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Apalavra cultura e se as ha
século XIV, assentamunivwalatan ifut9a
processOs
sa idéia: os verdade, a w hhtnt
belecimento de hutlM#IR t
supnn n
tividade privada como
racinnalizAn, ni mpe ltHh:
ros, as luzes da
Introdução
de que
Provém de Nietzsche ocomentário irônico
dirigentes adoram inventar palavras, nas
as classes realidade, por trás
quais terminam acreditando. Na
uma idéia ou
de cada uma dessas invencões'" há
estratégicos no
idéias que servem a funcionamentos
interior das relaçöes sociais. E é difícil encontrar uma
palavra/idéia moderna que não conte em sua história
alguns milhares de mortos, ou que n¥o deixe transpa
recer em seus produtos os traços de destruição de
outras organizações étnicas ou simbólicas,-0 gen0
cídio se faz alternar por ''semiocídios".
Apalavra cultura é um exemplo privilegiado. Wo
século XIV, assentam-se as bases de modernidade des
sa idéia: 0s processos universalistas (cristãos) de esta
belecimentode verdade, a emersão histórica da subje
tividade privada comosuporte dos discursos verdadei
ros, as luzes da racionalização, as regras morais de
conduta. Oque permaneceria da fascinação renascen
tistapelo saber greco-romano seriam precisamente os
aspectos essencialmente morais da filosofia antiga
os problemas da falta (recorrentes na tragédia grega
e no Direito Romano), da transgressão, a rejeiç¥o das
aparências em favor daprofundidade do sentido e os
elermentos constitutivos da subjetivização do indiví
duo.
Tudo isto lastreia a idéia modernade cultura, que
ganha força com o progresso docapitalismo e, em no
me do qual, aEuropa inflige àAfrica, durante três
séculos e meio, o genocídio de dezenas de milhões

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progresso, a civilização,
capitalismo, 0 possiveis partir do
a
pessoas O tornam
de 0cidental Se
grande diáspora negra. Os
culturd
a escraVOS, da exilados da Africa para as
trátrco e negros
de acumulação primi-
nnte milhões imprescindiveisdà legi-
Américas forameuropeu. E sto encontrava a sua
capital produzida pela
tive do imperativos da Verdade as eli.
timaçso nos exportada da Europa para
ultura. 'invenção" do século XVIII. Desde
do final
tes coloniais a partir
lidéie tem estado no centro de pro
então, essa palavra
tal é o poder da crença que nela
jetos, obras, ciências,
se deposita. cultura? Os antropó
Mas o que significa mesmo
catalogar pouco
logos Kroeber e Kluckhohn puderam
atestar a nature
mais de 150 definições,que Só fazem
mesmo tempo, movediça e tática, do conceito.
za, ao
Cultura é umadessas palavras metafóricas (como por
exemplo, liberdade) que deslizam de um contexto pa
ra outro, com significações diversas. E justamente esse
"'passe livre" conceitual que universaliza discursiva
mente o termo, fazendo de sua significaç¥o social a
classe de todos os significados. Apartir dessa opera
ção, cultura passa a demarcar fronteiras, estabelecer
categorias de pensamento, justificar as mais diversas
ações e atitudes, a instaurar doutrinariamente o racis
mo e a se substancializar, ocultando a arbitrariedade
histórica de sua invenção. Êpreciso n¥o esquecer,
assim, que os instáveis significados de cultura
atuam
concretamente como instrumentos das modernas rela
ções de poder imbricadas na ordem
e nos regimes políticos, e de tal tecno-econômica
nio dito "cultural'" pode ser maneira que o domí
hoje
avaliado como o mais
tal. sociologicarmente
dinâmico civilização
da ociden
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cultura? De início, e
teoricamente a suspender a
Como captar isto é.
redefinir a regra do jogo.operação através da
preciso vera
metaforização ilimitada e reverdeterminado ao terno.
um estatuto o ""fe
te
qual se atribui trabalhar com
será necessário "rede de
Paratanto, não nem com
uma
universo
chamento de unm
aplicar o modelo de forma clas
relações (para depois pares distintivos, proprie
sificatória, categorizando em dos estruturalismos.
exemplo
dades de objetos), a de demonstrar o funciona
primeiro
Para nós, trata-se nossa cultura e outras que
mento das relações entre a
recurso (metalingü/stico)
Ihe associamos, como um
de determinação discursiva. metodológica é
palavras, nossa posicão
Em outras termo na sua rela
surgirem as variaçôes de um
de fazer to é uma operação,
outro. Esse relacionamen
ç¥o com análise. Se o proje
sempre as suas marcas à
que exibe quantita
to do analista (um lingüista por exemplo) éde varian
tivo, ele constituirá, a partir da comparação
tes, um conjunto qualquer de objetos formais, que Ihe
Nosso
permita chegar a generalizações fundamentais.
projeto, entretanto, é demonstrar apalavra cultura
como um fenômeno discursivo, que tem suas especifi
cidades de uso emcada sociedade nacional. "Discursi
vo" aí significa: um modo de aproximação dos textos
sociais apartir de uma ótica centrada sobre ocampo
de circulação dos enunciados uma vez produzidos ou
em situação de produção. Odiscurso é um recurso
de metalinguagem que nos permite observar o entre
cruzamento das diferenças dos textos atravésdas prá
ticas obje tivas de relacionamento de noções ou das
atividades de linguagem numa situação determinada,
os discursos sociais. Embora não se possa afastar a
lingülstica do campo da teoria analítica do discurso.

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primeirapor seu empenho
distingue da
últinase antr pológico, interdiscipli-
esta filosófico, das práticas de
(sociológico, condutas a partir
campo stricto-sensu dos
observar as
inguaperm.
narl de A primeira
sistema de relações que exis-
0cupa-Se o formal
linguistas- objeto
numa linguaenquanto entender a distribuição discur.
te melhor
Assim, para a ele relacionamos um
outro,
ternmO cultura,
SIva do permite o aparecimento de varia-
metalinguistico, que
cões. destinado a indicar os
é ideologia,
Este outro sentido. E Éum concei-
efeitos sociais de poder sobre o
dificuldades, quando entendidodeslo
Como
to com grandes
edifício, dumn plano fixo (sem
ametáfora dum
faria irradiar funcionalmente os seus
camentos), que
utilizamos, entre
efeitos paraoutrospatamares. Nós o
refere os dis
tanto, comoum conceitoanalitico, que
efeitos
Cursos às suas condições de produção e a seus
de poder. Éum terno arbitrário: onde dizemos ideo
logia, poderíamos dizer economia.
Na oposição a ideologia, cultura seimpQesempre
metalinguísticamente como um modode relaciona
mentocom osentidonão inteiramente recoberto pelo
campo das relações de poder. Oconceito de cultura
proposto éode um "algo mais não à maneira dos
românticos, para os quais o todo é sempre maior do
que a soma das partes, mas a partir da idéia (metama
temática à maneira de Goedel) de incompletude de
qualquer todo sistemático. Assim, cultura designará
Omodo de relacionamento com o real,
com a possibj
lidade de esvaziar paradigmas de
tido, de abolir a estabilidade do senti
universalizaç¥o das verdades, de inde
terminar, insinuando novas
Nessa possibilidade da regras para ojogo humano.
oposicão de Outras regras,
aparece a problemática da cultura negro-brasileira, C0
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de
mo um kigar de contorno do valor universalista
verdade e do sentido finalistico. Ela recoloca o tema
do senhor e do escravo não apenas como uma questão
atual de pensamento da sociedade brasileira (seja sob
aforma de relação entre brancO e negro ouentre pa
tr¥o e empregado), mas também como umn topos filo
sófico que abriga questões cruciais, como a do progres
so ilimitado, a da suposta superioridade da História
sobre o mito, ou da Modernidade sobre a Antiguidade.
Oconfronto ensejado pela cosmogonia dos escravos
iluminará o conceito de cultura. Não constituirá prova
(caução de verdade) de coisa alguma, poisnada se pre
tende provar. Quer-se apenas mostrar que outras pers
pectivas são possiveis, outras histórias podem ser con
tadas além daquelas que a ideologia produz sobre si
mesma, a fim de que talvez se vislumbre algum termo
social de paridade entre a Arkhée o logos da atualidade.

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