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Hefesto capaz: do mito aos direitos da


pessoa com deficiência

HILDA HELENA SOARES BENTES


Doutora em Filosofia do Direito (PUC-SP). Professora Adjunta (UCP). Líder do
Grupo de Pesquisa Fundamentos da Justiça e dos Direitos Humanos (CNPq).

Artigo recebido em 19/11/2012 e aprovado em 27/04/2015.

SUMÁRIO: 1 Introdução 2 Plano da identidade mítica 3 Plano do suporte teórico 4 Plano do


reconhecimento jurídico 5 Conclusão 6 Referências.

RESUMO: Analisa-se, neste artigo, a constituição de um sujeito do direito capaz de


respeito e estima, por meio do conceito de capacidade elaborado por Paul Ricoeur a ser
aplicado à pessoa com deficiência. Avalia-se o homem capaz, emancipado, que advém
da dimensão moral, suscetível de imputação ético-jurídica, conforme expõe Ricoeur
no percurso conceitual da hermenêutica da pessoa. A seguir, faz-se uma articulação
entre o plano teórico e a referência mítica de Hefesto, deus grego caracterizado pela
deformidade e pelas qualidades artísticas. Busca-se, na sequência, uma visão mais
alargada do conteúdo do Direito e conclui-se, no plano do reconhecimento jurídico,
pelo catálogo de direitos consagrados ao deficiente físico e pelo estado de vigilância
necessário para a construção de uma sociedade solidária. Utiliza-se, na abordagem,
um método descritivo e conceitual, com aplicabilidade na práxis jurídica.

PALAVRAS-CHAVE: Mito Sujeito do Direito Capacidade Pessoa com Deficiência.

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Hephaestus capable: from the myth to the rights of people with disabilities

CONTENTS: 1 Introduction 2 The mythical identity level 3 Theoretical support level 4 Juridical
recognition level 5 Conclusion 6 References.

ABSTRACT: This article analyzes the constitution of a subject capable of respect and
esteem through the concepts of capacity elaborated by Paul Ricoeur and applied to
people with disabilities. It evaluates the capable and emancipated subject, emerging
from the moral dimension of the self, susceptible of ethical and juridical imputation,
as explained by Ricoeur in the conceptual course of the hermeneutics of the person.
Then, a connection between the theoretical level and the mythical reference of
Hephaestus – the Greek god characterized by his disability and artistic qualities
– is established. The purpose of the work is to develop a broader conception of
Law. The final approach is the level of recognition of the rights attributed to the
disabled people and the state of surveillance necessary to the construction of a
society based on solidarity. A conceptual approach, with application on the juridical
praxis, is employed in the work.

KEYWORDS: Myth Subject of Right Capacity Disabled People.

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Héphaïstos capable: du mythe aux droits des personnes

SOMMAIRE: 1 Introduction 2 Plan d’lidentité mythique 3 Plan de référence théorique 4 Plan


de reconnaissance juridique 5 Conclusion 6 Références.

RÉSUMÉ: Cet article analyse la constitution d’un sujet de droit capable de respect
et d’estime, par la notion de capacité développée par Paul Ricoeur à appliquer à la
personne handicapée. L’homme capable et émancipé, qui découle de la dimension
morale, susceptible d’imputation éthique et juridique, exposé par Ricoeur dans le
parcours herméneutique conceptuelle de la personne. Voici une articulation parmi
le plan théorique et la référence mythique d’Héphaïstos, un Dieu Grec caractérisé
par la déformation et des qualités artistiques. Dans la séquence, on cherche une
vision plus large du contenu de la loi et, en termes de reconaissance juridique,
le catalogues des droits des personnes handicapées et de l’état de surveillance
nécessaire à la construction la construction d’une société solidaire. Il est utilisé
une méthode descriptive et conceptuelle, avec la possibilité d’application dans le
domaine de la praxis juridique.

MOTS-CLÉS: Mythe Sujet de Droit Capacité Personne Handicapée.

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1 Introdução

P retende-se fazer uma reflexão acerca da pessoa com deficiência como modelo
de sujeito do direito, detentora de plena capacidade no plano moral, existencial
e jurídico.Como elemento inspirador para a análise, recorre-se à figura mítica de
Hefesto, o deus ferreiro, que ostenta, simultaneamente, uma deformidade física e um
dom inigualável para forjar obras de arte. Tal evocação foi utilizada como mecanismo
para se estabelecer uma articulação significativa entre o plano mítico-literário e o
direito, com vista a capturar densidades teóricas mais consistentes.
A primeira parte deste artigo será destinada a decifrar o mito de Hefesto e a
apontar as ligações pertinentes para o tema proposto. A seguir, o aporte teórico
será apresentado, especialmente calcado no conceito de sujeito capaz delineado por
Paul Ricoeur (2008, p. 22-25; 2006, p. 105-122). Cuida-se de seguir um percurso
conceitual instigante e construído sobre um amplo espectro de referências filosóficas.
O fecundo trajeto filosófico de Ricoeur possibilita a abertura de indagações
profundas no campo ético e jurídico, que convergem para uma análise percuciente
na constituição do sujeito plenamente cônscio de seus direitos e deveres.
Após essas indagações preliminares, a terceira parte será reservada para
apresentar o plano de reconhecimento jurídico para o deficiente físico. Após percorrer
o nível mítico e o balizamento teórico adequado, parte-se para a inscrição dos direitos
consagrados na Constituição (BRASIL, 1988) e em outros dispositivos legais.
A metodologia será fundamentalmente interdisciplinar, pois a ligação entre
campos de saber diferentes propicia o alargamento da visão do estudioso do
Direito, não restrita aos dogmas já consagrados. Busca-se uma leitura do tema
eminentemente teórica, com ressonância na práxis jurídica na medida em que irá
desembocar no nível de identificação jurídica. No presente estudo, o plano mítico
serve para suscitar reflexões a respeito da trajetória da pessoa com deficiência, que
deve ser reconhecida não simplesmente porque detém qualidades extraordinárias,
mas, simplesmente, enquanto ser humano.
Trata-se, essencialmente, de acompanhar Paul Ricoeur na narração filosófico-
hermenêutica urdida na busca de subsídios para a composição da história marcada
por aviltantes rebaixamentos a que a pessoa portadora de deficiência é submetida.
O caminho é encontrar fundamentos teóricos que expliquem e resgatem a dignidade
da pessoa humana na sua condição elementar de poder narrar a sua história.
Reabilita-se, com Ricoeur (2008, p. 22-25), o sentido ético da existência, o sujeito
capaz de direito, como forma de banir todas as formas de exclusão do homem.

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2 Plano da identidade mítica


Ele [Zeus] da própria cabeça gerou a de olhos glaucos \ Atena terrível
estrondante guerreira infatigável \ soberana a quem apraz fragor, combate
e batalha. \ Hera por raiva e por desafio a seu esposo \ não unida em amor
gerou o ínclito Hefesto \ nas artes brilho à parte de toda a raça do Céu.
(HESÍODO, 1995, v. 924-929, p. 157)1.

A narração de Hesíodo sobre o nascimento de Hefesto (Héphaistos) na Teogonia:


a origem dos deuses (1995), em epígrafe, apresenta alguns questionamentos
relevantes: em primeiro lugar, ela aparece dentro do relato da linhagem de Zeus,
ou seja, de seu génos (grupo, família, tribo a que pertence o indivíduo, nascimento)2;
Zeus, deus vitorioso e poligâmico, é gerador de enorme prole, por vezes produzida
por expedientes não naturais. Na epígrafe verifica-se o nascimento de Atena,
ocorrido na cabeça do deus Olímpio (VERNANT, 2000, p. 40-41); e Hefesto, fruto
do desatino de Hera, é gerado de forma artificial por força do ciúme desmedido da
última esposa de Zeus.
Assim nasce Hefesto na Teogonia, inextricavelmente associado à deusa Atena.
Dessa união surgirá um significado surpreendente: a ligação entre a inteligência,
representada por Atena, e o extraordinário engenho do artífice Hefesto, deus do fogo.
Cuida-se da combinação entre inteligência e arte, tão enaltecida e cultivada pelo
espírito helênico. Ambos irão compartilhar essas características e serão cultuados
pelos gregos em templo construído em homenagem a Palas Atena na Acrópole.
No entanto, o nascimento de Hefesto suscita uma série de controvérsias.
O relato hesiódico mostra, em outra passagem, o deus defeituoso fisicamente,

1 Pretende-se estabelecer, na escolha do título, uma despretensiosa associação da articulação feita aqui
– entre a deformação física de Hefesto e a sua superação por meio da extraordinária capacidade artística,
convertida no presente texto pela afirmação dos direitos atribuídos aos deficientes físicos – com o livro
de Jon Elster denominado Ulisses liberto: estudos sobre racionalidade, pré-compromisso e restrições (2009).
Como se verá ao longo da exposição, trata-se de alcançar o nível desejável de capacidade como sujeito
de direito, que possibilite ao deficiente físico atingir o grau de inserção igualitária almejado. Portanto, a
semelhança reside apenas no nível de construção sintática da frase, e não no conteúdo da obra citada.

2 Na parte introdutória da tradução para o português da Teogonia: a origem dos deuses, Jaa Torrano (1995)
oferece um estudo sobre o complexo universo mítico onde habitam os deuses imemoriais. O autor e
tradutor explica que “a palavra génos liga-se etimológica e semanticamente ao verbo gígnomai, que diz
nascer e também tornar-se ou devir, portanto em génos há a ideia de nascer e de tornar-se conforme as
determinações do nascimento; mas o substantivo génos designa um grupo de indivíduos ligados entre si
por laços de nascimento e pela comunhão de uma natureza dada por nascimento, natureza essa que os
constitui mais decisivamente que qualquer outro fator” (HESÍODO, 1995, p. 78).

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compondo uma antítese das majestosas obras de arte que fabrica; “[...] plasmou-o
[um mal] da terra o ínclito Pés-tortos como virgem pudente, por desígnios do
Cronida [...]” (1995, vv. 571-572, p. 137, grifos nossos), trecho que retrata a
modelagem da primeira mulher, o ardil chamado Pandora (VERNANT, 2000, p.
68-71). A ênfase no defeito físico é marcada por contradições, sobretudo narradas
nas epopeias homéricas.
Encontram-se, primeiramente, as versões constantes da Ilíada: Hefesto, ao
defender Hera da fúria de Zeus, torna-se aleijado em virtude de ter sido arremessado
do Olimpo e rolado por um dia até alcançar a Ilha de Lemno, sendo acolhido
pelos Síntios (2004a, Canto I, v. 590-594, p. 74); na mesma narrativa registra-se
que Hefesto teria sido atirado do alto Olimpo pela própria mãe ao constatar a
deformidade física do filho. O deus do jogo revive com clareza o infortúnio pelo
qual passou Tétis, deidade que o recolhe, junto com Eurínome, e o oculta numa gruta
por nove anos, onde o engenhoso ferreiro inicia-se no ofício de ourives (HOMERO,
2004a, Canto XVIII, v. 395-402, p. 422-423).
Percebe-se o caminho tortuoso palmilhado por Hefesto. Os epítetos a ele
relacionados ─ coxo, disforme, mutilado, pés-tortos ─ evidenciam a triste sina de
exclusão que vivenciam as pessoas com deficiências físicas. A mãe renega-o ─ “[...]
pretendia de mim livrar-se, tão-só! Por ser coxo!” (HOMERO, 2004a, Canto XVIII, v.
396-397, p. 423): brado indignado de não reconhecimento da anormalidade que o
caracteriza. Nesse sentido, o relato mítico traduz a ideia de exclusão perpetrada, ou
seja, consuma-se a expulsão do disforme do mundo ordenado segundo padrões de
beleza e bravura, e lança-o ao mundo dos seres imperfeitos (TORRANO, 1995, p. 57-58).
Na Odisséia temos a passagem em que Homero descreve, por pares antitéticos,
a oposição entre Hefesto e Ares, na cena em que o engenhoso ferreiro prepara
a armadilha para os amantes; Afrodite, sua mulher, o trai ostensivamente com o
deus da guerra, levando o fabro a enlaçá-los em cadeias indestrutíveis no leito de
amor, sob o olhar incomplacente dos deuses presentes. Observe-se o sentimento de
inferioridade que Hefesto experimenta ao comparar-se com Ares:

A filha de Zeus, Afrodite, não cessa \ de desonrar-me com Ares nocivo, por
ser coxo. \ Ares nocivo ela tem afeição, por ser belo e bem-feito; \ Eu, nasci
coxo e mal feito; mas culpa não tenho tanto; \ Sim, meus pais; melhor fora
se nunca me houvessem gerado. (2004b, Canto VIII, v. 308-312, p. 144).

Releva notar que, a despeito da aparência repulsiva, Hefesto contrai núpcias


com belas deidades (Cáris, Aglaia, Afrodite), sendo Afrodite considerada a mais

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bela de todas as deusas. Alega-se que o pendor artístico do artesão divino o


levaria a escolher mulheres famosas pela formosura para compensar as suas
limitações físicas.
Além disso, como atestado no episódio da traição de Afrodite, Hefesto é
qualificado “coxo, de fato, mas hábil” (HOMERO, 2004b, Canto VIII, v. 332, p. 145),
o que significa que a habilidade artística do deus é reconhecida como deveras
surpreendente. Com efeito, o inventário de sua produção artística é extraordinário,
legado mítico de sua pujante criatividade e excelência técnica. Mencionem-se as
seguintes obras do deus das forjas: as preciosas jóias para Tétis, que o abrigou
generosamente; assim como o famoso escudo de Aquiles, esplendidamente descrito
na Ilíada em versos decantados (2004a, Canto XVIII, v. 468-491, p. 425); a criação da
primeira mulher, Pandora, citada na Teogonia; o trono de ouro presenteado a Hera,
no qual a deusa fica presa por um artifício do filho vingativo.
Destaca-se, igualmente, na mitologia de Hefesto, o poder de atar e de desatar,
normalmente associado a algum poder mágico: acorrenta Prometeu (ÉSQUILO, 1997)
e abre a cabeça de Zeus para que Atena pudesse nascer. De fato, as habilidades
de Hefesto, conjugadas com a sua claudicação, apontam para um ser dotado de
mecanismos naturais para preparar ardis insuspeitados, que criam uma atmosfera de
ilusionismo e de narração fantástica.
Diz Jean-Pierre Vernant que o fato de Hefesto ser caracterizado coxo indica mais
“[...] uma divergência na direção dos pés, um andar em duplo sentido, para frente e
para trás, ligado a seus poderes de mágico” (1999, p. 62). Acrescenta que os gregos
viam o andar circular, cadenciado, como próprio dos seres excepcionais; daí o modo
frenético com que o ferreiro divino circula na sua oficina, manuseando os foles com
destreza, como se estivesse girando em todas as direções (HOMERO, 2004a, Canto
XVIII, v. 370-380, p. 422; v. 410-416, p. 423). Conclui Vernant com precisão acerca
dos poderes sobrenaturais de Hefesto à luz da deformidade física:
[...] esses coxos extremos ─ esses coxos, azimutes completos,
poder-se-ia dizer ─ avançam e recuam indiferentemente ao fazer
a roda, semelhantes, pelo seu modo circular de locomoção, aos
tripés montados sobre rodinhas que a magia de Hefesto fabrica
(à semelhança do deus) para que esses autômatos animados se
desloquem tão à vontade para a frente quanto em sentido inverso
─ semelhantes, ainda a esses animais da ilha do Sol, cujo andar
rotatório, atestado por Iâmboulos, testemunha, entre outras
maravilhas, a superioridade dos insulares sobre o comum dos
mortais. (1999, p. 182).

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Importa sublinhar a relação existente entre Atena e Hefesto. Além dos laços
genealógicos que vinculam os deuses, existe o compartilhamento de ambos na direção
da edificação de uma pólis ─ Atenas ─ reconhecida pela arte e filosofia como modelos
fundantes da cultura humana. Platão, com efeito, no diálogo Protágoras (1980, p.
41-108) ao discorrer sobre o mito da criação do homem, apresenta Hefesto e Atena
no mesmo compartimento, tendo Prometeu roubado a sabedoria das artes e o fogo
(1980, p. 321d, e) para entregar aos homens. Em Crítias (1977, p. 113-135), diálogo
platônico sobre a origem da sociedade política e da constituição, descrevem-se Atena
e Hefesto comungando não somente o mesmo destino, mas também o propósito de
serem os transmissores das artes e da sabedoria, elementos indispensáveis para a
construção de uma organização política calcada na virtude. A passagem de Platão é
digna de nota:

Enquanto as outras divindades organizavam as respectivas regiões que a


sorte lhes designara, Hefesto e Atena, por terem a mesma natureza e em
parte provirem do mesmo pai, e também por se identificarem no amor da
filosofia, da ciência e das artes, havendo recebido em comum nossa região
como o lote mais indicado para os dois e naturalmente apropriado para a
sabedoria e a virtude, povoaram-na de varões autóctones e lhes ensinaram
a organização política. (1997, p. 109 c, d).

Eleitos para partilharem o comando de Atenas, Atena e Hefesto estimulam o


cultivo das artes e da filosofia com vistas a erigir uma pólis grandiosa pela beleza
e virtude. São os verdadeiros patronos dos ideais da Justiça, entendida como a
medida perfeita, entre os homens. Servem, assim, de inspiração para a busca de
uma sociedade política em que as desigualdades, especialmente as provenientes de
deformidades físicas, não constituam obstáculos para o florescimento de um sujeito
capaz de pleno direito.

3 Plano do suporte teórico


Convém considerar a constituição do juízo que comporta o reconhecimento de
um sujeito capaz, digno de estima e respeito. Seguindo o percurso de Paul Ricoeur
(1991, passim), o sujeito capaz provém da dimensão ética e moral do si-mesmo,
tornando o homem passível de imputação ético-jurídica, conforme se depreende
no texto Quem é o sujeito do direito?, da obra O justo 1. Para atingir o desiderato de
formação de um sujeito de pleno direito, Ricoeur põe ênfase na pergunta Quem?, a
qual irá engendrar questionamentos na direção da identificação do sujeito.

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Considerando essa primeira interrogação, passa-se para o conceito de sujeito


capaz. A noção de capacidade implica a condição de o indivíduo ser o autor de suas
ações, sendo-lhe atribuídos direitos e deveres oriundos desse poder-fazer (RICOEUR,
2008, p. 23), ou seja, da ação livre e consciente segundo seu juízo concebido pelo
agente. Ao enfatizar a pergunta Quem?, Ricoeur sublinha a possibilidade de o
homem poder denominar-se como autor de seus atos e de sua história. Essa marca
identificadora é imprescindível para a estruturação do núcleo do si (self, ipse) e das
imputações morais e jurídicas que condicionam o agir humano de forma inapelável,
obrigando o homem capaz a assumir as responsabilidades correspondentes, ou seja,
a constituir-se em homem responsável.
O entendimento de sujeito capaz desencadeado pela pergunta Quem?
amplifica-se para a construção verbal eu posso, em outros segmentos verbais a
ela relacionados: poder dizer, poder fazer, poder narrar e narrar-se. Observa-se uma
relação de complementariedade entre a pergunta Quem? e a locução eu posso, ponto
convergente da identificação do sujeito da fala, da ação e da narrativa. Busca-se a
autoria dos predicados do homem capaz, apto a construir as suas próprias enunciações
e, consequentemente, a sua identidade pessoal.
No tocante à trajetória percorrida pelo indivíduo no desenvolvimento da
identidade pessoal e da capacidade, Ricoeur denomina esse processo de hermenêutica
da pessoa (1996, p. 164), explicitando quatro estratos, que formam uma estrutura
ternária3: linguagem, ação, narrativa, vida ética, correspondentes às proposições “o
homem falante, o homem que age (e acrescentarei [Paul Ricoeur] o homem que sofre),
o homem narrador e personagem de sua narrativa de vida, finalmente o homem
responsável” (1996, p. 164, grifos do autor).
A análise, especialmente do homem falante e do homem narrador, institui uma
“gramática do eu posso” (2006, p. 109, grifos do autor), assim referida por Ricoeur
no delineamento dos níveis hermenêuticos da pessoa. A primeira camada – do
homem falante – é fundamental para a compreensão da presente temática, pois
coloca o homem como ser privilegiado, capaz de falar e criar o seu mundo e a sua
história. Ricoeur examina com profundidade a linguagem para obter subsídios para
a sua análise, mormente o estudo semântico e pragmático da linguagem. É nesse
contexto inicial do caminho hermenêutico da pessoa que o homem falante adquire
capacidade ao tornar-se “[...] locutor de se designar como enunciador único de suas
enunciações múltiplas” (2008, p. 26).

3 Termo usado por Ricoeur.

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Ricoeur, ao investigar quem é o sujeito do direito, não se restringe a formar


um sujeito voltado unicamente para o fortalecimento de sua identidade pessoal;
pari passu conduz a discussão para o plano de reconhecimento ético, momento em
que o outro é identificado, inobstante as diferenças pessoais, étnicas e culturais,
como uma pessoa digna de ser considerada. Analisando as implicações linguísticas
próprias a essa abordagem, Ricoeur destaca o papel de protagonista que o sujeito
capaz detém na narrativa de sua história, pessoal e política. Em Quem é o sujeito do
direito? Ricoeur amplia o horizonte das relações interpessoais para um plano cada
vez mais abrangente:

A mesma relação triádica eu/tu/terceiro é encontrada no plano que


distinguimos pela pergunta quem age?, quem é o autor da ação? A
capacidade de alguém se designar como autor de suas próprias ações está
de fato inserida num contexto de interação no qual o outro figura como meu
antagonista ou meu coadjuvante, em relações que oscilam entre o conflito
e a interação. Mas inúmeros outros estão implicados em toda empresa.
Cada agente está interligado a esses outros pela intermediação de sistemas
sociais de diversas ordens [...] (2008, p. 27, grifos do autor).

Põe-se em evidência a dimensão ética na constituição do homem capaz na


medida em que a estima de si realiza-se no intercâmbio com os outros. Ricoeur
denomina solicitude o movimento do si ao encontro do outro, anelo de reciprocidade
e reconhecimento. A visada para o outro como meu semelhante rompe com o ciclo
da desigualdade, que cava um fosso profundo entre os homens, os quais, guiados
pela vontade de poder absoluto, estabelecem critérios de diferenciação baseados
em falsas crenças e no desejo de sobrepujar os outros. Ricoeur afirma que

[...] a petição ética mais profunda é a da reciprocidade que institui o outro


como meu semelhante e eu mesmo como semelhante do outro [...] Um
outro semelhante a mim, este é o voto da ética no que diz respeito à
relação entre a estima de si e a solicitude. (1996, p. 165).

A estima de si conjugada com a solicitude serão complementadas com a concepção


de instituições justas. Dessa maneira, Ricoeur alarga o percurso inicial para abarcar,
nessa etapa de configuração do homem capaz, o horizonte do viver em instituições
justas, na medida em que “[...] o outro é aquele que está face a face, só que sem
rosto, o cada um de uma distribuição justa” (1996, p. 166, grifos do autor). Cada
qual é portador de direitos e deveres, compondo uma comunidade heterogênea de
pessoas que se associam não apenas pelos laços de amizade.

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Aflora a dimensão política em que Ricoeur sublinha a noção de reconhecimento


como elemento indispensável no convívio plural com os outros. E coloca a justiça
como o valor que deve predominar no espaço público, acompanhando, nesse aspecto,
as conclusões que John Rawls enuncia em Uma teoria de justiça (1997). A fórmula
cada qual pressupõe o sujeito digno de respeito, apto a deliberar e a ser estimado no
processo de distribuição da justiça (RICOEUR, 2008, p. 29-30).
Na breve exposição do caminho traçado por Paul Ricoeur para a modelagem do
sujeito capaz assoma o primeiro estrato da fenomenologia hermenêutica da pessoa,
ou seja, a aptidão de o homem ser capaz de locução, interlocução e linguagem,
que equivalem à tríade do ethos4: estima de si, solicitude e instituições justas. Com
efeito, o sujeito capaz fala, dirige-se ao outro observando a regra da reciprocidade,
mediante um código linguístico, em instituições justas balizadas em códigos éticos
(ideia de bem) e morais (obrigações) (2008, p. 24)5, todos unidos numa base fiduciária,
alicerce para a construção da autoestima e do autorrespeito. Ricoeur responde à
questão nuclear deste primeiro estágio da formação do sujeito capaz:

Por isso, pode-se perguntar: na qualidade de quê podemos nos estimar


ou respeitar? Primeiramente, por sermos capazes de nos designarmos
como locutores de nossas enunciações, agentes de nossas ações, heróis
e narradores das histórias que contamos sobre nós mesmos. A essas
capacidades se somam as que consistem em avaliar nossas ações em
termos de “bom” e “obrigatório”. Estimamo-nos como capazes de estimar
nossas próprias ações, respeitamo-nos por sermos capazes de julgar
imparcialmente nossas próprias ações. Assim, auto-estima e auto-respeito
dirigem-se reflexivamente a um sujeito capaz. (2008, 24-25).

A referência a Rawls, no que se refere ao critério de Justiça, é coerente, haja


vista que questões de filosofia moral fazem parte do debate contemporâneo sobre
Política, Direito e Justiça. De fato, o pensamento de Rawls parte do pressuposto
de que os agentes na posição originária são pessoas racionais, morais, capazes de
deliberarem e subscreverem o pacto político ancorado em princípios morais. Rawls
afirma que “uma concepção política de justiça é uma concepção moral” (2000, p.

4 De acordo com Henrique C. de Lima Vaz (1999, p. 13), o vocábulo grego ethos apresenta dois significados:
pode referir-se ao conjunto de costumes referentes a determinado grupo social ou à conduta de um
indivíduo tendo em vista os valores absorvidos pela sociedade.

5 É importante salientar que, no pensamento ricoeuriano, a Ética pertence à perspectiva teleológica,


guiada pelo desejo de conduzir uma vida boa; e a Moral à dimensão deontológica, prevalecendo a
obediência à norma, à obrigação (RICOEUR, 2008, p. 9-20).

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203), alicerce da democracia constitucional. Essa premissa credencia os sujeitos


para um debate político razoável, guiado pelo senso de justiça e pela concepção do
bem (RAWLS, 2000, p. 216).
Paul Ricoeur compartilha igualmente a ideia de formação de um sujeito
plenamente habilitado a desempenhar o seu papel na sociedade, ou seja, a exercer
a cidadania, como condição para o aperfeiçoamento completo de seu intelecto e de
sua vocação para a política. Ser reconhecido e, da mesma forma, reconhecer o outro,
o igual, o diferente, aquilo que é de cada qual. Ser justo na esfera pessoal, social
e política, alcançando o nível de humanidade que o tornará digno de estima e de
respeito. Ricoeur assinala que

Sem a mediação institucional, o indivíduo é apenas um esboço de homem;


para sua realização humana é necessário que ele pertença a um corpo
político; nesse sentido, essa pertença não é passível de revogação. Ao
contrário. O cidadão oriundo dessa mediação institucional só pode querer
que todos os humanos gozem como ele essa mediação política que,
somando-se às condições necessárias pertinentes a uma antropologia
filosófica, se torna uma condição suficiente de transição do homem capaz
ao cidadão real. (2008, p. 31, grifos do autor).

A mediação institucional é o estágio em que os homens compartilham os bens


materiais e relacionam-se segundo princípios éticos e morais. Constitui passagem
obrigatória para o florescimento do homem e de suas potencialidades cognitivas,
emocionais e políticas. O mito da comunhão entre Atena e Hefesto, narrado em textos
míticos e filosóficos, é revisitado na análise do percurso ricoeuriano de constituição
de um sujeito de direito capaz: por meio das artes e da filosofia o homem terá a seu
alcance as ferramentas necessárias para superar os estados assimétricos decorrentes
da falta de reconhecimento e forjar, ao revés, uma sociedade eticamente alicerçada
na justiça. É essa modelagem de sujeito de direito que ressurge no limiar do século
XXI, constituindo-se em obra a ser delineada como um compromisso ético e político
para a plena realização dos Direitos do Homem.

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364 Hefesto capaz: do mito aos direitos da pessoa com deficiência

4 Plano do reconhecimento jurídico


A abordagem mítica, em particular de Hefesto, não se restringe apenas a
articular a estrutura mitológica com a temática da pessoa com deficiência6 de forma
meramente ilustrativa. Vale dizer, a condição de Hefesto ser deformado fisicamente
e ter sido inferiorizado em decorrência da incapacidade física, conforme visto na
primeira parte, não constitui razão suficiente para estabelecer a correlação entre
o relato mítico e o plano de reconhecimento dos direitos. Na verdade, trata-se,
inicialmente, de um dado externo que serve de referência para a discussão, mas
que evolui para considerações mais profundas. Assim, Hefesto simboliza, sobretudo,
o deus ferreiro, cujo engenho o faz um artista de qualidades extraordinárias. É esse
fazer com desvelo, persistente e vigoroso, que torna a sua figura mítica exemplar,
apropriada para representar a luta em favor da modelagem de um sujeito de pleno
direito, no caso estudado dos deficientes físicos.
Seguindo, igualmente, a esteira do pensamento de Ricoeur, o enfoque
interdisciplinar adotado privilegia a conexão entre o direito e as demais áreas
do conhecimento, em especial a filosofia e a literatura, como forma de explorar
com mais densidade teórica a problemática jurídica dos portadores de deficiência
física. Esse enfoque rejeita, assim, qualquer visão linear, que aniquila as tensões
existentes no campo das ideias, de onde a recusa a uma interpretação dominante.
Nesse sentido, a baliza teórica trazida mostra-se apropriada, pois, consoante analisa
Olivier Abel, “Ricoeur recusa o todo-político, o todo-económico, como também o
todo-ético, o todo-jurídico, etc. O que interessa são as intersecções [...]” (1997, p. 36,
grifos nossos).
Partindo de um olhar atento às combinações de ideias, constata-se que o
mito de Hefesto é revelador do aspecto discriminatório que domina a abordagem
da condição do deficiente físico, tradicionalmente marginalizado e submetido a
gravíssimas limitações7. Percebe-se, todavia, que o trabalho ardoroso de Hefesto
compensa suas deficiências físicas e torna-o plenamente capaz de confeccionar obras

6 Cabe esclarecer que o presente tópico não pretende esgotar completamente o aspecto jurídico da
pessoa com deficiência, mas apresentar tão somente os principais diplomas legais assecuratórios dos
direitos dessas pessoas, objetivando exemplificar o nível de reconhecimento jurídico.

7 Mencione-se a passagem em que Regina Quaresma, ao discorrer sobre a pessoa portadora de


necessidades especiais (2008, p. 925), faz referência a personagens históricos, com deficiências, que
acabaram notabilizando-se pelo talento e pela inteligência a despeito das limitações físicas que tiveram
que enfrentar. Hefesto representa mais uma figura a compor este painel ilustrativo.

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Hilda Helena Soares Bentes 365

de arte de qualidade insuperável. Ressalve-se, entretanto, que a visão da pessoa


com deficiência considerada apenas pelas suas virtudes artísticas, intelectuais e
esportivas seve ser superada por um enfoque em que ela seja considerada sem
discriminação, pelo simples fato de ser um ser humano, portanto titular de direitos.
Transportando o mito para o contexto do reconhecimento de direitos, sabe-se
que a pessoa com deficiência vem conquistando um catálogo expressivo de direitos
no plano internacional, assim como no direito interno.
Cuida-se, indubitavelmente, de um longo processo de reconhecimento de
direitos voltado para conferir estabilidade a uma categoria de pessoas que vive
em permanente estado de vulnerabilidade. Constata-se um árduo trabalho de
consolidação de direitos universalmente aceitos como razoáveis e que expressam
a consciência ética coletiva da necessidade de dar proteção aos direitos do homem,
como bem dispõe Fábio Konder Comparato:

É irrecusável, por conseguinte, encontrar um fundamento para a vigência


dos direitos humanos além da organização estatal. Esse fundamento, em
última instância, só pode ser a consciência ética coletiva, a convicção, longa
e largamente estabelecida na comunidade, de que a dignidade da condição
humana exige o respeito a certos valores em qualquer circunstância,
ainda que não reconhecidos no ordenamento estatal, ou em documentos
normativos internacionais. Ora, essa consciência ética coletiva, [...], vem se
expandindo e aprofundando no curso da História. (2007, p. 60).

É forçoso admitir que a pessoa com deficiência, dependendo do grau de


incapacidade, tem suas chances diminuídas na sociedade devido ao alto grau
de competitividade reinante entre os homens e às dificuldades de locomoção.
Instaura-se uma inquestionável desigualdade inicial, que ameaça a sua inclusão
na vida na comunidade em que vive. Surge, destarte, a necessidade de um rol de
direitos atribuídos ao deficiente físico como medida compensatória de resgatar
a autoestima e da possibilidade de alcançar o ponto de equilíbrio rompido em
função da debilidade física. Por conseguinte, o direito moderno contempla uma
série de conquista no que tange aos direitos da pessoa com deficiência. A legislação
apropriada aos deficientes encontra plena justificativa em virtude das necessidades
especiais que devem ser garantidas para essas pessoas. Com fulcro em Celso
Antônio Bandeira de Mello, o princípio da igualdade, não fica vulnerado, pois

[...] as discriminações são recebidas como compatíveis com a cláusula


igualitária apenas e tão-somente quando existe um vínculo de correlação
lógica entre a peculiaridade diferencial acolhida por residente no objeto,

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366 Hefesto capaz: do mito aos direitos da pessoa com deficiência

e a desigualdade de tratamento em função dela conferida, desde que tal


correlação não seja incompatível com interesses prestigiados na Constituição.
(2008, p. 17, grifos do autor).

Nesse diapasão, relevo especial deve ser dado ao artigo 3o, inciso IV, do Texto
Constitucional, que expressamente proíbe qualquer tipo de discriminação. A “regra
matriz” (ARAUJO, 2008, p. 913), vale dizer, o princípio da igualdade, está colocada no
artigo 5o, inciso I, estendendo-se ao artigo 7o, inciso XXXI, no que tange à proibição
de quaisquer formas de discriminação na contratação e no salário do trabalhador
com deficiência. Ainda no que se refere ao trabalho da pessoa com deficiência, a
Constituição prevê a reserva de mercado de trabalho para o preenchimento de cargos
e empregos públicos, conforme estabelece o artigo 37, inciso VIII, remetendo-se à
lei ordinária para a fixação dos critérios de admissão. Trata-se de assegurar o direito
material à igualdade (ARAUJO, 2008, p. 914-915), e visa, primordialmente, à integração
da pessoa com deficiência no mercado de trabalho, extremamente competitivo. É
supérfluo dizer que a pessoa com deficiência deve estar apta ao exercício da atividade
laborativa, assim como a cumprir todos os requisitos para o ingresso no serviço público
para o cargo ou função a que almeja.
Acrescente-se que a Lei no 8.231/1991, que dispõe sobre os Planos de Benefícios
da Previdência Social, prevê no artigo 93 os percentuais que as empresas com 100
ou mais empregados são obrigadas a observar para o preenchimento das vagas
relativas aos beneficiários reabilitados ou às pessoas com deficiência. No tocante
à aposentadoria do servidor público, estatui o artigo 40, parágrafo 4o, inciso I, da
Constituição, com a redação dada pela Emenda Constitucional no47/2005, a adoção
de requisitos e critérios diferenciados, estabelecidos por lei complementar, para a
concessão de aposentadoria para as pessoas com deficiência. Quanto ao empregado
beneficiário do regime geral de previdência social, o parágrafo 1o do artigo 201, do
mesmo diploma legal, segue a mesma orientação.
Importa realçar a terminologia utilizada pela Constituição de 1988: pessoa
portadora de deficiência. Luiz Alberto David Araujo considera um avanço significativo,
principalmente em função da ênfase colocada na palavra pessoa (2008, p. 911-913),
o que nos remete à constituição do sujeito do direito e ao reconhecimento da pessoa
com deficiência como digna de estima e consideração, consoante delineado por Paul
Ricoeur na sua análise hermenêutica da pessoa. Essa observação é relevante na medida
em que o princípio da igualdade implica o reconhecimento do outro, das diferenças
e necessidades, como bem descreve Regina Quaresma (2008, p. 929). Não floresce

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Hilda Helena Soares Bentes 367

a solidariedade, tão cara hoje para a afirmação dos Direitos Humanos e do Estado
Constitucional (PÉREZ LUÑO, 2010, p. 665-668), se não houver compartilhamento
do sofrimento alheio. Destaque-se, nesse sentido, o fundamento maior insculpido no
artigo 1o, inciso III, da Lei Maior, consagrando a dignidade da pessoa humana como
valor imprescindível para a consolidação do Estado Democrático de Direito.
Todavia, a expressão pessoa com deficiência vem sendo considerada a mais
correta tendo em vista os dispositivos contidos na Convenção sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência da ONU, e o Protocolo Facultativo à Convenção, já ratificada
pelo Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008, com status de emenda
constitucional consoante o artigo 5o, parágrafo 3o da Constituição da República
Federativa do Brasil8.
Prosseguindo na análise das normas constitucionais protetoras dos direitos da
pessoa com deficiência, cabe referir à questão da competência comum entre a União,
Estados, Distrito Federal e Municípios enunciada no artigo 23, tendo o inciso II
expressamente mencionado a proteção “das pessoas portadoras de deficiência”; no
artigo seguinte, inciso XIV, que cuida da competência legislativa concorrente entre a
União, Estados e Distrito Federal, repete-se a menção à “proteção e integração social
das pessoas portadoras de deficiência” (QUARESMA, 2008, p. 934).
A Constituição (BRASIL,1988) estabelece os direitos da pessoa com deficiência
detalhadamente, nos seguintes artigos: 203 (Da Assistência Social), incisos IV e
V; 208 (Da Educação), inciso III; 227 (Da Família, da Criança, do Adolescente, do
Jovem e do Idoso), parágrafo 1o, inciso II; e 244, no Título IX (Das Disposições
Constitucionais Gerais). Ressalte-se que os dispositivos constitucionais são dignos
de nota por garantirem tutela especial às pessoas com deficiência.
É importante realçar a ratificação pelo Brasil da Convenção da ONU sobre os
Direitos da Pessoa com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, em 2009, por meio do
Decreto Legislativo no. 186, de 9 de julho de 2008, e do Decreto Executivo no 6.949,
de 25 de agosto de 2009. Constituiu-se uma conquista significativa na luta dos
direitos humanos, tendo sido o primeiro tratado internacional de direitos humanos a
ser admitido no ordenamento jurídico pátrio no nível de Emenda Constitucional, nos
termos do parágrafo 3o, do artigo 5o da Constituição da República. Nessa direção,
convém citar a ementa do acórdão proferido na ADI 2649/ DF (BRASIL, 2008), tendo

8 Ver o parecer no 21/CONADE/SEDH/PR (BRASIL, 2009c), emitido pelo Conselho Nacional dos Direitos
da Pessoa Portadora de Deficiência, vinculado à Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência
da República, no sentido de recomendar a atualização do termo pessoas com deficiência.

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368 Hefesto capaz: do mito aos direitos da pessoa com deficiência

como relatora a Ministra Cármen Lúcia, ajuizada pela Associação Brasileira das
Empresas de Transporte Rodoviário Intermunicipal, Interestadual e Internacional de
Passageiros – ABRATI, com explícita referência à Convenção ratificada pelo Brasil:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE: ASSOCIAÇÃO


BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE TRANSPORTE RODOVIÁRIO
INTERMUNICIPAL, INTERESTADUAL E INTERNACIONAL DE PASSAGEIROS -
ABRATI. CONSTITUCIONALIDADE DA LEI N. 8.899, DE 29 DE JUNHO DE 1994,
QUE CONCEDE PASSE LIVRE ÀS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA.
ALEGAÇÃO DE AFRONTA AOS PRINCÍPIOS DA ORDEM ECONÔMICA, DA
ISONOMIA, DA LIVRE INICIATIVA E DO DIREITO DE PROPRIEDADE, ALÉM
DE AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DE FONTE DE CUSTEIO (ARTS. 1o, INC. IV,
5o, INC. XXII, E 170 DA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA): IMPROCEDÊNCIA.
1. A Autora, associação de associação de classe, teve sua legitimidade
para ajuizar ação direta de inconstitucionalidade reconhecida a partir do
julgamento do Agravo Regimental na Ação Direta de Inconstitucionalidade
no 3.153, Rel. Min. Celso de Mello, DJ 9.9.2005. 2. Pertinência temática
entre as finalidades da Autora e a matéria veiculada na lei questionada
reconhecida. 3. Em 30.3.2007, o Brasil assinou, na sede das Organizações das
Nações Unidas, a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência,
bem como seu Protocolo Facultativo, comprometendo-se a implementar
medidas para dar efetividade ao que foi ajustado. 4. A Lei no 8.899/1994
é parte das políticas públicas para inserir os portadores de necessidades
especiais na sociedade e objetiva a igualdade de oportunidades e a
humanização das relações sociais, em cumprimento aos fundamentos da
República de cidadania e dignidade da pessoa humana, o que se concretiza
pela definição de meios para que eles sejam alcançados. 5. Ação Direta de
Inconstitucionalidade julgada improcedente. (BRASIL, 2008).

Cumpre notar igualmente a referência à Promoção e proteção dos direitos das


pessoas com deficiência e garantia da acessibilidade igualitária, contida no Objetivo
Estratégico IV da Diretriz 10, que trata da Garantia da igualdade na diversidade, do
PNDH – 3, Decreto no 7.037, de 21 de dezembro de 2009, e atualizado pelo Decreto no
7.177, de 12 de maio de 2010; nele estão explicitadas as ações programáticas para a
realização da efetiva promoção e proteção dos direitos das pessoas com deficiência
e garantia da acessibilidade igualitária, distribuídas em sete itens pormenorizados,
que atendem a um amplo espectro de atuações nas áreas de proteção contra a
discriminação, contra os abusos, na educação especial, na acessibilidade etc, visando
ao atendimento integral da pessoa com deficiência.

Revista Jurídica da Presidência Brasília v. 19 n. 118 Jun./Set. 2017 p. 352-376


Hilda Helena Soares Bentes 369

Para complementar o elenco de direitos adquiridos pela pessoa com deficiência,


cabe assinalar as seguintes espécies normativas: Lei no 7.853, de 24 de outubro
de 1989, para Portadores de Deficiência, importante instrumento normativo que
estabelece apoio às pessoas com deficiência e à sua integração social, sobre a
Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência – Corde,
disciplinando, outrossim, a atuação do Ministério Público na tutela jurisdicional de
interesses coletivos ou difusos dessas pessoas; Lei no 8.899, de 29 de junho de
1994, que concede passe livre às pessoas portadoras de deficiência no sistema de
transporte coletivo interestadual, objeto da Ação Direta de Inconstitucionalidade
acima referida.
Adicione-se o seguinte rol de leis editadas a favor da pessoa com deficiência:
Lei no 8.989, de 24 de fevereiro de 1995, sobre a Isenção do Imposto sobre
Produtos Industrializados – IPI, na compra de automóveis para utilização no
transporte autônomo de passageiros, bem como por pessoas com deficiência física,
contemplado no artigo 1o, inciso IV, fixando-se nos parágrafos seguintes os critérios
para a concessão e aquisição do produto; Lei no 10.048, de 8 de novembro de 2000,
que confere prioridade de atendimento a determinados grupos de pessoas que
especifica, dentre eles as pessoas com deficiência; Lei no 10.098, de 19 de dezembro
de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da
acessibilidade das pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, prevista
no artigo 244 da Constituição; Lei no 10.845, de 5 de março de 2004, que estatui
o Programa de Complementação ao Atendimento Educacional Especializado às
Pessoas com Deficiência; Lei no 11.126, de 27 de junho de 2005, que institui o
direito da pessoa com deficiência visual de ingressar e permanecer em ambientes
de uso coletivo acompanhado de cão-guia.
A lista é numerosa considerando-se os decretos expedidos pelos Poder Executivo
em todas as esferas de poder. Citem-se o Decreto Presidencial no 3.298, de 20
de dezembro de 1999, que vem regulamentar a Lei no 7.853/1989, constituindo
importante instrumento para consolidar as normas de proteção à pessoa com
deficiência; igualmente, o Decreto Presidencial no 5.296, de 2 de dezembro de 2004,
regulamentador das Leis no 10.048, de 8 de novembro de 2000, e no 10.098, de
19 de dezembro de 2000, acima comentadas. Releva, ainda, mencionar o Decreto
Presidencial no 7.612, de 17 de novembro de 2011, que estabelece o Plano Nacional
dos Direitos da Pessoa com Deficiência – Plano Viver sem Limite, nele instituídos

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370 Hefesto capaz: do mito aos direitos da pessoa com deficiência

o Comitê Gestor e o Grupo Interministerial de Articulação e Monitoramento,


responsáveis pela gestão do Plano Viver sem Limite.
Os avanços são deveras significativos. Pode-se afirmar que a pessoa com
deficiência vem solidificando os direitos que lhe asseguram condições para lutar
contra as adversidades e constituir-se em sujeito de pleno direito. Todavia, uma firme
vigilância para a efetivação dessas prerrogativas faz-se necessária, especialmente
pelos legitimados para agir na defesa das pessoas com deficiência, como as associações,
assim como as Pessoas de Direito Público, que deveriam seguir exemplarmente as
leis e os atos normativos protetores dos direitos desses indivíduos.
O Ministério Público assoma como tecnicamente o mais sólido legitimado para
zelar pelos direitos das pessoas com deficiência. Sua vigilância inscreve-se como
dever constitucional – segundo mandamento inserido no artigo 129, que determina
a promoção do inquérito civil e da ação civil pública para a proteção do patrimônio
público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos, nele
implícitos os direitos das pessoas com deficiência, como consequência lógica das
funções institucionais que competem ao órgão ministerial (ARAUJO, 2008, p. 920-921)
– além de estar contida na já mencionada Lei no 7.853/1989, que prevê, no artigo 3o,
a legitimidade para propor as ações civis públicas destinadas à proteção de interesses
coletivos ou difusos das pessoas com deficiência.
Nesse sentido, a articulação com o mito de Hefesto adquire mais pertinência
na proporção em que a pessoa com deficiência não necessita possuir qualidades
excepcionais para ser reconhecida. Ela é um sujeito do direito que não deve sofrer
qualquer tipo de discriminação; o seu horizonte normativo deve ser ampliado em
razão exclusivamente de disfunções físicas que a podem colocar em permanente
estado de vulnerabilidade. O mito permanece como uma inspiração renovada: a
superação da assimetria original e a capacidade de criar relações mais harmônicas
entre os homens em sociedade.

5 Conclusão
Hefesto constitui o grande leitmotif9 deste estudo, ou seja, o fio condutor que
possibilita a discussão da desigualdade inicial que acomete a pessoa com deficiência.
A combinação de um olhar voltado para os planos mítico e teórico, com o estágio
de reconhecimento jurídico, revela um viés interdisciplinar hábil em demonstrar a

9 Diz-se leitmotif para significar a motivação principal que impulsionou este artigo. Ou seja, Hefesto
constitui o fio condutor para os desdobramentos teóricos e jurídicos sobre a pessoa com deficiência.

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Hilda Helena Soares Bentes 371

pertinência de políticas públicas e de normas jurídicas que garantam a efetivação


dos direitos já alcançados. E, sobretudo, de um olhar mais igualitário em direção à
pessoa com deficiência, reconhecida como sujeito do direito.
O percurso conceitual de Paul Ricoeur leva-nos a atravessar os estratos
configuradores do homem capaz. Instaura-se a fenomenologia hermenêutica da
pessoa, que irá conduzir à alteridade e à afirmação dos componentes intrínsecos
da identidade.
Os marcos teóricos trazidos para uma investigação sobre o sujeito capaz
comprovam sua perfeita adequação. Ricoeur reforça a dimensão linguística na
composição do sujeito capaz. Ao indagar quem é o sujeito do direito, Ricoeur (2008,
p. 21-25) está elevando a discussão para o nível do reconhecimento ético, hábil em
identificar o outro como pessoa digna de ser considerada. Busca-se formar um sujeito
habilitado a inscrever o seu papel na sociedade, ou seja, a exercer plenamente a
cidadania, como condição existencial indispensável para o aperfeiçoamento de seu
intelecto e de sua vocação para a política.
A noção de capacidade aparece como o marco teórico central para a compreensão
da formação do homem. Sobretudo, o aporte ricoeuriano permite dar visibilidade ao
sujeito de direito, apto a ser estimado e respeitado, e, portanto, a constituir-se em
agente ético na reflexão e construção da política, e particularmente na formação de
sociedades mais justas. Nesse sentido, ênfase especial foi conferida ao reconhecimento
dos direitos do deficiente físico já conquistados e ao estado de vigilância que todos
devem partilhar na defesa intransigente de uma sociedade mais solidária.
Como consectário desse percurso conceitual, a quarta parte privilegiou a
consolidação dos direitos da pessoa com deficiência, concentrando-se no estudo das
normas constitucionais brasileiras como momento consagrador desse segmento de
pessoas, que surge como titular de direitos em vários tópicos. A partir da Constituição
da República Federativa do Brasil ampliaram-se os direitos voltados para a proteção
dos direitos da pessoa com deficiência, sendo tarefa irrecusável de toda a sociedade
e dos poderes públicos a sua plena implementação.

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372 Hefesto capaz: do mito aos direitos da pessoa com deficiência

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