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Medo de dirigir é comum e pode ser

superado, afirma especialista


Psicóloga especializada conta que a "amaxofobia" surge por várias razões, mas atinge a
muitos e pode ser vencida com a terapia adequada

Por Bárbara Angelo


12 de agosto de 2019 09:00

O medo de dirigir é um distúrbio psicológico tão comum que tem até nome técnico:
amaxofobia. De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, cerca de 6% dos
brasileiros são afetados pelo transtorno. Contudo, saná-lo é possível, como nos conta
uma especialista no assunto.

“Às vezes, só de pensar já fico suando, o coração dispara… é uma incapacidade


mesmo”, relata Paola Turci dos Anjos, uma estudante de Ciências Biológicas de 26
anos. Paola é uma das inúmeras pessoas afetadas pela fobia, e conta que passou a ter
dificuldades após um acidente.

“Bati em outro carro e eu só tinha uma semana de carteira. O carro era do meu pai, e daí
veio esse trauma”, descreve ela. Apesar de a colisão ter sido leve e ninguém ter se
ferido, como nos contou Paola, a ocasião foi suficiente para causar uma impressão
marcante.

E o relato de Paola é condizente com a experiência de especialistas. “Identificar a causa


do medo de dirigir é complexo, porque ela varia, e também pode envolver fatores
técnicos”, explica a psicóloga especializada no tratamento de fobias de dirigir, Simone
Hazin.

Atuando no tratamento de pessoas afetadas pela amaxofobia há 11 anos, Simone já


entrou em contato com um amplo espectro de causas para a dificuldade. “Tem gente que
tem medo porque sofreu um acidente e tem um trauma, então é um stress pós-
traumático”, exemplifica ela.

“Outras têm medo de dirigir porque tiveram um ataque de pânico quando estavam
dirigindo na rua, então associam isso com o carro. Já outros têm um perfil
perfeccionista, sentem pavor de ter um desempenho ruim e não corresponder ao que
outros esperam”, continua Simone.

Por que algumas pessoas têm medo de dirigir?


“Antes do acidente eu era super tranquila. A primeira vez que liguei um carro foi na
aula de direção. Eu era super confiante, meu instrutor até falava que eu era pé de fogo,
eu era boa”, lembra Paola.

Entretanto, logo depois do ocorrido, a estudante conta que já não foi capaz de comandar
o veículo. “Na hora, meu pai, que estava do meu lado, teve que assumir a direção,
porque eu não consegui nem sair do lugar”, descreve ela.

Hoje, já se passaram sete anos desde o acidente. Paola diz que já dirigiu de novo, mas
muito raramente, pois continua se sentindo desconfortável.

Assim, percebemos que o medo de dirigir pode atingir a qualquer um, até mesmo os que
mostram potencial e habilidade atrás do volante.

“A pessoa que tem esse medo pode se sentir inferiorizada por uma sociedade que cobra
saber dirigir como se fosse uma coisa trivial. Mas não é, e ela não está sozinha.
Milhares de pessoas passam por isso, existe ajuda e ela pode vencer esse medo”,
assegura Simone Hazin, psicóloga especializada na questão.

Como perder o medo de dirigir?


Simone conta que, em seu consultório, faz uma combinação de terapia psicológica com
aulas de direção para ajudar as pessoas a vencer a amaxofobia. Primeiramente, detalha a
profissional, é feita uma entrevista para determinar a causa do medo de dirigir em cada
pessoa, e determinar se há dificuldade técnica – ou motora – envolvida no problema.

Na sequência, a psicóloga determina a quantidade e intensidade das aulas de direção


para cada pessoa. Para tanto, trabalha em conjunto com um instrutor, que segue suas
recomendações na hora de acompanhar o aluno ao volante.

A depender das instruções dadas pela psicóloga, o instrutor vai pedir – ou não – para o
aluno realizar determinadas tarefas. Ao mesmo tempo, a pessoa continua fazendo um
acompanhamento psicológico com a terapeuta.

“Eu passo informações de como está aquela pessoa, e falo para o instrutor como quero
que ele a conduza. Também sempre lembro aos clientes que se a ansiedade estiver
muito alta, não quero que ultrapasse esse nível, porque não quero que aquilo vire uma
angústia”, explica Simone.

A especialista explica que a técnica é conhecida como dessensibilização sistemática.


Assim, é importante seguir um protocolo, que também envolve o equilíbrio entre o
número de horas de terapia e de aulas de direção, que deve ser definido de acordo com a
necessidade de cada pessoa.

“Quando trabalhamos com medo, é preciso expor a pessoa ao que é temido, mas isso
não pode ser feito de uma maneira qualquer”, explica ela. “O processo deve ser
gradativo”, continua.

Dicas para perder o medo de dirigir


Simone também dá dicas para quem tem medo de dirigir, mas ainda não sabe como
lidar com o problema. A profissional recomenda que os acometidos pela amaxofobia
busquem ajuda. A razão é que quando temos medo, tendemos a evitar o objeto que o
causa, pois ele traz sofrimento.

Por isso, a psicóloga entende que, ainda que seja possível superar a dificuldade sozinho,
pode ser mais difícil, e trazer mais sofrimento. Portanto, recomenda que a pessoa
procure ajuda profissional.

Além disso, é importante entender que o medo de dirigir representa um risco para a
segurança, tanto do próprio indivíduo, quanto de terceiros, lembra Simone.

Como a pessoa está dominada pelo nervosismo, ficará propensa ao erro. Quando errar,
ficará ainda mais nervosa. Assim, terá cada vez menos condições de prestar atenção ao
seu entorno e se concentrar na tarefa de conduzir o veículo, explica. “O risco de bater ou
fazer alguma coisa mais séria é real”, resume a especialista.
Por fim, a psicóloga lembra que, apesar da dificuldade, o trabalho vale a pena.
“Enfrentar nossos próprios fantasmas e medos é uma das coisas mais difíceis que tem,
mas é muito gratificante quando conseguimos”, comenta.

Em seu consultório, Simone conta que são raros os casos em que a pessoa não é curada.
No geral, elas são as que deixam de dirigir uma vez que terminam a terapia. Caso
contrário, seus clientes têm sucesso na terapia.

“A pessoa tem tudo para vencer, só é preciso dar o primeiro passo”, conclui ela.

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