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ORAL E ETICA
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para a b eleza que está em quase ça, como a de Salomão; não existe
tudo o que possa ser visto, ouvi meia-verdade, como a empregada
do, cheirado, tocado c dito, sen hodiemamente pelos integrantes
tidos que foram injustamente re do poder político. Não existe meia-
duzidos ao plano poético, o que alma, nem meio-corpo.
nos leva a indagar: é ética a ati
tude de destruição da camada de C om o “ sob eran os bens”
ozônio da atmosfera ou a quei pinçados no campo da m ora l e
ma de grandes florestas, como a da ética, a lib e rd a d e e a ju s t i
da Amazônia? Enquanto isso, ça foram elevados a “bens tute
lados”, e dentre nós, inseridos na
aquilo denominado como p od er,
Lei Magna. São tidos e constitu
mais do que o sentido de dire
em princípios constitucionais
ção da “pólis” empregada pelos
maximizados p elo Estado, en
pensadores gregos, para a com
quanto sociedade e administra
pleta fe lic id a d e , é lem brado ção. Estado que se d istin gu e
hodiemamente como a inclina como um corpo político destaca
ção do ser hum ano à do da sociedade e tem em suas
autodivinização ou como carac mãos o poder político, o m ono
terização do antropocentrismo. E pólio da lei e da força. É nesse
é esse poder que vai buscar no contexto que vemos o homem
campo da m oral o que mais in como indivíduo, existindo para
teressa à socied a d e, para a sociedade. Como pessoa, a so
transformá-lo em norma, com a ciedade existe para ele. A condi
correspondente sanção material. ção de pessoa supera em muito
a de indivíduo. Não e a somatória
L ib erd a d e, ju s tiç a e verd ad e de indivíduos que vai constituir
entrelaçam-se, não como uma rede o Estado; este é formado por pes
de signifi cantes e significados, sig soas, daí a origem do poder.
nos e significações, mas como
ações disciplinadoras sem frag Os mais atentos já devem ter cons
mentação, como acentuam os mo tatado que a palavra justiça é
dernos estudiosos. Não existe mencionada em nossa Constitui
meia-liberdade, como a prisão ção 101 vezes6. Enquanto isso, a
domiciliar; não existe meia-justi- palavra liberdade é mencionada
6 A palavraJUSTIÇA pode ser encontrada: no Preâmbulo, art. 14 ps. 10 e 11, art. 17
n. III, art. 35 n. IV, art. 36 ns. II eIV, art. 42 p. 8o., art. 55 n. V, art. 73 p. 3o., art. 89 n. VI,
art. 91 n. IV, art. 92 n. II, art. 93 n. III, art. 96 ns. I "e", II, III (duas vezes), art. 98 n. II,
aart. 99 n. II, aart. 102 n. I “a", Tit. IV, Sec. III (várias vezes), art. 104, art. 104 p.u. e n. I,
art. 105 e ns. I, l “c " ,“h" (quatro vezes), art. 105 p.u. (três vezes), rt. 106, art. 108 n. I " a ”
(três vezes), art. 109 ns. I, IV, IX, p. 3o. (duas vezes), art. 110 p.u., art. 11, art. 113, art.
114, art. 114 p. 2o., art. 118, art. 119 n. I “ b” , art. 120 p. Io. n. I “ a” e “ b” , art. 120 p. Io.
n. III, art. 122, art. 123, art. 123 p.u. n. II, art. 124, art. 124 p.u., art. 125, art. 125 p. Io.,
art. 125 p. 3o. (cinco vezes), art. 125 p. 4o., art. 126, no Tit. IV, Cap. IV (várias vezes), art.
133, art. 170, art. 193, art. 217 ps. Io. e 2o. , art. 233, art. 233 p. Io., art. 235 n. IV e VII.
No texto das disposições nos arts. 5o. p. 1, art. 10 p. 3o., 13 p. 3o. n. II, art. 27, ps. Io, 2o
e 3o. c 10 (três vezes) e art. 30.
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apenas 15 vezes7, ao longo do ex ções existe muito mais que simples
tenso texto, seja como indicação diferença: há uma verdadeira rup
de direitos ou com designações do tura, uma contradição8.
exercício do poder, ou ainda com
sentido de aplicação administrati A ética de princípios, de valores
va. Por seu turno, a palavra poder, fortalecendo o corpo e a alma, es
também sob vários aspectos, mas tudada e estabelecida pelos gre
principalm ente com o subordi- gos, cresceu com a força da prega
nante de todos os segmentos con ção cristã, que insistia em que a
tidos no Estado, aparece 204 ve felicidade não consiste apenas em
zes. No entanto, bondade e be fazer o próprio gosto, arbitraria
leza, tanto as palavras como os mente, mas em buscar a própria
sentidos em que possam ou ve realização, o que é bom, o que é
nham a ser empregadas, não tive conforme a natureza humana. Ali
ram o privilégio de ser erigidas a ás, essa idéia de felicidade já era
um patamar mais elevado, desme contida nos Salmos (Sl 34,13) :
recendo qualquer citação. Vale di “Q u a l o hom em que não am a
zer que, embora olvidadas pelos sua vida, p rocu ra n d o ser fe liz
legisladores e constituintes, nem todos os dias?’’
por essa razão perderam o seu sen
tido moral, que sempre será co Sabemos que as instituições huma
brado pela ética. Da mesma for nas e seus relacionamentos podem
ma, ficou inteiramente esquecida evoluir ou involuir, e o modo de
a palavra verdade e acreditamos sua visualização ser reformulado
até que o seu real sentido deixou em nome de uma nova “ética” ,
de ser considerado. Mais adiante logo com novos valores e direitos/
procuraremos dedicar a esse tema deveres, mais ou menos elevados.
uma reflexão maior. É por essa razão que surgem
idéias e posições, como aquelas
Hoje, a felicidade não é mais pen concebidas por volta de 1500,
sada nos termos da m oral antiga, quando em novo e diferenciado
mas em termos de eficácia técni discurso apregoavam que "a boa
ca, de consumo de imediatismo. ação política não deve levar em
Vamos além: ela depende cada vez conta valores que sejam incapa
mais da roda da fortuna, das for zes de garantir seu sucesso, mas
ças externas que tudo controlam apenas o que conduz à meta de
e dominam, o que por si só de sejada" 9, conceito estabelecido
monstra que entre as duas concep por Maquiavel através da frase “a
7 - A palavra LIBERDADE pode ser encontrada: no Preâmbulo, Til. II, Cap. I, art. 5o.,
ns. VI, XVII, XLVT a", IJV, LXVI, I.XVIII, art. 42 p. 8o., art. 139- III. IV, art. 206 - II, art. 220
p. 1., art. 227, art. 227 p. 3o. -V.
8 - NOVAES, Adauto - "Ética" - Cia. das Letras - p. 8.
9 - idetn n. 6.
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12 - VIEIRA. Padre Antônio, "Sermão da Quinta Dom inga de Qnarestna" - S.Luiz - MA,
1654.
11 - TOMÁS DE AQUINO, "Suma Teológica", trad. Alexandre Correa, RS, Livraria Sulina.
1980, p. 2877.
14 • CIIAUÍ, Marilena. "Ética", ob. cit., p. 345.
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dem, dc um desfecho fora de con sar que a crise ética e da ética pa
trole, de uma reação destruidora". rece não ter solução. Bradamos,
Traz no início dc seu estudo, como gritamos, pintamos a cara de ver
epígrafe do primeiro capítulo, a de c amarelo e vamos para as ruas.
frase de Antônio Graxnsci - Pas Exigimos que todos tenham um
sado e Presente : “A crise consis comprometimento ético na políti
te justamente no fato de que o ca, na economia, no trato com as
velh o não m orre e o novo não coisas públicas. Os estudantes se
p od e nascer” .21 Lembramos que munem de cartazes e lotam os
nosso saudoso pai, cm seu peque logradouros públicos, mas esses
no comércio em Taubaté-SP, nos mesmos estudantes (nem todos,
ensinava no final da década de 50: obviamente) são bem capazes dc
“O medo da crise é p io r do que a disputar com truculência os me
própria crise”. Portanto, seja hoje lhores lugares para assistência de
ou há meio século, a existência da um show de seu ídolo; são capa
crise sempre foi motivo de grande zes de se utilizar do artificio da
preocupação. “cola” para alcançar maiores notas
nas escolas e obter aprovação;
P a la v r a s d a m o d a promovem “rachas” em vias públi
cas, colocando cm risco a vida e o
|| patrimônio dc terceiros. Todos
■ Hoje duas palavras ganham o querem uma ética daqueles que
galardão das mais escritas e pro chamam de “maiorais”, mas desco
nunciadas em todo o mundo: éti nhecem, ou digamos, se esque
ca e corrupção. Lembremos, ape cem, da sua própria ética.
nas dc passagem, alguns fatos no
ticiados há pouco tempo pelos jor Verdadeiramente o nosso senso in
nais : a) a descoberta de corrup terior não admite que os idosos te
ção em meio à economia japone nham dc enfrentar, todos os me
sa, que levou seu ministro ao sui ses, uma enorme fila nos bancos
cídio; b) a simples alusão de que para receberem seu pecúlio; no
teria sido dado emprego domésti entanto, temos o nosso próprio
co para quem não detinha direi gerente de atendimento especial
tos de cidadania nos Estados Uni no mesmo banco (tráfico de influ
dos, determinou que não se con ência ou tratamento privilegia
solidasse uma indicação feminina do?). Sentimos um grande descon
à Corte de Justiça daquele país. forto quando moleques pedem
Quando vemos ou ouvimos notí para “guardar” nosso carro nas
cias desse jaez começamos a pen ruas, mas somos capazes de pedir
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"A crise da advocacia no Brasil" • Editora Alfa-Ômega, 1991, p. 17.
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o unilateralmente, sem que nin uma essência ética, uma vez que
guém possa reclamar aquele amor. determina como deve ser a condu
Quando o direito determina ao ta dos simples indivíduos, autori
devedor que pague, proclama-o dades e instituições na vida soci
bilateralmente, assegurando ao al, como acentua Van Acker. A
credor a faculdade de receber. Os norma ética, consolidada em nor
irmãos Mazeaud observam que a ma jurídica, provoca e obriga a to
m o ra l procura fazer que reine dos a um comportamento, uma
mais do que a justiça a caridade, conduta. Mas - convém ressaltar -
que tende ao aperfeiçoamento in a norma ética é sem pre anteri
dividual.25 “Se observarmos aten or à norma jurídica e decorre
tamente a sociedade verificaremos do costume num grupo social.
que os grupos sociais são fontes Logo, não se confundem, ao con
inexauríveis de normas” 26, por trário, como anteriormente foi
conseguinte, o Estado não é o cri acentuado, separando-se nitida
ador único de normas jurídicas, mente, acabam por entrelaçarem-
ou, na esteira dos ensinamentos se e interprenetrarem-se de mui
de GofredoTellesJr. (in “Introdu tas maneiras.
ção”, apostila, fac. 2, p. 112), “re
duzir todas as fontes do D ireito Quando inspirado apenas no in
ao listado é um erro. Nenhum Es teresse pessoal ou de determina
tado poderá jam ais absorver to dos grupos, o legislador “cria” di
das as fontes do Direito. Um mo reitos, desprezando o elemento
n op ólio do listado para engen ético e m oral dos princípios, aca
drar e constatar o direito numa ba determinando com que, embo
comunidade ju ríd ica é, absoluta ra nascida em campo autorizado,
mente, irrealizá vel. A cria çã o se espalhe a semente da contrari
autônoma do D ireito se afirma edade dos costumes e terá que
sempre ". amargar os frutos (“A semeadura
é facultativa, mas a colheita é
Uma das fontes do Direito é a obrigatória” ). A licitude surgida
norma jurídica, que traz em si em face da aparente legalidade da
um elem ento im perativo e/ou norma fatalmente estará viciada,
autorizante, ambos incluídos no por trazer um componente contrá
grupo de normas éticas que re rio à m oral, consequentemente
gem a conduta humana. Como é aos costumes da comunidade.
sabido, a norma jurídica situa-se
no âmbito da normatividade éti
ca, trazendo, consequentemente,
25 - FERRARA, T ra tla to ”, I, p. 27; MAZEAUD, "leçons de D roit C iv il", n. 14. p. 23.
26 - REALE, Miguel - "J.ições Preliminares de D ire ito " - p. 41._______________________
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