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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS


DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA E RECURSOS NATURAIS
LUDMILLA SANTOS

LUDMILLA SANTOS
CLASSIFICAÇÃO DO LITORAL DE MARATAIZES, ES
QUANTO À VULNERABILIDADE EROSIVA

CLASSIFICAÇÃO DO LITORAL DE MARATAIZES, ESPÍRITO SANTO,


QUANTO À VULNERABILIDADE EROSIVA
Monografia apresentada ao Curso de Oceanografia
do Centro de Ciências Humanas e Naturais da
Universidade Federal do Espírito Santo, como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do título
de Bacharel em Oceanografia.

VITÓRIA
2005

VITÓRIA 0
2005
LUDMILLA SANTOS

CLASSIFICAÇÃO DO LITORAL DE MARATAIZES, ESPÍRITO SANTO,


QUANTO À VULNERABILIDADE EROSIVA

Monografia apresentada ao Curso de Oceanografia


do Centro de Ciências Humanas e Naturais da
Universidade Federal do Espírito Santo, como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do título
de Bacharel em Oceanografia.

VITÓRIA
2005

1
LUDMILLA SANTOS

CLASSIFICAÇÃO DO LITORAL DE MARATAIZES, ESPÍRITO SANTO,


QUANTO À VULNERABILIDADE EROSIVA

COMISSÃO EXAMINADORA

Profª. Drª. Jacqueline Albino


Orientadora - DERN/UFES

Prof. Dr. Alex Cardoso Bastos


Examinador Interno – UFES/DERN

Prof. Dr. Gilberto Fonseca Barroso


Examinador Interno – UFES/DERN

Vitória, 16 de novembro de 2005

2
A Everson e Shirley, que me deram a vida e
possibilitaram a minha chegada até aqui.

3
AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos aqueles que de alguma forma contribuíram para que eu


conseguisse chegar até aqui, mas não posso deixar de citar, primeiramente Deus,
pois sem a permissão dele não poderia estar neste planeta e em segundo lugar, mas
não menos importantes, os meus pais que sempre estiveram ao meu lado em todos
os momentos da minha vida, me dando bons exemplos, me apoiando e acreditando
na minha capacidade, até nos momentos em que eu mesma duvidava dela. Minhas
irmãs, Priscilla e Gabriella, também merecem lugar de destaque, da mesma forma
que meus amigos, uma ênfase maior será dada a Danielle e Nayla, sem as quais
minha estada aqui em Vitória tornar-se-ia insuportável, pois elas, principalmente a
última, sempre estiveram ao meu lado tanto nos momentos de glória quanto nos de
derrota. Meus queridos familiares, que me acolheram em sua casa de braços abertos
merecem compartilhar os louros da vitória, da mesma maneira que meus colegas e
amigos de graduação admitindo que eles já são parte de minha história.

Serei eternamente grata à minha tia Cris e minha avó Dica que sempre contribuíram
para a minha educação.

Faço uma ressalva especial à minha falecida avó Maria Flôr de Maio dos Santos e
ao meu querido avô Flávio Tocafundo que por motivo de força maior não estão mais
entre nós, mas que em nenhum momento deixaram de me incluir em suas preces,
pedindo para que meus sonhos fossem realizados.

Enfim, agradeço a todos, desde os funcionários do Departamento de Ecologia e


Recursos Naturais até a minha orientadora a Profª. Drª. Jacqueline Albino e meus
colegas, Bruno, Renata, Nélio, Diogo, Paulo Veronez e Alexandre, sem os quais
tudo, certamente, seria diferente.

Aos que não foram citados peço desculpas, mas deixo enfatizada a minha eterna
gratidão.

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Mar português

Fernando Pessoa

Ó mar salgado, quanto do teu sal


São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos,quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena


Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador.
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

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LISTA DE TABELAS

TABELA 2.1: Peculiaridades dos setores que compõe o litoral do Estado do Espírito
Santo segundo as observações feitas por Martin et al.
(1996)......................................................................................................................... 20

TABELA 2.2: Estágios evolutivos de sedimentação litorânea, por mecanismos


eustáticos e paleoclimáticos, desde o fim do Terciário até os dias
atuais......................................................................................................................... 25

TABELA 5.1: Caracterização das Estações identificadas, bem como a suas


delimitações, o local a que se referem, observações proeminentes e registro
fotográfico.................................................................................................................. 51

TABELA 5.2: Recuo da linha de costa, segundo sugerido por Bruun (1962), para
uma elevação do nível o mar de 30 e 50 cm............................................................. 74

TABELA 5.3: Parâmetros utilizados para se obter o Recuo da linha de costa (R) dos
compartimentos representados por praias ou outras feições precedidas de praia... 75

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 2.1: Localização do município de Marataízes............................................. 15


FIGURA 2.2: Setor 5 da compartimentação do litoral do Estado do Espírito Santos
conforme proposto por Martin et al. (1996)................................................................ 21
FIGURA 2.3: Falésias vivas da Formação Barreiras intercaladas por falésias vivas
precedidas por praias estreitas com baixa declividade encontradas no litoral de
Marataízes (ES)......................................................................................................... 22
FIGURA 2.4: Costão rochoso encontrado próximo à desembocadura do rio Itapimirim
(ES)............................................................................................................................ 23
FIGURA 2.5: Distribuição dos depósitos terciários da Formação Barreiras ao longo
do litoral do estado do Espírito Santo, modificado por Amador & Dias
(1978)......................................................................................................................... 24
FIGURA 2.6: Planície Litorânea encontrada próximo ao litoral de Marataízes
(ES)............................................................................................................................ 25
FIGURA 3.1: Estados morfodinâmicos das praias segundo Wright et al. (1979).......30
FIGURA 3.2: Limites mínimos da orla segundo as características morfológicas do
litoral.......................................................................................................................... 34
FIGURA 4.1: Organograma das atividades realizadas pelo presente trabalho......... 38
FIGURA 4.2: Levantamento dos perfis topográficos praiais pela aplicação do método
proposto por Emery (1961). ...................................................................................... 46
FIGURA 5.1: Perfil topográfico do Compartimento I................................................. 51
FIGURA 5.2: Praia da Barra (ES).............................................................................. 51
FIGURA 5.3: Plataforma de abrasão rochosa que representa o compartimento
II............................................................................................................................................... 52
FIGURA 5.4: Perfil topográfico referente ao Compartimento III....................................53
FIGURA 5.5: Praia da Barra (ES), ambiente praial ocupado por quiosque.............. 53
FIGURA 5.6: Plataforma de abrasão rochosa situado na Ponta das Arraias
(ES)............................................................................................................................ 54
FIGURA 5.7: Perfil topográfico representando o Compartimento V......................... 55

7
FIGURA 5.8: Praia da Cruz (ES), com construções feitas bem próximo à linha de
preamar...................................................................................................................... 55
FIGURA 5.9: Plataforma de abrasão rochosa representando o compartimento VI e
seu respectivo perfil topográfico................................................................................ 56
FIGURA 5.10: Representação gráfica do perfil topográfico realizado no
compartimento VII..................................................................................................... 57
FIGURA 5.11: Praia das Arraias (ES)....................................................................... 57
FIGURA 5.12: Perfil topográfico............................................................................... 58
FIGURA 5.13: Compartimento praial circundado por pequena formações
rochosas.................................................................................................................... 58
FIGURA 5.14: Enroncamento presente no o compartimento IX............................... 59
FIGURA 5.15: O quadro vermelho destaca a pequena formação praia que
representa o compartimento X.................................................................................. 60
FIGURA 5.16: Praia dissipativa localizada em uma pequena região de embaiamento
e sua representação gráfica....................................................................................... 61
FIGURA 5.17: Costão rochoso representando o compartimento XII........................ 62
FIGURA 5.18: Perfil topográfico compartimento XIII................................................ 63
FIGURA 5.19: Praia de Marataízes , sem as contenções......................................... 63
FIGURA 5.20: Perfil topográfico................................................................................ 64
FIGURA 5.21: Registro fotográfico do compartimento XIV e os problemas causados
pela urbanização feita de forma errônea................................................................... 64
FIGURA 5.22: Perfil topográfico da praia de Marataízes (ES).................................. 65
FIGURA 5.23: Praia de Marataízes (ES)................................................................... 65
FIGURA 5.24: Sucessão fotográfica mostrando a barra da Lagoa do Siri
(ES)............................................................................................................................ 66
FIGURA 5.25: Perfil topográfico do comprtimento XVII............................................ 67
FIGURA 5.26: Praia do Siri (ES)............................................................................... 67
FIGURA 5.27: Perfil topográfico do compartimento XVIII........................................ 68
FIGURA 5.28: Praia de Suruí (ES)........................................................................... 68
FIGURA 5.29: Falésia viva ao fundo representando o compartimento XIX............. 69
FIGURA 5.30: Perfil topográfico do compartimento XX............................................ 70

8
FIGURA 5.31: Praia de Cações (ES) com ocupação feita de forma errônea........... 70
FIGURA 5.32: Falésia viva representando o compartimento XXI............................. 71
FIGURA 5.33: Perfil topográfico do compartimento XXII.......................................... 72
FIGURA 5.34: Cordão litorâneo precedido de praia, com estrada destruída
interrompendo o tráfego local.................................................................................... 72
FIGURA 5.35: Compartimentos que compõem o litoral de Marataízes (ES) em
porcentagem.............................................................................................................. 73
FIGURA 5.36: Taxa de recuo da linha de costa e Grau de vulnerabilidade de cada
compartimento que compõe o litoral de Marataízes.................................................. 79
FIRGURA 5.37: Erosão em quiosques construídos sobre as dunas frontais na praia
de Marataízes (ES).................................................................................................... 80
FIGURA 5.38: Areias praias depositadas por ação eólica sobre a via de acesso à
praia da Barra (Marataízes, ES)................................................................................ 80
FIGURA 5.39: Edificações feitas sobre a praia de Arrais, em Marataízes (ES)....... 81
FIGURA 5.40: Quiosques ocupando as margens da Lagoa do Siri (Marataízes,
ES)........................... ................................................................................................. 81
FIGURA 5.41: Análise de Cluster dos compartimentos identificados, recuo da linha
de costa e diagnóstico de uso e ocupação................................................................ 82
FIGURA 5.42: Mapa de vulnerabilidade do litoral de Marataízes (ES), evidenciando
os compartimentos de I a XIV................................................................................... 84
FIGURA 5.43: Mapa de vulnerabilidade do litoral de Marataízes (ES), evidenciando
os compartimentos de XIV a XVII............................................................................. 85
FIGURA 5.44: Mapa de vulnerabilidade do litoral de Marataízes (ES), evidenciando
os compartimentos de XVII a XXII........................................................................... 86

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LISTA DE SIGLAS

A.P. – Antes do Presente

CIRM – Comissão Interministerial para Recursos do Mar

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente

DHN - Diretoria de Hidrografia e Navegação

EMCAPA – Empresa Capixaba de Pesquisa Agropecuária

ES – Espírito Santo

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INPH – Instituto Nacional de Pesquisas Hidroviárias

IPCC - Intergovernmental Panel of Climate Change

Gerco – Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro

GI-Gerco – Grupo de Integração do Gerenciamento Costeiro

MMA – Ministério do Meio Ambiente

MP - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão

PIB – Produto Interno Bruto

RJ – Rio de Janeiro

Sigerco - Sistema Nacional de Informações do Gerenciamento Costeiro

SPU - Secretaria do Patrimônio da União

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................14

1.1 APRESENTAÇÃO E JUSTIFICATIVA ............................................... 14

1.2 OBJETIVOS ........................................................................................... 15

1.2.1 Objetivo geral.................................................................................. 15


1.2.2 Objetivos específicos ...................................................................... 15

2. ÁREA DE ESTUDO .....................................................................................16

2.1 LOCALIZAÇÃO E ASPECTOS SÓCIO – ECONÔMICOS ..................... 16

2.2 ASPECTOS CLIMÁTICOS E OCEANOGRÁFICOS .............................. 18

2.3 ASPECTOS GEOLÓGICOS E GEOMORFOLÓGICOS ........................ 18

2.3.1 Os afloramentos e promontórios cristalinos pré-cambrianos .......... 22


2.3.2 Os tabuleiros da Formação Barreiras ............................................. 23
2.3.3 As planícies costeiras quaternárias ................................................ 24

3. VULNERABILIDADE EROSIVA ..................................................................27

3.1 CONCEITO, APLICAÇÃO E CONTRIBUIÇÃO PARA A GESTÃO


COSTEIRA................................................................................................... 27

3.2 CLASSIFICAÇÃO E CRITÉRIOS MORFODINÂMICOS PARA O


ESTABELECIMENTO DE LIMITES DA ORLA COSTEIRA ......................... 28

3.2.1 Feições Costeiras ........................................................................... 28


3.2.2 Critérios Morfodinâmicos para o Estabelecimento de Limites da Orla
Costeira ................................................................................................... 32

3.2 AÇÕES................................................................................................... 34

4. MATERIAIS E MÉTODOS ...........................................................................37

4.1 ESTUDOS PRELIMINARES .................................................................. 39

4.2 IDENTIFICAÇÃO DOS COMPARTIMENTOS COSTEIROS E COLETA DE


DADOS ............................................................................................................39

11
4.3 DIAGNÓSTICO DO USO E OCUPAÇÃO .............................................. 41

4.4 TAXA DE RECUO E DETERMINAÇÃO DOS LIMITES SEGUROS DE


OCUPAÇÃO................................................................................................. 42

4.4.1 Praias.............................................................................................. 43
4.4.2 Plataforma de abrasão rochosa ...................................................... 47
4.4.3 Falésias vivas e falésias precedidas de praias ............................... 48
4.4.4 Desembocadura fluvial ................................................................... 48

4.5 DETERMINAÇÃO DA VULNERABILIDADE EROSIVA ......................... 49

4.6 CONFECÇÃO DOS MAPAS DE VUNERABILIDADE EROSIVA ........... 49

4.7 IDENTIFICAÇÃO DAS LEIS APLICÁVEIS QUE CONTRIBUEM PARA UMA


MELHOR GESTÃO COSTEIRA....................................................................... 50

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................50

5.1 IDENTIFICAÇÃO DOS COMPARTIMENTOS........................................ 50

5.2 DETERMINAÇÃO DO LIMITE SEGURO DE OCUPAÇÃO DA LINHA DE


COSTA...............................................................................................................73
5.2.1 Praias dissipativas e intermediárias e falésia precedidas de praia . 74
5.2.2 Plataformas de abrasão rochosa .................................................... 76
5.2.3 Falésias vivas ................................................................................. 76
5.2.4 Desembocadura Fluvial.................................................................. 78

5.3 VULNERABILIDADE EROSIVA DO LITORAL DE MARATAÍZES..... 78

5.4 APLICABILIDADE DOS CRITÉRIOS DE USO E OCUPAÇÃO


ADOTADOS PELO PROJETO ORLA PARA FAIXA DE SEGURANÇA DO
LITORAL DE MARATAÍZES .................................................................... 87

5.5 LEIS APLICÁVEIS QUE CONTRIBUEM PARA UMA MELHOR


GESTÃO COSTEIRA............................................................................... 87

6. CONCLUSÕES ............................................................................................90
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................92
ANEXOS ..........................................................................................................96

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RESUMO

A região costeira vem ao longo dos anos sofrendo um grande processo de


urbanização e esta, por sua vez, nem sempre é feita de forma correta, assim,
ocupações impróprias oferecem riscos diversos e são fontes potenciais de perdas
econômicas, sociais e, até mesmo, culturais. Com o intuito de classificar o litoral de
Marataízes (ES) quanto à vulnerabilidade erosiva, para isso utilizou-se as
proposições feitas por Muehe (1998) para se fazer o Macro-Diagnósticos das zonas
costeiras para identificar as feições fisiográficas presentes no litoral em estudo, da
mesma forma que se fez uso das idéias propostas por Muehe (2001a) e adotadas
pelo Projeto Orla Marítima do Ministério do Meio Ambiente para a determinação da
faixa de segurança para a ocupação urbana. Observou-se, que o litoral de
Marataízes é composto por 5 feições fisiográficas, sendo as praias as mais
abundantes, e o mais agravante é que são estas as feições mais urbanizadas e, por
conseqüência, as mais vulneráveis à ação erosiva. O mais interessante é que já
existem leis que regem o ambiente costeiro, mas estas estão sendo cumpridas. E
com a tendência expansionista que o exige que um plano gestor seja efetivamente
instalado para evitar perdas mais significativas.

13
1. INTRODUÇÃO

1.1 APRESENTAÇÃO E JUSTIFICATIVA

A orla costeira, ou simplesmente orla, é a estreita faixa de contato da terra com o


mar na qual a ação dos processos costeiros se faz sentir de forma mais acentuada e
potencialmente mais crítica à medida que os efeitos erosivos ou construtivos possam
alterar sensivelmente a configuração da linha de costa. Além disso, torna-se
necessário saber que essa região representa, também, uma faixa na qual a
degradação ambiental por destruição da vegetação e construção de edificações se
torna extremamente evidentes por modificar, geralmente para pior, a estética da
paisagem e até mesmo intervir no processo de transporte sedimentar, tanto eólico
quanto marinho, provocando desequilíbrios no balanço sedimentar e,
conseqüentemente, na estabilidade da linha de costa. Assim, tanto no sentido do
estabelecimento de uma zona de proteção costeira contra fenômenos erosivos,
quanto no de preservação da paisagem, torna-se importante a definição de critérios
para a fixação de limites oceânicos e terrestres, legalmente aceitos, para que se
possa orientar ações de controle e restrição de atividades que venham alterar de
forma negativa as características ambientais, estéticas e de acessibilidade à orla
(Muehe, 2001a).

Sabendo que o ajustamento de uma linha de costa, a uma elevação do nível do mar,
depende das características geomorfológicas e petrográficas da mesma, podendo os
efeitos variar entre nenhum (costão rochoso, praias arenosas, falésias sedimentares)
e grandes inundações (áreas baixas freqüentemente ocupadas por manguezais ou
marismas). Logo, para o estabelecimento da largura da faixa de proteção costeira, os
critérios mais adotados consideram a tendência erosiva ou progradacional da costa
em questão, expressa pela taxa de retrogradação/progradação anual prevista por
efeito de elevação do nível relativo do mar e aspectos estéticos-paisagísticos
(Muehe, 2001a).

Devido às inúmeras ocupações irregulares encontradas ao longo do litoral brasileiro,


torna-se clara, a relação direta existente entre a modificação do nível do mar e as
conseqüências indesejáveis que tal acontecimento pode gerar nas construções a

14
beira mar. As características morfológicas da praia influem bastante na magnitude
dos efeitos que a variação do nível do mar pode provocar na região litorânea.

Utilizando todas as características já citadas e transportando-as para o cenário


composto pelo litoral sul capixaba, Albino et al. (no prelo) destacam que a região
apresenta características geológicas e geomorfológicas com forte tendência erosiva,
com presença de falésias vivas e planícies costeiras estreitas. Muitas vezes o
processo erosivo é intensificado pela tipologia das praias e pelo uso e ocupação a
que as mesmas estão submetidas.

O estudo do comportamento morfológico quanto á variabilidade e capacidade de


adaptação de um litoral a uma subida do nível do mar, mesmo que esta elevação
seja de curta duração e esteja associada à intensificação das condições
oceanográficas, é uma ferramenta importante para o manejo costeiro e para a
tomada de decisões referentes àquele espaço.

Admitindo que a vocação turística da região de Marataízes (ES) vem sofrendo o


impacto de uma intensa erosão costeira com destruição das instalações comerciais e
residências, a presente proposta de estudo é de suma importância no sentido de
sinalizar trechos potenciais de desequilíbrios morfodinâmicos baseados na
compartimentação do litoral quanto à vulnerabilidade erosiva do mesmo.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

Classificar e mapear o litoral de Marataízes (ES) quanto à vulnerabilidade erosiva.

1.2.2 Objetivos específicos

• Identificar as micro-unidades geomorfológicas que compõem o litoral de


Marataízes (ES).

15
• Fazer um levantamento e diagnóstico referente à ocupação das micro-
unidades geomorfológicas identificadas.

• Discutir a aplicabilidade dos critérios de uso e ocupação adotados pelo Projeto


Orla Marítima (MMA), para a faixa de segurança, no litoral de Marataízes.

• Destacar a legislação aplicável que contribui para uma melhor gestão costeira
do litoral estudado, evidenciando quais delas não estão sendo respeitadas.

• Elaborar material técnico com texto e mapas de fácil leitura cuja utilização
será de fundamental importância para os órgãos gestores.

2. ÁREA DE ESTUDO

2.1 LOCALIZAÇÃO E ASPECTOS SÓCIO – ECONÔMICOS

Marataízes é um dos mais destacados balneários da região austral do Estado do


Espírito Santo. O município foi criado em 14 de janeiro de 1992, passando a existir
efetivamente a partir de 1° de janeiro de 1997. Segundo os dados fornecido, no ano
de 2000, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade possui
uma área territorial de 135 km2, uma população de aproximadamente 30 mil
habitantes e uma densidade populacional de 223,95 hab/km2. Distancia-se de
Vitória, capital do estado, 110 km. O município faz fronteira ao norte e a oeste com a
cidade de Itapimirim, a sul com Presidente Kennedy e a leste com o Oceano
Atlântico (Marataízes, 2005). O território oficial do município pode ser visualizado na
Figura 2.1.

Atividades como agricultura, comércio, construção civil e pesca são detentoras de


50% dos empregos encontrados na cidade, este dado contribui para enquadrar
Marataízes, num cenário onde existe um conflito claro entre o antigo e o moderno,
pois atividades tradicionais coexistem com atividades modernas voltadas para o
turismo e para o veraneio. Semelhante situação se observa nos dados referentes ao
Produto Interno Bruto (PIB) por setor: cerca de 11% é obtido pelo setor primário e

16
88% pelo setor terciário da economia, portanto, as principais atividades geradoras de
divisa são aquelas voltadas para setor turístico e agropecuário (Cometti, 2005).

FIGURA 2.1: Localização do município de Marataízes. Adaptado CEPEMAR, Monitoramento Marinho


da Baía do Espírito Santo, suas Imediações e Região de Praia Mole, 2003.

Do total de domicílios ocupados, 80,31% têm abastecimento de água feito pela rede
geral e 74,78% têm lixo regularmente coletado. Esses índices apontam para uma
infra-estrutura urbana razoável, mas que apresenta problemas de saturação em
épocas de alta temporada, quando inúmeros turistas ocupam a cidade, sendo a
grande maioria provinda dos Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro (Cometti,
2005).

17
2.2 ASPECTOS CLIMÁTICOS E OCEANOGRÁFICOS

A área estudada situa-se em zona caracterizada por abundantes chuvas tropicais


durante o verão e por um prolongado período de estiagem que se estende do outono
ao inverno. Contudo, durante o período de seca, que ocorre entre os meses de
março e agosto, precipitações frontais associadas à passagem de massas polares
podem ser registradas com certa freqüência. A temperatura média anual é de 22º C,
ficando a média das máximas entre 28º C e 30º C, enquanto que as mínimas giram
em torno de 15º C (Albino, 1999).

Dados fornecidos pela EMCAPA (1981) demonstram que os ventos de maior


freqüência e maior intensidade são os provenientes dos quadrantes NE-ENE e SE,
respectivamente. Os primeiros estão associados aos ventos alísios, que sopram
durante a maior parte do ano, em contrapartida os ventos de SE estão relacionados
às frentes frias que chegam periodicamente à costa capixaba (Albino, 1999).

Medidas referentes à altura e ao período das ondas obtidas pelo INPH (Instituto
Nacional de Pesquisas Hidroviárias), entre março de 1979 e setembro de 1980, nas
imediações do porto de Tubarão, em Vitória, revelam que a altura significativa das
ondas para o litoral ultrapassa 1,5 m, sendo as alturas de 0,9 m e 0,6 m as mais
freqüentes. O período freqüente está em torno de 5 e 6,5 s, sendo o máximo
encontrado de 11 s (Albino, 1999).

O litoral capixaba possui um regime micromareal, cuja amplitude de maré, segundo a


Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) (1994), varia 1,40 m e 1,50 m, atingido,
durante a maré de sizígia a amplitude de cerca de 1,70 m.

2.3 ASPECTOS GEOLÓGICOS E GEOMORFOLÓGICOS

A plataforma continental defronte à área de estudo sofre um progressivo


alargamento em direção à bacia de Campos (RJ). A isóbata de 20 m que na altura
de Vitória se distanciava da linha de costa cerca de 3 a 5 km e acompanhava a
configuração da linha de costa passa a se afastar consideravelmente para mar
adentro. Na altura de Ubu (ES) a distância de tal isóbata já está por volta de 30 a 40

18
km e apresenta bruscas inflexões, devido à presença de paleovales e bancos
isolados (Albino, 1999). Essas anomalias não são registradas pela disposição da
isóbata de 50 m. A mesma, entretanto, mostra a presença de uma fissura estrutural
muito estreita, com 30 km de comprimento, 1 km de largura e profundidade média de
20 m, que avançou para dentro da plataforma interna, em direção a Guarapari (ES)
(Muehe, 1998).

O recobrimento sedimentar da plataforma continental interna, segundo Kowsmann e


Costa (1979), é de areia terrígena até a isóbata de 20 m e de cascalhos e areias de
briozoários recifais, em profundidades maiores. A exploração de algas calcáreas foi
realizada, em nível experimental, numa pequena área a sudeste da barra do
Itapimirim, em profundidades em torno de 15 m (Dias, 1989).

Ao que tange os aspectos geomorfológicos do litoral do Estado do Espírito Santo,


Martin et al. (1996) reconhecem três unidades principais cada uma possuidora de
características marcantes que deixam bem claras as distinções entre elas, assim
tem-se:

1. Os afloramentos e promontórios cristalinos pré-cambrianos;

2. Os tabuleiros terciários da Formação Barreiras;

3. As planícies costeiras quaternárias.

A descrição de cada uma dessas unidades será feita mais à frente em tópicos
específicos para cada uma delas.

A partir da distribuição destas unidades ao longo do litoral do estado do Espírito


Santo Martin et al. (1996) propuseram a divisão do mesmo em 5 setores, cujas
peculiaridades estão dispostas na tabela abaixo.

19
TABELA 2.1: Peculiaridades dos setores que compõe o litoral do Estado do Espírito Santo segundo
as observações feitas por Martin et al. (1996).

Setor Características relevantes

Estende-se desde o limite territorial com o Estado da Bahia e a cidade de Conceição da Barra (ES),
Setor 1 sendo as características mais relevantes as estreitas planícies costeiras, associadas às
desembocaduras dos rios Itaúnas e São Mateus, localizadas ao sopé da Formação Barreiras.

Corresponde à planície deltaica do rio Doce cujas cidades limites são Conceição da Barra e Barra do
Setor 2 Riacho. Este é o trecho do litoral capixaba onde os depósitos quaternários atingem o seu
desenvolvimento máximo, cuja distância entre as falésias mortas da Formação Barreiras, situadas mais
ao interior do continente, e a linha de costa é de aproximadamente 38 km.

Estende-se de Barra do Riacho até a Ponta de Tubarão na Baia do Espírito Santo. A característica
Setor 3 marcante é o fraco desenvolvimento dos depósitos quaternários ao sopé das falésias da Formação
Barreiras. Observam-se, ainda, locais onde as falésias da Formação Barreiras estão em contato direto
com a praia. Os depósitos flúvios-marinhos são mais pronunciados ao longo dos vales dos rios Piraquê-
Açu, Reis Magos e Santa Maria de Vitória.

Está compreendido entre a Baía do Espírito Santo e a foz do rio Itapimirim. Caracteriza-se pelos
afloramentos de rochas cristalinas pré-cambrianas em contato com os depósitos quaternários
intercalados pelos afloramentos da Formação Barreiras precedidos de praia como é o caso das praias
Setor 4
de Maimbá e Ubú, ambas em Anchieta. O litoral mostra-se bastante recortado, sendo observados
trechos salientes sem condições de deposição de areias e trechos com significativo desenvolvimento
das planícies costeiras cuja existência é favorecida pela presença de obstáculos tais como promontórios
e ilhas, pela divergência das ortogonais das ondas e pelos aportes fluviais localizados.

Estende-se da foz do rio Itapimirim até a margem norte da desembocadura do rio Itabapoana, limite
territorial com o Estado do Rio de Janeiro (Figura 2.2). Vale salientar que o município de Marataízes,
local de realização do estudo, situa-se neste setor.
Setor 5
Caracterizado por estreitos depósitos quaternários limitados pelas falésias vivas da Formação Barreiras
intercaladas por falésias vivas precedidas por praias estreitas com baixa declividade (Figura 2.3). Uma
extensa planície quaternária é verificada no vale fluvial do rio Itabapoana.
Acrescenta-se, ainda, que a tipologia das praias que compõe a região é classificada como dissipativa e
intermediária. Faz jus mencionar que o litoral do setor em questão vem sofrendo um progressivo
processo erosivo.

20
FIGURA 2.2: Setor 5 da compartimentação do litoral do Estado do Espírito Santos conforme proposto
por Martin et al. (1996). FONTE: Guia 4 Rodas, 1990).

21
FIGURA 2.3: Falésias vivas da Formação Barreiras intercaladas por falésias vivas precedidas por
praias estreitas com baixa declividade encontradas no litoral de Marataízes (ES). Foto: ALBINO,
13/11/2004.

2.3.1 Os afloramentos e promontórios cristalinos pré-cambrianos

Conforme as observações feitas por Coutinho (1974) a região serrana, na porção


norte do estado do Espírito Santo, é composta por duas grandes unidades de rochas
pré-cambrianas, uma composta por gnaisses migmatíticos e rochas graníticas e a
outra composta por gnaisses kinzigíticos e núcleos charnoquitos. Do ponto de vista
geológico, pode-se afirmar que tais rochas estão associadas à região serrana,
constituindo terras altas submetidas a intenso processo erosivo (Albino, 1999).

Eventualmente, podem-se perceber plataformas de abrasão rochosas próximas à


linha praial as quais formam os popularmente conhecidos costões rochosos (Figura
2.4).

22
Costão
rochosos

FIGURA 2.4: Costão rochoso encontrado próximo à desembocadura do rio Itapimirim (ES). Foto:
Albino, 13/11/2004.

2.3.2 Os tabuleiros da Formação Barreiras

Formação Barreiras é a designação que comumente é dada aos sedimentos


inconsolidados, de origem continental, que, atualmente, se encontram dispostos em
uma estreita faixa ao longo da região costeira. Esta Formação se estende do Estado
do Pará ao estado do Rio de Janeiro (Figura 2.5) (Bigarella & Andrade, 1964).

A Formação Barreiras estende-se ao longo de todo o litoral podendo estar hoje na


paisagem na forma de falésias vivas, falésias mortas e terraços de abrasão marinha.
Os terraços de abrasão encontram-se distribuídos aleatoriamente nas regiões
submersas praiais, sendo expostos durante a maré baixa, e na plataforma
continental interna nos trechos onde, conforme sugerido por King (1956), uma
estrutura monoclinal íngrime poderia ter ocasionado o soerguimento da superfície
terciária, em relação ao nível do mar, durante o Terciário médio (Albino et al., 2001).

23
FIGURA 2.5: Distribuição dos depósitos terciários da Formação Barreiras ao longo do litoral do estado
do Espírito Santo, modificado por Amador & Dias (1978).

A Formação Barreiras encontra-se distribuída ao longo de todo o litoral capixaba,


sendo sua presença mais pronunciada na porção centro-norte do estado e sofrendo
um decréscimo de largura rumo ao sul.

2.3.3 As planícies costeiras quaternárias

No litoral de Marataízes as planícies costeiras são inexistentes ou, quando


presentes, apresentam-se muito estreitas, com as praias limitadas pelos tabuleiros
da Formação Barreiras e pelos promontórios rochosos pré-cambrianos (Figura 2.6)
(Albino et al., 2001).

24
FIGURA 2.6: Planície Litorânea encontrada próximo ao litoral de Marataízes (ES). FONTE: Albino,
13/11/2004.

Dominguez et al. (1981) ao estudarem a costa leste do Brasil, identificaram os


estágios evolutivos que resultaram na sedimentação nas planícies litorâneas cuja
formação está intimamente ligada às variações do nível relativo do mar ocorridas
durante o Quaternário. Os estágios que deram origem ao processo em questão
podem ser descritos de forma sucinta na Tabela 2.2.

TABELA 2.2: Estágios evolutivos de sedimentação litorânea, por mecanismos eustáticos e


paleoclimáticos, desde o fim do Terciário até os dias atuais (Dominguez et al., 1981).

Estágio de desenvolvimento

Estágio A
Foi esta a fase em que os sedimentos que constituem a Formação
Barreiras foram depositados. O período geológico correspondente
era o Plioceno (3 a 4 milhões de anos A.P.), assim, o nível do mar
encontrava-se mais baixo que o atual e as condições climáticas eram
secas com chuvas escassas

25
Estágio B
A deposição da Formação Barreiras foi interrompida, pois o clima
passou a adquirir condições úmidas, havendo, portanto uma pequena
elevação do nível relativo do mar.

Estágio C
Neste período ocorreu a transgressão marinha antiga e a formação
das falésias em sedimentos terciários. Após ter ocorrido o máximo da
transgressão e durante a regressão que se seguiu, o clima voltou a
adquirir características semi-áridas, o que resultou na formação de
novos depósitos continentais na forma de leques aluviais.

Estágio D
Nível máximo alcançado pela última transgressão, ocorrida há
aproximadamente 120.000 anos A.P. correspondendo à
Transgressão Cananéia. Parte dos sedimentos continentais foi
erodida e houve formação de falésias e estuários.

Estágio E
Este estágio é marcado pela regressão do nível do mar que sucedeu
à transgressão citada no estágio anterior. Ressalta-se, também, que
neste estágio formaram-se os terraços marinhos pleistocênicos.

Estágio F
Período em que o fato de maior relevância foi a última transgressão,
Transgressão de Santos, ocorrida há aproximadamente 5.000 anos
A.P. A elevação do nível do mar promoveu a erosão e o afogamento
das planícies costeiras bem como a escavação de vales na
Formação Barreiras o que resultou no desenvolvimento de estuários
e ilhas barreiras.

26
Estágio G
Na área posterior ás ilhas barreiras formadas do estágio anterior
instalaram-se sistemas lagunares nos quais as desembocaduras
fluviais deram origem a deltas intralagunares.

Estágio H
O abaixamento do nível relativo do mar, que sucedeu ao máximo
transgressivo, ocorrido há aproximadamente 5.100 anos A.P.,
traduziu-se na forma de terraços marinhos, a partir da ilha barreira
original, com a progradação da linha de costa.

3. VULNERABILIDADE EROSIVA

3.1 CONCEITO, APLICAÇÃO E CONTRIBUIÇÃO PARA A GESTÃO COSTEIRA


Ferreira (1986) em Novo Dicionário da Língua Portuguesa define:

Erosão – (Do latim erosione). S.f. 1. Ato de carcomer e corroer a pouco e pouco. 2.
Trabalho mecânico de desgaste realizado pelas águas correntes, e que também pode
ser feito pelo vento (erosão eólica), pelo movimento das geleiras e, ainda, pelos
mares.

Vulnerável – (Do latim vulnerabile). Adj. 2 g. 1. Que pode ser vulnerado. 2. Diz-se do
lado fraco de um assunto ou de uma questão, ou do ponto pelo qual alguém, ou
algum local, pode ser atacado ou ferido.

Assim, entende-se por vulnerabilidade erosiva de um litoral, o quão frágil uma região
é à ação dos processos erosivos.

Embora razoáveis conjeturas possam ser feitas a respeito dos efeitos que várias
propriedades da costa contribuam ou desfavoreçam a erosão, a precisão de cada
efeito ainda é pouco conhecida. Quando se fala de substrato consolidado como é o
caso dos populares costões rochosos ou afloramentos cristalinos como um todo, a
natureza das rochas, sua dureza, sua vulnerabilidade intempérica e a freqüência das

27
imperfeições que tal rocha pode ter são considerados fatores relevantes. Agora
quando o assunto se refere à falésia, sua altura deve ser considerada, pois quanto
mais alta a falésia for, maior a quantidade de sedimento que poderá ser erodido.
Finalmente, a orientação da costa em relação às ondas dominantes conjugado com
o seu grau de entalhe e o perfil natural que a mesma possui parecem exercer papéis
importantes no processo erosicional (Sparks, 1986).

Abrindo espaço agora para a aplicação do assunto em ambientes praias, Albino


(1993) afirma que estes locais são uma forma ajustada de equilíbrio dinâmico de
sedimentação costeira, representando a melhor proteção para o continente da ação
erosiva das ondas. Sua estabilidade, portanto, depende da energia das ondas
incidentes no local e do balanço sedimentar da região.

Tendo em vista os prejuízos que a erosão costeira pode causar, o estudo detalhado
da mesma pode prevenir problemas que tomem uma magnitude incontornável.

Identificar os pontos vulneráveis de uma costa é de fundamental importância para a


gestão costeira, pois evita o surgimento de prejuízos tanto no campo econômico
quanto social, cultura e ecológico.

3.2 CLASSIFICAÇÃO E CRITÉRIOS MORFODINÂMICOS PARA O


ESTABELECIMENTO DE LIMITES DA ORLA COSTEIRA

3.2.1 Feições Costeiras


A região costeira é composta por um mosaico de feições fisiográficas. Cada uma
dessas feições responde de alguma forma à elevação do nível do mar. Para um
melhor entendimento das feições costeiras abordadas neste estudo, buscou-se a
definição de cada uma delas se restringindo exclusivamente àquelas encontradas na
área de estudo, assim o leitor terá uma idéia exata das sub-divisões a que o
ambiente costeiro foi submetido, assim:
• Costão Rochoso (beach rock) - Denominação generalizada dos
ecossistemas do litoral, onde não ocorrem manguezais ou praias e que são

28
constituídos por rochas autóctones - inteiras ou fragmentadas por intemperismo -
que formam o hábitat de organismos a ele adaptados. Sua parte superior, sempre
seca, está geralmente revestida por líquens, por vegetação baixa e por vegetação
arbóreo-arbustiva. Na parte emersa, freqüentemente borrifada pelas ondas, é
constante a presença de moluscos e de crustáceos. A parte submersa sustenta
comunidades bióticas mais complexas onde podem estar presentes algas, cnidários,
esponjas, anelídeos, moluscos, crustáceos, equinodermas, tunicados e outros
organismos inferiores, servindo de base alimentar para peixes e outros vertebrados
(FEEMA, 1990).

• Praias (beach) – Zona perimetral de um corpo aquoso (lago, mar ou oceano),


composto de material inconsolidado, em geral arenoso (0,062 a 2 mm) ou mais
raramente compota de cascalho (2 a 60 mm), conchas de moluscos, etc., que se
estende desde o nível de baixa-mar, média (profundidade de interação das ondas
com o substrato) para cima, até a linha de vegetação permanente (limite de ondas de
tempestades), ou onde há mudança na fisiografia, como as zonas de dunas ou de
falésias marinhas (sea cliffs). Quando esta zona não apresentar material
inconsolidado, mas substrato rochoso tem-se o terraço de abrasão por ondas (wave-
cut terrace) (Suguio, 1998).

As praias podem apresentar diferentes estados morfodinâmicos, segundo Wright et


al. (1979) estes estados podem ser divididos em 6, sendo um dissipativo um refletivo
e 4 estágios intermediários.

Wright et al. (1979) destacam que o estado dissipativo é representado por praia
emersa e zona de surfe larga de baixa declividade, submetida à ação de ondas
deslizantes (spilling) e com sedimentos de granulometria fina.

O estado morfodinâmico refletivo é representado por parais de alta declividade,


praticamente sem zona de surfe, submetidas a ondas ascendentes (surging ou
collapsing) sendo constituídas predominantemente por sedimentos de granulometria
grossa. Os processos dinâmicos praiais são intensificados com a formação de
cúspides (Wright et al.,1979).

29
Os quatro estados intermediários exibem simultaneamente características refletivas e
dissipativas. Dentre estes existem os estados morfodinâmicos com barra e calha
longitudinal (longshore bar ou trough), com barra e praia rítmicos (rhythmic bar and
beach), com barra transversal e corrente de retorno (transverse bar and rip) e com
terraço de baixa-mar (low tide terrace). A visualização dos estados definidos por
Wright et al. (1979) podem ser vistos na Figura 3.1.

FIGURA 3.1: Estados morfodinâmicos das praias segundo Wright et al. (1979). Aqui é possível se
observar os estados dissipativos, intermediários de banco e calha longitudinal, banco e praia de
cúspides, bancos transversais, terraço de baixa mar e refletivo. Fonte: Wright et al. (1979).

30
• Dunas frontais (Foredune) – Duna situada logo após a praia rumo ao
continente que, em geral, é pouco desenvolvida, isto é, apresenta dimensões
reduzidas. Este tipo de duna também é conhecido como anteduna. Alguns autores
estabelecem distinções entre as espécies vegetais estoloniformes e duna frontal
estabelecida, que seria gerada pela colonização de duna frontal insipiente por
espécies vegetais em esteira, tufo e arbusto (Suguio, 1998).

• Planícies costeiras - De maneira geral, a Planície Costeira é uma extensa


área de terras baixas e planas, situada ao longo do litoral, possuindo 620 km de
comprimento e cerca de 100 km de largura. Sua formação remonta ao Cretáceo
Inferior, época de formação do Oceano Atlântico. Dois sistemas deposicionais são os
responsáveis pela formação de todo o pacote sedimentar que constitui a Planície
Costeira:

1. Sistema de Leques Aluviais - que cobre boa parte da região oeste da


planície, próximo às terras altas representadas pelas litologias do
embasamento cristalino. São formados por leques proximais e distais
ligados à erosão hídrica, sob clima semi-árido das unidades pré-
cambrianas que predominavam nesta região (FEEMA, 1990).

2. Sistema de Laguna-Barreira - que ocupa a parte central e leste da


planície, incluindo a atual linha de costa, sendo constituído por um
conjunto de quatro ciclos transgresso-regressivos ocorridos durante o
Quaternário (FEEMA, 1990).

• Falésias Sedimentares (sea cliff) – Alcantilado de faces abruptas formado pela


ação erosiva (abrasão) das ondas sobre as rochas. Do mesmo modo que a palavra
precipício (bluff ou precipice), o termo falésia (cliff) não está necessariamente
relacionado à região costeira. Diversidades litológicas e estrutural, incluindo atitudes
dos planos de estratificação, além de vegetação, clima, regime de ondas, etc, dão
origem a escarpas marinhas de formas muito variáveis. Quando se encontra em
contínuo processo de erosão tem-se uma falésia marinha ativa (active sea cliff) ou
falésia viva, enquanto falésia marinha inativa (inactive sea cliff) ou falésia morta é
aquela na qual o processo erosivo cessou (Suguio, 1998).

31
• Estuário (estuary) – Corpo aquoso litorâneo de circulação mais ou menos
restrita, porém ainda ligado a um oceano aberto (open ocean). Muitos estuários
correspondem a desembocaduras fluviais afogadas e, desta maneira, sofrem diluição
significativa de salinidade em virtude do fluxo de água doce. Sob o ponto de vista
geológico, os estuários são feições transitórias, que normalmente acabam sendo
preenchidas por depósitos de mangues, deltas e marés. Refere-se ao ambiente de
sedimentação próprio dos estuários, bem como os depósitos aí formados. Os
sedimentos de estuário são de granulação variável e de estratificação mais irregular
na porção central, tornando-se mais homogêneos para as bordas (Suguio, 1998).

3.2.2 Critérios Morfodinâmicos para o Estabelecimento de Limites da Orla


Costeira
Para a definição do limite em função de uma elevação do nível do mar, pode-se
adotar o cenário mais pessimista elaborado pelo Intergovernmental Panel of Climate
Change (IPCC), que admite uma elevação de 1 m, até o ano de 2.100, devendo a
faixa de absorção desse impacto ser estabelecida no sentido de evitar a perda de
propriedades em função desta elevação. Mesmo que este cenário não venha a se
concretizar até aquela data, conforme sugerem as projeções mais recentes, a
adoção de uma elevação de 1 m ainda é bastante razoável, considerando o elevado
grau de incerteza relativo às tendências climáticas de longo prazo (Muehe, 2001a).

Buscando uma convergência entre o estabelecimento de uma faixa mínima de


proteção e de manutenção da estética da paisagem Muehe (2001a) propôs os
seguintes limites mínimos para a orla conforme descrição abaixo e esquema da
Figura 3.2.

• Zona submarina - Isóbata de 10 m podendo ser modificado desde que, no caso


de redução da profundidade, haja um estudo ambiental comprovando a
localização do limite de fechamento do perfil praial em profundidades menores.

• Orla terrestre urbanizada - Limite de 50 m contado a partir do limite da praia ou


a partir da base do reverso da duna frontal, quando existente.

32
• Orla terrestre não urbanizada - Limite de 200 m contado a partir do limite da
praia ou a partir da base do reverso da duna frontal, quando existente.

• Falésias sedimentares - Limite 50 m a partir da borda da falésia; em lagunas ou


lagoas costeiras 50 m contados a partir do limite da praia ou da borda superior da
margem; em estuários 50 m contados a partir do limite da praia ou da borda
superior em ambas as margens e ao longo das mesmas até onde cessa a
penetração da água do mar.

• Falésias ou costões em rochas duras - Limite a ser definido segundo plano


diretor do município, estabelecendo uma faixa de segurança de pelo menos 1 m
acima do limite máximo de ação das ondas de tempestade.

• Áreas inundáveis - Tomando como exemplo os rios e estuários, o limite definido


proposto seria uma isolinha localizada a uma cota de pelo menos 1m acima do
limite da área atualmente alcançada pela preamar de sizígia.

• Restrições – A construção de imóveis sobre substrato sedimentar como os


cordões litorâneos, ilhas barreiras ou pontais com largura inferior a 150 m deve
ser evitada devido ao risco de erosão e transposição pelas ondas, já que esta
largura é insuficiente para estabelecimento de uma faixa de proteção capaz de
absorver os efeitos de uma elevação do nível relativo do mar ou de efeitos
decorrentes de um balanço sedimentar negativo. Áreas próximas á
desembocaduras fluviais também riscos de erosão associados à própria
instabilidade das mesmas. A definição da extensão destas zonas de não
ocupação deve ser feita a partir de conhecimento de eventos erosivos pretéritos
ou através de estudos específicos de evolução costeira.

33
Cota 1 m acima do
Mangues,
limite máximo da
Inundação charcos,
preamar de sizígia
marismas
ou de inundação

50 m a partir do
Estabelecimento limite da praia ou
Mecanismo de
de limites de da base do reverso
alteração da Erosão
segurança para a da duna frontal
linha de costa
orla quando presente

Sim

Sim
Litoral arenoso? Urbanizado?

Não Não

Faixa de segurança 1m 200 m a partir do


acima do limite máximo limite da praia ou da
Não Falésias
das ondas de tempestade. base do reverso da
erodíveis ?
Urbanização definida por duna frontal quando
legislação específica presente
Sim

50 m a partir do
topo da falésia

FIGURA 3.2: Limites mínimos da orla segundo as características morfológicas do litoral. FONTE:
MUEHE (2001a).

A diminuição dos limites mínimos poderá ser feita quando houver tendência
progradacional da linha de costa, também expressa em taxas anuais ou o local se
situar em áreas abrigadas, desde que justificado tecnicamente, sem prejuízo da
competência estadual ou municipal para estabelecer medidas mais restritivas
(Muehe, 2001a).

3.2 AÇÕES
A crescente ocupação do espaço costeiro e sua utilização econômica que resultam
em impactos, cuja somatória tende a provocar alterações levando à degradação da

34
paisagem e dos ecossistemas, podendo chegar à própria inviabilização das
atividades econômicas, vêm da pesquisa científica e de ações de gerenciamento
costeiro, monitoramento e educação ambiental, encontrar uma situação de equilíbrio
entre uso e preservação do meio ambiente (Muehe, 1998a).

A história do gerenciamento em áreas costeiras mostra uma surpreendente evolução


ao longo dos últimos 30 anos, assim ele passa a considerar muitos fatores que por
muito tempo se mantiveram esquecidos como a ênfase direcionada para o
ecossistema, seus múltiplos usos e suas interdependências (Cincian – Sain &
Vinecht, 1998).

As primeiras considerações sobre o assunto foram desenvolvidas pelas nações


costeiras que utilizam a zona costeira de forma inapropriada e cujo plano de gestão
era pobremente elaborado. Os Estados Unidos da América foi o primeiro país a
formalizar o gerenciamento costeiro com o Ato de Gerenciamento da Zona Costeira
(Coastal Management Act) em 1972 (Cincian – Sain & Vinecht, 1998).

A preocupação do governo brasileiro com a utilização dos recursos marítimos e dos


espaços costeiros emergiu, nos anos setenta, paralelamente, ao aparecimento de
uma ótica ambiental no planejamento estatal realizado no país. Em 1973 foi criada a
Secretaria Especial do Meio Ambiente da Presidência da República. No ano
seguinte, foi institucionada a Comissão Interministerial dos Recursos do Mar (CIRM),
também como órgão de assessoria direta da Presidência da República. Cada um
desses órgãos trabalhou desarticuladamente na concepção de diretrizes e políticas
para a sua área de atuação (Moraes, 1999).

Os resultados que cada um dos órgãos supracitados atingiu acarretaram na “Política


Nacional de Recursos do Mar”, instituída em 1980, e na “Política Nacional do Meio
Ambiente”, aprovada em 1981. A primeira política minimiza o enfoque ambiental ao
presidir sua visão de como fazer o manejo ambiental focada numa ótica
predominantemente utilitarista. A segunda, por sua vez, não prioriza com a devida
atenção os ambientes costeiros e marítimos. Entretanto, a existência das instituições
mencionadas e a explicitação de suas diretrizes de atuação, constituiu o patamar sob

35
o qual foi gerado o Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro (Gerco) (Moraes,
1999).

Em 1987, a CIRM estabeleceu o “Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro”


(Gerco), especificando a metodologia de zoneamento e o modelo institucional para a
sua aplicação. Foram escolhidos, também, seis estados para dar início à adoção do
programa, sendo eles: Rio Grande do Norte, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul. No ano seguinte, na Lei 7.661 foi instituído o “Plano
Nacional de Gerenciamento Costeiro” (PNGC) (Moraes, 1999).

O PNGC, que se constitui na base legal fundamental do planejamento ambiental da


zona costeira do Brasil previa três instrumentos de ação. Antes de demonstrá-los faz
jus mencionar que se considera a zona costeira como sendo ”um espaço geográfico
de interação do ar, do mar e da terra, incluindo seus recursos renováveis ou não”.
Esta definição indica que o ambiente costeiro é objeto de gestão conjunta, ou seja,
as águas doces e salinizadas são tratadas de maneira integrada para efeito do
gerenciamento ambiental (Filet e Sena, 1997).

Os três instrumentos de ação do PNGC são:

• A criação de um Sistema Nacional de Informações do Gerenciamento Costeiro


(Sigerco), composto de um banco de dados georreferenciado e da constituição de
uma rede on line articulando todos os dezessete estados litorâneos;

• A implementação de um programa de zoneamento da zona costeira, executado


de forma descentralizada pelos órgãos de meio ambiente estaduais, coordenados
pelo governo federal;

• A elaboração, também descentralizada e participativa, de planos de gestão e


programas de monitoramento para atuação mais localizada em áreas críticas ou
de alta relevância ambiental na zona costeira (Moraes, 1999)

Um dos projetos realizados com o intuito de cumprir as metas estabelecidas pelo


Programa Nacional de Gerenciamento Costeiro (PNGC) é o Projeto Orla Marítima
que partiu de uma iniciativa do Grupo de Integração do Gerenciamento Costeiro (GI-
GERCO), da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), tendo

36
como coordenadores o Ministério do Meio Ambiente (MMA) e a Secretaria do
Patrimônio da União (SPU) do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
(MP), buscando alcançar os seguintes objetivos específicos:

• Fortalecer a articulação dos diferentes atores do setor público para a gestão


integrada da orla, aperfeiçoando o arcabouço normativo para o ordenamento de
usos e ocupação desse espaço;
• Desenvolver mecanismos de mobilização social para a gestão integrada da orla;
• Estimular o desenvolvimento sustentável na orla (Projeto Orla Marítima, MMA).

Segundo as palavras utilizadas pelos proponentes do Projeto Orla Marítima, a “orla


marítima” não está até o presente momento regulamentada como figura jurídica ou
administrativa, sendo, portanto, a proposta de sua delimitação uma inovação na
gestão da zona costeira. Foi construída tendo por referência internacional sobre a
matéria e avaliação do conhecimento existente sobre a dinâmica costeira do litoral
brasileiro. Trata-se, assim, de proposta que assimila o “princípio da precaução” em
localidades cuja dinâmica ambiental não esteja suficientemente estudada, como é o
caso o espaço em tela.

Para suprir as metas citadas anteriormente Muehe (2001a) desenvolveu um estudo


fundamentado no intuito de determinar os critérios morfodinâmicos para o
estabelecimento de limites da orla costeira para fins de gerenciamento.

Para preencher, ainda, as lacunas encontradas pelo Programa Nacional de


Gerenciamento Costeiro (PNGC), Albino et al. (2001) desenvolveram um Atlas de
Erosão e Progradação Costeira do Litoral do Espírito Santo, em vias de publicação, o
que contribuiu significativamente para a compreensão da zona costeira tanto do
estado em questão quanto da nação com um todo.

4. MATERIAIS E MÉTODOS

As atividades realizadas seguiram em conformidade com o organograma abaixo


(Figura 4.1).

37
Estudo preliminares

Identificação dos compartimentos costeiros e coleta de informações

Praia

Taxa de recuo da linha de costa e Faixa de


Diagnostico do uso e ocupação
segurança Falésia Viva

Plataforma de
abrasão rochosa

Determinação da Vulnerabilidade Erosiva

Legislação pertinentes as feições encontradas

FIGURA 4.1: Organograma das atividades realizadas pelo presente trabalho.


4.1 ESTUDOS PRELIMINARES

Antes de se realizar a saída de campo foi realizada uma visualização prévia das
fisiografias que compõe o litoral de Marataízes, para tal fez-se uso de duas cartas
topográficas (SF-24-H-I-1 folha 1 e SF-24-H-I-1 folha 1.2) na escala de 1:50.000,
Mapa Geológico do Quaternário Costeiro do Estado do Espírito Santo, na escala
de 1:200.000 e carta náutica Nº 1.400 publicada , na escala natural de 1:296.385,
buscas bibliográficas em material base também foi feita.

4.2 IDENTIFICAÇÃO DOS COMPARTIMENTOS COSTEIROS E COLETA DE


DADOS

A compartimentação foi feita seguindo os critérios propostos por Muehe (1998),


segundo esse autor a classificação geológica da linha de costa deve seguir os
seguintes critérios:

I. Macro unidade Morfológica

a) Costão rochoso cristlino

b) Falésia em rocha sedimentar (Grupo Barreiras e outros)

c) Cabo Inconsolidado

d) Delta

e) Planície de cristas de praia

f) Planícies de maré lamosa

g) Planície de maré arenosa

II. Meso unidade morfológica

a) Cordão litorâneo largo

b) Cordão litorâneo sob efeito de transposição e ondas

c) Pontal

d) Dunas Parabólicas
e) Dunas barcanas ou barcanóides

f) Dunas Transversais

g) Manguezal

III. Unidade morfodinâmica

a) Falésia viva

b) Praia refletiva

c) Praia intermediária

d) Praia dissipativa

e) Dunas frontais

f) Plataforma de abrasão rochosa

g) Substrato sub-horizontal recoberto de concreções lateríticas

h) Falésia precedida de praia

i) Falésia precedida de terraço de abrasão

j) Desembocadura fluvial

k) Recifes de arenito de praia

l) Recifes de coral

Além disso, o autor cita ainda que a classificação deva ser acrescida da
informação Exposto (E), Semi-exposto (S) e Abrigada (A) e deva ser lida da feição
de menor tamanho para a de maior hierarquia. Exemplo: Ic-IIb-IIIe-E Praia refletiva
exposta de cordão litorâneo estreito sob efeito de transposição associado a um
cabo inconsolidado.

Como os compartimentos identificados correspondem unicamente á unidades


morfodinâmicas, o presente trabalho se ateve utilizar exclusivamente a
classificação III proposta por Muehe (1998).

Em assim sendo, a equipe executora do projeto dirigiu-se para o litoral em estudo


e identificou os sucessivos compartimentos que compõe a área de estudo

40
tomando o cuidado de georeferênciar, os pontos limites de cada compartimento,
por meio de GPS Gramin 12, utilizando Sistema de Coordenadas Geográficas e o
Córrego Alegre como Datum. Cada compartimento identificado recebeu um
algarismo romano como identificador, ou seja, o primeiro compartimento recebeu o
nome de I, o segundo de II e assim sucessivamente.

É importante mencionar, ainda, que a compartimentação foi feita ininterruptamente


de norte para sul, respeitando a disposição da linha de costa do litoral em questão.

4.3 DIAGNÓSTICO DO USO E OCUPAÇÃO

O presente trabalho utilizou uma adaptação da proposta feita pelo Projeto Orla
para a determinação do grau de urbanização que cada compartimento identificado
apresentava, isso foi feito porque o Ministério do Meio Ambiente propõe uma
classificação para grandes áreas costeiras, mas a essência da classificação pode
ser perfeitamente aplicada em regiões menores, como é o caso dos
compartimentos que compõem o litoral de Marataízes, fazendo, então, uma
adequação à menor magnitude da área abrangida pelo compartimento quando
comparado à orla marítima como um todo. Assim, o Ministério do Meio Ambiente,
fazendo uso do Projeto Orla Marítima define que a cobertura urbana ou
urbanização deve ser avaliada pelos seus principais elementos da paisagem e
estruturas da cobertura (forma, configuração paisagística e distribuição espacial),
assim como pelos tipos de ocupação existentes. Tendo em vista a natureza dessa
variável e as características das classes genéricas, sua incidência em orlas da
classe A será sempre a mais baixa, na classe B média e na classe C alta.

• Classe A – Pode ser isolada em fragmentos ou formando corredores, com seu


elemento paisagístico constituído de urbanização de pequeno porte (até
20.000 habitantes), com cobertura predominantemente horizontal. Pode
apresentar configuração paisagística rústica, comum ou bairro-jardim; possui
cunho histórico, cultural ou de forte apelo turístico. Área ocupada por pequenas
vilas ou localidades isoladas, com habitações horizontais e mais de 50% da
área ocupada por vegetação nativa preservada.

41
• Classe B – Apresenta-se em manchas, forma corredores ou constitui-se em
uma matriz; seu elemento paisagístico está baseado na urbanização de médio
porte, com cobertura horizontal (densa) mista. Pode apresentar configuração
rústica, comum ou bairro-jardim; possui caráter habitacional ou turístico, na
qual a vegetação ocupa 50% da área existente, podendo ter um caráter
histórico cultural. Ocupada por loteamentos/balneários horizontais ou mistos,
isolados entre si, entremeados por áreas cobertas por vegetação nativa e/ou
plantações (uso misto – predominantemente residencial). Pequenos centros
urbanos horizontais e mistos.

• Classe C – Apresenta mancha urbana contínua e convencional, formando


corredor ou matriz, com urbanização de grande porte; cobertura
predominantemente vertical pode apresentar configuração comum ou bairro-
jardim; ocupa grande porção de território, com atividades não prioritariamente
turísticas. Ocupação exclusivamente habitacional; ou predominantemente
habitacional; ou mistos habitacionais, comerciais, serviços, industriais, ou
ocupada exclusivamente por estabelecimentos públicos ou privados de
interesse social, como escolas, hospitais, asilos, prisões, etc.

Ressalva-se, ainda, que todos os compartimentos identificados foram fotografados


com a finalidade de demonstrar o grau de urbanização do mesmo.

4.4 TAXA DE RECUO E DETERMINAÇÃO DOS LIMITES SEGUROS DE


OCUPAÇÃO

O critério morfodinâmico considera essencialmente a capacidade de mobilização


dos sedimentos do fundo marinho por ação das ondas e seu deslocamento ao
longo de um perfil perpendicular à costa e a resposta morfológica da porção
emersa do litoral aos efeitos de erosão, transporte e acumulação resultante desse
processo de mobilização sedimentar (Muehe, 2001a).

A amplitude da resposta a esses processos depende, por sua vez, do clima de


ondas e do grau de exposição do segmento costeiro considerado, além das

42
características geológicas do mesmo, podendo-se distinguir entre litorais
constituídos por sedimentos não consolidados formando praias e feições
morfológicas associadas (cordões litorâneos, ilhas barreira, pontais, planícies de
cristas praiais, tombolos), rochas sedimentares consolidadas (falésias) e rochas
duras (costões) (Muehe, 2001a).

Quanto ao estabelecimento da largura da faixa de proteção costeira, os critérios


adotados consideram a tendência erosiva ou progradacional expressa pela taxa
de retrogradação/progradação prevista por efeito de elevação do nível relativo do
mar e aspecto estético-paisagístico (Muehe, 2001a).

Os limites estabelecidos para a segurança da ocupação humana foram dispostos


em mapa.

4.4.1 Praias

Em direção à retroterra, o limite de praia é extremamente reduzido, principalmente


se considerarmos um cenário de elevação do nível do mar. A definição de um
limite mais interiorizado deverá, pois, considerar dois aspectos: o alcance do
processo morfodinâmico atual, a tendência erosiva baseada em taxa de erosão
anual e que expressem uma tendência pelo menos decanal e o efeito de uma
elevação do nível do mar. O limite dinâmico da praia subaérea será o do alcance
máximo do processo deposicional de sedimentos provenientes da praia,
independente de o processo ser por ação das ondas ou do vento. No primeiro
caso o limite será a porção mais interiorizada do berma mais elevado ou, no caso
de cordões litorâneos, ilhas barreira ou pontais submetidos à transposição por
ondas, o limite do reverso dessas feições. No segundo caso, o do transporte
eólico, o limite será à base do flanco reverso das dunas frontais (Muehe, 2001a).

A determinação da largura da faixa de segurança em praias, considerando apenas


os efeitos de uma elevação do nível do mar, foi feita através da aplicação da lei de
Bruun (Brunn, 1962) expressa pela equação:

43
SLG
R=
H (1)

onde:

R = recuo erosivo da linha de costa devida à elevação do nível do mar (m).


S = elevação do nível do mar (m), que o presente trabalho adotou como sendo igual a 0,3
m para representar a elevação do nível médio do mar no caso de entrada de frente fria.
L = comprimento do perfil ativo (m).
H = altura do perfil ativo (m).
G = Proporção de material erodido que se mantém no perfil ativo, o presente trabalho
admitiu este parâmetro como sendo igual a 1, uma vez que se trata de uma praia arenosa
onde todo o material erodido é retrabalhado e redistribuído ao longo do perfil, não
havendo, portanto, perda de sedimento do sistema.

O comprimento e a altura do perfil ativo foram obtidos pelo levantamento do perfil


topográfico e pela obtenção da profundidade de fechamento do perfil, que
determina qual a profundidade onde o ambiente deixa de ser considerado praial.

O perfil topográfico é uma representação gráfica do relevo. No caso de uma praia


o perfil é um traçado perpendicular à linha de costa que tem início nas suas dunas
ou numa calçada, ou rua, e vai até a linha do máximo recuo da onda, podendo ser
feita também a zona submersa, como colocado por Muehe (2001b) que considera
como ideal no levantamento de um perfil estendê-lo para a zona submarina até a
profundidade correspondente ao fechamento do perfil, isto é, até a profundidade
em que a variabilidade topográfica do perfil tende a zero, sendo, portanto
condicionado pelo clima das ondas.

Suguio (1973) afirma que o perfil transversal de uma praia varia com o ganho ou
perda de areia, onde a variação da energia das ondas é determinante. De acordo

44
com as alternâncias entre tempo bom (engordamento) e tempestades (erosão) a
praia adapta seu perfil e assim servindo de proteção contra a erosão marinha.

O método de Baliza de Emery (1961) é um método simples de ser utilizado e


suficientemente preciso para os objetivos deste trabalho, abrangendo uma
margem de erro de aproximadamente 4 a 5%, permitindo assim bastante
segurança na sua confecção (Muehe, 2001b).

Cada baliza corresponde a uma estaca de madeira, com 1,5 m de comprimento,


graduada em milímetros nos primeiros 70 cm, sendo o zero situado no topo da
baliza.

À medida que as leituras foram sendo feitas, o perfil foi sendo traçado, os dados
coletados foram anotados em uma planilha de campo (Anexo A), tomando-se o
cuidado de anotar o horário em que se realizou a leitura no máximo recuo, para
que o ajuste de topografia pela maré pudesse ser feito de acordo com Bigarella
(1962 apud Muehe et al., 2001b), que em condições de tempo bom oferece
resultados satisfatórios. A identificação dos pontos urbanos onde os perfis foram
amarrados e seus respectivos rumos podem ser vistos no Anexo B.

A granulometria predominante do sedimento praial exposto também foi umas das


atividades desenvolvidas em campo.

45
FIGURA 4.2: Levantamento dos perfis topográficos praiais pela aplicação do método proposto por
Emery (1961). Foto: Albino, 13/11/2004.

O traçado dos perfis foi feito depois de se consultar a tábua de maré referente ao
Terminal de Ubu (Anchieta, ES) fornecida pelo Departamento de Hidrografia e
Navegação (DHN) da Marinha do Brasil, a fim de se trabalhar nas condições de
baixa-mar. De modo que o perfil obtido tivesse sido levantado até a região do
máximo recuo, possibilitando a correção das cotas dos perfis, dando a eles uma
maior verossimilhança. Assim, para o dia 13/11/2003, data do levantamento dos
perfis, a maré era de 1,5 m às 2:54, 0,1 m às 9:36 e 1,4 m às 15:04. O nível do
mar para o Terminal de Ubú (ES) fornecido por esta mesma instituição é de
0,75m.

Para o cálculo da profundidade de fechamento do perfil foram utilizados os


parâmetros propostos por Hallemeier (1981):

46
d l ,1 ≅ 2H s + 11σ (2)

onde,

dl,1 = profundidade de fechamento do perfil (m),

Hs = altura média significativa anual das ondas em águas profundas (m), que para a
região de estudo é igual a 1,20 (m) segundo os dados fornecidos pela DHN.

σ = desvio padrão anual das ondas significativas, adotar-se-á no trabalho, conforme as


orientações de Muehe (2001a), como sendo igual a 0,38.

Para determinação d a largura do perfil ativo (distância da costa á profundidade de


fechamento do perfil) foi utilizada carta náutica Nº1400 cuja escala é de 1:296.385.
Como a carta náutica, na escala disponível, não permite a determinação
razoavelmente precisa das profundidades calculadas para o fechamento do perfil,
utilizou-se a isóbata de 6, 7 e 8 m como limite oceânico, para o litoral, o que é uma
boa aproximação prática aos valores de dl,1 encontrados.

4.4.2 Plataforma de abrasão rochosa

Para estas feições a taxa de recuo adotada segue a proposta que Muehe (2001a)
determina, anteriormente citada no item 3.2.2 do presente trabalho. Assim, o limite
de ocupação a ser definido neste trabalho estabeleceu uma faixa de segurança de
1 m acima do limite máximo de ação das ondas de tempestades, lembrando que
na região estudada as marés máximas atingem 1, 70 m segundo as informações
fornecidas pela DHN.

A determinação da distância horizontal de terra requerida para o estabelecimento


da proposta acima citada, foi feita através dos perfis topográfico levantados, em
campo, pelo método das Balizas de Emery (Emery, 1961), nos representantes

47
mais alto e no mais baixo das feições aqui estudadas. Acrescentou-se, ainda o
alcance máximo da maré de sizígia, para que o estabelecimento do limite seguro
de ocupação fosse feito em conformidade com a referência bibliográfica
supracitada.

4.4.3 Falésias vivas e falésias precedidas de praias

As falésias precedidas de praias foram submetidas à mesma metodologia adotada


para ambientes praiais, sendo os critérios adotados para estimar a taxa de recuo
da linha de costa o mesmo sugerido para as praias segundo aborda Muehe
(2001a).

As falésias vivas, por outro lado, apresentam um comportamento que deve ser
analisado caso a caso, porque, em geral, estas feições apresentam um longo
lapso de reação ao processo erosivo e uma grande quantidade de sedimentos
liberados para o ambiente o que dificulta a utilização da equação (1), isso faz com
que a taxa de retrogradação seja freqüentemente pequena (Muehe, 2001a).

Para o estabelecimento do limite de ocupação seguro destas feições o presente


trabalho adotou que a ocupação só poderá ser feita a partir de 50 m da borda da
falésia (Muehe 2001a).

4.4.4 Desembocadura fluvial

Segundo Muehe (2001a), a construção de imóveis sobre substrato sedimentar


como cordões litorâneos, ilhas barreira ou pontais com largura inferior a 150 m
deve ser evitada devido ao risco de erosão e transposição pelas ondas, já que
esta largura é insuficiente para estabelecimento de uma faixa de proteção capaz
de absorver os efeitos de uma elevação do nível relativo do mar ou de efeitos
decorrentes de um balanço sedimentar negativo. Áreas próximas a
desembocaduras fluviais também apresentam riscos de erosão associados à
própria instabilidade das mesmas.

48
4.5 DETERMINAÇÃO DA VULNERABILIDADE EROSIVA

Fazendo uma sobreposição entre o tipo dos compartimentos identificados, o


diagnótico do uso e ocupação e a taxa de recuo da linha de costa determinou-se a
vulnerabilidade erosiva do litoral de Marataízes.

Utilizou-se o Programa computacional Statistica Graf 5.0 para se obter os


clusteres que agruparam os compartimentos semelhantes entre si, segundo as 3
variáveis acima citadas.

O produto destes estudos resultou no mapa de vulnerabilidade erosiva do litoral


em estudo.

4.6 CONFECÇÃO DOS MAPAS DE VUNERABILIDADE EROSIVA

Por meio do programa computacional Arcgis 9.0 as coordenadas referentes aos


limites da cada compartimento foram plotadas sobre o mapa base georeferenciado
da região em estudo. A plotagem da vulnerabilidade erosiva foi feita no programa
computacional fornecido pela Micro Soft, Paint Brush utilizando-se as ferramentas
de recortar e colorir as figuras aberta no mesmo.

A escala de cores utilizada para a determinação da vulnerabilidade erosiva foi feita


de seguinte maneira, os compartimentos intitulados menos preocupantes foram
aqueles cujo diagnóstico de uso e ocupação corresponde a Classe A e que a faixa
de segurança estabelecida por Muehe (2001a) pôde ser aplicada. Os
compartimentos preocupantes foram aqueles cujo diagnóstico de uso e ocupação
corresponde a Classe B sendo que a faixa de segurança estabelecida por Muehe
(2001a) não pôde ser aplicada totalmente devido à presença de algumas
construções na região de entorno. Os compartimentos preocupantes foram
aqueles em que os problemas erosivos já se fazem sentir, correspondendo a
Classe C do diagnóstico de uso e ocupação e cuja faixa de segurança proposta
por Muehe (2001a), não pode ser aplicada devida à intensa ocupação.

49
4.7 IDENTIFICAÇÃO DAS LEIS APLICÁVEIS QUE CONTRIBUEM PARA UMA
MELHOR GESTÃO COSTEIRA

Mediante material técnico específico sobre as leis ambientais existentes tanto a


nível nacional quanto a nível estadual pôde-se identificar os pontos em que a
ocupação do litoral em estudo, não obedeceu aos critérios dispostos na lei,
devendo, portanto, serem tomadas medidas corretivas e mitigadoras nos pontos
em que a ocupação foi feita de forma errônea e medidas preventivas nos locais
em que a mesma ainda não aconteceu, mas devido ao grande potencial de
crescimento da região, essa pode vir a acontecer em um futuro não muito distante.

Utilizou-se como material base para busca de informações o CD-Room intitulado


Meio Ambiente e Direito disponível na biblioteca do Instituto Estadual do Meio
Ambiente do estado do Espírito Santo, neste material foi feita uma minuciosa
busca com o intuito de se encontrar leis, decretos e resoluções existentes no
âmbito nacional e no âmbito estadual referentes ao uso e ocupação da região
costeira, bem como material referente às feições ali encontradas.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 IDENTIFICAÇÃO DOS COMPARTIMENTOS

Ao longo de todo a área de estudo, foram identificados 22 compartimentos, os


características mais relevantes dos mesmos, seus registros fotográficos e o
diagnóstico de uso e ocupação foram dispostos na tabela abaixo bem como as
observações pertinentes ao grau de urbanização. As coordenadas geográficas
que delimitam os compartimentos identificados podem ser observadas no Anexo C
deste trabalho.

50
TABELA 5.1: Caracterização das Estações identificadas, bem como a suas delimitações, o local a que se referem observações proeminentes e
registro fotográfico.

Identificação do
compartimento, segundo Caracterização dos compartimentos e grau de urbanização segundo os critério sugeridos pelo
os critérios sugeridos por Projeto Orla Marítima, destacados em azul
Muehe (1998)

Praia arenosa composta por areias médias à grossa com presença de carbonatos e depósitos de
minerais pesados.Perfil topográfico referente a este compartimento pode ser observado na Figura 5.1
e o registro topográfico na Figura 5.2. Segundo os critérios propostos este local se enquadra na
Classe B, com muitas construções próximas á praia incluindo estradas pavimentadas.

I – Praia da Barra

(Foz do Rio Itapimirim),


Praia da Barra (ES)
praia dissipativa
A ltu ra (cm )

600
400
200
0
0 10 20 30 40 50

Distância (m)

FIGURA 5.1: Perfil topográfico do Compartimento I. FIGURA 5.2: Praia da Barra (ES). Foto: Albino,
13/11/2004. 11/2004.

51
Formação rochosa (costão rochoso) com edificações localizadas a uma certa distância da linha de
preamar tal situação é confirmada pela Figura 5.3 que se segue. Este compartimento enquadra-se na
Classe B.

II – Plataforma de
abrasão rochosa
(popularmente
conhecidos como
costões rochosos)

FIGURA 5.3: Costão Rochoso com seu respectivo. Foto: Albino, 13/11/2004

52
Este é mais um dos compartimentos correspondentes à ambiente praial, onde as areias médias
predominam na composição. O perfil topográfico desse seguimento da Praia da Barra pode ser
observado na Figura 5.4, já o registro fotográfico encontra-se disposto na Figura 5.5. O grau de
ocupação deste seguimento é bastante elevado, sendo possível detectar quiosques construídos sobre
a areia, escassez de vegetação litorânea, via pavimentada bem próxima à praia sendo expressiva a
quantidade de areia retirada da praia por ação eólica e depositada sobre as vias urbanas proximais.
Segundo o Projeto Orla Marítima este setor corresponde à Classe C.

III – Praia da Barra,


praia dissipativa

Praia da Barra (ES)

1000
A ltura
(cm )

500
0
0 20 40 60

Distância (m)

FIGURA 5.4: Perfil topográfico referente ao Compartimento III. FIGURA 5.5: Praia da Barra (ES), ambiente praial
ocupado por quiosques. Foto: Albino, 13/11/2005.

53
Costão rochoso situado na Ponta das Arraias. A Figura 5.6 mostra parte deste local. Segundo os
critérios a serem seguidos este local corresponde à Classe A sendo que neste local a ocupação
urbana ainda não é significativa.

IV – Ponta das Arraias,


Plataforma de abrasão
rochosa

FIGURA 5.6: Ponta das Arraias (ES). Foto: Albino, 13/11/2005.

54
Sedimento composto predominantemente por areias com granulometria que varia de média a fina
sendo visível a grande quantidade de minerais pesados aflorados. A ocupação urbana é crítica com
casas construídas bem próximas à região banhada pelas marés mais elevadas, Classe C, segundo os
critério adotados. A representação gráfica do perfil topográfico deste seguimento pode ser vista na
Figura 5.7 e o registro fotográfico na Figura 5.8.

V – Praia da Cruz, praia


dissipativa Praia da Cruz (ES)
A ltu ra (c m )

400
300
200
100
0
0 10 20 30 40 50

Distância (m)

FIGURA 5.7: Perfil topográfico do Compartimento V. FIGURA 5.8: Praia da Cruz (ES), com construções feitas bem
próximo à linha de preamar. Foto: Albino, 13/11/2005.

55
Plataforma de abrasão rochosa situada em uma região de embaiamento. Classe A, com o grau de
urbanização baixo como pode ser visualizado na Figura 5.9.

VI – Plataforma de
Plataforma de abrasão
abrasão rochosa rochosa
A ltura (cm )

400
200
0
0 10 20 30 40 50

Distância (m)

FIGURA 5.9: Plataforma de abrasão rochosa representando o compartimento VI e seu perfil topográfico. Foto: Albino,
13/11/2004.

56
Praia com sedimento composto predominantemente por areias finas sendo detectada também a
presença de areias médias. A urbanização deste local é bem significativa com inúmeros quiosques
construídos no ambienta praial, enquadra-se, portanto, na Classe B. O perfil topográfico pode ser
visualizado na Figura 5.10 da mesma forma que o registro fotográfico na Figura 5.11.

VII – Praia das Arraias –


Praia das Arraias (ES)
praia dissipativa
A ltu ra (c m )

400
300
200
100
0
0 10 20 30 40 50

Distância (m)

FIGURA 5.10: Representação gráfica do perfil topográfico. FIGURA 5.11: Praia das Arraias (ES). Foto: Albino,
13/11/2005.

57
Este compartimento é circundado por plataforma de abrasão rochosa (Figura 5.13). Por ser uma
região onde as formações praiais são expressivas foi levantado perfil topográfico (Figura 5.12) para
ilustrar estas formações. O grau de urbanização é irrisório, assim este compartimento corresponde á
Classe A.

VIII – Praia das Arrais,


praia dissipativa Praia das Arraias (ES)
A ltu ra (c m )

300
200
100
0
0 10 20 30

Distância (m)

FIGURA 5.12: Perfil topográfico. FIGURA 5.13: Compartimento praial circundado por pequenas
formações rochosas praiais. Foto: Albino, 13/11/2005.

58
Sobre esta feição foi construído um enroncamento com o intuito de proteger a região contra a ação
das ondas visto que no local existe uma região de atracação de barco de pescadores (Figura 5.14).
Apesar da modificação feita para a construção do enroncamento o grau de urbanização é baixo,
Classe A.

IX - Plataforma de
abrasão rochosa

FIGURA 5.14: Enronacmento presente no compartimento IX. Foto: Albino, 13/11/2005.

59
Pequena formação praial (Figura 5.15). Neste local não foi realizado perfilagem topográfica, uma vez
que a formação praial ali existente é de pequeno porte sendo sua proteção feita pelas planícies de
abrasão rochosa que a circundam onde os sedimentos arenosos ainda estão recobrindo as formações
rochosas em assim sendo o recuo da linha de cota adotado será o mesmo das planície de abrasão
rochosas adjacentes. O grau de urbanização é baixo, enquadrando-se como Classe A.

X – Praia dissipativa

FIGURA 5.15: O quadro vermelho destaca a pequena formação praia que representa o compartimento X. Foto: Albino,
13/11/2005.

60
Praia dissipativa situada numa pequena região de embaiamento (Figura 5.16). Região localizada bem
próximo ao Iate Club de Marataízes. A urbanização nesta região pode ser considerada de médio
porte com casas construídas próximas ao ambiente praial, corresponde à Classe B.

XI – Praia dissipativa
Praia (ES)
A ltura (cm )

300
200
100
0
0 10 20 30

Distância (m)

FIGURA 5.16: Praia dissipativa localizada em uma pequena região de embaiamento e sua representação gráfica. Foto:
Albino, 13/11/2005.

61
Plataforma de abrasão rochosa (Figura 5.17). Apesar de estar significativamente urbanizado este
compartimento não é muito preocupante pois as construções foram feitas longe da linha de preamar.
Este setor pode ser considerados como sendo pertencente à Classe B.

XII – Plataforma de Plataforma de abrasão


abrasão rochosa rochosa
A ltu ra (c m )

390
290
190
90
-10
0 10 20 30

Distância (m)

FIGURA 5.17: Plataforma de abrasão rochosa representando o compartimento XII e seu respectivo perfil topográfico. Foto:
Albino, 13/11/2005.

62
Praia com sedimento composto predominantemente por areias médias. A representação gráfica do
perfil topográfico realizado neste compartimento pode ser visualizado na Figura 5.18. já o registro
fotográfico deste compartimento pode ser visto na Figura 5.19. Segundo os critérios de classificação
proposto, este setor corresponde à Classe C, onde o grau de urbanização é bastante expressivo.

XIII – Praia de
Marataízes sem as
Praia de Marataízes (ES)
contenções de
sedimento, praia
A lt u r a ( c m )

400
dissipativa 300
200
100
0
0 5 10 15 20 25

Distância (m)

FIGURA 5.18: Perfil topográfico compartimento XIII. FIGURA 5.19: Praia de Marataízes , sem as contenções.
Foto: Albino, 13/11/2005.

63
Sedimento composto predominantemente por areias médias. O grau de urbanização deste
compartimento é extremamente elevado, sendo uma região muito preocupante, pois como a ocupação
foi feita de forma errônea os prejuízos causados por este erro já se fazem sentir, segundo a
classificação proposta pelo Projeto Orla Marítima este setor corresponde à Classe C. Isto pode ser
observado na Figura 5.21 que se segue, da mesma forma que o perfil topográfico (Figura 5.20).

XIV – Praia de
Marataízes com as
contenções de Praia de Mataízes (ES) entre as
sedimento, praia contenções
dissipativa
1000
A ltu r a
(c m )

500
0
0 10 20 30 40

Disntância (m)

FIGURA 5.20: Perfil topográfico. FIGURA 5.21: Registro fotográfico do compartimento XIV e os
problemas causados pela urbanização feita de forma errônea.
Foto: Albino, 13/11/2005.

64
As areias predominantes possuem uma granulometria fina com regiões onde há bastantes minerais
pesados expostos e dunas frontais bem erodidas. A representação gráfica do perfil topográfico pode
ser vista na Figura 5.22 e o registro fotográfico na Figura 5.23. A maior parte deste comprimento ainda
não é urbanizada, mas alguns pontos pode-se perceber a construção de quiosques feita sobre o
ambiente praial, tal quiosques vêm ao longo do tempo sofrendo processos erosivos. Este setor pode
ser enquadrado na Classe B segundo a classificação proposta pelo Projeto Orla.

XV – Praia de
Marataízes, praia
intermediária

Marataízes (ES)

800
A ltu ra (c m )

600
400
200
0
0 10 20 30 40

Distância (m)

FIGURA 5.22: Perfil topográfico da praia de Marataízes (ES). FIGURA 5.23: Praia de Marataízes (ES). Foto: Albino
13/11/2005.

65
Barra arenosa construída em na foz da Lagoa do Siri (Figura 5.24). A ocupação sobre a barra
propriamente dita não é existente, mas nas regiões que circundam a lagoa pode-se perceber a
presença de inúmeros quiosques. Classe A.

XVI – Lagoa do Siri,


desembocadura fluvial

FIGURA 5.24: Seqüência fotográfica mostrando a barra da Lagoa do Siri (ES). Foto: Albino, 13/11/2005.

66
Areia com cordão vegetado extenso, sedimento composto predominantemente por granulometria
média. A urbanização é bastante expressiva, com diversas construções feitas sobre o ambiente praial,
setor corresponde à Classe B. A representação gráfica do perfil topográfico pode ser visto na Figura
5.25 e o registro fotográfico na Figura 5.26.

XVII – Praia do Siri, Praia do Siri (ES)


praia intermediária
600
A ltu r a (c m )

400
200
0
0 20 40 60

Distância (m)

FIGURA 5.25: Perfil topográfico do compartimento XVII. FIGURA 5.26: Praia do Siri (ES). Foto: Albino, 13/11/2005.

67
Sedimento composto predominantemente por areias finas. A urbanização deste compartimento é
irrisório sendo o grau de preservação bastante elevado com preservação da vegetação nativa e da
vegetação de dunas, Classe A. Perfil topográfico Poe ser visto na Figura 5.27 e o registro topográfico
na Figura 5.28.

XVIII – Praia de Suruí,


falésia precedida de Praia de Suruí (ES)
praia
300
A ltu ra (c m )

200
100
0
0 10 20 30 40

Distância (m)

FIGURA 5.27: Perfil topográfico do compartimento XVIII. FIGURA 5.28: Praia de Suruí (ES). Foto: Albino,13/11/2005.

68
Falésia Viva (Figura 5.29). Não se observam estradas nem edificações construídas sobre a mesma,
Classe A.

XIX – Falésia Viva

FIGURA 5.29: Falésia viva ao fundo representando o compartimento XIX. Foto: Albino, 13/11/2005.

69
Sedimento composto predominantemente por areias médias. A ocupação deste ambiente foi feita de
forma errada com casas construídas sobre o ambiente praial suprimento a vegetação, apesar do grau
de urbanização ser de médio porte, corresponde, portanto, à Classe B. Perfil topográfico pode ser
visualizado na Figura 5.30 e o registro fotográfico na Figura 5.31.

XX – Praia dos Cações ,


Praia de Cações (ES)
falésia precedida de
praia 300
A lt u r a ( c m )

200
100
0
0 10 20 30

Distância (m)

FIGURA 5.30: Perfil topográfico do compartimento XX. FIGURA 5.31: Praia de Cações (ES) com ocupação feita de
forma errônea. Foto: Albino, 13/11/2205.

70
Falésia Viva, a visualização deste compartimento pode ser visto ao fundo de registro fotográfico
(Figura 5.32) que se segue. O grau de urbanização é irrisório, visto que neste compartimento não há
casas construídas sobre a falésia, a única modificação que este ambiente apresentou é uma pequena
estrada de terra que passa na região superior da mesma, mas longe de suas margens, enquadrando-
se, assim, na Classe A.

XXI –Lagoa do Mangue,


falésia viva

FIGURA 5.32: Falésia viva representando o compartimento XXI. Foto: Albino, 13/11/2005.

71
Cordão litorâneo precedido de praia, na época em que foi feito o levantamento de dados a estrada de
terra que passava sobre esta região foi destruída impedindo o tráfego no local como pode ser
observado na Figura 5.34. Como o ambiente possui uma formação praial foi levantado perfil
topográfico (Figura 5.33). Segundo os critérios propostos pelo Projeto Orla Marítima, o compartimento
corresponde à Classe A.

XXII – Lagoa do
Mangue, Falésia Lagoa do Mangue (ES)
precedida de praia 600
A ltu r a (c m )

400
200
0
0 10 20 30 40

Distância (m)

FIGURA 5.33: Perfil topográfico. FIGURA 5.34: Cordão litorâneo precedido de praia, com estrada
destruída interrompendo o tráfego local. Foto: Albino, 13/11/2005.

72
De acordo com os dados até o presente momento apresentados pode-se afirmar que
Marataízes (ES) apresenta um litoral composto predominantemente por praias, que
representam aproximadamente 49% de todos os compartimentos determinados,
seguido de plataforma de abrasão rochosa (23%) e falésias precedidas de praia
(14%), as falésias vivas representam 9% e as desembocaduras fluviais 5% do litoral. A
representação gráfica da porcentagem que cada segmento representa pode ser vista
na Figura 5.35.

Compartimentos que compõem o litoral de


Marataízes (ES)
Praia dissipativa e intermediaria
Plataforma de abrasão rochosa
9% 5%
Falésia precedida de praia
Falésia viva
14% Desembocadura fluvial

49%

23%

FIGURA 5.35: Compartimentos que compõem o litoral de Marataízes (ES) em porcentagem.

5.2 DETERMINAÇÃO DO LIMITE SEGURO DE OCUPAÇÃO DA LINHA DE COSTA

A definição da extensão destas zonas de não ocupação deve ser feita a partir do
conhecimento de eventos erosivos pretéritos ou através de estudos específicos de
evolução costeira (Muehe, 2001a).

A diminuição dos limites mínimos poderá ocorrer quando houver tendência


progradacional da linha de costa, também expressa em taxas anuais ou o local se
situar em áreas abrigadas, desde que justificado tecnicamente, sem prejuízo da

73
competência estadual ou municipal para estabelecer medidas mais restritivas (Muehe,
2001a).

5.2.1 Praias dissipativas e intermediárias e falésia precedidas de praia

Segundo as observações feitas por Brunn (1962), a praia responde às alterações


morfodinâmicas impostas por modificações no clima de onda mais recorrente,
elevação do nível do mar, déficit de sedimentos, entre outros.

A elevação do nível do mar resulta na maioria das vezes em recuo do berma e erosão
das dunas frontais, caso elas existam. Para entrada de frentes frias Bruun sugere que
o acréscimo de água seja 30 cm acima do nível atua. Agora quando se trata de
elevação global do nível do mar, o presente trabalho adotou um acréscimo de 50 cm
conforme explicado anteriormente.

Aplicando a equação (1) para se obter o recuo da linha de costa para os valores
propostos e utilizando os dados dispostos na Tabela 5.3, alcançados pela aplicação da
equação (2), e acrescentando, ainda, a faixa de segurança estabelecida por Muehe
(2001a) de 50 m para orlas urbanizadas e 200 m para orlas não urbanizadas, pôde-se
obter os valores presentes na Tabela 5.2.

TABELA 5.2: Recuo da linha de costa, segundo sugerido por Bruun (1962), para uma elevação do nível
o mar de 30 e 50 cm.

Recuo da linha de costa

Compartimento para uma elevação de Faixa de Segurança


30 cm
correspondente

I 27,04 m 77,04 m

III 37,55 m 87,55 m

V 19,57 m 69,57 m

VII 12,63 m 62,63 m

VIII 26,64 m 76,64 m

74
XI 39,98 m 89,98 m

XIII 33,58 m 83,85 m

XIV 23,98 m 73,98 m

XV 74,58 m 124,58 m

XVII 3,42 m 53,42 m

XVIII 80,41 m 280,41 m

XX 128,26 m 328,26 m

XXII 108,69 m 308,69 m

TABELA 5.3: Parâmetros utilizados para se obter o Recuo da linha de costa (R) dos compartimentos
representados por praias ou outras feições precedidas de praia.

Compartimento praial Comprimento do perfil Altura do perfil ativo (H)


correspondente ativo (L)
I 936,56 m 10,39 m

III 1441,93 m 11,52 m

V 639,18 m 9,8 m

VII 431,4 m 10,25 m

VIII 828,52 m 9,33 m

XI 1243,46 m 9,33 m

XIII 1058,83 m 9,46 m

XIV 926,54 m 11,59 m

XV 3291,36 m 13,24 m

XVII 126,55 m 11,11 m

XVIII 1428,09 m 8,88 m

XX 2395,81 m 9,34 m

XXII 2399,89 m 11,04 m

Analisando os perfis topográficos das praias estudadas nota-se sua tipologia varia
entre praias intermediárias e dissipativas, segundo a classificação feita por Wright et
al. (1979). Isso é um agravante pois o estado morfodinâmico dissipativo responde

75
prontamente a qualquer modificação, seja uma elevação relativa do nível do mar,
alteração na incidência de ondas ou qualquer outro parâmetro que fuja das condições
a que elas estão freqüentemente submetidas. Diante dos resultados expostos pode-se
afirmar, de antemão, que tanto o recuo que representa a subida relativa do nível do
mar quanto o que representa a subida absoluta possuem valores consideráveis e a
situação é preocupante, pois o espaço horizontal requerido pela maioria das praias
em muitos casos é inexistente.
A urbanização neste litoral, em muitos casos não obedece os limites de ocupação
propostos por Muehe (2001a), principalmente nas áreas urbanizadas cuja ocupação
de ser feita depois de 50 m contados a partir do limite da praia ou a partir da base do
reverso da duna frontal, quando existente, o que vem a ser um problema.

5.2.2 Plataformas de abrasão rochosa

Plataformas de abrasão rochosa não respondem, em termos de erosão, a uma


elevação do nível do mar, isto quando se considera uma escala de tempo compatível
com o planejamento do uso do solo. Assim, os mesmo podem ser considerados
estáveis, devendo sua ocupação, quando prevista por um plano diretor ou não
impedida por legislação específica, ser orientada em função da exposição e,
conseqüentemente, do alcance máximo das ondas acrescido de pelo menos 1 metro
acima deste alcance atual (Muehe, 2001a).

Por meio dos perfis topográficos realizados nos representantes mais alto e mais baixo
destas feições fisiográficas, pôde-se calcular o a distância horizontal requerida para
que a proposta de limite de ocupação sugerida por Muehe (2001a) fosse cumprida. As
distâncias encontradas foram de aproximadamente 9,57 m para a plataforma de
abrasão rochosa mais elevada e de 8,84 m para a mais baixa, o que vem a ser uma
distância muito pequena quando comparada ao espaço requerido pelos
compartimentos praiais presentes na mesma região de estudo.

5.2.3 Falésias vivas

As falésias em rochas sedimentares, como ocorre no contato do Grupo Barreiras com


o mar, à aplicação da metodologia sugerida para os compartimentos referentes às

76
praias arenosas se torna difícil, tanto pelo longo lapso de reação ao processo erosivo,
quanto pela elevada quantidade de sedimentos liberados, fazendo com que a
retrogradação seja freqüentemente pequena. Em geral, as taxas de retrogradação são
tão ínfimas que o cálculo teórico das mesmas se torna sem sentido. O correto a se
fazer é uma análise caso a caso, considerando a posição de testemunhos deixados
pela retrogradação, registros fotográficos e iniciando, sempre que for possível, um
monitoramento das falésias ativas. Estas taxas de retirada de sedimento quanto
corretamente definidas, ou seja, para um período de tempo suficientemente longo para
caracterizar uma tendência, deverá ser incorporada na fixação da largura de proteção
da orla (Muehe, 2001a).

Nascimento e Silva (2005) estudaram a taxa de retrogradação de 6 falésias na Ponta


do Retiro, no estado do Rio de Janeiro, região vizinha ao litoral de Marataízes. Os
resultados obtidos por eles foram surpreendentes pois ao longo dos 11 meses de
monitoramento eles encontraram recuos que variaram entre 1 e 3,5 m por ano, o que
em uma simples estimativa, aponta uma atividade erosiva expressiva. Estes mesmos
autores também acreditam que o processo de retrogradação da linha de costa em
Ponta do Retiro para um período de 26 anos (entre 1976 e 2002), chegou a 80 m nas
falésias que sofriam ação direta do mar. Estudos com este vêm confirmar a
necessidade de monitoramentos efetivos, pois nem todas respondem da mesma
maneira aos processos marinhos e subaéreos a que estão submetidas.

Dentre os processos que resultam em erosão, os marinhos são os mais atuantes e os


principais responsáveis pelas grandes perdas de material das falésias, a atuação dos
processos subaéreos é expressiva no recuo das porções superiores (Nascimento e
Silva 2005).

Por falta de monitoramento na falésia presentes no litoral de Marataízes o presente


estudo adotou o limite de ocupação seguro de 50 m medidos à partir do topo da
falésia, mas este limite pode ser falho, pois se as falésias da Ponta do Retiro sofrem
uma taxa de retrogradação muito grande, conforme descrito por Nascimento e Silva
(2005), é possível que as presentes na região estudada também possuam taxas de
recuo elevadas.

77
Quando se compara a ação do recuo das falésias vivas com as precedidas de praia é
possível notar que a praia atua como um agente amortizador da ação marinha, pois
nas últimas Nascimento e Silva (2005) observaram que o recuo das mesmas foram
inferiores a 45 m para o mesmo período de 26 anos.

5.2.4 Desembocadura Fluvial

A faixa de segurança estabelecida para este tipo de feição segue a sugestão proposta
por Muehe (2001a).

5.3 VULNERABILIDADE EROSIVA DO LITORAL DE MARATAÍZES

A Figura 5.36 exprime a relação existente entre a taxa de recuo da linha e costa e o
grau de ocupação de cada compartimento.

Ao se analisar o gráfico da figura 5.36 e relacioná-lo com as observações feitas em


campo percebe-se que a presença de construções inadequadas ao longo do litoral de
Marataízes (ES) é notória e, em alguns trechos, merece atenção especial por parte
dos gestores responsáveis. Os pontos mais vulneráveis são os compartimentos
praiais, pois eles apresentam recuos da linha de costa consideráveis e são os locais
mais densamente ocupados, a situação é mais crítica nos compartimentos III, XI, XIII,
XIV, e em alguns trechos do compartimento XV, processos erosivos já são
observados nestes compartimentos e as perdas econômicas são bastante
significativas. As figuras 5.21, 5.37, 5.38 e 5.39 mostram bem a abrangência do
problema. Os demais compartimentos praiais não estão num estado tão crítico quanto
os anteriormente citados, mas também exigem atenção, pois ocupações futuras, feitas
sem um plano gestor adequado, podem acarretar em danos.

78
FIGURA 5.36: Taxa de recuo da linha de costa e Grau de vulnerabilidade de cada compartimento que
compõe o litoral de Marataízes.

Os compartimentos referentes a plataformas de abrasão rochosa não apresentam


significativos problemas, pois a maioria não é ocupada, como é o caso dos
compartimentos IV e VI, ou, quando há construções sobre os mesmos, estas são
feitas longe da linha d’água e respeitam o limite de 1 metro acima do limite máximo de
ações das ondas de tempestade proposto por Muehe (2001a), como acontece nos
compartimentos II, IX e XII. Todas essas situações são confirmadas pelas Figuras 5.3,
5.6, 5.9, 5.14 e 5.17.

O recuo que as falésias sedimentares requerem é elevado, mas estes compartimentos


atualmente não apresentam problemas, pois ainda não são ocupados pela população,
salvo em alguns casos onde se têm pequenas estradas não pavimentadas passando
sobre estas feições, mas situadas longe das suas margens superiores.

79
FIRGURA 5.37: Erosão em quiosques construídos sobre as dunas frontais na praia de Marataízes (ES).
Foto: Albino, 13/11/2004.

FIGURA 5.38: Areia da praia depositada por ação eólica sobre a via de acesso à praia da Barra
(Marataízes, ES). Foto: Albino, 13/11/2004.

80
FIGURA 5.39: Edificações feitas sobre a praia de Arrais, em Marataízes (ES). Fonte: 13/11/2004.

As falésias precedidas de praia possuem recuos muito elevados, mas a ocupação


nestes compartimentos pode ser considerada inexistente, a única exceção é o
compartimento XX que possui uma pequena vila de pescadores próxima ao ambiente
praial que antecede as falésias (Figura 5.31).

O compartimento que podem vir a apresentar problemas futuros, caso medidas


mitigadoras não seja tomadas, é o XVI, que corresponde à desembocadura da Lagoa
do Siri. Alguns quiosques já são construídos em suas margens (Figura 5.40) e por ser
um local de beleza expressiva pode ser ocupado pela população, o que poderia gerar
danos levando em consideração a instabilidade deste tipo de feição.

FIGURA 5.40: Quiosques ocupando as margens da Lagoa do Siri (Marataízes, ES). Foto: Albino,
13/11/2004.

81
Utilizando a análise de Cluster (Figura 5.41) para agrupar os compartimentos
semelhante com relação ao recuo da linda de costa e ao diagnóstico de uso e
ocupação, observou-se que os compartimentos mais semelhantes entre si são os
compartimentos I, V e VIII; XI, XIII e XV ; XVI, XVIII e XX, ou seja, de acordo com
os dados utilizados como variáveis estes compartimentos são os que apresentam
comportamento semelhantes, por outro lado os compartimentos mais distintos entre si
são I e XXI, segundo a análise feita.

Tree Diagram for 17 Cases


Single Linkage
1-Pearson r
0.14

0.12

0.10
Linkage Distance

0.08

0.06

0.04

0.02

0.00
C_21 C_14 C_20 C_18 C_13 C_3 C_7 C_8 C_1
C_19 C_22 C_16 C_15 C_11 C_17 C_12 C_5

FIGURA 5.41: Análise de Cluster dos compartimentos identificados, recuo da linha de costa e
diagnóstico de uso e ocupação.

A representação qualitativa dos compartimentos que compõem o litoral de Marataízes


(ES) pode ser vista nas figuras abaixo, onde se pode perceber os compartimentos
bombas, ou seja, aqueles mais problemáticos, que necessitam de uma atenção
especial e aqueles em que a ocupação, até o presente momento, é menos alarmante,

82
mas que exige um plano gestor adequado para evitar que danos futuros possam vir a
ocorrer.

83
Mapa de Vulnerabilidade erosiva do
Litoral de Marataízes (ES)

Legenda
Pouco preocupante
Preocupante
Muito preocupante

FIGURA 5.42: Mapa de vulnerabilidade do litoral de Marataízes (ES),


evidenciando os compartimentos de I a XIV.

84
Mapa de Vulnerabilidade erosiva do
Litoral de Marataízes (ES)

Legenda
Pouco preocupante
Preocupante
Muito preocupante

FIGURA 5.43: Mapa de vulnerabilidade do litoral de Marataízes


(ES), evidenciando os compartimentos de XIV a XVIII.

85
Mapa de Vulnerabilidade erosiva do
Litoral de Marataízes (ES)

Legenda
Pouco preocupante
Preocupante
Muito preocupante

FIGURA 5.44: Mapa de vulnerabilidade do litoral de Marataízes


(ES), evidenciando os compartimentos de XVII a XXII.

86
5.4 APLICABILIDADE DOS CRITÉRIOS DE USO E OCUPAÇÃO ADOTADOS
PELO PROJETO ORLA PARA FAIXA DE SEGURANÇA DO LITORAL DE
MARATAÍZES

Os critérios de uso e ocupação propostor por Muehe (2001a) e adotados pleo


progeto orla são bem aplicáveis para a orla de Marataízes exceto em dois casos:
orla urbanizada e falésia.

Os 50 m estipulados como faixa de segurança para a ocupação de orla


urbanizadas se mostra um pouco inviável na região mais crítica de Marataízes,
pois a ocupação é muito densa e a indenização para os proprietários seria muito
inviável para o munícipio devido a sua onerosidade.

A estiamtiva de 50 m após o topo da falésia, não é muito eficiente para a área


estudada pois acredita-se que as taxas erosiva que estas feições sofrem estão
bem próximas às encontradas por Nascimento e Silva (2005) no litoral norte do
Rio de Janeiro, região vizinha à Marataízes. Assim propõe-se que a faixa de
segurança para esse tipo de feiçõse seja extendida para, no mínino, 100 m.

5.5 LEIS APLICÁVEIS QUE CONTRIBUEM PARA UMA MELHOR GESTÃO


COSTEIRA

Da legislação aplicável que contribui para a gestão costeira do litoral em estudo


pode-se destacar: Resolução CONAMA 303/02, Resolução CONAMA 341/03 e Lei
Federal N° 7661/88, Lei Estadual N° 5816/98, Lei Estadual N° 7.943/04 e Decreto
5300/04, cada uma dispõe sobre:

• Resolução CONAMA 303 de 20/03/2002 - Dispõe sobre parâmetros,


definições e limites de Áreas de Preservação Permanente (Meio Ambiente e
Direito, 2005).

• Resolução CONAMA 341 de 25/09/2003 - Dispõe sobre critérios para a


caracterização de atividades ou empreendimentos turísticos sustentáveis como
de interesse social para fins de ocupação de dunas originalmente desprovidas
de vegetação, na Zona Costeira (Meio Ambiente e Direito, 2005).

87
• Lei Federal N° 7661/88 – Institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro
e dá outras providências (Meio Ambiente e Direito, 2005).

• Lei Estadual 58165/93 – Institui o Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro


do Espírito Santo (Meio Ambiente e Direito, 2005).

• Lei Estadual N° 7.943/04 - Dispõe sobre o parcelamento do solo para fins


urbanos e dá outras providências (Meio Ambiente e Direito, 2005).

• Decreto 5300/04 - Regulamenta a Lei N° 7661, de maio de 1988, que institui o


Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro – PNGC, dispõe sobre as regras
de uso e ocupação da zona costeira e estabelece critérios de gestão da orla
marítima, e dá outras providencias (Meio Ambiente e Direito, 2005).

O texto completo de todas a leis e resoluções citadas acima está presente nos
anexos D, E, F ,G, H e I.

Se os Planos Federal e Estadual de Gerenciamento Costeiro, assim como o


Decreto N° 5300/04, fossem cumpridos, grande parte dos problemas observados
na região de estudada seriam evitados, além destes existem outros pontos da
legislação que são violados e negligenciados, como é o caso da resolução
CONAMA 303 é violada no seu Art. 3°, incisos IX (alínea b) e XI, quando a
presente legislação determina que são áreas de preservação permanente as
restingas em qualquer localização ou extensão, quando cobertas por vegetação
com função fixadora de dunas e em dunas propriamente ditas. Durante a visita a
campo pôde-se notar que em alguns locais a vegetação que recobre as dunas foi
danificada ou suprimida. Em outros locais as próprias dunas frontais foram
ocupadas ou, em alguns casos as areias que as constituem foram retiradas.

“...Art. 3º Constitui Área de Preservação Permanente a área situada:


...IX – nas restingas:
...b) em qualquer localização ou extensão, quando recoberta por vegetação
com função fixadora de dunas ou estabilizadora de mangues.
...XI – em duna;”

88
No que tange a Resolução CONAMA 341 a violação da legislação se dá em vários
âmbitos, os mais relevantes são Art. 2° (parágrafos 1° e 2°) e Art. 3°.

“...Art. 2º Poderão ser declarados de interesse social, mediante


procedimento administrativo específico aprovado pelo Conselho Estadual
de Meio Ambiente, atividades ou empreendimentos turísticos sustentáveis
em dunas originalmente desprovidas de vegetação, atendidas as diretrizes,
condições e procedimentos estabelecidos nesta Resolução
§ 1º A atividade ou empreendimento turístico sustentável para serem
declarados de interesse social deverão obedecer aos seguintes requisitos:
I – ter abastecimento regular de água e recolhimento e/ou tratamento e/ou
disposição adequada dos resíduos;
II – estar compatível com Plano Diretor do Município, adequado à
legislação vigente;
III – não comprometer os atributos naturais essenciais da área,
notadamente a paisagem, o equilíbrio hídrico e geológico, e a
biodiversidade;
IV – promover benefícios socioeconômicos diretos às populações locais
além de não causar impactos negativos às mesmas;
V – obter anuência prévia da União ou do Município, quando couber;
VI – garantir o livre acesso à praia e aos corpos d’água;
VII – haver oitiva prévia das populações humanas potencialmente afetadas
em Audiência Pública; e
VIII – ter preferencialmente acessos (pavimentos, passeios) com
revestimentos que permitam a infiltração das águas pluviais.
§ 2º As dunas desprovidas de vegetação somente poderão ser ocupadas
com atividade ou empreendimento turístico sustentável em até vinte por
cento de sua extensão, limitada à ocupação a dez por cento do campo de
dunas, recobertas ou desprovidas de vegetação...”

Já Lei Estadual N°7943 não é cumprida no seu Art. 9° incisos V, VII e X do


Capítulo I.

89
“... Art. 9º Não será permitido o parcelamento do solo:
... V - em terrenos onde as condições geológicas não aconselham a
edificação;
VII - em unidades de conservação e em áreas de preservação permanente,
definidas em legislação federal, estadual e municipal, salvo parecer
favorável do órgão estadual de conservação e proteção ao meio
ambiente;...
... X - nas pontas e pontais do litoral e nos estuários dos rios, numa faixa de
100 m (cem metros) em torno das áreas lacustres....”

6. CONCLUSÕES

Diante dos resultados obtidos pode-se concluir que o litoral de Marataízes é


composto por 5 feições fisiográficas, sendo as praias predominantes, devido à
intensa urbanização, são estas as feições que apresentam maior vulnerabilidade
erosiva. Os costões rochosos ou plataformas de abrasão rochosa e as falésias
vivas são as feições secundárias com menor grau de vulnerabilidade erosiva,
contudo, foram verificadas ocupações inadequadas e áreas potenciais de erosão,
caso ocorram um aumento do nível do mar e/ou uma expansão urbana. Assim,
constata-se que o litoral estudado, apresenta trechos cuja ocupação foi feita de
forma totalmente aleatória, não respeitando as regras de ocupação dispostas por
Lei e nem os estudos feitos por pesquisadores conhecedores do assunto, como
Muehe (2001), por exemplo. Nestes trechos os problemas já se fazem presentes e
as perdas econômicas são bastante significativas.

Para os compartimentos cujo grau de vulnerabilidade erosiva varia entre pouco


preocupante e preocupante, aconselha-se que medidas mitigadoras sejam
adotadas com urgência, fazendo inclusive vigorar as leis já existentes. A urgência
se deve à grande promissoriedade de crescimento do litoral com o advento da

90
exploração do novo campo de extração de petróleo no litoral sul do estado do
Espírito Santo.

A legislação, embora tímida, já existe para algumas das feições costeiras


encontradas na área estudada. O que falta são órgãos fiscalizadores que façam
com que as leis sejam efetivamente aplicadas e estudos que regulamente leis
novas.

O investimento no planejamento de ocupação urbana pode ter um retorno


financeiro em longo prazo que justifique o gasto, pois quando se trata de meio
ambiente sai muito mais barato prevenir do que remediar. As complexas
interações que regem os ecossistemas são difíceis de serem reparadas e sua
valoração em muitos casos é incalculável, principalmente para o município de
Marataízes cujas atividades econômicas se baseiam no turismo, assim um
processo erosivo como o que acontece atualmente, afasta os turistas e gera
perdas de capital o que prejudica o crescimento da região.

91
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1) ALBINO, J. Presença de um tômbolo submarino e sua influência na


dinâmica sedimentar da plataforma continental interna e na morfodinâmica
praial, Macaé – RJ. In: SIMPOSIO DE GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA, 5,
1993, São Paulo. Anais... São Paulo: Editora da USP, 1993.

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das praias de Bicanga à Povoação, ES. 1999. Tese de Doutorado
(Doutorado em Geologia Sedimentar). Programa de Pós-Graduação em
Geologia Sedimentar. Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo
(USP). São Paulo, 1999.

3) ALBINO, J.; GIRARDI, G.; NASCIMENTO, K. A. do. Atlas de Erosão e


Progradação Costeira do Litoral do Estado do Espírito Santo. No prelo.

4) AMADOR, E. S; DIAS, G. T. Considerações preliminares sobre


depósitos do Terciário Superior do Norte do Espírito Santo. Anais

5) BIGARELLA, J. J.; ANDRADE, G. O. Considerações sobre a estratigrafia


dos sedimentos cenozóicos em Pernambuco (Grupo Barreiras).
Arquivos do Instituto das Ciências da Terra, 1964.

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Waterway, Port, Coastal and Ocean Engineering, American Society of
Civil Engineers, n. 88, p. 117-130, 1962.

7) CINCIN – SAIN, B; KNETCHT, R. W. Integrated coastal and ocean


management: Concepts and pratices. Washington, D.C.: Island Press,
1998.

8) CEPEMAR (2003). Monitoramento Marinho da Baía do Espírito Santo, suas


Imediações e região de Praia Mole. Relatório Técnico CPMRT 135/03.

9) COMETTI, S. De R. Modelagem, monitoramento, erosão e ocupação


costeira – MMOC/ES: Relatório parcial de estágio. Vitória: UFES, 2005.

92
10) COUTINHO, J. M. V. O Pré-Cambriano do Vale do Rio Doce como fonte
alimentadora de sedimentos costeiros. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
GEOLOGIA, 28, 1974, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro, 1974, v.5, p.
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11) DIAS, G.T.M. Depósitos de algas calcáreas na plataforma continental do


Espírito Santo. In: SIMPÓSIO DE GEOLOGIA DO SUDESTE, 1, 1989, Rio
de Janeiro. Boletim de Resumos... Rio de Janeiro: SBG, 1989, p. 55-56.

12) DIRETORIA de Hidrografia e Navegação. Site oficial da Marinha do Brasil,


contendo informações pertinentes às atividades realizadas sobre essa
instituição militar bem como os fatos de maior relevância da sua história.
Disponível em: <www.dhn. mar.mil.br>. Acesso em: 1 nov. 2004.

13) DOMINGUEZ, J.M.L.; BITTENCOURT, A.C.S.P.; MARTIN, L. Esquema


evolutivo da sedimentação quaternária nas feições deltáicas do rio São
Francisco (SE/AL), Jequitinhonha (BA), Doce (ES) e Paraíba do Sul (RJ).
Revista Brasileira de Geociência , Rio de Janeiro, v. 11, n. 4, p. 227-237,
1981.

14) EMCAPA. Representação gráfica da freqüência, direção e velocidade


do vento em Vitória, Conceição da Barra e Regência, no Espírito
Santo. Relatório, Vitória, 1981. p. 23.

15) EMERY, K. O. A simple method of measuring beach profile Liminol


Ocean. 6: 90-93, 1961.

16) FEEMA. VOCABULÁRIO BÁSICO DE MEIO AMBIENTE. Rio de Janeiro:


FEEMA, 1990.2ª ed. 246 p.

17) FERREIRA, A., B. de H. Erosão e Vulnerabilidade. IN: NOVO DICIONÉRIO


DA LÍNGUA PROTUGUESA. 1ª ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

18) FILET, M.; SENA, L.B.R. Gerenciamento Costeiro e Gerenciamento de


Bacias Hidrográficas. A experiência de São Paulo. In: Interfaces de
Gestão de Recursos Hídricos. São Paulo: Premius, 1997, p. 240-253.

93
19) GUIA 4 RODAS. Guia Rodoviário Brasileiro. São Paulo: Editora Abril,
1990.

20) HALLERMEIER, R.J. A profile zonation for seasonal sand beaches from
wave climate. In: Coastal Engineering, 1981.

21) Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Censo demográfico


2000: agregados preliminares. Rio de Janeiro, 2000.

22) KING, L. A geomorfologia do Brasil Oriental. Revista Brasileira de


Geografia. v.18, n. 2, p. 147-265, 1956.

23) KOWSMANN, R.O.; COSTA, M.P.A. Sedimentação quaternária da


margem continental brasileira e das áreas oceânicas adjacentes.
Projeto Remac, 1979, n.8, p. 55.

24) MARATAÍZES. Apresenta textos informações relevantes ao município de


Marataízes cuja importância fundamental é destinada aos turistas.
Disponível em: <www.marataizes.tur.br/marataizes/marataizes.html.
Acesso: 01 jun. 2005.

25) MARTIN, L.; SUGUIO, K.; FLEXOR, J.M. As flutuações de nível do mar
durante o Quaternário superior e a evolução geológica de “deltas”
brasileiros. In: Boletim IG – USP, São Paulo, 1993, v. 15. 186 p.

26) MEIO AMBIENTE E DIREITO. Produção: Instituto Estadual do Meio


Ambiente, Editora Plenum, mar. 2005.

27) MORAES, A. C. R. Contribuições para a Gestão da Zona Costeira do


Brasil: Elementos para uma Geografia do Litoral Brasileiro. São Paulo:
Editora Hucittec, 1999.

28) MUEHE, D. O Litoral Brasileiro e sua compartimentação. In: Guerra,


A.J.T &. Cunha, S.B. da (orgs). Geomorfologia: do Brasil. Rio de Janeiro:
Editora Bertrand do Brasil, 1998, p. 273-349.

94
29) MUEHE, D. Critérios Morfodinâmicos para o Estabelecimento de Limites da
Orla Costeira para fins de Gerenciamento. Revista Brasileira de
Geomorfologia, v. 2, n. 1, 35-44, 2001a.

30) MUEHE, D. Geomorfoloia Costeira. In: GUERRA, A.J.T. & CUNHA, S.B. da
(orgs.). Geomorfologia uma atualização de bases e conceitos. Rio de
Janeiro: Bertrant Brasil, 4a ed. 2001b.
31) MUEHE, D.; ROSO, R. H.; SAVI, D. C. Avaliação de método expediti de
determinação do nível do mar como datum vertical para amarração de
perfis de praia. Revista Brasileira de Geomorfologia, 2003, ano 4, n°1, 53-
57.
32) NASCIMENTO, K. E.; SILVA, C. G. Caracterização do processo de erosão
marinha nas falésias da Ponta do Retiro, litoral norte do RJ. In:
CONGRESSO BRASILEIRO DE ESTUDOS DO QUATERNÁRIO, X, 2005,
Guarapari. Anais... Guarapari: CD, 2005.
33) PROJETO ORLA MARÍTIMA, proposto pelo Ministério do Maio Ambiente
(MMA) e pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MP).

34) SPARKS, B.W. Geomorphology. 3ed. Nova Iorque: Longman, 1986.

35) SUGUIO, K. Introdução à Sedimentologia. São Paulo: Edgard Blucher,


1973.

36) SUGUIO, K. Dicionário de geologia sedimentar e áreas afins. Rio de


Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.

37) WRIGHT, L. D.; CHAPPEL, J.; THOM, B. G; BRADSHAW, M.P; COWELL,


P. Morphodynamics of refletive and dissipative beach and inshore
systems: Southeastern Australia. Marine Geology. 32: 105-140, 1979.

95
ANEXOS

96
Anexo A

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO


DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA E RECURSOS NATURAIS

Levantamento topográfico pelo método das balizas de Emery (1961)

PERFIL: ________LOCAL: _________________________ DATA : __________


horário: ( ) verão ( ) normal
rumo: __________ referências: ____________________________________

distância (m) altura (cm) observações

horário do término: __________


máximo recuo ( )sim ( )não perfil submerso ( )
ondas lua A : _____________ α ( ° ) : _____________
Hb (m) : _____________ vento : _____________ tipo : _____________
t (s) : _____________ maré : _____________

97
Anexo B
Compartimento praial Rumo Referência e alinhamento do perfil topográfico
correspondente geográfico
I 140° SE Margem sul do poste de eletricidade localizado em frente ao restaurante
Minas Gerais, situado à margem sul da ponte que ´parra sobre o rio Itapimirim
(ES).
III 141° SE Segundo poste de eletricidade situado depois da margem sul da ponte que
passa sobre o rio Itapimirim (ES).
V 125° SE Margem norte do poste de eletricidade alinhado com a ponta do telhado da
Pousada Pontal da Barra.
VII 146° SE O levantamento do perfil foi feito bem próximo à parede do bar presente neste
compartimento.
VIII 147° SE Margem sul do poste de eletricidade situado ao lado de uma casa.

XIII 163° SE Margem sul de uma casa de três andares que possui uma varanda azul.

XIV 147° SE Margem norte da Pousada portal do Sol.

XV 150° SE O local de levantamento do perfil fica na rua paralela a praia (que vai p/ lagoa
do Siri). Margem sul do poste, entrada transversal
XVII 120° SE Margem sul da cerca do Camping do Siri.

XVIII 150° SE Árvore.

XX 165° SE Muro localizado próximo á cerca que delimita a propriedade.

XXII 170° SE Poste de eletricidade situado no meio da estrada de terra que atravessa o
local, sendo que esse mesmo poste está situado na região mediana da lagoa.

98
Anexo C

Coordenadas em UTM referentes ao início do


Compartimento compartimento com o datum referente ao
Córrego Alegre (MG)
I 0312243
7676025
II 0312124
7675877
III 0312020
7675654
IV 0311620
7673190
V 0311471
7672893
VI 0311352
7672878
VII 0311234
7672819
VIII 0310922
7672299
IX 0310714
7672107
X 0310640
7672032
XI 0310580
7671988
XII 0310477
7671869
XIII 0310358
7671884
XIV 0309690
7671029

99
XV 0309393
7669487
XVI 0307716
7664676
XVII 0307656
7664542
XVIII 0307463
7664076
XIX 0307196
7662792
XX 0307060
76622447
XXI 0306362
7662062
XXII 0305531
7661538

100
Anexo D

RESOLUÇÃO CONAMA Nº 303 DE 20.03.2002 – DOU 13.05.2002


Dispõe sobre parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação
Permanente.
O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE-CONAMA, no uso das competências que lhe são
conferidas pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto nº 99.274, de
6 de junho de 1990, e tendo em vista o disposto nas Leis nºs 4.771, de 15 de setembro e 1965,
9.433, de 8 de janeiro de 1997, e o seu Regimento Interno, e
Considerando a função sócio-ambiental da propriedade prevista nos arts. 5º, inciso XXIII, 170,
inciso VI, 182, § 2º, 186, inciso II e 225 da Constituição e os princípios da prevenção, da precaução
e do poluidor-pagador;
Considerando a necessidade de regulamentar o art. 2º da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de
1965, no que concerne às Áreas de Preservação Permanente;
Considerando as responsabilidades assumidas pelo Brasil por força da Convenção da
Biodiversidade, de 1992, da Convenção Ramsar, de 1971 e da Convenção de Washington, de
1940, bem como os compromissos derivados da Declaração do Rio de Janeiro, de 1992;
Considerando que as Áreas de Preservação Permanente e outros espaços territoriais
especialmente protegidos, como instrumentos de relevante interesse ambiental, integram o
desenvolvimento sustentável, objetivo das presentes e futuras gerações;
Considerando a conveniência de regulamentar os arts. 2º e 3º da Lei nº 4.771, de 15 de setembro
de 1965, no que concerne às Áreas de Preservação Permanente;
Considerando ser dever do Poder Público e dos particulares preservar a biodiversidade,
notadamente a flora, a fauna, os recursos hídricos, as belezas naturais e o equilíbrio ecológico,
evitando a poluição das águas, solo e ar, pressuposto intrínseco ao reconhecimento e exercício do
direito de propriedade, nos termos dos arts. 5º, caput (direito à vida) e inciso XXIII (função social da
propriedade), 170, VI, 186, II, e 225, todos da Constituição Federal, bem como do art. 1.299, do
Código Civil, que obriga o proprietário e posseiro a respeitarem os regulamentos administrativos;
Considerando a função fundamental das dunas na dinâmica da zona costeira, no controle dos
processos erosivos e na formação e recarga de aqüíferos.
Considerando a excepcional beleza cênica e paisagística das dunas, e a importância da
manutenção dos seus atributos para o turismo sustentável, resolve:
Últimos considerandos acrescidos pela Resolução CONAMA nº 341, de 25.09.2003, DOU
03.11.2003, em vigor desde sua publicação.
Art. 1º Constitui objeto da presente Resolução o estabelecimento de parâmetros, definições e
limites referentes às Áreas de Preservação Permanente.
Art. 2º Para os efeitos desta Resolução, são adotadas as seguintes definições:

101
I – nível mais alto: nível alcançado por ocasião da cheia sazonal do curso d’água perene ou
intermitente;
II – nascente ou olho d’água: local onde aflora naturalmente, mesmo que de forma intermitente, a
água subterrânea;
III – vereda: espaço brejoso ou encharcado, que contém nascentes ou cabeceiras de cursos
d’água, onde há ocorrência de solos hidromórficos, caracterizado predominantemente por renques
de buritis do brejo (Mauritia flexuosa) e outras formas de vegetação típica;
IV – morro: elevação do terreno com cota do topo em relação a base entre cinqüenta e trezentos
metros e encostas com declividade superior a trinta por cento (aproximadamente dezessete graus)
na linha de maior declividade;
V – montanha: elevação do terreno com cota em relação a base superior a trezentos metros;
VI – base de morro ou montanha: plano horizontal definido por planície ou superfície de lençol
d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pela cota da depressão mais baixa ao seu redor;
VII – linha de cumeada: linha que une os pontos mais altos de uma seqüência de morros ou de
montanhas, constituindo-se no divisor de águas;
VIII – restinga: depósito arenoso paralelo a linha da costa, de forma geralmente alongada,
produzido por processos de sedimentação, onde se encontram diferentes comunidades que
recebem influência marinha, também consideradas comunidades edáficas por dependerem mais
da natureza do substrato do que do clima. A cobertura vegetal nas restingas ocorrem mosaico, e
encontra-se em praias, cordões arenosos, dunas e depressões, apresentando, de acordo com o
estágio sucessional, estrato herbáceo, arbustivos e abóreo, este último mais interiorizado;
IX – manguezal: ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos à ação das marés,
formado por vasas lodosas recentes ou arenosas, às quais se associa, predominantemente, a
vegetação natural conhecida como mangue, com influência flúvio-marinha, típica de solos limosos
de regiões estuarinas e com dispersão descontínua ao longo da costa brasileira, entre os estados
do Amapá e Santa Catarina;
X – duna: unidade geomorfológica de constituição predominante arenosa, com aparência de
cômoro ou colina, produzida pela ação dos ventos, situada no litoral ou no interior do continente,
podendo estar recoberta, ou não, por vegetação;
XI – tabuleiro ou chapada: paisagem de topografia plana, com declividade média inferior a dez por
cento, aproximadamente seis graus e superfície superior a dez hectares, terminada de forma
abrupta em escarpa, caracterizando-se a chapada por grandes superfícies a mais de seiscentos
metros de altitude;
XII – escarpa: rampa de terrenos com inclinação igual ou superior a quarenta e cinco graus, que
delimitam relevos de tabuleiros, chapadas e planalto, estando limitada no topo pela ruptura positiva
de declividade (linha de escarpa) e no sopé por ruptura negativa de declividade, englobando os
depósitos de colúvio que localizam-se próximo ao sopé da escarpa;
XIII – área urbana consolidada: aquela que atende aos seguintes critérios:

102
a) definição legal pelo poder público;
b) existência de, no mínimo, quatro dos seguintes equipamentos de infra-estrutura urbana:
1. malha viária com canalização de águas pluviais;
2. rede de abastecimento de água;
3. rede de esgoto;
4. distribuição de energia elétrica e iluminação pública;
5. recolhimento de resíduos sólidos urbanos;
6. tratamento de resíduos sólidos urbanos.
c) densidade demográfica superior a cinco mil habitantes por km².
Art. 3º Constitui Área de Preservação Permanente a área situada:
I – em faixa marginal, medida a partir do nível mais alto, em projeção horizontal, com largura
mínima, de:
a) trinta metros, para o curso d’água com menos de dez metros de largura;
b) cinqüenta metros, para o curso d’água com dez a cinqüenta metros de largura;
c) cem metros, para o curso d’água com cinqüenta a duzentos metros de largura;
d) duzentos metros, para o curso d’água com duzentos a seiscentos metros de largura;
e) quinhentos metros, para o curso d’água com mais de seiscentos metros de largura.
II – ao redor de nascente ou olho d’água, ainda que intermitente, com raio mínimo de cinqüenta
metros de tal forma que proteja, em cada caso, a bacia hidrográfica contribuinte;
III – ao redor de lagos e lagoas naturais, em faixa com metragem mínima de:
a) trinta metros, para os que estejam situados em áreas urbanas consolidadas;
b) cem metros, para as que estejam em áreas rurais, exceto os corpos d’água com até vinte
hectares de superfície, cuja faixa marginal será de cinqüenta metros.
IV – em vereda e em faixa marginal, em projeção horizontal, com largura mínima de cinqüenta
metros, a partir do limite do espaço brejoso e encharcado;
V – no topo de morros e montanhas, em áreas delimitadas a partir da curva de nível
correspondente a dois terços da altura mínima da elevação em relação a base;
VI – nas linhas de cumeada, em área delimitada a partir da curva de nível correspondente a dois
terços da altura, em relação à base, do pico mais baixo da cumeada, fixando-se a curva de nível
para cada segmento da linha de cumeada equivalente a mil metros;
VII – em encosta ou parte desta, com declividade superior a cem por cento ou quarenta e cinco
graus na linha de maior declive;
VIII – nas escarpas e nas bordas dos tabuleiros e chapadas, a partir da linha de ruptura em faixa
nunca inferior a cem metros em projeção horizontal no sentido do reverso da escarpa;
IX – nas restingas:
a) em faixa mínima de trezentos metros, medidos a partir da linha de preamar máxima;
b) em qualquer localização ou extensão, quando recoberta por vegetação com função fixadora de
dunas ou estabilizadora de mangues.

103
X – em manguezal, em toda a sua extensão;
XI – em duna;
XII – em altitude superior a mil e oitocentos metros, ou, em Estados que não tenham tais
elevações, à critério do órgão ambiental competente;
XIII – nos locais de refúgio ou reprodução de aves migratórias;
XIV – nos locais de refúgio ou reprodução de exemplares da fauna ameaçadas de extinção que
constem de lista elaborada pelo Poder Público Federal, Estadual ou Municipal;
XV – nas praias, em locais de nidificação e reprodução da fauna silvestre.
Parágrafo único. Na ocorrência de dois ou mais morros ou montanhas cujos cumes estejam
separados entre si por distâncias inferiores a quinhentos metros, a Área de Preservação
Permanente abrangerá o conjunto de morros ou montanhas, delimitada a partir da curva de nível
correspondente a dois terços da altura em relação à base do morro ou montanha de menor altura
do conjunto, aplicando-se o que segue:
I – agrupam-se os morros ou montanhas cuja proximidade seja de até quinhentos metros entre
seus topos;
II – identifica-se o menor morro ou montanha;
III – traça-se uma linha na curva de nível correspondente a dois terços deste; e
IV – considera-se de preservação permanente toda a área acima deste nível.
Art. 4º O CONAMA estabelecerá, em Resolução específica, parâmetros das Áreas de Preservação
Permanente de reservatórios artificiais e o regime de uso de seu entorno.
Art. 5º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, revogando-se a Resolução
CONAMA 004, de 18 de setembro de 1985.

104
Anexo E
RESOLUÇÃO CONAMA Nº 341 DE 25.09.2003 – DOU 03.11.2003
Dispõe sobre critérios para a caracterização de atividades ou empreendimentos
turísticos sustentáveis como de interesse social para fins de ocupação de dunas
originalmente desprovidas de vegetação, na Zona Costeira.

O CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE – CONAMA, no uso das competências que lhe
são conferidas pelos arts. 6º e 8º da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo
Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, e tendo em vista o disposto nas Leis nºs 4.771, de 15
de setembro de 1965, 9.433, de 8 de janeiro de 1997, e no seu Regimento Interno, Anexo à
Portaria nº 499, de 18 de dezembro de 2002, e
Considerando o disposto no art. 1º, § 2º, inciso V, da Medida Provisória nº 2.166-67/2001, que
define interesse social;
Considerando o disposto na Lei nº 7.661, de 16 de maio de 1988, que estabelece o Plano Nacional
de Gerenciamento Costeiro (PNGC), e dá outras providências, em especial o art. 3º onde diz que o
PNGC deverá prever o zoneamento de usos e atividades da Zona Costeira e dar prioridade à
conservação e proteção das dunas, entre outros bens;
Considerando que as dunas desempenham relevante papel na formação e recarga de aqüíferos;
Considerando a fundamental importância das dunas na dinâmica da zona costeira e no controle do
processo erosivo;
Considerando a necessidade de controlar, de modo especialmente rigoroso, o uso e ocupação
dunas na Zona Costeira, originalmente desprovidas de vegetação, resolve:
Art. 1º Acrescentar à Resolução CONAMA nº 303, de 20 de março de 2002, publicada no Diário
Oficial da União de 13 de maio de 2002, Seção 1, página 68, os seguintes considerandos:
“Considerando a conveniência de regulamentar os arts. 2º e 3º da Lei nº 4.771, de 15 de setembro
de 1965, no que concerne às Áreas de Preservação Permanente;
Considerando ser dever do Poder Público e dos particulares preservar a biodiversidade,
notadamente a flora, a fauna, os recursos hídricos, as belezas naturais e o equilíbrio ecológico,
evitando a poluição das águas, solo e ar, pressuposto intrínseco ao reconhecimento e exercício do
direito de propriedade, nos termos dos arts. 5º, caput (direito à vida) e inciso XXIII (função social da
propriedade), 170, VI, 186, II, e 225, todos da Constituição Federal, bem como do art. 1.299, do
Código Civil, que obriga o proprietário e posseiro a respeitarem os regulamentos administrativos;
Considerando a função fundamental das dunas na dinâmica da zona costeira, no controle dos
processos erosivos e na formação e recarga de aqüíferos.
Considerando a excepcional beleza cênica e paisagística das dunas, e a importância da
manutenção dos seus atributos para o turismo sustentável.”
Alterações já realizadas no texto legal.

105
Art. 2º Poderão ser declarados de interesse social, mediante procedimento administrativo
específico aprovado pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente, atividades ou empreendimentos
turísticos sustentáveis em dunas originalmente desprovidas de vegetação, atendidas as diretrizes,
condições e procedimentos estabelecidos nesta Resolução.
§ 1º A atividade ou empreendimento turístico sustentável para serem declarados de interesse
social deverão obedecer aos seguintes requisitos:
I – ter abastecimento regular de água e recolhimento e/ou tratamento e/ou disposição adequada
dos resíduos;
II – estar compatível com Plano Diretor do Município, adequado à legislação vigente;
III – não comprometer os atributos naturais essenciais da área, notadamente a paisagem, o
equilíbrio hídrico e geológico, e a biodiversidade;
IV – promover benefícios socioeconômicos diretos às populações locais além de não causar
impactos negativos às mesmas;
V – obter anuência prévia da União ou do Município, quando couber;
VI – garantir o livre acesso à praia e aos corpos d’água;
VII – haver oitiva prévia das populações humanas potencialmente afetadas em Audiência Pública;
e
VIII – ter preferencialmente acessos (pavimentos, passeios) com revestimentos que permitam a
infiltração das águas pluviais.
§ 2º As dunas desprovidas de vegetação somente poderão ser ocupadas com atividade ou
empreendimento turístico sustentável em até vinte por cento de sua extensão, limitada à ocupação
a dez por cento do campo de dunas, recobertas ou desprovidas de vegetação.
§ 3º A declaração de interesse social deverá ser emitida individualmente para cada atividade ou
empreendimento turístico sustentável, informando-se ao Conselho Nacional do Meio Ambiente –
CONAMA em até dez dias após a apreciação final pelo Conselho Estadual de Meio Ambiente, de
que trata o caput deste artigo.
Art. 3º As dunas passíveis de ocupação por atividades ou empreendimentos turísticos sustentáveis
declarados como de interesse social deverão estar previamente definidas e individualizadas, em
escala mínima de até 1:10.000, pelo órgão ambiental competente, sendo essas aprovadas pelo
Conselho Estadual de Meio Ambiente.
§ 1º A identificação e delimitação, pelo órgão ambiental competente, das dunas passíveis de
ocupação por atividade ou empreendimento turístico sustentável declarados de interesse social
deverão estar fundamentadas em estudos técnicos e científicos que comprovem que a ocupação
de tais áreas não comprometerá:
I – a recarga e a pressão hidrostática do aqüífero dunar nas proximidades de ambientes
estuarinos, lacustres, lagunares, canais de maré e sobre restingas;

106
II – a quantidade e qualidade de água disponível para usos múltiplos na região, notadamente a
consumo humano e dessedentação de animais, considerando-se a demanda hídrica em função da
dinâmica populacional sazonal;
III – os bancos de areia que atuam como áreas de expansão do ecossistema manguezal e de
restinga;
IV – os locais de pouso de aves migratórias e de alimento e refúgio para a fauna estuarina; e
V – a função da duna na estabilização costeira e sua beleza cênica.
§ 2º A identificação e delimitação mencionadas no caput deste artigo deverão ser apreciadas pelo
Conselho Estadual de Meio Ambiente com base no Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro,
quando houver, e de acordo com o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro, nos termos da Lei
nº 7.661, de 16 de maio de 1988.
Art. 4º Caracteriza-se a ocorrência de significativo impacto ambiental na construção, instalação,
ampliação e funcionamento de atividade ou empreendimento turístico sustentável declarados de
interesse social, de qualquer natureza ou porte, localizado em dunas originalmente desprovidas de
vegetação, na Zona Costeira, devendo o órgão ambiental competente exigir, sempre, Estudo
Prévio de Impacto Ambiental – EIA e Relatório de Impacto Ambiental – RIMA, aos quais dar-se-á
publicidade.
Parágrafo único. O EIA/RIMA deverá considerar, em cada unidade de paisagem, entre outros
aspectos, o impacto cumulativo do conjunto de empreendimentos ou atividades implantados ou a
serem implantados em uma mesma área de influência, ainda que indireta.
Art. 5º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

107
Anexo F

LEI N° 7.661, de 16 de maio de 1988

Institui o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro e dá outras providências

O Presidente da República. Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a


seguinte Lei:

Artigo 1° - Como parte integrante da Política Nacional para os Recursos do Mar - PNRM e da
Política Nacional do Meio Ambiente - PNMA, fica instituído o Plano Nacional de Gerenciamento
Costeiro - PNGC.

Artigo 2° - Subordinando-se aos princípios e tendo em vista os objetivos genéricos da PNMA,


fixados respectivamente nos Artigos 2° e 4° da Lei 6.938, de 31 de Agosto de 1981, o PNGC visará
especificamente a orientar a utilização racional dos recursos na Zona Costeira, de forma a
contribuir para elevar a qualidade da vida de sua população, e a proteção do seu patrimônio
natural, histórico, étnico e cultural.

Parágrafo Único - Para os efeitos desta Lei, considera-se Zona Costeira o espaço geográfico de
interação do ar, do mar e da terra, incluindo seus recursos renováveis ou não, abrangendo uma
faixa marítima e outra terrestre, que serão definidas pelo Plano.

Artigo 3° - O PNGC deverá prever o zoneamento de usos e atividades na Zona Costeira e dar
prioridade à conservação e proteção, entre outros, dos seguintes bens:

I - recursos naturais, renováveis e não renováveis; recifes, parcéis e bancos de algas; ilhas
costeiras e oceânicas; sistemas fluviais, estuarinos e lagunares, baías e enseadas; praias;
promontórios, costões e grutas marinhas; restingas e dunas; florestas litorâneas, manguezais e
pradarias submersas;

II - sítios ecológicos de relevância cultural e demais unidades naturais de preservação


permanente;

III - monumentos que integrem o patrimônio natural, histórico, paleontológico, espeleológico,


étnico, cultural e paisagístico.

Artigo 4° - O PNGC será elaborado e, quando necessário, atualizado por um Grupo de


Coordenação, dirigido pela Secretaria da Comissão Interministerial para os Recursos do Mar -
SECIRM, cuja composição e forma de atuação serão definidas em decreto do Poder Executivo.

§ 1° - O Plano será submetido pelo Grupo de Coordenação à Comissão Interministerial para os


Recursos do Mar - CIRM, a qual caberá aprová-lo, com audiência do Conselho Nacional do Meio
Ambiente - CONAMA.

108
§ 2° - O Plano será aplicado com a participação da União, dos Estados, dos Territórios e dos
Municípios, através de órgãos e entidades integradas ao Sistema Nacional do Meio Ambiente -
SISNAMA.

Artigo 5° - O PNGC será elaborado e executado observando normas, critérios e padrões relativos
ao controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente, estabelecidos pelo CONAMA, que
contemplem entre outros, os seguintes aspectos: urbanização; ocupação e uso do solo, do subsolo
e das águas; parcelamento e remembramento do solo; sistema viário e de transporte; sistema de
produção, transmissão e distribuição de energia; habitação e saneamento básico; turismo,
recreação e lazer; patrimônio natural, histórico, étnico, cultural e paisagístico.

§ 1° - Os Estados e Municípios poderão instituir, através de lei, os respectivos Planos Estaduais o


Municipais de Gerenciamento Costeiro, observadas as normas e diretrizes do Plano Nacional e o
disposto nesta Lei, e designar os órgãos competentes para a execução desses Planos.

§ 2° - Normas e diretrizes sobre o uso do solo, do subsolo e das águas, bem como limitações e
utilização de imóveis podendo ser estabelecidas nos Planos de Gerenciamento Costeiro, Nacional,
Estadual e Municipal, prevalecendo sempre as disposições de natureza mais restritiva.

Artigo 6° - O licenciamento para parcelamento e remembramento do solo, construção, instalação,


funcionamento e ampliação de atividades, com alterações das características naturais da Zona
Costeira, deverá observar, além do disposto nesta Lei, as demais normas específicas federais,
estaduais e municipais, respeitando as diretrizes dos Planos de Gerenciamento Costeiro.

§ 1° - A falta ou o descumprimento, mesmo parcial das condições do licenciamento previsto neste


artigo serão sancionados com interdição, embargo ou demolição, sem prejuízo da cominação de
outras penalidades previstas em lei.

§ 2° - Para o licenciamento, o órgão competente solicitará ao responsável pela atividade a


elaboração do estudo de impacto ambiental e a apresentação do respectivo Relatório de Impacto
Ambiental - RIMA, devidamente aprovado, na forma da lei.

Artigo 7° - A degradação dos ecossistemas, do patrimônio e dos recursos naturais da Zona


Costeira implicará ao agente a obrigação de reparar o dano causado e a sujeição às penalidades
previstas no Artigo 14 da Lei 6.938, de 31 de Agosto de 1981, elevado o limite máximo da multa ao
valor correspondente a 100.000 (cem mil) Obrigações do Tesouro Nacional - OTN, sem prejuízo de
outras sanções previstas em Lei.

Parágrafo Único - As sentenças condenatórias e os acordos judiciais (VETADO), que dispuserem


sobre a reparação dos danos ao meio ambiente pertinentes a esta Lei, deverão ser comunicados
pelo órgão do Ministério Público ao CONAMA.

109
Artigo 8° - Os dados e as informações resultantes do monitoramento exercido sob
responsabilidade municipal, estadual ou federal na Zona Costeira comporão o Subsistema
“Gerenciamento Costeiro”, integrante do Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente
- SINIMA.

Parágrafo Único - Os órgãos setoriais, seccionais e locais do SISNAMA, bem como universidades
e demais instituições culturais, científicas e tecnológicas encaminharão ao Subsistema os dados
relativos ao patrimônio natural, histórico, étnico e cultural, à qualidade do meio ambiente e a
estudos de impacto ambiental, da Zona Costeira.

Artigo 9° - Para evitar a degradação ou o uso indevido dos ecossistemas, do patrimônio e dos
recursos naturais da Zona Costeira, o PNGC poderá prever a criação de unidades de conservação
permanente, na forma da legislação em vigor.

Artigo 10 - As praias são bens públicos de uso comum do povo, sendo assegurado, sempre, livre e
franco acesso a elas e ao mar, em qualquer direção e sentido, ressalvados os trechos
considerados de interesse de segurança nacional ou incluídos em áreas protegidas por legislação
específica.

§ 1° - Não será permitida a urbanização ou qualquer forma de utilização do solo na Zona Costeira
que impeça ou dificulte o acesso assegurado no caput deste artigo.

§ 2° - A regulamentação desta Lei determinará as características e as modalidades de acesso que


garantam o uso público das praias e do mar.

§ 3° - Entende-se por praia a área coberta e descoberta periodicamente pelas águas, acrescida da
faixa subseqüente de material detrítico, tal como areias, cascalhos, seixos e pedregulhos, até o
limite onde se inicie a vegetação natural, ou, em sua ausência, onde comece um outro
ecossistema.

Artigo 11 - O Poder Executivo regulamentará esta Lei, no que couber, no prazo de 180 (cento e
oitenta) dias.

Artigo 12 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Artigo 13 - Revogam-se as disposições em contrário.

110
Anexo G
O GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, faço saber que
Assembléia Legislativa decretou e eu sanciono a seguinte Lei: 58165/93
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1º - Fica instituído o Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro do Espírito Santo - PEGC/ES,
seus objetivos, instrumentos e mecanismos de formulação, aprovação e execução.
Art. 2º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I. ZONA COSTEIRA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO (ZCES): na faixa terrestre,
compreendendo o espaço geográfico delimitado pelo conjunto dos territórios municipais costeiros,
abrangendo 19 (dezenove) municípios, que se defrontam diretamente com o mar, influem ou
recebem influência marinha ou fluviomarinha; que não se confrontam com o mar, mas que se
localizam na região metropolitana da Grande Vitória; que estejam localizados próximo ao litoral, até
50 (cinqüenta) quilômetros da linha de costa, mas que aloquem, em seu território, atividades ou
infra-estruturas de grande impacto ambiental sobre a
Zona Costeira do Estado; na faixa marítima, pelo ambiente marinho, em sua profundidade e
extensão, definido pela totalidade do Mar Territorial e a Plataforma Continental imersa, distando 12
(doze) milhas marítimas das Linhas de Base estabelecidas de acordo com a Convenção das
Nações Unidas.
II. PLANO ESTADUAL DE GERENCIAMENTO COSTEIRO (PEGC): o conjunto de ações
estratégicas e programáticas, articuladas e localizadas, elaboradas com a participação da
sociedade civil, que visam orientar a execução do Gerenciamento Costeiro no Estado do Espírito
Santo.
CAPÍTULO I
ZONA COSTEIRA
Art. 3º - A Zona Costeira do Espírito Santo, para fins do Plano Estadual de Gerenciamento
Costeiro, apresenta a seguinte setorização:
I. Litoral Extremo Norte, compreendendo os municípios de Conceição da Barra, São Mateus e
Jaguaré, em seus respectivos limites territoriais, além do Mar Territorial e a Plataforma Continental
adjacente;,/p>
II. Litoral Norte, compreendendo os municípios de Linhares, Sooretama e Aracruz, em seus
respectivos limites territoriais, além do Mar Territorial e a Plataforma Continental adjacente;
III. Litoral Centro, compreendendo os municípios de Fundão, Serra, Vitória, Cariacica, Vila Velha e
Viana, em seus respectivos limites territorial, além do Mar Territoriais e a Plataforma Continental
adjacente;
IV. Litoral Sul, compreendendo os municípios de Guarapari, Anchieta e Piúma, em seus
respectivos limites territoriais, além do Mar Territorial e a Plataforma Continental adjacente;

111
V. Litoral Extremo Sul, compreendendo os municípios de Marataízes, Itapemirim, Cachoeiro de
Itapemirim e Presidente Kennedy, em seus respectivos limites territoriais, além do Mar Territorial e
a Plataforma Continental adjacente.
§ 1º - Faz parte integrante dessa Lei o mapa na escala aproximada de
1:2.000.000, que constitui referência básica para a setorização do Plano Estadual Gerenciamento
Costeiro mencionada neste artigo.
§ 2º - Os Setores Costeiros serão delimitados e caracterizados nos respectivos zoneamentos.
§ 3º - Os novos municípios criados, após aprovação desta Lei, dentro dos limites estabelecidos
para a Zona Costeira do Espirito Santo, serão automaticamente considerados como componentes
da Zona Costeira estadual.
CAPÍTULO II
OBJETIVOS
Art. 4º - O Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro tem por objetivo:
I. orientar e estabelecer a ocupação do solo e a utilização dos recursos naturais da Zona Costeira;
II. promover a melhoria da qualidade de vida das populações locais;
III. conservar os ecossistemas costeiros, em condições que assegurem a qualidade ambiental;
IV. determinar as potencialidades e vulnerabilidades da Zona Costeira;
V. estabelecer o processo de gestão das atividades sócio-econômicas na Zona Costeira, de forma
integrada, descentralizada e participativa, com a proteção do patrimônio natural, histórico, étnico e
cultural;
VI. assegurar o controle sobre os agentes que possam causar poluição ou degradação ambiental,
em quaisquer de suas formas, que afetem a Zona Costeira;
VII. assegurar a mitigação dos impactos ambientais sobre a Zona Costeira e a recuperação de
áreas degradadas;
VIII. assegurar a interação harmônica da Zona Costeira com as demais regiões que a influenciam
ou que por ela sejam influenciadas;
IX. implantar programas de Educação Ambiental com as comunidades costeiras;
X. definir a capacidade de suporte ambiental das áreas passíveis de ocupação, de forma a
estabelecer níveis de utilização dos recursos renováveis e não renováveis;
XI. estabelecer normas referentes ao controle e manutenção da qualidade do ambiente costeiro.
CAPÍTULO III
AÇÕES
Art. 5º - Visando a consecução dos objetivos do Plano Estadual de
Gerenciamento Costeiro serão implementadas, entre outras, as seguintes ações:
I. definir, em conjunto com os municípios, o Zoneamento Ecológico-Econômico e as respectivas
normas e diretrizes para o planejamento ambiental da Zona Costeira;
II. promover o Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro - PEGC/ES,

112
envolvendo ações de diagnóstico e monitoramento ambiental, com a integração do Poder Público
Estadual, Municipal, Sociedade Civil Organizada e a Iniciativa Privada;
III. implantar o Sistema de Informações do Gerenciamento Costeiro - SIGERCO;
IV. promover o fortalecimento das entidades diretamente envolvidas na
execução do Gerenciamento Costeiro, com atenção especial para capacitação técnica;
V. implantar o Sistema Estadual de Monitoramento Ambiental da Zona Costeira - SEMA - ZC, com
vistas à conservação, controle e fiscalização e recuperação dos recursos naturais dos setores
Costeiros;
VI. implementar programas visando a manutenção e a valorização das atividades econômicas
sustentáveis nas comunidades tradicionais da Zona Costeira;
VII. sistematizar a divulgação das informações e resultados obtidos na execução do PEGC/ES,
ressaltando a importância do Relatório de Qualidade Ambiental da Zona Costeira - RQA-ZC.
CAPÍTULO IV
INSTRUMENTOS
Art. 6º - Constituem instrumentos do PEGC/ES:
I. Zoneamento Ecológico-Econômico Costeiro - ZEEC: instrumento básico de planejamento que
estabelece, após discussão pública de suas recomendações técnicas, a nível estadual e municipal,
as normas de uso, ocupação do solo e de manejo dos recursos naturais da costa, em zonas
específicas, definidas a partir de suas caraterísticas ecológicas e sócio-econômicas;
II. Sistema de Informações do Gerenciamento Costeiro - SIGERCO: instrumento do PEGC que terá
a função de armazenar, processar e atualizar dados e informações do Programa, servindo de fonte
de consulta rápida e precisa para a tomada de decisões;
III. Plano de Gestão da Zona Costeira - PEGZC: concebido pelo conjunto de ações e programas
setoriais, integrados e compatibilizados com as diretrizes estabelecidas no Zoneamento Ecológico-
Econômico, envolvendo a participação das entidades civis e dos setores organizados da
sociedade;
IV. Monitoramento Ambiental da Zona Costeira - MAZC: constituído de uma estrutura operacional
de coleta de dados e informações, de forma contínua, de modo a acompanhar os indicadores de
qualidade sócio-ambiental da Zona Costeira e propiciar o suporte permanente do Plano de Gestão;
V. Relatório de Qualidade Ambiental da Zona Costeira - RQA-ZC: procedimento de consolidação
periódica dos resultados produzidos pelo Monitoramento Ambiental e, sobretudo, de avaliação da
eficiência das medidas e ações desenvolvidas a nível do PEGC/ES.
CAPÍTULO V
SISTEMA DE GESTÃO
Art. 7º - Compõe o Sistema de Gestão da Zona Costeira:
a) o Governo do Estado;
b) o Colegiado Costeiro;
c) as Coordenações Executivas Setoriais.

113
Art. 8º - A coordenação do Sistema de Gestão da Zona Costeira será exercida pelo Governo do
Estado, através da Secretaria de Estado para Assuntos do Meio Ambiente - SEAMA, em estreita
colaboração com os municípios costeiros, a sociedade civil organizada e a iniciativa privada.
Art. 9º - O Colegiado Costeiro constituir-se-á no fórum consultivo, que tem por objetivo a discussão
e o encaminhamento de políticas, planos, programas e ações destinadas à gestão da Zona
Costeira.
Parágrafo único - O colegiado Costeiro será integrado de forma paritária por:
a) representantes do Governo do Estado;
b) representantes do Governo Federal;
c) representantes de cada um dos Setores Costeiros, no âmbito do Poder Público Municipal;
d) representantes da sociedade civil organizada, com atuação na Zona Costeira estadual;
e) representantes da iniciativa privada, com atuação na Zona Costeira estadual.
Art. 10 - As Coordenações Executivas Setoriais, a serem implantadas em cada um dos Setores
Costeiros, constituem-se em grupos executivos e de gerenciamento das ações de gestão dos
Setores Costeiros.
Parágrafo único - As Coordenações Executivas Setoriais, vinculadas a
Secretaria de Estado para Assuntos do Meio Ambiente - SEAMA, serão integrados por:
a) representantes do Poder Público Estadual;
b) representantes do Poder Público Federal;
c) representantes do Poder Público Municipal;
d) representantes da sociedade civil organizada, com atuação no Setor Costeiro;
e) representantes da iniciativa privada.
Art. 11 - As Coordenações Executivas Setoriais ficam subordinadas ao
Coordenador Geral do PEGC/ES, indicado pelo titular da SEAMA.
§ 1º - Ao Coordenador Geral caberá o gerenciamento das ações de execução, implementação e
acompanhamento do PEGC/ES.
§ 2º - O apoio e os recursos necessários ao desempenho das atividades e funções dos
representantes nas Coordenações Executivas Setoriais serão de responsabilidade dos segmentos
que os indicaram.
Art. 12 - A composição, organização e funcionamento do Colegiado Costeiro serão estabelecidos
em regulamento.
CAPÍTULO VI
COMPETÊNCIAS
Art. 13 - Visando a consecução dos objetivos previstos nesta Lei, compete à SEAMA a
coordenação executiva do Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro - PEGC/ES, cabendo-lhe
adotar, entre outras, as seguintes medidas:
a) estruturar e consolidar o Sistema Estadual de Informações do Gerenciamento Costeiro -
SIGERCO;

114
b) estruturar, implantar, executar e acompanhar os programas de
monitoramento, cujas informações devem ser consolidadas em Relatório Anual de Qualidade
Ambiental da Zona Costeira (RQA-ZC);
c) promover a articulação intersetorial no nível estadual;
d) promover a ampla divulgação do PNGC e do PEGC/ES;
e) promover a estruturação do Colegiado Estadual;
f) promover o fortalecimento das entidades envolvidas no Gerenciamento Costeiro, mediante apoio
técnico e metodológico;
g) consolidar o processo de Zoneamento Ecológico-Econômico dos Setores Costeiros,
promovendo a sua atualização, quando necessário.
Art. 14- Incluem-se entre as competências do Colegiado Costeiro:
I. referendar os Zoneamentos Ecológicos-Econômicos dos Setores Costeiros e suas revisões;
II. propor políticas, planos, programas e ações destinadas à gestão da Zona Costeira;
III. propor normas, critérios, parâmetros para uso e ocupação do solo,
urbanização e aproveitamento dos recursos naturais da Zona Costeira.
Art. 15 - Incluem-se entre as competências das Coordenações Executivas Setoriais:
I. colaborar e supervisionar a elaboração do Zoneamento Ecológico-Econômico e suas revisões;
II. encaminhar propostas para aplicação de recursos financeiros em serviços de obras de interesse
para o desenvolvimento da Zona Costeira;
III. acompanhar a aplicação da política de desenvolvimento da Zona Costeira.
CAPÍTULO VII
PLANO DE GESTÃO
Art. 16 - O Plano de Gestão da Zona Costeira - PGZC, deve compatibilizar as políticas públicas
que incidam sobre a Zona Costeira, devendo conter:
a) área e limite de atuação;
b) objetivos;
c) metas;
d) projetos de execução;
e) custos;
f) fontes de recursos.
Art. 17 - Para execução do Plano de Gestão serão alocados recursos
provenientes do orçamento da SEAMA, bem como oriundos de órgãos de outras esferas da
federação e contribuintes da iniciativa privada, mediante a celebração de convênios e/ou contratos.
CAPÍTULO VIII
ZONEAMENTO ECOLÓGICO-ECONÔMICO
Art. 18 - O Zoneamento Ecológico-Econômico Costeiro - ZEEC tem como
objetivo identificar as unidades territoriais que, por suas características físicas, biológicas e sócio-
econômicas, bem como por sua dinâmica e contrastes internos, devam ser objeto de disciplina

115
especial, com vistas ao desenvolvimento de ações capazes de conduzir ao aproveitamento, à
manutenção ou à recuperação de sua qualidade ambiental e do seu potencial produtivo.
Parágrafo único - O ZEEC definirá normas e metas ambientais e sócioeconômicas, relativas aos
meios rurais, urbanos e aquáticos, a serem alcançadas por meio de Programas de Gestão
Ambiental.
Art. 19 - As unidades territoriais de que trata o artigo anterior serão enquadradas nas seguintes
zonas características:
I. Zona de Proteção Ambiental (ZPA) - Zona dedicada à proteção dos
ecossistemas e dos recursos naturais, representando o mais alto grau de preservação das áreas
abrangidas pelo PEGC/ES, caracterizada pela predominância de ecossistemas pouco alterados,
encerrando, localmente, aspectos originais da Mata Atlântica e de seus ecossistemas associados,
constituindo remanescentes florestais de importância ecológica regional e/ou municipal;
II. Zona de Recuperação Ambiental (ZRA) - Constituída por áreas degradadas, desmatadas e
fragmentos florestais reduzidos e dispersos, cujos componentes originais sofreram fortes
alterações, principalmente pelas atividades agrícolas e extrativas, representando áreas de
importância para a recuperação ambiental em virtude das funções ecológicas que desempenham
na proteção dos mananciais, estabilização das encostas, no controle da erosão do solo, na
manutenção e dispersão da biota e das teias alimentares;
III. Zona de Uso Rural (ZUR) - Compreende as áreas onde os ecossistemas originais foram
praticamente alterados em sua diversidade e organização funcional, sendo denominadas por
atividades agrícolas e extrativas, havendo, ainda, presença de assentamentos rurais dispersos;
IV. Zona de Desenvolvimento Urbano (ZDU) - São áreas efetivamente utilizadas para fins urbanos
e de expansão, em que os componentes ambientais, em função da urbanização, foram
modificados ou suprimidos;
V. Zona Marinha (ZM) - Compreende o ambiente marinho, em sua profundidade e extensão,
definido pela totalidade do Mar Territorial e a Plataforma Continental imersa, distando 12 (doze)
milhas marítimas das Linhas de Base estabelecidas de acordo com a Convenção das Nações
Unidas;
VI. Zona Litorânea (ZL) - Compreende a área terrestre adjacente à Zona Marinha, até a distância
de 100 metros do limite da praia ou, na sua ausência, das Linhas de Base estabelecidas pela
Convenção das Nações Unidas.
Parágrafo único - Para efeito desta Lei, entende-se por praia a área coberta e descoberta
periodicamente pelas águas, acrescida da faixa subsequente de material detrítico, tal como areias,
cascalhos, seixos e pedregulhos, até onde se inicie a vegetação natural ou, em sua ausência, onde
comece um outro ecossistema.
Art. 20 - Na Zona de Proteção Ambiental (ZPA) serão permitidas as atividades científicas,
educacionais, recreativas e de ecoturismo, observadas as normas vigentes das Áreas Naturais
Protegidas e as constantes nos Zoneamentos Ecológicos-Econômicos Setoriais.

116
Art. 21 - Na Zona de Recuperação Ambiental (ZRA) serão toleradas atividades que não
provoquem danos a fauna e flora remanescentes ou que não gerem perturbações aos processos
de regeneração natural ou de recuperação ambiental com o emprego de tecnologias.
Art. 22 - Na Zona de Uso Rural (ZUR) serão permitidas atividades de
agricultura, pecuária intensiva e extensiva, silvicultura, aqüicultura, industriais e quaisquer outras,
desde que localizadas adequadamente, observando-se, ainda, a legislação ambiental e as normas
específicas constantes dos Zoneamentos Ecológicos-Econômicos Setoriais.
Art. 23 - Na Zona de Desenvolvimento Urbano (ZDU) serão permitidos os assentamentos urbanos,
serviços e comércio; instalação de complexos industriais e de terminais rodoviários, ferroviários,
portuários e aeroportos; turismo e infraestrutura de transporte, de energia e de saneamento
ambiental, estabelecidos de acordo com os parâmetros urbanísticos e ambientais definidos em
normas vigentes.
Art. 24 - Na Zona Marinha (ZM) serão permitidas atividades compatíveis com a conservação dos
recursos e a manutenção das características naturais da Zona Costeira.
Art. 25 - Na Zona Litorânea (ZL) deverão ser implantadas normas e diretrizes de usos e
urbanização específicas, voltadas a evitar a degradação dos ecossistemas, do patrimônio natural e
paisagístico e dos recursos naturais.
§ 1º - Na Zona Litorânea não será permitida a urbanização ou qualquer outra forma de utilização
do solo que impeçam ou dificultem o livre e franco acesso as praias e ao mar, ressalvados os
trechos considerados de interesse à segurança nacional ou incluídos em áreas protegidas por
legislação específica.
§ 2º - As áreas em que a Zona Litorânea apresentar predominância de
ecossistemas pouco alterados, ou encerrar aspectos originais da Mata Atlântica ou de seus
ecossistemas associados, deverão ser enquadradas nas mesmas normas adotadas para a Zona
de Proteção Ambiental (ZPA).
CAPÍTULO IX
DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 26 - As normas e critérios estabelecidos através do Zoneamento Ecológico- Econômico
Costeiro servirão para instruir e fundamentar os procedimentos de licenciamento e fiscalização
ambiental.
Art. 27 - O licenciamento para parcelamento e remembramento do solo, construção, instalação,
funcionamento e ampliação de atividades, com alterações das caraterísticas naturais da Zona
Costeira, deverá observar, além do disposto nesta Lei, as demais normas específicas federais,
estaduais e municipais, respeitando-se, ainda, as normas e diretrizes estabelecidos nos
Zoneamentos Ecológico-Econômico Setoriais.
Art. 28 - Os empreendimentos ou atividades regularmente existentes na data de publicação desta
Lei, que se revelarem desconformes com as normas e diretrizes estabelecidas através do

117
Zoneamento Ecológico Econômico Costeiro, deverão se adequar as mesmas, dentro do prazo
estabelecido pelo órgão competente.
Art. 29 - A regulamentação dos Setores Costeiros, após a conclusão dos estudos de
Macrozoneamento, deverá ser baixada por Decreto.
Art. 30 - Os municípios poderão instituir, através de Lei, os respectivos Planos Municipais de
Gerenciamento Costeiro, observadas as normas e diretrizes do Plano Nacional de Gerenciamento
Costeiro e o disposto nesta Lei, designando os órgãos componentes para a sua execução.
Art. 31 - Sem prejuízo da obrigação de reparar os danos causados ao meio ambiente, os infratores
das disposições desta Lei e das normas regulamentares, dela decorrentes, ficam sujeitas às
penalidades previstas na Lei nº 3.582, de 03/11/83, no Decreto nº 2.299 N, de 09/06/86, na Lei nº
4.701, de 01/12/92, no Decreto nº 3.513-N, de 23/04/93, no Decreto nº 3.045-N, de 21/09/90, no
Decreto nº 4.344-N, de 07/10/98, na Lei nº 5.361, de 30/12/96 e no Decreto nº 4.124-N, de
12/06/97.
Art. 32 - As despesas decorrentes da aplicação da presente Lei correrão por conta das dotações
orçamentárias consignadas no orçamento do Estado para a Secretaria de Estado para Assuntos
do Meio Ambiente - SEAMA, suplementadas se necessário.
Art. 33 - A Coordenação Executiva do Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro promoverá,
sempre que necessário, a revisão do Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro - PEGC/ES, e a
atualização dos Zoneamentos Ecológicos- Econômicos Setoriais, ouvido o Colegiado Costeiro e o
CONSEMA.
Art. 34 - Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação e, a partir daí, será regulamentada no
prazo de até 180 (cento e oitenta) dias.,/p>
Art. 35 - Revogam-se as disposições em contrário. Ordeno, portanto, a todas as autoridades que a
cumpram e a façam cumprir como nela se contém.
A Secretária de Estado da Justiça e da Cidadania faça publicá-la, imprimir e correr. Palácio
Anchieta, em Vitória, 22 de dezembro de 1998.
VITOR BUAIZ
Governador do Estado
(D.O. 23/12/98)

118
Anexo H

LEI Nº 7.943/04

O GOVERNADOR DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

Dispõe sobre o parcelamento do solo para fins urbanos e dá outras providências.


Faço saber que a Assembléia Legislativa decretou e eu sanciono a seguinte Lei:

Art. 1º O parcelamento do solo para fins urbanos será disciplinado por esta Lei, na ocorrência das
seguintes condições:
I - quando o parcelamento localizar-se em áreas de interesse especial;
II - quando o parcelamento localizar-se em áreas limítrofes dos municípios, ou quando parte do
parcelamento pertencer a outro município;
III - quando o parcelamento abranger área superior a 1.000.000 m² (um milhão de metros
quadrados);
IV - quando o parcelamento localizar-se na Região Metropolitana da Grande Vitória.
Art. 2º Consideram-se de interesse especial:
I - as áreas compreendidas no entorno das Lagoas Juparanã e Juparanã-Mirim ou Lagoa Nova,
situadas nos Municípios de Linhares, Sooretama e Rio Bananal, com a seguinte descrição dos
seus limites:
a) Lagoa Juparanã: começa na Rodovia ES 358, num ponto em frente à Igreja Nossa Senhora das
Graças, na localidade de Comendador Rafael; segue por esta, em direção sul até o entroncamento
com a antiga estrada Linhares - São Mateus; segue por esta estrada, em direção sul até o
entroncamento com a Rodovia Federal BR - 101; segue por esta Rodovia, em direção sul até o Km
144; daí segue contornando a Lagoa mantendo a distância de 02 km (dois quilômetros) de sua
margem até encontrar a Rodovia ES 358 nas proximidades da localidade Nativo do Pombo; segue
por esta Rodovia, em direção sul até o ponto inicial;
b) Lagoa Juparanã-Mirim ou Lagoa Nova: a faixa de 02 km (dois quilômetros) em torno de suas
margens;
II - a área dos atuais distritos localizados ao longo do litoral do Estado:
a) no Município de Conceição da Barra:
1. Distrito-Sede;
2. Distrito de Itaúnas;
b) no Município de São Mateus:
1. Distrito-Sede;
2. Distrito de Barra Nova;
c) no Município de Linhares:

119
1. Distrito de Regência;
d) no Município de Aracruz:
1. Distrito de Riacho;
2. Distrito de Santa Cruz;
e) no Município de Fundão:
1. Distrito de Praia Grande;
f) no Município de Guarapari:
1. Distrito-Sede;
g) no Município de Anchieta:
1. Distrito-Sede;
h) no Município de Piúma:
1. Distrito-Sede;
2. Distrito de Aghá;
i) no Município de Itapemirim:
1. Distrito-Sede;
2. Distrito de Itaipava;
j) no Município de Marataízes:
1. Distrito-Sede;
k) no Município de Presidente Kennedy:
1. Distrito-Sede;
III - a área dos municípios da região de montanha:
a) Afonso Cláudio;
b) Alfredo Chaves;
c) Castelo;
d) Conceição do Castelo;
e) Domingos Martins;
f) Marechal Floriano;
g) Santa Leopoldina;
h) Santa Maria de Jetibá;
i) Santa Teresa;
j) Vargem Alta;
k) Venda Nova do Imigrante.
Art. 3º Consideram-se localizados em áreas limítrofes os loteamentos ou desmembramentos que
estiverem, no todo ou em parte, na faixa contínua de 01 km (um quilômetro) ao longo da divisa
municipal.
Art. 4º A Região Metropolitana da Grande Vitória é o território constituído pelos Municípios de
Vitória, Vila Velha, Serra, Cariacica, Viana, Guarapari e Fundão.

120
Art. 5º As áreas especiais, referidas nos incisos II e III do artigo 2º desta Lei, compreendem o
território dos atuais distritos e municípios e não serão reduzidas pela sua eventual divisão.
Art. 6º O parcelamento do solo para fins urbanos procede-se sob a forma de loteamento e
desmembramento.
§ 1º Considera-se loteamento a subdivisão de gleba em lotes destinados a edificações, com a
abertura de novas vias de circulação, logradouros públicos, modificação ou ampliação das vias
existentes.
§2º Considera-se desmembramento a subdivisão de gleba em lotes destinados a edificações, com
aproveitamento de sistema viário existente, desde que não implique abertura de novas vias e
logradouros públicos, nem prolongamento, modificação ou ampliação dos já existentes.
§ 3º Considera-se lote o terreno servido de infra-estrutura básica cujas dimensões atendam aos
índices urbanísticos definidos pelo plano diretor ou lei municipal para a zona em que se situe.
§4ºConsideram-se infra-estrutura básica os equipamentos urbanos de escoamento das águas
pluviais, iluminação pública, redes de esgoto sanitário e abastecimento de água potável e de
energia elétrica domiciliar e as vias de circulação pavimentadas ou não.
§ 5º A infra-estrutura básica dos parcelamentos situados em zonas habitacionais declaradas por lei
como de interesse social - ZHIS consistirá, no mínimo, de:
I - vias de circulação;
II - escoamento de águas pluviais;
III - rede para o abastecimento de água potável; e
IV - soluções para o esgotamento sanitário e para a energia elétrica domiciliar.
Art. 7º Em função do uso a que se destinam são os loteamentos classificados nas seguintes
categorias:
I - loteamentos para uso residencial são aqueles em que o parcelamento do solo se destina à
edificação para atividades predominantemente residenciais, exercidas em função de habitação, ou
de atividades complementares ou compatíveis com essas;
II - loteamentos para uso industrial são aqueles em que o parcelamento do solo se destina
predominantemente à implantação de atividades industriais e de atividades complementares ou
compatíveis com essas;
III - loteamentos destinados à edificação de conjunto habitacional de interesse social são aqueles
realizados com a interveniência ou não do Poder Público, em que os valores dos padrões
urbanísticos são especialmente estabelecidos na construção de habitação de caráter social, para
atender às classes de população de menor renda;
IV - loteamentos para urbanização específica são aqueles realizados com objetivo de atender à
implantação dos programas de interesse social previamente aprovados pelos órgãos públicos
competentes, com padrões urbanísticos especiais, para atender às classes de população de baixa
renda.

121
Art. 8º Somente será admitido o parcelamento do solo para fins urbanos em zonas urbanas, ou de
expansão urbana delimitadas pela lei municipal de perímetro urbano.
Art. 9º Não será permitido o parcelamento do solo:
I - em terrenos alagadiços ou sujeitos à inundação, salvo parecer favorável do órgão estadual de
conservação e proteção do meio ambiente;
II - em terrenos de mangues e restingas, antes de parecer técnico favorável do órgão estadual de
proteção e conservação do meio ambiente;
III - em terrenos que tenham sido aterrados com lixo ou material nocivo à saúde pública, sem que
sejam previamente saneados;
IV - em terrenos com declividade igual ou superior a 30% (trinta por cento), salvo se atendidas as
exigências da autoridade competente;
V - em terrenos onde as condições geológicas não aconselham a edificação;
VI - em áreas onde a poluição impeça condições sanitárias suportáveis, até sua correção;
VII - em unidades de conservação e em áreas de preservação permanente, definidas em
legislação federal, estadual e municipal, salvo parecer favorável do órgão estadual de conservação
e proteção ao meio ambiente;
VIII - em terrenos que não tenham acesso à via ou logradouros públicos;
IX - em sítios arqueológicos definidos em legislação federal, estadual ou municipal;
X - nas pontas e pontais do litoral e nos estuários dos rios, numa faixa de 100 m (cem metros) em
torno das áreas lacustres.
CAPÍTULO II
DOS REQUISITOS URBANÍSTICOS PARA O LOTEAMENTO
Seção I
Disposições Gerais
Art. 10. Salvo quando a legislação municipal determinar maiores exigências, o loteamento deverá
atender aos requisitos urbanísticos estabelecidos neste Capítulo.
Art. 11. A porcentagem de áreas públicas destinadas ao sistema de circulação, à implantação de
equipamentos urbanos e comunitários, bem como aos espaços livres e de uso público não poderá
ser inferior a 35% (trinta e cinco por cento) da gleba, salvo quando o plano diretor ou a lei
municipal de zoneamento estabelecer dimensões inferiores para a zona em que se situem.
Art. 12. No loteamento ou desmembramento não poderá resultar terreno encravado, sem saída
direta para via ou logradouro público.
Art. 13. Na implantação dos projetos de loteamento ou desmembramento, dever-se-ão preservar
as florestas e demais formas de vegetação natural dos estuários de rios e áreas lacustres, bem
como a fauna existente.
Art. 14. Ao longo das faixas de domínio público das rodovias, ferrovias, linha de transmissão de
energia elétrica de alta tensão e dutos, será obrigatória a reserva de uma faixa “non aedificandi” de
15 m quinze metros) de cada lado, salvo maiores exigências da legislação específica.

122
Art. 15. As vias do loteamento deverão articular-se com as vias adjacentes oficiais, existentes ou
projetadas, e harmonizar-se com a topografia local.
Seção II
Do Loteamento
Subseção I
Das Áreas de Proteção das Lagoas e dos Mananciais
Art. 16. Nas áreas consideradas de proteção ao entorno das Lagoas Juparanã e Juparanã-Mirim e
de proteção aos manancias, os loteamentos deverão observar os seguintes requisitos:
I - os lotes terão área mínima de 1.000 m2 (mil metros quadrados) e frente mínima de 20 m (vinte
metros);
II - a porcentagem de áreas públicas não poderá ser inferior a 35% (trinta e cinco por cento) da
gleba;
III - reserva de faixa marginal “non aedificandi” de, no mínimo:
a) 150 m (cento e cinqüenta metros) no entorno das Lagoas Juparanã e Juparanã-Mirim;
b) 100 m (cem metros) no entorno das lagoas, lagos e reservatórios naturais ou artificiais que
forem utilizados como mananciais atuais e futuros, para captação de água potável;
c) 30 m (trinta metros) ao longo das margens dos rios ou outro curso d’àgua qualquer, contribuintes
dos mananciais, observadas ainda as exigências da legislação ambiental;
IV - implantação, no mínimo, dos seguintes equipamentos urbanos:
a) sistema de escoamento das águas pluviais;
b) sistema de coleta, tratamento e disposição de esgoto sanitário;
c) sistema de abastecimento de água potável;
d) rede de energia elétrica;
e) vias de circulação.
Parágrafo único. Nas áreas referidas no “caput” deste artigo, só será permitida a implantação de
loteamento para uso residencial.
Art. 17. Não será permitida a deposição de esgotos sanitários, lixo e resíduos nas lagoas e nos
mananciais.
Art. 18. Na implantação dos projetos de loteamento, serão obrigatórios a manutenção da
vegetação existente, protegida pela legislação florestal vigente, e o respeito às características da
topografia local, não se permitindo movimento de
terra, cortes e aterros que possam alterar predatoriamente as formas dos acidentes naturais da
região.
Art. 19. Aplicam-se aos projetos de desmembramento as disposições urbanísticas exigidas para
loteamento estabelecidas nesta subseção, excetuando-se desta exigência o inciso II do artigo 16
desta Lei.
Subseção II
Das Áreas de Interesse Especial

123
Art. 20. Nos loteamentos da área de interesse especial, referente aos distritos litorâneos e
municípios da região de montanha, definidos nos incisos II e III do artigo 2º desta Lei, deverão ser
observados os seguintes requisitos:
I - os lotes terão área mínima de 200 m² (duzentos metros quadrados) e frente mínima de 10 m
(dez metros), prevalecendo em qualquer hipótese às disposições da lei municipal, se existir;
II - quando o loteamento se destinar à edificação de conjuntos habitacionais de interesse social, o
lote terá área e testada mínima de 125 m² (cento e vinte e cinco metros quadrados) e 5 m (cinco
metros), respectivamente, salvo maiores exigências da legislação municipal;
III - a porcentagem de áreas públicas destinadas ao sistema de circulação, à implantação de
equipamentos urbanos e comunitários, bem como aos espaços livres e de uso público não poderá
ser inferior a 35% (trinta e cinco por cento) da gleba, salvo quando o plano diretor ou lei municipal
de zoneamento estabelecer dimensões inferiores para a zona em que se situem.
IV - implantação, no mínimo, dos seguintes equipamentos urbanos:
a) sistema de coleta, tratamento e disposição de esgoto sanitário;
b) sistema de escoamento das águas pluviais;
c) sistema de abastecimento de água potável;
d) rede de energia elétrica;
e) vias de circulação.
Art. 21. Não será permitida a disposição de esgotos sanitários, lixo e resíduos nas praias, nos
manguezais, na orla dos cursos d’água e nos canais.
Art. 22. Nos projetos de loteamento, na área litorânea, o sistema de circulação deve assegurar o
domínio predominante do pedestre junto à orla, observando provimento de área para
estacionamento de veículos e impedimento de vias de tráfego nesses locais.
Art. 23. Aplicam-se aos projetos de desmembramento as disposições urbanísticas exigidas para
loteamento estabelecidas nesta subseção, excetuando-se desta exigência o inciso III do artigo 20
desta Lei.
Subseção III
Das Áreas Limítrofes
Art. 24. Quando o loteamento estiver localizado em área limítrofe de município ou pertencer a mais
de um município, observar-se-ão:
I - os requisitos urbanísticos exigidos para as áreas de interesse especial;
II - as ruas ou estradas existentes ou projetadas que compõem o sistema viário do município onde
se pretende implantar o loteamento deverão articular-se com as do
município vizinho, mantendo as mesmas características;
III - quando a divisa intermunicipal não for curso d’água, é obrigatória a execução de uma via de
circulação na divisa, acompanhando o traçado desta.
Subseção IV
Da Região Metropolitana da Grande Vitória

124
Art. 25. Nos loteamentos da Região Metropolitana da Grande Vitória, deverão ser observados os
seguintes requisitos:
I - os lotes terão área mínima de 200 m² (duzentos metros quadrados) e frente mínima de 10 m
(dez metros), em qualquer hipótese, prevalecendo às disposições de lei municipal, se existir;
II - quando o loteamento se destinar à edificação de conjuntos habitacionais de interesse social, o
lote terá área e testada mínima de 125 m² (cento e vinte e cinco metros quadrados) e 5 m (cinco
metros), respectivamente, salvo maiores exigências da legislação municipal;
III - a porcentagem de áreas públicas destinadas ao sistema de circulação, à implantação de
equipamentos urbanos e comunitários, bem como aos espaços livres e de uso público não poderá
ser inferior a 35% (trinta e cinco por cento) da gleba, salvo quando o plano diretor ou a lei
municipal de zoneamento estabelecer dimensões inferiores para a zona em que se situem;
IV - implantação, no mínimo, dos seguintes equipamentos urbanos:
a) sistema de abastecimento de água potável;
b) sistema de coleta, tratamento e disposição de esgoto sanitário;
c) sistema de escoamento das águas pluviais;
d) rede de distribuição de energia elétrica;
e) vias de circulação.
Art. 26. Aplicam-se aos projetos de desmembramento as disposições urbanísticas exigidas para
loteamento estabelecidas nesta subseção, excetuando-se desta exigência o inciso III do artigo 25
desta Lei.
Subseção V
Dos Loteamentos com Área Superior a 1.000.000 m²
Art. 27. Os loteamentos oriundos de gleba com área superior a 1.000.000 m² (um milhão de metros
quadrados), assim registrada no registro de imóveis, à data de vigência desta Lei, e a serem
implantados fora das áreas especiais referidas nesta Lei, deverão observar os seguintes requisitos:
I - os lotes terão área mínima de 200 m² (duzentos metros quadrados) e frente mínima de 10 m
(dez metros), em qualquer hipótese, prevalecendo às disposições da lei municipal, se existir;
II - quando o loteamento se destinar à edificação de conjuntos habitacionais de interesse social, o
lote terá área e testada mínima de 180 m² (cento e oitenta metros quadrados) e 10 m (dez metros),
respectivamente, salvo maiores exigências da legislação municipal;
III - a porcentagem de áreas públicas destinada ao sistema de circulação, à implantação de
equipamentos urbanos e comunitários, bem como aos espaços livres e de uso público não poderá
ser inferior a 35% (trinta e cinco por cento) da gleba, salvo quando o plano diretor ou a lei
municipal de zoneamento estabelecer dimensões inferiores para a zona em que se situem;
IV - implantação dos seguintes equipamentos urbanos:
a) rede de abastecimento de água potável;
b) rede de distribuição de energia elétrica;
c) sistema de escoamento de água pluvial;

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d) sistema de coleta, tratamento e disposição de esgoto sanitário.
Art. 28. No sistema de vias de circulação do loteamento deverá ser prevista uma via de circulação
de veículos, com faixa de domínio, alinhamento a alinhamento, mínima de 26 m (vinte e seis
metros), a cada 1.500 m (mil e quinhentos metros). Art. 29. Deve ser prevista no projeto de
loteamento uma área destinada ao tratamento de esgotos sanitários.
Art. 30. No loteamento localizado nas áreas referidas nos incisos I, II e IV do artigo 1º desta Lei,
deverão ser observadas as exigências específicas estabelecidas para cada área, sem prejuízo dos
artigos 28 e 29 desta Lei.
Subseção VI
Dos Loteamentos Industriais
Art. 31. Os loteamentos destinados a uso industrial deverão ser localizados em zonas reservadas à
instalação de indústrias definidas em esquema de zoneamento urbano, aprovado por lei, que
compatibilize as atividades industriais com a proteção ambiental.
Parágrafo único. As zonas a que se refere este artigo deverão:
I - situar-se em áreas que apresentem capacidade de assimilação de efluentes e proteção
ambiental, respeitadas quaisquer restrições legais ao uso do solo;
II - quando o loteamento se destinar à edificação de conjuntos habitacionais de interesse social, o
lote terá área e testada mínima de 180 m² (cento e oitenta metros quadrados) e 10 m (dez metros),
respectivamente, salvo maiores exigências da legislação municipal;
III - localizar-se em áreas cujas condições favoreçam a instalação adequada de infra-estrutura de
serviços básicos necessária a seu funcionamento e segurança;
IV - dispor, em seu interior, de áreas de proteção ambiental que minimizem os efeitos da poluição,
em relação a outros usos;
V - prever locais adequados para o tratamento dos resíduos líquidos provenientes de atividade
industrial, antes de esses serem despejados em águas marítimas ou interiores, superficiais e
subterrâneas;
VI - manter, em seu contorno, anéis verdes de isolamento capazes de proteger as áreas
circunvizinhas contra possíveis efeitos residuais e acidentes;
VII - localizar-se em áreas onde os ventos dominantes não levem resíduos gasosos, emanações
ou radiações para as áreas residenciais ou comerciais existentes ou previstas.
Art. 32. Nos loteamentos destinados ao uso industrial deverão ser observados os seguintes
requisitos:
I - a porcentagem de áreas públicas destinadas ao sistema de circulação, à implantação de
equipamentos urbanos e comunitários, bem como aos espaços livres e de uso público não poderá
ser inferior a 35% (trinta e cinco por cento) da gleba, salvo quando o plano diretor ou a lei
municipal de zoneamento estabelecer dimensões inferiores para a zona em que se situem;
II - implantação, no mínimo, dos seguintes equipamentos:
a) sistema de abastecimento de água;

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b) sistema de coleta, tratamento e disposição de esgotos industriais e sanitários, nos termos da
legislação vigente;
c) sistema de escoamento de águas pluviais;
d) rede de energia elétrica;
e) pavimentação adequada das vias e assentamento de meios-fios.
CAPÍTULO III
DA APROVAÇÃO DO PROJETO DE LOTEAMENTO E DESMEMBRAMENTO
Art. 33. O projeto de loteamento e desmembramento deverá ser aprovado pela Prefeitura
Municipal, a quem compete também a fixação das diretrizes estabelecidas na lei federal de
parcelamento do solo.
Art. 34. A aprovação do projeto de loteamento e desmembramento, pela Prefeitura Municipal, será
precedido da expedição, pelo Estado, de laudo técnico do órgão florestal e de licenciamento
ambiental.
Art. 35. Caberá ao órgão florestal estadual competente, a caracterização da cobertura florestal
existente na área do projeto de loteamento, com objetivo de estabelecer as diretrizes florestais.
Art. 36. Caberá ao órgão ambiental competente avaliar:
I - normas e restrições legais quanto ao uso e ocupação da área pretendida afetas à unidade de
conservação, proteção e conservação da fauna e da flora;
II - sistema de esgotamento sanitário;
III - sistema de drenagem pluvial superficial;
IV - sistema de abastecimento de água potável;
V - sistema de controle de emissões atmosféricas provenientes de atividades de terraplanagem;
VI - sistema de coleta e disposição de resíduos sólidos.
Art. 37. Caberá ao órgão técnico metropolitano, quando instituído, o exame e a anuência prévia à
aprovação dos projetos de parcelamento do solo nos municípios
integrantes da Região Metropolitana.
CAPÍTULO IV
DO REGISTRO
Art. 38. Para os efeitos do artigo 50 da Lei Federal nº 6.766, de 19.12.1979, o Ministério Público
Estadual fiscalizará a observância das normas complementares estaduais, em especial, desta Lei.
Art. 39. Os Oficiais de Registro de Imóveis, no atendimento do artigo 19 da Lei Federal nº 6.766/79,
deverão abrir vistas dos autos, no prazo referido no citado artigo 19, obrigatoriamente, sempre ao
representante do Ministério Público, independentemente da existência de impugnação de terceiros
que, se oferecida, merecerá o processamento estabelecido em lei.
Art. 40. Nas alterações de uso do solo rural para fins urbanos, deverá ser observado o disposto no
artigo 53 da Lei Federal nº 6.766/79.
CAPÍTULO V
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS

127
Art. 41. As transgressões a qualquer dispositivo desta Lei sujeitarão o infrator às sanções penais,
cíveis e administrativas, na forma da Lei Federal nº 6.766/79.
Art. 42. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Art. 43. Fica revogada a Lei nº 3.384, de 27.11.1980.
Ordeno, portanto, a todas as autoridades que a cumpram e a façam cumprir como nela se contém.
O Secretário de Estado da Justiça faça publicá-la, imprimir e correr.
Palácio Anchieta, em Vitória, em 16 de dezembro de 2004.

128
Anexo I
DECRETO FEDERAL Nº 5.300 DE 7 DE DEZEMBRO DE 2004
Regulamenta a Lei nº 7.661, de 16 de maio de 1988, que institui o Plano Nacional
de Gerenciamento Costeiro - PNGC, dispõe sobre regras de uso e ocupação da
zona costeira e estabelece critérios de gestão da orla marítima, e dá outras
providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84,


inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto no art. 30 e no § 4º do art. 225 da
Constituição, no art. 11 da Lei nº 7.661, de 16 de maio de 1988, no art. 5º da Lei nº 6.938, de 31 de
agosto de 1981, nos arts. 1º e 2º da Lei no 8.617, de 4 de janeiro de 1993, no Decreto Legislativo
nº 2, de 1994, no inciso VI do art. 3º da Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, nos arts. 4º e 33 da
Lei nº 9.636, de 15 de maio de 1998, e no art. 1º do Decreto nº 3.725, de 10 de janeiro de 2001,
DECRETA:
CAPÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art 1º Este Decreto define normas gerais visando a gestão ambiental da zona costeira do País,
estabelecendo as bases para a formulação de políticas, planos e programas federais, estaduais e
municipais.
Art 2º Para os efeitos deste Decreto são estabelecidas as seguintes definições:
I - colegiado estadual: fórum consultivo ou deliberativo, estabelecido por instrumento legal, que
busca reunir os segmentos representativos do governo e sociedade, que atuam em âmbito
estadual, podendo abranger também representantes do governo federal e dos Municípios, para a
discussão e o encaminhamento de políticas, planos, programas e ações destinadas à gestão da
zona costeira;
II - colegiado municipal: fórum equivalente ao colegiado estadual, no âmbito municipal;
III - conurbação: conjunto urbano formado por uma cidade grande e suas tributárias limítrofes ou
agrupamento de cidades vizinhas de igual importância;
IV - degradação do ecossistema: alteração na sua diversidade e constituição física, de tal forma
que afete a sua funcionalidade ecológica, impeça a sua auto-regeneração, deixe de servir ao
desenvolvimento de atividades e usos das comunidades humanas ou de fornecer os produtos que
as sustentam;
V - dunas móveis: corpos de areia acumulados naturalmente pelo vento e que, devido à
inexistência ou escassez de vegetação, migram continuamente; também conhecidas por dunas
livres, dunas ativas ou dunas transgressivas;
VI - linhas de base: são aquelas estabelecidas de acordo com a Convenção das

129
Nações Unidas sobre o Direito do Mar, a partir das quais se mede a largura do mar territorial;
VII - marisma: terrenos baixos, costeiros, pantanosos, de pouca drenagem, essencialmente
alagados por águas salobras e ocupados por plantas halófitas anuais e perenes, bem como por
plantas de terras alagadas por água doce;
VIII - milha náutica: unidade de distância usada em navegação e que corresponde a um mil,
oitocentos e cinqüenta e dois metros;
IX - região estuarina-lagunar: área formada em função da inter-relação dos cursos fluviais e
lagunares, em seu deságüe no ambiente marinho;
X - ondas de tempestade: ondas do mar de grande amplitude geradas por fenômeno
meteorológico;
XI - órgão ambiental: órgão do poder executivo federal, estadual ou municipal, integrante do
Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, responsável pelo licenciamento ambiental,
fiscalização, controle e proteção do meio ambiente, no âmbito de suas competências;
XII - preamar: altura máxima do nível do mar ao longo de um ciclo de maré, também chamada de
maré cheia;
XIII - trecho da orla marítima: seção da orla marítima abrangida por parte ou todo da unidade
paisagística e geomorfológica da orla, delimitado como espaço de intervenção e gestão;
XIV - trecho da orla marítima de interesse especial: parte ou todo da unidade paisagística e
geomorfológica da orla, com existência de áreas militares, tombadas, de tráfego aquaviário,
instalações portuárias, instalações geradoras e transmissoras de energia, unidades de
conservação, reservas indígenas, comunidades tradicionais e remanescentes de quilombos;
XV - unidade geoambiental: porção do território com elevado grau de similaridade entre as
características físicas e bióticas, podendo abranger diversos tipos de ecossistemas com interações
funcionais e forte interdependência.
CAPÍTULO II
DOS LIMITES, PRINCÍPIOS, OBJETIVOS, INSTRUMENTOS E
COMPETÊNCIAS DA GESTÃO DA ZONA COSTEIRA
Seção I
Dos Limites
Art 3º A zona costeira brasileira, considerada patrimônio nacional pela Constituição de 1988,
corresponde ao espaço geográfico de interação do ar, do mar e da terra, incluindo seus recursos
renováveis ou não, abrangendo uma faixa marítima e uma faixa terrestre, com os seguintes limites:
I - faixa marítima: espaço que se estende por doze milhas náuticas, medido a partir das linhas de
base, compreendendo, dessa forma, a totalidade do mar territorial;
II - faixa terrestre: espaço compreendido pelos limites dos Municípios que sofrem influência direta
dos fenômenos ocorrentes na zona costeira.
Art 4º Os Municípios abrangidos pela faixa terrestre da zona costeira serão:

130
I - defrontantes com o mar, assim definidos em listagem estabelecida pela Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE;
II - não defrontantes com o mar, localizados nas regiões metropolitanas litorâneas;
III - não defrontantes com o mar, contíguos às capitais e às grandes cidades litorâneas, que
apresentem conurbação;
IV - não defrontantes com o mar, distantes até cinqüenta quilômetros da linha da costa, que
contemplem, em seu território, atividades ou infra-estruturas de grande impacto ambiental na zona
costeira ou ecossistemas costeiros de alta relevância;
V - estuarino-lagunares, mesmo que não diretamente defrontantes com o mar;
VI - não defrontantes com o mar, mas que tenham todos os seus limites com Municípios referidos
nos incisos I a V;
VII - desmembrados daqueles já inseridos na zona costeira.
1º O Ministério do Meio Ambiente manterá listagem atualizada dos Municípios abrangidos pela
faixa terrestre da zona costeira, a ser publicada anualmente no Diário Oficial da União.
2º Os Estados poderão encaminhar ao Ministério do Meio Ambiente propostas de alteração da
relação dos Municípios abrangidos pela faixa terrestre da zona costeira, desde que apresentada a
devida justificativa para a sua inclusão ou retirada da relação.
3º Os Municípios poderão pleitear, junto aos Estados, a sua intenção de integrar a relação dos
Municípios abrangidos pela faixa terrestre da zona costeira, justificando a razão de sua pretensão.
Seção II
Dos Princípios
Art 5º São princípios fundamentais da gestão da zona costeira, além daqueles estabelecidos na
Política Nacional de Meio Ambiente, na Política Nacional para os Recursos do Mar e na Política
Nacional de Recursos Hídricos:
I - a observância dos compromissos internacionais assumidos pelo Brasil na matéria;
II - a observância dos direitos de liberdade de navegação, na forma da legislação vigente;
III - a utilização sustentável dos recursos costeiros em observância aos critérios previstos em lei e
neste Decreto;
IV - a integração da gestão dos ambientes terrestres e marinhos da zona costeira, com a
construção e manutenção de mecanismos participativos e na compatibilidade das políticas
públicas, em todas as esferas de atuação;
V - a consideração, na faixa marítima, da área de ocorrência de processos de transporte
sedimentar e modificação topográfica do fundo marinho e daquela onde o efeito dos aportes
terrestres sobre os ecossistemas marinhos é mais significativo;
VI - a não-fragmentação, na faixa terrestre, da unidade natural dos ecossistemas costeiros, de
forma a permitir a regulamentação do uso de seus recursos, respeitando sua integridade;

131
VII - a consideração, na faixa terrestre, das áreas marcadas por atividade socioeconômico-cultural
de características costeiras e sua área de influência imediata, em função dos efeitos dessas
atividades sobre a conformação do território costeiro;
VIII - a consideração dos limites municipais, dada a operacionalidade das articulações necessárias
ao processo de gestão;
IX - a preservação, conservação e controle de áreas que sejam representativas dos ecossistemas
da zona costeira, com recuperação e reabilitação das áreas degradadas ou descaracterizadas;
X - a aplicação do princípio da precaução tal como definido na Agenda 21, adotando-se medidas
eficazes para impedir ou minimizar a degradação do meio ambiente, sempre que houver perigo de
dano grave ou irreversível, mesmo na falta de dados científicos completos e atualizados;
XI - o comprometimento e a cooperação entre as esferas de governo, e dessas com a sociedade,
no estabelecimento de políticas, planos e programas federais, estaduais e municipais.
Seção III
Dos Objetivos
Art 6º São objetivos da gestão da zona costeira:
I - a promoção do ordenamento do uso dos recursos naturais e da ocupação dos espaços
costeiros, subsidiando e otimizando a aplicação dos instrumentos de controle e de gestão da zona
costeira;
II - o estabelecimento do processo de gestão, de forma integrada, descentralizada e participativa,
das atividades socioeconômicas na zona costeira, de modo a contribuir para elevar a qualidade de
vida de sua população e a proteção de seu patrimônio natural, histórico, étnico e cultural;
III - a incorporação da dimensão ambiental nas políticas setoriais voltadas à gestão integrada dos
ambientes costeiros e marinhos, compatibilizando-as com o Plano Nacional de Gerenciamento
Costeiro - PNGC;
IV - o controle sobre os agentes causadores de poluição ou degradação ambiental que ameacem a
qualidade de vida na zona costeira;
V - a produção e difusão do conhecimento para o desenvolvimento e aprimoramento das ações de
gestão da zona costeira.
Seção IV
Dos Instrumentos
Art 7º Aplicam-se para a gestão da zona costeira os seguintes instrumentos, de forma articulada e
integrada:
I - Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro - PNGC: conjunto de diretrizes gerais aplicáveis nas
diferentes esferas de governo e escalas de atuação, orientando a implementação de políticas,
planos e programas voltados ao desenvolvimento sustentável da zona costeira;
II - Plano de Ação Federal da Zona Costeira - PAF: planejamento de ações estratégicas para a
integração de políticas públicas incidentes na zona costeira, buscando responsabilidades
compartilhadas de atuação;

132
III - Plano Estadual de Gerenciamento Costeiro - PEGC: implementa a Política Estadual de
Gerenciamento Costeiro, define responsabilidades e procedimentos institucionais para a sua
execução, tendo como base o PNGC;
IV - Plano Municipal de Gerenciamento Costeiro - PMGC: implementa a Política Municipal de
Gerenciamento Costeiro, define responsabilidades e procedimentos institucionais para a sua
execução, tendo como base o PNGC e o PEGC, devendo observar, ainda, os demais planos de
uso e ocupação territorial ou outros instrumentos de planejamento municipal;
V - Sistema de Informações do Gerenciamento Costeiro - SIGERCO: componente do Sistema
Nacional de Informações sobre Meio Ambiente - SINIMA, que integra informações
georreferenciadas sobre a zona costeira;
VI - Sistema de Monitoramento Ambiental da Zona Costeira - SMA: estrutura operacional de coleta
contínua de dados e informações, para o acompanhamento da dinâmica de uso e ocupação da
zona costeira e avaliação das metas de qualidade socioambiental;
VII - Relatório de Qualidade Ambiental da Zona Costeira - RQA-ZC: consolida, periodicamente, os
resultados produzidos pelo monitoramento ambiental e avalia a eficiência e eficácia das ações da
gestão;
VIII - Zoneamento Ecológico-Econômico Costeiro - ZEEC: orienta o processo de ordenamento
territorial, necessário para a obtenção das condições de sustentabilidade do desenvolvimento da
zona costeira, em consonância com as diretrizes do Zoneamento Ecológico-Econômico do território
nacional, como mecanismo de apoio às ações de monitoramento, licenciamento, fiscalização e
gestão;
IX - macrodiagnóstico da zona costeira: reúne informações, em escala nacional, sobre as
características físico-naturais e socioeconômicas da zona costeira, com a finalidade de orientar
ações de preservação, conservação, regulamentação e fiscalização dos patrimônios naturais e
culturais.
Art 8º Os Planos Estaduais e Municipais de Gerenciamento Costeiro serão instituídos por lei,
estabelecendo:
I - os princípios, objetivos e diretrizes da política de gestão da zona costeira da sua área de
atuação;
II - o Sistema de Gestão Costeira na sua área de atuação;
III - os instrumentos de gestão;
IV - as infrações e penalidades previstas em lei;
V - os mecanismos econômicos que garantam a sua aplicação.
Art 9º O ZEEC será elaborado de forma participativa, estabelecendo diretrizes quanto aos usos
permitidos, proibidos ou estimulados, abrangendo as interações entre as faixas terrestre e marítima
da zona costeira, considerando as orientações contidas no Anexo I deste Decreto.
Parágrafo único. Os ZEEC já existentes serão gradualmente compatibilizados com as orientações
contidas neste Decreto.

133
Art 10. Para efeito de monitoramento e acompanhamento da dinâmica de usos e ocupação do
território na zona costeira, os órgãos ambientais promoverão, respeitando as escalas de atuação, a
identificação de áreas estratégicas e prioritárias.
1º Os resultados obtidos no monitoramento dessas áreas pelos Estados e Municípios serão
encaminhados ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis-
IBAMA, que os consolidará e divulgará na forma do RQA-ZC, com periodicidade bianual.
2º O monitoramento deverá considerar indicadores de qualidade que permitam avaliar a dinâmica e
os impactos das atividades socioeconômicas, considerando, entre outros, os setores industrial,
turístico, portuário, de transporte, de desenvolvimento urbano, pesqueiro, aqüicultura e indústria do
petróleo.
Seção V
Das Competências
Art 11. Ao Ministério do Meio Ambiente compete:
I - acompanhar e avaliar permanentemente a implementação do PNGC, observando a
compatibilização dos PEGC e PMGC com o PNGC e demais normas federais, sem prejuízo da
competência de outros órgãos;
II - promover a articulação intersetorial e interinstitucional com os órgãos e colegiados existentes
em âmbito federal, estadual e municipal, cujas competências tenham vinculação com as atividades
do PNGC;
III - promover o fortalecimento institucional dos órgãos executores da gestão da zona costeira,
mediante o apoio técnico, financeiro e metodológico;
IV - propor normas gerais, referentes ao controle e manutenção de qualidade do ambiente costeiro;
V - promover a consolidação do SIGERCO;
VI - estabelecer procedimentos para ampla divulgação do PNGC;
VII - estruturar, implementar e acompanhar os programas de monitoramento, controle e
ordenamento nas áreas de sua competência.
Art 12. Ao IBAMA compete:
I - executar, em âmbito federal, o controle e a manutenção da qualidade do ambiente costeiro, em
estrita consonância com as normas estabelecidas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente -
CONAMA;
II - apoiar o Ministério do Meio Ambiente na consolidação do SIGERCO;
III - executar e acompanhar os programas de monitoramento, controle e ordenamento;
IV - propor ações e projetos para inclusão no PAF;
V - executar ações visando a manutenção e a valorização de atividades econômicas sustentáveis
nas comunidades tradicionais da zona costeira;
VI - executar as ações do PNGC segundo as diretrizes definidas pelo Ministério do
Meio Ambiente;

134
VII - subsidiar a elaboração do RQA-ZC a partir de informações e resultados obtidos na execução
do PNGC;
VIII - colaborar na compatibilização das ações do PNGC com as políticas públicas que incidem na
zona costeira;
IX - conceder o licenciamento ambiental dos empreendimentos ou atividades de impacto ambiental
de âmbito regional ou nacional incidentes na zona costeira, em observância as normas vigentes;
X - promover, em articulação com Estados e Municípios, a implantação de unidades de
conservação federais e apoiar a implantação das unidades de conservação estaduais e municipais
na zona costeira.
Art 13. O Poder Público Estadual, na esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdição,
planejará e executará as atividades de gestão da zona costeira em articulação com os Municípios
e com a sociedade, cabendo-lhe:
I - designar o Coordenador para execução do PEGC;
II - elaborar, implementar, executar e acompanhar o PEGC, obedecidas a legislação federal e o
PNGC;
III - estruturar e manter o subsistema estadual de informação do gerenciamento costeiro;
IV - estruturar, implementar, executar e acompanhar os instrumentos previstos no art. 7o, bem
como os programas de monitoramento cujas informações devem ser consolidadas periodicamente
em RQA-ZC, tendo como referências o macrodiagnóstico da zona costeira, na escala da União e o
PAF;
V - promover a articulação intersetorial e interinstitucional em nível estadual, na sua área de
competência;
VI - promover o fortalecimento das entidades diretamente envolvidas no gerenciamento costeiro,
mediante apoio técnico, financeiro e metodológico;
VII - elaborar e promover a ampla divulgação do PEGC e do PNGC;
VIII - promover a estruturação de um colegiado estadual.
Art 14. O Poder Público Municipal, observadas as normas e os padrões federais e estaduais,
planejará e executará suas atividades de gestão da zona costeira em articulação com os órgãos
estaduais, federais e com a sociedade, cabendo-lhe:
I - elaborar, implementar, executar e acompanhar o PMGC, observadas as diretrizes do PNGC e
do PEGC, bem como o seu detalhamento constante dos Planos de
Intervenção da orla marítima, conforme previsto no art. 25 deste Decreto;
II - estruturar o sistema municipal de informações da gestão da zona costeira;
III - estruturar, implementar e executar os programas de monitoramento;
IV - promover o fortalecimento das entidades diretamente envolvidas no gerenciamento costeiro,
mediante apoio técnico, financeiro e metodológico;
V - promover a compatibilização de seus instrumentos de ordenamento territorial com o
zoneamento estadual;

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VI - promover a estruturação de um colegiado municipal.
CAPÍTULO III
DAS REGRAS DE USO E OCUPAÇÃO DA ZONA COSTEIRA
Art 15. A aprovação de financiamentos com recursos da União, de fontes externas por ela
avalizadas ou de entidades de crédito oficiais, bem como a concessão de benefícios fiscais e de
outras formas de incentivos públicos para projetos novos ou ampliação de empreendimentos na
zona costeira, que envolvam a instalação, ampliação e realocação de obras, atividades e
empreendimentos, ficará condicionada à sua compatibilidade com as normas e diretrizes de
planejamento territorial e ambiental do Estado e do Município, principalmente aquelas constantes
dos PEGC, PMGC e do ZEEC.
Parágrafo único. Os Estados que não dispuserem de ZEEC se orientarão por meio de outros
instrumentos de ordenamento territorial, como zoneamentos regionais ou agrícolas, zoneamento
de unidades de conservação e diagnósticos socioambientais, que permitam avaliar as condições
naturais e socioeconômicas relacionadas à implantação de novos empreendimentos.
Art 16. Qualquer empreendimento na zona costeira deverá ser compatível com a infra-estrutura de
saneamento e sistema viário existentes, devendo a solução técnica adotada preservar as
características ambientais e a qualidade paisagística.
Parágrafo único. Na hipótese de inexistência ou inacessibilidade à rede pública de coleta de lixo e
de esgoto sanitário na área do empreendimento, o empreendedor apresentará solução autônoma
para análise do órgão ambiental, compatível com as características físicas e ambientais da área.
Art 17. A área a ser desmatada para instalação, ampliação ou realocação de empreendimentos ou
atividades na zona costeira que implicar a supressão de vegetação nativa, quando permitido em
lei, será compensada por averbação de, no mínimo, uma área equivalente, na mesma zona
afetada.
1º A área escolhida para efeito de compensação poderá se situar em zona diferente da afetada,
desde que na mesma unidade geoambiental, mediante aprovação do órgão ambiental.
2º A área averbada como compensação poderá ser submetida a plano de manejo, desde que não
altere a sua característica ecológica e sua qualidade paisagística.
Art 18. A instalação de equipamentos e o uso de veículos automotores, em dunas móveis, ficarão
sujeitos ao prévio licenciamento ambiental, que deverá considerar os efeitos dessas obras ou
atividades sobre a dinâmica do sistema dunar, bem como à autorização da Secretaria do
Patrimônio da União do Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão quanto à utilização da área de bem de uso comum do povo.
Art 19. A implantação de recifes artificiais na zona costeira observará a legislação ambiental e será
objeto de norma específica.
Art 20. Os bancos de moluscos e formações coralíneas e rochosas na zona costeira serão
identificados e delimitados, para efeito de proteção, pelo órgão ambiental.

136
Parágrafo único. Os critérios de delimitação das áreas de que trata o caput deste artigo serão
objeto de norma específica.
Art 21. As praias são bens públicos de uso comum do povo, sendo assegurado, sempre, livre e
franco acesso a elas e ao mar, em qualquer direção e sentido, ressalvados os trechos
considerados de interesse da segurança nacional ou incluídos em áreas protegidas por legislação
específica.
1º O Poder Público Municipal, em conjunto com o órgão ambiental, assegurará no âmbito do
planejamento urbano, o acesso às praias e ao mar, ressalvadas as áreas de segurança nacional
ou áreas protegidas por legislação específica, considerando os seguintes critérios:
I - nas áreas a serem loteadas, o projeto do loteamento identificará os locais de acesso à praia,
conforme competências dispostas nos instrumentos normativos estaduais ou municipais;
II - nas áreas já ocupadas por loteamentos à beira mar, sem acesso à praia, o Poder Público
Municipal, em conjunto com o órgão ambiental, definirá as áreas de servidão de passagem,
responsabilizando-se por sua implantação, no prazo máximo de dois anos, contados a partir da
publicação deste Decreto; e
III - nos imóveis rurais, condomínios e quaisquer outros empreendimentos à beira mar, o
proprietário será notificado pelo Poder Público Municipal, para prover os acessos à praia, com
prazo determinado, segundo condições estabelecidas em conjunto com o órgão ambiental.
2º A Secretaria do Patrimônio da União, o órgão ambiental e o Poder Público Municipal decidirão
os casos omissos neste Decreto, com base na legislação vigente.
3º As áreas de domínio da União abrangidas por servidão de passagem ou vias de acesso às
praias e ao mar serão objeto de cessão de uso em favor do Município correspondente.
4º As providências descritas no § 1º não impedem a aplicação das sanções civis, administrativas e
penais previstas em lei.
CAPÍTULO IV
DOS LIMITES, OBJETIVOS, INSTRUMENTOS E COMPETÊNCIAS PARA GESTÃO DA ORLA
MARÍTIMA
Seção I
Dos Limites
Art 22. Orla marítima é a faixa contida na zona costeira, de largura variável, compreendendo uma
porção marítima e outra terrestre, caracterizada pela interface entre a terra e o mar.
Art 23. Os limites da orla marítima ficam estabelecidos de acordo com os seguintes critérios:
I - marítimo: isóbata de dez metros, profundidade na qual a ação das ondas passa a sofrer
influência da variabilidade topográfica do fundo marinho, promovendo o transporte de sedimentos;
II - terrestre: cinqüenta metros em áreas urbanizadas ou duzentos metros em áreas não
urbanizadas, demarcados na direção do continente a partir da linha de preamar ou do limite final
de ecossistemas, tais como as caracterizadas por feições de praias, dunas, áreas de escarpas,

137
falésias, costões rochosos, restingas, manguezais, marismas, lagunas, estuários, canais ou braços
de mar, quando existentes, onde estão situados os terrenos de marinha e seus acrescidos.
1º Na faixa terrestre será observada, complementarmente, a ocorrência de aspectos
geomorfológicos, os quais implicam o seguinte detalhamento dos critérios de delimitação:
I - falésias sedimentares: cinqüenta metros a partir da sua borda, em direção ao continente;
II - lagunas e lagoas costeiras: limite de cinqüenta metros contados a partir do limite da praia, da
linha de preamar ou do limite superior da margem, em direção ao continente;
III - estuários: cinqüenta metros contados na direção do continente, a partir do limite da praia ou da
borda superior da duna frontal, em ambas as margens e ao longo delas, até onde a penetração da
água do mar seja identificada pela presença de salinidade, no valor mínimo de 0,5 partes por mil;
IV - falésias ou costões rochosos: limite a ser definido pelo plano diretor do
Município, estabelecendo uma faixa de segurança até pelo menos um metro de altura acima do
limite máximo da ação de ondas de tempestade;
V - áreas inundáveis: limite definido pela cota mínima de um metro de altura acima do limite da
área alcançada pela preamar;
VI - áreas sujeitas à erosão: substratos sedimentares como falésias, cordões litorâneos, cabos ou
pontais, com larguras inferiores a cento e cinqüenta metros, bem como áreas próximas a
desembocaduras fluviais, que correspondam a estruturas de alta instabilidade, podendo requerer
estudos específicos para definição da extensão da faixa terrestre da orla marítima.
2º Os limites estabelecidos para a orla marítima, definidos nos incisos I e II do caput deste artigo,
poderão ser alterados, sempre que justificado, a partir de pelo menos uma das seguintes
situações:
I - dados que indiquem tendência erosiva, com base em taxas anuais, expressas em períodos de
dez anos, capazes de ultrapassar a largura da faixa proposta;
II - concentração de usos e de conflitos de usos relacionados aos recursos ambientais existentes
na orla marítima;
III - tendência de avanço da linha de costa em direção ao mar, expressa em taxas anuais; e
IV - trecho de orla abrigada cujo gradiente de profundidade seja inferior à profundidade de dez
metros.
Seção II
Dos Objetivos
Art 24. A gestão da orla marítima terá como objetivo planejar e implementar ações nas áreas que
apresentem maior demanda por intervenções na zona costeira, a fim de disciplinar o uso e
ocupação do território.
Seção III
Dos Instrumentos

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Art 25. Para a gestão da orla marítima será elaborado o Plano de Intervenção, com base no
reconhecimento das características naturais, nos tipos de uso e ocupação existentes e projetados,
contemplando:
I - caracterização socioambiental: diagnóstico dos atributos naturais e paisagísticos, formas de uso
e ocupação existentes, com avaliação das principais atividades e potencialidades
socioeconômicas;
II - classificação: análise integrada dos atributos naturais com as tendências de uso, de ocupação
ou preservação, conduzindo ao enquadramento em classes genéricas e à construção de cenários
compatíveis com o padrão de qualidade da classe a ser alcançada ou mantida;
III - estabelecimento de diretrizes para intervenção: definição do conjunto de ações articuladas,
elaboradas de forma participativa, a partir da construção de cenários prospectivos de uso e
ocupação, podendo ter caráter normativo, gerencial ou executivo.
Parágrafo único. O Plano de Intervenção de que trata o caput será elaborado em conformidade
com o planejamento federal, estadual e municipal da zona costeira.
Art 26. Para a caracterização socioambiental, classificação e planejamento da gestão, a orla
marítima será enquadrada segundo aspectos físicos e processos de uso e ocupação
predominantes, de acordo com as seguintes tipologias:
I - abrigada não urbanizada: ambiente protegido da ação direta das ondas, ventos e correntes, com
baixíssima ocupação, paisagens com alto grau de originalidade natural e baixo potencial de
poluição;
II - semi-abrigada não urbanizada: ambiente parcialmente protegido da ação direta das ondas,
ventos e correntes, com baixíssima ocupação, paisagens com alto grau de originalidade natural e
baixo potencial de poluição;
III - exposta não urbanizada: ambiente sujeito à alta energia de ondas, ventos e correntes com
baixíssima ocupação, paisagens com alto grau de originalidade natural e baixo potencial de
poluição;
IV - de interesse especial em áreas não urbanizadas: ambientes com ocorrência de áreas militares,
de tráfego aquaviário, com instalações portuárias, com instalações geradoras de energia, de
unidades de conservação, tombados, de reservas indígenas, de comunidades tradicionais ou
remanescentes de quilombos, cercados por áreas de baixa ocupação, com características de orla
exposta, semi-abrigada ou abrigada;
V - abrigada em processo de urbanização: ambiente protegido da ação direta das ondas, ventos e
correntes, com baixo a médio adensamento de construções e população residente, com indícios de
ocupação recente, paisagens parcialmente modificadas pela atividade humana e médio potencial
de poluição;
VI - semi-abrigada em processo de urbanização: ambiente parcialmente protegido da ação direta
das ondas, ventos e correntes, com baixo a médio adensamento de construções e população

139
residente, com indícios de ocupação recente, paisagens parcialmente modificadas pela atividade
humana e médio potencial de poluição;
VII - exposta em processo de urbanização: ambiente sujeito à alta energia de ondas, ventos e
correntes com baixo a médio adensamento de construções e população residente, com indícios de
ocupação recente, paisagens parcialmente modificadas pela atividade humana e médio potencial
de poluição;
VIII - de interesse especial em áreas em processo de urbanização: ambientes com ocorrência de
áreas militares, de tráfego aquaviário, com instalações portuárias, com instalações geradoras de
energia, de unidades de conservação, tombados, de reservas indígenas, de comunidades
tradicionais ou remanescentes de quilombos, cercados por áreas de baixo a médio adensamento
de construções e população residente, com características de orla exposta, semi-abrigada ou
abrigada;
IX - abrigada com urbanização consolidada: ambiente protegido da ação direta das ondas, ventos
e correntes, com médio a alto adensamento de construções e população residente, paisagens
modificadas pela atividade humana, multiplicidade de usos e alto potencial de poluição sanitária,
estética e visual;
X - semi-abrigada com urbanização consolidada: ambiente parcialmente protegido da ação direta
das ondas, ventos e correntes, com médio a alto adensamento de construções e população
residente, paisagens modificadas pela atividade humana, multiplicidade de usos e alto potencial de
poluição sanitária, estética e visual;
XI - exposta com urbanização consolidada: ambiente sujeito a alta energia de ondas, ventos e
correntes, com médio a alto adensamento de construções e população residente, paisagens
modificadas pela atividade humana, multiplicidade de usos e alto potencial de poluição sanitária,
estética e visual;
XII - de interesse especial em áreas com urbanização consolidada: ambientes com ocorrência de
áreas militares, de tráfego aquaviário, com instalações portuárias, com instalações geradoras e
transmissoras de energia, de unidades de conservação, tombados, de reservas indígenas, de
comunidades tradicionais ou remanescentes de quilombos, cercados por áreas de médio a alto
adensamento de construções e população residente, com características de orla exposta, semi-
abrigada ou abrigada.
Art 27. Para efeito da classificação mencionada no inciso II do art. 25, os trechos da orla marítima
serão enquadrados nas seguintes classes genéricas:
I - classe A: trecho da orla marítima com atividades compatíveis com a preservação e conservação
das características e funções naturais, possuindo correlação com os tipos que apresentam
baixíssima ocupação, com paisagens com alto grau de conservação e baixo potencial de poluição;
II - classe B: trecho da orla marítima com atividades compatíveis com a conservação da qualidade
ambiental ou baixo potencial de impacto, possuindo correlação com os tipos que apresentam baixo

140
a médio adensamento de construções e população residente, com indícios de ocupação recente,
paisagens parcialmente modificadas pela atividade humana e médio potencial de poluição;
III - classe C: trecho da orla marítima com atividades pouco exigentes quanto aos padrões de
qualidade ou compatíveis com um maior potencial impactante, possuindo correlação com os tipos
que apresentam médio a alto adensamento de construções e população residente, com paisagens
modificadas pela atividade humana, multiplicidade de usos e alto potencial de poluição sanitária,
estética e visual.
Art 28. Para as classes mencionadas no art. 27 serão consideradas as estratégias de ação e as
formas de uso e ocupação do território, a seguir indicadas:
I - classe A: estratégia de ação preventiva, relativa às seguintes formas de uso e ocupação:
a) unidades de conservação, em conformidade com o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação da Natureza - SNUC, predominando as categorias de proteção integral;
b) pesquisa científica;
c) residencial e comercial local em pequenas vilas ou localidades isoladas;
d) turismo e lazer sustentáveis, representados por complexos ecoturísticos isolados em meio a
áreas predominantemente nativas;
e) residencial e lazer em chácaras ou em parcelamentos ambientalmente planejados, acima de
cinco mil metros quadrados;
f) rural, representado por sítios, fazendas e demais propriedades agrícolas ou extrativistas;
g) militar, com instalações isoladas;
h) manejo sustentável de recursos naturais;
II - classe B: estratégia de ação de controle relativa às formas de uso e ocupação constantes da
classe A, e também às seguintes:
a) unidades de conservação, em conformidade com o SNUC, predominando as categorias de uso
sustentável;
b) aqüicultura;
c) residencial e comercial, inclusive por populações tradicionais, que contenham menos de
cinqüenta por cento do seu total com vegetação nativa conservada;
d) residencial e comercial, na forma de loteamentos ou balneários horizontais ou mistos;
e) industrial, relacionada ao beneficiamento de recursos pesqueiros, à construção e reparo naval
de apoio ao turismo náutico e à construção civil;
f) militar;
g) portuário pesqueiro, com atracadouros ou terminais isolados, estruturas náuticas de apoio à
atividade turística e lazer náutico; e
h) turismo e lazer;
III - classe C: estratégia de ação corretiva, relativa às formas de uso e ocupação constantes da
classe B, e também às seguintes:

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a) todos os usos urbanos, habitacionais, comerciais, serviços e industriais de apoio ao
desenvolvimento urbano;
b) exclusivamente industrial, representado por distritos ou complexos industriais;
c) industrial e diversificado, representado por distritos ou complexos industriais;
d) militar, representado por complexos militares;
e) exclusivamente portuário, com terminais e marinas;
f) portuário, com terminais e atividades industriais;
g) portuário, com terminais isolados, marinas e atividades diversas (comércio, indústria, habitação
e serviços); e
h) turismo e lazer, representado por complexos turísticos.
Art 29. Para execução das ações de gestão na orla marítima em áreas de domínio da União,
poderão ser celebrados convênios ou contratos entre a Secretaria do Patrimônio da União e os
Municípios, nos termos da legislação vigente, considerando como requisito o Plano de Intervenção
da orla marítima e suas diretrizes para o trecho considerado.
Seção IV
Das Competências
Art 30. Compete ao Ministério do Meio Ambiente, em articulação com o IBAMA e os órgãos
estaduais de meio ambiente, por intermédio da Coordenação do PEGC, preparar e manter
atualizados os fundamentos técnicos e normativos para a gestão da orla marítima, provendo meios
para capacitação e assistência aos Municípios.
Art 31. Compete aos órgãos estaduais de meio ambiente, em articulação com as Gerências
Regionais de Patrimônio da União, disponibilizar informações e acompanhar as ações de
capacitação e assistência técnica às prefeituras e gestores locais, para estruturação e
implementação do Plano de Intervenção.
Art 32. Compete ao Poder Público Municipal elaborar e executar o Plano de Intervenção da Orla
Marítima de modo participativo com o colegiado municipal, órgãos, instituições e organizações da
sociedade interessados.
CAPÍTULO V
DAS REGRAS DE USO E OCUPAÇÃO DA ORLA MARÍTIMA
Art 33. As obras e serviços de interesse público somente poderão ser realizados ou implantados
em área da orla marítima, quando compatíveis com o ZEEC ou outros instrumentos similares de
ordenamento do uso do território.
Art 34. Em áreas não contempladas por Plano de Intervenção, o órgão ambiental requisitará
estudos que permitam a caracterização e classificação da orla marítima para o licenciamento
ambiental de empreendimentos ou atividades.
CAPÍTULO VI
DAS DISPOSIÇÕES FINAIS E COMPLEMENTARES

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Art 35. Para efeito de integração da gestão da zona costeira e da orla marítima, os estudos e
diretrizes concernentes ao ZEEC serão compatibilizados com o enquadramento e respectivas
estratégias de gestão da orla, conforme disposto nos Anexos I e II e nas seguintes correlações:
I - as zonas 1 e 2 do ZEEC têm equivalência de características com a classe A de orla marítima;
II - as zonas 3 e 4 do ZEEC têm equivalência de características com a classe B de orla marítima;
III - a zona 5 do ZEEC tem equivalência de características com a classe C de orla marítima.
Parágrafo único. Os Estados que não utilizaram a mesma orientação para o estabelecimento de
zonas, deverão compatibilizá-la com as características apresentadas nos referidos anexos.
Art 36. As normas e disposições estabelecidas neste Decreto para a gestão da orla marítima
aplicam-se às ilhas costeiras e oceânicas.
Parágrafo único. No caso de ilhas sob jurisdição estadual ou federal, as disposições deste Decreto
serão aplicadas pelos respectivos órgãos competentes.
CAPÍTULO VII
DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
Art 37. Compete ao Ministério do Meio Ambiente, em articulação com o Ministério do Turismo, o
Instituto Brasileiro de Turismo - EMBRATUR e a Secretaria do Patrimônio da União, desenvolver,
atualizar e divulgar o roteiro para elaboração do Plano de Intervenção da orla marítima.
Art 38. Compete ao Ministério do Meio Ambiente, em articulação com o IBAMA, definir a
metodologia e propor ao CONAMA normas para padronização dos procedimentos de
monitoramento, tratamento, análise e sistematização dos dados para elaboração do RQA-ZC, no
prazo de trezentos e sessenta dias a partir da data de publicação deste Decreto.
Art 39. Compete ao Ministério do Meio Ambiente, em articulação com o IBAMA, elaborar e
encaminhar ao CONAMA proposta de resolução para regulamentação da implantação de recifes
artificiais na zona costeira, no prazo de trezentos e sessenta dias a partir da data de publicação
deste Decreto.
Art 40. Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 7 de dezembro de 2004; 183º da Independência e 116º da República.


LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
José Alencar Gomes da Silva
Nelson Machado
Marina Silva
Walfrido Silvino dos Mares Guia

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