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horizontes geográficos
Resumo
A Educação tem papel destacado na grande questão ambiental planetária. É necessário afastá-la da condição de fim
e torná-la um meio para que, através de ações, programas e objetivos definidos, possa contribuir para a formação de
uma Consciência Ecológica, visando uma vida social sustentável e sadia. Este artigo é uma contribuição à discussão
da relação entre Educação e a formação de uma Consciência Ecológica, discutindo os programas e ações delineadas
na Agenda 21 e inserindo a Geografia no processo educativo, como disciplina escolar e científica, que pode contribuir
para a inclusão da dimensão ética nas ações de Educação Ambiental, um dos caminhos necessários para a transformação
das estruturas de pensamento firmadas pela modernidade.
PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental, Consciência Ecológica, Geografia, Ética
Abstract
The Education has an important function in planetary environmental question. It is necessary to take away from the
end condition and become a way, through action, with programs and defined objectives, can contribute for the forma-
tion of an ecological conscience, aiming at a sustainable and healthy social life. This paper is a contribution to discuss
the relation between Education and formation of ecological conscience, arguing programs and action delineated in
Agenda 21 and inserting Geography in educative process, like a scholar and scientific discipline, that can contribute
for the inclusion of the ethical dimension in the actions of Environmental Education, one of the necessary ways to the
transformation of the structures of thought firmed by modernity.
KEY-WORDS: Environmental Education, Ecological Conscience, Geography, Ethic
* Graduado em Geografia, Pesquisador associado ao projeto “Riscos Ambientais Urbanos”, do Laboratório de Pesquisas
Urbanas e Regionais, Departamento de Geociências, Centro de Ciências Exatas, Universidade Estadual de Londrina.
Londrina, PR. marandola@yahoo.com.
Geógrafa, Professora do Departamento de Geociências, Centro de Ciências Exatas, Universidade Estadual de Londrina. Londrina,
**
PR. yoshiya@ldnet.com.br.
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cimento a respeito da questão ambiental, com senso e na busca de formas alternativas de soluções, re-
crítico e consciência, para que possam desenvolver lacionando fatores psicossociais e históricos com
práticas cotidianas no sentido da conservação do fatores políticos, éticos e estéticos (Dias, 1993,
meio. É esta Educação Ambiental política que o p.129). É uma forma de inclusão de questões pro-
ecologista e educador Reigota destaca, envolvendo fundas (ética, política, estética) com problemas co-
a atitude e a cidadania. Ele menciona ainda que tidianos vivenciados pela população, aproximando
esta educação “[...] prepara os cidadãos para exi- a Educação Ambiental da sua realidade vivida.
gir justiça social, cidadania nacional e planetária, Lima (1999, p.137-138), falando sobre as
autogestão e ética nas relações sociais e com a tendências dos programas de Educação Ambiental,
natureza” (REIGOTA, 1998, p. 9-10). Desta ma- alerta que “[...] as propostas educacionais para o
neira, a Educação Ambiental prioriza as relações meio ambiente têm em geral enfatizado os aspectos
econômicas e culturais entre a humanidade e a técnicos e biológicos da educação e da questão am-
natureza e entre os homens, destacando os aspectos biental, em detrimento de suas dimensões políticas
político-econômicos da questão ambiental. e éticas.” Enfatiza-se as práticas, metodologias e
Além de proporcionar a consciência crítica os aspectos explicativos dos problemas ambientais,
e o conhecimento sobre o meio, a Educação Am- ficando com menor importância, a responsabili-
biental tem uma característica primordial, que é a dade pelas ações e problemas. O autor menciona
sua transdisciplinaridade. Em verdade, é impossí- ainda “[...] que uma educação ambiental de ênfase
vel abranger a sua multidimensão e amplitude de técnica e biologizante reduz a complexidade do
forma disciplinar, isoladamente. Reigota (2001, p. real e mascara os conteúdos e conflitos políticos
9) destaca que o ambiente “[...] pode ser estudado inerentes à questão ambiental, favorecendo uma
em todas as áreas do conhecimento presentes no compreensão alienada e limitada do problema por
cotidiano escolar [...]”, sendo, portanto, necessá- parte dos educandos”. Fica evidente a necessidade
rias a integração dos conhecimentos e uma visão da consideração das dimensões ética, social, cul-
integral do ambiente. tural e política, entre outras questões, relacionadas
Outro aspecto fundamental destacado é a aos mais diversos fatores e fenômenos envolvidos,
participação comunitária, conforme registra Dias para a compreensão dos problemas, objetivando
(1993, p.128). É a inclusão da esfera informal da não reproduzir uma visão distorcida da responsa-
educação na dimensão da Educação Ambiental, que bilidade e origem das questões.
ocorre tanto no cotidiano vivencial quanto nas ações Contudo, a problemática está num substrato
de organizações não governamentais, associações mais profundo de nossas estruturas de pensamento.
comunitárias e programas de educação popular. Carvalho (apud LIMA, 1999, p.140) aponta que,
Esta esfera da educação deve, igualmente, “[...] desde a conferência de Tibilisi, as ações governa-
promover, simultaneamente, o desenvolvimento mentais de Educação Ambiental estão impregnadas
de conhecimento, de atitudes e de habilidades de uma visão liberal de sociedade, estando a mu-
necessárias à preservação e melhoria da qualida- dança socioambiental e o futuro legado às esferas
de ambiental [...]”, integrando a comunidade, de individual e comportamental. A autora destaca
forma articulada e consciente tanto da parte dos que o discurso de cidadania e participação social
educadores quanto dos educandos, promovendo os está delimitado num molde comportado, formal e
“[...] conhecimentos necessários à compreensão do planejado, como se fosse parte de uma estratégia
seu ambiente, de modo a suscitar uma consciência normativa e disciplinadora para abordar o proble-
social que possa gerar atitudes capazes de afetar ma, parecendo um discurso técnico e neutro.
comportamentos.” É a educação para a vida e para Neste contexto, a Geografia, como disciplina
a cidadania, visando a vida social sustentável, sadia científica e escolar, coloca-se com a responsabili-
e participativa. dade de também privilegiar nos seus estudos e no
Esta educação participativa, política, centra- seu cotidiano escolar as perspectivas ambientais.
se no desenvolvimento de uma sensibilização a No que se refere à ciência geográfica, nota-se uma
respeito dos problemas ambientais da comunidade preocupação premente com este temário, basta
2. Una nueva concepción del mundo como un A ética de responsabilidade com o futuro está na
sistema complejo, llevando a una reformulación esfera do nosso poder. Os atos e os efeitos de nos-
del saber y a una reconstitución del conocimiento. sas ações podem comprometer essa possibilidade.
En este sentido, la interdisciplinaridad se convirtió Desta forma ela se constituirá um fator limitador
en un principio metodológico privilegiado de la de nossas ações apelando para a necessidade do
educación ambiental. cuidado em relação à existência. O fundamento
Estes princípios serviram de base para a do dever estará arraigado no princípio da vida. É
Conferência de Tibilisi, estando latentes nas dis- isto que deve ser garantido pelo “dever” no agir
cussões subseqüentes, conforme percebemos no tecnológico.
principal objetivo estabelecido em 1977: fundar
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Conscientização, Educação e a consciência uma faculdade que penetra no âmago
Agenda 21 da personalidade e passa a compor a essência dos
pensamentos e ações, tanto de uma pessoa quanto
A grande corrente pedagógica que defende a de uma sociedade ou classe social. O autor finaliza:
formação do chamado “cidadão crítico” instaurou- “Não haverá futuro novo nem promissor se a nova
se baseada em um discurso político-ideológico ‘razão’ não for comunicada à base da pirâmide. Não
forte que encontrou terreno fértil para se proliferar. será apenas pela via do filosófico – advogando a
Conscientizar aparece freqüentemente nos planos necessidade de uma nova ‘episteme’ e apontando
político-pedagógicos assim como nos objetivos os horizontes teleológicos e até escatológicos – que
traçados pelos professores. Contudo, pensando na a tomada de consciência se produzirá.”
questão do ambiente, o que é conscientizar? Qual A Educação Ambiental e a Consciência
a sua amplitude? Ecológica já estão colocadas nas principais mesas
Em verdade, a Consciência Ecológica, ou de discussões mundiais, como também estão con-
seja, a ciência das questões acerca do ambiente, templadas nos grandes documentos produzidos
não é nova. O geógrafo Lago (1991) faz um res- como guias e diretrizes para as ações ambientais.
gate histórico da consciência dos homens sobre o A Agenda 21 (Conferência das Nações
seu ambiente e destaca que esta é bem anterior à Unidas..., 2001), documento máximo de esforço
quarta parte do século XX. Esta consciência, de mundial com diretrizes e projetos para o cuidado
que o autor fala, está relacionada substancialmente com o ambiente, trata desta questão no seu Capí-
à Ecologia e a ascensão desta ciência é associada tulo 36: Promoção do ensino, da conscientização
às preocupações com a saúde do planeta. Nos e do treinamento. São importantes a menção e
últimos anos, a importância desta tem crescido consideração das propostas delineadas na Agen-
mais, conforme aponta Segura (2001, p. 32-33), da, porque ela não é mera somatória de estudos e
registrando que “[...] a mundialização dos efeitos propostas identificadas tecnicamente por diversas
da degradação, resultado da própria globalização equipes de profissionais nem mero planejamento
econômica e cultural, gerou um movimento favorá- tecnocrático do desenvolvimento. De fato, ela é
vel em relação à Consciência Ecológica global nos um processo, servindo de mote e instrumento para
últimos 30 anos, mas ainda prevalece a fragilidade transformações na estrutura e nas ações sociais,
de qualquer iniciativa que questione o modelo políticas e culturais, desde que os atores sociais que
dominante”. dela queiram se utilizar tenham consciência deste
No entanto, a palavra consciência não deve potencial e destes objetivos (BORN, 1998/1999,
ser tomada no âmbito individual. Monteiro (1991, p.11). Embora no Brasil haja muitas dificuldades
p.10) lembra que se deve abrir “[...] no espectro para a sua implementação, conforme aponta Born
de uma consciência coletiva, da humanidade [...]”, (1998/1999), como a tradução tardia da Agenda
e que “[...] a elaboração do futuro e essa tomada (apenas em 1994, quase três anos após a sua ela-
coletiva de consciência requerem muito mais do boração), a falta de um marco institucional, a falta
que aquilo que se passa no vértice da pirâmide de políticas e linhas de atuação, a deficiência em
do saber, entre os seus filósofos – poucos e ainda recursos humanos, de metas e de sistemas de ava-
um tanto perplexos ante a magnitude da mutação liação, o descompasso entre os níveis de governo
– seus cientistas, muitos e cada vez mais compe- e seus setores, a contradição entre as políticas de
tentes no isolamento de seus laboratórios”. Desta ajustes econômico-administrativo-estruturais e as
forma, embora a Consciência Ecológica esteja necessidades de reorientação dos papéis do Estado
presente na sociedade há algum tempo, ela ainda e do setor privado, ela passa a ser, gradativamente,
não tomou a dimensão coletiva, muito menos se aplicada em diversos municípios, contando atual-
materializou numa nova racionalidade ou mesmo mente com uma preocupação cada vez maior dos
nas estruturas sociais. Ela possui mais o caráter de órgãos estatais.
preocupação do que de consciência, entendendo-se Os objetivos dos programas delineados no
a preocupação como algo ocasional, momentâneo, e Capítulo 36 da Agenda 21 demonstram claramente