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As pessoas com deficiência,

nos discursos e espaços eclesiais

Elizabete Cristina Costa Renders

Resumo

O presente artigo indaga sobre as condições de


acesso e permanência de pessoas com deficiência
nos espaços eclesiais. O movimento se dá partindo
dos discursos eclesiais (ancorados em antigas
soluções assistencialistas) às novas práticas que se
colocam na perspectiva do paradigma da inclusão.

Palavras-chave

Pessoas com deficiência – inclusão – espaços –


discursos eclesiais.

Assessora pedagógica para


inclusão da pessoa com
deficiência / UMESP; Mestre
em Ciencias de Religião /
UMESP. E-mail:
elizabete.costa@metodista.br

Revista Caminhando v. 11, n. 18, p. 141-150, jul–dez 2006 141


Persons with handicaps,
in ecclesial discourses and spaces

Elizabete Cristina Costa Renders

Abstract

This article seeks to explore the conditions of


access and continued presence in ecclesial spaces
of persons with handicaps. This movement is based
on ecclesial discourses (anchored in outdated
assistance solutions) which are changing based on
new practices that reflect the paradigm of inclusion.

Key words

Handicapped persons, inclusion, ecclesial spaces


and discourses.

Pedagogical advisor for


inclusion of persons with
handicaps / UMESP; Masters
in Religious Studies /UMESP
Email:
elizabete.costa@metodista.br

142 Elisabete C. C. RENDERS. As pessoas com deficiência...


Las personas con deficiencia,
en los discursos y ambientes eclesiales

Elizabete Cristina Costa Renders

Resumen

El presente artículo indaga sobre las condiciones de


acceso y permanencia de personas con deficiencia
en los ambientes eclesiales. El movimiento parte de
los discursos eclesiales (cimentados en antiguas so-
luciones asistencialistas) hasta las nuevas prácticas
que se colocan en la perspectiva de un paradigma
de inclusión.

Palabras clave

Personas con deficiencia – inclusión – ambientes y


discursos eclesiales

Asesora pedagógica para la


inclusión de la persona con
deficiencia / UMESP; Master
en Ciencias de la Religión /
UMESP. E-mail:
elizabete.costa@metodista.br

Revista Caminhando v. 11, n. 18, p. 141-150, jul–dez 2006 143


Uma história em quadrinhos: o desafio

144 Elisabete C. C. RENDERS. As pessoas com deficiência...


A história acima faz parte de uma sé- Na perspectiva deste artigo, podemos
rie de histórias em quadrinhos, publica- dizer que esta história oculta a incapaci-
das no Expositor Cristão1, em que se dade compartilhada:
apresentam as aventuras de um grupo de
na barreira imposta socialmente (a es-
05 crianças — os Aventureiros em Missão cada). Por que a história de Luca, bem
— nos espaços eclesiais. Dentre as cinco como muitas outras histórias, não dá
visibilidade ao tema da dificuldade
personagens, a equipe de redação inseriu
compartilhada? Ou, nos termos do pa-
um cadeirante, o Luca, no sentido de dar radigma da inclusão, por que não con-
visibilidade à necessária convivência seguimos, na maioria das vezes, per-
ceber a incapacidade como “uma resul-
entre os diferentes e de valorizar a diver-
tante da relação entre as pessoas (com
sidade. O episódio, transcrito acima, e sem deficiência) e o meio ambiente3,
apresenta O desafio.
portanto, como um problema de todos
Inicialmente, a história desperta nos-
nós?
sa sensibilidade solidária; todavia, numa
Em 1990, a ONU definiu que
análise mais cuidadosa, ela traz alguns
entraves e provoca uma indagação: a equiparação de oportunidades para
pessoas deficientes deverá ser a prio-
onde está o desafio? Na perspectiva de ridade na formulação de ações de lon-
Luca: certamente no impedimento – go prazo, visando uma sociedade para
ou seja, na escadaria. Na perspectiva todos4.
das crianças: em ajudar o amigo a
chegar onde ele quer – ou seja, na a- Nestes termos, incapacidade passa a
ção solidária de carregar a pessoa com ser vista como um problema de toda a
deficiência2. sociedade e, por conseguinte, a equipa-
Esta história traz uma boa intenção ração de oportunidades é uma exigência
(solidariedade); todavia, ela também traz ética universal. Trata-se do “modelo
subjacentes antigas visões (clínica- social de deficiência”5. Portanto, o desafio
terapêutica e assistencialista-caritativa) e está na construção de espaços acessíveis
antigas soluções (carregar a cadeira de a todas as pessoas e no conseqüente
rodas) que não dão visibilidade às pesso- rompimento de barreiras (físicas, comu-
as com deficiência (sua dignidade e seus nicacionais ou atitudinais) socialmente
direitos como cidadãs). impostas às pessoas com deficiência.

1
Órgão Oficial da Igreja Metodista, editado mensal-
mente sob a responsabilidade do Colégio Episcopal.
2
Fizemos opção pela utilização do termo pessoa com
deficiência, em consonância com a proposta dos
movimentos de pessoas com deficiência que “que-
rem ser chamadas de ‘pessoas com deficiência’ em
todos os idiomas” no sentido de dar visibilidade às
pessoas que compõe este grupo social, bem como 3
WERNECK, Cláudia. Ninguém mais vai ser bonzinho,
às barreiras que lhes são impostas socialmente. na sociedade inclusiva. Rio de Janeiro: WVA Edito-
SASSAKI, Romeu Kazumi. Como chamar as pessoas ra, 2000, p.43.
que têm deficiência. Disponível na Internet: 4
<www.google.com/search?q=Romeu+Sassaki&hl=p Ibidem, p. 43.
5
t-BR&lr=&rls=WZPA,WZPA:2005- SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: o paradigma do
28,WZPA:en&start=20&sa=N>. Acesso em: 16 século 21, Inclusão: Revista da Educação Especial,
julho de 2005. v.1, n. 1, out. 2005, p. 20.

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Em busca de As objetivações sociais, impostas pela

novos olhares e sociedade às pessoas com deficiência,


legitimam falácias, tais como: a pessoa
novos caminhos...
com deficiência é fraca e infeliz, a pessoa
com deficiência não é inteligente e eficaz,
Gradativamente, estamos começando
a mostrar que, por trás de um defici- a pessoa com deficiência não tem capaci-
ente há sempre uma pessoa que quer dade para viver em sociedade e exercer
estar entre nós, que quer ser um sua cidadania, a pessoa com deficiência é
membro ativo na nossa sociedade e
que quer desfrutar da vida, como to- uma pessoa eternamente dependente e
dos nós. E isto não é uma questão de infantilizada, a pessoa com deficiência
caridade. É, acima de tudo, um direito
não pode exercer sua sexualidade, etc.
a ser respeitado 6.
Além de contribuir de forma subja-
A sociedade ocidental foca a realidade cente para este processo (força simbólica
a partir da perspectiva classificatória e de uma antropologia teológica dicotômi-
seletiva (pensamento cartesiano); por ca8 e hierárquica), os discursos teológicos
conseguinte, estamos imersos em falá- e as práticas eclesiais estão marcados por
cias dicotômicas que legitimam a incapa- metáforas que afirmam a realidade das
cidade de uns em função da capacidade pessoas com deficiência em formas des-
de outros. Todavia, Assmann nos adverte qualificadas de ser e viver: o cego como
para o único real plenamente afirmável: sinônimo de perdido, surdo como sinôni-
o de que somos corporeidades imersas mo de desobediente, deficiência física,
em relações sociais de construção de como sinônimo de vida desregrada e falta
significações/sentidos para o viável (e
de fé, etc. E ainda, insistem na deficiên-
até para o inviável!)7.
cia como punição ou na impossibilidade
Nestes termos, podemos perguntar das pessoas com deficiência serem pro-
pela “corporeidade das pessoas com tagonistas de suas vidas. Como podemos
deficiência” e pelas “relações sociais de romper e desvelar estas falácias? Prova-
construção de significações/sentidos para velmente, daremos o primeiro passo
o viável (e até para o inviável)” nas quais neste sentido quando nos despirmos dos
elas estão imersas. Quais são as falácias preconceitos (alimentados pelas falácias
postas pelas “significações sociais” cons- cartesianas) e enxergarmos a diversidade
truídas em relação às pessoas com defici-
ência? De quais verdades precisamos nos
despir para considerar e respeitar a cor-
8
“Para a Bíblia o homem é uma unidade, é aquele ser
poreidade das mesmas?
concreto que se apresenta no seu corpo. Este corpo
é também espírito, alma vivente, pensamento. O
problema nasceu quando alguns cristãos entraram
em contato com o pensamento grego e as religiões
orientais que fermentavam no mundo grego con-
temporâneo das origens cristãs. Desde então e até
a idade moderna, a teologia cristã – não as comu-
6 nidades cristãs – teve que resolver o problema de
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Ser ou estar: eis a como enunciar uma concepção unitária do homem
questão, explicando o déficit intelectual. Rio de com conceitos tirados do dualismo grego. De fato
Janeiro: WVA, 1997. p. 170. quase nunca os teólogos cristãos conseguiram dar
7
ASSMANN, Hugo. Paradigmas educacionais e corpo- uma solução a tal problema”. COMBLIN, José. An-
reidade. Piracicaba: UNIMEP, 1994, p. 138. tropologia cristã. Petrópolis: Vozes, 1985, p. 80

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humana – aprofundando os aspectos dequado, apesar de ser um estágio de
uma jornada assumida pelas próprias
comuns entre corporeidades diferentes,
pessoas com deficiência? A linguagem
sem ocultar as diferenças que compõem da diversidade não seria mais ade-
a sociedade humana. quada? Não seria a deficiência algo
que Deus mesmo criou a fim de cons-
No momento em que pudermos res-
truir um mundo mais diversificado,
peitar e considerar a condição humana plural e rico? Não seria a deficiência
das pessoas com deficiência, em sua um presente de Deus ao invés de
uma condição limitadora que algumas
complexidade9, poderemos incluir, em
pessoas precisam suportar?11
nossa percepção do “ser” humano, novas
categorias, tais como: ser cego, ser sur- Se não reconhecermos a corporeidade

do, ser surdo-cego, ser paraplégico, ser humana em suas mais diferentes formas,

tetraplégico, ser autista etc. E, mais que não seremos capazes de construir espa-

isso, poderemos dar visibilidade à vulne- ços sociais acessíveis a todas as pessoas.

rabilidade 10
humana com todos os seus Retomando a história de Luca, continua-

desafios postos, onde fraqueza, dor, remos a construir igrejas com enormes

medo, erro, instabilidade, incapacidade escadarias, sem considerar a importância

etc. poderão também ser categorias que dos encontros entre todas as pessoas

nos ensinam a ser, viver e aprender. para o reconhecimento de nossa comum

Nesse sentido, o Conselho Mundial de condição humana.

Igrejas construiu um documento que faz Infelizmente, na maioria dos espaços

algumas perguntas bastante pertinentes: eclesiais, repete-se, justifica-se e, desta


forma, se fortalece a discriminação pela
A deficiência é realmente algo que, de
limitação. Nos termos do CMI, as “pesso-
fato, mostra a fraqueza na vida hu-
mana? É esta uma interpretação limi- as com deficiência não conseguem rela-
tadora e opressiva? Não seria melhor cionar-se com outras pessoas das Igrejas
se adotar uma interpretação diferente
no mesmo nível, pois são, de alguma
e mais radical? A deficiência é real-
mente algo limitador? Enfatizar a de- forma, encaradas como inferiores e não
ficiência como sendo uma perda é a- como plenamente humanas”12. A solução
encontrada para superar a discriminação
está na introdução da categoria diversi-
9
“Complexus significa o que foi tecido junto; de fato, dade na fala teológica, pois, em algumas
há complexidade quando elementos diferentes são igrejas, as “ações relacionadas a pessoas
inseparáveis constitutivos do todo (como o econô-
mico, o político, o sociológico, o psicológico, o afeti- com deficiência transformaram-se de
vo, o mitológico), e há um tecido interdependente,
interativo e inter-retroativo entre o objeto de co- atos de ‘caridade’ em reconhecimento
nhecimento e seu contexto, as partes e o todo, o
todo e as partes, as partes entre si. Por isso, a
dos seus direitos como seres humanos”13.
complexidade é a união entre a unidade e a multi- Nesse sentido, aponta-se a cristologia
plicidade. Os desenvolvimentos próprios à nossa
era planetária nos confrontam cada vez mais e de
maneira cada vez mais inelutável com os desafios
da complexidade”. O holograma é utilizado como a
metáfora do pensamento complexo. ASSMANN, 11
Hugo & SUNG, Sung Mo. Competência e Sensibili- CMI. Uma igreja de todos e para todos: uma
dade Solidária: educar para a esperança, p. 162. declaração teológica provisória. CMI. São Paulo:
10
STALSETT, Sturla. Vulnerabilidad, dignidad y ASTE, 2005. p. 13.
12
justicia: valores éticos fundamentales en un mundo CMI. Uma igreja de todos e para todos: uma
globalizado. Disponível em: <www.dei-cr.org>. declaração teológica provisória, p. 12.
Acesso em: 16 de setembro de 2005.

Revista Caminhando v. 11, n. 18, p. 151-164 jul–dez 2006 147


como a porta de entrada para constru- pode pretender estar na imagem de
Deus. Sem o insight daquelas pessoas
ções teológicas inclusivas: Jesus Cristo
que têm a experiência com deficiência,
respeita e acolhe a todos, sem fazer alguns dos mais profundos e singulares
acepção de pessoas. Cristo acolhe toda a elementos da teologia cristã facilmente
se deturpariam ou perderiam16.
condição humana, inclusive sua vulnera-
bilidade. Moltmann17, por sua vez, nos adverte
que o encontro e o reconhecimento do
Se Cristo é a verdadeira imagem de
Deus, deve-se fazer perguntas radi- outro é uma das formas de superação do
cais sobre a natureza do Deus que es- medo e do rechaço em relação às pesso-
tá sendo projetado. No centro da teo-
as com deficiência e, por conseguinte, o
logia cristã existe uma crítica ao su-
cesso, ao poder e à perfeição, e uma caminho para a construção de uma co-
dignificação da fraqueza, imperfeição munidade inclusiva. Na perspectiva deste
e vulnerabilidade14.
teólogo, o ser humano constitui-se como
Assim, devem ser superadas as tradi- pessoa mediante o encontro com o outro
cionais interpretações15 da deficiência e somente o encontro das pessoas, em
pela Igreja, tais como: punição de peca- sua condição humana, poderá quebrar
dos cometidos pela pessoa ou pela família este círculo de medo, rechaço, discrimi-
em gerações anteriores; um sinal de falta nação e exclusão.
de fé que impede que Deus opere a cura; As experiências de inclusão nos diver-
uma manifestação demoníaca, sendo sos espaços sociais realmente têm de-
necessário o exorcismo para superar a monstrado que o medo do encontro so-
deficiência, etc. – Tais práticas não digni- mente desaparece no ato de encontrar.
ficam a pessoa humana, mas oprimem e Quando passamos a conviver com as
desqualificam a pessoa com deficiência pessoas com deficiência, nós descobrimos
para a convivência social em iguais con- quem realmente é esta pessoa – nosso
dições de direito. A declaração, então, olhar converte-se da deficiência para a
defende que: nossa comum condição humana, no sen-
tido da percepção de que todos nós te-
1) A teologia cristã deve interpretar a
imago Dei de um ponto de vista cristo- mos deficiências e habilidades.
lógico e soteriológico (a salvação do A convivência, portanto, possibilita o
mundo por Cristo), que indique para
além das costumeiras perspectivas cri-
rompimento de preconceitos e estigmas,
acionistas e antropológicas; 2) a teolo- o que contribuirá para a minimização das
gia cristã deve assumir uma perspecti- objetivações sociais impostas às pessoas
va inclusiva e não elitista do corpo de
Cristo como paradigma para entender com deficiência. Na relação pessoa a
a imago Dei; 3) sem a total incorpora-
ção de pessoas que possam contribuir
com sua experiência de deficiência, a
igreja carecerá da glória de Deus e não

16
Ibidem, p. 16.
17
MOLTMANN, Jürgen. Diaconia en el horizonte del
13 Reino de Dios: hacia el diaconado de todos los cre-
Ibidem, p. 13.
14 yentes. Guevara: Sal Terrae, 1987. Texto original
Ibidem, p. 15. em alemão, 1984. Importa considerar que 1981 foi
15
Ibidem, p. 12. o Ano Internacional da Pessoa com Deficiência.

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pessoa, as sujeiticidades18 se constroem Uma teologia inclusiva exige novas
– nelas não há espaço para as objetiva- categorias epistemológicas. Categorias
ções ou hierarquizações das diferenças como complexidade, diversidade e vulne-
ou deficiências. Ou seja, é o reconheci- rabilidade contribuem para o desenvolvi-
mento da complexa condição humana de mento da sensibilidade solidária e do
todos nós – seja como fracos ou fortes, respeito à dignidade humana. Nesse
ou as duas coisas ao mesmo tempo – que sentido, é possível ampliar o olhar e a
possibilitará a construção de uma comu- sensibilidade humana diante da realidade
nidade para todos (nos termos do para- e abrir as portas teológicas para a consi-
digma da inclusão). deração de uma diversidade de saberes
A reconciliação com a condição hu- ainda não considerados.
mana é, a nosso ver, uma das vias de Os saberes, diferentemente sábios20,
recuperação da função religiosa no mun- ainda estão em construção. Portanto, nos
do contemporâneo. O cristianismo tem, permitem deixar muitas perguntas aber-
nos termos do campo religioso, como tas para o percurso que ainda se abre
papel profético elevar o padrão humano (processo histórico), a cada novo dia, às
da sociedade contemporânea. Especial- comunidades cristãs e aos discursos
mente em relação às pessoas com defici- teológicos. Quais são os saberes que as
ência, a teologia pode contribuir no senti- pessoas com deficiência têm sobre Deus?
do da re-significação da dignidade huma- Como elas se relacionam com Deus a
na como um atributo de todas as pesso- partir de suas experiências? Como reco-
as, em que a dignidade original de todos nhecer a perfeição da criação em meio às
converte-se em direito humano. limitações e potencialidades de uma
A teologia, portanto, pode contribuir corporeidade diferente? Poderíamos,
no sentido de uma antropologia que ainda, fazer um exercício de sensibiliza-
construa, e não diminua, o ser humano ção e imaginar:
em função de suas deficiências. Enfim, Como é ser e viver, como cego,
uma antropologia que reconheça a vulne- numa comunidade cristã onde se fala
rabilidade e interdependência19 humana. o tempo todo em visão e em luz...
Trata-se, evidentemente, de uma conver-
Como é ser e viver, como surdo,
são, a conversão do olhar classificatório
numa comunidade cristã onde ape-
(seletivo e excludente) em olhar relacio-
nas se fala ou se canta, como se o
nal, que permite visualizar a condição
mundo fosse feito apenas de sons...
humana em toda a sua diversidade e
complexidade. Como é ser e viver, com déficit cog-
nitivo, numa comunidade cristã que
fala de Deus somente com confissões
racionais...
18
SUNG, Jung Mo. Sujeito e sociedades complexas:
para repensar os horizontes históricos, Petrópolis:
Vozes, 2002.
19
ASSMANN, Hugo & SUNG, Jung Mo. Competência e
20
sensibilidade solidária: educar para a esperança. SANTOS, Boaventura de Sousa. O Fórum social
Petrópolis: Vozes, 2000. Mundial: manual de uso. São Paulo: Cortez, 2005.

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Como é ser e viver, com deficiência
física, numa comunidade cristã que
conhece apenas um jeito de cami-
nhar e de chegar...
Nos vemos, portanto, diante dos de-
safios postos por novos caminhos... Ca-
minhos inclusivos.

150 Elisabete C. C. RENDERS. As pessoas com deficiência...

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