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O que é este material?

As narrações a seguir são parte de um material que tenho construído ao longo


das sessões de RPG, sistema GURPS, com ambientação na era hiboriana, aquela vivida
pelo famoso personagem Conan, o bárbaro. Em parte sigo o que é colocado no GURPS
Conan, bem como na história originalmente escrita por Robert E. Howard, o criador de
Conan e, por fim, em maior parte o que é posto nas histórias escritas por Roy Thomas,
na versão norte americana em quadrinhos.
A história surge logo após a sessão na qual a narro para os jogadores. A grande
maioria dos acontecimentos aqui descritos foram de fato vividos pelos personagens
interpretados pela galera que joga no grupo que participo como GM, uma coisa ou outra
é criação minha para ambientar um pouco mais o leitor futuro, no caso você.
Eu costumo dirigir a sessões a jogadores experientes de tal sorte que tenho
apenas um esboço bem parcial dos principais acontecimentos. Isso faz com que algo
extremamente inusitado, até mesmo para mim, possa vir a ser escrito. Nesta história
não costumam ter heróis sempre vitoriosos. Em muitos casos, eles morrem, são presos
ou simplesmente não são heróis. Isso faz parte do RPG.
Não sou nenhum expert em língua portuguesa e, portanto, não esperem
grandiosos textos, com palavras rebuscadas e descrições detalhadas. Tudo isso estaria
bem acima da minha reles habilidade de escrita.
O sistema que jogo, como citado anteriormente, é o GURPS 4ed, escolhido por
ser este um sistema supremo, perfeito e inigualável. Dizem que GURPS tem regra até
para cavar buraco. Que bom que sim! Estando preso em uma masmorra você poderá ter
que cavar um para sair. Melhor não deixar nas mãos de um mestre em um outro sistema
qualquer. Ele poderia dizer que só anões poderiam cavar buracos! Contudo, ler a história
independe do sistema, e brincadeiras à parte qualquer mestre pouco ou muito
experiente certamente a adaptará para o sistema que lhe fosse mais conveniente.
Tenho a grande sorte de jogar, em média, uma vez por semana com um grupo de
amigos, todos dragões anciões cujas identidades não podem ser reveladas. Aqui nós
dragões interpretamos personagens humanos até mesmo para sair da rotina. Seria mais
ou menos algo do tipo Masmorras&Humanos e afins...
O material é inteiramente aberto de modo que não há qualquer finalidade
comercial. Qualquer um estará aberto para fazer modificações, corrigindo erros de
português, de concordância, acrescentando descrições mais trabalhadas.
Sessão 1
Kizil Bezin
Nasceu mais um dia na decadente fortaleza de Kizil Bezin prostrada bem no meio do vasto
deserto da nação de Shem. Outrora imponente, vencedora de batalhas importantes, hoje apenas
agonizando enquanto seu fim não se concretiza. Ela está localizada no Triângulo Árido, deserto que faz
fronteira com Zamboula ao Sul, Turam ao Leste e os Reinos Kothianos a oeste e a norte. Cerca de duas
décadas atrás perdeu seu último grande líder Hebi Mali Kut um Shemita que a dirigia com mãos de ferro,
porém justas uma população de vinte mil Shemitas. Aos seus arredores se estendiam pequenas vilas que
forneciam grãos e alimentos em troca de proteção. Após sua morte por uma doença misteriosa, seu
primogênito Zhilan Kut assumiu o controle. Sua inexperiência em liderança fez com que a ordem local
começasse a cambalear como alguém com uma ferida não estancada. A fortaleza começou a decair, sofrer
saques dos próprios residentes que entregavam planos de defesa a quem pagasse bem. Não durou muito,
seu filho fora expulso do posto e largado no deserto para a morte certa.
Há muitos anos Kizil Bezzin carece de líderes tornando-se uma terra de ninguém. A falta de uma
figura forte para ditar as regras locais acabou por permitir infiltrações no poder e isso culminou em um
local sem leis ou autoridade. O último a tentar comandar a cidade foi Amir Salim, um mercador local. Mais
um a não obter sucesso, mas sim grande desgraça. Certa noite fora emboscado e morto. Mais uma clara
indicação que comandar aquele local seria praticamente impossível. Não é raro mulheres serem
violentadas, homens serem decapitados e crianças sumirem em plena luz do dia nas vielas do interior de
Kizil Bezin. O clima de instabilidade parece anunciar uma guerra civil ou até mesmo o fim deste local.

Heróis?
Os olhos e o pés da bela Selena seguiam dois fortes homens, um deles dotado de uma força
imensa segurando uma garrafa de vinho, portando uma espada presa às costas e um pesado elmo, o outro
dono de passos perigosamente cambaleantes. Estariam bêbados a esta hora da manhã? Eles berravam
enquanto se dirigiam para uma taverna local! Os interesses de Selena eram outros, a mando de seu
anfitrião, Bajur Salim, ela busca por alguns homens fortes para realizar uma missão.
As portas da taverna estavam abertas quando os guerreiros chegaram, mas só alguns poucos
bêbados ainda estavam por ali, alguns ainda acordados com a missão de acabar com toda bebida
existente, outros já tinham jogado a toalha, pelo menos até o anoitecer.
- Olá Adduk, a mesa que costumo usar está ocupada, vou lá dar uma coça no sujeito. Lembra da briga
que tivemos com aqueles cães turanianos bem ali? – Retrucou Ilaos, um aquilôniano de dois mais de dois
metros de altura apontando para a mesa sobre qual um bêbado imundo estava desmaiado. O
brutamontes lança o bêbado de lado e se senta.
- Eu, nada fiz de bom. Desde que cheguei aqui só tenho me metido em confusão, mesmo não a
procurando ela vem até mim. Esse local é amaldiçoado cheio de ladrões. Malditos saqueadores que
fizeram meu destino se cruzar com esta pocilga! – termina o guerreiro de olhar penetrantemente frios.
Selena vê um momento oportuno para uma abordagem enquanto escuta a conversa na mesa
bem ao lado dos dois. Sua presença esguia, ocultada por uma manta de lã negra, finamente trabalhada,
certamente não havia sido notada por aqueles homens, distraídos em uma interminável conversa sobre
feitos passados. Ela calcula que dois em cada três das histórias contadas eram apenas criação das suas
mentes em uma interminável disputa masculina. Quando pensa em se aproximar, ficando de frente para
os homens é atravessada por um garoto. Este mais rápido e, surgiu não se sabe de onde.
- Olá amigos, sou Kortanhagew, não pude deixar de notar a presença de vocês aqui na cidade. Vi um de
vocês a alguns dias na feira, mas não pude deixar meus afazeres de vendedor de poções para abordá-
lo. Posso perguntar-lhes uma coisa? – termina o afoito garoto, de olhar curioso e também amigável.
- Váa, fale logo, desembucha garoto, o que quer com nós? – esbraveja Ilaos equanto Adduk apenas
observa o mancebo.
- Vocês não são daqui não é? Pelas suas vestimentas devem ser do oeste de Shem ou da aquilônia, não
é mesmo? – questiona o jovem Kortanhagew ao mesmo tempo que puxa uma cadeira se senta-se junto
aos dois homens que conhecera a pouco.
- Estou surpreso com sua perspicácia garoto, realmente, eu sou Adduk e vim do oeste de Shem, e este é
Ilaos, vindo da aquilônia. Estamos presos aqui já faz alguns meses, desde que nossa caravana foi
saqueada! Alguns mortos, deixados para apodrecer no deserto, outros como nós escapamos para cá, e
outros tantos, certamente escravizados – falou o homem em tom de desabafo.
- Estou feliz de saber que realmente não são daqui. Eu e minha caravana também tivemos a infelicidade
de sermos atacados nestes desertos escaldantes. Alguns de nós conseguiu se abrigar aqui. Eu, Karlos e
Prim vendemos poções de cura. Eu fabrico e meus amigos as vendem no mercado. Pensam em sair daqui
quando? Gostaria de ir com vocês para fora deste local – termina o jovem.
Selena, escutou a apresentação do jovem garoto cuidadosamente para então retirar a manta que
cobrira seu rosto e se anunciar mostrando uma beleza rara naquelas terras. Os dois guerreiros na mesa
permanecem em silêncio enquanto a varrem com os olhos, o garoto de bochechas avermelhadas tenta
disfarçar.
- Olá rapazes, sou Selena. Desculpe escutar a conversa de vocês. Mas o fiz pois posso ajuda-los. Claro,
um favor por outro. Querem ouvir? – termina Selena ao se sentar, em uma cadeira prontamente
oferecida por Kortanhagew.
- Vamos mulher, desembucha. Espero que seus serviços não sejam caros. – esbraveja Ilaos, confundindo-
a com uma meretriz que se aproxima para oferecer seus serviços. Continua ele - pago-lhe cem moedas.
- Não meu caro touro de carga. Não sou... – já irritada, Selena é interrompida.
- Eu lhe dou 200 moedas, você parece valer isto. – fala Ilaos interrompendo a jovem.
Selena acena com a cabeça fazendo um sinal de reprovação. Agora Adduk entra na conversa disputando
com Ilaos. Os berros poderiam ser ouvidos a metros dali. Até que Ilaos oferece mil moedas e Adduk joga
a toalha. – Pra mim não dá mais, ou melhor, se eu juntar esse dinheiro, serei o último dela.
- Se acalmem jovens, vamos ouvir o que a moça tem a dizer – fala Kortanhagew com voz calma e olhar
focado no lindo corpo de Selena.

Bajur Salim, O Anfitrião


Os ânimos se acalmam, Selena respira fundo, espera alguns segundos para ter certeza de que
todos ali vão escutá-la. Contudo, ela decide ser mais objetiva em sua fala.
- Meu anfitrião, Bajur Salim, solicitou a mim que buscasse por homens fortes para a realização de uma
missão para ele. Acredito que pagará melhor que qualquer empregador explorador dessa fortaleza
miserável. Me sigam, vou leva-los até a morada.
- Haverá boa comida lá? Preciso comer algo bom, esses pães daqui são duros – após falar, Ilaos pega um
dos pães, duros como pedra, que pedira para o desjejum e o arremessa atingindo o pescoço do taverneiro.
Este ao receber a pancada fica sem ar por alguns instantes.
Adduk pega duas moedas e coloca sobre a mesa – acredito que isso pagará pelo pão e pela
bebida. Vamos sair logo desse local.
Os quatro partem, guiados por Selena, para a casa de Salim localizada em uma parte nobre da
fortaleza. Mas nem por isso mais calma. Os gritos de alguém clamando por socorro são ouvidos por todos,
mas igualmente ignorados, talvez entrar em uma briga não valeria tanto a pena. A mansão tem dois
andares e muros não tão altos. Um homem vem atender às finas batidas de Selena na porta.
Reconhecendo Selena ele abre a porta com um olhar de reverencia, direcionando-o em seguida paro o
chão. A visão bela contrasta com a decadência externa. Um belo jardim com uma fonte e ar leve os
transfere quase que de um plano deprimente para outro quase célico. Os gritos de socorro são apagados
pelo belo som do cair das águas. Ao fundo, um homem gordo de aparência levemente Shemita, com
vestimentas apenas nas partes inferiores acena para o grupo. Ele aguardada calmamente até que todos
se aproximem.
- Olá meus caros, vejo que Selena escolheu bem. Sou Bajur Salim, gostaria de tê-los para almoçar
comigo. – exclama o homem com um sorriso discreto.
O grupo segue o homem por sua bela casa. Ilaos repara todos os detalhes, estátuas, tapeçarias e
alguma prataria exposta, sua cobiça é notável. Duas estátuas de marfim representando tigres do deserto
se colocam, um de cada lado de um luxuoso sofá, ao fundo de um longo salão, onde repousa uma linda
jovem de longos cabelos negros, pele morena clara e olhos azuis. Ela apenas fita o grupo que que segue
Bajur.
- Aquela ali ao fundo da sala é Zuleika, viúva de meu irmão Amir Salim. Decidi acolhê-la após a trágica
dele morte e dada a amizade e admiração de longa data que tenho por ela. Vamos, a mesa já está posta
– fala o Salim enquanto alisa a gorda pança.
O evento da morte de Amir Salim é de conhecimento de todos presentes. Amir foi o último a
tentar tomar para si a responsabilidade da fortaleza de Kizil Bezin. Contudo, as inúmeras intrigas entre as
diversas facções que existem no local culminaram na sua morte. Na ocasião sua cabeça foi posta fincada
a uma lança em meio a praça principal. Adduk começa a se recordar das histórias que havia escutado nas
tavernas e bodegas que frequenta em Kizil Bezin e, em sua cabeça, imagina que Zuleika e Bajur podem
ter algo haver com a morte de Amir. Mas as conjecturas ficam apenas em sua mente, porém, acendendo
um alerta sobre a confiança naquele que o convidara para vossa morada.
Uma enorme mesa com frutas, grãos cozidos e muita carne estava preparada, mas não havia
outros convidados. Seria sempre assim as refeições daquele homem ou ele já os esperava? Ilaos é o
primeiro a sentar-se e começar a devorar tudo o que conbseguia. Os outros esperam que Bajur os
convidar.

A Empreita
- Olá meus caros, chamei-os aqui pois preciso de algo e acredito que vocês podem me ajudar. Pedi a
Selena que buscassem pessoas que não fossem nativas daqui. Não confio em ninguém desta maldita
fortaleza – diz Bajur ao acenar com a mão para que os presentes estavam livres para se servirem.
A comida era de muito boa qualidade e todos comeram até se fartar, Ilaos até quase explodir. Ao
fim do banquete o Salim os convida para o salão onde a bela Zuleika repousava, embora, agora a beleza
do local havia diminuído consideravelmente dada a falta da linda mulher. Salim esperou calmamente até
que todos se acomodassem. Como bom comerciante sabia ele que uma barriga cheira e um sofá luxuoso
poderia lhe render um bom desconto no valor cobrado pelo serviço que iria contratar.
- Para aqueles que não me conhecem, sou um comerciante local que fez alguma fortuna neste local a
algumas décadas atrás. Quando muito jovem, vim para cá com minha família, também comerciantes.
Sou originário da fronteira com a nação de Turan, ao extremo leste de Shem. Minha família sempre
teve uma grande tradição comercial. Comigo não foi diferente, prosperei bastante naquela época.
Porém, nos últimos anos a oferta de produtos para que eu possa revender tem estado bastante escarça.
Em grande parte devido aos saques que caravanas, que me abasteciam sofriam. Foi numa destas que
conheci Taruk pés de gato, um ladino saqueador de templos e profanador de criptas. Suas grandes
habilidades renderam a nós muitas moedas, uma parceria que, se não fosse o infortúnio recente de uma
misteriosa loucura, iria durar por muitos e muitos anos – fala Salim enquanto toma uma generosa taça
de vinho e caminha calmamente pelo luxuoso salão. Então ele continua.
- Quando ainda lúcido, ele me jurou que havia uma relíquia, um cálice, muito valioso nas ruínas de
Belaris. A informação tinha sido vendida a ele por um integrante dos Falcões do Deserto, um grupo de
saqueadores do oeste. Contudo, haviam histórias de que o local no qual a relíquia se encontrava era
amaldiçoado e todos aqueles que tentavam obtê-la embarcavam em uma viagem somente de ida. A
princípio, eu não acreditei muito. Contudo, após estudar sobre Belaris li algo sobre Aurin, um mago
local, tido por muitos, como um dos magos mais poderosos daquela época.
Salim terminava de solver uma quarta taça de vinho quando se dirige até uma outra garrafa em
uma grande adega repleta de vinhos das mais diversas origens. Era nítida sua dificuldade em se
locomover, porém ele não parecia querer parar de modo que uma nova garrafa fora aberta sua taça
novamente preenchida. Ilaos e Adduk o acompanham, pois, a história parecia boa o bastante. Mais sutil
é a presença de Kortanhagew que apenas observa toda a história preferindo não beber para que nenhum
detalhe lhe passasse desapercebido. Salim então continua.
- Foi então que a notícia começou a correr em Kizil Bezin e um cliente de longa data me ofereceu um
bom valor pelo cálice de Aurin. Eu propus o serviço ao Taruk, mas deixei bem claro que se nada fosse
encontrado que ele ficaria no prejuízo. Taruk parecia saber que o cálice de fato existia, suas fontes
nunca falhavam. Ha alguns meses ele partiu para as ruínas com outros dois ajudantes em busca do
cálice. Contudo, cerca de seis dias depois ele retornou bastante ferido, tomado por grande pavor, mal
conseguia pronunciar qualquer palavra quando o encontrei agonizante e moribundo em minha porta.
Eu o levei até um curandeiro local, mas nada que o velho xamã tentava era capaz de impedir que Taruk
definhasse até morrer. Pelo pouco que ele conseguiu me comunicar urou que o cálice de fato existia,
que chegou a pegar em suas mãos. Infelizmente meu amigo não resistiu e partiu para a morada de Bel
– lamenta o homem com umas poucas lágrimas arriscando o salto para fora dos seus olhos – Antes que
me perguntem, os outros dois ajudantes de Taruk nunca mais foram vistos desde então. Nem mesmo
minhas melhores fontes tem qualquer informação sobre eles depois daqueles dias.
Ao notar o sofrimento demonstrado por Bajur, todos, exceto Adduk se mostram bastante
consternado. Adduk estranhamente parecia gostar da história que acabara de ouvir, principalmente da
reação de sofrimento de seu contador.
- Senhor, acredito que poderemos fazer isso pelo senhor, se puder nos pagar. A vida aqui em Kizil Bezin
é muito difícil – disse o jovem garoto Kortanhagew tomando a iniciativa.
- Sim, posso pagar bem. Pagaria a todos vocês uma quantia de duas mil e cem moedas, o equivalente a
três meses de trabalho por um serviço de menos de uma semana. O que acham?
Ninguém consegue esconder que o valor é realmente bastante tentador e seus gestos silenciosos
já diziam que o negócio seria fechado.
- Pelo que vejo, vão aceitar a missão. Contudo, preciso fazer-lhes algumas perguntas. Costumo conhecer
bem as pessoas com as quais faço negócios. É tudo coisa rápida, nada que vão lhes deixar constrangidos.
Todos acenam com a cabeça fazendo um sinal positivo.
Ilaos é o primeiro a ser sabatinado falando abertamente sobre tudo lhe era perguntado, família,
costumes e anseios, exceto sobre um segredo que guarda a bastante tempo e que nada tinha de relação
com sua vida atual. Em seguida, Adduk é interrogado, e da mesma forma que Ilaos tudo ocorre bem.
Contudo, o curioso Kortanhagew queria saber um pouco mais do que supunha que lhe seria informado.
Em certo momento até mesmo tentou usar um truque que aprendeu com um de seus amigos, a hipnose.
Sua tentativa de hipnotizar Bajur durante a conversa que estavam tendo fora fracassada, mas por sua
sorte não notada. Ainda era muito cedo para aquele jovem tentar um truque tão difícil quanto hipnotizar
alguém sem que esta estivesse totalmente disposta. Ele teria que se contentar com as míseras
informações que conseguiu tirar da história contada a pouco. Mas em sua cabeça martelava o que de tão
especial havia no cálice que valessem duas milhas de ouro? Relutante ele resiste à curiosidade, pelo
menos até pôr as mãos no cálice para, quem sabe, examiná-lo.
Após todos aceitarem a missão, Bajur vai até seus aposentos e pouco depois retorna com um
mapa em mãos.
- Aqui está o mapa das ruínas da antiga Belaris. A localização exata do cálice não foi informada. Mas
acredito que deva estar em local fácil. Taruk, ao se comunicar comigo, parece ter dito que o objeto ficou
caído em algum local, acho que um calabouço. Infelizmente ele falava muitas coisas sem nexo em meio
a alucinações e realidade.
Assim que todos dão uma olhada no mapa, Bajur o toma em suas mãos e diz – Amanhã os
entrego de volta. Hoje gostaria que passassem a noite em minha morada. Amanhã cedo devolvo o mapa
a vocês juntamente com um camelo e mantimentos para a viagem. Não adiantarei, nada em forma de
dinheiro, mas não terão que tirar nada dos seus bolsos.
Selena é a primeira a se retirar para seus aposentos. Em seguida Adduk é levado por um criado
até onde repousará esta noite. Ilaos decide caminhar pela mansão até que o sono chegue. Kortanhagew
por sua vez decide avisar a seus amigos Karlos e Prim sobre a empreitada. Para tanto ele deixa a casa de
Bajur e segue para a região leste de Kizil Bezin.
Sessão 2
Perseguição Desesperada
É quase noite quando Kortanhagew se dirige a antiga casa que reside com seus amigos, Karlos e
Prim, na parte oeste da fortaleza. A casa onde moram foi cedida por um dos integrantes de uma facção
de criminosos locais em troca da comercialização de poções de cura produzidas por Kortanhagew e os
outros dois. Contudo, ao longo dos meses, as coisas foram apertando e eles começaram a ter que fabricar
mais das poções para sobreviverem. Ao comercializarem com o submundo não podiam aplicar um preço
justo precisando trabalhar muito para se manterem. E isso os obrigou até mesmo a comercializarem seus
produtos com facções rivais o que era muito perigoso.
Ao abrir a porta, que não fora trancada como de costume neste horário, Kortanhagew se depara
com um ambiente revirado e um rastro de sangue que saia pelos fundos. Ele apanha pertences, roupas e
um pequeno laboratório alquímico portátil. Ele coloca tudo em sua mochila e sai desesperadamente em
busca de seus amigos.
- Onde será que estão, o que aconteceu? – sussurra o jovem enquanto corre desesperadamente pelas
vielas já cobertas pelo véu da noite. – sim, acredito que sei onde possam está, na casa do xamã. Se
escaparam de algo, o único local seguro a esta hora é lá – continua, o jovem mancebo, a correr por mais
algumas centenas de metros até avistar o pequeno templo, local habitado por um xamã que oferece seus
trabalhos em troca de pequenas doações de quem possa fazê-las.
Ao chegar ao templo, o jovem Kortanhagew se dirige a Themak o xamã responsável pelo local,
um shemita de pouco mais de um metro e meio de altura, vestindo uma túnica branca, pele morena e
cabelo curto. Themak já sabia o trazia o jovem aquele local. Discretamente ele aponta para uma das camas
ocupada por um homem moribundo. O jovem corre, desviando de outros doentes tratados no local em
direção ao seu amigo. Kortanhagew finalmente encontra seu amigo Karlos e se assusta com o que vê.
Uma faixa amarrada dando algumas voltas sob o peito e, ao centro, uma mancha de sangue indicava o
local onde fora golpeado. A julgar pelo tamanho e posição da mancha, foi muito próximo ao coração. Seu
amigo escapou da morte certa por pouco. Porém, não se pode dizer que irá sobreviver ou não.
Rapidamente, Kortanhagew saca, entre seus materiais, uma poção de cura levando-a aos lábios do amigo.
Em poucos instantes Karlos começa a demostrar uma melhora significativa.
- Kortanhagew, tome cuidado – exclamou Karlos! Quase sem forças ele continua - as facções
descobriram que presto serviço a ambas. Eu fiquei para trás enquanto Prim fugia pelos fundos. Pelo
menos duas estão atrás de nós. Talvez não nos mate, mas podem nos escravizar forçando-nos a
trabalhar de forma forçada. Acredito que deva se esconder por algum tempo.
- Senhor Karlos, não fale mais nada, fico feliz que esteja a salvo. Encontrei pessoas nas quais acredito
poder confiar. Quem sabe formamos um pequeno grupo para que, finalmente consigamos sair deste
local execrado o mais rápido possível. Aqui acredito parecer seguro até que eu retorne em poucos dias
– explicou Kortanhagew. Em seguida, em um gesto de carinho, cobriu o rosto de Karlos, para que não
fosse facilmente reconhecido por qualquer membro das facções caso passassem pelo templo.
O jovem Kortanhagew respira aliviado enquanto se dirige para agradecer Themak. No caminho
ele desvia os olhos para procurar, dentro de sua mochila, algumas moedas para ajudar aquele homem
que dedicava sua vida a cuidar dos mais necessitados. Ao retornar os olhos a Themak, Kortanhagew
percebe que o mesmo estava conversando com um dos membros de uma das facções, certamente,
procurando um dos três negociantes de poções. Kortanhagew tenta passar desapercebido aos olhos do
suposto verdugo, mas é surpreendido por uma bacia com água no meio do seu caminho. O incidente
acaba revelando-o. Neste momento, aquele homem de aparência intimidadora o olha ao mesmo tempo
que saca sua arma. A quantidade de obstáculos entre os dois deu certa vantagem a Kortanhagew. O jovem
se levanta e começa a correr em disparada para a casa de Bajur.
Em certo momento, quando perto de ser alcançado, ele puxa todo ar que conseguira pôr em seus
pulmões a fim de se distanciar ao máximo de seu captor. De início a distância aumenta
consideravelmente, mas não o suficiente para que Kortanhagew saia das vistas de seu perseguidor. Porém
o caminho é longo e sua mochila abarrotada de coisas começa a pesar-lhes os ombros e penas. Pouco
mais de uma centena de metros o separa da mansão de Bajur quando ele começa a gritar
desesperadamente para que alguém abra o portão livrando-o de seu captor. A poucos metros do portão
o jovem desiste, parece que não há muitas opções, lutar ou se render. Seu captor estava diante dele, o
homem suava como um leão faminto após longa corrida em busca de sua .
- Seu miserável, por que correu de mim? - perguntou o homem quase botando o coração pela boca. Ele
continua a falar enquanto se aproxima de Kortanhagew com sua afiada espada – Eu precisava mesmo lhe
encontrar garoto!
Neste momento, algo passa pela mente de Kortanhagew. Havia uma possibilidade de aquele
homem ser de uma terceira facção e não estar sabendo de nada que acontecera naquela tarde. Então ele
decide arriscar a sorte.
- Desculpe senhor, lhe confundi com um homem a quem devo muito dinheiro. Eu estava lá no templo
visitando o xamã Themak, pegando alguns conselhos e ensinamentos. Quando lhe vi, por instinto de
sobrevivência, me assustei. Afinal, esbanja bastante força e me parece ser bastante hábil com a espada
que carrega assim como meu credor. Me desculpe – fala Kortanhagew em tom de bajulação.
O homem parecia raciocinar lentamente, o que de certo ocorrera por conta do cansaço da
maratona que havia travado. Ele simplesmente ignora possíveis pontos desconexos da história inventada
por pelo jovem. Seu semblante começava a mudar da cabeça inclinada para frente, demonstrando clara
fúria, agora a colocava de lado enquanto coçava a nuca.
Kortanhagew respira aliviado, sabia ele, que mentir não era o seu forte. A julgar mudança na
fisionomia daquele homem sua história tinha sido convincente. Porém...
- Garoto, ninguém engana Matila. Seu eu descobrir que está mentindo te dou uma boa surra. Amanhã
passo lá na casa para pegar algumas poções que encomendei a Karlos faz algum tempo – fala o homem
entre bufadas de raiva e soluços de cansaço.
- Sim senhor, eu acho que até as vi sobre o balcão. Eu até iria com você lá agora, mas as ruas podem ser
perigosas e ainda preciso conversar com o dono desta mansão, acho que vou poder expandir a produção
das poções. Poderei cobrar mais barato ainda – fala Kortanhagew com ar de alivio ao ver que o homem
começava a bater em retirada.
Logo após o tumulto, o caseiro abre a porta, sua fisionomia deixa transparecer um leve sorriso
amarelo. Teria ele escutado a tudo e por covardia e não aberto o portão? Quando o perigo passa, já dentro
dos portões da mansão, o jovem Kortanhagew pensa em apenas tomar um bom banho e ir para seus
aposentos.
O Fanfarrão
Já era tarde da noite quando o grandalhão Ilaos andava pela mansão de Bajur. Ele não procurava
por nada dentre algumas relíquias e outros objetos de valor embora tudo ali o cobiçasse. Queria apenas
desafiar um dos guardas em uma quebra de braços. Sua intensão era conseguir algumas moedas. Estava
ele zerado! No canto sudoeste da suntuosa mansão ele avista um dos quatro guardas que fazem a
segurança do local. Tratava-se de um homem de aproximadamente um metro e oitenta, portando espada
e uma armadura de peles relativamente trabalhada. Ilaos se dirige até ele e o confronta com de forma
ríspida e direta.
- Olá homem, não está a fim de perder algumas moedas numa quebra de braços – fala Ilaos com um
tom de superioridade.
- Desculpe, estou de guarda e sem nenhum centavo. Se quiser podemos fazer amistosamente – rebate
o homem com um sorriso amarelado frente aquela muralha de músculos que o desafiava.
Percebendo não ter vantagem alguma, Ilaos parte para desafiar o próximo guarda. Contudo, de
uma forma um pouco menos ameaçadora. Talvez isso tivesse feito o guarda mentir sobre ter ou não
dinheiro. Ele se põe a caminhar em busca de seu próximo desafiado.
Na parte nordeste perto de uma bela fonte de água, em meio a um jardim florido, iluminado
apenas pela luz da lua e uma fraca tocha, estava seu próximo desafiado. Ele se aproxima do guarda
calmamente, mas de forma a ser notado ainda longe. Tratava-se de um homem, em grande parte,
semelhante ao anterior, contudo, um pouco mais alto e magro.
- Olá meu caro amigo, me parece esconder a força que tem. Não queria testá-la em uma quebra de
braços? Poderíamos apostar – fala Ilaos em tom não intimidador e palavras cuidadosamente pensadas.
- Tenho poucas moedas, mas acredito que possa apostar – fala o homem enquanto saca cinco moedas
colocando-as sobre a mesa.
Ilaos apenas bate em um saco recheado de pequenas bugigangas, mas nenhum dinheiro. Por
sorte, seu desafiado não desconfia de nada e prossegue em sua aposta. Ambos se sentam em uma mesa
de pedra, parte da decoração local. O guarda é esperto e escolhe um ponto a ter certa vantagem sobre o
grandalhão que o desafiava. Ele posiciona o cotovelo de Ilaos sobre algumas folhas oleaginosas que caíram
da árvore. Ilaos não percebe o plano e prossegue para a aposta.
Começam os homens a ranger os dentes, aplicando em seus braços tudo que tinham. Os dois
levavam aquela disputa a sério, a ponto de se assemelhar a uma luta de vida ou morte. As míseras cinco
moedas não importavam mais, pelo menos para o guarda. Ilaos suava, seu cotovelo escorregava e a
vantagem passava para o guarda. Contudo, próximo a um minuto de tensa aplicação de forças Ilaos aplica
uma boa dose de torque ao seu braço, era ele realmente mais poderoso que seu oponente que cede ao
cansaço e desiste. Rapidamente ele apanha as moedas e as coloca em uma bolsa vazia, não a mesma que
fingira estar suas moedas. O guarda, decepcionado com a derrota, mal nota a esperteza do gigante.
Oprimido volta para o seu posto, dessa vez, cabisbaixo. Ilaos cansado, percebe que a noite terminou para
si e, desta vez sem brigas!

A Caminhada Tem Início


Aos primeiros raios da manhã, lá estava o ardiloso Adduk já de pé checando o camelo cedido ao
grupo, uma cortesia de Bajur. Não era um camelo próprio para montaria, parecia velho. Adduk fora
orientado a usá-lo apenas para levar água e mantimentos. Sendo o único capacitado a sobreviver no
deserto era responsabilidade dele que tudo corresse bem com o animal. Embora a recompensa pelo
serviço fosse gorda para os seus padrões ele apenas queria o suficiente para deixar aquele local
amaldiçoado, talvez comprar um bom cavalo e seguir para as montanhas ao norte, em direção à Korajá
ou um camelo se quisesse ir para leste.
Além de velho o camelo era bastante rabugento e teimoso de modo que exigiria de quem o
conduzisse paciência a troco de não atrasar a viagem. Adduk sabia muito bem o que é um camelo
empacado em meio a uma penosa jornada em deserto escaldante. Com alguma perícia e bastante calma,
aos poucos conseguira ir ganhando a confiança do animal.
Adduk segue para o quarto de Ilaos, a quem tinha relativa amizade. Ambos já dividiram juntos
algumas brigas em diversas bodegas e tavernas locais. Geralmente Ilaos os derrubava e Adduk os
torturava. Naquele momento Ilaos ainda repousava mansamente em luxuosa cama, quando batidas na
porta o acordam. Ter ido dormir tarde lhe deixou com sono de sobra. Seu mau humor costumeiro toma
conta de si ao primeiro movimento de suas pálpebras. Era como se estivesse sendo em um local
desagradável, frio e insosso.
- Já estou indo. Maldição, por que levantar tão cedo, ainda estou moído! – esbravejou o brutamontes.
Adduk segue para acordar os demais, Kortanhagew e por fim Selena. Os quatro, na presença de
um dos criados, se reúnem em uma cobertura externa a casa para tomar o desjejum reforçado preparado
por seu anfitrião. Após terminarem de saborear deliciosas frutas e guloseimas, Selena pões, sobre a mesa
um mapa muito bem detalhado que a pouco havia recebido de Bajur. Nele constava a localização das
ruínas da antiga Belaris. Ambos, Selena e Kortanhagem, com certa proficiência no entendimento sobre
mapas, chegam à conclusão que as ruínas ficam a pouco mais de um dia de viagem. Se tudo corresse bem,
chegariam ao destino pouco depois meio dia do dia seguinte.
O grupo recolhe suas coisas ajeitando as mais pesadas no camelo carregando consigo apenas
armas e objetos de uso mais rotineiro como cantis com água.
O grupo, enfim, se coloca em marcha rumo a Belaris, Adduk mais a frente puxando o camelo, em
seguida Selena e Kortanhagew e mais atrás o resmungão Ilaos. O suor provocado por aquele sol matinal
escaldante já lhes causava grande desconforto, em especial para o mau humorado grandalhão. Em certo
ponto, estando a alguns quilômetros de Kizil Bezin o grupo se dá conta da falta de alguns equipamentos
básicos para a sobrevivência no deserto, como uma barraca caso precisem acampar bem como outros
itens, era preciso que alguém retornasse para compra-los. Após certa indecisão de quem voltaria para
buscar tais itens Adduk entrega a rédeas do camelo a Ilaos e segue de volta a Kizil Bezin.
Entregar o camelo a Ilaos não foi uma boa ideia, ainda mais um camelo tão teimoso. Claro, como
esperado, o camelo empaca e Ilaos começa a perder a paciência puxando-o para frente, disputando forças
com aquele ser irracional, naquele momento, ambos quase iguais, puramente instintivos. A disputa só
rende alguns passos, Selena e Kortanhagew já estão a quase cinquenta metros à frente quando Ilaos perde
de vez a paciência e aplica-lhe um poderoso soco nas fuças do camelo. O animal cambaleia antes de cair.
Kortanhagew ao ver tal cena corre para socorrer o animal. Sabia ele que o animal era fundamental para
o sucesso da missão.
- Calma homem, deixe que eu levo o camelo – falou o jovem, demonstrando certa virilidade.
Bufando como um touro bravo Ilaos se coloca a caminhar com pisar de impacto firme.
Kortanhagew tem mais sorte com o camelo, em pouco tempo, contorna a teimosia do animal, certamente
diminuída pelo poderoso golpe desferido pelo gigante.

Uma Estranha Motivação


Pouco tempo depois, Adduk retorna com os itens. Era notável suas capacidades e habilidades de
sobrevivência naquele inóspito local. Suas vestimentas eram cuidadosamente postas para evitar ao
máximo o calor intenso e seus efeitos. Em contrapartida, com pouco mais de três horas, lá se ia o segundo
odre de água usado pelo grupo. O primeiro, de quatro litros havia sido usado apenas por Ilaos para esfriar
os miolos logo após o incidente com o camelo. Precavido, Kortanhagew esconde o odre extra que
carregava temendo que Ilaos pudesse vir a desperdiçar água em excesso.
Aos poucos, o calor do deserto ia minando as forças daquele grupo, com a exceção de Adduk o
mais preparado dentre os presentes. O sol castigava a todos, contudo não o suficiente para vencer a
persistência que tinham, em sua maioria motivada pela gorda recompensa. O dinheiro de um mês em três
ou quatro dias de trabalho.
Adduk, parecia adorar aquela cena, ver aqueles que o seguem sofrendo lhe parecia agradável. A
sensação que apreciava ao ver o sofrimento, mesmo que de seus companheiros naquela jornada o
divertia. Alguma saudade do tempo em que servia aos exércitos espiões de Shem recais sobre ele. Embora
ninguém ali sabia que ele fora integrante de uma grande organização de espiões. Contudo, sua
insubordinação o trouxe problemas internos. Sua conduta na abordagem de prisioneiros, capturados pelo
grupo, era bastante questionável. Seu entusiasmo pela tortura lhe rendeu esta função durante o tempo
em que esteve no grupo. Contudo, torturar os capturados nada tinha a ver com obter informações ou
fazer os inimigos cooperarem. Suas motivações pessoais eram postas acima de suas obrigações.
Muito questionado por seus superiores Adduk decide deixar o exército espião. Segundo o código
da organização era preciso que indivíduos que se aposentassem ou que quisessem sair dos exércitos
tivessem que cumprir uma clausura que variava de dois a quatro anos a depender do tipo de informação
que os mesmos possuíam tendo em vista as missões que participaram. Para Adduk foi dada a opção e
desligamento por meio de um cumprimento de uma clausura de três anos. Ele não teve outra opção a
não ser fugir dos exércitos espiões.
A Poderosa Tempestade
Aquela manhã se despedia a entrada no entardecer era certa, o sol a pino fritava os miolos de
todos a ponto de gotas de suor saltavam de seus rostos para a morte certa nas areias escaldantes daquele
terrível deserto.
Em certo momento uma leve brisa começa a soprar, um sopro de esperança, pensam muitos dos
ali presentes. Será que Adduk já sabia o que estava por vir ou também seria surpreendido? O grupo
continua a caminhar seguindo seu líder, o único que parecia entender como andar no deserto.
Uma estranha mancha tomando todo o horizonte leste se aproximava agressiva, porém próxima
quando avistada pelo grupo. Era uma tempestade de areia. Para Adduk aquilo não era novidade, mas ao
notar ela se aproximando mais e mais um medo intenso tomou conta dele. Neste momento todos já
estavam cientes do que os aguardavam, porém só Adduk sabia que aquela não era uma tempestade como
as que estava acostumado a enfrentar, parecia muito maior.
A brisa se transformava instante a instante em uma poderosa ventania, todos corriam
desesperados para lugar nenhum durante alguns minutos que mais pareciam uma eternidade. Já muito
próximos da tempestade Selena avista uma pequena casa entre duas grandes dunas. Com sorte o grupo
conseguiria chegar até lá antes de serem varridos pela tormenta arenosa.
Adduk dispara puxando o camelo não mais teimoso. Instintivamente o animal sabia que seu
condutor iria leva-lo a um local seguro. Contudo, os demais integrantes do grupo ficavam para trás.
Kortanhagew decidiu amarrar uma corda nos ali presentes para evitar que se perdessem caso a
tempestade os alcançasse. Suas vozes desesperadas não podiam ser ouvidas, apenas alguma leitura labial
era minimamente entendida. Com um último fôlego todos começam a correr desesperados em direção
ao que achavam ser a única chance de escaparem. Em certo ponto, o jovem Kortanhagew tem suas forças
esvaídas, não aguenta e para, quase totalmente fadigado, travando o movimento de todos. Contudo,
Selena e Ilaos o puxam ferozmente como touros a puxar um pesado arado. De Ilaos era notável de onde
vinha tamanha força, era uma montanha de músculos. Contudo, a bela Selena demonstrava uma força de
arraste invejável para uma mulher daquele porte. Talvez um fim iminente a tenha despertado o restante
de força que possuía.
A porta da casa estava aberta, e Adduk berrava para que andassem logo. Esgotados, os três,
atingem aquela casa solitária, em meio ao nada. Travar a porta e janelas daquele cômodo fora quase que
instantaneamente executado por Adduk assim que o Kortanhagew, o último dos três, passava pela porta.
A adrenalina era tanta que sequer notaram um estranho cheiro pútrido que vinha de um dos
cômodos restantes. Em boa parte, o odor fétido era arrastado pela ventania intensa. Porém,
inevitavelmente seria notado mais tarde.
Aos poucos a forte ventania ia trazendo areia para portas e janelas vedando entradas de ar. Ilaos
decide ir dar uma olhada nos cômodos restantes, pois o cheiro já começava a incomodá-lo. Ao abrir a
porta de um deles a aterradora visão de dois corpos degolados o impressiona. Tratava-se de um homem
de aparência shemita e uma mulher muito provavelmente turaniana mortos ali mesmo a cerca de três ou
quatro dias, deixados para apodrecer. O local onde estavam tratava-se de uma quarto que fora totalmente
revirado. Com a porta aberta o cheiro se espalha pela casa começando a sufocar os demais presentes.
Kortanhagew extremamente fadigado, precisava de ar puro para recuperar as forças perdidas na
intensa corrida. O jovem sente aquele poderoso odor de imediato e se desespera. Entre gritos e ânsia de
vômito o jovem suplicava para que dessem um jeito naquele cheiro cadavérico.
Selena age rapidamente improvisando um pano úmido para si, cobrindo a parte inferior do rosto,
o que lhe conferia um ar não tão pesado. Após proteger-se ela caminha pelos outros cômodos procurando
algo que pudesse ser útil.
Incomodado, não com as súplicas do garoto, mas com o cheiro forte, Adduk pega um dos corpos
e decide jogá-lo pela janela do quarto. Entretanto, ao abrir a mesma, a cena é bastante angustiante. A
quantidade de areia soprada pela tempestade era tamanha que uma cascata de areia caia pelo peitoril. O
guerreiro calculou que a areia que entraria pela janela era suficiente para cobrir os corpos cessando
consideravelmente o cheiro. Ele então sai e bloqueia a porta pelo lado de fora.
Aos poucos o ar dos outros cômodos ia se tornando respirável. O jovem Kortanhagew já
começava a respirar um pouco mais aliviado, muito embora, uma lembrança do terrível cheiro ainda
embrulhe seu estômago.
Algum tempo depois, o silêncio externo indicava que a tempestade havia cessado. Ilaos,
impaciente começa a retirar as escoras colocadas na porta por donde entraram, ansiava por ar puro,
naquele momento mais que qualquer banquete. Em seguida ele puxa a porta de modo que uma grande
quantidade de areia proveniente da findada tempestade passe por ela. Todos ali presentes se juntam para
par acomodá-la enquanto Ilaos tentava sair pela porta. Ilaos já vê a fraca luz do entardecer entrar por
uma fresta na parte superior da porta.

Encurralados
Vagarosamente Ilaos colocava a cabeça posicionada para fora do buraco feito na terra fofa, a
tempestade havia coberto mais de um metro e oitenta de altura. Sua cautela em pôr a cabeça para fora
se devia ao fato de escutar sussurros. Ele acomoda sua cabeça de modo a observar sem que fosse notado.
Lá fora quatro homens dividiam aos pares dois cavalos do deserto.
Lá fora estavam quatro homens de vestimentas típicas dos saqueadores, Sazar, Khilo, Farik e
Matus.
- Eu escondi ali e depois armei para os dois, mas por azar aconteceu de cair essa tempestade cobrindo
toda a casa. – fala Sazar, aquele homem de vestimentas rudimentares e face ocultada pelo ângulo o qual
Ilaos se punha.
- O que é aquilo? – pergunta Khilo, ao apontar para o buraco no puxava terra para baixo, pouco depois
de Ilaos ter se ocultado.
- Uma passagem para dentro, vamos Sazar adentre na casa, e nos traga o artefato – fala Farik com tom
de exaltação.
Com um aceno Sazar faz um sinal de positivo enquanto se dirige calmamente para a entrada. Ele
sequer notou a presença de Ilaos que deixara a entrada antes que alguém lá fora o percebesse. Lá dentro
Ilaos, sem dizer uma só palavra, gesticulava com as mãos indicando a presença de possíveis inimigos. A
cada passo que o homem dava em direção à passagem de terra, Ilaos e os demais presentes no interior
da casa procuravam um esconderijo para uma eventual emboscada.
Sazar deita-se sobre o solo quente com a intenção de descer escorregando. Por precaução ele
decide dar uma olhada para o interior. Um pisar em falso de Kortanhagew acaba denunciando
denunciando a emboscada. Sazar percebe de imediato e dá meia volta.
- Eles querem algo escondido aqui – fala Ilaos com olhar penetrante de um guerreiro que espera um
combate iminente.
A passagem, era pequena demais para que os que estavam dentro saissem rapidamente para um
para o ataque, da mesma forma impedia que os de fora investissem. Rapidamente Ilaos remove a areia
aos pés da porta de entrada a fecha. Os momentos seguintes são bastante tensos para todos que estão
encurralados dentro da casa, principalmente Kortanhagew que ainda não se sentia bem, tonto por conta
dos odores de morte.
Alguns minutos se passam e nenhuma movimentação aparente é vista. Lá dentro, o plano seria
esperar! Este foi o plano seguido por quase todos no interior daquela prisão, outrora um abrigo salvador.
Selena decide agir.
Lá fora, Khilo, um dos quatro homens, escala a casa demonstrando certa proeza felina. Com um
olhar perspicaz localiza um pequeno buraco no teto de tal sorte que poderia ver a movimentação de todos
no cômodo de entrada. Ele observava a presença de um homem grande (Ilaos), uma figura esguia (Selena),
um guerreiro portando um mangual (Adduk) e um garoto bastante apreensivo (Kortanhagew). O ágil
escalador faz um sinal silencioso para Farik chamando-o até lá encima.
Farik sobe na casa e também observa a tudo enquanto coça a cabeça, parecia buscar algum
plano. Não demora muito para que se lembre de um item que carregava, algo afanado de um Stygiano.
- Tenho um plano, desça e avise os outros para esperarem, é só questão de tempo para que saiam da
casa cambaleantes – sussurra Farik.
Rapidamente Khilo desce e começa a falar com os outros dois, Sazar e o líder dos quatro Mataus,
o que Farik lhe tinha sussurrado. Os três imaginavam o que Farik pensava fazer.
Farik saca em seu bolso um poderoso veneno Stygio e começa lentamente a despejá-lo pelo
buraco no teto. Tamanha sua furtividade que ninguém lá dentro percebesse. Gota a gota o líquido
esverdeado tocava o solo arenoso.
Dentro da casa, Kortanhagew sugere que procurem o que os homens lá fora afirmaram estar
escondido pensando em uma eventual negociação. Selena, adiantada, já estava à frente dos demais.
Imaginava ela que poderia ser um rubi, não por ter um faro para as adivinhações, mas sim por adorar
rubis. Com isso a jovem já havia saído em minuciosa procura.
- Se for um rubi será meu – sussurra Selena.
Com passos apressados e olhos de água ela já havia revistado a cozinha. Lá, havia apenas um
fogão, lenha esparramada pelo chão e algumas peças de barro quebradas, muito provavelmente por
alguém que procurava por algo em seu interior. Certamente não havia nada ali.
No cômodo de entrada os Adduk e Ravengar removiam parte da terra enquanto procuravam
algum alçapão. Ao passo que Ilaos usava sua espada para perfurando as quatro paredes, buscando algum
ponto oco. Tudo em vão.
Selena, muito adiantada partira para um segundo cômodo, bem ao lado da cozinha. Tratava-se
de um pequeno depósito entupido de quinquilharias. Ela começa a jogar aqueles objetos em todas as
direções enquanto procura por algo. Quase desistindo da procura naquele local, percebe que o solo
embaixo de seus pés, diferente do restante da casa, não estava batido, mas sim arenoso. A jovem escavou
com rapidez e perspicácia de um minerador perfurando um veio de ouro. Lá estava, uma bela caixa de
metal prateado rodeada de pequenas joias. Porém a caixa estava trancada e certamente não daria tempo
abrir pois um forte cheiro tomava conta de todo o local, era o veneno despejado por Farik.
Ilaos já havia perfurado o quanto podia as paredes do local ao passo que Adduk e Kortanhagew
ainda tinham alguns pontos cobertos por areia para verificarem. Todos torciam para o artefato desejado
não está no quarto onde os cadáveres repousavam sob a areia advinda da tempestade.
Era a última cartada de Selena, ela usaria alguns de seus truques mágicos. Para manter sua
identidade de feiticeira das artes de movimentação e tele transporte, encosta a porta com um dos pés,
certificando-se que ninguém a observaria nos próximos instantes. Com algumas palavras e movimentos
dos dedos ela realiza um pequeno feitiço fazendo com que a caixa se abra. A pouca luz que entrava
naquela sala fechada era o suficiente para revelar uma joia no interior daquela bela caixa metálica. Era
uma bela tiara dourada ornada com um rubi! Seria Selena uma advinha? Ela o toma para si, ocultando-o
em um bolso ao passo que colocou uma das quinquilharias no lugar. Com mais um feitiço tranca a caixinha
novamente. Tudo isso ocorreu em uma fração de instantes, pouco antes de Ilaos adentrar a sala de forma
abrupta.
- Vejo que achou algo, me entregue isso. Vou sair lá fora e negociar. Ande logo mulher antes que
desmaiemos – fala o grandalhão com voz ofegante.
Ilaos toma a caixa em suas mãos e rapidamente sai em direção à porta para negociar pela saída
dele e do grupo. Sua cobiça pelo que havia no interior da caixa havia seria o preço de suas vidas. Ele retira
algumas escoras que havia posto na porta e começa a berrar antes de pôr a cabeça para fora.
- Estou com o que querem, vou sair para negociarmos – torce Ilaos para que não o decapitem assim que
sair.
Para sua sorte o grupo de saqueadores aceita que saia para negociar. A visão de um homem de
mais de dois metros de altura os assusta. Em suas mãos o objeto que buscavam.
- Olá Mataus ele está com a caixinha. Vamos pegar e levar para Falcon – comemora Sazar.
Ilaos joga a caixa aos pés de Sazar que a pega em suas mãos e entrega a Mataus.
- É esta caixa mesmo? – questiona Mataus.
- Sim Mataus, é ela mesmo. Veja, a abertura não foi forçada. Provavelmente encontraram-na a pouco
tempo. Parece que não a violaram – comemora mais uma vez sacudindo levemente a caixa. O coitado,
mal sabia ele que Selena tinha colocado um pedregulho no lugar da joia.
Não faria sentido lutar contra Ilaos, mesmo estando em menor número, um para quatro, algum
deles poderia se ferir mortalmente antes de derrubarem o gigante. Os homens caminham de costas até
se afastarem alguns metros do gigante. Em duplas montam em dois cavalos. A galopes largos deixam o
local indo para o leste.
Ilaos bufa como um touro enquanto os outros o consolam. Kortanhagew arde de curiosidade
para saber o que tinha na pequena caixinha a qual pôs o olho apenas num breve relance. Adduk apenas
olhava a tudo sem dizer uma só palavra.
- Vamos sair logo daqui, tivemos sorte deles não quererem lutar com nós – fala Selena escondendo o
sorriso que quase saltava de sua face. Sabia ela que a joia valeria um bom valor, mesmo que não a fosse
vender. Ela adora rubis.
Pouco tempo depois, Adduk retira o camelo de onde o havia colocado antes da tempestade. A
areia arrastada durante a ventania era tanta que o cobrira até o pescoço.

Noite
Mais tarde já de volta ao caminho, pouco antes de anoitecer o silêncio do grupo é quebrado por
Selena.
- Acredito que chegaremos bem atrasados a Belaris, talvez antes do anoitecer de amanhã – exclama a
jovem.
Ilaos coça o couro queimado da luz do sol e Kortanhagew dá um passo largo para cada três passos
lentos. O garoto seguia o grupo a pelo menos dez metros de distância de Ilaos o penúltimo.
A noite não demora a lançar seu véu sobre todos. Adduk mesmo percebendo que seria bom parar
para descansar prefere andar por mais alguns quilômetros. O sofrimento era notável nas faces de Selena,
Ilaos e Kortanhagew.
Já era possível sentir uma refrescante brisa quando Adduk enfim escolhe um local adequado para
acamparem. Com sua habilidade em sobreviver no deserto ele sabia que a brisa aumentaria. Ele então
posiciona o camelo de modo a formar uma barreira para ele e o grupo.
Após alguma conversa fica decidido que todos fariam turnos de uma hora e meia para que
pudessem retomar a caminhada ainda a noite.
Adduk, o primeiro a fazer a vigia não encontra qualquer problema, e até se diverte vendo
Kortanhagew se revirar em uma cama improvisada com trapos. O jovem tinha dificuldades para dormir,
problemas que carrega desde o desaparecimento de seu pai e irmão. Adduk acorda Ilaos para o próximo
turno de vigia.
Ilaos começa a dar voltas em torno do acampamento par manter-se acordado. A fadiga do
cansativo dia ainda lhe era notável. Ele sabia que se estivesse sentado certamente iria adormecer.
Contudo, em algum momento ele se distrai e senta-se, como previra, sucumbe ao sono. Ao acordar não
se dá conta de quanto tempo havia se passado, a não ser pela tonalidade do céu que indicava que o dia
iria amanhecer em pouco tempo. Ele então acorda os demais.
- Vamos, acordem todos, decidir ficar a noite toda acordado para poupar a todos vocês – fala Ilaos de
uma forma ofegante.

Tensão
O grupo aproveita o pouco de noite que ainda lhes resta para adiantarem a caminhada a fim de
recuperar o tempo atrasado. Poucos quilômetros à frente estava uma construção de porte considerável.
Era uma casa de dois andares com uma cisterna a frente. Os odres que o grupo carregava estavam vazios
quase todos vazios. Seria uma boa passar lá para enchê-los. Receosos todos se aproximam, liderados por
Ilaos. O gigante segue até a cisterna na intenção de pegar a água antes que abordasse os residentes. A
água estava a pouco mais de cinco metros de profundidade além a borda do fosso. Entretanto, o balde e
corda estavam travados com um cadeado. Quebrar o cadeado foi uma opção descartada. Enfurecer os
residentes daquele local poderia forçar um combate após uma noite extremamente penosa.
Kortanhagew percebendo o insucesso do amigo em obter água decide bater à porta do local. Em
seus pensamentos esperava obter água e talvez um local para descansarem um pouco.
- Ora ora, entrem, é um prazer tê-los em meu estabelecimento – fala uma voz contagiante vinda do
interior daquela casa.
Adentram ao local kortanhagew e Selena seguidos de Ilaos e Adduk. Parece ser uma taverna.
Havia algumas mesmas vazias e alguns bêbados desmaiados num dos cantos. Atrás de um balcão estava
um homem com vestimentas do deserto enchendo um copo com alguma bebida, oferecida ao grandalhão
Ilaos a quem ele julgava ser o líder do grupo que adentrava ao recinto.
Adduk escolhe uma mesa mais ao fundo em um local com pouca iluminação. Com as mãos, sem
dizer uma só palavra, faz um sinal chamando a atenção do taverneiro.
- Sou Vanik dono desta taverna. Vocês são os únicos viajantes que recebo nestes dois dias. Naquele
canto, quase desmaiados estão meu filho e sobrinho. Esses jovens não aguentam beber – fala o homem
com entusiasmo. Enquanto se dirige para uma estante com algumas bebidas.
- Sou Ilaos e esses estão comigo. Espero que esse local tenha boa comida e um quarto para
descansarmos – fala Ilaos em tom levemente ameaçador.
- Tem sim meu caro hóspede. Vou preparar uma sopa de raízes de tamirha e quartos vazios – rebate o
homem com tom amistoso.
Observando mais calmamente o local, era possível ver alguns animais empalhados, bem como
alguma decoração bastante peculiar, indicando, talvez que fosse aquele homem um grande caçador do
deserto. Grandes cortinas cobriam as janelas de modo que o ambiente interno não lembrava o deserto
escaldante que era lá fora.
Após beberem um pouco, do fundo do salão, Ilaos e os outros observam a entrada de quatro
figuras ameaçadoras. Uma delas aborda Vanik de maneira bastante rude. Era Mataus e também os demais
Sazar, Khilo e Farik. A presença ao fundo poderia não ter sido notada se Ilaos não se aproximasse dos
homens. Eles pareciam abatidos e de uma fisionomia entristecida. Algo havia ocorrido.
Notando a movimentação de Ilaos em direção a um deles faz com que Sazar passe a mão sobre
o cabo de sua espada. Mataus apenas bebe calmamente estando no meio de Ilaos e Sazar.
- Seus miseráveis, retiraram o que tinha na caixa e nos enganaram. Falcon nos deu uma boa coça e
agora não confia em nós – esbraveja o homem enquanto se aproxima de Ilaos mancando. Havia sido
golpeado por aquele que chama de Falcon.
Mataus nada faz, parece ignorar o gigante que se encontrava quase em suas costas. O caminhar
de Sazar em direção a Ilaos é interrompido por Khilo que o agarra pelo braço. Khilo era um homem de
relativa experiência de tal sorte que avaliava que Ilaos e os três que o observavam poderiam ser
oponentes muito fortes. Uma briga naquele momento não traria benefício algum.
Sazar se mostrava arredio como um tigre do deserto embora cedesse ao puxão de Khilo o
afastando daquela montanha de músculos.
A bebida e comida não tinham mais o mesmo sabor para Selena e Kortanhagew, o primeiro por
temer um combate iminente e a segunda por vir a perder o rubi e, certamente a confiança do grupo.
Kortanhagew se aproxima do balcão numa tentativa de dialogar com aqueles homens.
- Vanik, dê uma bebida a estes homens – fala Kortanhagew ao se aproximar do balcão. Sabia ele que a
bebida os refrescaria e favoreceria o diálogo, pelo menos em princípio.
- Olá rapazes, desculpe o incômodo, mas alguém passou a todos nós para trás. Eu ouvi a conversa e
posso assegurar-lhes que não sequer sabíamos da existência daquela caixinha ou o que havia nela. Meu
amigo Ilaos havia escutado vocês falarem de um objeto escondido na casa e rapidamente o buscamos
para que pudéssemos negociar nossa saída. O que havia na caixa? – argumenta Kortanhagew enquanto
oculta suas pernas trêmulas atrás de uma mesa.
- Nada garoto, não sabemos. Apenas pedras colocadas por alguém. Fomos ingênuos ao deixarmos vocês
sem conferirmos. – fala Mataus com um ar de superioridade já que ignorava Ilaos posicionado em seu
flanco esquerdo. Ele parecia prever que não haveria um combate naquele local.
- O que faziam na casa? – completa Mataus após virar um copo com a bebida oferecida pelo jovem garoto.
- Nós fomos surpreendidos pela tempestade de areia. Fomos obrigados a nos abrigar lá até que ela
diminuísse. Haviam dois cadáveres no interior e isso é tudo que sabemos – fala o jovem de modo
retraído.
A bela Selena se mantinha longe de toda aquela discussão. Com o rosto ocultado os homens
sequer perceberam se tratar de uma donzela.
Mataus sequer olhava para qualquer lugar a não ser para o copo vazio em sua mão. Não se pode
dizer o mesmo dos demais, principalmente Sazar e Farik. Seus olhares demonstravam forte desejo por
vingança. Ambos acreditavam terem sido passados para trás.
Temendo um combate iminente Kortanhagew sugere ao grupo que partam o mais rápido
possível dali. Aquele local não era mais seguro. O grupo arruma suas coisas e seguem em direção à saída.
O pouco que descansaram já era suficiente para prosseguirem viagem.
Na porta, Adduk solicita a Vanik um pouco da sua água. O anfitrião daquele local retira-lhe do
pescoço uma tira com uma chave passando-a para Kortanhagew.
Ao se aproximar de Kortanhagew, já fora da taverna Vanik sussurra – Malditos falcões do
deserto, usurpadores e miseráveis. Kortanhagew pegue toda a água que precisarem.
Kortanhagew e os outros enchem seus cantis. O jovem garoto entrega aquele generoso
taverneiro um punhado generoso de moedas, quantidade superior ao que consumiram durante a breve
estadia.

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