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Júri
Maio de 2010
Agradecimentos
Este trabalho não teria sido possível de realizar sem a ajuda de várias pessoas, a elas deixo
aqui os meus agradecimentos.
Ao Professor António Reis, que me guiou de forma incansável ao longo desta caminhada,
manifesto a minha gratidão e amizade.
Aos amigos, com quem tive o privilégio de partilhar estes anos de Técnico.
À minha família, que tornou possível levar este curso a bom porto.
Resumo
Nos dias que correm uma ponte ferroviária em estrutura mista aço-betão é uma solução
extremamente competitiva. É uma solução desta natureza que constitui o caso de estudo neste
trabalho. A ponte é do tipo ferroviária de via dupla com tabuleiro bi-viga e desenvolve-se ao
longo de uma extensão de 220 m, a configuração estrutural é de viga contínua com vão tipo de
40 m.
Para além das habituais verificações de segurança que se realizam, procede-se ainda a um
estudo que aborda dois fenómenos específicos desta tipologia de pontes, que são a fadiga e a
interacção via-estrutura.
A análise da fadiga enquanto processo de iniciação e propagação de fissuras na estrutura
causado pela acção de carregamentos cíclicos, segue uma metodologia simplificada indicada
nas normas europeias.
A análise da interacção via-estrutura enquanto distribuição dos esforços longitudinais, devidos
à acção da temperatura, arranque, frenagem e acções verticais, segundo uma lei de
comportamento não linear, consiste na elaboração de um estudo paramétrico. Os dados são
provenientes de modelos numéricos de comportamento não linear solucionados através do
método dos elementos finitos pelo programa de cálculo estrutural SAP2000®. O caso de
estudo é também analisado da mesma forma. Resulta deste estudo a indicação de algumas
recomendações de projecto.
Nowadays, steel concrete composite structure railway bridges are extremely competitive
solutions. It is this type of solution that constitutes the case study for this work. One has a
double track railway bridge with composite two plate girder deck type, an extension of 220 m, a
structural configuration of continuous decks and a typical span of 40 m in length.
Besides the usual safety check, a complementary study is undertaken concerning two specific
phenomena of these bridges’ type, which are the fatigue and the track-bridge interaction.
The cracks’ process of initiation and propagation in structures - due to the action of cyclic loads
- defines fatigue. In this work the analysis follows a simplified method indicated in European
norms.
The track-bridge interaction – taking into account longitudinal stress distribution due to actions
of temperature, traction, braking and vertical loads according to a non linear behavior law -
consists in the making of a parametric study. The data is obtained from non linear behavior
numerical models, solved with the finite elements method by the structural program SAP2000®.
The case study is analyzed in the same molds. The study results in the indication of design
recommendations.
2.1. Introdução...................................................................................................................... 3
3.2.7. Curva de Resistência à Fadiga para Amplitudes de Tensão Normal ................. 27
3.2.8. Curva de Resistência à Fadiga para Amplitudes de Tensão de Corte ............... 28
4.8.2. Viga contínua com apoio fixo numa extremidade e restantes apoios móveis; ... 55
4.8.3. Viga contínua com apoio fixo no centro e restantes apoios móveis; .................. 59
4.8.4. Viga contínua com apoio fixo numa extremidade e restantes apoios móveis com
aparelho de dilatação de via na posição do apoio móvel mais distante do apoio fixo; ....... 63
Índice de Figuras
A área da secção
Aeff área da secção efectiva
a afastamento entre reforços
beff largura de laje efectiva
bf largura do banzo
bh largura de laje da secção homogeneizada
D dano acumulado
E módulo de elasticidade
e excentricidade
F força
Ff força no banzo
fy tensão de cedência do aço
h altura da secção
hw altura da alma
I momento de inércia
Kyy factor de interacção
Kzy factor de interacção
k rigidez
kτ coeficiente de encurvadura ao corte
L comprimento do vão
MEd momento de cálculo
MRk momento resistente característico
MRd momento resistente de cálculo
Ncr esforço normal crítico
NEd esforço normal de cálculo
Ni número de ciclos que leva o elemento à rotura
n coeficiente de homogeneização
ni número de ciclos a que o elemento já esteve sujeito
pp peso próprio
tf espessura do banzo
tw espessura da alma
u deslocamento
VEd esforço transverso de cálculo
VRd esforço transverso resistente
W módulo de flexão
YCG posição do centro de massa
Z posição da fibra mais afastada
α coeficiente de dilatação térmica
γC peso específico do betão
γFf coeficiente parcial de segurança para o carregamento de fadiga
γ G coeficiente de segurança para acções permanentes
γM0 coeficiente parcial de segurança da secção
γM1 coeficiente parcial de segurança de instabilidade
γMf coeficiente parcial de segurança de fadiga
γQ coeficiente de segurança para acções variáveis
γS peso específico do aço
ΔT variação de temperatura
Δσ amplitude de tensão normal
Δσ71 amplitude de tensão devido ao LM71
Δσc resistência de fadiga de referência para amplitudes de tensão normal
ΔσE2 tensão equivalente de dano
ΔσL resistência de fadiga limite para amplitudes de tensão normal
Δτ amplitude de tensão tangencial
Δτc resistência de fadiga de referência para amplitudes de tensão tangencial
ΔτL resistência de fadiga limite para amplitudes de tensão tangencial
δ deslocamento
λ factor equivalente de dano
λ esbelteza normalizada
ν coeficiente de poisson
σ tensão normal
τcr tensão tangencial critica
τy tensão de cedência do aço ao corte
Φ coeficiente dinâmico
χ coeficiente de redução
1. INTRODUÇÂO
1.1. Generalidades
1.2. Objectivos
Esta tese tem como finalidade estudar os fenómenos específicos das pontes ferroviárias já
mencionados, realizando previamente uma concepção e dimensionamento de uma solução
estrutural mista aço-betão, que constituirá o caso de estudo. Seguidamente será feito um
estudo do fenómeno de fadiga, o qual terminará na verificação de segurança do caso de
estudo. Por último, analisar-se-á o fenómeno da interacção via-estrutura, através da
elaboração de um estudo paramétrico que permitirá tecer considerações ao nível de projecto e
ao nível do caso de estudo.
1
Já o estudo do fenómeno da interacção via-estrutura, recorre também a uma modelação
estrutural de elementos de barra, sendo que a análise realizada é agora do tipo não linear.
A concepção do caso de estudo tem como linhas orientadoras o texto de Pontes Metálicas e
Mistas [1], o artigo Steel Concrete Composite Bridges: Options and Design Issues [2] e o
Estudo Prévio de uma Ponte [3] realizado no âmbito da cadeira de Pontes.
As verificações da solução estrutural seguem a filosofia de segurança presente na
regulamentação europeia, designadamente a EN1993-2 [4] e EN1994-2 [5].
No domínio da fadiga a tese Fadiga em Pontes Mistas Aço-Betão [6] situa a análise, que se
realiza de acordo com o procedimento simplificado indicado na EN1993-2 [4], procedimento
esse complementado pela EN1993-1-9 [7].
O artigo Track – structure interaction in long railway bridges [8] situa e contextualiza o problema
de interacção via - estrutura numa perspectiva de concepção e está na origem da abordagem
feita ao tema.
A concepção dos modelos numéricos criados para o desenvolvimento do estudo paramétrico
de interacção via-estrutura, é fundamentada pelas disposições presentes na EN1991-2 [9] e na
UIC774-3 [10] em particular no que se refere aos critérios de verificação de tensões e
deslocamentos.
2
2. CASO DE ESTUDO
2.1. Introdução
Uma solução mista aço-betão, em alternativa a uma solução de betão armado pré-esforçado,
enquadra-se perfeitamente face aos vãos considerados uma vez que pontes com tabuleiro
misto correntes utilizam-se para vãos entre os 30 e os 80 m.
As principais vantagens de uma solução mista aço-betão comparativamente a uma solução de
betão armado pré-esforçado são:
Cargas permanentes mais reduzidas, devido ao menor peso próprio, com consequente
economia nos pilares e fundações; métodos de construção mais simples, já que as vigas
podem servir para suportar a cofragem necessária à betonagem da laje; prazo de execução
mais rápido.
As contrapartidas são:
O custo inicial mais elevado pelo facto de exigir uma mão-de-obra mais qualificada e exigir
também um controlo de qualidade maior ao nível da tecnologia de execução nomeadamente na
realização das soldaduras; e os custos de manutenção apesar de se assistir hoje em dia a uma
diminuição destes mesmos custos fruto dos avanços tecnológicos ao nível das protecções anti-
corrosivas.
No presente caso que corresponde a um tabuleiro de ponte ferroviária de via dupla com largura
total de cerca de 12 metros, adopta-se uma solução do tipo “Bi-Viga”.
Uma secção em I, é do ponto de vista estrutural, das mais simples e no entanto a mais eficaz
no que diz respeito à resistência à flexão e ao esforço transverso.
As vigas de alma cheia possibilitam ao projectista a liberdade de escolha das dimensões das
chapas de banzo e alma, situação que permite optimizar a resistência da viga com o menor
peso possível. Permite ainda a utilização de aços diferentes, que se traduz numa aplicação
mais racional do aço, ou seja uma maior competitividade do ponto de vista económico. Quando
o aço dos banzos é diferente do aço das almas, estas vigas têm a designação de vigas
híbridas tendo o aço dos banzos uma maior resistência que o aço da alma.
3
Nas vigas de alma cheia é o binário de forças nos banzos o responsável pela resistência à
flexão da viga (MRd Ff h); quanto maior for a altura maior é o momento resistente.
A alma providencia principalmente a resistência ao esforço transverso. Como a sua
contribuição para a resistência à flexão é pequena, a sua espessura deve ser tão pequena
quanto possível o que conduz a almas com esbeltezas elevadas condicionadas por efeitos de
encurvadura local. A melhoria da estabilidade das almas requer a utilização de reforços
transversais. Os reforços transversais aumentam a resistência ao esforço transverso. Utilizam-
se também nas zonas de grandes cargas concentradas como é o caso dos apoios. Os reforços
longitudinais aumentam a resistência da alma à encurvadura por flexão. No entanto por razões
de simplicidade executiva é boa prática garantir que a espessura da alma seja suficiente para
permitir eliminar a necessidade de utilização de reforços longitudinais.
Os banzos providenciam a resistência à flexão. As suas dimensões devem ser determinadas
garantindo que são totalmente efectivos no estado limite último.
4
2.2. Condicionamentos
Os condicionamentos para o caso de estudo são aqueles presentes no trabalho Estudo Prévio
de uma Ponte [3] realizado no âmbito da cadeira de Pontes.
Em anexo apresenta-se um corte longitudinal com a geotecnia do local onde se pretende
construir uma ponte ferroviária com o perfil e rasante que se indicam de seguida.
O perfil transversal sobre a obra de arte integra, além da via dupla ferroviária, passeios com
uma largura total de 1,80 m, cada qual incluindo caixa para serviços com 0,50 m de largura,
totalizando uma largura de 12,30 m.
A ponte possui directriz recta em planta e localiza-se na zona sísmica A.
Apresenta-se agora uma figura que ilustra o perfil transversal sobre a obra de arte:
5
2.3. Pré-Dimensionamento
A ponte ferroviária, de via dupla na bitola europeia1 em estudo [3], tem uma configuração
estrutural de viga contínua de 6 tramos. Os vãos de extremidade têm 30 m e os interiores 40
m, totalizando um comprimento total de 220 m.
1
Bitola europeia = 1435 mm
2
Regime pós-crítico
6
Indicam-se agora as dimensões dos elementos estruturais que a compõem:
Apoio ½ Vão
Espessura [mm] 25 20 16
Tabela 2-2: Transição de espessura da alma
7
2.4. Verificação de Segurança
Alma de classe 3 uma vez que a posição da LNE (Linha Neutra Elástica) está a 1048 mm
contados a partir da base da secção, o que resulta num Ψ ‐1,546
Classe 3:
2440
97,6 158,98
25
A secção é portanto da classe 3
Classe 3:
42 42 0,81
70,98
0,67 0,33 0,67 0,33 0,578
2520
157,5 70,98
16
A secção é portanto da classe 4
3
Os limites considerados são os da compressão
8
Faseamento do Processo Construtivo
Refira-se que para efeitos de cálculo de esforços utilizar-se-á uma secção média com as
seguintes características geométricas:
No cálculo considerar-se-á metade da secção transversal pelo facto desta ser simétrica. A
obtenção de esforços é feita através do programa de análise estrutural SAP2000® e os
esforços obtidos são majorados pelos coeficientes de segurança para acções permanentes e
sobrecargas, isto é:
1,5 1,5
Faz-se notar que o coeficiente γG poderia ter sido reduzido para 1,35 ou pelo menos 1,35 para
o peso próprio e 1,5 para a restante carga permanente.
Considera-se nesta fase a actuar o peso próprio da secção metálica e o peso próprio da laje de
betão. As tensões são calculadas apenas para a secção metálica.
á 11,90 ⁄
ã 53,81 ⁄
Secção A B
9
As propriedades efectivas das secções são calculadas de acordo com as disposições
constantes da EN1993-1-5.
Considera-se a posição do CG contada em relação à base.
2
Área [m ] γ [kN/m3] # (nº de elementos) Carga [kN/m] % Total
4
Balastro 4,35 20 1 87 0,71
Impermeabilização - - - ≈0 -
Total 123 1
Tabela 2-7: Valores discriminados da RCP
4
Espessura do balastro = 0,5m
10
;
â
;
8
â ;
ã 0,70
0,25
Secção [mm]
Apoio 244
½ Vão 273
Tabela 2-9: Larguras efectivas de laje na Fase 2 após homogeneização
11
O diagrama de momentos flectores [M3] obtido nesta fase tem um andamento análogo ao
obtido na Fase 1 e obtiveram-se os momentos seguintes para a secção A (M+) e para a secção
B (M-):
Secção A B
Atente-se no facto da secção do apoio ter um momento negativo (tracções em cima). Como a
contribuição do betão à tracção é desprezável, os valores que se vão obter são os mesmos
obtidos para a fase 1. No cálculo que se apresenta está-se a desprezar a contribuição da
armadura ordinária existente na laje. Refira-se a este respeito que a inércia no apoio não é
afectada em mais do que 3,3% mesmo que a armadura seja constituída por duas camadas de
φ25//0,10.
ã ç ç ã
ç ç
Secção [mm] [mm] [mm] [mm4] 3 3 3
[mm] [mm ] [mm ] [mm ]
Nesta fase será feita uma análise de carga móvel (Moving Load LM71) de onde resulta uma
envolvente de esforços.
NOTA: 250 80 /
12
A envolvente de esforços (M3) que se obtém é:
Secção A B
Ψ 0 acções instantâneas e 2,5 ê
Determinação da largura efectiva da laje “efeito de Shear Lag” (de acordo com EN1994-2),
conforme acima referido para a Fase 2
Larguras de laje da secção homogeneizada (n0=6):
Secção [mm]
Apoio 917
½ Vão 1025
Tabela 2-13: Larguras efectivas de laje na Fase 3 após homogeneização
6 : 36,67 1,5;
Φ 1,0
13
Atente-se outra vez no facto da secção do apoio ter um momento negativo (tracções em cima).
Como a contribuição do betão à tracção é desprezável, os valores que se vão obter são os
mesmos obtidos para a fase 1. No cálculo que se apresenta está-se a desprezar a contribuição
da armadura ordinária existente na laje.
ã ç ç ã
ç ç
Secção [mm] [mm] [mm] [mm4] 3 3 3
[mm] [mm ] [mm ] [mm ]
1 2 3
Observações:
A folga nas tensões permitiria reduzir as espessuras das chapas. Tal não foi feito tendo em
conta os condicionamentos impostos pelo estado limite de fadiga e ainda porque no caso de
estruturas hiperestáticas como é o caso dos tabuleiros em viga contínua, os efeitos
hiperestáticos devidos à retracção da laje de betão não poderem ser desprezados, no entanto
a sua contabilização não foi considerada uma vez que esse estudo se encontra fora do âmbito
a que este trabalho se propunha.
14
2.4.2. Verificação da Segurança ao Estado Limite de Deformação
Tramo 1 2 3 4 5 6
SC-LM71 [mm] 2,3 4,1 4,4 4,4 4,1 2,3
Tabela 2-16: Flechas devidas ao LM71
Significa pois que a flecha máxima admissível toma um valor de 21 mm uma vez que o valor
obtido do gráfico (23,5 mm) tem de ser multiplicado por 0,9 visto tratar-se do caso de uma viga
contínua. Conclui-se portanto que os valores obtidos devido ao LM71 verificam o limite imposto
para um nível de conforto muito bom (correspondente a uma aceleração vertical de 1,0 m/s2).
Observações:
Seria também necessário para efeitos de segurança da via proceder a uma verificação ao nível
da torção do tabuleiro, no entanto esta verificação por razões que se prendem com os
objectivos do trabalho não foi considerada.
15
2.4.3. Verificação da Segurança ao Estado Limite Último de Esforço Transverso
210 10 25
6,83 136,1
12 1 12 1 0,3 2440
355
205
√3 √3
Note-se que a razão de não haver redução da tensão de cedência da alma é porque VEd
0,5VPl,Rd como se mostra de seguida:
1,5 242,24 1095,41 391,57 2332,91 6093,2
⁄√3
,
205
1,23
136
16
2.4.4. Verificação da Segurança dos Reforços Intermédios
487602,2
274,24
355 10
2440 25 10
1 √3
6093,2
1,23 1,0
2170,7
17
A verificação de viga – coluna é apresentada seguidamente:
1,0
210 10 133720034,2 10
, 46551,7
2,44
20387,5 10 355 10
7237,6
1,0 1,0
487602,2 10 355 10
173,1 .
1,0 1,0
1
,
;
1 1
, ,
Com:
1,0
Vem assim:
1
1,0 1,0 1,05
2170,7
1
46551,7
Mostra-se agora que segurança se verifica:
,
1,0
,
18
De acordo com as disposições da EN1993-1-5 tem de se cumprir o seguinte:
4
0,1
13462743,5
500
2087366,7
312,5
355 1
0,71 1,23 20,8
√3 1,23
, 1271,2 2440 10
775,4 .
4 4
1,5 130,07 588,18 191,58 1626,45 3805,2
15691
0,08 0,2 1,0
2343381
19
15691
0,26 0,49
227085
44200 10 355 10
15691
1,0 1,0
13462743,5 10 355 10
, 4779,3 .
1,0 1,0
2087366,7 10 355 10
, 741,0 .
1,0 1,0
1
,
;
1 1
, ,
1
,
;
1 1
, ,
Com:
0,90
Vem assim:
1
0,9 0,9 1,07
3805,2
1
15691
3805,2
1
227085
3805,2
1 0,97
0,9 0,9 227085 1,07
3805,2
1
15691
Mostra-se agora que segurança se verifica:
,
1,0
,
3805,2 775,4
1,07 0,42 1,0
15691 4779,3
,
1,0
,
3805,2 775,4
1,07 0,42 1,0
0,97 15691 4779,3
20
3. FADIGA
3.1. Introdução
21
construídas nas últimas décadas não sejam tão susceptíveis a problemas relacionados com a
fadiga.
Actualmente tem-se assistido à utilização de um número menor de ligações, comparativamente
com as pontes mais antigas, isto porque são zonas problemáticas fruto da concentração de
tensões que aí ocorre. Note-se que apesar das ligações serem em menor número, têm uma
resistência à fadiga superior, como por exemplo ligações aparafusadas pré-esforçadas.
As pontes estão normalmente sujeitas a um número elevado de ciclos de cargas variáveis
significativas e a fadiga dos materiais precederá quase sempre o início da propagação da
fissuração. Por esta razão se torna mais importante controlar a fadiga do que a rotura frágil.
Refira-se agora que as fissuras devido à fadiga e fracturas que podem ocorrer não são
geralmente comprometedoras do ponto de vista da integridade da estrutura, por causa da
redundância e da ductilidade. Os sistemas estruturais não redundantes são mais susceptíveis
ao colapso estrutural causado por fenómenos de fadiga.
22
3.2. Análise de Fadiga
A abordagem ao problema da análise de fadiga dos elementos pode ser feita de duas formas:
Através da Mecânica da Fractura que é o estudo da evolução das fissuras dos materiais, desde
o seu surgimento até à fractura, para se poder determinar e caracterizar a resistência à fractura
do material.
Através da Acumulação de Dano, cujo campo de aplicação é mais genérico que o da Mecânica
da Fractura e se baseia na utilização de curvas de resistência de fadiga.
Refira-se que para efeitos de projecto, a análise de fadiga é feita pelo Método de Acumulação
de Dano, na medida em que a análise por Mecânica da Fractura é mais complexa e na
situação em causa, não fornece melhores resultados.
De acordo com a EN [4], a análise de fadiga pode ainda ser feita através de um procedimento
simplificado. Designa-se por Método da Tensão Equivalente de Dano e é utilizado quando o
carregamento simplificado de verificação da fadiga em pontes ferroviárias é o correspondente
aos valores característicos do LM71 afectados do coeficiente dinâmico Φ2 conforme a EN1991-
2 [4].
5
Ver EN1993-1-9 [7]
23
3.2.2. Dano e Acumulação de Dano
A fissuração devido à fadiga, provocada num dado elemento estrutural é designada por dano,
conforme já foi referido (em Método da Acumulação de Dano). A vida de fadiga de um
elemento estrutural representa o número de ciclos que causam a rotura. Importa agora referir
que o estado de fissuração em que um dado elemento se encontra representa o dano que foi
sendo acumulado, significando isto que a sua vida de fadiga foi encurtada. A acumulação de
dano pode ser abordada através dum algoritmo como é o caso da Regra de Palmgren-Miner.
Com esta regra assume-se que a vida de fadiga do elemento pode ser determinada através do
somatório das percentagens de vida de fadiga consumidas. Pode-se escrever como:
1 (3.2)
Nesta equação ni é o número de ciclos que ocorrem com amplitude de tensão igual a Δσi ou Δτi
e Ni é o número de ciclos com amplitude de tensão Δσi ou Δτi que leva à rotura. Sempre que a
relação (3.2) se verifique, fica garantida a não rotura.
A análise de fadiga deve ser realizada com base em tráfegos mistos, podendo ser “tráfego
standard”, “tráfego pesado de mercadorias (eixos de 250 kN)” ou “tráfego ligeiro” consoante o
tráfego que solicita a estrutura. Os tráfegos mistos são combinações de comboios reais
definidos no seguinte quadro:
24
As tabelas dos tráfegos mistos são as seguintes:
1 1
1 (3.3)
2 2
Onde:
(3.4)
1
20 ,
20
160 47,16
25
0,56 (3.5)
á ⁄ ;
1991 2 §6.4.5.3
Note-se que as equações (3.4) e (3.5) são válidas para velocidades máximas permitidas até
200 km/h.
As curvas de resistência de fadiga, designadas também por curvas S-N ou ainda Curvas de
Wohler, representam a relação entre a amplitude de tensão (Si) e o número de ciclos (Ni) que
conduzem à rotura por fadiga de uma determinada categoria de detalhe estrutural.
Estas curvas são determinadas a partir de ensaios de fadiga em provetes à escala real e cujos
resultados são tratados estatisticamente através da regressão linear e são apresentados num
gráfico com escala logarítmica. Saliente-se o facto de os ensaios contemplarem os efeitos das
imperfeições geométricas e estruturais (micro estruturais) que são resultado da produção e da
execução (exemplo – efeitos das tensões residuais devido à soldadura).
26
Note-se que uma tensão residual é estado permanente de tensão, auto-equilibrado e
independente de qualquer acção aplicada. Podem ser resultado de tensões de laminação,
processos de corte, retracção da soldadura.
Testes realizados em provetes a menor escala apresentam em geral resistência à fadiga
aparentemente superior. Esta é a razão de os ensaios terem de ser realizados em provetes à
escala real.
As curvas de resistência à fadiga são aplicáveis a qualquer tipo de aço estrutural, no âmbito de
estruturas que operam em condições atmosféricas normais e possuem suficiente protecção
contra a corrosão.
As curvas de resistência à fadiga para amplitudes de tensão normal (Δσi) são 14 de acordo
com EN1993-1-9 [7], e apresentam 3 zonas distintas. A primeira apresenta um troço de recta
definido no intervalo entre 0 e 5 milhões de ciclos e o seu declive (m) é de 3.
Nota: O valor do declive da recta de regressão linear (aplicada aos dados provenientes dos
ensaios à escala real), deste troço do gráfico, encontra-se tipicamente entre os 2,9 e os 3,1 por
esta razão é que na EN1993, bem como nas regulamentações americanas AASHTO e AISC, é
que o declive se encontra padronizado no valor 3.
É neste troço do gráfico que se encontra o valor da resistência de fadiga de referência (Δσc) em
N/mm2 e que identifica a curva de resistência a determinada categoria de detalhe. Este valor de
referência (Δσc) está definido para um número de ciclos igual a 2×106.
27
O segundo troço de recta está definido no intervalo entre N = 5×106 ciclos e N = 1×108 ciclos e
o seu declive (m) é de 5. A intersecção entre o primeiro troço e o segundo designa o valor
limite da amplitude de tensão constante (ΔσD) abaixo do qual nenhum dano por fadiga afectará
um determinado elemento ou ligação. Significa isto que não tem início a fase de propagação de
fissuras e como tal a resistência de fadiga do elemento é infinita.
O terceiro troço está definido a partir de N = 1×108 ciclos e tem declive nulo. Representa a
amplitude de tensão limite de fadiga (ΔσL).
Figura 3-3: Curvas de resistência à fadiga para amplitudes de tensão normal [7]
As curvas de resistência à fadiga para amplitudes de tensão tangencial (Δτi) são duas de
acordo com a EN1993-1-9 [7] e apresentam duas zonas distintas. A primeira zona apresenta
um troço de recta definido no intervalo entre 0 e 1×108 ciclos e tem um declive (m) igual a 5. É
neste troço que se encontra o valor de resistência de fadiga de referência (Δτc) em N/mm2 para
2×106 ciclos, e serve para designar a categoria de detalhe a que a curva pertence.
O segundo troço define a amplitude de tensão (de corte) limite de resistência à fadiga (ΔτL) e
está definida aos N = 1×108 ciclos e o seu declive é nulo.
28
Figura 3-4: Curvas de resistência à fadiga para amplitudes de tensão tangencial [7]
A EN1993-1-9 [7] permite abordar a filosofia de segurança à fadiga por duas metodologias:
Através do Método “Damage Tolerant” ou do Método “Safe Life”.
Método “Damage Tolerant” deve assegurar um nível aceitável de fiabilidade à estrutura tal que
garanta que a estrutura terá um desempenho satisfatório ao longo da sua vida. Como tal é
necessário que esteja contemplado ao longo da vida da estrutura um regime de inspecção e
manutenção de modo a poder-se detectar e reparar os danos de fadiga. Este método pode-se
aplicar nos casos em que esteja contemplada e prevista a possibilidade da ocorrência de
danos por fadiga, na medida em que possa haver uma redistribuição de carga pelas
componentes dos elementos estruturais, isto é, quando exista redundância estrutural.
Método “Safe Life” deve assegurar um nível aceitável de fiabilidade à estrutura tal, garantindo
que a estrutura terá um desempenho satisfatório ao longo da sua vida sem que para isso seja
necessário contemplar inspecções regulares no âmbito do dano por fadiga. Este método deve
ser utilizado nos casos em que a formação local de fissuras num componente possa levar
rapidamente à rotura do elemento estrutural ou estrutura (comprometa a integridade estrutural).
29
Isto é, pretende-se com este método garantir um nível de segurança semelhante ao dos
estados limites últimos.
Os valores recomendados na EN1993-1-9 [7] para o coeficiente parcial de segurança (γMf) para
cada um dos métodos apresentam-se na seguinte tabela:
Consequências da Rotura
Método
Consequências Baixas Consequências Elevadas
“Damage Tolerant” 1,00 1,15
“Safe Life” 1,15 1,35
Tabela 3-2: Coeficiente parcial de segurança
O valor de cálculo do número de ciclos (Ni) até ser atingida a rotura por fadiga para amplitudes
de tensão constante é:
Δσ Δσ 2 10 ; 3 5 10 (3.6)
Δσ
2 10
Δσ
Δσ ⁄
2 10
Δσ
Para tensão de corte
Δτ Δτ 2 10 ; 5 10 (3.7)
Δτ
2 10
Δτ
Δτ ⁄
2 10
Δτ
30
3.2.11. Método da Tensão Equivalente de Dano
ΔσE λ Δσ (3.8)
Onde:
Δσ
γF λ Δσ (3.9)
γM
31
3.2.12. Factor equivalente de dano λ para pontes ferroviárias
Onde:
λ1 – factor que contabiliza o dano provocado pelo tráfego ferroviário em função do tipo de viga
e que depende do comprimento da linha de influência;
λ2 – factor de correcção do volume de tráfego;
λ3 – factor de correcção da vida útil da ponte;
λ4 – factor que contabiliza o efeito que o carregamento simultâneo de mais que uma via
provoca no elemento estrutural;
λmáx – máximo valor de λ que tem em consideração o limite de fadiga (= 1,40).
O valor de λ1 é função do vão e do tráfego considerados e pode ser obtido das Tabelas 9.3 e
9.4 da EN 1993-2 [4].
1,8
1,5
1,2
λ1 0,9
0,6
0,3
0
0,5
1,5
2,5
3,5
4,5
1
5
6
7
8
9
10
12,5
15
17,5
20
25
30
35
40
45
50
60
70
80
90
100
Comprimento L [m]
Tráfego standard Tráfego pesado
i) Para momentos
32
Em vigas contínuas, na secção de ½ vão, o comprimento do vão considerado, Li, conforme
mostrado na figura;
Em vigas contínuas, na secção de apoio, metade da soma de Li com Lj, conforme mostrado na
figura;
ii) Para esforços transversos em vigas simplesmente apoiadas (e por aproximação, também
para vigas contínuas)
O factor λ2 é função do volume de tráfego anual que se apresenta vem em 106 toneladas por
via. Obtém-se da tabela seguinte, mas pode ser calculado através de:
⁄25 10 (3.11)
λ2 0,72 0,83 0,90 0,96 1,00 1,04 1,07 1,10 1,15
Tabela 3-3: Factor λ2
O factor λ3 é função do número de anos de vida útil para o qual a estrutura foi projectada e
pode ser obtido a partir da tabela seguinte, mas também se pode determinar a partir da
fórmula:
⁄100 (3.12)
33
Vida útil [anos] 50 60 70 80 90 100 120
O factor λ4 é função do quociente entre a amplitude de tensão que ocorre na secção a verificar
devido ao LM71 numa via e a amplitude de tensão que ocorre na mesma secção devido ao
LM71 em duas vias quaisquer (no caso de vias em número igual ou superior a 2)
NOTA: Isto é válido somente quando Δσ1 e Δσ1 2 têm o mesmo sinal
Δσ1 – é a amplitude de tensão na secção a ser verificada, devido ao LM71 a actuar numa via;
Δσ1 2 – é a amplitude de tensão na mesma secção, devido ao LM71 a actuar em simultâneo
em qualquer de duas vias, conforme a EN1991-2 [9].
NOTA: Os valores de λ4 na tabela assumem que 12% do tráfego total atravessa a ponte ao
mesmo tempo que o tráfego na outra via. Pode-se adaptar este factor para diferentes
proporções de tráfego cruzado através da fórmula:
1 1 (3.13)
Δ ⁄Δ ;
n proporção de tráfego que atravessa a ponte na mesma altura que o tráfego na outra via
34
3.3. Verificação de segurança da fadiga
A linha de influência do momento positivo na secção de meio vão do 2º tramo da viga contínua
é:
Figura 3-7: Linha de influência do momento flector positivo na secção de ½ vão do 2º tramo
Como tal para se obter a tensão σmax tem de se carregar a viga da seguinte forma:
Onde 4 250 80 /
Onde 250 80 /
Momento [kN.m]
Positivo 12915,68
Negativo -4758,98
Tabela 3-6: Momentos flectores na secção de ½ vão do 2º tramo
Note-se que os valores obtidos resultam da envolvente de esforços considerando uma análise
de carga móvel (Moving Load LM71).
35
∆ | |
Δσ
γF λ Δσ
γM
Resulta assim:
λ1 = 0,640 (valor para Li = 40 m)
λ2 = 0,987 (valor para 23,36×106 ton/ano/via)
λ3 = 1,000 (valor para 100 anos)
,
λ4 = 0,895 (valor para 0,879)
,
Note-se que a distribuição das cargas foi realizada através do Método das Carlingas
Flutuantes, situação que é penalizadora do valor obtido para o λ4, relativamente ao valor que se
obteria caso se realizasse uma modelação tridimensional do tabuleiro.
Vem assim:
λ = 0,565 ≤ 1,4
Φ = 1,00 conforme calculado anteriormente
Δσ71 = 102,52 MPa
Para o caso de secções soldadas e reforços, consultando a tabela 8.4: Weld attachments and
stiffeners da EN1993-1-9 [7] que se apresenta:
36
Figura 3-10: Categorias de Detalhe para ligações soldadas e reforços
Obtém-se o valor de referência de resistência à fadiga para 2 milhões de ciclos Δσc para o
detalhe construtivo mais condicionante que é neste caso o detalhe 7) “Vertical stiffeners welded
to a beam or plate girder”, ou seja a categoria de detalhe 80, isto é:
Δσc = 80 MPa
Vem então:
Δσ
γF λ Δσ
γM
γF λ Δσ 1,0 0,565 1,0 102,52 57,92MPa
37
4. INTERACÇÃO VIA-ESTRUTURA
4.1. Introdução
Desde há 30 - 40 anos para cá que se tem vindo a construir as vias ferroviárias com carris
contínuos soldados [14]. Esta situação deve-se principalmente aos avanços tecnológicos que
ocorreram nas últimas décadas nomeadamente a disponibilidade de aços de alta resistência, o
aperfeiçoamento das técnicas de soldadura e de manutenção e a modernização do
equipamento ferroviário como sejam as travessas em betão e as conexões da travessa ao
carril.
A utilização de carris contínuos soldados veio proporcionar aos passageiros um maior conforto
nas viagens e permitiu ainda que se pudessem atingir velocidades de circulação superiores a
120km/h.
O projecto de pontes ferroviárias apresenta determinadas especificidades ao nível das
exigências de segurança e conforto. Um destes fenómenos condicionantes é por isso o que diz
respeito à distribuição dos esforços longitudinais, tendo em conta uma lei força - deslocamento
não linear que caracteriza o conjunto travessa + balastro. Este fenómeno tem a designação de
interacção via-estrutura.
Esta interacção gera tensões adicionais no carril e produz deslocamentos relativos entre carril
e estrutura que são devidos a diferentes acções.
Acção dos efeitos térmicos (deformação imposta do tabuleiro);
Acção de forças exteriores como seja a força de arranque e força de frenagem (cargas
estáticas equivalentes) e os efeitos do carregamento vertical (flexão da estrutura).
38
Por esta razão o estudo da interacção via - estrutura é fundamental, para se poder analisar as
tensões geradas no carril (prevenir a rotura) e os deslocamentos relativos entre carril e
estrutura (prevenir a desconsolidação do balastro e instabilidade do carril).
Nas situações em que da análise resulte a necessidade de interromper a continuidade do carril,
ter-se-á de adoptar aparelhos de dilatação de via.
Os aparelhos de dilatação de via são dispositivos que rompem a continuidade do carril para o
libertar de tensões, no entanto só devem ser utilizados nas situações em que são
indispensáveis, por razões de terem um custo elevado de aquisição e manutenção e serem
penalizadores para o conforto da viagem.
Na regulamentação europeia, EN 1991-2 [9] encontra-se a metodologia de análise referente ao
fenómeno de interacção via - estrutura para vias balastradas e não balastradas.
39
4.2. Interacção via-estrutura
Na situação em que um carril contínuo soldado atravessa uma ponte ocorre o seguinte:
As cargas aplicadas no carril são parcialmente transmitidas à estrutura, isto por causa
da rigidez do sistema travessa + balastro e da deformabilidade do carril e da estrutura.
As deformações impostas à estrutura são transmitidas ao carril que a atravessa, sob a
forma de tensões adicionais no carril.
Esta descrição representa o que é na generalidade a interacção via-estrutura.
Nesta figura que ilustra a interacção via-estrutura observamos que só uma parte força aplicada
no carril é transmitida à estrutura (α<1).
Figura 4-3: Diagrama de esforço axial de uma barra com as extremidades livres sujeita a uma
variação de temperatura [10]
Legenda:
E – módulo de elasticidade do aço (210 GPa)
A – área combinada dos dois carris que compõem a via
40
α - coeficiente de dilatação térmica
ΔTcarril – variação de temperatura do carril
F = E×A×α×ΔTcarril – força na via
Exemplo:
Considerando ΔTcarril = 50°C, α = 1,17×10-5 e carril UIC60 resulta numa tensão de 122,85 MPa.
Na zona central, as tensões no carril são as de uma barra confinada submetida a uma variação
de temperatura onde σ = E×α×ΔTcarril, que não gera quaisquer deslocamentos relativos entre
carril e plataforma.
Nos extremos, tem-se as zonas do comprimento de respiração, em que devido ao movimento
relativo entre o carril e plataforma, é gerado um incremento do valor das tensões no carril
desde o valor zero, que acontece no aparelho de dilatação de via, até ao valor máximo
correspondente ao valor da tensão na zona central, isto é, ao valor de uma barra confinada
submetida a uma variação de temperatura.
41
4.3. Modelo de cálculo da interacção via-estrutura
Para se proceder a uma análise de interacção do sistema via-estrutura torna-se necessário ter
em consideração determinadas características de índole geométrica, mecânica e física dos
elementos que estão presentes neste sistema.
As características que se têm de considerar relativamente à via são a área do carril, o
correspondente momento de inércia Ixx, o coeficiente de dilatação térmica α e o módulo de
elasticidade E que neste caso é o do aço. Os valores referentes à geometria do carril podem
ser encontrados na ficha referente ao carril UIC60 que se apresenta em anexo.
As características que se têm de considerar relativamente ao tabuleiro são a área da secção, o
correspondente momento de inércia Ixx, o coeficiente de dilatação térmica α e o módulo de
elasticidade E.
Tem também de ser contabilizada a rigidez dos apoios do tabuleiro relativamente aos
deslocamentos longitudinais através da consideração da rigidez dos aparelhos de apoio e da
rigidez dos pilares.
A realização do estudo da interacção via-estrutura, implica a utilização de um modelo de
cálculo. O modelo de cálculo que se vai apresentar e descrever é aquele que pode ser
encontrado na regulamentação europeia mais concretamente na EN1991-2 [9].
Legenda:
(1) Via
(2) Superstrutura
(3) Encontros
(4) Aparelho de dilatação de via (caso exista)
(5) Molas longitudinais de comportamento não linear que reproduzem o comportamento da via
(6) Molas longitudinais de comportamento linear que reproduzem a rigidez dos apoios
Este modelo de cálculo é um modelo onde a ligação da via-férrea composta pelos carris (1) à
estrutura (2), que é assegurada pelo conjunto travessas + balastro, tem de ser simulada por
molas longitudinais cuja lei de comportamento força - deslocamento é não linear (5). Os
aparelhos de dilatação de via (4) quando existem, têm de ser considerados no modelo. Para o
modelo de cálculo ficar completo importa ter em conta molas longitudinais que simulem a
rigidez longitudinal dos apoios da estrutura (conjunto aparelhos de apoio + pilares+ fundações).
42
4.4. Comportamento não linear da via
Carregada 60 2
Descarregada 20 2
Tabela 4-1: Parâmetros do comportamento não linear [9]
43
O cálculo da força longitudinal total FL no sistema travessa + balastro, tem de ser feito
atendendo à expressão que seguidamente se apresenta para que assim se possa comparar os
valores das tensões globais equivalentes do carril com os valores permitidos:
(4.1)
Onde:
Fli - reacção longitudinal elementar do sistema travessa + balastro correspondente à acção i
Ψ0i - factor de combinação, definido conforme o disposto na EN1990 A2, para o cálculo dos
efeitos dos carregamentos na superstrutura, apoios e subestrutura
Ψ0i - para o cálculo das tensões no carril, Ψ0i deve ser tomado como igual a 1,0
44
4.5. Acções
Força de arranque:
33 ⁄ , 1000
Onde L a,b é o comprimento de influencia considerado
Força de frenagem:
20 ⁄ , 6000
Onde L a,b é o comprimento de influencia considerado
Note-se que estes valores característicos da força de arranque e frenagem não devem ser
multiplicados pelo coeficiente dinâmico φ (§6.4.5.2).
45
não provoca deslocamentos relativos entre o carril e a estrutura. Nesta situação as tensões
geradas no carril representam tensões adicionais, ou seja, incrementam o valor das tensões
que existirão no carril devido à acção da variação de temperatura do carril.
Caso os aparelhos de dilatação de via existam então é necessário considerar a variação de
temperatura uniforme no carril e também na estrutura. Nesta situação as tensões geradas no
carril representam tensões totais.
De acordo com a EN1991-2 [9] as variações de temperatura uniforme a considerar são as
seguintes:
Fazer uma combinação linear dos esforços e deslocamentos que provêm da análise dos efeitos
independentes das acções de arranque, de frenagem, de variação de temperatura e de flexão
do tabuleiro, não é correcto, uma vez que o comportamento que rege a interacção via-estrutura
não é linear. Acrescentando a isto, o facto de na determinação dos efeitos de cada acção, ser
necessário considerar rigidezes diferentes consoante a via esteja carregada ou descarregada.
Ou seja, tem relevância para o cálculo, a posição do comboio na via.
Pode-se assim afirmar, que o mais realista a fazer seria um cálculo “passo a passo”, ou seja,
uma análise verdadeiramente não linear que considerasse a formulação exacta das rigidezes
ao longo do tempo, no entanto não é o mais sensato uma vez que resulta num trabalho moroso
e de difícil execução.
Aquilo que é recomendado na EN1991-2 [9], é que se faça a sobreposição linear dos
resultados obtidos em cada análise independente de cada acção elementar, refira-se aqui que
a acção quer do arranque quer da frenagem deve ser considerada em conjunto para o caso em
que haja duas ou mais vias.
46
4.6. Critérios de projecto
Via:
As sobre tensões que ocorrem ao nível do carril, na ponte e nos encontros, devidas à resposta
combinada da via e estrutura em relação às acções variáveis, estão limitadas aos seguintes
valores de cálculo:
Estes valores limite, definidos para as tensões do carril, são válidos para vias-férreas que
cumpram os seguintes requisitos:
Carril UIC60 com uma tensão resistente, no mínimo de 900 N/mm2.
Via de directriz recta ou no caso de ser curva ter r ≥ 1500 m.
Vias balastradas, com travessas de betão que tenham um espaçamento máximo de 65
cm; ou vias de constituição equivalente.
Vias balastradas que tenham no mínimo 30cm de balastro consolidado sob as
travessas.
Nas situações em que ocorra o não cumprimento de algum destes requisitos, proceder-se-á de
forma a serem levados a cabo estudos especiais ou alternativamente a serem fornecidas
medições adicionais.
Refira-se no entanto que nas situações que vão ser estudadas, todos os requisitos referidos
em cima são satisfeitos.
Estrutura:
Os valores de cálculo, que se apresentam de seguida, dizem respeito à verificação de
deformação admissível na estrutura:
Devido ao efeito de arranque e frenagem, δB [mm] não deve exceder os seguintes valores:
47
30 mm - para o caso em que existam aparelhos de dilatação de via e
que o balastro seja contínuo em cada uma das extremidades do
tabuleiro
δB [mm] corresponde a:
Deslocamento longitudinal relativo entre a extremidade do tabuleiro e o encontro
adjacente ou;
Deslocamento longitudinal relativo entre dois tabuleiros consecutivos.
Para acções verticais de tráfego (até 2 vias carregadas pelo LM71 ou SW/0 quando exigido), δH
[mm] não deve exceder os seguintes valores:
δH [mm] corresponde a:
Deslocamento longitudinal do topo do tabuleiro numa das extremidades do tabuleiro e
devido à deformação do mesmo.
48
4.7. Descrição da modelação estrutural
Figura 4-6: Modelação estrutural
49
4.8. Estudo Paramétrico
Note-se que as propriedades do tabuleiro foram calculadas para a secção homogeneizada com
n = n0 e a inércia é a da secção mista não fissurada.
50
4.8.1. Viga simplesmente apoiada;
Tracção 0,525 ≤ 1
Compressão 0,403 ≤ 1
Tabela 4-3: Verificação das tensões
Tabuleiro 0,3 ≤ 5
No gráfico de deslocamentos para a acção do carregamento vertical da Figura 4-12 temos que
o deslocamento absoluto do tabuleiro toma o valor de 4,2 mm na posição dos 300,5 m.
Este valor verifica o deslocamento limite de 8 mm disposto na EN1991-2 [9].
Tabuleiro 4,2 ≤ 8
Tabela 4-5: Verificação do deslocamento devido à acção vertical
51
20
15
Tensões do carril [MPa]
10
5
0
‐5
‐10
‐15
‐20
0 63 126 189 252 315 378 441 504 567 630
Posição [m]
12
Tensões do carril [MPa]
‐4
‐8
0 63 126 189 252 315 378 441 504 567 630
Posição [m]
Arranque + Frenagem
Figura 4-8: Tensões no carril devido às acções de arranque e frenagem
52
30
Tensões do carril [MPa]
20
10
‐10
‐20
‐30
0 63 126 189 252 315 378 441 504 567 630
Posição [m]
100
80
Tensões do carril [MPa]
60
40
20
0
‐20
‐40
‐60
‐80
0 63 126 189 252 315 378 441 504 567 630
Posição [m]
53
1
0,8
Deslocamento [mm]
0,6
0,4
0,2
0
300 305 310 315 320 325 330
Posição [m]
5
4
Deslocamento [mm]
3
2
1
0
‐1
‐2
300 305 310 315 320 325 330
Posição [m]
Deslocamento do tabuleiro
Figura 4-12: Deslocamento devido à acção do carregamento vertical
54
4.8.2. Viga contínua com apoio fixo numa extremidade e restantes apoios móveis;
Tracção 0,552 ≤ 1
Compressão 0,931 ≤ 1
Tabela 4-6: Verificação das tensões
Tabuleiro 1,3 ≤ 5
No gráfico de deslocamentos para a acção do carregamento vertical da Figura 4-18 temos que
o deslocamento absoluto do tabuleiro toma o valor de 1,7 mm na posição dos 376 m.
Este valor verifica o deslocamento limite de 8 mm disposto na EN1991-2 [9].
Tabuleiro 1,7 ≤ 8
Tabela 4-8: Verificação do deslocamento devido à acção vertical
55
60
50
40
Tensões do carril [MPa]
30
20
10
0
‐10
‐20
‐30
‐40
‐50
‐60
0 70 140 210 280 350 420 490 560 630 700
Posição [m]
20
15
Tensões do carril [MPa]
10
5
0
‐5
‐10
‐15
‐20
0 70 140 210 280 350 420 490 560 630 700
Posição [m]
Arranque + Frenagem
Figura 4-14: Tensões no carril devido às acções de arranque e frenagem
56
20
15
Tensões do carril [MPa]
10
5
0
‐5
‐10
‐15
‐20
0 70 140 210 280 350 420 490 560 630 700
Posição [m]
100
80
Tensões do carril [MPa]
60
40
20
0
‐20
‐40
‐60
‐80
0 70 140 210 280 350 420 490 560 630 700
Posição [m]
57
2,5
2
Deslocamento [mm] 1,5
0,5
‐0,5
300 320 340 360 380 400
Posição [m]
2
1,5
Deslocamento [mm]
1
0,5
0
‐0,5
‐1
‐1,5
300 320 340 360 380 400
Posição [m]
Deslocamento do tabuleiro
Figura 4-18: Deslocamento devido à acção do carregamento vertical
58
4.8.3. Viga contínua com apoio fixo no centro e restantes apoios móveis;
Tracção 0,624 ≤ 1
Compressão 0,625 ≤ 1
Tabela 4-9: Verificação das tensões
Tabuleiro 0,8 ≤ 5
No gráfico de deslocamentos para a acção do carregamento vertical da Figura 4-24 temos que
o deslocamento absoluto do tabuleiro toma o valor de 1,7 mm na posição dos 416 m.
Este valor verifica o deslocamento limite de 8 mm disposto na EN1991-2 [9].
Tabuleiro 1,7 ≤ 8
Tabela 4-11: Verificação do deslocamento devido à acção vertical
59
60
40
Tensões do carril [MPa]
20
‐20
‐40
‐60
0 74 148 222 296 370 444 518 592 666 740
Posição [m]
15
10
Tensões do carril [MPa]
‐5
‐10
‐15
0 74 148 222 296 370 444 518 592 666 740
Posição [m]
Arranque + Frenagem
Figura 4-20: Tensões no carril devido às acções de arranque e frenagem
60
20
15
Tensões do carril [MPa]
10
5
0
‐5
‐10
‐15
‐20
0 74 148 222 296 370 444 518 592 666 740
Posição [m]
100
80
Tensões do carril [MPa]
60
40
20
0
‐20
‐40
‐60
‐80
0 74 148 222 296 370 444 518 592 666 740
Posição [m]
61
1,6
1,2
Deslocamento [mm]
0,8
0,4
‐0,4
300 320 340 360 380 400 420 440
Posição [m]
2
1,5
Deslocamento [mm]
1
0,5
0
‐0,5
‐1
‐1,5
300 320 340 360 380 400 420 440
Posição [m]
Deslocamento do tabuleiro
Figura 4-24: Deslocamento devido à acção do carregamento vertical
62
4.8.4. Viga contínua com apoio fixo numa extremidade e restantes apoios móveis com
aparelho de dilatação de via na posição do apoio móvel mais distante do apoio fixo;
Tabuleiro 6,4 ≤ 30
Tabela 4-12: Verificação do deslocamento devido às acções de arranque e frenagem
No gráfico de deslocamentos para a acção do carregamento vertical da Figura 4-30 temos que
o deslocamento absoluto do tabuleiro toma o valor de 2,1 mm na posição dos 338 m.
Este valor verifica o deslocamento limite de 8 mm disposto na EN1991-2 [9].
Tabuleiro 2,1 ≤ 8
Tabela 4-13: Verificação do deslocamento devido à acção vertical
63
0
‐20
Tensões do carril [MPa]
‐40
‐60
‐80
‐100
‐120
‐140
0 82 164 246 328 410 492 574 656 738 820
Posição [m]
5
Tensões do carril [MPa]
‐5
‐10
‐15
‐20
0 82 164 246 328 410 492 574 656 738 820
Posição [m]
Arranque + Frenagem
Figura 4-26: Tensões no carril devido às acções de arranque e frenagem
64
25
20
Tensões do carril [MPa]
15
10
5
0
‐5
‐10
‐15
‐20
0 82 164 246 328 410 492 574 656 738 820
Posição [m]
0
Tensões do carril [MPa]
‐30
‐60
‐90
‐120
‐150
0 82 164 246 328 410 492 574 656 738 820
Posição [m]
Total
Figura 4-28: Tensões no carril devido à acção conjunta
65
0
‐1
Deslocamento [mm] ‐2
‐3
‐4
‐5
‐6
‐7
300 320 340 360 380 400 420 440 460 480 500 520
Posição [m]
Deslocamento do tabuleiro
Figura 4-29: Deslocamento devido às acções de arranque e frenagem
2,5
2
Deslocamento [mm]
1,5
1
0,5
0
‐0,5
‐1
300 320 340 360 380 400 420 440 460 480 500 520
Posição [m]
Deslocamento do tabuleiro
Figura 4-30: Deslocamento devido à acção do carregamento vertical
66
4.9. Concepção do caso de estudo
P1 P2 P3 P4 P5
Os apoios fixos da estrutura são conferidos pelos pilares P2, P3 e P4. Os restantes pilares e os
encontros conferem apoio móvel, isto obriga à disposição de um aparelho de dilatação de via
na extremidade mais à esquerda por causa da localização do centro de rigidez. A força sísmica
que actua a estrutura apresenta-se de seguida conforme o disposto no RSA [15].
PPestrutura metálica [kN/m] PP laje betão [kN/m] RCP [kN/m] Total [kN/m]
Para uma frequência própria de 1,42 Hz e um coeficiente de comportamento 2,0 para pontes
de ductilidade normal a força sísmica FE toma o valor de 5684 kN. A rigidez dos pilares vale
32146 kN/m para P2 e P3 e 391125 kN/m para o P4. Isto significa que os pilares P2 e P3
absorvem 7,1 % da força sísmica cada e o pilar P4 absorve 85,8 %. O conjunto da força de
arranque e frenagem toma o valor de 5400 kN.
67
Com esta configuração estrutural e secção de pilares consegue-se agarrar tanto a força
sísmica como a força de arranque e frenagem nos pilares fixos sem que para isso seja
necessário recorrer aos aparelhos óleodinâmicos ou repensar a configuração estrutural.
Apresentam-se agora os gráficos de tensões no carril devido às acções de temperatura,
arranque e frenagem, carregamento vertical e acção conjunta respectivamente.
Seguem-se o gráfico de deslocamentos absolutos do tabuleiro, para as acções de arranque e
frenagem e o gráfico de deslocamentos absolutos do tabuleiro para a acção do carregamento
vertical respectivamente.
Observa-se no gráfico de tensões devido à acção da temperatura da Figura 4-32 as duas
partes que ilustram o comportamento de barra confinada conforme referido anteriormente.
Distinguem-se as zonas de respiração com comprimentos de cerca de 110 m. Nas zonas dos
patamares não existem deslocamentos relativos entre via e plataforma e pode-se constatar que
a tensão toma um valor da ordem dos 122 MPa, situação essa que está de acordo com o valor
expectável para uma barra de aço confinada sujeita a esta variação de temperatura, uma vez
que σ E α ΔTcarril 122,85 MPa.
Na zona central do gráfico, que é onde se localiza a ponte assiste-se à variação de tensão
desde o valor dos 122 MPa até a um valor que se mantém estável e que corresponde ao valor
de tensão para a variação de temperatura de 15°C (50°C-35°C) e que toma valores da ordem
dos 36 MPa.
Observa-se também a libertação de tensões no carril na zona onde se encontra o aparelho de
dilatação de via.
Observa-se no gráfico de deslocamentos para as acções de arranque e frenagem da Figura 4-
36 o seguinte:
O máximo deslocamento absoluto do tabuleiro toma o valor de 13,6 mm na posição dos 300 m.
Observa-se aqui que é respeitado o deslocamento limite conforme o disposto na UIC 774-3 [10]
e na EN1991-2 [9]. 30 mm para o deslocamento absoluto do tabuleiro.
Tabuleiro 13,6 ≤ 30
Tabela 4-16: Verificação do deslocamento devido às acções de arranque e frenagem
No gráfico de deslocamentos para a acção do carregamento vertical da Figura 4-37 temos que
o deslocamento absoluto do tabuleiro toma o valor de 1,8 mm na posição dos 338 m.
Este valor verifica o deslocamento limite de 8 mm disposto na EN1991-2 [9].
Tabuleiro 1,8 ≤ 8
Tabela 4-17: Verificação do deslocamento devido à acção vertical
68
0
‐20
Tensões do carril [MPa]
‐40
‐60
‐80
‐100
‐120
‐140
0 82 164 246 328 410 492 574 656 738 820
Posição [m]
20
0
Tensões do carril [MPa]
‐20
‐40
‐60
‐80
‐100
0 82 164 246 328 410 492 574 656 738 820
Posição [m]
Arranque + Frenagem
69
20
Tensões do carril [MPa]
10
‐10
‐20
0 82 164 246 328 410 492 574 656 738 820
Posição [m]
0
Tensões do carril [MPa]
‐40
‐80
‐120
‐160
‐200
0 82 164 246 328 410 492 574 656 738 820
Posição [m]
Total
70
16
14
Deslocamento [mm] 12
10
8
6
4
2
0
300 320 340 360 380 400 420 440 460 480 500 520
Posição [m]
Deslocamento do tabuleiro
2
1,5
Deslocamento [mm]
1
0,5
0
‐0,5
‐1
‐1,5
300 320 340 360 380 400 420 440 460 480 500 520
Posição [m]
Deslocamento do tabuleiro
71
4.10. Considerações de Projecto
Os aparelhos de dilatação só devem constituir uma opção, nas situações em que sejam
indispensáveis, isto é, quando as tensões no carril ou os deslocamentos absolutos e relativos
que importa verificar ultrapassam os valores limite preconizados pela regulamentação. Isto
porque os aparelhos de dilatação de via têm um custo elevado de aquisição e de manutenção
e também pelo facto de prejudicarem o conforto da viagem.
Do estudo que foi realizado, pode-se concluir que os valores propostos pela UIC 774-3 [10]
para o máximo comprimento dilatável de pontes mistas nas diversas configurações estruturais,
são conservativos. Pode-se portanto considerar um comprimento dilatável superior ao valor
indicado, garantindo no entanto os critérios exigidos pela regulamentação, não havendo por
isso necessidade de se recorrer à colocação de aparelhos de dilatação de via.
A UIC 774-3 [10] preconiza para o caso de pontes mistas com via balastrada, o comprimento
dilatável máximo que verifica os critérios admissíveis de tensões e deslocamentos é de 90 m,
para uma configuração estrutural de viga contínua com apoio fixo numa extremidade e
restantes móveis. No caso de uma configuração estrutural de viga contínua com o apoio fixo
agora localizado ao centro e os restantes apoios móveis, a UIC 774-3 preconiza um
comprimento dilatável máximo que garante as condições de admissibilidade igual ao dobro do
referido na configuração anterior, ou seja, de 180 m.
Os comprimentos dilatáveis máximos que dispensam a utilização de aparelhos de dilatação de
via obtidos do estudo da interacção via-estrutura levado a cabo foram de 100 m na
configuração estrutural de viga contínua com apoio fixo numa extremidade e restantes móveis
e de 200 m na configuração estrutural de viga contínua com apoio fixo ao centro e restantes
apoios móveis.
As figuras seguintes ilustram estas duas situações:
Figura 4-38: Comprimento dilatável máximo na configuração de viga contínua com apoio fixo numa
extremidade
Figura 4-39: Comprimento dilatável máximo na configuração de viga contínua com apoio fixo no
centro
72
Nas situações em que as tensões e os deslocamentos excedem os valores limite, ou caso o
comprimento dilatável seja superior aos valores já indicados, impõe-se a necessidade de
romper a continuidade dos carris e proceder à instalação de aparelhos de dilatação de via.
Figura 4-41: Comprimento dilatável máximo na configuração de viga contínua com apoio fixo numa
extremidade e aparelho de dilatação de via na outra extremidade
73
Figura 4-42: Comprimento dilatável máximo na configuração de viga contínua com apoio fixo no
centro e aparelhos de dilatação de via nas extremidades
Posto isto, pode-se afirmar que face a situações de pontes muito longas o projectista tem
liberdade para escolher e combinar diversas configurações estruturais consoante as
necessidades do projecto.
Poderá recorrer desde a utilização de tramos inertes que é um troço simplesmente apoiado,
que serve para intercalar soluções que recorrem aos aparelhos de dilatação de via, até pontes
que são sucessões de vigas simplesmente apoiadas e que por isso dispensam aparelhos de
dilatação de via.
Tem-se no entanto de garantir que a solução escolhida cumpra todos os requisitos exigidos
pela regulamentação e ainda salvaguardar as questões relacionadas com o funcionamento da
ponte nomeadamente o conforto da viagem e os custos de manutenção.
74
5. CONCLUSÕES
Em Portugal o tema da alta – velocidade está na ordem do dia. Face a esta situação, revela-se
de grande importância a realização de estudos que contribuam para um consolidar e
aprofundar de conhecimentos nesta área. Como foi referido neste trabalho, as pontes mistas
aço-betão têm associados fenómenos específicos que não podem ser descurados na sua
análise.
A fadiga dos materiais, designadamente do aço é um aspecto fundamental a ter em conta
aquando do projecto das pontes ferroviárias. Estas estão sujeitas a carregamentos cíclicos de
grande magnitude que podem potenciar o aparecimento e a propagação de fendas por efeito
de fadiga. As singularidades presentes na ponte nomeadamente ao nível das ligações, têm de
garantir resistência à fadiga. Não é tolerável que durante a vida útil para que a ponte foi
projectada, esta tenha de vir a sofrer operações significativas de reparação por causa de danos
provocados pela fadiga. A filosofia de segurança que se adopta tem de salvaguardar por isso o
bom funcionamento da ponte ferroviária sujeita às solicitações cíclicas durante a vida útil para
que foi projectada.
Num domínio mais amplo, uma vez que o fenómeno abrange quer as pontes mistas aço-betão,
quer as pontes metálicas, quer ainda as pontes de betão armado pré-esforçado, a interacção
via-estrutura tem também notável relevo no projecto das pontes ferroviárias. Estamos perante
um estado limite de serviço para a estrutura e um estado limite último do carril. Perante pontes
de grandes extensões e configurações estruturais definidas em função dos condicionamentos
de projecto, pode acontecer que a compatibilização do fenómeno de interacção passe pelo
recurso aos aparelhos de dilatação de via. Quando assim é, temos de estar conscientes das
implicações que essa decisão acarreta. Os modelos numéricos, baseados na regulamentação
europeia, especificamente a EN1991-2 [9] e a UIC774-3 [10], são ferramentas expeditas e
fundamentais no estudo a ser realizado, com vista à verificação das tensões comportadas pelo
carril e que têm de garantir a integridade estrutural do mesmo, a par com os deslocamentos
absolutos e relativos que ocorrem e que estão também limitados. Verificou-se que as
recomendações de projecto fornecidas pela regulamentação são conservativas. Por isso foram
apresentadas novas recomendações devidamente justificadas.
75
6. BIBLIOGRAFIA
[1] A. J. Reis, Pontes Metálicas e Mistas. FUNDEC, 2007.
[2] A. J. Reis, "Steel concrete composite bridges: options and design issues," in 7th
International Conference on Steel Bridges, Guimarães, 2008.
[3] J. Fonseca and S. Duarte. (2009) Estudo prévio de uma obra de arte.
[4] EN1993-2, Eurocode 3 : Design of steel structures - Part 2: Steel Bridges. CEN, 2003.
[5] EN1994-2, Eurocode 4 - Design of composite steel and concrete structures - Part 2:
General rules and rules for bridges. CEN, 2005.
[6] A. Tembe, "Fadiga em Pontes Mistas Aço-Betão," IST Tese de Mestrado, 2002.
[7] EN1993-1-9, Eurocode 3: Design of steel structures - Part 1.9: Fatigue. CEN, 2004.
[8] A. J. Reis, N. T. Lopes, and D. Ribeiro, "Track-structure interaction in long railway bridges,"
in Track-Bridge Interaction on High-Speed Railways, Porto, 2007.
[9] EN1991-2, Eurocode 1: Actions on structures - Part 2: Traffic loads on bridges. CEN, 2003.
[10] UIC Code 774-3R, Interaction voie/ouvrages d'art. Recommendations pour les calculs.
Union International des Chemins de Fer, 2001.
[11] EN1993-1-1, Eurocode 3: Design of steel structures - Part 1-1: General rules and rules for
buildings. CEN, 2005.
[13] EN1993-1-5, Eurocode 3 - Design of steel structures - Part 1-5: Plated structural elements.
CEN, 2006.
76
ANEXOS