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SEMANA 4 (14.03.

2022)
Discente: Anna Victória Souto Lessa

As Teorias do Século XX:


O Marxismo e a Concepção Materialista da História

1. Qual a concepção de História para o Marxismo e o Materialismo Histórico?


O lugar dos sujeitos e do tempo histórico?

Assim como o Historicismo e Positivismo, a concepção de história do marxismo


também pretendeu recusar as filosofias da história e fundar uma história científica.
Pois, o Materialismo Histórico, ainda que se apoie em alguns desenvolvimentos
científico-filosóficos anteriores, propõe-se a romper com pressupostos idealistas da
história. Marx e Engels engendraram uma integração entre o materialismo filosófico
e a dialética, empregando-os na análise dos processos históricos da sociedade
capitalista. Em vista disso, tais autores foram responsáveis por criar uma concepção
que advém do estudo da materialidade histórica e social e torna-se referência para a
apreensão dos processos históricos e da sociedade capitalista contemporânea.

Outrossim, a tese central da concepção materialista da história, segundo as


considerações do Caderno LeMarx (2019), é a de que as formas de consciência
social são determinadas e explicadas pelo ser social. Isto é, se opõe diretamente a
todas as concepções idealistas da história, pois estas concebiam a essência
humana como algo metafísico e imutável. É por meio de um acúmulo de debates
entre materialistas durante os séculos que eles começam a compreender que o
“ser” condiciona o desenvolvimento da “consciência”. Consciência esta que é o
resultado de um desenvolvimento que está repleto de mudanças e transformações.

Nesse sentido, o marxismo, enquanto teoria da história, tem como objeto as


estruturas econômico-sociais, pois, segundo o historiador José Carlos Reis, "é a
estrutura econômico-social, que limita e circunscreve a ação do sujeito individual ou
coletivo" (REIS, 1996, p. 27). Ou seja, para Marx, os indivíduos só podem ser
explicados através das relações sociais que mantêm com outros sujeitos, isto é,
pela organização social que integram e são alicerçados.

Desse modo, para que o processo histórico possa ser compreendido, o historiador
marxista coloca em segundo plano o conceito de consciência e prioriza a concepção
de produção, que concebe a hipótese materialista do ser social. Pois, segundo o
teórico, não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, o contrário,
é o ser social que determina sua consciência. É então o modo de produção que
condiciona a vida social e política das sociedades.

O lugar do sujeito nessa teoria diz respeito ao conjunto de suas relações sociais,
visto que a essência humana não é uma concepção inerente ao indivíduo isolado.
Antes, é um produto dos contextos histórico-sociais no qual os indivíduos estão
inseridos, perdendo assim qualquer caráter de imutabilidade. O Materialismo
Histórico defende a tese de que a elaboração do pensamento está intrincado ao
intercâmbio material estabelecido entre os indivíduos, apesar de também
reconhecer uma certa autonomia do desenvolvimento do conhecimento. Desse
modo, “A consciência é, portanto, de início, um produto social e o será enquanto
existirem homens”, ou seja, a consciência é primordial para a organização social e,
portanto, toda controvérsia que se desenrola em meio a luta de classes passa pelo
desenvolvimento da consciência.

Ademais, para o Materialismo Histórico, as representações mentais só atuam na


realidade social através da ação humana, em meio às condições sociais, políticas,
culturais e econômicas de determinado período histórico. Rejeitando assim um
caráter autônomo das ideias no que concerne às condições materiais, que orientaria
a história social. Em vista disso, os indivíduos não são entendidos como produtos
inconscientes das circunstâncias da natureza e do meio social. Mas sim como seres
ativos, instruídos para modificar e transformar a realidade, entendidos então como
agentes da história. Apresentando assim uma “relação dialética entre o meio natural
e social e a atividade concreta dos indivíduos.” (Le Marx, 2019, p. 29).

Contudo, para conseguir compreender a ação humana e o pensamento das classes


sociais em cada etapa do movimento histórico, é preciso fazer o exame profundo
das condições materiais da vida social, tendo em vista a construção efetuada pelas
gerações anteriores, bem como a vivência e transformação das posteriores. A
concepção materialista da história parte da própria realidade política, econômica e
social, que é permeada por contradições. Desse modo, não precisa partir de
elementos forjados, assim como o fazem nas concepções idealistas da história.
A tese fundamental sustentada pelos materialistas históricos é a de que: “A
produção das condições materiais de existência condiciona a forma como os
indivíduos interpretam, pensam, conhecem e compreendem a natureza e as
relações sociais ao seu redor.” Ou seja, a forma como os sujeitos se relacionam
socialmente e o modo de produção é a base da vida intelectual da sociedade
humana. Entretanto, é necessário ressaltar que Marx e Engels nunca afirmaram que
os pressupostos econômicos da sociedade são os únicos determinantes.

2. Cite alguns dos principais CONCEITOS ELEMENTARES do Materialismo


Histórico (Pesquisa no Dicionário indicado)

Consciência de classe: Marx estabelece uma diferenciação entre a situação


subjetiva de uma classe e a consciência subjetiva dessa condição. Ressalta que as
distinções sociais só assumem forma de classe na sociedade capitalista, visto que
somente nessa forma de sociedade o fato de pertencer a determinada classe social
é definido pela posse de propriedades ou controle dos meios de produção, ou pela
exclusão dessa propriedade e controle. Ele liga o advento da consciência de classe
na burguesia e proletariado como resultado da crescente luta política do Terceiro
Estado da sociedade feudal francesa e as classes dirigentes do Antigo Regime.
Além de demonstrar a dificuldade do desenvolvimento dessa consciência nos
pequenos camponeses franceses, que se utilizavam do seu poder político para se
sujeitar a um senhor ao invés de se afirmarem de maneira revolucionária como
classe dominante. Não obstante, uma consciência de classe adequada, segundo
Kautsky e Lênin, só poderia chegar à classe operária "a partir de fora". Rosa
Luxemburgo ressalta o papel da experiência social, da luta de classes, que podem
contribuir para o desenvolvimento de uma consciência de classe necessária para a
ação.

Exploração: Conceito básico do materialismo histórico, a produção de excedentes


torna possível a exploração, que é o fundamento da sociedade de classes. É a
exploração que dá origem à luta de classes. Desse modo, os diferentes tipos de
sociedade e a luta de classes pertencente a elas podem ser caracterizados pela
maneira específica pela qual a exploração é efetivada. Diferencia a exploração no
modo de produção capitalista e nos modos de produção não capitalistas. O
capitalismo é o único no processo de ocultação de seu método de exploração
através do processo de troca.

Sociedade: Marx a utilizou em três sentidos: 1) sociedade humana; 2) tipos


historicamente existentes de sociedade, exemplo: sociedade feudal; sociedade
capitalista; 3) qualquer sociedade particular, exemplo: Roma antiga, França
moderna; A concepção de Marx parte de uma ideia de seres humanos que vivem
em sociedade e não envolve uma antítese entre indivíduo e sociedade que só pode
ser superada através de um tipo de contrato social. O indivíduo é um ser social,
portanto não deve ser postulado separadamente da sociedade. Os seres humanos
são vistos como parte do mundo natural, que é a base real de todas as suas
atividades. Intercâmbio na relação entre natureza e sociedade, que se constrói
historicamente.

3. De que forma a Crise dos Paradigmas modificou algumas das abordagens


da Escola Marxista? (Pesquisa livre em Revistas de História)

As diversas transformações no universo social, sobretudo a partir das últimas


décadas do século XIX e meados do século XX, originaram no campo de estudos a
chamada crise de paradigmas. Em vista disso, novas bases foram construídas,
sendo alternativas de pesquisa que consideram o mundo como um decurso
emergente que é engendrado pelos indivíduos. O paradigma pós-moderno é,
destarte, a crítica necessária para a prática científica, e que pode ajudar a teoria da
história a construir abordagens metodológicas que permitam a aproximação da
realidade em face da recorrente mutabilidade desta mesma realidade, que já foi
demasiadamente estudada.
E no que diz respeito às abordagens da Escola Marxista, é colocada em discussão
a sua análise que é feita a partir de estruturas econômicas e conflito entre as
classes, e se ela é passível de ser utilizada em realidades distintas em que esses
pontos não estejam tão explícitos. Pois, apesar de Marx e Engels nunca afirmaram
que a base econômica da sociedade é a única determinante, nem que a
superestrutura jurídico-política e as formas de consciência social são fixas e
passivas, isso foi colocado muita das vezes por teóricos burgueses, que buscavam
deformar sua teoria.
Desse modo, a chamada crise dos paradigmas fez com que as teorias, não somente
o marxismo, tivessem que se reestruturar a partir de novos pressupostos para poder
compreender essas novas realidades sociais e econômicas, que tiveram mudanças
estruturais. Todavia, fica claro que as noções do materialismo histórico acerca da
luta de classes, as relações de produção e a estrutura econômico-social que
circunscreve a ação dos sujeitos é, notadamente, essencial para compreender as
sociedades que se desenvolvem ao longo da história.
Uma vez que, conforme é citado na Revista Brasileira de Educação, pela educadora
Maria Onete Lopes Ferreira, “enquanto o capitalismo for suscetível a críticas, o
marxismo poderá ser transformado, mas é impossível que desapareça''.
(HOBSBAWM, 1983, p. 63, apud FERREIRA, 2001, p. 87). Ou seja, mesmo que
haja mais desenvolvimentos e crises de paradigmas, o materialismo histórico terá
que continuar se renovando, contudo, o seu apagamento não ocorrerá conforme
prenunciado pelos autores, devido ao seu importante método de análise da história
sobre o sistema capitalista.
Em vista disso, pode-se inferir as modificações nas abordagens marxistas em
decorrência da crise dos paradigmas, contudo, evidencia ainda sua resistência
frente a teorias identificadas com a ideologia burguesa e suas teses pós-modernas.
Destarte, o repensar de conceitos, categorias e até a teoria como um todo é feito
pelo marxismo e pelas mais diversas escolas históricas, que precisam
transformarem-se frente às novas problemáticas advindas da crise dos paradigmas.

Referências

BOTTOMORE, Tom. Dicionário do pensamento Marxista. Ed. ZAHAR,1998.

FERREIRA, Maria Onete Lopes. “A crise dos paradigmas e o marxismo entre os

pesquisadores em trabalho e educação em universidades brasileiras”. Revista

Brasileira de Educação. Nº21, 2002.

FIGUEREDO, Antônio José. “A crise dos paradigmas: a metodologia do

positivismo e novas possibilidades da pluralidade metodológica em ciências

humana”. Revista Valore, Volta Redonda, 1 (1): 159-168.,2016


REIS, José Carlos. A História entre a filosofia e a ciência. Editora Ática S.A. São

Paulo, 1996.

SIQUEIRA, Sandra M.M., PEREIRA, Francisco. Marx-Engels: O materialismo

histórico. Caderno Lemarx, n.2, Setembro/2019.Título: Marx/Engels: Origem e

Fontes do Marxismo Série: Introdução aos Clássicos do Marxismo."

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