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FACULDADE DO SERIDÓ – FAS

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM PSISCOPEDAGOGIA CLÍNICA E


INSTITUCIONAL
PROF. DULCIANA C. LOPES DANTAS

ALUNO: RAFAEL DE MEDEIROS BATISTA

A PESSOA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA EM FASE ESCOLAR

CURRAIS NOVOS,

2016
RESUMO

Embora muitas vezes tenhamos todos nossos sentidos (tato, paladar, olfato, audição e
visão) intactos, e vez por outra somos acometidos por dificuldades passageiras como: a fratura
de uma mão, uma dor de ouvido, ou apenas uma cirurgia na boca; tudo isso nos faz imaginar
em como seria nossa vida privada de um dos cinco sentidos necessários. Há pessoas que não
precisam imaginar, elas convivem com essa dificuldade diariamente, são pessoas com algum
grau de necessidade.
Quando imaginamos alguém com certa dificuldade ou deficiência, logo visualizamos a
imagem de um adulto que está disposto a lutar por seus direitos, que encontra maneiras de
lidar com a deficiência, mas há de se observar quais etapas esse adulto teve de passar até
chegar nessa fase. Quando criança, quais suas maiores dificuldades, quais seus anseios, como
a sociedade se preparou para agir com ela, como a escola atuou no processo de ensino-
aprendizado? Todas essas perguntas são inerentes à questão geral da pessoa com deficiência
auditiva.
Este trabalho busca entender um pouco sobre a pessoa com deficiência auditiva, de
tantas outras deficiências, a auditiva priva o indivíduo de um mundo e o mergulha em outro,
com novas percepções, anseios e dificuldades distintas. A pessoa com deficiência auditiva
além de requerer necessidades mais detalhadas na maneira de lidar com atividades simples do
dia-a-dia, também merecem uma maior atenção com relação ao preconceito existente na
sociedade, seja profissional, familiar, acadêmica.

PALAVRAS-CHAVE: deficiência auditiva; dificuldades; preconceito; crianças.


INTRODUÇÃO

Aristóteles (388-322 a.C.) defendia que a consciência estava ligada aos sentidos, dessa
forma, os surdos, por não terem a capacidade de ouvir e falar, eram vistos como seres
incapazes de aprender. Tal afirmação já demonstra por si só o quão difícil é a vida do
indivíduo que tem alguma deficiência, seja ela qual for, embora neste trabalho seja abordada
apenas a deficiência auditiva.
O mundo é cheio de maneiras de se perceber as coisas; uns pelo tato, outros pela visão
e outros pelos demais sentidos humanos, ou por todos; o que os faz importantes demais para
notar o que acontece ao redor de cada indivíduo. Quando um desses sentidos falha, toda a
percepção pode vir a não acontecer, pelo menos da maneira dita normal.
As pessoas com deficiência auditiva encontram-se no grupo com maiores dificuldades,
ao lado dos que sofrem com a falta de visão. Essa dificuldade pode ser total ou parcial,
dependendo do caso em questão. O surdo é considerado assim quando não percebe os sons,
ainda que com ajuda de amplificadores, segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde.
As crianças, historicamente falando, se nascessem com algum tipo de deficiência
visivelmente detectada, eram mortas, assassinadas ou simplesmente colocadas em praça
pública para que cães as pudessem devorá-las, como acontecia em Roma. “Em Roma, elas
eram colocadas na base de uma estátua nas praças principais e então devoradas pelos cães.
Por este motivo muitos historiadores pensaram que certamente às crianças surdas não se desse
tal destinação dado que, seguramente, mesmo hoje é muito difícil fazer um diagnóstico
precoce da surdez”. (STROBEL apud RADUTZKY, 2006, p. 246)
Não tratando as mesmas crianças assim nos dias atuais, a sociedade não se diferencia
em muito das sociedades de Roma e Grécia, logicamente não sofrendo o mesmo destino,
porém recebendo severas demonstrações de preconceito e diferenciação com as demais
crianças.
O mundo ouvinte não está preparado para lidar com indivíduos puramente sensoriais e
que usam dos gestos como forma principal de comunicação. A maneira mais ideal de se
comunicar com esses indivíduos é a LIBRAS – língua brasileira de sinais, porém, “o universo
da Educação Especial é deveras complexo, para atuar neste é necessário que o professor
possua auto respeito, espontaneidade, sensibilidade, tolerância frustracional elevada,
estabilidade emocional, energia, responsabilidade, abertura e atitude positiva perante as
crianças” (Rapparport e MC Nary, apud por Fonseca, 1997, p. 197)
As famílias, bem como toda a sociedade, e as escolas estão incluídas nesse contexto,
não estão totalmente preparadas para lidar com crianças com deficiência auditiva. Os
professores e demais funcionários precisam ser preparados com o estudo da LIBRAS, ou com
outras maneiras de comunicação. Educar não é tarefa fácil, ao se deparar com crianças com
essa deficiência fica menos fácil ainda. Os anseios, as angústias, os desejos, tudo o que está ao
redor do contexto educacional, extra sala de aula, deve ser observado. Cabe uma pergunta:
como educar uma criança com certa deficiência, se durante décadas a sociedade apenas a
excluiu?
A criança pensa, age, brinca, tem provavelmente os mesmos sonhos, a única diferença
é a comunicação, que enquanto nos ouvintes é feita pela oralidade, na pessoa com deficiência
auditiva ela pode ser pela oralidade, embora com limitações, nos gestos, nas expressões
corporais e das mãos. O professor, bem como a família, precisa estar atenta a tudo isso, caso
contrário, várias serão as situações de falta de comunicação, ou confusão na recepção das
mensagens.
Descobrir a melhor maneira de escolarizar e educar a criança com deficiência é o
maior questionamento, quando esse for respondido, talvez toda a cultura de preconceito e
diferenciação seja minimizada.
DESENVOLVIMENTO

Algumas são as causas para a surdez, que pode ser permanente ou parcial. Em todo
caso essa deficiência causa inúmeros transtornos na vida do indivíduo. A surdez pode ser
moderada, severa e profunda, segundo a Prof. Ms. Ana Cristina O. Marques Silvestre do
Grupo Ser Educacional; que também informa que a surdez moderada não impede o
desenvolvimento da fala e da linguagem, se houver auxílio de aparelhos específicos; já a
surdez severa se for tratada com maior intensidade pode ocasionar em melhoras e
desenvolvimento na fala e na aprendizagem, e na surdez profunda também, porém em menor
escala de desenvolvimento e num processo demorado.
Antes que a criança possa estar inserida no processo lingual, já nascida ou ainda no
ventre de sua mãe, onde ainda esteja aprendendo a reconhecer sons e assimilar, pode sofrer
algumas alterações que podem comprometer sua capacidade de linguagem, como acidentes,
medicamentos, transferência genética da mãe ou alguma infecção na gestação. Após o seu
nascimento na fase perinatal, a criança pode ser acometida de algum trauma ou doença
transmitida pelo canal vaginal, como doenças sexualmente transmissíveis, e na fase pós-natal
sua maior explicação é o fator genético que se manifesta certo tempo depois, ou não genético
como doenças que possam afetar ou minimizar sua capacidade auditiva.
A criança, embora com surdez, merece qualquer direito que se aplicaria a uma dita
normal. Porém, nossa sociedade não se encontra preparada para aceitar e possibilitar um
acompanhamento à altura da necessidade. Porém, uma pessoa surda possui direito a ter
acesso ao conhecimento, de modo a viabilizar seu desenvolvimento como sujeito crítico de
refletir sobre a realidade em que está inserido, pois, desta maneira, a pessoa com deficiência
auditiva poderá construir sua identidade e lutar por seus direitos.
“Inúmeras polêmicas têm se formado em torno da educação escolar para pessoas com
deficiência auditiva. A proposta de educação escolar inclusiva é um desafio, que para ser
efetivada faz-se necessário considerar que os alunos com surdez têm direito de acesso ao
conhecimento, à acessibilidade, bem como ao Atendimento Educacional Especializado”.
(DAMÁZIO, 2007 p. 15)
A audição é um dos imputs sensoriais mais importantes para a aquisição da fala e da
linguagem, sendo fundamental no processo de aprendizagem da criança. Deste modo, uma
criança com deficiência auditiva enfrentar-se-á com grandes obstáculos na sua aprendizagem,
que serão os problemas de comunicação. (Bautista, 1997)
Essas crianças poderão encontrar dificuldades na leitura das palavras, já que a
oralização das mesmas é de suma importância para defini-las quanto a sua sonorização.
Embora esse pareça ser mesmo um dos maiores problemas enfrentados pelas crianças com
surdez, a inclusão parece não ocorrer como a teoria pinta o processo. O fundamento mais
invocado é a Declaração de Salamanca, onde Silva (2001) refere que fica no esquecimento o
que está definido no artigo 19: “políticas educacionais deveriam levar em total consideração
as diferenças e as situações individuais. A importância da linguagem de sinais como meio de
comunicação entre surdos, por exemplo, deveria ser reconhecida”. O que sabe-se que na
prática não é bem assim.
As instituições de ensino federal são referência no ensino de pessoas com deficiência
auditiva, porém, essa realidade precisa ser modificada em todas as esferas: municipal,
estadual e federal. Incluir a criança com essa deficiência não parte apenas da inserção dela no
meio educacional, mas faze com que ela sinta-se acolhida e recebida com suas necessidades
também. Transformar o ouvinte nato em produtor de gestos e sinais para a boa comunicação é
papel do Estado como um todo, em todas as suas esferas e com todos os seus atores públicos e
políticos.
Em se tratando de crianças com esse tipo de deficiência, a população ainda não se
encontra preparada para determinadas situações, a principal delas, a comunicação.
CONCLUSÃO

Embora haja uma grande dificuldade por parte da sociedade em ainda reconhecer a
pessoa com deficiência como uma pessoa normal, apenas com certas limitações, as coisas já
estão começando a mudar, a aceitação por parte da comunidade, principalmente escolar. As
escolas estão se preparando mais, ainda que em ritmo lento, diga-se de passagem; salas de
atendimento especial, professores mais preparados e habilitados em LIBRAS, além de outras
técnicas conversacionais, tudo para que ocorra uma comunicação entre ouvintes e pessoas
com deficiência, sem ruídos.
Estamos ainda longe da perfeição, que só existirá quando o preconceito for extinto da
sociedade. A pessoa com deficiência não precisa da nossa pena ou sentimento de dó; precisa
de oportunidade para demonstrar suas habilidades e competências, sem comparação com
normais, evidentemente porque cada indivíduo possui uma gama de competências diferente
do outro.
O que a sociedade precisa reconhecer é a pessoa com deficiência, seja ela qual for,
auditiva, visual, ou outra qualquer, como um indivíduo com capacidades e competências
distintas, porém detentor de uma força de vontade ímpar capaz de fazê-lo superar os limites
impostos pela adversidade. Proporcionar igualdade não é simplesmente trata-lo como igual,
mas cuidar para que sua desigualdade seja respeitada e observada, dando-lhe a chance de
competir consigo mesmo e com outros, no sentido de mostrar que é capaz de realizar qualquer
tarefa, escolar ou profissional.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DAMÁZIO, Mirlene Ferreira Mecedo. Atendimento educacional especializado: pessoa com


surdez. Brasília: SEED/SEESP/MEC, 2007.

FONSECA, Vitor. Educação Especial: programa de estimulação precoce – uma introdução às


ideias de Feurtein/Vitor Fonseca. 2ed. Ver. Aumentada – Porto Alegre: Artes Médicas Sul,
1995.

RAMOS, Tânia Raquel Fernandes. A inclusão da criança deficiente auditiva, estratégias de


comunicação. Almeida Garret, Lisboa, 2011.

BARBOSA, Josilene Souza Lima. Um dos desafios na história das políticas educacionais: a
inclusão da criança com deficiência auditiva. 2008.

TEIXEIRA, Vera Lúcia Macedo de Oliveira, CARVALHO, Lívia de Oliveira Teixeira Dias.
Deficiência Auditiva na Escola: entre a realidade e o preconizado por estudiosos da educação.
Revista Eletrônica da Univar (2011) nº 6 p. 98.

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