. 1ª Turma. MS 33163/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 5/5/2015 (Info 784).
19.4. CNMP não possui competência para realizar controle de constitucionalidade de lei –
(Info 781) - Atenção! Ministério Público!

O CNMP não possui competência para realizar controle de constitucionalidade de lei,


considerando que se trata de órgão de natureza administrativa, cuja atribuição se resume a
fazer o controle da legitimidade dos atos administrativos praticados por membros ou
órgãos do Ministério Público federal e estadual (art. 130-A, § 2º, da CF/88).
Assim, se o CNMP, julgando procedimento de controle administrativo, declara a
inconstitucionalidade de artigo de Lei estadual, ele exorbita de suas funções.
STF. 1ª Turma. MS 27744/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 14/4/2015 (Info 781).

20. POLÍCIA CIVIL


20.1. Chefe da Polícia Civil tem que ser um Delegado de carreira, mas não se pode limitar
aos que integram a última classe – (Info 847)

É inconstitucional dispositivo de CE que exija que o Superintendente da Polícia Civil seja


um delegado de polícia integrante da classe final da carreira.
STF. Plenário. ADI 3077/SE, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 16/11/16 (Info 847).
OBS:
A CF/88, ao tratar sobre a Polícia Civil, estabelece o seguinte:
Art. 144 (...)
§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem,
ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração
de infrações penais, exceto as militares.

Esse parâmetro estabelecido pela CF/88 deverá ser seguido pelas Constituições Estaduais
por força do princípio da simetria. Em outras palavras, se as Cartas estaduais forem tratar
sobre a Polícia Civil e seu chefe, não poderão prever regra diferente do que preconiza o § 4º
acima.

A Constituição Estadual poderá prever que o chefe da Polícia Civil será alguém que não é
Delegado? NÃO. É inconstitucional dispositivo de Constituição estadual que preveja que o
chefe da Polícia Civil seja alguém que não integre a carreira. Isso porque essa pessoa deverá
ser obrigatoriamente um Delegado de Polícia de carreira.

A Constituição Estadual poderá exigir que o chefe da Polícia Civil seja um Delegado de
Polícia integrante da classe final da carreira? Também NÃO. O cargo de Superintendente da
Polícia Civil deve ser escolhido entre Delegados de carreira. No entanto, não se pode exigir
que este(a) Delegado(a) seja da classe final da carreira. A CF/88 trata sobre o tema no art.
144, § 4º e não faz esta exigência. Logo, o constituinte estadual violou o modelo imposto pela
CF/88, criando um novo requisito. Veja precedente do STF neste sentido:
Consoante dispõe o artigo 144, § 4º, da Constituição Federal, as polícias civis são
dirigidas por delegados de carreira, não cabendo a inobservância da citada
qualificação, nem a exigência de que se encontrem no último nível da
organização policial. STF. Plenário. ADI 3038, Rel. Min. Marco Aurélio, j.
11/12/14.

21. TRIBUNAL DE CONTAS


21.1. ATUAÇÃO DOS TRIBUNAIS DE CONTAS: O prazo decadencial previsto na Lei nº
9.784/99 não se aplica às tomadas de contas regidas pela Lei nº 8.443/92 – (Info 959)

O prazo decadencial quinquenal, previsto no art. 54 da Lei 9.784/99, não se aplica para a
atuação do TCU em processo de tomada de contas, considerando que se trata de
procedimento regido pela Lei nº 8.443/92, que se constitui em norma especial.
Em suma, o prazo decadencial de 5 anos, previsto no art. 54 da Lei 9.784/99, não se aplica
aos processos de tomada de contas conduzidos pelo TCU considerando que existe uma lei
específica que rege o tema, que é a Lei nº 8.443/92.
STF. 1ª T. MS 35038 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 12/11/19 (Info 959).
STF. Plenário. MS 25641, Rel. Min. Eros Grau, j. 22/11/07.
STF. 1ª T. MS 33414 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, j. 2/8/16.
STF. 2ª T. MS 26297 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, j. 17/3/17.

21.2. ATUAÇÃO DOS TRIBUNAIS DE CONTAS: Suspensão de pagamentos que estão


sendo realizados com base em contrato investigado em tomada de contas – (Info 959)

TCU possui a competência para determinar que empresa pública federal (BNDES)
suspenda pagamentos que estão sendo realizados com base em contrato de confissão de
dívida cuja regularidade está sendo apurada em tomada de contas.
STF. 1ª T. MS 35038 AgR/DF, Rel. Min. Rosa Weber, j. 12/11/19 (Info 959).

21.3. O TCU (e não o TCDF) é o órgão competente para fiscalizar os recursos decorrentes
do Fundo Constitucional do Distrito Federal – (Info 958)

O Tribunal de Contas da União (TCU) é o órgão competente para fiscalizar os recursos


decorrentes do Fundo Constitucional do Distrito Federal (art. 21, XIV, CF/88 e Lei
10.633/02).
Os recursos destinados ao Fundo Constitucional do Distrito Federal pertencem aos cofres
federais, consoante disposto na Lei 10.663/02. Logo, a competência para fiscalizar a
aplicação dos recursos da União repassados ao FCDF é do Tribunal de Contas da União.
STF. 2ª T. MS 28584/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac. Min. Edson
Fachin, j. 29/10/19 (Info 958)

21.4. Ministério Público do Tribunal de Contas não possui legitimidade para impetrar
mandado de segurança mesmo que para defender suas prerrogativas institucionais – (SEM
INFO) – IMPORTANTE!!!

O Ministério Público de Contas não tem legitimidade para impetrar mandado de


segurança em face de acórdão do Tribunal de Contas perante o qual atua.
STF. Plenário virtual. RE 1178617 RG, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 25/4/19
(repercussão geral).
OBS:
Imagine a seguinte situação hipotética: João é Procurador de Contas, ou seja, é membro do
Ministério Público que atua perante o Tribunal de Contas. João formulou representação ao
Tribunal de Contas pedindo a apuração de irregularidades que teriam ocorrido em uma
licitação. O Conselheiro Relator levou esta representação para julgamento do Tribunal de
Contas sem incluí-la em pauta e sem intimar o Ministério Público. Na sessão, a referida
representação foi extinta e arquivada. Diante disso, João impetrou mandado de segurança
contra este acórdão do Tribunal de Contas. A autoridade coatora, ao apresentar informações
no mandado de segurança, alegou que o Ministério Público que atua junto ao Tribunal de
Contas não possui autonomia, estando vinculado à estrutura administrativa da Corte de
Contas. Logo, ele não teria legitimidade e capacidade postulatória para impetrar mandado de
segurança impugnando acórdão prolatado pelo próprio Tribunal de Contas.

O MP tem legitimidade e capacidade postulatória para o presente MS? É possível a


impetração de mandado de segurança pelo Ministério Público de Contas contra ato do
Tribunal de Contas ao qual ele está vinculado? NÃO.

Previsão do MPTC na CF/88: O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas é previsto em


um único dispositivo constitucional:
Art. 130. Aos membros do Ministério Público junto aos Tribunais de Contas
aplicam-se as disposições desta seção pertinentes a direitos, vedações e forma de
investidura.

MPTC não possui fisionomia institucional próprias: O Ministério Público junto ao Tribunal
de Contas não dispõe de “fisionomia institucional própria”, estando vinculado
administrativamente às Cortes de Contas:
O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas não dispõe de fisionomia
institucional própria, não integrando o conceito de Ministério Público
enquanto ente despersonalizado de função essencial à Justiça (CF/88, art.
127), cuja abrangência é disciplina no art. 128 da Constituição Federal. STF. 2ª T.
Rcl 24162 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 22/11/2016.

Ausência de autonomia: As autonomias previstas no art. 127, § 2º, da CF/88 não se aplicam
ao Ministério Público especial junto aos Tribunais de Contas. Assim, esse “Parquet” continua
sendo, na linha da tradição jurídica consagrada pela prática republicana, parte integrante da
própria estruturação orgânica dos Tribunais de Contas (Min. Celso de Mello).

MPTC não possui as atribuições do Ministério Público comum: O Ministério Público junto
ao Tribunal de Contas possui atuação funcional exclusiva perante as Cortes de Contas,
limitada ao controle externo a que se refere o art. 71 da CF/88:
Nos termos do art. 128 da CF/88, o MP junto aos Tribunais de Contas não
compõe a estrutura do Ministério Público comum da União e dos Estados,
sendo apenas atribuídas aos membros daquele as mesmas prerrogativas
funcionais deste (art. 130). As atribuições do Ministério Público comum, entre
as quais se inclui sua legitimidade processual extraordinária e autônoma, não se
estendem ao Ministério Público junto aos Tribunais de Contas, cuja atuação está
limitada ao controle externo a que se refere o art. 71 da CF/88. STF. 1ª Turma.
Rcl 24159 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 8/11/2016.

Assim, a atuação do Procurador de Contas é restrita ao âmbito administrativo do Tribunal de


Contas ao qual faz parte, não possuindo, em regra, legitimidade ativa para propor demandas
judiciais.

E o art. 130 da CF/88, não poderia ser invocado como fundamento para conferir legitimidade
ao MPTC? NÃO. A cláusula de garantia inscrita no art. 130 da CF/88 é de ordem subjetiva,
ou seja, diz apenas que os membros do MPTC possuem os mesmos direitos, vedações e
forma de investidura que os demais membros do Ministério Público “comum”. No entanto,
esse dispositivo não se relaciona com as atribuições institucionais do MPTC. Nesse sentido:
Rcl 24.162 AgR, Rel. Min. Dias Toffoli, DJe 7/12/2016.

O STF fixou a seguinte tese para fins de repercussão geral:


O Ministério Público de Contas não tem legitimidade para impetrar mandado
de segurança em face de acórdão do Tribunal de Contas perante o qual atua.
STF. Plenário virtual. RE 1178617 RG, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado
em 25/04/2019 (repercussão geral).

Obs: o STJ tinha entendimento contrário ao do STF (RMS 52741-GO, Rel. Min. Herman
Benjamin, julgado em 8/8/2017), mas terá agora que se curvar ao entendimento do Supremo.

21.5. É inconstitucional lei estadual ou emenda à Constituição do Estado, de iniciativa


parlamentar, que trate sobre organização ou funcionamento do TCE – (Info 940)

É inconstitucional lei estadual, de origem (iniciativa) parlamentar, que discipline a


organização e o funcionamento do Tribunal de Contas estadual (TCE).
Isso porque os Tribunais de Contas possuem reserva de iniciativa (competência privativa)
para apresentar os projetos de lei que tenham por objetivo tratar sobre a sua organização
ou o seu funcionamento (art. 96, II c/c arts. 73 e 75 da CF/88).
Os Tribunais de Contas, conforme reconhecido pela CF/88 e pelo STF, gozam das
prerrogativas da autonomia e do autogoverno, o que inclui, essencialmente, a iniciativa
privativa para instaurar processo legislativo que pretenda alterar sua organização e
funcionamento.
STF. Plenário. ADI 4643/RJ, Rel. Min. Luiz Fux, j. 15/5/19 (Info 940).

21.6. É inconstitucional norma da Constituição Estadual que preveja regra sobre a


organização ou funcionamento do TCE de forma diferente do modelo federal – (Info 937)

O art. 75 da CF/88 estabelece que deverá haver um “espelhamento obrigatório” do modelo


de controle externo do TCU previsto na CF/88 para os Tribunais de Contas dos Estados/DF
e para os Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios. Isso significa que é
materialmente inconstitucional norma da Constituição Estadual que trate sobre a
organização ou funcionamento do TCE de forma diferente do modelo federal. Caso isso
ocorra, haverá uma violação ao art. 75 da Carta Maior.
Diante disso, é inconstitucional dispositivo da CE que preveja que, se o TCE reconhecer a
boa-fé do infrator e se este fizer a liquidação tempestiva do débito ou da multa, a Corte
deverá considerar saneado o processo. Esta regra é inconstitucional porque não há
previsão semelhante na CF/88.
STF. Plenário. ADI 5323/RN, Rel. Min. Rosa Weber, j. 11/4/2019 (Info 937).

21.7. É inconstitucional lei estadual ou emenda à Constituição do Estado, de iniciativa


parlamentar, que trate sobre organização ou funcionamento do TCE – (Info 937)

Os Tribunais de Contas possuem reserva de iniciativa (competência privativa) para


deflagrar o processo legislativo que tenha por objeto alterar a sua organização ou o seu
funcionamento (art. 96, II c/c arts. 73 e 75 da CF/88). Trata-se de uma prerrogativa que
decorre da independência e autonomia asseguradas às Cortes de Contas.
Assim, é inconstitucional lei estadual ou mesmo emenda à Constituição do Estado, de
iniciativa parlamentar, que trate sobre organização ou funcionamento do TCE.
A promulgação de emenda à Constituição Estadual não constitui meio apto para contornar
(burlar) a cláusula de iniciativa reservada.
STF. Plenário. ADI 5323/RN, Rel. Min. Rosa Weber, j. 11/4/19 (Info 937).

21.8. É inconstitucional norma de Constituição Estadual que confira competência ao TCE


para homologar os cálculos das cotas do ICMS devidas aos Municípios – (Info 921)

O ICMS é um imposto de competência estadual. Apesar disso, o art. 158, inciso IV da


CF/88 determina que o Estado deverá repassar 25% da receita do ICMS aos Municípios.
Esse repasse será realizado após cálculos que são feitos para definir o valor da cota-parte
que caberá a cada Município, segundo critérios definidos pelo art. 158, § único, da CF/88 e
pela lei estadual.
A Constituição do Estado do Amapá previu que seria competência do TCE homologar os
cálculos das cotas do ICMS devidas aos Municípios.
Este dispositivo é inconstitucional.
Sujeitar o ato de repasse de recursos públicos à homologação do TCE representa ofensa ao
princípio da separação e da independência dos Poderes.
STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 25/10/18 (Info 921).
OBS:
Repartição do ICMS: É um imposto de competência estadual. A CF/88 determina que o
Estado deverá repassar 25% da receita do ICMS aos Municípios. Veja:
Art. 158. Pertencem aos Municípios: (...)
IV - vinte e cinco por cento do produto da arrecadação do imposto do Estado
sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de
serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação.

A CF/88 determina ainda que seja feito um cálculo para que os Municípios onde ocorreram
os fatos geradores do ICMS (ex: venda da mercadoria) recebam mais que os outros. Assim,
os Municípios nos quais mais se vendeu mercadorias (p. ex.) que geraram o recolhimento de
ICMS receberão, em tese, cotas maiores de repasse. Confira o texto constitucional:
Art. 158 (...)
Parágrafo único. As parcelas de receita pertencentes aos Municípios,
mencionadas no inciso IV, serão creditadas conforme os seguintes critérios:
I - três quartos, no mínimo, na proporção do valor adicionado nas operações
relativas à circulação de mercadorias e nas prestações de serviços, realizadas em
seus territórios;
II - até um quarto, de acordo com o que dispuser lei estadual ou, no caso dos
Territórios, lei federal.

Vale ressaltar que, no mínimo, 3/4 dos 25% a que os Municípios têm direito deverão
obedecer a esse critério. No entanto, é possível que no 1/4 restante o Estado adote outros
critérios para repartir o valor do ICMS.

Resumindo: Municípios têm direito a 25% do ICMS. Desses 25%:


 3/4 (no mínimo) deverão ser repartidos proporcionalmente ao volume de operações
de circulação de mercadorias e de prestação de serviços ocorridos nos Municípios.
Municípios maiores, ou seja, com mais vendas e serviços, receberão mais.

 1/4 (no máximo) deverão ser repartidos conforme critérios que o Estado definir em
lei estadual. Ex: receberão mais os Municípios com maior preservação do meio
ambiente, com menor IDH, com maior população etc.

Assim, a cota-parte que será repassada a cada Município depende desses cálculos.

Competência do TCE para homologar os cálculos: A Constituição do Estado do Amapá


previu a seguinte competência para o TCE:
Art. 112. O controle externo, a cargo da Assembleia Legislativa, será exercido
com o auxílio do Tribunal de Contas do Estado, ao qual compete: (...)
XVII - homologar os cálculos das cotas do ICMS devidas aos Municípios;

Desse modo, a CE/AP estabeleceu que, após serem feitos os cálculos de quanto cada
Município deverá receber a título de ICMS (normalmente este cálculo é feito pela Secretaria
de Fazenda), o TCE deverá homologar ou não esse resultado. A Assembleia Legislativa do
Amapá argumentou que essa competência poderia ser concedida ao TCE considerando que a
CF/88 conferiu ao TCU a competência para realizar os cálculos das quotas relacionadas com
os Fundos de Participação dos Estados (FPE) e dos Municípios (FPM), nos termos do art. 161,
parágrafo único:
Art. 161. Cabe à lei complementar: (...)
II - estabelecer normas sobre a entrega dos recursos de que trata o art. 159,
especialmente sobre os critérios de rateio dos fundos previstos em seu inciso I,
objetivando promover o equilíbrio sócio-econômico entre Estados e entre
Municípios; (...)
Parágrafo único. O Tribunal de Contas da União efetuará o cálculo das quotas
referentes aos fundos de participação a que alude o inciso II.

A ALE/AP alegou, portanto, que o art. 112, XVII, foi inspirado no § único do art. 161 da
CF/88 e que, portanto, poderia ser reputado, constitucional em homenagem ao princípio da
simetria.

Essa previsão do art. 112, XVII, da CE/AP é constitucional? NÃO. Sujeitar o ato de repasse
de recursos públicos à homologação do Tribunal de Contas do Estado representa ofensa ao
princípio da separação e da independência dos Poderes. Como o TCE é um órgão auxiliar da
Assembleia Legislativa, o STF entendeu que, condicionar o repasse das cotas-partes dos
Municípios à homologação do TCE significaria, ao fim e ao cabo, condicionar este
pagamento à ingerência da Assembleia Legislativa. Para os Ministros, não há semelhança
entre a atividade de gerenciamento dos Fundos de Participação dos Estados (FPE) e dos
Municípios (FPM), exercida pelo TCU com base no art. 161, parágrafo único da CF/88, com a
homologação dos cálculos de quotas do ICMS pelo TCE. Não há que se falar em simetria
neste caso porque inexiste simetria entre os Fundos de Participação e quotas de repasse de
ICMS. São situações distintas. No caso do FPE e do FPM, o próprio TCU efetua os cálculos
das quotas-partes cabíveis aos entes federados à luz de estimativas demográficas fornecidas
pelo IBGE. Os fundos de participação são de natureza contábil, desprovidos de
personalidade jurídica e de gerenciamento do TCU por força da CF/88. Situação diversa diz
respeito ao repasse obrigatório às municipalidades das verbas arrecadadas pelo estado-
membro referente ao ICMS, uma vez que não é fundo financeiro e possui relativa liberdade
de conformação. Dessa forma, o TCE é completamente alheio ao processo de definição dos
critérios das quotas, da mesma forma que o TCU não participa dos repasses na arrecadação
de tributos federais, como o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

Como já foi cobrado em concursos:


 (Procurador do Tribunal de Contas - TCE-AP - FCC - 2010) Nos termos da Lei
Orgânica do Tribunal de Contas do Estado do Amapá, compete ao Tribunal de
Contas homologar os cálculos das quotas do ICMS e do IPVA devidas aos
municípios (ERRADO)
21.9. Competência do TCU para fiscalizar a Fundação Banco do Brasil somente quanto aos
recursos oriundos do Banco do Brasil – (Info 897)

Não compete ao TCU adotar procedimento de fiscalização que alcance a Fundação Banco
do Brasil quanto aos recursos próprios, de natureza eminentemente privada, repassados
por aquela entidade a terceiros, eis que a FBB não integra o rol de entidades obrigadas a
prestar contas àquela Corte de Contas, nos termos do art. 71, II, da CF.
A FBB é uma pessoa jurídica de direito privado não integrante da Administração Pública.
Assim, a FBB não necessita se submeter aos ditames da gestão pública quando repassar
recursos próprios a terceiros por meio de convênios.
Por outro lado, quando a FBB recebe recursos provenientes do Banco do Brasil —
sociedade de economia mista que sofre a incidência dos princípios da Administração
Pública previstos no art. 37, caput, da Constituição Federal, — ficará sujeita à fiscalização
do TCU. Isso porque, neste caso, tais recursos, como são provenientes do BB, têm caráter
público.
STF. 2ª Turma. MS 32703/DF, Rel. Min. Dias Tóffoli, j. 10/4/18 (Info 897).
OBS:
O TCU tem competência para fiscalizar o Banco do Brasil? SIM. O Banco do Brasil integra a
Administração Pública federal indireta e, portanto, está sujeito à fiscalização do TCU, nos
termos do art. 71, II, da CF/88:
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso Nacional, será exercido com o
auxílio do Tribunal de Contas da União, ao qual compete: (...)
II - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros,
bens e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as
fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo Poder Público federal, e as
contas daqueles que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de
que resulte prejuízo ao erário público;

O TCU tem competência para fiscalizar a Fundação Banco do Brasil? Em regra, não deveria
ter. Isso porque como se trata de uma fundação de caráter privado, em regra, ela não está
sujeita à fiscalização do TCU nem se submete aos princípios e à legislação aplicáveis à
Administração Pública. Como fundação de direito privado, a FBB está, em regra, submetida
apenas à fiscalização do Ministério Público estadual, nos termos do art. 66 do Código Civil:
Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas.

Quando a FBB for transferir dinheiro para alguma entidade social, de pesquisa etc.,
precisará observar os princípios que regem a Administração Pública (ex: a Lei nº 8.666/93)?
Essa transferência está sujeita à fiscalização do TCU? Depende. É necessário analisar a
natureza jurídica do recurso transferido pela FBB (se são recursos públicos ou
eminentemente privados) para que se possa aferir, com exatidão, a necessidade de submissão
aos princípios norteadores da gestão pública, consequentemente, ao crivo do controle
externo. A situação é, portanto, a seguinte:
 se os recursos que a FBB estiver transferindo para terceiros forem provenientes do
Banco do Brasil ou de alguma outra entidade do poder público (o BB transferiu
esses recursos para a FBB e agora a FBB está repassando para terceiros): haverá
fiscalização do TCU. Isso porque, neste caso, tais recursos, como são provenientes do
BB, têm caráter público.
 se os valores que a FBB estiver transferindo forem “recursos próprios” (excluídas
as dotações que recebe do Banco do Brasil): não haverá fiscalização do TCU porque
a FBB não é uma entidade da Administração Pública. Logo, se são recursos
eminentemente seus (recursos próprios), a verba é privada.

A FBB não poderia ser considerada como uma fundação instituída e mantida“pelo Poder
Público federal”, atraindo sempre a fiscalização do TCU com base no art. 71, II, da CF/88?
NÃO. Isso porque o STF entende que o Banco do Brasil, apesar de integrar a Administração
Pública federal, não pode ser considerado como “poder público”:
O Banco do Brasil, entidade da Administração Indireta dotada de personalidade
jurídica de direito privado, voltada à exploração de atividade econômica em
sentido estrito, não pode ser concebida como poder público. STF. Plenário. MS
24427, Rel. Min. Eros Grau, DJ 24/11/06.
Logo, a FBB consiste em entidade privada não instituída pelo poder público.

21.10. A Constituição Federal não proíbe a extinção de Tribunais de Contas dos Municípios
– (Info 883) – IMPORTANTE!!!

A Constituição Federal não proíbe a extinção de Tribunais de Contas dos Municípios.


STF. Plenário. ADI 5763/CE, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 26/10/17 (Info 883).
OBS:
Quem realiza o controle externo da Administração Pública?
Esfera FEDERAL Esfera ESTADUAL Esfera DISTRITAL Esfera MUNICIPAL
O Congresso A Assembleia A Câmara Distrital, A Câmara
Nacional, com o Legislativa, com o com o auxílio do Municipal, com o
auxílio do TCU. auxílio do TCE. TCDF. auxílio do TCE.

Tribunal de Contas DOS MUNICÍPIOS (Tribunal de Contas dos Municípios do Estado...) -


TCM do Estado X: Em regra, a fiscalização dos recursos municipais é feita pelo Tribunal de
Contas. No entanto, a CF autoriza que seja criado um Tribunal de Contas dos Municípios.
Este Tribunal de Contas dos Municípios, se criado, tem a função de auxiliar as Câmaras
Municipais no exercício do controle externo.

Assim, por exemplo, imagine que exista um Tribunal de Contas dos Municípios na Bahia.
Este Tribunal irá auxiliar a Câmara Municipal de Ilhéus (BA) a fazer o controle externo dos
recursos daquele Município. De igual forma, irá também atuar em relação às contas de
Vitória da Conquista, Feira de Santana e todos os demais Municípios da Bahia.
Desse modo, o Tribunal de Contas dos Municípios é um órgão ESTADUAL que atua na
fiscalização das contas de todos os Municípios de determinado Estado.
Atualmente, só existem três Tribunais de Contas dos Municípios: na Bahia, em Goiás e no
Pará.
Nos demais Estados onde não há Tribunal de Contas dos Municípios, a competência para
realizar essa fiscalização é do TCE.
Vale ressaltar que a CF/88 não proíbe que os Estados criem novos Tribunais de Contas dos
Municípios.

Tribunal de Contas DO MUNICÍPIO (Tribunal de Contas Municipal) – TC do Município X:


É um órgão MUNICIPAL que tem a função de auxiliar uma única Câmara Municipal no
exercício do controle externo em relação a um determinado Município.

Atualmente, só existem dois Tribunais de Contas do Município: o Tribunal de Contas do


Município do Rio de Janeiro e o Tribunal de Contas do Município de São Paulo.
Assim, por exemplo, o controle externo em relação às contas do Município de São Paulo é
exercido pela Câmara Municipal de São Paulo, com o auxílio técnico do TCM de São
Paulo. O controle externo em relação aos demais Municípios do Estado de São Paulo (exs:
Santos, Campinas, Guarulhos etc.) é exercido pelas respectivas Câmaras Municipais com o
auxílio do TCE de São Paulo.

A CF/88 proíbe que sejam criados novos Tribunais de Contas do Município:


Art. 31 (...)
§ 4º É vedada a criação de Tribunais, Conselhos ou órgãos de Contas
Municipais.

Sobre o tema, confira esta didática decisão do STF:


(...) A Constituição da República impede que os Municípios criem os seus
próprios Tribunais, Conselhos ou órgãos de contas municipais (CF, art. 31, § 4º),
mas permite que os Estados-membros, mediante autônoma deliberação,
instituam órgão estadual denominado Conselho ou Tribunal de Contas dos
Municípios (...) incumbido de auxiliar as Câmaras Municipais no exercício de
seu poder de controle externo (CF, art. 31, § 1º). Esses Conselhos ou Tribunais
de Contas dos Municípios - embora qualificados como órgãos estaduais (CF,
art. 31, § 1º) - atuam, onde tenham sido instituídos, como órgãos auxiliares e
de cooperação técnica das Câmaras de Vereadores. (...) STF. Plenário. ADI 687,
Rel. Min. Celso de Mello, julgado em 02/02/1995.
Tribunais de Contas dos Municípios x Tribunal de Contas do Município:
Tribunais de Contas DOS MUNICÍPIOS Tribunal de Contas DO MUNICÍPIO
Órgão estadual que atua na fiscalização das Órgão municipal que atua na fiscalização
contas de todos os Municípios de das contas de um único Município.
determinado Estado.
Atua como órgão auxiliar de todas as Atua como órgão auxiliar de uma única
Câmaras Municipais de determinado Câmara Municipal no exercício do controle
Estado no exercício do controle externo externo sobre determinado Município.
sobre os respectivos Municípios daquele
Estado.
A CF/88 permite que os Estados criem A CF/88 proíbe que sejam criados novos
novos Tribunais de Contas dos Municípios. Tribunais de Contas Municipais.
Atualmente, existem três: TCM/BA, Atualmente, existem dois: TCM/Rio de
TCM/GO e TCM/PA. Janeiro e TCM/São Paulo.

Situação enfrentada pelo STF: No Estado do Ceará havia um Tribunal de Contas dos
Municípios, ou seja, um Tribunal de Contas específico para auxiliar as Câmaras Municipais
no exercício do controle externo sobre os Municípios cearenses. Em 2017, houve uma emenda
à Constituição do Estado do Ceará extinguindo o TCM/Ceará. A Associação dos Membros
dos Tribunais de Contas do Brasil (ATRICON) ajuizou uma ADI contra esta emenda
constitucional apresentando os seguintes argumentos:
 A emenda foi aprovada pelos Deputados como retaliação pelo fato de que muitos
deles tiveram as suas contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas dos Municípios do
Estado do Ceará com relação ao período em que eram Prefeitos. Teria havido,
portanto, desvio do poder de legislar;
 Não haveria redução de despesas na extinção do Tribunal de Contas;
 O art. 31, § 4º da CF/88 proibiria a extinção dos Tribunais de Contas dos Municípios;
 Teria havido vício de iniciativa porque a emenda constitucional foi proposta por
parlamentares.

O STF concordou com os argumentos da ATRICON? A ADI foi julgada procedente? NÃO.

Ausência de provas do suposto desvio do poder de legislar: O STF entendeu que a fraude na
edição de lei com o objetivo de alcançar finalidade diversa do interesse público deve ser
explicitada e comprovada. O mero fato de alguns dos Parlamentares terem tido suas contas
desaprovadas não conduz à conclusão de que a votação da emenda estaria viciada.

Ausência de economia não é motivo para declarar a emenda inconstitucional: As alegações


de ausência de economia orçamentária e perda de eficiência com a promulgação da emenda
questionada são insuficientes para configurar a inconstitucionalidade do ato. No processo
objetivo de constitucionalidade não se adentra em questões fáticas como, por exemplo, a
quantidade de processos julgados pelo Tribunal de Contas dos Municípios e pelo Tribunal de
Contas do Estado.

CF/88 não impede a extinção dos Tribunais de Contas dos Municípios: O art. 31, §§ 1º e 4º, da
CF/88 não proíbem a extinção de Tribunais de Contas dos Municípios. A Constituição
permitiu (facultou) que os Estados-membros concentrassem toda a fiscalização no Tribunal
de Contas do Estado (TCE) ou que criassem um outro órgão (Tribunal de Contas dos
Municípios) exclusivamente com a finalidade de fiscalizar as contas dos Municípios daquele
respectivo Estado. Não há, assim, qualquer norma na Constituição Federal que proíba a
extinção do Tribunal de Contas dos Municípios por meio da promulgação de emenda à
Constituição Estadual.

Não houve vício de iniciativa: A CF/88 afirmou que cabe aos Tribunais de Contas dispor
sobre a própria organização e funcionamento, e o fez com o propósito de assegurar-lhes a
autonomia necessária para exercer atividade fundamental à integridade do erário. Isso não
impede, contudo, que haja a extinção de Tribunal de Contas dos Municípios mediante
emenda cujo processo de elaboração tenha sido deflagrado por Deputados Estaduais. Não há
qualquer dispositivo constitucional que leve à conclusão de que é impossível emenda à
Constituição, de iniciativa parlamentar, tratando sobre a extinção de Tribunal de Contas dos
Municípios.

21.11. MPTC não possui legitimidade para propor reclamação no STF – (Info 883)

O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas não possui legitimidade ativa para
propor reclamação no STF alegando descumprimento da decisão do Supremo.
A atuação dos membros do MPTC limita-se, unicamente, ao âmbito dos próprios
Tribunais de Contas perante os quais oficiam.
STF. 2ª T. Rcl 24156 AgR/DF e Rcl 24158 AgR/DF, Rel. Min. Celso de Mello, j. 24/10/17
(Info 883).
OBS:
Cuidado com a situação excepcional reconhecida pelo STJ:
O membro do Ministério Público que atua perante o Tribunal de Contas
possui legitimidade e capacidade postulatória para impetrar mandado de
segurança, em defesa de suas prerrogativas institucionais, contra acórdão
prolatado pela respectiva Corte de Contas. Ex: Procurador de Contas pode
impetrar mandado de segurança contra acórdão do Tribunal de Contas que
extinguiu representação contra licitação sem incluí-la em pauta e sem intimar o
MP. STJ. 2ª Turma. RMS 52.741-GO, Rel. Min. Herman Benjamin, j. 8/8/17 (Info
611).

21.12. Auditoria do TCU e desnecessidade de participação dos terceiros reflexamente


prejudicados. Não aplicação do art. 54 da Lei nº 9.874/99 para as fiscalizações realizadas pelo
TC na forma do art. 71, IV, da CF/88 – (Info 873)

Auditoria do TCU e desnecessidade de participação dos terceiros reflexamente prejudicados


Em auditoria realizada pelo TCU para apurar a gestão administrativa do órgão, os
terceiros indiretamente afetados pelas determinações do Tribunal (ex: pensionistas) não
possuem direito de serem ouvidos no processo fiscalizatório.
Não existe, no caso, desrespeito ao devido processo legal.
Nessa espécie de atuação administrativa, a relação processual envolve apenas o órgão
fiscalizador e o fiscalizado, sendo dispensável a participação dos interessados.
O contraditório pressupõe a existência de litigantes ou acusados, o que não ocorre quando
o Tribunal de Contas atua no campo da fiscalização de órgãos e entes administrativos.
O contraditório deve ser garantido pelo órgão de origem, a quem cabe o cumprimento da
determinação do Tribunal de Contas.

Não aplicação do art. 54 da Lei nº 9.784/99 para as fiscalizações realizadas pelo TC na


forma do art. 71, IV, da CF/88
Em casos de “fiscalização linear exercida pelo Tribunal de Contas”, nos termos do art. 71,
IV, da CF/88, não se aplica o prazo de decadência previsto no art. 54 da Lei nº 9.784/99. Isso
porque em processos de “controle abstrato”, o Tribunal de Contas não faz o exame de ato
específico do qual decorre efeito favorável ao administrado. A Corte está examinando a
regularidade das contas do órgão e a repercussão sobre eventual direito individual é
apenas indireta.
STF. 1ª Turma. MS 34224/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 15/8/2017 (Info 873).

21.13. Prazo prescricional para aplicação de multa pelo TCU – (Info 858)

O prazo prescricional para que o TCU aplique multas é de 5 anos, aplicando-se a previsão
do art. 1º da Lei nº 9.873/99.
Caso esteja sendo imputada ao agente público a conduta omissiva de ter deixado de tomar
providências que eram de sua responsabilidade, tem-se que, enquanto ele permaneceu no
cargo, perdurou a omissão. No momento em que o agente deixou o cargo, iniciou-se o
fluxo do prazo prescricional.
STF. 1ª Turma. MS 32201/DF, rel. Min. Roberto Barroso, j. 21/3/17 (Info 858).

21.14. Criação de Procuradoria do Tribunal de Contas e impossibilidade de que tal órgão


seja responsável pela cobrança das multas – (Info 851)

É constitucional a criação de órgãos jurídicos na estrutura de Tribunais de Contas


estaduais, vedada a atribuição de cobrança judicial de multas aplicadas pelo próprio
tribunal.
É inconstitucional norma estadual que preveja que compete à Procuradoria do Tribunal
de Contas cobrar judicialmente as multas aplicadas pela Corte de Contas.
A Constituição Federal não outorgou aos Tribunais de Contas competência para executar
suas próprias decisões.
As decisões dos Tribunais de Contas que acarretem débito ou multa têm eficácia de título
executivo, mas não podem ser executadas por iniciativa do próprio Tribunal.
STF. Plenário. ADI 4070/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 19/12/2016 (Info 851).

21.15. É inconstitucional norma de CE que dispensa o parecer prévio no julgamento das


contas dos Prefeitos caso o TCE não o elabore no prazo de 180 dias – (Info 847)

Determinada Constituição Estadual prevê que, se o TCE não elaborar, no prazo de 180
dias, o parecer prévio na prestação de contas do Prefeito, o processo deverá ser
encaminhado à Câmara Municipal e esta julgará as contas mesmo sem o parecer.
Esta previsão é inconstitucional por violar o art. 31, § 2º, da CF/88. Pela leitura desse
dispositivo, a elaboração do parecer prévio é sempre necessária e a Câmara Municipal
somente poderá dele discordar se houver manifestação de, no mínimo, 2/3 dos Vereadores.
Assim, a CE/SE criou uma exceção na qual a Câmara Municipal poderia julgar as contas
dos Prefeitos mesmo sem parecer do TCE. Ocorre que esta nova situação não encontra
abrigo na Constituição Federal, sendo, portanto, inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 3077/SE, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 16/11/16 (Info 847).
OBS:
Qual é o "órgão competente" para julgar as contas do Prefeito? A Câmara Municipal.

E o Tribunal de Contas estadual? O papel do TCE é apenas o de auxiliar o Poder Legislativo


municipal (Câmara Municipal). O TCE emite um parecer prévio sugerindo a aprovação ou
rejeição das contas do Prefeito. Após, este parecer é submetido à Câmara, que poderá afastar
as conclusões do Tribunal de Contas, desde que pelo voto de, no mínimo, 2/3 dos
Vereadores.
Essa é a interpretação que se extrai do art. 31, § 2º da CF/88:
Art. 31 (...)
§ 2º O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as
contas que o Prefeito deve anualmente prestar, só deixará de
prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara
Municipal.

21.16. É inconstitucional norma da CE que preveja competir à ALE julgar as contas do Poder
Legislativo – (Info 847) – (TJPE-2013) (DPEMG-2014)

É inconstitucional norma da Constituição Estadual que preveja que compete


privativamente à Assembleia Legislativa julgar as contas do Poder Legislativo estadual.
Seguindo o modelo federal, as contas do Poder Legislativo estadual deverão ser julgadas
pelo TCE, nos termos do art. 71, II c/c art. 75, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 3077/SE, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 16/11/16 (Info 847).
OBS:
Competências do Tribunal de Contas: As competências do Tribunal de Contas da União estão
previstas no art. 71 da CF/88. Uma das principais atribuições do TCU é a de julgar as contas
dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores públicos da
administração direta e indireta (inciso II).

O TCU julga as contas do chefe do Poder Executivo (Presidente da República)? NÃO. As


contas do Presidente da República são anualmente apresentadas ao TCU. Este, em um prazo
máximo de 60 dias, aprecia as contas e prepara um parecer prévio, que é enviado ao
Congresso Nacional. De posse do parecer, o Congresso julga se as contas do chefe do Poder
Executivo estão regulares ou não. Desse modo, a competência para JULGAR as contas do
Presidente da República é do Congresso Nacional (art. 49, IX, da CF/88).

As contas dos demais administradores que lidem com verbas federais serão julgados pelo
TCU? SIM. De acordo com a CF/88, o TCU irá julgar as contas de todos os administradores
que lidem com verbas federais, salvo as do Presidente da República (que são julgadas pelo
Parlamento). Essa é a interpretação que se chega a partir da leitura dos incisos I e II do art. 71.

Essas regras acima expostas são aplicáveis também para os Tribunais de Contas estaduais?
SIM. Os Tribunais de Contas estaduais são competentes para julgar as contas dos
administradores que lidem com verbas estaduais ou municipais, com exceção das contas dos
chefes do Poder Executivo (Governador e Prefeitos). Desse modo, o TCE irá julgar as contas
de todos os administradores que lidem com verbas estaduais ou municipais, salvo as do
Governador e dos Prefeitos. As contas do Governador são julgadas pela Assembleia
Legislativa, após o TCE elaborar um parecer. As contas dos Prefeitos são julgadas pelas
respectivas Câmaras Municipais, após o TCE elaborar um parecer.

21.17. Auditoria do TCU e desnecessidade de participação do servidor indiretamente


afetado – (Info 819)

Em auditoria realizada pelo TCU para apurar a gestão administrativa do Poder


Legislativo, os servidores indiretamente afetados pelas determinações do Tribunal não
possuem direito de serem ouvidos no processo fiscalizatório.
Não existe, no caso, desrespeito ao devido processo legal.
A atuação do TCU ficaria inviabilizada se, nas auditorias realizadas, fosse necessário
intimar, para integrar o processo administrativo de controle, qualquer um que pudesse ser
alcançado, embora de forma indireta, pela decisão da Corte.
STF. 1ª Turma. MS 32540/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 29/3/2016 (Info 819).
OBS:
Imagine a seguinte situação adaptada: O TCU instaurou auditoria com o objetivo de
averiguar a legalidade da folha de pagamentos dos servidores da Câmara dos Deputados. O
TCU concluiu pela ilegalidade da gratificação "X". João, técnico-legislativo da Câmara dos
Deputados, é um dos servidores que recebia a verba questionada. Diante disso, ele impetrou
mandado de segurança contra o TCU alegando que houve violação ao devido processo legal
considerando que ele deveria ter sido convocado para se defender, já que poderia sofrer
reflexo patrimonial com a decisão.

O pedido de João encontra guarida na jurisprudência do STF? NÃO.

21.18. Independência da tomada de contas em relação ao PAD – (Info 798)

As atribuições do Tribunal de Contas da União são independentes em relação ao


julgamento do processo administrativo disciplinar instaurado para apurar falta funcional
do servidor público. Em outras palavras, o processo no TCU não depende nem está
vinculado ao PAD.
STF. 2ª Turma. MS 27427 AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 8/9/2015 (Info
798).

21.19. Citação no processo de tomada de contas – (Info 798)

Nos processos administrativos que tramitam no TCU, é possível a citação do interessado


por via postal?
SIM. O envio de carta registrada com aviso de recebimento está expressamente
enumerado entre os meios de comunicação de que dispõe o TCU para proceder às suas
intimações.

O interessado alega que não mora mais no endereço para o qual a carta com AR foi
enviada. Contudo, constata-se que esse é o endereço que consta na Receita Federal como
sendo do interessado, além do que é o mesmo que está na petição inicial do MS por ele
impetrado. A alegação de nulidade da citação deverá ser aceita?
NÃO. Inicialmente, deve-se esclarecer que a validade da comunicação dos atos do TCU
não depende de comunicação pessoal do interessado, bastando sua efetivação por meio de
carta registrada com aviso de recebimento que comprove sua entrega no endereço do
destinatário.
No caso concreto, a citação foi enviada ao endereço fornecido pelo impetrante no cadastro
da Receita Federal do Brasil, que é o mesmo informado na petição inicial do mandado de
segurança impetrado. Logo, o STF entendeu que foi comprovada a entrega da carta
registrada no endereço do destinatário, de forma que não se podia falar em nulidade do
processo.
STF. 2ª Turma. MS 27427 AgR/DF, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 8/9/2015 (Info
798).

21.20. Análise de aposentadoria e gratificação recebida por força de decisão judicial


transitada em julgado – (Info 793)

A sentença que reconhece ao trabalhador ou a servidor o direito a determinado percentual


de acréscimo remuneratório deixa de ter eficácia a partir da superveniente incorporação
definitiva do referido percentual nos seus ganhos.
Sendo uma relação de caráter continuativo (todos os meses a servidora recebe aquela
remuneração) e tendo havido superveniente modificação na situação de fato (o referido
reajuste foi incorporado, por lei, aos vencimentos da servidora), essa alteração no status
quo produz, de forma imediata e automática, a cessação da eficácia da decisão acobertada
pela coisa julgada. E para essa cessação não é necessária ação rescisória ou ação revisional.
Assim, se o TCU, ao analisar uma aposentadoria, percebe que determinada gratificação
recebida por servidor público por força de sentença transitada em julgado já foi
incorporada/extinta por leis posteriores, este Tribunal poderá determinar a sua supressão
sem que isso viole a coisa julgada. Neste caso, a mudança no estado das coisas faz com
que esta coisa julgada não mais subsista.
STF. 2ª Turma.MS 32435 AgR/DF, rel. orig. Min. Celso de Mello, red. p/ o acórdão, Min.
Teori Zavascki, j. 4/8/2015 (Info 793).

21.21. BNDES é obrigado a fornecer ao TCU documentos e informações sobre contrato de


financiamento celebrado com empresa privada – (Info 787) – IMPORTANTE!!! - (TJSC-2019)

O BNDES celebrou um contrato de financiamento com um grande grupo empresarial de


carnes bovinas. A Comissão de Controle Externo da Câmara dos Deputados solicitou ao
TCU que realizasse auditoria neste contrato. O TCU instaurou o procedimento e
determinou ao BNDES que enviasse os documentos relacionados com a operação.
O BNDES impetrou mandado de segurança no STF contra o TCU pedindo para não ser
obrigado a fornecer as informações solicitadas, sob o fundamento de que isso violaria o
sigilo bancário e empresarial da empresa que recebeu o financiamento.
O STF concordou com as razões invocadas no MS?
NÃO. O STF denegou (indeferiu) o mandado de segurança impetrado e determinou que o
BNDES enviasse as informações.
O envio de informações ao TCU relativas a operações de crédito originárias de recursos
públicos não é coberto pelo sigilo bancário. O acesso a tais dados é imprescindível à
atuação do TCU na fiscalização das atividades do BNDES.
O STF possui precedentes no sentido de que o TCU não detém legitimidade para
requisitar diretamente informações que importem quebra de sigilo bancário. No entanto,
a Corte reputou que a situação acima relatada seria diferente dos demais precedentes do
Tribunal, já que se trata de informações do próprio BNDES em um procedimento de
controle legislativo financeiro de entidades federais por iniciativa do Parlamento.
STF. 1ª Turma. MS 33340/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/5/2015 (Info 787).

21.22. Natureza do TCU – (Info 787) - (TJSC-2019)

O TCU ostenta a condição de órgão independente na estrutura do Estado brasileiro, cujas


funções estão elencadas nos incisos do art. 71 da CF/88. Seus membros possuem as
mesmas prerrogativas que as asseguradas aos magistrados (art. 73, § 3º da CF/88), tendo
suas decisões a natureza jurídica de atos administrativos passíveis de controle
jurisdicional. Trata-se de um tribunal de índole técnica e política, criado para fiscalizar o
correto emprego dos recursos públicos.
Os Tribunais de Contas realizam controle de legitimidade, economicidade e de eficiência,
verificando se os atos praticados pelos entes controlados estão de acordo com a
moralidade, eficiência, proporcionalidade.
No atual contexto juspolítico brasileiro, o Tribunal de Contas possui competência para
aferir se o administrador atuou de forma prudente, moralmente aceitável e de acordo com
o que a sociedade dele espera.
O TCU representa um dos principais instrumentos republicanos destinados à
concretização da democracia e dos direitos fundamentais, na medida em que o controle do
emprego de recursos públicos propicia, em larga escala, justiça e igualdade.
STF. 1ª Turma. MS 33340/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 26/5/2015 (Info 787).

21.23. Competência para declarar a inidoneidade de empresa para licitar – (Info 786) –
IMPORTANTE!!!

O TCU tem competência para declarar a inidoneidade de empresa privada para participar
de licitações promovidas pela Administração Pública. Essa previsão está expressa no art.
46 da Lei 8.443/92, sendo considerada constitucional:
Art. 46. Verificada a ocorrência de fraude comprovada à licitação, o Tribunal declarará a
inidoneidade do licitante fraudador para participar, por até cinco anos, de licitação na
Administração Pública Federal.
STF. Plenário. MS 30788/MG, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto
Barroso, julgado em 21/5/2015 (Info 786).

21.24. Anulação de acordo extrajudicial pelo TCU – (Info 780)

O TCU tem legitimidade para anular acordo extrajudicial firmado entre particulares e a
Administração Pública, quando não homologado judicialmente.
Se o acordo foi homologado judicialmente, o TCU não pode anulá-lo porque a questão já
passou a ser de mérito da decisão judicial, o que não pode ser revisto pelo Tribunal de
Contas.
Contudo, sendo o acordo apenas extrajudicial, a situação está apenas no âmbito
administrativo, de sorte que o TCU tem legitimidade para anular o ajuste celebrado.
STF. 1ª Turma. MS 24379/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 7/4/2015 (Info 780).

21.25. Medida cautelar de indisponibilidade de bens – (Info 779)

O TCU possui competência para decretar, no início ou no curso de qualquer procedimento


de apuração que lá tramite, a indisponibilidade dos bens do responsável por prazo não
superior a 1 ano (art. 44, § 2º da Lei 8.443/92).
O STF entende que essa previsão é constitucional, de forma que se admite, ainda que de
forma excepcional, a concessão, sem audiência da parte contrária, de medidas cautelares,
por deliberação fundamentada do Tribunal de Contas, sempre que necessárias à
neutralização imediata de situações que possam causar lesão ao interesse público ou ainda
para garantir a utilidade prática do processo que tramita no TCU. Isso não viola, por si só,
o devido processo legal nem qualquer outra garantia constitucional, como o contraditório
ou a ampla defesa.
STF. 2ª Turma. MS 33092/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 24/3/2015 (Info 779).

21.26. Lei estadual que veda acesso de documentos ao TCE é inconstitucional – (Info 760)

É inconstitucional lei estadual que proíbe que o TCE, quando estiver fazendo inspeções
ou auditorias, tenha acesso a determinados documentos inerentes à Administração
Pública.
Essa previsão constitui ato atentatório à efetiva atuação do Tribunal de Contas,
restringindo sua competência para realizar o controle externo das contas do Estado-
membro sem que a CF/88 tenha permitido essa limitação.
STF. Plenário. ADI 2361/CE, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 24/9/2014 (Info 760).

21.27. Atribuições dos Tribunais de Contas – (Info 755)

É inconstitucional regra prevista na Constituição Estadual que determine que o Tribunal


de Contas não pode sustar licitação, dispensa ou inexigibilidade que estejam sendo
analisadas naquela Corte.
É também inconstitucional regra da CE que preveja recurso contra as decisões do Tribunal
de Contas para o Plenário da Assembleia Legislativa.
Essas duas regras violam o modelo previsto pela CF/88 a respeito dos Tribunais de Contas
(art. 71) e que deve ser obedecido pelas Cartas Estaduais (art. 75).
STF. Plenário. ADI 3715/TO, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 21/8/2014 (Info 755).

21.28. Fiscalização do TCU sobre valores de contribuição sindical – (Info 740)

As contribuições sindicais compulsórias possuem natureza tributária, constituem receita


pública e, portanto, os responsáveis pela sua gestão sujeitos à competência fiscalizatória
do TCU.
Ademais, a atividade de controle do TCU sobre a atuação das entidades sindicais não
representa violação à autonomia sindical.
STF. Plenário. MS 28465/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/3/2014 (Info 740).

22. ADVOGADO
22.1. Advogado tem direito de ser atendido no INSS independentemente de distribuição
de fichas – (Info 742)

É direito do advogado, no exercício de seu múnus profissional, ser recebido no posto do


Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, independentemente de distribuição de fichas,
em lugar próprio ao atendimento.
STF. 1ª Turma. RE 277065/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 8/4/14 (Info 742).

23. ADVOCACIA PÚBLICA


23.1. O art. 132 da CF/88 confere à PGE atribuição para a consultoria jurídica e a
representação judicial apenas no que se refere à administração pública direta, autárquica e
fundacional – (Info 954) – IMPORTANTE!!! PGE!!!

É inconstitucional lei estadual que confira à Procuradoria-Geral do Estado (PGE)


competência para controlar os serviços jurídicos e para fazer a representação judicial de
empresas públicas e sociedades de economia mista, inclusive com a possibilidade de
avocação de processos e litígios judiciais dessas estatais.
Essa previsão cria uma ingerência indevida do Governador na administração das
empresas públicas e sociedades de economia mista, que são pessoas jurídicas de direito
privado.
O art. 132 da CF/88 confere às Procuradorias dos Estados/DF atribuição para as atividades
de consultoria jurídica e de representação judicial apenas no que se refere à administração
pública direta, autárquica e fundacional.
STF. Plenário. ADI 3536/SC, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 2/10/19 (Info 954).

23.2. É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Procuradores do Estado –


(Info 940) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional dispositivo da Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa


de função, no Tribunal de Justiça, para Procuradores do Estado, Procuradores da ALE,
Defensores Públicos e Delegados de Polícia.
A CF/88, apenas excepcionalmente, conferiu prerrogativa de foro para as autoridades
federais, estaduais e municipais. Assim, não se pode permitir que os Estados possam,
livremente, criar novas hipóteses de foro por prerrogativa de função.
STF. Plenário. ADI 2553/MA, Rel. Min. Gilmar Mendes, red. p/ o ac. Min. Alexandre de
Moraes, j. 15/5/19 (Info 940).
OBS: Vide comentários no Item 17 – Defensoria Pública.

23.3. É constitucional lei estadual que preveja o cargo em comissão de Procurador-Geral da


universidade estadual – (Info 935)

É constitucional lei estadual que preveja o cargo em comissão de Procurador-Geral da


universidade estadual. Esta previsão está de acordo com o princípio da autonomia
universitária (art. 207 da CF/88).
STF. Plenário. ADI 5262 MC/RR, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 27 e 28/3/19 (Info 935)
23.4. Viola o art. 132 da CF/88 norma da Constituição Estadual que preveja que a
assistência jurídica da Administração indireta será exercida por profissionais do corpo
jurídico que compõem seus respectivos quadros – (Info 935) – IMPORTANTE!!!

Viola o art. 132 da CF/88 norma da Constituição Estadual que preveja que a assistência
jurídica da Administração indireta será exercida por profissionais do corpo jurídico que
compõem seus respectivos quadros
É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que preveja que “a representação
judicial e extrajudicial dos órgãos da administração indireta é de competência dos
profissionais do corpo jurídico que compõem seus respectivos quadros e integram
advocacia pública cujas atividades são disciplinadas em leis especificas.”
Essa previsão viola o princípio da unicidade da representação judicial dos Estados e do
Distrito Federal.
O art. 132 da CF/88 atribuiu aos Procuradores dos Estados e do DF exclusividade no
exercício da atividade jurídica contenciosa e consultiva não apenas dos órgãos, mas
também das entidades que compõem a administração pública indireta.
STF. Plenário. ADI 5262 MC/RR, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 27 e 28/3/19 (Info 935).

Inconstitucionalidade da previsão de procuradores autárquicos


É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que cria o cargo de procurador
autárquico em estrutura paralela à Procuradoria do Estado.
Também é inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que transforma os cargos
de gestores jurídicos, advogados e procuradores jurídicos em cargos de procuradores
autárquicos.
STF. Plenário. ADI 5215/GO, Rel. Min. Roberto Barroso, j. 27 e 28/3/19 (Info 935).

Inconstitucionalidade da previsão de procuradores autárquicos e de advogados de


fundação
É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que preveja que os procuradores
autárquicos e os advogados de fundação terão competência privativa para a representação
judicial e o assessoramento jurídico dos órgãos da Administração Estadual Indireta aos
quais vinculados, e que, para os efeitos de incidência de teto remuneratório, eles serão
considerados “procuradores”, nos termos do art. 37, XI, da CF/88.
STF. Plenário. ADI 4449/AL, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 27 e 28/3/19 (Info 935).

23.5. Viola o art. 132 da CF/88 norma da Constituição Estadual que preveja que a
representação judicial e consultoria jurídica da PGE ficará restrita ao Poder Executivo – (Info
935) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que preveja que a Procuradoria


Geral do Estado ficará responsável pelas atividades de representação judicial e de
consultoria jurídica apenas “do Poder Executivo”.
Essa previsão viola o princípio da unicidade da representação judicial dos Estados e do
Distrito Federal.
De acordo com o art. 132 da CF/88 as atribuições da PGE não ficam restritas ao Poder
Executivo, abrangendo também os demais Poderes. Desse modo, compete à PGE a
representação estadual como um todo, independentemente do Poder.
STF. Plenário. ADI 5262 MC/RR, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 27 e 28/3/19 (Info 935).

23.6. É inconstitucional emenda à Constituição Estadual, de iniciativa parlamentar, que


trate sobre a PGE – (Info 935) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional emenda à Constituição Estadual, de iniciativa parlamentar, que trate


sobre as competências da Procuradoria Geral do Estado. Isso porque esta matéria é de
iniciativa reservada ao chefe do Poder Executivo (art. 61, § 1º, da CF/88).
É do Governador do Estado a iniciativa de lei ou emenda constitucional que discipline a
organização e as atribuições dos órgãos e entidades da Administração Pública estadual.
STF. Plenário. ADI 5262 MC/RR, Rel. Min. Cármen Lúcia, j. 27 e 28/3/19 (Info 935).
OBS: Nesse sentido:
É inconstitucional disciplina, na Carta do Estado, de matéria cuja iniciativa de
projeto é reservada ao Governador. STF. Plenário. ADI 3848/RJ, Rel. Min.
Marco Aurélio, j. 11/2/2015 (Info 774).

A disciplina normativa pertinente ao processo de criação, estruturação e


definição das atribuições dos órgãos e entidades integrantes da Administração
Pública estadual, ainda que por meio de emenda constitucional, revela matéria
que se insere, por sua natureza, entre as de iniciativa exclusiva do chefe do
Poder Executivo local, pelo que disposto no art. 61, § 1º, inciso II, alínea “e”, da
Constituição Federal. STF. Plenário. ADI 2654/AL, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 13/8/2014 (Info 754).

Esse entendimento acima exposto vale também para os casos de emenda à Constituição
Federal? NÃO. Não existe iniciativa privativa (reservada) para a propositura de emendas à
Constituição Federal. A proibição de que emendas constitucionais tratem sobre as matérias
do art. 61, § 1º da CF/88 só vale para emendas à Constituição Estadual. Dito de outro modo:
É possível que emenda à CF/88 proposta por iniciativa parlamentar trate sobre
as matérias previstas no art. 61, § 1º da CF/88. As regras de reserva de iniciativa
fixadas no art. 61, § 1º da CF/88 não são aplicáveis ao processo de emenda à
CF/88, que é disciplinado em seu art. 60. STF. Plenário. ADI 5296 MC/DF, Rel.
Min. Rosa Weber, julgado em 18/5/2016 (Info 826).

É possível emenda constitucional de iniciativa parlamentar tratando sobre os assuntos que,


em caso de propositura de projeto de lei, seriam de iniciativa reservada ao chefe do Poder
Executivo (art. 61, § 1º, da CF/88)?
 Emenda à Constituição Federal proposta por parlamentares federais: SIM.
 Emenda à Constituição Estadual proposta por parlamentares estaduais: NÃO.

Por que existe essa diferença de tratamento entre emenda à Constituição Federal e emenda à
Constituição Estadual? O poder constituinte estadual não é originário. É poder
constituído, cercado por limites mais rígidos do que o poder constituinte federal. A regra
da simetria é um exemplo dessa limitação. Por essa razão, as Assembleias Legislativas se
submetem a limites mais rigorosos quando pretendem emendar as Constituições Estaduais.
Assim, se os Deputados Estaduais apresentam emenda à Constituição Estadual tratando
sobre os assuntos do art. 61, § 1º, da CF/88 eles estão, em última análise, violando a própria
regra da CF/1988.

23.7. Técnico superior em Direito de autarquia estadual não pode exercer atribuições de
representação jurídica da entidade, mas pode fazer atuação jurídica no âmbito interno da
autarquia, sobretudo em atividades de compliance – (Info 927) – IMPORTANTE!!!

É inconstitucional lei estadual que preveja que servidor de autarquia (no caso, era Técnico
Superior do DETRAN) será responsável por:
• representar a entidade “em juízo ou fora dele nas ações em que haja interesse da
autarquia”.
• praticar “todos os demais atos de natureza judicial ou contenciosa, devendo, para tanto,
exercer as suas funções profissionais e de responsabilidade técnica regidas pela Ordem
dos Advogados do Brasil OAB”.
Tais previsões violam o “princípio da unicidade da representação judicial dos Estados e
do Distrito Federal”, insculpido no art. 132 da CF/88.
A legislação impugnada, apesar de não ter criado uma procuradoria paralela, atribuiu ao
cargo de Técnico Superior do Detran/ES, com formação em Direito, diversas funções
privativas de advogado.
Ao assim agir, conferiu algumas atribuições de representação jurídica do DETRAN a
pessoas estranhas aos quadros da Procuradoria-Geral do Estado, com violação do art. 132,
caput, da CF/88.
O STF decidiu modular os efeitos da decisão para:
• manter os cargos em questão, excluídas as atribuições judiciais inerentes às
procuradorias;
• declarar a validade dos atos praticados (ex: contestações, recursos etc.) até a data do
julgamento, com base na teoria do funcionário de fato.

ATENÇÃO: Por outro lado, é válido que esses servidores façam a atuação jurídica no
âmbito interno da autarquia, sobretudo em atividades de compliance, tais como conceber
e formular medidas e soluções de otimização, fiscalização e auditoria (exs: interpretar
textos e instrumentos legais, elaborar pareceres sobre questões jurídicas que envolvam as
atividades da entidade, elaborar editais, contratos, convênios etc.). Essas atribuições
podem sim ser exercidas pelos Técnicos Superiores do DETRAN, sem que isso ofenda o
princípio da unicidade da representação judicial.
O STF entendeu que não se pode deslocar qualquer atuação técnico-jurídica da autarquia
para a PGE, porque esta não conseguirá fazer frente a essa gama de trabalho, sob pena de
ter suas atividades inviabilizadas.
STF. Plenário. ADI 5109/ES, Rel. Min. Luiz Fux, j. 13/12/18 (Info 927).
OBS:
Segundo a jurisprudência do STF, é possível que lei estadual crie cargos em comissão para o
desempenho das atribuições de assessoramento jurídico no âmbito do Poder Executivo?
NÃO.
A atividade de assessoramento jurídico do Poder Executivo dos Estados deve
ser exercida por Procuradores do Estado, organizados em carreira, cujo
ingresso depende de concurso público de provas e títulos, nos termos do art. 132
da CF/88.
Esse preceito tem como objetivo garantir a necessária qualificação técnica e
independência funcional desses especiais agentes públicos.
Assim, é inconstitucional a norma que outorgue a ocupante de cargo em
comissão ou de função de confiança o exercício, no âmbito do Poder Executivo
local, de atribuições inerentes à representação judicial e ao desempenho da
atividade de consultoria e de assessoramento jurídicos, pois tais encargos
traduzem prerrogativa institucional outorgada, em caráter de exclusividade,
aos Procuradores do Estado.
STF. Plenário. ADI 4261, Rel. Min. Ayres Britto, j. 2/8/10.
STF. Plenário. ADI 4843/MC-ED-Ref, Rel. Min. Celso de Mello, j. 11/12/14.

Assim, o modelo constitucional da atividade de representação judicial e consultoria


jurídica dos Estados exige a unicidade orgânica da advocacia pública estadual,
incompatível com a criação de órgãos jurídicos paralelos para o desempenho das mesmas
atribuições no âmbito da Administração Pública Direta ou Indireta. Por essas razões, o STF
declarou, recentemente, a INCONSTITUCIONALIDADE de uma lei estadual que transferia
essas funções a ANALISTA do Poder Executivo estadual:
É vedada a atribuição de atividades de representação judicial e de consultoria
ou assessoramento jurídicos a analista administrativo da área jurídica. STF.
Plenário. ADI 5107, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 20/06/2018.

Este princípio possui exceções? SIM. Podemos mencionar a existência de duas exceções:

EXCEÇÃO 1: é possível a criação de procuradorias vinculadas ao Poder


Legislativo e ao Tribunal de Contas, para a defesa de sua autonomia e
independência perante os demais Poderes, hipótese em que se admite a
consultoria e assessoramento jurídico dos órgãos por parte de seus próprios
procuradores. Nesse sentido já decidiu o STF: é constitucional a criação de
órgãos jurídicos na estrutura de Tribunais de Contas estaduais, vedada a
atribuição de cobrança judicial de multas aplicadas pelo próprio tribunal
(STF. Plenário. ADI 4070/RO, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 19/12/2016).

EXCEÇÃO 2: “ADCT/Art. 69. Será permitido aos Estados manter consultorias


jurídicas separadas de suas Procuradorias-Gerais ou Advocacias-Gerais, desde que, na
data da promulgação da Constituição, tenham órgãos distintos para as respectivas
funções.” O art. 69 do ADCT foi uma exceção transitória ao princípio da
unicidade orgânica da Procuradoria estadual. Esta exceção foi prevista com o
objetivo de garantir a continuidade dos serviços de representação e consultoria
jurídicas que existiam na Administração Pública no período logo em seguida
à promulgação da CF/88, quando algumas Procuradorias estaduais ainda não
estavam totalmente estruturadas. Em outras palavras, foi pensada como uma
forma de evitar lacunas e uma desorganização da Administração Pública. Vale
ressaltar que só foram mantidas as consultorias jurídicas que já existiam antes
da CF/88.

E quanto aos Municípios? Os Municípios são obrigados a possuir Procuradorias


Municipais, organizadas em carreira, mediante concurso público, para o desempenho das
funções de representação judicial e consultoria jurídica? Infelizmente, prevalece que NÃO.
Não há na CF/88 previsão para que os Municípios instituam Procuradorias
Municipais, organizadas em carreira, mediante concurso público. Não existe,
na Constituição Federal, a figura da advocacia pública municipal. Os
Municípios não têm essa obrigação constitucional. STF. Plenário. RE 225777,
Rel. Min. Eros Grau, Rel. p/ Acórdão Min. Dias Toffoli, j. 24/2/11. STF. 2ª T. RE
893694 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, j. 21/10/16.

Tramita no Congresso Nacional uma PEC com o objetivo de “alterar a redação do art. 132 da
Constituição Federal para estender aos Municípios a obrigatoriedade de organizar carreira de
procurador (para fins de representação judicial e assessoria jurídica), com ingresso por
concurso público, com a participação da OAB em todas as suas fases, garantida a estabilidade
dos procuradores após 3 anos de efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho.”
(PEC 17/2012).

Feita esta breve revisão, veja o caso concreto julgado pelo STF: O Estado do Espírito Santo
editou lei criando o cargo de Técnico Superior do DETRAN (autarquia estadual). Até aí, ok.
O problema foi que a Lei previu que os ocupantes deste cargo seriam responsáveis por
representar o DETRAN/ES “em juízo ou fora dele nas ações em que haja interesse da
autarquia”. Além disso, determinou que tais servidores teriam a incumbência de praticar
“todos os demais atos de natureza judicial ou contenciosa, devendo, para tanto, exercer as
suas funções profissionais e de responsabilidade técnica regidas pela Ordem dos Advogados
do Brasil OAB”.
 
Tais previsões são constitucionais? NÃO. Tais previsões violam o “princípio da unicidade
da representação judicial dos Estados e do Distrito Federal”, insculpido no art. 132 da
CF/88. A legislação impugnada, apesar de não ter criado uma procuradoria paralela,
atribuiu ao cargo de Técnico Superior do Detran/ES, com formação em Direito, diversas
funções privativas de advogado. Ao assim agir, conferiu algumas atribuições de
representação jurídica do DETRAN a pessoas estranhas aos quadros da Procuradoria-Geral
do Estado, com violação do art. 132, caput, da CF/88.
 
Outras atribuições: A legislação prevê também outras atuações técnico-jurídicas deste
servidor no âmbito interno da autarquia, tais como:
• Interagir com as demais unidades administrativas da autarquia na elaboração de normas,
instruções, resoluções e demais atos a serem expedidos;
• Interpretar textos e instrumentos legais;
• Elaborar estudos sobre questões jurídicas que envolvam as atividades do DETRAN/ES;
• Elaborar editais, contratos, convênios, acordos e ajustes celebrados pela Autarquia, com a
emissão de parecer.
 
A previsão dessas outras atribuições também é inconstitucional? NÃO. Essas outras
atribuições podem sim ser exercidas pelos Técnicos Superiores do DETRAN, sem que isso
ofenda o princípio da unicidade da representação judicial. O STF entendeu que não se pode
deslocar qualquer atuação técnico-jurídica da autarquia para a PGE, porque esta não
conseguirá fazer frente a essa gama de trabalho, sob pena de ter suas atividades
inviabilizadas. Nesse contexto, é válida a atuação jurídica dos servidores técnicos no âmbito
interno, sobretudo em atividades de compliance, tais como conceber e formular medidas e
soluções de otimização, fiscalização e auditoria.
 
Modulação dos efeitos: Em nome do princípio da confiança e do postulado da segurança
jurídica, o STF fez a modulação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade.

23.8. É inconstitucional norma de Constituição Estadual que preveja a figura do


“Procurador da Fazenda Estadual” – (Info 921)

É inconstitucional norma de Constituição Estadual que preveja que compete ao


Governador nomear e exonerar o “Procurador da Fazenda Estadual”.
Isso porque o art. 132 da CF/88 determina que a representação judicial e a consultoria
jurídica do Estado, incluídas suas autarquias e fundações, deve ser feita pelos
“Procuradores dos Estados e do Distrito Federal”.
Essa previsão do art. 132 da CF/88 é chamada de princípio da unicidade da representação
judicial e da consultoria jurídica dos Estados e do Distrito Federal. Em outras palavras, só
um órgão pode desempenhar esta função e se trata da Procuradoria-Geral do Estado, que
detém essa competência funcional exclusiva.
O modelo constitucional da atividade de representação judicial e consultoria jurídica dos
Estados exige a unicidade orgânica da advocacia pública estadual, incompatível com a
criação de órgãos jurídicos paralelos para o desempenho das mesmas atribuições no
âmbito da Administração Pública Direta ou Indireta.
STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 25/10/2018 (Info 921).
OBS:
Como o tema já foi cobrado em concursos:
 (Analista Jurídico - TJRJ - FGV - 2014) Determinada lei estadual, editada no corrente
ano, com o objetivo de aumentar a eficiência na representação judicial da
Administração Pública, dispôs que as execuções fiscais passariam a ser promovidas
pela “Procuradoria da Fazenda Estadual”, estrutura orgânica criada pela referida lei,
vinculada à Secretaria de Estado de Fazenda e totalmente autônoma em relação à
Procuradoria-Geral do Estado, a quem caberia a representação dos demais interesses
estatais. À luz desse quadro, é correto afirmar que a lei estadual é: inconstitucional,
pois o Estado não pode criar Procuradorias autônomas e desvinculadas da
Procuradoria-Geral do Estado (CORRETO).

23.9. É possível a existência de Procuradoria da Assembleia Legislativa, mas este órgão


ficará responsável apenas pela defesa das prerrogativas do Poder Legislativo – (Info 921)

A atuação da Procuradoria da Assembleia Legislativa deve ficar limitada à defesa das


prerrogativas inerentes ao Poder Legislativo.
Em outras palavras, é possível a existência de Procuradoria da Assembleia Legislativa,
mas este órgão ficará responsável apenas pela defesa das prerrogativas do Poder
Legislativo.
A representação estadual como um todo, independentemente do Poder, compete à
Procuradoria-Geral do Estado (PGE), tendo em conta o princípio da unicidade
institucional da representação judicial e da consultoria jurídica para Estados e Distrito
Federal. No entanto, às vezes, há conflito entre os Poderes. Ex: o Poder Legislativo cobra
do Poder Executivo o repasse de um valor que ele entende devido e que não foi feito.
Nestes casos, é possível, em tese, a propositura de ação judicial pela Assembleia
Legislativa e quem irá representar judicialmente o órgão será a Procuradoria da ALE.
STF. Plenário. ADI 825/AP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, j. 25/10/18 (Info 921).

23.10. Inconstitucionalidade da previsão de procuradorias autárquicas para os Estados-


membros – (Info 907) – IMPORTANTE!!!

A Constituição do Estado do Ceará previa que o Governador deveria encaminhar à ALE


projetos de lei dispondo sobre a organização e o funcionamento da Procuradoria-Geral do
Estado e das procuradorias autárquicas.
O STF decidiu que essa regra é inconstitucional. Isso porque a CF/88 determina que a
representação judicial e a consultoria jurídica do Estado, incluídas suas autarquias e
fundações, deve ser feita pela PGE, nos termos do art. 132 da CF/88.
O art. 132 da CF/88 consagra o chamado “princípio” da unicidade da representação
judicial e da consultoria jurídica dos Estados e do Distrito Federal e, dessa forma,
estabelece competência funcional exclusiva da Procuradoria-Geral do Estado.
A exceção prevista no art. 69 do ADCT da CF deixou evidente que, a partir da Constituição
de 1988, não se permite mais a criação de órgãos jurídicos distintos da Procuradoria-Geral
do Estado, admite-se apenas a manutenção daquelas consultorias jurídicas já existentes
quando da promulgação da Carta. Trata-se de exceção direcionada a situações concretas e
do passado e, por essa razão, deve ser interpretada restritivamente, inclusive com atenção
à diferenciação entre os termos “consultoria jurídica” e “procuradoria jurídica”, uma vez
que esta última pode englobar as atividades de consultoria e representação judicial.
STF. Plenário. ADI 145/CE, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 20/6/2018 (Info 907).

23.11. Legitimidade da ANAPE para questionar lei que equipara determinada carreira com
a de Procurador do Estado – (Info 835)

A Associação Nacional dos Procuradores dos Estados e do Distrito Federal (ANAPE) tem
legitimidade ativa para, via arguição de descumprimento de preceito fundamental
(ADPF), questionar dispositivos de lei estadual que estabelece a isonomia de vencimentos
entre as carreiras de Procurador estadual e de Delegado de Polícia.
STF. Plenário. ADPF 328 AgR/MA, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min.
Roberto Barroso, j. 18/08/16 (Info 835).

23.12. Inconstitucionalidade de lei estadual que crie cargo em comissão para o desempenho
de assessoramento jurídico no Poder Executivo – (Info 771)

É inconstitucional lei estadual que crie cargos em comissão de “consultor jurídico”,


“coordenador jurídico”, “assistente jurídico” etc. e que tenham por função prestar
assessoria jurídica para os órgãos da Administração Pública.
Essa norma viola o art. 132 da CF/88, que confere aos Procuradores de Estado a
representação exclusiva do Estado-membro em matéria de atuação judicial e de
assessoramento jurídico, sempre mediante investidura fundada em prévia aprovação em
concurso público.
STF. Plenário. ADI 4843 MC-Referendo/PB, rel. Min. Celso de Mello, j. 11/12/14 (Info 771).

23.13. Procurador-Geral do Estado e foro por prerrogativa de função – (Info 752)

Constituição Estadual pode prever que o Procurador-Geral do Estado seja julgado pelo TJ.
A lei estadual não pode prever que o Procurador-Geral do Estado tenha foro por
prerrogativa de função no TJ.
A Constituição Estadual, ao prever as competências do TJ, não pode trazer um dispositivo
aberto, delegando ao legislador infraconstitucional a tarefa de definir as autoridades com
foro privativo.
STF. Plenário. HC 103803/RR, rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 01/07/2014 (Info 752).

24. SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL


24.1. O art. 5º da MP 2.170-36/2001 é formalmente constitucional, não tendo violado o art.
62 da CF – (Info 773) – IMPORTANTE!!!

O art. 5º da MP 2.170-36/2001 permite que haja capitalização de juros com periodicidade


inferior a um ano nas operações realizadas pelas instituições integrantes do Sistema
Financeiro Nacional.
A MP 2.170-36/2001 era impugnada sob a alegação de que o tema “capitalização de juros”
não possuía relevância e urgência, de forma que não poderia ter sido tratado por meio de
medida provisória (art. 62 da CF/88).
O STF, contudo, decidiu que o art. art. 5º da MP 2.170-36/2001 é formalmente
constitucional, não tendo violado o art. 62 da CF/88.
Do ponto de vista da relevância, esta estaria presente, considerando que a MP trata sobre a
regulação das operações do Sistema Financeiro, tema de suma importância para a
economia do país.
No que se refere à urgência, a norma foi editada há 15 anos, em um período cuja realidade
financeira era diferente da atual, sendo difícil afirmar com segurança que não havia o
requisito da urgência naquela oportunidade. O cenário econômico, caracterizado pela
integração da economia nacional ao mercado financeiro mundial, exigia medidas céleres,
destinadas à adequação do Sistema Financeiro Nacional aos padrões globais.
Além disso, se a Corte declarasse a inconstitucionalidade da norma, isso significaria atuar
sobre um passado em que milhares de operações financeiras poderiam, em tese, ser
atingidas.
Obs: existe uma ADI no STF que, além dos requisitos da MP, alega também a
inconstitucionalidade material da capitalização de juros em periodicidade inferior a um
ano.
Trata-se da ADI 2316, cujo julgamento ainda não foi concluído.
STF. Plenário. RE 592377/RS, Rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Teori
Zavascki, julgado em 4/2/2015 (repercussão geral) (Info 773).

24.2. A cobrança de “taxa de alimentação” por instituição federal de ensino


profissionalizante é inconstitucional – (Info 737)

É inconstitucional que instituição pública de ensino profissionalizante cobre anuidade


para custear despesas com a alimentação dos alunos. Tal prática viola o art. 206, IV e o art.
208, VI, da CF/88.
STF. 1ª Turma. RE 357148/MT, rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 25/2/2014 (Info 737).

25. LIVRE CONCORRÊNCIA


25.1. ORDEM ECONÔMICA: Lei estadual pode conceder meia-entrada em eventos
culturais e desportivos para menores de 21 anos – (Info 897)

É constitucional lei estadual que concede o desconto de 50% no valor dos ingressos em
casas de diversões, praças desportivas e similares aos jovens de até 21 anos de idade.
STF. Plenário. ADI 2163/RJ, rel. orig. Min. Eros Grau, red. p/ o ac. Min. Ricardo
Lewandowski, j. 12/4/2018 (Info 897).
OBS:
A situação concreta foi a seguinte: A Lei 3364/00, do Estado do Rio de Janeiro, assegura o
desconto de 50% no valor dos ingressos em casas de diversões, praças desportivas e similares
aos jovens de até 21 anos de idade (Lei da Meia Entrada). Em 2006, a Confederação Nacional
do Comércio (CNC) ajuizou ADI contra essa Lei afirmando que ela seria formal e
materialmente inconstitucional.

O STF concordou com os argumentos do autor? Essa Lei é inconstitucional? NÃO.

Formalmente constitucional: Sob o prisma formal, o STF considerou constitucional a lei


impugnada, uma vez que tanto a União quanto os Estados-membros e o Distrito Federal
podem atuar sobre o domínio econômico, por possuírem competência concorrente para
legislar sobre direito econômico, nos termos do art. 24, I, da CF/88:
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar
concorrentemente sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;

Ademais, diante da inexistência de lei federal sobre a matéria, o ente exerceu a


competência legislativa plena para atender às suas peculiaridades:
Art. 24 (...)
§ 3º Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a
competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.

Materialmente constitucional: A constitucionalidade material também foi reconhecida. A


CF/88 elenca os fundamentos e objetivos da República Federativa do Brasil em seus arts. 1º e
3º. No entanto, para a realização desses fundamentos e objetivos, é necessária a atuação do
Estado sobre o domínio econômico. Se de um lado a CF/88 assegura a livre iniciativa, de
outro determina ao Estado que adote providências para garantir o efetivo exercício do direito
à educação, à cultura e ao desporto (arts. 23, V; 205; 208; 215 e 217, § 3º, da CF/88). Na
composição entre esses princípios e regras, há de ser preservado o interesse da coletividade.

Esse critério etário, ou seja, conceder meia-entrada para todo mundo que for menor que 21
anos, é válido? SIM. A lei é constitucional porque facilita o acesso dos jovens à cultura, à
educação e a atividades desportivas. “Entendo que essa é uma lei evidente e eminentemente
inclusiva. Tem como alvo o jovem que tradicionalmente não flui dessas regalias. O jovem
excluído do sistema educacional”, disse o então Min. Joaquim Barbosa, que participou do
julgamento. O Min. Ricardo Lewandowski defendeu que, nesse caso, é legítima a
intervenção do Estado no domínio econômico. “Aqui me parece que o legislador estadual
foi generoso porque ele quer também dar acesso ao lazer e à cultura aos jovens em geral,
mesmo aqueles que não tiveram o privilégio de ter ido à escola ou que possam ir à escola.
São aqueles jovens que trabalham, que não têm lazer, não têm cultura”.

Outro precedente no mesmo sentido envolvendo uma Lei do Estado de São Paulo:
(...) 1. É certo que a ordem econômica na Constituição de 1.988 define opção por
um sistema no qual joga um papel primordial a livre iniciativa. Essa
circunstância não legitima, no entanto, a assertiva de que o Estado só intervirá
na economia em situações excepcionais.
2. Mais do que simples instrumento de governo, a nossa Constituição enuncia
diretrizes, programas e fins a serem realizados pelo Estado e pela sociedade.
Postula um plano de ação global normativo para o Estado e para a sociedade,
informado pelos preceitos veiculados pelos seus artigos 1º, 3º e 170.
3. A livre iniciativa é expressão de liberdade titulada não apenas pela
empresa, mas também pelo trabalho. Por isso a Constituição, ao contemplá-la,
cogita também da "iniciativa do Estado"; não a privilegia, portanto, como bem
pertinente apenas à empresa.
4. Se de um lado a Constituição assegura a livre iniciativa, de outro determina
ao Estado a adoção de todas as providências tendentes a garantir o efetivo
exercício do direito à educação, à cultura e ao desporto [artigos 23, inciso V,
205, 208, 215 e 217 § 3º, da Constituição]. Na composição entre esses princípios
e regras há de ser preservado o interesse da coletividade, interesse público
primário.
5. O direito ao acesso à cultura, ao esporte e ao lazer, são meios de
complementar a formação dos estudantes.
6. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente.
STF. Plenário. ADI 1950, Rel. Min. Eros Grau, julgado em 03/11/2005.

Leis federais posteriores: Depois que esta Lei do Estado do Rio de Janeiro foi publicada
(2000), o Congresso Nacional editou duas leis que tratam sobre meia-entrada em eventos
culturais e desportivos.

Lei 12.933/13: Concede meia-entrada em espetáculos artístico-culturais e esportivos a:


a) Estudantes (educação infantil, ensino fundamental, médio e superior,
inclusive especialização, mestrado e doutorado);
b) Pessoas com deficiência, inclusive seu acompanhante quando necessário
(ex: um cego que vai ao cinema acompanhado de uma pessoa para ler as
legendas para ele; nesse caso, ambos terão direito à meia-entrada);
c) Jovens de 15 a 29 anos de idade de baixa renda, inscritos no Cadastro Único
para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) e cuja renda familiar
mensal seja de até 2 (dois) salários mínimos;
d) Idosos, ou seja, pessoas com idade igual ou superior a 60 anos (art. 23 da Lei
10.741/2003).

Lei nº 12.852/2013 (Estatuto da Juventude): Assegura o direito à meia-entrada em eventos


educativos, esportivos, de lazer e entretenimento:
 aos estudantes; e
 aos jovens de famílias de baixa renda (a família deve estar inscrita no Cadastro
Único para Programas Sociais do Governo Federal - CadÚnico e ter renda mensal de
até 2 salários mínimos).

26. PUBLICIDADE DE BEBIDAS ALCÓOLICAS


26.1. O legislador, ao editar a Lei 9.294/96, atendeu a regra do art. 220, § 4º, da CF/88 – (Info
782)

O art. 220, § 4º da CF/88 prevê que lei poderá impor restrições às propagandas de bebidas
alcoólicas.
Com o objetivo de regulamentar esse dispositivo, foi editada a Lei 9.294/96.
Ocorre que a Lei 9.294/96 afirmou expressamente que só haveria restrições para as
propagandas de bebidas alcoólicas com teor alcoólico superior a 13º GL (art. 1º, parágrafo
único).
O PGR não concordou com a medida e ajuizou ação direta de inconstitucionalidade por
omissão afirmando que o Congresso Nacional estaria em mora legislativa, considerando
que deveria impor restrições à propaganda de bebidas alcoólicas independentemente do
seu teor de álcool.
O STF julgou improcedente o pedido. A Corte entendeu que não é possível que o Poder
Judiciário crie norma geral e abstrata em substituição ao legislador definindo o que é
bebida alcoólica para fins de propaganda. Além disso, o STF considerou que não existe a
alegada omissão. O legislador federal aprovou a Lei 9.294/96, que foi objeto de amplo
debate no Congresso Nacional. Foi feita uma escolha política de só serem impostas
restrições para propagandas de bebidas alcóolicas com grau superior a 13º GL, não
podendo o STF rever essa decisão.
Por fim, o STF entendeu que a Lei 9.294/96 não contraria a Lei 11.705/2008 (Lei Seca),
considerando que são diplomas legislativos com âmbitos de incidência totalmente
diversos. A primeira lei cuida de restrições à propaganda e liberdade de expressão. Nela
não se está julgando o teor alcoólico da bebida e sim até que limite pode ir a sua
publicidade. Na segunda, estão sendo discutidos os efeitos do álcool para pessoas que
dirigem veículo automotor e a proibição imposta para essa prática.
STF. Plenário. ADO 22/DF, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 22/4/2015 (Info 781).

27. CONTROLE JURISDICIONAL SOBRE ATOS ADMINISTRATIVOS


27.1. Poder Judiciário deverá ter extrema cautela ao anular atos administrativos que exijam
conhecimentos técnicos específicos – (Info 760)

STF suspendeu decisão de TRF que havia anulado portaria do Ministério das
Comunicações tratando sobre aspectos técnicos da transmissão dos programas de TV
(recursos de audiodescrição para deficientes visuais e intelecuais).
Segundo a Corte, a complexidade da causa requer cautela por parte dos magistrados e
maior consideração às soluções encontradas pelos órgãos técnicos especialistas na área.
STF. Plenário. ADPF 309 Referendo-MC/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 25/9/14 (Info 760).

27.2. Poder Judiciário pode obrigar a Administração Pública a manter quantidade mínima
de determinado medicamento em estoque – (Info 752) – IMPORTANTE!!!

A Administração Pública pode ser obrigada, por decisão do Poder Judiciário, a manter
estoque mínimo de determinado medicamento utilizado no combate a certa doença grave,
de modo a evitar novas interrupções no tratamento.
Não há violação ao princípio da separação dos poderes no caso. Isso porque com essa
decisão o Poder Judiciário não está determinando metas nem prioridades do Estado, nem
tampouco interferindo na gestão de suas verbas. O que se está fazendo é controlar os atos
e serviços da Administração Pública que, neste caso, se mostraram ilegais ou abusivos já
que, mesmo o Poder Público se comprometendo a adquirir os medicamentos, há falta em
seu estoque, ocasionando graves prejuízos aos pacientes.
Assim, não tendo a Administração adquirido o medicamento em tempo hábil a dar
continuidade ao tratamento dos pacientes, atuou de forma ilegítima, violando o direito à
saúde daqueles pacientes, o que autoriza a ingerência do Poder Judiciário.
STJ. 1ª T. RE 429903/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 25/6/2014 (Info 752).

28. COMUNICAÇÃO SOCIAL


28.1. É inconstitucional o art. 25 da Lei 12.485/2011 – (Info 884)

A Lei 12.485/11 dispõe sobre a “comunicação audiovisual de acesso condicionado”, mais


conhecida como “TV por assinatura”. Trata-se do marco regulatório da TV por assinatura
no Brasil.
Foram ajuizadas ações diretas de inconstitucionalidade impugnando esta lei.
O STF decidiu que apenas um dos dispositivos da Lei é inconstitucional: o art. 25. Os
demais são válidos.
O art. 25 prevê a impossibilidade de oferta de canais que veiculem publicidade comercial
direcionada ao público brasileiro contratada no exterior por agência de publicidade
estrangeira.
O STF julgou inconstitucional este art. 25 por violação ao princípio constitucional da
isonomia (art. 5º, “caput”). Esse princípio exige que o tratamento diferenciado entre os
indivíduos seja acompanhado de causas jurídicas suficientes para amparar a
discriminação, cujo exame de consistência, embora preserve um pequeno espaço de
discricionariedade legislativa, é sempre passível de aferição judicial por força do
princípio da inafastabilidade da jurisdição.
O art. 25 da lei proíbe a oferta de canais que veiculem publicidade comercial direcionada
ao público brasileiro contratada no exterior por agência de publicidade estrangeira,
estabelecendo uma completa exclusividade em proveito das empresas brasileiras e não
apenas preferência percentual, sem prazo para ter fim e despida de qualquer justificação
que indique a vulnerabilidade das empresas brasileiras de publicidade, sendo, portanto,
inconstitucional.
STF. Plenário. ADI 4747/DF, ADI 4756/DF, ADI 4923/DF e ADI 4679/DF, Rel. Min. Luiz
Fux, j. 8/11/17 (Info 884).
OBS:
Art. 25. Os programadores não poderão ofertar canais que contenham
publicidade de serviços e produtos em língua portuguesa, legendada em
português ou de qualquer forma direcionada ao público brasileiro, com
veiculação contratada no exterior, senão por meio de agência de publicidade
nacional.
§ 1º A Ancine fiscalizará o disposto no caput e oficiará à Anatel e à Secretaria da
Receita Federal do Brasil em caso de seu descumprimento.
§ 2º A Anatel oficiará às distribuidoras sobre os canais de programação em
desacordo com o disposto no § 1º, cabendo a elas a cessação da distribuição
desses canais após o recebimento da comunicação.

29. TERRAS TRADICIONALMENTE OCUPADAS PELOS ÍNDIOS


29.1. Renitente esbulho e desocupação forçada ocorrida no passado – (Info 771) –
IMPORTANTE!!!

Como regra, se os índios não estavam na posse da área em 05/10/1988, ela não será
considerada terra indígena (art. 231 da CF/88).
Existe, contudo, uma exceção a essa regra. Trata-se do chamado renitente esbulho.
Assim, se, na época da promulgação da CF/88, os índios não ocupavam a terra porque dela
haviam sido expulsos em virtude de conflito possessório, considera-se que eles foram
vítimas de esbulho e, assim, essa área será considerada terra indígena para os fins do art.
231.
O renitente esbulho se caracteriza pelo efetivo conflito possessório, iniciado no passado e
persistente até o marco demarcatório temporal da data da promulgação da Constituição de
1988, materializado por circunstâncias de fato ou por controvérsia possessória
judicializada.
Vale ressaltar que, para que se caracterize o renitente esbulho, é necessário que, no
momento da promulgação da CF/88, os índios ainda estivessem disputando a posse da
terra ou tivessem sido delas expulsos há pouco tempo. Se eles foram dela expulsos muitos
anos antes de entrar em vigor a CF/88, não se configura o chamado “renitente esbulho”.
Exemplo: no caso concreto apreciado pelo STF, a última ocupação indígena na área
ocorreu no ano de 1953, data em que os índios foram expulsos da região. Nessa situação, a
Corte entendeu que não estava caracterizado o renitente esbulho, mas sim “a desocupação
forçada ocorrida no passado” já que, no momento da promulgação da CF/88, já havia se
passado muitos anos da saída dos índios do local e eles não mais estavam em conflito
possessório por aquelas terras.
STF. 2ª T. ARE 803462 AgR/MS, Rel. Min. Teori Zavascki, j. 9/12/14 (Info 771).

29.2. Terras tradicionalmente ocupadas pelos índios – (Info 759) – IMPORTANTE!!!

A proteção das terras tradicionalmente ocupadas pelos índios representa um aspecto


fundamental dos direitos e das prerrogativas constitucionais assegurados ao índio.
Sem terem a garantia de que irão permanecer nas terras por eles já tradicionalmente
ocupadas, os índios ficam expostos ao risco da desintegração cultural, da perda de sua
identidade étnica, da dissolução de seus vínculos históricos, sociais e antropológicos e da
erosão de sua própria consciência.
Entretanto, somente são reconhecidos aos índios os direitos sobre as terras que
tradicionalmente ocupem se a área estiver habitada por eles na data da promulgação da
CF/88 (marco temporal) e, complementarmente, se houver a efetiva relação dos índios com
a terra (marco da tradicionalidade da ocupação).
No caso concreto, o relatório elaborado pela FUNAI indicou que há mais de 70 anos não
existia comunidade indígena ou posse indígena no local em disputa. Logo, o marco
temporal não estava preenchido, sendo, portanto, impossível reconhecer a posse indígena
daquelas terras.
Em outras palavras, não estavam atendidos os requisitos necessários para se reconhecer
aquela área como sendo uma terra tradicionalmente ocupada por índios, nos termos do
art. 231 da CF/88.
No entanto, mesmo a terra não se enquadrando no conceito do art. 231, caput e § 1º da
CF/88, a União pode decidir acolher as populações indígenas naquela área. Para isso,
porém, terá que desapropriar as terras, pagando justa e prévia indenização em dinheiro
aos proprietários, considerando que, não sendo terras tradicionalmente ocupadas por
índios, essa área não se constitui em bem da União (art. 20, XI, da CF/88).
STF. 2ª Turma. RMS 29087/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o acórdão,
Min. Gilmar Mendes, julgado em 16/9/2014 (Info 759).

30. COMUNIDADES QUILOMBOLAS


30.1. Constitucionalidade do Decreto 4.887/2003, que regulamenta o procedimento para
titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos – (Info 890)
– IMPORTANTE!!!

O art. 68 do ADCT estabelece que “aos remanescentes das comunidades dos quilombos
que estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o
Estado emitir-lhes os títulos respectivos.”
Em 2003, foi editado o Decreto 4.887, com o objetivo de regulamentar o procedimento para
identificação, reconhecimento, delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas
por remanescentes das comunidades dos quilombos.
O STF entendeu que este Decreto não invadiu esfera reservada à lei. O objetivo do
Decreto foi tão somente o de regular o comportamento do Estado na implementação do
comando constitucional previsto no art. 68 do ADCT. Houve o mero exercício do poder
regulamentar da Administração, nos limites estabelecidos pelo art. 84, VI, da Constituição.
O art. 2º, caput e § 1º do Decreto 4.887/03 prevê como deve ser o critério utilizado pelo
Poder Público para a identificação dos quilombolas. O critério escolhido foi o da
autoatribuição (autodefinição). O STF entendeu que a escolha do critério desse critério
não foi arbitrária, não sendo contrária à Constituição.
O art. 2º, §§ 2º e 3º, do Decreto preconiza que, na identificação, medição e demarcação das
terras dos quilombolas devem ser levados em consideração critérios de territorialidade
indicados pelos remanescentes das comunidades dos quilombos. O STF afirmou que essa
previsão é constitucional. Isso porque o que o Decreto está garantindo é apenas que as
comunidades envolvidas sejam ouvidas, não significando que a demarcação será feita
exclusivamente com base nos critérios indicados pelos quilombolas.
O art. 13 do Decreto, por sua vez, estabelece que o INCRA poderá realizar a
desapropriação de determinadas áreas caso os territórios ocupados por remanescentes das
comunidades dos quilombos estejam situados em locais pertencentes a particulares. O
STF reputou válida essa previsão tendo em vista que, em nenhum momento a
Constituição afirma que são nulos ou extintos os títulos eventualmente incidentes sobre
as terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos. Assim, o art. 68 do
ADCT, apesar de reconhecer um direito aos quilombolas, não invalida os títulos de
propriedade eventualmente existentes, de modo que, para que haja a regularização do
registro em favor das comunidades quilombolas, exige-se a realização do procedimento de
desapropriação.
Por fim, o STF não acolheu a tese de que somente poderiam ser consideradas terras de
quilombolas aqueles que estivessem sendo ocupadas por essas comunidades na data da
promulgação da CF/88 (05/10/1988). Em outras palavras, mesmo que, na data da
promulgação da CF/88, a terra não mais estivesse sendo ocupada pelas comunidades
quilombolas, é possível, em tese, que seja garantido o direito previsto no art. 68 do ADCT.
STF. Plenário. ADI 3239/DF, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red.p/ o ac. Min. Rosa Weber, j.
8/2/18 (Info 890).
OBS:
CF/88:
Art. 68. Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que estejam
ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o Estado
emitir-lhes os títulos respectivos.

Art. 231 (...)


§ 6º São nulos e extintos, não produzindo efeitos jurídicos, os atos que tenham
por objeto a ocupação, o domínio e a posse das terras a que se refere este artigo,
ou a exploração das riquezas naturais do solo, dos rios e dos lagos nelas
existentes, ressalvado relevante interesse público da União, segundo o que
dispuser lei complementar, não gerando a nulidade e a extinção direito a
indenização ou a ações contra a União, salvo, na forma da lei, quanto às
benfeitorias derivadas da ocupação de boa fé.

Decreto 4.887/2003:
Art. 2º Consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os
fins deste Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-
atribuição, com trajetória histórica própria, dotados de relações territoriais
específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a
resistência à opressão histórica sofrida.
§ 1º Para os fins deste Decreto, a caracterização dos remanescentes das
comunidades dos quilombos será atestada mediante autodefinição da própria
comunidade.
§ 2º São terras ocupadas por remanescentes das comunidades dos quilombos as
utilizadas para a garantia de sua reprodução física, social, econômica e cultural.
§ 3º Para a medição e demarcação das terras, serão levados em consideração
critérios de territorialidade indicados pelos remanescentes das comunidades
dos quilombos, sendo facultado à comunidade interessada apresentar as peças
técnicas para a instrução procedimental.

Art. 13. Incidindo nos territórios ocupados por remanescentes das comunidades
dos quilombos título de domínio particular não invalidado por nulidade,
prescrição ou comisso, e nem tornado ineficaz por outros fundamentos, será
realizada vistoria e avaliação do imóvel, objetivando a adoção dos atos
necessários à sua desapropriação, quando couber. (...)
§ 2º O INCRA regulamentará as hipóteses suscetíveis de desapropriação, com
obrigatória disposição de prévio estudo sobre a autenticidade e legitimidade do
título de propriedade, mediante levantamento da cadeia dominial do imóvel até
a sua origem.

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