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junho de 2015
Agradecimentos
Antoine de Saint-Exupéry
Lista de Siglas e Abreviaturas
DF Demonstrações Financeiras
UE União Europeia
Índice
Introdução ................................................................................................................... 7
Capítulo I .................................................................................................................... 10
1. Conceito .............................................................................................................. 10
Capítulo II ................................................................................................................... 20
Conclusão ................................................................................................................... 50
Introdução
Mas hoje não há presente. O presente é o futuro. É este paradigma que tem
norteado as empresas nos últimos anos. De fato, em virtude da atual necessidade de
concorrerem num mercado global é essencial primar pela constante atualização, pela
inovação, pela singularidade. Só assim é possível sobreviver num mercado
competitivo, marcado pelo reduzido poder de compra do consumidor final. Neste
contexto, as concentrações empresariais vão emergindo cada vez mais, assumindo um
lugar de destaque no atual mundo económico.
1
Fernando Pessoa, in Livro do Desassossego.
2
Como Lev (2001), Stewart (1998), Ana Maria Bandeira (2010), Ana Maria Rodrigues (2011) e tantos
outros autores.
Porém, o paradigma está a alterar. Com efeito, é cada vais mais habitual
assistirmos ao investimento em ativos intangíveis, particularmente por parte de
multinacionais. Contudo, o impacto fiscal deste investimento poderá ser enorme. Daí,
mais das vezes, de modo a evitar elevadas taxas de imposto sobre intangíveis
lucrativos e com o objetivo de otimizar estratégias de deslocação dos lucros entre
Capítulo I
1. Conceito
O conceito de ativo intangível varia consoante o autor, não sendo, destarte,
uma tarefa simples apresentar uma definição. Como afirma Ana Maria Rodrigues
(2011, p.473), “procurar um conceito abrangente para activo intangível é algo que até
hoje não foi conseguido com sucesso por nenhum investigador ou organismo
normalizador, tantas são as complexidades que lhe estão associadas”.
Para Schmidt e Santos (2002), ativos intangíveis são ativos que não se podem
tocar porque não possuem existência física. Fundam o seu conceito na origem da
palavra intangível, que advém do latim in-tangibile, e pelo prefixo de negação in, que
se contrapõe a tangibile, “que pode ser tocado, palpável”, adjetivo originado a partir
do verbo tango, tangere, ou seja, “tocar em”.
Podemos afirmar que a grande maioria dos países europeus não oferece um
conceito rigoroso de ativo intangível. Fazem, então, referência à definição fornecida
pelas orientações da OCDE: “direitos de uso de ativos industriais, tais como patentes,
marcas comerciais, nomes comerciais, desenhos ou modelos, direitos de propriedade
literária e artística, de know-how e segredos comerciais”3 (OCDE, 2010, cap. VI, § 6.2).
Como podemos constatar, nem mesmo as Guidelines da OCDE definem o conceito
exato, cingindo-se a descrever uma lista de figurinos. Como atesta Ana Maria
Rodrigues (2011, p.475), “o conceito de intangível é muitas vezes definido no sentido
negativo, isto é, não é definido por aquilo que é, mas sim no sentido de não ser um
activo tangível”.
3
Tradução da responsabilidade do autor do trabalho.
4
As NCRF – Normas Contabilísticas e de Relato Financeiro são as normas contabilísticas que fazem parte
do SNC – Sistema de Normalização Contabilística, e que se inspiram, na quase generalidade dos casos,
nas normas do IASB – International Accouting Standards Board.
5
O IAS 38 (International Accounting Standard 38), emitida em 1998 e revista em março de 2004, visa a
harmonização no tratamento dos ativos intangíveis, para todas as entidades que adotam as normas
internacionais de contabilidade, as ditas IAS/IFRS do IASB.
6
Normas internacionais de contabilidade do IASB, adotadas pela UE.
7
Vide ponto 3 deste capítulo - “Caraterização e tipologia dos ativos intangíveis (ativos intangíveis
gerados internamente vs. ativos adquiridos)”.
Finalmente, uma última nota. Em virtude do exposto, afigura-se não existir uma
noção comummente aceite para ativo intangível. Todavia, é pacífico afirmar que não
se trata de um ativo fictício, pese embora não tenha existência física (Ana Maria
Rodrigues, 2011).
Neste capítulo a única dúvida que parece não existir é que vivemos numa época
onde o império do conhecimento e a informação instituem o suporte do êxito das
empresas. O Homem é, atualmente, o ativo por excelência, bem como o trabalho e os
processos que desenvolvem.
colação do mundo empresarial, de tal modo que Stewart (1998, p.9) citado por Ana
Maria Rodrigues (2011, p.470), afirma que “a informação e o conhecimento são as
armas termonucleares competitivas da nossa época”.
Em suma, visto que os intangíveis constituem, mais das vezes, uma vantagem
competitiva, torna-se indispensável mensurá-los correta e homogeneamente, com
vista a que quaisquer utentes da informação financeira retirem as mesmas conclusões
de modo a não adulterar as tomadas de decisão (Garcia-Ayuso, 2003).
raízes. De igual forma, numa empresa são as pessoas, que tal como as raízes de uma
planta, a sustentam e fazem crescer (Catarina Martins, 2010).
Identificabilidade;
Finalmente, de modo a que um ativo intangível seja definido como tal, deverá
gerar benefícios económicos. Estes benefícios originados pelos intangíveis deverão ser
atribuídos à entidade nos casos em que sobre eles exista um direito específico. Ao
abrigo do § 17 da NCRF 6, “os benefícios económicos futuros que fluam de um ativo
intangível podem incluir réditos da venda de produtos ou serviços, poupanças de
custos, ou outros benefícios resultantes do uso do ativo pela entidade”.
patente foi concedida (Mackenzie et al, 2012). Segundo os mesmos autores, “como
regra, um ativo com elementos tangíveis e intangíveis será classificado como um ou
outro dependendo da dominância relativa ou importância comparativa dos
componentes tangíveis ou intangíveis do ativo”. Acolhemos, então, a opinião de Ana
Maria Rodrigues (2011, p.474), ao afirmar que “a não existência de substância física
não é, em nossa opinião, um elemento relevante na definição de um activo intangível”.
No que diz respeito à caracterização dos ativos intangíveis, duas últimas mas
não menos importantes notas.
Como já vimos, os intangíveis são, cada vez mais, uma fonte de vantagens
competitivas. De fato, intangíveis como uma boa carteira de clientes, patentes, capital
intelectual de excelência e uma marca reconhecida são fatores de diferenciação e
obtenção de vantagens. No fundo, os intangíveis assumem cada vez mais um papel
essencial na valoração das empresas. Porém, para que possam fazer a diferença, os
intangíveis terão de ser, na sua essência, específicos das entidades que os detêm.
Então, é pacífico afirmar que uma característica fundamental desses ativos será a sua
especificidade e singularidade. De acordo com Ana Maria Rodrigues (2011, p.480), “ o
valor desses ativos advém, no essencial, da sua exclusividade, (…) dado que a
característica distintiva de cada um desses activos é a sua singularidade.”. Com efeito,
pessoas, know-how, patentes, segredos, desenhos, receitas, entre outros ativos
considerados intangíveis são únicos, são singulares8 e específicos das entidades que os
detêm.
Finalmente, para Lev (2001, p.22), os ativos intangíveis fruem de outras duas
características: a não-rivalidade e a capacidade de escala. Quanto à não-rivalidade é
vista como a capacidade de um ativo poder ser utilizado simultaneamente e de
diversas formas distintas (pensemos numa marca ou num software). Concretizando
com um exemplo, o capital intelectual vocacionado para a fase de pesquisa de uma
determinada entidade não o impossibilita de ser aplicado na fase de produção ao
mesmo tempo. Já os ativos tangíveis, pela sua génese, não podem ser utilizados ao
8
Para mais desenvolvimentos, aconselhamos a leitura de Ana Maria Rodrigues (2006).
aquisição separada;
troca;
doação;
gerados/produzidos internamente.
9
Vide Lev (2011).
10
Os exemplos apresentados não são exclusivamente ativos gerados internamente.
11
Vide ponto 1.2.1 do capítulo 2 - “Ativos intangíveis gerados internamente”.
12
Como veremos, segundo o normativo contabilístico atualmente dominante, nenhum ativo proveniente
da fase de pesquisa será reconhecido. Quanto à fase de desenvolvimento, segundo o § 56 da NCRF 6,
um ativo pode ser reconhecido se, e apenas se, uma entidade puder demonstrar:
(a) A viabilidade técnica de concluir o ativo intangível a fim de que o mesmo esteja disponível para uso
ou venda;
(b) A sua intenção de concluir o ativo intangível e usá-lo ou vendê-lo;
(c) A sua capacidade de usar ou vender o ativo intangível;
(d) A forma como o ativo intangível gerará prováveis benefícios económicos futuros. Entre outras coisas,
a entidade pode demonstrar a existência de um mercado para a produção do ativo intangível ou para o
próprio ativo intangível ou, se for para ser usado internamente, a utilidade do ativo intangível;
(e) A disponibilidade de adequados recursos técnicos, financeiros e outros para concluir o
desenvolvimento e usar ou vender o ativo intangível;
(f) A sua capacidade para mensurar fiavelmente o dispêndio atribuível ao ativo intangível durante a sua
fase de desenvolvimento.
13
Tradução da responsabilidade do autor do trabalho.
14
Vide Ana Maria Rodrigues (2014, p.223 e 224).
15
Vide ponto 1.2.2 do próximo capítulo - “Ativos intangíveis adquiridos”.
Capítulo II
Neste contexto, a 1 de janeiro de 2010 entrou em vigor o SNC 16, aprovado pelo
Decreto-lei n.º 158/2009, de 13 de julho. A sua entrada em vigor revogou o POC e
legislação complementar reguladora da atividade contabilística no nosso país. Este
novo modelo de normalização contabilística aspira seguir a modernização
contabilística ocorrida nos países da União Europeia, garantindo, assim, um
enfileiramento, em matéria contabilística, com as suas diretivas e regulamentos. Só
assim é possível comparar a contabilidade das empresas nacionais com a contabilidade
de diferentes mercados internacionais.
16
O SNC surge na sequência do Regulamento (CE) nº1606/2002 do Parlamento Europeu e do Conselho,
de 19 de julho de 2002 relativo à aplicação das normas internacionais de contabilidade.
17
As IAS/IFRS do IASB-EU incluem, somente, as normas adotadas pela UE (Ana Maria Rodrigues, 2014).
Europeia.18 Como podemos facilmente constatar, as NCRF que compõem o SNC são
muito próximas das Normas Internacionais de Contabilidade e Relato Financeiro
(IAS/IFRS). Aliás, no caso do SNC não corresponder a aspetos particulares de
determinadas transações ou situações, devemos recorrer, em primeira instância, às
NIC (IAS/IFRS/SIC/IFRIC) adotadas pela UE19 e, em segunda, às IAS/IFRS do IASB.20
Quanto ao SNC, ainda uma breve nota. Segundo Amélia Pires (2009), embora
seja inegável a conformidade com a legislação contabilística internacional supra
identificada, o SNC tem características próprias. Não se trata de uma adoção total das
normas mencionadas, mas uma adaptação nacional das mesmas.
18
Habitualmente denominadas de Normas Internacionais de Contabilidade.
19
Adotadas ao abrigo do Regulamento (CE) n.º1606/2002 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 19
de julho de 2002.
20
Emitidas pelo IASB, e respetivas interpretações SIC-IFRIC (International Financial Reporting
Interpretations Committee).
21
Quando o tratamento dos intangíveis não é tratado noutras normas, é na NCRF 6.
Todavia, segundo Ana Maria Rodrigues (2011, p.477), não basta “cumprir com a
definição (…) para um item ser reconhecido como tal no balanço”.
Para Eduardo Sá Silva (2014, p.20), “uma entidade deve avaliar a probabilidade
de benefícios económicos futuros esperados, usando pressupostos razoáveis e
22
Exceção feita aos intangíveis adquiridos numa concentração de atividades empresariais, conforme
veremos adiante.
23
Neste caso, serão reconhecidas na conta 442.
de transação anterior e não se admite que sua mensuração possa ser fiavelmente
determinada.
24
Para mais desenvolvimentos, consultar § § 44 a 46 da NCRF 6.
25
Vide § § 33 e 34 da NCRF 6, bem como os § § 23, 24 e 27 da NCRF 14.
Este modelo prevê que o ativo intangível é registado pelo seu custo, subtraindo
as amortizações acumuladas e quaisquer perdas por imparidade, se existirem (§ 73 da
NCRF 6). O valor achado é denominado de quantia escriturada do ativo.26 Entende-se
por quantia escriturada a quantia pela qual um ativo é reconhecido no Balanço, após a
dedução de qualquer depreciação/amortização acumulada e de perdas por imparidade
acumuladas inerentes (§ 8 da NCRF 6).
26
Vide § § 8 e 73 da NCRF 6 conjugados com a alínea a) do § 98 da EC.
27
Vide § § 96 a 105 da NCRF 6.
28
Verbi gratia, grandes marcas.
superior ao seu valor contabilístico, caso a perda por imparidade não tivesse sido
reconhecida nos anos anteriores.
1.4. O goodwill
O tratamento autónomo do goodwill neste trabalho prende-se, em parte, com
a complexidade do seu tratamento contabilístico, sem prejuízo da crescente atenção
que vem recebendo desde há muito tempo no panorama nacional e internacional.
Assim, entendemos que um estudo individualizado deste ativo intangível poderia ser
vantajoso, de modo a almejar uma melhor compreensão. Contudo, importa realçar
que inobstante sua importância no seio dos intangíveis e das dúvidas que suscita,
faremos uma abordagem sumária do seu tratamento contabilístico.29
Considerado por Ana Maria Rodrigues (2011, p.471) como “o intangível mais
intangível de todos”, o goodwill está intimamente vinculado às CAE. Aliás, a sua
29
Vide Carla Carvalho (et al., 2008, 2010 e 2012).
30
Com exceção dos casos em que sejam aplicáveis diretamente as normas internacionais.
31
Publicada no Jornal Oficial n.º L 182 /69 de 29 de junho de 2013, relativa às demonstrações
financeiras anuais, às demonstrações financeiras consolidadas e aos relatórios conexos de certas formas
de empresas (que altera a Diretiva 2006/43/CE do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de maio de
2006, e revoga as Diretivas 78/660/CEE e 83/349/CEE do Conselho).
2. Análise crítica
Este último ponto é dedicado à reflexão crítica de algumas temáticas abordadas
ao longo do presente capítulo.
Capítulo III
32
Subtítulo do Relatório Final, elaborado pela Comissão da Reforma do IRC, presidida por António Lobo
Xavier no mandato do Exmo. Senhor Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Dr. Paulo Núncio.
33
Alterada pelo Decreto-Lei n.º 162/2014, de 31 de outubro e pelas Leis n.º 82-B de 2014, 82-C de 2014
e 82-D de 2014, todas de 31 de dezembro. Doravante, quando no trabalho se referir à Lei 2/2014, de 16
de janeiro, compreende as alterações identificadas.
34 s
Alterado pela Leis n.º 64-B/2011, de 30 de dezembro, 2/2014, de 16 de janeiro, e 82-D/2014, de 31
de dezembro e pelo Decreto Regulamentar n.º 4/2015 de 22 de abril. Doravante, quando no trabalho se
referir ao Decreto Regulamentar n.º 25/2009, de 14 de setembro, compreende as alterações
identificadas.
No que aos intangíveis diz respeito, em bom rigor, sem prejuízo dos imensos
normativos existentes, o CIRC e o atual Decreto Regulamentar n.º 4/2015 de 22 de
abril são, de fato, os preceitos que realmente se arrogam com maior relevância no
plano fiscal. Quanto ao CIRC, de entre outros, podemos destacar os artigos
compreendidos entre o 28.º-A e o 34.º, bem como os artigos 45.º-A e 50.º-A. Em
relação ao Decreto Regulamentar n.º 4/2015 de 22 de abril, o artigo 16.º , no que
respeita à amortização dos ativos intangíveis assume um particular relevo, inobstante
da natural importância de outras normas quanto ao regime das depreciações e
amortizações.
35
Fruto da adoção das IAS/IFRS e do SNC na ordem contabilística interna.
No CIRC de 2010, de acordo com Ana Maria Rodrigues (2014, p. 225), “se a
entidade conseguiu estimar com fiabilidade o período de vida útil do ativo intangível, o
legislador fiscal admite a consideração fiscal dos gastos de amortização dos intangíveis
(art. 29.º do CIRC) ”. Por sua vez, em ativos que dispõe de uma vida útil indefinida,
apenas se admitia algum impacto fiscal quando se verificassem perdas por imparidade
nesses ativos, e estas cumprissem as condições elencadas no art. 38.º do CIRC 36,
segundo a mesma autora (Ana Maria Rodrigues, 2014).
36
Norma revogada pela Lei 2/2014, de 16 de janeiro.
Quanto a estas, dispõe o art. 29.º do CIRC que “são aceites como gastos as
depreciações e amortizações39 de elementos do ativo sujeitos a deperecimento40,
considerando-se como tais (…) os ativos intangíveis” (art. 29.º, n.º 1 alínea a) do CIRC).
Todavia, para que os intangíveis possam considerar-se sujeitos a deperecimento, têm
de sofrer perdas de valor pela sua utilização ou passagem do tempo de caráter
sistemático e têm de sofrer perdas de valor resultantes da sua utilização ou do decurso
do tempo (art. 29.º, n.º 2 do CIRC). Já segundo o n.º 3 do preceituado artigo, as meras
flutuações que afetem os valores patrimoniais não relevam para a qualificação dos
respetivos elementos como sujeitos a deperecimento. Adiante, por último, o número 4
do mesmo artigo refere que salvo razões devidamente justificadas e aceites pela
Autoridade Tributária e Aduaneira, os elementos do ativo só se consideram sujeitos a
deperecimento depois de entrarem em funcionamento ou utilização.
Como refere Rui Morais (2009, p. 106 e 107), “o deperecimento não resulta
tanto do desgaste físico mas da desatualização (…). Tem que estar em causa uma
depreciação previsível, sistemática e irreversível, pelo que não originam amortizações
os bens que, normalmente, não se depreciam”. De fato, a amortização só é possível
quando o intangível sofrer perdas de valor derivado ou da sua utilização ou do decurso
do tempo. Ou seja, se o ativo estiver somente disponível para uso e não sofrer perdas,
a amortização no plano fiscal não é possível (§ 96 da NCRF 6).
37
Vide ponto 1.3. deste capítulo - “Os intangíveis e o regime previsto no art. 45.º-A”.
38 s
Conjugação dos nº 1 e 2, alínea g) do art. 23º do CIRC.
39
O conceito de depreciações respeita a ativos fixos tangíveis e o de amortização é reservado para os
ativos intangíveis.
40
Itálico nosso.
Assim, caso os intangíveis tenham uma vida útil finita, permite-se a dedução
fiscal das suas amortizações, de acordo com o disposto no n.º 1 do artigo 16.º do
Decreto Regulamentar n.º 4/2015 de 22 de abril. Relativamente a intangíveis cuja vida
útil seja considerada indefinida, com a reforma do IRC, houve uma preocupação em
reconhecer efeitos fiscais às despesas de investimento relacionadas com estes,
conforme abordaremos no próximo ponto.
41
Corolário do princípio contabilístico do custo histórico.
42
Vide ponto 1.3. deste capítulo - “Os intangíveis e o regime previsto no art. 45.º-A”.
43
Este artigo foi aditado e corresponde aos revogados art. 38.º (“Desvalorizações excecionais”) e art.
35.º (“Perdas por imparidade fiscalmente dedutíveis”).
Ora, tal como com as amortizações, o art. 23.º do CIRC também admite a
dedutibilidade das perdas por imparidade (conjugação dos n.ºs 1 e 2, alínea h) do art.
23.º do CIRC.). Porém, é necessário que sejam cumpridos os critérios previstos no art.
31.º-B do CIRC.
Prescreve o n.º 1 do art. 31.º-B do CIRC que “podem ser aceites como gastos
fiscais as perdas por imparidade em ativos não correntes provenientes de causas
anormais comprovadas, designadamente desastres, fenómenos naturais, inovações
técnicas excecionalmente rápidas ou alterações significativas, com efeito adverso, no
contexto legal”. Todavia, para que sejam aceites, “o sujeito passivo deve obter a
aceitação da Autoridade Tributária e Aduaneira, mediante exposição devidamente
fundamentada, a apresentar até ao fim do 1.º mês do período de tributação seguinte
ao da ocorrência dos factos que determinaram as desvalorizações excecionais,
acompanhada de documentação comprovativa dos mesmos, designadamente da
decisão do competente órgão de gestão que confirme aqueles factos, de justificação
do respetivo montante, bem como da indicação do destino a dar aos ativos, quando o
abate físico, o desmantelamento, o abandono ou a inutilização destes não ocorram no
mesmo período de tributação”, conforme dispõe o número 2 do preceituado artigo.
Deste modo, para que uma perda por imparidade possa concorrer como gasto
fiscal, não basta que resulte de causas excecionais, mas também que seja esse o
entendimento da ATA. Se estes dois critérios forem cumpridos, “essa perda
reconhecida contabilisticamente concorre para o apuramento do lucro tributável”,
segundo Ana Maria Rodrigues (2014, p.231).
asseverar que “a posição do legislador fiscal é (…) baseada num princípio de prudência
ou de reserva perante a natureza subjetiva dessas perdas”.
Foi neste contexto, com a Lei 2/2014, de 16 de janeiro, que surgiu o art. 45.º-A
do CIRC.
44
Sumário executivo do ponto j. “Criação de regime de dedutibilidade do valor de aquisição dos ativos
intangíveis não amortizáveis “ do Relatório Final da Comissão.
Conforme fomos referindo, esta norma aplica-se aos intangíveis que não
tenham vigência temporal limitada. Ou seja, aos intangíveis cuja vida útil é considerada
indefinida. Esta é talvez a maior novidade e constitui uma verdadeira linha de rotura
com a versão anterior do CIRC. Aliás, conforme já expusemos anteriormente, no CIRC
de 2010 só era admitido, em condições excecionalíssimas, que as perdas por
imparidade nos ativos intangíveis tivessem algum reflexo fiscal. Havia, em nosso
entendimento, um tratamento fiscal discriminatório relativamente aos intangíveis com
uma vida útil indefinida. Situação que, em bom rigor, não se compreendia, atento ao
“potencial muito significativo de crescimento económico para as empresas que desses
elementos são titulares, assumindo por isso especial relevância para Portugal”,
segundo o Relatório Final da Comissão..
Por último, uma situação que pode gerar alguma dúvida. No caso de ocorrerem
perdas por imparidade, estando preenchidos os requisitos do art. 31.º-B do CIRC e se a
entidade estiver a beneficiar do regime em análise, ou seja, a repartição do custo de
45
Portaria 150/2001, de 13 de fevereiro, alterada pela Portaria 292/2011, de 8 de novembro.
aquisição pelo período definido na lei fiscal, quid iuris? Na opinião de Ana Maria
Rodrigues (2014), admite-se uma leitura conjugada dos dois artigos. Segundo a autora,
caso se verifique uma situação desta índole, “o custo de aquisição dos ativos
intangíveis aí considerados deve ser devidamente corrigido nos períodos fiscais
subsequentes ao reconhecimento dessa perda por imparidade fiscalmente
considerada” (Ana Maria Rodrigues, 2014, p.231).46
1.4. O goodwill
Como sucedeu com o tratamento contabilístico, também no que diz respeito ao
tratamento fiscal do goodwill, optámos por lhes dedicar um ponto autónomo.
Fazendo uma súmula do que fomos afirmando ao longo deste capítulo48, antes
da mais recente reforma do CIRC havia uma diferença abissal entre o tratamento fiscal
dos ativos intangíveis com vida útil finita e o tratamento dos ativos intangíveis com
vida útil indefinida.
46
Vide Ana Maria Rodrigues (2014).
47
PWC (2013).
48
Como já foi abordado nos pontos anteriores, escusamo-nos de, na súmula contextual, indicar os
normativos que atestam o afirmado.
No que ao goodwill diz respeito, com a entrada em vigor do art. 45.º-A do CIRC,
é possível a dedução fiscal anual de 5% do valor do goodwill adquirido em alguns tipos
de concentrações de atividades empresariais. Todavia, de acordo com a alínea b) do
n.º 1 do artigo 45.º-A do CIRC, o legislador impõe que o seu valor seja reconhecido nas
contas individuais do sujeito passivo em harmonia com o normativo contabilístico em
vigor.
49
De acordo com o art. 11.º n.º 2 da LGT, obedecendo aos princípios gerais da interpretação das
normas tributárias, a definição de “concentração de atividades empresariais” deve ser analisado de
acordo com a NCRF 14. Assim, relativamente a CAE, vide § § 1 a 8 da NCFR 14.
alguns dos ativos líquidos de outra entidade que em conjunto formem uma ou mais
atividades empresariais, segundo o disposto no § 5 da NCRF 14. Daí, só quando a CAE
se concretiza numa fusão ou numa cisão50 é que se poderá vir a reconhecer o goodwill
nas contas individuais da sociedade adquirente, e só neste caso poderá este agregado
ter reflexo fiscal ao abrigo do art. 45.º-A do CIRC. Conforme já verificámos, a situação
poder-se-á complicar a partir de janeiro de 2016, quando entrar em vigor o previsto
na Diretiva 2013/34/EU. Daí em diante, para as empresas que aplicam o SNC, a diretiva
obriga à amortização do goodwill.
50
Desde que esta implique a compra de alguns dos ativos líquidos de outra entidade que em conjunto
formem uma ou mais atividades empresariais.
Conclusão
Este trabalho demonstrou que não é fácil definir ativo intangível. Inobstante da
sua crescente relevância, nenhum conceito consegue abarcar a essência destes ativos
nem tão-somente acolher as novas realidades que o caracterizam. Opta-se, mais das
vezes, por defini-lo na negativa.
Fiscalmente, aos intangíveis que possuam uma vida útil finita, permite-se a
dedução fiscal das suas amortizações, verificados os requisitos do art. 29.º do CIRC.
Relativamente aos intangíveis que possuam uma vida útil indefinida é admitida a
dedutibilidade das perdas por imparidade, sendo que para isso é necessário que sejam
reconhecidas na contabilidade e que sejam cumpridos os critérios previstos no artigo
31.º-B do CIRC. Todavia, com a entrada em vigor da Lei 2/2014, de 16 de janeiro,
surgiu o art. 45.º-A do CIRC. Desde então, é possível reconhecer efeitos fiscais às
despesas de investimento realizadas com os intangíveis de vida útil indefinida. Ou seja,
admite-se a possibilidade de ser aceite como gasto fiscal o custo do investimento dos
intangíveis durante os primeiros 20 períodos de tributação após o seu reconhecimento
inicial. No caso de ocorrerem perdas por imparidade, estando preenchidos os
requisitos do art. 31.º-B do CIRC e se a entidade puder repartir o custo de aquisição
pelo período de 20 anos, concluímos que se admite uma leitura conjugada dos dois
artigos. Destarte, o custo de aquisição dos intangíveis deve ser devidamente corrigido
nos períodos fiscais subsequentes ao reconhecimento dessa perda por imparidade.
surgirá. Porém, a grande limitação deste trabalho prende-se com a não realização de
uma aplicação prática, o que poderia concretizar algumas das ideias apresentadas.
Referências Bibliográficas
Cañibano, L., Gisbert, A., Sierra, G. & Orta, M. (2004). “Norma Internacional de
Contabilidad nº 38: Activos Intangíbles”. Universidad Autónoma de Madrid e
Universidad de Sevilla.
Upton, W.S. (2001). “Business and Financial Reporting, Challenges from the
New Economy”. Financial Accounting Series - Special Report. FASB, USA.