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A perspetiva de Popper sobre o desenvolvimento da ciência

“O cientista individual pode desejar estabelecer a sua teoria em vez de refutá-la. Mas, do ponto de
vista do progresso da ciência, esse desejo pode induzi-lo seriamente em erro. Mais ainda, se não
examinar a sua teoria preferida de modo crítico, outros o farão por ele.
Os únicos resultados que serão considerados por estes como apoiando a teoria será a incapacida-
de de tentativas que visam refutá-la – incapacidade de encontrar contra-exemplos nos casos em
que estes seriam mais esperados, à luz das melhores teorias em competição. Assim, não é criar um
grande obstáculo à ciência se o cientista individual pender para uma teoria que lhe é particular -
mente cara.”
Popper, "A racionalidade das revoluções científicas", in O Mito do Contexto

Problemas/teorias /criticas
- A ciência começa por problemas
-Os cientistas propõem teorias (conjeturas/hipóteses)
-Os cientistas submetem as teorias a testes lógicos e empíricos (crítica)

A ciência progride à medida em que os testes mostram falhas na teoria →


são propostas teorias que resistem a esses testes → as novas teorias preser-
vam o que há de correto nas teorias precedentes, mas são mais precisas e
completas.

Perspetiva de Popper Progresso científico/aproximação à verdadeira


sobre o desenvolvi-
mento da ciência -Eliminação crítica do erro
-As teorias são sujeitas a testes cada vez mais rigorosos/severos → as piores
teorias são eliminadas e as melhores sobrevivem

As melhores teorias disponíveis vão sendo modificadas ou substituídas por


outras (mais informativas e resistentes) → Progressão da ciência em direção
à verdade.

Objetividade e racionalidade científica

Objetividade científica → as teorias são selecionadas em função de critéri-


os objetivos → o desempenho face a testes severos → critério objetivo (jus-
tifica a preferência de uma teoria relativamente a outra).

Racionalidade científica → condição necessária da objetividade científica


→ argumentos usados na discussão racional das teorias → resultados dos
testes → método científico (face a problemas, são propostas teorias (ousa-
das), criticadas e aceites provisoriamente se resistirem à critíca.
Adaptação a partir do Cogito

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“Podemos dizer que o crescimento do nosso conhecimento é o resultado de um processo muito
parecido com aquilo a que Darwin chamou «seleção natural», ou seja, da seleção natural de hipó -
teses: o nosso conhecimento consiste, em cada momento, naquelas hipóteses que mostraram a
sua aptidão (comparativa) ao sobreviver até agora na sua luta pela existência, uma luta competiti-
va que elimina as hipóteses inaptas.
Podemos aplicar esta interpretação ao conhecimento dos animais e ao conhecimento pré-científi-
co. O que é peculiar no conhecimento científico é o seguinte: nele torna-se mais dura a luta pela
existência através da crítica consciente e sistemática das nossas teorias. Deste modo, enquanto o
conhecimento dos animais e o conhecimento pré científico crescem sobretudo através da elimina-
ção daqueles que mantêm as hipóteses inaptas, a crítica científica faz frequentemente as nossas
teorias perecerem em vez de nós, eliminando as nossas crenças antes que essas crenças conduzam
à nossa eliminação.”
Adaptação a partir de Karl Popper, Conhecimento Objetivo
Racionalidade científica e objetividade, conclusão:

• Adoção de uma atitude crítica em relação às teorias científicas, sujeitando-as a testes que
as refutem.

• A verdade ou falsidade de uma teoria é independente de crenças ou opiniões e depende


apenas da sua a correspondência aos factos.

• A teoria científica resulta de critérios objetivos - a resistência aos testes empíricos.

• A ciência é objetiva porque uma conjetura é sujeita a testes severos independentemente


do cientista que a propõe e do contexto social.

Questões:

1.º De acordo com Popper, será que podemos estar certos de que uma teoria é verdadeira?
Porquê?

2.º Por que razão Popper rejeita o critério de demarcação proposto pelos positivistas lógicos?

3.º Explicando o conceito de falsificabilidade de Popper diga por que razão falsificar uma teoria
constitui um progresso na evolução da ciência.

A HISTÓRIA DA CIÊNCIA COMO SUCESSÃO DE PARADIGMAS

“A ciência normal, a atividade em que, inevitavelmente, a maioria dos cientistas consome quase
todo o seu tempo, constitui-se na suposição de que a comunidade científica sabe como é o mun-
do. Grande parte do êxito da pesquisa deve-se ao facto da comunidade se encontrar disposta a de-
fender essa suposição, mesmo que seja necessário pagar um preço elevado. A ciência normal, por
exemplo, suprime frequentemente inovações fundamentais, devido a permanecerem demasiado
subversivas relativamente às suas crenças habituais.

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No entanto, (...) a própria natureza da investigação normal assegura que a inovação não seja igno-
rada durante muito tempo. Por vezes, um problema normal que deveria resolver-se por meio de
regras e procedimentos conhecidos, opõe resistência aos esforços persistentes dos mais notáveis
especialistas. Outras vezes, um instrumento concebido e construído para a investigação normal
não dá os resultados esperados, revelando uma anomalia que, apesar dos esforços repetidos, não
corresponde às esperanças profissionais.
A ciência normal perde-se muitas vezes nestes e noutros embaraços. E quando se acumulam, isto
é, quando a comunidade de cientistas não pode passar por alto as anomalias que subvertem a tra -
dição existente das práticas científicas, iniciam-se investigações extraordinárias que levam, por fim,
à adoção de um conjunto de crenças, a uma nova base para a prática da ciência.
Os episódios extraordinários em que têm lugar essas mudanças de paradigmas, são denominadas
neste ensaio por revoluções científicas.”
Kuhn, A Estrutura das Revoluções científicas

Cumulativo

As novas teorias melhoram, aperfeiçoam as anteriores.


O desenvolvimento da ciência durante o período de ciência normal é cu-
Desenvolvimento da Ci- mulativo.
ência Não Cumulativo

As novas teorias substituem completamente as anteriores.


As revoluções científicas que resultam da ciência extraordinária são epi-
sódios de desenvolvimento não cumulativo.
Kuhn defende que as mudanças de paradigma não podem ser interpretadas como progresso ci-
entífico objetivo.

A única explicação plausível para o sucesso das numerosas aplicações tecnológicas bem-sucedidas
decorrentes das teorias científicas mais recentes é a maior correção das teorias científicas em que
se baseiam, relativamente às teorias precedentes, menos poderosas do ponto de vista do sucesso
tecnológico.

Kuhn defende que a avaliação das teorias acaba por depender do paradigma dominante e de fa-
tores subjetivos dos cientistas.
Conjunto de conceitos fundamentais e de procedimentos padronizados,
aceites pela comunidade científica, que orientam e determinam a prática
científica numa determinada época.

Paradigma Elementos dos paradigmas:


• Leis e pressuposto teóricos fundamentais
• Regras para aplicar as leis à realidade
• Regras para usar instrumentos científicos
• Princípios metafísicos e filosóficos

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