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Raios de Sol – Escola de música

Apostila de Teoria Aplicada de Técnica Vocal para nível básico

Apostila de Teoria Aplicada para


Técnica Vocal

Nível Básico

Aluno:_________________________

Data início: _____/______/ ______

Profª Graziela Pires


Raios de Sol – Escola de música
Apostila de Teoria Aplicada de Técnica Vocal para nível básico

Conteúdos a serem vistos no Módulo I

TEORIA APLICADA

( ) Instrumento vocal : descrição e funcionamento dos Aparelhos respiratório, fonador


e ressonador.

( ) Apoio – tipos e usos

( ) Impostação Vocal - vocalizes e zona de articulação

( )Parâmetros da voz – timbre, intensidade, duração, andamento, altura ,afinação,


percepção musical.

( ) Vibrato X Falsete

( ) Higiene Vocal – dicas e mitos, cuidados essenciais

( ) Extensão e tessitura vocal – classificação das vozes

( ) Interpretação e postura – uso de microfone

( ) Classificação das Vozes

TEORIA GERAL

( ) Notação musical – Pauta, claves, figuras de notas e de pausas, linhas


suplementares, colocação das hastes

( ) Compassos – signos de compasso, compassos simples, compassos mais usados

( ) Ponto de aumento e ponto de aumento duplo

( ) Ligadura, legato, staccato, fermata ou suspensão

( ) Escala diatônica – modos, escalas relativas e homônimas

( ) Armadura de clave – com sustenidos e com bemóis

( ) Intervalos – simples e compostos, classificação dos intervalos simples e compostos

( ) História da música – Gospel, rock, blues, jazz, MPB...

DESENVOLVIMENTO GERAL (PRÁTICA)

( ) Canto – visando vivenciar na prática as mais diversas técnicas vocais, bem como o
conteúdo teórico que vem sendo abordado , com repertório a ser escolhido pelo aluno
e professora.

( ) Solfejos – rezados e cantados

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( ) Vocalização – tonalidades maior, menor, escalas variadas

( ) Vocalização por intervalos

( ) Criação – o aluno cria vocalizes ou música , partitura e executa-os.

( ) Reproduções de escalas – reproduzir e cantá-las

( ) Apreciação musical – análise rítmica, percepção, etc...

( ) Criar duetos para músicas já conhecidas, executá-los.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS.

Parece que assistimos, nos dias de hoje, à recuperação do interesse pelos problemas
ligados à voz e à educação vocal. Descobre-se, ou melhor, se redescobre, a
importância da função vocal na estrutura da personalidade. Descobrir a própria voz
torna-se, algumas vezes, sinônimo de encontrar o próprio equilíbrio psicológico.

No entanto, é no nível da voz cantada que a evolução das idéias é mais


surpreendente. O canto não é mais uma arte reservada a alguns iniciados em
conservatórios ou cantores profissionais, mas desperta um interesse maior junto a
numerosos apaixonados pela música e sobretudo junto a milhares de ouvintes que
em seu dia a dia descobrem na sua própria voz um instrumento susceptível de
evoluir e de se aperfeiçoar. A arte de cantar tem ocupado grande espaço em nossa
mídia e meios de comunicação , despertando o nosso interesse pela "cultura vocal",
tão presente em cada momento de nossa vida.

O canto é uma arte difícil e seu ensino permanece como um trabalho delicado e
complexo. Muitos cantores e professores de canto já escreveram a este respeito,
tentando compartilhar suas próprias experiências.

A voz humana é um instrumento único, desde que o cantor saiba torná-la ágil, dócil e
expressiva. E não há dúvida que o talento do cantor depende de sua personalidade,
estilo, poder de expressão, gosto e ritmo. Todas estas qualidades são dons naturais
que só irão progredir se praticados e treinados à exaustão.

Apesar do nosso curso ser inicialmente direcionado àqueles que se dedicam a arte de
cantar e que sonham em se profissionalizar, ele também é direcionado todos que
ainda sejam iniciantes e para os que querem cantar somente como uma Terapia ou
Hobby .

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Aparelho respiratório

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Aparelho Fonador

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Aparelho Ressonador

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Respiração

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Apoio

A respiração usada para o canto recebe às vezes nomes diferentes,


dependendo do autor. Alguns a chamam costo-diafragmática,
outros abdominal-intercostal. O fato é que devemos encher desde
a base do pulmão, suas laterais até às costas, sem levantar os
ombros. " Quando se pede aos alunos, no início das aulas de fala ou
de canto, para inspirarem profundamente, 80% inspiram com uma

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elevação forçada das costelas e das clavículas, mantendo os músculos abdominais


contraídos, erguendo os ombros, ficando vermelhos no rosto e pescoço... Esta
respiração forçada tem conseqüencias desastrosas, em primeiro lugar para a voz. A
laringe fica sob alta pressão, e pior ainda se a pessoa não articula bem, trancando os
maxilares. Assim, a pressão é dupla e as nossas cordas vocais não podem vibrar
livremente." ( Manual Prático de Técnica Vocal. Charlotte KAHLE. Porto Alegre,
Livraria Sulina Editora.1966)

Não se pode ser um bom cantor sem possuir um perfeito controle de sua respiração. A
boa respiração é um dos grandes "segredos" da arte do canto.

Na inspiração, que deverá ser sempre nasal, se procura dilatar em todas as direções as
costelas inferiores. Ao mesmo tempo, as paredes do abdomen se enchem de ar. Pode
se controlar o movimento colocando uma mão no abdomen e outra nas costelas. É
importante que a clavícula e os ombros não se movam. Utilizar o espelho é útil para
vigiar e impedir movimentos desnecessários de tensão. Deve-se exercitar a inspiração
nasal ainda que seja de boca aberta. Deve-se também praticar a inspiração rápida,
quer dizer, inspirar a maior quantidade de ar em menor tempo possível, após ter
dominado esses movimentos corretamente.

Apoio Vocal

Paro o cantor é necessário saber administrar a entrada e a saída do ar que respira. A


esse controle dá-se o nome de apoio. " Apoio, portanto, é o controle elástico e
consciente da força retrátil passiva e espontânea do movimento de elevação do
diafragma ao promover a expiração, e é conseguido pelo domínio de seus antagônicos-
os músculos abdominais e intercostais - com a finalidade de manter o equilíbrio da
coluna de ar e aplicá-la à fonação." (Técnica Vocal para Coros. Helena Wöhl COELHO.
Editora Sinodal, São Leopoldo, 1994).

Exercícios Respiração:

Exercício para percepção da inspiração involuntária:

Muitas pessoas fazer muito barulho ou forçam a inspiração numa tentativa de encher
mais o pulmão de ar. Muitas vezes a musculatura está muito tensa e impede uma livre
circulação de ar. Solte todo o ar murchando a barriga. Fique alguns instantes sem ar.
Relaxe a musculatura deixando então o ar entrar, mas sem forçar sua entrada. Faça
isso algumas vezes e você vai perceber que não há necessidade de fazer esforço para
que o ar entre. Ele entrará sozinho, pois a entrada do ar é algo que acontece
naturalmente quando sentimos necessidade de inspirar. Esse exercício serve também
para exercitarmos a elasticidade da musculatura abdominal para dentro e para fora.

Exercício para a ativação e expansão da musculatura diafragmática e intercostal.

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Inspirar enchendo primeiramente a região abdominal e depois as costelas,


lateralmente. Expirar primeiramente o ar do abdômen e depois na parte lateral das
costelas. Fazer isso num movimento contínuo: Inspiração: parte baixa depois lateral;
expiração: parte baixa e lateral.

Exercício para treinar a saída do ar com controle ( apoio)

Precisamos, no canto, dominar o tempo da entrada e da saída do ar. Precisamos dosar


a saída do ar conforme o tamanho de uma frase musical e a inspiração também deve
estar de acordo com o tempo hábil para fazê-lo entre uma frase e outra.

Inspirar abrindo as costelas e na expiração soltar o ar firmando o abdômen tentando


não fechar as costelas. À medida que o ar vai acabando, aumentar a pressão da
musculatura abdominal. ( esse exercício pode ser feito contando o tempo da saída do
ar para ir aos poucos dominando maior tempo na saída. Ex: soltar o ar em dez tempos
depois em quinze, vinte, etc). Podemos também acrescentar a este exercício o
controle do tempo da entrada do ar, que muitas vezes deve ser rápida, dependendo da
frase musical. Então, além de contar a entrada do ar, fazemos uma contagem para a
inspiração e vamos a cada vez diminuindo o tempo para a inspiração.

Exercício para treinar a pressão da saída do ar.

Quando temos uma nota mais aguda de repente, ou precisamos fazer um som com
uma intensidade mais forte, precisamos utilizar mais o apoio respiratório para não
sobrecarregar as cordas vocais. Tomando como base o exercício anterior, vamos, na
saída do ar, fazendo movimento abdominais com pressão alternada. Na saída do ar
com um "sssss" prolongado, vamos fazer ora uma pressão no abdômen e ora
diminuindo essa pressão. Isso num mesmo sopro, sem interrupção. Você vai observar
que quando aumenta a pressão do abdômen aumenta a pressão do ar. Não se esqueça
de manter as costelas abertas.

Exercício para treinar a abertura das costelas:

Uma das formas para sentir a abertura lateral das costelas no canto é da seguinte
maneira: Vá inspirando lentamente e ao mesmo tempo levantando os braços na lateral
até que ele chegue à altura dos ombros. Mantenha alguns segundos a inspiração e
observe que suas costelas estarão mais abertas na lateral. Solte o ar e tente manter as
costelas abertas. Faça uma vez a expiração com os braços ainda na lateral e depois
tente fazê-la soltando os braços mas mantendo as costelas abertas.

OBS: Cuidado para não tensionar os ombros enquanto faz o exercício e também
cuidado para não direcionar o ar para a parte alta do pulmão.

Outros exercícios para sentir a abertura das costelas, mas na sua região costal faça o
seguinte: sente na ponta de uma cadeira, deixe seu corpo cair todo para frente,

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inclusive sua cabeça. Inspire nesta posição e vai perceber que o ar se direciona para a
lateral e para as costas.

Exercício para treinar a respiração na parte baixa do abdômen:

Muitas pessoas quando tentam fazer a respiração intercostal a fazem de forma muito
"alta", ou seja, utilizando pouco os músculos abdominais. Existem diversas técnica de
respiração. Acredito que deve-se inspirar desde a base do abdômen abrindo em
seguida as costelas. Em alguns momento ou para algumas pessoas torna-se difícil fazer
a respiração mais baixa, principalmente para indivíduos com tendência a ansiedade e
vida muito agitada.

Impostação vocal

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Parâmetros da voz

Afinação.
Determinada frequência é emitida quando na mente se elabora um conceito,
uma imagem tornada possível pela audição e visualização interior. O valor da
frequência desejada é concebido pelo “córtex auditivo”. Quando este valor
está mal indicado não há nada a fazer.
Mas a desafinação tem, por vezes, outras causas. Por exemplo, um aluno que
emite acima da nota desejada pode fazê-lo por inspirar demasiado ar e não o
controlar bem na expiração. A nota, originalmente bem pensada, resulta
“alta”. Isto também acontece quando o aluno canta excessivamente forte.
Quando a afinação é abaixo da nota desejada, pode haver um desajuste entre
a frequência, a cor da vogal e a superfície dos bordos das cordas vocais em
vibração. O aluno pode estar a “pesar” demasiado, emitindo a pensar em
demasiadas ressonâncias na boca, faringe e laringe. Neste caso, o som
pode tornar-se mais leve ao utilizar mais ressonâncias de cabeça e menos
faringo-bucais. A expiração deve ser muito bem controlada, deixando fluir o
mínimo de ar necessário ao transporte das vibrações até aos ressonadores.
Deve tentar-se induzir a intensificação da energia neuro-muscular, sinônimo
de tonicidade e adversária de esforço e bloqueio.
Existem casos de desafinação momentânea que podem apenas traduzir
desatenção esporádica ou cansaço vocal; este último pode ser um normal
cansaço neuro-muscular, que desaparece após restabelecido o equilíbrio bio-
elétrico das células nervosas e após o relaxamento das cordas vocais e dos
outros músculos da laringe (fatores que se conseguem com descanso
vocal). Se a fadiga persiste, é conveniente verificar junto de um
otorrinolaringologista se a laringe se encontra em boas condições. As
fadigas de longa duração podem ser causadas por disfunções, como
esgotamentos, depressões; por disfunções cardíacas, pulmonares,
gástricas; alterações hormonais; hipotonia ou hipertonia laríngea, escape
glótico; presença de pólipos, nódulos, edemas; entre outras razões.

1. Duração.
Um som sem um mínimo de duração não consegue tornar-se audível. Para
manter a duração do som durante uma ou várias unidades de tempo é preciso
que a musculatura implicada no processo suporte a tensão necessária.
O mecanismo vocal necessita então de reunir duas condições:
- ser capaz de manter e aguentar a posição e tensão durante algum
tempo;
- possuir a flexibilidade suficiente para alterar a posição rapidamente,
nas mudanças de altura, intensidade, vogais, consoantes, etc.
Publicado em: junho 24, 2007

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Percepção Musical

O que é percepção para você? Vou dar algumas dicas. Tudo o que nossos ouvidos
conseguem captar, todos os tipos de sons imagináveis, correspondem a uma
capacidade muito importante do ser humano, a capacidade da percepção auditiva.
Graças a ela, você pode se situar e se adaptar num ambiente escuro, ou perceber
acontecimentos que estão longe de nosso campo de visão, por exemplo. Nossos
ouvidos devem funcionar como anteninhas que detectam tudo o que acontece á
nossa volta, nos tornando assim pessoas mais alertas. Tente imaginar uma situação
em que você está sozinho, numa rua escura e deserta; uma boa percepção auditiva
pode auxiliá-lo a tomar uma atitude diante de um possível perigo. Portanto, fique
ligado! Agora, vamos falar da percepção que você, músico consciente, precisa ter
na ponta da língua, ou melhor, na ponta da orelha! Falo da percepção musical, a
arte de perceber ritmos e melodias.

Para um cantor, a percepção melódica consiste em reproduzir fielmente, através da


voz, os sons sucessivos que seus ouvidos estão captando, ou produzir com a voz
sons que se encaixem no contexto musical que está ouvindo, contexto este a que
chamamos de harmonia. O trabalho de percepção é um dos primeiros realizados
em uma aula de canto, Afinal, cantar afinado e com as notas certas deve ser o
objetivo de qualquer cantor.

Quando escutamos um cantor que não está afinado de acordo com a harmonia da
música que está cantando, isso nos deve soar, no mínimo, estranho. Tente
comparar esta situação á de uma pessoa que deseja ir para a Zona Norte de São
Paulo, mas que por falta de informação acaba tomando o caminho rumo á Zona Sul.
Este exemplo ilustra a importância de se pensar numa aula de canto para corrigir
esta falha gravíssima de percepção. Se somos capazes de guardar tantas
informações do cotidiano, por que não podemos também gravar os sons musicais?
Digo isto por que conheço muitas pessoas que não conseguem perceber que o que
elas cantam não corresponde ao que escutam. Essas pessoas precisariam aprender
a comparar o que cantam com o que escutam. Por exemplo: se você quer cantar
uma música de seu cantor favorito, procure ouvi-la atentamente por várias vezes,
não tente cantar com a gravação logo de cara, pois isto não permite que você
perceba detalhes essenciais da música. Quando cantar junto á gravação, cante num
volume de voz baixo, para que consiga escutar o cantor e você simultaneamente, e
possa, assim, fazer a comparação entre ambos. Depois de um tempo, tente gravar a
sua voz e compará-la com a gravação profissional.
Profª Graziela Pires
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É lógico que este exercício não tem a profundidade de uma aula de canto, mas já o
ajudará a perceber melhor a sua voz. A percepção rítmica também é muito
importante, pois indica as acentuações e prolongamentos necessários para uma
boa interpretação.

Desta forma, dá para se perceber que sem percepção musical rítmica e melódica,
você levaria no máximo o 'troféu abacaxi', como diria nosso saudoso Chacrinha!

Se você quer realmente cantar, pense nisso com muito carinho.

II
..__

O cérebro divide-se em dois hemisférios: o esquerdo, que é responsável pelo


raciocínio, pela percepção da linguagem musical, da teoria e do ritmo; e o direito, que
é responsável pela criatividade e processa a percepção dos diferentes timbres, da
altura das notas e das melodias. Um bom músico deve procurar desenvolver os dois
lados do cérebro para atingir maturidade musical plena.
Se, por acaso, eu mostrasse uma “caneta” e perguntasse: o que é isto? Você diria: é
uma caneta! Parece óbvio, mas se eu tocasse no piano algumas notas e pedisse para
identificá-las apenas auditivamente, seria tão óbvio assim? Na grande maioria dos
casos não, mas por que isso acontece?
Estamos acostumados a prestar mais atenção nas coisas que vemos do que nas coisas
que ouvimos. Pesquisas mostram que nos lembramos de 50% do que vemos e apenas
10% do que ouvimos, o que significa que o som é relegado a uma posição inferior à da
visão, em termos de percepção. O som do acorde não é visível como a caneta, e não
possui massa. Certamente, mesmo de olhos fechados, apalpando a caneta,
poderíamos reconhecer o objeto. Para desequilibrar de vez o ranking das percepções,
devemos acrescentar a dessensibilização auditiva ocasionalmente pela excessiva
exposição de nossos ouvidos ao “ruído urbano”, que faz com que criemos um filtro de
ruídos, que aumenta ainda mais nossa dificuldade de perceber sons. Matéria-prima
dos músicos é o som e, portanto, temos obrigação de reverter esse processo de
dessensibilização reaprendendo a “ouvir”, reaproximando-nos dele para que possa
reapresentar sempre a expressão real de nossa sensibilidade.

Estágios da Percepção

Podemos dividir a habilidade de ouvir em quatro estágios:


Existem indivíduos que não conseguem ouvir devido a problemas físicos (surdez), ou
psicológicos (incapacidade de ouvir sons).
Outros ouvem, mas não conseguem memorizar os sons e, conseqüentemente,
apresentam dificuldades para cantar afinado.
Há aqueles que ouvem, memorizam e reproduzem o que ouviram como se fossem
gravadores.
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Por último, temos aqueles que ouvem, memorizam e reproduzem um som, além de
conseguirem entendê-lo musicalmente.
Esses estágios são individuais e a mesma pessoa pode apresentar estágios diferentes
para conceitos musicais diferentes (por exemplo, ouvir e entender musicalmente todos
os intervalos e não conseguir reconhecer o timbre de um instrumento musical).

Estudando e Desenvolvendo sua Percepção

Você consegue acompanhar uma música estalando os dedos na pulsação correta?


Consegue cantar uma melodia afinada com o cantor? Lembra-se com facilidade e
melodias? Diferencia todos os instrumentos de uma música? Se a maioria das
respostas foi NÃO é bom você prestar atenção nas sugestões que apresentarei a
seguir.
Utilize seus instrumentos mais próximos: a voz, as mãos, os pés e o corpo em geral.
Cantar ajuda a memória auditiva e bater os pés ou as mãos e estalar os dedos melhora
sua precisão rítmica e a execução no tempo.
Faça exercícios de leitura cantando, estalando os dedos e exercícios com ditados (ouça
os exercícios do CD e tente escrever as notas num papel, por exemplo).
Não dedique menos tempo de estudo à percepção do que à técnica vocal. Ouça muita
música e tente tirar músicas ou solos, pois são ótimos exercícios também.
Nenhum método de ensino musical é completo sem o estudo da percepção musical.
Dirijo-me principalmente aos cantores, mas todos os princípios aqui apresentados
podem ser utilizados por quaisquer instrumentistas ou apreciadores de música.
A Musicalização infantil é fundamental, pois exige muito da percepção, em um
momento no qual a criança assimila tudo com incrível facilidade, sendo de grande valia
na idade adulta. Se você tem filhos, cante os exercícios já propostos nos últimos
capítulos, pois as crianças, como mencionado, têm muita facilidade de memorização
auditiva.
Caso você se considere detentor de um ouvido HORROROSO, acalme-se, pois hoje,
devido ao avanço da Pedagogia Musical, conseguimos resultados impressionantes,
basta ter FORÇA DE VONTADE e PERSISTÊNCIA!!!

Profª Graziela Pires


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Timbre

Saúde e Higiene Vocal


Desde o início do século já existia uma preocupação com a Saúde e Higiene da Voz. O
primeiro livro onde encontramos ouvir falar deste assunto no Brasil foi "Higiene na
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Arte, Estudo da Voz no Canto e na Oratória", escrito pelo médico Francisco Eiras,
datado de 1901.

O Que é Higiene Vocal?

Mara Behlau, em seu livro Higiene Vocal define o termo como sendo "algumas normas
básicas que auxiliam a preservar a saúde vocal e a prevenir o aparecimento de
alterações e doenças".

A quem é dirigido este assunto?

Mara Behlau alerta em seu livro que "as normas de Higiene Vocal devem ser seguidas
por todos, particularmente por aqueles que se utilizam mais da voz ou que
apresentam tendência a alterações vocais". Esses são chamados os profissionais da
voz. Silvia Rebelo Pinho em seu livro "Manual de Higiene Vocal para Profissionais da
Voz" explica que os "professores, atores, cantores, locutores, advogados, telefonistas,
entre outros, são considerados profissionais da voz. Entretanto, muitas das atividades
verbais utilizadas por eles são incompatíveis com a Saúde Vocal, podendo danificar os
delicados tecidos da laringe e produzir um distúrbio vocal decorrente do abuso ou mal
uso da voz." É alarmante o fato de quase não haver, nas universidades, uma
preocupação em preparar estes profissionais para lidar com a voz no seu dia à dia, já
que ela é parte fundamental como instrumento de trabalho.

Quais as consequências dos abusos vocais?

"Dentre as alterações orgânicas mais freqüentemente observadas nestes profissionais,


encontramos os nódulos vocais ( nodulações semelhantes a calos) e edemas ( inchaço
das pregas vocais)" ( Silvia Rebelo Pinho, " Manual de Higiene Vocal para Profissionais
da Voz")

Quem pode tratar dos problemas da voz?

O médico otorrinolaringologista é quem pode diagnosticar


possíveis problemas no aparelho fonador. A partir de seu
diagnóstico se necessário, o fonoaudiólogo, que trabalha
juntamente com o otorrinolaringologista, fará a correção
de possíveis problemas através de exercícios.

Algumas formas de abuso vocal:

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( Este texto foi tirado do livro " Manual de Higiene Vocal para Profissionais da Voz"
Silvia Rebelo Pinho. Editora PRÓ- FONO 1997)

• Gritar sem suporte respiratório;


• Falar com golpes de glote;
• Tossir ou pigarrear excessivamente;
• Falar em ambientes ruidosos ou abertos;
• Utilizar tom grave ou agudo demais;
• Falar excessivamente durante quadros gripais ou crises alérgicas;
• Praticar exercícios físicos falando;
• Fumar ou falar muito em ambientes de fumantes;
• Utilizar álcool em excesso;
• Falar abusivamente em período pré-menstrual;
• Falar demasiadamente;
• Rir alto;
• Falar muito após ingerir grandes quantidades de aspirinas, calmantes ou
diuréticos;
• Discutir com freqüência;
• Cantar inadequada ou abusivamente ou, ainda, participar de corais e cantar em
vários estilos musicais;
• Presença de refluxo gastroesofágico, altamente irritante às pregas vocais ( o
refluxo gastroesofágico é decorrente de disfunções estomacais, responsáveis
pela liberação de ácido péptico, que em algumas situações pode banhar as
pregas vocais, agredindo-as).

( Este texto foi tirado do livro " Manual de Higiene Vocal para Profissionais da Voz"
Silvia Rebelo Pinho. Editora PRÓ- FONO 1997)

Isso é para todos?

"A voz deve ser sempre pensada em relação à saúde geral do paciente, em relação ao
seu corpo todo, ao seu estado de saúde geral. Segundo Sataloff (1991), todo o sistema
corporal afeta a voz; Souza Mello (1988) afirma que todo o corpo colabora na
produção da voz; Bloch (1979) refere que as condições ideais para uma boa produção
vocal adequada correspondem a um estado de saúde geral dentro das melhores
condições possíveis. Portanto, deve-se pensar não apenas nos aspectos que
prejudicam as pregas vocais, mas sim no trato vocal integrado na saúde geral de cada
paciente. Desta forma, podemos pensar que, apesar de as orientações serem gerais, as
necessidades, assimilações e repercussões são absolutamente singulares. Por exemplo:
o gelado, geralmente, prejudica a voz, mas a quantidade e a forma deste prejuíso se
manifestam diferentemente em cada pessoa, dependendo do momento e da maneira
em que este abuso foi cometido. As reações do corpo humano são únicas e dependem
de cada indivíduo em cada momento." (Extraído do artigo " Saúde Vocal" de Marta
Assumpção de Andrada e Silva do livro Fundamentos em Fonoaudiologia-Tratando os
Distúrbios da Voz. Sílvia M. Rebelo Pinho. Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro,
1998)
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Higiene Vocal
Como manter a saúde do Sistema Fonatório

1. Cantar/Falar requer gasto de energia, portanto cante/fale quando


estiver em boas condições de saúde, a fim de não cometer esforços físicos.

2. Use roupas confortáveis, que não apertem principalmente na


garganta, peito, cintura e abdômen.

3. Adote o hábito de beber água, principalmente quando souber que fará


uso maior de sua voz.

4. Aqueça e desaqueça a voz, antes e depois de usar a voz por muito


tempo. O aquecimento trabalha a flexibilidade muscular, necessária para
que a extensão vocal ocorra sem tensão. O desaquecimento é necessário
para retornar à voz falada natural (sem projeção, laringe elevada, etc.).

5. Ingira alimentos leves e de fácil digestão para evitar o refluxo


gastroesofágico.

6. Evite pastilhas refrescantes antes de cantar/falar. Estas geralmente


têm efeito "anestésico" e você pode cometer abuso vocal sem se dar conta.

7. Monitore sua voz; aprenda a ouvir sua qualidade vocal e a reconhecer


suas sensações de tensão/esforço desnecessários.

8. Procure evitar conversar em lugares ruidosos como: reuniões sociais,


ruas muito movimentadas, dentro de carro em funcionamento, dentro do
metrô, em danceterias ou shows de música, etc.

9. Quando estiver em grupo (como em sala de aula, por exemplo),


procure falar no centro do ambiente, para que a acústica do local se
encarregue de propagar sua voz; assim, você estará poupando-se de um
esforço desnecessário.

10. Procure falar/cantar de forma tranqüila: respire adequadamente,


pausadamente, procurando não esmagar a voz nem usar o "ar de reserva"
durante uma conversa/canto.

11. Evite pigarrear, pois este ato é extremamente agressivo para a mucosa
da região.

12. Quando for inevitável o uso prolongado de sua voz, procure


contrabalançar, fazendo um repouso vocal de pelo menos 30 minutos, a fim
de poupar a musculatura fonatória e irrigar as cordas (pregas) vocais.
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13. SEMPRE ESTEJA ATENTO À SUA RESPIRAÇÃO. Aprenda a descobrir as


pistas que o seu corpo dá: Como ele está antes do relaxamento? Qual é a
parte de seu corpo que mais demora a relaxar? Quais são os músculos que
você retesa quando fica tenso? Como está sua respiração? Questione
sempre! OBSERVE!

14. NÃO USE DROGAS! O fumo irrita e altera a estrutura celular do


aparelho fonatório; o álcool, além de ser considerado "droga pesada" pela
O.M.S. (Organização Mundial de Saúde), tem um efeito anestésico e
relaxante muscular que leva ao esforço e à fadiga vocal; outras drogas,
como canabinóides ou alucinógenos, são ilegais e podem causar severos
danos à saúde vocal (não apenas pelo efeito direto da ação do fármaco mas
também pelas conseqüências da situação como um todo).

A área da voz humana é rica em mitos, devido não somente à natureza artística que
a envolve, mas também por ela ser um produto considerado abstrato, quase etéreo,
por vezes divino. Esta concepção e o atraso da ciência na compreensão e explicação
da produção da voz fizeram com que vários mitos se perpetuassem até nossos dias.

1. Aprender a respirar e a cantar com o diafragma

O diafragma, um músculo muito importante na respiração, apresenta forma de


guarda-chuva aberto e separa o pulmão da cavidade abdominal. Na inspiração o
diafragma se retifica com a entrada do ar e massageia as vísceras, porém não se
respira com e nem pelo diafragma e também não se canta pelo mesmo.

Na verdade o que o aluno de canto aprende é controlar melhor o fluxo de ar que


sai dos pulmões em direção à laringe e às pregas vocais.

2. Nunca respirar pela boca

A cavidade nasal é a entrada preferencial do ar para dentro do corpo. No nariz, o


ar é purificado, aquecido e umedecido, usando nesta tarefa, uma série de cílios
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(pêlos) e reentrâncias (canais) por onde o ar passa em redemoinhos. Por outro


lado, a respiração bucal é mais rápida e direciona maior quantidade para dentro
dos pulmões num tempo mais curto, já que o trajeto a ser percorrido é menor e a
porta de entrada maior. Assim sendo, durante o canto ou a conversa em frases
rápidas, é impraticável respirar apenas pelo nariz, o que nos leva à respiração
buco-nasais, com entradas bucais nas emissões que se sucedem rapidamente e
entradas nasais nas pausas longas.

3. Não usar falsete, pois é uma voz falsa e faz mal. Além disso, mulheres não
têm falsete.

Falsete é o modo de se emitir a voz. Esse conceito está associado à noção de


registros vocais. Em relação à voz, registro refere-se aos diversos modos de se
emitir os sons da tessitura. De modo geral reconhece-se a existência de três
registros: o basal, o modal e o elevado. O falsete é um dos sub-registros que
compõe o registro elevado, que é o das notas mais agudas da tessitura. Este
nome não quer dizer que a voz soe falsa ou que seja produzida por outras
estruturas que não as pregas vocais. Falsete vem de falsa voz feminina, pois
alguns homens cantavam em falsete na idade média, quando não se permitia que
as mulheres participassem de coros religiosos. Na emissão em falsete as pregas
vocais estão alongadas, porém com pouca tensão. A mudança para o falsete
corresponde a uma necessidade fisiológica de se prosseguir numa escala musical
em ascendente.

4. Não apresentar zonas de passagem de registro

Existem regiões intermediárias entre os registros vocais, quer seja entre o basal e
o modal, ou entre o modal e o elevado nas quais ocorrem as principais mudanças
nas ações musculares. Essas regiões são conhecidas como zonas ou notas de
passagem. Alguns cantores não mostram suas notas de passagem, enquanto
outros apresentam verdadeiras quebras de sonoridade entre a última nota de um
registro e a primeira nota do registro seguinte. Na verdade, a mudança entre os
ajustes musculares sempre ocorre, o que varia é o quanto ela é evidente ou não
para o ouvinte.

5. Gargarejar com uísque ou similares antes dos ensaios e apresentações

Alguns cantores têm o hábito de gargarejar bebidas alcoólicas ou até mesmo de


tomar uma dose para “esquentar” a voz antes de ensaios ou apresentações. Essas
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pessoas geralmente referem que fica mais fácil cantar sob o efeito do álcool. A
ação imediata do álcool sobre as paredes da boca e da faringe é o de uma
anestesia temporária, o que significa que as sensações nessa região ficam
reduzidas. Assim, todo o esforço que se pode estar fazendo para cantar não é
percebido e o cantor pode erroneamente acreditar que está cantando melhor.
Além disso, o efeito do álcool sobre o sistema nervoso nos deixa mais desinibidos,
mais soltos e, portanto, o medo de uma apresentação pode diminuir. Contudo, a
partir de uma segunda dose (ou até mesmo da primeira, em pessoas mais
sensíveis) pode-se perder o controle fino da afinação e do volume de voz,
produzindo-se também uma articulação pouco precisa e com desvios nos sons da
fala. A qualidade vocal fica pastosa, comprometida para o canto. Um outro fator
importante é o edema (inchaço) nas pregas vocais causado pela ingestão de
várias doses de bebida, principalmente destiladas.

6. Usar sprays

Medicações em forma de spray devem ser usadas apenas quando prescritas pelo
médico e em casos específicos, como por exemplo, de inflamações das vias
aéreas, situações onde se deve evitar o uso da voz cantada. Cantar quando não se
está em condições de saúde vocal pode ser muito arriscado e corre-se um alto
risco de se produzir lesões no aparelho fonador, incluindo edema e disfonias
hemorrágicas das pregas vocais. Tais fórmulas em spray geralmente incluem um
componente analgésico e anestésico que atua como o álcool sobre as paredes da
boca e da faringe. Tais preparados, por serem apresentados em forma de aerosol,
chegam a atingir a laringe e os pulmões, podendo reduzir as próprias sensações
da laringe e da árvore respiratória, o que prejudica ainda mais o canto.

7. Chupar pastilhas para limpar a voz e a garganta

As pastilhas quando possuem o componente anestésico, apresentam os mesmo


inconvenientes causados pelo uso de spray. Quando há presença elevada de
cítricos (limão ou laranja), ou ainda em versão dietética, pode haver
ressecamento do trato vocal e portanto devem ser evitadas.

8. Mastigar gengibre

Embora muito usado no meio do canto popular e no teatro, não existe nenhum
estudo científico sobre sua eficácia. Do mesmo modo, não há estudos
controlados sobre os componentes e os efeitos da própolis, porém, parece haver
ação antiinflamatória e lubrificante da boca e da faringe.
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9. Tomar mel com limão e similares

A combinação de mel e limão ou vinagre e sal é muito utilizada, contudo devem


ser evitadas. O mel, consumido de modo isolado, é um lubrificante das caixas de
ressonância superiores, a faringe e a boca, mas o limão, o vinagre e o sal
ressecam as mucosas, e não devem ser usados com objetivos vocais.

Caso deseje experimentar as receitas caseiras que lhe são sugeridas, procure
verificar, de modo crítico, quais os efeitos produzidos em seu aparelho fonador e
em sua voz; porém, não faça tais testes antes das apresentações, a fim de evitar
surpresas desagradáveis.

Vibrato

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Falsete

Ciclo glótico das cordas vocais funcionando em falsete.

Falsete (< italiano falsetto = "tom falso") é técnica vocal por meio da qual o
cantor emite, de modo controlado (não natural, por isso "falso"), sons mais
agudos que os da sua faixa de freqüência acústica natural (tessitura).

É assim chamada por depender diretamente da contração de uma estrutura


laríngea denominada falcius. É especialmente usada por cantores do sexo
masculino para alcançar os registros de contralto (alto), meio-soprano e,
eventualmente, de soprano. No falsete, a voz é gerada numa região da
garganta que não permite um controle tão preciso de tom quanto é o
controle natural do cantor. Dessa forma, é necessário um treinamento
especial para que o uso de falsete não prejudique a execução da peça
musical. Bem empregada, com conhecimento e domínio, confere efeitos
especiais admiráveis e, portanto, beleza adicional, ao canto.

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Anatomia
Sob o aspecto anatômico, falsete é um modo particular de vibração das
cordas vocais que permite ao cantor emitir a nota mais aguda com menor
esforço, ou, alternativamente, emitir uma nota mais aguda que se
conseguiria com esforço normal, técnica usada exclusivamente pelo sexo
masculino. Produz-se por estiramento das cordas vocais em seguida à
inclinação da cartilagem tireóidea, que gera vibração por justaposição das
cordas ao invés de por batimento.

Esse modo de emissão pode resultar dum efeito intencional ou tão-somente


reflexo da laringe, que é como que forçada a emitir sons mais agudos do
que o faria normalmente (inclusive quando se acha sob estresse),
protegendo-se por emitir os sons em falsete (falsetto). Os cantores passam
então a treinar sua emissão musical técnica, de modo a controlar a zona de
passagem, dos agudos em voz plena para os correspondentes em falsete,
obtendo, assim, o chamado "falsetom" (<italiano falsettone), técnica
frequentemente utilizada na ópera barroca.

Harmonia
Deve-se considerar que o som de uma voz [com emissão em] falsete, por
ser mais agudo e menos potente que o correspondente em voz [com
emissão em tom] normal, é mais sibilante e, em conseqüência, menos rico
em sonoridade (contém menos harmônicos), donde acertadamente
chamada de falsete, a lembrar emissão falsa.

Curiosidade:

História dos Castrati


A história dos castrati é surpreendente! Vale a pena acompanhar do princípio ao fim o
caminho que percorri. A decisão de acompanhar toda a história é sua, mas devo alertá-lo
que o final é surpreendente.

Os castrati (castrato, no singular)

surgiram da necessidade de vozes agudas nos coros das igrejas e a proibição de mulheres
nesta função, o que levou os eclesiásticos a uma solução, no mínimo, extravagante: castrar
os meninos com idade próxima aos 8 anos. Desta forma, não passavam pela natural
alteração vocal masculina. Período: renascimento, fim do século XV, início do XVI.

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Coro de castrati

do M Diversidades

Ferramental de castração

A voz do castrato era personalíssima.

Sua extensão e flexibilidade vocal eram muito diferentes, tanto da voz feminina, quanto da
voz mais aguda dos contratenores e bem distante do que seria a voz de um menino.

Historicamente, é documentada a existência de castrati nos coros


das igreja de Munique (1574), da Capela Sistina (1599) e, na
bula papal de 1589. O papa Sisto V autorizou o recrutamento
de castrati para o coro da Igreja de São Pedro.
A ópera acabou adotando esta prática.
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Haendel compôs um grande número de papéis para estes cantores. Obras da época levadas
a público hoje são apresentadas por mulheres ou contratenores. Entretanto, papéis escritos
especificamente para eles são, muitas vezes, impraticáveis.

Foi o papa Leão XIII (1902),

que aboliu definitivamente este costume. Mas somente em 1913 o último castrato,
Alessandro Moreschi, abandonou o coro da Capela Sisitina. É dele o único registro que se
tem da voz de um castrato, uma vez que ele gravou dez discos.

Alessandro Moreschi – o último


castrato
do Cancello ed Arnone News

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Farineli (Carlo Broschi) foi o mais famoso dos castrati. Sua


fama rendeu-lhe um filme biográfico: Farinelli il
castrato. A película, de Gérard Corbiau (1994), retrata
um galã, de olhar triste, solitário, enredado em dores
íntimas, que encerrou sua carreira como cantor exclusivo
do rei Felipe V, da Espanha.

Cartaz do filme Farinelli il castrato

do Lisboa City

A voz de Farinelli,

dizem, alcançava 3.4 oitavas (Lá2 ao Ré6), com capacidade de sustentar 150 notas em um
só fôlego. No filme, foram necessários dois cantores, um contratenor e uma soprano
coloratura, para recriar a voz do castrato. Curiosamente, seu corpo foi exumado em
out./2006, para estudos.

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Extensão vocal, tessitura e registro médio

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Classificação vozes

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Anexos

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Dicas
1 -- Ter aulas de canto. assim você pode melhorar e manter sua saúde vocal e prevenir
nódulos ou cicatrizes que, se surgirem, poderão encurtar sua carreira.

2 -- Se você cantar pop, gospel, soul, rock, blues, jazz ou até mesmo a lição de voz
ocasional de um professor bem qualificado pode ficar à frente da concorrência.

3 -- A maioria dos cantores precisam ter algum tipo de base warm-up de rotina, mesmo
muito básico. Certifique-se de sua rotina inclui sempre as mesmas passagens de base ou
de exercícios de modo que você será capaz de julgar se a sua voz é em relação ao que
normalmente é.

4 - Pratique cantar na frente de um espelho. Isso ajudará você observar a postura, o fluxo
de ar, expressões faciais e, em geral como você aparecer para um público-alvo.

5 - Considere a cantar como parte de um grupo, mesmo que o seu principal interesse é o
trabalho solo. Ela pode realmente abrir seus ouvidos para cantar melhor em campo e
mistura a sua voz para combinar com outros sons.

Presentes para cantores

6 - Se você canta em um grupo, aberto à mudança para um lugar diferente no conjunto,


mesmo se não estiver ao lado de seu melhor amigo, e até mesmo se há alguém um pouco
mais alto na frente de você, ou vice-versa . Alguns diretores do coro bom colocar as
pessoas em locais diferentes de acordo com as qualidades únicas de sua voz e de tom.

7 - Abra a boca! Sim, sim, eu sei ... a maioria das pessoas estão tentando fazer você
calar a boca. Bem, se você pode aprender a cantar com a boca "muito" aberta, você irá
atingir notas mais claras e cantar melhor.

8 - Como qualquer outra disciplina musical, eu acho que ouvir grandes executores ajuda a
aprimorar o seu som e técnica. Eu mesma canto junto com as gravações grande, tentar
igualar o vocalista exatamente. Então, depois que você aprendeu o seu caminho, você tem
algumas novas técnicas e a capacidade de criar a sua própria interpretação da peça de
música.

9 - Não se esqueça de ouvir gravações de cantores de épocas anteriores.

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10 - Embora seja divertido para copiar alguém do estilo de cantar, não se esqueça de fazê-
lo em detrimento da sua voz física. Poucas pessoas têm cordas vocais que cantam como
James Brown, Luciano Pavarotti, ou Mariah Carey.

Microfones

Partes: I - II - III - IV

Parte I

Até aqui fizemos uma abordagem geral de um sistema de sonorização ao vivo


(PA) e analisamos os cabos e conectores. Compreendido isto, podemos, agora,
passar a uma análise mais detalhada dos componentes individuais de um PA.
Pela seqüência vista na corrente de quatro elos, iniciaremos pela Captação, elo
que tem como elemento principal o microfone.

Função/Transdutor

Um microfone é considerado um transdutor. Alguém pode imaginar que esta


palavra resulte de um erro ao tentar digitar "tradutor". Embora não seja, esta
semelhança pode nos ajudar a compreender tanto a palavra quanto a função dos
microfones. Um transdutor é um dispositivo que recebe um tipo de energia e o
converte (ou traduz) em outro. No nosso caso, o microfone recebe a energia
acústica que incide sobre o seu diafragma e o "traduz" em energia elétrica capaz
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de trafegar pelos cabos e ser processado e amplificado pelos aparelhos.

Tipos de Microfone

Embora existam vários tipos de microfones com aplicações das mais variadas,
vamos nos concentrar nos principais utilizados na sonorização - Os microfones
direcionais (conhecidos por cardióides, supercardióides e hipercardióides), os
não direcionais (conhecidos por onidirecionais), e veremos, as principais regras
de emprego dos mics para que você consiga o melhor som ao trabalhar com
eles.

Antes de mais nada vamos deixar claro que não nos interessa, em aplicações de
sonorização que tem como padrão de qualidade profissional, qualquer microfone
que não seja balanceado e de baixa impedância (low Z). As virtudes de sistemas
balanceados já foram ligeiramente comentados e o serão com mais atenção em
edição futura.

Utilização

Primeiramente entendamos que os microfones têm função semelhante ao de


nossos ouvidos. Só que, por eles não serem dotados de cérebros que os auxiliem
distinguir uma fonte sonora de outra, caberá aos seus usuários o cuidado de
colocá-los na posição em que melhor captarão o som que serão incumbidos de
reproduzir.

Aproveitando esta analogia vale a pena também a recomendação de que deve se


falar e manusear os microfones com todo o cuidado que seria dado aos ouvidos
de alguém que você queira bem. Daí algumas recomendações importantes para
a preservação dos seus microfones:

Nunca sopre ou assobie no microfone


(a umidade contida no sopro é inimiga da cápsula dos microfones)

Nunca bata na sua superfície para testá-lo


(um microfone é uma ferramenta sensível)

E muito menos bata palmas com o mesmo numa das mãos


(coloque-o cuidadosamente debaixo do braço virado para frente onde ele possa

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captar o som das suas palmas e nunca o oriente na direção de qualquer caixa de
retorno ou PA)

Para testar se um microfone está conectado e com volume, corra suavemente o


dedo pela superfície da bola que envolve a cápsula. Além de poupar a cápsula do
seu microfone isto também prolongará a vida útil dos falantes no seu sistema de
som!

Analogia de Direcionalidade

Assim como uma lanterna ilumina aquilo que está à sua frente com uma
intensidade que vai diminuindo a medida que se afasta deste seu eixo central,
assim os microfones direcionais dão preferência maior aos sons que estão à sua
frente preferindo menos os que chegam dos seus lados, e praticamente
rejeitando os que chegam da sua parte posterior (onde se liga o cabo).

Como isto acontece

É importante que se saiba como é feita esta distinção para que ela não seja
neutralizada por meio do manuseio errado do microfone. Para que esta distinção
ocorra, o microfone toma por referência a pressão sonora existente na parte
posterior de sua cápsula (setas azul e verde na ilustração abaixo)

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e somente reproduz os sons à sua frente (seta vermelha) quando a intensidade


destes for maior que a posterior. Daí pode-se compreender o perigo de tampar o
espaço apropriado para a o acesso dos sons à parte posterior da cápsula

pois isto torna o microfone um onidirecional que captará sons de todos os lados
geralmente dando inicio à microfonia.

Parte II

Fizemos a analogia do microfone com uma lanterna. Pois bem, ao posicionarmos


nossos microfones é exatamente esta característica de captação que devemos
ter em mente para que o microfone "ilumine" ou capte somente o som a que é
destinado e não um monte de outros sons, existentes nas proximidades, pois
estes acabarão contaminando e descaracterizando o som que desejamos que
este microfone capte.

Se você tiver um amplificadorzinho a pilha/bateria (do tipo que se pode prender


no cinto) que tenha entrada para microfone e saída para fones de ouvido - que
isolem bem os sons - faça a experiência de conectar o microfone ao amplificador
e escutar as variações do som captado conforme sua posição. Uma alternativa
mais real, em termos do equipamento da maioria das igrejas, seria levar a mesa
de som até o palco aproveitando-se a sua saída de fones de ouvido para fazer o
posicionamento dos mics. Ainda uma outra variação que não posso recomendar
para todas as mesas (pois pode forçar alguns amplificadores de fones) seria
conectar uma via do seu multicabo que tenha P10 estéreo (NUNCA mono!) na
saída de fones de sua mesa enviando o som para o palco onde se conectariam
fones para se fazer a experiência. De qualquer maneira, o que se está
procurando é ter uma monitoração (audição) imediata das variações de captação
à medida que se altera a posição do microfone e aprender tanto das
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características de sua captação quanto do som do instrumento que se quer


captar.

Para o correto posicionamento de um mic é fundamental saber como um


instrumento emite seus sons. Isto pode ser aprendido utilizando a técnica que
acabo de descrever, porém é imprescindível se ter bons fones de ouvido (tipo
monitores de estúdio ou o mais próximo destes que você puder adquirir) que
sejam fiéis ao som original e que isolem bem os sons externos para que seu
julgamento não seja prejudicado por vazamentos.

Nesta e em todas as demais áreas que exigem uma decisão de ajustes de


sonoridade por parte do técnico de som, o que mais vale é o seu padrão ou
referência adquirida e memorizada ao longo do tempo. Esta provém de sua
experiência aliada a ferramentas de qualidade - como o melhor fone de ouvido
que você possa adquirir. Para as fontes de formação desta referência, uma vez
que você tiver os seus fones de referência inicie uma coleção de CDs da melhor
qualidade (sons de instrumentos e vozes bem captados). Obs.: Não se limite a
comprar apenas o estilo musical que você gosta para não limitar a sua
referência! Imagine-se incapaz de tirar um bom som nalgum grande evento
simplesmente porque você não quis educar os seus ouvidos àquele estilo
musical! Compre tudo que for de boa qualidade, desde musica erudita, ao jazz,
soul, pop e demais gêneros musicais, pois você nuca sabe com quais você
poderá vir a trabalhar.

Ondas e distâncias

A regra mais importante a respeitar quando se utiliza vários microfones provém


da razão que o som se propaga por ondas. Um exemplo de um erro comum seria
um conjunto com os cantores posicionados lado a lado e os microfones
colocados muito à sua frente. Veja a figura 2, abaixo.

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Na parte superior vemos a colocação das vozes que nos parece normal. O
problema aparece se eles estiverem segurando os microfones como no meio da
figura. Note que a voz do cantor B estará chegando não somente no microfone 2
como também nos microfones 1 e 3; e como a distância entre estes e o cantor B
é maior que entre ele e o seu microfone (mic 2), os sons emitidos por ele
chegarão após um tempo maior nos mics 1 e 3 e, portanto, estarão defasados
ou fora de fase com referência ao mic 2 como nos mostra a figura 3.

Embora o espaço destinado a este artigo não permita uma abordagem mais
profunda, digamos sucintamente que o termo fase se refere à quantidade de
energia positiva ou negativa que uma onda sonora tem em determinado
momento em que é comparada com outra onda. Como as ondas têm
comprimentos diferentes, que completam o seu ciclo em tempos diferentes
conforme sua freqüência, em situações com múltiplos microfones é impossível se
prever quais freqüências chegarão em fase e quais fora de fase em certo
microfone num determinado momento. O que se pode afirmar é que sempre que
o cancelamento decorrente desta defasagem ocorrer, é irremediável pois o corte
será tão profundo que uma tentativa de recuperar o timbre normal da voz ou
instrumento através da equalização do canal na mesa de som só irá piorar a
situação, pois ao se buscar aumentar a freqüência cancelada, somente as
freqüências vizinhas serão aumentadas deixando ainda mais perceptível o
cancelamento.

Como evitar este cancelamento? Aproximando o microfone da voz que deve


captar para que esta distância seja um terço da distância entre esta voz e o
microfone do cantor seguinte (parte inferior da figura A).

Parte III

Fase e captação

A aproximação do microfone é uma técnica que proporciona uma captação mais


limpa da fonte sonora que se deseja captar e também evita os problemas de
cancelamentos devidos à defasagem que ocorrem quando um microfone capta
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sinais já captados por outros microfones mais próximos às suas respectivas


fontes.

Faça a experiência com dois microfones segurando os lado a lado e dirigindo a


voz entre os mesmos. A seguir vá alterando a posição de um dos microfones
para sentir as variações que o cancelamento causará no timbre de sua voz. Este
teste deve ser feito preferencialmente com fones de ouvido. Obs: Se você não
os tiver ainda, e estiver ouvindo este som em alguma caixa, tome cuidado, pois,
além de cancelamentos, ocorrem somatórias das ondas fora de fase que podem
resultar em microfonia!

Por isto, então, não se deve deixar abertos dois microfones captando a mesma
fonte (se estes forem mixados e dirigidos à mesma caixa ou gravador). Um caso
típico de erro é quando um operador deixa um microfone fixo aberto no púlpito
além de abrir o volume do microfone de lapela utilizado pelo preletor. À medida
que o preletor se movimenta, o microfone de lapela o acompanha, enquanto que
o do púlpito continua estático. A cada movimento a relação de distância entre o
microfone fixo e o da lapela será alterado fazendo com que um conjunto
diferente de freqüências seja cancelado ou somado.... Se os microfones tiverem
destinos diferentes (PA e gravação), não haverá cancelamento por não serem
combinados.

Outra dica é instruir a pessoa que usar o microfone que ela deve sempre mantê-
lo alinhado entre si mesma e a platéia para que as freqüências direcionais de sua
voz não sejam perdidas fora do ângulo de captação do microfone.

Isto nos traz àquela característica importante de se conhecer nos microfones: A


captação que é demonstrada nos diagramas polares (figura A) que todo
fabricante deve incluir na documentação do seu produto. Se um fabricante não
fornecer este diagrama e o gráfico de linearidade (figura D no final), suspeite da
qualidade do produto.

O diagrama polar é feito considerando-se o eixo central, que é uma


perpendicular que parte da frente da cápsula do microfone. A partir deste eixo
são demarcados vários ângulos em torno do corpo do microfone e é medida a
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intensidade com que o microfone reproduz as freqüências de uma mesma fonte


sonora que vai sendo girado à sua volta.

Como já dissemos, nos microfones direcionais - ou cardióides a sensibilidade de


captação irá decrescendo à medida que a fonte sonora se afastar do eixo
central. Nos microfones supercardióides esta sensibilidade diminuirá mais e será
ainda menor nos hipercardióides. É esta captação que se tem de considerar ao
posicionar um microfone tanto para a reprodução fiel da fonte sonora quanto
para evitar a microfonia pelo posicionamento das caixas de retorno (note a
captação posterior nos microfones mais direcionais).

Já vimos que ocorrerão cancelamentos e somatórias de freqüências quando mais


de um microfone captar sons produzidos por uma mesma fonte. Portanto é
importante que cada microfone capte tão somente o som a que é destinado.
Consideremos o exemplo de um coral. É inviável dedicar-se um microfone (e
canal da mesa) a cada um dos seus múltiplos elementos. Assim devemos
selecionar microfones adequados para captarem apenas uma determinada parte
do coral posicionando-os para que sua sensibilidade mínima esteja nas regiões
em que a cobertura dos dois microfones for mais próxima.

A técnica de captação acima é conhecida por "X-Y". Aproveitando-se da


sensibilidade reduzida nas laterais, dois microfones iguais são posicionados a um
ângulo de 90º entre si - com uma cápsula colocada logo acima da outra - quase
encostados, e colocados a uma distância do coral em que, enxerguem os últimos
elementos de cada extremidade do grupo. As vozes dos cantores do meio são
captadas, pois embora não se encontrem dentro do campo de captação, quando
cantam o som de suas vozes é projetado para dentro da área captada pelos
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microfones.

Duas observações quanto a esta técnica. Primeiramente lembre-se que os


microfones nunca devem estar à frente das caixas do PA. Isto pode ocorrer se o
grupo do coral; for muito largo. Neste caso recomenda-se estreitar o grupo,
acrescentando mais fileiras. Se não puder, divida o coral ao meio e passe a
microfoná-lo com dois pares X-Y cuidando para minimizar a superposição de
coberturas no meio.

Em segundo lugar, note que os microfones estarão bem mais distantes das
vozes do que se estivessem sendo utilizados por um cantor que os segurasse.
Isto é desejável pois captam a massa sonora resultante da mesclagem das vozes
do coral e não as vozes de apenas 3 ou 4 pessoas. Há que se lembrar, porém,
que ao nos afastarmos de uma fonte sonora, a sua intensidade irá diminuindo.
Portanto, em casos como este, é muito interessante empregar-se os microfones
a condensador que, por serem mais sensíveis, evitarão que se tenha que abrir
muito o ganho como aconteceria com microfones dinâmicos comuns,
aumentando a chance de microfonia.

Microfones Tipo Condensador

Estes microfones tipo condensador precisam de uma fonte de corrente contínua


externa (tipicamente 48 volts) para energizar a sua cápsula estando assim
prontos a reproduzir com alta sensibilidade o som que sobre ela incidir. Eles não
dependem somente da intensidade do som para que o reproduzam como no
caso dos microfones dinâmicos. É comum os fabricantes de mesas de som
oferecerem este recurso de 48volts ou Phantom Power nas suas mesas. Esta
corrente de alimentação chega aos microfones pelo próprio cabo balanceado.

Linearidade

Por fim um último dado a ser observado na aquisição dos microfones. Observe
sempre o gráfico de linearidade de resposta do microfone (figura acima). Este
deve ser o mais linear, horizontal e uniforme possível, demonstrando que o
microfone reproduzirá por igual todas as freqüências que captar.

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Parte IV

Não analisamos todos os tipos (e.g. microfone de fita, de tubo, bidirecional,


PZM, PCC) mas, sim, as técnicas básicas para os microfones mais utilizados em
sonorização, considerando o público alvo que opera o som de igrejas,. Sem
dúvida, encontraremos nos shows e programas de TV microfones que não foram
mencionados, porém, como o custo de alguns destes supera o valor médio das
mesas em muitas igrejas, estes foram desconsiderados. Vale, ainda, a máxima
de que Quem entende bem e domina a teoria para fazer bem feito com poucos
recursos, terá pouca dificuldade em se adaptar quando lhe vierem às mãos
recursos melhores, enquanto que o inverso não se aplica àqueles que nunca
tiveram que "se virar".

Dicas de microfonação

- O número ideal de microfones seria um (estéreo), portanto, use sempre o


mínimo necessário para manter o som captado limpo e com um mínimo de
distorções por cancelamento (proveniente dos vazamentos captados quando se
utiliza múltiplos microfones).

- Aproxime o microfone sempre o máximo possível de sua fonte sonora. Além de


ajudar a minimizar os vazamentos de outros sons, você estará fornecendo um
sinal mais forte à sua mesa de som. Entenda-se que esta técnica é válida a
partir do momento que se trabalha com bons microfones e mesas, que
suportem, sem distorção, a energia acústica gerada pelas fonte sonoras.

- Somente os melhores microfones sem fio conseguem se aproximar da


qualidade e confiabilidade dos microfones com cabos. Restrinja a utilização dos
sem fio àqueles para quem a mobilidade é imprescindível!

- Por ser o microfone o primeiro elemento na cadeia de sonorização, o seu


correto posicionamento é de máxima importância, pois o que não se captar
nesta fase jamais será recuperado. Já dei a dica de se monitorar com fones de
ouvido ao posicionar um microfone, mas eu gostaria de terminar com sugestões
de posicionamento dos microfones. A posição ideal variará conforme o modelo
do microfone e as características de cada fonte sonora, assim, as posições
abaixo servem apenas como ponto de partida a ser confirmado pelo seu ouvido!

Posicionamento

Preletor (em púlpito) - Ângulo de 45o minimizando reflexos da superfície do


púlpito e os "puffs".

Cantores - mesmo ângulo que o acima. Cuidado com o posicionamento das


caixas de retorno que devem estar alinhados com o ângulo de mínima captação
dos microfones direcionais.

Coral - A colocação destes microfones pode ou não ser beneficiada pela acústica
do local. Se não houver perigo de se captar caixas de retorno e instrumentos,
Profª Graziela Pires
Raios de Sol – Escola de música
Apostila de Teoria Aplicada de Técnica Vocal para nível básico

etc., uma colocação mais distante (tipo X/Y) dos microfones captará mais a
mescla das vozes. Caso seja necessário aproximar mais os mics, angule-os como
uma ducha a 45 cm acima da cabeça da última fileira (normalmente, a mais
elevada) e a 45 cm à frente da primeira.

Violão - Se tiver bom captador, use. Senão, mire o mic para captar o som do
dedilhado, evitando pegar em cheio os graves que provém do furo no tampo. Se
for tipo lapela, fixe-o ao furo no tampo.

Flauta - Mire o microfone no corpo da flauta entre o bocal e a posição dos dedos.
Cuidado para não captar o sopro do músico. Se isto ocorrer experimente
alterando o ângulo de posicionamento para evitar este ruído.

Piano de Armário - Abra a tampa e coloque um microfone direcional na lateral


das notas mais agudas para que enxergue estas cordas, e angulado para que o
seu eixo de captação caia no centro da caixa (corte um pouco os médios na
equalização do canal). Se dispuser de dois mics, coloque-os atrás da tábua de
ressonância um captando os médios e agudos e outro os médios e graves.

Piano de Cauda - Por baixo da tampa aberta, busque captar o som mais
completo (o máximo de notas). Se dispuser de dois mics separe um para
agudos/médios e outro para médios/graves.

Saxofone - Embora tenha se popularizado ver artistas com um pequeno mic


dentro da campana do instrumento, uma angulação que capte também o som
proveniente do corpo do mesmo dará um som mais cheio e suave.

Bateria - Embora bem audível, vale a pena microfonar para gravações e para
que todos os sons cheguem ao mesmo tempo nos ouvidos da congregação. Siga
a seqüência: Dois mics superiores a cada lado da bateria. Com 3, microfone
também o bumbo; com 4, o ximbau; com 5 a caixa.
Guitarra e Contrabaixo - Para reduzir o número de mics abertos recomendo a
utilização de direct box se existem problemas já com microfonia no ambiente.
Trabalhando-se com bons instrumentos e boa equalização na mesa, há como se
conseguir bons resultados sonoros sem precisar se adicionar microfones. Se a
captação do amplificador de palco for essencial por gerar uma distorção ou
timbre desejado, ou se problemas elétricos gerarem ruídos não elimináveis no
direct box, então use um microfone experimentando com a posição até achar o
melhor som. Observe que, via de regra, este melhor som não vai acontecer
colocando-se um microfone de voz à frente do amplificador mas sim um
microfone com características mais lineares destinado à captação de
instrumentos.

Profª Graziela Pires


Raios de Sol – Escola de música
Apostila de Teoria Aplicada de Técnica Vocal para nível básico

Profª Graziela Pires

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