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Capítulo 2
Filosofia clássica ............................................... 372
Exercícios Propostos....................................388
Módulo 4
1
18
L
FI
2 Filosofia clássica
DREAMSTIME
pensamento, que substitui as indagações sobre o conjunto humanas persiste. Em tal perspectiva, é lícito afirmar que o
da physis pela problematização da humanidade. A filosofia projeto filosófico socrático, pautado pela pretensão racio-
antiga adquire sentido antropológico, examinando, priorita- nal de conquista da autonomia moral pelos seres humanos,
riamente, o ser humano em suas dimensões natural, social mantém sua importância na atualidade. Também é correto
e política. Nos complexos sistemas teóricos construídos por notar que as pesquisas filosóficas relacionam-se com seus
contextos sócio-históricos específicos ao recepcionarem as sociedades. A sofística compreende essas valorações como
CAP. 2
influências culturais em que se desenvolvem. convenções da vida em sociedade, como criações consen-
Dessa forma, assim como o surgimento da filosofia arti- suais dos seres humanos, com o propósito de regular suas
cula-se com a formação cívica das cidades gregas, o desloca- relações sociais. Os sofistas não se limitam a constatar que
mento temático do pensamento filosófico, das investigações sociedades distintas concebem diferentes preceitos morais e
sobre a natureza para o exame do ser humano corresponde políticos – comportamentos avaliados como moralmente po-
às modificações socioculturais da civilização helênica no sitivos por um grupo são, simultaneamente, reprovados por
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século V a.C. Registra-se o aprofundamento da experiência outros –, mas afirmam a realidade exclusiva dessa diversida-
política na igualdade democrática entre os cidadãos, na ex- de sociocultural: a impossibilidade de se atingir de forma ra-
pansão dos valores democráticos em detrimento da tradicio- cional uma tábua de moralidade universalmente válida. Essa
nal cultura aristocrática. Nos círculos aristocráticos, a areté concepção dos sofistas torna-se mais clara na exposição das
– virtude, excelência humana – é a condição inscrita pela teses de seus principais representantes, Protágoras de Abde-
linhagem familiar, a descendência de ancestrais míticos, isto ra e Górgias de Leontinos.
é, qualidade exclusiva e inata dos aristocratas; na cultura de-
mocrática, a vida virtuosa é compreendida como a aquisição
no universo da cidadania, possibilidade de todos os cidadãos,
independentemente de sua condição de nascimento. Muitas vezes se aduz como uma das causas
LIVRO DO PROFESSOR
Nesse período, a cidade-Estado de Atenas consolida-se do novo humanismo a ampliação de horizontes
como centro econômico, político, cultural e filosófico do mundo mediante aumento de contatos com outros po-
grego, favorecendo as práticas pedagógicas dos sofistas. Estes, vos, na guerra, nas viagens e na fundação de co-
em geral, eram estrangeiros, procedentes de outras cidades lônias. Estes deixaram cada vez mais claro que
helênicas que, mediante remuneração, dedicavam-se à prepa- costumes e modos de comportamento que antes
ração dos cidadãos para a atuação na vida pública. Os sofistas tinham sido aceitos como absolutos e universais,
foram, então, pedagogos na democracia ateniense, profissio- e de instituição divina, eram, de fato, locais e re-
nais da oratória que ministraram ensinamentos de retórica, lativos. [...] A história de Heródoto é típica dos
isto é, realizavam palestras para demonstrar os procedimentos meados do século V pelo entusiasmo com que
pertinentes à construção dos discursos e estimular o desenvol- coleta e descreve os costumes dos citas, persas,
vimento de habilidades argumentativas. Eram protagonistas da lídios, egípcios e outros, indicando suas diver-
paideia vinculada às exigências da cidadania. Paideia é o vocá- gências do uso grego. Se se pedisse a todos os
bulo grego que se refere ao cultivo da natureza humana para a homens, diz ele, que mencionassem as melho-
sua excelência, a realização de suas melhores possibilidades res leis e costumes, cada um escolheria os seus
em uma existência plena de virtude: é sinônimo de educação. próprios; e o ilustra pela história de Dario, que
Sob o prisma da sofística, paideia consiste no cultivo dos seres mandou vir à sua Corte alguns gregos e hindus
humanos para o competente exercício do civismo. e perguntou primeiramente aos gregos por que
consideração eles consentiriam comer seus pais
A. Os sofistas falecidos. Quando estes responderam que não
É preciso destacar que as atividades dos sofistas não se fariam isso por nada, ele se voltou para os hindus
restringem ao campo educacional, implicando também con- (de uma tribo que normalmente comia os corpos
cepções filosóficas consoantes às suas atividades pedagógi- de seus pais) e lhes perguntou se algo poderia
cas. Com a sofística, iniciam-se as especulações em torno da persuadi-los a queimar seus pais (como os gre-
moral e da política. Anunciam-se, assim, a ética e a filosofia gos faziam), ao que eles protestaram pela mera
política como campos específicos do conhecimento filosófi- menção de tal impiedade.
co. Os sofistas pretendem demonstrar que, sobre uma única GUTHRIE, William Keith Chambers. Os sofistas.
questão, é possível a elaboração de argumentos contrários São Paulo: Paulus, 1995. p. 20, 21.
e, com a mesma intensidade, racionalmente sustentáveis.
Essas exibições expressam, simultaneamente, um desafio
à moralidade vigente na sociedade e uma postura bastante Protágoras de Abdera (492-422 a.C.) declara o princípio do
original no tocante ao problema do conhecimento. homem-medida, densamente contido em sua sentença segun-
O confronto com a moral vigente, especialmente em rela- do a qual “o homem é a medida de todas as coisas, das que são
ção à herança aristocrática que a situa em pressupostos divi- pelo que são e das que não são pelo que não são”. É imprescindí-
nos, é feito pela inspeção racional dos valores. Esta, por sua vel registrar que a referência de Protágoras, em seu enunciado,
própria natureza investigativa, recusa o pretenso valor abso- não é o ser humano como sujeito universal do conhecimento,
luto da moralidade fixada pela tradição cultural ateniense. Ao a espécie humana que encontra em si mesma conhecimentos
atribuírem idêntica validade racional a teses contrárias sobre idênticos e acessíveis a todos os indivíduos. Trata-se do ser hu-
temas morais e políticos, os sofistas revelam sua orientação mano singular, individual, o que significa que o verdadeiro para
predominantemente relativista sobre o saber e rejeitam a pro- um indivíduo pode ser falso para outro. Constata-se, assim, uma
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cura pelo conhecimento de valores universais e definitivos. atitude gnosiológica relativista desse filósofo.
Para os sofistas, noções como bem e mal, certo e erra- Protágoras não desenvolveu um estudo sistemático sobre
do, justo e injusto não são objeto de conhecimento absoluto a natureza do conhecimento e suas condições de possibilidade.
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capaz de discernir conteúdos morais universalmente ver- Sua tese relativista envolve um problema que veio a receber am-
dadeiros e prescritíveis a todos os humanos de diferentes pla e profunda atenção dos estudos filosóficos na área de gno-
siologia: há um critério absoluto e exterior aos indivíduos para As concepções de conhecimento instauradas pelos sofistas
CAP. 2
se delimitar a distinção objetiva entre a verdade e a falsidade? prenunciam problemas fundamentais para a gnosiologia. Suas
A resposta de Protágoras a essa questão é negativa, pois, teses seguramente podem ser recusadas pela maioria dos filó-
para esse filósofo, o conhecimento tem dimensão estritamente sofos posteriores – como, de fato, o são –, mas não são ignora-
individual, ou seja, assenta-se em diferentes sensações, per- das, pois exigem dos pensadores envolvidos com a procura de
cepções e ideias, referentes unicamente aos indivíduos. O relati- verdades universais a justificação de seus métodos e o rigor de
vismo desse sofista pronuncia-se com igual intensidade em seu suas demonstrações racionais. Essas exigências já se manifes-
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agnosticismo, contido no seguinte fragmento: “Sobre os deuses tam em um contemporâneo dos sofistas: Sócrates.
não tenho possibilidade de afirmar que são, nem que não são”.
Nessa declaração de Protágoras, evidencia-se a tese de que é
plausível a concatenação de argumentos favoráveis à existên-
cia dos deuses e, na mesma medida, de raciocínios contrários à A conceituação negativa dos sofistas na história da
existência de seres divinos, sem que se possa atestar a verda- filosofia é fixada pelos textos de Platão, que, dedicado a
de absoluta de uns e a completa falsidade de outros. Sob esse demarcar as diferenças entre a mera retórica e o autên-
prisma, realizam-se os seus ensinamentos retóricos, situações tico compromisso com a conquista do conhecimento
nas quais Protágoras explora as controvérsias em torno de dife- filosófico, descreve depreciativamente a sofística, consi-
rentes discursos, sustentando hipóteses contrárias e, contudo, derando-a, em muitas passagens de seus escritos, como
LIVRO DO PROFESSOR
sofística para a especulação filosófica, sobretudo por sua posi- A postura filosófica de Sócrates é um marco fundamental
ção precursora no âmbito do relativismo gnosiológico e cultural. na história do pensamento filosófico.
É importante assinalar o problema da historicidade de Só- própria ignorância. Então, o motivo pelo qual se afirma a su-
CAP. 2
crates. Dos pré-socráticos e dos sofistas restam fragmentos perioridade de Sócrates é o fato de que ele é ciente de sua
de textos que, estudados conjuntamente aos comentários ignorância, pois sabe que nada sabe.
de outros filósofos sobre o seu pensamento – as menções
realizadas por Platão e Aristóteles, por exemplo –, permitem
a reconstituição de seus discursos filosóficos. Em relação a
Sócrates, a situação é diferente, pois esse filósofo dedica-se A informação de que a atividade filosófica de Sócrates
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exclusivamente à oralidade filosófica, sem registrar sequer é, em certo sentido, estimulada por uma espécie de reve-
uma linha escrita de seu pensamento. O acesso à sua filoso- lação religiosa pode parecer incongruente com o fato de o
fia é indireto, feito apenas por textos de autores que versam pensamento filosófico grego se consolidar, em larga me-
sobre Sócrates e sua proposta filosófica. dida, por seu distanciamento em relação à religião. Deve-
Nosso conhecimento a respeito de Sócrates é prove- mos, entretanto, observar que a ruptura da filosofia helêni-
niente especialmente dos testemunhos de seus contempo- ca com a religião não é absoluta e, ainda que os filósofos
râneos, Aristófanes, Xenofonte e Platão. Aristófanes (447- se afastem da simples crença religiosa, eles permanecem,
-385 a.C.) é um autor teatral grego, que transforma Sócrates em muitos casos, pelo menos parcialmente receptivos à
em personagem central de sua comédia As nuvens. Nesse influência de uma cultura marcada pela religiosidade.
texto, Sócrates é representado como um misto de filósofo
LIVRO DO PROFESSOR
da physis e de sofista, no sentido pejorativo da expressão:
ele especula sobre o cosmos e ensina a converter o pior ar- O reconhecimento da ignorância é o ponto de partida do
gumento na melhor solução para uma questão. Xenofonte método especulativo de Sócrates, a precondição da aspira-
(430-355 a.C.) apresenta-se como discípulo de Sócrates e ção ao saber. Evidentemente, a máxima socrática “só sei que
retrata-o em seus escritos, como no texto denominado Me- nada sei” não se estende a todos os aspectos da realidade.
moráveis. Oferece-nos, contudo, a imagem de um filósofo Reporta-se a questões filosóficas fundamentais, quanto ao
plenamente resignado às convenções de sua sociedade, in- discernimento da finalidade da vida humana e ao discerni-
tensamente submetido à moralidade prevalecente entre os mento dos valores morais universais. Sócrates tem ciência,
atenienses. Aceitar essa imagem torna difícil a compreen- por exemplo, de que é um homem e um cidadão ateniense.
são das razões pelas quais a postura filosófica socrática Alguns historiadores da filosofia interpretam a proclamada
perturbou a sociedade de Atenas. Platão (427-347 a.C.) é o ignorância socrática unicamente como um artifício investi-
autor que, em seu conjunto de escritos, apresenta a ativida- gativo para a remoção dos falsos saberes e a definição do
de filosófica de Sócrates em sua fecundidade e prodigalida- itinerário filosófico na busca pela verdade. Seja essa igno-
de, relatando minuciosamente o método socrático e o viés rância inicial uma declaração sincera ou somente um recur-
ético de sua filosofia. so metodológico, é a partir dela que esse filósofo desenvolve
O Sócrates incorporado pela tradição filosófica é aquele seu método.
relatado nos textos de Platão, entretanto o Sócrates presen- Sócrates compreende seu método como um expediente
te nos diálogos escritos por Platão ultrapassa a sua histori- intelectual que pode ser utilizado por todos os homens em
cidade, sendo, muitas vezes, a personagem que pronuncia seu percurso para o conhecimento e considera o conheci-
conceitos pertencentes à filosofia platônica e que, portanto, mento acerca da humanidade como o objetivo essencial da
não seriam elaborações efetivas do Sócrates histórico. Preci- atividade filosófica, sucintamente indicado na frase “conhe-
samente por considerar sua teoria filosófica em estrita con- ce-te a ti mesmo”. Esse método é denominado de dialético ou
tinuidade com o projeto socrático, Platão não se preocupa dialógico e, em linhas gerais, consiste em um diálogo com-
em discriminar com exatidão, em seus textos, a efetividade posto por sucessivas interrogações, sistematicamente con-
histórica de Sócrates e as conceituações procedentes do duzidas, sobre uma temática específica, com o propósito de
próprio platonismo. Sem um recorte nítido entre o Sócrates gradual eliminação das hipóteses que não resistem à inquiri-
histórico e o Sócrates platônico, os estudiosos inclinam-se ção racional e de construção de um conhecimento definitivo,
a classificar os diálogos da juventude e alguns dos textos um conceito do tema em questão.
da maturidade de Platão como os escritos mais próximos da
historicidade realmente socrática, ou melhor, da proposta
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que, de fato, não possuem. Os pretensos sábios são, portan- As interrogações socráticas pretendem ultrapassar as
to, duplamente ignorantes: nada sabem e desconhecem a opiniões em direção às verdades filosóficas.
Esse método dialético é formado por dois momentos, a (o élenkhos) e constituem um meio de reverter
CAP. 2
exortação (protréptico) e a indagação (elenkhos). Sócrates, o argumento do interlocutor para fazê-lo cair em
distintamente dos sofistas, não ministra longas preleções para contradição. A refutação socrática revela a presun-
uma plateia atenta. De forma coerente com sua reconhecida ção de saber do adversário, pela insuficiência de
ignorância, ele convida, exorta um interlocutor a apresentar suas definições e pela aporia.
sua definição sobre um tema, por exemplo, coragem, virtude, c. Sócrates nunca ensina pessoa nenhuma, porque a
justiça. Com a exortação, o interlocutor discorre sobre o tema profissão de ignorância caracteriza o modo pelo qual
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proposto, expondo fluentemente seu presumido conhecimen- encoraja seus discípulos a adquirirem sabedoria
to acerca do assunto. Após essa exposição, inicia-se o segundo diretamente do deus do oráculo de Delfos. A ironia
momento do método socrático, subdividido em ironia e maiêu- socrática é uma dissimulação que, pela zombaria,
tica. A ironia inicia-se com o aparente acolhimento socrático da revela as verdadeiras disposições do pequeno nú-
explicação apresentada, seguida pela introdução de questões mero dos que se encontram aptos para a filosofia.
expostas por Sócrates, uma sequência encadeada de indaga- d. Sócrates nunca ensina pessoa nenhuma antes de
ções, cujo exame, expresso em comentários críticos, incide testar sua aptidão filosófica por meio de perguntas
na revelação da fragilidade da tese declarada pelo interlocu- e respostas. Seu procedimento consiste em des-
tor. Realiza-se, assim, a refutação, consentida racionalmente truir as definições do adversário por meio da ironia.
por todos os participantes do diálogo, da definição proposta A ignorância socrática encoraja o adversário a reve-
LIVRO DO PROFESSOR
de início, havendo a constatação de que o pretenso saber do lar suas opiniões verdadeiras que, pela refutação,
interlocutor nada é além de uma opinião distante da verdade. dão a medida da aptidão para a vida filosófica.
Dessa forma, exortação e ironia conjugam-se na eliminação de
um falso conhecimento e, com a supressão do saber equivo- Resolução
cadamente suposto, estão todos prontos para se lançarem em O método socrático pode ser adequadamente resu-
direção ao verdadeiro conhecimento. Esse percurso dialógico mido na identificação das contradições da tese apresen-
para a verdade é denominado de maiêutica, parto de ideias. tada pelo interlocutor de Sócrates, conduzindo-o, median-
O método dialógico é concebido por Sócrates como o em- te interrogações criticamente examinadas, à constatação
preendimento necessário à identificação racional de um pro- de uma aporia, a impossibilidade de solução filosófica da
pósito para a vida humana e à consequente conquista da au- questão, segundo a explicação apresentada, e à busca de
tonomia moral pelos seres humanos. Esse filósofo vincula a um conceito verdadeiro para o tema contemplado.
felicidade ao aperfeiçoamento da alma, aprimoramento este Alternativa correta: B
que se realiza pelo conhecimento. Em alguns dos diálogos
especificamente socráticos de Platão, Sócrates diferencia os
bens da alma dos bens do corpo e dos bens exteriores. Coragem, prudência e memória são listados entre os bens
da alma. Bens do corpo são a saúde, a beleza e a força; bens
exteriores são as riquezas materiais, a glória e a reputação so-
APRENDER SEMPRE 26 cial. Todos esses bens distintos, entretanto, não são bens em
si, mas somente bens condicionados, quer dizer, são realmen-
01. UFU-MG te bens se conduzidos corretamente, virtuosamente, uma vez
O trecho faz uma referência ao procedimento investi- que, para Sócrates, a virtude é o único bem incondicional. É
gativo adotado por Sócrates. nesse horizonte que se situa o “conhece-te a ti mesmo” socrá-
tico, pois a autonomia moral é necessariamente atingida com
O fato é que nunca ensinei pessoa nenhuma. o conhecimento da natureza humana, da alma, compreendida
Se alguém deseja ouvir-me quando falo ou me como sede do pensamento. Em sua natureza de ser pensante,
encontro no desempenho de minha missão, quer o ser humano é capaz de distinguir racionalmente o bem e o
se trate de moço ou velho [...], me disponho a mal, de aprimorar a si mesmo no conhecimento de sua alma,
responder a todos por igual, assim os ricos como que coincide com a realização da felicidade.
os pobres ou, se o preferirem, a formular-lhes Identidade entre virtude e conhecimento, ignorância
perguntas, ouvindo eles o que lhes falo. como motivo do mal e unidade das virtudes são aspectos
PLATÃO. Apologia de Sócrates. Belém: Edufpa, 2001. p. 33 a-b. centrais na proposta ética socrática. Para Sócrates, o saber
é condição necessária e suficiente da vida virtuosa, pois co-
Marque a alternativa que melhor representa o mé- nhecimento da virtude proporciona o paradigma dos compor-
todo socrático. tamentos moralmente corretos. Com a intenção de justificar
a. Sócrates nada ensina porque apenas transmite essa proposição, o filósofo procede a uma analogia entre o
aquilo que ouve de seu daímon. Seu procedimen- conhecimento moral e os saberes técnicos, como a medi-
to consiste em discursar, igualmente para qual- cina, a navegação e a marcenaria. Nos diferentes ofícios, o
quer ouvinte, longos discursos demonstrativos conhecimento é necessário para que a finalidade específica
retirados da tradição poética ou perguntas que de uma ação seja atingida: para que o médico contribua com
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levem o interlocutor a fazer o mesmo. o restabelecimento da saúde de seu paciente, é preciso que
b. A profissão de ignorância e a ironia de Sócrates tenha acesso ao saber medicinal; para um comandante con-
fazem parte de seu procedimento geral de refu- duzir corretamente sua embarcação pelos mares, é preciso
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tação por meio de perguntas e respostas breves que conheça as técnicas de navegação; e para um marcenei-
ro produzir uma mesa de boa qualidade, são imprescindíveis
os conhecimentos de marcenaria. Da mesma forma, para agir socrático e por seu entendimento de que a exposição dialógi-
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com virtude, é necessária a sabedoria da virtude. As escolhas ca é o caminho mais adequado ao exame de todos os aspec-
humanas pelas ações justas, corretas, enfim, moralmente tos envolvidos em um tema, construindo, com segurança, o
apropriadas são possíveis quando se conhece o bem. percurso da multiplicidade de opiniões à verdade universal.
Contudo, nas áreas técnicas, o saber não é garantia de que Comprometido com a pesquisa filosófica, fundou uma insti-
a atividade se realize com pleno êxito. É possível que o médico tuição de ensino, a Academia, caracterizada pela metódica
não pretenda a cura do doente, que o comandante queira, por investigação das temáticas filosoficamente relevantes.
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um motivo qualquer, desviar-se do trajeto correto e que o mar- Com seu projeto de readequação do logos ao ser, a filo-
ceneiro esteja decidido a executar sua obra com muitas falhas. sofia platônica compreende uma sofisticada tentativa de
Neste ponto, situa-se o limite da analogia entre os saberes técni- superação dos impasses legados pelos pensadores pré-so-
cos e o conhecimento moral, pois, segundo Sócrates, o conheci- cráticos no tocante às relações entre ser e devir. Tal conflito
mento da virtude é condição necessária e suficiente para a vida pronuncia-se claramente no contraste entre o eleatismo e o
virtuosa, ou seja, aquele que conhece a virtude sempre conduz heraclitismo. Sabe-se que a concepção eleática, iniciada com
virtuosamente sua vida, uma vez que nenhum ser humano pro- Pamênides de Eleia, rejeita o fluxo e a mobilidade, ou seja, as
cura decididamente o que é um mal para si – e a virtude, con- transformações do mundo que recepcionamos com nossos
vém reafirmar, é o bem incondicional. Conhecimento do bem e sentidos, sob a alegação de que o vir a ser é incongruente
prática do mal são noções antagônicas, porque a alma humana, com as exigências racionais do ser: uno, eterno e imutável.
LIVRO DO PROFESSOR
conhecendo a virtude, jamais se equivoca em suas escolhas. Em sentido oposto, Heráclito recusa a noção de estabilidade
Sob o prisma socrático, o saber moral é o conhecimento do ser, afirmando a realidade como transformação incessante
supremo, sendo essa sabedoria a própria virtude. Justiça, pru- de todas as coisas, a racionalidade como o fluxo permanente
dência, piedade, isto é, os bens da alma não são rigorosamente do devir na harmonia dos contrários.
diferentes virtudes, mas sim expressões da virtude, do conhe- Platão identifica méritos tanto na filosofia de Parmênides
cimento. No diálogo denominado Protágoras, encontra-se um quanto na teoria de Heráclito, avaliando que ambas colocam
exemplo oferecido por Sócrates acerca da unidade das virtu- em relevo importantes aspectos da realidade, no entanto atri-
des, quando esse filósofo afirma que coragem não é sinônimo bui insuficiências ao eleatismo e ao heraclitismo. De acordo
de destemor, consistindo, na realidade, no conhecimento sobre com sua reflexão, a filosofia heraclitiana não supera o plano
a necessidade de recuar em razão de um risco ou de enfrentar das sensações e, ao resumir a totalidade do real no devir, invia-
uma situação de perigo, quer dizer, a coragem, assim como to- biliza o conhecimento das essências, dos seres que são sem-
das as expressões virtuosas, é essencialmente sabedoria. pre iguais a si mesmos. Quanto à ontologia de Parmênides, seu
A atividade filosófica de Sócrates provocou desconforto equívoco reside na suposição do ser uno e na recusa do não
nos círculos sociopolíticos dominantes na cidade de Atenas, ser, desconsiderando-se, assim, a pluralidade de seres.
especialmente pela profundidade de seus questionamentos,
DREAMSTIME
que desafiavam os saberes socialmente estabelecidos. Esse
fato resultou no julgamento de Sócrates pelo tribunal ate-
niense, sob a acusação de corrupção da juventude – muitos
jovens acompanhavam o filósofo em suas atividades espe-
culativas – e de impiedade – descrença nos deuses da pólis.
De acordo com o relato de Platão, em seu texto Apologia de
Sócrates, o filósofo, diante de seus julgadores, não efetuou a
própria defesa, mas a defesa da pesquisa filosófica, o que é
coerente com seu entendimento de como se deve viver: filo-
soficamente. O desfecho do julgamento foi a condenação de
Sócrates à morte. Seu projeto filosófico, porém, persiste nas
investigações de Platão e de Aristóteles; mais do que isso,
persiste na tradição filosófica que se constrói da Antiguidade
grega aos tempos atuais.
2. Platão
Inserido na proposta filosófica socrática, Platão
(427-347 a.C.) desenvolveu um amplo e complexo sistema
filosófico, que contempla, articuladamente, diferentes ques- Desde o interior do projeto socrático, Platão desenvolve um complexo
tões da filosofia, como ontologia, cosmologia, conhecimen- sistema filosófico, cuja repercussão se estende à atualidade.
to, linguagem, ética e política. Seus escritos tornaram-se fun-
damentos do pensamento filosófico, referência fundamental Platão tampouco se satisfaz com as explicações concilia-
para a cultura ocidental e para os estudiosos da filosofia. As tórias apresentadas pelos últimos pré-socráticos, dedicadas à
diversas perspectivas teóricas desenvolvidas na história do conjugação do ser com o devir. Para esse filósofo, é necessário
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pensamento, da filosofia clássica grega à atualidade, preser- avançar dialeticamente para além de Parmênides e de Herá-
vam o contato, ainda que muitas vezes conflitivo, com o re- clito, identificando racionalmente os seres e as causas da ge-
pertório filosófico platônico. ração e da corrupção observadas no devir. Orientado por esse
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Platão redigiu a maior parte de seus textos na forma de propósito, Platão empreende um itinerário especulativo no
diálogo, o que se explica por seu compromisso com o método interior do qual se elabora sua teoria das ideias ou das formas.
A. Teoria das ideias Logo – prosseguiu Sócrates – não compreen-
CAP. 2
Um caminho para compreender a teoria das ideias de do nem posso admitir aquelas outras causas
Platão é a metáfora da segunda navegação, utilizada pelo fi- científicas. Se alguém me diz por que razão um
lósofo em seu diálogo Fédon. Nesse texto, o filósofo afirma objeto é belo, e afirma que é porque tem cor ou
que a primeira navegação, alusão metafórica às pesquisas forma, ou devido a qualquer coisa desse gêne-
pré-socráticas, é realizada à vela, isto é, os primeiros filósofos ro – afasto-me sem discutir, pois todos esses ar-
não conseguem conferir às suas investigações a direção ne- gumentos me causam unicamente perturbação.
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cessária à ultrapassagem do plano sensível, ao discernimen- Quanto a mim, estou firmemente convencido
to das causas profundas da realidade e dos princípios expli- [...] que o que faz belo um objeto é a existência
cativos do conjunto do real. A segunda navegação, proposta daquele belo em si, de qualquer modo que se
por Platão, processa-se a remo, ou seja, exige um esforço faça a sua comunicação com este.
complexo e criterioso do logos no caminho para a contempla- PLATÃO. Fédon. São Paulo: Abril Cultural,
ção do ser das coisas. Essa segunda navegação possibilita a 1972. p. 113. (Os pensadores).
passagem do sensível ao suprassensível, das aparências que
recepcionamos pelos sentidos aos seres em si, conhecidos Essa tese de Platão aplica-se à multiplicidade obser-
pela inteligência. vada no mundo sensível. Um marceneiro que produz uma
A teoria platônica das ideias, desenvolvida com sua se- mesa tem como ponto de partida a ideia de mesa, a mesa
LIVRO DO PROFESSOR
gunda navegação, compreende a realidade em dois planos em si. A mesa por ele fabricada, por melhor que seja a sua
hierarquicamente articulados, o inteligível e o físico. A esfera qualidade, não será perfeita e, além disso, certamente
inteligível é a causa do mundo sensível: as diversas coisas sofrerá a decomposição no curso do tempo, deixando
do plano sensível existem como reprodução imperfeita dos de existir. Assim como um triângulo desenhado por um
inteligíveis, os seres plenos, as ideias. Os seres corruptíveis, geômetra ou inscrito em um elemento da natureza deriva
que se transformam e perecem, existem por sua partici- da ideia de triângulo, reproduzindo-a imperfeitamente no
pação nas ideias e possuem um grau menor de realidade, horizonte do devir, da mesma forma, um ser humano que
comparativamente à plenitude do plano inteligível. Para au- pratica uma ação realmente justa regula a sua conduta
xiliar no entendimento da teoria de Platão, utilizaremos um pela ideia de justiça, que existe por si mesma, indepen-
exemplo: a noção de beleza, tratada pelo filósofo em muitos dentemente do seu ato.
de seus textos.
Observamos, ao nosso redor, muitas coisas belas: pes-
soas, paisagens naturais, objetos fabricados pelos seres
DREAMSTIME
humanos. O que há em comum entre esses diferentes seres
que identificamos como belos, que nos permite reconhecer
a sua beleza? Todos eles manifestam a beleza porque parti-
cipam da ideia do belo. Além dos seres sensíveis, há o belo
em si, que não se oferece diretamente aos nossos sentidos e
do qual procede a beleza de todas as coisas. As coisas belas
deixam de sê-lo nas transformações do devir: uma escultu-
ra se deforma com o passar do tempo, a vegetação florida
desaparece sob o fluxo das estações climáticas, um ser hu-
mano bonito tende ao perecimento. Assim acontece porque
os seres do devir constituem um nível inferior de realidade
ou, no exemplo em questão, porque participam imperfeita- De acordo com a teoria das ideias de Platão, a realidade
mente da ideia de beleza, mas não são o belo em si. O belo sensível existe por sua participação nas ideias. A beleza de
uma paisagem, por exemplo, procede do belo em si.
em si jamais se transforma, situa-se originariamente além
das transformações do vir a ser; ele é pleno de realidade e O que significa, então, o termo ideia, no vocabulário filo-
pode ser conhecido somente pela razão, quer dizer, não se sófico de Platão? Convém sublinhar que a ideia, conforme a
apreende pelos sentidos. A ideia do belo é, então, o princípio concepção filosófica platônica, é algo profundamente distinto
explicativo da beleza que encontramos na diversidade de dos sentidos que essa palavra receberia na cultura moderna.
coisas do mundo. Especialmente na filosofia moderna, concebemos a ideia
como uma representação mental, uma abstração procedente
do pensamento humano, uma produção intelectual dos sujei-
tos humanos. Em Platão, as ideias não são criações dos seres
Examina, pois, com cuidado, se estás de acor- humanos: elas são os seres em si, que existem objetivamen-
do, como eu, com o que se deduz dessa teoria! te, a despeito de serem conhecidos pelos seres humanos. As
Para mim é evidente: quando, além do belo em ideias são a realidade plena, caracterizando-se pela inteligi-
si, existe um outro belo, este é belo porque parti- bilidade, pela incorporeidade, pela imutabilidade e pela uni-
378
cipa daquele, apenas por isso e por nenhuma ou- dade. As ideias são rigorosamente inteligíveis, podendo ser
tra causa. O mesmo afirmo a propósito de tudo contempladas unicamente pelo pensamento; são incorpó-
mais. Reconheces isto como causa? reas, pois situam-se em uma dimensão metafísica essencial-
PV2D-17-10
CAP. 2
derivam as multiplicidades imperfeitas da esfera sensível. nhecido. Inicialmente, o antigo prisioneiro observa somente
Vale recordar que a complexa teoria das ideias delineia o as sombras de seres humanos, objetos e vegetações que se
dualismo ontológico presente no sistema filosófico de Platão. espalham pelo chão. Aos poucos, expande seu olhar. Contem-
Para o platonismo, a totalidade do real é composta por níveis pla as imagens refletidas sobre a superfície das águas, dirige
distintos de realidade, o plano dos seres em si, eternos, e o gradualmente seu olhar aos próprios elementos ao seu redor
plano dos seres inseridos no devir, corruptíveis. Em termos – seres vivos, natureza, construções humanas. Acostuman-
FILOSOFIA 181
sucintos, constata-se que o plano das ideias é a causa do pla- do-se devagar à complexidade do mundo descoberto, atinge o
no sensível: tudo o que existe na esfera sensível, desde os momento em que consegue elevar seus olhos na observação
valores morais até os objetos fabricados pelos seres huma- do céu. Por fim, torna-se capaz de atingir o princípio supremo,
nos, existe como derivação imperfeita da esfera das ideias. fonte de iluminação de todas as coisas que podem ser vistas,
ou seja, olha diretamente para o sol.
B. A Alegoria da Caverna Esse ex-prisioneiro, então, conhece profundamente a
Essa dualidade ontológica é metaforicamente retratada realidade e percebe as sombras do fundo da caverna, antes
por Platão em sua Alegoria da Caverna, contida no livro VII confundida com a realidade plena, como uma reprodução
de um de seus principais diálogos, talvez o mais conhecido, consideravelmente distorcida de um mundo complexo e
A república. superior. Para esse ser humano, que agora conhece efetiva-
LIVRO DO PROFESSOR
A Alegoria da Caverna relata, inicialmente, a condição mente os seres, decerto não é agradável retornar ao subter-
em que os seres humanos estão, desde o início de vida, râneo da gruta. Mesmo assim, ele retorna com o propósito de
acorrentados no fundo de uma gruta subterrânea, comple- comunicar suas descobertas aos seus companheiros de pri-
tamente imobilizados e com seu campo visual restrito às são, para que estes possam realizar o percurso ascensional
imagens projetadas na parede natural que têm diante de si, de conhecimento do mundo. O retorno ao fundo da caverna
onde sombras de seres humanos e de objetos movem-se seguramente ofenderia sua visão, perturbada pela escuridão
com certa regularidade. Seu horizonte perceptivo, portanto, predominante no ambiente, o que seria percebido pelos seus
limita-se a essa realidade, tida por esses seres humanos habitantes como um mal irreparável que atingiria todos os
como o conjunto de tudo o que existe. Atrás desses prisio- seres humanos que se projetassem além de sua condição
neiros, há uma realidade absolutamente desconhecida, um primitiva. Possivelmente, prefeririam todos permanecer na si-
caminho elevado para o exterior da caverna, que consiste tuação em que se encontravam e talvez até matassem aquele
na abertura pela qual penetram réstias de luz, impedindo a que tentasse convencê-los a romper suas correntes.
total escuridão no interior da gruta. Um muro separa a caver- A Alegoria da Caverna remete à teoria das ideias, ao
na da amplitude de seu ambiente exterior e, por trás dele, dualismo ontológico, à diversidade temática e ao conjunto
transitam frequentemente seres humanos carregando es- conceitual da filosofia platônica. O interior de sombras da
tatuetas que reproduzem formas humanas e animais. Uma caverna representa a existência no plano sensível, o mundo
parte desses homens transita em silêncio, enquanto outros em que vivemos com nossas paixões, com nossos hábitos e
conversam entre si. com nossa racionalidade, em que tudo se transforma sob o
Os seres humanos presos na caverna, convém destacar, devir. O exterior da caverna nos conduz ao plano das ideias,
ignoram essa realidade mais complexa e as causas profundas aos seres puros, que são acessíveis unicamente pelo pensa-
das imagens que visualizam na parede da gruta, isto é, acre- mento. O mundo das sombras é real? Possui, sim, realidade, à
ditam que nada existe além daquelas sombras que se ofere- medida que se fundamenta no plano superior, existente além
cem à sua visão e as recepcionam, equivocadamente, como a dos limites da caverna. Trata-se, porém, de um nível inferior
realidade completa, que seria formada, então, por contornos de realidade, que apenas é compreendido no conhecimento
de animais e de seres humanos, circulando e conversando no de suas causas, na ascensão para a realidade superior, na ex-
espaço restrito do fundo da caverna. Desconhecem o fato de terioridade da caverna.
que, atrás de si, há uma via que conduz a uma realidade ex-
terna à caverna, ignoram a existência de seres humanos que
transportam objetos, ignoram os próprios objetos, ignoram a
paisagem natural além da gruta, ignoram, enfim, a existência
DREAMSTIME
-se ao atingir o exterior da caverna e seus olhos, habituados a A Alegoria da Caverna contempla, metaforicamente,
visualizar unicamente as sombras na parede da gruta, são in- o conjunto conceitual da filosofia platônica.
O deslocamento do prisioneiro, com sua gradual descoberta do mundo do qual derivam as sombras, indica o processo de
CAP. 2
conhecimento, de ultrapassagem dos sentidos pela razão que se encontra com as ideias. Não por acaso, o olhar direcionado ao
sol corresponde ao ato final no reconhecimento do mundo. O sol simboliza, na Alegoria da Caverna, a condição de possibilidade
da visão de todas as coisas, aludindo metaforicamente ao bem, que é a ideia suprema da filosofia de Platão, conferindo completa
inteligibilidade e ordem ao todo. Mas o conhecimento, afinal, tem sua origem nas sombras ou no exterior da caverna? Transferin-
do a linguagem alegórica para a dimensão conceitual do sistema filosófico de Platão, a questão assim se coloca: o conhecimento
inicia-se com os sentidos ou tem sua fonte na razão?
FILOSOFIA 181
de conhecimento é sinônimo de recordação, de rememoração efetuada em um longo trajeto dialético de superação dos sentidos.
No livro VI de A república, Platão esclarece esquematicamente sua concepção do processo de conhecimento em uma linha
dividida em duas partes desiguais, a primeira representando o plano sensível e a segunda indicando o plano inteligível. Tanto a
esfera sensível quanto a inteligível são subdivididas em dois patamares. O estágio inicial do plano sensível é composto por som-
bras, imagens e reflexos em superfícies compactas ou nas águas, sendo o seu nível de conhecimento correspondente a suposi-
ção, imaginação ou ilusão. O estágio seguinte é ilustrado pelos seres vivos e pelos objetos fabricados pelos seres humanos – e
o conhecimento nele presente é a opinião. O primeiro estágio do plano inteligível, preenchido por objetos matemáticos, exprime
a transição do conhecimento sensível ao conhecimento plenamente racional, com o raciocínio operando mediante hipóteses.
Por fim, o nível superior ilustra as ideias e seu conhecimento é absoluto, sem a intercorrência dos sentidos e evidenciando a
confluência do pensamento com os seres em si.
Os estágios do conhecimento
Imagens, Mundo
sombras e vegetal e animal; Objetos matemáticos Ideias, seres puros
reflexos objetos
A B C D E
A-D: nível de ilusão C-E: nível discursivo
A-C: plano sensível C-B: plano inteligível Níveis de conhecimento:
D-C: nível de crença E-B: conhecimento pleno
Nessa representação linear, destaca-se a perspectiva platônica segundo a qual os sentidos vinculam-se às aparências e o
conhecimento submetido às experiências sensíveis permanece em nível de inferioridade. Nossa capacidade racional, por sua
vez, identifica-se com o ser das coisas e realiza-se no reencontro da alma racional com as ideias. O conhecimento pleno exige a
superação das situações que recepcionamos com os sentidos.
Platão atribui elevada importância aos estudos matemáticos, considerando racionalidade, harmonia e ordem imanen-
tes à matemática. Consta que o pórtico de sua Academia era marcado pela seguinte frase: “Não são admitidos ignorantes
em geometria”.
Correntemente a esse prisma gnosiológico, situa-se a paideia platônica, apresentada como um programa pedagógico cuja
finalidade é o desenvolvimento da racionalidade do ser humano e a conquista de sua autonomia moral. No diálogo A república,
380
esse planejamento educacional é descrito detalhadamente e devidamente inserido na concepção sociopolítica de Platão.
Na primeira etapa da educação, correspondente aos anos iniciais de infância, os seres humanos seriam instruídos mediante
atividades lúdicas e disciplinares, como dança, ginástica e jogos, recebendo ainda ensinamentos básicos de matemático e de
PV2D-17-10
poesia. Os ensinamentos poéticos, é importante notar, restringem-se a essa etapa educacional e, cuidadosamente, devem afastar
os aspectos cognitivos e morais prejudiciais da poesia.
vida e à exteriorização da agressividade. Inclinação apetitiva
CAP. 2
e inclinação colérica formam o núcleo irracional da natureza
Platão considera que a cultura grega valoriza exces- do ser humano e aquele que permanece sob a supremacia de
sivamente a poesia, criticando-a sob o argumento de que sua concupiscência ou de sua irascibilidade não é senhor de
os textos poéticos estimulam as paixões em detrimento si mesmo, mas escravo de suas paixões. A faculdade racional
da racionalidade e se distanciam significativamente da da humanidade é a imanência do logos às ideias, a inclinação
verdade. Para o filósofo, a poesia, da mesma maneira ao conhecimento superior e à condução refletida e deliberada
FILOSOFIA 181
que expressões artísticas, como a pintura e a escultura, da vida. Senhor de si é quem atinge a primazia da propensão
é imitação de cópias imperfeitas, estando, portanto, mui- racional em sua alma, exercendo o controle sobre suas incli-
to distante dos seres em si, das ideias. Nesse sentido, as nações irracionais, apetitiva e colérica.
práticas poéticas são compreendidas como prejudiciais Essa conceituação da natureza humana fundamenta a
ao verdadeiro conhecimento. república ideal de Platão. O termo ideal, no horizonte filosófico
do platonismo, refere-se ao nível das ideias, ou seja, a socie-
dade política ideal procede dos seres em si, das ideias, é a
No segundo período educacional, que contempla os se- supremacia da razão na sociedade e consiste na realização
res humanos na idade entre 7 e 20 anos, seriam praticados os política dos autênticos valores morais. Moral e política são as-
estudos de música, de ginástica e de técnicas militares, es- pectos amplamente interseccionados na filosofia platônica,
LIVRO DO PROFESSOR
tas últimas acompanhadas dos conhecimentos matemáticos pois, no governo ideal, a moralidade, proveniente das ideias,
inerentes às estratégias bélicas. Na terceira etapa, com os inscreve-se nas normas e leis que regem as relações entre
alunos na faixa etária dos 20 aos 30 anos, os ensinamentos os cidadãos ou, dito de outra forma, a política promove o bem
seriam concentrados no campo matemático, aprofundando- comum. A república ideal tem a efetividade de seu governo
-se os conhecimentos de aritmética, geometria, estereome- regulada pelo conhecimento da justiça, aplicada no exercício
tria, astronomia e harmonia. Na quarta fase, dos 30 aos 35 do poder pelos filósofos, pelos seres humanos que, dialetica-
anos, os estudantes realizariam estudos dialéticos, pautados mente, elevam-se ao plano máximo do saber.
pelas rigorosas pesquisas de hipóteses de pensamento ela- Assim, para avançar na descrição da teoria política de
boradas no horizonte das ideias. Por fim, na idade entre 35 e Platão, é necessário examinar a seguinte questão: qual é o
50 anos, os alunos seriam submetidos a severos exercícios conceito platônico de justiça? Em sentido geral, para esse
de ética e política, com o propósito de se avaliar sua condição filósofo, a justiça cumpre-se na prevalência da razão sobre
moral e intelectual. as tendências irracionais da alma humana, quer dizer, no do-
É imprescindível acrescentar que cada uma dessas mínio do inteligível sobre o sensível. Verificou-se, entretanto,
etapas pedagógicas seria concluída com a execução de exa- nas linhas anteriores, quando discorremos sobre o programa
mes seletivos, cuja finalidade seria a de identificar os alunos pedagógico de A república, que poucos são os seres huma-
em condições de prosseguir nas fases mais avançadas de nos que alcançam a autocracia da alma e muitos são aqueles
estudos. Os estudantes que percorressem todos os períodos que não ingressam nos estágios superiores da paideia, do
desse longo e complexo trajeto educacional realizariam, após processo educacional. Os poucos que completam o itinerário
os 50 anos, um exame definitivo, sendo que os bem-sucedi- da educação atingem o conhecimento das ideias e a excelên-
dos nesta prova final seriam reconhecidamente os sábios ou cia moral, tornando-se filósofos. Os demais ficam, em maior
filósofos, conhecedores dos seres em si, das ideias e legíti- ou menor intensidade, submetidos ao influxo de suas dispo-
mos governantes da sociedade. sições irracionais, apetitivas e coléricas, sendo incapazes de
Embora Platão conceitue o inatismo do conhecimento, estabelecer o domínio da razão sobre si mesmos. A realiza-
o saber originariamente presente na alma humana e, conse- ção da justiça, portanto, requer o governo dos filósofos sobre
quentemente, o itinerário da sabedoria como processo de re- o conjunto da sociedade.
memoração, não são poucos os seres humanos que atingem a A sociedade justa de Platão hierarquiza três classes de
contemplação das ideias, mas são poucos os seres humanos cidadãos, formadas pela faculdade predominante em suas
que conquistam sua autonomia ética com o conhecimento almas, ou seja, em correspondência com a estrutura triparti-
dos verdadeiros valores, das ideias morais. Essa observação te de natureza humana e com as inclinações prevalecentes
reporta-se à definição platônica de natureza humana e à sua nos seres humanos: apetitiva, colérica ou racional. Essas di-
correlata concepção política. ferentes classes de cidadãos são os trabalhadores, nos quais
sobressaem os impulsos apetitivos, os guerreiros, sob o do-
D. Política: a sociedade ideal mínio da propensão colérica da alma, e os governantes filóso-
No livro IV de A república, o filósofo versa sobre a nature- fos, nos quais se constata a primazia da razão.
za humana. Sabemos que Platão destaca a racionalidade da Os trabalhadores – agricultores, comerciantes e ar-
alma humana em sua identidade com as ideias. Aprofundan- tesãos – são os seres humanos que se mantêm envoltos
do suas considerações, observa que a humanidade efetiva é pelas solicitações concupiscentes, sem condições, portan-
de natureza mista, composta também por inclinações irracio- to, de regular sua vida pela razão. Enredados pelas sensa-
nais, impulsos diretamente articulados ao plano sensível. ções e pelas paixões, dedicam-se à produção econômica e
381
Platão discrimina três inclinações ou faculdades na alma à busca de riquezas, exigindo um controle social exterior,
humana: a concupiscente ou apetitiva, a colérica ou irascível racional para seu comportamento. Para a satisfação parcial
e a racional. A faculdade apetitiva é a sede dos desejos, fonte de sua natureza concupiscente, a ordem social assegura-
PV2D-17-10
da busca por prazeres sensuais e da ambição por riquezas -lhes a propriedade limitada de riquezas e a formação de
materiais. A faculdade colérica é a propensão à defesa da famílias nucleares.
A inclinação apetitiva dos trabalhadores é diretamente fundamentam-se na teoria platônica da parti-
CAP. 2
controlada pela classe dos guerreiros, que aplicam as prescri- cipação entre o mundo fenomênico e o mundo
ções dos governantes e exercem a faculdade colérica de sua das ideias.
alma na fixação de limites cuja finalidade é evitar conflitos so-
ciais e a desarmonia do corpo social. Com sua vida integralmen- Resolução
te dedicada à coesão da sociedade, os guerreiros não possuem A afirmação 01 é verdadeira, referindo-se correta-
bens privados e não constituem família, situação esta que diz mente à tese platônica do conhecimento como remi-
FILOSOFIA 181
respeito também aos magistrados, os governantes filósofos. niscência. A sentença 02 é verdadeira, porque todos os
Os governantes são os filósofos e sua condição de magis- seres existentes no plano sensível, incluindo o ser hu-
trado legitima-se por sua superação dos sentidos e elevação mano, definem-se por sua participação nas essências. A
à contemplação das ideias, o que os converte em seres hu- 08 também é correta, mencionando adequadamente os
manos capazes de praticar o governo em conformidade com diferentes graus de conhecimento, segundo Platão. A 04
os verdadeiros valores morais e em benefício do bem comum. é falsa, porque gnosiologia e política articulam-se sob a
No poder dos filósofos, segundo o sistema filosófico de Pla- teoria platônica das ideias. É igualmente incorreta a 16,
tão, vigora o governo da razão na cidade. porque Aristóteles, como registrado ainda neste capítulo,
Para Platão, então, a justiça consiste na destinação natu- renuncia ao dualismo ontológico platônico.
ral dos seres humanos às funções sociais compatíveis com Resposta: 11 (01 + 02 + 08)
LIVRO DO PROFESSOR
ao verdadeiro conhecimento, isto é, às essências terior das transformações observadas? Interrogações dessa
das coisas – às ideias. natureza mobilizam as investigações aristotélicas.
16. A teoria cosmológica do primeiro motor imóvel Além de contemplar áreas do saber como a ontologia, a
PV2D-17-10
e a teoria estética da mímesis, de Aristóteles, ética e a política, Aristóteles projeta sua curiosidade intelec-
tual para a observação detalhada dos múltiplos fenômenos
da natureza e produz textos de botânica, zoologia e astrono- no vocabulário lógico aristotélico, refere-se à argumentação
CAP. 2
mia, ampliando, assim, o universo especulativo da filosofia. logicamente perfeita, composta por proposições cuja articu-
Suas pesquisas conferem um sentido enciclopédico ao co- lação incide em uma conclusão racionalmente indiscutível.
nhecimento racional, estendendo-se das problemáticas me- Um silogismo constitui, assim, uma inferência, um percurso
tafísicas aos artefatos produzidos pelos seres humanos. de pensamento com o qual se extrai uma conclusão de deter-
minadas premissas, as quais são a explicação e a causa da
conclusão explicitada.
FILOSOFIA 181
O silogismo caracteriza-se como mediato, dedutivo e ne-
cessário. Dizemos que é mediato porque exige um itinerário
de pensamento para se contemplar uma inferência, ou seja,
a conclusão, ainda que implícita na afirmação ou negação ini-
cial, explicita-se somente com a mediação de proposições. É
dedutivo porque parte de uma afirmação ou negação univer-
sal verdadeira para constatações particulares, específicas,
dependentes da sentença inicialmente apresentada. Por fim,
o silogismo é necessário, pois sua conclusão exprime uma
consequência lógica de suas proposições.
LIVRO DO PROFESSOR
Para compreender melhor essas afirmações, utilizare-
mos um exemplo simples de silogismo:
Todo homem é mortal.
Sócrates é homem.
Logo, Sócrates é mortal.
Aristóteles realizou extensas pesquisas filosóficas, Com essa exemplificação, notamos que o silogismo clás-
examinando diversificadas questões temáticas. sico é formado por três proposições, sendo estas a premis-
sa maior, a premissa menor e a conclusão. A premissa maior
Compreendendo a filosofia como a pesquisa dos princí- contém o termo maior e o termo médio. No exemplo oferecido,
pios, das causas e da natureza dos seres, Aristóteles classi- a premissa maior – todo homem é mortal – tem em "mortal"
fica as formas de conhecimento de acordo com a temática o termo maior e em "homem" o termo médio. A premissa me-
investigada, distinguindo as modalidades de saber filosófico nor – "Sócrates é homem" – envolve o termo menor e o ter-
em ciências teoréticas, ciências práticas e ciências técni- mo médio, "Sócrates" e "homem", no silogismo em questão. A
cas. As ciências teoréticas estudam os seres naturais, cuja conclusão – "Sócrates é mortal" – manifesta o termo maior e
existência independe da interferência humana, procurando o termo menor – "Sócrates" e "mortal" –, jamais mencionando
encontrar seus princípios universais e necessários. Nas pes- o termo médio, que possibilita a inferência.
quisas sobre os seres da physis, naturais, o conhecimento Registramos, com esse exemplo, que a conclusão se es-
teorético delimita-se como física e, elevando-se à busca dos tabelece de maneira mediata e dedutiva, revelando-se como
princípios fundamentais de todos os seres, do ser enquanto consequência necessária, lógica, das proposições que a
ser, realiza-se como metafísica. As ciências práticas exami- precedem, ou seja, de acordo com as premissas declaradas,
nam as ações humanas cujo resultado não incide na geração não seria logicamente admissível nenhuma inferência exceto
de algo distinto do próprio agente, isto é, do ser humano ou, a apresentada. Importa ainda observar que essas considera-
em outras palavras, nas condutas dos seres humanos que ções são uma simples indicação da teoria lógica aristotélica,
têm na própria humanidade os seus princípios e sua finalida- cuja complexidade procura contemplar todas as formas de
de. A ética, versando sobre as ações racionalmente pondera- argumentação válida, ao mesmo tempo em que admite que
das e virtuosas, e a política, refletindo sobre a sociabilidade nem todos os raciocínios são facilmente passíveis de forma-
humana e o bem comum, são as ciências práticas. Por fim, as lização pela lógica.
ciências técnicas ou produtivas pesquisam as ações fabrica-
doras dos seres humanos, que culminam em artefatos, obje- B. A metafísica de Aristóteles
tos e produtos distintos da humanidade. Pintura, escultura, Para compreender as teses metafísicas de Aristóteles, é
comédia teatral e carpintaria são alguns dos muitos temas interessante antecipar que esse filósofo, discípulo e herdei-
focalizados pelas ciências técnicas. Além de se comprometer ro filosófico de Platão, renuncia ao dualismo ontológico do
sistematicamente com o estudo dessas diferentes ciências, platonismo. Platão, convém reafirmar, concebe a realidade
Aristóteles dedica-se ao exame das formas de pensamento, cindida e, ao mesmo tempo, articulada em níveis hierarquiza-
com a intenção de identificar os procedimentos necessários dos, o plano das ideias e o plano sensível. Aristóteles recusa
ao raciocínio correto, razão pela qual se atribui a esse filósofo o recorte conceitual entre mundo das ideias e mundo sensí-
a origem da lógica formal. vel, quer dizer, a existência objetiva de ideias separadas dos
seres existentes nos fluxos do devir. Utilizando um exemplo
A. A lógica aristotélica simples: para a filosofia aristotélica, não existe uma ideia de
383
Em suas reflexões no âmbito da lógica, Aristóteles procu- árvore, além das árvores que efetivamente observamos no
ra delinear as formas de raciocínio que conduzem a conclu- mundo. Há, porém, uma essência presente em todas as árvo-
sões válidas, necessárias e demonstradas de modo racional, res, uma forma comum a todas elas, que define o que é uma
PV2D-17-10
desenvolvendo, então, sua clássica teoria do silogismo. Em árvore e sem a qual uma árvore não seria o que é, ou seja,
sua acepção geral, silogismo significa conexão de ideias e, uma árvore.
Em sua sistemática procura pelos princípios explicativos que o ser se diz de vários modos, descrevendo a seguinte tá-
CAP. 2
que constituem os seres, pelas causas primeiras que funda- bua de significados do ser:
mentam a realidade, Aristóteles elabora sua teoria da causa- • O ser em sentido acidental ou casual. Nesse sentido, o
lidade. Nessa teoria, discrimina as seguintes dimensões arti- ser se mostra como contingência, e não como neces-
culadas da causalidade: causa formal, causa material, causa sidade: revela-se como o que ocasionalmente é, sem
eficiente e causa final. pertencer à essência de algo. Se, por exemplo, um jarro
• A causa formal consiste na essência dos seres, o que é vermelho, sua cor é uma contingência que não diz
FILOSOFIA 181
faz de uma coisa o que ela efetivamente é, quer dizer, respeito à sua essência, sua forma de recipiente desti-
o conhecimento da causa formal permite, por exem- nado a acolher líquidos. O jarro poderia ser de qualquer
plo, responder à questão: o que é o ser humano? cor ou transparente e sua essência seria a mesma.
• A causa material é a matéria de que algo é feito, a ma- • O ser como categorias. Aristóteles diferencia dez ca-
téria que recebe determinada forma. A causa material tegorias do ser: substância ou essência, quantidade,
é a solução para a pergunta: de que matéria é feito o qualidade, relação, ação, paixão, lugar, tempo, posse
ser humano? e posição. Entre elas, destaca-se a noção de substân-
• A causa eficiente corresponde ao movimento com o cia, fundamental, aliás, no sistema filosófico aristoté-
qual se realiza a mudança, no qual algo se transforma lico. A substância é o que caracteriza o ser por si, em
no que efetivamente é, proporcionando, então, a res- sua essência: consiste no substrato com base no qual
LIVRO DO PROFESSOR
posta a uma indagação desta natureza: por que o ser um ser se define.
humano é de tal forma? • O ser como verdadeiro. Trata-se do ser compreendido
• A causa final diz respeito ao fim a que se destinam os pela razão, isto é, da capacidade racional de conhecer
seres e suas ações, a finalidade de suas existências. A a realidade e de expressá-lo logicamente no domínio
causa final esclarece a interrogação: qual a finalidade, da linguagem.
o propósito da vida humana? • O ser como potência e ato. A relação entre atualidade e
Uma exemplificação simples contribui para a compreen- potencialidade explica a natureza das transformações
são da teoria aristotélica da causalidade. Pense em uma do devir. Potência é a capacidade que os seres possuem
estátua de mármore, representando um animal. Sua causa de se transformar, de se atualizar, isto é, o que eles ten-
material, no caso, é o mármore, que recebe a forma de uma dem a ser no tempo. O ato é a forma de um ser no pre-
escultura. Sua causa formal é o princípio que determina a ma- sente. Nos vínculos entre ato e potência, uma semente
téria, conferindo-lhe a condição representativa de um animal é potencialmente uma árvore e uma árvore é a plena
e definindo a escultura como, de fato, ela é, a estátua de um atualização da potência contida na semente. Nessa
animal. Sua causa eficiente é a ação de um artista que trans- mesma linha de raciocínio, uma criança é a atualidade
forma o mármore em uma estátua com contornos e feições de um ser humano que tem em si a potencialidade para
semelhantes às de um animal. Sua causa final, a finalidade se transformar em um jovem, o qual é potencialmente
para a qual a estátua é produzida, é contemplação realizada um adulto. A vida adulta é, então, a atualização comple-
pelos admiradores de obras de arte. ta da potência inscrita na humanidade.
Nota-se, portanto, que causa formal e causa material
compreendem, respectivamente, os conceitos aristotélicos
de forma e matéria, sendo que os seres realmente existen-
tes são constituídos pela conjugação da forma com a matéria.
Nessa perspectiva, é lícito afirmar, a título de ilustração, que
a forma de um ser humano é a sua alma, com sua capacidade
racional, e sua matéria é o seu corpo. Cumpre relembrar que
essa forma humana, a alma, não é a ideia platônica, isto é,
não existe objetivamente fora de sua matéria, como matriz
ideal de todos os seres humanos, sendo, isto sim, imanen-
te a todos os seres humanos que efetivamente existem na
articulação de sua forma com sua matéria. Dessa maneira, o
que autoriza o uso da expressão ser humano, em sua univer- De acordo com as noções aristotélicas de ato e potência,
salidade, para nomear os diferentes indivíduos humanos? É uma semente contém potencialmente uma árvore.
justamente a forma, a essência presente em todos os seres
humanos, que permite identificá-los em sua humanidade, A relação entre ato e potência explicita o conjunto do
que os faz propriamente humanos. devir, o vir a ser, como transição do possível ao real, como
A causa eficiente e a causa final reportam-se diretamen- atualização das potências, na qual os seres se transformam
te ao devir e à finalidade da existência dos seres. A causa aspirando à forma pura e definitiva, em que cessariam a mo-
eficiente vincula-se às mudanças do devir, às transforma- bilidade e as mudanças. A plena atualização das potências
ções pelas quais os seres atingem sua forma plena, e a realiza o seu télos, sua finalidade, a causa final de um ser, que
384
causa final é o propósito ao qual os seres aspiram, a razão ocupa posição primordial e superior na teoria aristotélica da
suprema de existir. causalidade. O sistema filosófico de Aristóteles possui senti-
Essa teoria da causalidade situa-se em correspondência do declaradamente teleológico, ou seja, os seres destinam-se
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com a teoria aristotélica do ser, sobre a qual Aristóteles expla- naturalmente a uma finalidade, e esta finalidade, orientando-
na em seus escritos intitulados Metafísica. O filósofo observa -os em seu devir, encontra-se potencialmente em seu início.
APRENDER SEMPRE 28 téria imperecível – éter, quintessência –, essas substâncias
CAP. 2
são capazes de movimento, efetuam deslocamentos, mas
01. UEL-PR jamais se transformam. Substâncias sensíveis corruptíveis e
Para Aristóteles, só julgamos que temos co- substâncias sensíveis incorruptíveis, ambas compostas por
nhecimento de uma coisa quando conhecemos matéria e forma, são, respectivamente, temas específicos de
sua causa. E há quatro tipos de causa: a essência, estudos de física e de astronomia.
as condições determinantes, a causa eficiente E quanto à substância suprassensível? Sobre sua exis-
FILOSOFIA 181
desencadeadora do processo e a causa final. tência, Aristóteles destaca, a princípio, que, se todas as subs-
ARISTÓTELES. Analíticos posteriores. Bauru: tâncias fossem perecíveis, nada existiria de permanente, de
Edipro. 2005. Livro 2, p. 327. incorruptível. Observa, porém, que o tempo e o movimento
são, inegavelmente, permanentes. O tempo não é algo a que
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a me- se possa atribuir surgimento em algum momento específico,
tafísica aristotélica, é correto afirmar: tampouco se corromperá. Se pensarmos em uma anteriori-
a. A existência de um plano superior constituído das dade e em uma posteridade ao tempo, incorreremos em um
ideias e atingido apenas pelo intelecto permite a erro lógico, pois um antes e um depois do tempo não seriam
Aristóteles a compreensão objetiva dos fenôme- logicamente admissíveis, antes e depois situam-se necessa-
nos que ocorrem no mundo físico. riamente no interior da temporalidade. O tempo é eterno e a
LIVRO DO PROFESSOR
b. A realidade, para Aristóteles, sendo constituída eternidade do tempo revela o movimento eterno, porque não
por seres singulares, concretos e mutáveis, pode haveria tempo sem movimento.
ser conhecida indutivamente pela observação e Com essas ponderações, emerge uma nova questão:
pela experimentação. como se explica essa eternidade do tempo e do movimento?
c. Para a compreensão das transformações e da mu- Aristóteles responde com a declaração da existência de um
tabilidade dos seres, Aristóteles recorre ao princí- princípio primeiro, uma substância suprassensível, causa do
pio da criação divina. tempo e do movimento. Esse princípio, argumenta o filósofo,
d. Na metafísica aristotélica, a compreensão do de- é eterno e imóvel. É eterno porque necessariamente é eterna
vir de todas as coisas está vinculada à determina- a causa da eternidade do movimento. É imóvel porque tudo
ção da causa material e da causa formal sobre a que se move é movido por algo e, nessa perspectiva, seria
causa final. absurdo conceber tal processo regressivamente ao infinito,
e. Para Aristóteles, todas as coisas tendem natural- quer dizer, o conjunto do movimento explica-se na existência
mente para um fim (télos), sendo essa concepção de um princípio imóvel. Esse princípio primeiro, substância
teleológica da realidade a que explica a natureza suprassensível, é o primeiro motor eterno e imóvel.
de todos os seres. Essa substância suprassensível, o primeiro motor, é pura
atualidade, não contém potencialidade, jamais se transfor-
Resolução ma. Como causalidade final, o primeiro motor eterno e imóvel
A filosofia aristotélica, com sua orientação teleológi- move o mundo, assim como o belo, sem se mover, mobiliza o
ca, compreende os seres pelo viés de sua finalidade, atri- desejo humano, assim como o inteligível, sem se mover, mo-
buindo, assim, o primado da causa final sobre as causas biliza a inteligência humana.
eficiente, formal e material.
Alternativa correta: E
sendo naturalmente sujeito aos ciclos de transformação: sur- tóteles lança-se à busca da definição do bem. Junto à sua recusa
gimento, desenvolvimento e perecimento. Substâncias sen- ao dualismo ontológico platônico, rejeita a conceituação do bem
síveis incorruptíveis, por sua vez, são os céus, os planetas, elaborada por seu mestre Platão, que o caracteriza como ideia
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as estrelas, ou seja, os seres pertencentes ao que o filósofo suprema na esfera dos inteligíveis. Para Aristóteles, o bem não
denomina de mundo supralunar. Constituídas por uma ma- consiste em conceito puramente abstrato, idealidade existente
unicamente por si mesma e essencialmente desvinculada dos A moderação é a virtude moral que melhor exprime a
CAP. 2
fenômenos da natureza e das ações humanas. Sob o prisma condição dos seres humanos nos quais não há conflito en-
filosófico aristotélico, o bem é indissociável das realizações da tre razão e desejo. Seres humanos moderados usufruem
natureza e dos seres humanos, é a finalidade própria de um ser, modicamente dos prazeres corporais, sem, contudo, vive-
aquilo pelo que algo é feito. O bem excelente é sempre um fim, rem em função de seus apetites. Dessa forma, a moderação
nunca um meio para se atingir outra finalidade. situa-os na justa medida entre os extremos, o termo médio
O que é, então, o bem excelente para os seres humanos? entre a insensibilidade e o desregramento. Na filosofia aris-
FILOSOFIA 181
Esclarecer essa questão significa conhecer a finalidade da totélica, não apenas a moderação, mas também as dife-
vida humana. A felicidade, segundo Aristóteles, é o fim natu- rentes virtudes morais residem no meio termo, a mediania
ralmente almejado pelas condutas dos seres humanos. Em afastada tanto da carência como do excesso. Assim, para
defesa de sua tese, o filósofo assinala que a felicidade não citar alguns exemplos, a coragem é o justo meio entre a co-
pode ser vista como um meio para atingir um propósito, sen- vardia e a temeridade, e a generosidade é o justo meio entre
do, isto sim, o fim supremo a que aspiram os seres humanos. a mesquinhez e a prodigalidade.
O filósofo demonstra essa perspectiva de autossuficiência da De acordo com Aristóteles, as condutas realmente virtuo-
felicidade, sua condição de bem supremo, relatando que é sas, caracterizadas pela mediania, realizam-se como ações
plausível afirmar que um ser humano dedica-se à satisfação voluntárias que, obviamente, distinguem-se das ações in-
de seus apetites, à conquista de riquezas materiais e ao pres- voluntárias. Atos involuntários são aqueles em que o agente
LIVRO DO PROFESSOR
tígio social com o propósito de obtenção da felicidade, não procede movido por fatores externos a si mesmo. Atos volun-
sendo razoável se afirmar o contrário: um ser humano deseja tários são os que têm nos seus agentes o seu verdadeiro pon-
a felicidade como meio para atingir prazeres corporais, fortu- to de partida.
na ou honra. Não são todas as ações voluntárias que se definem
A felicidade consiste, portanto, na finalidade da vida hu- como virtuosas. Condutas produzidas pelas paixões, com
mana, entretanto essa constatação não esclarece a concei- motivações exclusivamente irracionais, são voluntárias, à
tuação da felicidade. Torna-se necessário examinar qual é a medida que sua fonte é o sujeito que as executa, porém não
finalidade específica dos seres humanos ou, em outras pa- abrangem virtudes morais, porque não implicam escolhas. O
lavras, definir a natureza humana para conhecer o propósito que é a escolha para Aristóteles? A escolha é justamente a
a que se inclina naturalmente a existência da humanidade. ação voluntária produzida pela deliberação, pela ponderação
Seria essa a finalidade peculiarmente humana estabele- racional dos meios para se atingir a finalidade humana.
cida pelas atividades vitais de nutrição e crescimento? Aristó- Comportamentos virtuosos, portanto, são voluntários
teles sentencia que não, porque tais atividades não especifi- e escolhidos, promovendo a confluência entre o princípio
cam a humanidade, encontrando-se, isto sim, na diversidade desejante e o princípio racional da humanidade, pois os
de seres vivos existentes. Seria, então, o campo sensitivo, a seres humanos virtuosos não desejam aquilo que é con-
esfera das sensações, o aspecto diferencial da natureza hu- trário à virtude.
mana? A resposta a essa pergunta é igualmente negativa, Na filosofia aristotélica, o conhecimento é condição ne-
uma vez que as sensações estão presentes em todas as es- cessária, mas não suficiente, da vida virtuosa. Aristóteles,
pécies animais. aliás, discrimina virtudes intelectuais, que têm relação com
Descartadas essas hipóteses, Aristóteles localiza no o conhecimento em si, das virtudes morais, necessariamen-
princípio racional da alma humana a especificação da na- te relacionadas às condutas humanas. Destaca a virtude
tureza dos seres humanos, sendo a realização dessa ra- intelectual da prudência, sabedoria prática, como condição
cionalidade a finalidade natural da vida humana. Na efeti- de possibilidade da moralidade. Os seres humanos são na-
vação dessa propensão racional, consuma-se o propósito turalmente dispostos à conquista da excelência moral, da
superior dos seres humanos: a felicidade não coincide com vida virtuosa. A aquisição das virtudes morais requer não só
os prazeres sensuais ou com a posse de riquezas – ambos o conhecimento ético, mas também a educação direciona-
circunscritos, evidentemente, aos sentidos, assim como da ao desenvolvimento dos hábitos virtuosos na sociedade
também não é contemplada, simplesmente, pela reputação política. Nesse ponto, assinala-se o pertencimento da ética
social – dependente de opiniões alheias. A felicidade, fina- à política no sistema filosófico aristotélico, com a tese que
lidade natural dos seres humanos, é o exercício virtuoso da a sociedade política encontra-se naturalmente inscrita na
razão ao longo da existência. humanidade.
Essa definição de felicidade não significa que Aristóteles A exposição das concepções políticas de Aristóteles tor-
despreze ou recomende a completa inibição dos componen- na-se mais adequada se antecedida por suas considerações
tes passionais da natureza humana. Entre os seus postula- acerca da amizade (philia). O filósofo diferencia três formas
dos, a filosofia moral aristotélica envolve a concepção de que de amizade, com base nos seus fundamentos distintos: o útil,
o desejo é condição motriz da humanidade, isto é, os seres o agradável e o bem comum. A amizade sustentada pela no-
humanos são seres desejantes e, como todos os animais, ção de utilidade vincula os amigos à procura pela satisfação
movem-se em direção ao prazer e afastam-se das situações de seus interesses particulares. A amizade existe porque é
dolorosas. Nos seres humanos virtuosos, porém, efetua-se o útil, proporcionando vantagens como riquezas materiais e
386
cálculo racional que se reflete sobre os desejos, ponderando- prestígio social. Na amizade estabelecida pelo agradável, o
-os sob o ponto de vista da moralidade. O ser humano virtuoso amigo assim é estimado porque sua companhia é prazerosa,
experimenta as paixões em intensidades pertinentes e ade- favorecendo a sensação de bem-estar. Na amizade pautada
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quadas às diferentes circunstâncias e conduz seus apetites pelo bem comum, os amigos não se relacionam unicamente
em harmonia com sua racionalidade. pelo prazer ou pela utilidade: associam-se pelo que, de fato,
são e não apenas desejam o melhor um para o outro, como sua presumível legitimidade repousa na convicção aristotéli-
CAP. 2
também realizam o possível para que o amigo viva bem. As ca de que as mulheres são naturalmente dispostas a um uso
formas de amizade fundadas na utilidade e no prazer são im- bastante limitado da razão, motivo pelo qual seria natural e
perfeitas, porque seus motivos são circunstanciais e não so- vantajosa a sua condução racional pelo marido.
brevivem a eventuais mudanças de circunstâncias em que o
útil ou o agradável não se manifestem mais. A amizade funda-
da no bem comum, delineada pela reciprocidade entre seres
FILOSOFIA 181
virtuosos, é o tipo superior, perfeito de amizade e sua forma É imprescindível notar que Platão e Aristóteles, ape-
mais ampla é a legítima sociedade política. sar da originalidade de seus pensamentos filosóficos,
Nas primeiras páginas de seu livro A política, Aristóteles mantiveram-se no limite de alguns dos preconceitos gre-
sentencia que não há humanidade sem a sociedade política, gos. A concepção depreciativa do trabalho manual e dos
expressando essa tese com densidade nos termos seguintes: trabalhadores, traço típico da mentalidade helênica, é
fora da sociedade política, o ser humano não é propriamente evidente em ambos. Particularmente em Aristóteles, sua
humano, mas sim um bruto ou um deus. Essa observação res- defesa da naturalidade da escravidão e sua concepção da
salta a tese de Aristóteles segundo a qual a sociabilidade é inferioridade feminina reproduzem noções preconceituo-
imanente à natureza humana ou, dito de outra maneira, o ser sas de seu tempo.
humano é naturalmente e potencialmente um ser para a vida
LIVRO DO PROFESSOR
virtuosa na sociedade política. A existência racional e virtuo-
sa concretiza-se em sociedade, na pólis. Se, por um lado, Aristóteles considera a sociedade do-
Sob a ótica filosófica aristotélica, a sociedade política méstica indispensável à vida humana, por outro lado, assina-
é lógica e ontologicamente anterior aos seres humanos in- la sua insuficiência para proporcionar os recursos econômi-
dividuais e às unidades sociais menos extensas, conside- cos, a segurança militar e o bem viver juntos, sendo esta a
rando-se que se trata de uma espécie de finalidade poten- razão pela qual as famílias tendem à formação de unidades
cialmente contida na natureza da humanidade. O sentido sociais maiores, compostas por laços mais vastos de pa-
teleológico da filosofia de Aristóteles concede superiorida- rentesco, as aldeias, e estas, sem atingir a autossuficiência,
de a um ser mais próximo da autossuficiência, em compa- culminam na formação da sociedade política, do Estado. Na
ração ao que apresenta grau maior de dependência. Os se- sociedade política, essencialmente definida por seu corpo
res humanos individuais, os núcleos familiares e as aldeias cívico, instauram-se as condições para a consecução da vida
são dependentes, tanto sob o ponto de vista da segurança virtuosa, no favorecimento às atividades racionais e moral-
econômica quanto da efetivação das virtudes humanas, da mente apropriadas ao bem comum.
existência da sociedade política. Aristóteles considera justas todas formas de governo
Orientado por seu postulado de que os seres humanos dedicadas à realização da verdadeira finalidade do Estado,
atualizam sua humanidade na sociedade política, Aristóteles, a promoção do bem comum. Ele diferencia esses modos
ao discorrer sobre a sociedade política, percorre o trajeto que de poder político pelo critério quantitativo, ou seja, pelo
se expande das partes para o todo. Começa pelo exame da número de governantes. Assim, caracteriza a monarquia
unidade familiar, a sociedade doméstica, formada pelas rela- como o governo exercido somente por um ser humano, a
ções entre senhor e escravos, pais e filhos, marido e esposa. aristocracia como o governo conduzido por uma minoria e
Sob a perspectiva cronológica, o filósofo identifica a unidade a república como o governo de uma multidão. Dentre essas
doméstica como a primeira forma de sociedade natural. Ele formas justas de governo, o filósofo indica sua preferência
explica sua hierarquia interna com base na suposta hierar- pela república, sobretudo por sua extensão da cidadania,
quia imanente à natureza. Esta submete o inferior ao domí- que inclui cidadãos de camadas sociais intermediárias, evi-
nio do superior, em benefício do conjunto: o domínio da razão tando a concentração de poder entre os ricos e, ao mesmo
sobre os sentidos, dos mais velhos sobre os mais novos, do tempo, mantendo excluídos das decisões os indivíduos de
macho sobre a fêmea. Nesse horizonte, concebe as relações renda muito baixa. Para Aristóteles, os cidadãos pertencen-
domésticas como modalidades específicas de poder: o poder tes aos grupos médios são mais propensos à vida virtuosa,
despótico, o poder paternal e o poder marital. diferentemente dos ricos, que inclinam-se à valorização
Na explicação do poder despótico, inerente às relações excessiva das riquezas, e dos pobres, que não possuem o
entre senhor e escravos, apresenta-se a tese aristotélica da mínimo de recursos necessários ao desenvolvimento das
escravidão por natureza. Aristóteles declara que os escravos qualidades morais.
são seres naturalmente inferiores, porque não são capaci- Degeneradas são as formas de governo que não se de-
tados a fazer uso da razão, embora consigam percebê-la em dicam ao bem comum, como a tirania, a oligarquia e a demo-
seus senhores. São equiparados às demais ferramentas indis- cracia. A tirania, forma deteriorada da monarquia, verifica-se
pensáveis à vida doméstica, ou seja, são classificados como quando o governante direciona seu poder unicamente para
instrumentos com alma, sendo natural e legítima, sob essa a satisfação de seus interesses pessoais. A oligarquia, forma
ótica, sua completa submissão ao poder despótico do seu se- deteriorada da aristocracia, consiste no governo exercido pe-
nhor. Nas relações entre pais e filhos vigora o poder paternal, los cidadãos mais ricos exclusivamente em seu benefício. A
387
justificado por Aristóteles pela incapacidade de as crianças re- democracia, por conceder cidadania a indivíduos que depen-
gularem suas condutas por uma medida racional própria, sen- dem do próprio trabalho para sobreviver, estão sujeitos a uma
do necessária, então, a absoluta autoridade do pai, que deve vida mecânica e impedidos de desenvolver de forma adequa-
PV2D-17-10
ser correspondida pela docilidade dos filhos. O poder marital da suas virtudes, distancia-se da realização da sociedade
consiste na plena autoridade do marido sobre sua esposa e política justa.
Módulo 4
CAP. 2
Série branca 61 62 64 65 66 70 71 75
DE ESTUDOS
ROTEIRO
Exercícios
Série amarela 63 64 66 67 68 69 70 71
Série roxa 67 69 71 74 77 78 79 80
Foco Enem 62 64 68 71 72 73 74 75
meio da investigação filosófica. Para ele, isso implicava crates, de Platão, e traz algumas das concepções filosóficas
não buscar “o que é”, mas aperfeiçoar “o que parece ser”. defendidas pelo seu mestre.
Com efeito, senhores, temer a morte é o mesmo Sobre a atitude filosófica dos sofistas, é correto afirmar que
CAP. 2
que se supor sábio quem não o é, porque é supor 01. os sofistas não desejam a busca da verdade, pois
que sabe o que não sabe. Ninguém sabe o que é a essa era uma tarefa dos filósofos.
morte, nem se, porventura, será para o homem o 02. os sofistas não negavam a verdade, apenas aponta-
maior dos bens; todos a temem, como se soubessem vam os problemas relativos à sua aquisição.
ser ela o maior dos males. A ignorância mais conde- 04. os sofistas apresentavam, com suas contra-argu-
nável não é essa de supor saber o que não se sabe? mentações, problemas relevantes para os filósofos.
FILOSOFIA 181
PLATÃO. Apologia de Sócrates, 29 a-b, Apud HADOT, P. O que 08. filósofos e sofistas perfazem duas personagens rele-
é a filosofia antiga? São Paulo: Loyola, 1999. p. 61. vantes da filosofia na Grécia Antiga.
16. os sofistas pretendiam desmascarar os filósofos na
Com base no trecho apresentado e na filosofia de Sócra- sua capacidade de desvirtuar e iludir a juventude.
tes, assinale a alternativa incorreta.
a. Sócrates prefere a morte a ter que renunciar à sua mis- 68. Enem C1-H2
são, qual seja: buscar, por meio da filosofia, a verdade, O sofista é um professor de técnicas, de política,
para além da mera aparência do saber. de virtude e de sabedoria, portanto alguém que jul-
b. Sócrates leva o seu interlocutor a se examinar, fa- ga possuir conhecimentos e ser capaz de transmiti-
zendo-o tomar consciência das contradições que -los. Eis porque as preleções dos sofistas eram au-
LIVRO DO PROFESSOR
traz consigo. las onde alguma coisa era ensinada, um conteúdo
c. Para Sócrates, pior do que a morte é admitir aos outros era transmitido já acabado, pronto [...]. Além disso,
que nada se sabe. Deve-se evitar a ignorância a todo os sofistas eram céticos. Para eles, tudo é por con-
custo, ainda que defendendo uma opinião não devi- venção e tudo é opinião [...]. Diferentemente dos
damente examinada. sofistas, Sócrates não se apresenta como professor.
d. Para Sócrates, o verdadeiro sábio é aquele que, colo- Pergunta, não responde. Indaga, não ensina. Não
cado diante da própria ignorância, admite que nada faz preleções, mas introduz o diálogo como forma
sabe. Admitir o não saber, quando não se sabe, define da busca da verdade.
o sábio, segundo a concepção socrática. CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-
socráticos a Aristóteles. São Paulo: Brasiliense, 1995. p. 142.
66. UEM-PR
Protágoras de Abdera (480-410 a.C.) é considerado um Mencionando a atividade dos sofistas e a atitude filosófi-
dos mais importantes sofistas. Ensinou por muito tempo em ca de Sócrates, o texto destaca
Atenas, sendo atribuída à sua autoria a seguinte máxima da a. as contradições dos discursos sofísticos e a coerência
filosofia: “O homem é a medida de todas as coisas”. da filosofia socrática.
Sobre Protágoras e os sofistas, assinale o que for correto. b. as teses relativistas dos sofistas e o uso socrático do
01. De forma semelhante a pensadores contemporâ- relativismo para atingir o saber.
neos, os sofistas problematizam a multiplicidade de c. as narrativas cosmológicas dos sofistas e a antropolo-
perspectivas do conhecimento. gia da filosofia de Sócrates.
02. O relativismo de Protágoras pode ser defendido filo- d. as preocupações dos sofistas com o ensino e o des-
soficamente com base na percepção do movimento, prezo de Sócrates pela educação.
tese já defendida anteriormente por Heráclito. e. as diferenças entre a pedagogia dos sofistas e o méto-
04. Platão e Aristóteles contrapuseram-se aos sofistas, ao não do dialético de Sócrates.
defenderem o homem como medida de todas as coisas.
08. Em razão de seu humanismo, atribui-se a Protágoras a 69. UFU-MG (adaptado)
inversão copernicana, isto é, a tese de que não é o Sol Muito do que se sabe sobre a vida e sobre a filosofia de
que gira em torno da Terra, mas a Terra que gira em tor- Sócrates foi transmitido pelos diálogos escritos por seu discí-
no do Sol. pulo mais importante, Platão. Em um desses diálogos, lemos
16. O saber contido na frase de Protágoras é prático, além a seguinte passagem:
de teórico, ou seja, mobiliza o campo da filosofia para
a retórica. Sócrates: − E nunca ouviste falar, meu graceja-
dor, que eu sou filho de uma parteira famosa e im-
67. UEM-PR ponente, Fenarete?
Os sofistas são conhecidos por serem os “anti- Teeteto: − Sim, já ouvi.
filósofos”, os adversários preferidos dos primeiros Sócrates: − Então já te contaram também que
filósofos gregos. Entre as acusações a eles endereça- exerço essa mesma arte?
das estava que “aboliram o critério, porque afirmam Teeteto: − Isso, nunca.
que todas as aparências e todas as opiniões são ver- Sócrates: −Pois fica sabendo que é verdade [...].
dadeiras e que a verdade é algo relativo, pois que A minha arte obstétrica tem atribuições iguais às das
389
tudo o que é aparência ou opinião para um indivíduo parteiras, com a diferença de eu não partejar mulher,
existe [deste modo] para ele.” porém homens, e de acompanhar as almas, não os
MARQUES, Marcelo Pimenta. Os sofistas: o saber em questão. corpos, em seu trabalho de parto.
PV2D-17-10
In: FIGUEIREDO, Vinicius (Org.). Filósofos na sala de aula. PLATÃO. Teeteto – Apologia de Sócrates. Tradução de: NUNES,
São Paulo: Berlendis & Vertecchia, 2007. v. 2, p.31. Carlos Alberto. Belém: UFPA, 1988. p. 149-150.
Com base na filosofia de Sócrates e no trecho supracitado, estruturalmente com a moral, mas não souberam al-
CAP. 2
marque, para as afirmativas a seguir, (V) verdadeira ou (F) falsa. cançar, no nível temático, o princípio do qual todos
01. Sócrates exercia a arte das parteiras, isto é, a arte da dependem. Esse princípio, como sabemos, consiste
maiêutica. Essa arte consistia em interrogar os seus na precisa e razoável determinação da essência do
interlocutores em busca da verdade, conduzindo a homem. Nenhum dos sofistas nos disse expressa-
investigação para além de toda aparência de saber mente, isto é, tematicamente, o que é o homem e,
que os homens, em geral, trazem consigo. por consequência, nenhum dos sofistas fez ver, cons-
FILOSOFIA 181
02. Sócrates se dizia um parteiro de almas. No entanto, o cientemente, como as várias doutrinas que professa-
próprio Sócrates se dizia incapaz de dizer a verdade vam conjugavam-se numa determinada concepção
que tentava encontrar nos interlocutores. do homem.
03. Sócrates interrogava as pessoas em praça pública REALE, Giovanni. História da filosofia antiga.
para humilhá-las, colocando-as diante da própria São Paulo: Loyola, 1993. v. 1, p. 240.
ignorância. Segundo ele, “o homem é a medida de
todas as coisas”, por isso a verdade depende do que De acordo com o historiador da filosofia Giovanni Reale, os
se pode extrair de cada homem. sofistas não desenvolvem plenamente a reflexão ética, porque
04. Sócrates se dizia o mais sábio entre todos os ho- a. não realizam uma profunda antropologia filosófica.
mens, porque só ele conhecia as verdades que os b. não ultrapassam as especulações pré-socráticas.
LIVRO DO PROFESSOR
outros não eram capazes de encontrar. Com a arte c. não adotam a teoria platônica das ideias.
maiêutica, Sócrates demonstrava a superioridade do d. não admitem contestações aos seus discursos.
seu saber diante das falsas opiniões cultivadas pe- e. não enfrentam os valores morais fixados pela aristocracia.
los cidadãos de Atenas.
72. Unioeste-PR
70. Unioeste-PR A ignorância mais condenável não é essa de su-
O Oráculo de Delfos teria declarado que Sócrates por saber o que não se sabe? É talvez nesse ponto,
(470-399 a.C.) era o mais sábio dos homens. Essa profecia senhores, que difiro do comum dos homens; se nal-
marcou decisivamente a concepção socrática de filosofia, guma coisa me posso dizer mais sábio que alguém,
pois sua verdade não era óbvia. é nisto de, não sabendo o bastante sobre o Hades,
não pensar que o saiba.
Logo ele, sem qualquer especialização, ele que es- Platão
tava ciente de sua ignorância? Logo ele, numa cidade
[Atenas] repleta de artistas, oradores, políticos, artesãos? Nesse texto, Platão apresenta a concepção socrática de
Sócrates parece ter meditado bastante tempo, buscando filosofia. Sobre ela, seguem as seguintes afirmações.
o significado das palavras da pitonisa. Afinal, concluiu I. A verdade torna o homem melhor, pois tem como re-
que sua sabedoria só poderia ser aquela de saber que sultado ultrapassar o homem comum.
nada sabia, essa consciência da ignorância sobre as coi- II. Saber que nada se sabe é o primeiro passo para se
sas que era sinal e começo da autoconsciência. atingir a verdade.
J. A. M. Pessanha III. O método socrático (a maiêutica) é irônico, porque
pressupõe saber que nada se sabe.
É incorreto afirmar que IV. O saber que nada se sabe permite ao indivíduo livrar-
a. a filosofia de Sócrates consiste em buscar a verdade, -se dos preconceitos e abrir caminho até o conheci-
aceitando as opiniões contraditórias dos homens; mento verdadeiro.
quanto mais importante era a posição social de um V. O constante questionamento deve ser a atividade fun-
homem, mais verdadeira era sua opinião. damental do filósofo.
b. a sabedoria de Sócrates está em saber que nada sabe, en- Das proposições feitas
quanto os homens em geral estão impregnados de precon- a. apenas II e IV são corretas.
ceitos e noções incorretas, mas não se dão conta disso. b. apenas I, II e V são corretas.
c. o reconhecimento da própria ignorância é o primeiro c. apenas II, III e IV são corretas.
passo para a sabedoria, pois, assim, podemos nos li- d. todas elas são corretas.
vrar dos preconceitos e abrir caminho para a verdade. e. todas elas são incorretas.
d. após muito questionar os valores e as certezas vigen-
tes, Sócrates foi acusado de não respeitar os deuses 73. PUC-PR
oficiais (impiedade) e corromper a juventude. Foi jul- Leia a estrofe do texto a seguir e, em seguida, assinale a
gado e condenado à morte por ingestão de cicuta. alternativa que corresponde ao verdadeiro sentido das acusa-
e. o caminho socrático para a sabedoria deve ser trilhado ções contra Sócrates.
pelo próprio indivíduo, que deve por ele mesmo reco-
nhecer seus preconceitos e opiniões, rejeitá-los e, por O que vós, cidadãos atenienses, haveis sentido
390
meio da razão, atingir a verdade imutável. com o manejo dos meus acusadores, não sei; o cer-
to é que eu, devido a eles, quase me esquecia de
71. Enem C5-H23 mim mesmo, tão persuasivos foram. Contudo, não
PV2D-17-10
Todos os sofistas levantaram e aprofundaram, de disseram nada de verdadeiro. Mas, entre as muitas
diferentes maneiras, problemas morais ou ligados mentiras que divulgaram, uma, acima de todas, eu
admiro: aquela pela qual disseram que deveis ter fazer prevalecer o discurso e a razão mais fraca’. Isso
CAP. 2
cuidado para não serdes enganados por mim, como porque não querem dizer a verdade: terem dado pro-
homem hábil no falar. va de que fingem saber, mas nada sabem.
PLATÃO. Apologia de Sócrates. São Paulo: Nova
Cultural, 1987. p. 33. (Os pensadores). Com base na leitura do texto de Platão que faz alusão às
características filosóficas de seu mestre Sócrates, assinale a
a. Para Aristóteles, principal acusador de Sócrates, o pro- opção que apresenta a afirmação que resume corretamente o
FILOSOFIA 181
blema consiste nas falácias que o filósofo ensina como pensamento socrático.
conhecimento verdadeiro para os jovens de Atenas, os a. “Eu só sei que nada sei”.
quais acabam por fazer de Sócrates uma espécie de b. “Conhece-te a ti mesmo”.
ídolo em contraposição aos verdadeiros deuses. c. “Quem comete uma injustiça é sempre mais infeliz
b. De acordo com o próprio Sócrates, nesse seu texto auto- que o injustiçado”.
biográfico, as acusações contra ele têm caráter eleitoral, d. “Uma vida não questionada não merece ser vivida”.
visto que seus acusadores estavam interessados nas e. “O fim último do homem é a felicidade”.
próximas eleições, mais do que no próprio julgamento.
c. A acusação contra Sócrates é, para Platão, um proble- 76.
ma de relacionamento afetivo entre o acusado e seus Explique as articulações entre o contexto político e cul-
LIVRO DO PROFESSOR
acusadores; na verdade, tratou-se de uma questão tural da cidade de Atenas e as transformações verificadas na
passional ligada ao amor de Alcebíades por Sócrates. filosofia durante o século V a.C.
d. O principal motivo das acusações contra Sócrates diz
respeito à suposta revelação feita pelo Oráculo de Del- 77.
fos de que ele seria o homem mais sábio da Grécia, o Disserte sobre as diferenças da proposta filosófica socrá-
que acabou causando muita inveja a Meleto, que al- tica em relação à filosofia pré-socrática e aos sofistas.
mejava tal status de sábio.
e. Sócrates não está sendo acusado simplesmente porque 78.
não respeita o culto aos deuses ou por perverter a juven- Tanto a postura dos sofistas quanto a atitude filosófica de
tude, mas sim pelo fato de estar incomodando a aristo- Sócrates apresentam riscos à moralidade ateniense de proce-
cracia ateniense ao denunciar seus vícios baseados na dência aristocrática. Explique as razões pelas quais sofistas e
ignorância e defender a busca da verdade e da virtude. Sócrates consistem em contestações à moral aristocrática.
lhes pergunta por quais atos ou ensinamentos, não a. O que é o homem para Sócrates?
têm o que responder; não sabem, mas para não mos- b. Qual é a relação entre o que define o homem e a máxi-
trar seu embaraço apresentam aquelas acusações ma délfica “Conhece-te a ti mesmo”?
PV2D-17-10
Platão
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
Leia com atenção Capítulo 2 – Tópicos 2, 2.A, 2.B, 2.C e 2.D
FILOSOFIA 181
Série branca 81 83 84 85 86 88 89 90
DE ESTUDOS
ROTEIRO
Exercícios
Série amarela 82 84 87 88 89 90 92 93
Série roxa 86 90 94 95 96 97 99 100
Foco Enem 84 86 87 88 91 92 94 97
da ciência moderna graças ao seu método de obser- Essa narrativa de Platão é uma importante manifestação
vação e experimentação para o conhecimento dos cultural do pensamento grego antigo, cuja ideia central, do
fenômenos naturais. ponto de vista filosófico, evidencia o(a)
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d. A obra de Platão está fundamentada em um método a. caráter antropológico, descrevendo as origens do ho-
de investigação conhecido como dialética, cujo obje- mem primitivo.
b. sistema penal da época, criticando o sistema carcerá- momento em que quem quer conhecê-la chega
CAP. 2
rio ateniense. perto dela, ela se torna outra e de outra espécie; e
c. vida cultural e artística, expressa por dramaturgos trá- assim não se poderia mais conhecer que coisa seja
gicos e cômicos gregos. ela nem como seja. E certamente nenhum conhe-
d. sistema político elitista, provindo do surgimento da cimento conhece o objeto que conhece se este não
pólis e da democracia ateniense. permanece de nenhum modo estável.
e. teoria do conhecimento, expondo a passagem do CRÁTILO: Assim é como dizes. PLATÃO. Crátilo, 439e-440a.
FILOSOFIA 181
mundo ilusório para o mundo das ideias.
Assinale a alternativa correta, de acordo com o pensa-
85. UEM-PR mento de Platão.
Logo, a arte de imitar está muito afastada da ver- a. Para Platão, o que é “em si” e permanece sempre da
dade, sendo que por isso mesmo dá a impressão de mesma forma, propiciando o conhecimento, é a ideia,
poder fazer tudo, por só atingir parte mínima de cada o ser verdadeiro e inteligível.
coisa, simples simulacro. O pintor, digamos, é capaz b. Platão afirma que o mundo das coisas sensíveis é o
de pintar um sapateiro, um carpinteiro ou qualquer único que pode ser conhecido, na medida em que é o
outro artesão, sem conhecer absolutamente nada único ao qual o homem realmente tem acesso.
das respectivas profissões. No entanto, se for bom c. As ideias, diz Platão, estão submetidas a uma trans-
LIVRO DO PROFESSOR
pintor, com o retrato de um carpinteiro, mostrado formação contínua. Conhecê-las só é possível porque
de longe, conseguirá enganar pelo menos crianças são representações mentais, sem existência objetiva.
ou pessoas simples e levá-las a imaginar que se trata d. Platão sustenta que há uma realidade que sempre é
de um carpinteiro de verdade. da mesma maneira, que não nasce nem perece e que
— Como não? não pode ser captada pelos sentidos e que, por isso
— Mas a meu ver, amigo, o que devemos pen- mesmo, cabe apenas aos deuses contemplá-la.
sar dessa gente é o seguinte: quando alguém nos
anuncia que encontrou um indivíduo conhecedor de 87. UFF-RJ
todas as profissões e de tudo o que se pode saber, Segundo Platão, as opiniões dos seres humanos sobre a
e isso com a proficiência dos maiores especialistas, realidade são quase sempre equivocadas, ilusórias e, sobretu-
seremos levados a suspeitar que falamos com um do, passageiras, já que eles mudam de opinião de acordo com
tipo ingênuo e vítima, sem dúvida, de algum charla- as circunstâncias. Como agem baseados em opiniões, sua con-
tão e imitador, e que se o tomou por sábio universal duta resulta quase sempre em injustiça, desordem e insatisfa-
foi apenas pelo fato de ser incapaz de fazer a distin- ção, ou seja, na imperfeição da sociedade. Em seu livro A repú-
ção entre o conhecimento, a ignorância e a imitação. blica, ele, então, idealizou uma sociedade capaz de alcançar a
PLATÃO. A república, Livro X. In: MARÇAL, J. Antologia de perfeição, desde que seu governo coubesse exclusivamente
textos filosóficos. Curitiba: Seed, 2009. p. 557, 558. a. aos guerreiros, porque somente eles teriam força para
obrigar todos a agirem corretamente.
Com base no trecho citado e nos conhecimentos sobre a b. aos tiranos, porque somente eles unificariam a socie-
filosofia de Platão, assinale o que for correto. dade sob a mesma vontade.
01. Para Platão, a reprodução de algo não comporta a ver- c. aos mais ricos, porque somente eles saberiam aplicar
dade desse algo, sua essência verdadeira. bem os recursos da sociedade.
02. Para Platão, conhecer um objeto sensível implica to- d. aos demagogos, porque somente eles convenceriam
mar contato apenas com o simulacro dele. a maioria a agir de modo organizado.
04. Para Platão, a reprodução de algo espelha uma parte e. aos filósofos, porque somente eles disporiam de co-
do ser e não o que ele é verdadeiramente. nhecimento verdadeiro e imutável.
08. Para Platão, a verdade de algo está para além de sua
manifestação sensível. 88. Enem C5-H24
16. Para Platão, é impossível haver conhecimento de Mas a cidade pareceu-nos justa quando existiam
qualquer coisa. dentro dela três espécies de natureza, que executa-
vam cada uma a tarefa que lhe era própria; e, por sua
86. UFU-MG vez, temperante, corajosa e sábia, devido a outras
Leia o texto a seguir. disposições e qualidades dessas mesmas espécies.
PLATÃO. A república. Lisboa: Fundação
Sócrates: – Portanto, como poderia ser alguma Calouste Gulbenkian, 2007. p. 189.
coisa o que nunca permanece da mesma maneira?
Com efeito, se fica momentaneamente da mesma Nesse trecho de A república, Platão menciona sua con-
maneira, é evidente que, ao menos nesse tempo, cepção de justiça correspondente
não vai embora; e se permanece sempre da mesma a. aos ideais de igualdade característicos da democra-
393
Sócrates: – Mas também de outro modo não po- c. ao respeito pelos direitos naturais e individuais dos
deria ser conhecida por ninguém. De fato, no próprio seres humanos.
d. às teses que defendem a prevalência do poder dos 16. Segundo Platão, as artes imitativas prejudicam a
CAP. 2
fortes sobre os fracos. educação das crianças e dos jovens porque susci-
e. às diferentes inclinações da alma predominantes nos tam paixões intensas.
seres humanos.
91. Enem C5-H23
89. UNESP Platão indaga se é possível um homem ser vir-
Leia o texto, extraído do Livro VII da obra magna de Platão tuoso, isto é, praticar o bem e as virtudes, se for co-
FILOSOFIA 181
(A república), que se refere ao célebre mito da caverna e seu mandado pela concupiscência ou pela cólera. Res-
significado no pensamento platônico. ponde negativamente, uma vez que as paixões, além
de nos arrastarem para direções opostas, fazem com
Agora, meu caro Glauco – continuei – cumpre que os desejos e impulsos violentos de nosso corpo
aplicar ponto por ponto esta imagem ao que dis- obscureçam nossa inteligência, impedindo-nos de
semos, comparar o mundo que a visão nos revela conhecer e de exercer nossa atividade mais nobre,
à morada da prisão e a luz do fogo que a ilumina o conhecimento racional.
ao poder do sol. No que se refere à subida à re- CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré-
gião superior e à contemplação de seus objetos, -socráticos a Aristóteles. São Paulo: Brasiliense, 1995. p. 214.
se a considerares como a ascensão da alma ao
LIVRO DO PROFESSOR
lugar inteligível, não te enganarás sobre o meu Com a leitura desse texto, constata-se que, para Platão, a
pensamento, posto que também desejas conhecê- vida virtuosa realiza-se
-lo. Quanto a mim, tal é minha opinião: no mundo a. no predomínio da razão sobre as inclinações irracio-
inteligível, a ideia do bem é percebida por último nais dos seres humanos.
e a custo, mas não se pode percebê-la sem con- b. na confluência do conhecimento racional com a moral
cluir que é a causa de tudo quanto há de direto e aristocrática tradicional.
belo em todas as coisas; e que é preciso vê-la para c. no controle dos princípios morais sobre o nível incons-
conduzir-se com sabedoria na vida particular e na ciente da humanidade.
vida pública. d. na total supressão das propensões apetitiva e colérica
PLATÃO. A república, texto escrito em V a.C. Adaptado. da natureza humana.
e. na aceitação racional das leis estabelecidas pelos ci-
Explique o significado filosófico da oposição entre as dadãos na democracia.
sombras no ambiente da caverna e a luz do sol.
92. UEL-PR
90. UEM-PR Leia o texto a seguir.
No Livro X de A república, o filósofo grego Platão discute
por que as artes imitativas ou miméticas não podem ter lu- Para esclarecer o que seja a imitação, na relação
gar em sua descrição de uma cidade bem governada. Após entre poesia e o Ser, no Livro X de A república, Pla-
argumentar que o artista não é capaz de ter acesso às coisas tão parte da hipótese das ideias, as quais designam
verdadeiras, mas apenas às coisas aparentes, Platão afirma a unidade na pluralidade, operada pelo pensamento.
o que se segue. Ele toma como exemplo o carpinteiro que, por sua
arte, cria uma mesa, tendo presente a ideia de mesa,
O pintor, digamos, é capaz de pintar um sapatei- como modelo. Entretanto, o que ele produz é a mesa
ro, um carpinteiro ou qualquer outro artesão, sem e não a sua ideia. O poeta pertence à mesma catego-
conhecer absolutamente nada das respectivas pro- ria: cria um mundo de mera aparência.
fissões. No entanto, se for bom pintor, com o retrato
de um carpinteiro, mostrado de longe, conseguirá Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria
enganar pelo menos crianças ou pessoas simples e das ideias de Platão, é correto afirmar que
levá-las a imaginar que se trata de um carpinteiro a. Deus é o criador último da ideia, e o artífice, enquanto
de verdade. coparticipante da criação divina, alcança a verdadeira
PLATÃO. A república, Livro X. Apud MARÇAL, J. (Org.) Antologia causa das coisas a partir do reflexo da ideia ou do si-
de textos filosóficos. Curitiba: Seed, 2009. p. 557-558. mulacro que produz.
b. a participação das coisas às ideias permite admitir
A respeito da imitação, assinale o que for correto. as realidades sensíveis como as causas verdadeiras
01. O belo, para Platão, é a imitação correta da natureza. acessíveis à razão.
02. Aplicando o conceito platônico, a fotografia não pode c. os poetas são imitadores de simulacros e por inter-
ser considerada imitação, pois ela captura a realida- médio da imitação não alcançam o conhecimento das
de tal como ela é. ideias como verdadeiras causas de todas as coisas.
04. Platão critica a capacidade de persuasão e de conven- d. as coisas belas explicam-se por seus elementos físi-
394
cimento das artes imitativas, que podem ser usadas cos, como a cor e a figura, e na materialidade deles
com fins políticos para obter poderes e vantagens. encontram sua verdade: a beleza em si e por si.
08. O carpinteiro é também um imitador, porque ele pro- e. A alma humana possui a mesma natureza das coisas
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duz suas obras de acordo com projetos e regras pre- sensíveis, razão pela qual se torna capaz de conhecê-
viamente existentes. -las como tais na percepção de sua aparência.
93. UEL-PR fundo da caverna e as vozes desses homens que os
CAP. 2
Com base no texto e na crítica de Platão ao caráter mimé- prisioneiros atribuem às sombras. Temos um efeito
tico das narrativas poéticas e sua relação com a alma huma- como num cinema em que olhamos para a tela e
na, é correto afirmar: não prestamos atenção ao projetor nem às caixas de
a. A parte racional da alma humana, considerada supe- som, mas percebemos o som como proveniente das
rior e responsável pela capacidade de pensar, é eleva- figuras na tela.
da pela natureza mimética da poesia à contemplação Danilo Marcondes. Iniciação à história da filosofia, 2001.
FILOSOFIA 181
do Bem.
b. O uso da mímesis nas narrativas poéticas para con- Explique o significado filosófico da Alegoria da Caverna de
trolar e dominar a parte irascível da alma é considera- Platão, comentando sua importância para a distinção entre
do excelente prática propedêutica na formação ética aparência e essência.
do cidadão.
c. A poesia imitativa, reconhecida como fonte de racio- 97. UEL-PR
nalidade e sabedoria, deve ser incorporada ao Estado Leia o texto a seguir.
ideal que se pretende fundar.
d. O elemento mimético cultivado pela poesia é justa- Tudo isso ela [Diotima] me ensinava, quando
mente aquele que estimula, na alma humana, os ele- sobre as questões de amor [eros] discorria, e uma
LIVRO DO PROFESSOR
mentos irracionais: os instintos e as paixões. vez ela me perguntou: – que pensas, ó Sócrates,
e. A reflexividade crítica presente nos elementos mimé- ser o motivo desse amor e desse desejo? A natu-
ticos das narrativas poéticas permite ao indivíduo al- reza mortal procura, na medida do possível, ser
cançar a visão das coisas como realmente são. sempre e ficar imortal. E ela só pode assim, atra-
vés da geração, porque sempre deixa um outro ser
94. Enem C1-H2 novo em lugar do velho; pois é nisso que se diz
[A filosofia de Platão] não consiste em construir que cada espécie animal vive e é a mesma. É em
um sistema teórico da realidade e “informar” ime- virtude da imortalidade que a todo ser esse zelo e
diatamente seus leitores escrevendo um conjunto esse amor acompanham.
de diálogos que expõe metodicamente esse sistema, PLATÃO. O banquete. 4.ed. São Paulo: Nova Cultural,
mas consiste em “formar”, isto é, em transformar 1987. p. 38-39. (Os pensadores). Adaptado.
os indivíduos, fazendo-os experimentar, no exemplo
do diálogo ao qual o leitor tem a ilusão de assistir, as Com base no texto e nos conhecimentos sobre o amor em
exigências da razão e, finalmente, a norma do bem. Platão, assinale a alternativa correta.
HADOT, Pierre. O que é a filosofia antiga? a. A aspiração humana de procriação, inspirada por Eros,
São Paulo: Loyola, 1992. p. 113. restringe-se ao corpo e à busca da beleza física.
b. O eros limita-se a provocar os instintos irrefletidos e
A leitura do texto permite constatar que Platão, redigindo vulgares, uma vez que atende à mera satisfação dos
seus textos em forma de diálogos, pretende apetites sensuais.
a. afirmar o caráter irrefutável de sua teoria das ideias. c. O eros físico representa a vontade de conservação
b. demonstrar a inferioridade da retórica praticada pelos da espécie, e o espiritual, a ânsia de eternização por
sofistas. obras que perdurarão na memória.
c. recusar a construção de um pensamento filosófico d. O ser humano é idêntico e constante nas diversas fases
sistemático. da vida, por isso sua identidade iguala-se à dos deuses.
d. explicitar o itinerário filosófico de busca pelo conhe- e. Os seres humanos, como criação dos deuses, seguem
cimento. a lei dos seres infinitos, o que lhes permite eternidade.
e. revelar os sentidos como suporte da rememoração
do saber. 98. UEL-PR
Observe a charge a seguir.
95. UFPR (adaptado)
Platão inicia o Livro X de A república afirmando
que a imitação está “a três graus de afastamento da
verdade”.
PLATÃO. A república. Tradução de: PRADO JR.,
Bento. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
96. UNESP
395
Do lado oposto da caverna, Platão situa uma fo- Disponível em: <http://jarbas.wordpress.com/2010/10/04/platao-
gueira – fonte da luz de onde se projetam as som- mito-da-caverna-e-ti/>. Acesso em: 30 ago. 2012. Adaptado.
bras – e alguns homens que carregam objetos por
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cima de um muro, como num teatro de fantoches, e Após descrever A alegoria da Caverna, na obra A repúbli-
são desses objetos as sombras que se projetam no ca, Platão faz a seguinte afirmação:
Com efeito, uma vez habituados, sereis mil ve- b. O filósofo se refere a uma realidade à qual se chega
CAP. 2
zes melhores do que os que lá estão e reconhecereis apenas pela inteligência. Que realidade é essa? Cite
cada imagem, o que ela é e o que representa, devido ao menos três características compositivas desta rea-
a terdes contemplado a verdade relativa ao belo, ao lidade, de acordo com a filosofia de Platão.
justo e ao bom. E assim teremos uma cidade para
nós e para vós, que é uma realidade, e não um so- 100. UEL-PR
nho, como atualmente sucede na maioria delas, onde Leia o texto de Platão, a seguir.
FILOSOFIA 181
homem da caverna e a contemplação do bem. para atingir a essência e a verdade; de outra forma
é impossível.
99. UFU-MG PLATÃO. Teeteto. Tradução de: NUNES, Carlos
Leia os textos abaixo, extraídos da obra A república, Alberto. Belém: UFPA, 1973. p. 80.
de Platão.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a teoria
— Acaso não seria uma defesa adequada dizer- do conhecimento de Platão, considere as afirmativas a seguir.
mos que aquele que verdadeiramente gosta de sa- I. Homens e animais podem confiar nas impressões que
ber tem uma disposição natural para lutar pelo Ser, recebem do mundo sensível e, assim, atingem a verdade.
e não se detém em cada um dos muitos aspectos II. As impressões são comuns a homens e animais, mas
particulares que existem na aparência, mas prosse- apenas os homens têm a capacidade de formar, com
gue sem desfalecer nem desistir da sua paixão, antes base nelas, o conhecimento.
de atingir a natureza de cada Ser em si, pela parte III. As impressões não constituem o conhecimento sen-
da alma à qual é dado atingi-lo – pois a sua origem sível, mas são consideradas como núcleo do conheci-
é a mesma –; depois de se aproximar e de se unir mento inteligível.
ao Verdadeiro, poderá alcançar o saber e viver e IV. O raciocínio a respeito das impressões constitui a
alimentar-se de verdade, e assim cessar o seu sofri- base para se chegar ao conhecimento verdadeiro.
mento; antes disso, não? (República, 490b) Assinale a alternativa correta.
Da mesma maneira, quando alguém tenta, por meio a. Somente as afirmativas I e II são corretas.
da dialética, sem se servir dos sentidos e só pela razão, b. Somente as afirmativas II e IV são corretas.
alcançar a essência de cada coisa, e não desiste antes c. Somente as afirmativas III e IV são corretas.
de ter apreendido só pela inteligência a essência do d. Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
bem, chega aos limites do inteligível, tal como aquele e. Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.
chega então aos do visível. (A república , 532 a-b)
PLATÃO. A república. Tradução de: PEREIRA, Maria Helena da
Rocha. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1996.
PV2D-17-10
Módulo 6
CAP. 2
Aristóteles
EXERCÍCIOS PROPOSTOS
Leia com atenção Capítulo 2 – Tópicos 3, 3.A, 3.B e 3.C
FILOSOFIA 181
Série branca 101 102 103 104 106 107 110 113
DE ESTUDOS
ROTEIRO
Exercícios
Série amarela 101 104 106 108 109 110 112 115
Série roxa 106 107 114 115 116 117 119 120
Foco Enem 101 102 104 107 108 111 114 118
LIVRO DO PROFESSOR
ção. Essa passagem se daria pela ação de forças que 103. UEM-PR
se originam de diferentes motores, isto é, coisas ou Na Ética a Nicômaco, Aristóteles afirma:
seres que promoveriam esta mudança. No entanto,
se todo o Universo sofre transformações, o estagirita Então, quando a amizade é por prazer ou por in-
afirmava que deveria haver um primeiro motor [...] teresse mesmo, duas pessoas más podem ser amigas,
CHALITA, Gabriel. Vivendo a filosofia. São Paulo: Ática, 2006. p. 58. ou então uma pessoa boa e outra má, ou uma pessoa
que não é nem boa nem má pode ser amiga de outra
Com base em seus conhecimentos e no texto acima, qualquer espécie; mas pelo que são em si mesmas é
assinale a alternativa que contenha duas características do óbvio que somente pessoas boas podem ser amigas.
primeiro motor. Na verdade, pessoas más não gostam uma da outra a
a. O primeiro motor é imóvel, caso contrário, alguma cau- não ser que obtenham algum proveito recíproco.
sa deveria movê-lo e ele não seria mais o primeiro mo- ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: Filosofia: vários
tor; é imutável, porque é ato puro. autores. Curitiba: Seed-PR, 2006. p. 123.
b. O primeiro motor é imóvel, mas não imutável, pois
pode ocorrer de se transformar algum dia, como tudo Com base no trecho citado, assinale a(s) alternati-
no Universo. va(s) correta(s).
c. O primeiro motor é imutável, mas não imóvel, pois 01. A amizade comporta uma esfera de interesses parti-
do seu movimento ele gera os demais movimentos culares.
do Universo. 02. A amizade, em alguns casos, é consequência de con-
d. O primeiro motor não é imóvel, nem imutável, pois isto dicionantes pessoais dos amigos.
seria um absurdo teórico. Para Aristóteles, o primeiro 04. As amizades desinteressadas não existem, visto que
motor é móvel e mutável, como tudo. alguém sempre tem a ganhar na relação.
08. A amizade interessada entre pessoas más também
102. UEL-PR é amizade.
Leia o texto a seguir. 16. A amizade é falsa quando não há interesse ou prazer
na relação.
A virtude é, pois, uma disposição de caráter re-
lacionada com a escolha e consiste numa mediania, 104. UEL-PR C1-H5
isto é, a mediania relativa a nós, a qual é determi- Leia o texto a seguir.
nada por um princípio racional próprio do homem
dotado de sabedoria prática. É pois manifesto que a ciência a adquirir é a das
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de: VALLANDRO, Leonel e causas primeiras (pois dizemos que conhecemos
BORNHEIM. Gerd. São Paulo: Abril Cultural, 1973. Livro II, p. 273. cada coisa somente quando julgamos conhecer a
sua primeira causa); ora, causa diz-se em quatro
Com base no texto e nos conhecimentos sobre a situada sentidos: no primeiro, entendemos por causa a subs-
ética em Aristóteles, pode-se dizer que a virtude ética tância e a essência (o “porquê” reconduz-se pois à
a. reside no meio termo, que consiste numa escolha si- noção última, e o primeiro “porquê” é causa e prin-
tuada entre o excesso e a falta. cípio); a segunda causa é a matéria e o sujeito; a
b. implica a escolha do que é conveniente no excesso e terceira é a de onde vem o início do movimento;
397
d. pauta-se na escolha do que é mais satisfatório em ra- ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Abril Cultural, 1984.
zão de preferências pragmáticas. p. 16. Coleção Os pensadores. Adaptado.
Com base no texto e nos conhecimentos sobre o tema, 16. O conhecimento verdadeiro de algo implica o conhe-
CAP. 2
e. Causa material, causa formal, causa final e causa eficiente opostos. Aristóteles, de fato, chama o ser da potên-
cia até mesmo de não-ser, no sentido de que, com
105. UEM-PR relação ao ser-em-ato, o ser-em-potência é não-ser-
Segundo a lógica clássica ou aristotélica, temos -em-ato.
uma teoria do raciocínio como inferência (do latim REALE, Giovanni. História da filosofia antiga.
inferre, “levar para”). “Inferir é obter uma proposição Tradução de: VAZ, Henrique Cláudio de Lima e PERINE,
Marcelo. São Paulo: Loyola, 1994. v. 2, p. 349.
como conclusão de uma outra ou de várias outras
proposições que a antecedem e são sua explicação Com base na leitura do trecho acima e em conformidade
ou sua causa. O raciocínio realiza inferências. [Ele] com a teoria do ato e potência de Aristóteles, assinale a alter-
é uma operação do pensamento realizada por meio nativa correta.
LIVRO DO PROFESSOR
de juízos e enunciada por meio de proposições en- a. Para Aristóteles, ser-em-ato é o ser em sua capacidade
cadeadas, formando um silogismo. Raciocínio e si- de se transformar em algo diferente dele mesmo, por
logismo são operações mediatas de conhecimento, exemplo, o mármore (ser-em-ato) em relação à está-
pois a inferência significa que só conhecemos algu- tua (ser-em-potência).
ma coisa (a conclusão) por meio de outras coisas.” b. Segundo Aristóteles, a teoria do ato e potência expli-
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 14. ed. ca o movimento percebido no mundo sensível. Tudo
São Paulo: Ática, 2011. p. 141. o que possui matéria possui potencialidade (capaci-
dade de assumir ou receber uma forma diferente),
Segundo o fragmento transcrito, é correto afirmar que que tende a se atualizar (assumindo ou recebendo
01. todo pensamento humano é um raciocínio. aquela forma).
02. o silogismo é resultado de uma inferência sobre c. Para Aristóteles, a bem da verdade, existe apenas o
proposições. ser-em-ato. Isso ocorre porque o movimento verifica-
04. o conhecimento científico é mediado por raciocí- do no mundo material é apenas ilusório e o que existe
nios lógicos. é sempre imutável e imóvel.
08. a conclusão é a explicação das proposições das d. Segundo Aristóteles, o ato é próprio do mundo sensí-
quais foi inferida. vel (das coisas materiais) e a potência se encontra
16. o raciocínio é o resultado de um silogismo. tão somente no mundo inteligível, apreendido apenas
com o intelecto.
106. UEM-PR
É, pois, manifesto que a ciência a adquirir é a das 108. Enem C5-H23
causas primeiras (pois dizemos que conhecemos [...] Fica evidente que nenhuma das virtudes mo-
cada coisa somente quando julgamos conhecer a rais é em nós engendrada pela natureza, uma vez
sua primeira causa); ora, causa diz-se em quatro que nenhuma propriedade natural é passível de ser
sentidos: no primeiro, entendemos por causa a alterada pelo hábito. Por exemplo, é da natureza da
substância e a quididade (essência) (o ‘porquê’ re- pedra mover-se para baixo, sendo impossível trei-
conduz-se pois a noção última, e o primeiro ‘porquê’ ná-la a fazê-lo lançando-a para cima ao ar dez mil
é causa e princípio); a segunda [causa] é a matéria vezes; nem pode o fogo ser treinado a mover-se para
e o sujeito; a terceira é a de onde [vem] o início do baixo e tampouco qualquer outra coisa que natural-
movimento; a quarta [causa], que se opõe à prece- mente se comporta de uma maneira ser treinada de
dente, é o ‘fim para que’ e o bem (porque este é, com modo a adquirir um hábito para comportar-se de
efeito, o fim de toda a geração e movimento). uma outra maneira.
ARISTÓTELES. Metafísica. São Paulo: Abril Cultural, ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Bauru: Edipro, 2007. p. 67.
1979. Livro I, cap. III, p. 16. (Os pensadores).
O texto revela a tese aristotélica de que
Com base no trecho citado e nos conhecimentos da filo- a. o conhecimento é condição suficiente da vida huma-
sofia de Aristóteles, assinale o que for correto. na virtuosa.
01. As causas são os princípios dos seres. b. a moral transforma-se historicamente de acordo com
02. Conforme o texto, só há uma única causa de todos as mudanças socioculturais.
os seres. c. o hábito virtuoso decorre do conhecimento do bem no
398
04. A terceira causa, também conhecida como gênese ou mundo das ideias.
origem, opõe-se à quarta causa, que é a finalidade ou d. a educação para a virtude deve desprezar a condição
o fim de algo. desejante do ser humano.
PV2D-17-10
08. A matéria de algo é causa na medida em que não e. a humanidade possui capacidade natural para a aqui-
pode existir ser ou substância sem matéria. sição das virtudes.
109. UEL-PR Assinale a alternativa correta.
CAP. 2
No Livro II da Ética a Nicômaco, Aristóteles diz que há duas a. Somente as afirmativas I e III são corretas.
espécies de virtude – dianoética e ética. A virtude dianoética b. Somente as afirmativas I e IV são corretas.
requer o ensino, o que exige experiência e tempo. Já a virtude c. Somente as afirmativas II e IV são corretas.
ética é adquirida pelo hábito e não é algo que surge por natu- d. Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
reza. Isso não quer dizer que as virtudes sejam geradas em e. Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.
nós contrariando a natureza. Para Aristóteles, somos natural-
FILOSOFIA 181
mente aptos a receber as virtudes e nos aperfeiçoamos pelo 111. Enem C5-H24
hábito. Com base no enunciado e nos conhecimentos sobre a A utilidade do escravo é semelhante à do animal.
ética aristotélica, considere as afirmativas a seguir. Ambos prestam serviços corporais para atender às
I. A virtude dianoética e a virtude ética são adquiridas, necessidades da vida. A natureza faz o corpo do es-
respectivamente, pela experiência, tempo e hábito. cravo e do homem livre de forma diferente. O escravo
II. A virtude dianoética e a virtude ética, por serem ina- tem corpo forte, adaptado naturalmente ao trabalho
tas, são facilmente aprendidas desde a infância. servil. Já o homem livre tem corpo ereto, inadequado
III. Os seres humanos são naturalmente aptos a rece- ao trabalho braçal, porém apto à vida do cidadão.
ber as virtudes éticas, embora não sejam virtuosos ARISTÓTELES. Política. Brasília: UnB, 1985.
por natureza.
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IV. O hábito, de forma necessária, torna-nos melhores O trabalho braçal é considerado, na filosofia aristotéli-
eticamente, contudo as virtudes independem da ação ca, como
para o desenvolvimento moral do indivíduo. a. indicador da imagem do homem no estado de natureza.
Assinale a alternativa correta. b. condição necessária para a realização da virtude humana.
a. Somente as afirmativas I e II são corretas. c. atividade que exige força física e uso limitado
b. Somente as afirmativas I e III são corretas. da racionalidade.
c. Somente as afirmativas III e IV são corretas. d. referencial que o homem deve seguir para viver uma
d. Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. vida ativa.
e. Somente as afirmativas II, III e IV são corretas. e. mecanismo de aperfeiçoamento do trabalho por meio
da experiência.
110. UEL-PR
Leia atentamente o texto a seguir e responda à questão. 112. UPE
O silogismo é um argumento pelo qual, de um
A palavra que empregamos como “Estado” não antecedente, que une dois termos a um terceiro,
significa outra coisa que “cidade”. Apesar de Aristó- tira-se um consequente que une esses dois termos
teles ter vivido até ao fim da idade de ouro da vida da entre si.
cidade grega e ter estado em íntimo contato com Fi- JOLIVET, R. Curso de Filosofia. Rio de Janeiro, 1990, p. 47.
lipe e Alexandre, foi na cidade e não no império que
ele viu, não apenas a forma mais elevada de vida po- Observe o seguinte silogismo:
lítica conveniente à sua época, mas também a forma Todos os gatos são vertebrados.
mais elevada que era capaz de conceber. Todo agre- Os siameses são gatos.
gado mais vasto constituía para si uma mera tribo Logo, os siameses são vertebrados.
ou um emaranhado de pessoas sem homogeneidade. Ele expressa o raciocínio
Nenhum império impondo a sua civilização aos po- a. falacioso.
vos mais atrasados, nem uma nação constituída em b. indutivo.
Estado, estavam ao alcance da sua visão. c. dedutivo.
ROSS, William David. Aristóteles. Lisboa: d. impreciso.
Dom Quixote. 1987. p. 243. e. comparativo.
tóteles pensa a origem do Estado como um ato de mera é homem, logo Sócrates é mortal.” é válida.
convenção sem vínculos com a natureza humana. 04. A inferência “Ou fulano dorme, ou trabalha. Fulano
IV. Na teorização que Aristóteles faz sobre o Estado, está dorme, logo não trabalha.” é uma falácia.
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presente a família, como na tese de que o “Estado de- 08. A inferência “Nenhum gato é pardo. Algum gato é bran-
riva da família”. co, logo todos os gatos são brancos.” é uma falácia.
16. É válida a inferência “Todos que estudam grego Mas, quando várias famílias estão unidas em certo
CAP. 2
aprendem a língua grega. Estudo grego, logo aprendo número de casas, e essa associação aspira a algo
a língua grega”. mais do que suprir as necessidades cotidianas,
constitui-se a primeira sociedade, a aldeia. Quando
114. Enem C5-H24 várias aldeias se unem em uma única comunidade,
O mesmo ocorre com os membros da cidade: grande o bastante para ser autossuficiente (ou para
nenhum pode bastar-se a si mesmo. Aquele que não estar perto disso), configura-se a cidade, ou Estado
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precisa dos outros homens, ou não pode resolver- – que nasce para assegurar o viver e que, depois de
-se a ficar com eles, ou é um deus, ou é um bruto. formada, é capaz de assegurar o viver bem. A cida-
Assim, a inclinação natural leva os homens a este de-Estado é a associação resultante daquelas outras,
gênero de sociedade. e sua natureza é, por si, uma finalidade: porque cha-
ARISTÓTELES. A política. São Paulo: Martins Fontes, 2002. p. 5. mamos natureza de um objeto o produto final do
processo de aperfeiçoamento desse objeto, seja ele
Nesse texto, Aristóteles explicita sua concepção segun- homem, cavalo, família ou qualquer outra que tenha
do a qual existência. Por conseguinte, é evidente que o Estado
a. a vida moral decorre da atuação divina na sociedade. é uma criação da natureza e que o homem é, por
b. a política explica-se pelo dualismo ontológico. natureza, um animal político.
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c. a natureza humana realiza-se na sociedade política. ARISTÓTELES. Política. São Paulo: Nova Cultural,
d. a democracia é a forma superior de governo. 2000. p.145-146. (Os pensadores).
e. a lógica não se aplica ao pensamento político.
Tendo como referência o pensamento político de Aristóte-
115. UEL-PR les na obra Política, disserte sobre a relação entre o cidadão
Leia o texto de Aristóteles, a seguir. e a cidade (pólis).
116. UEL-PR
Leia o texto a seguir. É impossível que o mesmo atributo pertença e
não pertença ao mesmo tempo ao mesmo sujeito,
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A família é a associação estabelecida por nature- e na mesma relação. [...] Não é possível, com efeito,
za para suprir as necessidades diárias dos homens. conceber alguma vez que a mesma coisa seja e não
seja, como alguns acreditam que Heráclito disse [...]. 119. UFPR (adaptado)
CAP. 2
É por esta razão que toda demonstração se remete a Ademais, já que o termo ‘bem’ tem tantas acep-
esse princípio como a uma última verdade, pois ela ções quanto ‘ser’ [...], obviamente ele não pode ser
é, por natureza, um ponto de partida, a mesma para algo universal, presente em todos os casos e único,
os demais axiomas. pois, então, ele não poderia ter sido predicado de to-
ARISTÓTELES. Metafísica. Livro IV, 3, 1005b apud FARIA, das as categorias, mas somente de uma. Além disso,
Maria do Carmo B. de. Aristóteles: a plenitude como já que há uma ciência única das coisas correspon-
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horizonte do ser. São Paulo: Moderna, 1994. p. 93.
dentes a cada Forma, teria de haver uma única ciên-
Com base nos textos e nos conhecimentos sobre Aristó- cia de todos os bens [...]. Poder-se-ia perguntar o que
teles, é correto afirmar: se quer dizer precisamente com ‘um homem em si’,
a. Aqueles que sustentam, com Heráclito, conceber ver- se (e este é o caso) a noção de homem é a mesma e
dadeiramente que propriedades contrárias podem uma só em ‘um homem em si’ e em um determinado
subsistir e não subsistir no mesmo sujeito opõem-se homem. Na verdade, enquanto eles são homens não
ao princípio de não contradição. diferem em coisa alguma, e sendo assim, o ‘bem em
b. Pelo princípio de não contradição, sustenta-se a tese si’ e determinados bens não diferirão enquanto eles
heraclitiana de que, numa enunciação verdadeira, pos- foram bons. Tampouco o ‘bem em si’ será melhor
sa-se simultaneamente afirmar e negar um mesmo pre- por ser eterno, porquanto aquilo que dura mais não
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dicado de um mesmo sujeito, em um mesmo sentido. é mais branco do que o efêmero.
c. Nas demonstrações sobre as realidades suprassen- ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco, Livro I, § 6, 1096a-1096b.
síveis, é possível conceber que propriedades contrá-
rias subsistam simultaneamente no mesmo sujeito, Por que, segundo Aristóteles, é um equívoco pensar o
sem que isso incorra em contradição lógica, ontológi- bem como algo universal e eterno?
ca e epistêmica.
d. Para que se possa fundamentar o estatuto axiomático 120. UFPR (adaptado)
do princípio de não contradição, exige-se que sua evi- Apesar de criticar a noção de “um bem em si”, universal
dência, enquanto princípio primário, seja submetida à e eterno, Aristóteles defende a necessidade de um bem su-
demonstração. premo e autossuficiente. Identifique o sentido ético do bem
e. Com o princípio de não contradição, torna-se possível supremo na filosofia de Aristóteles.
conceber que, se existem duas coisas não idênticas,
qualquer predicado que se aplicar a uma delas tam-
bém poderá ser aplicado necessariamente à outra. Veja o gabarito desses exercícios propostos na página 402.
401
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Gabarito dos Exercícios Propostos
GAB.
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Módulo 4 te concernentes ao ser humano. O viés da vida humana. Em sua con-
61. D 64. C antropológico da filosofia de Sócrates cepção do ser humano como ser
diferencia-se das práticas dos sofistas, pensante, esse filósofo enten-
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62. A 65. C uma vez que ele rejeita o relativismo e de que o conhecimento de sua
entende a filosofia como a busca de ver- própria humanidade assegura
63. E dades universais. Além disso, enquanto ao ser humano o seu aprimora-
os sofistas ministram ensinamentos mento moral e uma vida de acor-
66. 23 (01 + 02 + 04 + 16) mediante palestras, Sócrates estabele- do com a sua natureza. Essa
ce o diálogo como caminho para o saber. máxima condensa a articulação
67. 14 (02 + 04 + 08) entre filosofia e vida humana na
78. A moral aristocrática relaciona-se perspectiva socrática.
68. E com o pensamento mítico, concebendo
a excelência moral como elemento atri- Módulo 5
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ses se anulam mutuamente e que o co- cialmente um ser pensante. 85. 13 (01 + 04 + 08)
nhecimento sobre o cosmos não ofere- b. O "conhece-te a ti mesmo" é
ceria contribuições efetivas para a vida assumido por Sócrates como 86. A
PV2D-17-10
GAB.
dos filósofos que, por seu co-
89. O interior da caverna é expressão nhecimento das ideias, tornam- 107. B 109. B 111. C
metafórica da condição dos seres hu- -se capazes de governar a cida-
manos submetidos exclusivamente ao de de forma racional e justa. Na 108. E 110. C 112. C
plano dos sentidos, ou seja, no nível su- cidade ideal platônica, os seres
perficial de conhecimento, que identifi- humanos são direcionados às 113. 27 (01 + 02 + 08 + 16)
FILOSOFIA 181
ca equivocadamente a esfera sensível atividades compatíveis com a
como o conjunto da realidade. O exterior faculdade predominante em 114. C
da caverna ilustra o plano inteligível dos suas almas, constituindo uma
seres em si, que pode ser atingido so- hierarquia social composta por 115. E
mente pela racionalidade e do qual de- filósofos-governantes – prima-
riva o mundo sensível. O sol representa, zia da razão –, guerreiros – pri- 116. As reflexões éticas e políticas de
na Alegoria da Caverna, o bem, que é, mazia da cólera – e trabalhado- Aristóteles desenvolvem-se no interior
segundo Platão, a ideia suprema. res – primazia do apetite. de sua concepção filosófica teleológi-
b. A charge contém uma crítica ca, que estabelece a primazia da causa
90. 24 (08 + 16) aguda aos meios de comunica- final e a superioridade do que é autos-
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ção de massa, especificamente suficiente sobre o que é dependente
91. A 93. D à televisão, que produz narrati- de algo. Nesses termos, o ser humano
vas distantes da autêntica rea- é compreendido como um ser que reali-
92. C 94. D lidade social, política e cultural. za sua humanidade virtuosa exclusiva-
Sob essa perspectiva, as narra- mente na sociedade política. A socieda-
95. No Livro X de A república, Platão tivas televisivas, com seu vas- de política é o fim para o qual tendem os
dedica-se a reforçar sua tese de que a to alcance social, influenciam, seres humanos ou, em outras palavras,
excessiva valorização pedagógica da de forma decisiva, a opinião de o ser humano é um ser político.
poesia é prejudicial ao conhecimento, muitas pessoas que assumem
situando a poesia e as artes imitativas o discurso televisivo como ex- 117. a. A virtude, sob o prisma ético
em geral como elaborações distantes pressão plena da realidade. A aristotélico, é o meio-termo, a
da verdade. Platão situa essas práti- situação ilustrada na charge é justa medida entre a carência
cas artísticas como cópias das apa- análoga ao fundo da caverna na e o excesso, atingida com es-
rências, ou seja, há os seres em si – as alegoria de Platão. Do ponto de colhas apropriadas dos seres
ideias –, os objetos sensíveis, que são vista político, a saída do ser hu- humanos quanto aos senti-
reproduções imperfeitas das ideias, e mano da caverna e sua contem- mentos e às ações.
as imitações artísticas, baseadas na plação do bem representam a b. A prudência é a sabedoria prá-
realidade sensível, portanto distantes realização de um governo justo. tica, o conhecimento que torna
três graus da verdade. Um dos exem- Na charge, a efetivação dessa possível a vida moral, ofere-
plos utilizados por Platão é referente à realidade exigiria a superação cendo a orientação correta
cama. Há a ideia de cama, a cama em do discurso televisivo. para os indivíduos. Dito de ou-
si e o marceneiro que, ao confeccionar tra forma, a prudência é a virtu-
uma cama, realiza uma cópia imper- 99. a. O método de ascensão do plano de intelectual imprescindível à
feita. Um pintor que retrata uma cama sensível aos seres inteligíveis é conduta moral virtuosa.
também realiza uma espécie de imita- a dialética, com a qual o filósofo
ção imperfeita. avança em direção à contempla- 118. A
ção das essências.
96. A Alegoria da Caverna é uma am- b. Trata-se do mundo das ideias, o 119. Aristóteles rejeita a dualidade on-
pla metáfora da filosofia de Platão, plano das essências, dos seres tológica platônica, a existência de um
remetendo à sua teoria das ideias, às em si. Essa realidade é metafísi- nível das ideias objetivamente separa-
relações entre plano inteligível e plano ca, incorpórea, plena e imutável. do do mundo sensível, razão pela qual
sensível, às suas teses acerca do co- recusa a ideia do bem como realidade
nhecimento e às suas concepções éti- 100. B universal abstrata. Esse filósofo consi-
cas e políticas. Na alegoria, o interior da dera o bem, sob o prisma moral, como a
gruta, com suas sombras, corresponde Módulo 6 finalidade passível de ser atingida pela
às aparências manifestadas no mundo 101. A humanidade, pelos seres humanos em
sensível, e o seu exterior representa a suas ações.
realidade essencial das ideias. 102. A
120. Para Aristóteles, o bem supremo
403
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