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pelos seus efeitos
Atentem aos nossos “putinistas” caseiros de esquerda e de direita e
verificarão que, com toda a probabilidade, são os mesmos que militam, com
graus de radicalidade variável, pela extinção de
Israel.
Este tipo de admiração, por mais que exiba uma colossal abdicação do
juízo político, tem, à sua maneira, uma razão de ser, e uma razão de
ser que tem origem no próprio Putin. Como muita gente, pus-me em
tempos recentes a ler livros sobre o homem. Li o “Dentro da cabeça de
Putin” (2015), de Michel Eltchaninoff, e o “Precisamos de falar sobre
Putin” (2019), de Mark Galeotti, e tentei ler também “A gente de Putin”,
de Catherine Belton (2020), mas abandonei-o depressa porque não
tenho miolos para seguir a complexidade das teias de influência que
habitam o poder do Kremlin. Em todo o caso, se há coisa que
Eltchaninoff e Galeotti nos mostram indisputavelmente é que as mais
de duas décadas de poder de Putin reproduzem em poucos anos todos
os movimentos seculares da história russa, oscilando entre a
aproximação ao Ocidente e o afastamento deste, uma oscilação na
qual uma única coisa subsiste como comum fio condutor: a ideia da
grandeza imperial da Rússia, seja ela a Rússia czarista, a soviética ou a
contemporânea. Isso permite a Putin tanto celebrar Kant – e o Tratado
da paz perpétua! – como património comum da Alemanha e da Rússia
(por Königsberg ser hoje Kaliningrado), como defender a
irredutibilidade da maneira de pensar russa à maneira de pensar
ocidental.