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Figura 1. Mapa do Distrito de Braga, Portugal de onde veio o clã Ferreira Lima.
É muito importante saber a origem dos nomes, pois estes indicam a influencia,
a função, a nobreza, a posição sócio-econômica de seus descendentes e até a região
de origem.
O clã Ferreira era uma família nobre, das mais antigas, cujas origens não são
ainda bem conhecidas. Parece ser de origem castelhana e o seu solar a vila de
Ferreira, no reino de Castela, hoje chamada Herrera de Rubisverga, na entrada da
terra de campos.
A pessoa mais antiga com esse sobrenome, segundo os genealogistas, é Dom
Álvaro Rodrigues Ferreira, que viveu por volta do ano de 1170 no Reino de Leão, um
dos reinos medievais nos quais era dividida a área hoje ocupada pela Espanha. Dom
Álvaro teve três filhos: Rodrigo Álvares Ferreira, Fernando Álvares Ferreira e Teresa
Álvares Ferreira, sendo que esta última casou-se com Dom Sancho Nunes de
Barbosa. Observe que a palavra "Álvares" que aparece no nome dos filhos,
provavelmente provém da expressão "filho de Álvaro", não sendo, portanto, um
sobrenome herdado da mãe. Dom Fernando viveu em Portugal, no Paço de Ferreira,
situado no conselho de Aguiar e Souza. De seus filhos provém os Ferreiras de
Portugal (RODOVID, 2009). Então, pode-se afirmar que os Ferreira migraram da
Espanha para Portugal em épocas muito remotas, 300 anos antes do descobrimento
do Brasil (Figura 2, I e II).
(II)
(I) Os Ferreiras trazem as dos Herreras de
Figura 2. Os Ferreiras usam em Portugal, Espanha, que são: de vermelho, com
as seguintes armas: de vermelho com duas caldeiras de ouro, uma sobre a
quatro faixas de ouro. Timbre: um outra; bordadura cosida de vermelho,
avestruz, com uma ferradura de ouro no carregada de doze caldeiras.
bico.
Será que família Ferreira Lima veio do distrito de Braga do verde e fértil Vale do
Cavado, norte de Portugal? Por que esses colonizadores vieram dessa importante
região de Portugal e com bravura adentraram aos sertões semi-áridos se aventurando
pelas trilhas e veredas, tendo que enfrentar a fúria e resistência das tribos indígenas
que ocupavam há tanto tempo essas terras? É importante investigar a história dos
“Ferreira Lima” que povoaram a sesmaria Monte Alegre e que deram origem as
famílias que habitam até hoje os sítios Cajazeiras, Gangorra, Recanto, Malhada
Grande, Vacaria, Gabriel, Coroatá, Fortuna, Guarani, Moça, Pau D’Arco e diversas
regiões do Brasil e do mundo. Quem são eles? Por que chegaram ao Monte Alegre em
uma época tão remota, quando o Brasil ainda era uma simples colônia de Portugal?
Qual é a sua árvore genealógica? (Tabela 1).
É importante ressaltar, que nem tudo era tão árido nas terras que serpenteiam
os riachos: Verde, Ursa, Porcos e Fortuna. Havia um vale fértil e verde com
abundantes pastagens nativas, onde o capim mimoso brotava na época das primeiras
chuvas de novembro e dezembro, então a rama vicejante e verde recobria de
folhagem a caatinga. Era uma terra propicia para o criatório extensivo de gado, mesmo
havendo a possibilidade de saques dos silvícolas da região e do ataque das onças
pardas e pintadas que rosnavam nas madrugadas, rodeando os curais de pau-a-pique,
especialmente, onde jaziam os bezerros apartados a noite do plantel leiteiro.
Quem primeiro chegou a essa região? Qual foi o ano mais ou menos? Não se
sabe com precisão, no entanto, segundo depoimento de Antonio Ferreira Lima,
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(N – Nascimento; F - Falecimento).
Essas e outras regalias, como o direito ao divórcio, eram permitidas aos judeus
mediantes o pagamento ao rei de determinados impostos (SARAIVA, 1985). Até os
fins do século XV, os judeus estavam integrados à sociedade lusitana, além disso,
vale ressaltar que os mesmos ocupavam altos cargos na política e tinham grande
destaque como comerciantes, artesãos e até como navegadores.
No entanto, a coexistência do judaísmo com o catolicismo, ou seja, dos judeus
com os cristãos em solo português mudaria drasticamente em fins do ano de 1496,
com o decreto de expulsão dos judeus assinado pelo rei D. Manuel. Portugal, desta
forma, cedia às pressões da Espanha que já havia feito o mesmo em 1492 – quando
muitos dos judeus que lá habitavam migraram para Portugal.
Cedendo as pressões dos Reis Católicos em troca do casamento com a filha
destes, mas consciente da importância da comunidade judaica para o reino português,
D. Manuel tomou medidas para evitar a fuga em massa da comunidade judaica.
Primeiro deu um prazo longo de dez meses para os judeus deixarem Portugal, a
Espanha havia dado quatro meses quando o fizera, isentou por 20 anos de qualquer
perseguição religiosa, assim aqueles que se convertessem ao cristianismo não seriam
investigados de práticas da velha fé, e por fim, no dia marcado para os judeus
deixarem Portugal, proibiu o embarque e os obrigou a converterem-se ao catolicismo
(SARAIVA, 1985).
Conseqüentemente, nasciam neste país a partir desse momento os cristão-
novos, judeus convertidos à religião oficial do reino. Conjuntamente, passavam a
existir em Portugal diferentes categorias de cristãos: os cristão-novos (os convertidos),
judeus e muçulmanos (estes mais conhecidos como mouriscos) e os cristão-velhos, de
ascendência reconhecidamente cristã. Os cristãos novos foram também, apelidados
pelos espanhóis, seus ferrenhos adversários de marranos, ou "porcos", demonstrando
não somente o sentido ofensivo do termo, mas o antisemitismo que logo se espalhou
pela Peninsula Ibérica para designar os seguidores de Moisés.
Deste modo, o decreto de expulsão dos judeus acabou sendo substituído pela
conversão forçada ao catolicismo. A partir de então os cristão-novos passaram a
serem herdeiros diretos dos preconceitos e das perseguições antes destinados aos
judeus (MONTEIRO, 2007).
Posteriormente, com a introdução da Inquisição, outra das condições impostas
pelos Reis Católicos para o segundo casamento de Rei D. Manuel com Maria de
Castela, a perseguição assumiu contornos mais metódicos e crueis, com confissões
obtidas sob tortura, e os auto de fé para aqueles que fossem descobertos a professar
a fé mosaica em segredo (WIKIPÉDIA, 2009).
Persiguidos como lebres pelos espanhois e portugues, o resultado foi o êxodo
da comunidade judaica, para outros países da Europa ou do Novo Mundo que se
descortinava com grandes extensões teritoriais e possibilidade de liberdade dos
algozes inquisidores. Portugal viu igualmente desaparecer uma grande quantidade da
sua comunidade científica, médica, cultural e empresarial, que como em muitos outros
países, teve um papel dinamizador no desenvolvimento. Dessa expulsão beneficiaram
as regiões da Europa que acolheram os judeus portugueses, como a Holanda ou a
Flandres.
É importante salientar que a perseguição aos cristãos-novos continuou no
Brasil, durante todo período da colonização portuguesa, época do Império e por muito
tempo durante a Primeira Répública. A Revolução Liberal, e a extinção da Inquisição,
a 31 de Março de 1821, ou mesmo o reconheciemnto oficial da Primeira República da
liberdade de culto não altera a vida isolada das cada vez menos comunidades de
Marranos da Beira Interior, tal como não teve impacto visível o estabelecimento de
uma comunidade judaica pública desde os anos de 1810. Atualmente no Brasil
algumas comunidades de marranos resistiram as perseguições e ao tempo como a
Comunidade de Belmonte e algumas famílias na região da Covilhã. Nos anos de 1910,
são "descobertos" e tornados públicos pelo Capitão Barros Basto, ele próprio um
marrano convertido, nos anos 1920 (WIPÉDIA, 2009).
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A família Ferreira Lima da sesmaria Monte Alegre, Várzea Alegre, Ceará, tem
como ancestral segundo depoimento de Lourenço Ferreira Lima o português Capitão
Agostinho Duarte Pinheiro que juntamente com o seu irmão o Alferes Bernardo Duarte
Pinheiro, foram beneficiados com umas datas (sesmarias), as margens do Riacho do
Machado, na época, conhecido por Riacho do Coroatá em 23 de fevereiro de 1718. O
Capitão Agostinho, abalado por problemas familiares, resolveu doar sua parte na
propriedade aos seus filhos e retornou a Portugal, enquanto o seu irmão Bernardo
fixou residência definitivamente em Várzea Alegre, onde construiu sua casa no sítio
Lagoas. Ainda de acordo com o depoente para conseguir as sesmarias, os irmãos
mudaram os seus sobrenomes de Duarte Pinheiro para Ferreira Lima, família nobre de
Portugal, a fim de esconder a sua verdadeira identidade como marrano, evitando as
especulações e perseguições que eram infligidas aos descendentes de judeus. No
entanto, essa hipótese parecer não ter muita sustentação devido ao fato Agostinho
Duarte Pinheiro (Brandão), ter nascido na freguesia de Santa Eulália, conselho de
Paços de Ferreira, Porto, Portugal. Casou-se com Romana Xavier de Carvalho, natural
de Pernambuco e como capitão gozava de privilégios não concedidos aos judeus
como o direito a aquisição através de doação de sesmarias e o exercício de alto cargo
militar. Seus filhos foram: Jerônima (1741); André (1742); Joana da Silva dos Santos
(1745) X José Felipe Coelho; Antônio Duarte Brandão (1747); Teresa (1756); Manoel
(1759); Agostinho da Silva; Francisco Duarte Alves Pinheiro (mãe desconhecida) X
Maurícia Moreira de Carvalho; Francisco Duarte Alves Pinheiro casou-se com Maurícia
Moreira de Carvalho (CORREIA LIMA, 2009).
Outra hipótese sustentada por Antonio Ferreira Lima é que a família Ferreira
Lima, veio da Paraíba e eram descendentes de judeus ou cristãos novos e que
usaram esse nome para despistar as origens judaicas, a fim de escaparem da
ferrenha perseguição que ocorreu em 1729, quando na ocasião o Inquisidor do Santo
Ofício Antonio Borges da Fonseca, e o governador do Ceará, Antonio Vitorino Borges
Fonseca encontram nos Engenhos da Paraíba dezenas de famílias que praticavam
acintosamente o judaísmo, sendo levadas ao tribunal da inquisição em Lisboa (Leal,
1980).
Bernardo nasceu na freguesia de Santa Eulália, conselho de Paços de Ferreira,
distrito do Porto, Portugal. Casou-se com Ana Maria Bezerra, nascida em Santo Antão
da Mata ou Tracunhaém, Pernambuco, filha de Antônio Bezerra do Vale e de Maria
Álvares de Medeiros. Bernardo faleceu em 20/11/1768, na fazenda das Alagoas,
ribeiro do riacho do Machado, Várzea Alegre, Ceará, em 23/11/1768 foi rezada missa
na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Expectação do Icó, esmolado por sua mulher,
Ana Maria, em intenção de sua alma.
São descendentes diretos do capitão Bernardo Duarte Pinheiro grande parte da
população de Várzea Alegre: Francisco Duarte Pinheiro (ou Bezerra), Raimundo
Duarte Bezerra (Papai Raimundo), José Raimundo Duarte de Meneses (José
Raimundo do Sanharol); Maria Anacleta de Menezes casada com Antonio de Brito
Correia, filho de Antonio Correia de Brito; Tereza Anacleta de Menezes (Tetê) casou-
se Joaquim Alves de Morais, filho de Gabriel de Morais Rego e de “Mãe Dona”, da
Fazenda Timbaúba, nos Inhamuns (MORAIS & COSTA, 1995).
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um dos componentes proferiu essa concisa e significativa frase: Mas que Várzea
Alegre! Sendo sugerida a escolha do nome da fazenda (MORAIS, 2009).
As terras adquiridas por José Ferreira extremavam a leste com as referidas
datas cedidas aos irmãos portugueses Capitão Agostinho Duarte Pinheiro e ao Alferes
Bernardo Duarte Pinheiro, tendo como referencia de divisa, o ponto mais alto da serra
da Vaca Morta. Segundo o depoimento de Antonio Ferreira a propriedade do Cipó ou
Riacho da Ursa, atualmente Monte Alegre, tinha a extensão de uma légua e meia (1
légua = 6,0 km) por uma légua e meia de mata virgem. As dimensões dessa sesmaria
compreendiam os sítios Monte Alegre, Cajazeiras, Gangorra, Betânia, Salão,
Queimadas, Moça, Malhada Grande e a Vacaria.
José Ferreira chegou a fazenda Monte Alegre 1801, nesse mesmo ano nasceu
um dos seus filhos, Raimundo Ferreira Lima que posteriormente assumiria as
atividades desenvolvidas pelo seu antecessor de forma bem sucedida.
A partir de 1808 com chegada da Família Real, o Brasil passou por muitas
transformações, saindo da posição de uma simples colônia e se tornando uma grande
nação unificada através de D. João VI. As principais mudanças de forma sintetizada
foram: A transferência da Corte portuguesa para o Brasil e a abertura dos portos
brasileiros às nações amigas (1808); a assinatura dos tratados de comércio com a
Inglaterra (1810); a elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal e Algarves (1815); a
repressão militar à Revolta Pernambucana (1817); o retorno da família real a Portugal
(1821); o reconhecimento da independência política do Brasil (1825), proclamada em
1822, por seu filho, D. Pedro I (COTRIM, 2009).
Dom João VI ao chegar ao Brasil trouxe toda sua máquina burocrática e
precisava manter a ostentação e o conforto que lhe era peculiar em Lisboa, portanto,
era necessário conquistar os súditos, manter apóio político, aumentar as receitas, para
isso não teve parcimônia na distribuição de títulos de nobreza, cartas de sesmarias,
cargos na máquina burocrática e outras mercês para os ricos nativos, principalmente
os poderosos comerciantes residentes no Rio de Janeiro, mas também de São Paulo
e Minas Gerais e em outras províncias brasileiras (JORNAL DO COMÉRCIO, 2008). É
provável que, durante este período José Ferreira Lima obtivesse o título de capitão
ajudante.
Há indícios históricos e testemunhais de que José Ferreira Lima, ou algum dos
seus parentes muito próximos e com a mesma alcunha, tenha prestado relevantes
serviços a vila de Icó, durante o período de 1820 a 1824, pois segundo FERREIRA
(2009), este assumiu a patente de capitão ajudante, tendo 30 homens disponíveis,
armados de bacamarte prontos para escoltar autoridades em suas viagens, ou para
dispersar índios e capturar negros fugitivos, numa época vergonhosa em que a
escravidão era oficializada e mão de obra para a lavoura era escassa.
Em 20 de janeiro de 1824, quando o tenente-coronel Tristão Gonçalves de
Alencar marchava com suas tropas de Crato em direção a Fortaleza, na época que
irrompeu a revolução republicana conhecida como a Confederação do Equador,
recebe o apóio da vereança de Icó e nessa reunião são nomeados os oficiais que
seguiriam os revoltosos até Aracati, os sargentos-mores Manoel Rodrigues de Moura
César, Francisco de Paula Martins e o capitão ajudante José Ferreira Lima.
A Confederação do Equador foi um movimento político de caráter
emancipacionista e republicano, ou mais certamente autonomista, ocorrido em 1824
no Nordeste do Brasil e que representou a principal reação contra a tendência
absolutista e a política centralizadora do governo de D. Pedro I (1822-1831),
esboçadas na Carta Outorgada em 1824, a primeira Constituição do país (WIKIPÉDIA,
2009c). No entanto, o movimento foi fortemente reprimido pelas forças legaistas do
imperio e alguns foram condenados a morte por ordem do imperador Pedro I.
O nome do capitão ajudante José Ferreira Lima aparece juntamente com o do
tenente-coronel Tristão Gonçalves de Alencar Araripe, do capitão José Pacheco de
Medeiros, do tenente-coronel José Ferreira de Azevedo e do sargento-mor Francisco
Ferreira de Souza, convocados pelo Exmo. Senhor Governador das Armas da
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madrugada! Souza foi bem servido com todas as iguarias e bebidas alcoólicas. No
entanto, Sr. Raimundo havia feito o casamento de Souza no papel com a Bicota.
Quando a festa acabou o casal se recolheu aos seus aposentos num quarto do grande
casarão. O casal teve uma bela noite de carícias e afagos, dormiram até mais tarde.
Mas que surpresa desagradável teve o noivo quando viu pela manhã, que não era a
sua amada, mas sim a Bicota! Ele ficou muito chateado, chamou o Sr. Raimundo lhe
perguntou:
Por que o Senhor me enganou colocando em meu quarto a Bicota? O Sr.
Raimundo lhe respondeu:
É porque a Bicota é a mais velha e ela precisava se casar primeiro, senão ia
ficar no caritó! Então, Souza resmungou:
Vou embora e nunca mais boto meus pés aqui! O Senhor não é homem de
palavra! Raimundo Ferreira estremeceu e retrucou:
Se você for embora e deixar a Bicota, morre seu cabra! Agora preste atenção!
Bicota é uma moça rica, já tem pra mais de 70 reses, então você fica trabalhando para
você mesmo aqui na fazenda e eu ainda lhe ajudo lhe oferecendo a mão-de-obra que
você precisar para tocar suas roças.
Topa! O Souza pensou! Pensou!
E disse topo! E não se fala mais no assunto! O casal teve muitos filhos. Um dos
seus filhos chamava-se Luiz de Souza, este foi embora para Humaitá perto de
Fortaleza e nunca mais voltou.
Essa é uma prova contundente que Raimundo Ferreira era de origem marrana.
Onde ouviu este homem analfabeto a cerca da história de Labão e Jacó para proceder
dessa maneira arbitrário com o Souza, numa época em que ao leigo era proibido ler a
Bíblia Sagrada e a maioria das missas era celebrada em latim? Sem dúvida ele
recebeu esse conhecimento através de seus antecessores que eram criptojudeus.
O texto bíblico diz que:
Jacó amava Raquel por isso se dispôs a trabalhar sete anos para Labão a fim
de pagar-lhe o dote que lhe era devido.
Raquel era formosa de porte e de semblante, mas os olhos de Léia sua irmã
eram fracos.
Após sete anos de árdua labuta Jacó disse a Labão:
Dá-me a minha mulher, porque o tempo está cumprido para que receba por
esposa.
E Labão reuniu todos os homens daquele lugar, e fez uma festa.
A noite ele tomou a sua filha Léia, e a trouxe a ele para possuí-la.
Mas de manhã, viu-se que era Léia.
Então ele disse a Labão: Que me fizeste! Não te servi por Raquel? Por que,
então, me enganaste?
Então disse Labão:
Neste lugar, não é costume de se dar a mais nova antes da mais velha. Passa
a semana com está, então te darei a outra, pelo serviço em minha casa que me
prestarás durante sete anos.
E Jacó fez assim e passou a semana com esta. E Labão lhe deu a sua filha
Raquel como mulher (GÊNESIS 29: 16-28).
Quando o tráfico de escravos foi proibido por pressão da Inglaterra, os navios
negreiros passaram a ser perseguidos, nesse tempo houve valorização de negros no
mercado interno. O Ceará foi o primeiro estado brasileiro a libertar os escravos, nesta
ocasião o Sr. Raimundo aproveitou a oportunidade e vendeu os seus escravos para o
Rio de Janeiro por um preço de 100 mil cada. As negras não foram vendidas dizem
que seu Raimundo as tratava muito bem. Uma das escravas chamada Tomázia, viveu
96 anos, Senhor Antonio Ferreira (Antonio de Aniceto) dizia que as suas irmãs Maria e
Carolina, chegaram a vê-la ainda com vida.
O governo brasileiro foi durante muito tempo pressionado pela Inglaterra para
acabar com o tráfico de escravos africanos, a demora para cumprimento da lei estava
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Durante a seca de 1877 segundo Antonio de Aniceto, seu avô materno José
Higino Pereira enterrou na Vacaria, 70 pessoas que foram vitimadas pela fome e
demais epidemias. Os locais onde foram enterradas essas pessoas durante o longo
período da seca foram: 40 atrás da casa de seu Higino, próximo ao local onde mora
atualmente, Chico Higino. Quatorze pessoas foram enterradas na Teresa Cega, cujo
local era próximo da grota que dividia o sítio de laranja dos irmãos Antonio e Victor,
tendo com referencia o pé de oiticica do riacho Fortuna. Da família de Manoel Lopes
foram enterradas 6 pessoas debaixo do pé de tamarindo, próximo a casa de Gonzaga.
D Pedro disse que daria a sua própria coroa para salvar os nordestinos da
fome, mas os recursos não chegavam ao interior, ou quando chegavam eram tarde
demais. Manoel Higino e o Velho Neném foram a Fortaleza atrás de ajuda do governo
federal, partiram com uma tropa de burros e viajaram muitos dias pelos sertões
escaldantes. A viagem era perigosa havia riscos de saque, portanto foi na sua
companhia um cangaceiro armado com um bacamarte. No caminho um cabra veio
para saquear, pois a fome era grande, para assustá-lo foi necessário disparar o
bacamarte no chão aí o cabra viu que não tinha chance e desistiu de seu intento.
Naquela época muitos animais morreram de fome, até o gadinho de leite teve
que ser consumido. Martins Ferreira ainda salvou uma vaca leiteira, mas um dia ela
sumiu, ele a encontrou em uma grota sendo esfolada pelos famintos, aí ele voltou sem
dizer um aí, senão morria.
Higino Pereira e Martins escaparam da seca porque eram os mais abastados
da região, no entanto a situação foi muito difícil naquela época, inclusive chegaram a
perder quase todos os seus animais vitimados pela fome. O que salvou as duas
famílias da fome foi as vazantes de batata doce e as raízes de maniçoba plantadas
para extração de látex.
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Higino José Pereira era filho de Camilo Pereira, nasceu na Vacaria em 1853,
casou-se com Maria Teresa de Jesus. Sr. Higino Pereira possuía pouca terra, 320
braças com uma légua de fundos, cujos limites no sentido Oeste-Leste eram do riacho
Fortuna ao Pau d´Arco.
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Também, não vendo a quem não tem bode! Naquela época bode era mata nos
quintais das fazendas.
Higino José Pereira era um homem pacífico e trabalhador, mas não tolerava
desaforos. Mas um dia ele encontrou o que não queria, ou seja, certo sujeito chamado
Manoel de Brito, cabra desaforado que dava surra em gente e gostava de arruaças.
Esse encontro foi depois de uma missa em Cariutaba, Manoel Brito pegou nas rédeas
do animal de seu Higino e disse:
Você sabia que quem manda aqui é eu? Se prepare que qualquer dia desses,
você vai levar uma surra!
Naquele momento o sangue ferveu na cabeça de seu Higino, mas ele não
queria briga, especialmente depois de uma missa. Mas voltou com um nó bem grande
atravessado na garganta e nem quis comer. Naquele mesmo dia, foi atrás de um
valentão chamado Caetano e lhe ofereceu 2 mil reis para dar uma surra grande no
cabra Manoel de Brito.
Manoel de Brito tinha uma lavra de fumo situada na vazante do riacho Fortuna
e estava ansioso para vender as mudas de seu canteiro. Sr. Higino pediu ao
cangaceiro que conversasse com o referido “cabra” que queria comprar umas plantas.
Assim foi combinado para levaram o sujeito até a beira do riacho, a surra seria ali
mesmo. Dito e feito, Manoel de Brito se prontificou ir até a vazante e Higino seguiria o
desaforado por detrás das moitas de mufumbo.
Ao chegar ao local combinado, o cangaceiro disse:
Prepara-se para apanhar, cabra ruim! Tu nunca mais vai insultar homem
nenhum!
Manoel deu uma risada e um pulo para trás e arrastou a peixeira. Nesse
instante seu Higino surge de entre os arbustos com um cacete na mão, a luta começa
o cabra lutou desesperadamente contra os dois, mas quando o Sr. Higino tentava
tomar a faca, na puxada súbita ele perdeu o dedo. A luta não acabou o cacete caiu e o
Manoel de Brito tomba, agora eles conseguem tomar a faca, o cabra está sem muita
força. Então decidem matar o homem, com medo de uma posterior vingança.
Cravaram-lhe duas facadas, mas por sorte penetrou apenas entre as costelas, Manoel
ainda consegui se esquivar e fingiu que estava morto. Os dois se levantam e fugiram,
mas felizmente seu Higino não se tornou naquele dia um assassino. No entanto,
Manoel de Brito, nunca mais pode brigar ou insultar qualquer homem depois dessa
surra, pois ficou meio aleijado.
Manoel de Brito era cabra de Adriano de Agostinho que não deixou por menos
queria botar o Sr. Higino na cadeia a qualquer custo. Deu parte na delegacia em São
Mateus. A coisa ficou feia! Era para prender Higino de qualquer jeito. E agora!
O senhor Higino tinha um amigo apelidado de Neném, era político e tinha muita
influência em São Mateus. Naquele tempo a policia vestia uma farda preta andava a
pé não podia usar arma de fogo para capturar presos, tinha que pegar o cabra pelo
braço. Se matasse alguém ia para a forca. Então Higino foi pedir uma orientação ao
seu amigo Neném para não ser preso. Foi aí que ele aconselhou:
Higino não se entregue a polícia, nunca! Você passe a andar com uma
espingarda carregada e um facão na cintura!
Toda vez que a polícia chegar a sua casa e lhe der ordem de prisão, você
aponte a arma e diga:
Arreda se não eu toro na bala!
E assim aconteceu por diversas vezes. E Higino Pereira foi escapando da
prisão. Mas, Adriano era impertinente não deixava de atiçar a polícia de São Mateus,
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aí foi que Higino resolveu acabar com essa história. Chamou um cabra pra botar uma
tocai no Adriano. Para tanto, armou-se de um bacamarte e de um facão. Ficou na tocai
atrás de uma moita, mirou a arma, mas quando enquadrou o sujeito na mira do
bacamarte, teve uma grande surpresa viu 25 Adrianos lado a lado. Baixou o cano,
mirou outra vez e a cena se repetiu.
Então, ele pensou:
Isso é um sinal, vamos embora! Naquele dia Deus colocou a mão naquela
arma para que Higino Pereira não se tornasse um assassino, porquanto ainda havia a
pena de morte.
Sr. Higino era um homem muito católico, essa briga foi uma armadilha do
capeta. Não era um homem de mau coração. Muito tempo depois do acontecido houve
uma grande seca no interior do Ceará. Manoel Brito estava morrendo de fome, sua
mulher desesperada foi aconselhada a pedir ajuda a senhor Higino. Então, ela meio
encabulada foi assim mesmo bater na porta de Higino. Tal foi a sua surpresa, ele
encheu uma carga de cereais do seu paiol e atendeu prontamente as necessidades de
seu antigo inimigo, a partir daí a encrenca acabou.
“Se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer. Se tiver sede, dá-lhe de beber.
Pois fazendo isso, amontoarás brasas sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer pelo
o mal, mas vence o mal com o bem” (ROMANOS 12. 20-21).
Aniceto Ferreira Lima nasceu no sítio Monte Alegre no dia 12 abril de 1873 e
faleceu 1943. Era filho de Martins Ferreira Lima e Carolina Ferreira Lima de São
Romão (Cedro). Seus irmãos foram Francisco Martins Ferreira Lima, Petrunilo Martins
Ferreira Lima, Raimundo Martins Ferreira Lima, Antonio Martins Ferreira Lima,
Joaquim Martins Ferreira Lima, José Martins Ferreira Lima, Manoel Martins Ferreira
Lima, Juliana Martins Ferreira Lima e Ingraça Martins Ferreira Lima.
Aniceto Ferreira Lima casou-se no ano de 1900, aos 27 anos de idade com
Joana Josefa Pereira, filha de Higino José Pereira e Maria Teresa de Jesus. Nesta
época, Joana Josefa Pereira tinha apenas 16 de idade, isto indica que ela nasceu no
de 1884. Joana Josefa Pereira faleceu em 1947, vítima de um câncer que começou na
região nasal. Os filhos do casal foram Higino Ferreira Lima, Antonio Ferreira Lima,
Victor Ferreira Lima, Brandina Ferreira Lima, Carolina Ferreira Lima, Josefa Ferreira
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Lima, Anorina Ferreira Lima, Marisa Ferreira Lima, Glória Ferreira Lima e Ginú Ferreira
Lima.
Aniceto Ferreira Lima usava bigode grande, tinha a pele clara, sobrancelhas
salientes, olhos firmes, pacato, de conversa mansa e calma. O seu bigode era o
principal distintivo, era às vezes untado com óleo e quando torcido poderia ser
colocado a trás das orelhas. Dizem que só depois de casado é que os homens deixam
à barba crescer. Também, o bigode servia até como assinatura de um documento de
compra ou venda, portanto, quando alguém fazia um negócio, a assinatura era feita
colando um cabelo do bigode ou da barba no documento.
Em 1896, quando Joana tinha 12 anos ela foi com os seus pais a Juazeiro do
Norte, conhecer o padre Cícero, nesta época a história da hóstia consagrada que se
tornava em sangue havia se espalhado por aquela região. Essa idéia era divulgada
pelo padre Cícero que tinha como colaboradora a Beata Maria de Araújo e atraiu a
visita de muitos devotos do interior do Ceará e de outras regiões do país. O bispo do
Crato amaldiçoou e o papa excomungou padre Cícero, mas o mito de semideus ainda
permanece forte no coração do sertanejo até os dias atuais.
O ALMANAQUE ABRIL (2002) resume dessa maneira o caso da transmutação
da hóstia em sangue:
No ano de 1872, chegava ao arraial de Juazeiro um padre jovem, de olhos e
pele claros, estatura pequena, atraído por um sonho. Seu nome — Cícero Romão
Batista, filho da vizinha cidade do Crato, que ao se ordenar um ano antes no
Seminário da Prainha, em Fortaleza, não imaginava rumo tão inesperado para sua
vida. Seus planos eram ensinar latim naquele mesmo seminário e residir na capital.
Mas um sonho ou visão, como ele classificou em carta ao bispo Dom Luiz onde
uma multidão de retirantes invadia a sala em que se instalara no arraial para passar a
noite, e aquele homem em vestes bíblicas, que apontava para a multidão e dizia:
"Tu, Cícero, toma conta dessa gente!". Após esta visão, levou-o a fazer uma
opção pelos pobres, vindo residir no pequeno arraial de Juazeiro.
Em 1877, em meio à calamitosa seca que ceifou muitas vidas, escrevia ele ao
bispo Dom Luiz:
"Eu nunca pensei ver tanta aflição e desespero junto”. Os cães saciam-se de
carne humana. Nos campos, nos caminhos, por toda parte é um cemitério.
Porém, em 1889, na primeira sexta-feira do mês de março um fato novo
mudaria a vida do arraial e de seu benfeitor, quando a hóstia transformou-se em
sangue na boca da beata Maria de Araújo, durante a missa celebrada pelo Padre
Cícero. O povo proclamou o milagre e, por conta disso, o padre foi suspenso de
Ordens, passando a sofrer toda sorte de humilhações, por acreditar na veracidade do
fenômeno.
Com isso, o povoado transformou-se, crescendo assustadoramente, acolhendo
centenas de visitantes que queriam ver de perto o milagre. Obstinado, Padre Cícero
lutou por sua reabilitação na Igreja. Mesmo absolvido em Roma, voltou a ser suspenso
pelo bispo de Fortaleza.
Diante dessa situação o Padre Cícero estreou oficialmente na política, como
primeiro prefeito de Juazeiro, em 1911; em 1912, foi eleito Vice-presidente do Estado,
e em 1914, participou da chamada Sedição de Juazeiro, quando o sacerdote entra
para a história como revolucionário.
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Timóteo foi um desses romeiros que veio do sul do país atraído por esse
milagre, queria ficar mais perto do Padre Cícero, portanto, vendeu tudo o que tinha e
adquiriu uma propriedade por 40 contos de reis no Cariri. No entanto, fez doação da
fazenda para o padre Cícero e ficou trabalhando na própria terra, como arrendatário
do “meu padrinho”.
Joaquim Timóteo um dos filhos desse Timóteo ficou muito injuriado e saiu pelo
meio do mundo a fora, só com seu patuá, chegou a Vacaria lá pelo ano de 1900,
construiu um barraco de lona, num alto dos Barrocões, numa das propriedades de
Chico Leandro. Morou por lá vários anos e fazia serviços de empreitada, portanto esse
local ainda é conhecido até o dia de hoje como o alto do Timóteo, em homenagem ao
romeiro desiludido. Padre Cícero que era um homem muito sábio e entendido na sua
época poderia ter aconselhado aquele pobre romeiro a ficar com a propriedade, por
que segundo ele era para ajudar os pobres. Aqui se repete a história de sempre,
“cobre-se um santo e descobre-se outro”.
Aniceto era um homem calmo, pacato e cheio de prosas. Gostava de dizer para
os filhos:
Quando vocês forem casar, não casem com mulher bonita, pois só diminui.
Casem com mulher feia porque que aumenta!!
Então os filhos perguntavam:
Papai aumenta o que nas mulheres feias.
Ele sorria e dizia:
A feiúra meus filhos! A feiúra meus filhos! Essa só faz aumentar com o tempo.
É o melhor rendimento que vocês poderão fazer.
E brincando olhava para Joana, piscava o olho para os visitantes e dizia
sorrindo:
Vejam a Joana o quanto já aumentou.
Agora vou lhes dizer:
A beleza só diminui com o tempo.
Deixando de lado as gozações, dizem que ele amava muito a Joana, foi um
casal que nunca discutiu. Joana era uma mulher muito ativa e trabalhadora, às vezes
sisuda e de poucas palavras, exatamente o contrário de Aniceto.
O segredo do evangelho
Questões de herança
Em 1930 foi feito o inventário de Higino José Pereira, para cada herdeiro tocou
apenas treze braças de terra e não dava para todos os seus filhos viverem juntos, por
conseguinte, houve acirradas disputas de terras questionadas por Camilo com o seu
cunhado Aniceto. Ele queria que Aniceto saísse do terreno que tinha sido herança de
sua esposa Joana.
Certo dia Aniceto, Higino e Silveirinha estava fazendo uma cerca dentro dos
limites de suas posses, quando, então apareceu José de Bilinha que tinha sido
enviado por Camilo com ordens expressas parar a construção da cerca.
Neste exato momento o sangue de Higino de Aniceto subiu dos pés a cabeça,
então ele partiu pra cima de José de Bilinha e os dois se abufelaram aos murros e
pontas-pé, aí foi àquela correria para a apartarem a briga, então, José e Higino foram
seguros como feras indomáveis. Higino ainda riscou Chico com a ponta da faca,
mesmo sendo seguro pelos companheiros. A partir desse episódio surgiu uma grande
encrenca entre a casa de Camilo e Aniceto.
A queixa de agressão contra Aniceto e seu filho, foi registrada em São Mateus.
Chico e Camilo mentiram no seu depoimento e omitiram a sua intromissão na questão
da terra.
Antonio Correia que morava em Cariutaba, genro de Aniceto era político e
pediu ajuda ao senhor Mário Leal de São Mateus para intermediar a questão. No
entanto, quando os fatos foram apurados, que o juiz percebeu que o sujeito havia
mentido desavergonhadamente, resolveu reverter o processo contra Camilo, mais
Aniceto que era um homem de bem, implorou para dar por encerrada a questão.
Aniceto disse:
Não! Ele é meu afilhado e cunhado, vamos fazer isso - acabar o processo e dar
por encerrada a questão.
O Juiz disse:
Nesse caso ele vai ter que pagar 60 mil réis, então Aniceto disse-lhe:
Pois bem, senhor Juiz, neste caso eu pago a metade e Camilo a outra metade
e damos por encerrada a questão.
Mas o problema continuou por mais tempo, pois Camilo estava sempre
boatando e até ameaçando Aniceto, dizendo que ia arrumar uns cangaceiros e atacar
a sua residência. A família, então sofreu com essas ameaças, portanto durante muitas
noites o senhor Antonio Higino, cunhado de Aniceto vinha fazer sentinela na sua
residência.
O tempo foi passando e Camilo resolveu fazer um acordo com Aniceto. Certo
dia Camilo atocaiou Aniceto se ajoelhou aos seus pés e lhe pediu perdão, disse que
queria fazer negócio com as terras e para confirmar o acordo iria chamar o senhor
Mário Leal e outros políticos de São Mateus.
Na reunião sob a liderança dos políticos de São Mateus na casa Aniceto, foi
proposto que uma das partes envolvidas no conflito comprasse a terra do outro, então
Camilo disse:
Eu vendo a minha terra.
Foi então dado um prazo até dezembro de 1931 para o pagamento da herança
de Camilo. Nesse tempo que fora estipulado, se Aniceto não arranjasse o dinheiro
para a compra das referidas terras, seria desmanchado o negócio. Aí Camilo ainda
acrescentou:
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Sim, ainda tem uma coisa, eu tenho uma casa muita boa na propriedade e ela
custa um conto de réis. Aniceto não tinha o dinheiro para comprar o terreno e a casa.
Mas como Higino seu filho gostava de guardar dinheiro, Joana olhou para ele e disse:
Compra meu filho a casa! E nós pagaremos o terreno. Higino concordou
prontamente com o pedido de sua querida mãe. Tudo então ficou acertado, no entanto
como conseguir todo dinheiro exigido por Camilo?
O ano de inverno (chuvas) de 1931 foi bom, Aniceto plantou o quanto pode e
fez uma boa colheita, vendeu então todo legume naquele ano, ficou sem nenhum
caroço para comer a fim de que pudesse cumprir o compromisso feito naquela
reunião.
I
Quando a brisa fresca e mansa,
Vasqueja ao sair do sol,
Pelas biqueiras da casa
Canta alegre o rouxinol!
Quem nunca passou pelo Seridó
e no Piancó,
Nunca viajou
Não saboreou.
O mel do Abreu.
Um desses nasceu
Em horas esquecidas
Passou pela vida,
Porém não viveu.
II
Quando chega o mês de agosto
Broca-se logo uma roça,
Toca-se fogo em setembro
Todos ficam na espera
Das trovoadas em dezembro.
Quando estamos todos na espera
De manhã olhamos para a atmosfera
De dia e de hora em hora
Parece que agora
Ouvi trovejar
Porque ouvi zoar
Parece que agora é chuva que vem.
III
Vê-se aquela escuridão,
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IV
Chove por exemplo hoje,
Eis o festim no agreste
Canta o sapo na lagoa
O passarinho no cipreste.
Ensaia primeiro o mestre cururu
Num turutu que é um desespero
Um ai o outro o outro oi,
Uma vai outro foi
A rã raspa a cuia
O sapo aleluia.
Até ver a hora que bota a qualhada.
IV
Os meninos quase nus
Fitando o nevoeiro
Esperando pela lua
Que vem atrás do roteiro.
Enrama primeiro
o pau pereiro
Assanha o cabrieiro
Catinga de porco
Demora aí um pouco
Por ser mais ronceiro.
Aniceto Ferreira era um homem pobre não tinha dinheiro e nem tempo para ir à
cidade comprar roupas. Foi aí que surgiu a idéia de montar um tear na sua própria
casa. Foi, então, que sua cunhada Simeana entrou como sócia no negócio. Era mulher
nova bem disposta e trabalhadeira. As suas sobrinhas Maria, Carolina, Anorina e Ginu,
entraram no negócio como ajudantes.
Vinha gente de todo lugar encomendar redes, lençóis e roupas. Tudo estava
indo as mil e umas maravilhas! Porém, nessa ocasião apareceu Manoel de Mandu, da
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Cajazeira que se engraçou pela filha de senhor Higino Pereira. Ele era contra o
namoro e o casamento porque o rapaz era de cor morena.
Manoel Mandu não teve outra escolha, chamou um filho de Chico Leandro e
Adriano para roubarem moça. Isso trouxe um grande desgosto para o senhor Higino
Pereira ele se intrigou com o seu genro e a filha. A intriga foi grande! O casal teve que
ir embora da vacaria para o Sítio São João no Quixará. Lá foram acolhidos por Antonio
de Souza, proprietário bem sucedido naquela região, casado com tia Aninha, Irmã de
Lousinha.
Quando senhor Higino, estava muito mal e acamado mandou chamar o genro e
a filha para perdoá-los, no entanto quando eles já estavam atravessando o riacho
Fortuna, o pobre velho deu ordem a morrer e faleceu sem ter o prazer de ver o genro e
a filha. Daí o provérbio que diz:
“Não deixes para manhã o que você pode fazer hoje”.
Vamos dar uma surrar naquele cabra para ele nunca mais fazer um negócio
desses.
Então, ele foi à noite ao Novo Barreiro (Betânia), município de Quixará e cercou
a casa de Raimundo Padre e gritou:
Viemos buscar hoje o rifle e o revólver de Petrunilo, ou devolve agora ou vai
levar uma surra. Raimundo Padre saiu tremendo de medo, implorou por sua vida e
pediu um prazo para ir ao Quixará comprar as armas exigidas. Então Chico consentiu,
mas deu um prazo até 9:00Hs da manhã. E ficou esperando no mesmo local.
Algumas pessoas do Quixará vieram até o local em que Chico estava para não
deixar acontecer algo pior. Mas Chico era bravo e irredutível. Na hora marcada
Raimundo Padre voltou trazendo apenas o rifle e pediu mais um prazo para entregar o
revólver. Com muita peleja ele deu o último prazo de 8 dias, mas a arma tinha que ser
entregue na sua casa. No prazo combinado a arma foi entregue e a questão esfriou.
Chico Padre era irmão de João do Recanto, parente de Higino Pereira.
A morte de Aniceto
BIBLIOGRAFIA
FERREIRA, D.C. de L.; LIMA, J.A.U de. Origem da família Lima. Disponível em:
<http://www.sitiodosrodeios.com.br/rodeios/familia/familialima.htm>. Acessado em: 18
de outubro de 2009.
MORAIS, P.A de, COSTA, A. L da. Várzea Alegre: Sete Gerações depois de Papai
Raimundo. Crato: Gráfica Universitária, 1995.