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RSP E N S A I O

ORAL E ETICA

R o b is o n B a r o n l

discussão sobre os costumes e


E t im o lo g ia e C o n c e ifu a ç ã o
A co m p o rta m e n to s das d i­
versas civilizações do planeta
ultrapassa dois milênios.
M oral e ética são temas inesgotáveis
desde que Sócrates, Aristóteles e Platão
■% eputam os importante, como
ponto de partida, dar ênfase às conceberam e tentaram aperfeiçoar a
questões etimológica e conceituai idéia de “soberanos bens”, para que os
envolvendo os vocábulos m oral e antigos gregos pudessem alcançar a
plena felicidade do corpo e da alma.
ética.
Nos dias de hoje o estudo da m oral e da
ética novamente ganha um grande
Tratam-se de termos distintos não
interesse, principalm ente entre nós,
só quanto à etimologia, mas tam­
onde o gigantistno da nossa Nação
bém quanto ao sentido. Moral tem
começa a e x ig ir profundas e d ra ­
sua origem no latim (m ora lis1, ou
máticas alterações nos atos, atitudes e
“m os”, consoante alguns escrito­
comportamentos de todos os brasileiros,
res), enquanto ética origina-se do
até então acostum ados co m um
grego (eth ik e2 ou “ethos”, segun­
“je it in h o ” p a ra a resolu çã o dos
do os mesmos escritores).
probletnas.
O campo da m oral tem uma am­
plitude maior que o da ética e ori- pode ser tida como ciência, en­
gina-se nos costumes, apresentan­ quanto que a ética o é, porque
do contornos diferentes para os di­ esta cria e consagra os princípios
ferentes povos e épocas. básicos que devem reger a condu­
ta, os costumes, e a m oral dos ho­
Da cobrança da moralidade ou dos mens 3.
costum es é que surgem os
posicionamentos éticos. Assim De um modo mais simples, pode-
entendem os que a m o ra l não se entender que a m oral é a regra
’ CALDAS AULETE, "Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa - 2a edição
brasileira - Editora Delta S.A.
ideni n. 2.
- SODRÉ, Ruy de Azevedo - "Ética Profissional" - LTR, p. 62.

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dc bem proceder, isto é, distinguir no bem.


o bem do mal. O homem procede
bem quando tudo faz pelo bem dc Observe-se que nessa categoria
todos, estando, por essa razão, dos “soberanos bens” , e em con­
sonância com o pensamento dos
agindo de forma ética, sempre à
comentadores mais modernos, a
procura de um bem elevado como
b ondade é considerada como um
meta. dever imperativo dc toda educa­
ção e de toda cultura, a ponto dc
O s so b e ra n o s bens o apóstolo São Paulo considerar
“a bondade como inseparável da
justiça e da verdade, mostrando-
a co m o in c o m p a tív e l co m a
"s antigos gregos tinham por iniqüidade e a m entira”.* Ela per­
costume consagrar e cultuar deter­ tence ao que seria designado como
minados bens que Sócrates (400 a segunda categoria das virtudes,
a.C.) relacionou e denominou porque envolve silêncio, modéstia,
como “soberanos bens”: liberda­ retraimento, mansidão, servir com
de, justiça, verdade, bondade, amor e sem contar com a própria
b eleza e p od er (sem nenhuma gratidão. Lembra Am oroso Lima
ordem prioritária). Atribuíam a que a b ondade "é um dever im ­
cada um desses bens um determi­ perativo de toda educação e de
nado valor e a quebra do seu sen­ toda cultura , p a ra im p e d ir a
tido ou sua desvalorização eram desumanização do ser humano,
tidas como a quebra das virtudes pelo progresso material, pela vai­
do ser humano, envolvendo até dade do saber e, acim a de tudo,
m esm o a alma, que ficaria pelo poder corruptivo do hábito
inexoravelmente condenada. Dizi­ do erro, da opressão e da menti-
am ainda que essa quebra de va­ ra ”5. Por sua vez a beleza, eleva­
lores era causada pelas paixões, da à categoria de “soberano bem”
quando o homem teria perdido pelos gregos, estaria ligada ao
a razão ou seu senso de julga­ culto do corpo atlético, tão produ­
mento, surgindo daí a idéia de tivo quanto necessário, pronto
que “ a paixão é a antítese da para qualquer embate (Esparta e
razão” . Em resumo, se tais bens seus guerreiros), hoje é entendi­
estivessem colocados no que en­ da apenas como uma apologia do
tendemos por ponto de equilí­ orgulho e da vaidade (o que lem­
brio, a felicidade seria completa, braria o pecado da Soberba, no
tanto do corpo como da alma. plano cristão) desde que transpos­
Assim, esses gregos subordina­ ta para o plano pessoal. Dizer ape­
vam a ética às idéias de felicida­ nas do corpo físico, como se limi-
de da vida presente e de sobera­ tavam os gregos, é muito pouco
"Andai como filhos da Luz, pois os íruios da luz consistem em toda a bondade, a
justiça e a verdade: (EF 5,8-9).
’ - AMOROSO UMA, Alceu • "Tudo é Mistério" ■ Ed. Vozes, 1984, p. 18).____________

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para a b eleza que está em quase ça, como a de Salomão; não existe
tudo o que possa ser visto, ouvi­ meia-verdade, como a empregada
do, cheirado, tocado c dito, sen­ hodiemamente pelos integrantes
tidos que foram injustamente re­ do poder político. Não existe meia-
duzidos ao plano poético, o que alma, nem meio-corpo.
nos leva a indagar: é ética a ati­
tude de destruição da camada de C om o “ sob eran os bens”
ozônio da atmosfera ou a quei­ pinçados no campo da m ora l e
ma de grandes florestas, como a da ética, a lib e rd a d e e a ju s t i­
da Amazônia? Enquanto isso, ça foram elevados a “bens tute­
lados”, e dentre nós, inseridos na
aquilo denominado como p od er,
Lei Magna. São tidos e constitu­
mais do que o sentido de dire­
em princípios constitucionais
ção da “pólis” empregada pelos
maximizados p elo Estado, en ­
pensadores gregos, para a com­
quanto sociedade e administra­
pleta fe lic id a d e , é lem brado ção. Estado que se d istin gu e
hodiemamente como a inclina­ como um corpo político destaca­
ção do ser hum ano à do da sociedade e tem em suas
autodivinização ou como carac­ mãos o poder político, o m ono­
terização do antropocentrismo. E pólio da lei e da força. É nesse
é esse poder que vai buscar no contexto que vemos o homem
campo da m oral o que mais in­ como indivíduo, existindo para
teressa à socied a d e, para a sociedade. Como pessoa, a so­
transformá-lo em norma, com a ciedade existe para ele. A condi­
correspondente sanção material. ção de pessoa supera em muito
a de indivíduo. Não e a somatória
L ib erd a d e, ju s tiç a e verd ad e de indivíduos que vai constituir
entrelaçam-se, não como uma rede o Estado; este é formado por pes­
de signifi cantes e significados, sig­ soas, daí a origem do poder.
nos e significações, mas como
ações disciplinadoras sem frag­ Os mais atentos já devem ter cons­
mentação, como acentuam os mo­ tatado que a palavra justiça é
dernos estudiosos. Não existe mencionada em nossa Constitui­
meia-liberdade, como a prisão ção 101 vezes6. Enquanto isso, a
domiciliar; não existe meia-justi- palavra liberdade é mencionada
6 A palavraJUSTIÇA pode ser encontrada: no Preâmbulo, art. 14 ps. 10 e 11, art. 17
n. III, art. 35 n. IV, art. 36 ns. II eIV, art. 42 p. 8o., art. 55 n. V, art. 73 p. 3o., art. 89 n. VI,
art. 91 n. IV, art. 92 n. II, art. 93 n. III, art. 96 ns. I "e", II, III (duas vezes), art. 98 n. II,
aart. 99 n. II, aart. 102 n. I “a", Tit. IV, Sec. III (várias vezes), art. 104, art. 104 p.u. e n. I,
art. 105 e ns. I, l “c " ,“h" (quatro vezes), art. 105 p.u. (três vezes), rt. 106, art. 108 n. I " a ”
(três vezes), art. 109 ns. I, IV, IX, p. 3o. (duas vezes), art. 110 p.u., art. 11, art. 113, art.
114, art. 114 p. 2o., art. 118, art. 119 n. I “ b” , art. 120 p. Io. n. I “ a” e “ b” , art. 120 p. Io.
n. III, art. 122, art. 123, art. 123 p.u. n. II, art. 124, art. 124 p.u., art. 125, art. 125 p. Io.,
art. 125 p. 3o. (cinco vezes), art. 125 p. 4o., art. 126, no Tit. IV, Cap. IV (várias vezes), art.
133, art. 170, art. 193, art. 217 ps. Io. e 2o. , art. 233, art. 233 p. Io., art. 235 n. IV e VII.
No texto das disposições nos arts. 5o. p. 1, art. 10 p. 3o., 13 p. 3o. n. II, art. 27, ps. Io, 2o
e 3o. c 10 (três vezes) e art. 30.

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apenas 15 vezes7, ao longo do ex­ ções existe muito mais que simples
tenso texto, seja como indicação diferença: há uma verdadeira rup­
de direitos ou com designações do tura, uma contradição8.
exercício do poder, ou ainda com
sentido de aplicação administrati­ A ética de princípios, de valores
va. Por seu turno, a palavra poder, fortalecendo o corpo e a alma, es­
também sob vários aspectos, mas tudada e estabelecida pelos gre­
principalm ente com o subordi- gos, cresceu com a força da prega­
nante de todos os segmentos con­ ção cristã, que insistia em que a
tidos no Estado, aparece 204 ve­ felicidade não consiste apenas em
zes. No entanto, bondade e be­ fazer o próprio gosto, arbitraria­
leza, tanto as palavras como os mente, mas em buscar a própria
sentidos em que possam ou ve­ realização, o que é bom, o que é
nham a ser empregadas, não tive­ conforme a natureza humana. Ali­
ram o privilégio de ser erigidas a ás, essa idéia de felicidade já era
um patamar mais elevado, desme­ contida nos Salmos (Sl 34,13) :
recendo qualquer citação. Vale di­ “Q u a l o hom em que não am a
zer que, embora olvidadas pelos sua vida, p rocu ra n d o ser fe liz
legisladores e constituintes, nem todos os dias?’’
por essa razão perderam o seu sen­
tido moral, que sempre será co­ Sabemos que as instituições huma­
brado pela ética. Da mesma for­ nas e seus relacionamentos podem
ma, ficou inteiramente esquecida evoluir ou involuir, e o modo de
a palavra verdade e acreditamos sua visualização ser reformulado
até que o seu real sentido deixou em nome de uma nova “ética” ,
de ser considerado. Mais adiante logo com novos valores e direitos/
procuraremos dedicar a esse tema deveres, mais ou menos elevados.
uma reflexão maior. É por essa razão que surgem
idéias e posições, como aquelas
Hoje, a felicidade não é mais pen­ concebidas por volta de 1500,
sada nos termos da m oral antiga, quando em novo e diferenciado
mas em termos de eficácia técni­ discurso apregoavam que "a boa
ca, de consumo de imediatismo. ação política não deve levar em
Vamos além: ela depende cada vez conta valores que sejam incapa­
mais da roda da fortuna, das for­ zes de garantir seu sucesso, mas
ças externas que tudo controlam apenas o que conduz à meta de­
e dominam, o que por si só de­ sejada" 9, conceito estabelecido
monstra que entre as duas concep­ por Maquiavel através da frase “a

7 - A palavra LIBERDADE pode ser encontrada: no Preâmbulo, Til. II, Cap. I, art. 5o.,
ns. VI, XVII, XLVT a", IJV, LXVI, I.XVIII, art. 42 p. 8o., art. 139- III. IV, art. 206 - II, art. 220
p. 1., art. 227, art. 227 p. 3o. -V.
8 - NOVAES, Adauto - "Ética" - Cia. das Letras - p. 8.
9 - idetn n. 6.

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um príncipe não é necessário pos­ - P or aqui passou o batalhão in i­


suir Iodas as qualidades, mas é migo ?
necessário parecer tê-las”, ou que
“as violências devem ser feitas Ora, para qualquer pessoa de bom
todas ao mesmo tempo, a fim de senso, toda guerra é execrável e in­
que seu gosto, persistindo menos concebível, quanto mais para os
tempo, ofenda menos”, e, para nâo que procuram engrandecer a sua
nos estendermos, “os homens es­ alma. O frade viu-se diante de um
quecem mais facilm ente a morte grande dilema: detestava a guerra
d o p a i do que a p e rd a do e havia sido depositário dc um se­
p a trim ôn io” 10. Com a divulgação gredo da tropa anterior. No entan­
do que o ílorcntino chamava de to, não podia deixar de apresen­
análise das qualidades necessári­ tar sua resposta sob pena de ser
as ao exercício do poder, nascia o tomado como mais um inimigo.
que os doutrinadores chamam de Outrossim, também não queria
“ c iên cia da p o lític a ” . É nesse ferir sua consciência e dignidade,
universo da ética-política, ou da incorrendo no pecado da menti­
política que carrega em si um cor­ ra. Sabemos que são bastante lar­
po de valores diferente daqueles gas as mangas das vestimentas dos
de uma m oral da consciência, que monges cristãos, que têm como
devemos buscar as fronteiras da costume protegerem suas mãos e
é tic a 11e discuti-las quase no limi­ antebraços dentro dessas mesmas
ar de um novo século. mangas, cruzando-os logo abaixo
do tórax. Então, volvendo seu pen­
A v e r d a d e e s q u e c id a samento para a posição de suas
próprias mãos respondeu :

^ ^ ialo ga n d o sobre a existência - Não ! P o r aqui - olhando para a


daquilo que é chamado de “reser­ manga do hábito - não passou o
va mental”, em face do tema ver­ batalhão inim igo !
dade/mentira, ouvimos uma anti­
ga narração que vem bem a pro­ Entendia que, se no momento da
pósito: Certo dia, ao tempo de resposta não estivesse pensando
uma guerra, soldados em luta che­ no assunto enfocado, mas na
garam num determinado vilarejo posição adotada, não estaria fal­
onde existia um mosteiro. Ao pri­ tando com a verdade e, da mesma
meiro frade que encontraram foi forma, não estaria mentindo ao
perguntado pelo oficial da tropa: interlocutor Essa seria a sua “reser­
va mental” para evitar a quebra do
10 - MAQUIAVEL, Nicolau - "O Príncipe” - XVII.
11 BIGNOTTO, Newton - obr. cit. - p. 120.

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sigilo c manutenção do segredo. lestra realizada cm 1991, no MASP,


decidiu escrever um livro sobre a
A preocupação com a verdade/ mentira, após ter verificado que,
mentira vem de muito longe c sc desde o século XVH, excetuando-
destaca cm todos os séculos. No se alguns momentos da literatura,
Brasil vamos encontrar menção ao do teatro e do cinema, reina o si­
tempo de sua colonização no sé­ lêncio quanto ao dilema do “dizer-
culo XVII, com o Padre V ieira a-verdade”, seja na vida privada ou
ensinando: “A verdade é filh a le­ na vida pública. Sociólogos de li­
gítim a da justiça, porque a ju sti­ nha durkheimiana, examinando o
ça dá a cada um o que é seu. II desamparo dos indivíduos nas es­
isto é o que fa z e o que diz a ver­ colhas morais, a presença de prá­
dade, ao contrário da mentira. A ticas e comportamentos violentos
mentira, ou vos tira o que tendes, na sociedade e na política, a
ou vos dá o que não tendes; ou m u ltip licid ad e de atitudes
vos rouha, ou vos condena".12 transgressoras de valores e nor­
mas, falam em anomia, isto é, no
Essa mesma mentira, em sua ple­ desaparecim ento d o cim en to
nitude, é definida por Santo T o­ afetivo que garante a interio-
más como "o ato de quem pre­ rização do respeito às leis e às re­
tende, enganando, induzirem fa l­ gras de uma comunidade.'*
sidade a opinião alheia".'*
O professor de Direito Internacio­
Devemos confessar que ainda não nal Público e Filosofia do Direito
conseguimos encontrar algo mais na Faculdade de Direito da USP,
extenso ou qualquer outro tipo de Celso Lafer, também fez um bre­
estudo com maior profundidade ve estudo e ensina: “Na dicotom ia
(embora tenhamos certeza de que verdade/mentira a verdade é o
exista), mesmo tese ou publicações termo forte, e a mentira é o ter­
de efeito, discorrendo sobre a ver­ mo fraco, pois dizer a verdade
dade. Em alguns alfarrábios só fo­ não requer uma explicação,
ram encontradas algumas alusões mas dizer uma mentira exige
sobre sua antítese: a mentira. uma justificação, nonnalmente
articulada, (...) m a l m enor ou
Uma autora sueca, Sissela Bok, m al necessário, ou então respos­
citada por Marilena Chauí em pa­ ta ao m al de outra mentira". Mais

12 - VIEIRA. Padre Antônio, "Sermão da Quinta Dom inga de Qnarestna" - S.Luiz - MA,
1654.
11 - TOMÁS DE AQUINO, "Suma Teológica", trad. Alexandre Correa, RS, Livraria Sulina.
1980, p. 2877.
14 • CIIAUÍ, Marilena. "Ética", ob. cit., p. 345.

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adiante, diz: "Doponto de vista da a verdade. A i ofensas à verdade


mentira, esta plena afirm ação exprimem, p o r palavras ou atos,
cia ética de princípios só apare­ uma recusa de abraçar a retidão
ce em dois grandes autores: San­ m ora l: são infidelidades fu nd a ­
to Agostinho e Kant - como obser­ mentais a Deus e, neste sentido,
va Sissela Bok em sua ob ra minam as bases da Aliança". O
intitulada Lying - moral choice grupo de teólogos que apresentou
in public and private l(fe. O p ri­ essa nova interpretação ainda
meiro, vendo na mentira o uso acrescenta: “Os homens não pode­
condenável do dom da palavra, riam viver juntos se não tivessem
que f o i concedido ao homem para confiança recíproca, quer dizer, se
transm itir os seus pensamentos a não manifestassem a verdade uns
o u tro s hom ens e n ã o p a ra aos outros (S a n to T o m á s d e
enganá-los, e o segundo, enxer­ Aquino). A virtude da verdade de­
g an d o na m e n tira - qua lq u er volve ao outro o que lhe é devido.
m entira - um aniquilam ento da A veracidade observa um justo
dignidade hum ana”.15 meio entre o que deve ser expres­
so e o segredo que deve ser guar­
No Talmude16, livro que contém a dado: implica a honestidade e a
lei e tradições judaicas, compila­ discrição. Com toda a justiça - um
das pelos doutores hebreus, a homem deve honestamente a um
mentira é equiparada a pior forma outro a manifestação da verdade
de roubo. Foi diante de enorme (Santo Tomás de A q u in o )”.
multidão na Judéia que Cristo
(Marcos, 10:19) reiterou um dos Sempre imaginamos a mentira
dez mandamentos : “Não dirás como a cabeça de um cometa que
fa lso testemunho contra o teu se encontra vagueando pelo espa­
p ró x im o " (Ex. 20.16 c Dt. 5:20). ço; o fogo que ali arde é alimenta­
O “Catecismo da Igreja Católica”17, do apenas por gases que vão se
recentemente publicado, no nú­ dissipando com o tempo, e o seu
mero 2464, diz : “O oitavo man­ brilho aparente se apaga depois
damento proíbe falsear a verda­ que passa, deixando no lugar cm
de nas relações com os outros. que tanto ofuscou muitas vistas
Essa proibiçãio moral decorre da apenas o rastro congelado que o
vocação do povo santo a ser tes­ mesmo tempo vai dissipando, na
temunha de seu Deus, que é e quer certeza de que mais tarde nada

15 • LAFER, Celso • "Ética" - ob. cit., p. 228.


16 - Do hebraico TAJLMUD que significa instrução.
17 - "CATECISMODA IGKJJA CATÓLICA", Ed. Vozes. Ed. Paulinas, Ed. Loyola. Ed. Ave-
Maria, ano 1993, p- 532, por nimia gentileza de Dom Murilo Krieger, SCJ, Bispo de Ponta
Grossa.

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rcsiará (salvo se sua cabeça se cho­ sc atenuar, se agrava, pois passa do


car com algo). É uma espécie de terreno propriamente religioso
fogo fátuo, enquanto que a verda­ para o terreno moral. E para uma
de deixa sua marca indelével e ética cada vez mais baseada em
perene ("a infâmia do mentiroso cânones sociais, fruto da razão c
acompanha-o sem cessar” - Ecl., da vontade, e não da tradição e da
20:24; 20:26). revelação” .

A condenação da mentira é um Onde fica situado o denominado


princípio ético tradicional, como progresso moral com relação ao
lembra Lafer. Aristóteles, na “Éti­ progresso científico ?
ca a Nicômaco” , ao tratar da vera­
cidade no Livro IV (1127 a 25-30), É esse o tipo de progresso que
diz que por si mesma (ou seja, in­ estamos vendo c testemunhando
dependente do que diz respeito à no final deste século ?
justiça e à injustiça, que são do
domínio de outra virtude) a ver­ An tes da conclusão deste item, não
dade é nobre e merecedora de podemos deixar de mencionar a
aplauso enquanto a mentira é vil profunda relação da verdade/men­
e repreensível. tira com o sigilo e o segredo, to­
mados de forma generalizada, res­
No infindável caminho percorrido saltando a enorme diferença exis­
pelo estudo da ética, começaram tente entre não mentir, ao contar
os filósofos a se dedicar aos seus algo que se saiba (o que constitui
fins, sem nenhum descuido dos uma ação) quando indagado, c o
meios, para a sua consecução. Pas­ fato de silenciar sobre a indagação
saram a dar à ética raízes pura­ para não ter que dizer a verdade
mente naturais, embora, posteri­ (ação inversa). Existiria enorme
ormente, a chamada “ razão práti­ gravame sc a ação partisse do pró­
ca” pudesse remontar às raízes so­ prio agente para o relato: mentin­
brenaturais mais remotas. Como do estará cometendo uma falta éti­
escreveu Alceu Amoroso Lima, “a ca, que também ocorrerá sc disser
lei m oral natural sc separava da a verdade da qual é depositário
lei m oral sobrenatural”18, c mais (segredo). Talvez seja por essa ra­
adiante: “O código dos costumes zão que, mais uma vez, a sabedo­
passa a ser uma lei draconiana e ria popular se manifeste ( “ Em
as punições sociais são inflexíveis boca fechada ...”) e destaca a im­
e violentas. O inquisitorialismo portância do segredo, como a jus­
medieval, renascentista, longe de tificar: "O indivíduo que confia, a

- AMOROSO LLMA, Alccu. ob. d l. , p. 26.

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alguém, o seu segredo, com o pe­ tória registra o crescimento da


dido de não contá-lo a ninguém, importância da política, da reli­
está, apenas, procurando alguém gião, da arte e da ciência, que ad­
capaz de guardar um segredo que quiriram sua própria autonomia.
ele mesmo não foi capaz de guar­ Enquanto isso, nesse mesmo pe­
dar”19. ríodo, a ética e a religião perde­
ram sua hegemonia sobre a socie­
O fim d o s p r in c íp io s dade tradicional.

Talvez nem todos saibam que o


^ V t é este ponto procuramos fa­ verdadeiro sentido da palavra p e ­
zer com que fosse percebido aqui­ ca d o quer dizer e r r a r o alvo. Os
lo que é denominado Ética de cristãos tanto usaram a palavra
Princípios, consubstanciada nos p e ca d o que acabaram por lançá-
valores dos soberanos bens do cor­ la ao total descrédito, quase mes­
po e da alma, que se contrapõe à mo ao rídiculo, fazendo com que
Ética dos Fins, onde os meios a grande maioria das pessoas a
para a sua consecução se justifica­ considere obsoleta. Verifica-se que
riam com frase do tipo comum: ainda é comum o uso de expres­
“ tudo é possível; quem pode, sões como : “Que p e c a d o fazer
pode; você decide! ; cada um uma viagem dessas ...” , ou “É um
p or si e Deus por todos; faça o p eca d o não aproveitar tão gran­
que eu m ando e não faça o que de chance...”. Em tudo esses cris­
faço...” tãos viam sua presença ou sua au-
sência, numa falsa educação
Constantes pesquisas e estudos maniqueísta. Da mesma forma,
têm demonstrado que a socieda­ tanto se usou a palavra im o r a l
de moderna em geral, do oriente que seu sentido acabou aviltado,
ao ocidente, vive hoje numa crise generalizando indiscrim inada­
ética e da ética. Até agora não foi mente o uso da expressão a é tic o
conseguida a compatibilização do em seu lugar.
pensamento geral dos princípios
éticos com a evolução da econo­ É patente a existência de um gran­
mia moderna, o capitalismo e seu de temor nesta última década do
peso na sociedade. Também e, século, de que também a palavra
principalmente, não foi possível ética seja depauperada. Qualquer
compatibilizar os princípios éticos comportamento deseducado ou
das antigas “pólis", com o pensa­ mal conduzido é guindado ao |
mento e atividades políticas. A his­ patamar do sentido da ética, ou à

- WAENY, Walter • “Apotegmas" - pelo autor - Santos - p. 72.

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RSP R ob ison B aroni

sua negação, como sc a cclucação brasileiros : am or e caridade. E,


ou sua falta fosse uma virtude paradoxalmente, ambas estiveram
do ser humano e não um aper- presentes com toda sua força no
feiçoamcn to. início deste ano, coroando a
grande competência, dedicação,
Quase tudo na atualidade envolve seriedade, ética c disciplina de um
o uso da palavra ética. Ética no respeitado automobilista que o in­
automobilismo; ética nos campos fortúnio nos levou.
de futebol; ética na Economia;
ética nos negócios... Até mesmo o Não nos esqueçamos de que, em­
que filosófica, social e juridica­ bora tenhamos con segu id o o
mente se toma praticamente im­ tetracampeonato de futebol nos
possível, desde que o florentino Estados Unidos, desta vez não hou­
Nicolau Maquiavel estabeleceu a ve possibilidade de ser usado o
“ética de meios”, a partir do “O famoso “jeitinho brasileiro”, com
Príncipe” : ética na Política. o total predomínio nas grandes
disputas, da dedicação, competên­
No n ível doméstico parece que a cia e preparo, aliás, reconhecidos
crise ética c a crise da ética se en- e admirados mundialmente. Aca-
contram de plantão em nossa ter­ bou-se o tempo da “ginga” , da
ra, onde se plantando tudo dá. malícia, da “folha seca”. No entan­
“Está havendo um modo de pen­ to, de tão eufóricos, bastou o pri­
sar, de agir, de viver fora dos prin­ meiro contato com o nosso solo
cípios éticos até há pouco tempo pátrio para uma grande recaída,
respeitados e aceitos. Essa é a cri­ felizmente respondida a tempo
se ética. Pior ainda é a crise da pelos sofridos “ tupiniquins” , pre­
ética, isto é, aceita-se como “na­ nuncio de que comcça a ser debe­
tural” esta nova situação, como se lada a crise da ética.
não houvesse norma para reger os
atos humanos, tanto particulares A palavra “c ris e " não está ligada
como públicos. Falta aceitação da apenas ao sentido ético do com­
necessidade da ética, que compre­ portamento das pessoas. Roberto
ende os valores capazes de garan­ A. R. de Aguiar, ao fazer um diag­
tir a realização pessoal e social do nóstico e ao traçar algumas pers­
ser humano, conforme sua digni­ pectivas para a nobre classe dos
dade e o sentido de sua vida”20. advogados, escreve : “A palavra
Quer nos parccer que duas pala­ crise está sempre ligada a uma
vras c o real sentido dc cada uma perspectiva de ruptura. A crise é o
delas desapareceram da mente dos prenúncio de uma quebra de or-

20 - CNBB • "É tic a : Pessoa e Sociedade" - Documento da 3 la. Assembléia de ltaici-


SP, em 07/05/93, p. 79.__________________________________________________________________

222
RSP M o r a l e ética

dem, dc um desfecho fora de con­ sar que a crise ética e da ética pa­
trole, de uma reação destruidora". rece não ter solução. Bradamos,
Traz no início dc seu estudo, como gritamos, pintamos a cara de ver­
epígrafe do primeiro capítulo, a de c amarelo e vamos para as ruas.
frase de Antônio Graxnsci - Pas­ Exigimos que todos tenham um
sado e Presente : “A crise consis­ comprometimento ético na políti­
te justamente no fato de que o ca, na economia, no trato com as
velh o não m orre e o novo não coisas públicas. Os estudantes se
p od e nascer” .21 Lembramos que munem de cartazes e lotam os
nosso saudoso pai, cm seu peque­ logradouros públicos, mas esses
no comércio em Taubaté-SP, nos mesmos estudantes (nem todos,
ensinava no final da década de 50: obviamente) são bem capazes dc
“O medo da crise é p io r do que a disputar com truculência os me­
própria crise”. Portanto, seja hoje lhores lugares para assistência de
ou há meio século, a existência da um show de seu ídolo; são capa­
crise sempre foi motivo de grande zes de se utilizar do artificio da
preocupação. “cola” para alcançar maiores notas
nas escolas e obter aprovação;
P a la v r a s d a m o d a promovem “rachas” em vias públi­
cas, colocando cm risco a vida e o
|| patrimônio dc terceiros. Todos
■ Hoje duas palavras ganham o querem uma ética daqueles que
galardão das mais escritas e pro­ chamam de “maiorais”, mas desco­
nunciadas em todo o mundo: éti­ nhecem, ou digamos, se esque­
ca e corrupção. Lembremos, ape­ cem, da sua própria ética.
nas dc passagem, alguns fatos no­
ticiados há pouco tempo pelos jor­ Verdadeiramente o nosso senso in­
nais : a) a descoberta de corrup­ terior não admite que os idosos te­
ção em meio à economia japone­ nham dc enfrentar, todos os me­
sa, que levou seu ministro ao sui­ ses, uma enorme fila nos bancos
cídio; b) a simples alusão de que para receberem seu pecúlio; no
teria sido dado emprego domésti­ entanto, temos o nosso próprio
co para quem não detinha direi­ gerente de atendimento especial
tos de cidadania nos Estados Uni­ no mesmo banco (tráfico de influ­
dos, determinou que não se con­ ência ou tratamento privilegia­
solidasse uma indicação feminina do?). Sentimos um grande descon­
à Corte de Justiça daquele país. forto quando moleques pedem
Quando vemos ou ouvimos notí­ para “guardar” nosso carro nas
cias desse jaez começamos a pen­ ruas, mas somos capazes de pedir

21
"A crise da advocacia no Brasil" • Editora Alfa-Ômega, 1991, p. 17.

223
RSP Robison B aroni

para que um amigo na fila do gui- e hábitos. Tomemos como exem­


chê do estádio dc futebol adquira plo o propalado “jeitinho” , que de
o nosso ingresso por antecipação. tão bem trabalhado acabou se qua­
Não vemos com bons olhos e nos lificando dentro do ufanismo de
revoltamos diante de notícias nosso povo: “o jeitinho brasileiro”,
de propinas ofertadas para “certas como se tal execrável atitude tives­
facilidades” , mas estamos prontos se sido iniciada por nós, quando
para alcançar benefícios próprios sabemos que deriva do jogo nor­
com o mesmo tipo de ação te-americano conhecido como “rei
(todo mundo faz, por que eu não da m o n ta n h a ”, ou "on e-u p -
posso? Afinal, “o mundo é dos es­ manship”. Essa situação conduz
pertos”). Nosso tempo vale dinhei­ seu agente a levar vantagem em
ro, muito dinheiro, e sempre te­ alguma coisa, o que seria até nor­
mos pressa para chegar ao nosso mal dentro de transações comer­
destino; assim, entendemos que ciais, porém, nosso povo, incenti­
estamos liberados para usar até vado até mesmo por infeliz publi­
mesmo o acostamento das estra­ cidade, acresceu que a vantagem
das, em filas duplas, triplas ou deve ser conseguida cm tudo e
quádruplas; nos esquecemos de gosta, luta, por “conseguir levar
que o acostamento é o único meio vantagem em tudo” . Essa é a “ éti­
para que um socorro médico ou ca da esperteza ou da malandra­
g e m ” . A contravenção se torna
policial seja imediato no caso de
coisa normal porque a sorte na
acidente; nosso tempo vale ouro,
consecução das coisas, como a ri­
enquanto a vida do próximo pou­
queza através dos jogos de azar e
ca importância tem. Reclamamos
loterias, são meios fáceis de ven­
do tráfego urbano, mas não con­
cer. O procurado caminho do “pis-
temos nossa índole de tocara bu­
tolão”, ou do “quem indica” , com
zina do carro no primeiro conges­ apadrinhamentos por parte de ri­
tionamento encontrado, aumen­ cos, poderosos e políticos, com
tando ainda mais o tumulto. benefícios - em troca de favores,
num sistema de clientelismo pa­
Muito disso se prende à falta de rece bastante normal (consagra-se
educação moral e cívica, cuja dis­ como princípio o adágio: “Q uem
ciplina foi lamentavelmente exclu­ parte e reparte, n ão fica n d o
ída de nossas escolas. Mas, o que com a m elh or parte, é bobo ou
é a falta de educação, senão o des­ não tem arte” ).
controle do costume, formador da
moralidade de uma comunidade ? Os fatores da crise ética da nossa
Tudo passa a ser encarado dentro sociedade acabaram por gerar a
da normalidade e aceito como ele­ falta de honestidade, quando esse
mento transformador de costumes princípio, cm situação de confron­

224
RSP M o r a l e ética

to, tem que ser provado, contrari­


ando a normalidade da comprova­ S e r ie d a d e n o s e s t u d o s
ção da desonestidade; geraram a
facilidade da corrupção, do abuso
do poder, da exploração institu­ IM k u ita s entidades, organiza­
cionalizada, da violência, do dano ções e alguns segmentos da socie­
moral, do desvio de finalidade dade têm dedicado um grande
e da im probidade. Não nos es­ tempo ao estudo dos principais
motivos que levam nossa consci­
queçamos de que tivemos como
ência à frieza de interpretação e à
fato inédito a criação de um Mi­
quase inércia de atitudes. Grandes
nistério da Desburocratização, até
seminários c debates, como o rea­
hoje não justificado. A consciência
lizado no MASP p or Adauto
de cada um está em pane, porque
Novaes, e posteriormente transfor­
fragmentou-se, foi manipulada. mado em vídeo exibido pela TV
Existe um total descrédito da ação Cultura de São Paulo; artigos
política, não se vislumbrando jornalísticos, dos grandes órgãos
qualquer tipo dc solidariedade da imprensa têm chamado a aten­
social. Isso vai nos conduzindo a ção para o tema. A CNBB, que
pensamentos hediondos, instau­ possui um considerável levanta­
rando discussões sobre a valida­ mento de diversas situações cm
de ou não da morte de reclusos todo o território brasileiro, divul­
nas penitenciárias, ou eliminação gou no ano passado (06/05/93)
de jovens e crianças em favelas, ou documento sob o título “Ética:
ainda ao questionamento da vali­ Pessoa e Sociedade” 22c levou o
dade da campanha contra a fome, debate para dentro das igrejas em
capitaneada p elo s o c ió lo g o todo o país, culminando com um
Herbert dc Souza, o Betinho. grande encontro cm Brasília, no
final do mês dc julho (199-1). Tor-
Realmente há um novo modo de na-se conveniente resumir c co­
pensar, de agir, de viver fora dos mentar o que foi divulgado ao tér­
princípios éticos, repita-se, o que mino do encontro em Itacy-SP, cm
constitui a crise ética, e a aceita­ maio de 1993, onde teve origem o
ção de situações como as aponta­ documento que traz uma reflexão
das, pinçadas sem qualquer ordem bastante ampla c vivaz da ética:
ou maiores detalhamentos, sc
constitui no que vem sendo cha­ a) o comportamento de políticos
mado de crise da ética, justamen­ profissionais que distanciam seus
te pela naturalidade com que tudo interesses das aspirações dos elei­
é pacificamente encarado. tores, mostrando pouca transpa­
rência no seu agir. C om o
- CNBB - "Ética: Pessoa c Socicdade" - Ed. Paulina - 11. 50.

225
RSP R ob ison B aro n i

conseqüência vemos o aumento í) a abundância dc recursos eco­


da corrupção c abuso do poder; nômicos e técnicos, dc uma par­
te, c a fome e a miséria, que des-
b) a formulação dc novas leis, re­ troem vidas humanas, de outra. As
gulamentando problemas de for­ in terrogações se aprofundam
te relevância É tica, com o as à medida que se percebe que fome
dedicadas à família, ao aborto, à e miséria são fruto de injusta dis­
experimeniação biológica e gené­ tribuição, desorganização e cor­
tica, à eutanásia, às drogas etc.; rupção dos órgãos governamen­
tais, guerras, etc.
c) a discussão sobre Ética e Eco­
nomia, quando esta gera muitas Algumas entidades estão bastante
vantagens para poucos e infelici­ sensíveis e comcçam a demonstrar
dade e penúria às grandes massas sua preocupação (verdadeiramen­
(Ética nos negócios ou Ética da te universal). Temos notícias de
empresa); que clubcs de serviço a nível in­
ternacional, estão se lançando em
d) as pesquisas de bioética, que há campanhas e discussões, como o
vários anos acompanham o im­ Rotary Intcrntional, adotando o
pressionante avanço da biologia e lema: “Preserve o Planeta Terra” ,
da genética e de suas efeivas ou de inspiração "tupini- quim” , ou
possíveis aplicações às pessoas frases de impacto positivo como
humanas, inclusive com o risco da “Acredite no que faz e faça aquilo
manipulação do patrimônio gené­ em que acredita” , “A verdadeira fe­
tico da humanidade. Deve-se pres­ licidade está em ajudar ao próxi­
tar atenção à pressão que a men­ mo”, “Olhe além de si mesmo” , ou
talidade científica c técnica exer­ então, uma grande campanha a
ce sobre a reflexão, às ve/es nível nacional dirigida dc forma
desconsiderando as razões éticas específica aos profissionais de to­
em favor de uma ilimitada ânsia de das as áreas, denominada: “ Ética:
pesquisa c experimentação; um princípio que não pode ter
fim ” , encetada no Rio dc Janeiro
e) as aplicações ou conseqüências c que começa a se projetar no seio
do progresso técnico-científico, da comunidade brasileira (outra
com ameaça à existência da socie­ vez nos lembramos da sabedoria
dade, como as armas atômicas ou popular: “ Devagar se vai ao
nucleares, armas químicas e bio­ longe” ).
lógicas; desequilíbrio ecológico
pela poluição de ar, água e terra, Através dos jornais c revistas pu­
pela destruição da camada dc ozô­ demos constatar, cm meados de
nio, pelo “efeito estufa” etc.; 1993, a verdadeira comoção e sen­

1226
RSP M o r a l e ética

timento de repulsa que certa pu­ n. 11.386, de 24 de junho de 1993.


blicidade de confecção causou, ao No cumprimento do seu preceito,
fazer referência pouco feliz aos realizou o “I Fórum da Ética Pro­
infelizes portadores de AIDS. Qua­ fissional”, no auditório Pedroso
se que imediatamente a entidade Horta, da Câmara Municipal, no
que exerce um controle sobre a período de 20 a 27 de outubro
veiculação de publicidade em out- de 1993, com a participação de vá­
doors, rádios e tvs, considerou que rios segmentos da comunidade
a mensagem era antiética, exer­ paulistana.
cendo o seu poder de censura.
Pelo que se sabe, não é a primeira Acreditamos que inúmeras dúvi­
vez que o CONAR fez sentir sua das sobre comportamentos éticos
atuação naquilo que poderia influ­ no exercício de muitas (ou todas?)
enciar de forma perniciosa e ne­ profissões devem estar atormen­
gativa a consciência dos menos tando a mente de quase todos os
avisados. Claro que se trata de ati­ cidadãos, mas temos de convir que
tude altamente positiva dessa en­ cm qualquer profissão existem os
tidade, entretanto, por outro lado, bons e os maus executores; os éti­
não raro os donos desses jornais e cos e os antiéticos; os competen­
emissoras televisivas, defendendo tes e os incompetentes. Todos es­
a verdade, a honestidade na polí­ tão sujeitos a procedimentos ge­
tica, a ética de princípios, para­ neralizados e influências de com­
portamentos a que já nos referi­
doxalmente permitem em seus ór­
mos. Alguns, no entanto, acabam
gãos a divulgação da pornografia
extrapolando no aproveitamento
e, mais grave, incentivam o
de circunstâncias; enriquecem de
relativismo e o subjetivismo no
maneira muito rápida; não respei­
plano da m oral pessoal.
tam seus próprios limites, porque
entendem que a livre concorrên­
Em nível de negócios e empresas,
cia não tem limites. E atuam como
a vigência do Código do Consumi­
se estivessem dentro da normali­
dor veio colocar um paradeiro nas
propagandas e promoções enga­ dade. Assim, alguns engenheiros
nosas, onde a maioria incauta se assinam plantas sem se responsa­
via prejudicada, sem possibilida­ bilizarem pelas obras; médicos
des de recorrer de forma imedia­ praticam abortos ou, sem o zelo
ta, visando a pôr um fim nessas necessário, fornecem atestados;
situações. p sicólogos se ligam passio-
nalmente aos clientes; corretores
Outra louvável iniciativa foi toma­ não cumprem sua própria tabela
da pelo município de São Paulo- de honorários; dentistas realizam
Capital, ao instituir a “Semana da próteses desnecessárias; adminis­
Ética Profissional”, através da Lei tradores manipulam contas e

227
RSP R ob ison B aroni

con tab ilid a d e em atitudes po e a alma; o corpo, no sentido


fraudatórias; secretárias revelam de que o mal causado a outro deve
segredos de empresas ou dos pa­ ser redimido pela punição do pró­
trões; professores reduzem seus prio homem; a alma, quando se
horários de aula em prejuízo do acredita que um SER SUPREMO
aluno; advogados procrastinam possibilitou a distinção do bem
feitos alegando o direito de pre­ e do m al e, quando este se mani­
paração da ampla defesa; atletas- festa, a divindade estará a postos
heróis reinvidicam anistias fiscais; para cobrá-lo através da própria
magistrados sc integram indevi­ consciência. A justiça é feita com
damente em delegações esportivas a reposição das coisas e fatos no
internacionais; enfim, uma imen­ lugar em que antes se encontra­
sidade dc situações que no passa­ vam. A ética seria uma espécie
do provavelmente seriam de ime­ de justiça interna do próprio
diato coibidas pelos órgãos de homem.
classe, em face de grande pressão
exercida pela comunidade. Porém, Lamentavelmente, vemos nos dias
diante do crescimento popula­ de hoje muitas pessoas tidas como
cional e conseqüente aumento de elementos essenciais à aplicação
problemas, as punições vão sc tor­ da ju s tiç a tecerem , amiuda-
nando mais lentas, aliás, excessi­ damente, comentários em face da
vamente lentas, chegando a serem promulgação de qualquer tipo de
alcançadas pela prescrição. lei (e como existe excesso de
leis!), ou mesmo de demandas
A é tic a d o s b e n s submetidas ao Poder Jurisdicional.
Diante das câmeras de televisões
são emitidos pensamentos que se
^Serta vez nos foi proposto um confundem com o mérito das cau­
debate sobre o tema “Ética na Jus­ sas cm discussão, sem que a deci­
tiça”. Tivemos sérias dificuldades são final, a sentença trânsita, este­
para desenvolvê-lo e confessamos ja consubstanciada, levando com
que não o conseguimos, porque, isso o leigo a acreditar que aquela
como deixamos consignado ante­ opinião é a mais correta e verda­
riormente, quando falamos cm jus­ deira. A simples idéia dc que algo
tiça estamos falando na aplicação possa ser in con stitu cion al,
da ética pura, filosófica, a que traz divulgada ao talante, acaba por
como norte a própria moral. Re­ induzira um pensamento genera­
corde-se que justiça, na concepção lizado e uma grande corrida para
de Sócrates, Aristóteles e Platão, a disputa dc interesses. Quem de­
estava erigida como um bem so­ clara alguma coisa que pode be­
berano, que complementa o cor­ neficiar ou não, sem o necessário

228
RSP M o r a l e ética

fundamemo c suporte, generaliza idéia e o pensamento geral de que


um pensamento e cria dificulda­ são naturais e dentro do costume.
des, agindo de forma antiética, se A aceitação disso com naturalida­
aproveita do benefício. Um magis­ de é o que chamamos de “ crise da
trado, que divulgue fora dos au­ ética” supra apontada.
tos a sua convicção de condenação
ou absolvição falta com a ética " N o m o m n e q u o d licet h o n e s t
profissional, mesmo que para se e s t " 2’
fundamentar declare-se adepto do
denominado “direito alternativo”,
o que daria lugar a que se possa
vida de qualquer pessoa na
pensar numa espécie dc “moral
individualidade, na profissão ou
alternativa” como fundamento de
no seio da sociedade, tem que re­
decisão. Especificamente no cam­
sumir-se numa constante e perma­
po onde temos atuação, podemos
nente regra dc conduta: ser ho­
afirmar que o advogado que vem
a público manifestar como pensa­ nesto. Pode-se viver sem talento
mento seu, segundo o qual uma para qualquer atividade - já o dis­
lei é inconstitucional, sem que te­ se um monografista - mas não se
nha havido qualquer tipo de deci­ vive sem honra.24
são nesse sentido, do Poder judi­
ciário, comete uma falta ética, por­ O homem parece ter esquecido
que aos olhos de todos estará se que a vida está em constante evo­
insinuando à captação dc cliente­ lução, impulsionando a sociedade,
la ou causa. Um representante do enquanto que ao mesmo tempo é
Ministério Público ou Defensoria impulsionado por ela. Tem des­
Pública que requeira pagamento prezado a essência da norma éti­
dc honorários para si, também es­ ca, que inspira e consolida a nor­
tará cometendo falta grave no sen­ ma jurídica. Na sua concepção
tido ético, não bastasse a proibi­ ambas constituem normas de com­
ção constitucional. portamento, diferenciando apenas
no fato de que a primeira (a nor­
Tantos problemas têm surgido, ma ética) é incoercívcl, unilateral,
tantas situações têm sido postas às de grande amplitude e mais difusa,
claras e tudo isso aliado ao inte­ enquanto a segunda (a norma ju­
resse da imprensa em melhor in­ rídica) é restrita, tem coação e, sen­
formar seus seguidores, que aca­ do mais definida, apresenta a ca­
bam ensejando uma avalancha de racterística da b ilateralidade.
atitudes a n tié tic a s . De tão Quando a m oral diz ao homem
repetitivos esses fatos, exsurge a que “ame o próxim o”, pronuncia-

• “N em tu d o q u e é lic ito é h on esto." apóstolo Paulo.


- SODRÉ, Ruy dc Azevedo, ol>. cit. p. 58.
RSP R obison B aro ni

o unilateralmente, sem que nin­ uma essência ética, uma vez que
guém possa reclamar aquele amor. determina como deve ser a condu­
Quando o direito determina ao ta dos simples indivíduos, autori­
devedor que pague, proclama-o dades e instituições na vida soci­
bilateralmente, assegurando ao al, como acentua Van Acker. A
credor a faculdade de receber. Os norma ética, consolidada em nor­
irmãos Mazeaud observam que a ma jurídica, provoca e obriga a to­
m o ra l procura fazer que reine dos a um comportamento, uma
mais do que a justiça a caridade, conduta. Mas - convém ressaltar -
que tende ao aperfeiçoamento in­ a norma ética é sem pre anteri­
dividual.25 “Se observarmos aten­ or à norma jurídica e decorre
tamente a sociedade verificaremos do costume num grupo social.
que os grupos sociais são fontes Logo, não se confundem, ao con­
inexauríveis de normas” 26, por trário, como anteriormente foi
conseguinte, o Estado não é o cri­ acentuado, separando-se nitida­
ador único de normas jurídicas, mente, acabam por entrelaçarem-
ou, na esteira dos ensinamentos se e interprenetrarem-se de mui­
de GofredoTellesJr. (in “Introdu­ tas maneiras.
ção”, apostila, fac. 2, p. 112), “re­
duzir todas as fontes do D ireito Quando inspirado apenas no in­
ao listado é um erro. Nenhum Es­ teresse pessoal ou de determina­
tado poderá jam ais absorver to­ dos grupos, o legislador “cria” di­
das as fontes do Direito. Um mo­ reitos, desprezando o elemento
n op ólio do listado para engen­ ético e m oral dos princípios, aca­
drar e constatar o direito numa ba determinando com que, embo­
comunidade ju ríd ica é, absoluta­ ra nascida em campo autorizado,
mente, irrealizá vel. A cria çã o se espalhe a semente da contrari­
autônoma do D ireito se afirma edade dos costumes e terá que
sempre ". amargar os frutos (“A semeadura
é facultativa, mas a colheita é
Uma das fontes do Direito é a obrigatória” ). A licitude surgida
norma jurídica, que traz em si em face da aparente legalidade da
um elem ento im perativo e/ou norma fatalmente estará viciada,
autorizante, ambos incluídos no por trazer um componente contrá­
grupo de normas éticas que re­ rio à m oral, consequentemente
gem a conduta humana. Como é aos costumes da comunidade.
sabido, a norma jurídica situa-se
no âmbito da normatividade éti­
ca, trazendo, consequentemente,
25 - FERRARA, T ra tla to ”, I, p. 27; MAZEAUD, "leçons de D roit C iv il", n. 14. p. 23.
26 - REALE, Miguel - "J.ições Preliminares de D ire ito " - p. 41._______________________

230
RSP M o r a l e ética

valerá no mês que vem, acaba ten­


C o n c lu s õ e s do comprometidas as regras mo­
rais mais fundamentais da convi­
vência humana. A confiabilidade,
I ntcressante observar que as pes­ a veracidade, a pontualidade, a ho­
quisas de o p in iã o pública, nestidade e a integridade acabam
amiudadamente divulgadas pelos sendo minadas pela falta de esta­
jornais, vêm procurando traçar o bilidade da economia. A inflação
perfil preferencial da população, é uma escola de oportunismo, dc
em relação a candidatos a cargo imediatismo e de corrupção. No
eletivos. Disparadamente ela dese­ Brasil, as pessoas, as empresas e o
ja alguém honesto. Nem mesmo governo sacrificam o futuro em
o monstro da inflação, o império nome da necessidade de ganhar
da violência, a fome, têm destaque mais, aqui c agora, até para se pro­
especial, certamente porque, bem teger dos efeitos da inflação. Num
ou mal, o povo consegue driblar a ambiente como esse, o lucro pas­
inflação, cria condições próprias sa a ser visto com desconfiança e a
de defesa (sempre se protegendo rique/a perde sua legitimidade”27.
atrás de muros e grades cm suas
casas) e não tem vergonha dc pe­ Com o fim da Guerra Fria interna­
dir para saciar sua fome. Não en­ cional abre-se um grande espaço
contra, porém, os mecanismos para a discussão da ética, como
para se defender da desonestidade afirma o professor Jacques Levy, do
que leva à hipcrcorrupção. Des­ Instituto de Estudos Políticos de
consola-se com a impunidade e Paris: “ Pela primeira vez na Histó­
uma série de privilégios que re­ ria, a noção de ética é praticamen­
dundam cm mordomias, acentu­ te universal. O aspecto ético é um
ando a desigualdade social. dos fatores que vai determinar a
reação da opinião global - pilar de
Aliás, afirmar que nossa população um futuro sistema-mundo, econô­
mudou o seu modo de pensar na mico, político e social. O universa­
última década é o mesmo que
lismo já não é um sonho, mas uma
extrapolar no tempo pois, em me­
realidade à qual os políticos estão
ados de 1992, o professor de His­
demorando a responder”28.
tória do Pensamento Econômico,
Eduardo Giannetti da Fonseca, já
afirmava: “A inflação atinge o pa­ Infelizmente, somos o povo do úl­
drão ético da sociedade. Um país timo livro, do último assunto, da
onde as pessoas não sabem quan­ última novela, da última notícia do
to o dinheiro que têm no bolso Jornal Nacional. Novamente nos
27 • Revista VEJA- il. 1.141, ano 25, p. 27- 1/7/92.
- Conferência perante 300 geógrafos de 13 países sobre o lema "O Novo Mapa do
Mundo" - Novo desenho geopolítico do planeta. Fotlia da Tarde - 02/09/92 - p. 17.

231
RSP R ob ison B aroni

socorremos do enfoque popular para que o Executivo, através do


de que “N o Brasil todo escânda­ Judiciário, forneça os meios neces­
lo não dura mais do que 7 dias” . sários à celeridade processual.

Falta aceitação da necessidade da Eqüivale a um drama profissional


ética, que compreende os valores assistir a maioria dos cidadãos que
capa/es de garantir a realização tanto direitos obtiveram em 1988,
pessoal e social do ser humano, ser dragada na voragem das gran­
conforme sua dignidade e o senti­ des disputas do poder econômico
do de sua vida. Não podemos con­ e político, nas pequeninas cidades
tinuar alimentando o individua­ ou grandes metrópoles, e conver-
lism o, que privilegia as opções e ter-se numa mera engrenagem de
decisões do indivíduo, conside­ uma estrutura que, alardeando o
rando exclusivamente seus própri­ progresso cien tífico, se torna
os interesses. Estamos no limiar de marginalizante. Só assistimos a
um novo milênio, e o desamor e casamentos econômicos, patri­
a falta de caridade imperam. A moniais e políticos, sem que seja
convivência social se deteriora de observado o motivo inspirador da
forma dramática, sobretudo pela legalidade e das soluções dos pro­
blemas que, verdadeiramente, im­
corrupção, que lançou raízes pro­
fundas pelo “jeitinho” com que ela pliquem na felicidade e seguran­
ça das pessoas. Não se consegue
foi cuidada, deixando de ser ape­
perceber a utilização dos conhcci-
nas uma erva daninha para se tor­
mentos profissionais e científicos
nar uma grande árvore sem qual­
como solução dos problemas e
quer fruto coletivo. Ela foi longe c
carências da sociedade. Falta segu­
vem euxaurindo a seiva da
rança dc que a conduta pessoal de
tranqüilidade, e não estamos con­
cada cidadão na sua profissão e
seguindo encontrar um antídoto
nos seus negócios esteja de acor­
tão poderoso quanto a sua força,
d o com os p rin cíp io s da
para ceifá-la e atirá-la ao fogo.
moralidade.

Fala-se, proclama-se que tudo isso Se todos os segmentos da nossa


cresce em decorrência da impuni­ sociedade, em harmonia com os
dade e da morosidade da justiça, poderes constituídos, passarem a
em detrimento do bem comum. preocupar-se de form a real e
Mas a justiça se faz com o efetivo irreversível com o caos cm que
cumprimento das l.eis. Leis que nos encontramos e, num ato de
são concebidas e aprovadas por verdadeiro amor puderem unir
um outro Poder, o Legislativo, e suas mãos numa corrente com a
onde imperou a “lei da vantagem”. têmpera do aço, certam en te
V. ele quem deve dar automação adentrarem os o n ovo século

232
RSP M o r a l e Ética

visualizando uma luz no fim do


túnel. E permita o Criador que essa A b stra c t
luz, ainda que de um pequeno
candeeiro, ilumine o caminhar de M ORAL A N D ETHICS
nossos filhos, concebidos ao tem­
po em que nossa consciência re­ Discussion on customs and
pousava letargicamente na pe­ behavior in the d ifferen t
numbra desse mesmo tempo, cuja civilizations o f the world has been
fase nefasta haveremos de sepul­ going on for hundreds o f years.
tar para sempre. Moral and Ethics have been the
subject o f debate ever since Plato,
Sócrates and Aristotle conceived
and tried to improve the idea o f
R e sum e n "soberanos bens" so the anchient
Greeks could attain full happiness
M O RAL Y ETICA o f the body and spirit. Today,
studies on morais and ethics are
La discusion sobre las costumbres gainin g great interest again,
y comportamientos de las distin­ especially among us, where the
tas civilizaciones dei planeta supe­ huge size o f our nation is
ra dos milênios. Moral y Etica son bcginning to demand profound
temas inagotables desde que and dramatic changes in the
Sócrates, Aristóteles y Platón actions, attitudes and behavior o f
con cibieron e intentaron ali Brazilians, who had become
perfeccionar la idea de "soberanos acustomed to using the "jeitinho"
bienes", para que los antíguos (a type o f Brazilian ingenuity to
g rie g o s pudieran alcanzar la confront especially beaurocratic
felicidad plena dei cuerpo y dei problems) to solve our problems.
alma. Ilo y en dia, cl estúdio de la
Moral y de la Etica alcanza reno­
vado interés, principalmen te entre
nosotros, donde el gigantismo de
nuestra nacion comienza a exigir
profundas y dramáticas altera-
ciones en los actos, aciitudes y
comportamientos de todos los
brasilenos, hasta entonces
acostumbrados a fórmulas no or­
todoxas para la solución de los
problemas. Robison Baroni é professor tia
U n iv e r s id a d e d e T a u b a té e
m em bro do Tribunal de Ética
Profissional da OAB-SP.

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