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UNIVERSIDADE 

FEDERAL DE SANTA CATARINA 
CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO 
DEPARTAMENTO DE LINGUA E LITERATURA ESTRANGEIRAS 
 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM LETRAS E LITERATURA FRANCESA 
 

Aluno:Fábio da Costa Oliveira 
Disciplina:Linguística Aplicada 
Professor: Prof. Marcos Antônio Morgado de Oliveira, Dr. 
 
 
RESENHA:XAVIER, Antônio Carlos. Educação, tecnologia e inovação: o desafio da aprendizagem
hipertextualizada na escola contemporânea. Revista (Con) Textos Linguísticos v. 7, n. 8.1 (2013)

Antônio Carlos Xavier é Professor Titular em Linguística no Departamento de Letras da UFPE; Pós-
doutor em “Linguagem, Hipertexto e Retórica Digital” pela Universidade Paris – VIII, França (2012).
O uso da tecnologia aplicada à educação é uma realidade em todos os segmentos de ensino na
atualidade. No entanto, utilizá-la como ferramenta em prol do conhecimento formalizado dentro de cada área
requer refletir cenários, competências e habilidades a serem alcançadas, bem como as muitas variantes
relativas ao verdadeiro acesso e domínio dessa, tanto por parte dos profissionais da educação quanto dos seus
discentes, visto que há de se ter cuidado para não se perder naquilo que corresponde ao verdadeiro objeto de
ensino.
“O novo período que agora se vislumbra no cenário da inserção das tecnologias nas escolas parece
concentrar-se na busca pelas formas mais eficazes de utilizá-las no auxílio ao trabalho docente em face à
diversidade de questões e conteúdo. ”
Xavier introduz o artigo afirmando que o uso de tecnologias em sala de aula é cada vez mais presente
e que a resistência a este uso já diminuiu, citando a presença e promoção do tema inclusive em documentos
oficiais. Para ele, gradativamente as tecnologias começam a ser aceitas e surge a necessidade de um olhar
crítico das práticas que repense o fazer pedagógico num contexto tecnológico de qualidade, estimulando o
senso crítico. O clima de animosidade e apatia que considerava a tecnologia como substituta do professor vai
se amenizando e aos poucos surgem propostas de ações pedagógicas que utilizam esse suporte e sendo essa a
discussão atual.
Segundo o autor, esta inserção é um caminho sem volta, pois a sociedade atual possui expectativas
em relação a este uso no sentido de melhoria do ensino. Assim ele apresenta propostas que surgem nesse
sentido, afirmando que estamos numa segunda fase do processo de inserção de tecnologias onde surgem
formas inéditas de utilização. A hipertextualidade, que é o agregar de diferentes informações possibilitada
pelos links da internet, é o que oportuniza experiências inéditas de manipulação de informações, experiências
de fazer e publicar inclusive mundialmente, uma vez que possibilita uma continuidade do exercício do saber
em qualquer lugar, ampliando as condições e possibilidades de aquisição do saber.
No texto, são apresentados por ele conceitos considerados como fundamentais de alguma forma ao
ensino num contexto digital. Primeiramente o ato de educar como ação que estimula no aprendiz um novo
modo de pensar e de agir e deve acontecer em condições intelectuais, psicológicas e materiais adequados para
o bom aproveitamento, a aprendizagem gerenciando tais ações e a inovaçãoque pode propiciar boas
condições para essa aprendizagem se for apresentada com clareza. Dessa forma, considera de suma
importância conhecer as novas modalidades de ensino em detalhes, suas concepções e abrangência.
É citada a perspectiva de Lehneret al. (2002), em que os dispositivos de comunicação sem fio seriam
uma extensão natural da educação a distância via computadores, já que facilitam o acesso ao aprendizado
sem limite de local e tempo, mas ressalva que esta modalidade é complexa e não pode ser reduzida a ideia de
aprendizagem on-line. Além disso, cita Ahonen (2003) e Syvänen (2003) que falam da mobilidade que esta
modalidade produz e Nyiri (2002) que considera a aprendizagem móvel um paradigma educacional que
surgiu em virtude do aproveitamento da disponibilidade dos recursos multimidiáticos contidos nos
dispositivos móveis. Crawford andVahey (2002) pesquisaram instituições americanas, onde os professores e
alunos após a pesquisa aprovaram positivamente o uso de novos recursos propostos. Por sua vez, o autor
reforça que o uso destes recursos possibilita aprendizagens diferenciadas dando possibilidade de manipulação
do conhecimento com os diferentes sentidos, além de adequar a aprendizagem à melhores disponibilidades de
tempo. Além disso, ao professor é possibilitado o desenvolvimento simultâneo de várias propostas de
atividades, flexibilidade nas consultas de arquivos e múltiplas interações com outros profissionais que
favorecerão a construção colaborativa de conhecimentos. O conhecimento dessa forma centra-se cada vez
mais no aprendiz que terá intervençãocontínua no processo.
A partir de alguns referenciais ele defende o uso de jogos para fins educativos, entre os argumentos
defendidos podemos citar o desenvolvimento de autonomia, da criatividade e da autoestima, a motivação
interior e o estímulo à competitividade positiva, além de desenvolverem a ludicidade, o raciocínio prático, a
conexão de ideias, as habilidades cognitivas e de concentração, a sociabilidade e a afetividade. Segundo o
que é citado por ele, Huizinga (2000) diz que“O jogo é mais do que um fenômeno fisiológico ou um reflexo
psicológico. Ele ultrapassa os limites da atividade puramente física ou biológica”. Além disso, cita Greenfield
(1988) afirmando que o uso dos jogos desenvolve não só a capacidade sensório-motora do aprendiz, mas
também desencadeiam nele uma série de outros processos cognitivos: Assim, em outras palavras, para o
autor, jogar é uma das ações constitutivas do ser humano e dessa forma a indução à realização de lances
intencionais, a colaboração entre pares de estudantes, a integração de variáveis interagentes que surgem
durante o jogo; a flexibilidade para abandonar decisões tomadas em razão da percepção de um insucesso à
vista; a organização de conceitos em domínios cognitivos específicos e a síntese de conhecimentos
construídos a partir das informações contidas nas diversas etapas dos jogos.
Como um exemplo positivo deste uso, é citada a Olimpíada de Jogos Digitais e Educação que
suscitou nos participantes o desenvolvimento dos diversos processos já citados e que segundo Targino, Lima
e Querete (2009),88% dos gestores avaliaram que a iniciativa aumentou o interesse dos alunos nos estudos e
68% dos estudantes confirmaram a informação. Souza (2002),que analisa os dados, é citado no artigo,
afirmando que os jogos se caracterizam como uma potencialidade pedagógica.
Outro ponto abordado por ele é a denominada “Realidade aumentada”, que torna natural a relação do
homem com a máquina e que, segundo o autor, pode trazer muitos benefícios no campo da aprendizagem
como o enriquecimento do mundo real com objetos virtuais e tantos outros recursos, estimulando a diluição
entre teoria e prática numa perspectiva sócio interacionista. Ele afirma ainda que a RA (Realidade
aumentada) é muito mais utilizada em áreas como a medicina, por exemplo, do que na educação onde ainda
se encontra, segundo ele, em fase embrionária.
O artigo leva ainda a uma reflexão de como deve ser a prática pedagógica do professor como
mediador que deve utilizar todos os recursos possíveis para o êxito no processo de ensino. Para tanto, cita
Peres e Castilho (1999, p. 10) citado por Masetto (2000, p. 145), que afirma ser o objetivo da mediação
pedagógica um “abrircaminho a novas relações do estudante com: os materiais, com o contexto, com outros
textos, com seus companheiros de aprendizagem, incluindo o professor, consigo mesmo e com seu futuro”.
Assim, o professor assume a função de orientador e ao aprendiz à função de combinar ideias e produzir
sínteses. Cabe ao professor estar preparado para saber efetuar esta mediação de forma que não seja apenas um
favorecedor de tendências. A mediação, portanto, é proposta no artigo como um processo onde o docente não
leva a absorção de conteúdos e sim a geração do senso crítico preparando o aprendiz para “montar” e
“desmontar” ideias e, por fim, a eficácia da mediação só é obtida se o entusiasmo crítico for despertado.
Por fim, o autor faz algumas considerações a respeito da participação das tecnologias no processo de
ensino de maneira que estas tendências interajam de forma harmonizada com todo o processo possibilitando
que, de forma natural e sem implicâncias com a perda da criticidade atuem como um apoio e não centro do
processo.
A partir das ideias apresentadas pelo autor, considerando o teor do artigo num contexto específico da
linguística aplicada ao ensino de línguas estrangeiras, podemos considerar a relevância das ideias
apresentadas, uma vez que as ferramentas disponibilizadas pela tecnologia na atualidade são inegavelmente
facilitadoras do trabalho desse professor e conseqüentemente da aprendizagem dos alunos. Ao efetuarmos
uma análise das premissas apresentadas em defesa da utilização das diferentes tecnologias como instrumentos
de aprendizagem, considero que estas são análogas ao que é preconizado por Moita Lopes (2009) no que
tange a amplitude da linguística na atualidade que perpassa os diferentes contextos de aprendizagem. Nesse
sentido, a relevância do artigo para a área de linguística e, conseqüentemente para o estudo das línguas
estrangeiras é, a meu ver, a constatação de que na atualidade o estudo da linguagem está imbricado nos
contextos sociais e não somente na estrutura formal dos objetos linguísticos como apregoado por Lopes.
Assim, considero a importância e a necessidade pungente de refletirmos sobre os possíveis usos de diferentes
tecnologias no ensino de línguas estrangeiras de acordo com os modelos e reflexões apresentados no referido
artigo.
Dialogando ainda entre o que é apresentado por Xavier e outros referenciais, considero importante
levar em conta Moita Lopes (2002) que considera positiva a aproximação do mundo e das pessoas resultante
da globalização. Essa aproximação mencionada por Lopes, em grande parte, se deve às inovações
tecnológicas presentes na atualidade e apresentadas por Xavier no artigo, entretanto é importante ressaltar
que Lopes chama a atenção para uma tendência a homogeneização e acentuação das diferenças decorrentes
deste processo de globalização. Nesse sentido, quando Xavier afirma que o professor deve lançar mão da
utilização de todos os recursos tecnológicos possíveis para que tenha êxito no processo de ensino, é
importante, no entanto, consideramos as distintas realidades, não apenas das escolas brasileiras, mas dos
próprios sistemas de ensino em si.
Refletindo sobre a tendência de homogeneização citada, é importante considerar, por exemplo, que a
utilização de ferramentas tecnológicas em escolas especificamente no contexto das redes municipais e
estaduais onde seu público alvo (docentes e discentes)não possui acesso à internet e/ou equipamentos
apropriados faz com que, por mais promissores que possam vir a serem os diferentes projetos na área, fiquem
apenas na teorização devido a esta realidade específica. Há de se considerar ainda, a formação dos
professores visto que, qualquer aperfeiçoamento na área tecnológica exigiria aparato compatível com o que é
preconizado por distintos estudiosos no que se refere à utilização das tecnologias de comunicação e
informação em prol do cumprimento das competências e habilidades tão eminentes nos currículos
contemporâneos.
Assim, é possível concluir a complexidade do tema quando pensado em relação à realidade
brasileira,ainda dividida em contextos sociais muito diferentes onde há de um lado escolas que possuem os
mais diferenciados e modernos recursos tecnológicos, como internet de alta velocidade acessível a todos os
alunos e equipamentos atuais, e de outro, comunidades em que recursos tecnológicos passam muito longe de
suas realidades.
Dessa forma, consideramos a importância de uma leitura crítica do artigo em questão, levando em
consideração Celani (2000) que afirma a fragmentação das políticas públicas brasileiras como refém de
ideologias que servem aos grupos políticos dominantes em determinado momento. Dessa forma, apesar de
não citar essa problemática, acredito que o artigo pode fomentar reflexões quanto a esses desafios do uso
concreto e igualitário das novas tecnologias na aprendizagem, e em especial a aprendizagem de línguas
estrangeiras.
Assim, consideramos em aberto algumas indagações:De que maneira seria possível superar essas
lacunas apontadas de maneira a tornar praticável o que é defendido por Xavier? Como promover o acesso a
todos de forma que enriqueça a prática pedagógica? E ainda levando em conta um contexto de acesso a essas
tecnologias, como tornar o processo de ensino e aprendizagem eficaz sendo num contexto onde geralmente o
aluno que domina mais as tecnologias que o professor?

Referências

CELANI, M. A. A. A Relevância da Lingüística Aplicada na Formação de uma Política


Educacional Brasileira. In: FORTKAMP, M.B.M. Aspectos da Lingüística Aplicada.
Florianópolis: Insular, 2000.17-32

MOITA LOPES, L. P. Identidades Fragmentadas: A Construção Discursiva de Raça, gênero e


sexualidade em sala de aula. Campinas: Mercado de Letras, 2002

XAVIER, ANTÔNIO CARLOS. Educação, tecnologia e inovação: o desafio da aprendizagem


hipertextualizada na escola contemporânea. Revista (Con)Textos linguísticos – Revista do Programa
de Pós Graduação em Linguística – UFES, 2013
https://periodicos.ufes.br/contextoslinguisticos/issue/view/408 Acesso em 28/04/2021.

 
 

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